Boletim Informativo DSIP 6
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Editorial
Artigo de Opinião: Rejeições de
pescado: acabar com o desperdício!
Importância da análise nutricional
do pescado
Publicações
Campanhas de monitorização
ambiental recife artificial da
Ponta Pequena- 2011
Contributos da certificação para a
sustentabilidade da pesca
Entrevista: Dra Mafalda Freitas
Retrospectiva da DSIP
Curiosidades
EDITORI AL
BOLETIM INFORMATIVO Nº 6| ABRIL-AGOSTO 2011
A sociedade actual despertou para a temática da divulgação cientifica para o
público em geral, que pouco ou nada conhece sobre o trabalho que se realiza
dentro das instituições de investigação.
Jorge Duarte* chamou a atenção para a importância de que “Cada instituição
científica possui a responsabilidade social específica não apenas de prestar
conta do uso destes recursos, mas de contribuir com a evolução da sociedade
e ajudar a torná-la mais justa. E, pela acção de seus integrantes, podem optar
por assumir esta responsabilidade ou esconder-se; podem divulgar que
produzem conhecimento, mas também serem activas em inserir a ciência nas
preocupações e interesses quotidianos”.
Todos nós sabemos que divulgar ciência ajuda a melhorar a educação,
formando assim uma sociedade crítica, com cabeças pensantes que tenham as
ferramentas necessárias para actuar no benefício de todos. Inspirar a
juventude é um óptimo começo para alcançarmos a maior entre todas as
aventuras: aprender e praticar ciência. Daí a importância de incentivar/
promover visitas de estudo guiadas aos diversos laboratórios existentes na
região, incluindo a DSIP, que já realiza essa prática. Estas iniciativas/
actividades podem servir de instrumento impulsionador para uma maior
consciência social sobre a actividade científica, o seu papel e importância
actual para a sociedade, bem como serem ferramentas para a desmistificação
da opinião pública sobre a ciência.
Por outro lado, um trabalho bem apresentado ao público poderá render
reconhecimento e fundos para continuar as investigações. A população deve
ter conhecimento da importância e necessidade da investigação realizada nos
nossos laboratórios. Quando o cientista divulga o seu trabalho presta contas à
sociedade daquilo em que ela investiu.
Finalizando, o nosso trabalho como agentes da ciência deve contribuir para o
reforço da investigação pesqueira, para a resolução dos problemas das nossas
pescarias regionais, assim como promover a investigação nos meios de
comunicação social como elemento-chave para melhorar a projecção/
divulgação da ciência para a sociedade.
*Jorge Duarte – Jornalista, relações-públicas, mestre e doutoramento em Comunicação Social.
Adriana Alves Bióloga da DSIP
Nesta edição:
Editora: Adriana Alves
Redacção: Graça Faria, Sara Reis
Gomes e Lina Correia
Colaboradores: Graça Faria,
Lina Correia, Sara Reis Gomes,
Maria João Aveiro, e Antonieta
Amorim
Fotografia: Antonieta Amorim,
Adriana Alves e Rui Reis
Ficha técnica:
Todos os anos, grandes quantidades do peixe capturado, são devolvidas ao mar pelos
pescadores europeus, a maior parte já morto. A rejeição (ou devolução ao mar) de
parte da captura de pescado é prática comum em todo o mundo e este valor é excluído das
estatísticas pesqueiras, que não têm acesso ao pescado rejeitado e portanto não é
considerado na avaliação de stocks em que se baseia a gestão pesqueira em geral. Esta
porção de mortalidade por pesca que é infligida aos stocks pesqueiros, afecta também o
recrutamento das coortes. As rejeições devem-se essencialmente a três factores:
quantidades de pescado que excederam os valores acordados a descarregar (excesso de
captura), incumprimento das dimensões mínimas exigidas por lei e falta de valor comercial do pescado (sem
mercado ou preço compensatório).
Actualmente, as rejeições são permitidas em todas as pescarias na União Europeia e o seu volume não consta para o
cálculo de quotas de pesca. Perante esta situação, a Comissão Europeia preparou em 2007 um plano para reduzir as
capturas acessórias e eliminar as devoluções. O fim das rejeições de peixes ao mar, fará parte de uma nova Politica
Comum de Pesca (PCP) que deverá entrar em vigor em 2013, facto que é há muito reivindicado pelas organizações
ambientalistas. Já existem propostas por parte de alguns países para combater a rejeição de pescado como por
exemplo: aplicação de uma quota de captura de modo a que todo o peixe apanhado seja descarregado; redução do
tempo de mar das embarcações de pesca; alterações nas técnicas de pesca e criação de mercados europeus e
internacionais para espécies de peixe actualmente pouco consumidas.
Esta reforma tem tido grande apoio (no Reino Unido as grandes cadeias de supermercado uniram-se ao WWF para
reivindicar a sua implementação) mas os países-membros com maiores quotas de pesca provavelmente contestarão
esta medida, dificultando a sua aprovação. Em Portugal, foi criada em 2009, a Plataforma PONG-Pesca – Plataforma
das ONG Portuguesas sobre a Pesca, para acompanhar e participar na reforma da PCP da União Europeia, sendo
constituída pelo GEOTA, LPN, Quercus, SCIAENA e SPEA. Considerando que quase 90% dos stocks de pesca da
UE são sobre-explorados, as organizações entendem que o objectivo da sustentabilidade no sector das pescas só será
atingido através da inclusão, no novo regulamento da PCP, de objectivos ambientais que sejam prioritários
relativamente aos objectivos económico e social, e da vinculação legal dos pareceres científicos sobre Totais
Admissíveis de Capturas (TAC‟s).
Em relação à realidade das pescarias madeirenses, a maioria das pescarias fazem-se utilizando artes de pesca
selectivas, o que contribui significativamente para a redução de capturas de espécies não desejadas. Contudo as
rejeições continuam a existir, afectando espécies sem valor comercial ou em más condições. No caso dos pequenos
pelágicos existem rejeições por vezes consideráveis, principalmente com a cavala, devido a problemas de mercado.
Segundo Saeterdal (1984) ”A gestão das pescas procura proporcionar o melhor aproveitamento possível dos
recursos em benefício da comunidade”. Proteger o meio marinho e orientar a sua exploração de forma sustentável, de
modo a que as necessidades das gerações futuras não sejam comprometidas pelas acções das gerações actuais,
deverão ser objectivos prioritários da administração pesqueira. Metas estas que só serão alcançadas com
envolvimento e consciencialização por parte da comunidade piscatória. Se fizermos um esforço, poderemos
assegurar a conservação e uso mais eficiente destes recursos, que são um património de todos nós. Proteger hoje para
termos amanhã.
E por isso, pôr fim a práticas de desperdício é o mínimo que podemos fazer! Graça Faria
Bióloga da DSIP
Página 2 Artigo de Opinião
Rejeições de pescado: acabar com o desperdício!
Página 3 Importância da análise nutricional do pescado
Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, no que respeita aos produtos de pesca e
seus derivados, Portugal revela ter um dos consumos mais elevados da Europa, estimado em 57 Kg/ano/per
capita. O potencial do sector pesqueiro aliado ao crescimento da utilização do pescado como fonte alimentar, exige
um conhecimento da composição bromatológica (composição dos alimentos) e tornam necessárias análises mais
detalhadas sobre a sua composição química. Em geral, a água, as proteínas e os lípidos (óleos e gorduras), perfazem
cerca de 98% dos constituintes principais do pescado, razão pela qual é um produto altamente perecível. Entre os
compostos minoritários salientam-se os minerais, hidratos de carbono e vitaminas.
O pescado constitui uma importante fonte de nutrientes apresentando um valor nutricional semelhante à carne de
aves e mamíferos, no qual se destaca as proteínas de alta qualidade e de rápida digestão. Contudo, considera-se que a
sua grande importância decorre da composição da gordura com elevados teores em ácidos gordos polinsaturados
(PUFA) especialmente os alusivos à família omega-3 (ɷ3). Destacam-se os ácidos eicosapentaenóico (EPA) e
docosahexaenóico (DHA), cuja ingestão tem sido associada à redução dos níveis de triacilglicéridos no sangue.
Estudos realizados com base em intervenção de dietas, comprovaram que o consumo destes ácidos gordos presentes
no pescado ou em óleos derivados, reduzem factores bioquímicos de risco associados a doenças cardiovasculares,
diabetes, artrites e diversos tipos de neoplasias. De salientar que são considerados compostos essenciais para o
Homem, uma vez que a única fonte possível é através da dieta, mas também são vitais para a própria espécie, dado
que quantidades deficientes inviabilizam a fecundidade.
Desde meados de 2009 que são feitas análises de composição bioquímica na DSIP, sobretudo no que respeita aos
lípidos, aos principais recursos pesqueiros a nível regional, de forma a traçar o perfil nutricional das espécies. De
acordo com a quantidade de gordura, os peixes são classificados em magros, semi-gordos e gordos. Exemplos de
espécies de cada uma destas categorias estão indicadas na Tabela 1.
Tabela 1– Classificação dos peixes de acordo com o teor de gordura.
Magro ( < 2%) Semi-gordo (2 a 5%) Gordo ( > 5%)
Pargo (Pagrus pagrus) Peixe-espada preto (Aphanopus spp.)
Cavala (Scomber colias)
Chicharro (Trachurus picturatus)
Página 4
No que respeita à qualidade da gordura, está é dada pelo balanço de ácidos gordos essenciais. A informação da
literatura indica, que são nos peixes marinhos de águas frias que encontramos maiores quantidades destes
compostos. Das espécies estudo, os resultados revelam que a cavala além de ser uma espécie considerada gorda, a
qualidade dessa mesma gordura é também elevada (Tabela 2).
A composição bioquímica varia consideravelmente de espécie para espécie e mesmo entre indivíduos da mesma
espécie, influenciada por diversos factores (Tabela 3).
Tabela 2– Teores médios de ɷ3 por 100g de fracção edível Tabela 3– Factores que influenciam a composição química das espécies
É devido a todos estes factores de variabilidade que se torna necessário proceder localmente à análise nutricional.
Maria João Aveiro
Bióloga da DSIP
Publicações:
Morphological identification of two sympatric species of Trichiuridae, Aphanopus carbo and A. intermedius, in NE
Atlantic. Biscoito M., Delgado J., González J.A. , Stefanni S., Tuset V.M., Isidro E., García-Mederos A. & Carvalho D. pages 19-32. 2011. Cybium. http://www.mnhn.fr/sfi/cybium/numeros/351/03-Biscoito%20676%
20Abs.pdf
Factores bióticos Factores abióticos
Estado de maturação sexual Zona geográfica
Reprodução Estação do ano
Sexo Temperatura da água
Disponibilidade alimentar Habitat
Espécie Lípidos totais ɷ3/100g
Cavala 12g 2,15 g
Chicharro 2,8g 0,34g
Espada 2,8g 0,27g
Pargo 0,5g 0,05g
Página 5
Realizou-se no passado dia 6 de Abril a 1ª campanha de 2011, para a monitorização ambiental do recife artificial do
Paul do Mar (Calheta), as quais decorrerão mensalmente. Os trabalhos de recolha e medição das variáveis
oceanográficas em estudo foram realizados a bordo da embarcação “Ziphius” do Museu da Baleia/ C.M. Machico,
que permitirá a caracterização ambiental e hidrodinâmica da área.
A avaliação do plâncton e hidrografia na área de instalação do recife,
fornece dados sobre a dinâmica de base da teia trófica dos ecossistemas
marinhos. Para a sua determinação foram efectuadas as seguintes
medições: temperatura, salinidade e oxigénio dissolvido com a
multi-sonda CTD/O2 (Conductivity, Temperature, Depth and Oxygen
Sensor); profundidade de penetração da luz com o disco de secchi e
foram recolhidas amostras de água para determinação de clorofila a e
nutrientes.
A clorofila a é o pigmento fotossintético das microalgas, responsável pela
avaliação da produção primária, dando-nos a indicação da biomassa de algas e
potencial riqueza dos oceanos. Os nutrientes estudados são os nitratos, nitritos,
fosfatos e silicatos, pois são os principais compostos químicos que limitam o
crescimento de diatomáceas e dinoflagelados (microalgas).
Para a determinação de correntes junto à costa foram lançados flutuadores
derivantes para os 0, 5 e 20 metros de profundidade. Foram ainda efectuados
arrastos horizontais de superfície com rede cónica para a avaliação específica
(identificação à espécie, sempre que possível) e quantitativa do ictioplâncton. As
estações de amostragem estão distribuídas ao longo de um transecto
perpendicular à costa, orientado para sudoeste nas batimétricas de 20, 50 e 100
metros.
Estas campanhas inserem-se no Projecto “Repovoamento Costeiro” que tem como objectivo o desenvolvimento de
áreas recifais na costa Sul da Ilha da Madeira visando simultaneamente o papel de recuperação e enriquecimento da
produtividade natural e protecção de áreas contra a pesca predatória. A monitorização ambiental tem sido regular
desde o ano de instalação do recife artificial (2000), e visa o acompanhamento da evolução dos factores bióticos e
abióticos em relação ao estudo prévio
efectuado na área (1996/1997).
Antonieta Amorim
Bióloga da DSIP
Multi-sonda CTD/O2 )
Campanha de monitorização ambiental do recife artificial do Paul do Mar - 2011
Embarcação „Ziphius”
Rede cónica para recolha de plâncton.
Largada de um flutuador para medição de correntes.
Página 6 Contributo da Certificação para a Sustentabilidade da Pesca *
Contexto Internacional e Nacional
A crescente procura da certificação de pescarias e de obtenção de rótulos de “pesca sustentável”, surge num contexto de
incremento da preocupação dos consumidores, a nível Europeu e Mundial, com os impactos decorrentes do exercício da
actividade da pesca nas populações exploradas, nos ecossistemas e no ambiente marinho.
Data somente de Janeiro de 2010 a primeira, e única até ao momento, certificação de uma pescaria Portuguesa. Concretamente,
a pesca de sardinha com rede de cerco.
Quem certifica e como?
Um dos programas de certificação mais completos e divulgados actualmente na Europa é o do Marine Stewardship Council
(MSC).
Este programa, que certificou recentemente a pesca da sardinha Portuguesa, é consistente com a normativa FAO de 2005 e
utiliza uma entidade independente, acreditada pela Acreditation Services International (ASI), para verificar a conformidade da
pescaria candidata com as normas de certificação da MSC, a qual funciona assim como organismo normativo, estabelecendo as
directrizes a ser cumpridas pela pescaria candidata. A conformidade com as normas é auditada por uma terceira parte,
independente dos promotores e da entidade certificadora, dando garantia de independência e transparência no processo.
Impõe-se aqui um parêntese para clarificação. No nosso País onde este tema é ainda incipiente, falar-se em certificação de
pescarias, leva, regra geral, a uma conotação com a qualidade do produto comercializado ou presta-se à confusão com o concei-
to de marca ou certificação de origem dos produtos.
Assim, desde logo, o que não é a certificação “pesca sustentável”:
1) Não é um sistema de rotulagem relativo às informações voluntárias, que se podem encontrar em produtos da pesca, relativas à
sua qualidade nutricional (proteínas, gorduras, ómega 3 etc.);
2) Não se refere às características organolépticas do pescado (frescura, apresentação, cor, sabor, etc.);
3) Não avalia o contexto social de produção (comércio justo, etc.);
4) Não certifica a região ou zona de origem do produto, como o faz, por exemplo, a marca: Produto da Madeira, nem confere
qualquer estatuto especial, propriedade ou liga a originalidade e individualidade do produto de forma indissociável a uma
denominação de origem, como acontece, no caso dos vinhos, com as regiões demarcadas.
Qual então o propósito deste processo?
A atribuição da certificação “pesca sustentável”, segue três critérios de avaliação principais, os quais incidem sobre os aspectos
a certificar:
1) O (bom) estado das unidades populacionais exploradas. É avaliada a não ocorrência de sobre exploração, ou seja, se a
pescaria é exercida de forma sustentável, permitindo a capacidade de renovação dos mananciais explorados, não
comprometendo assim a passagem do recurso às gerações seguintes. A pescaria não deverá também originar níveis
desnecessários de capturas acessórias, isto é, não capturar excessivamente espécies que não são o(s) alvo(s) primário(s) da
pescaria;
2) O sistema de gestão. É verificada a conformidade da pescaria com as medidas de gestão legal, em vigor nas zonas de pesca
em causa, caso, por exemplo, da existência de TAC‟s (capturas máximas admissíveis) e quotas ou limitações ao esforço de
pesca, sendo adoptada uma abordagem de precaução no caso de insuficiência de dados científicos;
3) O impacto no ecossistema. É verificado se a pescaria não gera impactos que prejudiquem gravemente o ecossistema e, em
caso de impacto negativo, deve ser capaz de encontrar soluções para minimizá-lo.
A iniciativa é, regra geral, desencadeada e conduzida pelas organizações de produtores ou por uma pescaria específica, com
interesse na certificação, as quais irão beneficiar comercialmente da utilização do rótulo.
O processo, no entanto, inevitavelmente envolve outros stakeholders, nomeadamente a administração do sector e organismos de
investigação pesqueira cujo apoio e orientação deverão concorrer para o seu sucesso.
Página 7 Existem pescarias, na Madeira, com condições para iniciar este processo?
Várias pescarias da Madeira se afiguram com possibilidades de configurar uma candidatura sólida à certificação. A apanha de
lapas e pesca de pequenos pelágicos (Ruama) possuem um conjunto de circunstâncias técnicas que as tornam “bons” candidatos
para a certificação. Porquê?
1) São pescarias de pequena dimensão com informação adequada acerca da frota e dos regimes de operação.
2) Os mananciais explorados são constituídos por populações com distribuição local, sem entradas ou saídas significativas por
migração.
3) Existe um bom conhecimento da biologia e dinâmica populacional das populações exploradas e avaliações recentes dos
stocks.
4) Há uma monitorização permanente dos recursos por parte da investigação pesqueira da Madeira e capacidade de intervenção
da Administração na implementação de quadros legais adequados à gestão racional dos recursos.
O caso da pesca Madeirense do peixe-espada preto
A certificação da pescaria do peixe-espada preto, surge como uma tentação óbvia, porém há alguns aspectos que, na nossa
opinião, condicionam uma eventual candidatura que necessita uma preparação ponderada, provavelmente pensada para um
horizonte de médio a longo prazo:
1) Trata-se de uma pescaria de maior dimensão, relativamente às outras atrás referidas, com maior complexidade na obtenção de
informação adequada acerca da frota e dos regimes de operação, sobretudo no segmento das pequenas embarcações menores de
12 metros;
2) Embora exista actualmente um bom conhecimento da biologia e dinâmica populacional das populações exploradas e uma
monitorização permanente do recurso por parte da investigação pesqueira da Madeira, as avaliações de stocks efectuadas
regionalmente serão sempre cientificamente discutíveis em virtude de a investigação local ter acesso apenas à fracção adulta da
população que é alvo da pesca;
3) Acresce o facto dos fortes indícios existentes, que cada vez mais tendem para a consensualização, por parte dos cientistas, de
que estamos em face de um manancial com forte possibilidade de efectuar migrações em extensas áreas do Atlântico norte e centro-oriental, desovando na área geográfica da Madeira e com outras frotas a actuar, a montante do mesmo recurso, pescando
fortemente fracções imaturas da população e, muito provavelmente, influenciando o recrutamento às nossas áreas de pesca e,
consequentemente, a abundância de peixe nos pesqueiros à volta deste arquipélago;
4) A situação tornou-se ainda mais complexa, do ponto de vista técnico-científico com a recente confirmação da presença e
captura de duas espécies de peixe-espada preto nestas áreas (Aphanopus carbo e A. intermedius);
5) A capacidade actual de intervenção da Administração Regional na implementação de quadros legais adequados à gestão
racional desta pescaria, ou no eventual delineamento de planos de gestão ou de recuperação do recurso é, neste caso, limitada
comparativamente às outras pescas regionais mencionadas. Essa situação decorre da obrigatoriedade da aplicação dos modelos
de gestão decididos pela Comunidade Europeia, vigorando actualmente o regime de limitação do esforço de pesca e aplicação
de quotas bienais no âmbito do Regulamento Europeu de acesso às oportunidades de pesca de espécies profundas.
Conclusão
Na nossa opinião, seja qual for o modelo de acesso à certificação adoptado e o horizonte temporal escolhido, inevitavelmente
este caminho será trilhado pela pesca Madeirense, a qual poderá (deverá) encarar resolutamente esta oportunidade de
valorização dos produtos oriundos da pesca regional.
Todavia, o maior benefício a colher será, na nossa perspectiva, o incremento de credibilidade da pescaria - cuja sustentabilidade
biológica passa a ser garantida por um organismo certificador acreditado Internacionalmente - face à governança Europeia do
sector.
Tal facto poderá traduzir-se numa maior capacidade negocial e acesso a maior equidade e justiça na gestão dos recursos
pesqueiros Europeus, nomeadamente em sede de atribuição de TAC‟s e quotas, uma vez que, na prática actual, as frequentes
reduções nas oportunidades de acesso aos recursos são aplicadas em função do aconselhamento científico existente, o qual, sen-
do frequentemente insuficiente ou inexistente no caso dos recursos profundos, força a aplicação transversal da abordagem de precaução, pesando pouco nas decisões a especificidade das distintas pescarias e a abismal disparidade dos seus contributos
relativos para a sobrecapacidade das frotas e sobre exploração dos recursos pesqueiros Europeus, mas, pesando muito, a
capacidade de demonstração irrefutável, por uma determinada pescaria, do seu compromisso com a sustentabilidade biológica
dos recursos que explora.
*Resumo da Comunicação oral:
Delgado, J. & Gouveia, N. 2011. Contributo da certificação para a sustentabilidade da pesca. Cenários para o desenvolvimento da pesca da R.A.M., no horizonte da “nova” Política Comum de Pescas. Semana Bio Madeira, Seminário “Alimentar o Futuro”. Funchal.
João Delgado & Nuno Gouveia Direcção Regional de Pescas
Página 8 Secção de Entrevista
Nesta edição, entrevistamos a Dra Mafalda Freitas. Licenciou-se em Biologia Marinha e Pescas pela Universidade do Algarve. Actualmente é Directora da Estação de Biologia Marinha e
Presidente do Clube Naval do Funchal. É mãe de dois filhos.
1.Licenciou-se em Biologia Marinha e Pescas na Universidade do Algarve. Saudades
desses anos? / Qual o professor da UAlg que mais a marcou? Tenho muitas saudades dos tempos que passei no Algarve, principalmente de morar na Ilha de
Faro de pegar no carro e poder ir até Espanha ou até o norte de Portugal e claro da vida
boémia. Tive tanta dificuldade de sair de lá que tive de ser ameaçada pelo meu pai. Gostei muito de estudar numa
Universidade perto do mar e tirar um curso com uma forte componente prática que me foi fundamental para os cargos que hoje ocupo. Anualmente tento ir até Faro e reunir-me com os colegas, tanto com os que ainda lá estão
como com os que estão espalhados pelo restante continente. Assim mantemos sempre o contacto e vamos
recordando os bons tempos. Quanto ao professor que mais me marcou foi sem dúvida o Prof. Emydio Cadima razão pela qual o escolhi para meu orientador.
2.Ocupa o cargo de Directora da Estação de Biologia Marinha, quais os principais objectivos deste
departamento?
Os objectivos da Estação de Biologia Marinha do Funchal são o de promover e divulgar a investigação científica na
área das Ciências do Mar bem como o de manter e aumentar as colecções marinhas do Museu Municipal do Funchal (História Natural) aqui depositadas. Temos ainda como objectivos a promoção do intercâmbio e cooperação com
outras instituições científicas, públicas ou privadas, da Região Autónoma da Madeira ou de fora dela, assegurando
ainda o acolhimento de investigadores visitantes.
3.Qual a sua opinião sobre a investigação marinha em Portugal e particularmente na Madeira?
Vou apenas dar a minha opinião em relação à investigação marinha na Madeira pois não tinha espaço para mais. Sendo a Madeira rodeada por mar é um laboratório vivo por excelência. Devido às suas características
oceanográficas é um dos melhores locais a nível mundial para o estudo do mar profundo por isso penso que ainda
temos muito a desenvolver. A Madeira conta com boas instituições de investigação nesta área como o caso do Laboratório de Investigação das Pescas (DSIP), o Museu de História Natural do Funchal, o Museu da Baleia, o
Centro de Maricultura da Calheta e claro a Universidade da Madeira.
4.Quais os contributos da cooperação entre as diferentes instituições nacionais e estrangeiras, mais
especificamente com DOP (UAç) e ICCM (Canárias)?
Estas duas instituições têm sido os parceiros estratégicos da Estação de Biologia Marinha fora da Madeira. Trabalhamos em projectos de investigação com estas instituições desde 1996, anteriormente à existência da EBMF e
ainda hoje somos parceiros. Penso que juntos e com a DSIP constituímos uma rede de investigação do domínio do
Mar profundo cujos resultados estão à vista.
5.Tendo em conta a situação galopante de desemprego dos nossos recém-licenciados, qual a
mensagem que deixa aos biólogos que anseiam iniciar a sua carreira?
Penso que deverão começar a pensar em empregos alternativos à função pública e se virar para o
empreendedorismo. A Madeira vive do Turismo e penso que na área do turismo ligado ao Mar existem ainda
pequenos nichos a colmatar.
Página 9 6.Como se sente sendo a primeira mulher Presidente de um Clube Naval, em Portugal?
Com muito orgulho, pela confiança depositada em mim tanto pelos sócios como pelos meus antigos e presentes colegas de direcção. É um desafio fantástico mas muito trabalhoso. Temos 6600 sócios mais de 600 atletas
federados e fomos o 1º Clube a apurar um atleta para os jogos olímpicos de Londres. Organizamos eventos
internacionais e temos em mãos o Europeu da classe olímpica em prancha à vela RS:X que se realizará em Fevereiro
de 2012. Temos 5 pólos geograficamente separados e 100 colaboradores pelo que é uma grande embarcação.
7.Como consegue conciliar a vida profissional e familiar?
Com muita ajuda da minha família e com muita organização.
8.Quais são os seus planos para o futuro?
Continuar a desenvolver a minha carreira de investigação, divulgar cada vez mais o trabalho que fazemos aqui na
Estacão de Biologia Marinha do Funchal, fazer “um dia” o meu doutoramento e no respeitante ao Clube Naval torna-lo por um lado auto-suficiente e por outro lado continuar a formação da geração futura com valores e muita
ambição desportiva.
Entrevista conduzida por Adriana Alves
Retrospectiva da DSIP
Nesta 2ª Edição, continuamos com a retrospectiva dos 25 anos da DSIP, recordando algumas actividades
desenvolvidas pelos nossos colegas, nomeadamente a participação na reunião da Comissão Internacional para a
Conservação dos Atuns do Atlântico (ICCAT).
1989. 11ª Reunião da ICCAT, realizada no Funchal (Hotel Savoy), de 13 a 17 de Novembro
Os colegas Rui Silva, Lídia Gouveia e José Drumond.
Os colegas Ana Rita Pinto, Graça Faria e Fernando Silva.
Os colegas José Luis Sousa, Dalila Carvalho, Graça Faria,
Ana Rita Pinto e Maurílio Lemos.
Os colegas Carlos Andrade e Antonieta Amorim.
Página 10
Assim vai o meio marinho…
Este peixe com atraentes “lábios vermelhos” (Ogcocephalus
darwini), pode ser encontrado perto das ilhas Galapagos e está
adaptado a andar no fundo
marinho, devido às
modificações das suas
barbatanas peitorais e
pélvicas.
Apesar do seu tamanho pequeno, este polvo de anéis azuis
(Hapalochlaena lunulata) é um dos mais perigosos seres
marinhos conhecidos,
devido ao poderoso
veneno que contém.
Habitam as regiões
tropicais do oceano
Pacifico.
Cores nos oceanos…
O bicolor Pictichromis paccagnellae é um garrido exemplar
marinho do Indo-Pacifico.
Está associado aos
recifes de coral.
Os caranguejos do género Trapezia, vivem em associação
com os corais, defendendo-os dos predadores. Esta espécie
(Trapezia rufopunctata)
apresenta o corpo com
manchas avermelha-
das e tem uma ampla
distribuição no Pacífico
Ocidental.
Curiosidades
Direcção de Serviços de Investigação das Pescas
Direcção Regional das Pescas
Estrada da Pontinha 9004-562 Funchal
Tel: 291 203200
Fax: 291 229691
O peixe foi consultar-se com uma cartomante e assim que ela distribuiu as cartas sobre a mesa, profetizou: - Vejo uma moça loira, muito bonita e inteligente, querendo saber tudo sobre ti...
- Oops! Quando e onde é que eu vou conhecer essa gatinha?
- Na próxima semana, no laboratório de amostragem!
Dito ou provérbio… "Nunca tenham medo de inovar. Lembrem-se, a Arca foi construída por amadores, profissionais construíram o
Titanic."
Anónimo...
L. Correia L. Correia L. Correia [email protected]
Pequenininhas…
Qual é o peixe de água quente mais
famoso do mundo?
O peixe cozido.
O que faz um peixe no meio do
oceano?
Nada.