“BIG BANDS”- A MARAVILHOSA ERA DO...

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REVISTA MENSAL DO JAZZ – POR PEDRO CARDOSO EDIÇÃO Nº 84 – MAIO/2013 PÁGINA 1 DE 3

MÚSICOS, FATOS & CURIOSIDADES • Nº 84 • MAIO 2013

“BIG BANDS”- A MARAVILHOSA ERA DO SWING 26ª PARTE

Prosseguindo com o foco nas formações de WOODY HERMAN, sempre homenageando CARLOS CHAIM, o contrabaixista da “TRADITIONAL JAZZ BAND BRASIL”, mais que excelente músico, portador de elevado nível de fidalguia e de carisma pessoal.

Ainda em 1965 HERMAN contratou o pianista Ralph Burns (lembrar do “segundo rebanho”), então responsável por orquestrações para peças da Broadway, que preparou diversos arranjos para HERMAN apresentar-se como cantor e revivendo sucessos de Al Jolson (“Sonny Boy” como carro-chefe). Os temas foram gravados pelo selo Columbia (álbum “The Jazz Singer”, título do primeiro filme sonorizado e de mesmo nome) que obteve sucesso. Também nesse ano de 1965 a banda apresentou-se no “Festival de Juan-les-Pins”

com excelente recepção, marcando o início de seguidas temporadas europeias. Em 1967 e após a primeira apresentação em Milão, com grande entusiasmo do público, boa parte dos músicos mostrava-se cansada e, no retorno aos U.S.A., pediram dispensa a HERMAN. Este pouco-a-pouco remontou nova formação e adaptou o estilo e o repertório para enfrentar às tendências do público jovem de então. Para tanto contratou o baixista Richard Evans como arranjador (o que já havia sido para a banda do grande trumpetista Maynard Ferguson e transitado pela música “pop”), que foi o autor de arranjos dos sucessos em voga (“MacArthur Park”, “Hush”, “Light My Fire”, “I Say A Little Prayer” e outros). Esses temas foram gravados pela banda para o selo “Cadet” em 1968 (com o título de “Light My Fire”) e incluídos em seguidas apresentações, com boa aceitação pelo público jovem (em New York no “Filmore East” e em Los Angeles no “Filmore West”). Também com a nova formação, o novo repertório e em 1969 HERMAN apresentou-se na Europa recebendo boa acolhida para seu novo repertório (com uma formação que ostentava novos valores como Ronnie Cuber, Harry Hall e Bruce Fowler, ao lado de veteranos entre os quais Sal Nistico, Frank Vicari e Bill Chase). A partir de então foram numerosas as formações de HERMAN (que passou a denomina-los de “Thundering Herds”), sempre alinhando novos valores (pinçados nos cursos de JAZZ das universidades americanas e no “Berklee College Of Music”) ao lado desse ou daquele “veterano”. Estávamos em uma época em que os músicos dificilmente aspiravam a tocar “on the road”, preferindo, é claro, o trabalho melhor remunerado nos estúdios de gravação, nas rádios, no teatro e para o cinema. Como os “talentos” gerados nas noites dos clubes e nas estradas intermináveis (“one night show”) não mais existiam, mas sim jovens talentos dotados de muita técnica, HERMAN cercou-se de arranjadores do mais alto

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nível para garantir-lhe uma execução superior. Assim é que arregimentou para seus arranjos o australiano Alan Broadbent, excelente aluno do grande Lennie Tristano, mentor do difícil, intrincado e belo arranjo para a suíte “Variations On A Scene” gravado para o selo “Fantasy” pela formação de HERMAN ao lado da Orquestra Sinfônica de Houston (Texas) sob a regência do maestro Lawrence Foster. É peça de colecionador do bom gosto ! ! ! Em 20 de novembro de 1976 por ocasião da comemoração do seu 40º aniversário à frente de orquestras, HERMAN tinha como arranjador o também excelente Gary Anderson; com plateia lotada no Carnegie Hall a banda foi muito aplaudida, sendo a apresentação gravada para o selo “Columbia”. O público deliciou-se com a presença de “veteranos” do calibre de “Flip” Phillips (então e desde alguns anos retirado do cenário musical), Stan Getz, Zoot Sims, Pete Candoli, Al Cohn, Ralph Burns, Jack Hanna e Jimmy Giufrie, aplaudindo de pé o encerramento da apresentação com o clássico “Caldonia”. Seguindo com suas formações mas avançando em idade, no ano de 1983 com seus então 72 anos e tendo perdido a esposa Charlotte após 46 anos de casamento, o coração de HERMAN acusou os primeiros sintomas de excessivo cansaço, mas o maestro prosseguiu sua jornada. Em 1986 HERMAN organizou extensa temporada para comemorar seus 50 anos à frente de “big bands”, mas no ano seguinte e em situação muito precária de saúde e financeira, veio a falecer em 29 de outubro de 1987 em Los Angeles / Califórnia, de forma digna, graças ao auxílio de muitos músicos e amigos (vide “Nota” ao final). ALGUMAS NOTAS E ANEDOTAS SOBRE WOODY HERMAN 1ª WOODY HERMAN caminhava pela 7ª Avenida em New York ao lado do guitarrista Jimmy Raney, quando encontraram o clarinetista e, já há alguns anos afastado, ex-líder de “big band” Artie Shaw (claro, como sempre, muito bem acompanhado). Artie cumprimentou os dois e perguntou a HERMAN o que estava fazendo, recebendo como resposta: - Estamos em New York para curta temporada de alguns dias. - Mas você ainda tem uma orquestra, questionou Artie surpreendido. HERMAN com toda a simplicidade disse-lhe: - Na vida alguns cavam buracos, mas eu gosto de ter uma banda, já que é o que sei fazer. 2ª HERMAN manteve, em quase todas as suas formações, o grupo de 03 saxes-tenor e 01 barítono, como na gravação original dos “Four Brothers”. Esse tipo de instrumentação é que dava o “toque” de suavidade nos solos, expondo os temas, desenvolvendo as linhas dos arranjos e trabalhando como uma “colcha de veludo” para os demais solistas. 3ª O som das formações de HERMAN sempre se caracterizou por uma pulsação rítmica muito forte (bateristas atuando em tempo forte, precisos), com os naipes de metais (trompetes e trombones) atuando de forma rítmica e em “riffs” explosivos como aberturas e encerramentos para os solistas. 4ª A par de músicos de alta qualidade técnica, as formações de HERMAN sempre contaram com arranjadores do mais alto nível: Nat Pierce, Shorty Rogers, Neal Hefti, Johnny Mandel, Alan Broadbent, Gary Anderson, Gene Roland e outros nesse patamar. Ao longo da execução de cada arranjo, HERMAN providenciava pequenas modificações e ajustes, inclusive e em algumas ocasiões, atendendo a sugestões de seus músicos. 5ª HERMAN aprendeu a tocar o saxofone-alto com 11 e clarinete com 14 anos, quando passou a apresentar-se em espetáculos de “vaudeville” como garoto-prodígio. Essa exposição rendeu-lhe sua primeira excursão pelo Texas, integrando com 15 anos a banda de Joe Lichter. 6ª HERMAN apresentou sua banda em diversas ocasiões nos estabelecimentos de ensino dos U.S.A. (“colleges” e universidades), em especial no início da primeira metade da década de 1950 e devido às dificuldades financeiras decorrentes da falta de contratos. Ademais de suprir suas receitas, essas apresentações renderam-lhe a formação de um “público” futuro.

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7ª HERMAN casou-se em 1936 com Charlotte e com ela conviveu digna e exemplarmente durante 46 anos, até 1982, ano do falecimento de Charlotte. 8ª Desde 1976 o maestro brigava com o fisco americano, em função de dívida originada pelo não recolhimento de impostos (todas as rendas de seus faturamentos sofriam as retenções dos impostos, mas seu “manager” e procurador não as recolhia ao tesouro americano). O coração de HERMAN começou a falhar em 1983, mas o maestro lutou até seus derradeiros momentos para manter sua banda. Por ocasião da turnê que realizou em 1986 para comemorar seus 50 anos de atividade como “bandleader”, o que HERMAN ganhava era dirigido quase que totalmente para a compra de medicamentos e o pagamento do aluguel. No ano seguinte e já de cama, HERMAN recebeu ordem de despejo e, mesmo contra sua vontade, a filha Ingrid ao lado dos advogados dele apelaram para os meios de comunicação que, surpresos pois ninguém imaginava a situação de HERMAN, mobilizaram rádios e artistas (\à frente Clint Eastwood e Frank Sinatra); foi o que permitiu a HERMAN falecer decentemente em 29 de outubro de 1987.

Segue na “Revista Mensal do Jazz” nº 85, junho/2013,

“BIG BANDS” - A MARAVILHOSA ERA DO SWING -27ª Parte”.