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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL
BRAÇADEIRA DE POLIAMIDA E FIO DE NÁILON NA OVÁRIO-
HISTERECTOMIA EM GATAS
Tales Dias do Prado
Orientador: Prof. Dr. Adilson Donizeti Damasceno
GOIÂNIA
2012
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TALES DIAS DO PRADO
BRAÇADEIRA DE POLIAMIDA E FIO DE NÁILON NA OVÁRIO-
HISTERECTOMIA EM GATAS
Dissertação apresentada para a obtenção do grau de Mestre em Ciência Animal junto à Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás
Área de concentração: Patologia, Clínica e Cirurgia Animal
Linha de pesquisa: Técnicas cirúrgicas e anestésicas, patologia clínica cirúrgica e cirurgia experimental
Orientador: Prof. Dr. Adilson Donizeti Damasceno – EVZ/UFG
Comitê de Orientação:
Profª. Drª Naida Cristina Borges – EVZ/UFG Prof. Dr. Marcello Rodrigues da Roza – EVZ/UFG
GOIÂNIA
2012
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
GPT/BC/UFG
P896b
Prado, Tales Dias do.
Braçadeira de poliamida e fio de náilon na ovário-histerectomia em gatas / Tales Dias do Prado. - 2012.
xv, 46 f. : il., figs, tabs.
Orientador: Prof. Dr. Adilson Donizeti Damasceno; Coorientadores: Profª. Drª. Naida Cristina Borges, Prof. Dr.
Marcello Rodigues da Roza.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Goiás, Escola de Veterinária e Zootecnia, 2012.
Bibliografia.
Inclui lista de figuras, tabelas e quadros.
1. Ovário-histerectomia – Gatas hígidas. 2. Ligadura –
Braçadeira. 3. Ligadura – Fio de náilon. I. Título.
CDU: 591.465.3-089:599.742.73
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À minha mãe, que não obstante a distância, jamais deixou de estar perto de mim, seja por preces ou pensamentos. E ao meu pai que, logo no início da caminhada universitária, teve que seguir frente à evolução, não mais física e partiu, mas cuja lembrança de doçura jamais sairá da minha memória. Pela dedicação que ambos sempre tiveram em mostrar que a retidão moral nos aproxima do Pai.
Dedico...
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AGRADECIMENTOS
Primeiramente e, acima de tudo, agradeço ao Pai, grande arquiteto do
universo, por me proporcionar saúde física e mental para que pudesse concluir
mais esta etapa na escala evolutiva e por colocar em meu caminho pessoas
especiais, que me ajudaram a transpor as barreiras das minhas próprias
limitações.
Ao meu saudoso pai Bonifácio que, apesar de não estar mais tão perto
de mim, foi e é um exemplo, vivo em minhas lembranças, de honestidade e
caráter. Por me fazer entender que quando fazemos o que gostamos, a vida tem
maior sentido. Muito obrigado.
À minha querida mãe Divina, que me apoiou desde o primeiro instante;
mostrou que na escola da vida devemos aprender o que é bom e útil, e ignorar o
que nos fere sem motivo; principalmente, por ter me ensinado, com seu exemplo,
que o trabalho dignifica o ser e alimenta o espírito. Obrigado mãe pelas suas
orações infindáveis, que chegavam a mim como doce bálsamo salutar, me dando
força para nunca desistir.
Ao meu irmão Eduardo Gomes do Prado, por me mostrar que os laços
de família, mesmo com o passar do tempo, não afrouxam e por ser sempre uma
ótima companhia, revelando-se um grande amigo. E ao meu irmão Renato Dias
do Prado, por acreditar na educação e sempre me apoiar para seguir em frente.
Ao meu orientador, Prof. Adilson Donizeti Damasceno, pelo voto de
confiança a mim concedido e pelo grande acréscimo à minha formação
profissional e pessoal.
À Profa. Naida Cristina Borges, que além de uma co-orientadora
extremamente presente e prestativa, sempre foi, para mim, um exemplo de
conduta profissional e de respeito para com nossos pacientes.
Ao Prof. Marcello Roza, meu co-orientador, pela solicitude de sempre,
mesmo que distante.
Ao Prof. Olízio Claudino da Silva, da Escola de Veterinária e Zootecnia
da UFG e à Drª Kellen de Souza Oliveira, pela disponibilidade em participarem
como membros da banca examinadora desta dissertação.
vi
A todos os colegas e amigos que participaram do experimento, Rogério
Marques Fortes, Fernanda, Tatiane Abreu e aos alunos de graduação Laila,
Anderson, Luíza, Adriana, Ângela. Sem a valorosa ajuda de vocês, certamente,
eu não teria conseguido.
Aos amigos Renato de Lima César, Saura Nayane de Sousa, Thaís
Domingos Menezes, Ângela Moni Fonseca e Sara Martins Barbosa, sempre tão
presentes na minha vida. Muito obrigado por fazerem parte dela.
À CAPES pela bolsa concedida.
A todos os colegas e funcionários da Escola de Veterinária e Zootecnia
da UFG.
A todos que contribuíram e acreditaram neste projeto,
Meus sinceros agradecimentos.
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“Os mais felizes são aqueles que já trabalham, de algum modo, em favor de muitos ou a benefício de alguém e, por este motivo, são os que constroem. Os menos felizes são aqueles outros que ainda não conseguem aceitar o valor do trabalho e a felicidade de servir e, por isso, são aqueles que esperam.”
Emmanuel
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SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 – OVÁRIO-HISTERECTOMIA FELINA: REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................................... 1 1.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 1 1.2 ANATOMIA DO TRATO REPRODUTOR FEMININO ................................ 3 1.3 OVÁRIO-HISTERECTOMIA ....................................................................... 5 1.4 BRAÇADEIRAS DE POLIAMIDA ............................................................... 8 1.5 OBJETIVOS ............................................................................................... 10 1.5.1 Objetivo Geral ......................................................................................... 10 1.5.2 Objetivos Específicos .............................................................................. 10 1.6 REFERÊNCIAS ......................................................................................... 11 CAPÍTULO 2 – BRAÇADEIRA DE POLIAMIDA PARA HEMOSTASIA PREVENTIVA NA OVÁRIO-HISTERECTOMIA EM GATAS, REALIZADA PELA LINHA MÉDIA OU PELO FLANCO ........................................................ 15 2.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 15 2.2 MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................... 16 2.2.1 Animais .................................................................................................... 16 2.2.2 Grupos Experimentais ............................................................................. 17 2.2.3 Braçadeiras ............................................................................................. 18 2.2.4 Pré-operatório e Anestesia ...................................................................... 18 2.2.5 Trans-operatório ...................................................................................... 19 Grupos I e II ...................................................................................................... 19 Grupos III e IV .................................................................................................. 22 2.2.6 Tempos cirúrgicos ................................................................................... 24 2.2.7 Pós-operatório ......................................................................................... 25 2.2.8 Avaliação clínica ...................................................................................... 25 2.2.9 Avaliações ultrassonográficas ................................................................. 26 2.2.10 Análise Estatística ................................................................................. 26 2.3 RESULTADOS ........................................................................................... 27 2.3.1 Tempo de diérese e síntese .................................................................... 27 2.3.2 Material para ligadura de pedículo e corpos uterinos .............................. 27 2.3.3 Tempo total de cirurgia ............................................................................ 29 2.3.4 Avaliação da ferida cirúrgica ................................................................... 29 2.3.5 Avaliação Clínica dos animais ................................................................. 33 2.3.6 Avaliações ultrassonográficas ................................................................. 34 2.4 DISCUSSÃO .............................................................................................. 36 2.5 CONCLUSÕES .......................................................................................... 40 2.6 REFERÊNCIAS .......................................................................................... 41
ix
LISTA DE FIGURAS
CAPÍTULO 1
FIGURA 1 Desenho esquemático das principais estruturas constituintes do
aparelho reprodutor feminino.....................................................
4
FIGURA 2 Modelos de braçadeiras de náilon 6.6 incolores disponíveis
comercialmente, em repouso (seta contínua) e após acionamento
(seta interrompida), condição caracterizada por um travamento
seguro e não reversível...............................................................
10
CAPÍTULO 2
FIGURA 1 Campos cirúrgicos preparados para a realização de duas
formas de acesso para ovário-histerectomia em gatas: (A)
incisão na linha média ventral (seta), aproximadamente 3 cm
caudal à cicatriz umbilical; (B) incisão na porção mais caudal do
flanco
direito................................................................................................
17
FIGURA 2 Etapas da OHE tradicional, por celiotomia pela linha média ventral
e ligadura com fio de náilon. A) Identificação do corno uterino
direito, após incisão na linha média ventral. B) Posicionamento
das três pinças. C) Ligadura com fio de náilon. D) Posicionamento
das pinças no corpo uterino, para posterior ligadura com fio de
náilon..................................................................................................
21
FIGURA 3 Etapas da OHE por celiotomia pela linha média ventral e ligadura
com braçadeiras de náilon. A) Identificação do corno uterino e
ovário direito, após incisão na linha média ventral. B) Aplicação
da braçadeira de náilon. C) Exposição do corpo uterino, para
aplicação da braçadeira. D) Posicionamento das pinças de apoio
no corpo uterino.................................................................................
22
FIGURA 4 Etapas da OHE por celiotomia pelo flanco e ligadura com fio de
náilon. A) Incisão no flanco direito. B) Posicionamento das três
pinças. C) Ligadura com fio de náilon. D) Posicionamento das
pinças no corpo uterino, para posterior ligadura com fio de
náilon.................................................................................................
23
FIGURA 5 Etapas da OHE por celiotomia pelo flanco e ligadura com fio de
náilon. A) Incisão no flanco direito. B) Identificação do corno
uterino e ovário direito. C) Aplicação da braçadeira e da pinça
hemostática. D) Ligadura do corpo uterino com braçadeira de
náilon..................................................................................................
24
FIGURA 6 Avaliação morfológica das feridas cirúrgicas de gatas submetidas
x
à OHE, com acesso pela linha média. A) Ferida cirúrgica
imediatamente após a realização do procedimento. B) Aos sete
dias, a ferida apresenta edema leve, ausência de secreção e
todos os pontos intactos. C) Aos 28 dias de decorrência da
cirurgia, a cicatrização foi completa..................................................
30
FIGURA 7 Avaliação morfológica das feridas cirúrgicas de gatas submetidas
à OHE, com acesso pelo flanco. A) Ferida cirúrgica
imediatamente após a realização do procedimento. B) Aos sete
dias, a ferida não apresenta edema, secreção ou mesmo
deiscência da sutura. C) Aos 28 dias de decorrência da cirurgia, a
cicatriz diminuiu e apresentou-se praticamente
inaparente..........................................................................................
31
FIGURA 8 Deiscência de sutura, alguns dias após a cirurgia. A) e B) foi
submetida à OHE pela linha média. Aos sete (A) dias houve
ruptura de um dos pontos e exposição de parte do omento,
entretanto aos 28 (B) dias a cicatrização foi completa. C) e D) foi
submetida à OHE com acesso pelo flanco. Houve deiscência de
toda sutura da pele (C), mas aos 28 dias (D) a cicatrização foi
completa..............................................................................
34
FIGURA 9 Imagens ultrassonográficas do coto uterino e pedículo ovariano
de gatas, SRD, adultas, após serem submetidas à ovário-
histerectomia. A) Imagem hiperecóica formadora de sombra
acústica posterior em animal que teve a ligadura de coto uterino
realizada com fio de náilon, imediatamente após a ovário-
histerectomia. B) Imagem hiperecóica formadora de forte
sombra acústica posterior em animal que teve a ligadura de
pedículo ovariano realizada com braçadeira de náilon,
imediatamente após o procedimento. C) Imagem de
ecogenicidade mista, amorfa, medindo aproximadamente 2,14
cm x 1,68 cm, em animal com ligadura realizada com
braçadeira de náilon, sugerindo granuloma após sete dias do
procedimento. D) Imagem hipoecóica, homogênea, não
geradora de sombra acústica posterior em topografia de coto
uterino com braçadeira de náilon, 28 dias após a ovário-
histerectomia.........................................................................
35
xi
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO 2
TABELA 1 Médias dos tempos de diérese e síntese de gatas submetidas
à ovário-histerectomia, por dois diferentes acessos (linha
média ventral – GI e GII ou pelo flanco – GIII e GIV). EVZ –
UFG,
2011.................................................................................................
27
TABELA 2 Médias dos tempos de ovário-histerectomia, utilizando dois
diferentes materiais para ligadura dos CAVO’s e corpos uterinos
(náilon – GI e GIII ou braçadeira de náilon – GII e GIV). EVZ –
UFG, 2011.................................................................................
28
TABELA 3 Médias dos tempos totais de cirurgia (incluindo diérese, OHE e
síntese) de 24 gatas submetidas à OHE por acesso pela linha
média ou pelo flanco e cujo material utilizado para ligadura foi fio
de náilon ou braçadeira de náilon. EVZ – UFG,
2011.................................................................................................
29
TABELA 4 Médias dos tamanhos das incisões e das feridas cirúrgicas, em
centímetros, no dia da cirurgia e aos sete e 28 dias após a
cirurgia. EVZ – UFG, 2011.....................................................
30
TABELA 5 Incidência de presença de secreção na ferida cirúrgica de 24
gatas submetidas à OHE, por acesso pela linha média ou pelo
flanco................................................................................................
31
TABELA 6 Incidência de edema na ferida cirúrgica de 24 gatas submetidas
à OHE, por acesso pela linha média ou pelo
flanco................................................................................................
32
TABELA 7 Incidência de edema na ferida cirúrgica de 24 gatas submetidas
à OHE, por acesso pela linha média ou pelo
flanco................................................................................................
32
xii
LISTA DE ABREVIATURAS
CAVO Complexo arteriovenoso ovariano
cm Centímetro
IM Intramuscular
IV Intravenoso
mg/kg miligramas por quilo
OE Ovariectomia
OHE Ovário-histerectomia
SC Subcutânea
xiii
RESUMO
A ovário-histerectomia representa um dos procedimentos mais realizados pela clínica de pequenos animais, tendo por finalidade o controle da natalidade, prevenção de cio e pseudogestação, como também, tratar afecções do trato reprodutor feminino. Foram descritas muitas variações de técnicas de ovário-histerectomia, incluindo, além da tradicional abordagem pela linha média, abordagem pelo flanco e diversas abordagens laparoscópicas. Participaram, no presente estudo, 24 gatas hígidas, sem raça definida, adultas, atendidos no Hospital Veterinário da Universidade federal de Goiás. As gatas foram distribuídas aleatoriamente em quatro grupos de seis animais para a realização do procedimento cirúrgico, da seguinte forma: Grupo I - acesso pela linha média e ligadura com fio de náilon; Grupo II - acesso pela linha média e ligadura com braçadeira de náilon; Grupo III - acesso pelo flanco e ligadura com fio de náilon e Grupo IV - acesso pelo flanco e ligadura com braçadeira de náilon. Durante os procedimentos foram cronometrados os tempos de diérese, da ovário-histerectomia em si e de síntese. Avaliações clínicas foram feitas aos sete e 28 dias após a cirurgia. Avaliações utrassonográficas foram realizadas em quatro tempos: antes da cirurgia, imediatamente após, aos sete e aos 28 dias, com intuito de verificar possíveis alterações relativas aos materiais empregados. Os resultados mostraram que o acesso pela linha media foi significativamente mais rápido que pelo flanco. O tempo de ligadura dos pedículos e corpo uterino, assim como o tempo total da cirurgia, foram estatisticamente inferiores nos grupos onde a braçadeira foi empregada. Observou-se maior incidência de edema no grupo de animais onde o acesso foi pela linha média aos sete dias, entretanto aos 28 dias todas as incisões já haviam cicatrizado. As conclusões indicam que as braçadeiras constituem dispositivos seguros, que podem ser utilizados na OHE em gatas. O aceso pelo flanco é, significativamente, mais demorado que pela linha média. Ainda, a incidência de edema foi consideravelmente maior nos grupos em que o acesso à cavidade foi feito pela linha média. Palavras-Chave: braçadeiras, celiotomia, cirurgia, felino, OSH
xiv
ABSTRACT
Nylon clamps and mononylon for ovariohysterectomy in cats
Ovariohysterectomy is the most performed surgery in small animals, with the purpose of birth control, avoiding pseudocyesis as also treating female reproductive tract affections. Several surgery techniques have been described. Beyond the traditional midline approach to the abdomen, the flank many laparoscopic approaches may be performed. Twenty-four healthy, mongrel and adult cats took part of the study. They were randomly distributed in four groups of six animals, this way: GI – midline approach and ligature with nylon thread; GII – midline approach and ligature with nylon clamp; GIII – flank approach and ligature with nylon thread and GIV – flank approach and ligature with nylon clamp. The times of dieresis, ovariohysterectomy and closure were timed. Clinic evaluations were done at the day of the surgery and at 7 and 28 days after it. Ultrassonographic evaluations were performed at the day of the surgery, before and after it, and at 7 and 28 days after it, to verify possible alterations related to the material used. The results revealed that the midline approach was significantly faster than the flank approach. The ligature time of the pedicles and uterus body, as the total surgery time were statistically shorter for the groups that used the nylon clamp. We also observed a higher incidence of edema in the groups of midline approach at the seventh day after surgery, however at the twenty-eighth day after surgery, all the wounds healed equally. We concluded that the nylon clamps were secure to be use in cats’ ovariohysterectomies. Also, the flank approach takes more time to be performed than the midline one. The incidence of edema is considerable higher in the groups of midline access. Keywords: clamps, celiotomy, surgery, feline, OSH
1
OVÁRIO-HISTERECTOMIA FELINA – REVISÃO DA LITERATURA
1.1 INTRODUÇÃO
No Brasil, em virtude da ausência de políticas públicas efetivas de
controle populacional, milhares de cães e gatos nascem diariamente originando
superpopulações que imprimem impactos negativos importantes na área social,
econômica e sanitária. Assim, na tentativa de controle deste quantitativo,
principalmente nas áreas urbanas, inúmeros animais são capturados,
aprisionados e submetidos à eutanásia. Cientes da ineficácia desta medida,
alguns centros urbanos mundiais já vêm adoNtado a esterilização cirúrgica como
forma a consorciar a prevenção da eutanásia, pouco aceitável socialmente, e a
otimização dos recursos financeiros destinados a tal fim (FARIA et al., 2005).
De acordo com ROBERTSON (2008), estima-se que há mais de 200
milhões de gatos de estimação no mundo. Nos Estados Unidos, China e em
muitos países europeus, o número de gatos supera o de cães, aumentando
consideravelmente a necessidade de métodos de controle de natalidade. Neste
sentido, a ovário-histerectomia constitui um dos procedimentos mais
habitualmente realizados em pequenos animais com vista ao controle da
população de pequenos animais, além da prevenção ao cio e à pseudogestação
(OLIVEIRA, 2007; SCHIOCHET et al., 2007; TROMPOWSKY et al., 2007) e, em
alguns países, adicionalmente, o método visa reduzir o número de animais
submetidos à eutanásia por possibilitar uma posterior adoção (NELSON &
COUTO, 1998). Além disso, constitui-se no procedimento de eleição para a
terapia de doenças do aparelho reprodutor (CASTRO et al., 2004; MALM et al.,
2004 e TROMPOWSKY et al., 2007).
FINGLAND (1996), STOCKLIN-GAUTSCHI et al. (2001), HEDLUND
(2005) e STONE (2007) consideram outras razões para a realização de ovário-
histerectomia incluindo prevenção de tumores mamários ou anomalias congênitas;
prevenção ou tratamento de piometra, metrite, neoplasias (ovarianas, uterinas ou
vaginais), cistos, traumatismos, torção uterina, prolapso uterino, prolapso vaginal,
hiperplasia vaginal e controle de algumas anormalidades endócrinas (diabetes
melittus e epilepsia) e dermatoses (por exemplo, demodicose generalizada).
2
Em felinos, são poucas as potenciais complicações relacionadas à
ovário-histerectomia descritas na literatura veterinária, sendo que tais
complicações ocorrem mais comumente em animais da espécie canina (KUAN et
al., 2010).
A idade habitual para castração de cadelas e gatas situa-se em torno dos
seis meses, imediatamente antes do primeiro estro. Há relatos de que em alguns
abrigos de sociedades protetoras de animais, os filhotes (tanto cães quanto gatos)
foram castrados entre oito e 12 semanas de vida, sem relatos de efeitos adversos.
Entretanto, depois da ovário-histerectomia muito precoce, pode haver maior
potencial para hipoplasia da vagina e vulva, cursando com dermatite perivulvar.
Outro potencial efeito colateral é a persistência do comportamento juvenil,
indesejado principalmente em algumas raças de cães (STONE, 2007).
Foram descritas muitas variações de técnicas de ovário-histerectomia,
incluindo, além da tradicional abordagem pela linha média, abordagem pelo flanco e
diversas abordagens laparoscópicas. As ligaduras dos pedículos ovarianos e corpo
uterino podem ocorrer, da mesma maneira, de diversas formas que envolvem desde
ligaduras com variáveis tipos de fios absorvíveis ou inabsorvíveis até a utilização de
grampeadores (HEDLUND, 2005).
A hemostasia constitui importante momento durante qualquer
procedimento cirúrgico. Os métodos para controlar as hemorragias cirúrgicas podem
ser realizados, nos vasos de pequeno calibre, por pinçamento, pinçamento e torção
ou ainda por eletrocoagulação. Nos vasos de médio e grande calibres pode-se optar
por ligaduras simples, de transfixação ou ainda coagulação por diatermia (ROVERE
et al., 2007).
As ligaduras têm sido realizadas por mais de 4.000 anos, por meio do
emprego de materiais diversos, que incluem desde linho, seda e intestino de ovinos
até os atuais materiais sintéticos. Braçadeiras de náilon ajustáveis podem ser
empregadas para hemostasia permanente, com oclusão correta dos pedículos
vasculares e com grandes vantagens, tais como, baixo custo, facilidade e rapidez de
uso por não requerer nenhum dispositivo específico para sua aplicação (ROVERE
et al., 2007).b
Assim exposto, a escolha da espécie felina para este estudo deve-se ao
substancial incremento de sua população nos últimos anos e, consequentemente, à
3
sua importância na rotina clínico-cirúrgica. As braçadeiras de náilon podem constituir
excelente alternativa para ligadura dos complexos arteriovenosos nas ovário-
histerectomias em gatas, conferindo segurança e baixo custo ao processo. O
acesso cirúrgico pode representar importante papel no tempo total da cirurgia, por
isso há necessidade de comparação entre acesso tradicional (linha média) e outro
(pelo flanco) que, aliado a formas mais rápidas e seguras de hemostasia pode
reduzir o tempo total da cirurgia.
1.2 ANATOMIA DO TRATO REPRODUTOR FEMININO
De acordo com BRESCIANE (2005), o ato operatório exige que o
cirurgião esteja familiarizado com a anatomia e nomina da estruturas que compõem
a região em foco, uma vez que tal conhecimento permite uma precisa identificação
para que se proceda a adequada correção dos defeitos que porventura existam.
Assim, em relação ao trato reprodutor da fêmea felina (Figura 1), sabe-se
que os ovários têm cerca de um cm de diâmetro e estão localizados nas
proximidades da parede abdominal e dos pólos caudais dos rins. Em fêmeas
multíparas, os ovários localizam-se em posição mais caudal e ventral. A bolsa
ovariana é bem menor, quando comparada à de outros carnívoros, não contém
gordura e reveste apenas a superfície lateral do ovário. A estabilidade dos ovários é
mantida por um conjunto de ligamentos. Cada ovário está aderido à região
dorsolateral da parede abdominal pelo mesovário, por onde avançam os vasos
sanguíneos ovarianos. O mesovário tem continuidade cranialmente com o ligamento
suspensório e caudalmente com o mesométrio. O ligamento suspensório do ovário
estende-se até a última costela. O ligamento próprio do ovário é a continuação do
ligamento suspensório. Esse ligamento conecta a extremidade caudal do ovário à
extremidade cranial do corno uterino (STONE, 2007).
As tubas uterinas são pequenas e possuem em média de cinco a oito cm
de comprimento. Cada tuba projeta-se cranialmente na parte lateral da bolsa
ovariana e, a seguir, corre caudalmente na parte medial da bolsa. A bolsa é, assim,
parte do mesovário. A extremidade fimbriada está essencialmente situada na bolsa
ovariana, mas parte dela pode ser projetar através da abertura, semelhante a fenda,
da bolsa. O óstio uterino é muito pequeno (HELLENPORT, 1986).
4
FIGURA 1 – Desenho esquemático das principais estruturas constituintes do
aparelho reprodutor da fêmea felina.
Fonte: Adaptado de STONE (2007)
O útero tem um corpo muito pequeno e cornos extremamente longos e
estreitos. Os cornos são de diâmetro uniforme e quase retos, situando-se
inteiramente dentro do abdômen. Divergem do corpo em forma de V no sentido de
cada rim. Suas partes caudais estão unidas pelo peritônio. O colo é bastante curto e
possui uma espessa túnica muscular (HELLENPORT, 1986). O mesovário faz parte
do ligamento largo, e fixa o útero à parede dorsolateral do corpo. O ligamento
redondo do útero estende-se desde a extremidade do corno uterino, através do
canal inguinal, terminando entre a região inguinal e a vulva (STONE, 2007).
As artérias ovarianas e uterinas irrigam o útero. O ramo uterino da artéria
ovariana irriga a porção cranial dos cornos uterinos. A artéria uterina origina-se da
artéria pudenda interna e irriga a parte caudal do útero, cérvix e partes da vagina. As
veias uterinas acompanham o trajeto das artérias, exceto que a veia ovariana
esquerda une-se à veia renal esquerda (STONE, 2007).
5
1.3 OVÁRIO-HISTERECTOMIA
Diversas técnicas de esterilização cirúrgica já foram descritas, incluindo a
ovário-histerectomia tradicional pela linha média, ovário-histerectomia pelo flanco,
ovariectomia (OE) (ainda que em animais muito jovens) e ainda ovariectomia ou
ovário-histerectomia laparoscópicas (HEDLUND, 2005; HOWE, 2006, NIMWEGEN
& KIRPENSTEIJN, 2007).
Em cães e gatos, em geral, a ovário-histerectomia é tradicionalmente
realizada mediante uma pequena incisão na linha média ventral. Em cadelas
adultas, a incisão é tipicamente iniciada na cicatriz umbilical ou, no máximo, um cm
caudal a ela. Já em gatas, a incisão deve ser feita no terço médio entre a cicatriz
umbilical e o púbis, o que permite acesso ao corpo uterino e à cérvix, que se
localizam mais caudalmente, quando comparados aos das cadelas. O tamanho da
incisão deve ser suficiente para expor os ovários, assim como o corpo uterino e a
cérvix, para posterior ligadura. Uma vez que o trato reprodutivo seja identificado, o
ligamento suspensório deve ser rompido por meio da tração caudolateral ou
caudomedial do mesmo com o dedo indicador (HOWE, 2006).
Inúmeras técnicas de fixação dos pedículos ovarianos e cotos uterinos já
foram descritas, incluindo a utilização de uma duas ou três pinças (DAVIDSON et
al., 2004). As técnicas das duas ou três pinças são particularmente úteis quando
existe piometra, enquanto uma única pinça deve ser preferida quando há tratos
reprodutivos pequenos, frágeis ou mesmo friáveis (HOWE, 2006).
Da mesma forma, diversos materiais podem ser utilizados para ligadura
dos pedículos e cotos, incluindo materiais absorvíveis e inabsorvíveis (FINGLAND,
1996; DAVIDSON et al., 2004; HEDLUND, 2007). Independentemente da técnica
escolhida, o importante em gatas é visualizar o ovário ou cuidadosamente palpar o
ovário para depois exercer leve pressão com os dedos para protegê-los enquanto o
material de ligadura é posicionado. Isto previne o clampeamento inadvertido de
parte do tecido ovariano (HOWE, 2006).
As ligaduras duplas, e de transfixação são recomendadas em todos os
pedículos ovarianos de cadelas adultas, enquanto ligaduras duplas somente em
6
círculos são suficientes nas gatas, a menos que elas estejam prenhes ou em estro
(DAVIDSON et al., 2004; HOWE, 2006).
Outra opção de abordagem para realização de OHE é pelo flanco
abdominal. Esta pratica não é muito realizada em alguns países, como os Estados
Unidos, por exemplo. Entretanto, em outros, como o Reino Unido, constitui uma
prática rotineiramente realizada. Existem indicações e contra-indicações para esta
abordagem (MCGRAPH et al., 2004).
O acesso pelo flanco tem sido sugerido como alternativa quando o
animal possui desenvolvimento excessivo do tecido mamário ou em casos de
animais selvagens, nas quais exames e monitoração pós-operatórios são limitados
(LEVY, 2004; MCGRAPH,et al., 2009). A principal vantagem descrita está
relacionada com a diminuição de probabilidade da ocorrência de deiscência da
sutura e evisceração, enquanto a principal desvantagem refere-se a exposição
limitada do ovário contralateral, principalmente em animais com maior quantidade de
gordura adjacente ao ovário. As contra-indicações para este acesso incluem
piometra, gestação, estro, obesidade e animais muito jovens, com idade inferior a 12
meses (HOWE, 2006).
Devido à freqüência com que os procedimentos de esterilização são
realizados, deve-se admitir certo número de casos de complicações, que incluem
hemorragias, infecções da ferida cirúrgica, síndrome do ovário remanescente
(HEFFELFINGER, 2009), piometra de coto uterino, granuloma ou abscesso de coto
uterino (CAMPBELL, 2004; KANAZONO et al., 2009), trauma ureteral (RUIZ DE
GOPEGUI et al., 1999; MEHL & KYLES, 2003) e incontinência urinária (STOCKLIN-
GAUTSCHI et al., 2001).
A hemorragia tem sido descrita por alguns autores, como a complicação
mais comum associada à OHE (ADIN, 2011). A detecção de hemorragia intra-
abdominal pós-operatória pode ser difícil. Os sinais clínicos podem envolver
achados como recuperação anestésica lenta, mucosas pálidas e taquicardia. Uma
observação clínica é que em muitos animais com hemoperitônio pós-operatório
agudo pode ocorrer extravasamento de sangue sem coágulos, em grandes
volumes, pela incisão cirúrgica. Tal sinal pode ser, por muitas vezes, erroneamente
interpretado como hemorragia dos vasos subcutâneos (BURROW et al., 2005). A
hemorragia no período trans-operatório está mais comumente associada à ruptura
7
do pedículo ovariano direito durante a tentativa de romper o ligamento suspensório.
Outra causa comum de hemorragia do pedículo ovariano é a realização do nó de
maneira inadequada, problema mais corriqueiro quando cirurgiões em treinamento
tentam ligar um pedículo, com grande quantidade de gordura adjacente, em massa
(ADIN, 2011).
A síndrome do ovário remanescente é caracterizada pela presença de
tecido ovariano funcional, com sinais de estro, após OEH ou mesmo OE. Os sinais
de estro podem ocorrer semanas ou mesmo anos após a cirurgia e incluem lordose,
vocalização, rolagem no chão e receptividade aos machos não castrados (LITTLE,
2001). A causa mais comum da síndrome do ovário remanescente é a falha na
remoção de todo o ovário, mas também pode ocorrer pela revascularização do
tecido ovariano que, indevidamente, caiu no abdômen durante a OHE ou OE. A
presença de neoplasia no ovário remanescente é rara e fatores como raça e idade
parecem não influenciar para a ocorrência da síndrome do ovário remanescente
(DENARDO et al., 2001; BALL et al., 2011).
Outra complicação importante á a piometra de coto, que pode ocorrer em
cadelas e gatas, em seguida à OHE incompleta. Pode ser evitada pela remoção
completa dos cornos e do corpo uterino. A ligadura deve ser aplicada em um local
imediatamente cranial à cérvix. Como a cérvix das gatas se posiciona mais
caudalmente, quando comparada à das cadelas, a incisão deve ser realizada mais
caudalmente (CAMPBELL, 2004; STONE, 2007; KANAZONO et al., 2009).
A inflamação e o granuloma do coto uterino podem ser causados por
ligaduras com material de sutura não absorvível, técnica de assepsia deficiente, ou
quantidade remanescente excessiva de corpo uterino desvitalizado. O uso da
técnica e dos materiais apropriados, e o envolvimento do corpo uterino, minimizam a
chance de ocorrência dessa complicação (KANAZONO et al., 2009).
A ligadura acidental de um ureter, causando hidronefrose ou atrofia do
rim, pode ser evitada pela identificação cuidadosa do corpo e cornos uterinos. A
inclusão do ureter na ligadura é mais provável quando a bexiga está distendida, o
que desloca o trígono e a junção ureterovesical cranialmente, e afrouxa os ureteres
(MEHL & KYLES, 2003; STONE, 2007).
A incontinência urinária em seguida à OHE pode ser causada por
aderências ou granulomas do coto uterino, que interferem com a função do esfíncter
8
vesical urinário. Uma ligadura comum em torno da vagina e do ureter pode produzir
fistulação vaginoureteral e incontinência urinária (STOCKLIN-GAUTSCHI et al.,
2001).
1.4 BRAÇADEIRAS DE POLIAMIDA
A poliamida, ou náilon, pertence ao grupo da família dos termoplásticos
semicristalinos, sintetizados a partir da hexametilentetramina e ácidos alifáticos de
cadeia linear. É um polímero bastante elástico, com boas propriedades protetoras e
boa resistência à abrasão. É resistente aos óleos, gorduras, solventes e alcoóis,
mas não aos solventes que os hidrolisam (ROVERE et al., 2007).
ALBUQUERQUE (1990) e MIRANDA et al. (2006) apontaram sua
excepcional tenacidade, alta resistência ao desgaste, baixo coeficiente de atrito, alta
rigidez dielétrica e resistência química excelente. O material pode ser utilizado em
equipamentos mecânicos e elétricos, utilidades domésticas e peças para indústrias.
Segundo os autores, outras vantagens da braçadeira de náilon, tais como o baixo
custo, resistência à alta pressão, amortecedor de vibrações e pesos, elevada
resistência ao corte e resistência a agentes químicos, também devem ser
consideradas.
Cada tipo particular de náilon é descrito por um ou dois números, por
exemplo, náilon 6 ou náilon 6.6, onde cada número indica a quantidade de átomos
de carbono nos monômeros aminados e ácidos (BOOTHE, 1998).
A braçadeira de náilon além de resistente à tração apresenta um sistema
de trava eficiente. O material é de fácil manuseio e esterilização, baixo custo e bem
tolerado pelo organismo (SILVA et al., 2006).
As braçadeiras de náilon têm sido amplamente empregadas em várias
especialidades cirúrgicas (PAIVA et al., 2004; MIRANDA et al.,2006; SILVA et al.,
2006).
De acordo com MIRANDA et al. (2006), a braçadeira é constituída por
uma fita de náilon 6.6. e, em comparação como os fios de aço, apresenta como
vantagens a praticidade na sua aplicação e menor injúria causada ao tecido mole
circunvizinho (SCHIMIDT & DAVIS, 1978).
9
Estruturalmente, a braçadeira possui em uma extremidade um sistema
guia autotravante contínuo a uma haste tipo fita que, ao longo de uma de suas
superfícies possui saliências transversais que permitem uma vez inseridas no
sistema, a progressiva e irreversível redução do diâmetro da alça (Figura 2). Para
avaliar a manipulação, aplicabilidade, capacidade de apreensão e resistência do
material, treinamento prévio deve ser instituído, através da aplicação das
braçadeiras em simuladores, que mimetizem a obliteração de estruturas
vasculares (COSTA NETO et al., 2009).
SILVA et. al (2009) utilizaram a braçadeira como forma de hemostasia
preventiva em orquiectomias em bovinos com resultados satisfatórios. Utilizadas em
orquiectomias em eqüinos, foram subjetivamente avaliadas e mostraram-se
resistentes à tração exercida no local de aplicação, não apresentando sinais de
fragilização. Quando comparadas ao uso do emasculador e do categute
apresentaram menor custo e reduziram o tempo de duração do procedimento
(SILVA et al., 2006). O dispositivo também foi utilizado com sucesso em cirurgias na
cavidade abdominal, na hemostasia preventiva de ovário-histerectomia em cadelas
(SILVA et al., 2004) e ainda como método hemostático em cirurgias
videoendoscópicas (SORBELLO et al., 1999).
PAIVA et al. (2004) conduziram um estudo da ovário-histerectomia
laparoscópica com dez gatas, distribuídas em dois grupos iguais, onde os vasos do
complexo artério-venoso ovariano foram obliterados com o auxílio de cauterização.
No primeiro grupo, a artéria e a veia uterina foram ligadas em conjunto na porção
proximal da cérvice, com a aplicação de dois clipes metálicos. No segundo grupo, o
corpo uterino foi ligado em conjunto com os vasos uterinos por meio de uma
braçadeira de poliamida. Em duas gatas do primeiro grupo, foi necessária a
colocação de um clipe extra para que a hemostasia fosse eficiente. No entender dos
autores, tanto o clipe como as braçadeiras poderiam ser utilizadas, seguramente,
para ligadura uterina.
10
FIGURA 2 – Modelos de braçadeiras de náilon 6.6 incolores disponíveis comercialmente, em repouso (seta contínua) e após acionamento (seta interrompida), condição caracterizada por um travamento seguro e não reversível.
1.5 OBJETIVOS
1.5.1. Objetivo Geral
Avaliar a utilização de braçadeiras de náilon como forma de hemostasia
para ligadura dos complexos arteriovenosos durante ovário-histerectomias eletivas
em gatas submetidas a dois acessos cirúrgicos diferentes.
1.5.2. Objetivos Específicos
Comparar a eficácia da ligadura dos pedículos ovarianos e coto uterino com
braçadeira de náilon e fio de náilon, verificando níveis de hemorragia.
Quantificar os tempos cirúrgicos de ovário-histerectomias em gatas submetidas
a dois acessos cirúrgicos diferentes, pela linha média ou pelo flanco.
Definir qual é o melhor acesso cirúrgico e a forma de hemostasia mais eficiente
em gatas submetidas à ovário-histerectomia eletiva.
11
1.6 REFERÊNCIAS
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Companion Animals. Veterinary Clinic of Small Animals, Philadelphia, v. 41, p.1023-1039, 2011.
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11. DAVIDSON, E. B.; MOLL, H. D., PAYTON, M. E. Comparison of laparoscopic ovariohysterectomy and ovariohysterectomy in dogs. Veterinary Surgery,
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12. DENARDO, G.; BECKER, K.; BROWN, N.; DOBBIN, S. Ovarian remnant syndrome: revascularization of free-floating ovarian tissue in the feline
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32. RUIZ DE GOPEGUI, R.; ESPADA, Y.; MAJO, N. Bilateral hydroureter and hydronephrosis in a nine-year-old female german shepherd dog. Journal of Small Animal Practice, London, v. 40. N. 5, p. 224-226, 1999.
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14
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37. SILVA, L. A. F.; COSTA, A. C.; SOARES, L. K.; BORGES, N. C.; FERREIRA, J, L.; CARDOSO, L. L. Orquiectomia em bovinos empregando braçadeiras de náilon na hemostasia preventiva: efeito da estação do ano, método e contenção cirúrgica. Ciência Animal Brasileira, Goiânia, v. 10, n. 1, p,261-270, jan./mar, 2009.
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39. STOCKLIN-GAUTSCHI, N. M.; HASSIG, M.; REICHLER, I. M; HUBLER, M.; ARNOLD, S. The relationship of urinary incontinence to early spaying in bitches. Journal of Reproduction and Fertility Supplement, Oxford, v. 57, p. 233–236, 2001.
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41. TROMPOWSKY, A. C. M. V.; PLIEGO, C. M.; FERREIRA,M. L. G.; NUNES, V. A.; SANTOS, M. C. S. Relato de quatro casos de hidronefrose secundária a ovário-salpingohisterectomia (OSH) em cadelas. Acta Scientiae Veterinariae, Porto Alegre. v.35 (supl 2), p.344-345, 2007.
15
CAPÍTULO 2 – BRAÇADEIRA DE POLIAMIDA E FIO DE NÁILON NA OVÁRIO-
HISTERECTOMIA EM GATAS
2.1 INTRODUÇÃO
O aumento da população animal e a adequada conscientização da
população sobre a necessidade do correto controle da natalidade em animais
domésticos, vem tornando a ovário-histerectomia (OHE) a cirurgia mais realizada
na medicina veterinária. Procedimentos para a esterilização eletiva são
ferramentas indispensáveis nas estratégias de controle populacional animal
(CASTRO et al., 2004; SILVA et al. 2004).
BECK et al (2004) verificaram que a OHE em cães e gatos é o
procedimento cirúrgico realizado mais frequentemente, sendo a esterilização
eletiva a indicação mais comum. SOARES & SILVA (1998) a consideraram o
melhor método de controle populacional, pois além de racional e de evitar a
eutanásia em massa, evita os riscos de doenças ocasionadas pelo uso
inadequado de fármacos anticoncepcionais. A OHE previne doenças reprodutivas
como cistos ovarianos, piometra, torção uterina, prolapso uterino, ruptura uterina
(STONE et al., 2007), neoplasia mamária (OLIVEIRA et al., 2007) e
anormalidades congênitas e endócrinas (diabetes mellitus) e dermatológicas
(HEDLUND, 2005).
Diversas variações de técnicas de ovário-histerectomia já foram
relatadas. Além da tradicional abordagem pela linha média são realizadas também a
abordagem pelo flanco e diversas abordagens laparoscópicas. Igualmente, vários
materiais diferentes podem ser utilizados para a hemostasia dos pedículos
ovarianos e do útero, incluindo fios absorvíveis, inabsorvíveis e até mesmo grampos
metálicos (HEDLUND, 2005; WHITEHEAD, 2006; SCHIOCHET; ADIN, 2011).
As braçadeiras de náilon constituem uma alternativa viável para
oclusão vascular, que proporcionam hemostasia definitiva segura e efetiva,
considerável redução do tempo cirúrgico e de custos operacionais (CASTRO et
al., 2004; SILVA et al., 2004; SILVA et al., 2006; MIRANDA et al.,2006; ROVERE
et al. 2007; RABELO et al. 2008; SILVA et al., 2009). Embora esses aspectos
16
sejam relevantes na exequibilidade de programas de controle populacional,
verifica-se que o emprego do método ainda necessita de maiores estudos para
fundamentar sua aplicabilidade.
O acesso à cavidade abdominal pelo flanco é mais comumente
utilizado em gatos em virtude das considerações anatômicas. Os gatos possuem
uma conformação corporal consistente que faz com que a abordagem ao
abdômen seja relativamente mais fácil. A musculatura abdominal fina e flexível da
região do flanco facilita a dissecção e, como resultado, ocorre mínima hemorragia,
quando comparada à dos cães, que possuem a musculatura da parede abdominal
mais espessa. Acessar o ovário contralateral em gatas é relativamente fácil em
virtude da largura abdominal ser mais estreita, principalmente quando comparada
à das cadelas (KRZACZYNSKI, 1974; MCGRATH et al., 2004).
A OHE é frequentemente empregada no controle populacional de cães
e gatos e consequentemente no controle de zoonoses. Visando sua aplicação em
programas de saúde pública, diversos estudos vêm sendo desenvolvidos com o
intuito de minimizar os traumas cirúrgicos, otimizar o tempo operatório e diminuir
os custos operacionais. Assim, por esses motivos, este estudo foi conduzido,
visando melhor caracterizar as variáveis cirúrgicas e pós-cirúrgicas em duas
formas de acessos (linha média e pelo flanco abdominal) e dois meios de
hemostasia de pedículo ovariano e coto uterino (fio de náilon e braçadeira de
poliamida) em gatos.
2.2 MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho foi desenvolvido na Escola de Veterinária e
Zootecnia da Universidade Federal de Goiás (UFG) no período de julho a
setembro de 2011 após submissão e aprovação pelo Comitê de Ética e de
Pesquisa da UFG, protocolo nº 45/2011.
2.2.1 Animais
Vinte e quatro gatas, sem raça definida, adultas e com peso variando
entre 2 kg e 5 kg, foram selecionadas para o estudo após constatado condições
17
normais de higidez, por meio de exames clínicos e laboratoriais conduzidos no
Hospital Veterinário da Universidade Federal de Goiás.
2.2.2 Grupos Experimentais
As gatas foram distribuídas aleatoriamente em quatro grupos de seis
animais para a realização do procedimento cirúrgico, em quatro etapas com
intervalo de sete dias entre cada uma. A equipe envolvida nos procedimentos foi
sempre a mesma, sem variar nenhum componente. Todos os procedimentos pré
e pós-operatórios foram idênticos entre os grupos, variando apenas o acesso
cirúrgico e a forma de ligadura dos pedículos ovarianos e cotos uterinos, da
seguinte maneira:
Gurpo I (GI): acesso pela linha média (Figura 1A) e ligadura com fio de náilon
Gurpo II (GII): acesso pela linha média e ligadura com braçadeira de náilon
Gurpo III (GIII): acesso pelo flanco (Figura 1B) e ligadura com fio de náilon
Gurpo IV (GIV): acesso pelo flanco e ligadura com braçadeira de náilon
FIGURA 1 – Campos cirúrgicos preparados para a realização de duas formas de acesso para ovário-histerectomia em gatas: (A) incisão na linha média ventral (seta), aproximadamente 3 cm caudal à cicatriz umbilical; (B) incisão na porção mais caudal do flanco direito.
18
2.2.3 Braçadeiras
Foram utilizadas braçadeiras de náilon (poliamida), tipo fita, incolor, nas
dimensões de 2,5mmx100mm, adquiridas no comércio especializado de materiais
elétricos, e esterilizadas, em embalagens de quatro unidades por sistema de
autoclavagem (COSTA NETO et al., 2009).
2.2.4 Pré-operatório e Anestesia
Para confirmação do estado de saúde dos animais foram realizados
exames laboratoriais que incluíram hemograma, dosagem sérica de creatinina,
alanina aminotransferase (ALT) e proteínas totais, três dias antes de cada
procedimento cirúrgico. Foram incluídas no estudo as gatas que apresentaram
resultados dos exames compatíveis com os parâmetros fisiológicos descritos por
CAMPBELL (2007a) para a análise sanguínea e por CAMPBELL (2007b), para as
analises bioquímicas. Jejum hídrico e alimentar de seis e 12 horas,
respectivamente, foram estabelecidos para todos os animais do experimento.
No dia de realização do procedimento, as gatas foram pesadas e
posteriormente submetidas à medicação pré-anestésica, que foi constituída pela
associação de 10 mg/kg cetamina (Ketamina®, Agener União, São Paulo/SP), 0,3
mg/kg de midazolan (Dormire®, Cristália - Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda,
Itapira/SP) e 5mg/kg de meperidina (Dolosal®, Cristália - Produtos Químicos
Farmacêuticos Ltda, Itapira/SP), via IM, na mesma seringa.
A tricotomia foi realizada 15 minutos após a administração da
medicação pré-anestésica. Nas gatas dos grupos I e II a tricotomia se estendeu
ventralmente, do apêndice xifóide ao púbis, e aproximadamente cinco centímetros
lateralmente a cada cadeia mamária. Nas dos grupos III e IV a tricotomia se
estendeu também à região do flanco direito.
Após a tricotomia foi realizada a venóclise pela punção da veia cefálica,
com a utilização de cateter flexível venoso 24G e instituída fluidoterapia com 5
mL/kg/h de Ringer lactato (Ringer com Lactato®, - Segmenta Farmacêutica Ltda,
Ribeirão Preto/SP). Para indução anestésica foram utilizados 3 a 5 mg/kg de
19
propofol (Porpovan®, Cristália - Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda,
Itapira/SP), via IV, lentamente. Ao ocorrer a perda do reflexo laringotraqueal, os
animais foram entubados com sonda endotraqueal apropriada à conformação
anatômica de cada um. Realizada a entubação, a manutenção da anestesia foi
feita com isofluorano (Isoflurano®, Cristália - Produtos Químicos Farmacêuticos
Ltda, Itapira/SP) vaporizado com oxigênio a 100%, em circuito aberto.
Quando em plano anestésico adequado, os animais dos grupos I e II
foram posicionados em decúbito dorsal, os membros anteriores estendidos
cranialmente e os posteriores caudalmente. Já os animais dos grupos III e IV
foram posicionados em decúbito lateral esquerdo.
A antissepsia prévia foi realizada com gluconato de clorexidina 2%
(Laborex®, Glicolabor - Indústria Farmacêutica Ltda., Ribeirão Preto/SP) em três
aplicações. Após a antissepsia definitiva, com três aplicações consecutivas de
gluconato de clorexidina 2% e uma última de álcool 70%, os campos cirúrgicos
foram colocados.
2.2.5 Trans-operatório
Grupos I e II
Os animais dos grupos I e II foram submetidos ao mesmo acesso
cirúrgico à cavidade abdominal, diferindo apenas no tipo de material usado para
ligadura dos pedículos ovarianos e coto uterino. No GI foi utilizado fio de náilon 2-
0 e no GII, braçadeira de náilon.
A cirurgia foi iniciada com incisão da pele no terço médio entre a
cicatriz umbilical e o púbis, com lâmina de bisturi número 10. A linha alba foi
identificada e exposta com auxílio de duas pinças Allis e, posteriormente, foi
trespassada com a lâmina de bisturi. A incisão foi estendida caudalmente à
estocada com tesoura de Mayo até quando medisse aproximadamente três cm.
No Grupo I, a identificação anatômica do corno ou corpo uterino foi
feita pela visualização da estrutura ou pela palpação digital. Primeiramente foi
abordado o corno uterino direito. Trações caudomediais do corpo uterino
possibilitaram a identificação do ligamento suspensor por meio de palpação de
20
uma faixa fibrosa e tensa na borda proximal do pedículo ovariano. Com o
ligamento suspensor distendido, a bursa ovariana e o complexo arteriovenoso
ovariano (CAVO) identificados, foi realizada a ruptura do ligamento largo na
região do mesovário. Duas pinças hemostáticas foram então posicionadas em
sentido proximal ao ovário e outra pelo ligamento próprio ovariano. A pinça mais
profunda serviu como sulco para a ligadura, a pinça média segurou o pedículo e a
pinça distal serviu para evitar o refluxo de sangue após a secção. Posteriormente,
foi realizada a ligadura com fio de náilon 2-0 ao mesmo tempo em que a pinça
mais profunda era retirada. Ocorreu secção com tesoura entre as pinças média e
distal. A presença ou não de hemorragia foi avaliada. O corno uterino direito foi
retrofletido e o ligamento largo correspondente, rompido. A partir do seu
deslocamento, identificou-se o corno contralateral, e as mesmas manobras foram
novamente executadas, para oclusão do pedículo ovariano esquerdo. O ligamento
largo, em cada lado, foi seccionado e o corpo uterino exposto. A ligadura do corpo
uterino com fio de sutura foi feita em figura de oito, usando a extremidade da
agulha e envolvendo os vasos uterinos em cada lado. Foi realizada outra ligadura,
circular, mais próximo à cérvix e uma pinça Halsted foi posicionada sobre do
corpo do útero, cranialmente às ligaduras. O corpo uterino foi transeccionado e a
presença de hemorragia avaliada (Figura 2). O procedimento cirúrgico foi descrito
conforme HEDLUND (2005).
No Grupo II, com o ligamento suspensor distendido, a bursa ovariana e
o CAVO identificados, deu-se a ruptura do ligamento largo na região do
mesovário. Uma braçadeira foi colocada ao redor do CAVO e do ligamento
suspensor. O sistema de travagem foi acionado, o que proporcionou progressiva
compressão circular e fixação da mesma em um ponto cranial da bursa ovariana.
De forma contínua, duas pinças Halsted curvas foram posicionadas cranialmente
à braçadeira. Realizou-se, então, secção com tesoura entre as pinças foi
promovida e a presença ou não de hemorragia será avaliada.
Constatada a hemostasia, foi feita a secção transversal da fita com
tesoura, imediatamente após sua saída do sistema de travagem e a pinça
intermediária foi liberada. O corno uterino direito foi retrofletido e o ligamento largo
correspondente, rompido. A partir do seu deslocamento, o corno contralateral foi
identificado e as manobras foram novamente executadas para oclusão do
21
pedículo ovariano esquerdo. Com o corpo do útero exposto, foi colocada a
braçadeira em torno do mesmo. O sistema de travagem foi acionado,
proporcionando progressiva compressão circular e fixação da região cranial à
cérvix.
Da mesma forma, duas pinças foram posicionadas cranialmente à
braçadeira. O corpo do útero foi seccionado entre as pinças e a presença ou não
de hemorragia foi avaliada. Assim que confirmada a hemostasia no coto uterino,
foi realizada a secção transversal da fita, imediatamente após sua saída do
sistema de travagem e a pinça intermediária foi retirada (Figura 3). O
procedimento cirúrgico foi adaptado conforme descrito por COSTA NETO et al.
(2009).
FIGURA 2 – Etapas da OHE tradicional, por celiotomia pela linha média ventral e ligadura com fio de náilon: (A) identificação do corno uterino direito, após incisão na linha média ventral; (B) posicionamento das três pinças; (C) ligadura com fio de náilon; (D) posicionamento das pinças no corpo uterino, para posterior ligadura com fio de náilon
22
FIGURA 3 – Etapas da OHE por celiotomia pela linha média ventral e ligadura
braçadeiras de náilon: (A) identificação do corno uterino e ovário direito, após incisão na linha média ventral; (B) aplicação da braçadeira de náilon; (C) exposição do corpo uterino, para aplicação da braçadeira; (D) posicionamento das pinças de apoio no corpo uterino
Grupos III e IV
Nos animais dos grupos III (Figura 4) e IV (Figura 5) a incisão inicial foi
realizada na região dorsal do flanco direito, imediatamente caudal ao ponto médio
entre a última costela e a crista ilíaca dos animais, estendendo-se caudalmente
por aproximadamente três cm. Dissecção romba foi utilizada para adentrar as
camadas musculares da parede abdominal conforme HOWE (2006).
As ligaduras dos pedículos ovarianos e cotos uterinos dos animais dos
grupos III e IV foram realizadas da mesma forma que dos grupos I e II,
respectivamente, com a utilização dos mesmos materiais.
23
FIGURA 4 – Etapas da OHE por celiotomia pelo flanco e ligadura com fio de náilon: (A) incisão no flanco direito; (B) posicionamento das três pinças; (C) ligadura com fio de náilon; (D) posicionamento das pinças no corpo uterino, para posterior ligadura com fio de náilon
Após a ligadura do coto uterino, em todos os animais, o procedimento
foi o mesmo. Foi promovida omentopexia sobre o coto uterino. A celiorrafia foi
realizada com fio de náilon, em padrão simples isolado. O tecido subcutâneo
aproximado com poligalactina 910, em padrão de sutura intradérmica. E a
dermorrafia foi feita com fio de náilon em padrão simples isolado.
A terapia medicamentosa foi constituída por 8mg/kg de Cefovecina
sódica (Convênia®, Laboratórios Pfizer Ltda., Guarulhos/SP), administrada em
dose única pela via SC); 0,2 mg/kg de meloxicam (Maxicam®, Ouro Fino Saúde
Animal Ltda., Cravinhos/SP) e 2mg/kg de cloridrato de tramadol (Tramadol®,
Hipolar Farmacêutica Ltda., Sabará/MG), todos por via IV. A ferida cirúrgica foi
limpa com solução de cloreto de sódio a 0,9%, spray de rifamicina (Rifamicina®,
Cristália - Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda., Itapira/SP) foi borrifado e a
mesma foi coberta com gaze estéril e fixada à pele com esparadrapo.
24
FIGURA 5 – Etapas da OHE por celiotomia pelo flanco e ligadura com fio de náilon: (A) incisão no flanco direito; (B) identificação do corno uterino e ovário direito; (C) aplicação da braçadeira e da pinça hemostática; (D) ligadura do corpo uterino com braçadeira de náilon
2.2.6 Tempos cirúrgicos
Durante os procedimentos foram cronometrados os tempos de diérese
(acesso à cavidade e identificação das estruturas), ovário-histerectomia (incluindo
todo o procedimento e as manobras para hemostasia, se necessárias) e síntese
(desde a celiorrafia até o ultimo ponto de pele). Para que, ao final, fosse possível
estimar as etapas do procedimento realizado, assim como o tempo total. Os
tempos de diérese e de síntese foram determinados para posterior comparação,
entre grupos, do acesso utilizado (linha média ou flanco). Assim os animais dos
grupos GI e GII e os animais dos grupos GIII e GIV foram agrupados em dois
grandes grupos experimentais quem contavam com 12 amostras. Já o tempo da
25
OHE foi cronometrado com intuito de comparação do material utilizado para
ligadura dos vasos (fio de náilon ou braçadeira de náilon) e, para isso, os animais
dos grupos GI e GIII e os animais dos grupos GII e GIV foram agrupados em dois
grandes grupos experimentais quem contavam com 12 amostras.
Ao final, todos os tempos foram somados, para determinação da média
de tempo total em cada grupo (GI, GII, GIII, e GIV) da cirurgia e posterior
comparação, para que posteriormente fosse possível determinar qual técnica
seria mais rápida.
2.2.7 Pós-operatório
Foi prescrito 0,1 mg/kg de meloxicam (Maxicam®, Ouro Fino Saúde
Animal Ltda., Cravinhos/SP) por via oral, a cada 24 horas por três dias. Não
houve necessidade de administrar antibiótico durante o pós-operatório, visto que
o antibiótico utilizado no período trans-operatório possui ação por 14 dias.
A higienização do local da incisão foi realizada com solução de cloreto
de sódio a 0,9% e posterior aplicação de spray à base de rifamicina (Rifamicina®,
Cristália - Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda., Itapira/SP), duas vezes ao dia,
até a retirada dos pontos, que ocorreu ao sétimo dia decorrida a cirurgia. Foi,
recomendado uso constante de colar elisabetano até a retirada dos pontos.
2.2.8 Avaliação clínica
As avaliações clínicas foram feitas no dia da cirurgia (antes e após o
procedimento), aos sete e aos 28 dias pós-operatórios. Foram avaliados os
seguintes parâmetros fisiológicos: frequência cardíaca e respiratória, coloração
das mucosas, tempo de preenchimento capilar e temperatura retal. Foi aplicado
um questionário acerca do comportamento do animal desde a cirurgia,
alimentação e eliminação de fezes e urina.
As feridas cirúrgicas fora avaliadas em três momentos: logo após a
cirurgia (D0), aos sete dias depois da cirurgia (D7) e após 28 dias (D28). Os
animais foram divididos em dois grupos, relativos ao tipo de acesso à cavidade
26
abdominal (linha média ou flanco). A avaliação das feridas foi relativa ao tamanho
da incisão (em cm) e quanto ao aspecto da lesão.
As avaliações da ferida, com relação ao aspecto, incluíram: presença
ou ausência de secreção na ferida; presença ou ausência de edema e presença
ou ausência de deiscência.
2.2.9 Avaliações ultrassonográficas
Os exames ultrassonográficos foram realizados com o aparelho My
Lab™ 30 Vet (The Esaote Group, Genova, Italy) acoplado a um transdutor linear
multifrequencial (7,5 -12 MHz) em quatro momentos: T1, antes do procedimento
cirúrgico; T2, imediatamente após a cirurgia; T3, aos sete dias de decorrido o
procedimento e T4, aos 28 dias.
A avaliação T1 foi realizada com intuito de estabelecer uma
comparação anatômica com os posteriores momentos. A avaliação T2 foi
executada com intuito de detectar possíveis hemorragias no pós-operatório
imediato. As avaliações T3 e T4 foram instituídas para avaliação dos pedículos e
cotos uterinos, quanto a possível reação inflamatória local.
Para as avaliações os animais foram divididos em dois grupos, o grupo
das ligaduras realizadas com fio de náilon (Grupo I - 12 animais) e o grupo das
ligaduras realizados com braçadeiras de náilon (Grupo II - 12 animais).
2.2.10 Análise Estatística
Para avaliação dos tempos cirúrgicos entre os grupos foi realizada
Análise de Variância complementada pelo Teste de Comparações Múltiplas de
Tukey, fixando-se 5% (p<0,05) como nível de rejeição de hipótese de nulidade, e
assinalados com um asterisco os valores de maior significância (SCHIOCHET,
2006). A determinação do tempo total da cirurgia, comparando os quatro grupos,
foi realizada também por Análise de Variância complementada pelo teste de
Kruskal-Walis. O Teste Exato de Fisher, assim como a Odds Ratio foram
utilizados para comparação da qualidade da cicatrização das feridas cirúrgicas.
27
2.3 RESULTADOS
2.3.1 Tempo de diérese e síntese
Os tempos de diérese e síntese foram cronometrados e suas médias e
desvios padrões representados, em minutos, na Tabela 1.
TABELA 1 – Médias dos tempos de diérese e síntese de gatas submetidas à ovário-histerectomia, por dois diferentes acessos (linha média ventral – GI e GII ou pelo flanco – GIII e GIV). EVZ – UFG, 2011
Grupos Tempo de diérese (min) Tempo de síntese (min)
Média DP Média DP
Linha média (GI e GII) 1,88* 0,42 8,02* 1,05
Flanco (GIII e GIV) 3,61* 0,84 9,27* 1,4
* As médias marcadas indicam que, mediante aplicação do teste de Tukey, houve diferença significativa entre os grupos, com p < 0,05.
Observou-se que houve diferença significativa entre as médias do
tempo de diérese entre os grupos de aceso pela linha média e flanco,
demonstrando que a diérese pelo flanco é estatisticamente mais demorada.
Da mesma forma, à observação da tabela quanto ao tempo de síntese,
observou-se que houve diferença significativa entre os grupos, denotando que o
grupo submetido ao acesso pela linha média apresentou média de tempo mais
rápida que o grupo submetido ao acesso pelo flanco.
2.3.2 Material para ligadura de pedículo e corpos uterinos
Foram avaliados dois materiais diferentes para ligadura dos CAVO’s e
corpos uterinos de 24 gatas, divididas em dois grupos. Os resultados estão
expressos na Tabela 2.
28
TABELA 2 – Médias dos tempos de ovário-histerectomia, utilizando dois diferentes materiais para ligadura dos CAVO’s e corpos uterinos (náilon – GI e GIII ou braçadeira de náilon – GII e GIV). EVZ – UFG, 2011
Grupos Tempo da OHE (min)
Média DP
Náilon (GI e GIII) 13,71* 2,69
Braçadeira (GII e GIV) 9,87* 2,78
* As médias marcadas indicam que, mediante aplicação do teste de Tukey,
houve diferença significativa entre os grupos, com p < 0,01.
A análise estatística indicou que os procedimentos cirúrgicos
empregando braçadeiras foram, significativamente, realizados em menor tempo
quando comparados aos realizados com fio de náilon.
Não foi notada nenhuma dificuldade quanto ao posicionamento da
braçadeira no CAVO ou no corpo uterino, assim como no acionamento do sistema
de travagem. Também, não houve necessidade de aplicação de mais de uma
braçadeira por CAVO ou no corpo. Uma braçadeira rompeu durante a aplicação
em um corpo uterino, mas foi prontamente substituída, sem maiores danos ao
animal e sem causar hemorragia.
Em nenhum animal do experimento ocorreu hemorragia significativa e
não foi necessária a realização de quaisquer manobras hemostáticas de
emergência. A quantidade de sangue perdida nos procedimentos foi vista como
normal, quando comparada a outros procedimentos já realizados previamente, em
outros animais, pelo mesmo cirurgião.
Aparentemente, o sistema de autoclavagem das braçadeiras não
causou nenhuma alteração de conformação nas mesmas e promoveu
esterilização suficiente para prevenir infecções trans e pós-operatórias. Contudo,
não foram realizados testes de resistência nas braçadeiras utilizadas.
29
2.3.3 Tempo total de cirurgia
O tempo total da cirurgia foi obtido pela soma dos tempos de diérese,
da OHE propriamente dita e de síntese. As médias estão listadas na Tabela 3.
A análise estatística demonstrou que houve diferença significativa entre
os grupos GI-GII, GI-GIV, GIII-GII e GIII-GIV. Entretanto não houve diferença
significativa entre os grupos GI-GIII e GII-GIV. Assim, os resultados indicaram que
o tempo total das cirurgias que utilizaram as braçadeiras de náilon como material
de ligadura de CAVO’s e corpos uterinos foi menor que o tempo total das cirurgias
que utilizaram fio de náilon para a mesma finalidade. Outra observação realizada
foi de que o acesso à cavidade abdominal não influenciou no tempo total da
cirurgia.
TABELA 3 – Médias dos tempos totais de cirurgia (incluindo diérese, OHE e síntese) de 24 gatas submetidas à OHE por acesso pela linha média ou pelo flanco e cujo material utilizado para ligadura foi o fio de náilon ou a braçadeira de náilon. EVZ – UFG, 2011
Grupos Tempo total de cirurgia (min)
Média DP
GI (linha média e náilon) 25,42ª 3,58
GII (linha média e braçadeira) 20,85b 2,76
GIII (flanco e náilon) 25,14ª 2,43
GIV (flanco e braçadeira) 20,22b 2,38
Letras iguais não diferem significativamente pelo teste de Kruskal-Wallis, com
p < 0,05.
2.3.4 Avaliação da ferida cirúrgica
Todas as feridas foram avaliadas quanto ao tamanho da incisão,
medidas por meio do emprego de um paquímetro. As médias do tamanho da
incisão estão dispostas na tabela 4.
30
TABELA 4 – Médias dos tamanhos das incisões e das feridas cirúrgicas, em centímetros, no dia da cirurgia e aos sete e 28 dias após a cirurgia. EVZ – UFG, 2011
Tamanho da incisão (cm) Dia 0 Dia 7 Dia 28
Média DP Média DP Média DP
Linha média (GI e GII) 2,6 0,46 2,3 0,43 2,3 0,32
Flanco (GIII e GIV) 2,5 0,42 2,1 0,43 2,2 0,42
Análise de Variância complementada pelo Teste de Comparações Múltiplas de Tukey
De acordo com o teste estatístico preconizado, não houve diferença
significativa, entre os grupos experimentais, em nenhum dos dias em que as
feridas foram avaliadas.
Os figuras 6 e 7 exemplificam a evolução das feridas cirúrgicas das
gatas submetidas à OHE pela linha média e pelo flanco, respectivamente, no dia
da cirurgia, aos sete e 28 dias após o procedimento.
FIGURA 6 – Avaliação morfológica das feridas cirúrgicas de gatas submetidas à OHE, com acesso pela linha média: (A) ferida cirúrgica imediatamente após a realização do procedimento; (B) aos sete dias, a ferida apresenta edema leve, ausência de secreção e todos os pontos intactos; (C) aos 28 dias de decorrência da cirurgia, a cicatrização foi completa.
31
FIGURA 7 – Avaliação morfológica das feridas cirúrgicas de gatas submetidas à OHE, com acesso pelo flanco: (A) ferida cirúrgica imediatamente após a realização do procedimento; (B) aos sete dias, a ferida não apresentava edema, secreção ou mesmo deiscência da sutura; (C) aos 28 dias de decorrência da cirurgia, a cicatriz diminuiu e apresentou-se praticamente inaparente.
A avaliação das feridas cirúrgicas deu-se pela presença ou ausência de
secreção, edema ou deiscência de toda sutura ou parte dela. A tabela 5 mostra a
distribuição de casos de presença de secreção, aos sete dias, entre os grupos.
Observou-se a mesma ocorrência entre os grupos de forma que, para os testes
estatísticos, não houve diferenças entre os grupos.
TABELA 5 – Incidência de presença de secreção na ferida cirúrgica de 24 gatas submetidas à OHE, por acesso pela linha média ou pelo flanco.
Grupos Presença de secreção
Presente Ausente
Linha média 1 (8,3%) 11 (91,6%)
Flanco 1 (8,3%) 11 (91,6%)
Teste Exato de Fisher
A ocorrência de edema foi outra alteração observada e caracterizada
como presente ou ausente. Na Tabela 6 constam os valores numéricos e em
percentual, da ocorrência dessa alteração.
32
TABELA 6 – Incidência de edema na ferida cirúrgica de 24 gatas submetidas à OHE, por acesso pela linha média ou pelo flanco
Grupos Edema
Presente Ausente (p) Fisher Odds Ratio (p) Odds
Linha média 11 (91,6%)* 1 (8,3%)* 0,0001 121 0,002
Flanco 1 (8,3%)* 11 (91,6%)*
Teste Exato de Fisher e Odds Ratio
Ocorreu edema em 11 dos 12 animais do grupo de acesso pela linha
média, enquanto que essa alteração só foi notada em um animal cujo acesso foi
pelo flanco. O teste Exato de Fischer indicou como significativa (p > 0,01) a
diferença entre os dois grupos analisados. A Odds Ratio indicou que a
probabilidade de ocorrência dessa alteração em um animal do grupo da linha
média foi 121 vezes superior à probabilidade de ocorrer a mesma alteração em
um animal do grupo de acesso pelo flanco.
A última alteração observada, em relação à ferida cirúrgica, foi a
ocorrência de deiscência parcial ou total da sutura. A tabela 7 apresenta valores
numéricos e em percentual da ocorrência dessa alteração.
TABELA 7 – Incidência de deiscência da ferida cirúrgica de 24 gatas submetidas à OHE, por acesso pela linha média ou pelo flanco
Grupos Deiscência da sutura
Presente Ausente (p) Fisher Odds Ratio (p) Odds
Linha média 2 (16,6%) 10 (83,3%) 1 2,2 1
Flanco 1 (8,3%) 11 (91,6%)
Teste Exato de Fisher e Odds Ratio
Dois animais do grupo linha média e um do grupo flanco foram
acometidos por essa alteração pós-operatória, entretanto, de acordo com a
estatística realizada, não houve diferença significativa entre os grupos analisados.
Nos três casos de deiscência, os proprietários confirmaram que os animais
permaneceram por algum tempo sem o colar elizabetano.
Na figura 8 abservam-se dois casos de deiscência de sutura que
ocorreram alguns dias após a cirurgia e o aspecto final das mesmas aos 28 dias.
33
Observou-seu que na incisão pela linha média houve deiscência de um ponto de
pele e também de pontos da musculatura, resultando em exposição de parte do
omento (Figura 8A). Já a deiscência que ocorreu na gata pertencente ao grupo de
incisão pelo flanco (Figura 8B) limitou-se à pele e não houve abertura da cavidade
abdominal.
2.3.5 Avaliação Clínica dos animais
Os animais foram todos avaliados clinicamente a cada retorno ao
consultório. Os exames incluíram: frequência cardíaca e respiratória, coloração
das mucosas, tempo de preenchimento capilar e temperatura retal. Todos os
animais apresentaram-se bem, sem alterações desses parâmetros. Alguns
apresentaram deiscência da sutura, entretanto à avaliação clinica, todos
mantiveram-se dentro dos parâmetros fisiológicos normais.
Foi aplicado um questionário acerca do comportamento do animal
desde a cirurgia, alimentação e eliminação de fezes e urina. Um proprietário de
animal do grupo GI, dois do grupo GII e um do grupo GIV observaram inquietação
dos animais nos três dias decorrentes da cirurgia, mas à retirada dos pontos,
todos já haviam normalizado o comportamento.
Dois animais do GII, e um do GIII apresentaram hiporexia durante
alguns dias (de 2 a 5 dias), contudo, ao retorno já estavam se alimentando
normalmente.
Não foram observadas alterações gastrintestinais nos animais
submetidos ao experimento.
34
FIGURA 8 – Deiscência de sutura após OHE em gatas: em (A) houve ruptura de um dos pontos e exposição de parte do omento em gata submetida à OHE pela linha média no sétimo dia, sendo que em (B) observa-se a cicatrização completa da ferida; em (C) observa-se deiscência de toda sutura da pele em uma gata, após OHE com acesso pelo flanco e em (D) pode ser observada completa cicatrização após 28 dias de pós-operatório.
2.3.6 Avaliações Ultrassonográficas
Em T1, apenas cinco (20,83%) dos animais estudados tiveram os
ovários esquerdos visibilizados. A porcentagem de ovários direitos visibilizados foi
ainda menor (12,50%), correspondentes a três animais. Da mesma forma, o corpo
uterino foi visibilizado em três animais (12,50%) dos 24 animais analisados. Em
T2 não foi observada nenhuma alteração sugestiva da presença de hemorragia
nas gatas.
35
FIGURA 9 - Imagens ultrassonográficas do coto uterino e pedículo ovariano de gatas, SRD, adultas, após serem submetidas à ovário-histerectomia. (A) Imagem hiperecóica formadora de sombra acústica posterior em animal que teve a ligadura de coto uterino realizada com fio de náilon, imediatamente após a ovário-histerectomia; (B) Imagem hiperecóica formadora de forte sombra acústica posterior em animal que teve a ligadura de pedículo ovariano realizada com braçadeira de náilon, imediatamente após o procedimento; (C) Imagem de ecogenicidade mista, amorfa, medindo aproximadamente 2,14 cm x 1,68 cm, em animal com ligadura realizada com braçadeira de náilon, sugerindo granuloma após sete dias do procedimento; (D) Imagem hipoecóica, homogênea, não geradora de sombra acústica posterior em topografia de coto uterino com braçadeira de náilon, 28 dias após a ovário-histerectomia
36
Em T3, três imagens (25%) de ecogenicidade mista de grandes
dimensões (média de 2,66 cm em seu maior diâmetro) foram visibilizadas,
somente em animais do grupo II, e localizadas em topografia de coto uterino,
caracterizando granuloma. A mesma alteração não foi observada em nenhum
animal do grupo I. Contudo, o teste Exato de Fischer indicou como não
significativa a diferença entre os grupos analisados.
Após 28 dias da realização da ovário-histerectomia (T4) todos os
animais do grupo II apresentaram imagem hiperecóica formadora de sombra
acústica posterior em topografia de ovário esquerdo, direito e de coto uterino.
Observou-se regressão dos granulomas apresentados por três animais em T3.
Nos animais do grupo I a sombra foi menos perceptível, devido à espessura do
fio.
Algumas imagens ultrassonográficas dos cotos uterinos e pedículos
ovarianos de gatas submetidas à ovário-histerectomia, em que foram utilizados
fios de náilon ou braçadeiras de náilon como formas de hemostasia, estão
dispostas na Figura 9.
2.4 DISCUSSÃO
Foram observadas diferenças significativas no tempo de diérese e
síntese, quando comparados os grupos de acesso pela linha média e pelo flanco,
indicando que o acesso pelo flanco leva mais tempo para ser realizado. COE et
al. (2006) compararam o tempo gasto para acessar a cavidade abdominal, pela
linha média ou pelo flanco, em gatas submetidas à ovário-histerectomia eletiva e
constataram que o tempo da incisão até a abertura do peritônio foi
significativamente maior no grupo do flanco, em contrapartida, a localização do
útero foi significativamente mais rápida no grupo do flanco que no grupo de
acesso pela linha média. MCGRATH et al. (2004) afirmaram que, na incisão pelo
flanco, o ovário ipsilateral situa-se imediatamente abaixo do ponto de incisão, o
que facilita sua localização, diminuindo o tempo cirúrgico final.
O tempo de realização da OHE, promovido pela ligadura dos CAVO’s e
corpo uterino e secção dos mesmos, foi significativamente reduzido no grupo de
animais em que foram utilizadas braçadeiras de náilon como forma de
37
hemostasia. De acordo com vários autores, as braçadeiras de náilon mostram-se
dispositivos promissores para as ovário-histerectomias, bem como em outras
cirurgias que exijam ligaduras vasculares seguras, reduzindo o tempo operatório e
revelando-se inertes no organismo (SORBELO et al., 1999; CASTRO et al., 2004;
SILVA et al., 2004, CARRILO et al., 2005; MIRANDA, et al., 2006; RABELO et al.
2008; SILVA et al., 2009).
Outra característica importante relacionada às braçadeiras é o baixo
custo do material. ROVERE et al. (2007) consideraram que as braçadeiras de
náilon são de fácil aplicação, seguras, apresentam mínima reação tecidual e baixo
custo. Ainda, constituem formas seguras de ligaduras de pedículos vasculares
maiores que 3 mm de diâmetro nas intervenções cirúrgicas da prática veterinária.
O principal inconveniente mencionado a respeito do uso do fio de
náilon como material de sutura é a sua escassa maleabilidade e baixa segurança
dos nós e, por isso, deveria ser evitado em ligaduras dos vasos sanguíneos
(BOOTHE, 1998; ROVERE et al., 2007). Entretanto, assim como observado por
SORBELO et al. (1999) e RABELO et al. (2008) verificou-se que, nas braçadeiras
de náilon, a irreversibilidade do sistema, proporcionada pelo sistema auto-
travante, propicia o fechamento progressivo, evitando escape e posterior
afrouxamento e garantindo a hemostasia necessária para segurança do
procedimento.
Durante a execução dos procedimentos cirúrgicos, não foram
encontradas dificuldades para inserir a haste da braçadeira em torno do pedículo
ovariano, através da ruptura da porção medial do ligamento largo do útero,
corroborando a afirmação de COSTA NETO et al. (2009), que admitiram que o
seu formato linear e sua flexibilidade evitaram o emprego de instrumentos de
preensão, que muitas vezes, na prática cirúrgica, são necessários para auxiliar a
passagem do fio empregado para confecção da ligadura.
Observou-se que, para a secção da haste da braçadeira, durante a
realização do procedimento cirúrgico, fez-se necessária a utilização de uma
tesoura específica para realizar um corte mais preciso, pois, quando se
empregou tesouras cirúrgicas convencionais, em virtude da resistência do
artefato, encontrou-se alguma dificuldade para essa manobra. COSTA NETO et
al. (2009) sugeriram que uma tesoura própria para corte de fios metálicos seria o
38
ideal. Recomendou, ainda, que o corte seja feito transversalmente ao eixo
longitudinal das hastes, imediatamente após seu sistema de autotravagem.
Foi observada diminuição do tempo total dos procedimentos cirúrgicos
em que as braçadeiras foram utilizadas para ligadura e hemostasia dos pedículos
ovarianos e corpos uterinos. MALM et al. (2005) em estudo do estresse, pela
analise do cortisol plasmático em cadelas submetidas à ovarioisterestomia,
constataram a elevação do cortisol (hormônio indicador da dor) proporcionalmente
à elevação do tempo cirúrgico, o que reitera a busca por técnicas que diminuam o
tempo cirúrgico em pró do bem-estar animal.
O fechamento progressivo da braçadeira, em torno do corpo do útero,
proporcionou melhor deslocamento caudal e posterior fixação na porção cranial
da cérvix, que, devido à pequena incisão da parede abdominal, encontrava-se em
plano profundo. A obliteração e secção no corpo do útero nesse limite, segundo
STONE (2007), minimiza os riscos de piometra de coto.
As feridas cirúrgicas foram avaliadas quanto ao tamanho, presença de
secreção, edema e deiscência da sutura. A única alteração significativa,
estatisticamente, foi a maior incidência de edema no local das incisões realizadas
na linha média. KRZACZYNSKY (1974), DORN (1975), MCGRATH et al. (2004) e
ADIN (2011) relataram a melhor cicatrização neste local, inclusive com menor
incidência de deiscência, ocasionada pela ausência de pressão pelo peso das
vísceras. Contudo, faltam relatos acerca da ocorrência ou não de edema no local
e estudos mais específicos deveriam ser conduzidos com esse intuito.
Foram registrados três casos de deiscência da sutura, sendo dois em
acessos pela linha média e um pelo flanco, contudo somente um caso de
evisceração foi constatado, em um animal submetido à incisão pela linha média.
De acordo com MCGRATH et al. (2004) e ADIN (2011), a principal vantagem
descrita em relação ao acesso lateral pelo flanco é a diminuição da incidência de
evisceração, caso ocorra deiscência no período pós-operatório. Ainda de acordo
com ADIN (2011), outra vantagem é a possibilidade de observação da ferida
cirúrgica a longa distância, em virtude de sua localização no flanco. Essas
vantagens são especialmente importantes quando se lida com populações de
animais de rua ou mesmo selvagens. As oportunidades de examinar esses
animais depois do procedimento são muito limitadas, portanto o exame, mesmo
39
que à distância, torna-se imprescindível. A incisão no flanco permite o acesso
visual à ferida, sem a necessidade de lidar com o animal, contrastando com o que
ocorre quando o acesso é feito pela linha média.
MCGRATH et al. (2004) apontaram algumas desvantagens da incisão
no flanco, que incluem: limitada exposição do corno contralateral, principalmente
em caso de possíveis complicações cirúrgicas; certo grau de dificuldade na
localização da cicatriz incisional e, ainda, a possibilidade de alteração na
coloração dos pêlos, na região que passou pelo processo de tricotomia. Apesar
de citadas, nenhuma dessas alterações foi observada nos animais submetidos ao
acesso cirúrgico pelo flanco.
Dentre as possíveis complicações inerentes à OHE, as hemorragias
são classificadas como as mais corriqueiras (BURROW et al., 2005;
WHITEHEAD, 2006; ADIN, 2011; PEETERA & KIRPENSTEIJN, 2011). De acordo
com os mesmos autores a hemorragia intra-operatória está comumente associada
à ruptura do pedículo ovariano direito durante a tentativa de alcançar o ligamento
suspensório. Esta ocorrência tem sido atribuída à manipulação rude dos tecidos
delicados ocasionada, principalmente, por cirurgiões inexperientes. No presente
estudo, a hemorragia intra-operatória não constituiu uma complicação, pois não
foi observada em nenhum dos animais. A quantidade de sangue perdida nos
procedimentos foi considerada pequena e nenhuma manobra de hemostasia
adicional foi necessária. Entretanto, não foi possível quantificar a perda de sangue
nos procedimentos realizados. Essa quantificação poderia fornecer dados mais
precisos e, talvez, inerentes à técnica ou material de ligadura utilizados.
Os resultados da avaliação clínica de cada animal indicaram que os
parâmetros fisiológicos não se encontravam alterados e enquadravam-se nos
valores de referência para a espécie, descritos da seguinte maneira: freqüência
cardíaca, mucosas e TPC por GAY & RADOSTITS (2002), freqüência respiratória
por MCGORUM et al. (2002) e temperatura por HOUSTON & RADOSTITS
(2002). Por esse motivo, não foi necessária a realização de outros exames
complementares no período pós-operatório.
Segundo JARRETA (2004) a pequena porcentagem de ovários
visibilizados em T1 pode ser explicada pelo fato dos animais estarem em anestro,
além de não apresentarem alterações ovarianas (cistos, nódulos, folículos), pois
40
assim a ecogenicidade dos mesmos pouco se difere da ecogenicidade da gordura
abdominal, dificultando ao visibilização. O rim direito está localizado mais
cranialmente, portanto o ovário direito seguirá essa diferença, tornando maior a
dificuldade na sua identificação, salientada ainda pela presença do duodeno
lateralmente que, não raro, contém ar em seu lúmen.
Apenas três animais (12,5%) tiveram o útero visibilizado ao exame. De
acordo com NYLAND & MATTOOM (2005), FARROW (2006) e SANTOS (2009),
o preparo inadequado (ausência de jejum, vesícula urinária vazia) e a contenção
insuficiente dos pacientes, aliados à inquietação e aerofagia são fatores que
dificultam o exame e identificação das estrutruras.
A observação de granuloma de coto em três gatas, aos sete dias de
decorrida a cirurgia, corrobora a afirmação de HEDLUND (2005) e STONE (2007),
que assume que tratos fistulosos e granulomas podem ocorrer se for utilizado
material de sutura não-absorvível para as ligaduras. Contudo, notou-se regressão
dos granulomas aos 28 dias de decorrida a cirurgia.
2.5 CONCLUSÕES
Mediante os resultados obtidos neste estudo, é possível concluir que,
tanto as braçadeiras de náilon quanto o fio de náilon, são dispositivos que
demonstram segurança, pois não foi constatada hemorragia significativa durante
ou mesmo após os procedimentos cirúrgicos em gatas submetidas OHE eletiva.
Os tempos de diérese e síntese foram significativamente reduzidos nos
grupos de animais submetidos à OHE pela linha média, quando comparados ao
acesso pelo flanco.
O emprego de braçadeiras de náilon reduziu o tempo da OHE eletiva
em gatas saudáveis, entretanto a forma de acesso à cavidade abdominal não
interferiu no tempo total do procedimento.
Dessa forma, concluiu-se que o acesso mais rápido à cavidade
abdominal foi feito pela linha média e que a forma de hemostasia que contribuiu
para um menor tempo cirúrgico, aliada a segurança, foi a utilização das
braçadeiras de náilon.
41
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