Bibliologia 2012 Eduardo

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Apostila de Bibliologia 1 Prof. Eduardo Sousa Bel. em Teologia – Pós-graduando em Teologia Bíblica (98) 9135 2769 - 8818 8931 [email protected] SUMÁRIO página 1. Introdução ....................................................................................................................01 2. Composição Bíblica .....................................................................................................01 3. Revelação .....................................................................................................................02 4. Inspiração .....................................................................................................................05 5. Inerrância ......................................................................................................................10 6. O Cânon Bíblico ...........................................................................................................11 7. O Material da Bíblia .....................................................................................................19 8. Preservação ..................................................................................................................21 9. Línguas Originais .........................................................................................................22 10. Traduções da Bíblia ....................................................................................................25 Bibliografia Consultada ...................................................................................................29 1. INTRODUÇÃO Etimologicamente, o termo Bíblia é o plural da palavra grega Biblos, ou a forma diminutiva biblion, mais utilizada no Novo Testamento. No princípio, significava qualquer tipo de documento escrito: rolo, códice, carta, etc. Na versão dos LXX e nas fontes judaicas e cristãs, o termo “livro sagrado” ou o plural hierai bibloi designava o Pentateuco ou o conjunto do Antigo Testamento. Os cristãos utilizavam o termo grego plural “ta bíblia” e o derivado latim “bíblia” para designar as Escrituras hebraicas. Na Idade Média, utilizou-se o termo em latim bíblia. O Novo Testamento utiliza o termo no plural “Escrituras” para se referir à Escritura do Antigo Testamento como um todo (At 17.11). Também se faz uso do vocábulo “Escritura”, no singular, para se referir à determinada passagem (Jo 19.24). Mesmo contendo diversos livros, a Bíblia apresenta uma unidade na diversidade. As Bíblias católicas e protestantes contêm duas grandes partes: o Antigo e o Novo Testamento. Já as Escrituras judaicas constam apenas do Antigo. A palavra “testamento” não se relaciona ao legado, mas à aliança – firmada com testemunhas – entre Deus e o povo. 2. COMPOSIÇÃO BÍBLICA Divisão A Bíblia se divide em duas partes principais: Antigo Testamento (A.T.) e Novo Testamento (N.T.).

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SUMÁRIO

página

1. Introdução ....................................................................................................................01

2. Composição Bíblica .....................................................................................................01

3. Revelação .....................................................................................................................02

4. Inspiração .....................................................................................................................05

5. Inerrância ......................................................................................................................10

6. O Cânon Bíblico ...........................................................................................................11

7. O Material da Bíblia .....................................................................................................19

8. Preservação ..................................................................................................................21

9. Línguas Originais .........................................................................................................22

10. Traduções da Bíblia ....................................................................................................25

Bibliografia Consultada ...................................................................................................29

1. INTRODUÇÃO

Etimologicamente, o termo Bíblia é o plural da palavra grega Biblos, ou a forma diminutiva biblion, mais utilizada no Novo Testamento. No princípio, significava qualquer tipo de documento escrito: rolo, códice, carta, etc. Na versão dos LXX e nas fontes judaicas e cristãs, o termo “livro sagrado” ou o plural hierai bibloi designava o Pentateuco ou o conjunto do Antigo Testamento.

Os cristãos utilizavam o termo grego plural “ta bíblia” e o derivado latim “bíblia” para designar as Escrituras hebraicas. Na Idade Média, utilizou-se o termo em latim bíblia. O Novo Testamento utiliza o termo no plural “Escrituras” para se referir à Escritura do Antigo Testamento como um todo (At 17.11). Também se faz uso do vocábulo “Escritura”, no singular, para se referir à determinada passagem (Jo 19.24).

Mesmo contendo diversos livros, a Bíblia apresenta uma unidade na diversidade. As Bíblias católicas e protestantes contêm duas grandes partes: o Antigo e o Novo Testamento. Já as Escrituras judaicas constam apenas do Antigo. A palavra “testamento” não se relaciona ao legado, mas à aliança – firmada com testemunhas – entre Deus e o povo.

2. COMPOSIÇÃO BÍBLICA

Divisão A Bíblia se divide em duas partes principais: Antigo Testamento (A.T.) e Novo Testamento

(N.T.).

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Os livros

A Bíblia contém 66 livros ao total. São 39 no Antigo Testamento e 27 no Novo Testamento.

Capítulos A Bíblia contém 1.189 capítulos: 929 no A.T. e 260 no N.T. A divisão em capítulos se deu

em 1250 d.C., por um estudante das Escrituras chamado Hugo Saint Cher.

Versículos A Bíblia contém 31.173 versículos: 23.214 no Antigo Testamento e 7.959 no Novo

Testamento. A divisão em versículos aconteceu em duas etapas: 1) O responsável por dividir o A.T. em versículos foi o rabi Nathan, no ano de 1445. 2) Os versículos do N.T. ficaram a cargo de Robert Stevens, no ano de 1551.

Autores

A Bíblia foi escrita por aproximadamente 40 autores, em diferentes épocas. Num período aproximado de 16 séculos.

3. REVELAÇÃO

O homem é um ser finito, limitado pelo espaço e o tempo, que sempre viveu intimidado pelas forças da natureza e pelo medo da morte, duas grandes ameaças para as limitações humanas. Então surge uma questão: onde encontrar explicações que satisfaçam a inquietude da alma? Como evitar a frustração diante dos mistérios e das incertezas do futuro?

Deus É e tem as respostas, pois Ele tudo criou e tudo sustenta desde a eternidade. Então como pode o homem conhecer a Deus e se beneficiar deste relacionamento? Simples. Através de sua Revelação.

Não existe outra forma de o homem finito conhecer o Deus infinito, a não ser através da Revelação. Mas como Deus se revela?

O Senhor em sua infinita misericórdia, querendo revelar-se ao homem e prepará-lo para receber o seu Filho, inspirou os seus servos profetas para escreverem as Suas palavras. Assim, a Bíblia é a Revelação de Deus no seu trato com a humanidade. Para podermos entender a Bíblia como a Revelação de Deus é necessária a compreensão do que é revelação.

Revelação - No Antigo Testamento a palavra usada é Galah. No Novo Testamento, é Apocalipse. Ambas significam revelação e fazem referência a uma verdade, um fato ou uma pessoa escondida que pode ser conhecida ou trazida à luz. Em português, a raiz da palavra “revelação” significa “tirar o véu” ou “descobrir” e tem o sentido de remover a cobertura e descobrir o que está oculto.

Revelação nada mais é do que a automanifestação de Deus, o ato de Deus se tornar conhecido do homem. Então, não podemos conhecer a Deus por meio de especulações. Se quisermos conhecê-Lo de verdade, temos que depender daquilo que Ele revela sobre Si mesmo. Classificação da Revelação

Segundo o teólogo L. Berkof, em sua obra Systematic Theology, “o cristão aceita a verdade da existência de Deus pela fé. Porém, esta não é uma fé cega, mas baseada numa evidência, e esta evidência é encontrada primeiramente na Escritura Sagrada, Palavra inspirada de Deus, e

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secundariamente na revelação divina através da natureza (p. 21)”. Existem duas formas básicas de Revelação:

Revelação Geral Deus como Criador se revela a todos os homens de todos os tempos, através da Revelação

Geral. Ele se automanifesta por meio da Natureza, da História e da Consciência do homem.

Revelação de Deus na Natureza Por Natureza entendemos a ordem física criada, ou seja, os fenômenos naturais, sol, chuva,

plantas, os animais, o próprio homem, o Universo, etc. Tudo que está relacionado à criação, manifesta a ação de Deus como Criador de todas as coisas. Percebemos isso através de várias passagens bíblicas.

- Salmos (8.1,3; 19. 1-3); - Isaías (40.12-14, 26, 28); - Novo Testamento (At 14.15-17; Rm 1.19, 20); Estes textos deixam claro que Deus nos ofereceu provas a respeito de Si mesmo no mundo

que criou. Como bem disse Millard J. Erickson em sua obra de Introdução à Teologia Sistemática: “A pessoa que vê um pôr-do-sol e um estudante de biologia que disseca um organismo complexo estão expostos a indicações da grandeza de Deus”.

Vale salientar que esta revelação é insuficiente para a salvação, entretanto tem como objetivo incitar o homem a buscar uma revelação mais plena de Deus.

Revelação de Deus na História Seguramente nenhum homem de discernimento pode questionar o fato de que os resultados

de guerras recentes no mundo tenham sido também uma manifestação de Deus na História. Assim, podemos falar das derrotas das nações corruptas da Antigüidade (Dt 9.4) por parte de nações mais fortes e retas. Embora a nação conquistadora também fosse má, estas ainda não tinham chegado à “medida da iniqüidade” que as nações conquistadas tinham chegado. A Bíblia nos afirma que os destinos dos reis e impérios estão nas mãos de Deus (Sl 75.6,7 cf. Rm 13.1; At 17, 26, 27). Concordando com isto, o sistema cristão encontra na História uma revelação de poder e da providência de Deus. A Bíblia fala igualmente de como Deus trata com as nações corruptas e ímpias.

- Egito (Êx 9.13-17; Jr 46. 14-26; Rm 9.17); - Assíria (Is 10. 5-19; Ez 31. 1-14; Na 3. 1-7); - Babilônia (Jr 50. 1-16; 51. 1-14); - Medo-Persa (Is 44. 24-45.7); - Medo-Persa e Grécia (Dn 8. 1-8; 15-21); - Os quatro reinos (Dn 8.9-14, 22-25; 11. 5-35) vieram depois da queda do Império de

Alexandre; - Império Romano (Dn 7.7, 23). Revelação de Deus na Consciência do homem Deus se revela diretamente à personalidade ou consciência do ser humano. Para este estudo,

considera-se consciência como a capacidade que o homem tem de conhecer valores e mandamentos morais, e aplicá-los em diferentes situações.

Na religião, consciência é o testemunho do nosso espírito aprovando ou reprovando os nossos atos. O termo aparece duas vezes no A.T. e trinta e uma vezes no N.T. A consciência julga de acordo com um padrão que lhe foi atribuído. E o conhecimento vem através da percepção.

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Convém notar que há três elementos essenciais na percepção: Quem percebe/ a coisa percebida/ o ato de perceber.

Todas as percepções que os homens têm de um ser superior provam que há um Deus, pois não de pode ter percepção do que não existe. A percepção de Deus é a mais comum ao homem, logo Deus existe.

Todas as pessoas têm conhecimento de Deus, porém a dureza dos corações e o prazer no pecado impedem que elas aceitem esta revelação e se entreguem a um relacionamento de comunhão com o Criador.

Desta forma, por causa da Revelação Geral todos são responsáveis perante Deus, ainda que não tenham ouvido a mensagem do Evangelho de forma plena (Rm 1.20).

Revelação Especial

Por Revelação Especial, entendemos que é uma revelação mais detalhada, específica, refletiva e pessoal. Haja vista que o homem não conseguiu chegar a Deus e nem buscá-lo através da Revelação Geral, Deus na Revelação Especial vem em busca do homem. Esta revelação é dividida de duas maneiras:

Através do seu Filho bendito e unigênito Através de quem o seu amor se tornou visível, palpável e onde Sua graça é sentida e o Seu

perdão é recebido. Através da encarnação de Jesus, Deus materializou o seu amor, para que o homem pudesse corresponder de forma positiva ao seu próprio amor, chegando ao pleno conhecimento do seu propósito redentor.

Através de eventos miraculosos Deus atuando no mundo de maneiras históricas, concretas e “impossíveis”. Exemplos:

• Chamada de Abrãao (Gn 12); • Nascimento de Isaque (Gn 21); • Páscoa (Êx 12); • Travessia do Mar Vermelho (Êx 14).

Através de comunicações divinas A revelação de Deus por meio da linguagem humana. Exemplos:

• Linguagem audível: Deus falando a Adão no Éden (Gn 2.16) e a Samuel no templo (1Sm 3.4);

• O ofício profético (Dt 18.15-18); • Sonhos (Daniel, José); • Visões (Ezequiel, Zacarias, João no Apocalipse).

Através da Sua Palavra Deus se revela por sua própria Palavra, para deixar registrado como testemunho ao homem

do passado, do presente e do futuro a iniciativa de Deus em buscar o homem e as muitas formas e maneiras que Ele se manifestou através da vida, da morte e ressurreição de Seu Filho quando Este esteve entre os homens.

Este testemunho é aplicado em duas direções. Uma a favor dos que aceitam a vontade de Deus expressa na sua Palavra. A outra contra os que rejeitam os fatos que estão registrados nas Escrituras. Haja vista que é na Bíblia onde encontramos a Revelação Especial de Deus, é nela onde podemos seguramente encontrar Deus revelando a Si mesmo, revelando o Seu caráter, Sua pessoa, Sua vontade, Seus pensamentos e Seu Eterno Amor pelos pecadores. E toda esta forma de

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expressão é apresentada em linguagem humana, inteligível e perceptível à mente humana para que haja uma comunicação sem falhas e distorções entre Ele e o homem. Confirmação da Revelação Bíblica

As reivindicações da própria Escritura A Bíblia afirma ser não apenas uma revelação da parte de Deus, mas também um registro

infalível dessa revelação. Apresentaremos algumas provas do fato de que ela afirma ser uma revelação de Deus. No entanto, enfrentemos já de início a objeção de que é inadmissível recorrer ao seu próprio testemunho para provar que é uma revelação divina. Será que o testemunho não ficaria sob suspeita? Respondemos que não.

Se pudermos provar a autenticidade dos livros da Bíblia e a verdade das coisas que eles relatam a respeito de outros assuntos, então estaremos justificados em aceitar seu testemunho em favor de si própria.

Temos freqüentemente declarações como estas no Pentateuco: “Disse o Senhor a Moisés” (Êx 14.1, 15, 26; 16,4; Lv 1.1; 4.1; 11.1; Nm 4.1; 13.1; Dt 32.48). Ele recebeu ordens de escrever o que Deus lhe disse em um livro (Êx 17.14; 34.27) e sabemos que ele assim o fez (Êx 24.4; 34.28; Nm 33.2; Dt 31.9, 22, 24).

Também assim nos dizem os profetas: “O Senhor é quem fala” (Is 1.2); “Disse o Senhor a Isaías” (Is 7.3); “Mas agora assim diz o Senhor” (Is 43.1); “Palavra que veio a Jeremias da parte do Senhor, dizendo” (Jr 11.1); “Veio expressamente a Palavra do Senhor a Ezequiel” (Ez 1.3); “Palavra do Senhor, que foi dirigida a Oséias” (Os 1.1); “Palavra do Senhor, que foi dirigida a Joel” (Jl 1.1).

Afirma-se que estas declarações ocorrem mais de 3.800 vezes no A.T. Os escritores do N.T. afirmam, da mesma maneira, que elas são a mensagem de Deus.

Paulo afirma que as coisas que ele escreveu eram mandamentos de Deus (1Co 14.37); que os homens deviam aceitar como a própria Palavra de Deus, aquilo que ele pregava (1Ts 2.13); que a salvação dos homens depende da fé nas doutrinas que ele ensinava (Gl 1.8).

João ensinava que seu depoimento era o testemunho de Deus (1Jo 5.10). Pedro deseja que seus leitores se lembrem das palavras que anteriormente foram ditas pelos santos profetas, bem como do mandamento do Senhor Salvador, ensinado pelos apóstolos (2Pe 3.2). E o autor de Hebreus prediz um castigo mais severo para aqueles que rejeitarem a mensagem que fora confirmada a ele por aqueles que a ouviram (Hb 2. 1-4).

A Genuinidade Quando aceitamos o fato que na Bíblia temos a palavra escrita de uma revelação divina,

ficamos imediatamente interessados na natureza dos documentos que transmitem a revelação. Assim, desejamos saber se os diversos livros da Bíblia são genuínos, dignos de crédito e canônicos.

Algumas pessoas usam o termo “autenticidade”, mas o uso corrente prefere o termo genuinidade. Os dois têm realmente o mesmo significado. Com genuinidade queremos dizer que um livro é escrito pela pessoa ou pessoas cujo nome ele leva, ou, se anônimo, pela pessoa ou pessoas a quem a tradição antiga o atribui. Diz-se que um livro é espúrio se não tiver sido escrito na época que lhe é atribuída.

4. INSPIRAÇÃO

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A característica mais importante da Bíblia não é sua estrutura e sua forma, mas o fato de ter sido inspirada por Deus. Não se deve interpretar de modo errôneo a declaração da própria Bíblia a favor da inspiração. Quando falamos de inspiração, não se trata de inspiração poética, mas de autoridade divina.

Não podemos confundir Revelação com Inspiração. Enquanto Revelação é o ato pelo qual Deus torna-se conhecido pelos homens, a Inspiração diz respeito ao modo como os homens recebem e transmitem essa revelação.

A palavra inspiração vem do latim, e significa “respirar para dentro”. Ela é usada pela ARC (Almeida Revista e Corrigida) somente duas vezes no N.T. e uma no Antigo (Jó 32.8).

As Escrituras tanto falam da inspiração do escritor quanto da inspiração do escrito: um é o agente, o outro é o efeito. Por exemplo, o texto de 2Timóteo 3.16: “Toda Escritura é divinamente inspirada”, faz referência ao escrito como inspirado. Em 2Pedro 1.21: “Homens santos de Deus falaram inspirados pelos Espírito Santo”.

Assim escreveu Paulo a Timóteo: “Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, redargüir, corrigir e instruir em justiça” (2Tm 3.16). Em outras palavras, o texto sagrado do A.T. foi “soprado por Deus” (gr. theopneustos) e, por isso, dotado de autoridade divina para o pensamento e para a vida do crente. A passagem correlata de 1Coríntios 2.13 realça a mesma verdade. “Disto também falamos”, escreveu Paulo, “não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais”. Quaisquer palavras ensinadas pelo Espírito Santo são palavras divinamente inspiradas.

A segunda grande passagem do Novo Testamento a respeito da inspiração da Bíblia está em 2Pedro 1.21. “Pois a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens santos da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo”. Em outras palavras, os profetas eram homens cujas mensagens não se originaram de seus próprios impulsos, mas foram “sopradas pelo Espírito”. Pela revelação, Deus falou aos profetas de muitas maneiras (Hb 1.1): mediante anjos, visões, sonhos, vozes e milagres.

Inspiração é a forma pela qual Deus falou aos homens mediante os profetas. Mais um sinal de que as palavras dos profetas não partiam deles próprios, mas de Deus, é o fato de eles sondarem seus próprios escritos a fim de verificar “qual o tempo ou qual a ocasião que o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos que a Cristo haviam de vir e sobre as glórias que os seguiriam” (1Pe 1.11).

Fazendo uma combinação das passagens que ensinam sobre a inspiração divina, descobrimos que a Bíblia é inspirada no seguinte sentido: homens, movidos pelo Espírito Santo, escreveram palavras sopradas por Deus, as quais são as fontes de autoridade para a fé e para a prática cristã. Definição teológica da Inspiração

Quando as Escrituras falam da inspiração estão se referindo à Bíblia, ela que é inspirada, e não seus autores humanos. O adequado, então, é dizer que: o produto é inspirado, os produtores não. Os autores escreveram e falaram sobre muitas coisas, como por exemplo, quando se referiram a assuntos mundanos, pertinentes a esta vida, os quais não foram devidamente inspirados.

Todavia, visto que o Espírito Santo, conforme ensina Pedro, tomou posse dos homens que produziram os Escritos inspirados, podemos, por extensão, referir-nos à inspiração em sentido mais amplo. Tal sentido mais amplo inclui o processo total por que alguns homens, movidos pelo Espírito Santo, enunciaram e escreveram palavras emanadas da boca do Senhor, e, por isso mesmo, palavras dotadas da autoridade divina.

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É esse processo total da inspiração que contém os três elementos essenciais: a causalidade divina, a mediação profética e a autoridade escrita.

Causalidade divina Deus é a Fonte Primordial da inspiração da Bíblia. O elemento divino estimulou o elemento

humano. Primeiro Deus falou aos profetas e, em seguida, aos homens, mediante esses profetas. Deus revelou-lhes certas verdades da fé, e esses homens de Deus as registraram. O primeiro fator fundamental da doutrina da inspiração bíblica, e o mais importante, é que Deus é a fonte principal e a causa primeira da verdade bíblica. No entanto, não é esse o único fator.

Mediação profética Os profetas que escreveram as Escrituras não eram autômatos. Eram algo mais que meros

secretários preparados para anotar o que se lhes ditava. Escreveram segundo a intenção total do coração, segundo a consciência que os movia no exercício normal de sua tarefa, com seus estilos literários e seus vocábulos individuais.

As personalidades dos profetas não foram violentadas por uma intrusão sobrenatural. A Bíblia que eles produziram é a Palavra de Deus, mas também é a palavra do homem. Deus usou personalidades humanas para comunicar proposições divinas. Os profetas foram a causa imediata dos textos escritos, mas Deus foi a causa principal.

Autoridade escrita O produto final da autoridade divina em operação por meio dos profetas, como

intermediários de Deus, é a autoridade escrita de que se reveste a Bíblia. A Escritura “é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, repreender, corrigir, instruir em justiça”.

A Bíblia é a última palavra no que concerne a assuntos éticos e doutrinários. Todas as controvérsias teológicas e morais devem ser trazidas ao tribunal da Palavra escrita de Deus, que falou mediante os profetas. No entanto, são os escritos proféticos e não os escritores desses Textos Sagrados que possuem e retêm a autoridade divina. Todos os profetas morreram; os escritos proféticos prosseguem.

Em suma, a definição adequada de inspiração precisa ter três fatores fundamentais: Deus, o Causador original, os homens de Deus, que serviram de instrumentos, e a autoridade escrita, ou Sagradas Escrituras, que são o produto final. Distinções importantes 1) A Inspiração em contraste com a Revelação e a Iluminação.

Há dois conceitos relacionados que nos ajudam a esclarecer, pela contraposição, o que significa inspiração, a saber a revelação e a iluminação.

• Revelação diz respeito à exposição da verdade; • Iluminação, à devida compreensão dessa verdade descoberta.

A revelação prende-se à origem da verdade e à sua transmissão; a inspiração relaciona-se com a recepção e o registro da verdade. A iluminação ocupa-se da posterior apreensão e compreensão da verdade revelada.

A iluminação não inclui responsabilidade de acrescentar algo às Escrituras (revelação) e nem inclui uma transmissão infalível na linguagem (inspiração) daquele a quem o Espírito Santo ensina.

A iluminação é diferenciada da revelação e da inspiração no fato de ser prometida a todos os crentes, pois não depende da escolha soberana, mas de ajustamento pessoal ao Espírito Santo. Além disso, a iluminação admite graus, podendo aumentar ou diminuir (Ef 1.16-18; 4.23; Cl 1.9).

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2) Inspiração dos originais, não das cópias A inspiração e a conseqüente autoridade da Bíblia não se estendem automaticamente a todas

as cópias e traduções bíblicas. Só os manuscritos originais, conhecidos por autógrafos, foram inspirados por Deus. Os erros e as mudanças efetuados nas cópias e nas traduções não podem ser atribuídos à inspiração original. Por exemplo, 2Reis 8.26 (ARC) diz que Acazias tinha 22 anos de idade quando foi coroado rei, enquanto 2Crônicas 22.2 diz que ele tinha 42 anos nesta data. Não é possível que ambas as informações estejam corretas.

O original é autorizado, no entanto a cópia errônea não tem autoridade. Outros exemplos desse tipo de erro podem ser encontrados nas atuais cópias das Escrituras (e.g., cf 1Rs 4.26 e 2Cr 9.25). Portanto, uma tradução ou cópia só é autorizada à medida que reproduz com exatidão os autógrafos.

O grandioso conteúdo doutrinário e histórico da Bíblia tem sido transmitido de geração a geração, ao longo da história, sem mudanças nem perdas substanciais.

As cópias e as traduções da Bíblia, encontradas no século XX, não detêm a inspiração original, mas contêm uma inspiração derivada, uma vez que são cópias fiéis dos autógrafos.

De uma perspectiva técnica, só os autógrafos são inspirados; todavia, para fins práticos, a Bíblia nas línguas de nossa época, por ser transmissão exata dos originais, é a Palavra de Deus.

Visto que os originais não mais existem, alguns críticos têm contestado a inerrância dos autógrafos que não podem ser examinados e nunca foram vistos. Eles perguntam como é possível afirmar que os originais não continham erro, se não podem ser examinados. A resposta é que a inerrância bíblica não é um fato conhecido empiricamente, mas uma crença baseada no ensino da Bíblia a respeito de sua inspiração, bem como baseada na natureza altamente precisa das Escrituras transmitidas e na ausência da qualquer prova em contrário.

Cumpre ressaltar também que só o que a Bíblia ensina foi inspirado por Deus e não apresenta erro; nem tudo que está escrito na Bíblia ficou isento de erro. Por exemplo, as Escrituras contêm o relato de muitos atos maus, pecaminosos, mas de modo algum ela os recomenda ou os elogia. Ao contrário, condena essas práticas malignas.

Teorias sobre a Inspiração Divina

Teorias a respeito da inspiração bíblica têm variado segundo as características de três movimentos teológicos: a ortodoxia, o modernismo e a neo-ortodoxia.

Mesmo que estas não se limitem a um único período, suas manifestações iniciais são características de três períodos sucessivos na história da Igreja.

Historicamente sempre prevaleceu a visão ortodoxa, a saber: a Bíblia é a Palavra de Deus. Surgindo o modernismo, muitos vieram a crer que a Bíblia meramente contém a Palavra de Deus. Recentemente, sob a influência do existencialismo contemporâneo, os teólogos neo-ortodoxos ensinam que a Bíblia torna-se a Palavra de Deus quando o indivíduo tem um encontro pessoal com Deus em suas páginas.

Teoria da Inspiração Mecânica ou do Ditado Para seus adeptos o autor bíblico é um instrumento passivo na transmissão da revelação de

Deus. A personalidade do autor é posta de lado para preservar o texto de aspectos humanos falíveis. → Objeções ao conceito: se Deus houvesse ditado a Escritura, o estilo, o vocabulário e a

redação seriam uniformes. Mas a Bíblia indica diferentes personalidades e modos de expressão nos seus escritores.

Teoria da Inspiração Parcial

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Para os que acreditam em tal teoria, a inspiração diz respeito apenas às doutrinas das Escrituras que não podiam ser conhecidas pelos autores humanos. Deus proporcionou as idéias e tendências gerais da revelação, mas deu ao autor humano, liberdade na maneira de expressá-la.

→ Objeções ao conceito: não é possível inspirar idéias gerais de modo infalível sem inspirar as palavras da Escritura. A maneira como as palavras de revelação foram dadas aos profetas e o grau de conformidade às próprias palavras da Escritura por parte de Jesus e dos escritores apostólicos indicam inspiração de todo o texto bíblico, até das palavras.

Teoria dos Graus de Inspiração Para esta teoria, certas partes da Bíblia são mais inspiradas do que outras, ou inspiradas de

modo diferente. Afirma que há inspiração em três graus. Sugestão, direção, elevação, superintendência, orientação e revelação direta são palavras usadas para classificar estes graus.

→ Objeções ao conceito: não se encontra no texto bíblico nenhuma sugestão de graus de inspiração (2Tm 3.16). Toda Escritura é incorruptível e não pode falhar. Além disso, esta teoria dá margens para especulações fantasiosas.

Teoria da Inspiração da Intuição ou Natural Para esta teoria, indivíduos talentosos dotados de excepcional percepção foram escolhidos

por Deus para escreverem a Bíblia. A inspiração é semelhante a uma habilidade artística ou a talento natural.

→ Objeções ao conceito: esta concepção torna a Bíblia não muito diferente de outras obras literárias religiosas ou filosóficas. O texto bíblico afirma que a Escritura vem de Deus por meio de homens (2Pe 1.20, 21).

Teoria da Inspiração da Iluminação ou Mística Os autores humanos foram capacitados por Deus a redigirem a Escritura. O Espírito Santo

intensificou as suas capacidades normais. → Objeções ao conceito: o ensino bíblico indica que a revelação veio por meio de

comunicações divinas especiais, e não por meio de capacidade humanas intensificadas. Os autores humanos expressam as próprias palavras de Deus, e não simplesmente as suas próprias palavras.

Teoria da Inspiração Verbal Plenária Elementos tantos divinos quanto humanos estão presentes na produção da Escritura. Todo

texto da Bíblia, inclusive as próprias palavras do autor, é um produto da mente de Deus expressos em termos e condições humanas.

→ Objeções ao conceito: se toda palavra da Escritura fosse uma palavra de Deus, então não existiria o elemento humano que se observa na Bíblia. O ensino bíblico a respeito da Inspiração

A Bíblia declara ser um livro dotado de autoridade divina, resultante de um processo pelo qual homens movidos pelo Espírito Santo escreveram textos inspirados (soprados) por Deus.

Eram homens cheios de fraquezas, dúvidas, negações e divergências. Mas quando estavam sob a atuação do Espírito de Deus, jamais falharam, pois estavam nas mãos de Deus.

Os autores dos livros históricos, por exemplo, puderam separar a verdade do erro quando buscavam as bases para suas narrativas. De fato, os livros históricos têm ensinos vitais para a nossa vida espiritual (1Co 10.11).

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Com inspiração queremos dizer que os manuscritos originais da Bíblia nos foram concedidos pela revelação de Deus, exatamente por isso, detêm a absoluta autoridade de Deus, para formar o pensamento e a vida cristã. Isso significa que tudo quanto a Bíblia ensina constitui tribunal de apelação infalível.

A inspiração é verbal O Senhor ordenou a Isaías que escrevesse num livro a mensagem eterna de Deus (Is 30.8).

Davi confessou: “O Espírito do Senhor fala por mim, e a sua Palavra está na minha boca” (2Sm 23.2). Era a Palavra do Senhor que chegava aos profetas nos tempos do Antigo Testamento. Jeremias recebeu esta ordem: “... não te esqueça de nenhuma palavra” (Jr 26.2).

Jesus e seus apóstolos ressaltaram a revelação registrada ao usar repetidamente a expressão “está escrito” (Mt 4.4, 7; Lc 24.27, 44).

No célebre sermão da montanha, Jesus declarou que não só as palavras, mas até mesmo os pequenos sinais gráficos dos Escritos vieram de Deus. “Em verdade vos digo que até que a terra e o céu passem nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido” (Mt 5.18).

Inspiração verbal significa que, na preparação das Santas Escrituras a superintendência do Espírito Santo se estende às próprias palavras empregadas. A Bíblia constantemente afirma que suas palavras foram dadas ou dirigidas pelo Espírito Santo (At 28.25; 1Co 2.13; 2Pe 1.21).

A inspiração é plena A inspiração plena da Bíblia é fato incontestável porque assuntos vitais como expiação,

salvação, ressurreição, recompensas e castigos futuros requerem a direção de um Espírito infalível a fim de se evitarem informações que levem ao erro. Inspiração plena significa que TODA a Bíblia é inspirada em todas as suas partes.

Cristo nunca fez distinção entre os livros da Bíblia quanto à origem divina e autenticidade, mas aplica a expressão “Palavra de Deus” a todo o cânon do Antigo Testamento. O mesmo fez os apóstolos (2Tm 3.16).

Na verdade, os escritores bíblicos escreveram suas mensagens com palavras de seu próprio vocabulário, porém, inspirados e influenciados pelo Espírito Santo. Ele guiou os escritores na escolha das palavras de acordo com a personalidade e o contexto cultural de cada um. Apesar de conter palavras humanas, a Bíblia é a Palavra de Deus.

Deus, ao dar aos homens o Livro Divino, escolheu e preparou para isto servos seus, dando plena inspiração pelo Espírito Santo a eles (1Pe 1.10-12; 2Pe 1.21; Jó 32.18-20, etc.). Cada autor escreveu conscientemente conforme o seu estilo e vocabulário e a sua maneira individual se de expressar, mas todos sob a influência da inspiração de Deus. Assim, as palavras, com que registraram o que receberam de Deus, foram-lhes ensinadas pelo Espírito Santo (1Co 2.13).

Esta inspiração plena atinge até as palavras usadas, inclusive a sua forma gramatical. Temos vários exemplos na Bíblia que mostram como a forma gramatical adequada, que os autores aplicaram, serviu para explicar grandes e importantes doutrinas. Leia Mateus 22.32 onde Jesus empregou o verbo “ser”, na forma de presente (Eu sou o Deus de Abraão,etc.) para provar a real existência de vida após a morte.

A teologia modernista não aceita a doutrina sobre a inspiração plenária da Bíblia. Eles concordam em aceitar que as idéias ou pensamentos da Bíblia podem ser inspirados, mas que as palavras usadas no texto são um produto de autores, os quais estão sujeitos a erros.

Outros reconhecem a Bíblia como autoridade em assuntos meramente espirituais, porém, em tudo que se relaciona com ciência, biologia, geologia ou história, por exemplo, a Bíblia não pode ser considerada uma autoridade. Eles dizem abertamente: “Errar é humano”. Para dar uma aparência de piedade e respeito às coisas de Deus eles dizem: “A Bíblia contém a Palavra de Deus, mas não é a Palavra de Deus”. Infelizmente esta crítica materialista contra a veracidade da Bíblia tem se espalhado e levado muitos a se desviarem da fé (1Tm 6.20,21).

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Negar a inspiração plena das Escrituras, portanto, é desprezar o testemunho fundamental de Jesus Cristo (Mt 5.18; 15.3-6; Lc 16.17; 24.25, 27, 44, 45; Jo 10.35), do Espírito Santo (Jo 15.26; 16.13; 1Co 2.12-13; 1Tm 4.1) e dos apóstolos (2Tm 3.16; 2Pe 1.20,21).

5. INERRÂNCIA

Inerrância não quer dizer que os escritores eram infalíveis, mas que seus escritos foram preservados de erros. Assim, inerrância significa que a verdade é transmitida em palavras que, entendidas no sentido que foram empregadas, entendidas no sentido que realmente se destinavam a ter, não expressam erro algum.

O conceito de inerrância das Escrituras contraria alguns críticos modernos que não aceitam a infalibilidade da Bíblia. Tais críticos julgam haver erros nas Escrituras em razão de encontrarem nelas palavras divinas e humanas. No entanto, as dificuldades e discordâncias encontradas, geralmente, são explicadas pelos textos paralelos encontrados em toda a Bíblia. O ensino das Escrituras não tem discrepâncias doutrinárias; é único em todo o mundo e pode ser defendido em qualquer cultura (Jo 17.17; 1Rs 17.24; Sl 119.142, 151; Pv 22.21). Teorias Evangélicas de Inerrância

Inerrância Plena A Bíblia é plenamente veraz em tudo o que ensina e afirma. Isso se estende tanto à área da

história quanto da ciência. Não significa que a Bíblia tem o propósito primário de apresentar informações exatas acerca de história e ciência. Portanto, o uso de expressões populares, aproximações e linguagens fenomênicas são reconhecidos e entendidos no sentido de cumprir com o requisito da veracidade. Assim sendo, as aparentes discrepâncias podem e devem ser harmonizadas.

Alguns proponentes desta teoria: Harold Lindsell, Roger Nicole e Millard Erickson. Inerrância Limitada A Bíblia é inerrante somente em seus ensinos doutrinários salvíficos. A Bíblia não foi criada

para ensinar as ciências matemáticas ou astronômicas, nem Deus revelou questões de história para haver maior compreensão da cultura. Assim sendo, pode conter erros.

Alguns proponentes desta teoria: Daniel Fuller, Stephen Davis e William Lasor. Inerrância de Propósito A Palavra de Deus é isenta de erros no sentido de concretizar o seu propósito primário de

levar as pessoas a uma comunhão pessoal com Cristo. Portanto, a Escritura é verdadeira (inerrante) somente na medida em que realiza o seu propósito fundamental, e não por ser factual ou precisa naquilo que assevera. (Esta concepção é semelhante à Irrelevância da Inerrância).

Alguns proponentes desta teoria: Jack Rogers e James Orr. Irrelevância da Inerrância A inerrância é substancialmente irrelevante por várias razões:

• A inerrância é um conceito negativo. A concepção da Escritura deve ser positiva; • A inerrância não é um conceito bíblico; • Na Escritura, erro é uma questão espiritual ou moral, e não intelectual; • A inerrância concentra nossa atenção nos detalhes, e não nas questões essenciais das

Escrituras;

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• A inerrância impede uma avaliação honesta das Escrituras; • A inerrância produz desunião na Igreja.

6. O CÂNON BÍBLICO Cânon ou Escrituras canônicas é a coleção completa dos livros divinamente inspirados, que

constituem a Bíblia. Esse assunto intitula-se canonicidade. Trata-se do segundo grande elo da corrente que vem de Deus até nós.

A inspiração é o meio pelo qual a Bíblia recebeu sua autoridade; a canonização é o processo pelo qual a Bíblia recebeu aceitação definitiva. Uma coisa é o profeta receber uma mensagem da parte de Deus, bem diferente é tal mensagem ser reconhecida pelo povo de Deus.

A Bíblia é um livro muito antigo. Para se ter uma idéia, o livro de Gênesis começou a ser escrito aproximadamente 1400 anos a.C. O último livro da Bíblia – Apocalipse – foi escrito perto do ano 100 da Era Cristã. Foram necessários 1500 anos para que todo o material ficasse pronto. E já se passaram mais de 2000 anos desde que seus livros começaram a circular. Mesmo assim, por mais antiga que seja sua mensagem, sempre foi atual e verdadeira.

A Bíblia foi escrita por aproximadamente 40 homens, e a Palestina foi seu berço. Logo que foram escritos, os livros começaram a circular individualmente. Mas, aos poucos, foram sendo agrupados em blocos e, mais tarde, unidos em um só volume.

O primeiro teólogo a utilizar a expressão “cânone da Igreja” foi Atanásio, no ano 367 de nossa Era, reconhecendo oficialmente os livros aceitos como padrão de fé e conduta, incluindo os do Novo Testamento. Reconhecer um livro como canônico é admitir sua autoridade em matéria de fé e prática.

Para ser autorizado e adquirir autoridade, o livro precisava ser inspirado por Deus. Não era a igreja que conferia autoridade ao livro, mas o fato de ter sido ele inspirado por Deus ou não.

A palavra “cânon” vem do grego kanon, que por sua vez derivou do hebraico kaneh que significa junco ou vara de medir (Ap 21.15), daí tomou o sentido de norma, padrão ou regra (Gl 6.16; Fp 3.16).

É importante frisar antes de tudo que nem a nação de Israel e nem a Igreja Cristã tem poder para atribuir autoridade divina ou eclesiástica aos Escritos Sagrados, mas, antes, reconhecer a característica de autoria divina dos Escritos que já possuíam tal qualidade, porque o critério primário da canonicidade é a AUTORIA DIVINA e não a aprovação humana. Etapas da formação dos livros bíblicos

Em geral os livros bíblicos passam por 3 etapas desde a sua origem até o reconhecimento como Escritura Sagrada.

Etapa da transmissão oral – Essa fase precede a escritura do livro. O conteúdo do livro

circula de maneira oral através de formas fixas de transmissão. Era a forma comum aos povos orientais. Muitas leis circulam primeiramente na forma oral; os Evangelhos representam a redação da pregação dos apóstolos sobre Jesus e a escritura dos mesmos ocorre somente a partir de 30 anos depois a morte de Jesus (Dt 6.6,7; Lc 1.1-4).

Etapa da Escritura – Nessa fase todas as tradições e pregações são colocadas na forma de

escritura regidas evidentemente por motivos, razões ou objetivos apropriados.

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Etapa de canonização – Nesse período ocorre o conhecimento e o reconhecimento da escritura como literatura autorizada. A fase começa antes mesmo dos concílios eclesiásticos, revelando a força da comunidade no processo de seleção. Um bom exemplo é a coleção das cartas de Paulo que se encontrava sedimentada quando Marcião divulgou uma das primeiras listas de livros reconhecidos da segunda metade do séc. II. No Antigo Testamento outro exemplo é o livro de Ester que foi canonizado muito mais pela utilização comunitária que propriamente pela adoção de critérios impostos. A Bíblia dos judeus

Antes de explanarmos sobre o cânon bíblico do Antigo Testamento é importante colocarmos em rápidas palavras a divisão da Bíblia dos judeus, que possui somente o Antigo Testamento. A Bíblia dos judeus é dividida em três partes:

Lei ou Torá - A Lei marcou o começo da coleção de materiais tidos como inspirados na

comunidade judaica. Mesmo que o todo o A.T. seja considerado inspirado, há uma distinção entre os livros em geral e a Lei de Moisés, nenhuma é igual a sua autoridade. A Lei é, portanto, o conjunto de livros mais antigos, reconhecidos como inspirados por Deus. São compreendidos os livros de Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.

Profetas ou Nebim – A mensagem profética era conhecida deste os tempos imemoriais como

a Palavra de Deus, mas o trabalho de produção e reconhecimento da literatura profética durou muitos anos. O profetismo em Israel e a sua literatura são um dos temas mais marcantes da história bíblica.

Os livros de Josué, Juízes, Samuel e Reis incluíam a lista de livros proféticos entre os judeus. Estes são os chamados Profetas Anteriores, ou Outros Profetas. Isaías, Jeremias, Ezequiel e os 12 Profetas Menores são chamados de Profetas Posteriores.

Os livros proféticos são: Josué, Juízes, Samuel, Reis, Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel, Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.

Escritos ou Ketubim - A canonização dos livros chamados Escritos se deu após a literatura

profética. Estão subdivididos em: Livros Poéticos: Jó, Salmos, Provérbios; Os Cinco Rolos: eram assim chamados por serem separados e lidos anualmente em festas

distintas. Cantares (Páscoa), Rute (Pentecostes, na Celebração da Colheita), Lamentações (no mês abibe, lembrando a destruição de Jerusalém pelos babilônicos), Ester (na Festa do Purim) e Eclesiastes (na Festa dos Tabernáculos);

Livros Históricos: Crônicas, Esdras, Neemias e Daniel.

Cânon do Antigo Testamento

Onde surgiu a idéia do cânon – a idéia de que o povo de Deus deve preservar uma coleção de palavras escritas de Deus? A própria Bíblia dá testemunho do desenvolvimento histórico do cânon. A coleção mais antiga das palavras de Deus é os Dez Mandamentos. Portanto constituem o início do cânon bíblico.

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O próprio Deus escreveu sobre duas tábuas de pedra as palavras que Ele ordenou ao seu povo (Êx 32.16; cf. Dt 4.13; 10.4). As tábuas foram depositadas na Arca da Aliança (Dt 10.5) e constituíam os termos do pacto entre Deus e seu povo.

Na época patriarcal, a revelação divina era transmitida escrita e oralmente. A escrita já era conhecida na Palestina, séculos antes de Moisés; a arqueologia tem provado isto, inclusive tem encontrado inúmeras inscrições, placas, e documentos antediluvianos.

O cânon do Antigo Testamento como temos atualmente, ficou completo desde o tempo de Esdras, após 445 a.C. Entre os judeus, como já foi visto, ele três divisões, as quais Jesus citou em Lucas 24.44: Lei, Profetas e Escritos.

A divisão dos livros no cânon hebraico é diferente da nossa. Consiste em 24 livros em vez dos nossos 39, isto porque é considerado um só livro cada grupo dos seguintes:

Os dois livros de Samuel 1 Os dois livros de Reis 1 Os dois de Crônicas 1 Esdras e Neemias 1 Os doze Profetas Menores 1 Os demais livros do Antigo Testamento 19 Total 24

É importante lembrar que livros da Bíblia não seguem uma rodem cronológica. O Antigo

Testamento com seus 39 livros está dividido em quatro classes.

Lei – História – Poesia - Profecia

Lei – compreende os 5 primeiros livros da Bíblia, de Gênesis a Deuteronômio. Esses cinco livros também são chamados de Pentateuco e tratam desde a criação, chamada de Abraão, o êxodo do povo de Israel da terra do Egito, a instituição da Lei até a conquista da Terra de Canaã.

História – compreende 12 livros, indo de Josué a Ester. Contêm a história do povo

escolhido de Israel. Tratam da formação, cultura e religião do povo de Deus. Poesia – formado por 5 livros, de Jó a Cantares de Salomão. São chamados poéticos devido

ao gênero do seu conteúdo. Profecia – Formado por 17 livros, que inicia em Isaías e vai até Malaquias, sendo que esta

classificação é subdividida em dois grupos: a) Profetas Maiores – composto por 5 livros, de Isaías a Daniel. b) Profetas Menores – composto por 12 livros, de Oséias até Malaquias.

Vale salientar que o nome Maior e Menor refere-se à extensão do período de ministração do profeta. Formação canônica

O cânon do A.T. foi formado num espaço aproximado de 1046 anos – de Moisés a Esdras. Moisés escreveu as primeiras palavras do Pentateuco por volta de 1491 a.C. Esdras entrou em cena em 445 a.C. Esdras não foi o último escritor na formação canônica do Antigo Testamento; os últimos foram Neemias e Malaquias, porém, de acordo com os escritos históricos, Esdras sendo escriba e sacerdote reuniu os rolos canônicos, ficando o cânon encerrado em seu tempo.

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A chamada Alta Crítica tem feito uma devastação com seu modernismo e suas contradições no que concerne à formação, fontes e autenticidade do cânon, especialmente do Antigo Testamento, mutilando quase todos os seus livros. Alta Crítica é a discussão das datas e da autoria dos livros. Esta estuda a Bíblia do lado de fora, externamente, baseada apenas em fontes do conhecimento humano. Por outro ângulo, a Crítica Textual, também conhecida como Baixa Crítica, estuda somente o texto bíblico, e, ao lado da arqueologia, vem alçando um progresso valioso, posto à disposição do estudante das Escrituras. Cânon do Novo Testamento

Semelhante ao Antigo Testamento, homens inspirados por Deus escreveram aos poucos os livros que compõem o cânon do N.T. Sua formação levou apenas duas gerações: quase 100 anos. Em 100 d.C. todos os livros do Novo Testamento estavam escritos. O que demorou foi o reconhecimento canônico, isto motivado pelo cuidado e escrúpulo das igrejas de então, que exigiam provas concludentes da inspiração divina de cada um desses livros.

Ao se estudar a formação do cânon do N.T., deve-se tomar como partida o estudo desenvolvido sobre as etapas de formação dos livros da Bíblia. Houve um tempo em que não tinha nada escrito sobre Jesus Cristo e houve um tempo em que começou a existir algo escrito sobre o movimento cristão.

Período de transmissão oral A ênfase primitiva dos apóstolos era pregar o Evangelho e não registrá-lo (At 2.14-16; 6.4).

A igreja primitiva, após os 30 primeiros anos da morte e ressurreição de Jesus, mostrou relutância em escrever os ensinos do Senhor por vários motivos:

a) Os cristãos primitivos esperavam um retorno próximo de Cristo; por isso, despendiam seu tempo na pregação do Evangelho;

b) Havia uma preferência natural ou circunstancial dos antigos pela palavra falada (2Jo 12); c) Os discípulos de Jesus foram escolhidos dentre um grupo não literário da cidade; d) Os apóstolos, que tinham sido testemunhas oculares de Jesus, não estavam disponíveis

enquanto o Evangelho não se espalhasse para além da Judéia.

A origem dos escritos Três foram os fatores que estimularam a necessidade de escritos sobre a vida de Jesus:

a) A morte dos apóstolos ameaça destruir a fonte dos ensinos autênticos sobre Jesus. Surgindo assim, a necessidade do combate a heresias;

b) A difusão do Evangelho aos gentios, que não tinham um conhecimento profundo do Antigo Testamento, exigiu um ensino permanente autorizado (Lc 1.1-4);

c) A demora do retorno de Jesus e a morte dos primeiros cristãos que esperavam essa volta em vida trouxeram problemas para a fé primitiva, surgindo com isso a necessidade de uma orientação doutrinária (1Ts 4.13 – 5.3).

Desenvolvimento do Cânon

As Escrituras da Igreja Cristã no final do primeiro século era o Antigo Testamento. Por essa época ainda estavam sendo produzidos os Evangelhos e as Epístolas Paulinas. As Epístolas estavam sendo lidas e colecionadas pelas comunidades que tinham sido alcançadas pela sua mensagem e, a partir de então, tidas como úteis para a direção dos crentes, mas não eram colocadas no mesmo nível canônico das Escrituras do A.T. na leitura durante o culto. Entretanto, com a prática do culto público, os Escritos cristãos foram reconhecidos como Escritura e a jovem Igreja Cristã começava a perceber nos novos Escritos a inspiração divina.

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A crescente autoridade dos livros da literatura cristã recebe agora grande influência através do prestígio que lhes dão as citações dos autores da igreja (pais apostólicos), a começar por Clemente Romano, ainda no final do primeiro século (96 d.C.), quando o mesmo faz citações de Mateus e Lucas, bem como do apóstolo Paulo, recomendando a sua leitura.

Classificação do Cânon

O Novo Testamento é composto de 27 livros, sendo que a ordem destes, como é atualmente em nossas Bíblias, não leva em conta a seqüência cronológica dos acontecimentos. Assim como no A.T. se divide em quatro partes:

Biografia – História – Doutrina – Profecia

Biografia – Descreve o nascimento, vida, morte e ressurreição de Jesus, ou seja, relata o Seu

glorioso ministério entre os homens. Os três primeiros são chamados de Evangelhos Sinóticos. Compreende: Mateus, Marcos, Lucas e João.

História – É assim chamado, pois registra a história da Igreja, seu viver e agir. O livro

também mostra o segredo do progresso da expansão do Evangelho e a Plenitude do Espírito Santo no meio da Igreja Primitiva. Compreende o livro de Atos dos Apóstolos.

Doutrina – Esta classificação é composta por 21 livros, e é subdividida em Epístolas

Pastorais e Epístolas Universais. Epístolas Pastorais – Assim designadas por serem cartas com cunho doutrinário

direcionadas às pessoas ou igrejas específicas, com a finalidade de ensinar e explicar os fundamentos do Evangelho. São 13 Epístolas: Romanos, 1 e 2Coríntios, Gálatas, Efésios. Filipenses, Colossenses, 1 e 2Tessalonissenses, 1 e 2Timóteo, Tito e Filemom.

Epístolas Universais – Têm essa denominação por serem direcionadas a todas as igrejas e cristãos do mundo, e têm como objetivo consolar os cristãos perseguidos, solidificar a fé dos irmãos e reiterar o conhecimento da Graças de Jesus Cristo. São 8 Epístolas: Hebreus, Tiago, 1 e 2Pedro, 1, 2 e 3Joãos e Judas.

Profecia – é formado por apenas 1 livro, chamado de Apocalipse. Este nome significa

Revelação. Este livro trata dos acontecimentos futuros da humanidade, em especial da volta do Senhor Jesus. É interessante observar que o Apocalipse é o inverso do livro de Gênesis. Lá narra como tudo começou, aqui como tudo findará. Os livros apócrifos

Nas Bíblias de edição católico-romanas, o total de livros é 73 e não 66, como na Bíblia protestante. Isso acontece porque essa igreja, desde o Concílio de Trento, em 1546, incluiu no cânon do Antigo Testamento 7 livros apócrifos, além de 4 acréscimos ou apêndices canônicos, acrescentando ao todo, 11 escritos apócrifos. Isso porque esta igreja rejeita 3 e 4Esdras e a Oração de Manassés. Os livros apócrifos de 3 e 4Esdras são assim chamados porque nas Bíblias de edição católica-romana o livro de Esdras é chamado de 1Esdras e o de Neemias, de 2Esdras.

A palavra “apócrifo” significa, literalmente, “escondido”, “oculto”, isto em referência a livros que tratam de coisas secretas e misteriosas. Apócrifo, porém, não significa “condenado”, porque muitos deles eram leituras prediletas de judeus e cristãos. A carta de Judas, no N.T. chega a mencionar esses livros.

Relacionamos a seguir alguns livros apócrifos:

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• Tobias, Judite, Sabedoria, Baruc, Ester 10.4-16.24 (acréscimos), História de Suzana, Bel e o Dragão, os Três Jovens na fornalha (que são acréscimos aos livros de Daniel), Eclesiástico, 1 e 2Macabeus, Oração de Manassés, 3 e 4Esdras, entre outros.

• Embora raramente possam ser encontrados, existem também os livros apócrifos do Novo Testamento, que são, entre outros: Evangelho segundo os hebreus, Os atos de Pilatos, Apocalipse de Pedro, Evangelho de Tomé, Os atos de Paulo, Evangelho aos doze apóstolos e Terceira Epístola aos coríntios.

Resumo das heresias nos apócrifos

Tobias É uma história novelística sobre a bondade de Tobiel (pai de Tobias) e alguns milagres

preparados pelo anjo Gabriel. Suas heresias:

• A justificação pela obras (4.7-11; 12.8) • Mediação dos santos (12.12) • Superstições (6.5,7 – 9,19) • Um anjo engana Tobias e o ensina a mentir (5.16-19)

Judite História de uma heroína viúva e formosa que salva sua cidade enganando o inimigo e, em

seguida corta sua cabeça. Sua grande heresia é a própria história, na qual os fins justificam os meios.

Baruc ou Baruque Traz, entre outras coisas, a intercessão pelos mortos (3.4). Eclesiástico É muito semelhante ao livro de Provérbios, não fosse tantas heresias. A saber:

• Justificação pelas obras (3.33,34) • Trato cruel aos escravos (33.26,30; 42.1,5) • Incentiva o ódio aos samaritanos (50.27.28)

Sabedoria de Salomão Livro escrito com a finalidade exclusiva de lutar contra a incredulidade e a idolatria do

epicurismo (filosofia grega da Era Cristã). Suas heresias:

• O corpo como prisão da alma (9.15) • Doutrina estranha sobre a origem e o destino da alma (8.19,20) • Salvação pela sabedoria (9.19)

1Macabeus Descreve a história de três irmãos da família “macabeus” que, no chamado período

interbíblico (400 a.C. – 3 A.D.), lutam contra os inimigos dos judeus visando a preservação do povo e da terra.

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2Macabeus Não se trata da continuação de 1Macabeus. São narrativas paralelas, cheias de lendas e

prodígios de Judas Macabeu. Suas heresias:

• A oração pelos mortos (12.44-46) • Culto e missa pelos mortos (12.43) • O próprio autor não se julga inspirado (2.25-27; 15.38-40) • Intercessão pelos santos (7.28; 15.14)

Adição ao livro de Daniel No capítulo 13, é contada a “A História de Suzana”. Segundo esta lenda, Daniel salva

Suzana num julgamento fictício baseado em falsos testemunhos. O capítulo 14 conta-nos a história de Bel e o Dragão. Contém, ainda, histórias sobre a necessidade da idolatria. No capítulo 3.24-90 está “O cântico dos três jovens na fornalha”.

A Igreja Romana aprovou os apócrifos em 18 de abril de 1546, para combater o movimento da Reforma Protestante, então recente. Nessa época, os protestantes combatiam violentamente as novas doutrinas romanistas: purgatório, oração pelos mortos, salvação pelas obras, etc. A Igreja Romana via nos apócrifos base para essas doutrinas, e , apelou para eles, aprovando-os como canônicos. Houve prós e contras dentro da própria Igreja de Roma.

A primeira edição da Bíblia romana com os apócrifos deu-se em 1592, com autorização do Papa Clemente VIII. Os Reformadores protestantes publicaram a Bíblia com os apócrifos colocando-os entre o Antigo e o Novo Testamento; não como livros inspirados, mas bons para a leitura e de valor literário e histórico.

Após 1629, os evangélicos omitiram os apócrifos nas Bíblias editadas, para evitar confusão entre o povo simples que nem sempre sabia discernir entre um livro canônico e um apócrifo.

A origem dos apócrifos

Após Ageu, Zacarias e Malaquias a profecia emudeceu. As profecias que apontaram tempos opulentos e descrevem o Messias e seu reino de Glória começaram a deixar os judeus decepcionados por causa do não cumprimento imediato das promessas. A produção da literatura dessa época tinha o objetivo de confirmar a fé popular na esperança messiânica.

Outro fator importante foi a nostalgia advinda da dispersão dos judeus após a destruição de Judá, quando foi quebrada a hegemonia e enfraquecida a força de suas tradições, adquirindo um novo tipo de vida e costumes.

E por fim, as perseguições movidas pelos sírios contra os judeus após a morte de Alexandre Magno; quando essas perseguições aumentaram, multiplicou-se a literatura apócrifa, pois o nacionalismo judaico foi humilhado, o templo profanado e os tesouros de seu passado arrebatados.

Deuterocanônicos Designa os livros aceitos pelos católicos que não foram incluídos no Cânon escriturístico da

comunidade judaica. São sete livros mais alguns fragmentos que se encontram na tradução dos LXX. Os cristãos os aceitam em segunda instância, pois foram importantes para a primeira geração de teólogos cristãos. Essa compreensão vem do fato do Cânon de 39 livros do Antigo Testamento ser uma herança judaica (chamada de Protocanônicos – canonizados primeiramente) enquanto que os livros chamados apócrifos foram acrescentados no Cânon pelos católicos (canonizados posteriormente – deuterocanônicos).

Os protestantes, portanto, ficam com os critérios dos judeus do século II, que consideram esses livros dentro de um período de “não - revelação”.

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Pseudepígrafos Pseudepígrafos são os livros religiosos e apocalípticos, escritos com a pretensão de serem

sagrados, porém, nem discutidos foram, sendo rejeitados por todos (judeus, católicos e protestantes). Alguns exemplos: Apocalipse de Sofonias, de Zacarias, de Esdras, Enoque ou Henoc, Os doze patriarcas, Salmos de Salomão, Ascensão de Moisés, Martírio de Isaías, entre outros.

TERMINOLOGIA PROTESTANTE

TÍTULO DO LIVRO

TERMINOLOGIA CATÓLICA

Apócrifos (oculto, secreto)

Não pertencem à Bíblia

Tobias Judite

Eclesiástico 1 e 2Macabeus

Sab. de Salomão Acrés. (Ester 10.4-

16.24) Acrés. (Dn 3.24-90) Oração de Manassés

Deuterocanônicos (Canonizados posteriormente)

Pertencem à Bíblia

Pseudopígrafos

Não pertencem à Bíblia

Enoque

3 e 4Esdras 3 e 4Macabeus

Salmos de Salomão Livro dos Jubileus

Ascensão de Moisés Os doze Patriarcas Martírio de Isaías

Apócrifos (oculto, secreto)

Não pertencem à Bíblia

A respeito dos livros apócrifos e pseudopígrafos, seja qual for o valor devocional ou

eclesiástico que tiverem, não são canônicos. Isto se comprova pelos seguintes fatores: • A comunidade judaica jamais os aceitou como canônicos; • Não foram aceitos por Jesus, nem pelos autores do Novo Testamento; • A maioria dos primeiros grandes pais da Igreja rejeitou sua canonicidade; • Nenhum concílio da Igreja os considerou canônicos senão no fim do século IV; • Jerônimo, o grande especialista bíblico e tradutor da Vulgata, rejeitou fortemente os livros

apócrifos; • Muitos estudiosos católicos romanos, ainda ao longo da Reforma, rejeitaram os livros

apócrifos; • Nenhuma igreja ortodoxa grega, anglicana ou protestante, até a presente data, reconheceu os

apócrifos como inspirados e canônicos, no sentido integral dessas palavras.

À vista desses fatos importantíssimos, torna-se absolutamente necessário que os cristãos de hoje jamais usem os livros apócrifos como se fossem Palavra de Deus, nem os citem em apoio autorizado a qualquer doutrina cristã. Com efeito, quando examinamos segundo os critérios elevados de canonicidade, verificamos que aos livros apócrifos faltam os seguintes aspectos:

• Os apócrifos não reivindicam ser proféticos;

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• Não detêm a autoridade de Deus; • Contêm erros históricos (v. Tobias 1.3-5 e 14.11) e graves heresias teológicas, como a

oração pelos mortos; • Embora seu conteúdo tenha algum valor para a edificação nos momentos devocionais, na

maior parte se trata de textos repetitivos; são textos que já se encontram nos livros canônicos;

• Há evidente ausência de profecia, o que não ocorre nos livros canônicos; • Os apócrifos nada acrescentam ao nosso conhecimento das verdades messiânicas; • O povo de Deus, a quem os apócrifos teriam sido originalmente apresentados, recusou-os

terminantemente.

7. O MATERIAL DA BÍBLIA

A história da Bíblia e como chegou até nós, é encontrada em seus manuscritos. Assim como foi seu texto preservado e transmitido.

Nos tratados sobre a Bíblia, a palavra manuscritos é sempre indicada pela abreviatura MS, no plural MSS. Há em nossos dias, cerca de 4.000 MSS da Bíblia, preparados entre os séculos II e XV.

Vários materiais foram usados na escrita nos tempos antigos, como: Linho – Tem sido encontrado nas descobertas arqueológicas. Óstracas – São fragmentos de cerâmicas. É mencionado na Bíblia em Jó 38.14; Ezequiel 4.1.

Foi muito usado na Babilônia. Em Atenas, para expressar a condenação ao “ostracismo” ou ao exílio, escrevia-se o nome dos condenados nos óstracas. Conservam-se alguns com passagens do Antigo e Novo Testamento.

Pedra – Muitas inscrições famosas encontradas no Egito e Babilônia foram escritas em

pedra. Deus deu a Moisés os Dez Mandamentos escritos em tábuas de pedra (Êx 21.12; 31.1,28; Js 8.30-32). Dois outros exemplos são: a Pedra Moabita (850 a.C.) e a Inscrição e Siloé, encontrada no túnel de Ezequias, junto ao tanque de Siloé (700 a.C.). Um exemplo do emprego desse material é o livro escrito em pedra, conhecido como Código Hamurábi. Trata-se de um rei da Babilônia contemporâneo de Abraão. É identificado pelos cientistas como Anrafel de Gênesis 14.1. É um código de leis descoberto em Susã, em 1902, lindamente trabalhado em pedra, com dois metros de altura. Esse livro é testemunha de que naqueles tempos o homem atingira uma capacidade literária notável. O Código trata do culto nos templos (pagãos, é claro), administração da justiça e leis em geral.

Argila – O material de escrita predominante na Assíria e Babilônia era a argila, preparada

em pequenos tabletes e impressa com símbolos em forma de cunha, chamados de escrita cuneiforme. Depois de preparada era assada em um forno ou seca ao sol. Milhares desses tabletes foram encontrados por arqueólogos.

Madeira – Tábuas de madeira foram muito usadas pelos antigos para escrever. Durante

muitos séculos a madeira foi a superfície comum para escrever entre os gregos. Alguns acreditam que este tipo de material de escrita é mencionado em Isaías 30.8, Habacuque 2.2 e Lucas 1.63.

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Bel. em Teologia

Couro – O Talmude judeu exigia especificamente que as Escrituras fpeles de animais, sobre couro. É praticamente certo, então, que o Antigo Testamento foi escrito em couro. Os rolos, entre 26 e 70 cm

Papiro – É quase certo que o Novo T

material de escrita mais importante na época. O papiro é feito coda cana de papiro, empapando-as em váriospara formar folhas. O centro da cerca de 3000 a.C.

O papiro é um tipo de junco de grandes proporções. As preparada para a escrita eram normalmente de 30 Essas folhas eram formadas por tiras cortadas das e depois polidas. Eram escritas de um lado apenas e tinham uma coassim preparada era chamada pelos gregos de biblos.

Velino ou Pergaminho –

e, por volta do século IV d.C., ele suplantou o papiro. Quase todos os manuscritos conhecidos são em velino. Seu uso generalizado vem dos primórdios do Cristianismo, mas já era conhtempos remotos, pois foi mencionado em Isaías 34.4.

O pergaminho preparado de modo especial chamavapartir do século IV. Tem maior durabilidade. Foi muito usado nos códices. Tudo indica que o vocábulo pergaminho derivou seu nome da ocupou grande parte da Ásia Menorbiblioteca maior do que a de Alexandria, no Egito. O rei egípcio, por inveja, proibiu a impordo papiro, obrigando Eumenes a recorrer a outro material gráfico. Tal fato motivou o surgimento de um novo método de preparar peles, muito aperfeiçoado, que resultou no pergaminho. Embora os termos sejam usados como sinônimos, o velino era preparado antílopes, enquanto o pergaminho era de pele de ovelhas e excelente qualidade, preparado especial e cuidadosamente para receber escrita de ambos os lados.

O Novo Testamento, menciona

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O Talmude judeu exigia especificamente que as Escrituras fde animais, sobre couro. É praticamente certo, então, que o Antigo Testamento foi escrito em

cm de altura, eram enrolados em um ou dois pedaços d

quase certo que o Novo Testamento foi escrito sobre papmaterial de escrita mais importante na época. O papiro é feito cortando-se em tiras seções delgadas

as em vários banhos de água, e depois as sobrepondo umas às outras has. O centro da indústria de papiro era o Egito, onde teve início o seu emprego,

O papiro é um tipo de junco de grandes proporções. As dimensõesescrita eram normalmente de 30 cm à 3m de comprimento por 30 cm de largura.

Essas folhas eram formadas por tiras cortadas das plantas, sobrepostas cruzadas, colae depois polidas. Eram escritas de um lado apenas e tinham uma cor amarelada. A folha do papiro

ada pelos gregos de biblos.

– Este tipo de material foi utilizado centenas de anos antes de Cristo e, por volta do século IV d.C., ele suplantou o papiro. Quase todos os manuscritos conhecidos são em velino. Seu uso generalizado vem dos primórdios do Cristianismo, mas já era conh

mencionado em Isaías 34.4. O pergaminho preparado de modo especial chamava-se velo. Este se tornou conhecido a

partir do século IV. Tem maior durabilidade. Foi muito usado nos códices. Tudo indica que o rivou seu nome da cidade de Pérgamo, capital de um

ocupou grande parte da Ásia Menor. Eumenes II foi seu maior rei e este a de Alexandria, no Egito. O rei egípcio, por inveja, proibiu a impor

do papiro, obrigando Eumenes a recorrer a outro material gráfico. Tal fato motivou o surgimento de um novo método de preparar peles, muito aperfeiçoado, que resultou no pergaminho. Embora os termos sejam usados como sinônimos, o velino era preparado originalmente com pele de bezerros e

enquanto o pergaminho era de pele de ovelhas e cabras. Obtinhaexcelente qualidade, preparado especial e cuidadosamente para receber escrita de ambos os lados.

O Novo Testamento, menciona este material gráfico em 2Timóteo 4.13 e Apocalipse 6.14.

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O Talmude judeu exigia especificamente que as Escrituras fossem copiadas sobre de animais, sobre couro. É praticamente certo, então, que o Antigo Testamento foi escrito em

um ou dois pedaços de pau.

estamento foi escrito sobre papiro, por ser este o se em tiras seções delgadas

banhos de água, e depois as sobrepondo umas às outras de papiro era o Egito, onde teve início o seu emprego,

dimensões da folha de papiro cm à 3m de comprimento por 30 cm de largura. plantas, sobrepostas cruzadas, coladas, prensadas

r amarelada. A folha do papiro

Este tipo de material foi utilizado centenas de anos antes de Cristo e, por volta do século IV d.C., ele suplantou o papiro. Quase todos os manuscritos conhecidos são em velino. Seu uso generalizado vem dos primórdios do Cristianismo, mas já era conhecido em

se velo. Este se tornou conhecido a partir do século IV. Tem maior durabilidade. Foi muito usado nos códices. Tudo indica que o

Pérgamo, capital de um riquíssimo reino que e este projetou formar uma

a de Alexandria, no Egito. O rei egípcio, por inveja, proibiu a importação do papiro, obrigando Eumenes a recorrer a outro material gráfico. Tal fato motivou o surgimento de um novo método de preparar peles, muito aperfeiçoado, que resultou no pergaminho. Embora os

nte com pele de bezerros e abras. Obtinha-se assim um couro de

excelente qualidade, preparado especial e cuidadosamente para receber escrita de ambos os lados. este material gráfico em 2Timóteo 4.13 e Apocalipse 6.14.

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A tinta usada pelos escribas era uma mistura de carvão em pó com uma substância semelhante à goma arábica (Jr 36.18; Ez 9.2; 2Co 3.3; 2Jo 12; 3Jo 13). O carvão é um elemento que se conserva admiravelmente através dos séculos, não sendo afetado por substâncias químicas.

8. PRESERVAÇÃO

Preservação é a operação divina que garante a permanência da Palavra Escrita, com base na aliança que Deus fez acerca de Sua Palavra Eterna (Sl 119.89, 152; Mt 24.35; 1Pe 1.23; Jo 10.35).

A preservação das Escrituras, como o cuidado divino para a sua criação e formação do cânon, não foi acidental, mas sim o comprimento de uma promessa divina. A Bíblia é eterna, ela permanece porque nenhuma Palavra que Jeová tenha dito pode ser removida ou abalada; nem uma vírgula ou um ponto do testemunho divino pode passar até que seja cumprido.

A Bíblia permanece até hoje porque o próprio Deus tem se empenhado em preservá-la. Quando o rei Jeoiaquim queimou um rolo das Escrituras, Deus mesmo determinou a Jeremias que reescrevesse as palavras que haviam sido queimadas (Jr 36. 27,28), e, ainda determinou maldições sobre o rei, por haver tentado destruir a Palavra de Deus (Jr 36.29,31). Ademais o Senhor acrescentou ao segundo rolo palavras que não se encontravam no primeiro (Jr 36.32), pois a Palavra de Deus sempre há de prevalecer sobre a palavra do homem (Jr 44.17,28; At 19.19,20). Ficando esclarecido que Deus tem preservado apenas a Sua Palavra inspirada, aquilo que deve ser considerado como revelação de Deus.

Para que os Textos Sagrados chegassem até nós, foi preciso muito cuidado e atenção da parte dos escribas, além do grande envolvimento de Deus na preservação da Sua Palavra. Algumas regras que os judeus exigiam de cada escriba na formação dos rolos sagrados:

• O pergaminho tinha de ser preparado de peles de animais limpos, somente por judeus, sendo as folhas unidas por fios feitos de peles de animais limpos;

• A tinta era especialmente preparada; • O escriba não podia escrever uma só palavra de memória. Tinha de pronunciar bem alto

cada palavra antes de escrevê-la; • As letras e palavras eram contadas; • Um erro numa folha inutilizava-a; • Três erros numa folha inutilizavam o rolo todo.

Hoje a estratégia de Satanás sobre a Palavra de Deus é diferente, pois já que ele não

consegue destruí-la, procura desacreditá-la (negando sua inspiração) e corrompê-la com interpretações pervertidas da verdade (1Tm 4.1,2; 2Tm 2.9-12). A nós, pois, como igreja e discípulos-servos cabe a responsabilidade de defender e preservar a verdade (1Tm 3.15) com o mesmo anseio que caracterizava a vida de Paulo (Fp 1.7,16).

9. LÍNGUAS ORIGINAIS

Hebraico

Todo o Antigo Testamento foi escrito em hebraico, o idioma oficial da nação de Israel, exceto algumas passagens de Esdras, Jeremias e Daniel, que foram escritas em aramaico. A mais extensa é em Daniel (Dn 2.4-7.28).

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O hebraico faz parte das línguas semíticas, que eram faladas na Ásia Mediterrânea, exceto em algumas regiões. As línguas semíticas formavam um ramo dividido em grupos, sendo o hebraico integrante do grupo cananeu. Este compreendia o litoral oriental e o território que constitui hoje a Jordânia. Integrava também o grupo cananeu de línguas, o ugarítico, o fenício e o moabítico.

O fenício tem muita semelhança com o hebraico. O primitivo alfabeto hebraico é oriundo do fenício, segundo a opinião dos versados na matéria.

Possivelmente Abrão encontrou esse idioma em Canaã, ao chegar ali, em vez de trazê-lo da Caldéia. Em Gênesis 31.47, vê-se que Labão, o sobrinho de Abraão, vivendo em sua terra, a Caldéia, falava aramaico, ao passo que Jacó, recém-chegado de Canaã, falava o hebraico.

A língua hebraica é chamada no Antigo Testamento de “língua de Canaã” (Is 19.18) e “língua judaica” ou apenas “judaico” (Is 36.13). Como a maior parte das línguas do ramo semítico, o hebraico lê-se da direita para esquerda. O hebraico é composto de 22 letras todas consoantes em seu alfabeto. Há sinais vocálicos, sim, mas não podem ser chamados de letras.

Sabe-se agora que a forma primitiva dos caracteres hebraicos estava em uso na Palestina 1800 anos antes de Cristo. Há exemplos mais recentes das letras hebraicas no Calendário de Gézer (950-920 a.C.), na Pedra moabita (850 a.C.); na inscrição de Siloé (702 a.C.); nas moedas do tempo dos irmãos Macabeus (175-100 a.C.), e em alguns fragmentos dos escritos achados junto ao Mar Morto, a partir de 1947 d.C.

Esta forma primitiva do hebraico passou por modificações ao longo da história. Após o exílio, teve início a chamada “escrita quadrada”, que, por fim, foi convertida na atual forma do alfabeto hebraico pelos massoretas (cada um que colaborava na Massorá – comentários críticos acerca da Bíblia feita por doutores judeus). As letras tipo bloco eram escritas em maiúsculas, sem vogais, sem espaços entre palavras, frases e sem pontuação.

A escrita hebraica dos tempos antigos só empregava consoantes sem qualquer sinal de vocalização. Os sons vocálicos eram supridos pelos leitores durante a leitura, o que dava origem a constantes enganos, uma vez que havia palavras com as mesmas consoantes, mas com acepções diferentes. Quer dizer, a pronúncia exata dependia da habilidade do leitor, levando em conta o contexto e a tradição. É por causa disso que se perdeu a pronúncia de muitas palavras bíblicas.

Após o século VI, os eruditos judeus residentes em Tiberíades, passaram a colocar na escrita sinais vocálicos, perpetuando assim, a pronúncia tradicional. Esses sinais são pontos colocados em cima, em baixo e dentro das consoantes. Os autores desse sistema de vocalização chamavam-se massoretas – palavra derivada de “massorah”, que quer dizer tradição, isto porque os massoretas, por meio desse sistema, fixaram a pronúncia tradicional do hebraico.

Textos bíblicos posteriores ao século VI, são chamados de “massoréticos”, porque contém sinais vocálicos. Os mais famosos eruditos massoretas foram os judeus Moises bem Asher e seus filhos Arão e Naftali, que viveram e trabalharam em Tiberíades, na Galiléia.

Além do texto massorético, há outro texto hebraico das Escrituras, o Pentateuco Samaritano, que emprega os antigos caracteres hebraicos. É do tempo pré-cristão. São, portanto, dois tipos de texto que temos em hebraico: o massorético e o Pentateuco Samaritano. Aramaico

O aramaico é um idioma semítico falado desde 2000 a.C., em Arã ou Síria, que é a mesma

região (Arã é hebreu; Síria é grega). Nas Escrituras, o território da Síria não é o mesmo de hoje, o que acontece também com outras terras bíblicas.

O primitivo território estendia-se das montanhas do Líbano até além do rio Eufrates, incluindo a Babilônia; Mesopotâmia Superior, conhecida na Bíblia por Arã- Naaraim; e Padã-Arã (Gn 25.20), e outros distritos. Era ainda falado numa grande área da Arábia Pétrea.

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Algumas partes do Antigo Testamento foram escritas nesse idioma: uma palavra designando nome de lugar em Gênesis 31.47; um versículo em Jeremias (Jr 10.11) cerca de seis capítulos no livro de Daniel (Dn 2.4b-7.28); e vários capítulos em Esdras (Ed 4.8-6.18; 7.12-26).

A influência do aramaico foi profunda sobre o hebraico, começando no cativeiro em Israel, em 722 a.C. na Assíria. E continuando através do cativeiro do Reino de Judá, em 587 a.C., na Babilônia. Em 536 a.C. quando Israel começou a regressar do exílio, falava o aramaico como língua oficial. É por esta razão que, no tempo de Esdras, as Escrituras que eram em hebraico, ao serem lidas em público, era preciso alguém que pudesse interpretá-las, para compreenderem o seu significado (Ne 8.5,8).

No tempo de Cristo, o aramaico tornara-se a língua oficial dos judeus e nações vizinhas, estas foram influenciadas pelo aramaico devido às transações comerciais dos arameus na Ásia Menor e litoral do mediterrâneo. Em 1000 a.C., o aramaico já era língua internacional do comércio nas regiões situadas ao longo das rotas comerciais do Oriente.

O aramaico é também chamado “siríaco”, no Norte (2Rs 18.26; Ed 4.7; Dn 2.4 ARC), e também “caldaico”, no sul (Dn 1.4). Tinha o mesmo alfabeto que o hebraico, só diferia nos sons e na estrutura de certas partes gramaticais. Do mesmo modo que o hebraico, não tinha vogal, só a partir de 800 a.C. é que os sinais vocálicos foram introduzidos.

Foi usado pelo Senhor Jesus e seus discípulos e pela Igreja Primitiva, em Jerusalém. Em Mateus 5.18, quando Jesus diz que a menor letra é o jota (aramaico iode) Ele se refere ao alfabeto aramaico, pois somente neste é que se verifica isto (a letra iode originou o nosso i). Nos dias de Jesus, o aramaico já se modificara um pouco na Palestina, resultando no “aramaico palestinense”, como o chamam os eruditos. Também em Marcos 14.36, o uso da palavra aramaica “abba”, por Jesus, é outra evidência de que Ele falava aquela língua. Que Ele também falava o hebraico é evidente em Lucas 4.16-20; uma vez que os rolos sagrados eram escritos em hebraico.

Temos assim algumas palavras aramaicas preservadas para nós no Novo Testamento: • Talitha Cumi (“menina, levanta-te”) em Marcos 5.41; • Ephata (“Abra-te”) em Marcos 7.34; • Eli, Eli lama sabachthani (“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”) em Mateus

27.46; • Jesus se dirigia habitualmente a Deus como Abba (“Pai”). Note a influência disto em

Romanos 8.15 e Gálatas 4.6; • Outra frase comum dos primeiros cristãos era Maranatha (“Vem, nosso Senhor”) em 1Co

16.22. O hebraico foi de fato absorvido pelo aramaico, mas continuou sendo a língua oficial do

culto divino no Templo e nas sinagogas, dos rolos sagrados e dos rabinos e eruditos. Havia escolas de rabinos, inicialmente em Jerusalém e, depois da queda da cidade, em

Tiberíades. Havia escolas semelhantes noutros centros judaicos. As conquistas árabes e a propagação do islamismo em largas áreas da Ásia, África e Europa, reduziram e por fim destruíram a influência do aramaico. Por sua vez, o hebraico, sendo língua morta, começou a ressurgir.

Para que se cumprissem as profecias referentes a Israel, era necessário que a língua revivesse e assumisse a posição que hoje desfruta na família das nações modernas. O aramaico ainda sobrevive numa remota e pequena vila da Síria, chamada Malloula, com a população de aproximadamente 4.000 habitantes.

Devido aos hebreus terem adotado o aramaico como uma língua, esta passou a chamar-se hebraico, conforme de vê em João 5.2; 19.13,17, 20; Atos 21.40; 26.14; Apocalipse 9.11. Portanto, quando o Novo Testamento menciona o hebraico, trata-se na realidade, do aramaico. Marcos, escrevendo para os romanos, põe em seu livro referências aramaicas (Mc 5.41 e 15.34); Mateus que escreveu para os judeus escreve a mesma passagem em hebraico (Mt 27.46).

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O Antigo Testamento contém, além do hebraico e aramaico, algumas palavras persas, como “tirsata” (Ed 2.63) e “sátrapa” (Dn 3.2). Grego

Esta é a língua em que foi originalmente escrito o Novo Testamento. A única dúvida paira

sobre o livro de Mateus, que muitos eruditos afirmam ter sido escrito em aramaico. O grego faz parte do grupo de línguas arianas. Vem da fusão de dois dialetos: dórico e ático. Os dóricos e os áticos foram as duas principais tribos que povoaram a Grécia. É uma língua de expressão mais precisa, e das línguas bíblicas, é a que mais se conhece, devido a ser mais próxima da nossa.

O grego do Novo Testamento não é o grego clássico dos filósofos, mas o dialeto popular do homem da rua, dos comerciantes, dos estudantes, que todos podiam entender: era o “Koiné”. Este dialeto formou-se a partir das conquistas de Alexandre, em 336 a.C. Nesse ano, Alexandre subiu ao trono e, no curto espaço de tempo de 13 anos, alterou o rumo da história do mundo. A Grécia tornou-se um império mundial, e toda a terra conhecida recebeu influência da língua grega.

Deus preparou deste modo, um veículo lingüístico para disseminar as novas do Evangelho até aos confins do mundo, no tempo oportuno. Até no Egito o grego se impôs, pois aí foi a Bíblia traduzida do hebraico para o grego – a chamada Septuaginta, cerca de 285 a.C. Nos dias de Jesus, os judeus entendiam quase tão bem o grego como o aramaico, haja vista que a Septuaginta em grego era popular entre os judeus. Nos primórdios do Cristianismo, o Evangelho pregado ou escrito em grego podia ser compreendido pelo mundo todo. Só Deus podia fazer isto! Ele não enviaria seu Filho ao mundo enquanto este não estivesse preparado, a esse preparo incluía uma língua conhecida por todos (Mc 1.15; Gl 4.4).

A língua grega tem 24 letras; a primeira é alfa e a última ômega. Quando em Apocalipse Jesus diz que é o Alfa e o Ômega, está firmando que é o primeiro e o último. Os gregos receberam seu alfabeto através dos fenícios. Um personagem lendário, Kadmos, introduziu a escrita fenícia na Grécia, conforme mostram estudos a respeito.

As descobertas arqueológicas mais importantes para o estudo do Novo Testamento foram as coleções de documentos de papiros do Egito. Na maioria desses documentos foram usados a língua e o alfabeto gregos. Os estudiosos perceberam que se tratava de uma língua idêntica à do Novo Testamento. Palavras e frases que ocorrem apenas uma ou duas vezes nos escritos neotestamentários aparecem repetidas vezes nos papiros. Por isso, as traduções da Bíblia feitas depois de 1895 diferem de outras mais antigas. Uma série de instruções do governo aos funcionários locais ordena-lhes a preparação da visita do soberano. O termo usado para visita é parousia, a mesma palavra usada pelos autores do Novo Testamento para indicar a segunda vinda de Cristo. Nessa expressão, os leitores terão reconhecido a imagem de uma visita da realeza.

Os papiros também revelam o ódio do povo contra o sistema de cobradores de impostos como os existentes na Palestina. Testemunham recenseamentos feitos de 14 em 14 anos, quando avisos públicos ordenavam aos cidadãos que voltassem às suas terras de origem, tal qual aconteceu com José e Maria, por ocasião do nascimento de Jesus. Entre os papiros também foram encontradas cópias de obras gregas famosas como Ilíada e Odisséia. Também foram recuperadas cópias do Antigo Testamento em grego (Septuaginta) e do Novo Testamento. Um minúsculo fragmento da página do Evangelho de João foi copiada em torno de 130 d.C. É a peça mais antiga dos manuscritos do Novo Testamento a sobreviver.

Dois dos mais importantes grupos de manuscritos do Novo Testamento são os papiros Bodmer (um dos quais data de fins do século II) e os papiros Chester Beatty (provavelmente do início do século III). Esses manuscritos só contêm partes do Novo Testamento. O Códice Sinaítico, do século IV, contém todo o Novo Testamento, e o Códice Vaticano chega até Hebreus 9.13. Os dois manuscritos foram feitos provavelmente por copistas profissionais em Alexandria, no Egito.

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Poucas pessoas podiam possuir manuscritos das Escrituras Sagradas, por isso as igrejas cristãs geralmente possuíam alguns para uso de todos os seus membros.

Ninguém vá supor que por não conhecer as línguas originais das Escrituras, não compreenderá a revelação divina. Sim, o conhecimento e a compreensão dos originais auxiliarão muito, mas não é o aspecto principal, por não ser o suficiente.

7. TRADUÇÕES DA BÍBLIA

Com a dispersão dos judeus após o evento do exílio babilônico, a expansão do Cristianismo e, conseqüentemente, a necessidade de transportar o “texto original” para novos códigos de linguagem e, conseguir nas novas línguas, palavras que encerrem o sentido dos termos primários, teve início a produção de traduções da Bíblia.

O processo é dinâmico, assim como a língua sofre contínuas mudanças, as traduções e suas revisões também acompanham esse ritmo, na meta de trazer de forma mais atualizada possível o que o texto primitivo queria dizer. Entretanto, nem sempre foi assim. Algumas traduções assumiram caráter de santidade, tais como a Vulgata Latina e a chamada “King James” (inglesa), culminado na proibição, por parte da igreja oficial, da iniciativa de outras traduções para línguas não autorizadas ou “não santas”.

Tudo isso nos leva ao pensamento de que em essência as traduções são também versões, ou seja, muitas vezes podem estar a serviço de interesses teológicos ou políticos e ainda, por outro lado, representam o esforço de uma procura constante de atualização da Palavra de Deus como busca de fidelidade ao texto original. Isso pode significar que dois ou mais tradutores podem usar termos diferentes numa época de acordo com a percepção lingüística da época.

Vejamos algumas das mais importantes traduções ou versões de Bíblias existentes: A Septuaginta (LXX)

Logo após o cativeiro babilônico, a língua hebraica já não era tão falada por sofrer influência do idioma aramaico em uso corrente na Babilônia.

Os judeus eram muitos fiéis à tradição de manter os oráculos em sua própria língua, não permitiam que os livros sagrados fossem traduzidos para outro idioma. Todavia, muitos anos depois, essa atitude exclusivista e ortodoxa teria de dar lugar a um senso mais prático e liberal.

Quando Alexandre, o Grande, estabeleceu o Império Grego, a partir de 331 a.C., o idioma grego popularizou-se, ao ponto de se tornar indispensável uma tradução da Sagrada Escritura para essa língua. Com a morte de Alexandre, o Grande, em 323 a.C., o Império foi dividido entre seus generais. O Império Grego, incluindo a Palestina, passou a ser dominado pelo general Ptolomeu I. Nesse período, estabeleceu-se em Alexandria uma grande biblioteca. Para que o general Ptolomeu I completasse sua biblioteca, faltava ao seu grande acervo a lei dos hebreus, até então mantida em seu idioma original, o hebraico.

Conforme o escritor Aresteas, a tradução grega foi feita por 72 sábios judeus (por isso o seu nome Septuaginta), na cidade Alexandria, a partir de 285 a.C. Da seleção desses 72 sábios, seis eram de cada tribo de Israel, os quais foram enviados a Alexandria. Os sábios judeus se isolaram em locais preparados antecipadamente e ali traduziram o Antigo Testamento para o grego. Isso ocorreu por volta do ano 250 a.C.

A Septuaginta formou a base para muitas versões futuras. As cópias que temos hoje estão acompanhadas de cópias em grego do Novo Testamento. Os originais dessa versão estão perdidos. Mas suas três mais antigas e melhores cópias estão guardadas. São elas:

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1) Alexandrino: contém o Antigo Testamento grego e quase todo o Novo, não registrando oito capítulos da Segunda Carta aos Coríntios, cerca de quatro capítulos de João e 24 capítulos de Mateus. Contém ainda a primeira Epístola de Clemente de Roma e parte da Segunda. Encontra-se no Museu Britânico.

2) Sinaíticus: Foi encontrado pelo sábio alemão Constantino Tischendort, em 1844, no mosteiro de Santa Catarina, situado na encosta do Sinai. Sua data é de cerca de 325 d.C. Contém todo o Antigo Testamento grego, além das Epístolas de Barnabé e parte do Pastor de Hermas. Encontra-se no Museu Britânico desde 1933.

3) Vaticano: Contém o Antigo Testamento com omissões. Está na Biblioteca do Vaticano. Vulgata Latina

No século II d,C., o latim substituiu o grego, tornando-se, durante muitos anos, a linguagem diplomática da Europa. Por isso, o bispo Dêmaso, em 382 d.C., encarregou São Jerônimo de traduzir da Septuaginta para o latim o livro de Salmos e o Novo Testamento.

Essa tradução ficou conhecida por Vulgata e foi a referência de todas as traduções durante os mil anos seguintes. No Concílio de Trento (1545-1547), a igreja católica proclamou a Vulgata como a autêntica versão das Escrituras em latim.

Em 1952 foi feita uma revisão melhorada, a qual tem sido a base da Bíblia católica até hoje. Durante séculos a igreja católica considerou a Vulgata intocável ao ponto de não permitir qualquer outra tradução que não fosse baseada na Vulgata Latina, uma versão “sagrada”. Targuns

Em conseqüência da diminuição do conhecimento da língua hebraica entre o povo a partir do período persa (séc. VI a.C.), surgiu a necessidade de uma tradução do texto bíblico lido na sinagoga para o dialeto aramaico da região. No começo a tradição era puramente oral, a cargo do leitor da comunidade, sob a característica da paráfrase. Versão de João Wycliffe (1383)

O inglês João Wycliffe agrupou as palavras-chaves dos duzentos idiomas falados em sua pátria e fez deles uma língua, traduzindo quase todas as Escrituras Sagradas, partindo-se da Vulgata Latina.

Seu objetivo com isso era dar aos ingleses uma versão no seu próprio idioma. Ele conseguiu o seu intento e fez uma versão da Bíblia inteira para o inglês, a partir da Vulgata.

A Wycliffe Bible Translators, a United Bible Societies, as Sociedades Bíblicas, numerosas organizações missionárias e o trabalho exaustivo dos tradutores, e também dos nativos de diversos países, têm proporcionado a tradução das Escrituras Sagradas para inúmeras línguas e dialetos, permitindo que sejam conhecidas pelos povos espalhados por todo o mundo.

As traduções de Lutero e Tyndale

A invenção da imprensa, por Gutenberg, na Alemanha, em 1454, foi uma grande ajuda para a pregação da Palavra de Deus.

Por volta dos anos 1521 e 1522, na Alemanha, Martinho Lutero traduziu o Novo Testamento do grego para o alemão popular e, logo após, seguiu seu intento iniciando a tradução de todo o Antigo Testamento diretamente do hebraico, terminando onze anos mais tarde, precisamente em 1534. Os editores, percebendo que a “Bíblia” de Lutero teve impressionante aceitação, começaram a publicar novas edições.

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O inglês William Tyndale, da mesma época de Lutero, empenhou-se na grande tarefa de colocar a Bíblia na mão de seu povo. Para tanto, deixou a Inglaterra em 1524, e foi à Alemanha, certo de que essa campanha seria impossível em sua pátria. Ao fim de um extenuante ano de trabalho, Tyndale lança o Novo Testamento em inglês, baseado nos idiomas que Wycliffe havia reunido. Em oculto, no ano de 1526, cerca de seis mil cópias da poderosa Palavra de Deus foram distribuídas.

Quando os opositores da Bíblia souberam do fato, moveram contra a Bíblia intensa perseguição, terminando com um grande espetáculo público. Esse local público foi denominado “Cruz de Paulo”, onde amontoaram 150 cestos de Novos Testamentos e constrangeram os crentes a atear fogo. A queima foi tão intensa que o povo estava agora disposto a pagar qualquer preço pelo livro proibido. Dessa forma, as impressoras alemãs tiraram novas edições, que entraram na Inglaterra enriquecendo gananciosos comerciantes e espalhando a luz do Evangelho nos redutos da idolatria.

No entanto, sofrimentos viriam para pôr em prova o povo de Deus. O bispo Tunstall e o cardeal Wolsey, líderes da oposição à Bíblia, prenderam dezenas de pessoas, queimaram vivos todos os condenados à morte e enviaram agentes à Alemanha para prender Tyndale e o levarem vivo à Inglaterra. Ciente do perigo que corria, Tyndale escondeu-se em casa de Filipe, o Magnânimo, amigo da Reforma, e ali começou a estudar o hebraico e a traduzir o Antigo Testamento para o inglês.

Tyndale foi preso no dia 6 de outubro de 1536 e estrangulado publicamente. Em seguida queimaram o seu corpo. Devido à perseguição que se alastrava pela Europa na época, infelizmente o Antigo Testamento só foi traduzido até o livro de Crônicas. A versão de William Tyndale, a primeira do Novo Testamento do grego original, foi impressa na Alemanha, em 1536. Ele completou a tradução do Pentateuco a partir do hebraico, em 1530, e seguiu traduzindo os demais livros do Antigo Testamento. Antes do seu martírio, em 1536, deixou seu amigo João Rodgers incumbido de concluir a obra. A Bíblia inteira foi impressa em inglês em 1537. Mas por causa do ódio e da perseguição ao mero nome de Tyndale, foi publicada sob o nome de Tomás Mateus, sendo conhecida até os dias de hoje na Inglaterra como a Bíblia de Mateus.

Tyndale não podia achar descanso em parte alguma na sua Inglaterra nativa. Ele a deixou em 1524 para ir à Alemanha e outras partes do continente europeu, deportado por causa da sua fé e esforços para dar a Bíblia ao povo simples. Estudava e traduzia sem que ninguém soubesse e buscava impressores evangélicos para imprimir seu Novo Testamento. Considera-se que não menos de 18.600 exemplares foram passados em contrabando para a Inglaterra, escondidos debaixo de telas e sacos de farinha.

Os bispos católicos insistiam em manter soldados inspecionando os barcos que chegavam a todos os portos do oeste da Inglaterra. Nessa investida, acharam centenas de exemplares do Novo Testamento, que foram queimados publicamente nas praças de Londres. Apesar de toda essa perseguição, os livros continuaram chegando e sendo vendidos, pois havia muitos comerciantes evangélicos e o povo estava conhecendo a Bíblia com ansiedade.

Ao ser encontrado pelos líderes romanos, Tyndale foi preso. Mesmo encarcerado, ele se ocupava dia e noite com a tradução do Antigo Testamento. Tyndale morreu queimado em praça pública na Antuérpia.

King James ou versão do Rei Tiago

Ao eliminar a autoridade papal, Henrique VIII acabou promovendo uma reforma religiosa em seu país. Mas tal reforma não agradou a todos, mesmo porque a nova religião ainda continuava com muitas práticas da Igreja Romana. Os que se conformaram com a situação religiosa vieram a se chamar Anglicanos. Aqueles que queriam uma reforma mais profunda, nos moldes da Luterana, foram chamados Puritanos.

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Em 1603, o rei Tiago I, tão logo subiu ao trono inglês, convocou alguns dos mais ilustres Anglicanos e Puritanos para discutirem coisas erradas dentro da igreja. Havia muito debate entre os dois lados, pois enquanto um usava a Bíblia do Bispo, o outro usava a de Genebra, ou Calvinista. Cada partido religioso procurava menosprezar a Bíblia do outro.

O rei Tiago indicou então uma comissão de 54 eruditos dentre os dois grupos religiosos para que preparassem uma revisão perfeita e completa da Bíblia, que passaria a ser a versão oficial da igreja da Inglaterra. A comissão, em vez de revisar, preparou uma tradução direta das Escrituras hebraica e grega, trazendo luz a famosa versão hoje conhecida por Versão do Rei Tiago, publicada em 1611. A Bíblia em Português

A primeira tradução da Bíblia em português foi feita pelo pastor João Ferreira de Almeida. Fato interessante é que o trabalho foi realizado fora de Portugal, na cidade de Batávia, ilha de Java, no Oceano Índico. Hoje, chama-se Jacarta, capital da Indonésia.

Almeida foi ministro do Evangelho da Igreja Reformada Holandesa, a mesma que evangelizou o Brasil, com sede em Recife durante a ocupação holandesa, no século XVII. Ele nasceu em 1628, em Torre de Tavares, Portugal e faleceu em Java, em 1691.

A Versão de Almeida Almeida traduziu primeiro o Novo Testamento, o qual foi publicado em 1681 em Amsterdã,

Holanda. O Antigo Testamento foi traduzido primeiramente até Ezequiel. Foi interrompida a tradução por causa da sua morte, em 1691.

Ministros do Evangelho da Igreja Reformada Holandesa, amigos de Almeida, terminaram a referida tradução em 1694, e publicaram a tradução completa em 1753.

A Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, de Londres, começou a publicar a tradução de Almeida em 1809, apenas o Novo Testamento. A Bíblia completa num só volume começou a ser publicada partir de 1819.

A Bíblia de Almeida foi publicada pela primeira vez no Brasil em 1944 pela Imprensa Bíblica Brasileira, uma organização da Igreja Batista. Em 1951 esta organização lançou a Edição Revista e Corrigida, abreviadamente conhecida por ARC. De 1946 a 1956, uma comissão de especialistas brasileiros preparou a Edição Revista e Atualizada de Almeida, conhecida por ARA. O N.T. foi publicado em 1951 e o A.T. em 1958.

Outras Traduções

Versão do Padre Antonio Pereira de Figueiredo – é uma obra do padre português de mesmo nome, o qual traduziu a Bíblia tomando como base a Vulgata. A primeira edição culminou na publicação do N.T. em 1778. O A.T. foi concluído em 1821 e continha os “apócrifos”. Fato curioso é que uma nova edição preparada por Bagter (editor inglês de Bíblias) em 1828 foram eliminados os “apócrifos”. Em 1842, a rainha de Portugal, Maria II, aprovou o trabalho de Bagter.

Tradução Brasileira – Feita por uma comissão de teólogos brasileiros e estrangeiros. O Novo

Testamento foi publicado em 1910 e o Antigo Testamento e 1917. É uma tradução muito fiel ao original. Esgotada, sua publicação foi suspensa em 1954.

Tradução de Humberto Rhoden – Padre brasileiro, de Santa Catarina. Traduziu só o Novo

Testamento, publicado em 1935. Esse padre deixou a Igreja Romana. É uma versão muito usada na crítica textual.

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Tradução de Mato Soares – Também era padre brasileiro. Traduziu da Vulgata. Sua tradução foi publicada no Brasil em 1946. Em Portugal desde 1933. É a Bíblia popular dos católicos romanos de fala portuguesa. Essa tradução possui um grave inconveniente, são os itálicos muito extensos que conduzem a preconceitos e cria tendências.

Bíblia de Jerusalém – No final da década de 50, a Escola Bíblica de Jerusalém, localizada na

França, publicou uma obra criteriosa baseada nos melhores manuscritos hebraicos e gregos. Em 1973, no Brasil, teve início o trabalho de tradução a partir desses textos franceses, realizado por uma equipe de exegetas católicos e protestantes, os quais concluíram o Novo Testamento em 1976 e o Antigo em 1981, com introduções, nota de rodapé, referências marginais e apêndices.

Bíblia na Linguagem de Hoje (BLH) – Tradução empreendida pela Sociedade Bíblica do

Brasil, a qual publicou o N.T. em 1973 e a Bíblia completa em 1988. A proposta desse texto é a comunicação ao leitor da Bíblia numa linguagem falada no Brasil atualmente. Nesse texto, as medidas e calendários já são dados nos seus equivalentes modernos.

Tradução Novo Mundo – As Testemunhas de Jeová publicam uma versão falsificada de toda

a Bíblia – a Tradução Novo Mundo. O texto é mutilado e cheio de interpolação (elementos que não constam no original). Foi preparado para apoiar as crenças antibíblicas dessa seita.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 1. Cabral, J. Introdução Bíblica. 7ed. Rio de Janeiro-RJ: Universal Produções, 2001. 2. Faculdade Teológica e Apologética Dr. Walter Martin. Curso Interdenominacional de Teologia. Módulo I. Jundiaí: ICP, 2003. 3. Faculdade Teológica e Apologética Dr. Walter Martin. Curso Interdenominacional de Teologia. Módulo II. Jundiaí: ICP, 2003. 4. Geisler, Normam & Nix, William. Introdução Bíblica: como a bíblia chegou até nós. 1ed. São Paulo: Vida, 2006. 5. IBADEP – Instituto Bíblico das Assembléias de Deus no Estado do Paraná. Bibliologia. 4ed. Guaíra-PR: Ibadep, 2005. 6. Silva Filho, Isaac Severino. Apostila de Bibliologia. 1ed. Sâo Luis-MA: Instituto Bíblico Logos, 2009.