Brazilian Guitar Magazine 2

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    Os ltimos 10 anos de histria vm testemunhando uma mudana radical no modo como a informao gerada e distribuda, e cujo grande piv , sem dvida, a Internet. A rede espalhou pelo mundo aforauma gama de possibilidades e facilidades que antes eram limitadas a grandes empresas ou grandescentros acadmicos.

    No ramo de desenvolvimento de programas de computador, surgiu a iniciativa que recebeu o nome deCdigo Aberto ou Open Source, o que consiste em basicamente em um trabalho coletivo e voluntrio,onde a programao do sistema aberta para qualquer pessoa modificar. O conceito mostrou quefunciona e se expandiu para outras reas, de forma que hoje temos iniciativas como a Wikipedia, o

    Linux e o Apache (que controla mais da metade dos servidores de Internet) e se estende at mesmopara o consrcio de pases que controlam a Estao Espacial Internacional (ISS).

    As iniciativas de cdigo aberto de modo algum pretendem competir com a iniciativa privada. Pelocontrrio, cdigo aberto e comercial podem conviver em perfeita harmonia. Um bom exemplo ofrum http://violaobrasileiro.net, que originou a nossa revista eletrnica: trata-se de um softwarecomercial e fechado que roda em cima de uma plataforma de cdigo aberto e gratuito. Iniciativas comoa BGM sobrevivem de doaes: os colaboradores doam seu tempo, energia e talento em prol de algoem que acreditam e de onde no esperam obter nada alm do reconhecimento e da satisfao de ver umtrabalho bem feito.

    com esse esprito de doao e entrega que estamos abrindo oficialmente o ano de 2008 da nossaRevista Eletrnica do Violo Brasileiro, tambm conhecida comoBrazilian Guitar Magazine.Desejamos uma boa leitura a todos!

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    O evento aconteceu em NY, no teatro 92Y em Manhattan e abrigou um total de 17 msicos, entre

    brasileiros e americanos em dois espetculos e num total de mais de 6 horas de msica.

    A melhor maneira de abrir esta resenha da Maratona talvez seja com as palavrasde John Schaefer, locutor da rdio WNYC de Nova Iorque e apresentador doespetculo: para aqueles que gostam de violo, o Brasil como a Disneylndia.Essa frase, de fato, resume bem o que se viu no show: os brasileiros se sentem to vontade com o violo que fazer msica chega a parecer uma brincadeira.

    Os shows foram marcados pelo clima informal e descontrado, onde cada msico pareceu estarcompletamente vontade no palco, cada um dentro do seu estilo, mas todos com a alegria tpica que uma das marcas da cultura brasileira.

    John Schaefer conduziu o espetculo apresentando cada um dos msicos e, namaioria dos casos, fazendo pequenas entrevistas. Quem primeiro entrou no palcofoi Badi Assad. Muito simptica como de praxe, Badi comeou tocando ecantando Joana Francesa, de Chico Buarque, brincando com os andamentos damsica, atravessando, acelerando e atrasando melodia e harmonia. Em seguidatocou Asa Branca com efeitos percussivos de voz que hipnotizaram o pblico. Ela fechou aapresentao cantandoA Banca do Distinto, de Billy Blanco. Pena que a apresentao dela tenha sidoto curta.

    Em seguida vieram Srgio e Odair Assad, que eram tambm co-curadores doespetculo. Srgio falou do prazer que era ter tantos msicos juntos ali naquelatarde, que ele gostaria de ter trazido mais pessoas, mas que conseguiu reunir osmsicos que ele considerava mais importantes. Assistir aos Assads semprealgo prazeroso e ele abriram tocando A Lenda do Caboclo, de Villa-Lobos,seguida pelo Choros No 5, tambm do Villa. Depois tocaram Tom Jobim em

    dois arranjos, um para Amparo(tambm conhecida como Olha, Maria) e outro para Stone Flower. Aparticipao foi encerrada com Radams Gnattali e sua Sute Retratos, eles tocaram dois movimentos,a Valsa-Choro, dedicada a Ernesto Nazareth e o Corta-Jaca, dedicado a Chiquinha Gonzaga.Impecveis.

    Neste ponto houve uma modificao no programa. Fbio Zanonentrou no palco

    no lugar de Yamandu Costa, que foi realocado para ser o ltimo msico da tarde.Fbio comentou sobre a riqueza e a diversidade da msica brasileira, onde asfronteiras de clssico e popular se confundem, que Villa-Lobos tocou violo narua, que msicos de rua estudaram clssico, mencionou o 7 cordas do chorocomo patrimnio exclusivo da msica brasileira. Ao tocar, a primeira peaescolhida foi o Choros No 1, de Villa-Lobos, que Zanon tocou completa, naforma A-B-A-C-A e com bastante molho. Em seguida foi a vez do Estudo No11, tocada com os detalhes do manuscrito e com o som cristalino e potente. DeFrancisco Mignone foram tocados os estudos No 4 e 6. Para fechar, Zanonescolheu Radams Gnattali e executou a Tocata em Ritmo de Sambae o Frevo.

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    O prximo a ser chamado foi o hiper ativo Arthur Kampela, que protagonizoua entrevista mais engraada de todas. Ao ser perguntado sobre os elementos

    percussivos do seu violo, Kampela tentou fazer um retrospecto do conceitocultural de antropofagia e causou espanto quando o entrevistador se mostrouassustado com a idia de canibalismo. Desfeito o mal entendido, Arthur sentou-se com o violo e mostrou um estilo de msica que lembra Leo Brouwer, mas

    levado a pontos ainda mais extremos. Eram os Estudos Percussivos 1 e 2, no qual ele fez uso extensivode percusso, colher, hastes, e extraiu sons e possibilidades aparentemente impossveis no instrumento.

    No final, ele pegou uma viola de orquestra e tocou como se fosse um violo. Segundo ele, a viola caractersticamente um instrumento de msica mais lenta e ele quis explorar um tipo de msica maisveloz, que era o Estudo Percussivo No 4.

    Romero Lubambo foi o prximo da lista e entrou brincando no palco,dizendo que depois do Arthur ele ficou intimidado, pois ele s usava as mose no podia competir com o Arthur. Na entrevista, falou de como o jazz eraimportante na sua formao musical, bem como a bossa nova e a influnciado clssico. Ele abriu sua apresentao tocando uma composio prpriachamada Pro Flvio, escrita em homenagem ao seu pai, e que era um belo

    baio executado com a veia de improvisao e o violo forte e certeiro que sempre marcaram seuestilo. A msica Influncia do Jazz, de Carlos Lyra, foi o segundo solo de Romero, que logo em

    seguida convidou ao palco a sua esposa Pamela Driggs para cantarDeixa(Baden/Vinicius) em ingls eportugus. Ambos fecharam a apresentao com Perfume de Cebola, cano de autoria de FilMachado (irmo de Celso Machado), cantada em portugus.

    Celso Machado foi o convidado seguinte e fez a apresentao mais brincalhona,divertida e teatral de todas. Ele comeou cantando uma cano chamada Poesia. Emseguida, continuou a tocar violo e comeou a fazer percusso com a boca at o pontoem que ele deixou o violo de lado e comeou a fazer msica com uma garrafadgua, que segundo ele estaria desafinada, o que serviu de justificava para eletomar um gole e ento achar a afinao perfeita. A platia riu muito. Celso ficouandando pelo palco, usando diversos instrumentos de percusso, imitando sons de

    pssaros, moscas, trovoadas na floresta, parecia assustado e perdido na selva. O clmax dessa parte foiquando ele tirou um macaquinho de pelcia de dentro de uma mochila e jogou para a platia. Elefechou tocando Ponteado, uma de suas belas composies, onde ele usa uma afinao alternativa. Nofinal, tambm tocou apito e imitou uma bateria de escola de samba.

    Para fechar a apresentao da tarde, John Schaefer convidou YamanduCosta, que foi apresentado como um jovem fenmeno. Ele justificou queYamandu foi deixado por ltimo porque nenhum dos outros violonistasqueria suced-lo no palco, eles disseram que impossvel tocar depoisdo gacho. Yamandu no fluente em ingls e preferiu no fazer aentrevista, foi direto para o palco e comeou a tocar sua composio El

    Negro del Blanco com seu conhecido estilo agressivo. O pblico ficou

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    hipnotizado com o seu 7 cordas. Em seguida, ele fez uma longa improvisao, misturou alguns de seustemas, como Cebolo, at que foi interrompido por um celular que tocou na platia. Yamandu parou,riu, tirou a melodia do celular ali mesmo na hora, falou uma nica palavra em ingls, que foi off econtinuou tocando, improvisando seu tema Bonitinha at chegar em Brejeiro, seu arranjo maisconhecido e que se tornou assinatura de seus shows. O pblico foi ao delrio e aplaudiu de p no finalda apresentao.

    John Schaefer voltou ao palco e disse que alguns dos violonistas estavam tocando nos bastidores e iamse aventurar a improvisar algo no palco em grupo. Foi quando voltaram ao palco Srgio e Odair Assad

    acompanhado de Romero Lubambo. O trio tocou a msica Curumim, de Csar Carmargo Mariano.Romero Lubambo, como era de se esperar, estava completamente vontade nos improvisos e osAssads tambm se aventuraram nessa seara. Em seguida, veio Celso Machado e o quarteto tocouSamba Novo, de Baden, no arranjo de Marcus Tardelli. Os quatro tocaram muito bonito, RomeroLubambo liderava nos improvisos, Celso Machado tocou violo e fez percusso com a boca enquantoos Assads faziam todo o swing da base e tambm se aventuravam a improvisar.

    difcil fazer um resumo e fugir do clich, mas no restam dvidas de que foi um momento histricopara o violo brasileiro. O Brasil hoje uma super potncia do instrumento e vem tendo umdesenvolvimento diversificado e pujante ao longo dos ltimos 100 anos. Vrios dos msicos que seapresentaram em NY vo continuar levando o espetculo ao redor dos EUA at o incio de fevereiro. A

    empreitada j um sucesso e o mnimo que podemos fazer aplaudir de p.

    * Eugnio Reis brasileiro radicado nos EUA, onde um dos diretores de umasociedade de violo em NY, e vem se dedicado a divulgar o violo brasileiro de 6 e7 cordas em vrias frentes, escrevendo artigos em ingls e portugus, participandode convenes e festivais, dando recitais, transcrevendo msica, produzindoconcertos de violonistas, organizando fruns de debates e tambm representandodois dos mais importantes luthiers brasileiros.

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    O luthier gacho Eduardo Cordeiro j um nome consolidado entre os contrutores brasileiros eseus violes so elogiados e adotados por muitos msicos profissionais. Nesta entrevista, ele nos falado seu amor pela arte de construir violes, das diversas tcnicas e concepes disponveis e do que

    espera para o futuro da profisso de luthier.

    BGM Eduardo, conte-nos um pouco como foi o seu incio na profisso de luthier, com quemestudou, etc.Eu e meu primo Carlos Cordeiro tocvamos violo e, como muitos, no tnhamos um instrumentorazovel. Em 1987, a alternativa de construir um violo foi o que nos pareceu mais vivel, mas semnenhuma bibliografia e, principalmente, sem contato com nenhum profissional do ramo, fomosresponsveis por ser aqueles que devem ter feito os piores violes j existidos. A experimentao foi onosso caminho durante os primeiros anos, inclusive na utilizao de madeiras alternativas stradicionais (hoje sabidamente inadequadas), pois no tnhamos acesso sequer aos fornecedores demateriais. Basicamente, fomos pelo caminho mais difcil at termos acesso Internet e todo o universode informaes que ela propiciou. O Carlos, apesar de nunca ter se afastado da luteria, seguiu a carreiracomo msico. Eu cheguei a freqentar o bacharelado em violo e toquei com afinco at 1995, quando

    passei a me dedicar exclusivamente luteria.

    BGM Voc tambm constri violes de 8 cordas e o Maurcio Marques usa um dessesinstrumentos. Esses violes so mais trabalhosos?Sim, eu acho que so mais trabalhosos, principalmente porque nem sempre esses violes seguem algica de afinao em quartas. Se pensarmos no violo de oito com duas cordas graves (Si e F#) ficarelativamente fcil equilibr-lo. Mas freqentemente essas cordas so usadas como coringas e avariao de afinaes gera modificaes na tenso geral que o instrumento precisa suportar, o que nosobriga a fortalec-lo um pouco mais. De forma geral, eu diria que o principal cuidado com o violo deoito a regio aguda. Por ter sons to graves ele poder embolar as notas, ficar com m definio.Eu defendo a tese de que bons agudos ajudam a definir melhor as notas na regio grave.

    BGM No Brasil, cerca de 80% dos construtores de violo esto no Rio de Janeiro, So Paulo ouem Minas Gerais. O fato de voc morar no Rio Grande do Sul dificulta alguma coisa?Dificultou bastante no incio, mas no agora. A maior parte dos meus violes so vendidos aqui no RioGrande do Sul ou exportados. A distncia geogrfica dificulta apenas o relacionamento com meus

    colegas, pois, lamentavelmente, eu conheo e me relaciono mais com construtores estrangeiros do quecom brasileiros.

    BGM Qual a sua opinio sobre madeiras alternativas? Tem alguma que voc goste emparticular?O que gera som no violo o tampo e no vejo alternativas para substituir o cedro e os abetosutilizados. fundamental que a madeira do tampo seja leve, resistente e flexvel, uma caractersticaque se consegue apenas quando as rvores so oriundas de pases com perodos de clima frio. Duranteo perodo frio as rvores reduzem o metabolismo e no formam cerne. A alternncia de cerne e alburno(o que cria as linhas longitudinais que vemos nos tampos, quando bem cortados, claro!) faz com queo tampo seja flexvel para vibrar e resistente para suportar a trao das cordas; diferentemente das

    madeiras utilizadas na caixa (fundo e lados), que por refletirem as ondas geradas pelo tampo, devem

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    ser bastante densas, uma caracterstica comum das madeiras tropicais.Ns temos um grande nmero de madeiras que cumprem bem essafuno, apesar do jacarand ser sempre o primeiro a ser lembrado.Mais do que madeira alternativa, eu acredito em materiais alternativos.Eu no concebo que uma rvore, que cresce aleatoriamente e de onde as

    peas de madeira nunca se repetiro, seja o melhor material para gerarsom. Evidentemente, toda a nossa cultura e nossos conceitos sobrequalidade de som esto ligados madeira, mas eu acredito que a mdio

    prazo outros materiais sero utilizados e a minha profisso entrar no rol

    das extintas, pois, com materiais sintetizados, os instrumentos poderoser industrializados sem perder qualidade.

    BGM A msica regional gacha vem aos poucos se popularizandopelo Brasil afora com o surgimento de msicos como o YamanduCosta e o Maurcio Marques. Os violes para tocar msica gachateriam alguma caracterstica especial, como os flamencos, porexemplo?

    No, os violes utilizados na nossa msica regional e folclrica so os mesmos violes utilizados nassalas de concerto. Aqui no sul ns temos a cultura dos festivais e a toda semana uma cidade promoveum. Em funo das variaes de local e de equipamentos de som com qualidade muito duvidosa,

    fundamental utilizar captadores para amplificar o som dos violes. Com isso a maior diferena quehaveria seria a adio do captador ao violo, sendo que a maior parte dos violonistas aqui possui bonsinstrumentos acsticos para gravaes e outros amplificados, para as apresentaes nessas situaes.

    BGM O que voc pensa sobre a operao de apreenso de jacarand-da-baa que levou apolcia a bater na porta de luthiers em busca dessa madeira? E sobre a poltica de controle do

    jacarand, no geral, qual seu sentimento a respeito do assunto?No somente o jacarand! triste ver diariamente as imensas reas devastadas aqui no Brasil edeveriam ser tomadas, l na floresta, medidas para reprimir isso. Fiquei satisfeito quando o supostoluthier que contrabandeava madeira foi pego. Mas fiquei boquiaberto quando soube que a polciafederal visitou luthiers renomados, principalmente em So Paulo e apreendeu madeiras que, com

    certeza, estavam armazenadas h muito tempo e teriam origem legal e moral. Mais ainda, quandosoube da competncia do pessoal que apreendeu at jacarand indiano como sendo brasileiro. O quedizer? Na Europa, principalmente em Portugal, possvel comprar qualquer quantidade de jacarand.Eu conheci uma casa no Porto em que o assoalho da pista de dana feito de jacarand. Numamadereira em Matosinhos a proprietria me disse que tem um irmo no Brasil que enviava as madeiraslegalmente, apenas omitindo que no meio do cedro, ip e outros ia aquele jacarand. Quando estivel a ltima vez em 2000, eram toneladas de jacarand... Eu me pergunto, de quem ele compra essamadeira? Vir de reas de reflorestamento? Existe aqui no Brasil algum que fornea tanto jacarandlegalmente?

    BGM Qual a sua linha preferida de construo? Prefere tcnicas mais modernas, tradicionais

    ou busca desenvolver algo alternativo ou que mescle idias de ambos os lados?Eu sou fascinado pela histria da luteria, assim como sou um colecionador de plantas de violesafamados pelo tempo. Mas o violo no , em hiptese alguma, um instrumento definitivo e eleevoluiu muito, principalmente depois da incluso de materiais compostos na estrutura, como a fibra-de-carbono e o kevlar. Nunca houve uma receita de como se fazer um bom instrumento. A pea demadeira de onde se inicia o instrumento nica e ela definir se ele ser ou no bom. Cabe ao luthierdescobrir qual a melhor construo para tirar o mximo proveito daquilo que ela permite e quando sefala em projeo de som, claro que as tcnicas modernas so mais eficientes. O violo uminstrumento com uma qualidade de som e possibilidades fascinantes e a nica deficincia que pode ter,em relao aos demais, a projeo de som. Eu sou partidrio de utilizar quaisquer meios paramelhorar essa projeo, preservando, claro, a qualidade de som desejada. Freqentemente eu me

    pergunto se gosto mesmo de msica, ou se gosto do violo...

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    BGM Como voc v a evoluo tcnica da luteriano Brasil? E a evoluo do Brasil como mercadoconsumidor de violes artesanais?Eu no posso falar sobre as tcnicas de construoutilizadas aqui, pois, como disse, no me relaciono commeus colegas como gostaria, em funo da nossadistncia geogrfica. Apenas conheo alguns violesque chegam aqui e esses violes que conheci so bem

    tradicionais, ortodoxos eu diria. Evidentemente muitacoisa deve estar sendo feita em termos de pesquisa eexperimentaes que eu no tenho conhecimento. Nogeral, eu acho que os violes que conheo, feitos aquino Brasil, tm uma boa relao custo/qualidade.

    Se tomarmos o Rio Grande como base, a procura por violes artesanais muito grande e crescente,tanto no meio acadmico como popular e acredito que temos poucos profissionais para atender a esse

    pblico. H uns dois anos eu falei com o Julio Malarino, luthier argentino presidente de umaassociao de luteria na Argentina e ele me disse que havia mais de cem luthiers (de violo) inscritos.Se compararmos, veremos como somos poucos no Brasil, em relao ao mercado que temos.

    BGM Algum desejo profissional ainda no realizado? Algum projeto em andamento sobre oqual gostaria de falar?Desejo profissional no realizado? Claro! Fazer aquele violo... Eu venho trabalhando h algunsanos com violes de tampo duplo e a minha inteno passar a me dedicar apenas a esse tipo deconstruo, to logo atenda lista de espera de violes tradicionais que tenho. Eu admiro muito no sa projeo, mas a qualidade de som que esses instrumentos tm.

    BGM Eduardo, gostaramos de agradecer enormemente pela sua participao. Gostaria demandar algum recado para os leitores da BGM?Sim. Alm de deixar um abrao no s aos leitores, mas a vocs tambm e agradecer pela ateno quetiveram comigo, gostaria de lembr-los que quando forem comprar um violo e tiverem a possibilidade

    de fazer essa escolha, optem pelos construdos aqui no Brasil, porque santo de casa tambm fazmilagres.

    O luthier Eduardo Cordeiro pode ser contatado pelo telefone (53)3025-4553 ou pelo [email protected].

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    Entrevista

    IIvvaannPPaasscchhooiittoo

    Escrever partituras um trabalho que envolve criatividade e ateno aos mnimos detalhes. IvanPaschoito um nome conhecido h dcadas por praticamente todos os violonistas brasileiros que

    tm o hbito salutar de adquirir partituras. Suas transcries e arranjos so impecveis e h muito

    j atravessaram as fronteiras do pas, hoje suas publicaes so comercializadas pelo mundo afora,com destaque especial para os EUA. Nesta entrevista, Ivan nos fala de como se interessou por

    msica, pelo mercado editorial e de como o seu processo de trabalho.

    BGM - Poderia nos falar um pouco de como comeou a estudar msica, violo, seus professores?Ouvi msica popular desde bem pequeno. Meu pai era meio seresteiro e gostava de ouvir os grandesdolos da velha guarda. Meu interesse por msica comeou assim, ouvindo Francisco Alves e OrlandoSilva. O interesse pelo violo veio um pouco depois, quando ouvi Dilermando Reis, isso no comeodos anos 60. Meu pai me ensinou alguns acordes, aprendi outros pelo mtodo do Canhoto. Professor,infelizmente, nunca tive. Sempre estudei sozinho: violo, teoria musical, harmonia. Conforme anecessidade, ia buscando informaes, sempre nos livros. Programas de rdio, como Recitais

    DiGiorgio, ou de TV onde s vezes apareciam Antonio Rago ou Silvio Santisteban tambm ajudaram.Vi Dilermando Reis duas vezes na TV. Nos anos 70 conheci Ronoel Simes e aprendi muito com ele ecom outras figuras importantes que apareciam por l.

    BGM - Voc considerou desenvolver uma carreira como concertista?Nunca. Sempre toquei s pelo prazer de tocar. Talvez, se tivesse tido um bom professor, teriaconsiderado a possibilidade de viver do violo, de alguma maneira. Isso, porm, no me incomoda,estou plenamente satisfeito com as escolhas que fiz na vida, e essa minha pequena contribuio para oviolo brasileiro uma delas.

    BGM - E o interesse pelo mercado editorial, como surgiu?

    Como nunca tive professor, o material impresso era a minha nica referncia e fonte de aprendizagem.Da a minha crena na importncia dele. No comeo, tudo que eu precisava, eu encontrava. Com otempo e cada vez mais, aquelas msicas que eu queria tocar nunca haviam sido publicadas. Comeceiento, somente para o meu prprio uso, a tentar meus primeiros arranjos. Isso foi por volta de 1972.Lembro que um dos primeiros que deram relativamente certo foi a cano Clair, um pop hit dapoca, de Gilbert OSullivan e cujo manuscrito conservo at hoje. Continuei tentando e em 1983 eu fizuma transcrio de The Entertainer, de Scott Joplin, que julguei de boa qualidade. Procurei a CulturaMusical, uma editora nova na poca, com uma estrutura menor e mais fcil de abordar. Mesmo assim,foram muitas idas e vindas at assinar um contrato com eles. Vendi, por preo fechado, o meu primeirotrabalho, que foi publicado no ano seguinte. Tanto a empresa quanto a edio j desapareceram hmuitos anos. A minha verdadeira escola foi o grupo editorial Arlequim, dirigido na poca por

    Waldemar Marchetti, percussionista conhecido nos meios musicais por Corisco. Tomei coragem e fui

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    l (precisava coragem mesmo, o apelido do homem no surgiu do nada...). Ofereci trs arranjos doToquinho, cuja obra ele administrava. Ele topou publicar e os trs acabaram virando mais de 30.Foram 6 volumes e algumas partituras avulsas. Fiz tambm arranjos de Milton Nascimento e ChicoBuarque para a Arlequim. Tudo isso tambm, a no ser por poucos exemplares encontrveis em umaou outra loja, j est fora de catlogo. A Arlequim j no detm mais essescopyrightse praticamente parou de imprimir partituras. Os meus melhoresarranjos do Toquinho esto hoje publicados num nico volume pela IrmosVitale. Em 1989 conheci, na Arlequim, o Dean Kamei dono da GSP. Lmesmo decidimos tentar publicar Dilermando Reis no exterior. O primeiro

    volume foi relativamente fcil, todos os copyrights so da Bandeirante. Osegundo foi mais difcil, envolveu negociaes com os grandes gruposinternacionais e diretamente com a famlia. Mas deu tudo certo. Gosto muitodo segundo volume, por conter peas nunca publicadas antes. O volume doPaulinho foi fcil. Ele era meu amigo e autorizou tudo pessoalmente.Somando tudo, so 18 volumes. Este ano sai o dcimo nono. Publiqueitambm 14 partituras avulsas, que pouca gente conhece, incluindo umarranjo deAsa brancado qual gosto muito.

    BGM - Voc tem um trabalho de longa data escrevendo arranjos e transcries, poderia nosfalar um pouco sobre como funciona a mecnica do mercado editorial?

    Antes do som gravado, as pessoas precisavam comprar partituras para ter msica em casa. Foi a era deouro das editoras, que imprimiam e vendiam partituras aos milhares. Com a chegada do disco, aseditoras ampliaram seu ramo de atividade, tornando-se tambm as titulares dos direitos autorais dasobras que publicavam. O autor cedia e transferia s editoras a administrao da obra como um todo. A

    partir da, elas que autorizavam, gravaes, edies ou outros usos da obra, ganhavam dinheiro comisso e repassavam para o autor a porcentagem prevista em contrato. Foi nesse cenrio que surgiram asgrandes editoras brasileiras: Irmos Vitale, Fermata, Ricordi e Mangione, alm de uma infinidade de

    pequenas outras. O esquema, em menor escala, sobrevive at hoje. Com o tempo, as grandesgravadoras perceberam que no era bom negcio pagar direitos a terceiros e comearam a montar suas

    prprias editoras. O artista, contratado da gravadora, antes de gravar seu disco, assinava contrato com aeditora da casa. Essas empresas no imprimiam msica, apenas administravam direitos autorais.

    Depois, os quatro ou cinco grandes grupos econmicos que controlam esse mercado compraram todasas pequenas editoras. s pegar qualquer songbook do Almir Chediack e dar uma olhada noscopyrightsno p da pgina. Hoje, com honrosas excees, s a Ricordi , a Vitale e a Lumiar publicam

    partituras. Msica para violo, s as duas primeiras.

    BGM - O que acontece entre o trmino da partitura at chegar na prateleira para o msico?O processo comea por iniciativa de uma das partes. Ou a editora encomenda o trabalho ou o msicotem uma obra que acredita ser de boa qualidade, merea ser publicada e procura a editora. A tendncia que as editoras s publiquem alguma coisa que tenha mercado, mas sempre existe a possibilidade de

    publicar alguma coisa que seja de qualidade e, mesmo no vendendo muito, vai enriquecer o catlogoda empresa. questo de negociar. Decidida a edio, assina-se um contrato onde, tipicamente, cede-

    se definitivamente a titularidade da obra para a editora. Ou seja, aquela obra arranjo ou original pertence quela editora e no pode ser oferecida pelo autor a outra. Tambm se estabelece quanto oautor vai ganhar e como. Pode ser uma porcentagem do preo de capa ou de venda. Pode ser um valornico, que se recebe vista. Claro que os contratos podem ser renegociados. Decididos estes aspectos,comea a produo. Antigamente o msico levava um manuscrito editora, que se encarregava deelaborar a arte final. Hoje, com a tecnologia disponvel, o msico at pode levar a arte final pronta,mas isso no obrigatrio; alm disso, se essa arte no for boa o suficiente ou no atender a padres daeditora, vai precisar ser refeita. A vantagem da arte final feita pelo msico que a possibilidade dehaver erros menor. Hoje as editoras brasileiras preferem publicar volumes a partituras avulsas. Nessecaso, alm das partituras, preciso pensar no contedo como um todo: pgina de rosto, sumrio, textose capa. Tudo isso precisa ser paginado da melhor maneira possvel, evitando viradas de pginas

    desnecessrias. Da a freqente incluso de pginas em branco nos volumes. Com tudo isso pronto, os

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    arquivos digitais so enviados grfica, que faz um boneco (prottipo) e o submete editora e aoautor. Uma vez aprovado, impresso, geralmente em offset, e est pronto para ir para as lojas. Atiragem costuma ser de 1000 exemplares. O preo de capa aquele que o consumidor paga definido pela editora, que vende para o loja com um desconto que varia conforme a negociao. compreensvel a preocupao da editora com a rentabilidade do volume. O investimento numa

    publicao pode ser grande e o rotorno, demorado. Um exemplo: h pouco tempo vi no catlogo daMusimed um lbum de Armando Neves publicado pela Fermata em 1970. Quase 40 anos depois, aedio ainda no se esgotou.

    BGM - Como voc elabora seus arranjos? Quais fatores pesammais na hora de arranjar uma msica para violo solo?O ideal fazer a msica que voc gosta, mas quando voc se envolvecom o negcio editorial, isso nem sempre possvel. Fiz muito arranjo

    por encomenda, numa certa fase. So os piores. Hoje tento conciliar osmeus interesses e os da editora. Quanto elaborao, qualquer fonteajuda: gravaes, partituras. Para mim, o arranjo que d certo aqueleonde se consegue uma soluo original e que d resultado no violo.Cada arranjo nico; se no for, no deu certo. H arranjadores quetratam todas as msicas com a mesma abordagem e o resultado montono e previsvel. No meu caso, o arranjo s flui depois que eu

    encontro a soluo que considero adequada para aquela pea. No casode peas transcritas diretamente do piano, como as de Nazareth ouJoplin, o original j define algumas coisas. O desafio tornar a msicafluente no violo sem descaracteriz-la. Costumo tomar uma ou outra

    liberdade, mas sempre pensando na obra original. Transcries fiis de gravaes, no fao faz tempo.Para transcrever Dilermando Reis, usei fita cassete, lpis e papel. Hoje, com o computador e

    programas especficos, essa tarefa seria tremendamente mais fcil e certamente mais precisa.

    BGM - Algumas de suas publicaes continuam em catlogo h dcadas e se tornaram refernciade edies confiveis entre os violonistas no Brasil e no exterior, como o caso dos lbuns deDilermando Reis e Paulinho Nogueira. A que atribui esse sucesso?

    Acredito que, principalmente, por serem nicos, mas no s por isso. Claro que eu sabia que estavapublicando pela primeira vez a msica de Dilermando e Paulinho no exterior, mas eu queria que nofosse apenas isso. Queria tambm que fossem boas edies e fiz o melhor que pude na poca (semcomputador...) para escrever a msica deles da maneira mais fiel possvel, segundo o meuentendimento do processo. Resumindo, essas edies devem o status que tm talvez a esses doisfatores: pioneirismo e cuidado na produo. Perfeitas no so. Tudo sempre pode ser melhorado.Quase vinte anos depois de publicadas, no consigo olhar para elas sem querer corrigir ou melhoraralguma coisa.

    BGM - possvel ganhar dinheiro publicando partituras?Com partituras exatamente, ou seja, arranjos e transcries, eu tenho minhas dvidas. Com mtodos e

    obras tericas, talvez seja mais fcil. Diria que Carlevaro e Henrique Pinto so bons exemplos.Acredito que para um profissional do violo, que tenha uma presena marcante no cenrio, boas evrias edies em catlogo podem contribuir com a receita dele, mas nunca sero a principal fonte derenda. As edies podem tambm ser importantes para o currculo, principalmente para esta novagerao de violonistas pesquisadores. A questo que escrever e publicar demanda muito tempo etrabalho. Um profissional do violo pode ganhar mais dinheiro em menos tempo dando concertos,aulas ou gravando discos. Perguntei ao Fbio Zanon se ele ia publicar os arranjos dele de Scarlatti e eleme disse que toca direto dos originais para cravo e nem rascunhos tem. E provavelmente no vale a

    pena para ele, em termos financeiros, investir tempo nisso. Eu s fao por no depender do violo parasobreviver. O interessante que essa opo, de publicar ou no, tem variado ao longo da histria.Segvia publicou muitos dos seus trabalhos; Bream e Williams, quase nada. Mais recentemente,

    Barbosa-Lima e Roland Dyens, alm de escreverem com um apuro incomum, publicam muito.

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    BGM - E o mercado no exterior, funciona melhor que no Brasil?Est difcil falar em mercado no Brasil, a edio de partituras aqui estem vias de extino. Mas em termos de negcios, segundo a minhaexperincia, parecido. Se voc tiver um contrato de ganho por exemplarvendido, periodicamente a editora manda uma planilha e um cheque.Tanto l como aqui. A diferena que l fora a exposio maior.Sintomaticamente, depois das edies do Dilermando pela GSP,apareceram vrias gravaes de obras dele no exterior. As edies da

    GSP esto venda no mundo todo, enquanto as (poucas) editorasbrasileiras ainda acreditam que podem manter o negcio vendendopartituras s no Brasil. Talvez por isso as editoras estrangeiras sejamviveis. Temos grandes editoras l fora, alm da GSP, que s imprimemmsica para violo: Chanterelle, Gendai Guitar, Tecla.

    BGM - Voc percebe hoje alguma melhoria na velha e viciada cultura da fotocpia? A Internetteve algum impacto no mercado editorial? Voc arriscaria alguma previso para o futuro?Diria que a velha e viciada cultura da fotocpia foi substituda pela nova e igualmente viciada culturado download. Acredito que o mercado editorial, assim como outros, sofreu sim com a internet. Mas elaesta a, uma realidade e trouxe uma poro de facilidades. O problema reside nas pessoas acreditarem

    que toda a produo cultural deva estar disponvel gratuitamente na rede, o que, por enquanto, no possvel. Tanto o trabalho intelectual quanto o editorial precisam ser remunerados para continuarexistindo. Ainda acredito que o registro da msica por escrito continua to importante quanto semprefoi para a preservao da obra, tanto no sentido tcnico quanto no histrico. Ao contrrio do que seimaginava, a tecnologia especialmente a informtica no s no eliminou o papel como aindaajudou a produzi-lo de maneira nunca vista. Nesse nosso mundo multimdia de hoje, 95% de toda ainformao disponvel tem como suporte o papel. possvel comprar edies virtuais pela Internet,que voc paga e depois tem um tempo para imprimir o seu exemplar. Ou seja, na prtica, o resultadofinal ainda o papel, aquele que o msico coloca na estante. Eu sou um entusiasta das novastecnologias e o que eu tenho observado que, de maneira geral, elas se sucedem, mas nonecessariamente se excluem. Eu tenho colees de partituras histricas guardadas em cd-rom. Esses

    cd-roms ainda sero tecnologia disponvel daqui a 10 anos? Sero ainda legveis? provvel que no,mas a informao contida no papel continuar l, to disponvel quanto antes, sem precisar denenhuma tecnologia especial para ser decifrada.

    BGM - Que dicas ou conselhos voc daria a quem pretende editar seus prprios trabalhos?Quatro sugestes:

    1) Assegure-se de que seu trabalho tenha qualidade. O que dizem dele seu professor e colegas? Se vocno for conhecido por outros meios como era o meu caso - a primeira edio a mais difcil.Quando vendi meu primeiro trabalho para a Cultura Musical, lembro que o editor pediu que eu tocasseo arranjo para ele verificar a qualidade.

    2) Apresente seu projeto to prximo quanto possvel da arte final. As editoras no negociam idias ouprojetos abstratos, mas sim propostas com forma definida. Os editores querem ver a qualidade do seutrabalho. H mais de dez anos falei para a Ricordi que tinha trs arranjos de Ernesto Nazareth paraviolo. Eles no se interessaram. Ento resolvi fazer a arte final dos arranjos, imprimi e levei para eles.A opinio deles mudou e o lbum foi publicado. No mea esforos, faa o sempre melhor que puder: a nica forma de garantir alguma permanncia e, quem sabe, virar referncia.

    3) Procure as editoras, no Brasil ou no exterior. Hoje isso bastante fcil. A Mel Bay, por exemplo,publica muita msica para violo. O sites das editoras geralmente tm os procedimentos de comoencaminhar trabalhos para anlise.

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    4) E finalmente, se isso for mesmo importante para voc, no desista! O processo editorial quasesempre demorado.

    BGM - Quais os seus projetos em andamento? Voc tem algum projeto que ainda no realizou egostaria de realizar?Tenho um em fase de acabamento e com ttulo ainda no definido. Ser um volume com oito obras:trs de Nazareth (Odeon, Feitio e Floraux); duas de Chiquinha Gonzaga (Lua branca e Gacho);duas de Zequinha de Abreu (Alma em delrioeAmando Sobre o Mar) e uma de Carlos Gomes (Quemsabe?!...). As trs do Nazareth j foram publicadas num volume pela Ricordi. O lbum se esgotou e

    resolvemos rever e ampliar o contedo em vez de, simplesmente, reimprimir. O projeto dos sonhosseria um volume com arranjos do Paulinho Nogueira, escritos to fielmente quanto possvel. Tenhodez bons manuscritos revistos e aprovados por ele. O projeto meio complicado, so muitos direitosautorais e negociaes com a famlia. No vejo possibilidade, por enquanto. Talvez faa um esforo

    para publicar pelo menos o seu clebre arranjo deria na quarta corda.

    BGM - Ivan, gostaramos imensamente de agradecer pela sua contribuio. Mandaria algumrecado para os leitores da BGM?Se quisermos boas edies sempre disponveis, precisamos fortalecer o processo. As editoras semantm vendendo partituras. Se no venderem, param de publicar. Vendendo, porm, so estimuladasa publicar mais, abrindo novas possibilidades aos que querem se iniciar na arte.

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    Scott Joplin, o Violo e o Estilo RagtimeIvan Paschoito

    Scott JoplinApesar da importncia de Joplin para a msica americana, alguns fatos

    bsicos sobre sua vida, como local e data de nascimento, ainda noforam esclarecidos. A freqentemente citada data de 24 de novembrode 1868, sabe-se hoje, incorreta. Documentos existentes permitem

    estabelecer apenas que Scott Joplin nasceu em algum ponto do Texasentre junho de 1867 e janeiro de 1868.

    O ragtime, ritmo sincopado e envolvente que influenciaria toda amsica feita nos EUA, era tocado ou improvisado por pianeiros emsales e bordis. Da mesma forma que Nazareth fez com o choro,Joplin conferiu ao ragtime um refinamento e uma dignidade que eleno tinha. Em suas mos o gnero se converteu numa elaborada formade composio, tendo sido chamado de rei do ragtimeem sua prpriapoca. Entre 1895 e 1917, ano de sua morte, publicou 53 peas para

    piano, dez canes e uma pera, Treemonisha. Existe ainda o registro de uma segunda pera, A Guest

    of Honor, que nunca foi encontrada. Dentre as peas para piano, alm dos rags, que constituem amaior parte, h tambm valsas e marchas. Consta que foram vendidos cerca de 1 milho de exemplaresda partitura de Maple Leaf Rag, um de seus ragsmais famosos. Pelo menos que se saiba, Joplin nochegou a gravar sua msica, mas registrou uma pequena parte dela em rolos de papel perfurados(piano rolls), disponveis hoje em gravaes comerciais. Joplin morreu em 1 de abril de 1917,

    perturbado fsica e mentalmente em conseqncia da sfilis.

    Pouco depois da sua morte o ragtime saiu do cenrio, dando lugar ao jazz. O ragtime influenciouautores como Debussy, Stravinsky e Gottschalk, mas ficou praticamente esquecido at 1973. Nesseano Marvin Hamlisch usou a msica de Joplin como trilha sonora do filme Golpe de Mestre (TheSting)e o mundo voltou a se encantar com o magnetismo do ragtime. A maior parte do material hoje

    disponvel sobre Joplin - gravaes, edies, mtodos foi publicado depois dessa data.

    Joplin e o violoNo universo das seis cordas, por assim dizer, o pessoal do fingerpicking (ou fingerstyle, ou ragtimeguitar), que toca com instrumentos com cordas de ao, foi o primeiro a tocar Scott Joplin. StefanGrossman, num de seus livros, diz que ouviu Joplin no violo pela primeira vez em 1961, tocado porDave Laibman, pioneiro moderno do gnero e que inspirou o prprio Grossman, Duck Baker, Ton VanBergeyk, Lasse Johansson e muitos outros. Assim como ojazz, o ragtime guitarhoje tocado em todoo mundo.

    Arriscaria dizer que o violo clssico s descobriu Joplin depois do sucesso do filme. Mario Abril

    pode ter sido um dos primeiros violonistas clssicos a gravar Joplin, quando, em 1975, incluiu duas desuas peas no LP Classics of American Music. Leo Brower gravou The entertainerno discoDe Bach alos Beatles, de 1981. Barbosa-Lima dedicou um disco inteiro a Joplin em 1983. O maior esforo,

    porm, o de Giovanni De Chiaro que, a partir de 1990, transcreveu, gravou e publicou a integral deJoplin para piano solo. O resultado: 4 CDs e um alentado volume de partituras publicado pela MelBay.

    SolaceNesta obra, publicada em abril de 1909, Joplin distancia-se do ragtime, seu campo de ao natural.Classificada pelo autor comoA Mexican Serenade, a nica na sua produo influenciada pelo ritmoda habanera. A pea tem originalmente 4 partes, porm como o filme utilizou e celebrizou - apenas

    as duas ltimas, assim ela foi depois muitas vezes gravada e publicada. Este meu arranjo baseou-se

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    justamente numa dessas primeiras re-edies. Tanto Barbosa-Lima quanto De Chiaro gravaram a obrana ntegra. O andamento apenas uma sugesto, j que Joplin no indicava marcaes metronmicasnas suas peas. Porm sempre deixava claro que suas peas deveriam ser tocadas lentamente e que errado tocar o ragtimedepressa.

    O estiloragtime guitarApesar de aparentado com o violo clssico, o estilo ragtime/fingerpickingtem l suas caractersticas prprias. Um dos mais interessantes mtodos dognero foi escrito por Richard Saslow: The art of ragtime guitar. O livro um

    primor de edio, tudo explicado com clareza, ilustrado com diagramas,fotografias tcnicas e de poca. Alm disso, impresso todo em spia, o queconfere um clima especial obra. Publicado em 1974, hoje est fora decatlogo, sendo possvel encontr-lo apenas em sebos dos EUA, com preoss vezes bem salgados. O autor, porm, colocou disposio dos interessados,gratuitamente, uma verso digital do livro (pdf), bem como as respectivasgravaes (mp3). Ambos podem ser encontrados aqui:

    http://www.acoustictruth.com/ragtime.html

    Ouam as gravaes e resistam, se puderem, magia do estilo.

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