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BOAS PRÁTICAS DE LOGÍSTICA REVERSA: UMA
ABORDAGEM EXPLORATÓRIA NO SETOR DE EMBALAGENS DE AGROTÓXICOS
Área temática: Gestão Ambiental & Sustentabilidade
GUSTAVO RIGHETTI DAL BELLO
VAGNER CAVENAGHI
Resumo: A CRIAÇÃO DE LEIS QUE OBRIGAM AS EMPRESAS SEREM RESPONSÁVEIS POR TODO O CICLO
DE VIDA DE SEUS PRODUTOS, JUNTAMENTE COM OUTROS FATORES E O AUMENTO DA CONSCIÊNCIA
ECOLÓGICA DOS CONSUMIDORES, TEM FEITO MUITAS EMPRESAS A IMPLANTAREM A LOGÍSTICA
REVERSA EM SUAS CADEIAS. A LOGÍSTICA REVERSA DE EMBALAGENS DE AGROTÓXICOS ESTÁ
REGULAMENTADA NA LEI Nº 12.305 DE 02 DE AGOSTO DE 2010 (POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS
SÓLIDOS). PARA ATENDER A ESTA REGULAMENTAÇÃO, DIVERSAS EMPRESAS DO RAMO DE AGROTÓXICOS
SE UNIRAM JUNTAMENTE COM REPRESENTANTES DOS DISTRIBUIDORES, COMERCIANTES E
AGRICULTORES PARA ELABORAREM UM MODO DE TORNAR VIÁVEL A LOGÍSTICA REVERSA DE
EMBALAGENS DE AGROTÓXICOS. ESTA UNIÃO ACABOU RESULTANDO NA FUNDAÇÃO DO INPEV
(INSTITUTO NACIONAL DE PROCESSAMENTO DE EMBALAGENS VAZIAS) EM DEZEMBRO DE 2001 QUE É O
ALVO DE ESTUDO DESTE TRABALHO. TEM-SE COMO OBJETIVO GERAL O CONHECIMENTO DOS
CONCEITOS BÁSICOS DA LOGÍSTICA REVERSA E SUAS APLICAÇÕES NAS ATIVIDADES PRODUTIVAS. O
OBJETIVO ESPECÍFICO É A ANÁLISE DE COMO O BRASIL ESTÁ ORGANIZADO PARA GERIR O RETORNO
DAS EMBALAGENS DE AGROTÓXICOS E COMPREENDER COMO ESTE SISTEMA SE TORNOU REFERÊNCIA
MUNDIAL, E TAMBÉM A CARACTERIZAÇÃO DOS AGENTES ENVOLVIDOS E SUAS RESPONSABILIDADES, A
IDENTIFICAÇÃO DE PROBLEMAS EXISTENTES E A BUSCA POR MELHORIAS E SOLUÇÕES PARA ESTES.
Palavras-chaves:
1. INTRODUÇÃO
ISSN 1984-9354
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
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Normalmente pensa-se em logística como o gerenciamento do fluxo de materiais e informações
do ponto de compra até a entrega para o seu consumo. Pensando desta maneira, esquece-se o fluxo
reverso (ponto de consumo até o seu ponto de origem) que é denominado de logística reversa e
também deve ser gerenciada.
A logística reversa já é comum para uma grande parte das empresas de alguns setores de
produção e consumo. Por exemplo, fabricantes de bebidas têm de gerenciar todo o retorno de garrafas
(embalagens) dos pontos de venda até seus centros de produção e distribuição. A indústria de latas de
alumínio possui um grande aproveitamento de matéria prima reciclada.
Também existem alguns setores da indústria onde o gerenciamento da logística reversa é mais
recente, como é o caso da indústria de eletrônicos, alguns setores da indústria automobilística. Estes
setores têm que controlar e gerenciar o fluxo de retorno de embalagens, devoluções de clientes,
destinação correta ou reaproveitamento de materiais para a produção.
É possível observar que a escala de atividades de reciclagem e reaproveitamento de produtos e
embalagens tem aumentado consideravelmente nos últimos anos e as principais causas para isto são as
questões ambientais e consciência ecológica; concorrência (diferenciação) e redução de custos.
A criação de leis voltadas para o meio ambiente está fazendo com que as empresas se tornem
responsáveis por todo o ciclo de vida de seus produtos e componentes. Ou seja, as instituições
passaram a ser responsável pelo destino final dos seus produtos depois que foram utilizados pelos
consumidores e também se responsabilizou pelo impacto que estes causam no meio ambiente. A
consciência ecológica dos consumidores vem crescendo ano a ano, fazendo com que crie expectativas
de que as empresas reduzam seus impactos ambientais nas suas atividades. Fazendo com que algumas
empresas visem comunicar ao público uma imagem de “ecologicamente correta”.
Tem-se como objetivo geral neste trabalho o conhecimento dos conceitos básicos da logística
reversa e suas aplicações nas atividades produtivas.
O objetivo específico é a análise de como o Brasil se organiza para gerir o retorno das
embalagens de agrotóxicos no país para compreender como este sistema se tornou referência mundial,
e também a caracterização dos agentes envolvidos e suas responsabilidades, a identificação de
problemas existentes e a busca por melhorias e soluções para estes.
As atividades relacionadas à logística reversa têm trazido retornos consideráveis para as
empresas que as praticam. Elas geram economias com a utilização de embalagens retornáveis ou com
o reaproveitamento de materiais para a produção. Geram ganhos que estimulam cada vez mais novas
iniciativas relacionadas ao fluxo reverso de produtos.
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Segundo a EMBRAPA (2014) atualmente o Brasil é um dos maiores produtores mundiais de
alimentos, fibras e bioenergia, isto implica em uma grande importância para o setor agrícola e para o
seu sistema de produção, a destinação correta das embalagens de defensivo agrícolas pós-consumo.
Na década de 1960 os defensivos agrícolas passaram a ser utilizados em grande escala no
Brasil e um conjunto de leis foi criado para regulamentar sua aplicação, porém, sem se importar com a
destinação de embalagens pós-consumo. O agricultor, portanto, costumava enterrá-las, queima-las e
até descarta-las em rios ou na própria lavoura, trazendo riscos para o meio ambiente.
As empresas envolvidas na indústria do setor de defensivos agrícolas se uniram e criaram o
inpEV (Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias) em dezembro de 2001 para
atender as determinações da Lei 9.974/2000 que define os princípios do recolhimento e manejo das
embalagens vazias, a partir de responsabilidades compartilhadas entre todos os agentes da produção
agrícola – agricultores, canais de distribuição, indústria e poder público
Atualmente existem no mundo 60 países com programas e iniciativas para incentivar o retorno
destas embalagens, mas é o Brasil que lidera esse setor com retorno de 95% das embalagens e é
considerado referência no assunto, segundo dados do inpEV (2014b) atualizados em maio de 2013.
Portanto o estudo deste setor no Brasil é de grande importância, pois é referência no mundo e
pode servir de base para que novos setores aprendam com este, como realizar com eficiência o retorno
de suas embalagens e produtos.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 LOGÍSTICA
A logística é o processo que engloba a aquisição, movimentação, armazenagem e entrega de
produtos. Gerencia os processo de forma integrada, fazendo com que as organizações ganhem com
reduções de estoque e desperdícios e otimização de transporte. Dornier et al. (2000, p. 39) conceituam
logística como “a gestão de fluxos entre funções de negócio. A definição atual de logística engloba a
maior amplitude de fluxos que no passado. Tradicionalmente, as companhias incluíam a simples
entrada de matérias primas ou fluxo de saída dos produtos acabados em sua definição de logística.
Hoje, no entanto, essa definição expandiu-se e inclui todas as formas de movimentos de produtos e
informações.
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A logística serve como fonte de vantagem competitiva para as empresas, não somente na
otimização dos recursos utilizados na cadeia de suprimentos, mas também considerando uma visão
holística do sistema para atender à otimização global. A logística está se tornando um facilitador
crítico para atender a essa visão sistêmica.
A preocupação com o meio ambiente e com os produtos após o consumo já deve estar presente
no planejamento dos fluxos diretos, ou seja, na logística tradicional.
O meio ambiente deve ser considerado como parte do processo econômico e empresarial e não
ser tratado de isoladamente. O bom gerenciamento da cadeia de abastecimento também considera a
valorização do meio ambiente, seja na obtenção de matéria prima, na produção, no transporte dos
produtos ou na reciclagem dos produtos já utilizados. (BERTAGLIA, 2003).
A logística precisa compreender o negócio como um todo, envolvendo o entendimento técnico
profundo de cada produto, variados processos produtivo, e seus resultados econômicos e financeiros
que trazem para a empresa, como o serviço é prestado e o tipo de relacionamento comercial realizado
com os clientes.
HOEK e HARRISON (2003) defendem a logística como uma gestão estratégica de obtenção,
movimentação e armazenagem dos estoques de materiais, peças e produtos acabados e os respectivos
fluxos de informação ao longo da organização e de seus canais de marketing de tal modo que a
lucratividade atual e futura seja maximizada por meio da realização de pedidos de compra de maneira
eficaz em termos de custo.
2.2 LOGÍSTICA REVERSA
O processo de logística não termina com a entrega do produto ao consumidor final, existem as
etapas do ciclo reverso, ou seja, dos bens e materiais que por algum motivo retornam à empresa.
A logística reversa tem sido utilizada como um importante meio de aumento da
competitividade e de melhoria de imagem corporativa, quando encarada como parte da estratégia da
empresa e com forte ligação com o marketing, principalmente com as estratégias de marketing
ambiental.
Leite (2003, p. 16) conceitua logística reversa como “a área da logística empresarial que
planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, de retorno dos bens de
pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio de canais de
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distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico, ecológico, legal,
logístico, de imagem corporativa, entre outros”.
Ainda existe uma confusão sobre a definição do conceito de logística reversa, alguns gestores
apenas consideram o processo de reciclagem de embalagens, que acaba sendo um gerador de custo
para a empresa quando não planejada de forma correta. Porém, a logística reversa é uma função muito
mais ampla e que envolve também a criação de um canal reverso para prover matéria prima secundária
resultante do descarte ou retorno de produtos.
A logística reversa utilizada de maneira ampla e planejada faz com que os produtos retornem
ao ciclo produtivo, permitindo que um gerador de custos se transforme um uma fonte de lucro para a
empresa.
A crescente conscientização ecológica dos consumidores, as legislações relacionadas ao meio
ambiente, os novos padrões de competitividade de serviços e as preocupações com a imagem
corporativa são impulsionadores para o crescimento do uso da logística reversa.
Para Lacerda (2000) a logística reversa não é nenhum fenômeno novo e exemplos como o do
uso de sucata na produção e reciclagem de vidros tem sido praticada há bastante tempo. Mas pode se
observar que a escala das atividades de reciclagem e reaproveitamento dos produtos e embalagens tem
aumentado consideravelmente devido as: questões ambientais, preocupação em se diferenciar por
serviço, estar à frente da concorrência e redução de custos por meio da reutilização de materiais.
A logística reversa está bastante associada às questões ambientais de destinação final de bens
de pós-consumo e também serve como um diferencial estratégico que pode trazer benefícios para
clientes empresas e acionistas.
Tradicionalmente, os fabricantes não se sentem responsáveis por seus produtos após consumo,
porém, as ações de fluxos reversos necessitam de um grau de comprometimento e de responsabilidade
por parte dos envolvidos na cadeia de suprimentos. A logística reversa tenta unir a indústria, o
distribuidor, o varejo e os demais elos da cadeia de em vantagens mútuas.
A logística reversa preocupa-se em equilibrar a multiplicidades de aspectos logísticos do
retorno ao ciclo produtivo dos diferentes tipos de bens industriais, dos materiais constituintes e seus
resíduos.
ROGERS, TIBBEN e LEMBKE (1999) comentam que a logística reversa é um processo de
planejamento, implementação e controle eficiente do fluxo de matérias primas, estoques em processo,
produtos acabados e informações, do ponto de consumo para o local de origem, com a finalidade de
recapturar valor.
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O planejamento de logística reversa envolve os mesmos elementos de um plano logístico
tradicional: nível de serviço, armazenagem, transporte, nível de estoques, fluxo de materiais e sistemas
de informação.
Para LACERDA (2000) a logística reversa é o planejamento, implementação e controle do
fluxo de matérias-primas, estoque em processo e produtos acabados, bem como seu fluxo de
informação, do ponto de consumo até o ponto de origem, com o objetivo de recapturar valor ou
realizar o descarte adequado. Esse processo é geralmente composto por um conjunto de atividades que
uma empresa realiza para coletar, separar, embalar e expedir itens usados, danificados ou obsoletos
dos pontos de consumo até os locais de reprocessamento, revenda ou descarte.
LEITE (2003) relata sobre a existência de algumas condições necessárias para a reintegração ao
ciclo produtivo, tecnologia de reciclagem ou mercado para aplicações dos materiais. Em alguns casos,
a causa principal pode ser a baixa disponibilidade do produto de pós-consumo, devido a dificuldades
de captação que impendem escalas econômicas de atividade.
Para a aplicação efetiva de um bom planejamento reverso, deve-se estar comprovado que o
mesmo tem importância econômica para a empresa. Discursos ecologicamente corretos, se não
traduzidos em números satisfatórios para as empresas, acabam não se sustentando no longo prazo.
O objetivo da logística reversa é recuperar o valor do material ou produto reincorporando-o ao
processo produtivo ou encaminhando-o a um destino seguro. (ARIMA e BATTAGLIA, 2002)
A utilização da reciclagem e o reaproveitamento de produtos e embalagens vêm aumentando
devido a legislação ambiental, que está fazendo com que as empresas sejam responsáveis por todo
ciclo de vida de seus produtos e os seus impactos na natureza, além da cobrança por parte dos
consumidores, que estão cada vez mais conscientes ecologicamente. Outros fatores que influenciam o
aumento são a possibilidade de diferenciação da concorrência por meio de serviço ou imagem e a
possibilidade de redução de custos por meio do reaproveitamento. (LACERDA, 2002).
2.2.1 Logística Reversa de Pós-Venda
Os canais de distribuição de pós-venda são formados pelas diferentes forma e possibilidades de
retorno de uma parcela de produtos, com pouco ou nenhum uso, que fluem no sentido inverso, do
consumidor ao varejista ou ao fabricante, entre as empresas, motivadas por problemas relacionados à
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qualidade em geral ou a processos comerciais entre empresas, retornado ao ciclo de negócio de alguma
maneira. (LEITE, 2003).
Esses produtos poderão ser submetidos a consertos ou reformas que permitam que retornem ao
mercado primário ou a mercados secundários, agregando-lhes novamente valor comercial. LEITE
(2003, p. 206) denomina “Logística reversa de pós-venda a específica área de atuação da logística
reversa que se ocupa do planejamento, da operação e do controle do fluxo físico e das informações
logísticas correspondentes de bens de pós-venda, sem uso ou com pouco uso, que por diferentes
motivos retornam aos diferentes elos da cadeia de distribuição direta”.
2.2.2 Logística Reversa de Pós-Consumo
A logística reversa de pós-consumo constitui os canais reversos de pós-consumo que trata do
fluxo reverso de produtos e materiais constituintes oriundos do descarte dos produtos depois de
finalizada sua utilidade original e retornam ao ciclo produtivo.
A logística reversa de pós-consumo está ligada à preocupação com o meio ambiente. É nesse
contexto que se insere o problema ecológico nos canais de distribuição reversos e observa-se um
crescente interesse de empresas modernas, entidades governamentais e comunidades em geral pelo
envolvimento ativo, nos problemas ecológicos, na defesa de sua própria importância econômica e no
posicionamento de sua imagem corporativa.
Os canais de distribuição reversos de bens de pós-consumo constituem-se nas diversas etapas
de comercialização pelas quais fluem os resíduos industriais e os diferentes tipos de bens de utilidade
ou seus materiais constituintes, até sua reintegração ao processo produtivo. Segundo Leite (2003, p
83): A logística reversa de pós-consumo, contrariamente à logística reversa de pós-venda, na qual o
fluxo reverso se processa por meio de parte da cadeia de distribuição direta, possui uma estrutura
própria de canal formada por empresas especializadas em suas diversas etapas, que formam o reverse
supply chain. Essa especialização refere-se tanto ao tipo de atividade desempenhada como à natureza
do material ou produto de pós-consumo trabalhado.
A logística reversa de pós-consumo está relacionada com a preocupação com o
desenvolvimento sustentável, cujo objetivo é o crescimento econômico minimizando os impactos
ambientais e tem sido constantemente utilizado nos dias de hoje, baseado na ideia de atender às
necessidades do presente sem comprometer gerações futuras no atendimento de suas necessidades.
(LEITE, 2003).
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Os produtos podem ser aproveitados de três maneiras: reciclagem de materiais, reuso e
destinação correta. O sistema de reciclagem agrega valor econômico, ecológico e logístico aos bens de
pós-consumo, criando condições para que o material seja reintegrado ao ciclo produtivo, gerando
economia reversa. O sistema de reuso agrega valor de reutilização.
Destacam-se cinco fontes formais: a coleta do lixo urbano, coleta seletiva, desmanche de bens
duráveis, comércio de segunda mão e os resíduos industriais, além de outras fontes denominadas
informais.
As atividades que serão realizadas pelo processo de logística reversa dependem do tipo de
material e do motivo pelo qual esses entram no sistema. (LACERDA, 2000).
A cadeia reversa, quando bem estruturada, proporciona significativos ganhos para a empresa,
meio ambiente e para a sociedade. O objetivo econômico da implementação da logística reversa de
pós-consumo pode ser entendido como ações que visem a obtenção de resultados financeiros por meio
de economias obtidas nas operações industriais, principalmente pelo aproveitamento de matérias
primas secundárias provenientes nos canais reversos de reuso e manufatura.
Encerrado o ciclo de revalorização de reuso do bem (após ter sido reutilizado algumas vezes e
por não apresentar condições de utilidade por diversa razoes), ele será disponibilizado e coletado como
um bem em fim de vida útil, sendo destinado ao processamento de sucata ou desmanche, onde serão
desmontados e serão extraídos seus materiais constituintes e seus resíduos. Nos casos em que não
existem sistemas reversos organizados de revalorização de desmanche, os bens são coletados por
coleta informal e comercializados diretamente com os intermediários, sucateiros ou processadores.
(LEITE, 2003)
A reciclagem constitui-se no processo industrial de separação ou extração dos materiais de
interesse do produto de pós-consumo, eliminação de contaminação eventual e preparação dos
reciclados na forma física e segundo especificações técnicas para sua reintegração ao ciclo produtivo.
É necessário que exista uma escala econômica da atividade para que a reciclagem também
tenha importância para empresa, ou seja, a quantidade de materiais reciclados deve ser suficiente e
apresentar constância, de forma a garantir atividades em escala econômica e empresarial.
O número de bens destinado ao meio ambiente de forma incorreta é crescente e o lixo urbano
vem se tornando um fator cada vez mais preocupante. Esse crescimento pode ser justificado pelo
aumento populacional, aumento de consumo per capita, e também pelo crescimento dos bens de
alimentação com embalagens descartáveis, por bens de durabilidade cada vez menor entre outros.
(LEITE, 2003)
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Alguns fatores críticos e que contribuem para a eficiência do processo reverso são: bom
controle de entrada para identificar o estado dos materiais que retornam; processos padronizados e
mapeados para tratar a logística reversa como uma função regular e não esporádica; velocidade em
identificar qual é a necessidade do bem retornado; sistemas de informação para detectar o desempenho
e obter dados precisos para a negociação; rede logística direta planejada para que a entrada dos
materiais utilizados e a saída dos mesmos processos sejam bem estruturadas e que ocorram relações
colaborativas entre clientes e fornecedores. (LACERDA, 2000).
2.3 DEFENSIVOS AGRÍCOLAS
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a partir da década de 1950, a produção agrícola
sofreu drásticas mudanças, com a introdução de novas tecnologias, visando a produção de
commodities agrícolas. Estas tecnologias envolvem, quase que em todas, o uso de agrotóxicos com o
objetivo de controlar doenças e aumentar a produtividade. Segundo a legislação vigente, agrotóxicos
são produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, utilizados nos setores de
produção, armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, pastagens, proteção de florestas,
nativas ou plantadas, e de outros ecossistemas e de ambientes urbanos, hídricos e industriais.
O agrotóxico visa alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação
danosa de seres vivos considerados nocivos, Também são considerados agrotóxicos as substâncias e
produtos empregados com desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento.
O Brasil é considerado o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, o mercado brasileiro
corresponde a quase um quinto do mercado mundial no volume de vendas de herbicidas, algo em torno
de 19% do mercado internacional. (EMBRAPA 2014.)
O Brasil tem intensificado o uso de defensores agrícolas nas lavouras, ou seja, usando mais
agrotóxicos por hectares. Isto é comprovado pelo fato que entre 2001 e 2010 a produção das oito
principais commodities que utilizam de agrotóxicos aumentou 97%, a área plantada aumentou 30% e a
venda de agrotóxicos aumentou em 200%. E os motivos desta intensificação são o fato de agricultor
estar mais capitalizado e conseguindo investir mais em insumos para sua produção e ao uso continuado
de agrotóxicos (principalmente do glifosato) que causa dependência e é sempre preciso utilizar uma
quantidade maior nas plantações.
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A utilização desenfreada de defensivos agrícolas causa impactos tanto para o meio ambiente
quanto a saúde humana. Os males na saúde atingem todos os seres que possuem contato com o
alimento, os consumidores e também os aplicadores de produtos nas lavouras, sendo os trabalhadores
rurais os mais afetados pelos agrotóxicos.
A exposição a estes produtos pode levar a problemas respiratórios, tais como bronquite
asmática e outras anomalias pulmonares; efeitos gastrointestinais, e, para alguns compostos, como
organofosforados e organoclorados, distúrbios musculares, debilidade motora e fraqueza. (SOARES.
2003)
Além dos problemas de saúde causados aos humanos, os agrotóxicos também podem degradar
o meio ambiente no longo prazo com efeitos que podem ser irreversíveis. Segundo Veiga et al. (2006),
a aplicação de agrotóxicos pode contaminar o solo e os sistemas hídricos, culminando numa
degradação ambiental que teria como consequência prejuízo à saúde e alterações significativas no
meio ambiente.
Outro problema relacionado ao meio ambiente, é que, muitas vezes as pragas acabam
desenvolvendo resistência aos compostos químicos, tornando-se invulneráveis. Em alguns tipos de
pragas, esta resistência chega a milhares de vezes, fazendo com que se tenha que aumentar a
concentração dos produtos, aumentando também a concentração de agrotóxicos e nos alimentos e nos
sistemas.
3. MÉTODO DE PESQUISA UTILIZADO
3.1 TIPO DE PESQUISA
No sentido de gerar uma visão geral da logística reversa de pós-consumo de embalagens de
agrotóxicos, o trabalho baseia em estudo de caso único, exploratório (ou descritivos). O caso foi
escolhido propositadamente por representar um caso de resultados excepcionais e que vem
confirmando ao longo do tempo este sucesso.
Fialho e Neubauer (2008) afirmam que o estudo de caso caracteriza-se por ser um tipo de
pesquisa que apresenta como objeto uma unidade que se possa analisar de forma mais aprofundada.
Visa, assim, ao exame detalhado de um ambiente, local, situação qualquer, determinado objeto ou,
simplesmente de um sujeito ou de uma situação. Pode, então, ser conceituado como um modo de
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coletar informação específica e detalhada, em uma determinada situação e durante um período de
tempo.
Segundo Yin (2005) trata-se de uma forma de fazer pesquisa que investiga fenômenos atuais
dentro de seu contexto real, em situações em que as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não estão
claramente estabelecidos.
Já para Martins (2006), o estudo de caso se presta a uma análise profunda e intensa de uma
realidade social, investigando, pesquisando e analisando um fenômeno dentro do seu contexto real.
A escolha consciente de casos excepcionais é procedimento adequado para o estudo de caso,
em função da oportunidade de se entender dinâmicas específicas, mas que podem trazer importantes
lições para situações similares, conforme Yin (1994).
A análise do caso é a principal parte do trabalho, considerando-se que o foco de interesse da
pesquisa está voltado para fenômenos atuais, analisados dentro do contexto real da empresa objeto do
estudo, o inpEV. Yin (2001), afirma que o estudo de caso possibilita o pesquisador realize uma
investigação que preserve as características holísticas e significativas da vida real que podem ser
estudados mais profundamente através deste processo.
3.2 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS
A revisão bibliográfica foi realizada por meio de pesquisa na internet utilizando os sistemas
acadêmicos (Scielo e Scholar) para a análise dos trabalhos mais citados e de maiores prestígios na
literatura do assunto.
As informações analisadas para o estudo de caso foram coletadas através de Pesquisa
Documental, que, conforme Gil (2007) está associado à exploração de fontes documentais existentes
em cada agente, sejam elas de primeira ou segunda mão. A diferença entre os dois tipos está em se as
fontes receberam algum tipo de tratamento. Neste trabalho as informações são todas de segunda mão.
O caso visando demonstrar quais são as práticas da logística reversa que levaram este ciclo
reverso se tornar referência mundial, a coleta de dados e informações foi feita por meio de pesquisas
em artigos já relacionados ao tema, reportagens em jornais e revistas, e principalmente ao site da
instituição (inpEV) e os seus relatórios de sustentabilidade.
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4. PRÁTICAS DE LOGÍSTICA REVERSA NO SETOR DE EMBALAGENS DE
AGROTÓXICOS
Em 1960, os defensivos agrícolas passaram a ser utilizados em larga escala no país e a criação
de algumas leis buscou regulamentar a sua aplicação, porém estas leis não faziam referência a
disposição das embalagens após o consumo dos produtos. Anteriormente a normatização desta
destinação, os agricultores a faziam da maneira como achavam conveniente, enterravam, queimavam,
descartavam em rios ou na própria lavoura e também reutilizavam as embalagens para transportar água
e alimento, colocando em risco o meio ambiente a sua própria saúde.
Ao final da década de 1980, a falta de regulamentação para a destinação de embalagens pós-
consumo, fez com que variados envolvidos na cadeia agrícola procurassem uma solução sem
comprometer o meio ambiente e a saúde dos agricultores. A busca por esta solução culminou com a
instituição da Lei Federal 9.974/00, promulgada em junho de 2000 e regulamentada em 2002,
definindo os princípios do recolhimento e manejo das embalagens vazias, a partir de responsabilidades
compartilhadas entre todos os agentes da produção agrícola (agricultores, canais de distribuição,
indústria e poder público).
Diante desta nova Lei, que disciplinou a chamada logística reversa das embalagens de
defensores agrícolas, as empresas produtoras de agrotóxicos juntamente com o representante dos
distribuidores, comerciantes e agricultores decidiram criar uma entidade para que a integração e o
gerenciamento do sistema de retorno das embalagens se tornassem viáveis. Criaram, portanto, o inpEV
(Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias), fundado oficialmente em 14 de
dezembro de 2001.
4.1 INSTITUTO NACIONAL DE PROCESSAMENTO DE EMBALAGENS
VAZIAS –inpEV
O Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV) é uma entidade sem fins
lucrativos com o intuito de realizar e estimular a correta destinação de embalagens vazias de
agrotóxicos em todo o Brasil.
Funcionando desde março de 2002, o instituto age na mobilização de todos os elos da cadeia
agrícola e da sociedade brasileira em torno da questão da sustentabilidade. É responsável pela gestão
do denominado Sistema Campo Limpo, do qual 90 empresas fabricantes de defensivos agrícolas fazem
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parte, cerca de 260 associações de distribuidores e cooperativas em todo o Brasil, nove parceiros
recicladores e cinco incineradores. Tendo toda a estrutura de logística reversa necessária para as
embalagens vazias de pós-consumo. O sistema possui mais de 400 unidades de recebimentos (entre
centrais e postos) em todos os estados brasileiros. O sistema conta também com o envolvimento de
milhares de agricultores e a participação ativa dos poderes públicos municipal, estadual e federal.
Devido ao trabalho realizado por essa instituição, o Brasil é considerado referência no assunto.
Em 2012, 94% das embalagens primárias (as que entram em contato direto com o produto) de
defensivos agrícolas foram retiradas do campo e enviadas para a destinação correta.
A Figura 1 demonstra os Países e a Instituição responsável pela destinação de embalagens de
agrotóxicos e a porcentagem destas embalagens que possuem o seu descarte correto.
Figura 1 - % de Embalagens Plásticas de Agrotóxicos Destinados por País.
Fonte: inpEV (2014).
Por meio da Figura 2 pode-se observar a eficiência do inpEV no Brasil e compara-lo com o
retorno dos outros países.
Desde 2002 os elos da cadeia, sendo mais de 70% desse valor proveniente da indústria
fabricante onde um cálculo é feito de acordo com o volume e tipo de embalagem que cada elo da
cadeia participa para determinar a contribuição anual.
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Desde 2002 o inpEV recebeu recursos dos elos da cadeia, indústria fabricante e empresas
associadas. Esses recursos foram destinados a infraestrutura, logística, unidades de recebimento,
educação, comunicação, assessoria jurídica, projeto de sustentabilidade e desenvolvimento
tecnológico.
A maior parte dos gastos do instituto é relacionada à infraestrutura (unidades de recebimento),
à logística e à destinação final das embalagens. Todos os elos da cadeia produtiva agrícola são
responsáveis por parte dos custos, o agricultor tem participação pelo custo levar as embalagens até a
unidade ou ponto de devolução indicado na nota fiscal de venda. Os canais de distribuição
(revendedores e cooperativas) pela construção e administração das unidades de recebimento,
juntamente com a indústria fabricante, que também é responsável pelos custos de logística e destinação
final. Já o governo foca na educação e conscientização do agricultor em conjunto com fabricantes e
comerciantes.
O Sistema Campo Limpo, além da sua contribuição para a preservação ambiental também
possui um papel social, realizando diversos programas de educação e conscientização, voltados aos
seus principais públicos de relacionamento.
Para o bom funcionamento do Sistema Campo Limpo, ele conta com mais de 2500 empregados
diretos e indiretos. Os empregados diretos são os funcionários que trabalham na sede administrativa e
coordenadores regionais de operação das unidades de recebimento espalhadas pelo Brasil. Os
empregados indiretos são considerados os trabalhadores da área de reciclagem e incineração das
empresas parceiras e os envolvidos nas diversas etapas do Sistema, como transporte especializado em
embalagens, operação logística e reciclagem.
4.2 SISTEMA CAMPO LIMPO
É um programa gerenciado pelo inpEV para realizar a logística reversa de embalagens vazias
de defensivos agrícolas no Brasil. Atua em todas as regiões e tem como base o conceito de
responsabilidade compartilhada entre agricultores, indústria, canais de distribuição, e poder público,
conforme determinações legais.
O prestígio deste programa aumenta diante do desempenho da agricultura brasileira nas últimas
décadas. Segundo o inpEV (2014c) o agronegócio tem crescido acima da média comparado a outros
setores (industriais e serviços), significando que o uso de insumos, como fertilizantes e defensivos
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agrícolas também teve grande crescimento. Se os resíduos resultantes da utilização destes insumos não
fossem geridos, o impacto ambiental seria mais grave dos que são encontrados atualmente. As
embalagens abandonadas no ambiente ou descartadas em aterros e lixões ficam expostas às
intempéries e podem contaminar o solo, as águas superficiais e os lençóis freáticos. Também existindo
o problema da reutilização sem critério das embalagens, colocando em risco a saúde de animais e do
próprio homem.
A pesquisa realizada pela Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef) em 1999 serve de
base para o tamanho do problema do descarte incorreto destas embalagens. A pesquisa constatou que
50% das embalagens vazias de agrotóxicos eram doadas ou vendidas sem qualquer controle; 25% tinha
como destino a queima a céu aberto; 10% eram armazenadas ao relento e 15% eram abandonadas no
campo.
Com a introdução do Sistema Campo Limpo em 2002, a maioria dessas embalagens passou a
ter destinação correta – sendo que mais de 240 mil toneladas de embalagens já foram recuperadas.
Hoje, cerca de 94% das embalagens primárias (que entram em contato direto com produto) e 80% do
total de embalagens vazias de defensivos agrícolas comercializadas têm destino correto. Um total de
95% das embalagens que são colocadas no mercado podem ser encaminhadas para reciclagem, se estas
tenham sido lavadas corretamente no momento do uso do produto no campo. Os outros 5%
(embalagens não laváveis e aquelas que não foram devidamente lavadas pelos agricultores) são
encaminhados a incineradores credenciados.
A Figura 2 demonstra o crescimento da quantidade de embalagens de agrotóxicos corretamente
recolhidos pelo inpEV desde a sua criação.
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Figura 2 –Volume de Embalagens Vazias de Defensivos agrícolas destinados desde 2002.
Fonte: inpEV (2014).
Desde o começo de sua atuação, o inpEV vem aumentando ano a ano a quantidade de
embalagens recolhidas, devido a melhorias do seu sistema e também pelo aumento do consumo de
agrotóxicos.
4.2.1 Elos do Sistema
De acordo com a legislação, cada elo da cadeia integrada possui uma responsabilidade, sendo
que: os produtores rurais devem lavar as embalagens após a sua utilização podendo armazena-las em
um ambiente apropriado durante certo período de tempo para depois devolve-las no local indicado na
nota fiscal da compra do produto, ao entregar a embalagem vazia ele recebe um comprovante de
devolução e deve guarda-lo por no mínimo um ano.
Cabe aos canais de distribuição e cooperativas fazer uma indicação na nota fiscal de compra de
qual local a embalagem vazia lavada deve ser devolvida, também devem dispor de um local adequado
para o recebimento da embalagem e emitir um comprovante de devolução para os agricultores.
As indústrias fabricantes dos insumos (representadas pelo inpEV) devem retirar as embalagens
devolvidas nas unidades de recebimento e dar a correta destinação (reciclagem ou incineração).
Já o Poder Público responde pela fiscalização do cumprimento das responsabilidades
partilhadas, pelo licenciamento das unidades de recebimento e pelo suporte aos fabricantes na
promoção de ações de educação ambiental e de orientação técnica necessária ao bom funcionamento
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do sistema. Sendo assim, a responsabilidade de Educar e Conscientizar os agricultores é partilhada
pelos Fabricantes, Distribuidores e o Poder Público.
Desta forma o Fluxo do Sistema Campo Limpo começa com o produto pronto para a
comercialização em aproximadamente cinco mil distribuidores e cooperativas. Durante a venda, as
revendas e cooperativas indicam na nota fiscal o local onde as embalagens devem ser devolvidas. O
agricultor ao preparar o produto para aplica-lo na lavoura faz a tríplice lavagem ou lavagem sob
pressão e a armazena temporariamente em sua propriedade. Quando a embalagem é devolvida o
agricultor recebe um comprovante emitido pela unidade recebimento e deve guarda-la por pelo menos
um ano. A unidade de recebimento deve preparar e separar as embalagens para que tenham o seu
destino correto. As embalagens então são transportadas para incineradores ou para recicladores para
que sejam transformadas em 17 diferentes produtos e retornem ao ciclo de produto.
Na Figura 3 é representado o fluxograma do Sistema Campo Limpo destacando todos os elos,
exceto o Poder Público, e a quantidade presente em cada nó do sistema.
Figura 3 – Fluxo do Sistema Campo Limpo.
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Fonte: inpEV (2014).
O fluxograma pode ser dividido em três partes diferentes: fluxo de comercialização, devolução
das embalagens vazias pelos consumidores, e destino final.
4.2.2 Operação Logística
Uma complexa operação logística é coordenada pelo inpEV para que as embalagens vazias
possam ser retiradas das unidades de recebimento e serem levadas para a correta destinação.
A logística possui um modelo de rastreamento chamado de Sistema de Informação das Centrais
(SIC) que representa uma das principais ferramentas de gestão logística utilizada pelo Sistema Campo
Limpo.
Através do SIC as atividades nas centrais de recebimentos são acompanhadas regularmente, em
tempo real, para evitar principalmente que se acumule um estoque crítico (quando a capacidade de
armazenamento atinge o índice não desejado de 75%) nas centrais.
Além das reuniões mensais de planejamento, a possibilidade de agendamento de devolução
online permite planejar antecipadamente as quantidades de embalagens vazias que os agricultores irão
devolver, melhorando continuadamente a eficiência do sistema.
Após as embalagens serem acolhidas na central de recebimento as informações são registradas
no SIC, que gera uma ordem de coleta quando a quantidade de um determinado material atinge o
volume suficiente para carregar um caminhão.
O SIC envia uma ordem de coleta ao operador logístico, que, por sua vez, aciona uma das 20
transportadoras parceiras do Sistema. Após o material ser retirado e entregado ao seu destino final, os
recicladores ou incineradores e a central de recebimento responsável pelo envio da carga atualizam o
SIC para encerrar o procedimento.
O inpEV utiliza do conceito de aproveitamento do frete de retorno para o transporte das
embalagens vazias até o seu destino, ou seja, o mesmo caminhão que leva os agrotóxicos (nas
embalagens cheias) para os distribuidores e cooperativas, não retorna vazio após a entrega, mas
aproveita a de volta para transportar as embalagens vazias (a granel ou compactadas) armazenadas nas
unidades de recebimento. O conceito é aplicado em 98% das cargas de centrais para o destino final.
Algumas melhorias estão sendo trabalhadas diretamente com as centrais de recebimento para
aumentar a produtividade no transporte de embalagens por caminhão, como a revisão da dimensão e
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amarração dos fardos, o projeto Nova Prensa que visa ampliar a capacidade de compactação das
embalagens recolhidas em até quatro vezes, entre outras.
No ano de inauguração do sistema, a média de embalagens transportadas era de 7050 quilos por
caminhão. Este mesmo indicador atingiu em 2012 a marca de 13021 quilos por caminhão, resultando
em um aumento de 85% neste período. O motivo desta melhoria é devido ao processo de melhoria
contínua adotado desde o início das operações do sistema.
A busca pela melhoria dos processos logísticos tem sido constante. Em 2012 o inpEV passou a
utilizar caminhões de diferentes modelos no transporte das embalagens vazias, ou seja, que também
atendam a outros setores, para que a movimentação de cargas não seja impactada pelos ciclo (sazonais)
das safras agrícolas. Outra melhoria é o aumento da malha de recebimento do Sistema Campo Limpo,
principalmente nas regiões de expansão agrícola como o Norte e o Nordeste.
Desde 2002, mais de 60 mil caminhões foram movimentados em todo Brasil para realizar o
transporte das embalagens vazias, e mesmo com esta intensa movimentação de carga, o inpEV não tem
registro de acidentes fatais causados pelas operações logísticas, o que se deve aos esforços e aos
investimentos destinados à segurança no transito como o Encontro de Transportadoras do Sistema
Campo Limpo, com o objetivo de atualizar resultados, apresentar perspectivas, e reforçar a
necessidade de comprometimento com ações de prevenção contra acidentes.
A Lei do Descanso (Lei nº 12.619/2012), que regulamenta a profissão de motorista, foi um dos
principais temas debatidos pelo Comitê de Logística do inpEV em 2012 e aplicada com mais vigor no
mesmo ano. A jornada diária de trabalhos dos caminhoneiros passou a ser de oito horas, podendo ser
estendida por mais duas horas extras, com uma hora para refeições e repouso de 11 horas. Além disso,
os caminhoneiros possuem direito a intervalo de 30 minutos a cada 4 horas seguidas de direção. A
preparação da carga e o tempo do descarregamento também são contabilizados no tempo gasto em
cada trajeto, o que repercute diretamente no planejamento de rotas e nos custos das viagens.
4.2.3 Manejo das Embalagens Vazias no Campo
Existem dois grandes grupos de embalagens de defensivos agrícolas: laváveis e não laváveis.
As embalagens laváveis são rígidas, feitas de plástico, metais ou vidro, e são utilizadas para embalar
formulações líquidas que são diluídas em água.
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Dentro deste grupo, as embalagens plásticas representam a maior parte, sendo que as
embalagens metálicas (compostas por folha de aço) representam somente 10% de todas as embalagens
laváveis vendidas no Brasil. (inpEV. 2014d)
As embalagens laváveis de plásticos podem ser diferenciadas de acordo com a resina utilizadas
em sua produção. E são subdividas em: Pead Mono (Resina de alta resistência a impactos e aos agentes
químicos, identificada com um número 2 na embalagem e é a segunda resina mais reciclada no
mundo); Coex (também conhecido pela siga EVPE e é identificada com um número 7 na embalagem);
e PP (Propileno, identificado com um número 5 no fundo da embalagem). (PACHECO. 2014)
As embalagens não laváveis são as que não utilizam água como veículo de pulverização, além
de todas as embalagens flexíveis e as embalagens secundárias. Estando nesse grupo sacos de plástico,
de papel, metalizados, mistos ou feitos com outro material flexível, embalagens de produtos para
tratamento de sementes, caixas de papelão, cartuchos de cartolina, fibrolatas e, ainda, embalagens
termo moldáveis que acondicionam embalagens primárias e não entram em contato direto com as
formulações de defensivos agrícolas.
As embalagens do tipo laváveis podem ser lavadas de duas formas diferentes para reduzir os
resquícios do produto na embalagem, impedindo que esses resíduos sequem e contaminem a própria
embalagem. E quando a lavagem é realizada durante a preparação da calda ela garante total utilização
do produto, evitando também o desperdício.
A Tríplice Lavagem consiste em enxaguar três vezes a embalagem, primeiramente embalagem
vazia é preenchida até um quarto de seu volume com água limpa, fechada com sua tampa e agitada
durante 30 segundos para que os resíduos do produto que estiverem aderidos às superfícies internas se
dissolvam. O conteúdo de dentro da embalagem deve ser totalmente despejado dentro do tanque de
aplicação para ser também utilizado. Este procedimento deve ser repetido mais duas vezes e depois a
embalagem deve ser perfurada em seu fundo para ser inutilizada. (inpEV. 2014e)
As concentrações encontradas após cada lavagem, segundo Gasparin (2005), são: 1ª Lavagem:
1,2%; 2ª Lavagem: 0,0144%; e 3ª Lavagem: 0,0001728%.
A Lavagem Sob Pressão utiliza a própria bomba do equipamento para gerar pressão para o bico
de lavagem sendo que a água limpa utilizada para a lavagem é oriunda de um tanque extra, integrado
ao equipamento. Primeiramente deve se encaixar a embalagem vazia no funil do pulverizador e
acionar o mecanismo para liberar o jato de água limpa, o agricultor direciona o jato de água para todas
as paredes interna da embalagem por 30 segundos e transfere a água de lavagem para o interior do
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tanque do pulverizador. Após este processo a embalagem deve ser inutilizada perfurando o seu fundo.
(inpEV. 2014f)
As embalagens vazias, inutilizadas e lavadas devem ser armazenadas com suas respectivas
tampas, rótulos e caixas em um lugar adequado, separadas de acordo com o seu tipo.
As embalagens flexíveis (não laváveis) devem ser esvaziadas completamente no momento do
uso e guardadas dentro de uma embalagem de resgate fechada e identificada. A embalagem de resgate
(ou saco de resgate) é uma embalagem plástica encontrada nos tamanho de 50 e 100 litros e são
próprias para o acondicionamento, transporte e destinação de embalagens flexíveis e podem ser
adquiridas nos canais de distribuição.
4.2.4 Unidades de Recebimento
As embalagens devem ser devolvidas na unidade de recebimento indicada na Nota Fiscal no
produto até o prazo de um ano após a compra. Caso sobrem frações do produto na embalagem, a
devolução deve ser feita até seis meses após o vencimento.
O Sistema Campo Limpo possui mais de 400 Unidades de Recebimentos, divididas em
Centrais e Postos, espalhadas em todo o Brasil. As unidades devem ser ambientalmente licenciadas, e
se diferenciam entre Centrais e Postos conforme o porte e o tipo de serviço efetuado e são geridas por
associações e cooperativas com o apoio do inpEV.
De acordo com a resolução 344 do CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente), os
Postos de Recebimento devem ter no mínimo 80m² de área construída e devem realizar o serviço de:
recebimento de embalagens lavadas e não lavadas; inspeção e classificação das embalagens entre
lavadas e não lavadas; emissão do recibo confirmando a entrega das embalagens pelos agricultores; e
encaminhamento das embalagens as Centrais de Recebimento.
As Centrais de Recebimento também atendem as determinações do CONAMA e devem ter no
mínimo 160m² de área construída. E além de todos os serviços prestados pelos Postos de Recebimento,
eles também recebem as embalagens dos Postos; Separam as embalagens por tipo (COEX, PEAD,
MONO, metálica e papelão); Compactam as embalagens por tipo de material; e emitem uma ordem de
coleta via sistema para que o inpEV providencie o transporte para o destino final (reciclagem ou
incineração).
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Do ponto de vista logístico e econômico é inviável cada ponto de venda ter sua própria unidade
de recebimento, fazendo com que o estabelecimentos comerciais próximos se organizassem em
associações para construir uma única unidade de recebimento, utilizada e gerenciada de forma
compartilhada para otimizar as atividades e os recursos. Cabe ao inpEV, como representante da
indústria, cogerenciar todas as centrais de recebimentos do país e alguns postos.
Todas as unidades de recebimento (Postos e Centrais) precisam de licenciamento ambiental de
acordo com o CONAMA para serem implantadas. O órgão ambiental exige três tipos de licenças
ambientais: Licença Prévia (LP – aprovando sua localização e concepção, viabilidade ambiental e
estabelece os requisitos básicos para serem atendidos nas próximas fases.); Licença de Instalação (LI –
autoriza a instalação do empreendimento e suas especificações); e Licença de Operação (LO – verifica
o cumprimento das licenças anteriores e autoriza o início das atividades).
Após a aprovação das licenças do CONAMA, a unidade de recebimento deve solicitar o seu
credenciamento junto ao inpEV, que incluirá a unidade no sistema de logística para realizar o
recolhimento das embalagens vazias recebidas e encaminha-las para seu destino final.
Para o início das atividades, a equipe de trabalho (operadores e supervisores) deve estar
treinada em relação ao uso de EPIs e realização das atividades de recebimento, inspeção, triagem, e
armazenamento das embalagens.
A equipe de trabalho ao receber as embalagens deve seguir alguns procedimentos
(Recebimento, Inspeção e Preparação) pré-estabelecidos. Após o agricultor entregar as embalagens, o
colaborador deve fornecer o comprovante com as quantidades, tipos, condições e embalagens
entregues em desacordo com a legislação.
Durante a Inspeção das Embalagens, existe um procedimento para cada tipo de embalagem. As
embalagens laváveis devem ser inspecionadas uma a uma quanto à lavagem adequadas e separar as
embalagens não lavadas adequadamente.
Já as embalagens não laváveis são dividas em Rígidas e Flexíveis. As rígidas devem ser
inspecionadas uma a uma para verificação de contaminação aparente, e separadas das embalagens que
não possuem contaminação. As flexíveis devem ser guardadas dentro de embalagens de resgate com
uma etiqueta preenchida.
A Preparação das Embalagens nos postos de recebimentos consiste em separar as embalagens
lavadas e as embalagens não lavadas por tipo de matéria prima (plástico, vidro, metal ou caixas
coletivas de papelão) para que sejam transferidas para uma central de recebimento.
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Nas centrais de recebimento a preparação das embalagens, além de separa-las por tipo, devem
prensar e enfardar as embalagens plásticas, metálicas e caixas coletivas de papelão; triturar as
embalagens de vidros e acondicionar os cacos em tambores metálicos; e separar as tampas recebidas
com as embalagens e armazená-las em big bags.
Além das centrais de recebimento tradicionais, o Sistema Campo Limpo também conta com os
Recebimentos Itinerantes, modalidade móvel e temporária, organizados pelas centrais com o apoio do
poder público municipal. Cerca de 10% das embalagens destinadas corretamente são oriundas dessas
ações. Os Recebimentos Itinerantes acontecem com uma certa frequência, sendo que, em algumas
localidades, há calendários anuais de Recebimentos Itinerantes.
O transporte das embalagens do Postos para a Central e da Central para o destino final deve ser
feito por meio de agendamento através do Sistema de Informação das Centrais (SIC).
4.2.5 Reciclagem
O inpEV possui parcerias com nove empresas recicladoras espalhadas estrategicamente em
cinco estados do Brasil: Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo.
As recicladoras são responsáveis por receber e reciclar todas as embalagens vazias conforme os
padrões preestabelecidos de segurança, qualidade e rastreabilidade, cumprindo as normas dos órgãos
ambientais e as exigências legais.
A Figura 4 demonstra a distribuição geográfica das empresas Recicladoras e Incineradoras no
Brasil.
Figura 4 – Localização de Recicladoras e Incineradoras no Brasil.
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Fonte: inpEV (2014).
Pode-se perceber através da imagem a concentração das empresas responsáveis pela reciclagem
e incineração das embalagens na região Sudeste do Brasil.
A partir da reciclagem produzem dezessete diferentes produtos, sendo a maioria de aplicação
industrial como: recipallet, suporte para sinalização rodoviária, cruzeta de poste, caixa para descarga,
caçamba plástica de carriola, caixa para massa de cimento, caixa de bateria automotiva, roda plástica
de carriola, embalagem para lubrificante, ecoplástica triex, barrica plástica para incineração, conduite
corrugado, duto corrugado, caixa de passagem para fios elétricos, tubos para esgoto, tampa agro
recicap, barrica de papelão.
A Figura 5 exibe todos os tipos de produtos que são produzidos a partir da reciclagem das
embalagens de agrotóxicos.
Já a incineração das embalagens não recicláveis é feita por cinco empresas, localizadas nos
estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.
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4.2.6 Autossuficiência Econômica do Sistema
Uma vez que o programa não visa lucro e é financiado por agricultores, cooperativas,
distribuidores e a indústria fabricante, o inpEV busca a sua autossuficiência econômica desde a sua
criação.
Um passo para alcançar a autossuficiência foi fechar o ciclo de gestão de embalagens de
defensivos agrícolas dentro da própria cadeia. Em 2008 foi criada a Campo Limpo Reciclagem e
Transformações de Plástico S.A. com o apoio de 31 acionistas.
Figura 5 – Produtos feitos a partir da Reciclagem de Embalagens de Agrotóxicos.
Fonte: inpEV (2014).
Seguindo os conceitos da ecoeficiência e projetada para não gerar impactos ambientais,
possuindo moderna estação de tratamento de efluentes, reaproveitamento de água da chuva e uso
racional da luz solar. Tem objetivo de produzir embalagens plásticas a partir da reciclagem de
embalagens vazias de agroquímicos e desenvolver novas tecnologias voltadas para a reciclagem e
transformação de plástico.
O primeiro produto da Campo Limpo Reciclagem foi o a Resina de Pós Consumo de
Polietileno de alta densidade que possui um elevado padrão de qualidade e homogeneidade. Podendo
ser adquirido em grandes quantidades, e está disponível em diferentes cores.
Em 2009, a Campo Limpo Reciclagem lançou a Ecoplástica Triex, embalagem reciclada
produzida a partir de um processo pioneiro, certificado pelo ISO 9001:2008. Gerando uma solução
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inovadora para o fechamento do ciclo da gestão das embalagens de defensivos agrícolas e ganhos
ambientais significativos (cada embalagem de 20litros produzida evita a emissão de 1,5 kg de CO2). A
Ecoplástica triex é a primeira embalagem fabricada com resina reciclada para agrotóxicos a obter a
certificação UN (transporte terrestre e marítimo de produtos perigosos) no mundo.
Um dos principais desafios previsto no planejamento estratégico do inpEV consiste na busca da
autossuficiência do sistema através de dois meios: o aumento da receita pela agregação de valor e a
redução de custos por meio de adoção de modelos eficientes, que aumentem a produtividade e o
recebimento das embalagens.
Atualmente, em torno de 20% dos custos do sistema são cobertos pela receita gerada, o inpEV
tem como meta aumentar essa porcentagem entre 40% e 50% até o final de 2015.
A Figura 6 representa a Embalagem Ecoplástica Triex, grande responsável pelo fechamento do
ciclo dentro da própria cadeia.
Figura 6 – Embalagem Ecoplástica Triex.
Fonte: inpEV (2014).
5. CONCLUSÃO
Com o alcance do objetivo deste presente trabalho, o entendimento da logística reversa de
embalagens agrotóxicos, podemos ressaltar algumas conclusões a respeito da cadeia reversa em que as
embalagens de agrotóxicos estão inseridas.
A criação de Leis que têm como objetivo a melhoria das questões ambientais juntamente com a
sua devida fiscalização têm sido um dos maiores impulsionadores para que a logística reversa seja
executada em diversos setores. No caso estudado, podemos perceber que as empresas se anteciparam a
esta etapa, e começaram a se organizar antes que estas entrassem em vigor, fazendo parte da sua
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própria criação. A antecipação e a ajuda na criação das Leis que regulamentaram a logística reversa de
embalagens de agrotóxicos são grandes fatores que ajudaram esta cadeia ser tão bem executada nos
dias de hoje, havendo tempo para o planejamento e implantação de todo o sistema.
Através de dados do inpEV não é difícil de concluir que a quantidade de embalagens vazias
recolhidas vem crescendo desde a sua criação, em 2002, 3768 toneladas de embalagens foram
recolhidas, 2003 obteve um aumento de (108%), 2004 (77%); 2005 (28%); 2006 (9,8%); 2007 (7,6%);
2008 (15,5%); 2009(17,8%); 2010 (8,7%); 2011 (9,3%); 2012 (9,3%) e 2013 (8,1%) chegando a 40404
toneladas de embalagens recolhidas, representando um aumento de 9,2% em relação ao ano anterior.
No período de 2002 à 2013 o sistema obteve um aumento de mais de 1000%. Resultado obtido através
da forma de atuação do sistema: a responsabilidade compartilhada.
Podemos perceber que todos os elos da cadeia estão cada vez mais envolvidos com a cadeia,
cada um cumprindo com a sua responsabilidade e atendendo aos requisitos estipulados em leis. Isto
pode ser explicado através do fato de que o principal elo entre as embalagens vazias e a sua correta
destinação, os agricultores, acreditaram e viram o sistema funcionar desde a sua criação e também
foram conscientizados a respeito de sua importância para este.
Outro grande fator responsável para o bom desenvolvimento do sistema, é a conscientização e
orientação dos agricultores quanto as suas responsabilidades de devolução e normas das lavagens. O
crescimento da quantidade de embalagens devolvidas a cada ano é resultado, juntamente com outros
fatores, da melhor conscientização e orientação dos usuários de agrotóxicos.
A conscientização dos agricultores a realização da lavagem das embalagens durante o
processamento da calda é responsável por grande parte do sucesso do sistema, este procedimento faz
com que se tenham diversos tipos de benefícios: Econômicos (total utilização do conteúdo da
embalagem); Segurança (protege significantemente os riscos para a saúde das pessoas); Ambiental
(protege o meio ambiente, reduz os riscos de contaminação, facilita o encaminhamento para os pontos
de coleta e viabiliza a reciclagem); e Normativos (permite classificar as embalagens como itens não-
perigosos).
A fiscalização deve ser cada vez mais severa, impedindo que agrotóxicos entrem de maneira
irregular no país, para impedir que toneladas de defensivos agrícolas sejam usados na lavoura
contaminando os alimentos, e sua embalagens sejam descartadas de formas errada, queimadas ou
enterradas, aumentando ainda mais o impacto ambiental. Este fator foge do controle do Sistema
Campo Limpo e deve ser realizado de maneira mais eficiente pelo governo.
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O principal objetivo deste sistema, o meio ambiente, é altamente melhorado devido a grande
diminuição de contaminação de ecossistemas essenciais para a saúde humana, aumentando nossa
qualidade de vida e a de gerações futuras.
A reciclagem das embalagens proporciona uma grande quantidade de melhoras para o sistema
como um todo: matéria-prima com preço menor que o do mercado; opção para ocasiões de escassez de
matéria-prima nova; economia no consumo de energia e água; melhoria da imagem da empresa onde o
material reciclado é utilizado; redução da quantidade de resíduos destinados a aterros ou indevida
destinação final; geração de renda e empregos; e diminuição da poluição do ar e águas.
Além dos benefícios ambientais, a cadeia também é responsável por benefícios sociais, a
logística reversa destas embalagens cria novos empregos através do transporte, reciclagem,
incineradoras, etc.
O desafio da autossuficiência financeira do sistema talvez seja o mais distante de ser alcançado,
atualmente somente um quinto do investimento é retornado, além dos meios que o inpEV busca
melhorar o retorno, aumento da agregação de valor e redução de custos, eles podem utilizar de outros
meios para conseguirem mais rapidamente a autossuficiência como a prestação de serviço de logística
reversa para outros setores e também a obtenção de um novo destino para as embalagens não laváveis
ou então a substituição destas por laváveis.
O fato de o inpEV não estar mais credenciando recicladoras devido ao total atendimento da
demanda e a falta de organizações que consigam cumprirem as normas ambientais, exigências legais e
os padrões de qualidade e segurança exigidos juntamente com o Brasil por ser um país de grande área
territorial e a concentração das recicladoras e das incineradoras na região Sudeste do país, faz com que
embalagens utilizadas em outras regiões tenham que percorrer um longo trajeto até serem recicladas ou
incineradas, acarretando em um custo que poderia ser reduzidos se houvesse uma melhor
homogeneização do destino final do ciclo. E para esta homogeneização acontecer seria necessário que
o inpEV ajudasse as recicladoras a melhorar seus processos e administração para que cumprissem com
as exigências.
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Referências
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