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    Dossi Memria

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    Bedrich Fritta-Theresienstadt

    Memorial de Terezin

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    UANDOASSISTIMOS ao filme O Fhrer oferece uma cidade aos ju-deus, o sentimento que nos colhe de surpresa diante da singu-laridade do que foi o campo de Theresienstadt.

    A mesma surpresa devem ter sentido os membros da Cruz VermelhaInternacional na visita de inspeo s condies dos prisioneiros em 23

    de junho de 1944. Encontraram uma cidade administrada por judeus ondecorriam notas de dinheiro impressas com a efgie de Moiss e as Tbuasda Lei.

    Naquele dia, os membros da Cruz Vermelha ouviram um magnficoRequiemde Verdi cantado pelo coral de Theresienstadt. Os teatros repre-sentavam duas peas de Shakespeare. Nos programas de pera, a Carmen,a Tosca, a Flauta Mgicae uma pera para crianas composta por umautor do gueto.

    O campo de TerezinECLABOSI

    QA pequena fortaleza Ar thur Goldschmidt George-Arthur Goldschmidt

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    A cidade abrigava velhos do Reich, cientistas reconhecidos, artistasfamosos. Judeus mutilados durante a guerra de 14 e condecorados pelo

    exrcito alemo. Enfim, personalidades cujo desaparecimento inquieta-ria o mundo civilizado.

    As diversas orquestras, os conjuntos de jazze de msica de cmaraimpressionaram bem os visitantes. Os esportes eram muito praticados,sobretudo o voleibol e o futebol. (Assisti no filme a uma partida de fute-bol acompanhada por vibrante torcida.)

    A equipe de visitantes notou a aparncia das pessoas bem vestidas, avasta e agradvel biblioteca, as instalaes sanitrias, os 400 mdicos (di-versos eram professores clebres). Concluiu observando a unidade e har-monia que parecia alcanada entre povos e lnguas diferentes.

    Theresienstadt uma sociedade comunista, verificam, dirigidapor um comunista de alto valor, o Dr. Paul Eppstein, frente de umConselho de Ancios (ltestenrat) da comunidade judaica; 150 policiaistchecos fazem a guarda permanente do gueto e 12 oficiais nazistas (LagerKommandantur) ficam sediados na Pequena Fortaleza.

    O pessoal de ensino pareceu extremamente qualificado e o jar-dim da infncia (criado especialmente para essa visita), adequado e mo-derno. A escola parece bem equipada, embora um cartaz assinalasse queas crianas estavam em frias. O relatrio da Cruz Vermelha observaque uma cozinha especializada prepara o alimento dos pequeninos.

    Ao comear a visita, os membros da inspeo escutam do dirigenteEppstein, o comunista de alto valor: Vocs iro visitar uma cidadenormal de provncia. (O Dr. Paul Eppstein ser assassinado pelos nazistasem 1944 na Pequena Fortaleza.)

    O filme documentrio sobre o campo obra de um internado, atore cineasta de renome, Kurt Gerron (depois deportado para Birkenau).Hitler muito se serviu desse filme como propaganda de como eram feli-zes os judeus sob a tutela do Reich. E, contradizendo a corrente anti-semita, curiosamente, os judeus aparecem criando obras excepcionais,dando de si uma imagem oposta veiculada pelo Reich.

    Escutamos, num trecho do filme, o Concerto para Cordasde PavelHaas, compositor amado pela juventude da poca (Pavel Haas, meucompositor adorado, diz Milan Kundera). Quem rege a orquestra Karel

    Ancerl, que sobreviveu e dirigiu mais tarde a Orquestra Filarmnica Tcheca.

    * * *

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    Desde que Eichmann anunciara essa visita, a transformao do cam-po se acelera. Aparecem jardineiras e balanos de crianas. Um coreto

    para msica. No itinerrio a ser percorrido, as caladas so lavadas e ascasas pintadas. Cada um dos figurantes ganha roupa nova e instrudosobre como deve se comportar e os riscos de desobedincia.

    No dia 23 de junho os visitantes tiram fotos, ganham um lbum deaquarelas pitorescas sobre essa cidade normal de provncia.

    Escutei o depoimento registrado do mdico da Cruz Vermelha, Dr.Maurice Rossel, confessando para a humanidade o engano em que incor-rera: no observara nenhum rctus nos rostos, no encontrara no seubolso sequer um bilhetinho enfiado as pressas, os internos nada fizeramque despertasse suspeita...

    No entanto, Theresienstadt, cidade artificial criada para propaganda,foi aparelho de extermnio, fosse ela habitada por artistas ou sbios ourabinos ou velhos soldados ou crianas.

    * * *

    O campo de Terezin (assim chamado pelos que nele viveram) noexistiu para ser esquecido. O centro de Histria da Resistncia e da De-portao de Lyon dedicou-lhe uma exposio temporria que visitei em

    abril de 1999. Entre o grande conjunto de obras e documentos cedidospela Tchecoslovquia, pude ver roupas de suas crianas, pinturas, dese-nhos infantis, entre eles um Mickey desenhado numa lasca de madeiraque fora ali deixado. Ningum passaria inclume por esses vestgios.

    Sendo professora de Psicologia Social, lera dezenas de depoimen-tos recolhidos por meus alunos, de avs que sobreviveram ao gueto de

    Varsvia e a campos de concentrao. Mas nada vira de semelhante propaganda de Terezin, ao artifcio que divergia em tal grau da realidade.

    Partindo com essas imagens impressas no esprito, obtive mais tar-

    de, documentao dos organizadores daquela exposio do Centro deLyon. Vou me ater somente documentao que recebi (Le masque de labarbarie Le ghetto de Theresienstadt1941-1945) e s impresses pessoaissobre o filme propaganda, entrevistas filmadas e, sobretudo, exposio.

    Embora Terezin merecesse longos anos de estudo, visitas repetidasaos museus e arquivos tchecos, penso que ser preciso testemunhar oque ele foi, sem demora. No s do que entrevimos ao longe, mas daquelaintimidade que pode se formar e se formou entre as paredes de papel de

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    um simples depoimento. Intimidade precria, bem sei, mas intensa comose o papel guardasse ainda o calor do sopro de tantas bocas

    A histria de Terezin

    Theresienstadt tem a forma geomtrica de uma estrela de muitaspontas. Antiga cidadela fundada pelo Imperador da ustria em 1780, rodeada por altos basties; suas muralhas, o alinhamento de suas ruas ecasernas, a praa central onde fica a igreja, toda essa disposio racionalde fortaleza possibilitou sua transformao num gueto isolado, num cam-po para casos especiais.

    Judeus proeminentes (cientistas, heris de guerra, artistas com famainternacional) so convidados a habitar uma cidade aprazvel como algu-ma estao de guas, Marienbad por exemplo, sob a proteo do Fhrer.Tero ali bons alojamentos, alimentao, cuidados mdicos, desde queassinem um contrato cedendo seus bens ao Reich (que assim ganhou emtorno de 400 milhes de marcos).

    As velhas damas, mediante um acrscimo razovel, poderiam obterapartamentos com face para o sol.

    Retrato de Mme. Paracy Arthur Goldschmidt

    George-Arthur Goldschmidt

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    E assim eles foram chegando a Theresienstadt, carregados de vali-ses e preparados para um longo sjour. Devem passar de incio por uma

    caserna isolada que serve de entrada ao gueto. As famlias exibem logoseus contratos que iro assegurar-lhes proteo e bem-estar.

    Os SS se apoderam de sua bagagem, pilhando tudo o que possa teralgum valor. Homens respeitveis, mulheres finamente vestidas, crianasdelicadas so despojados do que possuam e obrigados a dormir no solo.

    Aps noites e dias de brutal aprendizado, saem da caserna amarrotados esujos, olhos dilatados de espanto. Os membros da famlia so separados ecomeam a trabalhar para a indstria alem.

    Desde que houvera a ocupao que transformou a Bomia-Morvianum Protetorado do Reich (Reichsprotektorat) as medidas anti-semitasse tornaram opressivas, uma vez que Eichmann resolveu purificar racial-mente o Protetorado.

    Os lderes judeus haviam entregue aos nazistas (6 de novembro de 1941)um projeto de guetos industriais para oferecer s fbricas mo-de-obra mais

    barata. Isso, pouco depois da obrigao do porte de estrelas amarelas novesturio. No difcil imaginar o mvel dos lderes judeus: a sobrevivncia.

    Aps vrios encontros entre Goebbels, Heydrich e Eichmann,Theresienstadt escolhida como local para o campo de trnsito dos ju-deus do Protetorado e de moradia para os velhos, entre eles os judeusheris de guerra pela Alemanha. O Reich teria assim um carto de visita aexibir para o Ocidente.

    Terezin era um municpio tcheco com 3.498 habitantes que foramevacuados por Heydrich para a implantao do gueto.

    Desde 1941 comeam a chegar comboios repletos. Para se ter umaidia dessa implantao nos defrontamos com cifras assustadoras: com otempo so encerradas no campo 139.654 pessoas. Dessas, 33.430 vomorrer ali, 86.934 so deportadas para o leste onde 83.500 perecem.

    Numa caserna que abrigara outrora 20 soldados so alojadas de100 a 400 pessoas desde os pores at o sto. Uma casa onde moravamoito pessoas tem que abrigar mais de 50. Alguns Prominentenpoderomorar em casas com suas famlias, mas a grande maioria alojada nascasernas onde os homens so separados das mulheres.

    A disparidade no s social ou cultural porque existiu no guetotambm uma pluralidade religiosa: fora os judeus agnsticos pouco maisde 2.000 internos so cristos sendo 1.130 catlicos e 830 protestantes.

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    Com o tempo a superpopulao engendrou penria e doenas emgrau extremo. A rao quotidiana mdia insuficiente, se bem que os

    trabalhadores braais e as crianas recebam pores suplementares. Aosvelhos so dadas quantidades menores e eles rondam as latas de lixo embusca de comida.

    Na tela de Leo Haas vemos numerosos velhos cegos tentando ca-minhar com os braos estendidos numa coorte inerme e trgica. Sempreme pareceu que esses ancios (que morrem s centenas de fome, desgos-to e doenas) so os profetas do campo. Apalpando as trevas com seusmembros descarnados, vo frente perscrutando o futuro comum.

    A administrao do gueto

    Eichmann mostrou-se satisfeito com a administrao judaica que v ascoisas de maneira realista e coopera at o presente de forma leal. Caso asinsuficincias apaream, o descontentamento dos judeus se orienta em pri-meiro lugar contra a administrao judia e no contra a superviso alem.

    O relatrio da Cruz Vermelha assinala o restrito nmero de oficiaisnazistas sediados na Pequena Fortaleza, nomeados por Eichmann. (Nes-sa Pequena Fortaleza foram encerrados milhares de antinazistas tchecos

    A espera Arthur Goldschmidt George-Arthur Goldschmidt

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    e alemes, prisioneiros de guerra soviticos e agentes ingleses; destes, amaioria foi eliminada.)

    E a administrao judaica? testa esteve o Dr. Paul Eppstein, co-munista, assistido por um Conselho de Ancios (ltestenrat) que se en-carrega da Justia, Policiamento, Economia, Abastecimento, Sade, Tra-balho, Lazer... H responsveis por quarteires, por dormitrios. O con-tingente de funcionrios assombroso (17 mil) porque a ele pertencen-do, esperava-se escapar deportao.

    Ao Conselho Judaico incumba a tarefa de fazer a lista dos que seriamdeportados. O horror da deportao acompanha os prisioneiros noite edia. Quem no tivesse alguma proteo (buscada com desespero) pode-ria estar na prxima lista dos comboios para o leste.

    Quando a lista publicada com a data, muitos se escondem mas socapturados. Outros se fazem inocular com tifo para escapar, mas noconseguem; o mdico e a enfermeira que os ajudaram so executados naPequena Fortaleza.

    O limite extremo do medo vem da operao de escolha para ascmaras de gs (Selektion).

    Agamben nos fala do vrtice annimo que atrai obsessivamente todaa populao do campo cujo pensamento gira em torno da pergunta:

    Quem ir desta vez? Por isso a preocupao mais assdua do deportado esconder suas doenas e suas prostraes... (O que resta de Auschwitz).Ele gostaria que sua debilidade agravada a cada dia se tornasse invisvel.

    Quando da visita da Cruz Vermelha a Theresienstadt, 7.503 pessoascujo aspecto msero estragava a paisagem foram retiradas do gueto.

    Segundo Hannah Arendt o horrvel processo de reduo ocorria,regularmente, nesse paraso e Eichmann o considerava necessrio por-que nunca havia espao suficiente para todos aqueles privilegiados.

    Hannah Arendt analisa to apaixonada quanto lucidamente os me-canismos internos do julgamento de Eichmann no livro Um relato sobre abanalidade do mal: Eichmann em Jerusalm. E diz: Para um judeu, estepapel do lder judaico na destruio de seu prprio povo , indubi-tavelmente, o captulo mais sombrio de toda uma histria escura.

    Em Amsterdam, assim como em Varsvia, em Berlim como emBudapest podia-se confiar nos funcionrios judeus para fazerem a listadas pessoas e de suas propriedades, para apanharem o dinheiro dos de-

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    portados, para calcularem as despesas de sua deportao e extermnio,para seguirem a pista de apartamentos vagos, para ajudarem as foras

    policiais a agarrar os judeus e p-los em trens (...) Eles distribuam osdistintivos das estrelas amarelas e s vezes, como em Varsvia, a vendadas braadeiras tornou-se um negcio regular. E continua a autora: emTheresienstadt a autonomia judaica foi levada to longe que at o carras-co era um judeu.

    Citando depoimento de Eichmann tomava-se cuidado especial emno deportar judeus bem relacionados e com amizades importantes nomundo exterior.

    O destino desses judeus eminentes ainda hoje deplorado na Ale-manha; muitos se lastimam por terem mandado Einstein embora, semperceber, conclui Hannah Arendt, que um crime ainda maior, matar opequeno Hans Cohn ali da esquina, apesar de ele no ter sido um gnio.

    Sempre com Arendt, o que o julgamento de Eichmann em Jerusa-lm poderia ter mostrado ao mundo, seria uma viso da totalidade docolapso moral que o nazismo causou na respeitvel sociedade europia,tanto nos algozes como em suas vtimas.

    Se que podemos emitir algum juzo e creio que no podemos ele deve alcanar os princpios de uma sociedade criminosa que expandiusua ideologia como o ar que o cidado comum respirava. Uma perguntacabvel teria sido: Como eu agiria se estivesse l? Ou mesmo: Comoajo agora quando a mentira social afirma sua existncia?

    A infncia no campo

    Milhares de crianas (aproximadamente 11 mil) viveram em There-sienstadt; algumas chegaram com suas famlias, outras ss. Aos poucos

    vo sendo tiradas das casernas superlotadas e vo sendo alojadas em blo-cos de moradia, separadas conforme a idade e o idioma que falam.

    Aadministrao judaica preocupou-se com este grande contingenteinfantil que desde logo foi rodeado por mestres devotados. Muitos deles,militantes comunistas ou sionistas, acreditavam numa sociedade fraternala ser construda no futuro. Os alunos assimilaram suas utopias conformeos testemunhos que nos deixaram.

    Os SS requerem o trabalho das crianas maiores de 14 anos na pro-duo de guerra e s permitem o ensino do trabalho manual. O ensino

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    da histria, cincias, lnguas e literatura clandestino; dele se ocupampedagogos de conceituados centros de Viena, alguns da linha de

    Pestalozzi. A noite, nos saraus, as crianas assistem leitura de poesias, acorais, marionetes, e at a peras escritas para elas. So visitadas por fil-sofos, cientistas, escritores como o grande humorista tcheco Karel Polcekcom quem conversam.

    So levadas a visitar os ancios, a ajud-los com pequenos presentese a cantar para alegr-los. Os velhos transmitem o seu saber e suas utopias:

    desejam preparar as crianas para um futuro coletivo nos kibutzim deIsrael ou numa sociedade comunista logo que o nazismo for derrotado.

    Estas crianas, contudo, assistem s cenas de deportao dos pr-prios pais, vem mortos nas ruas, roubam alimentos e carvo para seaquecer. Os aspectos mais cruis do gueto no lhes so poupados.

    Pude ver seus desenhos, seus textos e nada me comoveu tanto comover algumas peas de suas roupas.

    Os desenhos se inspiram nas aulas da admirvel professora que foiFrederieke Brandeis. Esta jovem, nascida em Viena, foi aluna da Bauhaus,em Weimar, onde seguiu cursos com Paul Klee e outros mestres. Reno-mada arquiteta de interiores em Berlim, Viena e Praga, acabou caindonas mos dos nazistas. Em Terezin levou as crianas a estudar as cores e aluz, a fazer colagens sobre desenhos. Os formulrios da antiga guarnioda fortaleza, ali abandonados, vo ser recortados e vo aparecer sob umanova luz. Com meios to pobres a arte se faz e o seu amor pela liberdadede criao se expressa num texto (Sobre a arte das crianas) onde ela seinterroga: Dirigir os lampejos de inspirao das crianas, suas sbitasiluminaes criminoso. Por que os adultos se apressam tanto em fazercom que as crianas se assemelhem a eles? Somos a tal ponto felizes esatisfeitos com ns mesmos?

    Suas lies eram tambm um meio de reconstruo psicolgica dospequenos prisioneiros. Os desenhos so povoados de imagens do lar per-

    dido, da cidade amada para onde um dia querem retornar.Frederiecke Brandeis morreu em Auschwitz em 1944.

    Diversas revistas so preparadas nos lares de adolescentes como Ka-mard(22 nmeros), Rim-rim-rim(sinal de reunio da turma, chegou a21 nmeros), Vedem(Avante!, rgo da Repblica Skid, que chegou amais de 50 nmeros), Noviny...

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    So revistas em geral manuscritas, muito ilustradas por lpis de core aquarela. Seus exemplares, nicos, passam noite de mo em mo. Re-

    velam o que foi o quotidiano no campo, mas tambm se desenha histriaem quadrinhos, se escrevem aventuras em captulos: viagens na estratos-fera, exploraes polares, descobertas, piratas e far-west...

    Eles vem tudo, sabem tudo e observam com aquela justiainsubornvel das crianas. At a administrao judaica criticada: semproteo no se pode obter coisa alguma no gueto, ou mesmo permane-cer vivo.

    Alguns professores se inspiravam em modelos de pedagogia soviti-ca adaptados de comunidades de crianas abandonadas durante a guerra.Em Leningrado havia um orfanato que recolheu meninos abandonadosde guerra; era a Escola (Shkola) de educao social e individual Dos-toievski. Em 1943, com as iniciais desse orfanato, os adolescentes doBloco L 417 proclamavam em Terezin uma repblica de jovens que deno-minam Repblica Skid.

    Pelo trabalho e disciplina, pela responsabilidade entre os camara-das querem transformar seu destino numa realidade alegre e conscien-te, conforme as palavras de seu presidente eleito, o jovem Walter Roth.Enfim, um sentimento coletivo elevado anima os jovens e seus pedagogos.

    Enquanto a Repblica Skidafirma seus princpios esperanosos narevista Vedem(Avante!) uma nuvem sombria avana sobre a Europa. AoConselho dos Ancios Judeus cabe a amarga tarefa de selecionar os quedevem partir nos comboios da morte. O conselho tenta reter as crianasat o fim. Mas em 1943 parte um comboio de crianas para o campo deBirkenau.

    Egon Redlich, responsvel pela organizao infantil do campo, ti-nha seu brao direito no alemo Freddy Hirsch, jovem esportivo e muitoligado aos alunos. Ele os acompanhar no comboio e em Birkenau, criano campo o Bloco das Crianas onde continua sua obra de educao com

    esforos hericos. Este jovem imaginativo inventa histrias, jogos e can-es para entret-los e cria uma ilha de humanidade e de esperana den-tro do sinistro espao de Birkenau. (Quando em 1944 os meninos soconduzidos cmara de gs, ele se suicida.)

    Para o administrador Redlich, que participara da seleo dos queiriam partir para o leste, chega a vez de partir tambm no ltimo com-boio para Auschwitz, com sua esposa Grete e o beb de seis meses. Elesno voltaro.

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    No outono de 1944 os comboios para Auschwitz levam a maioriadas crianas do gueto. A revista Kamardainda publica seu ltimo n-

    mero onde os amiguinhos prometem se reencontrar depois da guerranuma certa rua de Praga. Mas das 8.764 crianas e jovens, deportadasentre 1942 e 1944 para os campos do leste, s sobreviver uma centena.

    Os jovens redatores de Kamardnunca mais se vero numa certarua de Praga. Nem a valorosa Repblica Skidvir cumprir suas promessas.

    Babel ao reverso: a arte de Terezin

    No entanto, Terezin concentrou em si uma terrvel beleza. A resis-tncia banalidade do mal se apresentou em formas expressivas na

    msica, na pintura, no teatro, na poesia... A concentrao rara de talen-tos, rara na histria da cultura ocidental, servir aos nazistas de propagan-da. Mas tambm houve uma arte subterrnea, de denncia.

    noite, os prisioneiros improvisam pequenas peas clandestinas emdiferentes lnguas. Sem cenrio, jogam com a luz e sombra dos dormit-rios. Criava-se uma atmosfera mgica de compreenso, Babel ao reverso.

    Com papel, com palha, com sacos vo criando costumes. Aos pou-cos vm cena Gogol, Tchkov, Molire, Cocteau... Muitos prisioneirosforam atores. Os tchecos ousam peas engajadas politicamente, pois os

    SS no entendem sua lngua: numa delas a Imperatriz Maria Teresa ob-serva com telescpio o mundo moderno, especialmente Terezin criadoem sua homenagem.

    Karel Svenk em O ltimo ciclistaconta a histria de um ditador queacusa os ciclistas de serem culpados por todos os males do pas, bemcomo seus descendentes e os vai deportando para a Ilha dos Horrores.S um ciclista foge e salvo porque o ditador no pode subsistir sem umbode expiatrio. Durante as sucessivas representaes da pea, que fazum enorme sucesso, os atores vo desaparecendo nos comboios para oleste. Novas representaes aparecem: Pigmaliode Bernard Shaw,

    Ifignia em Tauridede Goethe...H saraus dedicados s crianas com leituras de histrias, marione-

    tes, canes compostas no campo. Para os velhos so festejados cerimo-niosamente os aniversrios de Goethe, Schiller, Kafka... e outros autores,com leituras e debates sobre suas obras.

    Desde que foram criadas oficinas de produo artstica, os internosexercem ali seu prprio metier, fazendo projetos, desenhos tcnicos, gr-

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    ficos para firmas alems. Alegram com pinturas os espaos superlotadosdos dormitrios. O arquiteto Norbert Troller tem que imaginar o dcor

    da cantina dos SS. Fazem painis de decorao para teatro e desenhamrefinados convites. Praticam cermica, escultura e devem confeccionarobjetos para os SS:portraitsde famlia a partir de fotos, bibels, cartesfestivos, abajures... E tambm lbuns de propaganda do nazismo para omundo exterior. Mas, clandestinamente, representam o mundo que veme escondem suas melhores obras nos grandes port-foliosda biblioteca ounos desvos dos stos.

    O atelier de desenho dirigido por um artista extraordinrio,Bedrich Fritta, grfico e caricaturista em Praga, interno em 1941. Seunome verdadeiro era Fritz Taussig. Pude ver o lbum encantador que

    preparou para o 3 aniversrio de seu filho Thomas (Tomckovi). Seudiscpulo e amigo Leo Haas, que sobreviveu, nos deixou um belo retratode Fritta e outro do menino Thomas.

    Bedrich expressou sua clera em duzentos desenhos secretos queenterrou no solo dentro de um cofre de ferro. As obras desse atormenta-do artista nos causam consternao e dor porque narram a verdade queos nazistas escondem: filas de deportados fustigados pelas chuvas, telha-dos com olhos que nos enviam mensagens aflitivas... Pode-se comparar oCaf-concerto pintado para propaganda e aquele pintado por Fritta ondeos msicos tocam para rostos vazios que aguardam a morte.

    As lojas de Theresienstadt Bedrich Fritta Thomas Fritta-Haas

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    No atelier trabalhavam uma vintena de pintores da altura de OttoUngar, Leo Haas, Charlotta Beresov, Hilda Zadikov. Evoc-los, rever

    suas obras, escrever seus difceis nomes tchecos, mais que um labormemorativo, uma necessidade de justia.

    As crianas tiveram em Friedl Dicker-Brandeis (Frederieke Brandeis)mestra excepcional, conforme atestam os desenhos infantis que hoje per-tencem ao Memorial de Terezin.

    O pastor da comunidade evanglica do campo, Arthur Goldschmidt,retratou muitas figuras e aspectos do quotidiano. Nascido em Berlim, foiconselheiro do Tribunal de Apelao em Hamburgo, de onde foi afasta-do pela lei de 1933 sobre excluso de funcionrios judeus ou meio ju-deus (seu pai, que abandonara o judasmo, o batizara na religio protes-tante luterana). Ele se tornou uma das figuras mais respeitadas da cidadee banido do seu alto cargo, envia os dois filhos Itlia e depois Franapara proteg-los.

    Em 1942 perde sua esposa e deportado para Terezin onde se tor-nou pastor da comunidade evanglica: cerca de 200 fieis compareciam aoculto. Traava em cada retalho de papel que lhe caa nas mos retratos excelentes dos internados. Como guia espiritual, escutava confidn-cias e conhecia interiormente os rostos que desenhou: da a sensibilidadedessas fisionomias, como a de singular agudeza de Madame Paracy, de

    Viena.Num velho caderninho estragado que usava em seus momentos li-

    vres, deixou-nos um testemunho de amor: o desenho de um casal ondese v o homem penteando a mulher. Ele, ainda aprumado, de gravata

    papillone ela sentada no solo, acabrunhada como quem desistiu de espe-rar. So duas atitudes que convivem no campo: a resistncia animosa aodestino e o esvaziamento de toda esperana, sem outro apoio que a ter-nura do companheiro.

    Goldschmidt sobreviveu (aqui reproduzimos algumas de suas obras).

    O vo dos artistas se interrompeu em 1944 com a priso de cincomembros do atelier. Interrogados em presena de Eichmann, so aprisio-nados na Pequena Fortaleza com suas famlias. Acusao: fazer propagandamentirosa (Greuelpropaganda) para prejudicar a imagem do gueto. Umdeles, Bloch, espancado at a morte. Otto Ungar tem sua mo destrudapara que no pudesse mais pintar e morre alguns meses depois. Os outrossero deportados para Auschwitz, onde morre Bedrich Fritta. Leo Haas,que sobreviveu, adotou o filhinho de Bedrich, Thomas.

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    Centenas de pintores, msicos e atores partem. Leo Haas escondeumais de 400 obras murando-as no sto de uma caserna. Bedrich Frittahavia enterrado as suas. Esses artistas desejavam acima de tudo dar para ahumanidade um testemunho do que fora a vida no gueto. Suas obrassubsistem na sua maior parte no Museu Judaico de Praga e no Memorialde Terezin.

    Conforme Dominique Foucher, que estudou a pintura e o desenhoem Theresienstadt: Alm de seu valor como expresso artstica, essas obrasconstituem um testemunho nico sobre o que foi Theresienstadt: um fe-nmeno sem precedente na histria da cultura ocidental.

    A msica de Terezin

    Desde o incio da chegada ao campo, comeam a se organizar assoiresda amizade, espetculos que os prisioneiros apresentavam nos dor-mitrios. Com grande custo conseguiam trazer consigo um ou outroinstrumento, ocultos na pequena bagagem permitida. Um instrumentogrande como o violoncelo chegou desmontado pea por pea.

    Sem demora os nazistas compreenderam o quanto a msica poderia

    servir de propaganda para um campo modelo onde era to prazeroso viver.

    Homem penteando a esposa Arthur Goldschmidt

    George-Arthur Goldschmidt

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    Assim, o chefe do Conselho dos Ancios, Paul Eppstein, conseguiu queviesse seu prprio piano. Dado o grande contingente de msicos ansiosospor exercitar-se, ele concedia duas horas por dia a cada um. Mas comotodos consideravam esse tempo exguo fundou-se uma Piano Polizei(PIPO),que regulava os horrios. Como se v, o bom humor tinha direitos decidadania em Theresienstadt. Primo Levi, ao recordar Auschwitz, no omitede forma alguma episdios jocosos como as brincadeiras de iniciao comos novatos.

    Maestros, poetas, compositores ensaiam peras, msica vocal e ins-trumental. H mesmo um quarteto composto s de mdicos. Foram le-

    vadas cenaAs npcias de Fgaro e A flauta mgica de Mozart. Umpblico exigente aplaudiu o Rigoletto de Verdi, a Tosca de Puccini, a

    Carmende Bizet. Em 1942 aberto o Caf-concertoque oferece espet-culos tarde e noite.

    Grande xito alcanou a pera Brundibar, cantada pelas crianas dogueto e da autoria do compositor tcheco Hans Krsa; a vitria do bemsobre o mal (encarnado em Brundibar) e teve um dcor e uma mise enscnedas mais caprichadas. A pera representada 55vezes se encerra comas palavras: Aquele que ama a justia, que lhe permanece fiel e no temmedo, nosso amigo e pode vir brincar conosco.

    O violinista Leo Haas Memorial de Terezin

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    Na expectativa da visita-inspeo da Cruz Vermelha, novas salas paramsica so abertas e mesmo um pavilho construdo. Preparou-se o ce-

    nrio para o filme-propaganda sobre Terezin. Paradoxalmente, executava-se a obra de msicos proibidos na Alemanha, os decadentes, com umaliberdade de que no dispunham os cidados hitleristas.

    No Caf-concerto se apresentavam tarde e noite espetculos moda dos cabars alemes da poca e cantava-se ali uma cano que termi-nava assim:

    Podem nos roubar aqui bastantes coisaso destino decidiu por ns assim,

    mas algo existe que jamais nos roubaro:a certeza que um dia haver aqui outra coisaoh, escuta, camarada,o canto de Theresienstadt

    Os artistas costumavam divertir os doentes nos hospitais que, porgratido, guardavam para eles um pouco de po, margarina ou acarsubtrados de suas minguadas raes.

    Tocavam, danavam e cantavam para um pblico que continuamente

    ia desaparecendo, sendo que eles prprios no podiam prever se estariamali na prxima representao.

    No mesmo ano de 1944, aps a visita da Cruz Vermelha, os msicosforam julgados inteis. Vrios compositores embarcam nos comboios damorte como o jovem Gideon Klein, que, interno aos 22 anos, escreveutoda sua obra em Terezin onde foi pianista, regente de coro e educador.Gideon deixou-nos uma fantasia e fuga para quarteto de cordas, umasonata para piano, uma pea para bartono sobre trs poemas deRimbaud e arranjos inspirados no folclore tcheco, russo e judaico. Po-demos admirar sua fisionomia no retrato que dele fez CharlottaBuresov.

    Em 1944 parte tambm Pavel Haas, o compositor adorado deMilan Kundera. Pavel comps msica sinfnica, jazz, trilhas sonoras paracinema. Antes de cair nas mos dos nazistas tinha se divorciado para sal-

    var a esposa e a filha que eram catlicas. Pude escutar seu belo Estudopara cordas, executado no filme sobre o campo.

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    Viktor Ullmann estudou composio com Schonberg em Viena(onde foi o primeiro auxiliar de Zemlinsky), e com Haba no conservat-

    rio de Praga. Conhecendo Rudolf Steiner, Viktor tornou-se apaixonadoantroposofista. Comps sonatas, melodias para coros infantis, muitos liedercomo os Lieder der Trostung(cantos de consolao), para voz e quartetode cordas. Musicou poemas de Holderlin eA cano de amor e de mortedo porta-estandarte Christoph Rilke.

    Sua pera Der Kaiser von Atlantis(O imperador de Atlantis) umastira a Adolph Hitler e a seus anjos exterminadores; faz aluses a autorescondenados pelo Reich como Gustave Mahler. Esta obra nunca pode serapresentada.

    Viktor Ullmann criou o Studiopara Msica Nova onde ensinou aexecuo das msicas contemporneas malditas. Criou tambm oCollegium Musicumpara o estudo de msica barroca. Entre 1942 e 1944,ano de sua morte em Auschwitz, esse grande artista abriu horizontes decriao livre para os prisioneiros de Terezin como poucas vezes a Europater conhecido.

    * * *

    Aqueles que restaram no campo, ameaados sempre ou doentes efamintos, continuam a escrever msica e poesia, peras para as crianas.

    Preparam os Contos de Hoffmannde Offenbach enquanto a Alemanhaest perdendo a guerra e acelera a soluo final para os judeus. A1 deagosto de 1944 d-se a insurreio de Varsvia que as foras alems esma-gam no incio de outubro. A liberao de Paris acontece a 25 de agosto.

    No delrio dos ltimos tempos do nazismo so aprisionados os fi-lhos de casamentos mistos que chegam ao campo. As crianas, quandolevadas ao chuveiro, gritam de horror: No! O gs, no! Os recm-chegados relatam aos prisioneiros o destino dos comboios e estes, to-mam assim conhecimento das cmaras de gs.

    Mas prossegue a luta da populao russa e passo a passo a Alema-nha recua. Quando o Exrcito Comunista liberta Auschwitz em 1945, osSS projetavam a construo em Terezin de uma cmara de gs com passa-gem subterrnea. Projetavam tambm um lago para patos onde afoga-riam milhares de pessoas. Em maio os soviticos chegam ao campo ecomea o repatriamento dos prisioneiros. Em outubro, os antigos habi-tantes de Theresienstadt recuperam sua cidade.

    * * *

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    Algumas semanas antes houvera outra visita da Cruz Vermelha aocampo, ainda sob o domnio nazista. A equipe dos visitantes manifestou

    de novo sua admirao pelas atividades artsticas a que assistiu na oca-sio. Antes dessa inspeo havia se preparado o mesmo cenrio: casaspintadas, ruas lavadas, praas abertas, os internos obrigados a agir comofigurantes. A Theresienstadt vista uma fachada ilusria: ali tudo falso,menos as suas criaturas. As crianas so crianas, os mestres so mestres,os mdicos so mdicos, os artistas so artistas.

    Em 1943 o campo viveu um memorvel acontecimento: a apresen-tao do Requiemde Verdi. Quando a quase totalidade do coral foi de-portada (150 participantes se foram nos comboios do leste), lentamentese formou um segundo conjunto que pode apresentar outra vez o Re-

    quiem. Este, recebido com emoo pelos prisioneiros que escutavam mes-cladas no mesmo coro as vozes dos vivos e mortos.

    Mas, havendo novas deportaes, os cantores se foram. Os sobrevi-ventes do campo de Terezin formaram ento um terceiro coral que, nooutono de 1944, se apresentou para cantar o Requiemde Verdi.

    ABSTRACT:THECAMP of Theresienstadt was settled by the Nazis in order to gatheroutstanding Jewish men and women who were deported to that Lager from 1940until the end of the war. Its main objective was to serve as propaganda, by showingHitlers good intentions in dealing with the Jewish question. Therefore many artists,musicians and professors were forced to live there. In spite of this oppressive condition,they produced remarkable works of art. When the final solution was decreed by Hitler,most of them were sent to Auschwitz and put to death.

    Ecla Bosi professora do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do Insti-tuto de Psicologia da Universidade de So Paulo (IP-USP) e autora de Memria eSociedade.

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    O ateli de desenho - Leo Haas. Memorial de Terezin

    Cartazes de peras. Memorial de Terezin

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    Retrato de Bedrich Fritta - Leo Haas. Memorial de Terezin

    Primeira pgina do albn Tomickovi - Bedrich Fritta. Thomaz Fritta-Haas

    Retrato de Thomas Fritta - Leo Haas. Memorial de Terezin

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    O caf - Frantisek Petr Kien. Memorial de Terezin

    O caf - Bedrich Fritta. Thomas Fritta-Haas

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    Velho com sua tigela - Otto Ungar. Memorial de Terezin Capa de Noviny, revista infantil. Memorial de Terezin

    A partida de um comboio - Bedrich Fritta. Thomas Fritta-Haas

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    Representao teatral num celeiro - Bedrich Fritta . Thomas Fritta-Haas

    Os cegos em Theresienstadt - Leo Haas. Thomas Fritta-Haas

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    Sonata para piano de Gideon Klein. Memorial de Terezin Retrato de Gideon Klein - Charlotta Buresov. Memorial de Terezin

    O quarteto dos mdicos - Karel Fleischmann. Museu Judaico de Praga

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    O comboio das crianas de Bialystok - Leo Haas. Memorial de Terezin

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    O jantar da festa do Seder - Dorit Weiserov. Museu Judaico de Praga

    Mesa vazia - Blanka Metszlov. Museu Judaico de Praga