Biblioteca Universitária: esboços históricos

30
BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS BRASILEIRAS: uma reflexão sobre seus modelos. http://www.sibi.ufrj.br/dodebei.doc Vera Lúcia Dodebei 1 Elaine Baptista de Matos Paula 2 Márcia Valéria Brito Costa 3 Isabel Arino Grau 4 RESUMO Discute os modelos estruturais e funcionais adotados pelas bibliotecas universitárias brasileiras, considerando os fundamentos teóricos, a evolução histórica da relação bibliotecas e universidades, as tentativas de modernização da década de oitenta, enfocando o modelo sistêmico como uma solução alternativa para resolver a dicotomia da especialização/interdisciplinaridade e indicando pontos que deverão ser levados em consideração na escolha do modelo mais adequado. 1 INTRODUÇÃO As bibliotecas universitárias brasileiras estão vivenciando uma crise que nada mais é do que o reflexo da crise econômica e social pela qual passa a sociedade neste final de século. Tal como em Calvino, 5 pode-se considerar que 1 Professor Doutor Adjunto II e Diretora do Sistema de Bibliotecas da Uni- Rio 2 Chefe da Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Uni-Rio 3 Chefe da Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas da Uni-Rio 4 Chefe da Biblioteca Setorial do Centro de Letras e Artes da Uni-Rio 5 CALVINO, Italo. Seis propostas para o próximo milênio. São Paulo : Companhia das Letras, 1990.

description

Traça percurso histórico das bibliotecas acadêmicas, dos castelos e mosteiros, aos grande salões de acervos nas universidades.

Transcript of Biblioteca Universitária: esboços históricos

BIBLIOTECAS UNIVERSITRIAS BRASILEIRAS: uma reflexo sobre os modelos estruturais e funcionais

BIBLIOTECAS UNIVERSITRIAS BRASILEIRAS: uma reflexo sobre seus modelos.

http://www.sibi.ufrj.br/dodebei.doc

Vera Lcia Dodebei Elaine Baptista de Matos Paula

Mrcia Valria Brito Costa

Isabel Arino Grau

RESUMO

Discute os modelos estruturais e funcionais adotados pelas bibliotecas universitrias brasileiras, considerando os fundamentos tericos, a evoluo histrica da relao bibliotecas e universidades, as tentativas de modernizao da dcada de oitenta, enfocando o modelo sistmico como uma soluo alternativa para resolver a dicotomia da especializao/interdisciplinaridade e indicando pontos que devero ser levados em considerao na escolha do modelo mais adequado.

1 INTRODUO

As bibliotecas universitrias brasileiras esto vivenciando uma crise que nada mais do que o reflexo da crise econmica e social pela qual passa a sociedade neste final de sculo. Tal como em Calvino, pode-se considerar que as seis qualidades da escrita, leveza, rapidez, exatido, visibilidade, multiplicidade e consistncia, so tambm qualidades que a biblioteca deve perseguir nas suas relaes com a sociedade para a qual presta servios de informao. A reflexo que se pretende fazer sobre os modelos estruturais e funcionais em bibliotecas universitrias brasileiras no exaustivo nem pontual e considera, principalmente, as rupturas e as continuidades das relaes da biblioteca com a universidade, a partir da importncia revelada pela Histria sobre a evoluo das duas instituies.

A anlise dos modelos adotados pelas bibliotecas universitrias brasileiras considera os fundamentos tericos que influenciaram suas condutas e os esforos de modernizao de suas estruturas e funcionamento com a criao do Programa Nacional de Bibliotecas Universitrias - PNBU, na dcada de oitenta. No se pretendeu, neste trabalho, efetuar uma anlise emprica dos diversos modelos existentes, uma vez que j existe literatura neste campo mas, to somente, levantar pontos para a reflexo, a partir de indicadores que emergem de uma nova ordem social, na qual as propostas de Calvino se concretizam.

2 BIBLIOTECA E UNIVERSIDADE

Nesta abordagem inicial so considerados os conceitos de biblioteca e os de universidade, com nfase na relao biblioteca/universidade. Conceituar biblioteca requer uma reflexo complexa. Pode-se considerar, como em Martins, que as bibliotecas so anteriores aos livros e at aos pergaminhos. A idia de coleo de livros, tal como hoje conhecemos, tem sua origem no mundo clssico. Quanto biblioteca, esta se perde na antigidade, pois a biblioteca j existia em grandes civilizaes como no Egito, na Mesopotmia, na Grcia e em Roma. Embora a Biblioteca de Alexandria fosse a mais famosa da antigidade, tendo suas colees j organizadas por assunto, foi com os romanos que as bibliotecas passaram a assumir um papel de disseminadoras de idias.

Na Idade Mdia, existiram trs tipos de bibliotecas: as monacais, as das universidades e as particulares (incluindo nesta categoria as bibliotecas reais). O acesso s bibliotecas era restrito elite, quer fosse o clero, a realeza ou a nobreza. Nesta fase, a biblioteca passa a ter um carter sagrado, mais pela natureza das instituies mantenedoras dos livros do que por seus contedos. Basicamente, somente o clero tinha acesso s informaes pois, durante este perodo, como diz Martins, os livros, a palavra escrita, eram o mistrio, o elemento carregado de poderes malficos para os no iniciados.

A Renascena, uma verdadeira revoluo cultural, marcou a transio do mundo medieval para o mundo moderno e expressou os ideais e a viso de mundo de uma nova sociedade emergente que se originou da crise do feudalismo e do desenvolvimento da economia mercantil. Os homens que vivenciaram este momento de conflito social inspiraram-se nos valores e nos ideais da Antigidade Clssica, greco-romana, por oposio aos valores medievais que eles desprezavam. Mas, em vrios aspectos, principalmente o cultural, esse movimento representou mais uma continuao do que uma ruptura com a Baixa Idade Mdia. Ainda em Martins, , pois, j nos albores da Renascena que a biblioteca comea a adquirir seu sentido moderno, a sua verdadeira natureza, como tambm nessa poca que surge junto ao livro a figura do bibliotecrio. O livro adquiriu o sentido social de utilidade ao alcance de todos e mudou, dessa forma, seu significado social, uma vez que a biblioteca no possua mais o carter religioso da Idade Mdia. A sociedade passa a submeter-se mais aos documentos do que aos dogmas, aos contratos do que aos mandamentos e s crticas mais do que s revelaes.

O sculo XVI marcou o incio da imprensa e a conseqente multiplicao dos livros. As bibliotecas de utilidade pblica proporcionaram um maior acesso informao, que deixou de ser privilgio de poucos. Foi tambm desta poca o movimento que surge em prol de uma biblioteca universal que armazenasse todas obras j escritas. Esta idia se tornou invivel na prtica, o que gerou uma poltica de seleo das obras que seriam as mais significativas e as mais importantes. Mas, como toda seleo implica no comprometimento que os homens tm com a sua a poca e com a sua sociedade, as obras selecionadas refletiam arbitrariamente os sistemas poltico, social, econmico e cultural vigentes e no uma sntese do conhecimento acumulado.

A partir da Idade Moderna, a biblioteca passou a gozar do estatuto de instituio leiga, civil, pblica e aberta, tendo seu fim em si mesma e comeando a responder s novas necessidades, o que implicou em uma maior democratizao do saber. Como diz Martins, Foi o livro, ou seja, no fundo a biblioteca, um dos instrumentos mais poderosos da abolio do "antigo regime". Qualquer que tenha sido a influncia efetiva da Enciclopdia e dos enciclopedistas na deflagrao da Revoluo Francesa, inegvel que eles a tiveram um relevante papel. Ora, a Enciclopdia no era um livro: era uma biblioteca em forma de livro (...). A enciclopdia um livro que contm uma biblioteca, assim como a biblioteca uma enciclopdia que contm livros.

Nos sculos XVIII e XIX, as bibliotecas sofreram transformaes resultantes das mudanas sociais ocorridas com a Revoluo Industrial. Segundo Mueller, Esperava-se que as bibliotecas contribussem de maneira significativa para a ordem social e o progresso nacional, e, especialmente nos Estados Unidos, para a manuteno da democracia. Mas o carter educacional da biblioteca j era, nesta poca, reconhecido como primordial. A proliferao de bibliotecas pblicas para atender a esses objetivos foi clara, principalmente na Inglaterra e nos Estados Unidos.

Estudos recentes mostram a necessidade de relacionar a criao e o desenvolvimento de bibliotecas com a sociedade a que elas atendem. Segundo Shera apud A sociedade determinou o que foi a biblioteca no passado e a sociedade que ir determinar o que ser a biblioteca no futuro. Neste sentido, a biblioteca deve ser entendida como agncia social de comunicao. Para Butler apud, A cultura precisa transcender o indivduo porque essencialmente uma acumulao social de experincias atravs da qual os homens de cada gerao possuem, pelo menos potencialmente, tudo o que a gerao anterior aprendeu. Livros so um mecanismo social de preservao da memria racial, e a biblioteca, um aparato social de transferncia dessa memria conscincia dos indivduos.

No que se refere universidade, encontrar um conceito que consiga traduzir todas as suas funes ao longo da histria no tarefa das mais fceis. Pode-se, no entanto, afirmar por consenso que a universidade uma instituio de ensino superior, que compreende um conjunto de unidades de ensino - escolas, faculdades, institutos - para a formao de profissionais e pesquisadores, nos diversos campos do conhecimento, com a misso precpua de produzir conhecimento e garantir a dinmica da transferncia da informao.

Na Idade Mdia, a educao era privilgio de poucos, principalmente do clero, que dominava o saber, em conseqncia de sua posio no cenrio social. Segundo Charle e Verger, as universidades no seguiram um modelo nico de organizao. Enquanto no norte da Europa elas eram associaes de mestres, nas regies mediterrneas apresentavam-se como associaes de estudantes. Esses dois modelos fizeram surgir diferentes formas de administrao que influenciaram o desenvolvimento das universidades. Na Europa do sculo XV, as alteraes sofridas pelo ensino indicam que a vocao mercantilista fez mudar o padro de formao profissional, tradicionalmente de mdicos, clrigos e advogados, para especialistas que atendessem s necessidades de uma sociedade que j demonstrava sinais de mudanas estruturais.

A evoluo das sociedades aps a Idade Moderna torna-se mais dinmica. Com as novas descobertas martimas, os europeus tomam conhecimento de outros povos, outras lnguas

e outros costumes que fugiam aos padres estabelecidos pela Igreja e pelo conhecimento teolgico, at ento paradigmas estabelecidos e aceitos. Concomitantemente, constata-se o aparecimento de uma nova classe social baseada no poder econmico e no no poder hereditrio, que era a burguesia comercial. Assim, o sculo XVII marca o incio de uma revoluo do conhecimento a partir das novas descobertas cientficas, principalmente as da fsica newtoniana, que foi responsvel por toda uma nova estrutura do conhecimento, baseada no mecanicismo determinista.

O novo saber no era mais apoiado na f, mas baseado no uso da razo e no comprometimento com a soluo dos problemas nacionais. O saber cientfico se apresentava de forma compartimentada e passvel de sofrer alteraes - dinmico e ilimitado, diferente do conhecimento esttico. o incio da especializao do homem moderno, do desenvolvimento das novas tcnicas de produo, do aumento dos registros produzidos pela sociedade, da organizao formal da educao, do aparecimento do livro didtico, do comrcio livreiro, do acmulo de recursos financeiros gerados pelo comrcio, da estabilidade poltica dos povos europeus.

Essas condies facilitaram o surgimento de vrias bibliotecas pblicas e especializadas e tambm o surgimento de uma nova universidade, com um eixo de formao diferente, privilegiando as reas tcnicas necessrias ao desenvolvimento das sociedades e dedicando-se pesquisa. Essas novas formas e tcnicas de ensino so implementadas na Educao, principalmente a universitria. Pode-se citar, como exemplo, a multiplicao de seminrios, a criao de novas disciplinas como a Filologia, a Histria, a Matemtica e a Fsica, e, principalmente, o uso de novos recursos educacionais, como laboratrios e bibliotecas.

No sc. XVIII, a Revoluo Industrial fez surgir uma nova ordem social com novos valores, princpios e objetivos. De acordo com Buffa, A burguesia industrial que emerge busca mudanas sociais para dar continuidade s transformaes das formas de produo da vida material e de relaes sociais entre os homens. O trabalho parcelar introduzido na sociedade surge ao mesmo tempo que o projeto burgus de "educao e cidadania para todos". Este projeto tinha como principal objetivo legitimar a nova ordem social, alem de defender a educao elementar para todos, embora mantivesse o ensino superior como privilgio da nova classe dominante.

A estrutura universitria corporativista, herdeira dos ensinamentos ultrapassados da Idade Mdia, era um obstculo para as pretenses dessa nova ordem social. A formao profissional necessria para atender nova realidade de produo passou a ser obtida fora das universidades, quer pela iniciao familiar, quer pelas leituras profissionais ou, principalmente, pela atuao das associaes particulares. Essas associaes eram, segundo Verger, Estabelecimentos totalmente independentes das universidades, abertos a novas idias e a novas pedagogias, divididos em Centros de Excelncia, com vocao cultural, e as academias, que apesar de no se dedicarem ao ensino eram muitas vezes dotadas de grandes bibliotecas e substituram em grande escala as universidades, como conselheiras dos prncipes e instncias legitimadoras do saber. Algumas so famosas at hoje, como a Royal Society.

Na Europa, o projeto burgus encontrou no ensino bsico um mecanismo de legitimao do seu poder. J nas colnias o ensino adquiriu outras propores, dependendo do tipo de relao estabelecida pela metrpole. Esse relacionamento determinou as diferenas estruturais que encontramos tanto na Amrica do Norte, como na Amrica Espanhola, que herdaram e modificaram de acordo com seus interesses a estrutura educacional europia.

No Brasil, com algumas excees de escolas superiores isoladas, as Universidades j nasceram em crise. Crise, principalmente, de identidade, uma vez que no experimentaram o crescimento normal de sua estrutura, nem tampouco cresceram por desejo legtimo de uma sociedade em um desenvolvimento autnomo. O modelo de universidade adotado na dcada de 60, por ter sido importado da sociedade americana, onde os valores tecnicistas vieram a substituir os valores humanistas do modelo europeu que figurava at ento, contribuiu para agravar a crise de identidade da universidade brasileira. Segundo Darcy Ribeiro, a superao de tal crise poderia ser obtida a partir de duas linhas polticas. A primeira, que ele denomina modernizao reflexa, diz respeito ao aperfeioamento tecnolgico de nossas universidades, a fim de aproxim-las s suas congneres em pases desenvolvidos. A segunda, designada crescimento autnomo, segundo o autor, Parte da suposio de que a universidade, como uma subestrutura inserida numa estrutura social global, tende a operar como rgo de perpetuao das instituies sociais, enquanto atua espontaneamente; e que s pode representar um papel ativo no esforo de superao do atraso naciona, se intencionaliza suas formas de existncia e de ao com este objetivo. Assim, a poltica modernizadora tende apenas a tornar a universidade mais eficiente, ao contrrio do crescimento autnomo, que exige uma postura crtica baseada em diagnstico, planejamento, escolha estratgica de objetivos, o que proporcionaria o real desenvolvimento da universidade.

Partindo da premissa de que universidades e bibliotecas so agncias sociais organizadas para atender s necessidades um grupo social ou da sociedade em geral, a interseo dessas duas instituies, vista agora como um nico conceito o de Biblioteca Universitria - nos leva a considerar a existncia de uma unidade organizacional que rene os predicados principais das bibliotecas e os da universidade, em suas vrias concepes histricas e posicionamentos sociais. O ncleo dessa relao (biblioteca universitria), transformada em conceito singular absorve, por outro lado, problemas de identidade institucional gerados pela diferena presente nos dois universos externos ao centro nuclear. Tais diferenas, entendidas como dificuldades, podem ser exemplificadas pelo prprio papel exercido pela biblioteca dentro da universidade, uma vez que as bibliotecas universitrias no se dedicam, de maneira exclusiva, nem ao ensino nem administrao da universidade, de modo que no se encaixam nem nas funes docentes nem nas administrativas. Na verdade, elas so um misto das duas, pois no s administram o patrimnio informacional da universidade (incluindo-se seu aspecto fsico) como exercem uma funo educativa, ao orientar os usurios na utilizao da informao para atingir suas metas, seja com seu prprio acervo, ou seja com o de outras bibliotecas. Assim, por sua funo e caractersticas, a biblioteca acaba tendo um lugar peculiar dentro da universidade.

Deste modo, um estudo analtico da relao destas duas agncias s pode ser desenvolvido se levarmos em considerao o contexto social, econmico, poltico e cultural em que foram criadas e vm se desenvolvendo. A utilizao das bibliotecas pelas universidades determinou mudanas e transformaes em ambas. Estas alteraes, no caso das bibliotecas, podem ser observadas na composio de seus acervos, bem como na natureza de sua estrutura, organizao e funcionamento. Vale ainda lembrar que as bibliotecas, por serem anteriores ao surgimento das universidades, possuem uma experincia mais consolidada de adaptao s mudanas sociais.

3 CONSIDERAES TERICAS SOBRE OS MODELOS ESTRUTURAIS E FUNCIONAIS DE BIBLIOTECAS UNIVERSITRIAS

O modelo adotado para a universidade brasileira e para suas bibliotecas determinou mudanas e transformaes em ambas e, como marco fundamental dessa discusso nas ltimas dcadas, pode-se citar a criao, em 1986, do Programa Nacional de Bibliotecas Universitrias - PNBU. Ao longo dos ltimos 12 anos, a partir das propostas geradas pelo PNBU, as bibliotecas universitrias se estruturam, reestruturaram-se, chegando ao final da dcada de 90 com condies de desenvolver propostas de modernizao com maior maturidade.

Em um dos projetos coordenados por Mercadante, Chastinet menciona que, desde a sua criao, o PNBU vinha recebendo solicitaes sobre a maneira mais adequada de estruturar-se as bibliotecas universitrias, com vistas melhoria dos servios prestados aos usurios. A meta do projeto coordenado por Mercadante era a de chegar-se a propostas de modelos organizacionais e de critrios que orientassem a definio de nveis de centralizao/ descentralizao das funes da biblioteca. Embora tal meta no tenha sido atingida, uma srie de recomendaes foi encaminhada s Instituies de Ensino Superior o que, sem dvida, proporcionou o incio de uma relao mais produtiva entre as chefias das bibliotecas e a administrao superior das universidades.

Ainda em Mercadante, A escolha de estruturas organizacionais no se d por acaso. Tem que se considerar o aspecto histrico da instituio como um dos principais fatores determinantes da adoo de medidas de estruturao numa organizao. Isto vlido para bibliotecas universitrias porque, historicamente, a maioria delas se formou a partir de uma nica unidade, com posterior desdobramento para bibliotecas departamentais, depois setoriais e, hoje, grande parte tem uma estrutura centralizada, em forma de sistema.

O modelo sistmico foi assim sugerido como uma alternativa mais eficiente para no s estabelecer relaes mais estreitas e coordenadas entre as vrias bibliotecas de uma universidade, como tambm, e principalmente, para permitir o dilogo mais eficiente entre o Ministrio da Educao (MEC), atravs da Secretaria de Ensino Superior (SESU), com o Diretor do Sistema de Bibliotecas o qual, por recomendao do prprio MEC, deveria estar subordinado diretamente ao reitor da universidade.

A preocupao da adoo do modelo sistmico para as bibliotecas universitrias tem sua justificativa, tal como mencionou Mercadante, nas estruturas vigentes nas universidades durante as dcadas de 70 e 80, as quais vinham se desenvolvendo a partir do modelo de especializao do conhecimento, criando cursos e programas voltados para reas e temas particulares do saber, o que gerava a demanda de atendimento bibliogrfico tambm especializado.

No entanto, como afirma Dunlap, apud Um padro ou modelo de organizao s vlido enquanto subsistirem as condies que o determinaram, e somente uma boa estrutura de organizao no assegura o atendimento aos objetivos da biblioteca. ainda Mercadante quem afirma que Nenhum modelo nico de estrutura poder servir a todas as bibliotecas acadmicas; para cada instituio dever ser determinado qual o seu escopo, seus objetivos (...) preciso que se respeite a "cultura" da instituio, incluindo seu tipo, tamanho, misso, a fora de sua autoridade central, seus fundos financeiros (...) e que estejam bem determinadas as relaes entre a biblioteca e as outras unidades do "campus" e os "links" entre ela e a comunidade acadmica, sejam professores ou alunos.

Assim, no h como afirmar a priori que o modelo centralizado melhor que o descentralizado ou ao contrrio, uma vez que no s as caractersticas das universidades so diferentes como, principalmente, as caractersticas particulares de cada uma delas podem mudar, dado o carter dinmico da evoluo social. Como diz Miranda, Nunca se esgotam estudos sobre estrutura, uma vez que as organizaes esto com freqncia em fase de adaptao e/ou desenvolvimento, bem como de planejamento para renovao e criao de atividades/servios.

Desta forma, encontramo-nos no final da dcada de 90 convivendo com bibliotecas universitrias com as mais variadas estruturas organizacionais: centrais nicas, como o caso, por exemplo, da Universidade de Braslia (UnB); centrais setorializadas, como a Biblioteca da Universidade Gama Filho; descentralizadas com coordenao setorial; descentralizadas com coordenao central, como o caso da Universidade do Rio de Janeiro (Uni-Rio), entre outras.

bem verdade que, exceo da biblioteca central nica, todas as demais estruturas adotaram total ou parcialmente o modelo sistmico, sendo que em alguns casos, como o da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), independentemente da existncia de uma Biblioteca Central, que normalmente a coordenadora do Sistema de Bibliotecas, foi criado um sistema estruturalmente acima das bibliotecas, o SIBI, com a misso de coordenar e gerenciar todas as bibliotecas da universidade.

O modelo sistmico pode ser entendido como uma soluo alternativa para resolver a dicotomia dos modelos centralizado/descentralizado. Ele pode ser considerado como tendo sido o indicador, desde a dcada de 80, de que as estruturas verticalizadas presentes nos dois modelos no atendiam mais s funes das bibliotecas universitrias modernas. Dois fatos norteadores e polmicos ao mesmo tempo - a especializao e a interdisciplinaridade - indicam que as bibliotecas universitrias devem passar a considerar esses dois aspectos no como antagnicos, mas sim como eixos coordenados e, como tal, gerenciados por modelos que considerem a interseo de suas vantagens e desvantagens, obtendo um produto (modelo prprio de cada universidade) que atenda s especificidades de cada biblioteca e, ao mesmo tempo, permita a sua comunicao globalizada.

Se a matria-prima da universidade a informao e o rgo da universidade responsvel pelo gerenciamento dessa informao a biblioteca, pode-se dizer, como uma analogia ao "Ciclo da Informao", que tudo comea e termina na biblioteca. A transferncia da informao pode ser representada por um modelo que divide o universo informacional em dois segmentos: o universo scio-cultural, representado pela produo, editorao, assimilao e nova produo do conhecimento, e o universo documental, representado pelo papel que as instituies de memria documental exercem como garantia dessa transferncia e que dizem respeito s etapas de seleo e aquisio, organizao da memria documentria e disseminao da informao.

Quanto produo do conhecimento, com a mudana do paradigma da cincia, que deixa de se pautar exclusivamente pela verticalidade (especializao), se conduzindo mais no sentido da horizontalidade das abordagens transdisciplinares, as informaes produzidas pela sociedade dificilmente podem ser antecipadamente classificadas por reas de interesses, em categorias fixas e imutveis. Essas informaes so disponibilizadas por vrios segmentos do mercado produtor e no momento da procura ou busca que as intersees de significado vo ocorrer. Isto , a priori no se pode afirmar que um texto de medicina possa somente interessar aos mdicos, assim como uma foto da clonagem de ovelhas ser til apenas aos geneticistas. Os produtos informacionais so cada vez mais abundantes, interrelacionando todas as reas de interesse.

Quanto editorao, as informaes produzidas poderiam, grosso modo, ser classificadas pelo atributo do suporte em textuais, visuais, sonoras ou tridimensionais. Ou, ainda, por uma combinao dessas categorias. Na verdade, os suportes vo se desenvolvendo em funo dos avanos tecnolgicos, configurando-se a no s a diversidade como a duplicidade. Hoje temos condies de acessar uma revista cientfica em papel, em CD-ROM e at em microformas (tcnica muito utilizada nas dcadas anteriores para manuteno e reproduo de documentos) ou em arquivo eletrnico, que parece ser o meio mais rpido e de baixo custo para a disseminao da informao. Temos a possibilidade de analisar uma escultura, com todos os detalhes tcnicos, em um museu virtual, como em um museu tradicional. Um outro exemplo seria a apresentao de um vdeo sobre uma determinada tcnica cirrgica e a descrio dessa mesma tcnica em texto convencional. Os suportes so, portanto, variadssimos, e passam a se constituir em acessrios localizao da informao, ou seja, fazem parte do universo de restrio a uma estratgia de busca, exceo das pesquisas que visam ao suporte como objeto de interesse, passando o tema a ser secundrio.

Com relao assimilao, Virilio afirma que Ao lado das dimenses espao e tempo, existe hoje uma outra dimenso, que a luz. No a luz no sentido puro da claridade, da viso, do entendimento, mas a luz em sua verso de trajeto. Para Virilio, o que nos move hoje no sentido das representaes sociais no mais o espao e o tempo, mas o movimento, o trajeto, invertendo assim o conceito de velocidade da luz para a luz da velocidade. o tempo real que importa. Superao intempestiva da objetividade, depois do ser do sujeito e do ser do objeto, o intervalo do tipo luz traz luz o "ser trajeto". Este ltimo definindo a aparncia ou, mais exatamente, a trans-aparncia do que , e a questo filosfica no seria mais: a qual distncia de espao e de tempo se encontra a realidade observada?, mas, desta vez: a que potncia, ou seja, a que velocidade se encontra o objeto percebido? No mais uma questo de localizao absoluta, mas de percepo relativa, a qual Virilio nomeia de energia cinemtica da relatividade.

Quanto mais veloz a apresentao dos produtos sociedade, mais rpido estes ficam obsoletos. Assim, a estruturao de uma memria documentria tanto mais eficiente quanto mais veloz for a capacidade do sistema de absorver, organizar e difundir informaes.

O sentimento predominante da sociedade atual pode ser caracterizado pela ansiedade de informao. Ansiedade no sentido de saber que existe uma informao relevante e no conseguir acess-la em tempo hbil. Ou, produzir uma informao importante e no conseguir disponibiliz-la. O volume de informaes produzidas, no seus mais variados suportes e a velocidade com que entram e saem do sistema, nos leva a refletir sobre as estratgicas de localizao e disseminao dessas informaes. No momento de selecionar aquelas informaes relevantes, certamente vamos precisar de atalhos, ou filtros. Hoje nos valemos de pginas de ndices temticos, organizadas em sistema hipertexto, que nada mais so do que uma sucesso de filtros ou de atalhos pelos quais o usurio vai selecionando o caminho mais propcio localizao de uma dada informao. Tais atalhos visam, portanto, a diminuir a ansiedade de informao, facilitando o acesso mais rpido aos contedos que venham a satisfazer a uma determinada necessidade de informao.

No entanto, o processo de disseminao da informao no exclusivo ao modelo de organizao e recuperao. Ao contrrio, faz parte da natureza humana a transmisso de informaes adquiridas para a gerao de novos conhecimentos. No passado, a tradio oral era o nico meio de armazenamento, transmisso ou difuso da informao. Segundo McGarry, para facilitar a memorizao e a evoluo, a tradio coletiva era conservada na poesia ou na prosa rtmica e os mitos e lendas eram usados como uma espcie de enciclopdia tribal. Sem quaisquer outros registros paralelos para comparar, o mito, a histria e a realidade social fundem-se num s. Aps as escritas cuneiformes e hieroglficas, o alfabeto permitiu humanidade registrar e comunicar idias por meio de smbolos visuais. Embora a transmisso da informao registrada tenha possibilitado um enorme avano social, o desenvolvimento tecnolgico dos outros meios de comunicao (visual, sonoro e eletrnico) encurtou as distncias espaciais, transformando o mundo segmentado em um "centro cultural global". Embora todas essas formas de transmisso ainda hoje convivam paralelamente, o fato

que, do ponto de vista das instituies que armazenam informaes (j selecionadas), a disponibilizao destas no s uma tarefa social, a de garantir o direito informao, como tambm a ltima etapa do ciclo de vida do documento no segmento do universo documental. Sem a disseminao o ciclo total se rompe, impedindo as novas construes e a gerao de novos conhecimentos.

Portanto, um modelo que possa garantir o papel de produtor da informao por parte da universidade e de disseminador de informaes por parte da biblioteca deve considerar uma estrutura matricial que agregue as vantagens da descentralizao (especializao) e as vantagens da centralizao a um menor custo em recursos humanos, em recursos fsicos e materiais e em recursos tecnolgicos. Independentemente das especificidades de cada universidade, suas bibliotecas devem considerar a transformao de suas estruturas de um comando vertical (fortemente hierarquizado e, portanto repetidor de tarefas), em um comando de articulao horizontal. Um exemplo dessa tendncia em outros campos do conhecimento o da administrao de atividades por projetos, que privilegia o atingimento de metas especficas a partir do esforo integrado (horizontal) de toda a estrutura organizacional da instituio.

4 RECOMENDAES OU PONTOS A CONSIDERAR NOS PROGRAMAS DE DESENVOLVIMENTO E MODERNIZAO DAS BIBLIOTECAS UNIVERSITRIAS

Sem abandonar ainda o modelo sistmico, norteador das condutas organizacionais e paradigma da Cincia da Informao, a conscincia de uma nova postura para a administrao de nossas bibliotecas universitrias deve considerar trs pontos fundamentais:

1. O carter disciplinar/interdisciplinar da academia;

2. As condies da estrutura e da cultura organizacional da instituio e

3. As novas ofertas tecnolgicas para o processamento e disseminao da informao.

No primeiro caso, pode-se afirmar que a especializao se traduz em um crescente aprofundamento do conhecimento e em fontes de informao cada vez mais verticalizadas e numerosas, de modo que o usurio necessita de um atendimento personalizado e de profissionais da informao especialistas naquela rea, a fim de satisfazer suas necessidades informacionais e de manter um constante relacionamento com organismos produtores e disseminadores de conhecimentos especficos em cada campo do saber.

Por outro lado, a interdisciplinaridade, a transdisciplinaridade e a multidisciplinaridade que hoje norteiam o conhecimento devem ser vistas e analisadas como nova perspectiva e uma nova opo de modelo para bibliotecas universitrias. A interdisciplinaridade considera um discurso nico, buscando um consenso nas vrias reas do saber, o que a diferencia da transdisciplinaridade, a qual respeita as diferenas disciplinares, buscando as intersees nas reas do conhecimento; j a multidisciplinaridade transita nas teorias e metodologias de uma disciplina a outra, importando modelos ou incorporando novas experincias. Tais abordagens vm sendo objeto de estudo em vrios campos do saber, como, por exemplo, na rea da sade, que h muito vem colocando em prtica essas vises. Se essas novas tendncias vm afetando toda a sociedade produtora de conhecimentos, a Cincia da Informao no pode exclu-las de seus modelos, principalmente aqueles que esto diretamente ligados s reas acadmicas, como o caso das bibliotecas universitrias, vistas como agncias de comunicao e sofrendo a interferncia direta da sociedade na qual esto inseridas.

As bibliotecas universitrias, embora vinculadas ao modelo e administrao das universidades, acabam se transformando, no de acordo com o modelo institucional, mas com a dinmica da academia. Para as cincias humanas isso fator preponderante, pois no se pode estudar a Histria sem que a Sociologia, a Antropologia, as Artes e outras manifestaes culturais sejam observadas, da mesma maneira que as Artes no podem se restringir ao estudo apenas dos grandes pintores, dos clssicos do Teatro, dos mais clebres compositores, sem a preocupao de conhecer e entender o comprometimento desses personagens com as sociedades nas quais viveram, j que suas obras sofreram, certamente, a influncia dessa sociedade e de seu tempo.

Na dialtica da disciplinaridade/interdisciplinaridade, no h como invalidar a importncia das especialidades, como acontecia no passado, quando se buscava a universalizao do saber, a exemplo dos enciclopedistas na poca do Iluminismo. Sabe-se que impossvel algum dominar profundamente todo o conhecimento, mas sabe-se tambm que as especialidades no existem isoladas, isto , para conhecer-se bem um determinado campo do saber necessrio perspectiv-lo a partir de uma viso holstica, posto que o isolamento do saber por si s no contribuir para o avano do conhecimento como um todo.

Atualmente, as vrias reas do conhecimento transitam em caminhos de mo dupla, evoluindo desde a separao do saber iniciada principalmente por Kant at a convivncia com as diferenas defendida por Habermasquando diz que ... no atual estgio de diferenciao e especializao das Cincias Sociais, dificilmente algum h de poder "dominar" vrias dessas disciplinas, muito menos todas elas. Por outro lado, Foucault, comentado por Machado, demonstra a viabilidade do trnsito disciplinar quando inova metodologicamente no relato da sua obra Histria da Loucura, estabelecendo relaes entre os saberes numa multiplicidade de recortes discursivos e no lineares. O objetivo da anlise estabelecer relaes entre os saberes para que destas relaes surjam, em uma mesma poca ou em pocas diferentes, compatibilidades e incompatibilidades que no sancionam ou invalidam, mas estabelecem regularidades, permitem individualizar formaes discursivas.

Assim, a partir dcada de 80 que comea a despontar um novo caminho para o saber, que no o do conhecimento global nem do especfico, mas do conhecimento que transita em vrios campos, pocas e espaos como conseqncia de uma estratgia de construo operada pelo pesquisador.

Seguindo esta nova perspectiva, as bibliotecas universitrias devem acompanhar as novas necessidades dos profissionais que atendem, iniciando por uma reavaliao de suas estruturas e funes, buscando novos modelos menos fechados e limitados a determinados ramos do saber. Na verdade, desejvel que o bibliotecrio seja ao mesmo tempo especializado, a fim de atender a demandas especficas, e generalista, a fim de poder transitar nessas reas de interface, alm de ser capaz de situar aquela informao especfica em um contexto informacional e cultural maior, sem o que a informao especfica perde seu valor.

O segundo ponto a ser levado em considerao o que diz respeito s condies da estrutura e da cultura organizacional da instituio. O fator estrutural problematizante , sem dvida, a crescente falta de recursos das instituies de ensino superior, o que torna cada vez mais difcil manter um padro mnimo de gerenciamento, processamento de acervo e atendimento ao usurio, quanto mais transformar a biblioteca em um rgo que atenda s necessidades dos novos tempos. Sem contar com a influncia da pesada estrutura verticalizante de nossas universidades, que propicia uma demora considervel na adequao a mudanas. Este ltimo ponto, agravado na atualidade, j era objeto de preocupao quando da criao do PNBU em 1986. Chastinet j afirmava em 1988 que os acervos das bibliotecas eram deficientes, no havia recursos prprios alocados a cada biblioteca, os recursos para aquisio de material bibliogrfico provinham de fontes externas de financiamento, e que a crise financeira da poca acabaria por desmontar as bibliotecas universitrias do pas.

A poltica econmica atual e, principalmente, a poltica de reestruturao do Servio Pblico, j esto obrigando as bibliotecas universitrias a repensar seus modelos estruturais-funcionais, a fim de continuar prestando os servios informacionais essenciais comunidade acadmica e de criar meios para moderniz-los.

Quanto cultura organizacional, h uma srie de aspectos a considerar ao se ponderar sobre qual a melhor estrutura para as bibliotecas de uma instituio de ensino superior. Em primeiro lugar, a biblioteca deve suprir as necessidades informacionais dos cursos oferecidos pela universidade, alm de resguardar a produo intelectual da instituio. Ela tanto a fonte para a produo de novos trabalhos quanto o receptculo do produto desses trabalhos, alm de oferecer ao pesquisador acesso a alternativas que se encontrem em acervos externos universidade e de oferecer a outras instituies acesso a seu prprio acervo. Ou seja, ela no s armazena a informao como cria uma rede dinmica para que ela circule.

Por outro lado, falta de identidade da biblioteca na cultura organizacional da universidade (ela geralmente considerada rgo suplementar) causa uma certa estranheza por parte dos outros rgos integrantes da universidade, levando, muitas vezes, a um certo distanciamento, que prejudica tanto a eficincia da biblioteca quanto a definio da estrutura mais adequada para o gerenciamento do patrimnio informacional da universidade. Pode haver, por exemplo, uma certa dificuldade para escolher a estrutura que as bibliotecas tomaro a fim de melhor atender s demandas das Escolas ou Cursos, j que para isso preciso considerar as necessidades, histrias e peculiaridades de cada um, colocando, ao mesmo tempo, esses fatores dentro da estrutura da universidade como um todo. tambm necessrio vencer as resistncias e trabalhar em conjunto com essas unidades organizacionais da universidade.

O terceiro ponto a ser levado em considerao o da oferta tecnolgica para o gerenciamento das atividades e aes da biblioteca universitria. Embora possa parecer que este aspecto diga respeito apenas a uma poltica modernizadora, o fato que a escolha do aparato informtico, software, hardware e conectores (redes e sistemas) certamente implicar uma mudana estrutural e funcional, no s da biblioteca como tambm de outras unidades acadmicas e administrativas com as quais a biblioteca interage na obteno e troca de informaes. O planejamento da modernizao para o processamento e a disseminao da informao deve considerar, portanto, todas as questes levantadas nos pontos anteriores e em especial as projees de desenvolvimento e modernizao da universidade. No s uma questo de custo-benefcio a curto prazo, mas de autonomia gerencial e capacidade de integrao com a sociedade da informao. 5 CONCLUSO

Em suma, no momento de escolher qual o melhor modelo para suas bibliotecas, cada instituio deve levar em conta suas caractersticas, sua histria, seu desejo de interagir com outras instituies similares e sua capacidade de adequao ao momento histrico e a seu local de atuao. discutvel que, em um mundo que se transforma cada vez mais rapidamente e em que existe uma tal variedade de situaes e necessidades, seja possvel impor um nico modelo estrutural para as bibliotecas universitrias. A questo principal o papel que a biblioteca deve assumir para atender s demandas de seus usurios. O modelo escolhido, seja o centralizado, o descentralizado ou qualquer outro, deve considerar o equilbrio entre as necessidades informacionais de seus usurios, as caractersticas da universidade de que faz parte e o papel da biblioteca na instituio. Alm disso, no deve ser esquecida a dinmica moderna das estruturas complexas, de tal sorte que os seus eixos verticais possam ser atenuados pela leveza, rapidez, exatido, visibilidade, multiplicidade e consistncia presentes na horizontalidade das aes gerenciais.

Nenhuma biblioteca igual a outra, por isso devem ser respeitadas suas diferenas. Assim, objetivos devem se ajustar as realidades especficas, e tal como em Miranda, Esta a essncia mesma de qualquer instituio democrtica: a de ajustar-se a um plano diretor ou a um sistema geral sem perder de vista os seus prprios objetivos, sem renunciar a satisfazeras necessidades peculiares de seus prprios usurios.

ABSTRACT

It discusses the structural and functional models adopted by brazilian universities libraries, taking into account the theoretical fundaments, the historical evolution of the libraries-universities relationship and the modernization attempts of the eighties, focusing at the systematic model as an alternative solution to solve the specialization/interdisciplinarity dichotomy and indicating the points that shall de taken into consideration in the choice of the most appropriate model.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

BUFFA, Ester. Educao e cidadania burguesa. So Paulo : Cortez, 1993.

CALVINO, Italo. Seis propostas para o prximo milnio. So Paulo : Companhia das Letras, 1990.

CHARLE, Christophe, VERGER, J. Histria das universidades. So Paulo : UNESP, 1996.

CHASTINET, Yone. Bibliotecas das instituies de ensino superior: remontar ou desmontar. Braslia, PNBU, 1988.

FOUCAULT, Michel. Microfsica do poder. Rio de Janeiro : Graal, 1996.

GOMES, S. Conti. Bibliotecas e sociedades na Primeira Repblica. So Paulo : Pioneira, 1983.

HABERMAS, Jrgen. Mudana estrutural da esfera pblica. Rio de Janeiro : Tempo Brasileiro, 1984.

MARTINS, Wilson. A palavra escrita. So Paulo : tica, 1996.

MARTINS, Wilson. A palavra escrita. So Paulo : Anhembi, 1957.

McGARRY, K. J. Da documentao informao : um contexto em evoluo. Lisboa : Editorial Reserva, 1984.

MERCADANTE, Leila M. Z. (Coord.). Anlise dos modelos organizacionais de bibliotecas universitrias nacionais. Braslia : PNBU, 1990.

MIRANDA, Antnio. A misso da biblioteca pblica no Brasil. R. Bibliotecon. Braslia, v. 6, n. 1, jan./jun. 1978.

MOSTAFA, Solange Puntel. Epistemologia da Biblioteconomia. So Paulo, 1985. Tese (Doutorado) - Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, 1985.

MUELLER, Susana P. M. Bibliotecas e sociedade : evoluo da interpretao de funo e papis da biblioteca. R. Esc. Bibliotecon. UFMG, Belo Horizonte, v. 13, n. 1, p. 7-45, mar. 1984.

RIBEIRO, Darcy. A universidade necessria. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1969.

VIRILIO, Paul. A mquina de viso. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1994.

SISTMICO

adjetivo

1relativo a sistema ou a sistemtica

2relativo viso conspectiva, estrutural de um sistema

3que se refere ou segue um sistema em seu conjunto

3.1disposto de modo ordenado, metdico, coerente Professor Doutor Adjunto II e Diretora do Sistema de Bibliotecas da Uni-Rio

Chefe da Biblioteca Setorial do Centro de Cincias Biolgicas e da Sade da Uni-Rio

Chefe da Biblioteca Setorial do Centro de Cincias Humanas da Uni-Rio

Chefe da Biblioteca Setorial do Centro de Letras e Artes da Uni-Rio

CALVINO, Italo. Seis propostas para o prximo milnio. So Paulo : Companhia das Letras, 1990.

MARTINS, Wilson. A palavra escrita. So Paulo : Anhembi, 1957. p. 94.

MARTINS, Wilson. A palavra escrita. So Paulo : tica, 1996. p. 71

MARTINS, Wilson. A palavra escrita. So Paulo : Anhembi, 1957. p. 94

MARTINS. op. cit p. 365

MUELLER, Susana P. M. Bibliotecas e sociedade : evoluo da interpretao de funo e papis da biblioteca. R. Esc. Bibliotecon. UFMG, Belo Horizonte, v. 13, n. 1, p. 9, mar. 1984.

GOMES, S. Conti. Bibliotecas e sociedades na Primeira Repblica. So Paulo : Pioneira, 1983. p. 15.

MOSTAFA, Solange Puntel. Epistemologia da Biblioteconomia. So Paulo , 1985. p. 34. Tese (Doutorado) - Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, 1985.

O autor usa a expresso memria racial para designar a memria da raa humana

CHARLE, Christophe, VERGER, J. Histria das universidades. So Paulo : UNESP, 1996. p. 27.

BUFFA, Ester. Educao e cidadania burguesa. So Paulo : Cortez, 1993. p. 11-29.

Trabalho dividido em partes diferentes, executadas por trabalhadores distintos. Cf, BUFFA. op. cit.. p.13.

CHARLE, VERGER. op. cit. p. 64-65.

RIBEIRO, Darcy. A universidade necessria. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1969. p. 9-12.

MERCADANTE, Leila M. Z. (Coord.). Anlise dos modelos organizacionais de bibliotecas universitrias nacionais. Braslia : PNBU, 1990.

CHASTINET, Yone. In: MERCADANTE. op. cit. Apresentao.

op. cit., p. 14.

MERCADANTE. op. cit., p. 15.

Ibidem, p. 23.

MIRANDA. apud MERCADANTE. op. cit., p. 15.

VIRILIO, Paul. A mquina de viso. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1994. p. 9.

Mc GARRY, K. J. Da documentao informao : um contexto em evoluo. Lisboa : Editorial Reserva, 1984. p. 43, 44.

Na opinio de Claude Levi-Strauss, a diferena essencial entre sociedades com escrita e sociedades sem escrita que as primeiras so pluralistas e contm sempre mais de um ponto de vista, mais de uma possibilidade de ao. As sociedades primitivas, ou sem escrita, tendem a ser monolticas; os modos de fazer vigentes no so postos em questo e a tradio fornece definitivamente o plano de como as coisas devem fazer-se. O pluralismo cria tenso e debate e desencadeia o futuro.

HABERMAS, Jrgen. Mudana estrutural da esfera pblica. Rio de Janeiro : Tempo Brasileiro, 1984. p. 9

MACHADO, Roberto. Por uma genealogia do poder. In: FOUCAULT, Michel. Microfsica do poder. Rio de Janeiro : Graal, 1996. p. vii.

ibidem, p. viii.

CHASTINET, Yone. Bibliotecas das instituies de ensino superior: remontar ou desmontar. Braslia : PNBU, 1988. p.8.

cf., RIBEIRO, Darcy. op. cit.

MIRANDA, A. A misso da biblioteca pblica no Brasil. R. Bibliotecon. Braslia, v. 6, n. 1, 1978. p. 6