Betel - Livros Proféticos-Apostila1

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Betel Japonês Seminário Teológico Evangélico Ensinando a Palavra e Realizando Missões

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Betel Japonês Seminário Teológico

Evangélico Ensinando a Palavra

e Realizando Missões

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Betel Japonês — Livros Proféticos 2

SÍNTESE DOS LIVROS PROFÉTICOS I. INTRODUÇÃO AOS LIVROS PROFÉTICOS

QUADRO PANORÂMICO DOS LIVROS PROFÉTICOS . . . . . . . . . . . . . . . . 4

A FUNÇÃO DOS PROFETAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

A NATUREZA DAS PROFECIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

PROFETAS ORAIS E PROFETAS DA ESCRITA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

Anexo: 1. PARA LER E ENTENDER OS LIVROS PROFÉTICOS. . . . . . . . . . 11

II. PROFETAS MAIORES

ISAÍAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

Anexos: 2. AS PROFECIAS MESSIÂNICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

3. SÍRIA E ASSÍRIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28

JEREMIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

LAMENTAÇÕES DE JEREMIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

Anexo: 4. BABILÔNIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

EZEQUIEL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

DANIEL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

Anexo: 5. PÉRSIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

III. PROFETAS MENORES

INTRODUÇÃO AOS PROFETAS MENORES

OSÉIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86

JOEL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89

AMÓS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

OBADIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103

JONAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107

MIQUÉIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110

NAUM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .113

HABACUQUE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .115

SOFONIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .119

AGEU . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123

ZACARIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126

MALAQUIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134

Anexo: 6. PROFECIAS NOS PROFETAS MENORES: PREDIÇÃO E CUMPRIMENTO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141

BIBLIOGRAFIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144

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Betel Japonês — Livros Proféticos 3I - INTRODUÇÃO AOS LIVROS PROFÉTICOS

O primeiro grupo de escritos do Antigo Testamento compreende

cinco livros, que vão de Gênesis a Deuteronômio, os quais estão ligados entre si. Foram escritos por Moisés, relacionando-se ao preparo de Israel para entrar em Canaã. A seguir, vem o grupo formado por doze livros, de Josué a Ester, classificado como livros históricos. São de escritores diferentes, mas todos se referem à ocupação de Canaã por Israel. Outro grupo compõe-se de dezessete livros proféticos, divididos em cinco escritos dos profetas “maiores” e doze dos chamados profetas “menores”. Entre os Livros Históricos e os Livros Proféticos, está o grupo dos Livros Poéticos, os quais não são nem históricos nem proféticos, mas experienciais.

Nos profetas maiores encontram-se “(...) todos os aspectos éticos básicos da profecia do Antigo Testamento e da predição messiânica. Em Isaías, o futuro Messias é visto como o Salvador que sofre e como o último soberano que reina no império mundial. Em Jeremias, onde temos também a demanda completa do Senhor contra Israel, Ele é o ‘Renovo’ justo de Davi e o Restaurador final do povo julgado e disperso. Em Ezequiel, olhando para além dos juízos intermediários, nós vemos o Messias como o Pastor e Rei perfeito, em cujo reinado glorioso o templo ideal será erguido. Em Daniel, que nos apresenta a cronologia mais específica dos tempos e eventos em sua ordem sucessiva, vemos o Messias “eliminado”, sem trono e sem reino, todavia apresentando-se finalmente como Imperador universal sobre as ruínas do fracassado sistema gentio mundial. Os doze escritos agrupados como “profetas menores”, embora ampliem vários aspectos, não determinam a forma principal da profecia messiânica. Eles se adaptam à estrutura geral já apresentada para nós em Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel.”1 Esta classificação “maiores” e “menores” está relacionada à quantidade do material escrito.

Os Livros Proféticos apresentam um tipo especial de literatura bíblica escrita para objetivos específicos na história posterior de Israel. Os 17 livros de profecia complementam os 12 Livros Históricos de muitas maneiras. A ênfase não é tanto histórica, e sim exortativa. O tom é também mais intenso, como arautos notáveis trazendo conselho e admoestação em épocas de grande crise e angústia nacional. Todavia, além de censurar por falhas passadas e advertir diante das crises contemporâneas na vida de Israel, os profetas apontavam para o futuro. Falavam do julgamento e dos tempos messiânicos que viriam para promover arrependimento e volta à justiça.

1 J. Sidlow Baxter. Examinai as Escrituras (vol. III). Edições Vida Nova, 1993, p. 210.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 4QUADRO PANORÂMICO DOS LIVROS PROFÉTICOS Profeta Livro

Cap.

Verso-Chave

Tema do Livro (Mensagem da Aliança)

Data a.C. (aprox.)

Lição Principal

Jesus Cristo apresentado

como Isaías 66 9:6-7

53:6 A Salvação é do Senhor tanto nacional quanto pessoal.

740 a 680 A salvação é de Deus!

O Messias

Jeremias 52 7:23-24 8:11-12

Rebelião final de Judá e sua retirada da terra da aliança.

627 a 580 Ide e dizei! O Renovo da Justiça

Lamentações 5 2:5-6 3:22-23

A miséria humana e o significado da destruição de Jerusalém.

588 a 586 A graça de Deus sempre brilha!

O Justo Renovo

Ezequiel 48 36:24-26 36:33-35

Destruição de Jerusalém quando a glória se afasta e restauração quando a glória volta.

593 a 570 Julgamento e restauração

O Filho do Homem

Daniel 12 2:20-22 2:44

Soberano cuidado de Deus para com Israel durante os tempos gentios.

605 a 530 Deus é soberano! A Pedra que Esmiúça

Antes do cativeiro do Norte (722 a.C.) Caráter de Deus

Oséias 14 4:1

11:7-9

Amor inabalável de Deus por Israel a fim de trazer julgamento e restauração final. Aliança violada por Israel.

Amor Voltai para Deus!

O que Encaminha o Desviado

Joel 3 2:11

2:28-29

O julgamento do Senhor e a salvação no seu dia. Aviso a Judá do julgamento devido ao pecado.

Julgamento Arrependei-vos, porque o “dia do Senhor” está chegando!

O Restaurador

Amós 9 3:1-2

8:11-12

O próximo julgamento de Israel pela corrupção moral e injustiça social.

Aviso a Israel do julgamento amadurecido.

Justiça Prepara-te para te encontrares com o teu Deus!

O Divino Lavrador

Obadias 1 v.10

v. 21

Julgamento de Deus sobre o vingativo Edom e a restauração final de Israel. Advertência acerca da proteção da aliança.

Vingança Possuí as vossas herdades!

Nosso Salvador

Jonas 4 2:8-9

4:2

Amplitude da misericórdia de Deus e estreiteza obstinada de Jonas. Censura à Israel pelo egoísmo nacional.

Misericórdia “Levanta-te e vai”

Nossa Ressurreição e Vida

Miquéias 7 6:8 7:18

Caráter do Senhor como Juiz justo e Pastor cuidadoso de Israel. Censura a Judá pelas injustiças sociais.

Perdão para com o mundo

Ouvi-o! Testemunha contra Nações Rebeldes

Antes do cativeiro do Sul (606-586 a.C.) Naum 3 1:7-8

3:5-7 Grande julgamento divino sobre Nínive, a violenta Rainha do Oriente. Terror de Deus sobre os atacantes de Judá.

Zelo Cuidado, o Senhor vinga!

Fortaleza no Dia da Angústia

Habacuque 3 2:4 3:17-19

Os justos viverão pela fé na santidade e no justo julgamento divino. Uso divino de estrangeiros para a disciplina.

Santidade Vivei pela fé! O Deus da minha Salvação

Sofonias 3 1:14-15 2:3

A grande ira do Senhor e a redenção do Dia do Senhor.

Indignação Deus é poderoso para salvar!

Um Senhor Zeloso

Depois do regresso do cativeiro (536-425 a.C.) Ageu 2 1:7-8

2:7-9 A bênção do Senhor relacionada com a reconstrução do Templo. Glória verdadeira na Presença de Deus.

Glória Edificai para Deus!

O Desejado de todas as Nações

Zacarias 14 8:3 9:9

A necessidade de completar o Templo e de preparar-se para a vinda do Messias.

Livramento Voltai para Ele! O Renovo da Justiça

Malaquias 4 2:17—3:1 4:5-6

Bondade de Deus para com Israel e a altiva ingratidão dos israelitas. Obrigações da aliança até que o Messias venha.

Grandeza Arrependei-vos e voltai!

O Sol da Justiça

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Betel Japonês — Livros Proféticos 5

Os profetas foram uma sucessão de mensa-geiros convocados para um período especial — uma época de purificação e apostasia. Eram “revivescentes e patriotas” que falavam da parte de Deus ao coração e à consciência da nação; mas seu significado mais profundo é que foram especialmente chamados e inspirados por Deus para transmitir uma mensagem de advertência e súplica, antes que o golpe do juízo divino colocasse os dois reinos hebreus sob o tacão de seus captores ímpios.

Os profetas de Israel foram chamados indivi-dualmente e ungidos por Deus para o serviço de “emergência”, em contraste com o serviço regular dos sacerdotes, anciãos e reis. Além de serem denomina-dos “profetas”, também recebiam o nome de “videntes”, “sentinelas” ou “pastores”. Esses termos indicam suas funções ao serem chamados por Deus para interpretar e anunciar a palavra específica do Senhor para o seu povo. As funções gerais dos profetas podem ser observadas nas três seguintes classificações:

Porta-voz especial de Deus. O termo “profeta” (heb. nabhi, e gr. prophetes) significa “falar por” ou representar. Sua tarefa mais importante era agir como embaixadores ou mensageiros divinos, anunciando a vontade de Deus para o seu povo, especialmente em época de crise. Eram, acima de tudo, pregadores da justiça em época de decadência moral e espiritual, quase sempre numa posição isolada.

Vidente. A credencial de um profeta verdadeiro de Deus era a habilidade infalível de penetrar no futuro e revelá-lo (Dt 18:21-22). Essa habilidade autenticava sua mensagem como sendo divina, porquanto somente

Deus conhece o futuro. Por intermédio dessa função profética, Deus chamou a atenção para o seu programa futuro com relação a Israel e às nações, elaborando depois o que já tinha esboçado nas alianças com os antepassa-dos (IIRs 17:13).

Baxter faz o seguinte comen-tário: “Como lemos em ISm 9:9, em tempos idos os profetas de Israel eram chamados ‘videntes’, denominação que persiste até os cativeiros (IICr 33:18; 35:15), sendo usada como sinônimo de ‘profeta’ (IISm 24:11; IICr 16,7,10).

Esse nome primitivo, ‘vidente’, é notável por indicar aquilo que está por trás do pronunciamento inspirado do profeta. Ele era um vidente indivíduo sobrenaturalmente capacitado a “ver” coisas que se encontram além do conhecimento humano comum. É bom notar, no entanto, que embora seja dito que o profeta “viu” alguma coisa, isso não significa necessariamente que tenha visto algo na forma de uma visão, com seus olhos naturais. Do mesmo modo, quando nos é dito que Deus falou ao profeta, não devemos entender que necessariamente houve uma voz que ele ouviu com seu ouvido físico. O elemento vital em cada caso é que o profeta deve ter sido capaz de distinguir perfeitamente entre a comunicação divina e sua consciência pessoal. Só assim poderia haver a autoridade ou a compulsão de falar como porta-voz de Deus. Não precisamos especular quanto aos modos pelos quais o Espírito Santo comunicava as verdades especiais a esses homens quer por meio de sonho, visão, voz, sinal, quer por um impacto interior direto sobre a mente. Mistérios sobre tal revelação e inspiração realmente existem; mas isso de maneira alguma anula os fatos provados que proclamam sua realidade.” 2

Professor da Lei e da justiça. Apesar de os sacerdotes e os levitas serem normalmente os professores de Israel, os profetas também receberam essa função quando o sacerdócio degenerou (Lv 10:11; Dt 33:10; Ez 22:26). Quando ensinavam, o contexto era geralmente de julgamento (Is 6:8-10; 28:9-10).

2 J. Sidlow Baxter. Examinai as Escrituras. Vol. 3, p. 224-225.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 6“No período mais antigo, a função profética

pertencia aos levitas, que tinham a responsabilidade de ensinar as implicações da Lei Mosaica para a conduta diária nos assuntos da vida de todos os dias. Mas até a própria Torá previa a possibilidade duma classe de profetas distinta dos sacerdotes, desempenhando um papel análogo ao de Moisés (cf. Dt cap. 18 — uma passagem que não somente prediz o Profeta Messiânico, mas também estabelece a ordem dos profetas como tal). Enquanto o sacerdócio ia se tornando sempre mais profissional nas suas atitudes, e mais relaxado na prática (como, por exemplo, Hofni e Finéias, os filhos de Eli), uma nova ordem de ensinadores surgiu para manter a integridade do relacionamento com Deus através da aliança, despertada no coração dos israelitas. Alguns dos profetas surgiram da tribo sacerdotal Levi, tais como Jeremias e Ezequiel, mas a maioria deles pertencia a outras tribos.” 3

Campbell Morgan diz que havia três elementos na mensagem dos profetas, diretamente de Deus.

1. A mensagem para os seus dias.

2. A mensagem de predição de acontecimentos futuros.

a) O fracasso do povo escolhido de Deus e o juízo divino sobre o povo e sobre as nações em redor.

b) A vinda do Messias, sua rejeição e sua glória final.

c) O Reino Messiânico que seria finalmente estabelecido na Terra.

3. A mensagem viva para os nossos dias os princípios eternos do bem e do mal.

Relação entre profetas e sacerdotes

Embora ambos fossem designados por Deus para o serviço religioso, havia entre eles algumas diferenças importantes:

a. Quanto à chamada, os profetas eram chamados e designados por Deus individualmente, ao passo que os sacerdotes eram designados em virtude da sua descendência de Arão.

b. Quanto ao cargo, os profetas eram represen-tantes de Deus perante o povo; os sacerdotes eram representantes do povo perante Deus. Portanto, o principal lugar do ministério dos sacer-dotes era o santuário, o lugar da presença de

3 Gleason L. Archer Jr. Merece Confiança o Antigo Testamento? Edições Vida Nova, 2000 (3ª ed., reimp.), p. 224.

Deus, ao passo que os profetas dirigiam-se ao povo nas cidades e na zona rural.

c. Quanto à obra especial, os profetas preocu-pavam-se com a justiça espiritual e a purificação do coração; os sacerdotes estavam mais interes-sados no sistema religioso da aliança de Israel. Ambas as funções eram importantes para o sistema de aliança de Israel, e se comple-mentavam.

d. Quanto ao ensino, ambos interpretavam a Lei. Os sacerdotes eram professores habituais; os profetas eram pregadores de reavivamento. Os sacerdotes “informavam”, os profetas “reforma-vam”. Os sacerdotes instruíam a mente do povo, os profetas desafiavam o arbítrio, e se pronun-ciavam com enérgica insistência quando a Lei era negligenciada pelos líderes e pelo povo.

Dionísio Pape4 dá o seguinte esquema cronológi-

co aproximado:

Os 4 Profetas Maiores

Os 12 Profetas Menores

Acontecimentos Políticos

ISAÍAS

Oséias Joel Amós Jonas Miquéias Naum

DOMINAÇÃO DA ASSÍRIA Queda de Samaria, 722 a.C. Exílio de Israel na Assíria Queda de Nínive, 612 a.C. Fim do Império Assírio

JEREMIAS

Habacuque

Sofonias

DOMINAÇÃO DA BABILÔNIA

Queda de Jerusalém, 587 a.C.

EZEQUIEL

DANIEL

Obadias

O EXÍLIO DE JUDÁ

Na Babilônia durante 70 anos

Queda da Babilônia, 539 a.C.

Ageu

Zacarias

Malaquias

DOMINAÇÃO DA PÉRSIA

O rei persa Ciro toma a Babilônia, e em 538 a.C. autoriza a volta do exílio.

Restauração do templo, 517 a.C.

Espera do Messias, 450 a.C.

4 Dionísio Pape. Justiça e Esperança para Hoje: a mensagem dos Profetas Menores. ABU Editora, 1982 (1ª ed.), p.10.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 7

A NATUREZA DA PROFECIA1. Profecia não é simplesmente predição do futuro.

Segundo a etimologia da palavra ‘profeta’, o prefixo pro significa em lugar de e phemi (vem do grego) significa falar. Um profeta, então, é alguém que fala em lugar de outra pessoa. Embora toda predição seja uma profecia, nem toda profecia é uma predição. A profecia pode referir-se ao passado (uma palavra inspirada em retrospecto) ou ao presente, assim como ao futuro (uma palavra inspirada em antecipação). A profecia, quando não se refere ao futuro, é uma declaração da verdade, sobre qualquer assunto, recebida por direta inspiração de Deus. Profecia no sentido de predição é uma declaração do futuro de um modo que seria impossível à sabedoria comum do homem e que só pode vir por inspiração direta de Deus.

2. A profecia, no sentido bíblico, é o produto e a expressão de uma inspiração direta de Deus. Implica uma pessoa chamada ou nomeada para proclamar como arauto a mensagem do próprio Deus.5 O constante refrão dos profetas é “Assim diz o Senhor”; eles se apresentavam ao povo para tornar conhecida a vontade de alguém acima deles e expressar pensamentos e propósitos mais elevados dos que os seus. Eles não falavam de homem para homem, mas como pessoas investidas de autoridade por Deus a fim de falar em Seu nome aos pecadores. Nas palavras de IIPedro 1:21, esses homens eram “movidos pelo Espírito Santo” o termo grego traduzido aqui como “movidos” significa ser conduzido ou impelido, e com certeza ensina que a inspiração dos profetas era uma obra definitivamente sobrenatural operada neles, objetivando a transmissão sem erro da verdade divinamente revelada a eles.

3. Os profetas estavam longe de ser infalíveis em si mesmos. Também não viviam num estado de inspiração perpétua que garantisse infalibilidade a todas as suas palavras e atos. Isso está ilustrado no caso do profeta Natã (ver IISm 7). Todavia, em todas as suas transmissões de comunicações especiais ou diretas de Deus, a inspiração dos profetas pelo Espírito Santo era tal que os tornava infalíveis como veículos da mensagem divina esse era o resultado assegurado pela obra sobrenatural da inspiração.

4. A inspiração e a pessoa do profeta. Pode-se perguntar: Qual era a condição do profeta em si enquanto sob a influência da inspiração? Continuava em posse normal de suas faculdades

5 Segundo esta interpretação, o profeta não deveria ser considerado

o profissional que se nomeou a si mesmo, cujo propósito seria persuadir as pessoas a aceitar opiniões da sua própria lavra.

naturais, sendo senhor de si mesmo, como nas ocasiões comuns? Ou seus poderes naturais tornavam-se inoperantes por algum tempo, seja por meio de um êxtase sobrenatural ou por um estado de passividade anormal? Quem responde a estas perguntas formuladas por Baxter 6 é C. Von Orelli: “Essa inspiração não é tal que suprima a

consciência humana do receptor, de modo a receber a palavra de Deus em estado de torpor ou transe. O receptor, pelo contrário, está de posse de toda a sua consciência, conseguindo depois dar um relato claro do que aconteceu. A individualidade do profeta também não é eliminada por essa inspiração divina. A peculiaridade individual do profeta é um fator importante no que diz respeito à forma como a revelação é dada a ele. Num profeta, vemos uma preponderância de visões; outro não tem visões. Mas as visões do futuro tidas pelo profeta são dadas nas formas e cores fornecidas pelo seu próprio consciente. Mais ainda, a maneira pela qual o profeta dá expressão à palavra de Deus é determinada pelos seus talentos e dons pessoais, assim como por suas experiências.” 7

VÁRIAS CLASSES DE PROFETAS

Os profetas de Israel remontam aos antepassados

Abraão, Moisés e Samuel, que foram denominados

6 Examinai as Escrituras (vol. III). Pág. 222.

7

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Betel Japonês — Livros Proféticos 8“profetas” (Gn 20:7; Dt 18:15; ISm 3:20). Por intermédio deles, Deus falou ao povo e estabeleceu suas alianças com a nação. Moisés foi uma espécie de protótipo dos profetas, prenunciando o último grande profeta, o Messias, que se levantaria para falar palavras poderosas, autenticadas por obras poderosas e desempenho brilhante (Dt 18:15-22). Embora os cargos de sacerdote e rei fossem restritos a homens e a determinadas tribos, algumas profetisas foram chamadas na história de Israel: Miriã, Débora e Hulda (Êx 15:20; Jz 4:4; IIRs 22:14).

Considera-se ter sido Samuel aquele que principiou a ordem profética, o primeiro duma seqüência, durante a monarquia de Israel (ISm 3:1; At 3:24). Essa seqüência não era contínua. Prosseguia, porém, esporadicamente quando o Senhor fazia a designação para esse cargo.

A partir dos dias de Samuel, “escolas de profetas” foram fundadas em Israel (ISm 19:20 a primeira escola mencionada IIRs 2:3,5), onde jovens ajuntavam-se ao redor de profetas experientes e reconhecidos, formando pequenos grupos, aprendendo deles. “Além disso, fica claro que o próprio Espírito Santo freqüentemente operava de maneira sobrenatural por meio dessas “escolas de profetas” e entre os “filhos de profetas”. Eram centros de vida religiosa, onde a comunhão com Deus era buscada mediante oração e meditação e onde a recordação dos grandes feitos de Deus no passado parecia preparar para a recepção de novas revelações. Essas escolas também eram centros de idéias e ideais teocráticos, dos quais jovens consagrados saíam para exercer enorme influência na nação e manter acesa a chama da verdade divina em meio aos dias sombrios da apostasia. Parece provável também que a música e as poesias sagradas fossem cultivadas e transmitidas tanto oralmente quanto por escrito. Foi nessas colônias de jovens estudantes devotos que o Espírito Santo encontrou uma oportunidade única de manifestar a mente de Deus à nação mediante vasos preparados. Dessa forma cresceu em Israel uma ordem profética reconhecida.” 8

Isso justifica o fato de profetas anônimos serem repetidamente citados (ver IRs 13:1,1118; 18:4; 20:13,22,35; 22:6; entre outras referências).

7 O Antigo Testamento em Quadros. Pág.54 8 J. Sidlow Baxter. Examinai as Escrituras. (vol. III). Edições Vida

Nova, p. 223. 9 A Bíblia Vida Nova, p. 376.

Comentando IRs 13:1 Eis que por ordem do Senhor veio de Judá a Betel um homem de Deus , Russell Shedd afirma: “Nenhuma passagem bíblica oferece o seu nome. É um dos muitos profetas de Deus que transmitiram aos herdeiros do poder real as mensagens divinas, quando estes andavam desviados dos caminhos que Deus lhes indicara. Deus sempre teve mensageiros, que nem sempre se tornavam famosos; o importante é entregar a mensagem e viver fiel a ela. É interessante procurar saber quantos deles são mencionados nos dois livros dos Reis, especialmente porque o nome que os hebreus dão aos livros de Josué, Juízes, I e II Samuel, I e II Reis é “Profetas Anteriores”, constando como “Profetas Posteriores” aqueles cujas palavras são registradas no Livros que têm o seu nome: Isaías, Jeremias etc.” 9

Eram profetas da “palavra” ou orais e da “escrita”.

Profetas da “escrita” Quase todos os profetas da “escrita” escreveram

depois de terem sido profetas da “palavra” 10. Principiando próximo da época do expurgo do culto a Baal por Jeú, os períodos de maior concentração desses profetas foram justamente antes da destruição do Reino do Norte e antes da destruição do Reino do Sul. Manifestavam-se geralmente em época de decadência nacional e julgamento iminente. Eram, num certo sentido, as incômodas consciências da nação.11

10 Deve-se lembrar que, embora muitos profetas tenham sido

classificados como profetas sem obras escritas, são assim referidos porque nenhum de seus escritos chegou até nós. Parece provável que alguns deles tenham escrito, mas suas palavras não foram preservadas para nós. Veja, por exemplo, referências aos escritos de Natã (IICr 9:29), Gade (ICr 29:29), Aías (IICr 30:34), Semaías (IICr 12:15), Odede (IICr 15:8) e Ido (IICr 13:22). Observação feita por J. Sidlow Baxter. Examinai as Escrituras. (vol. III). P. 215.

11 “Os profetas eram os homens mais impopulares dos seus dias, porque tratavam das condições morais e religiosas do momento. Geralmente a situação era má. Os profetas eram enviados quando a nação se distanciava de Deus, quando estava sendo desobediente. As palavras que usavam para repreender ou exortar o povo eram incisivas. A verdade raramente é popular para o pecador.” Henrietta C. Mears. Estudo Panorâmico da Bíblia. Editora Vida, 1993 (6ª imp.), p. 191.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 9Profetas da “palavra” Atuação Citação

1. Gade 2. Natã 3. Ido 4. Aías 5. Semaías 6. “Homem de Deus” 7. “Velho profeta” 8. Azarias 9. Hanani

10. Jeú, filho de Henani 11. Jaaziel 12. Elias 13. Profeta desconhecido 14. Micaías 15. Eliseu 16. Jovem profeta 17. Zacarias, filho de Joiada 18. Obede

Aconselhou a Davi no deserto. Aconselhou a Davi a respeito da Aliança e do adultério. Escreveu os Atos de Salomão. Informou a Jeroboão de que ele seria rei do Norte. Avisou a Roboão que não pelejasse contra Jeroboão. Repreendeu a Jeroboão devido aos sacrifícios aos bezerros. Testou o “homem de Deus” para certificar-se. Encorajou a Asa no seu primeiro ato de reforma. Repreendeu a Asa pelo auxílio da Síria e foi preso. Repreendeu a Baasa, de Israel, e a Josafá. Aconselhou a Josafá a confiar em Deus. Repreendeu a Acabe e Jezabel pelo culto a Baal. Aconselhou a Acabe a respeito da vitória sobre a Síria. Informou Acabe do plano do Senhor a respeito da morte do rei. Reprovou o culto a Baal em Israel e fez muitos milagres. Ungiu a Jeú para rei e destruidor da casa de Acabe. Repreendeu a Joás pela apostasia e foi morto pelo rei. Advertiu a Peca, de Israel, que libertasse os cativos judeus.

ISm 22:5 IISm 12:1 IICr 9:29 IRs 11:29 IRs 12:22 IRs 13:1 IICr 15:1 IICr 16:7 IRs 16:1 IICr 19:2 IICr 20:14 IRs 17 IRs 20:13 IRs 22:14 IIRs 2 IIRs 9 IICr 24:20 IICr 28:9

Nesse contexto pode-se observar os seguintes

temas importantes:12

Temas éticos a. A condenação da idolatria, da imoralidade e da

injustiça seguida do convite para arrependimento e vida íntegra.

b. O caráter de Deus ao exigir justiça e misericórdia, e ao prometer julgamento para os impenitentes.

c. A religião verdadeira está ligada ao coração e não apenas às mãos.

Temas escatológicos a. A vinda do Senhor e o seu impacto sobre Israel e

as nações. b. O caráter e a vinda do Messias no julgamento,

salvação e glória. c. A vinda da era messiânica e suas bênçãos sobre

Israel e o mundo. d. A preservação dos restantes fiéis de Israel.

12 “Para Ler e Interpretar com Entendimento os Profetas”, no

Anexo 1 desta apostila, traz ajuda para melhor compreensão do seu contexto histórico e das suas formas literárias.

O cativeiro é o tema principal dos profetas. Alguns serviram antes do exílio (profetas pré-exílicos); outros serviram no exílio (profetas exílicos); e outros serviram depois do exílio (pós-exílicos). Seis profetas viveram no tempo da destruição de Israel pela Assíria: Joel, Jonas, Amós, Oséias, Isaías e Miquéias. Sete profetas viveram no tempo da destruição de Judá pela Babilônia: Jeremias, Ezequiel, Daniel, Obadias, Naum, Habacuque e Sofonias. E três viveram no período da restauração: Ageu, Zacarias e Malaquias.

O período dos profetas em Israel cobriu 500 anos, do nono ao quarto século antes de Cristo. Depois as vozes dos profetas silenciaram até João Batista.

— “No inicio eu tinha lido os profetas para extrair dicas sobre o futuro, o mais tarde e o muito mais tarde. Será que o mundo vai acabar com um holocausto nuclear? O aquecimento global está de fato conduzindo aos últimos dias? Mas, na verdade, a mensagem dos profetas deve influenciar sobretudo o meu agora. Será que confio num Deus amoroso, poderoso, mesmo nesse século caótico? Será que me apego à visão de Deus de paz e justiça? Creio que Deus reina, mesmo que o mundo demostre pouca evidência disso? (...) Talvez nunca entendamos os artelhos e os chifres das bestas de Daniel. Mas, se ao menos pudermos crer que a nossa batalha é de fato contra principados e potestades; se ao menos pudermos crer que Deus é confiável e consertará tudo o que está errado; se ao menos pudermos demostrar a paixão de Deus pela justiça e pela verdade neste mundo — aí, creio eu, os profetas cumpriram sua missão mais importante e necessária.”13

13 Philip Yancey. A Bíblia que Jesus lia. Editora Vida, 2000, p. 178 e 186.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 10As épocas dos Profetas da

“Escrita” de Israel — Em nossas versões bíblicas, os livros proféticos não aparecem na ordem cronológica. Entretanto, eles estão relacionados com os dias e as circunstâncias em que foram falados e escritos. Então é importante distinguir o contexto histórico de cada um deles, conforme o quadro seguinte:

JUDÁ (REINO DO SUL) ISRAEL (REINO DO NORTE)

DATA REI PROFETA DATA REI PROFETA

CRISE: Em 931, ano da morte de Salomão, a nação se dividiu em dois reinos, Judá e Israel.

931 a.C. 913 911 873 853 841

Roboão Abias Asa Josafá Jeorão Acazias

OBADIAS (ano 845)

931 910 909 886 885 885 874 853 852

Jeroboão I Nadabe Baasa Elá Zinri Onri Acabe Acazias Jorão

Elias (ano 870-845) Eliseu (845-798)

CRISE: Em 841, Jeú matou os reis de ambos os reinos, apoderou-se do trono de Israel. E destruiu o generalizado culto a Baal no Reino do Norte.

841 835 796 792 750 743 728

Rainha Atalia Joás Amazias Azarias (Uzias) Jotão Acaz Ezequias

JOEL (ano 830-825) ISAÍAS (740-680) MIQUÉIAS (730-720)

841 814 798 793 753 752 752 742 752* 732

Jeú Jeocaz Jeoás Jeroboão II Zacarias Salum Menaém Pecaías Peca Oséias

JONAS (785-760) AMÓS (760) OSÉIAS (755-725)

CRISE: Em 722, os assírios destruíram Samaria e exilaram Israel para a Assíria. Judá foi poupado em virtude da reforma de Ezequias e do expurgo da idolatria.

697 642 640 609 609 597 597

Ezequias Manassés Amom Josias Jeocaz Jeoaquim Joaquim Zedequias

NAUM (ano 710 aprox.). JEREMIAS (ano 627-585) SOFONIAS (ano 625) HABACUQUE (ano 607) DANIEL (ano 603-536) EZEQUIEL (ano 592-570)

CRISE: Em 586, os babilônios destruíram Jerusalém e exilaram os judeus para a Babilônia. Em 538, a Pérsia libertou e devolveu os exilados para eles construírem o Templo em Jerusalém.

536 Zorobabel (gov.) AGEU (ano 520) ZACARIAS (ano 520-480)

CRISE: Em 444, a Pérsia mandou Neemias reconstruir o muro de Jerusalém e tornar-se governador.

444 Neemias (gov.) MALAQUIAS (ano 430)

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Betel Japonês — Livros Proféticos 11ANEXO 1

PARA LER E INTERPRETAR COM ENTENDIMENTO OS PROFETAS

A Palavra de Deus veio através dos profetas para pessoas em situações específicas.

Seu valor para nós depende parcialmente da nossa capacidade de apreciar aquelas

situações de modo que, por nossa vez, possamos aplicá-la à nossa própria situação.

Neste sentido, este Anexo propõe trazer ajuda ao estudante dos Livros Proféticos,

recorrendo à valiosa obra “Entendes o que lês?” 14

14 Gordon D. Fee e Douglas Stuart. Entendes o que Lês? Edições Vida Nova, 2000 (reimp.), p. 160-168.

No estudo dos Profetas, o contexto histórico pode ser maior (a era deles) ou específico (o contexto de um único oráculo). É necessário compreender os dois tipos de contexto histórico para todos os livros proféticos e, ainda, distinguir as formas literárias que os profetas empregavam no serviço das suas mensagens divinamente inspiradas.

O Contexto Maior É interessante notar que os dezesseis livros

proféticos do Antigo Testamento provêm de uma faixa um pouco estreita do panorama inteiro da história israelita, isto é, cerca de 760-460 a.C. Por que não temos livros de profecia dos dias de Abraão (cerca de 1800 a.C.) ou dos dias de Josué (cerca de 1400 a.C.) ou de Davi (cerca de 1000 a.C.)? Deus não falou ao Seu povo e ao mundo deste antes de 760 a.C.? A resposta é: naturalmente falou, e temos muita matéria na Bíblia acerca daquelas eras, inclusive alguma que trata de profetas (por exemplo, IRs 17 — IIRs 13). Além disto, lembre-se de que Deus falou especial-mente a Israel na Lei, que objetivava permanecer válida durante toda a história remanescente da nação, até que fosse ultrapassada pela Nova Aliança (Jr 31:31-34).

Por que, pois, há um registro tão concentrado da palavra profética durante os três séculos entre Amós (cerca de 760 a.C., o primeiro dos “profetas escritores”) e Malaquias (cerca de 460 a.C., o último)? A resposta é que este período na história de Israel exigia especialmente a mediação da execução da aliança, a tarefa dos profetas. Um segundo fator foi o desejo

evidente de Deus de registrar para toda a história subseqüente as advertências e as bênçãos que aqueles profetas proclamaram em nome dele durante aqueles anos fundamentais.

Aqueles anos eram caracterizados por três coisas: (1) transtornos políticos, militares, econômicos e sociais sem precedentes, (2) um nível enorme de infidelidade religiosa e de desrespeito para com a aliança mosaica original, e (3) mudanças das populações e das fronteiras nacionais. Nestas circunstâncias, a Palavra de Deus era necessária de novo. Deus levantou profetas e anunciou Sua Palavra de acordo com a situação.

Enquanto você fizer uso de dicionários, comentários e manuais, você notará que já em 760 a.C. Israel era uma nação dividida por uma longa guerra civil. As tribos do norte, chamadas “Israel” ou às vezes “Efraim” estavam separadas da tribo sulina de Judá. O norte, onde a desobediência à aliança sobre-pujava qualquer coisa do gênero já conhecida em Judá, foi destinado por Deus para a destruição por causa do seu pecado. Amós, começando cerca de 760, e Oséias, começando cerca de 755, proclamaram a destruição iminente. O norte caiu diante da super-potência do Oriente Médio daqueles tempos, a Assíria, em 722 a.C. Depois disto, a pecaminosidade cada vez maior de Judá e a ascensão doutra super-potência, a Babilônia, constituiu-se no assunto de muitos profetas, inclusive Isaías, Jeremias, Joel, Miquéias, Naum, Habacuque e Sofonias. Judá, também, foi destruída por sua desobediência em 587 a.C. Depois, Ezequiel, Daniel, Ageu, Zacarias e Malaquias anunciaram a vontade de Deus para a restauração do Seu povo

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Betel Japonês — Livros Proféticos 12(começando com um retorno do Exílio em 538 a.C.), a reedificação da nação e a reinstituição da ortodoxia. Tudo isto segue o padrão básico exposto em Deuteronômio 4:25-31.

Os profetas dirigem-se em grande medida a estes eventos. A não ser que você conheça estes eventos e outros dentro desta era, por demais numerosos para mencionarmos aqui, você provavelmente não poderá seguir muito bem o que os profetas estão dizendo. Deus falou na história e acerca da história. Para compreendermos Sua Palavra devemos conhecer algo daquela história.

Contextos Específicos Cada oráculo profético foi entregue num contexto

histórico específico. Deus falou através dos Seus profetas a pessoas num determinado tempo e lugar, e em determinadas circunstâncias. Um conhecimento da data, do auditório e da situação, portanto, quando são conhecidos, contribui substancialmente à capacidade do leitor compreender um oráculo.

Visto que o isolamento dos oráculos individuais é uma das chaves ao entendimento dos livros proféticos, é importante para você saber alguma coisa acerca das formas diferentes que os profetas usavam para compor seus oráculos. Reconhecer formas é uma condição prévia das delimitações apropriadas dos oráculos. Assim como a Bíblia inteira é composta de muitos tipos diferentes de literatura e de formas literárias, assim também os profetas empregavam uma variedade de formas literárias no serviço das suas mensagens divinamente inspiradas. Os comentários podem identi-ficar e explicar estas formas. Selecionamos três das formas mais comuns para ajudar a alertá-lo sobre a importância de reconhecer e interpretar corretamente as técnicas literárias envolvidas.

O processo jurídico. Primeiramente, sugerimos que você leia Isaías 3:13-26, que contém uma forma literária alegórica chamada “processo jurídico segundo a aliança”. Neste, e nas demais alegorias baseadas em processos jurídicos nos Profetas (por exemplo, Os 3:3-17; 4:1-19), Deus é retratado, de modo imaginativo, como sendo o demandante, o promotor público, o juiz e o oficial da justiça num processo jurídico contra o réu, Israel. A forma completa do processo jurídico contém uma carta rogatória, uma acusação, as evidências e um veredito, embora estes elementos possam às vezes estar subentendidos ao invés de explícitos. Em Isaías 3, os elementos são incorporados da seguinte maneira: O tribunal é convocado e o processo é instaurado contra Israel (vv. 13-14). A acusação formal é falada (vv. 14b-16). Visto que as evidências demonstram que Israel é claramente culpado, a sentença condenatória é prolatada em juízo (vv. 17-26). Porque a aliança foi violada, os tipos de castigo discriminados na aliança sobrevirão às

mulheres e aos homens de Israel: a doença, a des-truição, a privação e a morte. O estilo figurado desta alegoria é um modo dramático e eficaz de comunicar a Israel que vai ser castigado por causa da sua desobe-diência, e que o castigo será severo. A forma literária especial ajuda a transmitir a mensagem especial.

O ai. Outra forma literária comum é a do “oráculo do ai”. “Ai” era a palavra que os antigos israelitas exclamavam quando enfrentavam a desgraça ou a morte, ou quando lamentavam num enterro. Através dos profetas, Deus faz predições da condenação final, empregando o dispositivo do “ai”, e nenhum israelita poderia deixar de perceber a relevância do emprego daquela palavra. Os oráculos do ai contêm, ou explícita ou implicitamente, três elementos que caracterizam de modo sem igual esta forma: um anúncio da aflição (a palavra “ai”, por exemplo), a razão da aflição, e uma predição da desgraça. Leia Habacuque 2:6-8 para ver um dos vários exemplos neste livro profético de um “oráculo do ai” pronunciado contra a nação da Babilônia. A Babilônia, uma super-potência brutal, imperialista no Crescente Fértil, estava fazendo planos para conquistar e esmagar Judá no fim do século VII a.C., quando Habacuque pronunciou as palavras de Deus contra ela. Personificando a Babilônia como ladra e usurária (a razão), o oráculo anuncia o ai, e prediz a desgraça (quando todos aqueles que a Babilônia já oprimiu se levantarão contra ela um dia). Mais uma vez, esta forma é alegórica (embora nem todos os oráculos do ai o sejam: cf. Mq 2:1-5; Sf 2:5-7).

A promessa. Ainda outra forma literária profética comum é o oráculo da promessa ou o “oráculo da salvação”. Você reconhecerá esta forma sempre que vir estes elementos: a referência ao futuro, a menção de mudanças radicais e a menção de bênçãos. Amós 9:11-15, um típico oráculo da promessa, contém estes elementos. O futuro é mencionado como “Naquele dia” (v. 11). A mudança radical é descrita como a restauração e o reparo do “tabernáculo caído de Davi” (v. 11), a exaltação de Israel sobre Edom (v. 12) e a volta do Exílio (vv. 14-15). A bênção vem através das categorias da aliança que são mencionadas (a vida, a saúde, a prosperidade, a abundância agrícola, o respeito e a segurança). Todos estes itens estão incluídos em Amós 9:11-15, embora a saúde seja implícita ao invés de ser explícita. A ênfase central recai sobre a abundância agrícola. As ceifas, por exemplo, serão tão enormes que os ceifeiros não terão completado sua tarefa até ao tempo em que os semeadores começarem a plantar outra vez (v. 13)! Para outros exemplos dos oráculos de promessa, ver Os 2:16-22 e 2:21-23; Is 45:1-7; Jr 31:1-9.

Com estes breves exemplos, esperamos que você possa captar o como a consciência dos dispositivos literários proféticos ajudarão você a compreender mais exatamente a mensagem de Deus. Aprenda as formas mediante consultas aos bons comentários.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 13Os Profetas como Poetas

O povo em geral aprecia pouco a poesia. A poesia parece ser um modo estranho e confuso de expressar as coisas, como se sua intenção fosse tornar as idéias menos, e não mais inteligíveis, Nossa cultura enfatiza pouco a poesia, a não ser na música popular, que normalmente contém o tipo de poesia de má qualidade chamada versos burlescos ou de pé quebrado. Em algumas culturas da atualidade, no entanto, e na maioria das antigas, a poesia era um modo de expressão altamente prezada. A totalidade das epopéias nacionais e das memórias-chaves históricas e religiosas era preservada em poesia. Dizemos “preservada” porque uma vantagem importante da poesia sobre a prosa é que é mais facilmente memorizável. Um poema tem certo ritmo (também chamado métrica), certos equilíbrios (também chama-dos paralelismo ou esticometria), e uma certa estrutura global. É relativamente regular e ordeira. Uma vez bem aprendida, a poesia não é tão facilmente esquecida quanto a prosa.

A prosa poética às vezes empregada pelos profetas é um estilo especial, formal, que emprega estas mesmas características, embora de modo menos consistente. Porque é tanto mais regular e estilizada do que a linguagem falada comum (a prosa coloquial), ela, também, é melhor lembrada. Para maior conveniência, falemos também acerca dela com o termo geral “poesia”.

No Israel antigo a poesia era largamente apreciada como meio de aprendizado. Muitas coisas que eram suficientemente importantes para serem lembradas eram consideradas apropriadas para a composição na forma poética. Assim como podemos reproduzir de cor as palavras de cânticos (isto é, os poemas chamados “líricos”) muito mais facilmente de que podemos reproduzir frases de livros ou discursos, os israelitas achavam relativamente fácil memorizar e relembrar coisas compostas em poesia. Fazendo bom uso deste fenômeno útil numa era em que ler e escrever eram habilidades raras e em que a posse particular de livros era virtualmente desconhecida, Deus falou através dos Seus profetas por meio de poemas, em grande medida. As pessoas estavam acostumadas à poesia, e conseguiam lembrar-se daquelas profecias, que soavam nos seus ouvidos.

Todos os livros proféticos contêm uma quantidade

substancial de poesia, e vários são exclusivamente poéticos. Antes de ler os livros proféticos, portanto, você pode achar muito útil ler uma introdução à poesia hebraica. [Sugerimos o artigo “Poesia” no Novo Dicionário da Bíblia. Edições Vida Nova, e a seção sobre poesia hebraica no comentário de Derek Kidner, Salmos I, também da Vida Nova].

Como pequeno indício dos benefícios a serem colhidos do conhecimento de como funciona a poesia hebraica, sugerimos que você aprenda estes três aspectos do estilo repeticioso da poesia vétero-testamentária. São:

1. O paralelismo sinônimo. A segunda linha, ou a linha subseqüente, repete ou reforça o sentido da primeira linha, como em Isaías 44:22

— “Desfaço as tuas transgressões como a névoa, e os teus pecados como a nuvem”.

2. O paralelismo antitético. A segunda linha, ou a linha subseqüente, contrasta o pensamento da primeira, como em Oséias 7:14

— “Não clamam a mim de coração, mas dão uivos nas suas camas”.

3. O paralelismo sintético. A segunda linha, ou a linha subseqüente, acrescenta à primeira algo que, de qualquer maneira, forneça mais informações, como em Obadias 21:

— “Salvadores hão de subir ao monte Sião, para julgarem o monte de Esaú; e o reino será do Senhor”.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 14

O LIVRO DE ISAÍAS

O PROFETA ISAÍAS a. O nome Isaías significa “Jeová é salvação”; “o

Senhor (Javé) deu salvação”. b. Nasceu e cresceu em Jerusalém (7:3; 22:15;

28:14; 37:2). c. Viveu entre os anos 760 e 640 a.C. Seu ministério

teve lugar durante os reinados de Uzias (792-740 a.C., cf. IICr 27); Acaz (724 – 708 a.C., cf. IICr 28) e Ezequias (708-679 a.C., cf. IICr 29).

d. Era filho de Amoz (distinto do profeta Amós) (1:1). Segundo a tradição judaica, Amoz era irmão de Amazias e, então, Isaías teria sido primo do rei Uzias. O acesso direto de Isaías tanto ao rei (7:3) como ao sacerdote (8:2) presta apoio à tradição.

e. Durante a maior parte de sua vida, foi pregador da corte ou capelão do rei. Tinha trânsito livre na corte; assim, acompanhava de perto a evolução da política interna e externa. Muitas vezes, até inter-feria no curso dos acontecimentos (IIRs 16; IICr 28; Is 7:4). A tradição diz que ele sobreviveu até o reinado do iníquo Manassés, quando foi por ele martirizado, sendo posto no oco do tronco de uma árvore e serrado ao meio. É possível que Hb 11:37 refira-se a ele.

1. Cenário. O versículo de introdução do livro de Isaías situa o profeta durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá. O trecho de Is 6:1 refere-se, especificamente, à morte do rei Uzias, o que pode ser datado em cerca de 735 a.C. Isaías, o filho de Amoz, proclamou sua mensagem à nação de Judá e em sua capital, Jerusalém, entre 742 e 687 a.C., o que foi um período crítico para o Reino do Norte, por causa da invasão assíria, que resultou no cativeiro assírio. Partes do livro parecem refletir um tempo posterior ao cativeiro babilônico (capítulos 40—66) conforme alguns supõem, o que só teria acontecido após a época de Isaías.

Historicamente, Isaías acompanhou Amós e Oséias, que ministraram na nação do norte, Israel. Miquéias foi contemporâneo de Isaías e também trabalhou no reino do sul, Judá.

O Santuário do Livro, no Museu de Israel, onde se encontra a preciosa coleção dos antigos pergaminhos do Mar Morto — manuscritos bíblicos encontrados em 1947 nas grutas de Qumran. A branca cúpula exterior do edifício se assemelha à tampa dos jarros de barro em que foram escondidos os pergaminhos.

O Rolo de Isaías é um dos mais bem preservados rolos de pergaminho das cavernas de Qumran. Ele contém o livro inteiro de Isaías, copiado entre 100 a.C. e 100 d.C. O rolo tem mais sete metros de comprimento. Antes de este e de outros pergaminhos serem descobertos em 1947, os mais antigos manuscritos disponíveis do Antigo Testamento datavam de mais ou menos 900 d.C.

2. Sua Vida. Sabemos que o nome do pai de Isaías

era Amoz (Is 1:1), e que sua esposa era profetisa, embora não saibamos dizer em qual capacidade (Is 8:3). Coisa alguma se sabe sobre seus primeiros anos de vida. Com base em Is 6:1-8, alguns conjecturam que ele era um sacerdote. No entanto, outros pensam que ele pertencia à família real. Isso se alicerça sobre tradições judaicas. O certo é que, aos seus dois filhos, foram dados nomes que simbolizavam a iminência do juízo divino. O primeiro deles, “Um-Resto-Volverá” (no hebraico, Shear-yashub; Is 7:3), parece que já era homem feito nos dias de Acaz. O outro filho, chamado “Rápido-Despojo-Presa-Segura” (no hebraico, Maher-shalal-hashbaz; Is 8:3), tal como seu irmão, recebeu um nome simbólico. É possível que, nesses dois nomes, estejam em pauta tanto o cativeiro assírio quanto o cativeiro babilônico.

Page 15: Betel - Livros Proféticos-Apostila1

Betel Japonês — Livros Proféticos 15Quando a nação do norte foi levada em cativeiro, a nação do sul só conseguiu permanecer precaria-mente, pagando tributo (IICr 28:21).

Calcula-se que, durante quarenta anos, Isaías atuou ativamente como profeta do Senhor em Judá. Se, afinal de contas, Isaías não pertencia à aristocracia, pelo menos sua habilidade literária confirma sua excelente educação. O seu grande centro de atividades foi Jerusalém. Não se sabe a que tribo ele pertencia. Mas ele levava a sério o seu ofício, usando roupas de linho cru e uma capa de pêlos de cor escura, vestes próprias de quem lamentava, porquanto o que ele previa para o povo de Israel era extremamente desastroso.

3. Período do Ministério de Isaías. a. Nos tempos de Uzias (783—738 a.C.) e de Jotão

(750—738 a.C., como regente, e 738—735 a.C., como governante único). Nesse primeiro período, Isaías pregava o arrependimento, mas não conseguiu convencer a quem quer que fosse. Então proferiu um terrível julgamento que estava prestes a desabar sobre a nação.

b. O segundo período de seu ofício profético começou no início do reinado de Acaz (735—719 a.C.), até o reinado de Ezequias.

c. O terceiro período começou com a ascensão de Ezequias ao trono (719—705 a.C.) até o décimo quinto ano do seu reinado. Depois disso Isaías não mais participou da vida pública, embora tivesse continuado a viver até o começo do reinado de Manassés.

O ministério de Isaías, portanto, estendeu-se por um período de pelo menos quarenta anos (740-701) e talvez mais, já que Ezequias não morreu antes de 687 e é duvidoso que o co-regente Manassés ousasse martirizar Isaías com Ezequias ainda vivo.

4. Escritor. Além do livro que tem seu nome, Isaías escreveu uma biografia do rei Uzias (IICr 26:22) e outra de Ezequias (IICr 32:32). Contudo, essas biografias, com o tempo, se perderam.

5. Estilo. Isaías escrevia com vigor e eloqüência sem iguais, entre todos os demais profetas do Antigo Testamento. Com toda a justiça, pois, ele é considerado o principal dos profetas escritores. Seus escritos antecipavam os ensinamentos bíblicos sobre a graça divina. Sua linguagem é rica e repleta de ilustrações. Seu estilo é severo, apesar de imponente. Suas aliterações e bem calculadas repetições ilustram grande habilidade literária, colocando seus escritos numa classe toda à parte. Ele jamais se precipitava em suas palavras, as quais fluíam graciosamente. A parábola da vinha (Is 5:1-7) serve de excelente exemplo do uso poderoso que ele fazia das palavras. Suas doutrinas norma-

tivas eram o reinado e a santidade de Yahweh. Com base nisso, segue-se, necessariamente, o julgamento divino contra os desobedientes. A Assíria estava aterrorizando Israel, mas como um terror enviado por Deus contra um povo desobediente. Todavia, Deus permanecia no controle das coisas. Coisa alguma acontece de surpresa para Ele. O propósito de Deus terá de prevalecer, finalmente (Is 14:24-27; 28:23ss.). Apesar de suas profecias melancólicas, Isaías previu o dia do triunfo do Bem. Chegará, afinal, o tempo em que a Terra encher-se-á do conhecimento de Yahweh, assim como as águas cobrem o mar (ver Is 11:9). Profetizou para a nação de Israel que Ciro seria o

seu libertador (Is 45:1-13), duzentos anos antes do nascimento de Ciro. E profetizou acerca de Jesus, o Messias (Is 53). Tem sido chamado “o maior dos profetas” e o “profeta da redenção”. Foi um dos maiores profetas do VT, não somente pela duração do seu ministério, mas pela variedade de assuntos tratados no seu livro. É denominado “o teólogo dos teólogos”.

A tradição rabínica de que Amoz, pai de Isaías, era irmão do rei Amazias, não tem confirmação adequada. Assim mesmo, alguns intérpretes crêem que podemos inferir, da sua conduta, que ele era de nobre descen-dência, e como tal, tinha influência na corte real.

Quanto a esta conexão é certo apenas que o trabalho de Isaías ligava-se intimamente com a casa real de Davi. Ele enfrentou ousadamente o rei Acaz (7:3ss.); no reinado de Ezequias ele teve grande influência (caps. 36—39); e durante o resto de sua vida ele observou com olhos proféticos os eventos políticos de sua época. Por tudo isto, o elevado nascimento e a posição social de Isaías serviram-lhe bem, mas não lhe foram indispensáveis. Da maior importância foi o fato de que ele sabia que fora chamado pelo Senhor. De suas profecias podemos inferir com certeza que Isaías era um homem culto.

Embora a descendência real de Isaías possa ser apenas uma conjectura, ele tem sido chamado, com toda justiça, de rei dos profetas. Entre os profetas ele é o maior. Exibe uma dignidade real mediante a intrepidez da sua ação pública, a majestade da sua pregação, e a força nobre e a beleza poética das suas palavras. Além disso, especialmente na segunda divisão principal, uma compaixão sacerdotal marca a sua pregação. Ele descreve o Cristo com clareza meridiana (nos capítulos 1—39, como Rei messiânico; nos capítulos 40—66, como Servo sofredor do Senhor), e por esta razão com justiça ele é chamado o evangelista do antigo pacto.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 16AUTORIA DO LIVRO

O livro de Isaías foi escrito com duas ênfases distintas (cap. 1—39 e cap. 40—66). Por isso, alguns comentadores sugerem que tenha havido mais de um autor. Entretanto, cremos tratar-se da obra de um mesmo autor, com duplo enfoque temático e com linguagem adaptada (estilos literários diferentes).

Argumentos que afirmam ser Isaías o único autor:

a. A tradição judaica, a Septuaginta e o historiador Josefo atribuem o livro integralmente a Isaías.

b. O NT cita Isaías mais vezes do que todos os demais profetas reunidos, dando Isaías como autor de ambas as seções. É citado por: João Batista em Mateus (3:3); Mateus (4:14-16; 8:17; 12:17-21); João (12:38-41); Jesus (Lc 4:16-21); Oficial Etíope (At 8:28); Paulo (Rm 9:27-29; 10:20).

c. A introdução do livro (1:1) dá Isaías como o autor, e não há indício de interrupção ou mudança de autoria em nenhuma das suas divisões em nenhum dos antigos manuscritos (confirmado também pelos rolos do Mar Morto15 e pela Septuaginta).

d. As duas seções de Isaías têm uma simetria teológica nos seus pontos de vista de Deus e do Messias. A expressão “o Santo de Israel”, usada raramente pelos outros escritores, é encontrada 25 vezes em Isaías, sendo doze vezes em 1—39 e treze vezes em 40—66. Essa consistência de teologia predomina em todo o livro. Podem se apontar 40 ou 50 frases e sentenças que aparecem em ambas as divisões do livro e, portanto, favorecem a autoria única (cf. 1:20 com 40:5 e 58:14; 11:6-9 com 65:25; 35:6 com 41:18, etc.).

VISÃO E MISSÃO DE ISAÍAS

Introdução ao Antigo Testamento traz o seguinte resumo da visão e da missão de Isaías:16

A Visão. É evidente que o profeta adquiriu um senso de missão por meio de seu encontro com Javé. Esse fato grandioso não foi, provavelmente, o chamado inicial, mas uma reconvocação para a tarefa específica de anunciar julgamento. Devemos ler os capítulos 1—5 como um breve panorama de toda a mensagem e também como um resumo dos temas 15 Um rolo de Isaías (contém todo o livro), manuscrito hebraico,

datado no segundo século a.C., foi descoberto nas cavernas de Qumran, em Israel.

16 William Lasor. Introdução ao Antigo Testamento. Edições Vida Nova, 1999, p. 301-302.

pregados por Isaías durante os anos finais de Uzias. Incluem-se a acusação contra o povo por sua letargia e seu pecado rebelde (1:1-26), e a promessa de redenção para os que se voltarem para Deus (v. 27-31); uma visão da glória dos últimos dias (2:1-4); outra alternância, dessa vez em ordem reversa, do julgamento (3:1—4:1) e da glória vindoura (4:2-6); e o lindo “cântico da vinha” (cap. 5). Duas visões são indicadas (1:1; 2:1), talvez combinadas com algumas mensagens avulsas para moldar o argumento introdutório.

A visão de Javé (cap. 6) é datada “no ano da morte do rei Uzias” (cerca de 740 a.C.). Antes disso, Isaías viu as glórias e o esplendor da corte terrena de Uzias, mas quando o rei morreu, Deus lhe concedeu a visão da corte celestial. A visão contém uma revelação do Senhor três vezes santo (isto é, incomparavelmente santo, v. 1-3), sentado num trono “alto e sublime”, vestido com um manto cujas pontas enchem o templo. Anjos chamados serafins servem para guardar o trono, adorar o Senhor e ministrar a Isaías em sua necessidade, por ser pecador (v. 7). Isaías também tem uma visão de si próprio — um pecador habitando em meio a pecadores (v. 6), necessitado de misericórdia porque seus olhos “viram o Rei, o Senhor dos Exércitos” (v. 5). Nesse momento Isaías recebe a revelação do ministério que lhe é designado (v. 8-13).

A Missão. Um remanescente de Judá — de quem Isaías, perdoado e purificado (v. 7), era precursor — sobreviveria, como uma árvore derrubada pode ganhar novas raízes (v. 13). Os nomes que o profeta deu aos filhos — Shear-yashub = “Um-Resto-Volverá” (7:3) e, em especial, o do mais novo, Maher-shalal-hashbaz (8:1-4) = “Rápido-Despojo-Presa-Segura” (8:1-4) — indicam sua mensagem dual. O nome do primeiro filho fala das conquistas assírias que deixam só um remanescente de sobreviventes. O do segundo filho descreve os assírios pilhando Damasco e Samaria e sua coalizão cobiçosa que ameaçou Acaz, rei de Judá. A visão declara que Deus é livre para se fazer conhecido e também o perdão dos pecados ao seu profeta e aos fiéis.

A tarefa de Isaías é complexa. À primeira vista, parece conter uma mensagem da rejeição de Israel e de Judá. Javé diz a Isaías que Ele está para impossibilitar que as pessoas se arrependam (6:10). O confronto entre o faraó e Moisés pode ser um paralelo: o faraó primeiro endurece o próprio coração e, depois, Javé sela o processo (ver Êx 7:3, 14). Em Isaías, porém, um aspecto redentor encontra-se nas palavras: “a santa semente é o seu toco” (Is 6:13). Essa imagem da esperança futura, extraída da horticultura, torna-se

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Betel Japonês — Livros Proféticos 17parte das figuras da promessa messiânica (Jr 23:5-6; 33:15; Zc 3:8; 6:12). Ambos, julgamento e esperança, são inerentes ao relacionamento que vemos entre Deus e Israel.

De acordo com IICr 26:22, Isaías escreveu os “atos” de Uzias, implicando que o profeta era escriba ou responsável pela crônica oficial daquele rei. A profecia implica que Isaías transitava com facilidade em círculos oficiais e era próximo dos reis (ver 7:3; 8:2; 36:1—38:8, 21s.; particularmente IIRs 18:3—20:19). Tal posição explicaria de modo satisfatório seu conhecimento da situação mundial. Aliás, a percepção de como o Deus soberano emprega as nações para levar as bênçãos e os julgamentos decorrentes da aliança foi uma das contribuições profundas de Isaías para Israel compreender seu lugar no programa de Deus na história.

A ÉPOCA DE ISAÍAS Champlin traz o seguinte resumo do pano de

fundo histórico:17

O próprio livro de Isaías (ver 1:1) informa-nos de que esse profeta viveu durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá. O trecho de Is 6:1 menciona a morte do rei Uzias (cerca de 735 a.C.). Miquéias, outro profeta, foi seu contemporâneo que trabalhou em Judá. O período da vida de Isaías foi crítico. No tocante a Israel, é um dos períodos mais abundantemente confirmados pelo testemunho histórico e por evidências arqueológicas. Foi o tempo em que os grandes monarcas assírios, Tiglate-Pileser II, Salmaneser IV, Sargão e Senaqueribe, lançaram-se à tarefa de universalizar o império assírio. Parte desse esforço foram as campanhas militares contra o norte da Palestina, que incluía as nações de Israel e Judá. Parece que Isaías iniciou seu ministério público em cerca de 735 a.C. e continuava ativo até o décimo quinto ano do reinado de Ezequias (cerca de 713 a.C.). Talvez ele tenha vivido até bem dentro do reinado de Manassés. As tradições judaicas afiançam que no período desse rei é que Isaías foi serrado pelo meio, ao que possivelmente alude o trecho de Hb 11:37, embora referências e tradições dessa ordem não possam ser comprovadas, sendo talvez meras conjecturas. Seja como for, o trecho de Isaías 1:1 não menciona Manassés, e isso é uma omissão significativa, se Isaías viveu todo esse tempo. Seja como for, seu ministério público poderia ter-se

17 R. N. Champlin. O Antigo Testamento Interpretado (vol. V).

Editora Hagnos, 2001 (2ª ed.), p. 2779-2780.

ampliado por quarenta anos; e certamente não envol-veu menos do que vinte e cinco anos.

Se os capítulos 40 a 66 não foram originalmente escritos por Isaías, conforme pensam alguns, então poderíamos dizer que as profecias de Isaías abordavam, essencialmente, a ameaça assíria, bem como a razão dessa ameaça, ou seja, a teimosa desobediência de Israel, a par da indiferença religiosa e da corrupção moral. Se esses capítulos, porém, pertencem genuinamente a Isaías, então devemos considerá-los profecias, e não história. Em outras palavras, dificilmente Isaías teria sobrevivido até o tempo do exílio babilônico, que é o pano de fundo desses capítulos. Porém, ele pode ter visto profeticamente aquele período histórico. Os estudiosos conservadores preferem tomar o ponto de vista profético. Então o livro unificado de Isaías aborda tanto o cativeiro assírio quanto o cativeiro babilônico.

Acabe e seus aliados detiveram temporariamente o avanço assírio, por ocasião da batalha de Qarqar, em 854 a.C.; mas isso não fez com que os assírios desistissem de seus ideais de conquista territorial. Tiglate-Pileser III (745—727 a.C.) invadiu o oeste, conquistou a costa da Fenícia e forçou certos reis, como Rezim, de Damasco, e Menaém, de Samaria (além de vários outros), a pagarem tributo. O trecho de IIRs 15:19-29 revela-nos isso. Ali esse rei é chamado Pul, que era o seu nome nativo, conforme se sabe mediante fontes informativas babilônicas. Em cerca de 722 a.C. ele conquistou grande fatia da Galiléia e deportou daquela região as duas tribos e meia de Israel que ocupavam a área. E fez com que aquelas populações se misturassem a outras, conforme era seu costume (IIRs 17:6-24).

Salmaneser V (726—722 a.C.) seguiu na esteira de seu pai, quanto às conquistas militares. Peca, rei de Israel, foi assassinado. Seu sucessor, Oséias, tornou-se vassalo da Assíria. Seguiu-se um cerco de três anos da capital, Samaria, até que o reino do norte, Israel, foi destruído, em 722-721 a.C. Amós e Oséias foram os profetas do Senhor que predisseram isso. Alguns pensam que Sargão teria sido o monarca assírio que, finalmente, conquistou Samaria e completou a derrota do Reino do Norte. Seja como for, o trabalho de destruição se completou. Sargão continuou reinando até 705 a.C., tendo ainda feito muitas guerras contra a Ásia Menor, contra a região de Ararate e contra a Babilônia.

Senaqueribe, filho de Sargão (705—681 a.C.), invadiu Judá, nação que já se sujeitara a pagar tributo à Assíria. Acaz pagou tributo a Tiglate-Pileser III, e Ezequias foi forçado a fazer o mesmo a Senaqueribe.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 18Foram capturadas 46 cidades de Judá, e Ezequias, em Jerusalém, ficou engaiolado como se fosse um pássaro, embora a própria cidade não tenha sido vencida. Então Senaqueribe foi assassinado, e seu filho, Esar-Hadom (ver Is 37:38), continuou a opressão contra Judá. Alguns pensam que foi por esse poder que Manassés ficou detido por algum tempo na Babilônia (IICr 33:11). Judá não caiu totalmente diante da Assíria, mas ficou debilitado.

A Babilônia veio então a substituir a Assíria como potência mundial dominante e foram os babilônios que, finalmente, derrubaram os habitantes de Judá e os levaram em cativeiro. Os capítulos quarenta em diante do livro de Isaías cobrem esse período, profeticamente (conforme dizem os estudiosos conservadores) ou historicamente (conforme dizem os estudiosos liberais, que, por isso mesmo, atribuem esses capítulos finais de Isaías a outro autor, que não aquele profeta).

Conforme se pode ver, Isaías viveu na época em que impérios caíram e se levantaram. Em sua confiança de que nada de mal poderia acontecer a um obediente povo de Israel, ele partia da idéia de que as tribulações do povo de Deus se deviam a causas morais e espirituais, e não apenas políticas e militares. Ele pressupunha que Deus controla todas as coisas, e que todo o desastre que recaiu sobre Israel poderia ter sido impedido, se o povo de Deus se tivesse mostrado fiel ao Senhor. Porém, o que sucedeu foi precisamente o contrário. As nações de Israel e Judá haviam caído em adiantado estado de decadência moral e espiritual. Na primeira metade do século VIII a.C., tanto Israel (sob Jeroboão II, cerca de 782—753 a.C.) quanto Judá (sob Uzias) haviam desfrutado de um período de grande prosperidade material. Foi uma espécie de segunda época áurea, perdendo em resplendor somente diante da glória da época de Salomão. Os capítulos dois a quatro de Isaías nos fornecem indicações sobre isso. Mas, ao mesmo tempo em que prevalecia a riqueza material, prevalecia a pobreza espiritual, incluindo a mais desabrida idolatria, que encheu a terra (Is 2:8). De tão próspera e elevada situação, Israel e Judá em breve cairiam. A Assíria deu início à derrubada, e a Babilônia a terminou.

“Isaías, em seu ministério, enfatizava os fatores espirituais e sociais. Ele feriu as dificuldades da nação em suas raízes — sua apostasia e idolatria — e procurou salvar Judá da corrupção moral, política e social. Porém, não conseguiu fazer com que seus compatriotas se voltassem para Deus. Sua comissão divina envolvia a advertência de que sobreviria o castigo fatal (Is 6:9-12). Dali por diante, ele declarou, ousadamente, a inevitável queda de Judá e a

preservação de um pequeno remanescente fiel a Deus (Is 6:13). Todavia, alguns raios de esperança alegram as suas predições. Através desse pequeno remanescente, ocorreria uma redenção de âmbito mundial, quando viesse o Messias, em seu primeiro advento (Is 9:2,6; 53:1-12). E, por ocasião do segundo advento do Messias, haveria a salvação e a restauração da nação (Is 2:1-5; 9:7; 11:1-16; 35:1-10; 54:11-17). O tema de que Israel, um dia, será a grande nação messiânica no mundo, um meio de bênção para todos os povos (o que terá cumprimento somente no futuro), que fez parte tão constante das predições de Isaías, tem atraído para ele o título de profeta messiânico” (Unger, em seu artigo sobre Isaías, citado por Champlin).

NOTÁVEIS ENSINOS E ÊNFASES DO LIVRO DE ISAÍAS 1. Contra a Idolatria. O lapso de Israel nesse pecado

e em outros levou Isaías a escrever seu livro, porquanto viu que o desastre esperava o desobediente povo de Israel. O trecho de Is 40:12-31 é uma ótima peça literária contra os ídolos mudos, que pessoas insensatas fabricam em substituição a Deus. Outras condenações da idolatria acham-se em Is 2:7,8,18,21,22; 57:5-8.

2. A Providência e a Soberania de Deus. Deus governa os indivíduos e as nações. Esta é uma verdade que empresta grande peso à profecia, porquanto Deus age a fim de corrigir os pecadores em seus erros; e essa correção, às vezes, é feita de maneira desastrosa para os desobedientes. A Assíria aparece como instrumento nas mãos de Deus, em Is 10:5. A vara da ira de Deus, a Assíria, foi enviada para punir a hipócrita nação de Israel (vs. 6). Contudo, a providência divina também tem o seu lado positivo. Pode abençoar e destina-se a abençoar àqueles que se arrependem e vivem em consonância com os verdadeiros princípios espirituais. Deus exerce controle sobre a cena internacional, conforme é ilustrado em certas porções dos capítulos 10 e 37 do livro de Isaías.

3. O Pecado do Homem. Quanto a esta questão, há vívidas descrições no livro de Isaías. Esse pecado é escarlate (Is 1:18); por causa do pecado o coração dos homens se afasta para longe de Deus (Is 29:13), seus pés correm para praticar o mal, e eles se apressam por derramar sangue inocente (Is 59:7). Aqueles que rejeitam o pecado podem esperar pelo favor divino (Is 56:2-5). Deus ouve a causa dos oprimidos (Is 1:23). Os orgulhosos são repreendidos, mas os humildes são exaltados (Is 22:15-25).

4. Redenção. Esse é um dos principais temas do livro de Isaías. Por isso mesmo, este profeta tem sido chamado de “o evangelista do Antigo Testamento”.

Page 19: Betel - Livros Proféticos-Apostila1

Betel Japonês — Livros Proféticos 19Suas declarações proféticas têm um caráter nitidamente messiânico. Ele via quão inadequados eram os sacrifícios de animais e os ritos religiosos (Is 1:11-17; 40:16). Apesar disso, aconselhava a devida observância das obrigações religiosas (Is 56:2; 53:10). O capítulo 53 encerra a famosa passagem do Servo sofredor (o Messias), com tanta freqüência citada pelos cristãos como texto de prova acerca de Jesus e de Seu caráter messiânico, como o grande sacrifício expiatório.18 O capítulo 55 salienta a salvação eterna posta à nossa disposição. Is 55:5 prediz a salvação das nações gentílicas.

5. Os Poemas do Servo. Esses poemas talvez se refiram a Israel ou Jacó, indicando mais especificamente a nação de Judá. Porém, há ocasiões em que esses poemas que se referem claramente ao Messias, o Filho de Judá. Alguns eruditos, que não dão o devido valor à profecia e objetam à prática de alguns de torcer o texto a fim de encontrar ali menções ao Messias, afirmam que essas passagens são referências estritamente contemporâneas à nação de Israel. O exame de todas essas passagens, porém, demonstra o inegável tom messiânico de algumas delas. Ver Is 41:8-53; 42:1-9; 49:1-6; 50:4-10; 44:1,2,21,26; 45:4 e 48:20. Ezequiel mostrou-nos a dualidade de uso que se encontra no livro de Isaías. O trecho de Isaías 37:25 chama de servos de Deus tanto a nação de Israel quanto o Rei messiânico. Notemos como, em Isaías 42:1-6, o servo é ungido pelo Espírito de Deus para uma grandiosa obra de testemunho e de julgamento. Esses versículos descrevem o Messias e o trecho de Mt 12:18-21 cita a passagem de Isaías.

6. Escatologia. Acima de tudo, Isaías é um livro profético, e destacar todas as profecias seria apresentar, virtualmente, uma tabela do conteúdo do livro. Ha predições sobre o reino de Deus em Is 2:1-5; 11:1-16; 25:6—26:21; 34 e 35, 52:7-12; 54; 60; 65:17-25; 66:10-24. A ressurreição de Cristo e a sua volta aparecem em Is 25:6—26:21. Isaías 34 apresenta Edom como o inimigo escatológico do povo de Deus, em um sentico simbólico. O quarto versículo desse capítulo foi citado por Jesus acerca de Sua própria vinda (Mt 24:29), como também é feito em Apocalipse 6:14. O retorno de Israel à sua terra e o reino milenar de Cristo são descritos em Isaías 35. Certas profecias a curto prazo dizem respeito, essencialmente, à invasão e ao cativeiro assírio (Is 10:5ss.; 36). O trecho de Isaías 39, porém, olha para mais adiante no tempo, o cativeiro babilônico de Judá. Isaías 53 é a passagem messiânica mais notável de Isaías, onde são descritos os sofrimentos de Cristo.

18 Ver Anexo “As Profecias Messiânicas”.

7. Sete conceitos eternos no Livro de Isaías:

Aliança (55:3) Bondade (54:8) Força (26:4) Júbilo (35:10) Julgamento (33:14) Luz (60:19) Salvação (45:17)

RETRATO DE CRISTO SEGUNDO ISAÍAS

HISTÓRIA Nascimento – 7:14 Família – 11:1 Unção – 11:2

CARACTERÍSTICAS DE CRISTO Sabedoria – 11:2 Discernimento espiritual – 11:3 Justiça – 11:4 Santidade – 11:5 Resignação – 42:6; 9:2 Compassivo – 53:4 Humildade – 53:7 Impecável – 53:9 Sofredor – 53:10 Vitorioso – 53:10 Poderoso – 53:12 Prudente – 53:13

TÍTULOS DE CRISTO Emanuel – 7:14 Poderoso Deus – 9:6 Justo Rei – 32:1 O Servo de Deus – 42:1 O braço do Senhor – 53:1 O pregador ungido – 63:1

MISSÃO DE CRISTO

Iluminar – 53:1 Julgar – 11:3 Legislar – 42:4 Libertar – 42:7 Carregar fardo – 53:4 Carregar pecados – 53:6 Interceder – 53:12 Salvar – 55:5

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Betel Japonês — Livros Proféticos 20

CITAÇÕES DE ISAÍAS NO NOVO TESTAMENTO Champlin afirma:

“Que Isaías previu a vinda do Messias é fato aceito por todo o Novo Testamento. Algumas das citações são didáticas; mas a maioria delas é de natureza preditiva sobre o Cristo ou sobre as circunstâncias de seu período na Terra. Algumas delas podem ser aplicadas ao Novo Israel, a igreja conforme se vê em IPe 2:9 (Is 43:20,21). Outras situam Israel em relação à igreja, como em Rm 9:27,28 (Is 10:22 e 1:9). A natureza dessas predições tem feito o livro de Isaías ser chamado de “o evangelho do Antigo Testamento.”

Os escritores do Novo Testamento muito se utilizaram dos escritos de Isaías. Há pelo menos 67 citações claras desse livro, no Novo Testamento, a saber: 19

Isaías Novo Testamento Isaías Novo Testamento 1:9 6:9 6:9-10 6:10 7:14 8:8,10 (LXX) 8:12-13 8:14 8:17 (LXX) 8:18 9:1-2 10:22 11:10 22:13

Rm 9:29 Lc 8:10 Mt 13:14-25, Mc 4:12, At 28:26,27 Jo 12:40 Mt 1:23 Mt 1:23 I Pe 3:14-15 Rm 9:33, I Pe 2:8 Hb 2:13 Hb 2:13 Mt 4:15-16 Rm 9:27,28 Rm 15:12 I Co 15:32

25:8 26:20 28:11-12 28:16 29:10 29:13 (LXX) 29:14 40:3 40:6-8 40:13 42:1-44 43:20 43:21 44:28

I Co 15:54 Hb 10:37 ICo 14:21 Rm 9:33;10:11;I Pe 2:6 Rm 11:8 Mt 15:8-9; Mc 7:6-7 I Co 1:19 Mt 3:3;Mc 1:3;Jo 1:23 I Pe 1:24-25 Rm 11:34; I Co 2:16 Mt 12:18-21 I Pe 2:9 I Pe 2:9 At 13:22

Isaías Novo Testamento Isaías Novo Testamento 45:21 45:23 49:6 49:8 49:18 52:5 52:7 52:11 52:15 53:1 53:4 53:7-8 (LXX) 53:9 53:12

Mc 12:32 Rm 14:11 At 13:47 IICo 6:2 Rm 14:11 Rm 2:24 Rm 10:15 IICo 6:17 Rm 15:21 Jo 2:38; 10:16 Mt 8:17 At 8:32-33 I Pe 2:22 Lc 22:37

54:1 54:13 55:3 (LXX) 56:7 59:7-8 59:20-21 61:1-2 61:6 62:11 64:4 65:1 65:2 66:1-2

Gl 4:27 Jo 6:45 At 13:34 Mt 21:13;Mc 11:17;Lc 19:46 Rm 3:15-17 Rm 11:26-27 Lc 4:18-19 I Pe 2:9 Mt 21:5 I Co 2:9 Rm 10:20 Rm 10:21 At 7:49-50

19 R. N. Champlin. O Velho Testamento Interpretado (vol. V). Pág. 2783.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 21

CRISTOLOGIA DE ISAÍAS Segundo Ellisen, nenhum outro livro do Antigo Testamento é tão integralmente messiânico como Isaías.

Chamam-no algumas vezes de “Quinto Evangelho” ou “Profeta Evangélico”, em virtude das muitas previsões sobre o Messias. Esse conteúdo messiânico pode ser observado em diversas categorias:20

a. A Pessoa do Messias

1. Ser genuinamente humano, nascido de mulher (7:14; 9:6; 53:2).

2. Ser nascido virginalmente, por concepção sobrenatural (7:14).

3. Ser Deus em carne humana (9:6). 4. Ser o Filho de Davi (9:7; 11:1,10). 5. Ser Jeová (YHWH), o Criador de todas as

coisas (44:24; 45:11-12).

b. O Caráter do Messias 1. Ser humilde e sem atrativos (7:14-15; 53:2-3). 2. Ser manso, não barulhento nem rude (40:11;

42:2-3). 3. Ser justo em todas as suas ações (9:7; 11:5;

32:1). 4. Ser bondoso para com os fracos e aflitos (61:1). 5. Ser irado e vingativo para com os perversos

impenitentes (11:4; 63:1-4).

c. A Obra do Messias 1. Ser apresentado por um precursor no deserto

(40:3). 2. Ser ungido para operar com o poder do Espírito

Santo (11:2-4; 61:1). 3. Pregar e aconselhar como profeta (11:2-4). 4. Realizar muitos milagres, especialmente na

segunda vinda (35:4-6). 5. Ser desacreditado pela sua própria geração

(53:1). 6. Morrer com os perversos e ser enterrado com

os ricos (53:9). 7. Ser traspassado e moído pelas nossas

iniqüidades (53:5). 8. Receber sobre si as iniqüidades de todas as

pessoas, por ordem de Deus (53:6). 9. Ser o vencedor da morte (25:8). 10. Esmagar com fúria os perversos na segunda

vinda (34:2-9; 63:1-6). 11. Ser o Rei de Israel (9:7; 44:6). 12. Reinar, como o “Senhor dos Exércitos”, no

monte Sião e em Jerusalém (24:23)

20 Stanley A. Ellisen. Conheça Melhor o Antigo Testamento. Editora Vida, p. 227-228.

PROFECIAS MESSIÂNICAS EM ISAÍAS

Seu advento – 40:3-5; Mt 3:3

Sua concepção virginal – 7:14; Mt 1:22-23

O cenário de seu ministério – 9:1-2; Mt 4:13-17

Sua divindade e a eternidade de seu trono – 9:6-7

A retidão e beneficência de seu reinado – 32:1-8

Poder e ternura do seu reinado – 40:1-11; Lc 3:2-6

Sua justiça e bondade – 42:3,4,7; Mt 12:17-21

Seu sofrimento e seu sacrifício:

Is 53; cf. Mt 8:17; 27:57,58,60

Is 6:9-10; cf. Mt 13:14,15; At 28:25-27

Is 8:14; cf. Rm 9:32,33

Is 11:1-4; cf. Lc 1:31-33

Is 61:1-3 cf. Lc 4:17-19

Is 11:10; cf. Rm 15:12

Is 22:22; cf. Ap 3:7

Is 25:16; cf. Rm 9:33

Is 41:4; cf. Ap 1:8,11,17

Is 49:6; cf. Lc 2:32

Is 49:10; cf. Ap 7:16,17

Is 50:6; cf. Mt 26:67,68

Is 55:1; cf. Mt 13:44-46; Ap 21:6; 22:17

Is 59:20-21; cf. Rm 11:26,27

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Betel Japonês — Livros Proféticos 22

ESBOÇO DE ISAÍAS I. PROFECIAS E INSTRUÇÕES A CURTO PRAZO (1:1—35:10) Condenação da nação de Israel por causa de suas

corrupções, com predições de desastres produzidos pela invasão e pelo cativeiro assírio. Várias outras nações também são denunciadas, havendo predições de condenação contra elas.

1. Judá e Jerusalém e Acontecimentos Vindouros (1:1—13:6) a. Introdução ao livro e ao seu assunto (1:1-31) b. A purificação e a esperança milenar (2:1—4:6) c. Punição de Israel devido ao seu pecado (5:1-30) d. A chamada e a missão de Isaías (6:1-13) e. Predição acerca do Emanuel (7:1-25) f. Invasão e cativeiro assírio (8:1-22) g. Previsão acerca do Messias (9:1-21) h. O látego assírio (10:1-34) i. A restauração e o milênio (11:1-16) j. O culto durante o milênio (12:1-6)

2. Denúncias contra Várias Nações (13:1—23:18) a. Babilônia (13:1—14:23) b. Assíria (14:24-27) c. Filístia (14:28-32) d. Moabe (15:1—16:14) e. Damasco (17:1-14) f. Terras além dos rios da Etiópia (18:1-7) g. Egito (19:1-25) h. A conquista da Assíria (20:1-6) i. Áreas desérticas (21:1—22:25) j. Tiro (23:1-18)

3. O Estabelecimento do Reino de Deus (24:1—27:13) a. A grande tribulação (24:1-23) b. A natureza do reino (25:1-12) c. A restauração de Israel (26:1—27:13) 4. Judá e Assíria no Futuro Próximo (28:1—35:10) a. Catástrofes e livramentos (28:1—33:24) b. O dia do Senhor (34:1-17) c. O triunfo milenar (35:1-10)

II. DESCRIÇÕES HISTÓRICAS (36:1—39:8) Descrição da invasão pelas tropas de Senaqueribe. A enfermidade de Ezequias e sua recuperação. Menção à missão de Merodaque-Baladã.

1. A invasão de Senaqueribe (36:1—37:38) 2. Enfermidade e recuperação de Ezequias (38:1-22)

III. PROFECIAS CONCERNENTES À BABILÔNIA (40:1—45:13) Antecipação da invasão e do cativeiro babilônico. Para os estudiosos conservadores, isso envolve predição, mas muitos estudiosos liberais preferem pensar que esta seção do livro de Isaías é histórica, tendo sido escrita por algum outro autor, que eles intitulam de deutero-Isaías.

1. Consolo para os exilados: promessa de restauração (40:1-11) 2. O caráter de Deus garante o consolo (40:12-31) 3. Yahweh castigará a idolatria por meio de Ciro (41:1-29) 4. O Servo de Yahweh, o Consolador (42:1-25) 5. Restauração: a queda da Babilônia (43:1—47:15) 6. Exortação para que sejam consolados os restaurados do

cativeiro babilônico (48:1-22) IV. O SERVO E REDENTOR E AS COISAS FINAIS (49—64)

Seção com diversas profecias, sobre vários assuntos, além de ensinamentos morais e espirituais.

1. Livramento final do sofrimento pelo Servo de Deus (49—53) 2. A salvação e as suas bênçãos (54 e 55) 3. Repreensão a Judá por causa de seus pecados (56—58:15) 4. O Redentor divino redimirá Sião (58:16-62) 5. A vingança do Messias e a oração de Isaías (63:7—64:12) 6. A resposta de Deus e o reino prometido (65 e 66)

Seções Principais do Livro Seção condenatória: 1–35. Pensamento chave:

DENÚNCIA. Nestes capítulos são profetizados o cativeiro da Babilônia, as tribulações e o julgamento dos últimos dias.

Seção histórica: 36–39

Seção consolatória: 40–46. Pensamento chave: CONSOLAÇÃO. Esta seção contém profecias do regresso de Israel do cativeiro babilônico e de sua restauração e reunião na Palestina nos últimos dias.

SÍNTESE DO LIVRO21 PRIMEIRA PARTE (CAP. 1—35)

CAPÍTULO 1

A mensagem deste capítulo refere-se a Judá e a Jerusalém (vv. 8, 12, 21, 27). É provável que não se trata de um único discurso, mas de pequenas mensagens pronunciadas em ocasiões diferentes. O profeta descreve: 1) A vã aflição do povo (v. 2-9), pois não reconhecem o Senhor Deus, apesar de os ter escolhido por filhos; toma a terra e o céu por testemunha contra eles; 2) revela que a obediência é melhor que o sacrifício (v. 10-20). A oferta não atrai a misericórdia do Senhor, e Jerusalém recebe o epíteto de Sodoma, Gomorra e prostituta. Contudo, 3) Deus conclama o seu povo a um novo início: aos quebrantados — a cerimônia de purificação (v.24-27); e aos impenitentes — o julgamento (v. 28-30).

CAPÍTULOS 2—6

Os capítulos de 2 a 5 estão claramente ligados:

a) embora as palavras de abertura do capítulo 2 indicam urna nova visão, as palavras introdutórias dos outros capítulos mostram continuidade;

b) todos esses capítulos versam sobre o mesmo assunto, a saber, o “dia do Senhor” (2:11, 12, 17, 20; 3:7,18; 4:1, 2; 5:30);

c) todos dizem respeito diretamente a Judá e Jerusalém (2:1, 3, 6; 3:1, 8, 16; 4:3-5; 5:3). Notamos também que essa seção termina com seis “ais” (5:8, 11, 18, 20, 21, 22).

21 Este exame do conteúdo de Isaías está baseado em J. Sidlow

Baxter. Examinai as Escrituras (vol. III). Edições Vida Nova, p. 251-263.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 23O capítulo 6 destaca-se claramente por seu tema.

É um fragmento autobiográfico surpreendente. A nova visão do profeta aqui não é da sua nação, mas do próprio Deus e seu propósito é prepará-lo para um ministério profético mais amplo. Há uma nova visão (vv. 1-5), uma nova unção (vv. 6,7) e uma nova comissão (vv. 9,10). Mas o importante aqui é que Isaías viu o Senhor como Rei. O ponto alto é a exclamação reverente: “... os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!”. Se pudermos antecipar os capítulos seguintes só por um momento, veremos que a partir desse ponto o alcance profético de Isaías amplia-se maravilhosamente; mas antes foi necessário que visse o Senhor como Rei de todas as nações, a fim de sentir vivamente e ser capaz de declarar com vigor que, por trás, acima e além de todas as conturbações que profetizaria estavam o controle e o propósito soberanos do Imperador universal, o Senhor. A referência imediata desse capítulo 6, porém, é novamente a Judá e a Jerusalém (vv. 5, 9-13); portanto, de qualquer modo podemos agora marcar os seis primeiros capítulos de Isaías como sendo uma seqüência, no sentido de que todos se referem diretamente a Judá e seu assunto principal é o “dia do Senhor”.

CAPÍTULOS 7—12

Encontramos aqui seis capítulos referentes principalmente a Israel (o Reino do Norte, das dez tribos, do qual Samaria era a capital). Ver o início do capítulo 7: “Sucedeu [...] que Rezim, rei da Síria, e Peca, filho de Remalias, rei de Israel, subiram a Jerusalém, para pelejarem contra ela...” Veja também o versículo 2, onde o nome “Efraim” substitui Israel. Síria e Israel são os invasores (vv. 1, 2). É Israel que vai ser “destruído, e deixará de ser povo” (v. 8). O rei Acaz de Judá, sitiado pela Síria e por Israel, é informado de que a terra (Síria e Israel) será desamparada diante dos dois reis aos quais teme (v. 16). A mensagem inteira é de consolo para o aflito Acaz (vv. 3-16); mas que estranho conforto ficar sabendo de repente, sem qualquer motivo para a transição, que um perigo bem mais mortal do que qualquer coisa que se acabou de dizer de Israel recairá sobre Judá!

De forma alguma, no versículo 17 as palavras são dirigidas diretamente ao rei de Israel. A redação não deixa dúvidas: “Mas o Senhor fará vir sobre ti, sobre o teu povo e sobre a casa de teu pai, por intermédio do rei da Assíria, dias tais, quais nunca vieram, desde o dia em que Efraim se separou de Judá.” Em outras palavras, viriam dias sobre Israel como nunca tinham ocorrido antes desde que as dez tribos haviam-se

estabelecido como reino separado, e o perigo vinha da Assíria. Ora, todos sabemos muito bem que Israel é que foi destruído pela Assíria e não Judá; pois, embora tivesse permissão para perturbar Judá também, o Senhor interveio, a Assíria sofreu grande derrota e Judá foi poupada.

O capítulo 8, que continua o mesmo assunto, torna ainda mais claro que se trata de Israel. Veja o versículo 4: “ ...serão levadas [...] e os despojos de Samaria, diante do rei da Assíria. Veja também o versículo 6, onde o povo que “com Rezim e com o filho de Remalias se alegrou” (ARC) não é certamente o de Judá! Note que o versículo 8 diz nitidamente que a Assíria de fato “inundaria” Judá, exatamente como Miquéias 1:9 diz, excluindo assim Judá das palavras que acabaram de ser pronunciadas sobre Israel. O restante do capítulo fala da “confederação” que a Síria e Israel queriam forçar sobre Judá; mas Israel surge novamente perto do final e no capítulo 9.

A ligação entre os capítulos 8 e 9 torna a referência principal a Israel ainda mais clara.

O capítulo 10 continua a mesma profecia. Entre outras coisas, isso é mostrado pelo solene refrão: “Com tudo isto não se aparta a sua ira, e a mão dele continua ainda estendida” (9:l2, 17, 21; 10:4). Do versículo 5 ao 34 o profeta desvia-se para falar à Assíria, o poder que deveria destruir Israel e também afligir Judá (vv. 11, 12). No final, a própria Assíria seria destruída. Isso leva aos capítulos 11 e 12, que descrevem o reino vindouro do Messias, em que os “desterrados de Israel” e os “dispersos de Judá” seriam reunidos (11:12).

Nota: Exatamente como os capítulos de 1 a 6 ocupavam-se sobretudo de Judá, terminando (no 6) com uma belíssíma visão do Senhor como Rei soberano nos céus, vemos que os capítulos de 7 a 12 tratam principalmente de Israel, terminando com uma gloriosa visão do Senhor como Rei soberano na Terra, no reino messiânico que virá. E mais: do capítulo 7 ao 12, assim como do 1 ao 6, encontramos repetidas referências ao “dia do Senhor” (7:18,20,21,23; 10:20, 27; 11:10,11; 12:1,4). Portanto, podemos dizer agora que os seis primeiros capítulos referem-se ao “dia do Senhor” principalmente em relação a Judá, e os seis capítulos seguintes referem-se ao “dia do Senhor” principalmente em relação a Israel.

CAPÍTULOS 13—23

Esses capítulos formam claramente um conjunto, pois são uma sucessão de “sentenças”, sendo que, com exceção de uma (a do “Vale da Visão”), todas relacionam-se às nações gentias, como segue:

Page 24: Betel - Livros Proféticos-Apostila1

Betel Japonês — Livros Proféticos 2413-14,27 Sentença contra a Babilônia 14:28-32 Sentença contra a Filístia 15—16 Sentença contra Moabe 17—18 Sentença contra Damasco 19—20 Sentença contra o Egito 21:1-10 Sentença contra o deserto do mar 21:11,12 Sentença contra Dumá (Edom) 21:13-17 Sentença contra a Arábia 22 Sentença contra o Vale da Visão 23 Sentença contra Tiro. Note também nesses capítulos o “dia do Senhor”

(13:6, 9,13; 14:3; 17:4, 7, 9; 19:16, 18, 19, 21, 23, 24; 20:6; 22:12, 20, 25; 23:15).

CAPÍTULOS 24—27

Do capítulo 24 ao 27 temos o “dia do Senhor” em relação ao mundo inteiro. Todos os expositores concordam que a linguagem aqui abrange toda a Terra. Marque especialmente as passagens 24:1, 4, 5, 16, 19, 20, 21; 25:6, 7; 26:21; 27:1. Em primeiro lugar, a mensagem foi para Judá; depois, para Israel; depois, para todas as nações gentias circundantes; e agora, para todo o mundo! Não é possível enganar-se quanto ao asssunto desses quatro capítulos: mais uma vez, é o “dia do Senhor” (24:21; 25:9; 26:1; 27:1, 2, 12, 13).

CAPÍTULOS 28—33

Esses capítulos também agrupam-se nitidamente. Consistem de seis “ais”. Todos tratam especialmente de Jerusalém, que é sempre o centro de toda a atuação terrena de Deus. Embora o primeiro “ai” (cap. 28) dirija suas palavras de abertura aos “bêbados de Efraim”, esses são usados apenas como uma advertência para Judá. As palavras “também estes” no versículo 7 (compare com o v. 14) mudam o “ai”, dirigindo-o a Judá. E, apesar de o último desses “ais” falar anonimamente da Assíria, como “o destruidor”, ainda assim a mensagem é dirigida claramente a Jerusalém. Assim sendo, os seis “ais” do capítulo 5 sobre Jerusalém encontram agora um paralelo nesses outros seis. A cidade de maior privilégio é a cidade de maior responsabilidade! Estes são os seis “ais”:

28 bêbados de Efraim e Judá; 29:1 hipócritas (v.13) de Ariel; 29:15 intrigantes perversos de Jerusalém; 30 os rebeldes contra o Senhor; 31 os aliados incrédulos; 33 o destruidor assírio. Note a expressão “o dia do Senhor” várias vezes

reaparecendo nesses capítulos de “ais” (28:5; 29:18; 30:23; 31:7).

CAPÍTULOS 34—35

Nesses capítulos temos o clímax da explosão profética dessa primeira parte de Isaías. Descrevem a vingança do Senhor sobre o mundo e a restauração de Sião. Note a passagem 34:8 — “Porque será o dia da vingança do Senhor, ano de retribuições pela causa de Sião”. Embora nesse capítulo 34 a fúria seja desencadeada contra Edom em particular, fica perfeitamente claro que Edom é usado aqui tipologicamente. Veja como o capítulo começa: “Chegai-vos, nações, para ouvir, e vós, povos, escutai; ouça a terra e a sua plenitude, o mundo e tudo quanto produz. Porque a indignação do Senhor está contra todas as nações...”. Isaías não só abrange aqui todas as nações da Terra, mas também projeta-se para o fim da História. Depois disso, após esse quadro terrível de vingança, com seus tons sombrios e lúgubres, leva-nos a uma cena tranqüila e triunfante do reino definitivo, no capítulo 35. É a descrição da graça e da glória finais depois do pecado e do juízo. No capítulo 34 estamos na “grande tribulação” no fim da era presente. No capítulo 35 estamos no milênio!

Como é notável, então, o desenvolvimento expansivo nessa primeira parte de Isaías! Faça um breve retrospecto desses 35 capítulos novamente. Nos primeiros seis, ficamos limitados a Judá. Mas, depois da visão transformadora do Senhor como Rei de todas as nações e épocas, no capítulo 6, as profecias têm um alcance cada vez maior, até abrangerem todas as nações e toda a história! Se nos seis primeiros capítulos estamos confinados a Judá, nos seis seguintes projetamo-nos para o reino das dez tribos de Israel. Depois disso, no grupo seguinte (13 a 23) todos os principais reinos dos dias de Isaías são cercados. Depois, nos quatro capítulos que se seguem (24 a 27) o mundo inteiro gira diante dos olhos da profecia. Do capítulo 28 ao 33, Jerusalém torna-se o ponto focal, como centro de todas as atividades e controvérsias do Senhor com nossa raça. Finalmente, no capítulo 34, somos lançados à “grande tribulação” no final da era presente, e depois levados ao clímax belíssimo do Milênio, no capítulo 35! Não é uma maravilhosa expansão, desenvolvimento, progresso, desígnio? E não defende um autor humano único por trás do todo, assim como indica o único autor divino por trás do humano?

ADENDO HISTÓRICO (CAP. 36—39)

Esses quatro capítulos históricos foram colocados como uma transição da primeira para a segunda parte do livro. Os dois primeiros tratam da invasão de Judá pela Assíria (depois do que a Assíria declina até ser destruída). Os dois restantes falam da doença,

Page 25: Betel - Livros Proféticos-Apostila1

Betel Japonês — Livros Proféticos 25recuperação e contato de Ezequias com a Babilônia — a nova potência mundial que agora começa a ocupar o cenário. Assim sendo, esses quatro capítulos são uma transição deliberada dos capítulos de 1 a 35, em que a Assíria é a potência mundial dominante, para os capítulos de 40 a 66, em que a Babilônia é a potência mundial dominante.

Nota: Podemos estabelecer agora nossas descobertas na primeira parte de Isaías como segue:

ORÁCULOS DE PUNIÇÃO E RESTITUIÇÃO (1—39)

1—6 O dia do Senhor e JUDÁ

7—12 O dia do Senhor e ISRAEL

13—23 As dez sentenças contra as NAÇÕES

24—27 O “dia” e o MUNDO inteiro

28—33 Os seis “ais” sobre JERUSALÉM

34—35 A ira final: SIÃO RESTAURADA

36—39 Adendo histórico à parte I

SEGUNDA PARTE (CAP. 40—66) Esses vinte e sete capítulos são um poema

messiânico. O assunto recorrente é o Cristo que virá, a redenção de Israel e a consumação final. Os capítulos não podem ser separados: unem-se para formar o maior poema messiânico da Bíblia.

Os vinte e sete capítulos foram dispostos em três grupos de nove capítulos cada, sendo o final de cada composto marcado pelo mesmo refrão solene. Assim, no final do primeiro grupo (48:22) lemos: “Para os perversos, todavia, não há paz, diz o Senhor.” Depois, no final do segundo (57:21) lemos: “Para os perversos, diz o meu Deus não há paz.” Finalmente, no fim do terceiro (66:24) temos isso de novo, mas de forma ampliada: “... o seu verme nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará; e eles serão um horror para toda a carne”.

Quem quer que tenha feito o atual arranjo em capítulos sem dúvida repartiu deliberadamente os vinte e sete capítulos em três partes. Mas existe algo mais profundo do que a simples intenção humana. Há desígnio divino. Por unanimidade, a maior de todas as passagens do Antigo Testamento relativas à expiação de Cristo é Isaías 53; e não é do máximo significado que esse capítulo imortal do “Cordeiro” esteja no capítulo central do grupo central? No exato centro desse tremendo poema messiânico, Deus colocou o CORDEIRO. Ele é o essencial, o foco, o centro, o coração. Vamos manter o Cordeiro onde Deus o colocou — no centro! Cristo como Cordeiro de Deus deve ser central em nossa fé, esperança e amor, em nossa pregação, ensino e testemunho, em nosso

pensamento, oração e estudo bíblico, assim como Deus fez dele o centro da profecia, da história e da redenção.

Quanto aos três grupos de nove capítulos, podemos fazer a seguinte síntese:

No primeiro grupo (40—48), o destaque recai sobre a supremacia do Senhor. Há um claro progresso de idéias. Nos dois primeiros capítulos desse grupo (40 e 41), o Senhor é visto como supremo em seus atributos de onipotência, onisciência e onipresença. Note, por exemplo, passagens sublimes como 40:12-18; 41:4 etc., 21-29. Depois, do capítulo 42 ao 45, temos a supremacia do Senhor na redenção. Ver 42:5-9, 13-16; 43:1,3, 10, 11, 12, 25; 45:5-8, 15-17, 20-22. Finalmente, do capítulo 46 ao 48, vemos a supremacia do Senhor no juízo. Esses três capítulos versam sobre o juízo em relação à Babilônia e seus deuses: Bel, Nebo etc. Mas note a nova referência acentuada à supremacia do Senhor em 46:5, 9, 10; 47:4; 48:12-14, 20-22.

No segundo grupo (49—57), o destaque recai sobre o “Servo” do Senhor. O “Servo” foi mencionado antes, no primeiro grupo, mas agora é levado a uma proeminência maior. Nos capítulos 49 e 50, sem dúvida a referência é principalmente à nação eleita, Israel, embora mesmo aqui exista uma referência latente e final a Cristo. Mas a partir de 52:13 até o final do capítulo 53 há uma transição para a referência clara, plena e gloriosa ao Messias-Redentor pessoal que estava para vir. Com base nisso, nos capítulos 54 e 55 temos a restauração da nação de Israel e o reinado do Cristo (55:4 etc.) como líder e comandante davídico. Esse grupo termina então nos capítulos 56 e 57, com um apelo urgente e uma renovação da promessa.

Finalmente, no terceiro grupo (58—-66) temos o desafio do Senhor. A apresentação é tripla. Primeiro, há o desafio em vista da falha presente (58 e 59). A seguir, vem o desafio em vista das simples perspectivas da época que se levantavam diante de Israel (60—65). O capítulo 66 termina o magnífico poema com um desafio conclusivo de promessa e advertência finais.

Nota: Podemos agora colocar em forma de análise plana

a segunda parte de Isaías. A mensagem central do livro é que o Senhor é o Rei supremo e único Salvador. Na parte um, o capítulo-chave é o sexto, onde temos a visão do profeta do Senhor como Rei. Na parte dois, o capítulo-chave é o 53, onde vemos o Cordeiro, primeiro sofrendo e depois triunfando.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 26ORÁCULOS DA REDENÇÃO E CONSUMAÇÃO (40—66) GRUPO 1. A SUPREMACIA DO SENHOR (40—48) O Senhor supremo em atributos (40—41) O Senhor supremo na redenção (42—45) O Senhor supremo no castigo (46—48) GRUPO 2. O “SERVO” DO SENHOR (49—57) Primeiro Israel: finalmente Cristo (49—53) Israel restaurada: Cristo reina (54—55) Portanto, o estímulo presente e a promessa (56—57) GRUPO 3. O DESAFIO DO SENHOR (58—66) Em vista dos erros presentes (58—59) Em vista dos grandes eventos futuros (60—65) Desafio, promessa e advertência finais (66)

REIS SOB A VOZ PROFÉTICA DE ISAÍAS

1. REI UZIAS E REI JOTÃO (Is 1—6) O começo do reinado de Uzias foi bem sucedido

na recuperação das forças militares e econômicas de Judá. Contudo, afastou-se de Deus no final de sua vida e foi ferido de lepra por ter assumido deveres sacerdotais. Esta lepra isolou-o dos negócios do Estado nos últimos quatro anos de seu reinado, ficando o reino sob a regência de seu filho Jotão, que, reinou ao todo 16 anos sobre Judá. Jotão fez o que era reto aos olhos do Senhor (IICr 27:2), embora não tenha conseguido mudar muito o povo das suas corrupções.

Jotão é mencionado apenas duas vezes no livro de Isaías; ao que parece, Isaías não esteve muito ativo durante o seu reinado. Mesmo assim, há indícios de Jotão ter apoiado os ensinamentos espirituais de Isaías.

Os primeiros capítulos de Isaías enquadram-se perfeitamente nessa situação citada acima (IIRs 15:5). Isaías 6:1-13 relata a comissão do profeta, no ano da morte do rei Uzias. Sem dúvida ele havia escrito os capítulos 1 a 5 antes desse tempo.

2. Rei Acaz (IS 7—14)

Acaz era mal e idólatra. Deus permitiu que Rezim, rei da Síria, e Peca, rei de Israel, invadissem o seu reino. O profeta Isaías esteve calado sob o reinado de Jotão, mas esta invasão colocou seu ministério em evidência: “Disse o Senhor a Isaías: Agora sai... ao encontro de Acaz” (7:3). Ele apelou para que Acaz colocasse sua confiança em Deus e não procurasse ajuda com Tiglate-Pileser de Nínive. Deus enviou Isaías para encorajar ao rei Acaz. Além de predizer a ruína de Israel (reino do norte) pela Assíria (cap.8), o

profeta viu o fim de todas as lutas de Israel pelo nascimento de Cristo. Ele deu a Acaz um sinal de que Judá não iria perecer (Is 7:14). Acaz recusou a evidência onde deveria ter apoiado sua fé. Fez seus próprios planos com a Assíria, apoiou-se nela, em quem mais tarde seria o instrumento do seu castigo (Is 7:17-20; IICr 28:16,19,20-25). Daí, segue-se a sentença de Deus sobre o rei e a terra (Is 8:6-22 – destruição das nações idólatras).

Is 9:6,7 é outra grande profecia acerca de Cristo — a criança que haveria de nascer sentaria no trono de Davi.

Is 10, estranha combinação: sofrimento presente e glória futura.

Is 11, quadro da glória do reino futuro que Cristo virá estabelecer na Terra.

Is 12, nesse reino, o povo irá adorar ao Senhor.

Is 13, ruína da grande Babilônia, que iria levar Judá cativo.

Is 14, morre o rei Acaz, mas Isaías diz que esta morte não deve ser aclamada como o fim das cargas, pois opressores piores restavam por vir.

3. REI EZEQUIAS (Is 15—39) O reino do piedoso Ezequias foi um dos períodos

mais importantes de toda história de Israel. A Assíria ameaçava as fronteiras do norte. Antes do sexto ano de Ezequias, Samaria caiu diante da Assíria, que se animou para novas conquistas. Oito anos mais tarde, Judá foi invadida. A primeira invasão foi promovida por Sargão e a segunda por Senaqueribe, seu filho. IIReis 18:13-16 relata o desespero de Ezequias diante da segunda invasão e como buscou em vão o socorro do Egito. Até que os assírios sitiaram Jerusalém e exigiram rendição. Os v. 17-37 narram as dramáticas negociações entre o general assírio e as autoridades de Jerusalém. Isaías 37:36-38 descreve o rápido e terrível desastre que se deu com os assírios ao serem mortos em seus acampamentos por uma visitação misteriosa. Os reinos de Judá e de Israel se tinham enfraquecido tanto pela idolatria e pela corrupção que os inimigos logo prevaleceram como feras sobre eles. Primeiro Israel em 722 a.C. e, depois, Judá em 586 a.C. Os dois reinos acabaram-se e o povo foi levado cativo. Nessa época Isaías viveu e profetizou.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 27ANEXO 2

AS PROFECIAS MESSIÂNICAS As profecias messiânicas22 são passagens do Antigo Testamento que se

referem a um futuro Rei ungido que levará salvação a Israel. As passagens podem ser consideradas profecias messiânicas por duas perspectivas distintas:

22 Manual Bíblico Vida Nova. Edições Vida Nova, 2001, p. 443.

1. Da perspectiva da igreja cristã, muitas passagens são consideradas messiânicas, desde Gênesis 3:15 até Malaquias 4:5-6. Desse ponto de vista, registram-se 124 passagens, cada uma com seu cumprimento específico no NT. Esse método de identificação de profecias messiânicas começa com citações ou referências do NT ligando o ministério e/ou o significado da vida de Jesus ao AT. O método permitiu que os primeiros cristãos

testemunhassem aos judeus usando as Escrituras deles para provar que Jesus era aquele de quem as Escrituras falavam. O método também ajudou os cristãos a aprender mais a respeito de Jesus e compreender sua obra de salvação. Desse ponto de vista, o primeiro sentido das passagens do AT não é tão importante quanto o sentido contemporâneo da passagem para a Igreja. Os judeus dos dias de Jesus usavam um método semelhante de interpretação para obter o significado pleno e a aplicação da passagem.

2. Do ponto de vista histórico, só um número

limitado de passagens é considerado profecia messiânica. Para ser assim considerada, a passagem precisa apresentar a referência do autor original a um futuro Rei de salvação. Esse método começa com o contexto histórico do AT e seleciona passagens que apontam para o futuro, referem-se a um Rei ungido e descrevem a salvação do povo de Deus. Esse método falaria de cumprimentos incompletos na vida de reis judaicos específicos como Ezequias, do cumprimento importante no ministério terreno de Jesus Cristo e do cumprimento final na segunda vinda. As principais passagens em vista são IISm 7; ICr 17; Sl 2; 72; 89; 110; 132; Is 2:2-5; 9:1-7; 11:1-10.

Esse ponto de vista tem origem nos conceitos modernos de história e nos métodos mais recentes de interpretação da literatura antiga. Procura-se compreender como o antigo Israel entendia a si mesmo em vários pontos de sua história. Fazem-se perguntas como: quando Israel começou a esperar que Deus enviasse um novo libertador? O que Israel esperava que esse novo tipo de libertador fosse e fizesse? Como as várias mudanças na visão histórica de Israel afetam a visão e a expectativa de um libertador messiânico?

Pergunta-se: de que maneira Jesus de Nazaré cumpre as expectativas de Israel? O israelita comum nos dias de Jesus devia ser capaz de perceber

que Jesus era o Messias esperado? Jesus apresentou uma interpretação do Messias que divergia da interpretação que Israel fazia na época? De quem eram os métodos de interpretação bíblica que os autores inspirados do NT empregavam quando interpretavam Jesus à luz do AT? Como a Igreja hoje pode interpretar legitimamente as Escrituras do AT à luz do cumprimento que vemos na pessoa de Jesus?

Os dois pontos de vista, portanto, começam com diferentes ênfases, diferentes tipos de pergunta e diferentes métodos de interpretação. Basicamente, terminam com a mesma pergunta: Como o AT nos ajuda a compreender a vida, o ministério e a obra salvadora de nosso Salvador Jesus, o Messias?

Os dois pontos de vista vêem Jesus como o cumprimento da religião e da esperança do AT. O primeiro ponto de vista pode encontrar textos isolados que apontam para Jesus. O segundo ponto de vista pode considerar que a aplicação de algumas passagens a Jesus pode ser resultado da história da interpretação, mas não o significado do autor original.

Ambos os pontos de vista afirmam que os autores do NT de fato usaram o AT para testemunhar que Jesus de Nazaré era o Messias de Israel e o Salvador do mundo. Ao fazê-lo, eles consideram que a idéia original era de um rei terreno governando do trono do ancestral Davi e restaurando o poder político à nação de Israel. Essa perspectiva histórica desenvolveu-se dentro da história de Israel. Essa concepção culmina no ministério de Jesus, o Messias e Servo Sofredor, morrendo numa cruz e sendo ressuscitado para ascender a um trono celeste à direita do Pai. Ali Ele rege não só a Israel, mas todo o universo. Esse governo tornar-se-á claro a todas as nações e povos quando Jesus retornar na segunda vinda para estabelecer seu reino tanto na Terra como no Céu.

Page 28: Betel - Livros Proféticos-Apostila1

Betel Japonês — Livros Proféticos 28ANEXO 3

SÍRIA Síria23 é a tradução atual do termo hebraico Arã e refere-se em

geral ao território a noroeste de Israel. No período do Antigo Testamento, pequenas cidades-estados (em particular Hamate e Damasco)

competiam entre si pelo controle da área.

23 Manual Bíblico Vida Nova. Edições Vida Nova, 2001, p. 424-425 e 430-431.

Arã abrangia o Líbano e a Síria de hoje, com pequenas partes da Turquia e do Iraque. No NT, Síria refere-se à província imperial romana localizada em torno de sua capital em Antioquia e inclui a Judéia.

Geograficamente, a Síria é uma área indefinida. Para Tiglate-Pileser III da Assíria, ela se estendia do monte Líbano a Ramote-Gileade. Hoje, os estudiosos da Bíblia costumam pensar na região desde os montes Taurus, no norte, até Damasco, no sul (ou além) e dos montes do Líbano, no oeste, até o rio Eufrates no leste. Do oeste para o leste a Síria compreende: (1) uma estreita planície costeira, (2) os montes Líbano, (3) o cânion formado pelos rios Orontes e Leontes , (4) o planalto fértil que termina no deserto da Arábia.

Os arqueólogos prestam informações valiosas da história antiga da Síria. Ebla originou-se em cerca de 3500 a.C. e tornou-se capital de uma importante cidade-estado de cerca de setenta mil habitantes por volta de 2500 a.C. Ela continuou exercendo grande influência até cerca de 1600 a.C., ainda que às vezes derrotada por reis da Mesopotâmia.

Yamhad, com sua capital Alepo, foi uma importante cidade-estado após 2000 a.C. Ali se desenvolveu um famoso estilo de arte síria confirmada em decorações sobre selos cilíndricos. Alalakh foi outra cidade importante nesse reino. O reino caiu sob ataques hititas em cerca de 1630. Qatna governou a Síria central durante esse período.

A Bíblia liga os patriarcas à Síria nesse período. Arã é alistada como descendente de Sem (Gn 10:22-23; cf. 22:20-24). A esposa de lsaque, Rebeca, era araméia de Padã-Arã (25:20). Jacó foi chamado arameu peregrino (Dt 26:5; cf. Os 12:12). O profeta Balaão era arameu (Nm 23:7; Dt 23:4).

Cerca de 1550 a.C., o Egito começou a exercer controle significativo sobre a Síria, combatendo os mitanis e depois os hititas para obter o domínio. Durante esse período, Kumidi, Sumur e Ulasa serviram como centros administrativos. Qatna, Biblos, Tiro, Sidom, Beirute, Arwada, Damasco e Cades perma-neceram como cidades-estados com governantes locais submissos ao faraó egípcio como vassalos. Os hurritas começaram a se misturar com a população basicamente semita do oeste.

Ugarite, importante cidade na costa nordeste da Síria, ganhou grande destaque nesse período. Os

arqueólogos remontam sua origem ao período calcolítico (cerca de 6500 a.C.). Escavações têm revelado muita coisa da língua, literatura, religião e vida cananéia. Apesar de seu tamanho e importância, Ugarite raramente gozou de independência política. Seu rei era vassalo dos hititas, egípcios ou de outras cidades sírias como Yamhad. Ugarite caiu em cerca de 1180 a.C. diante dos Povos do Mar, dos quais surgiram os filisteus, além de outros grupos tribais. Os povos nômades chamados arameus começaram a marcar presença desde a Pérsia até a Síria nessa época.

Em cerca de 1112 a.C., a Assíria, sob Tiglate-Pileser, tornou-se a principal ameaça contra a Síria. Os sucessos iam e vinham, com Tiglate-Pileser alardeando ter atravessado o Eufrates e atingindo a Síria vinte e oito vezes. Mas os documentos também mostram que os arameus invadiram a Assíria. A Bíblia fala do surgimento de cidades-estados sírias da época de Saul e Davi. Saul enfrentou o rei de Zobá (ISm l4:47), como também Davi (IISm 8:3; cf. o título do Sl 60). Damasco era aliada de Zobá (IISm 8:5), mas Hamate congratulou-se com Davi por ter este derrotado a Zobá. Isso mostra as mudanças de relacionamento entre as pequenas cidades-estados da Síria. Zobá forneceu soldados para os amonitas em sua luta contra Davi (IISm 10:6). A derrota fez o rei Hadadezer de Zobá lutar contra Davi apenas para sofrer outra derrota (IISm 10:13-19).

A derrota de Zobá deu a Rezom oportunidade de estabelecer Damasco como o poder sírio (IRs 11:23-24). Rezom não deixou Salomão em paz (IRs 11:25). Escavações mostram que Damasco tornou-se cidade antes de 3000 a.C. Abraão ali perseguiu reis para recuperar Ló (Gn 14:15); e Eliézer, servo de Abraão, era de Damasco (Gn 15:2).

Asa, rei de Judá (905-874 a.C.) pagou a Ben-Hadade de Damasco para romper sua aliança militar com Baasa de Israel e atacar o reino do Norte (IRs 15:18-22).

Outro Ben-Hadade de Damasco formou uma grande coalizão de reis e atacou Samaria sob o rei Acabe (874-853 a.C.). Um profeta levou Israel à vitória,

Page 29: Betel - Livros Proféticos-Apostila1

Betel Japonês — Livros Proféticos 29depois puniu Acabe por fazer um tratado com Damasco (IRs 20). Josafá de Judá e Acabe de Israel atacaram os arameus, mas perderam em Ramote-Gileade, resultando na morte de Acabe (IRs 22). O profeta Eliseu também livrou Samaria de Ben-Hadade (IIRs 5—7). Eliseu então profetizou uma troca de dinastia em Damasco, anunciando Hazael como seu rei (IIRs 8:7-15).

Salmaneser III da Assíria (858-824 a.C.) alegou vitória sobre Ben-Hadade e sobre Hazael em Carcar, numa série de batalhas entre 853 e 838. A batalha de 853 viu Irhuleni de Hamate, Ben-Hadade de Damasco e Acabe de Israel interceptarem o avanço de Salmaneser. Acazias de Judá e Jorão de Israel juntaram forças contra Damasco em 841, o que fez Jorão matar Acazias (IIRs 8:25—9:28).

Após 838 a.C., Hazael e Ben-Hadade restauraram o poder de Damasco (IIRs 10:32-33; 13:3-25; cf. Am 1:4). Mas Adad-Nirari III da Assíria (810-783) pôs fim a isso com invasões de 805 a 802 e de novo em 796. Hazael atacou Israel e forçou o rei Joás a pagar tributo (IIRs 12:17-18), mas Jeoás de Israel reconquistou as cidades israelitas tomadas por Damasco (IIRs 13:19, 25).

Por fim, Jeroboão II (798-782 a.C.) confirmou o poderio de Israel ganhando o controle de Damasco (IIRs 14:28). Zakir de Hamate preencheu parte do vazio de poder na Síria, levando Hamate a seu poder máximo (800-750 a.C.). Em 753, Salmaneser IV da Assíria lutou contra Damasco.

Os últimos esforços de Damasco começaram com seu último rei Rezim, que se tornou vassalo de Tiglate-Pileser em 738 a.C. Rezim juntou-se a Peca de Israel, invadindo Judá e atacando Jerusalém. Rezim conseguiu capturar Elate e a entregou a Edom (IIRs 16:6).

Acaz de Judá recusou-se a crer na advertência do profeta Isaías de que Israel e Arã não ameaçariam Judá muito tempo (Is 7). Ele pagou a Tiglate-Pileser da Assíria para derrotar seus inimigos (IIRs 16:5-18). Tiglate-Pileser alegou ter destruído 501 cidades em dezesseis distritos quando capturou Damasco e exilou seus líderes. Ele nomeou governadores próprios em centros provinciais sírios em Hauran, Qarnini (ou Carnaim) e Gileade no sul, e Subatu no norte. Quando Damasco rebelou-se em 720 a.C., Sargão II desbaratou a rebelião e destruiu Hamate. Isso iniciou um controle estrangeiro permanente na Síria, primeiro pela Assíria, depois pela Babilônia após 612, pela Pérsia após 538 e por fim pela Grécia em 321.

Na divisão do império grego após a morte de Alexandre, Síria tornou-se o nome popular do reino selêucida centralizado em Antioquia. As revoltas macabéias levaram à independência judaica em 167 a.C. Em 64 a.C. Roma transformou a Síria em província. Um procurador subordinado ao legado sírio governava Judá (cf. Mt 4:24; Lc 2:2). Antioquia permaneceu como o centro governamental da província.

Paulo viajava para Damasco a fim de ali perseguir os cristãos, quando Deus interveio para salvá-lo (At 9). Paulo evangelizou na Síria (At 15:41; Gl 1:21). Antioquia tornou-se centro missionário cristão (At 13:1-3). Ali foi criado o termo cristão (At 11:26).

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Betel Japonês — Livros Proféticos 30

ASSÍRIA “Os teus pastores dormem, ó rei da Assíria; os teus nobres dormitam;

o teu povo se derrama pelos montes, e não há quem ajunte.” (Na 3:18)

O principal território da Assíria era uma região triangular cujo lado oeste corria ao longo do rio Tigre, desde Nínive para o sul, por uns 160 km até a tradicional capital em Assur. O terceiro ponto do triângulo ficava em Arbela, cerca de 80 km a leste do Tigre. A história da Assíria é em geral dividida em três períodos: o assírio antigo (cerca de 2000-1393 a.C.), o assírio médio (cerca de 1363-1000 a.C.) e o neo-assírio (cerca de 1000-612 a.C.).

O período assírio antigo Shamshi-Adad I (cerca de 1815-1782 a.C.) uniu as

cidades-estados assírias formando o primeiro reino assírio. Ele se estendia das montanhas Zagros no leste até o rio Eufrates a oeste.

O período assírio médio Após um período de fragilidade, o reino assírio

voltou a se erguer com Assur-Ubalit I (cerca de 1363-1328 a.C.). Eles desenvolveram sua famosa perícia militar e, durante esse período, também saquearam a Babilônia. Os assírios começaram assimilando a cultura babilônica, adotando o culto do deus Marduque e a vasta literatura religiosa dos babilônios.

O período neo-assírio Enfraquecida pelos arameus, a Assíria levantou-se

de novo no século X. Eles eram “o poder imperial mais bem-sucedido jamais visto no mundo”. Assurbanipal II (883-859 a.C.) iniciou campanhas militares anuais notoriamente selvagens. Ele estendeu o controle efetivo da Assíria até Tiro, na costa mediterrânea. Alardeava a sua própria crueldade:

— Provoquei tempestades nos picos das montanhas e as tomei. No meio das montanhas imensas os matei. Com o sangue deles tingi as montanhas, que ficaram como lã vermelha. Com o restante deles escureci os canais e precipícios das montanhas. Tomei-lhes as posses. As cabeças de seus guerreiros decepei e com elas formei uma pilha defronte à sua cidade. Seus jovens e virgens, queimei-os com fogo.

Foi por certo tal política de “terror planejado” que incentivou Israel e Judá a formarem alianças com os arameus (Ben-Hadade de Damasco) e com os fenícios (o casamento de Acabe com Jezabel de Sidom). Assurbanipal II reconstruiu Calá entre Nínive e Assur, como sua nova capital. Seu palácio era um dos mais belos da antigüidade, decorado com altos-relevos que relembravam suas vitórias.

Numa expedição militar à Síria em 853 a.C., Salmaneser III (858-824) enfrentou uma coalizão de reis sírios e palestinos (incluindo Acabe de Israel e Bem-Hadade de Damasco) em Carcar. Não se sabe se

obteve uma vitória indiscutível (a batalha não é mencionada na Bíblia), mas ele voltou em 841 para cercar Damasco e cobrar tributo de Jeú, o novo rei de Israel.

Seguiu-se então outro período de relativa fragilidade na Assíria, durante o qual Damasco assediou continuamente a Israel e a Judá. Adad-Nirari III (810-783 a.C.) levou um período de alívio para Israel (IIRs 13:5) por meio de uma expedição contra Damasco em 805. A fragilidade da Assíria (época do ministério de Jonas, IIRs 14:25) foi maior durante a expansão de Jeroboão II de Israel (793-753) e Uzias de Judá (792-740).

Tiglate-Pileser III (também chamado Pul, 745-727 a.C.) restabeleceu o poder assírio e, com um exército permanente recém-formado, iniciou guerras de conquista em vez de simplesmente saquear. Em 743, ele começou várias incursões contra a Síria e a Palestina. Anexando reinos arameus como províncias assírias, cobrou tributo de Israel e Judá (IIRs 15—16).

Pela rebelião de Oséias, rei testa-de-ferro de Israel, Salmaneser V (727-722 a.C.) conquistou Samaria em 722 após um cerco de três anos e deportou seus habitantes (IIRs 17). Em 712, no início do reinado de Ezequias (715-687), Judá revoltou-se (Is 20:1). Sargão (712-705) respondeu com uma demonstração do poder assírio. Uma revolta posterior, apoiada pelos egípcios (IIRs 18—19; Is 30:1-5; 31:1-3; 37:6-37), fez com que Senaqueribe enviasse em 701 um exército que derrotou o Egito, conquistou quarenta e seis cidades de Judá e cercou (mas não tomou) Jerusalém.

Esar-Hadom (680-669 a.C.) e seu filho, Assurbanipal (668-627), estenderam o império assírio até o Egito (cf. Na 3:8-10), mas estavam constantemente envolvidos em lutas de defesa por todos os lados. Ao que parece, Assurbanipal empregou grande parte dos recursos da Assíria para suprimir uma rebelião da Babilônia, de Elão e de outros (652-639). Isso acarretou o declínio final do poderio assírio, permitindo a Josias (641-609) levar reformas e restauração temporárias a Judá.

Assur, a cidade padroeira, caiu nas mãos dos medos em 614 a.C. Nínive, a capital, caiu (cf Na 2:8—3:7, provavelmente por inundação [Na 1:8]) diante dos medos, babilônios e citas em 612. Josias de Judá tentou em 608 obstruir o exército egípcio em Megido, impedindo-os de auxiliar os assírios em sua luta contra os babilônios (IIRs 23:29). Josias fracassou e foi morto. Mas as forças babilônias sob o príncipe Nabucodonosor perseguiram e por fim derrotaram os exércitos assírios em Carquêmis em 605.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 31

JEREMIAS O PROFETA JEREMIAS

Yeremyahu ou Yirmeyah (hebraico) significa: Jeová encontra, estabelece, designa ou eleva. Era filho de Hilquias (que foi provavelmente o sumo-sacerdote na ocasião da reforma de Josias; Hilquias foi também o bisavô de Esdras — Ed 7:1). Nasceu em Anatote, cidade distante cerca de 5km a nordeste de Jerusalém. Recebeu sóbria educação doméstica e religiosa segun-do a lei de Moisés. Foi influenciado pelos ensinamen-tos de Isaías e um estudante cuidadoso das profecias de Oséias.

Quando os livros não tinham ainda a forma atual, os

documentos eram escritos em papiros ou rolos de pergaminho. As profecias de Isaías e Jeremias foram

registradas em rolos semelhantes a estes.

Jeremias era gentil, afetuoso, misericordioso, tí-mido e severo. Foi apelidado de “O Profeta Senti-mental”, o mais psicológico de todos os profetas. Não gostava de pronunciar discursos agravantes, denun-ciadores. Deus chamou-o e fê-lo forte, corajoso, imóvel como coluna de ferro para pronunciar seus discursos implacáveis. Era versado na história de sua nação e provavelmente de notável cultura, pois quando lhe sobrevinham os conflitos naturais, por causa de sua pregação, eram os nobres quem o defendiam (Jr 26).

Sua vocação Jeremias foi separado por Deus para o ministério

profético ainda antes de nascer (1:5). A palavra do Senhor veio a ele não de forma súbita, mas persistente (em hebraico Way’hi, que quer dizer: “continuou a vir”).

Ele protestou: “Sou uma criança”, “demasiado novo”, dando a entender que a sua falta de capacidade era devido a sua juventude: entre 21 a 24 anos de idade. Contudo, Deus tocou (1:9) nos lábios, tornando-o seu mensageiro com poder para destruir ou recriar. Também lhe foi anunciado que ele encontraria grande oposição dos príncipes, dos sacerdotes e do povo. Mas, não devia se atemorizar porque Deus estaria com ele, tornando-o invencível (1:19).

Sua chamada está associada a duas visões: a. A visão da amendoeira (árvore que desperta mais cedo na primavera) era para confirmar sua chamada, mostrando que Deus vela pela sua palavra; b. A visão da panela a ferver prestes a derramar seu conteúdo fervente, inclinando-se do norte, ilustrava a futura invasão babilônica.

Lições: 1. O Divino Criador escolhe, elege e determina quem vai servir em determinado setor do seu Reino. 2. Quando o Senhor nos confia uma missão, não devemos temer. Ele é quem nos capacita.

Seu ministério Começou a profetizar no 13º ano de reino de

Josias, e continuou a sua obra até a tomada de Jerusalém, no 5º mês do 11º ano do reinado de Zedequias. Jeremias viu cinco reis subir ao trono de Judá (Israel já fora levado cativo para a Assíria).

Deste modo, a sua vida se estendeu pelos últimos 18 anos do reinado de Josias, pelos 3 meses que Jeoacaz reinou, pelos 3 meses de Joaquim e pelos 11 anos e 5 meses do reinado de Zedequias — ao todo 40 anos sem interrupção. Durante os reinados de Josias e Jeoacaz foi-lhe permitido exercer seu ministério sem embaraços, mas durante os reinados de Jeoaquim, Joaquim e Zedequias sofreu severa perseguição; os seus conterrâneos o ameaçavam de morte, caso insistisse na função profética. Contudo, ele continuou fielmente sua missão.

No reinado de Joaquim foi aprisionado por sua audácia em profetizar a desolação de Jerusalém. Durante o reinado de Zedequias, foi preso como desertor e permaneceu na prisão até a tomada da cidade, época em que foi posto em liberdade por Nabucodonosor.

Não se sabe como, nem em que tempo morreu. A tradição conta que, encolerizados por suas contínuas admoestações e repreensões, os judeus mataram-no no Egito.

Lição: A despeito de qualquer adversidade, o servo do Senhor deve entregar a mensagem que lhe foi confiada. Não devemos desanimar diante dos obstáculos. O Deus que está conosco é o invencível.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 32

AUTORIA DO LIVRO 1. A autoria de Jeremias é fato provado e não tem

sofrido séria contestação. Pode ser confirmada de dois modos, segundo Ellisen:24

Internamente, o livro tem numerosas referências biográficas e autobiográficas de Jeremias como autor e Baruque como escrivão ou secretário (Jr 36:4). Nenhum outro profeta teve o seu nome repetido tantas vezes quanto Jeremias (131 vezes). Baruque é mencionado 23 vezes.

Externamente, o livro é atribuído a Jeremias em Dn 9:2 e Ed 1:1, bem como em tradições judaicas.

2. A formação de Jeremias é inteiramente envolvida com profecia. Por esse motivo, sabe-se mais da vida pessoal desse profeta do que de qualquer outro. Em muitos casos, suas ações tornavam-se parte da mensagem.

IMPORTÂNCIA DO LIVRO Autobiografia – nele o profeta é revelado. Jeremias

é como uma lente de aumento na qual podemos ver os seus e os nossos sentimentos e sofrimentos e ler melhor a escrituração divina nas nossas vidas.

História – ilumina os últimos 40 anos do reinado davídico e descreve minunciosamente a destruição de Jerusalém.

Profecia – mostra as causas do cativeiro e a sua duração (Jr 25:11-14). Descreve a repatriação de Israel e o estabelecimento do reino eterno.

CONTEXTO HISTÓRICO E RELIGIOSO

Situação internacional: Por 300 anos a Assíria havia dominado o mundo; agora ia-se enfraquecendo. Continuavam a porfia pela supremacia mundial: Assíria, Babilônia e Egito. Babilônia tornava-se poderosa. O Egito que 1000 anos antes fora uma potência mundial e decaíra, outra vez se enchia de ambição. Babilônia25 venceu (lá pelo meado do ministério de Jeremias),26 quebrou a força da Assíria, 24 Stanley A. Ellisen. Conheça Melhor o Antigo Testamento. Editora

Vida, p. 223. 25 Ver Anexo “Assíria”. 26 Três livros dos Profetas Menores são contemporâneos do

ministério de Jeremias, especialmente nos primeiros anos. Sofonias, Naum e Habacuque refletem as circunstâncias e o panorama de Judá durante o reinado de Josias (640-609 a.C.) e os dias posteriores à sua morte. Retratam a ascensão iminente da Babilônia e o subseqüente colapso da Assíria. Acima de tudo, colocam em grande destaque a justiça de Deus atuando em Judá e

em 609 a.C. e, depois derrotou o Egito na Batalha de Carquemis, 605 a.C. Por 70 anos regeu o mundo — os mesmos 70 anos do cativeiro dos judeus.

Situação religiosa: Depois de Ezequias, o melhor rei de Judá, de quem Isaías foi contemporâneo, reinaram Manassés e o seu filho Amon, dois dos piores reis de Judá. Durante esses dois reinados, num período de 67 anos, medrava a idolatria: Judá chegou ao seu nível moral mais baixo.

Durante o reinado de Josias, um bom rei, sucessor de Amon, Jeremias era o seu valioso coadjutor na reforma religiosa, como Isaías fora na reforma de Ezequias. No 18º ano do reinado de Josias o Livro da Lei foi achado, talvez pelo pai de Jeremias, na ocasião de uma limpeza do templo (IIRs 22). A leitura do livro trouxe reavivamento, que não foi duradouro (3:10). Com a morte de Josias, as condições como são descritas nos caps. 10—12 iam de mal a pior. Era, portanto, nesse tempo de pecado e rebeldia que Jeremias fora chamado a exercer seu ministério (2:34; 2:19-20; 7:18).

ANALOGIA ENTRE JEREMIAS E CRISTO

- Cresceram numa vila da Palestina - A situação histórica era a mesma: Jerusalém

estava à beira da destruição. Exerceram seus ministérios uns 40 anos antes da destruição.

- Provinham de ancestrais ilustres e de lares onde dominava o amor de Deus.

- Ambos tinham o sentimento de uma missão divina, desde os primeiros dias da juventude.

- Nenhum era casado. - Solidão foi a porção dos dois. - Os dois tinham completa comunhão com

Deus. - Choraram sobre Jerusalém. - Foram difamados e rejeitados pelos chefes

religiosos da nação. - Ambos morreram fora de Jerusalém. - Jeremias carregou uma carga que

simbolizava o peso do pecado de Judá; Jesus carregou a cruz que simbolizava o peso do pecado da humanidade.

no mundo. Internacionalmente, discernem a mão divina na mudança da guarda; internamente, chamam a atenção para a necessidade de uma reforma e prenunciam o acerto de contas divino pela rebelião persistente onde se rejeita a reforma.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 33MENSAGEM DE JEREMIAS

A. Do ponto de vista geral

Jeremias avisava do juízo vindouro e convidava o povo a arrepender-se de seus pecados, salientando que se o povo obedecesse ao Senhor, Ele de algum modo o livraria. Empregou as figuras do matrimônio e da filiação para descrever a intimidade da relação de Israel e Javé, e os deveres implicados nessa relação (31:9). Sem cessar, advertia Jerusalém para que se rendesse ao rei da Babilônia, agente do castigo divino. Seus amigos acusaram-no de traidor. Nabucodonosor recompensou-o por esta advertência ao povo, não só poupando-lhe a vida, mas oferecendo-lhe uma honraria, até mesmo uma dignidade na corte babilônica (39:16). Todavia, Jeremias bradava que o rei da Babilônia estava cometendo um crime hediondo na destruição do povo do Senhor, e, por essa causa, no devido tempo, esse país seria assolado para sempre (50; 51).

O livro não é arranjado em ordem cronológica, mas pela ordem dos assuntos. Algumas de suas mensagens têm data.

Profecias referentes a Judá (cap. 1–24).

Profecias referentes ao juízo e o conforto (cap.25–45).

Profecias referentes às nações (cap. 46–51).

Conclusão e resumo da queda de Jerusalém (cap. 52). Supõe-se ter sido escrito por outra pessoa na restauração.

ALGUNS CONCEITOS BÁSICO DA MENSAGEM

O CONCEITO DE DEUS EM JEREMIAS

a. Criador e Soberano Senhor que governa todas as coisas tanto no Céu como na Terra (5:22, 24; 10:12:23.23) e dispõe de tudo de conformidade com a sua vontade (18:5-10; 25:15-38; 27:6-8).

b. Conhecedor dos corações (17:5-10) e fonte da vida para todos que nele confiam (2:13; 17:13).

c. Deus ama ternamente o seu povo (2:2; 31:1-3) e exige obediência e lealdade (7:1-15).

d. Deus abomina sacrifícios, deuses pagãos e obla-ções a Ele oferecidas por parte de um povo desobediente (6:20; 7:21; 14:12).

LIÇÕES: 1. O AMOR NÃO DESCULPA O PECADO, MAS

JULGA-O. 2. O NOSSO AMOR A DEUS É REVELADO NAS

NOSSAS ATITUDES E POSICIONAMENTOS.

A idolatria: O mal particular contra o qual Jeremias combateu foi a idolatria. Suas referências à

adoração prestada a deidades pagãs confirmam que a prática era generalizada e tomava muitas formas. Ídolos eram encontrados no próprio templo (32:34) e nas vizinhas cidades de Jerusalém eram sacrificadas crianças a Baal e a Moloque (7:31; 19:5; 32:35).

LIÇÃO: A IDOLATRIA NÃO SE REFERE SÓ A OBJETOS E

CULTOS. ÍDOLO É TUDO O QUE OCUPA O LUGAR DE DEUS EM

NOSSO CORAÇÃO.

A imoralidade: A geração de Jeremias era idólatra e a imoralidade aparece como concomitante da idolatria. A corrupção moral era inescapavelmente seguida pela eliminação do temor a Deus e pela perda da reverência às suas leis. A devassidão e a desonestidade eram comuns entre os sacerdotes e profetas (5:30). Em lugar de combaterem a imoralidade, sacerdotes e profetas contribuíam para a sua propagação. Ironicamente, a idólatra e imoral Judá continuava zelosamente religiosa: reverenciavam a Arca (3:16), as Tábuas da Lei (31:31), a circuncisão como sinal da aliança (4:4; 6:10; 9:26), o Templo (7:4,10; 11:15; 17:3) e o sistema de sacrifícios (6:20; 7:21).

LIÇÕES: 1. O TEMOR A DEUS É QUE NOS AFASTA DO

PECADO. 2. POVO SEM TEMOR DE DEUS É POVO

CORRUPTO.

O julgamento: É inevitável que o julgamento tenha relevância na mensagem de Jeremias. Judá seria punida: seca e fome (5:24), invasão de um poder estrangeiro etc.

LIÇÕES: 1. OS ARROGANTES E DESOBEDIENTES

SOFRERÃO INEVITAVELMENTE A IRA DE DEUS. 2. O TEMPO

DE HUMILHAR-SE DIANTE DE DEUS NUNCA DEVE SER

ADIADO. O TEMPO É HOJE E AGORA. O AMANHÃ NÃO NOS

PERTENCE E A OPORTUNIDADE TERÁ PASSADO QUANDO O

JULGAMENTO VIER.

Jeremias e os falsos profetas: A polêmica principal de Jeremias com os sacerdotes era dupla: a) procuravam tirar lucro do ofício; b) discordavam que o Templo de Jerusalém nunca cairia perante os babilônios (6:13; 18:18; 29:21-32). Os profetas falsos confirmavam o iludido povo de Judá nesse otimismo fácil (8:10-17; 14:14-18; 23:9-40).

LIÇÃO: QUALQUER COISA ESTABELECIDA SOBRE

FRAUDE VIRÁ A CAIR.

A esperança de Jeremias: O exílio de Judá na Babilônia não permaneceria para sempre (25:11; 29:10). A própria Babilônia seria derrubada (cap. 50 e outros).

Page 34: Betel - Livros Proféticos-Apostila1

Betel Japonês — Livros Proféticos 34LIÇÃO: O CASTIGO DE DEUS TRADUZ O PRELÚDIO DE

UM DIA MELHOR. PROMESSA DIVINA DE RESTAURAÇÃO

PRODUZ ALÍVIO E ESPERANÇA NO HOMEM.

Jeremias e a religião de Judá: Jeremias antecipou, com perfeita serenidade, a destruição do Templo, a queda da dinastia davídica, a cessação do sistema de sacrifícios e o ministério do sacerdócio. Chegou até mesmo a proclamar que o sinal da aliança, a circuncisão, não tinha significado algum sem a circuncisão do coração (4:4; 9:26). Confiança nos sacrifícios, no Templo e no sacerdócio era vã, a não ser que fosse acompanhada pela mudança de coração (7:4-15; 21-26). Conhecer a lei sem obedecê-la era totalmente inútil (2:8; 5:13-38). Ele viu a necessidade da lei ser escrita não em pedras, mas nas tábuas do coração, assim, impelindo-os a uma espontânea obediência (31:31-34; 32:40).

LIÇÕES: 1. O NOSSO CORAÇÃO E A NOSSA VIDA ÍNTIMA

SÃO O CENTRO DAS OPERAÇÕES ESPIRITUAIS. AS

VERDADES DIVINAS DEVEM TER ASSENTO NO NOSSO

CORAÇÃO E SEREM FIXADAS NA NOSSA MENTE. 2. O

SACRIFÍCIO DA OBEDIÊNCIA É O QUE AGRADA A DEUS.

Jeremias e o futuro ideal: O profeta olha bem além da volta de Judá do exílio e além do reinício da vida na Palestina (30:17-22; 32:15; 44; 33:9-13). No futuro ideal, a Samaria teria participação (3:18; 31:4-9), a abundância prevaleceria (31:12-14), Jerusalém seria santa ao Senhor (31:23; 38-40), e seria chamada de “Senhor, justiça nossa” (33:16). Seus habitantes retornariam ao Senhor arrependidos (3:22-25; 31:18-20) e de todo o coração (24:7). Deus os perdoaria (31:34b), poria dentro deles o seu temor (32:37-40), estabeleceria o governo do príncipe messiânico sobre eles e admitiria as nações gentílicas (16:19; 3:17; 30:9).

LIÇÕES: 1. A RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL DEVE SER

O ALICERCE DO CARÁTER E DA VIDA ESPIRITUAL. 2. A NOVA

ALIANÇA É UMA LIGAÇÃO ESPIRITUAL ENTRE DEUS E O

INDIVÍDUO, UMA LEI ESCRITA SOBRE O CORAÇÃO DE CADA

UM E OBEDECIDA POR MOTIVO DE AMOR E DE LEALDADE.

B. Do ponto de vista específico 1ª Mensagem (2:1—3:5) — Deus pede que Israel

se lembre de quando era uma noiva bonita, enfeitada, seguindo o Senhor no deserto, onde ninguém semeia. Nesse tempo, Israel andava com o seu Senhor e lhe devotava verdadeira afeição.

LIÇÃO: O SENHOR SEMPRE NOS DÁ UMA

OPORTUNIDADE DE VOLTAR AOS MARCOS ANTIGOS.

2ª Mensagem (3:6-30) — Veio no tempo de Josias, rei de Judá. A idolatria continuava a ser a

grande mancha na vida social e espiritual dessa nação, que se corrompera e teimava permanecer em seu pecado. Contudo, é convidado a arrepender-se. Descortina-se a garantia do perdão divino desde que o arrependimento seja genuíno e sincero. Mas a nação preferiu rebelar-se. Não houve qualquer sinal externo de um regresso íntimo a Deus e o profeta pronuncia a sentença: O Norte vai atacar Israel.

LIÇÃO: A NOSSA TEIMA EM PERMANECER NO PECADO, CEGA-NOS E NÃO NOS DEIXA VISLUMBRAR O PERDÃO DE

DEUS.

3ª Mensagem (7:1—10:25) — Para Judá, o templo era sacrossanto e, portanto, seria poupado se acontecesse o pior. Certamente, Jeová interviria para salvar a cidade onde colocara o Seu nome. Jeremias afirma justamente o contrário. Mandado por Deus prostrou-se à porta do templo e proclamou que o templo não salvaria a nação.

Lição: A adoração externa sem a reforma do coração é inútil.

4ª Mensagem (11:1—12:5) — Tema: Concerto nacional. A base do concerto era o amor. Deus manda o seu profeta publicar nas cidades de Judá e nas ruas de Jerusalém, todas as palavras afirmando que os seus pais tinham sido severamente advertidos de que, se não cumprissem o prometido, a aliança estava sem efeito. Mais uma vez o amor de Deus é manifesto, pois tanto Jerusalém como as cidades de Judá estavam corrompidas pela idolatria e suas conseqüências.

Jeremias comparou o povo de Deus com a argila nas mãos do oleiro.

O oleiro que molda a argila deu a Jeremias uma imagem forte de Deus e seu povo: o que se

danifica pode ser feito novamente.

Page 35: Betel - Livros Proféticos-Apostila1

Betel Japonês — Livros Proféticos 35LIÇÃO: A BASE DE TODO CONCERTO DEVE SER O AMOR.

SÓ O AMOR PERDOA, RESTAURA E ELEVA.

5ª Mensagem (14:1—15:9) — Relaciona-se com uma das mais terríveis secas que a Palestina sofreu. Era uma forma de castigo para o povo reconhecer a necessidade de Deus em suas vidas.

LIÇÃO: ÀS VEZES PASSAMOS POR UM PERÍODO DE

SEQUIDÃO PARA SENTIRMOS NECESSIDADE DE DEUS E

BUSCÁ-LO.

6ª Mensagem (16:1—17:18) — O profeta é aconselhado a não casar e ter filhos porque as crianças que nascessem nessa terra seriam pasto de enfermidade, morreriam e não teriam quem as enterrassem (16:4). A morte dessas crianças seria causada pela debilitação e má nutrição por falta de alimentos.

LIÇÃO: MUITAS VEZES, DEUS PEDE QUE RENUNCIEMOS

ALGUMA COISA POUPANDO-NOS DE SOFRIMENTO FUTURO.

7ª Mensagem (18:1-17) — Vem associada à visita à casa do oleiro, onde o profeta compreendeu a ilustração: Quando o vaso não saía conforme o oleiro desejava, ele o quebrava, amassava o barro novamente, e moldava-o como desejava. Assim como o oleiro fazia com o barro, o Criador fazia com o povo. O barro na mão do oleiro era como Israel na mão de Deus.

LIÇÃO: NÓS SOMOS O BARRO NAS MÃOS DO SENHOR; ELE TRABALHA EM NÓS EXTERNANDO A IDÉIA DO SEU

MODELO DIVINO.

8ª Mensagem (19:1-15) — Proferida por atos em dois locais:

a. Vale de Hinon, a sudoeste da cidade, onde o seu lixo era jogado e queimado no monturo. Naquele lugar impróprio e mal cheiroso, Deus falou ao seu povo (vs.3): ali seriam amontoados cadáveres removidos das ruas da cidade; a cidade seria cercada e todos ficariam como pássaros na gaiola. Ao entregar a mensagem, Jeremias quebraria o vaso, que não seria recomposto, significando que Jerusalém nunca mais seria a mesma.

b. Depois da cerimônia do Vale, a procissão se dirigiu para o átrio do templo onde a cena seria repetida. No Vale, lugar destinado a receber os destroços da catástrofe. No átrio, indica que tudo estava terminado. Por causa desta profecia, Jeremias foi colocado na prisão e no cepo (20:1-6).

LIÇÃO: A PACIÊNCIA DE DEUS SE ACABA E A SUA IRA É

MANIFESTADA.

9ª Mensagem (21:1-14) — Outro aviso da queda de Jerusalém.

a. Mensagem a Zedequias (21:1-7) – os babilônios seriam agentes do castigo divino.

b. Mensagem ao povo (21:8-10) – dois caminhos propostos: o caminho da vida era sair da cidade e entregar-se ao conquistador. O caminho da morte era permanecer resistindo a Babilônia e morrer de fome ou de peste ou de espada.

c. Mensagem à casa real (21:11-14) – a prática da justiça e do juízo.

LIÇÕES: 1. NADA PODE CONTRA QUEM TUDO PODE. 2. O PECADO E A REBELIÃO TRAZEM CONSEQÜÊNCIAS

DRÁSTICAS. 3. NÃO HÁ SEGURANÇA PARA NADA SEM O

FAVOR DE DEUS (JERUSALÉM TINHA FORTES MURALHAS).

LOCAIS E FORMAS USADAS POR JEREMIAS PARA ENTREGAR AS MENSAGENS

Jeremias entregava suas mensagens nos lugares públicos, nos átrios do templo, no palácio real, nas portas da cidade, nos dias de festa ou jejum, quando o povo das comunidades rurais vinha à cidade para o culto (7:2; 17:19; 19:14; 22:1; 26:2; 35:2; 36:5, 10).

Jeremias fez considerável uso de simbolismo em suas pregações (19:1). Vejamos:

Cap. 13:1-7 — O CINTO ESTRAGADO: Linho era o material para as vestes dos sacerdotes (Êx 28:42), pelo que Israel seria um povo santo e sacerdotal. Era considerado o melhor dos materiais, servindo de símbolo apropriado para o povo escolhido por Deus. Por que cinto? Cinto denota a proximidade especial e o propósito ornamental de Israel para Deus. Por que não colocar o cinto na água? Possivelmente para diminuir seu conforto no uso, ou para ilustrar o pecado do povo ao mostrar quão sujo estava. Segundo a ordem do Senhor, Jeremias escondeu o cinto na fenda de uma rocha, junto ao Eufrates. Retirando o cinto dali, ele estava apodrecido por causa da umidade, simbolizando que Judá também estava podre. É provável que o cinto fosse ricamente adornado; chamava atenção quando ele andava pelas ruas de Jerusalém. Agora, apodrecido, roto e sujo, chamava atenção pela sua feiúra. Aglomerando o povo curioso ao redor dele, Jeremias aproveitava a oportunidade para explicar que, do mesmo modo, Judá com quem Deus se havia cingido para andar entre os povos, antes belo e glorioso, deteriorava-se e seria lançado fora.

LIÇÃO: EM CRISTO, APROXIMAMO-NOS DE DEUS; TORNAMO–NOS ESTE CINTO DE LINHO, INTIMAMENTE

RELACIONADOS A ELE. NO ENTANTO, O PECADO AFASTA-NOS DE DEUS.

Page 36: Betel - Livros Proféticos-Apostila1

Betel Japonês — Livros Proféticos 36Cap. 18:1-6 — O VASO E O OLEIRO: Ilustração

adequada para revelar o absoluto poder e direito que Deus tem em governar os seres que criou e as nações que chamou à existência.

LIÇÕES: 1. UM PRINCÍPIO: A ABSOLUTA SOBERANIA DE

DEUS E A NOSSA SUBMISSÃO A ELE. 2. UM PROPÓSITO: O

OLEIRO NÃO ESTAVA BRINCANDO NAS RODAS. ESTAVA

FAZENDO UMA OBRA QUE EXTERNAVA A IDÉIA DA SUA

MENTE. ISRAEL E A IGREJA REVELAM O PROPÓSITO DE DEUS

(EF 3:10). ELE PRECISA DE NÓS, SOMOS ÚTEIS. 3. UMA

PESSOA: É CRISTO QUEM MOVIMENTA AS RODAS

(REPRESENTAM O TORVELINHO DESTA VIDA), FAZENDO O

VASO VOLTAR E TORNAR A VOLTAR NAS SUAS MÃOS; ELE

MOLDA, DÁ CONTORNOS À NOSSA VIDA. A NOSSA UTILIDADE

VEM DAS MÃOS FORMATIVAS DE CRISTO.

Cap. 19:1-2 — A BOTIJA QUEBRADA: Pode ter sido de fabricação esmerada. Ao quebrar proposita-damente o vaso de barro, na presença de um grupo de anciãos, levados por Jeremias ao Vale de Hinon, ilustrou quão facilmente Jerusalém seria destruída, enfatizando o anúncio da ruína que pendia sobre a orgulhosa cidade.

LIÇÃO: POR MAIS ESMERADA QUE SEJA A NOSSA VIDA, SE NÃO ESTIVER COMO DEUS DESEJA, SERÁ QUEBRADA. JERUSALÉM ERA MUITO BELA E ORGULHOSA, MAS NÃO

ESTAVA SEGUNDO OS PADRÕES DO SENHOR POR ISSO FOI

DESTRUÍDA.

Cap. 27 e 28 — BROCHAS E CANZIZ: Segundo

instruções do Senhor, Jeremias fez um jugo e o colocou no pescoço. E andou pela cidade, dizendo que a Babilônia subjugaria Israel e as nações vizinhas. Um dos falsos profetas, Hananias, desaforadamente, confrontou-se com Jeremias no templo e quebrou o jugo de madeira (28:10); como castigo, morreu dois meses mais tarde (28:1,27).

LIÇÕES: JEREMIAS SOFREU NA ALMA AS DORES DE ISRAEL. ELE CARREGOU O PESO QUE CAIRIA SOBRE O POVO. FOI UM INTERCESSOR, ENVOLVENDO-SE NA LUTA EM BUSCA DA RESPOSTA DIVINA. POR CAUSA DA INCREDULIDADE, ISRAEL RECEBEU UM JUGO MAIS PESADO, DE FERRO. SEMPRE QUE REAGIMOS NEGATIVAMENTE A UMA DISCIPLINA DE DEUS, ELE NOS DÁ UMA MAIS PESADA ATÉ ALCANÇAR O SEU OBJETIVO. JEREMIAS NÃO DISCUTIA AS ORDENS QUE DEUS LHE DAVA. ELE SUBMETIA-SE CONQUANTO OS ALVOS DO SENHOR PARA ISRAEL FOSSEM ATINGIDOS. ESTE SIMBOLISMO NOS FAZ RECORDAR O SACRIFÍCIO DE CRISTO. AQUELA CRUZ SIMBOLIZAVA O PESO DE TODA HUMANIDADE A QUE ELE SE SUBMETEU.

Cap. 35 — OS RECABITAS: Eram uma tribo que vinha dos tempos de Moisés (ICr 2:55; Nm 10:29-32; Is 1:16; IIRs 10:15-16, 23), que, através dos séculos, seguia o ideal do deserto, abstendo-se do que lhes parecia ser influências degenerativas da vida na cidade. A fidelidade dos recabitas27 aos preceitos dos pais contrastava com o desprezo de Israel para com as alianças de Deus.

Lição: Loucos são os que insistem com Deus, pois somente Ele conhece o passado, vê o presente e tem o futuro sob seu controle. O erro de Israel foi desprezar as leis de Deus. Fracassamos, quando nos afastamos do caminho que Deus estabeleceu para que andássemos.

Visão dos cestos de figos (24:1-10)

Dois cestos de figos postos diante do templo, depois que Nabucodonosor levou cativos Jeconias e outros para Babilônia, em 597 a.C. Um cesto tinha figos bons e, o outro, figos estragados. Os figos bons representavam os que haviam sido deportados e aos quais havia sido prometido o retorno à Palestina. O cativeiro era para educar e firmar Israel. Dali sairia o que de melhor havia em Israel. Os figos ruins ilustravam aqueles que haviam permanecido na Palestina ou os que fugiram para o Egito, de onde não lhes fora prometido retorno ou restauração. Os que ficaram na terra misturaram-se com os elementos trazidos pelos reis, formando os samaritanos. Visão do Fim (25:1-38)

Na batalha final de Carquemis (605 a.C.), os babilônios derrotaram os egípcios e terminaram então com o domínio do Faraó Neco sobre a Palestina. Nesta batalha Jeremias vê a vontade de Deus. Os babilônios eram inimigos do Norte dirigidos por Deus, a fim de levar a cabo o seu julgamento sobre Judá. Após os 70 anos de cativeiro, Judá veria a destruição da Babilônia.

Um capítulo fundamental: “O capítulo 25 deve

ser cuidadosamente verificado de novo. Em primeiro lugar, marca exatamente o ponto de partida do ministério profético de Jeremias (v. 3). Em segundo, definitivamente prediz o cativeiro de setenta anos na Babilônia, com vinte anos inteiros de antecipação (versículo 11, com a data no versículo 1). Em terceiro, mostra claramente que os capítulos de 46 a 51 — o grupo de profecias de Jeremias sobre as nações gentílicas — já estavam compostos em forma de “livro” (vv. 13, 17-26) no quarto ano de Jeoaquim, vinte anos antes do exílio, embora estejam agora colocados no fim do livro de Jeremias como chegou às nossas mãos.”28 27 O Senhor elogia os recabitas “(...) não por seu estranho

comportamento, mas pela tenacidade com que se apegavam ao que criam ser certo”. — Comentário Bíblico Moody.

28 J. Sidlow Baxter. Examinai as Escrituras. Edições Vida Nova, p. 287.

Page 37: Betel - Livros Proféticos-Apostila1

Betel Japonês — Livros Proféticos 37

Ameaça contra a vida de Jeremias (26:1-24)

Jeremias enfrenta os falsos profetas (27:1—29:32)

Esperança e restauração (30:1—33:26) O destino de Zedequias (34:1-22)

OS ÚLTIMOS DIAS DE JUDÁ (36:1—45:5) Jeoaquim queima o rolo (36:1-32) Zedequias prende Jeremias (37:1—38:28) Queda de Jerusalém; Jeremias é liberto

(39:1—40:6) Agitação durante invasão babilônica (40:7—

41:15) Mensagem aos sobreviventes (41:16—43:7) Jeremias no Egito (43:8—44:30) Jeremias encoraja Baruque (45:1-5) O JULGAMENTO CONTRA NAÇÕES (46:1—

51:64) Egito (47:1-7) Moabe (48:1-47)

Amom (49:1-6) Edom (49:7-22)

Damasco (49:23-27) Quedar e Hazor (49:28-33) Elão (49:34-39)

Babilônia (50:1—51:64) UM EPÍLOGO HISTÓRICO (52:1-34) Relato detalhado da queda de Jerusalém

diante dos babilônios (ver IIRs 24:18—25:30).

JEREMIAS NA PRISÃO Tenha coragem, alma aflita! Uma nova aurora afugentará esta noite. Nesta vida caótica grandes ganhos Seguem grandes perdas.

A vida é mais nobre que aprender A sacrificar o trivial. Um vidro de perfume fino exige

Que um campo inteiro de flores seja esmagado. O arco-íris somente se mostra depois Da tempestade feroz.

Se homens escolhidos nunca tivessem sofrido No profundo silêncio imposto por Deus,

Nenhuma grandeza teria sido sonhada. Russel Norman Champlin

O VALOR TEOLÓGICO DE JEREMIAS

Jeremias mostra a profecia em carne e osso. Ele queria identificar-se com seu povo e viver uma vida normal. Em vez disso, teve de pregar contra seu povo e enfrentar outros profetas e depois perguntar a Deus: “Por quê?” Por meio da humanidade do profeta, Deus falou a Judá e às nações durante a maior crise de Israel. Deus mostrou que a obediência, a justiça e a piedade o agradavam e garantiam o futuro da nação. A tradição na teologia e no culto nada garantiam. Deus podia inverter posições políticas para disciplinar o povo de sua aliança e depois reconduzi-lo para si. Nabucodonosor foi bem sucedido na conquista de Jerusalém porque era agente do julgamento divino contra seu povo pecador. No final, porém, as nações em sua arrogância enfrentariam a ira de Deus, enquanto Israel seria o povo de uma aliança nova e sincera.

Jeremias afirmou que o plano maior de Deus era abençoar seu povo (29:11). Os planos de Deus, porém, são condicionados pela resposta humana (18:7-10). A rebeldia persistente pode gerar punição, mesmo quando Deus promete bênção. O arrependimento pode evitar a tragédia, mesmo quando Deus promete julgamento.

Jeremias afirma a infidelidade do povo de Deus e a necessidade de intervenção divina para salvá-lo. Jeremias antevê um tempo em que Deus escreveria uma nova aliança no coração do povo de Deus, quando Deus seria conhecido em comunhão íntima, quando Ele já não se lembraria dos pecados do povo (31:31-34). As esperanças de Jeremias cumprem-se no novo relacionamento com Deus que se tornou possível pela morte de Cristo (Hb 11:12-22). 29

29 Manual Bíblico Vida Nova. Edições Vida Nova, 2001, p. 469-470.

Page 38: Betel - Livros Proféticos-Apostila1

Betel Japonês — Livros Proféticos 38Cronologia das profecias de Jeremias 30 REINADO DATAS CAP. PROFECIA ou ACONTECIMENTO Josias31 62760

9 a.C. Jr 120 Mesmo durante a reforma de Josias, Jeremias anunciou o julgamento de Judá em virtude

dos pecados de Manassés (15:4). Estão intercaladas curtas vinhetas, sem data, de profecias mais recentes.

Com a morte de Josias, acabou a reforma e principiaram os maus reinados dos seus filhos. Jeoaquim32 609

605 605 605 605 605

26 35:1-10 25 36 45 4649

Jeoaquim, no seu 1º ano, procurou matar Jeremias. A desobediência de Judá em contraste com os obedientes recabitas. O não-arrependimento de Judá trará 70 anos de desolação por intermédio da Babilônia. Jeoaquim despreza e queima a palavra de Jeremias vinda do Senhor. Jeremias encoraja Baruque, seu fiel secretário, a se proteger durante o próximo julgamento vindo da Babilônia. Quando a Babilônia derrotou o Egito em Carquemis, Jeremias anunciou o julgamento do Egito e de toda a Palestina.

A rebelião de Jeoaquim e Jeconias resultou na deportação para a Babilônia, em 597. Zedequias33

597 597 594 594 594

24 27 28 29 5051

Retratou a administração de Zedequias como “figos ruins” e comparou o grupo exilado de Jeconias a “figos muito bons”. Jeremias admoestou a Zedequias e a todas as nações a submeterem-se à Babilônia, e os falsos profetas aconselharam o contrário. falso profeta Hananias morreu por contradizer Jeremias. O falso profeta Semaías foi amaldiçoado por contradizer a profecia de Jeremias dos 70 anos de cativeiro. Jeremias avisou os judeus da Babilônia da próxima destruição total daquela nação em virtude do seu orgulho e depravação.

Nabucodonosor começou o cerco a Jerusalém, em janeiro de 588 (Jr 39:1; 52:4). Sem

data Sem data 588 588

587 587 587 586

30 31 2123 3233

37 34 38 39, 52

Jeremias anunciou uma futura restauração de Israel e Judá, depois do “tempo de angústia para Jacó”. Jeremias predisse uma “nova aliança” substituindo a mosaica, a ser firmada com Israel e Judá depois da restauração. Quando a Babilônia cercou Jerusalém, Zedequias dirigiu-se a Jeremias em busca de um milagre de livramento; o pedido do rei é recusado e Zedequias ouviu a lição histórica de como o Senhor julgou os seus iníquos irmãos. Jeremias comprou um campo perto de Jerusalém, como símbolo de uma futura restauração. Essa restauração virá por um “Renovo de justiça” de Davi, o qual garantirá a continuação de Israel. Jeremias novamente na prisão (quando a Babilônia se ausentou ligeiramente para combater o Egito) reafirmou a Zedequias a certeza do cativeiro. Jeremias denunciou os líderes por deixarem de cumprir a aliança de libertar os escravos, outro motivo para a vinda do próximo julgamento pela Babilônia. Jeremias (na prisão) repetiu o conselho para submeterem-se à Babilônia e evitarem a destruição de Zedequias, de sua família e de Jerusalém. Babilônia tomou Jerusalém; os filhos de Zedequias e os nobres foram mortos; Zedequias ficou cego e foi para o exílio enquanto Jeremias foi libertado.

Jerusalém foi destruída em agosto de 586 (Jr 52:12). Gedalias 586 4044 Gedalias, governador, foi morto por rebeldes. Jeremias foi levado ao Egito; ali ele

denunciou a idolatria dos judeus e predisse a destruição do Egito quando a Babilônia chegasse.

30 Stanley A. Ellisen. Conheça Melhor o Antigo Testamento. Editora Vida, 1997 (5ª imp.), p. 236-237. 31 Ler II Rs 22, 23, 24 e II Cr 34 e 35 — É possível que as profecias dos dez primeiros capítulos tenham sido proferidas antes de achar o livro

da lei. 32 Ler II Rs 23:31—24:7; II Cr 36:1-8. 33 Ler II Rs 24:18—25:30; II Cr 36:11-23.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 39

O LIVRO DAS LAMENTAÇÕES DE

JEREMIAS Numa série de cinco elegias

(poema consagrado ao luto ou à

tristeza), o autor expressa sua

inconsolável tristeza por causa da

angústia de Israel.

Muro das Lamentações dos Judeus Jerusalém sofreu diversas destruições maciças, e

três delas terminaram no “nono dia de Abe” (9 de agosto, conforme H. H. Ben-Sasson, History of the Jewish People, pág. 333). Foram elas a destruição pelos babilônios em 586 a.C., pelos romanos em 70 d.C. e a destruição romana do movimento messiânico de Bar Kocheba no ano 135. Todas elas foram catastróficas para a nação na sua época, e o “Nono dia de Abe” tornou-se o dia da comemoração desses holocaustos pelos judeus do mundo todo. Nesse jejum anual o Livro de Lamentações é lido nas sinagogas ao redor do mundo, sendo que em muitas delas também o lêem todas as sextas-feiras.34 Ao longo de uma história de sofrimento, ao recitar esses poemas de lamentação, os judeus dispersos têm sido ajudados no extravasamento do seu pesar e desespero, e reativado a esperança de um futuro reajuntamento na “cidade santa”. Entretanto, eles não têm feito a correlação de Daniel e de 34 Todas as sextas-feiras, anciãos e jovens israelitas, de ambos os

sexos, congregam-se no Lugar das Lamentações em Jerusalém, perto da esquina sudoeste dos alicerces do velho templo, onde um muro de 47 metros de comprimento e 17 metros de altura, é venerado ainda como uma memória do santuário. Escreve o Dr. Geikie: “É comovedor ver a fila de judeus de muitas nações, vestidos com seus mantos pretos, como sinal de luto, lamentando em voz alta a ruína da casa cuja memória ainda é tão querida para sua raça, e recitando os tristes versículos das Lamentações e dos Salmos apropriados, entre lágrimas, enquanto beijam fervorosamente as pedras”.

Jesus, entre a morte de Jesus e a destruição de Jerusalém no ano 70 (Dn 9:26; Lc 19:43-44). Jesus descreveu aquela destruição como a conseqüência de a nação não aceitar sua vinda como Messias.

Forte ênfase no julgamento divino É com freqüência que Lamentações atribui a

destruição de Jerusalém à ira de Deus, e não à ira da Babilônia. Embora o Livro de Jeremias fale dessa nação 161 vezes, nem ela nem Nabucodonosor é mencionado em Lamentações. Essa ênfase do julgamento divino também realça o fato de que foram os seus pecados perante Deus que trouxeram a destruição, e não o infortúnio internacional de se tornarem vítimas da conquista da Babilônia. Do mesmo modo, a sua restauração depende inteiramente do arrependimento e da volta a Deus.35 As potências internacionais foram apenas o instrumento de Deus para cumprir o seu propósito para com o seu povo, conforme revelação desse livro.

Profeta empático

35 “... derrama o teu coração como água perante o Senhor” (Lm

2:19). Ao estudar os cânticos de lamentação do profeta Jeremias, somos levados a entender que, muitas vezes, é preciso deixar vazar a dor que se sente no peito, colocando diante de Deus toda tristeza que toma conta da alma. Há situações que, de fato, precisam ser lamentadas, pois provocam em nós indignação e sofrimento. As lamentações são, também, um exercício de introspecção, no qual o ser humano olha para dentro de si, a fim de tentar descobrir respostas para as suas inquietações. Mas, além disso, é a oportunidade para clamar pela misericórdia de Deus.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 40Nenhum outro profeta teve tal identidade de

sentimentos com o povo ou fez parte tão intimamente dos seus pesares e julgamento. Durante quase 50 anos, Jeremias ficou com a nação recalcitrante enquanto ela passa por suas mais profundas provações. Ele aconselhou-a do centro do redemoinho. Ao invés de obter o respeito do povo, foi humilhado, denunciado, preso num calabouço e rotulado de traidor. Suportou depois o cerco e a fome; presenciou a entrada ruidosa do inimigo, a pilhagem, o massacre e o incêndio do Templo e da cidade. Levado a Ramá (ao norte de Jerusalém), foi libertado das correntes para testemunhar mais tarde a matança da maioria dos habitantes de Jerusalém e a partida de 4.600 pessoas acorrentadas para a Babilônia. Preferiu ficar em Mispa com Gedalias, o governador nomeado. Sofreu ainda, porém, a provação do assassínio de Gedalias na rebelião de Ismael e Joanã, e foi levado para o Egito, onde o ultrajaram outra vez (Jr 4144). Dizem que ele foi apedrejado pelo seu próprio povo por condenar sua ininterrupta idolatria e impenitência. Poucos profetas tiveram mais motivos de pesar do que Jeremias, conforme ele expressa em Lamentações 3:48-49.

Cenário religioso 1. A época da redação desse livro foi a mais sombria

hora da religião de Israel. Todos os alicerces da sua fé pareciam ter desaparecido. A cidade escolhida por Deus fora arrasada, o Templo projetado e habitado pelo Senhor tornara-se um monte de cinzas, o povo tinha sido levado para a terra idólatra da sua origem, Babilônia. Até mesmo o próprio Senhor recusara-se a ouvir as orações dos judeus (Jr 14:11-12). Os 40 anos de pregação de Jeremias pareciam ter ficado sem a menor reação aparente.

2. A destruição do Templo trouxe uma nova era à religião de Israel a era da dispersão da sinagoga. Já não havendo templo, muito do sistema ritual foi suspenso, pois as ofertas que acompanhavam as festas e os acontecimentos sagrados só podiam ser feitas no altar do Templo. Na Babilônia, os judeus aprenderam a adorar e a estudar a Torah em pequenas reuniões que os rabinos chamavam de pequenos “santuários”, ou sinagogas (Ez 11:16). Ali os fiéis eram obrigados a lembrar e aprimorar sua fé a fim de sobreviver como raça no meio da cultura pagã.

3. Da fé de Israel na aliança só lhes restavam as Escrituras com as promessas da aliança do Senhor para com os antepassados. Despojados de todas as outras coisas, tiveram de meditar nas profecias e contar com elas mais do que nunca.

Características do Livro das Lamentações

É constituído por um poema de cinco partes, construído em forma de acróstico. Todos os capítulos exceto o central possuem 22 versículos, enquanto o do meio tem 66. Isso ocorre porque há 22 letras no alfabeto hebraico; e os versículos dessas cinco elegias (cada elegia estando representada por um capítulo completo em nossa versão) seguem sucessivamente o alfabeto, cada versículo começando, em ordem, com uma das 22 letras. A terceira elegia está construída com 22 tercetos, sendo que cada um destes inicia com uma letra do alfabeto hebraico, em seqüência.

Autoria das Lamentações Assim registrou Dr. Shedd: “Desde os tempos mais

antigos, os judeus e, posteriormente, os cristãos têm atribuído o livro de Lamentações à pena de Jeremias. A Septuaginta declara tal atribuição desde o segundo século a.C., e a Vulgata latina desde o quarto século d.C. Argumentos convincentes baseados na tradição judaico-cristã sobre a autoria de Jeremias têm sido apresentados. Aceitando-se a autoria de Jeremias, portanto, o Livro de Lamentações se torna um “suplemento” do Livro de Jeremias, que tão freqüentemente prediz uma catástrofe tal como aquela que é descrita em Lamentações. Porém, as lamentações de Jeremias são inteiramente isentas daquela atitude mental que diz “Eu bem disse”. Ele preocupa-se tão somente em lamentar as aflições de Jerusalém, e em pleitear perante Deus que não a rejeite para sempre.” 36

Valor ético e teológico dos Lamentos de Jeremias

“Lamentações diz que não há nenhum lugar como a nossa pátria, especialmente quando esta deixa de existir. O livro mostra a face honesta da oração no meio da tragédia. Lamentações dá ao povo de Deus a liberdade de questionar e, mesmo assim de experimentar sua presença. Ele mostra que o caminho da esperança é pavimentado com honestidade e questionamentos misturados com louvor. A fé cresce no meio da crise, quando o povo de Deus leva seus problemas a Ele.”37

36 A Bíblia Vida Nova. Apêndice, p. 303. 37 Manual Bíblico Vida Nova. Edições Vida Nova, 2001, p. 474.

Page 41: Betel - Livros Proféticos-Apostila1

Betel Japonês — Livros Proféticos 41ESBOÇO DAS LAMENTAÇÕES DE JEREMIAS

Tema: A miséria humana e o significado divino da destruição de Jerusalém. Lamento l

Má situação de Jerusalém

Lamento 2 Causas divinas

do julgamento de Jerusalém

Lamento 3 Tristeza de Jeremias e

mais fatores das aflições

Lamento 4 Caráter degenerado

do povo

Lamento 5 Clamor dos restantes

de Jerusalém

Descrição geral das aflições (1-11) Prolongada lamentação do povo (12-22)

Adversário (1-8) Agonia (9-16) Súplica (17-22)

Cota do profeta no sofrimento de Sião (1-18) Aflição, mas esperança (19-38) Súplica nacional e pessoal (39-66)

Sua depravação é um lembrete de Sodoma (1-10) Sua desolação é um julgamento do Senhor (11-20) Sua destruição é uma lição para Edom (21-22)

Sua necessidade de amparo como órfãos (1-10) Sua provação de sofrimento como criminosos (11-18) Seu apelo pela salvação como arrependidos (19-22)

JULGAMENTOS DIVINOS QUE ISRAEL—JUDÁ DEVE SOFRER Paralelos entre Lamentações e Deuteronômio38 (ISRAEL) Essência dos Julgamentos Lamentações Deuteronômio Judá (Israel) espalhado entre as nações não encontrará paz nem segurança. 1:3 28:65 Judá (Israel) será o escravo de forças estrangeiras e a cauda das nações. 1:5 28:44 Seus filhos e filhas serão cativos em nações pagãs. 1:5 28:32 Em fraqueza fugirão ante o perseguidor e serão absolutamente derrotados. As defesas falharão e os soldados fugirão em sete direções em total confusão.

1:6 28:25

Os jovens serão levados e feitos escravos. Os pais os perderão para sempre. 1:18 28:41 O povo de Judá (Israel) será objeto de canções zombadoras, escárnio e desprezo. 2:15 28:37 Mães, no seu desespero, comerão os próprios filhos para não morrer de fome. 2:20 28:53 O pecado, especialmente o da idolatria, cobrará um alto preço em sofrimento. Jovens e velhos morrerão juntos na poeira das ruas. O inimigo não respeitará idade nem sexo.

2:21 28:50

Mães, com as próprias mãos, cozinharão seus filhos. As mais gentis esconderão seus filhos para comê-los depois do ataque do inimigo. As esposas não mais respeitarão seus maridos, mas se tornarão animais selvagens.

4:10 28:56-57

A herança de Israel dada no Pacto Abraâmico passará às mãos dos estrangeiros selvagens. O judeu construirá uma casa, mas nunca morará nela. As propriedades ficarão à disposição dos invasores e seus filhos.

5:2 28:30

Perseguidos, os judeus não encontrarão paz no exílio. A espada os seguirá até lá e continuará a matança. O pecado cobrará um alto preço dos desobedientes.

5:5 28:65

Os sofrimentos no exílio serão variados e severos. A fome fará a pele dos cativos queimar como se estivesse sujeita a um forno.

5:10 28:48

Mulheres casadas e virgens serão estupradas nas ruas de Sião. Uma mulher prometida a um judeu nunca se tornará esposa dele, mas cairá ítima de um soldado impiedoso.

5:11 28:30

Os velhos não serão respeitados e não receberão misericórdia. Cairão vítimas das mesmas brutalidades.

5:12 28:50

O Monte Sião tornará uma pilha de entulho e animais selvagens farão dele seu lugar de assombração. Os muitos e radicais pecados de Judá (Israel) exigirão múltiplos e radicais castigos, servindo de agentes de restauração para o remanescente que sobreviver.

5:18 28:26

38 R. N. Champlin. O Antigo Testamento Interpretado (vol. V). Editora Hagnos, 2001 (2ª ed.), p. 3171.

Page 42: Betel - Livros Proféticos-Apostila1

Betel Japonês — Livros Proféticos 42ANEXO 4

BABILÔNIA Babilônia 39 é nome de um país e também da sua principal cidade.

A Babilônia dominou o cenário político do Oriente Próximo em vários

períodos entre 3000 a.C. e 539 a.C. Para o estudioso da Bíblia,

a Babilônia é mais famosa como a nação que conduziu Judá para o exílio

em 586 a.C. e que destruiu Jerusalém. Em hebraico, o nome Babilônia

está bem relacionado com a palavra Babel (Gn 10:10; 11:9).

39 Manual Bíblico Vida Nova. Edições Vida Nova, 2001, p. 454-455.

As origens da Babilônia perdem-se nos estratos arqueológicos abaixo da linha de água corrente no antigo sítio da cidade localizado cerca de 80 quilômetros ao sul da atual Bagdá. Pouco depois de 2000 a.C., na época de Abraão, a história da Babilônia torna-se acessível para estudos modernos. Os reis amorreus, como o famoso Hamurábi (cerca de 1792-1750 a.C.), conduziram a cidade à ascendência internacional.

Os reis hititas destruíram a cidade da Babilônia, pondo fim a essa dinastia babilônica em cerca de 1595 a.C. Um período acerca do qual pouco sabemos é o que veio sob o domínio de reis cassitas.

Em cerca de 1350 a.C., os reis da Babilônia eram importantes o suficiente para manter correspondência com reis egípcios. A correspondência deles mostra problemas que ferviam no norte da Assíria. As conquistas elamitas puseram termo a essa fase da história babilônica em cerca de 1160 a.C. Um breve reflorescimento com Nabucodonosor (cerca de 1124-1103 a.C.) foi seguido por 200 anos de obscuridade e fragilidade. Os caldeus e outras tribos nômades ocuparam boa parte da Babilônia. Pouco depois de 900 a.C., a Assíria assumiu o controle da Mesopotâmia, incluindo a Babilônia. Os assírios muitas vezes permitiam que os reis babilônios reinassem como vassalos, pagando-lhes tributo.

Em 721 a.C., o caldeu Marduque-apal-iddina (chamado Merodaque-Baladã no AT) governava a Babilônia. Em 710 a.C., Sargão II da Assíria forçou Marduque-apal-iddina a fugir para junto de seus aliados em Elão. Ele voltou para a Babilônia com a morte de Sargão em 705 e, pelo que parece, enviou mensageiros a Ezequias (IIRs 20:12-19; Is 39). Senaqueribe da Assíria retomou o controle em 703

a.C., destruindo finalmente a cidade da Babilônia em 689 a.C. em reação às revoltas apoiadas por Elão.

Nabopolassar, chefe caldeu, estabeleceu a independência babilônica em 626 a.C. Em 612, com a ajuda dos medos, ele destruiu Nínive, capital assíria. O faraó Neco do Egito marchou em defesa da Assíria em 609 a.C., mas não conseguiu rechaçar os babilônios. Nabucodonosor, o príncipe da coroa, liderou a Babilônia na vitória decisiva sobre o Egito em Carquêmis em 605 a.C. (cf. Jr 46.2-12).

Quando se tornou rei, Nabucodonosor forçou Jeoaquim de Judá a pagar tributo como seu vassalo em 603 a.C. Uma vitória egípcia temporária em 601 encorajou Jeoaquim a se rebelar (cf. IIRs 24:1-2). Por fim, a Babilônia retaliou e forçou o novo rei de Judá, o jovem Joaquim, a se render em 16 de março de 597 a.C. Muitos judeus foram exilados para a Babilônia (IIRs 24:6-12). Nabucodonosor nomeou Zedequias como rei de Judá, mas ele também se rebelou em 589 a.C., apenas para ser logo derrotado em 586. Essa derrota acarretou a destruição de Jerusalém e de seu templo e o exílio dos principais cidadãos para a Babilônia (ver Jr 37:4-10; 52:1-30; IIRs 25:1-21).

A morte de Nabucodonosor deu início ao declínio gradual da Babilônia ao longo de alguns reis que se seguiram a ele: Awel-Marduque, o Evil-Merodaque de IIRs 25:27-30 (561-560 a.C.); Neriglissar (560-558 a.C.); Labashi-Marduque (557 a.C.) e Nabonido (556-539 a.C.). Nabonido, ao que parece, tentou substituir o deus babilônio Marduque pelo deus-lua Sin, e mudou-se para Tema, no deserto da Arábia, onde permaneceu dez anos, deixando seu filho Belsazar no cargo (cf. Dn 5:1). A população babilônia ficou desanimada e recebeu de bom grado a invasão de Ciro da Pérsia,

Page 43: Betel - Livros Proféticos-Apostila1

Betel Japonês — Livros Proféticos 43deixando-o entrar pelas portas sem oposição em 539 a.C.

A Babilônia estabeleceu uma sociedade complexa e sofisticada, em que se adoravam oficialmente mais de mil deuses, ainda que cerca de só vinte exercessem forte influência. Entre eles estavam Anu, deus dos céus; Enlil, deus da terra e Ea, deus das águas. No auge político da Babilônia, porém, o principal deus era Marduque, deus padroeiro da cidade de Babilônia. Marduque era também chamado Bel ou senhor (ver Is 46:1; Jr 50:2; 51:44). Entre os outros deuses estavam Shamash, o deus-sol; Sin, o deus-lua; Istar, a deusa da

estrela da manhã e do anoitecer. Istar era conhecida como a Rainha dos Céus (ver Jr 7:18; 44:17-19).

Arqueólogos descobriram milhares de placas babilônicas, em que se registram muitos textos narrativos, tais como o Enuma elish, a história da criação, e a Epopéia de Gilgamés, a história do dilúvio.

Para os judeus e para os cristãos, a Babilônia tornou-se sinônimo do mal e o arquiinimigo (ver IPe 5:13; Ap 14:8; 16:19; 17:5; 18:2).

Nabucodonosor fez da Babilônia uma cidade magnífica. O portão de Ishtar (aqui reconstruído) e o caminho processional conduziam aos grandes templos. O portão era feito de tijolo

esmaltado azul, decorado com figuras de animais. (Um dos fornos de tijolo fora da cidade pode ter sido a “fornalha de fogo ardente”de que fala Daniel.) —— Imagem usada na

Enciclopédia da Bíblia. Edições Paulinas, 1987, p. 193.

Page 44: Betel - Livros Proféticos-Apostila1

Betel Japonês — Livros Proféticos 44

O LIVRO DE EZEQUIEL

O exílio foi um período para testar idéias acerca de Deus. A presença

divina estava restrita à Palestina? Deus era impotente contra os deuses da Babilônia? Javé podia ser cultuado numa terra estranha? A teologia de Ezequiel estava ajustada para essa

nova situação. O Profeta Ezequiel, filho de Buzi, veio de uma família

sacerdotal (1:3). Cresceu na Palestina, provavelmente em Jerusalém, e foi posto no exílio em 597a.C. (ver 33:21; IIRs 24:11-16). Devia ter vinte e cinco anos na época, pois cinco anos depois, aos trinta (ver 1:1), foi chamado para o ofício profético, época dos levitas entrarem em atividade (cf. Nm 4:3).

Ezequiel era feliz no casamento (24:16), e a morte repentina da esposa, anunciada de antemão por Javé, foi tratada como um sinal sombrio para alertar Israel (v. 15-24). Morava em casa própria no exílio, em Tel-Abibe, próximo ao canal de Quebar (3:15; cf. 1:1), que ficava nas vizinhanças de Nipur, na Babilônia. Anciãos chegaram à casa de Ezequiel buscando conselho (8:1), o que concorda com a declaração de que ele estava “no meio dos exilados” (1:1), vivendo numa comunidade de prisioneiros de guerra oriundos de Judá. Ele data certas revelações pelo ano específico do exílio do rei Joaquim. Seu chamado profético ocorreu no ano 5 (593 a.C.) e a última data registrada é o ano 27 (571), indicando um ministério de pelo menos vinte e três anos.

A ÉPOCA. “O profeta Ezequiel dá-nos um novo ponto de

partida. Seu livro, como o de Daniel, que o segue, foi escrito no período após haver iniciado o exílio dos judeus na Babilônia. Tanto Ezequiel como Daniel, porém, foram levados cativos para a Babilônia alguns anos antes do cerco final e saque de Jerusalém em 587 a.C. — pois houve duas pequenas deportações anteriores de judeus cativos para a Babilônia, como vemos em IIRs 24:8-16, Jr 24:1 e Dn 1:1-4. Esses foram os primeiros frutos daquela ceifa do cativeiro, que no final os babilônios colheram até o último grão.”40 40 J. Sidlow Baxter. Examinai as Escrituras (vol. IV). Edições Vida

Nova, p. 13.

O exílio (597-538) foi quase coincidente com o império babilônico (612-539). O cativeiro de um grupo seleto de judeus em 597 a.C. foi seguido de um exílio mais geral em 586.

No exílio, os judeus começaram a ver o Velho Testamento como o aspecto mais importante da sua fé. Introduziram as “sinagogas” para ensinar a ler as Escrituras. 41 Descobriu-se que ao se voltar para a lei de Deus, estudá-la, meditar nela por si mesmo ou em comunhão com o pequeno grupo, ao devotar a sua vida à observância da mesma, passava a entrar num novo e intenso relacionamento pessoal e real com Deus que criara a lei também para este fim. Voltar-se, então para a lei durante o exílio era um sinal de retorno pessoal ao Deus que tão severamente os julgara como nação.

As condições físicas do exílio eram ao que parece aceitáveis para muitos judeus. Os babilônios não costumavam punir povos conquistados, apenas tomavam medidas para prevenir revoluções. Os assírios, mais cruéis, empregavam a tática de desalojar populações, dividindo-as e espalhando-as, fazendo com que perdessem sua identidade nacional por meio de casamentos mistos e outras formas de absorção. Em contraste, os babilônios deportavam pessoas em pequenos grupos e permitiam-lhes preservar sua identidade nacional. (Por isso, Judá teve permissão de voltar do exílio, enquanto a maior parte dos membros das dez “tribos perdidas” do Reino do Norte foi absorvida.).

Jeremias aconselhou uma prática de “trabalho normal” no cativeiro (Jr 29:4-7), e isso ao que parece foi seguido pelos exilados. Dentro em pouco, encontravam-se judeus em empreendimentos mercantis. Quando chegou a oportunidade de retornar para Jerusalém, muitos preferiram permanecer na Babilônia. A escolha deles marcou o início do centro judaico que posteriormente produziu o Talmude Babilônico, um grande compêndio de lei judaica completado no século VI a.C.

41 Foto usada no Guia do Leitor da Bíblia. Núcleo – Centro de Publicações Cristãs (Portugal), 1984, p.76.

Page 45: Betel - Livros Proféticos-Apostila1

Betel Japonês — Livros Proféticos 45A forma do Livro de Ezequiel 42— A profecia consiste basicamente em mensagens transmitidas por

ordem de Javé, anunciadas oralmente (3:10-11; 14:4; 20:27; 24:1-3; 43:10) e, presume-se, juntadas pelo profeta e/ou editores de uma época posterior. Treze datas são fornecidas, cada uma relacionada com uma revelação de Javé.

ANO MÊS DIA (1=597/596 a.C.)

1:2 Visão inicial 5 4 5 31 jul 593

8:1 Visão no templo 6 6 5 17 set 592

20:1 Mensagem aos anciãos 7 5 10 14 ago 591

24:1 Relato do cerco de Jerusalém 9 10 10 15 jun 588

26:1 Profecia contra Tiro 11 (1) 1 23 abr 587

*29:1 Profecia contra Faraó 10 10 12 7 jan 587

*29:17 Profecia à Babilônia a respeito do Egito 27 1 1 26 abr 571

30:20 Profecia contra o Faraó 11 1 7 29 abr 587

31:1 Profecia ao Faraó 11 3 1 21 jun 587

*32:1 Lamentação pelo Faraó 12 12 1 3 mar 585

32:17 Lamentação pelo Egito 12 1 15 27 abr 586

33:21 Relato de Queda de Jerusalém 12 10 5 8 jan 585

40:1 Visão do templo restaurado 25 1 10 28 abr 573

* Obviamente, não em seqüência cronológica.

42 William Lasor. Introdução ao Antigo Testamento. Edições Vida Nova, p. 389-390.

Esboço do Livro de Ezequiel I. O JULGAMENTO CONTRA ISRAEL (caps. 1—24)

O chamado de Ezequiel como profeta de julgamento (1:1—3:21) Sinais de julgamento (3:22—5:17) Oráculos de julgamento (6:1—7:27) Visões de julgamento ( 8—11) Sinais e oráculos de julgamento (12—19) Oráculos de julgamento ( 20—24)

II. O JUGAMENTO CONTRA OUTRAS NAÇÕES (25—32) [Amom, Moabe, Edom, Filístia, Tiro, Sidom, Egito] III. A RESTAURAÇÃO DE ISRAEL (33—48)

Oráculos de salvação ( 33—36) A visão da nova vida (37:1-14) O sinal de um cetro real (37:15-28) A vitória sobre Gogue ( 38—39) Visões do novo templo e da terra repossuída (40—48)

EZEQUIEL: PROFETA COM MUITOS AUDIOVISUAIS

Page 46: Betel - Livros Proféticos-Apostila1

Betel Japonês — Livros Proféticos 46Nenhum outro profeta fez tanto uso da linguagem

figurada ou de visões. O livro de Ezequiel está cheio de provérbios, alegorias, ações simbólicas, pequenas descrições e visões apocalípticas. Foram formas usadas especialmente para chamar a atenção e imprimir as verdades no restante do povo judeu rebelde e endurecido que estava na Babilônia. Ocorrem em todo o livro:43

1:4-28 Visão da Glória do Senhor como “quatro seres viventes” saindo de uma nuvem.

2:9—3:3 Ezequiel come o rolo de lamentações pelo julgamento de Israel.

3:16-27 Ezequiel torna-se mudo exceto para as mensagens especiais do Senhor.

4:1-17 O profeta encena o cerco de Jerusalém e a chegada da fome.

5:1-17 Ele se barbeia com espada afiada, dividindo o cabelo a fim de ilustrar o julgamento pela espada.

6:1 ss. Profetiza na direção das montanhas de Jerusalém.

8:2 ss. Em visão, é levado ao templo de Jerusalém para observar a idolatria.

9:1-2 Executores da cidade preparam-se para destruí-la enquanto os restantes justos são marcados para ser preservados.

10:2 ss. O querubim espalha brasas sobre Jerusalém, indicando conflagração.

10:4-22 A Glória afasta-se da cidade e do templo sobre rodas girantes dos querubins.

12:3 ss. Ezequiel encena a queda de Jerusalém fazendo pacotes e esgueirando-se pelo muro da cidade.

13:10-16 Jerusalém é comparada a uma parede caiada prestes a cair.

14:13-23 Julgamento inevitável, mesmo com orações como as de Noé, Daniel e Jó.

15:2-6 Jerusalém é comparada a uma videira em combustão.

16:2-63 Jerusalém é comparada a uma esposa meretriz.

17:2-10 Alegoria de Israel como cedro; Babilônia e Egito como duas grandes águias.

43 Stanley A. Ellisen. Conheça Melhor o Antigo Testamento. Editora

Vida, p. 250-251.

17:22-24 Alegoria do renovo do cedro a ser plantado em Israel.

18:2-3 Provérbio dos pais que comeram uvas verdes.

19:1-9 Alegoria de Israel como leoa aprisionada e suas crias.

19:10-14 Alegoria de Israel como videira desarraigada.

21:3-22 Parábola da espada do Senhor, afiada e desembainhada.

22:18-22 Israel é comparado à escória da fundição.

23:2-49 Jerusalém e Samaria são comparadas a duas irmãs adúlteras.

24:2-14 Alegoria da panela e da carne rejeitada.

24:16-27 Ezequiel não tem permissão de prantear a morte de sua esposa, como um sinal para Israel.

27:1-36 Alegoria do orgulho e do navio que se afunda.

28:12-19 Retrato da criação e da expulsão do querubim “rei de Tiro”.

29:2 ss. O Egito é comparado a dragão do Nilo. Apanhado em armadilha em 32:2-10.

31:2-18 Alegoria do corte de dois cedros, Assíria e Egito.

34:2-10 Líderes de Israel são comparados aos pastores homicidas, em contraste com o Senhor, o verdadeiro Pastor.

37:1-14 Parábola dos “ossos secos”, mesmo sem vida, dando origem à casa de Israel.

37:16-22 Parábola dos “dois pedaços de pau” unidos, como símbolo de Judá e Israel.

40—42 Visão do agrimensor medindo Jerusalém e o templo para construção.

43:2-7 Visão da volta da Glória do Senhor ao novo templo.

Page 47: Betel - Livros Proféticos-Apostila1

Betel Japonês — Livros Proféticos 47CARACTERÍSTICAS DA PROFECIA DE EZEQUIEL

A obra Introdução ao Antigo Testamento traz o seguinte resumo:44

Alegorias e Atos Simbólicos. O livro de Ezequiel inclui certo número de alegorias: Jerusalém como uma vinha (cap. 15) e esposa de Javé (16:1-43), águias imperiais (17:1-21), a dinastia davídica como uma leoa (19:1-9) e uma vinha (19:10-14), a espada do juízo (21:1-17), Oolá e Oolibá representando as duas capitais corrompidas, Samaria e Jerusalém (23:1-35) e a panela de destruição (24:1-14).

A profecia também inclui uma série de atos simbólicos ou dramáticos (às vezes chamados “profecia vivenciada”).

As alegorias eram um recurso constante da profecia de Ezequiel, a que os exilados faziam objeção (20:49). Eram uma tentativa de representar de forma “teatral” a verdade simples da queda iminente de Jerusalém e do fim da nação de Judá. Seus ouvintes não estavam dispostos a ouvir: somente a esperança de retorno iminente os mantinha em pé. Para vencer essa resistência natural, o profeta recorreu a várias imagens. Os atos simbólicos tinham o mesmo propósito. A catástrofe iminente foi encenada de maneira dramática, para reforçar os oráculos de julgamento. Em 37:15-23, a mensagem de restauração e reunião do reino dividido foi dramatizada com um ato simbólico em que dois pedaços de madeira foram permanentemente juntados para se tornarem um.

“Filho do homem”. Esse título, traduzido como “mortal” na BLH, é empregado cerca de noventa vezes em Ezequiel, sempre por Javé dirigindo-se a Ezequiel. Como forma de tratamento, em outra parte do Antigo Testamento, aparece só uma vez em Daniel 8:17. A expressão ocorre em todo Ezequiel, muitas vezes precedido pela fórmula de recepção da mensagem: “Veio a mim a palavra do Senhor”. Ocorre em contextos de convocação (por exemplo, 2:3: “Filho do homem, eu te envio aos filhos de Israel...” cf. 2:1; 3:4). É pouco provável que o título “filho do homem” em Ezequiel deva ser comparado com o mesmo título empregado por Jesus em referência a si mesmo (empregado em outra parte somente por Estevão; At 7:56). É questionável, também, que tenha alguma relação com a expressão “um como o filho do homem” em Daniel 7:13. É mais provável que o título fosse usado para destacar a natureza humana do agente em contraste com a fonte divina da mensagem. O título com freqüência precede a fórmula do mensageiro, “Assim diz o Senhor Deus”. Em contraste com o Senhor divino transcendente, Ezequiel recebe um papel humilde, como mero mortal.

44 William Lasor. Obra citada, p. 390-394.

“Volve o Rosto Contra”. Em nove ocasiões, os oráculos de Ezequiel são introduzidos pela instrução: “Volve o rosto contra...” Isso parece reflexo de um costume arcaico de fitar o objeto de uma profecia (Nm 24:2; IIRs 8:11). Tal olhar profético é um reforço físico do foco da mensagem divina. (Pode-se também comparar a noção dos exilados orando em direção ao templo em IRs 8:48 [cf. Dn 6:10]).

Essa fórmula é empregada em mensagens aos montes de Israel (6:2), às falsas profetisas (13:17), ao sul (20:46), a Jerusalém (21:2), aos amonitas (25:2), a Sidom (28:21), ao Faraó, rei do Egito (29:2), ao monte Seir (35:2) e a Gogue (38:2). Quando envolvem lugares ou pessoas distantes, essa fórmula não implica que Ezequiel tenha viajado para anunciar seus oráculos. Antes, como no discurso retórico ao Faraó em 31:2; 32:2, tais oráculos eram evidentemente voltados para os ouvidos dos exilados, sendo anunciados para essa audiência.

“Eu Sou Javé”. Essa fórmula de autodesignação ocorre muitas vezes em Ezequiel e pode ser considerada marca registrada do livro. A mesma expressão aparece em Levítico (18:2, 4-6, 30, etc.). O propósito ou resultado pretendido nas mensagens de Ezequiel é muitas vezes expresso na fórmula de “reconhecimento”: “para que saibais que eu sou o Senhor” (6:7, 14; 7:4, 27; 11:10 etc.). A derrota e o exílio do povo escolhido criou uma necessidade dolorosa de defender Javé diante de Israel e do mundo e deixar claro seu verdadeiro caráter e vontade.

As Visões de Deus. Conforme registrado no capítulo l, Ezequiel viu uma teofania ou manifestação terrena de Javé, antes de ouvir a comissão para atuar como profeta de julgamento. A teofania apresentava Deus chegando numa tempestade com fogo e sentado num trono de julgamento. O trono ficava sobre uma plataforma ou firmamento (BLH, “cobertura”), sustentada por “seres viventes” cujas asas carregavam a estrutura da terra. Debaixo dele havia rodas controladas de maneira invisível pelas criaturas, para locomoção sobre a terra. Essa visão complicada fundia concepções israelitas antigas com outras representações do Oriente Próximo, evidentemente conhecidas dos exilados. Apresentava ao povo uma imagem poderosa do caráter transcendente e aterrador do Deus que havia julgado seu povo.

O dispositivo sobrenatural semelhante a uma carruagem do capítulo 1 reaparece nos capítulos 8—11, numa visão da destruição de Jerusalém e de seus cidadãos. Pára no átrio do templo (10:3). O fogo que arde na base (1:13) fornece brasas para queimar a cidade (10:2, 6-17). Seus “seres viventes” são agora chamados “querubins” (10:1-3). A nova designação tem o intuito de induzir a comparação com a representação estática da presença divina dentro do templo, a arca com seus querubins (9:3). Javé abandona o templo, monta no trono móvel e parte da cidade (10:18-19; 11:22-23), deixando Jerusalém entregue a sua sorte.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 48Na visão do novo templo nos capítulos 40ss., o

dispositivo, descrito como a “glória” divina, vem para assumir residência (43:2,4-5; 44:4). A nova Jerusalém recebe um novo nome apropriado “O Senhor Está Ali” (48:35). A presença divina restaurada deve ser a garantia de bênçãos para os exilados após seu retorno à terra.

Os Pecados de Judá. A base da punição de Deus é dada em Levítico 26:14-33: “se me não ouvirdes e não cumprir-des todos estes mandamentos [...] Voltar-me-ei contra vós outros...” (v. 14, 17). Ezequiel constrói sobre esse tema, ecoando Levítico 26, especialmente nos capítulos 4—6. O profeta ataca o culto não-ortodoxo nos lugares altos ou santuários locais em todo Judá (cap. 6). Descobre que a própria área do templo é cenário de atos grosseiros de idolatria (8:4-16). Além disso, ele denuncia os pecados sociais irrestritos em Judá e em Jerusalém (7:23; 9:9; 22:6-13, 25-29). A capital é caracteri-zada como infiel a Javé, seu protetor, tanto por abrigar formas pagãs de culto, especialmente o sacrifício de crianças, como em seu recurso político a alianças estrangeiras (16:15-29; 23:11-21, 36-45). Os pecados da geração presente do povo da aliança são o auge de uma longa história de rebelião (2:3,4). Jerusalém não é a cidade gloriosa de Deus decantada pela teologia de Sião, adotada por seus líderes: seus pecados são uma expressão de suas origens pagãs (16:3). A podridão de Israel remonta à época de sua redenção do Egito: o povo reagia regularmente com truculência para com a graça divina (20:5-31).

Um Programa de Renovação Moral. Tanto Jeremias como Ezequiel citam um provável provérbio da época: “Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram” (Jr 31:29; Ez 18:2). Ele

atribui a situação presente do exílio à geração anterior e prenuncia o fatalismo dos “filhos” do exílio. Num oráculo posterior a 586, Ezequiel apresenta em resposta um princípio duplo: “a alma que pecar, essa morrerá”, mas “o [...] justo, certamente, viverá” (Ez 18:4-9). A promessa divina de vida escatológica e restauração à terra (cf. 37:14) deve ser a motivação para uma vida moralmente boa, mesmo no exílio. Os exilados são acusados de ter vivido em transgressão dos mandamentos tradicionais de Deus (18:5-9). É tarde demais para mudar? De maneira alguma. Javé convida os perversos a se arrepender (18:21-23) e a herdar a vida prometida a seu povo obediente (18:30-32). Ezequiel assim infunde nos exilados desmoralizados algo por que viver e os desafia a enfrentar a realidade espiritual.

Os judeus consideraram a arca da aliança o centro moral e espiritual de seu culto a Yahweh. No cristianismo, Cristo substituiu a arca da aliança como o centro da espiritualidade, e a Igreja, o Templo vivo, substituiu o templo feito de pedras.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 49

SÍNTESE DE EZEQUIEL45 O JULGAMENTO DE JUDÁ PECADOR

(Ez 1:1—24:27) O chamado de Ezequiel (1:1—3:27)

Ezequiel vê a glória de Deus (1:1-28). Em 593 a.C., o Senhor revelou sua glória a Ezequiel por meio de uma visão sofisticada: uma nuvem de tempestade vindo do norte; em meio à tempestade, apareceram quatro criaturas aladas flamejantes. Cada uma combinava características humanas e animais (bem parecidas com algumas das divindades menores retratadas na arte do antigo Oriente Próximo). Acompanhando cada criatura em todos os seus movimentos havia uma grande roda cujo centro era cheio de olhos. Uma plataforma brilhante estendia as asas acima das criaturas, fazendo um barulho ensurdecedor ao se mover. Acima da plataforma havia um trono feito de pedras preciosas. Uma figura humana, chamejante como fogo e cercada de esplendor radiante, sentava-se no trono. Percebendo que via uma representação da glória de Deus, Ezequiel caiu com o rosto em terra.

A missão de Ezequiel (2:1—3:27). O Senhor levantou Ezequiel e o convocou como mensageiro para o Israel rebelde. Ele encorajou o profeta para que não temesse, mesmo diante de hostilidades ou perigos intensos. Ezequiel devia proclamar a palavra do Senhor, quaisquer que fossem as reações. Para simbolizar sua convocação, o Senhor instruiu Ezequiel a comer um rolo que continha palavras de lamentação e julgamento. Ele prometeu dar a Ezequiel a determinação, a perseverança e a firmeza de que ele precisaria para enfrentar seus ouvintes obstinados.

Depois desse encontro com o Senhor, o Espírito divino conduziu Ezequiel à comunidade exilada em Tel-Abibe na Babilônia, onde se assentou em silêncio perplexo por uma semana. O Senhor então o convocou para servir como sentinela responsável por alertar seus ouvintes quanto ao julgamento divino iminente. Ezequiel devia avisar tanto os perversos como os justos que fossem tentados a recuar. Caso o profeta falhasse na tarefa, o sangue deles recairia sobre sua cabeça.

45 Baseada em Manual Bíblico Vida Nova. Edições Vida Nova,

2001, p. 475-490.

Assim que a sua missão foi anunciada, impuseram-se pesadas restrições a ela. Ezequiel não teria a liberdade de proclamar mensagens de alerta como e quando quisesse. O Senhor o instruiu a entrar em sua casa, onde permaneceria confinado e impossibilitado de falar. Ele poderia sair ou falar apenas quando o Senhor o orientasse especificamente nesse sentido. Essas restrições seriam uma lição concreta para o povo de Deus, com o intuito de ensinar que a rebeldia tornava cada vez mais difícil Deus comunicar-se com o povo.

Lições concretas de julgamento (4:1—5:17)

Ezequiel dramatiza o cerco de Jerusalém (4:1-17). O Senhor instruiu Ezequiel para que desenhasse Jerusalém numa placa de argila (ou talvez num tijolo) e representasse em miniatura um cerco completo à cidade, com rampas de cerco, acampamentos inimigos e aríetes. O profeta também devia colocar uma panela de ferro entre si e a cidade. Esse ato talvez ilustrasse a natureza inviolável do cerco ou representasse a barreira entre Deus e seu povo pecador.

O Senhor também instruiu o profeta a levar simbolicamente o pecado (ou talvez a punição) de Israel. Ele devia deitar-se sobre o lado direito por 390 dias, correspondentes aos anos do pecado (ou punição?) do Reino do Norte. (Ezequiel 4:9-17 descreve o profeta realizando várias atividades, e isso indica que às vezes ele se levantava, saindo daquela posição simbólica.) Não se sabe ao certo se aquilo simbolizava épocas de pecados no passado ou de punições futuras. O significado dos números 390 e 40 também é incerto.

Por ordens do Senhor, Ezequiel fez pães com vários grãos e os guardou num jarro. Durante o período de 390 dias (cf. 4:5), ele devia comer uma porção diária de 228 gramas de pão, complementada por meio litro de água. Essa dieta restrita simbolizaria o racionamento de comida que seria necessário durante o cerco iminente de Jerusalém. O Senhor também disse a Ezequiel que assasse o pão sobre fogo obtido pela queima de excremento humano. Ainda que a lei do Antigo Testamento não o proíba especificamente, Dt 23:12-14 dá a entender que isso era considerado impuro. O ato de Ezequiel prenunciava o destino dos exilados, forçados a ingerir alimentos em terra estrangeira impura. Quando Ezequiel objetou que sempre se mantivera cerimonialmente puro, o Senhor permitiu que ele empregasse esterco de vaca como combustível.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 50O cabelo de Ezequiel (5:1-17). O Senhor também

disse a Ezequiel que rapasse todo o cabelo da cabeça e os pêlos da face e dividisse os fios em três partes iguais. Ele devia queimar um terço, cortar outro terço com a espada e lançar o terço restante ao vento. Esses atos simbolizavam a destruição iminente de Jerusalém e o exílio dos seus habitantes. Ao mesmo tempo, Ezequiel devia preservar alguns fios de cabelo nas orlas da própria roupa, simbolizando o remanescente que sobreviveria ao julgamento. Entretanto, para mostrar a severidade e a extensão do julgamento divino, ele devia jogar alguns desses fios no fogo.

O pecado de Jerusalém seria a causa de sua queda. Apesar de sua condição privilegiada, o povo de Deus havia se rebelado contra os mandamentos do Senhor e profanado o templo com ídolos. O julgamento divino seria tão severo, que o povo faminto chegaria a comer os membros da própria família. Dois terços da população da cidade pereceriam pela fome e pela espada, enquanto outro terço seguiria para o exílio. As nações vizinhas tratariam Jerusalém como objeto de zombaria.

Profecias de julgamento iminente (6:1—7:27)

O julgamento dos lugares altos (6:1-14). Em toda a terra, o povo havia erigido altares para cultuar deuses pagãos. O Senhor estava para destruir esses altares e encher os santuários pagãos com cadáveres e ossos daqueles que ali cultuavam. De norte a sul, a terra seria devastada. (“Deserto” refere-se ao deserto do sul. “Diblá” [ARC] deve, provavelmente, ser lido Ribla, cidade da Síria). Entretanto, o Senhor preservaria um remanescente e o espalharia entre as nações. Esses sobreviventes um dia reconheceriam a soberania do Senhor e confessariam o seu próprio pecado de idolatria.

O dia do Senhor (7:1-27). Chegara o dia do julgamento de Judá. Não haveria atraso, pois os atos sangrentos arrogantes e violentos da nação exigiam punição. O Senhor daria paga aos pecados de seu povo e não teria misericórdia para com ele. Seu julgamento seria completo e inevitável. A praga e a fome matariam os que estivessem dentro de Jerusalém, enquanto espadas inimigas assassinariam os que vivessem nos campos ao redor. Aterrorizados, os poucos sobreviventes fugiriam para as montanhas e lamentariam o seu

próprio destino. Descartariam a prata e o ouro, tendo consciência de que isso não os salvaria. O inimigo saquearia suas riquezas e profanaria o templo. Nem mesmo os líderes religiosos e civis da nação, incluindo o próprio rei, seriam capazes de evitar esse dia de julgamento.

A glória de Deus afasta-se do templo corrompido (8:1—11:25)

A idolatria no templo (8:1-18). Enquanto estava assentado em sua casa com alguns anciãos exilados de Judá, Ezequiel teve uma experiência surpreendente. Transportado numa visão ao templo de Jerusalém, ele viu um ídolo junto à porta setentrional do pátio interno. Também estava presente a glória do Senhor, que ele presenciara duas vezes antes (cf. 1:28; 3:23). Entrando no pátio por um buraco no muro, Ezequiel viu 70 anciãos da terra oferecendo incenso às imagens de animais impuros desenhados nos muros. Cada um daqueles anciãos também cultuava um ídolo particular em segredo, pensando que seus atos ficavam ocultos ao Senhor. Voltando à porta norte, Ezequiel viu mulheres chorando por Tamuz, deus mesopotâmico da fertilidade que se supunha ter sido confinado no submundo. Voltando para o pátio interno, ele observou 25 homens cultuando o sol bem na entrada do templo. Tal flagrante desrespeito pelo Senhor exigia punição.

A glória do Senhor se vai (9:1—11:25). Os capítulos 9—11 descrevem o afastamento paulatino da glória de Deus do templo corrompido. O Senhor convocou seis executores e um escriba. O Senhor instruiu o escriba a colocar uma marca na fronte de cada pessoa fiel na cidade. Ele então encarregou os executores de matar impiedosamente todos os que não portassem essa marca, a começar pelos limites do templo. Quando Ezequiel expressou sua preocupação de que toda a nação fosse exterminada, o Senhor lembrou a ele que o julgamento era bem merecido. A terra estava cheia de sangue e injustiça, e o povo havia perdido a fé no Senhor.

Quando o escriba retornou de sua tarefa de marcar os justos, o Senhor lhe disse que juntasse brasas dentre as rodas de seu carro flamejante e as espalhasse sobre a cidade num ato de julgamento purificador. Mais uma vez, o veículo que leva o trono do Senhor é descrito em detalhes (cf. 10:9-14 com 1:4-21), e as criaturas vivas do capítulo 1 agora são

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Betel Japonês — Livros Proféticos 51chamadas especificamente querubins. Na visão anterior, uma roda seguia cada querubim em seus movimentos. A glória do Senhor, que antes deixara o trono acima dos querubins e se movia para a entrada do templo, agora voltava a subir no carro dos querubins. Os queruhins se elevaram e pararam sobre a porta oriental do templo.

Na porta abaixo, havia 25 homens incluindo Jaazanias e Pelatias, dois líderes do povo que davam maus conselhos aos habitantes da cidade e lhes garantiam que não sofreriam nenhum dano (11:1-2). Eles se comparavam à carne numa panela que perma-necia intocada pelas chamas embaixo dela. O Senhor disse a Ezequiel que profetizasse contra eles. O Senhor traria contra eles a espada e os conduziria para fora da cidade, para o exílio.

Enquanto Ezequiel proclamava a mensagem, Pelatias morreu. De novo, Ezequiel expressou a preocupação de que o remanescente do povo fosse destruído (cf. 11:13 com 9:8). O Senhor garantiu a seu profeta que ele não abandonara de todo a seu povo. Ele estava preservando um remanescente entre os exilados e um dia o levaria de volta à terra. Essa comunidade restaurada rejeitaria os deuses-ídolos e cultuaria o Senhor com verdadeira devoção.

Depois dessa palavra de garantia, o carro que levava a glória do Senhor elevou-se da cidade e parou no Monte das Oliveiras, a leste da cidade (11:23). O Senhor abandonara sua morada escolhida, deixando-a desprotegida e vulnerável à invasão. Nesse momento, terminou a visão de Ezequiel, e ele a relatou a seus companheiros exilados.

Lições concretas do exílio (12:1-28)

Ezequiel prepara sua bagagem (12:1-16). O Senhor instruiu Ezequiel a juntar seus pertences e depois, na presença de seus companheiros exilados, cavar um buraco na parede da própria casa à noite e fingir estar fugindo. Ele devia carregar seus pertences sobre os ombros e cobrir a face. Ao fazê-lo, estaria encenando o destino de Zedequias, rei de Judá. Poucos anos mais tarde, quando a conquista babilônica de Jerusalém tornou-se inevitável, Zedequias arrumaria seus objetos pessoais e fugiria da cidade à noite. Os babilônios o capturariam, vazariam seus olhos e o levariam para o exílio.

Ezequiel treme enquanto come (12:17-20). A seguir, o Senhor instruiu Ezequiel a tremer violentamente enquanto comia e bebia. Fazendo isso, estava representando o destino dos habitantes de Judá e Jerusalém. Quando os babilônios devastassem a cidade, a ansiedade e o desespero os dominaria de tal maneira, que não seriam capazes nem de saborear uma refeição.

Corrigidas as percepções enganosas das profecias (12:21-28). Os israelitas tinham um ditado: “Prolongue-se o tempo, e não se cumpra a profecia” (12:22). O provérbio parece refletir seu ceticismo a respeito das mensagens dos profetas do Senhor. O Senhor anunciou que o ditado devia ser trocado por: “Os dias estão próximos e o cumprimento de toda profecia” (12:23), pois Ele estava para cumprir seus decretos.

Alguns também pressupunham erroneamente que a mensagem profética de Ezequiel pertencia a um futuro distante, sendo-lhes, portanto, imperti-nente. O Senhor anunciou que suas profecias seriam cumpridas de imediato.

A denúncia da falsa profecia (13:1-23) Havia em Israel muitos falsos profetas que

alegavam ser porta-vozes do Senhor e garantiam às pessoas que tudo terminaria bem. Eles eram como os que se põem a caiar um muro frágil para esconder seus defeitos. O Senhor exterminaria da comunidade da aliança esses impostores. Seu julgamento chegaria como uma chuva torrencial, um vento violento e um granizo destrutivo que arremessariam ao chão os muros caiados.

O Senhor também denunciou as falsas profetisas que desviavam o povo com mensagens mentirosas obtidas por adivinhação. (Alguns interpretam a cevada e o pão de 13:19 como o pagamento delas, mas é mais provável que os elementos mencionados fossem usados como parte de seus rituais.) Suas atividades tinham o efeito de debilitar os retos, e esses adivinhos na realidade incentivavam os perversos a continuar em seus maus caminhos. O Senhor os exporia como fraudes e livraria seu povo da influência negativa deles.

A denúncia contra os líderes idólatras (14:1-11)

O Senhor denunciou por idolatria vários dos an-ciãos que viviam no exílio. Mesmo que buscassem um oráculo divino pronunciado por Ezequiel, abrigavam no coração um espírito idólatra. O Senhor responderia diretamente a tais indivíduos, eliminando-os da comunidade da aliança. Qualquer profeta que ousasse apresentar um oráculo a tais hipócritas seria punido com severidade.

A destruição certa de Jerusalém (14:12-23)

A presença de um remanescente justo em Jerusalém não impediria a destruição da cidade. Os indivíduos podiam ser livrados, mas a ruína da cidade era certa. Para dar ênfase a esse ponto, o Senhor declarou que mesmo que Noé, Daniel 46 e

46 “A presença de Daniel nesse trio é problemática. A forma

hebraica do nome é escrita de maneira distinta da que aparece no livro de Daniel. Além disso, Daniel era contemporâneo de Ezequiel, enquanto Noé e Jó eram personagens da antigüidade. Alguns entendem que se tem em vista Daniel, um governante justo que aparece num conto cananeu datado do segundo milênio a.C. Nesse caso, todos os três exemplos seriam de não-israelitas

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Betel Japonês — Livros Proféticos 52Jó, três indivíduos aclamados pela retidão, residissem na cidade, ela não seria poupada. Esses homens escapariam, mas não conseguiriam salvar ninguém, nem mesmo os próprios filhos. Homens e animais seriam destruídos pelo julgamento divino, o que viria em forma de espada, fome, animais selvagens e praga. Além de preservar todos os indivíduos justos deixados na cidade, o Senhor também permitiria que uns poucos perversos sobrevivessem e se juntassem aos exilados na Babilônia. Quando Ezequiel testemunhasse o grau do pecado deles, então saberia por experiência própria que o julgamento divino da cidade fora necessário e perfeitamente justo.

Ilustrações do pecado e do julgamento de Israel (15:1—17:24).

Jerusalém, a videira inútil (15:1-8). O Senhor extraiu uma lição da videira silvestre, inútil para fins de construção. Como de costume, ela é usada como combustível. Uma vez queimnada, seu estado carbonizado torna-a ainda mais imprestável. Também se pode deixá-la no fogo até ser consumida por completo. Jerusalém era comparável a tal videira. O Senhor já a havia sujeitado a seu julgamento de fogo. Como a videira carbonizada, ela não seria totalmente consumida.

Jerusalém, a esposa infiel (16:1-63). O Senhor valeu-se de uma alegoria para ilustrar a ingratidão e a infidelidade dos cidadãos de Jerusalém. Em sua origem, Jerusalém era uma cidade cananéia, habitada por amorreus e hititas. Ela era como um bebê não desejado, jogado num campo e deixado à morte por abandono. Contudo, o Senhor preservou a vida da criança. Mais tarde, depois que cresceu, transformando-se numa jovem bela e madura, o Senhor firmou uma aliança de casamento com ela. Ele a vestiu com belas roupas, deu-lhe alimento e a transformou numa rainha. A fama dela correu as nações. Embriagada com sua riqueza e posição, Jerusalém voltou-se para outros deuses e nações. Construiu santuários pagãos, sacrificou seus próprios filhos aos ídolos e firmou alianças com as nações vizinhas. Ela se tornou pior que uma prostituta. Em vez de receber pagamento dos amantes, ela pagava a eles.

O Senhor a puniria com severidade pela ingratidão e pela infidelidade. Ele a exporia

que viveram muito antes da época de Ezequiel. Outros, porém, fazem objeção a essa identificação, alegando que o AT não menciona essa figura lendária em nenhum outro trecho e que o Senhor não empregaria um adorador de deuses cananeus como modelo de retidão.”

publicamente e a executaria. As próprias nações com as quais ela havia firmado aliança voltar-se-iam contra ela e a destruiriam.

Desenvolvendo ainda mais a alegoria, o Senhor destacou que Jerusalém não era diferente de sua mãe e irmãs, infiéis a seus maridos e filhos. Como os cananeus que residiam na cidade em dias antigos, os habitantes de Jerusalém sacrificavam os filhos e as filhas a deuses pagãos. Jerusalém, a exemplo dos povos de Samaria e de Sodoma, vistos aqui como suas irmãs, negligenciava a justiça e fazia coisas abomináveis aos olhos de Deus. Os pecados de Jerusalém chegavam a exceder os de Samaria e Sodoma.

Ainda que fosse humilhada por causa de seus pecados, o Senhor um dia restauraria a cidade. O Senhor renovaria sua aliança com ela e faria expiação de seus pecados.

Uma parábola sobre duas águias (17:1-24). O

Senhor usou outra parábola a fim de ilustrar verda-des acerca de Jerusalém. Uma águia vigorosa chegou ao Líbano, quebrou o topo de um cedro, transportou-o para uma cidade de mercadores e ali o plantou. Essa águia também levou algumas sementes da terra de Israel e as plantou num solo fértil, onde cresceram, formando uma videira com ramos cheios de folhas. Mas quando se aproximou outra águia vigorosa, as raízes e os ramos da videira cresceram em direção a ela. O Senhor anunciou então que a videira seria destruída pelo vento oriental. De acordo com a interpretação da parábola (cf. 17:11-18), a primeira águia representa Nabucodonosor, que levou para a Babilônia o rei de Jerusalém e alguns nobres. Faz-se referência à deportação de Joaquim e de outros em 597 a.C. (cf. IIRs 24:8-16). O plantio da vinha representa a preservação de um remanescente em Judá, encabeçado por Zedequias, a quem Nabuco-donosor nomeou seu rei vassalo. A segunda águia simboliza o Egito, de quem Judá buscou auxílio quando decidiu rebelar-se contra os babilônios. A destruição da videira indica o fim de Judá, que os babilônios puniriam com severidade por causa da rebelião.

Entretanto, o futuro não era inteiramente sombrio. O Senhor quebraria um ramo do topo de um cedro e o plantaria num monte alto, onde cresceria até se transformar numa árvore grande e frutífera. Já que o ramo de cedro antes simbolizava o rei exilado (cf. 17:3-4 com 17:12), é provável que o ramo aqui mencionado refira-se ao futuro rei a quem o Senhor estabeleceria em Jerusalém (representado pelo monte).

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Betel Japonês — Livros Proféticos 53A responsabilidade individual (18:1-32).

O povo de Deus citava um provérbio que dava a entender que estava sofrendo injustamente pelos pecados de gerações anteriores. O Senhor corrigiu-lhe o pensamento falho. Deus sempre preserva os justos e se opõe aos perversos, sem levar em conta a condição moral de seus ancestrais.

Para ilustrar seu pensamento, o Senhor descreveu um homem reto imaginário que repudia a idolatria, o adultério e a injustiça. Tal homem pode ter a certeza da proteção divina. Contudo, se ele tiver um filho idólatra, adúltero e injusto, esse filho mau será destruído, apesar da justiça do pai. Na seqüência, se esse homem perverso tiver um filho justo, esse filho não será considerado responsável pelos atos malignos do pai. Antes, como seu avô, sua vida será preservada pelo Senhor. Cada um é julgado com base em seus feitos, não nos atos dos pais.

A lição para os israelitas era óbvia. Se estavam sofrendo julgamento divino, isso significava necessariamente que eles, a exemplo dos pais, eram maus. Em vez de reclamar de que Deus era injusto, precisavam arrepender-se e deixar seus caminhos perversos, pois Deus desejava que vivessem e não morressem.

Um lamento pelos príncipes de Israel (19:1-14)

O profeta ofereceu pelos príncipes de Israel um lamento que, à semelhança das mensagens anteriores, contém alguns elementos de parábola. A mãe dos príncipes (provavelmente a nação de Judá ou a cidade de Jerusalém, cf. 19:10-14) é comparada a uma leoa que criou vários filhotes. Um deles cresceu e se tornou um leão forte que estraçalhava pessoas, mas por fim foi capturado e levado ao Egito. A referência é ao injusto Jeoacaz, levado cativo pelos egípcios em 609 a.C. (cf. IIRs 23:31-34). Outro filhote cresceu forte e levou terror à terra; mas caiu numa armadilha, foi colocado numa gaiola e levado para a Babilônia. Aqui se faz referência ou a Joaquim ou Zedequias, ambos levados ao exílio (cf. IIRs 24:8—25:7).

Mudando de figura, o Senhor compara a mãe dos príncipes a uma videira frutífera, que ele destrói em sua fúria e replanta num deserto. Tem-se em vista a queda e o exílio da nação (ou da cidade).

A rebeldia do passado e do presente de Israel (20:1-44)

Quando alguns anciãos no exílio chegaram para questionar o Senhor, este se recusou a responder-

lhes. Em lugar disso, Deus disse a Ezequiel que repassasse a história rebelde da nação. Desde bem cedo, quando o Senhor confrontou-se com seu povo no Egito, eles resistiram à sua vontade, apegando-se aos ídolos. Depois que Deus os livrou da servidão e lhes deu a lei, eles se rebelaram no deserto. Apesar de o Senhor ter proibido aquela geração de entrar na terra prometida, ele preservou seus filhos e os advertiu a não seguir nos passos dos pais. Entretanto, os filhos, ainda no deserto, pecaram contra o Senhor. Quando finalmente Deus os estabeleceu na terra, eles adoraram deuses cananeus em santuários pagãos. Os idólatras do tempo de Ezequiel não eram diferentes. Por conseguinte, o Senhor os purificaria por meio de julgamento e exílio. Depois de retirar os adoradores rebeldes de ídolos, ele restauraria a nação na terra. O povo então repudiaria o comportamento anterior e adoraria o Senhor em pureza.

O fogo e a espada do Senhor (20:45—21:32)

O julgamento recairia sobre Judá como um incêndio devorador na floresta. Ao levar os babilônios em direção à terra, o Senhor brandiria sua espada afiada e polida. Brilhando como um relâmpago, essa espada levaria destruição por toda a terra. Em seu caminho para a Palestina, Nabucodonosor chegaria a uma encruzilhada no caminho, onde uma via levava a Jerusalém e a outra a Rabá, proeminente cidade amonita. Para determinar sua seqüência de ações, ele usaria vários métodos de adivinhação, inclusive tirando flechas marcadas da aljava, consultando seus ídolos e examinando fígados. O Senhor faria com que todos os indi-cadores apontassem para Jerusalém. Nabucodonosor sitiaria e conquistaria a cidade e levaria seu povo ao exílio. Enquanto isso, os amonitas, ainda que arrogantes e hostis, não deviam pensar que seriam poupados. A espada de julgamento do Senhor também recairia sobre eles (cf. 25:1-7).

Jerusalém, uma cidade sanguinária (22:1-31)

A corrupção dentro de Jerusalém tornara seu julgamento inevitável. Aqui se mencionam alguns pecados específicos, inclusive a idolatria, o abuso de poder, a falta de respeito para com os pais, a negligência para com viúvas e órfãos, a profanação do sábado, o incesto, o suborno e a usura. A violência tomava conta da cidade. Em todo o capítulo há referência ao derramamento de sangue inocente (cf. 22:3-4, 6, 9, 12-13, 27). Os príncipes e oficiais civis assumiam a liderança nesse sentido, oprimindo os pobres e indefesos. Até os líderes

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Betel Japonês — Livros Proféticos 54religiosos eram corruptos. Os sacerdotes não instruíam o povo na lei e não faziam distinção entre o sagrado e o profano. Os falsos profetas proclamavam mentiras em nome do Senhor. Quando o Senhor procurou um homem que intercedesse pela nação, não encontrou ninguém. Por conseguinte, ele purificaria a cidade por meio do julgamento e dispersaria o povo entre as nações.

A alegoria das duas irmãs (23:1-49)

Para ilustrar a infidelidade da nação, o Senhor usou uma alegoria em que comparava Samaria e Jerusalém a duas irmãs promíscuas chamadas Oolá e Oolibá. (Oolá significa sua tenda e Oolibá, minha tenda está nela. Talvez o segunndo nome reflita o fato de que Deus habitava no templo de Jerusalém). As irmãs haviam sido prostitutas desde a mocidade no Egito. Ainda que pertencessem ao Senhor (não é claro se como esposas ou filhas), elas cortejavam o favor de nações estrangeiras.

Oolá (Samaria) buscou aliança com os assírios. Ela é retratada desejosa de soldados assírios, prostituindo-se entre seus oficiais. Por ironia, seus amantes a mataram e levaram seus filhos embora.

Oolibá (Jerusalém) testemunhou o destino da irmã, mas não conseguiu aprender com o exemplo dela. Ela também desejou os assírios e depois voltou a atenção para os babilônios e para outros povos. Empregam-se linguagem viva e imagens duras para retratar sua ninfomania. O Senhor avisou que seus amantes voltar-se-iam contra ela. Os babilônios chegariam contra a terra com todo o poderio militar e destruiriam cruelmente a popu-lação. Oolibá seria publicamente humilhada e sofreria o mesmo destino da irmã Oolá.

A parábola da panela (24:1-14)

No mesmo dia em que os babilônios iniciaram o cerco de Jerusalém (15 de janeiro de 588 a.C.), o Senhor deu a Ezequiel uma parábola que ilustrava a queda da cidade. Jerusalém era como uma panela cheia de crostas (o derramamento de sangue e a idolatria, 24:6-8, 13). Os habitantes da cidade eram como carne e ossos cozidos na panela. O fogo que queimava sob a panela (o cerco babilônio) cozinharia por completo a carne e queimaria os ossos, e ambos seriam por fim retirados pedaço por pedaço (um retrato do exílio). A panela vazia seria então deixada no fogo até que se queimassem suas impurezas.

A morte da esposa de Ezequiel (24:15-27)

O Senhor anunciou a Ezequiel que sua esposa amada teria morte súbita. Mas, como uma lição concreta para Israel, o Senhor ordenou que o profeta não externasse luto por sua morte, conforme o costume. Em vez disso, poderia apenas gemer para si mesmo. Quando sua esposa morreu logo depois, Ezequiel obedeceu às instruções do Senhor. Ao observar seu silêncio, as pessoas perguntaram-lhe o significado daquilo. Ezequiel explicou que elas não deviam chorar a queda da amada cidade e de seu templo, assim como ele se recusava a lamentar a morte da esposa.

Quando por fim a cidade caísse, um fugitivo traria notícias a Ezequiel. Naquele momento o Senhor poria fim à mudez do profeta (cf. 3:26-27; 33:21-22). Ele então falaria abertamente aos sobreviventes da catástrofe, advertindo-os e incentivando-os.

Texto Ato de Ezequiel Significado

4:1-3 Esboça Jerusalém num tijolo.

A cidade será cercada.

4:4-8 Deita-se sobre o lado esquerdo por 390 dias, sobre o direito por 40.

Os anos de iniqüidade e punição de Judá.

4:9-17 Come alimento racionado do exílio.

Fome em Jerusalém quando ocorrer o cerco.

5:1-12 Rapa a cabeça com uma espada, pesa e divide o cabelo, queimando uma parte, ferindo a segunda parte com uma espada e espalhando a terceira ao vento.

A insignificância do remanescente poupado diante da dimensão do julgamento.

12:1-12 Cava um buraco na parede e passa por ele levando consigo bagagens de exílio.

O exílio é uma realidade inevitável para a qual o povo deve estar preparado.

21:18-23 Traça uma rota para o exército babilônio, com uma encruzilhada que força o rei a lançar sortes para decidir o caminho a tomar.

Deus determinará o itinerário das tropas da Babilônia, e isso levará inevitavelmente a Jerusalém.

25:15-24 Sua esposa morre. O povo escolhido, a delicia dos olhos de Javé, se perderá por morte ou no exílio.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 55O JULGAMENTO CONTRA AS NAÇÕES VIZINHAS

(Ez 25:1—32:32)

As nações em torno de Judá não escapariam do julgamento divino. Essa divisão contém oráculos contra sete nações específicas. Ainda que se representem todos os pontos cardeais, Tiro (ao norte) e o Egito (ao sul) recebem atenção especial. As sete sentenças contra o Egito concluem a divisão. A ampla distribuição geográfica das nações mencionadas, bem como o uso simbólico do número sete, transmitem a impressão de completitude.

Amom (25:1-7). O Senhor julgaria os amonitas pelo prazer deles com a queda de Jerusalém. “Filhos do Oriente” (25:4; ou os babilônios ou tribos saqueadoras do deserto) pilhariam Amom e reduziriam Rabá, sua cidade mais proeminente, a um pasto.

Moabe (25:8-11). O Senhor puniria igualmente os moabitas, vizinhos de Amom ao sul, também por se terem alegrado com a queda de Jerusalém. Os “povos do Oriente” (25:10) conquistariam as cidades fortificadas que guardavam a fronteira setentrional de Moabe, deixando a terra vulnerável à invasão.

Edom (25:12-14). O julgamento também recairia sobre Edom (já mencionada em 25:8, cf. “Seir”), localizada ao sul de Moabe. Na queda de Judá, Edom manifestara um espírito vingativo (cf. Obadias). O Senhor vingar-se-ia de Edom por meio de seu povo Israel.

Filístia (25:15-17). O Senhor se vingaria dos filisteus (também referidos aqui como os queretitas), vizinhos de Judá a oeste, por se terem oposto ao povo de Deus durante séculos.

Tiro (26:1—28:19)

A queda de Tiro (26:1-21). Tiro, localizada na costa mediterrânea ao norte de Israel, era um centro comercial proeminente. Apesar de suas riquezas e defesas, não seria capaz de resistir ao julgamento do Senhor. Muitas nações a assolariam, como águas turbulentas do mar. Num futuro próximo, os exércitos de Nabucodonosor cercariam a cidade e a conquistariam. Tiro seria reduzida a um monte de ruínas e jamais seria reconstruída. Por toda a costa mediterrânea, parceiros comerciais de Tiro lamentariam sua destruição.47

47 É difícil conciliar essa profecia com a história. Nabucodonosor

cercou Tiro por treze longos anos (cerca de 586-573 a.C.) e por fim a tornou estado-vassalo. Mas ele não destruiu a cidade da maneira descrita por Ezequiel (mesmo 29:18 reconhece isso).

O lamento do profeta por Tiro (27:1-36). Para dar ênfase à certeza do julgamento de Tiro, o Senhor disse a Ezequiel que lamentasse de antemão a destruição da cidade. Tiro é comparada a um grande navio comercial feito com a melhor madeira, adornado com lindas velas e tripulado por marinheiros capazes. Tiro comprava e vendia todos os produtos imagináveis, incluindo metais e pedras preciosas, escravos, animais, tecidos e roupas, alimentos e até presas de marfim. Sua lista de parceiros comerciais incluía praticamente todas as nações e cidades do mundo conhecido. Mas uma tempestade (o julgamento do Senhor) destruiria esse grande navio. Todos os marinheiros e mercadores se afogariam no mar, fazendo com que seus parceiros comerciais olhassem da praia, lamentando o destino dela.

A denúncia contra o rei de Tiro (28:1-19). Destacan-do o rei de Tiro como representante da cidade, o Senhor anunciou que esse soberano orgulhoso e sua cidade seriam humilhados. Por causa do grande sucesso e da riqueza da cidade, o rei se imaginava um deus e tinha grande orgulho da sua própria sabedoria. (Ainda que alguns considerem o “Daniel” de 28:3 um lendário rei cananeu chamado Daniel, a referência à sua capacidade de desvendar segredos indica que se tem em vista o Daniel da Bíblia, contemporâneo de Ezequiel. Cf. comentários sobre 14:14,20). Quando chegasse o dia do julgamento, o rei seria humilhado diante de seus executores, e suas ilusões de grandeza seriam substituídas pela dolorosa realidade de sua mortalidade.

Antevendo a queda do rei, Ezequiel pronunciou um lamento zombeteiro contra ele. Comparou o rei a um querubim sábio, belo e ricamente adornado, que antes habitava no jardim do Éden e gozava de acesso ao monte santo de Deus. Esse querubim acabou perdendo a posição de prestígio em razão

Muitos conquistadores depois disso (inclusive Alexandre, o Grande, em 332) tomaram a cidade, mas ela continuou existindo até a era cristã.

Várias soluções para o problema têm sido apresentadas, nenhuma das quais de todo satisfatória. Uma possibilidade é que a descrição da queda de Tiro era um tanto estereotipada e deliberadamente exagerada para destacar que ela seria subordinada aos babilônios e sofreria um declínio significativo em prestígio. Outra possibilidade é que a descrição de 26:12-14 vai além da época de Nabucodonosor e abrange ataques posteriores à cidade, os quais lhe provocaram a queda definitiva. Essa mescla de futuro imediato com fatos mais distantes é típico da literatura profética.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 56de sua arrogância e por causa das práticas econômicas opressoras (numa alusão ao império comercial de Tiro). O Senhor o lançou do monte sagrado e o destruiu com fogo diante das nações.

O ambiente histórico que envolve as figuras desse lamento é incerto. O monte de Deus encontra paralelos na mitologia cananéia. Seria possível esperar o uso de tais imagens míticas numa mensagem a um rei fenício. (Cf. Is 14:4-21, em que temas e figuras mitológicas são usadas numa zombaria dirigida ao rei da Babilônia.) O versículo 13 parece referir-se ao jardim do Éden da tradição bíblica, mas os únicos querubins mencionados no relato de Gênesis são os colocados como guardiões junto à porta do jardim, após a expulsão de Adão e Eva (Gn 3:24). Talvez Ezequiel tenha extraído suas figuras de uma tradição extrabíblica acerca do Éden.

Por causa das referências ao Éden e ao orgulho e queda do querubim, há quem veja uma referência velada a Satanás em 28:12-19. Mas a alusão ao Éden não sustenta essa idéia. Satanás não é mencionado de maneira clara em Gênesis 2—3, muito menos retratado como querubim. Satanás é tradicionalmente associado à serpente no relato sobre o Éden. Mas mesmo que essa interpretação esteja correta, a serpente é identificada com um dos animais criados por Deus (cf. Gn 3:1, 14), não com um querubim disfarçado.

Sidom (28:20-26). Sidom, outra cidade fenícia de destaque, também sofreria o julgamento divino. A exemplo de Tiro, ela havia tratado o povo de Deus com hostilidade. O Senhor destruiria os sidônios com praga e espada.

O Senhor um dia restabeleceria seu povo em sua terra, onde este viveria em paz, livre das ameaças dos vizinhos hostis.

Egito (29:1—32:32)

A oposição do Senhor ao faraó (29:1-16). O Senhor anunciou que também se oporia ao faraó, o orgulhoso rei do Egito. Comparando o rei a um crocodilo no rio Nilo, o Senhor alertou que o arrancaria do rio e o lançaria no deserto, onde morreria e seria comido por animais que se alimentam de carniça. O Senhor transformaria toda a terra (desde Migdol, no norte, até Assuã, no sul) em ruína durante quarenta anos e dispersaria os egípcios entre as nações. Depois do exílio de quarenta anos, o Senhor os devolveria à terra, mas o Egito jamais voltaria a experimentar sua glória anterior. O povo de Deus, que antes confiara no

Egito, já não esperaria seu auxílio. Não se sabe ao certo quando e como essa profecia se cumpriu. Os registros históricos não revelam que o Egito tenha sofrido desolação ou exílio nos níveis descrito por Ezequiel.

Pilhagem para Nabucodonosor (29:17-21). Em 571 a.C., logo depois que Nabucodonosor suspendeu seu longo cerco contra Tiro, Ezequiel recebeu outra mensagem a respeito do Egito. Apesar de Nabuco-donosor ter saído de Tiro relativamente pouco recompensado por seus esforços, o Senhor lhe daria o Egito, de onde ele extrairia abundância de riquezas. É provável que essa profecia tenha se cumprido em 568 a.C., quando, de acordo com um texto babilônico, Nabocodonosor parece ter conduzido uma campanha militar contra o Egito.

O Dia do Senhor contra o Egito (30:1-19). A queda do Egito está associada com o “Dia do Senhor”, expressão empregada em outras partes do Antigo Testamento em relação ao tempo em que o Senhor vem como guerreiro e destrói seus inimigos de maneira rápida e decisiva. Valendo-se de Nabucodonosor como sua “espada”, o Senhor destruiria tanto o Egito como seus aliados. O grande rio do Egito, o Nilo, secaria, seus ídolos e príncipes mostrar-se-iam indefesos, e todas as suas cidades famosas seriam conquistadas.

A destruição do poder do faraó (30:20-26). Ezequiel recebeu uma mensagem a respeito do faraó em 587 a.C., um ano depois que Nabucodonosor der-rotou o faraó Hofra em batalha, quando este tentou chegar em socorro da Jerusalém sitiada (cf. Jr 37:5-8). Quando permitiu que Nabucodonosor derrotasse Hofra, foi como se o Senhor tivesse quebrado o braço do faraó, um símbolo de seu poderio militar. Mas o Senhor reservava mais da sua ira para o Egito. Ele fortaleceria o rei da Babilônia, que conquistaria o Egito. Ambos os braços do faraó seriam quebrados. Quando os egípcios fossem vencidos e espalhados entre as nações, reco-nheceriam a soberania do Deus de Israel.

Um cedro caído (31:1 -18). O Senhor desafiou o faraó e seus exércitos a aprenderem uma lição da história. A Assíria, poderoso império no Oriente Pró-ximo, de 745 a 626 a.C., já havia sido como um cedro imponente do Líbano. Ele era alto e bem nutrido. Pássaros se abrigavam em seus ramos e animais buscavam abrigo sob sua sombra. Nem mesmo as árvores no jardim do Éden conseguiam competir com ele em majestade e beleza. Entretanto, por causa do orgulho, Deus o entregou a uma nação impiedosa (os babilônios), que o

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Betel Japonês — Livros Proféticos 57despedaçou. Nenhuma outra árvore jamais cresceria tanto. O faraó era também como uma árvore alta, mas, à semelhança da Assíria, ele e seus exércitos cairiam esmagados contra a terra.

Lamento pela destruição do faraó (32:1-16). O Senhor revelou a Ezequiel um lamento sarcástico que a nação um dia cantaria pelo faraó derrotado. Ainda que ele fosse como um leão forte ou um cro-codilo vigoroso, seria capturado, destruído e devo-rado por animais. A escuridão cobriria sua terra como sinal de julgamento e destruição. A Babilônia invadiria o Egito, destruiria seu povo e lhe roubaria as riquezas.

Os exércitos egípcios são mortos (32:17-32). Os exércitos do faraó seriam mortos e desceriam à terra dos mortos. Eles se juntariam aos exércitos de outras nações que haviam espalhado terror sobre a terra, mas acabaram encontrando seu fim. Entre essas nações estavam a Assíria, Elão (no leste da Mesopotâmia), Meseque e Tubal (nações do norte, cf. 38:2), Edom e Sidom.

A RESTAURAÇÃO DE ISRAEL (Ez 33:1—48:35) A renovação da missão de Ezequiel (33:1-20)

Pouco antes da queda de Jerusalém, o Senhor renovou a missão de Ezequiel como sentinela espiritual da nação (cf. 3:16-21). Uma das principais responsabilidades de um vigia era alertar seu povo da iminência de perigos. Desde que desempenhasse sua tarefa, o vigia não era responsável por aqueles que não levassem seus avisos a sério e não estivessem preparados quando chegasse a desgraça. Ezequiel estava em posição semelhante. Ele devia alertar tanto os perversos como os apóstatas quanto à destruição iminente e chamá-los ao arrependimento. Embora a nação estivesse depreciada por causa do pecado, o desejo de Deus era que deixasse seus maus caminhos e vivesse.

A legitimação do ofício profético de Ezequiel (33:21-33)

Em janeiro de 585 a.C., cinco meses depois que o templo fora destruído, um fugitivo transmitiu a notícia a Ezequiel. Na noite anterior, o Senhor havia aberto a boca de Ezequiel, encerrando seu longo período de silêncio forçado (cf. 3:26; 24:26-27). Agora que as profecias de Ezequiel haviam se cumprido, seu ministério seria principalmente de incentivo, e suas mensagens estariam centradas na restauração futura dos exilados.

Mas ele devia anunciar mais um discurso de julgamnento. Os sobreviventes que permaneceram em Judá depois da destruição de Jerusalém

mantinham ilusões de grandeza, pensando que a terra agora lhes pertencia. Ezequiel corrigiu esse pensamento falho, mostrando que a idolatria e a hipocrisia deles lhes impedia de desfrutar a terra. Outra onda de julgamento os encobriria. No passado, não haviam levado a sério as mensagens de Ezequiel, mas no dia do julgamento acabariam percebendo que ele era um verdadeiro profeta do Senhor.

O pastor de Israel faz uma nova aliança com seu povo (34:1-31)

Os líderes de Israel, comparados a pastores, não haviam cuidado de maneira adequada do rebanho de Deus. Esses líderes, consumidos por interesse próprio, haviam na realidade oprimido e explorado o povo. As ovelhas estavam agora espalhadas e sendo assoladas por animais selvagens (nações estrangeiras, tais como a Babilônia). O Senhor anunciou que esses líderes incompetentes seriam eliminados e que Ele assumiria o cuidado com o rebanho. O Senhor reuniria de novo em Israel suas ovelhas espalhadas e feridas, onde se alimentariam em paz em ricas pastagens. Ele restabeleceria a justiça entre seu povo e levantaria para Ele um novo rei davídico ideal. Deus faria com eles uma “aliança de paz”, que lhes garantiria isenção de perigos e prosperidade agrícola.

A vingança contra Edom (35:1-15)

Deus julgaria as nações que tradicionalmente haviam intentado a destruição de seu povo. Como exemplo por excelência de tal nação, Edom foi destacada como objeto da ira de Deus. Os edomitas participaram da queda de Jerusalém, com esperanças de ficar com a terra de Israel para si. Com arrogância, zombavam do povo de Deus em seu tempo de calamidade. Edom experimentaria a vingança de Deus. Deus os trataria como eles haviam tratado seu povo. Os edomitas seriam mortos pela espada e a terra deles ficaria como um monte desolado de ruínas.

A prosperidade retorna a Israel (36:1-15). Os exércitos estrangeiros haviam dominado os montes de Israel e alardeavam suas conquistas. O Senhor jurou que faria a vingança recair sobre essas nações (Edom é de novo destacado, cf. 36:5). Ele também restauraria seu povo na terra. Mais uma vez, as plantações frutificariam nos campos e as cidades seriam habitadas.

Deus purifica seu povo (36:16-38). Israel havia corrompido a terra com seus atos pecaminosos e trazido desonra ao nome de Deus. Quando seguiu

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Betel Japonês — Livros Proféticos 58para o exílio, as nações tiraram conclusões erradas sobre o caráter de Deus. Para se vingar e restaurar sua reputação entre as nações, o Senhor restabeleceria os exilados na terra. Ele os purificaria dos pecados, criaria neles um desejo de lealdade e renovaria suas bênçãos agrícolas. Nesse tempo, as nações e também Israel reconheceriam sua soberania.

Israel revive (37:1-14). A visão dos ossos secos retrata de maneira viva a restauração miraculosa de Israel. Nela, o profeta viu um vale cheio de ossos secos e soltos, representando o povo disperso de Israel. Entretanto, de repente os ossos começaram a se juntar, e apareceram tendões e carne sobre eles. O sopro da vida entrou nos corpos e uma multidão de seres vivos pôs-se de pé no vale. Assim também, o Senhor faria reviver miraculosamente a nação de Israel. Ele a livraria do túmulo do exílio, colocaria seu Espírito em seu meio e a estabeleceria mais uma vez na terra prometida. “ Os prisioneiros israelitas, sem nenhuma força política, haveriam de formar uma nação; sem nenhuma força moral, iam vencer a idolatria e formar uma religião pura. Isto se faria não por força, nem por poder, porém pelo Epírito do próprio Deus (cf. Zc 4:6).” O cap. 37 ilustra o tema da restauração de Israel. “Historicamente, visa a volta dos exilados do cativeiro babilônico; profeticamente, visa a restauração no Novo Israel, no dia escatólogico, quando o Reino do Messias se realizará.”

Israel e Judá são reunificados (37:15-28). O dia de restauração também seria um dia de reunificação para Israel e Judá. Para ilustrar isso, o Senhor mandou que Ezequiel tomasse duas varas, uma representando o Reino do Norte e a outra, o Reino do Sul, e as segurasse juntas, como se fossem uma. Do mesmo modo, o Senhor devolveria os exilados de Israel e de Judá à terra e voltaria a formar com eles um reino. Ele levantaria um novo rei davídico ideal para liderá-los, estabeleceria com eles uma nova aliança e mais uma vez habitaria em seu meio.

A destruição definitiva das nações (38:1—39:29)

Esses capítulos descrevem uma invasão de Israel por nações distantes lideradas por “Gogue, da terra de Magogue, príncipe de Meseque e Tubal”. As tentativas de identificar Gogue com uma figura histórica não convencem. Magogue, Tubal e Meseque são mencionados em Gn 10:2 e ICr 1:5 como filhos de Jafé. Nos dias de Ezequiel, os descendentes deles habitavam o que é hoje a

Turquia oriental. De acordo com 38:5-6, entre os aliados de Gogue estavam a Pérsia, Cuxe (atual Etiópia), Pute (atual Líbia), Gômer (outro filho de Jafé, cujos descendentes residiam no extremo norte de Israel), e Bete Togarma (de acordo com Gn 10:3, Togarma era filho de Gômer).

Ezequiel previa um tempo em que os exércitos dessas nações atcariam o Israel confiante. O Senhor interviria com poder e livraria seu povo. Um terremoto violento abalaria a terra, e os exércitos inimigos, em pânico, voltar-se-iam uns contra os outros. O Senhor faria chover granizo e enxofre sobre eles. A matança seria comparável a um grande sacrifício. Aves e animais selvagens devorariam a carne e o sangue dos guerreiros inimigos. Mesmo com essa assistência do reino animal, o povo de Israel levaria sete meses para dar fim a todos os cadáveres. As armas dos inimigos forneceriam ao povo de Deus um suprimento de com-bustível que duraria sete anos. Uma vez que essa profecia não corresponde a nenhum fato histórico conhecido, é melhor com-preendê-lo como algo que ainda aguarda cumprimento. Gogue e suas hordas simbolizam a oposição ao reino de Deus que ocorrerá no final dos tempos e será esmagada com violência (cf. Ap 20:8-9).

A restauração da pureza de culto (40:1—48:35)

Nessa divisão do livro, o Senhor deu a Ezequiel uma visão de Israel restaurado. Ele viu um retrato detalhado do novo templo e recebeu instruções minuciosas para os futuros líderes das nações. O livro termina com uma descrição pormenorizada das divisões geográficas futuras da terra.

Os estudiosos divergem na interpretação dessa parte. Alguns consideram que sua linguagem simbólica é cumprida na igreja do Novo Testamento, enquanto outros interpretam a profecia como algo que se aplica a um Israel literal do futuro. Alguns entendem esses capítulos como uma descrição literal das condições na época do milênio.

“Diz a estes ossos secos que ouçam a palavra do Senhor. Diz-lhes que eu, o soberano Senhor, lhes digo a eles: Eu vou fazer entrar em vós o Espírito e trazer-vos de novo à vida.” (Ezequiel 37:4-5)

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Betel Japonês — Livros Proféticos 59Outros entendem a visão como um retrato idealizado, talvez exagerado, da futura restauração divina de seu povo cumprida com elementos simbólicos.

Um novo templo (40:1—43:12).

Por meio de uma visão, o Senhor proporciou a Ezequiel uma antevisão do novo templo. A começar pela porta oriental do átrio externo, ele foi conduzido por um percurso que o levou ao átrio interno, suas salas internas, o pórtico do templo, o santuário externo e, por fim, ao lugar santíssimo. Em todo o percurso fornecem-se medidas e descrições detalhadas.

O mais importante era que Deus residiria no novo templo. Quase vinte anos antes, Ezequiel tivera uma visão da glória de Deus deixando o templo de Jerusalém (cf. caps. 8—l0). Aquele templo foi em seguida destruído pelos babilônios. Agora, por meio de outra visão, o profeta testemunhava a glória de Deus retornando à cidade e fixando residência no novo templo (cf. 43:1-9).

Regulamentos para o novo templo (43:13— 46:24). Esses capítulos contêm algumas instruções e regras para os sacerdotes e governantes que no futuro atuariam na comunidade da aliança restaurada. Essa parte começa com instruções para a construção do altar do templo (43:13-17) e para seus sacrifícios de dedicação (43:18-27). Depois que se fizessem as devidas ofertas pelo pecado por sete dias consecutivos, o altar seria considerado puro e estaria pronto para uso. A partir do oitavo dia, o altar poderia ser usado para holocaustos e ofertas pacíficas, que expressavam a devoção do adorador a Deus e sua comunhão com Ele.

Uma vez que a glória do Senhor retornaria ao complexo do templo pela porta oriental do átrio externo (cf. 43:4), essa porta permaneceria fechada. Só o “príncipe” poderia sentar-se nesse lugar, onde comeria na presença do Senhor (44:1-4). Esse príncipe é identificado em outras partes como o rei davídico ideal, o Messias, a quem o Senhor levantaria para reger seu povo (34:24; 37:24-25).

No passado, israelitas rebeldes haviam violado a aliança do Senhor, permitindo que estrangeiros le-vassem seus costumes detestáveis para dentro do templo. Esses estrangeiros eram “incircuncisos de coração e incircuncisos de carne” (44:7), significando que lhes faltava devoção ao Senhor, bem como o sinal físico de que faziam parte da comunidade da aliança. Tais estrangeiros foram proibidos de entrar no novo templo (44:5-9).

Visto que os levitas haviam sido infiéis ao Senhor, seriam rebaixados (44:10-14). Poderiam cuidar das portas do templo, matar animais para sacrifício e atender ao povo, mas não teriam permissão de lidar com objetos sagrados nem com ofertas para o Senhor. Como prêmio pela fidelidade, a linhagem de Zadoque da família levítica atuaria como sacerdote do Senhor (44:15-16). Zadoque era descendente de Arão por Eleazar e Finéias (cf. ICr 6:3-8, 50-53).

Na futura distribuição de terras devia-se reservar uma parte para o Senhor (e para seus sacerdotes) bem no centro da terra (45:1-6). O príncipe (o rei davídico) possuiria a terra contígua à porção do Senhor a leste e a oeste (45:7-8). Essa menção do futuro príncipe leva a uma exortação aos líderes civis do povo de Deus na época de Ezequias. Eles não deviam oprimir o povo, mas pro-mover a justiça e a eqüidade na esfera sócio econômica (45:9-l2).

O Senhor também apresentou regras detalhadas relacionadas às ofertas e festas (45:13—46:24), incluindo a Festa de Ano Novo, a Páscoa e os Tabernáculos. Várias regras a respeito do príncipe destacam o capítulo 46. Nos dias de sábado e de lua nova, o príncipe conduziria o povo em culto ao Senhor, apresentando ofertas no vestíbulo da porta oriental do átrio interno.

O rio que flui do templo (47:1-12).

Ezequiel vislum-brou um rio que fluía do templo para o Oriente. O rio ia-se aprofundando à medida que seguia para o deserto, rumo ao mar Morto. Sua água fresca estava cheia de peixes, e pescadores alinhavam redes em suas margens. Também se alinhavam às margens do rio árvores de frutas comestíveis cujas folhas tinham propriedades terapêuticas. Esse rio, fonte de vida que fluía do trono de Deus, simbolizava a restauração da bênção divina experimentada pela terra.

Limites e distribuição das terras (47:13—48:35).

O livro de Ezequiel conclui com uma descrição detalhada dos limites e da distribuição futura da terra. A cidade santa, construída como um quadrado perfeito no meio da terra, teria doze portas (três em cada um de seus quatro muros) designadas segundo as tribos de Israel. A cidade seria chamada “Javé-Shamá”, que significa o Senhor está ali.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 60

O VALOR ÉTICO E TEOLÓGICO DE EZEQUIEL Ezequiel foi o profeta-sacerdote do julgamento e

da esperança.48 Sua mensagem aos exilados na Babilônia ainda fala para pessoas feridas e abatidas que necessitam da segunda chance dada por Deus. A destruição de Jerusalém e a deportação de seu povo para a Babilônia fez com que alguns questionassem a capacidade de Deus para salvar e o compromisso dele com sua aliança. Ezequiel interpretou esses aconteci-mentos de acordo com o caráter de Deus.

A estranha visão introdutória de Ezequiel retrata Deus como alguém incomparável, perfeito em santidade e poder. Tal Deus não permaneceria com pessoas impenitentes. Jerusalém caiu, não porque Deus fosse incapaz de salvá-la, mas porque Ele entregou seus habitantes ao destino que eles escolheram.

Mas o julgamento era só parte do retrato que Eze-quiel fazia de Deus. Mesmo no exílio, longe da pátria, Deus era acessível para o profeta. A fidelidade de Deus era a esperança de Ezequiel. Deus é o Pastor cuidadoso de seu povo (Ez 34). Deus é a única esperança de vida nova para os ossos mortos da nação de Israel (Ez 37).

Os cristãos podem aprender a ser responsáveis com Ezequiel. Como ele, os fiéis devem identificar-se com a dor daqueles ao seu redor (3:15). Como Ezequiel, os cristãos são “atalaias”, responsáveis por alertar o próximo sobre as conseqüências do pecado (3:16-21). Ezequiel 34 adverte os fiéis a não buscarem o interesse próprio em detrimento dos outros. Antes, os cristãos devem ser exemplos do amor e do cuidado de Deus em seus atos. Os fiéis devem compartilhar as boas novas de que Deus ainda é o Doador da vida renovada e da segunda oportunidade aos que se voltam para Ele com arrependimento e fé.

SÍNTESE E APLICAÇÃO DAS TRÊS VISÕES PRINCIPAIS DE EZEQUIEL Primeira Visão (1—3) Segunda Visão (8—11) Terceira Visão (40—48)

Ezequiel ouve o som das asas e das rodas dos carros; ele vê o trono do Senhor bem alto sobre as rodas do governo.

Ezequiel vê o homem com o tinteiro selando o remanescente santo; ele vê a atividade do Senhor por trás do golpe do juízo.

Ezequiel vê o templo e a cidade que estão no futuro; ele vê a vitória do Senhor na concretização final do ideal.

Analisadas conjuntamente, as três visões de Ezequiel ensinam uma verdade tríplice, cuja idéia central é: Deus predominando. Deus intervindo. Deus consumando.

Deus prevalece em governo soberano.

Deus intervém em juízo reto. Deus consuma em restauração.

A glória transcendendo. A glória partindo. A glória voltando.

Ezequiel vê nessas três visões o propósito do Senhor: acima de tudo por trás de tudo além de tudo

Essa é a visão trina que transforma o medo em esperança, e os suspiros em canções. Que possamos sempre contemplá-la! Ezequiel apreendeu e entendeu essa verdade tríplice; ele viveu e trabalhou na luz e no poder dela. Nós também devemos viver e trabalhar na luz e no poder dessa visão; caso contrário, desanimaremos diante das dificuldades de nossos dias.49

48 Manual Bíblico Vida Nova. Edições Vida Nova, 2001, p. 490-491. 49 Quadro elaborado a partir dos comentários do Pr. Baxter. Examinai as Escrituras (vol. IV). Edições Vida Nova, p. 43-44.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 61

DANIEL AUTORIA E DATA 1. Criticismo

Os críticos não querem que Daniel seja o autor do livro. Eles não admitem revelação divina, nem possibilidade de conhecer o futuro. Portanto, para eles é impossível que um homem escrevesse História antes que ela acontecesse. Querem, então, que tenha sido escrito por um “judeu pio” que viveu 200 anos depois do tempo de Daniel e, portanto, estava simplesmente contando a história como se tinha passado.

2. EVIDÊNCIAS DA AUTORIA DE DANIEL a. Um judeu pio não teria escrito como profecia, se

não fosse verdade. Um homem pio não fabrica visões de Deus.

b. O fato de ter sido escrito em duas línguas mostra que o autor era uma pessoa acostumada a usar as duas línguas. O hebraico de Daniel é semelhante ao hebraico de Ezequiel que também escreveu durante o cativeiro. O aramaico foi o mesmo usado em Babilônia naquele tempo.

c. Jesus Cristo chama Daniel de “o profeta” (Mt 24:15).

d. A Septuaginta foi escrita antes do tempo de Antíoco Epifânio e inclui o livro de Daniel. Então Daniel foi escrito antes desse tempo.

e. Josefo, o historiador judeu (75 d.C. aprox.), disse que o sumo sacerdote de Jerusalém mostrou o

livro de Daniel a Alexandre, o Grande, em 332 a.C., quando este marchou contra Jerusalém.

f. Rolos do Mar Morto datados entre 200-100 a.C. contêm o livro de Daniel.

3. DIFICULDADES NA INTERPRETAÇÃO a. Problema: Daniel 1:1 diz que Nabucodonosor subiu

a Jerusalém no 3º ano de Jeoaquim (Jr 25:1 diz que foi no 4º ano).

Resposta: Em Babilônia se computava os anos do rei começando com o ano novo seguinte à coroação. Em Jerusalém contava os anos do rei começando com o ano novo prestes à coração. Para os judeus, uma parte conta como um inteiro. Assim o 3º ano de Daniel seria o 4º ano de Jeremias. Daniel está contando da saída de Nabucodonosor de Babilônia, e sabe-se que, antes de subir contra Jerusalém, o rei teve um encontro com os egípcios, em Carquemis, onde os derrotou. Depois, subiu contra Jerusalém. Portanto, transcorreu-se o tempo para Jeremias datar sua profecia no 4º ano do rei.

b. Problema: O nome do rei Belsazar não aparece nas crônicas babilônicas. Durante muitos anos os críticos disseram que ele não existiu.

Resposta: A arqueologia tem descoberto nas escrituras de Nabonidas referência e orações em favor do filho Belsazar. Nabonido, genro de Nabucodonosor, finalmente subiu ao trono depois de vencer o último dos que se seguiram imediatamente após a morte do pai. Após estabelecer-se, iniciou a reconstrução da cidade. Quando seu filho Belsazar completou 13 anos, Nabonido o fez regente da Babilônia e entregou-lhe o governo da cidade, enquanto ele mesmo saiu em expedições arqueológicas. Este jovem vaidoso não resistindo à tentação da

Page 62: Betel - Livros Proféticos-Apostila1

Betel Japonês — Livros Proféticos 62opulência e poder, entregou-se à dissolução em companhia de mil dos grandes da cidade, na noite do seu 17º aniversário. Naquela noite de blasfêmia, ele também deu bebida aos soldados da cidade. Antes disto, Ciro, o Persa, mandara-lhe uma embaixada sugerindo que ele devia entregar-se ou aliar-se com ele. Belsazar matou o embaixador, cortou-o em pedaços e enviou-o numa cesta a Ciro, dizendo que faria o mesmo com ele, se viesse à Babilônia. Ciro indignou-se e enviou Dario, o Meda, seu amigo e general, com os soldados que estavam na sua mão, contra Babilônia. Dario chegou perante os muros da cidade na noite desta referida festa. Os soldados bêbados se esqueceram de fechar a porta. Dario entrou sem lutas, encontrou todos os grandes, também bêbados, tomou a cidade e enviou mensagem a Ciro, o qual, poucos dias depois, fez a entrada triunfal tomando posse da cidade. Nabonido soube e veio contra, mas, recebendo mensagens de Ciro, entregou-se sem luta e viveu pacificamente na casa de Ciro até a sua morte.

c. Outros pontos iniciais de discordâncias eram relacionados às histórias da fornalha, da cova dos leões, da escola de aprendizes e da loucura de Nabucodonosor. Entretanto, a Arqueologia forneceu explicações adequadas a elas. Os arqueólogos descobriram no palácio de Nabucodonosor um prédio identificado como “Escola de Aprendizes”, provando sua existência. Outro prédio descoberto, sendo redondo, parecido com o lugar de queimar tijolos, e sobre a porta estava escrito: “Fornalha onde mataram os inimigos do rei”. As escavações de um poço descobriram no seu muro a inscrição: “Cova de animais ferozes onde matavam os inimigos do rei”. Finalmente, descobriram o original da história da loucura do rei escrita por ele e arquivada entre os livros do palácio.

LINGUAGEM Um aspecto interessante do livro de Daniel é o fato

de ser escrito em duas línguas. De 2:4 até o fim do capítulo 7, a língua é o aramaico. No restante, o hebraico. Existe algum sentido especial nisso? Acre-ditamos que sim.

Baxter relaciona:50 “Existe uma correspondência inequívoca entre a imagem do sonho de Nabucodonosor, no capítulo 2, e a primeira das visões de Daniel, no capítulo 7. Ambas dão em linhas gerais todo o curso dos “tempos dos gentios”, enquanto as visões posteriores predizem o futuro especialmente em relação ao povo da aliança. Assim, os capítulos de 2 a 7 estão em aramaico, que era na época a língua

50 J. Sidlow Baxter. Examinai as Escrituras (vol. IV). Edições Vida

Nova, p. 86.

gentílica usada no comércio e na diplomacia em todo o mundo conhecido. Portanto, podemos ver, nessa passagem da língua judaica para a língua comum dos gentios, um símbolo significativo do que de fato estava acontecendo na história, por um ato soberano de Deus.”

“Há, porém, ainda mais do que isso. Trata-se de mais uma prova de que o livro realmente foi escrito quando diz que foi. Antes dos dias de Daniel, os judeus não entendiam aramaico (ver IIRs 18:26). Depois da época de Daniel, eles deixaram de compreender o hebraico (ver Ne 8:8). No tempo de Daniel, porém, eles compreendiam ambas as línguas. Se o livro foi escrito por um impostor querendo consolar seus conterrâneos, quase 400 anos mais tarde, por que escreveu a metade dele numa língua em que não podiam mais ler? Ou, se quisesse mantê-lo em hebraico, para investi-lo de valor sagrado e antigo, por que colocou esses capítulos centrais na língua comum de seus dias? Eis um belo enigma complicado para ser resolvido pelos que favorecem uma data posterior! Enquanto isso, ficamos gratos de ver no fenômeno um novo selo colocado sobre o livro pela mão de Deus.”

Posição no Cânon: Os autores dos livros proféticos eram homens especialmente levantados por Deus, ocupando a posição técnica de profeta, servindo de mediadores entre Deus e a nação, declarando ao povo as palavras idênticas que Deus lhes tinha revelado. Daniel, porém, não foi profeta nesse sentido estrito e técnico. Foi antes um estadista na corte de monarcas pagãos. Na qualidade de estadista, possuía realmente o dom profético, e é nesse sentido, aparentemente, que o Novo Testamento o chama de profeta (Mt 24:15). Portanto, Daniel foi estadista, inspirado por Deus para escrever o livro que tem o seu nome, pelo que também esse livro aparece no cânon do Antigo Testamento na terceira divisão, entre os escritos de outros homens inspirados que não ocuparam o ofício profético.

MENSAGEM GERAL O livro de Daniel destaca a soberania de Deus com

relação aos impérios gentílicos mundiais, até o tempo da destruição deles, na ocasião da segunda vinda do Seu Filho. “A visão é a de um Deus que governa, cheio de soberania e poder, de reis que desaparecem; de dinastia e impérios que surgem e caem enquanto Deus, entronizado no Céu, governa seus movimentos.” (Campbell Morgan)

ESBOÇO DO LIVRO DE DANIEL

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Betel Japonês — Livros Proféticos 63Tema: Soberano cuidado de Deus para com

Israel durante o tempo dos gentios.

I. Prólogo: O CONTEXTO HISTÓRICO (cap. 1) 1. Daniel e seus companheiros na Babilônia 2. Treinamento e teste de Daniel para o serviço

público II. AS NAÇÕES E O DEUS ALTÍSSIMO (2:1—7:28) 1. Interpretação da grande estátua de metal: os quatros

últimos impérios mundiais (cap. 2) Sonho do rei e sua exigência Fé de Daniel e visão dada pelo Senhor Promoção de Daniel a Primeiro-Ministro 2. Orgulho religioso castigado (cap. 3) Imagem de ouro de Nabucodonosor une o império Três hebreus protestam: fé provada pela idolatria pagã Livramento na fornalha: fé triunfante pela intervenção

divina. 3. Julgamento de Nabucodonosor: orgulho político

castigado (cap. 4) Sonho perturbador; Interpretação de Daniel e seu

cumprimento; Gratidão pelo restabelecimento; 4. Julgamento de Belsazar (cap. 5) A interpretação de Daniel. A escritura de Deus na parede

põe fim à festa idólatra do rei; o julgamento de Deus põe fim ao reinado da Babilônia.

5. Livramento na cova dos leões (cap. 6) O testemunho de Daniel aos persas III. VISÕES PROFÉTICAS DE DANIEL DA OPOSIÇÃO

GENTIA A ISRAEL 1. Visão descrita como de quatro grandes animais e o

Filho do Homem (cap. 7) 2. Visão do carneiro persa e do bode grego (cap. 8) 3. Oração de Daniel e a Visão das Setenta Semanas

de Israel (cap. 9) 4. A visão do mensageiro celeste: Conspiração

demoníaca contra Israel (cap. 10) 5. Oposição grega, egípcia e Síria: Antevisão de

Israel no período interbíblico (11:1-35). 6. Breve triunfo do Anticristo no fim dos tempos, um

homem vil (11:36-45). 7. Triunfo final de Israel depois da grande tribulação

(cap. 12)

IMPORTÂNCIA DO LIVRO DE DANIEL 1. Conhecimento concernente às “coisas que hão de

vir”. 2. Estas profecias nos dão a vista dos séculos até ao

fim, durante o tempo em que Israel está posto ao lado.

3. Nosso Senhor Jesus se refere a Daniel no Seu discurso profético no Monte das Oliveiras, sendo assim evidente que o livro de Daniel é a chave da interpretação.

4. O livro do Apocalipse seria um livro selado sem o livro de Daniel, e vice-versa. O livro escrito pelo

homem mui amado e o livro escrito pelo discípulo amado têm de ser estudados juntos, e são a chave de toda a profecia.

O livro de Daniel é diferente do resto dos livros que compõem o Antigo Testamento. Embora se encontre, em nossas Bíblias portuguesas, entre os profetas, não contém mensgens proclamadas em nome do Senhor, à maneira dos profetas; nem se trata de um livro histório no sentido em que o são os livros de Reis, embora comece a partir de um ponto na história e se mostre claramente interessado nela. Usando sonhos e visões, sinais, símbolos e números ele parece estar declarando o curso da história e chmando atenção ao seu significado, mapeando seu curso à medida em que ela se encaminha ao seu final. Em linguagem técnica o livro é, portanto, escatológico (gr. eschaton, fim).

“O livro de Daniel é muitas vezes classificado como literatura “apocalíptica”. Foi um tipo de literatura profética que floresceu de 200 a.C. até 110 d.C., dando destaque a visões de imagens simbólicas de seres humanos e espirituais, com significado vago. Nela eram também importantes as expectativas de catástrofe cósmica iminente, em que as forças do bem venceriam as do mal e proporcionariam o estabelecimento do governo universal messiânico. Os profetas Isaías, Ezequiel, Daniel e Zacarias certamente descrevem acontecimentos sobrenaturais de caráter cósmico que resultam no estabelecimento da era messiânica, uma vez que ver o futuro faz parte da profecia. Entretanto, seus livros não podem ser classificados com os muitos “apocalipses” que pseudo-escritores produziram naquele período. Os elementos apocalípticos de Daniel não são uma imagem vaga, mas são explicados em termos do mundo real; nem tampouco são meros decretos de determinismo, mas lembretes do programa divino profetizado para inspirar o povo de Deus a boas ações, bem como a ter confiança esperançosa. É um livro “apocalíptico” no verdadeiro sentido de “apocalipse”, uma “revelação” de Deus.” 51

Objetivo prático de Daniel Segundo observou Ellisen, “Embora esse livro

esteja repleto de conteúdo profético, está também impregnado de muitos desafios para a vida prática e piedosa. As profecias foram dadas não para promover misticismo, mas fortalecer o caráter. Não como motivo de curiosidade, mas para infundir coragem. O autor esmera-se em registrar como uma vida pura, com estudo bíblico e persistente oração,

51 Stanley A. Ellisen. Conheça Melhor o Antigo Testamento. Editora

Vida, p. 264.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 64constitui o manancial de onde ele recebeu as visões de Deus (1:8-9; 9:2-20). Na grande profecia das “setenta semanas” para Israel em 9:24-27, por exemplo, os princípios praticados tiveram antes grande ênfase. Essa profecia de quatro versículos é precedida de um longo relato de Daniel a estudar Jeremias, a orar, a confessar os seus pecados, a apelar a Deus com base nas suas alianças e compaixão. Deve também ser observado que essa revelação de longo alcance foi dada logo após a experiência de Daniel na cova dos leões (6:1; 9:1). Um objetivo básico da profecia é promover vida piedosa. Nos difíceis tempos dos Macabeus, o Livro de Daniel foi sem dúvida um fator preponderante na inspiração da coragem piedosa deles, e os estimulou para serem fortes e executarem grandes feitos (11:32).”

SITUAÇÃO DOS CATIVOS NA BABILÔNIA

Por muitos anos, Jeová enviara mensageiros ao seu povo, avisando do juízo que vinha sobre eles. Finalmente chegou o dia do juízo e Deus os levou ao cativeiro, enquanto a terra teve o seu descanso dos anos em que Israel não obedeceu às ordens sobre o Ano Sabático (Lv 26:33-34; IICr 36:20-21; Jr 25:9-12).

Nabucodonosor foi o instrumento usado por Deus para executar o seu juízo a Israel. Três vezes ele subiu a Jerusalém (Jr 52:12; 28:30; Is 39:7). Na primeira visita, em 606 a.C., Nabucodonosor (que naquele tempo estava governando em segundo lugar com o seu pai) levou 300 rapazes nobres, sendo Daniel, um destes e alguns dos vasos da casa de Deus (IIRs 24:1). Em 598, a segunda leva, incluindo Ezequiel. Em 587, ele sitiou a cidade, queimou todos os prédios importantes e levou todos os habitantes que escaparam à morte, deixando somente os mais pobres.

Com o poder de Nabucodonosor começa o Tempo dos Gentios. Uma característica do tempo dos gentios é a subjugação de Jerusalém.

Mesmo com toda idolatria, o povo não era maltratado. Os babilônicos deram a seus exilados bairros onde podiam morar em conjunto e gozar certa liberdade tanto política como religiosa. Os judeus na Caldéia ajudaram a construir edifícios, outros trabalhavam em seus próprios lares (possuíam casas — Ez 3:24 e 33:30). Os anos do cativeiro converteram-nos em hábeis comerciantes, outros deram-se à agricultura e a outros misteres; enquanto os que permaneciam em Judá estavam em extrema pobreza (Ne 1:1-4).

Com Daniel junto ao rei, o povo judeu foi conceituado. Durante o exílio, alguns profetas

escreveram suas visões e mensagens. Continuaram a praticar em Babilônia alguns serviços religiosos, tinham sacerdotes, guardavam o sábado, circuncidavam, jejuavam, obedeciam a Moisés, cultuavam a Deus, liam as Escrituras e oravam na Sinagoga (daí começou a se espalhar a Sinagoga). Uma minoria de judeus ingressou no paganismo, o resto se manteve firme em Deus e nas suas tradições.

Quando Ciro deu liberdade aos cativos para voltarem a sua terra (Jerusalém), muitos deles rejeitaram o convite, pois tinham indústrias, comércios, propriedades, riquezas que não lhes permitiam voltar à terra natal.

“Como povo escolhido de Deus jamais deveriam ter-se permitido esquecer, mesmo lá na Babilônia, das promessas divinas específicas sobre o futuro, as quais foram feitas primeiramente a Abraão e, freqüen-temente, repetidas e ampliadas nos tempos cruciais de sua história. Estas promessas asseveravam-lhes que possuiriam a terra de Canaã. Lá construiriam uma cidade e uma casa para o Deus vivo; produziriam uma linhagem de reis que culminaria com o rei divino; seriam abençoados e tornar-se-iam bênção para todas as nações da Terra. Para mantê-los unidos era necessário acreditar nesse processo, o que os preservaria ante todas as outras nações. Mas como seria cumprido agora este destino, sob o governo de Nabucodonosor, sob a incerteza da situação mundial, e ante as sublevações destes novos tempos? Será que haveria uma mínima possibilidade da promessa feita a Abraão e aos patriarcas de realizar? Eles haviam sido arrancados da terra em que foram plantados. Estavam dispersos em países distantes. Será que valia a pena apegar-se a esta tradição do passado e procurar permanecer fiel ao chamado que os patriarcas ouviram tantas vezes? Poderiam atrever-se a esperar que o milagre do grande êxodo do Egito viesse a se repetir num novo êxodo da Babilônia naqueles dias?” 52

REIS ATUANTES DURANTE O CATIVEIRO

Nabucodonosor (Nabu “defensor dos limites”) —Este foi o genial edificador do império babilônico. De seus 70 anos de vida, governou 43. Nabopalassar, pai de Nabucodonosor, vice-rei babilônico, sacudiu o jugo assírio, 626-605 a.C. Em 609, Nabucodonosor pôs-se à frente dos exércitos do pai, subdividindo os países ocidentais, arrebatou do Egito o domínio da Palestina 605 a.C. e levou alguns judeus para Babilônia como cativos, entre os quais o próprio Daniel que exerceu poderosa influência sobre o rei, como amigo e conselheiro — três vezes Nabucodonosor reconheceu que o Deus de Daniel era o verdadeiro Deus (Dn 2:47; 3:29; 4:34). 52 Ronald S. Wallace. A Mensagem de Daniel. ABU Editora, 1987

(2ª ed.), p. 21-22.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 65Belsazar – último rei da Babilônia. Filho

primogênito e favorito de Nabonidas.

Dario – Quando tinha 62 anos, assumiu o trono da Caldéia depois da tomada da Babilônia por Ciro. Eram-lhe subordinados três presidentes, dos quais Daniel era um deles. Eles tinham autoridade para escrever a todos os povos, nações e línguas que habitavam em toda a terra. E escreveram um decreto que levou Daniel à cova dos leões. Foi neste reinado que Daniel teve a visão das 70 Semanas.

Ciro – Filho de Cambises e fundador do Império Persa, tomou Babilônia e ficou senhor de toda a Síria Ocidental. Respeitava a religião dos vencidos e, em lugar de procurar fundir numa única nação todas as raças que tinha subjugado, só lhes pedia obediência e tributo. Permitiu que os judeus voltassem do cativeiro (IICr 36:22-23).

ANÁLISE DO LIVRO Cap.1: JUDEUS NA CORTE DA BABILÔNIA — COSTUMES PAGÃOS JULGADOS

Significado hebraico Significado babilônico

Daniel Deus julgará Beltessazar Belt, protetor do rei

Hananias Jeová mostrou sua graça

Sadraque Iluminado do deus do sol

Misael Quem é como Deus?

Mesaque Quem é como Vênus?

Azarias O Senhor é meu ajudador

Abede-Nego Servo de Nebo

A intenção de Nabucodonosor em mudar a identidade de Daniel e dos jovens judeus pela identidade do povo babilônico foi um fracasso (Dn 1:3-7). Eles não se esqueceram do seu Deus; antes permaneceram fiéis. Daniel propôs em seu coração não se contaminar (Dn 1:8). Ele e seus amigos não se deixaram controlar pelas circunstâncias, mesmo sabendo que recusar obediência a um decreto real poderia resultar na morte deles. É notória a fidelidade de Daniel e seus companheiros. Deus deu graça a Daniel para com o chefe dos eunucos (Dn 1:11-16). A experiência mostra que não há situação à qual Deus não possa providenciar uma saída. Daniel e seus companheiros são considerados superiores (Dn 1:17-21). A fidelidade desses jovens permitiu que fossem considerados dez vezes melhores que todos os magos e astrólogos da Babilônia.

Nisto vemos a pretensão de Satanás de exterminar a memória de Jerusalém e dos judeus, fazendo-os misturarem-se com os gentios e assim se acabarem.

Daniel e três dos seus companheiros, achando-se em Babilônia, lugar de idolatria e imundícia para o judeu, assentaram no seu coração não se contaminar com estas coisas (Dn 1:8). Toda a comida do rei era oferecida aos deuses. Tendo feito esta resolução, declararam-na aos chefes dos eunucos. Deus abençoou esta declaração e fez que achassem graça perante o eunuco, para ele ceder ao seu pedido. No fim de dez dias de prova, foram achados mais fortes e mais bonitos do que todos os outros. Não somente receberam bênçãos físicas, mas também Deus aumen-tou a sua sabedoria e entendimento (Dn 1:19-20).

A invisível mão de Deus dirige todo o curso dos acontecimenos (versículos 2,9) e dá não somente saúde física mas também vigor intelectual aos Seus fiéis servos. O dom particular de Daniel de entender visões e sonhos era apropriado à sua necessidade numa terra em que tal coisa era esperada de homens sábios, e o Deus que era a fonte de todo o conhecimento também daria discernimento para distinguir o certo do errado. Assim, não havia por que temer que o estudo da cultura babilônica ou de qualquer cultura pudesse resultar em conversão a uma religião estranha.

Mas havia mais em jogo do que a sua reputação pessoal ou mesmo a sua fé pessoal. Como representantes do único Deus eles tinham de provar, no contexto religioso altamente competitivo da Babilônia, que o temor do Senhor é o princípio da sabedoria. Grande inteligência e muito trabalho sozinhos não explicam o seu sucesso; a sua sabedoria era um dom de Deus (cf. Cl 1:9; 2:9,19). O dom específico confiado a Daniel faria dele não apenas um conselheiro de confiança de Nabucodonosor mas também um canal de revelação, como o próximo capítulo começará a mostrar.

Daniel foi logo conhecido no meio dos seus contemporâneos por sua piedade e fidelidade, que chegou a ser proverbial (Dn 6:10-11; Ez 14:14,20 e 28:3). Como José no Egito, Daniel também subiu ao lugar de autoridade revelando sonhos, tornou-se homem de grande fé e entendimento. Durante longos anos serviu perante reis em lugares de grandes responsabilidades. Em tudo, porém, foi fiel a Deus na sua vida particular e no seu testemunho público.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 66Sim e não! Daniel e seus companheiros agarraram os

privilégios que lhes foram oferecidos na escola aberta por Nabucodonosor. O procedimento deles era cooperar mas sem desviar-se da sua linha, mantendo as suas consciências fiéis em sua lealdade a Deus. Isto significava dizer sim! aos desafios e convites da vida babilônica. Significava enfrentar, realisticamente, a situação presente, e que necessitava de ação e de testemunho. A visão deles era tão ampla que não fizeram objeção ao ganharem nomes babilônicos em lugar dos seus próprios nomes (1:7).

Ainda que fizessem tais concessões, tinham um espírito de imparcialidade que, a qualquer momento, a resposta não! podia ser dada, clara e abertamente, a qualquer custo (3:18; 6:10). Levantaram o seu protesto em relação à comida provinda da mesa real. Pelos padrões orientais, compartilhar de uma refeição era se comprometer a uma amizade; tinha uma significação pactual (Gn 31:54; Êx 24:11; Ne 8:9-12; cf. Mt 26:26-28). Assim, aqueles que tivessem se disposto a obedecer nessa questão aceitavam uma obrigação de lealdade ao rei. Parece que Daniel e seus companheiros tenham rejeitado este símbolo de dependência do rei porque queriam estar livres para cumprir as suas obrigações prioritárias para com o Deus a quem serviam. A contaminação que temiam não era tanto de natureza ritual como moral, provinda da sutil adulação que representavam as dádivas e favores, que continham, bem no fundo, implicações de um leal apoio, não importando quão dúbias pudessem ser as futuras políticas de ação do rei. “O resultado da experiência de dez dias (vs. 15-16) justificou a confiança de Daniel de que a sua saúde não sofreria dano. Mesmo um pequeno ato de auto-disciplina, feito por lealdade como um princípio, coloca os servos de Deus sob a Sua aprovação e bênção. É desse modo que ações atestam a fé, e o caráter é fortalecido para enfrentar situações mais difíceis no futuro.”53

“No seu interior eles se mantinham estranhos à vida e à cultura com que evidenciavam estar inteiramente envolvidos. Nunca negaram a convicção de que pertenciam de corpo e alma a outro reino. Cuidavam de nunca perder o contato com a singular e poderosa Palavra de Deus que os alcançava quando se reuniam para ler e orar no sentido de que pudessem compartilhar da mesma visão e esperança que havia inspirado reis, profetas e sábios da sua nação. Eles disciplinavam de tal forma as suas vidas e mentes que, mesmo vivendo em meio a uma Babel de outras vozes, mantinham-se sempre abertos para ouvir o que a Palavra de Deus tinha para lhes dizer. O propósito que tinham ao participarem da escola de Nabucodonosor era para assistir diante do rei (1:5-19), mas estavam

53 Joyce G. Baldwin. Daniel. Introdução e Comentário. Edições Vida Nova, p. 89.

determinados a fazê-lo não como babilônios mas como dedicados israelitas. Permaneciam conscientes de que em todos os seus deveres e tentações, eles estavam sendo provados, não por Nabucodonosor, mas pelo Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, a quem pertenciam e a quem deviam servir e amar antes de tudo o mais. Permaneciam convictos de que o futuro deles como nação dependia de permanecerem separados até a sua volta para casa para retomar a sua própria vida nacional.” 54

Estavam, portanto, dispostos a servir a Babilônia, a edificar-lhe a sociedade e a traçar-lhe a história, mas nunca ao ponto de sacrificar a sua própria história nacional em prol daquela da Babilônia. Estavam dispostos a prestar homenagem a Nabucodonosor, mas nunca ao ponto de diminuir a dedicação que davam ao Deus de seus pais.

CAP. 2: O SONHO DE NABUCODONOSOR — FILOSOFIA PAGÃ JULGADA

Neste capítulo, pela primeira vez, o curso deste mundo é desenrolado profeticamente à vista dos homens. Esse sonho e sua interpretação é um grande pivô da profecia, é o alicerce de todos os sonhos e visões seguintes. A mesma revelação encontra-se, em outros termos, no capítulo 7.

Tempo dos Gentios – Esta expressão tão usada em relação ao livro de Daniel não se encontra no livro dele, mas é uma frase do Novo Testamento. Nosso Senhor Jesus foi o único que usou esta expressão – Lc 21:24. O tempo dos gentios começou com Nabucodonosor quando levou os israelitas em cativeiro (ver Jr 27:5-9). A glória do Senhor partiu de Jerusalém, como foi vista por Ezequiel (9:3; 1-4; 10:18-19; 11:23).

Jerusalém estava suprema enquanto estava ali o trono e a glória de Jeová. As nações tinham procurado, sem resultado, derribá-la, mas quando a iniqüidade de Jerusalém estava se enchendo, a glória do Senhor partiu da cidade, e Ele entregou-a nas mãos de Nabucodonosor. Continuará até a Glória do Senhor voltar (Ez. 43:2,4,5; 44:4).

Plenitude dos Gentios – Não se deve confundir a expressão “tempo dos gentios” com “plenitude dos gentios”. Esta última fala da Igreja e se refere ao número completo tirado dos gentios para a Igreja (Rm 11:25); isto ocorrerá na vinda de Cristo para a Igreja (ITs 4:16-17; At 15:14). O Tempo dos Gentios terminará com a vinda de Cristo no juízo para estabelecer o seu reino em Jerusalém. As profecias de

54 Ronald S. Wallace. A Mensagem de Daniel. ABU Editora, p. 30-31.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 67

Daniel falam do Tempo dos Gentios, mas não falam da Igreja, a qual foi o mistério escondido durante o tempo do Velho Testamento (Ef 3:5-6).

COMENTÁRIO SOBRE O SONHO

O sonho esquecido55 (2:1-13) – Deus tinha escolhido Nabucodonosor para iniciar o tempo dos gentios e lhe revelou por sonhos o seu plano. O rei, porém, não podia se lembrar do sonho que tanto lhe perturbou. E, para que lhe dissessem o que ele havia sonhado, chamou magos (possuidores de conheci-mentos ocultos), astrólogos (aqueles que buscam sinais nas estrelas), encantadores (invocadores de espíritos malignos) e caldeus (classe de homens “sábios” em Babilônia). Eles, prontos a interpretarem, exigiram que o rei lhes contasse o sonho. O rei, porém, viu a incapacidade e o espírito mentiroso da parte deles, e, pelas suas próprias confissões de impossibilidade de solucionar o caso (v. 10-11), o rei enfurecido ordenou que fossem mortos todos os sábios da Babilônia (v. 12).

Uma revelação de Deus (2:13-23) — Daniel e seus companheiros também seriam vítimas dessa matança. Entretanto, Daniel pediu tempo ao rei, a fim de revelar-lhe o sonho. E na companhia de Hananias, Misael e Azarias, clamou ao Deus do Céu, sobre este mistério, a fim de que não perecessem. Tendo obtido resposta da sua petição, Daniel louvou ao seu Deus, com essas declarações (v. 20-23):

55 “Jamais homem algum teve sonho tão memorável. Além disso, era tão necessário que Nabucodonosor o esquecesse quanto que o sonhasse. Se o próprio rei tivesse sido capaz de relatar o sonho, talvez pudesse haver interpretações conflitantes; mas o fato de ele ter sido esquecido completamente e depois lembrado por Daniel mediante a inspiração foi prova cabal de que tanto o sonho como sua interpretação provinham do Altíssimo.” — J. Sidlow Baxter.

a. Sabedoria e força pertencem a Deus; b. Ele é quem muda os tempos e estações; c. Ele remove e estabelece reis; d. Ele dá sabedoria aos sábios e conhecimento aos que discernem; e. Ele revela as coisas profundas e escondidas; f. Sabe o que está nas trevas e a luz habita com Ele; g. Graças pela revelação do sonho.

Sabendo Arioque, o encarregado de promover a matança, correu ao rei dizendo que havia achado o homem que podia revelar o sonho, como se fosse achado por ele (2:24-25). O seu desejo de honra e glória contrasta com a humildade de Daniel que, antes de revelar o sonho, esclareceu ao rei a fonte de seu conhecimento: “... há um Deus nos céus, o qual revela os mistérios”.

Conteúdo e Interpretação do sonho (2:27-45)56 — Daniel explicou ao rei que o sonho seria para o fim dos dias ou para os dias vindouros. E descreveu a estátua do sonho e a pedra cortada sem auxílio de mãos. Isto serviria como introdução para a interpretação do sonho. O sonho de Nabucodonosor apresenta o curso do Tempo dos Gentios.

Daniel, através da interpretação, identifica Nabucodonosor pessoalmente com a cabeça de ouro (Dn 2:38b), e diz que ele é rei de reis. Esta frase era usada para se falar dos imperadores da Babilônia, Média e Pérsia. A idéia era que havia “reis” debaixo da autoridade de outro “rei” maior.

O segundo reino do sonho é o Medo-Persa, e corresponde aos peitos e braços de prata. Este reino sucedeu ao Império Babilônico no ano 539 a.C.

O ventre e os músculos de bronze representam o Império Grego, que foi estabelecido por Alexandre “o

56 Esta síntese está baseada no Manual de Estudos Proféticos, de Kepler Nigh. Editora Vida, 1998, p. 34-35.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 68Grande” no ano de 331 a.C., depois de sua vitória sobre Dario III.

O último Império, o Romano (27 a.C.), foi dividido primeiro em duas partes (as duas pernas da estátua, 330 d.C., época de Constantino) e depois em dez partes (os dedos dos pés, futuro).

As pernas da estátua, o último Império, foram cumpridas na divisão do Império Romano em duas partes: o Império Romano do Ocidente (Roma) e o Império Romano do Oriente (Constantinopla, Império Bizantino).

Mais de 2500 anos têm-se passado e agora os dedos dos pés da estátua estão prestes a ter o seu cumprimento. A União Européia (antes o Mercado Comum Europeu) integrada por um grupo de nações, unidas por motivos econômicos e comerciais, pode representar os dedos da estátua vista por Nabucodonosor em Daniel 2:41. Mesmo que o número de membros possa variar até a manifestação do anticristo, serão dez os da aliança quando a besta se apresentar.

Atualmente, na União Européia existem mais de dez nações, mas a união final — esta ou outra — será a Nova Roma e estará localizada no território que geograficamente pertencia ao antigo Império Romano. As Nações da União Européia já têm formado o seu parlamento e têm como sede Bruxelas, capital da Bélgica.

As dez nações formarão uma aliança de ferro e de barro. A mistura do ferro e do barro representa a mistura de várias formas de governo, unidas através de alianças (Dn 2:43).

A estátua é destruída por uma pedra cortada sem auxílio de mãos (o Rei Jesus, em sua segunda vinda) e a pedra se expande em forma de um monte que encherá toda a Terra (Dn 2:35, 45; Is 2:2; Mq 4:1).

O sonho representa a grandeza do poder mundial dos gentios visto pelos olhos de um rei pagão, Nabucodonosor. Essa grandeza é passageira e será destruída pelo Rei Jesus em sua vinda.

Abaixo da cabeça de ouro, os metais perdem o valor, mas ganham força. Roma era a mais forte em potência militar e a mais fraca em sistema governamental. Cientificamente tem-se comprovado que o barro cozido é de alta resistência, mas parte-se com facilidade por não ceder à pressão (baixa elasticidade), agüentando até o momento final antes de quebrar-se. O ferro, por outro lado, aparenta ser mais resistente, mas, sob pressão, fica deformado: não acontece assim com as cerâmicas modernas. Utilizando-se a cerâmica tem-se fabricado motores experimentais de automóveis e diversos aparelhos que agüentam a força e as altas temperaturas que destruiriam o próprio ferro.

Tudo isto comprova a inspiração divina do sonho e sua interpretação, já que Deus conhecia a natureza da cerâmica antes do homem.

A pedra cortada sem auxílio de mãos destruiu o sistema mundial dos gentios (em sua forma final). É então quando a pedra se tornará um grande monte, que encherá toda a terra. A destruição do sistema mundial dos gentios não ocorreu na primeira vinda de Cristo. A ação descrita pela pedra, Cristo, em sua destruição da estátua (símbolo do sistema mundial dos gentios), terá seu fiel cumprimento na segunda vinda (Dn 7:26, 27).

“A unidade econômica mundial (mega fusões de empresas) é necessária para que se cumpram as profecias da Escritura.” (Arno Froese) Essa ilustração da revista Time representa a unificação do mundo atual – certamente estamos vivendo nos tempos finais. (Chama da Meia Noite, junho de 1999, p. 16.

Daniel é honrado (Dn 2:46-49). Nabucodonosor, humilhado, reconheceu superficialmente o Deus de Daniel, declarando que Ele era o maior entre todos os deuses. No capítulo 4, o rei alcançará maior compreensão do único Deus.

Cap. 3: IMAGEM DE OURO E FORNALHA ARDENTE – ORGULHO RELIGIOSO JULGADO

a) A imagem de ouro de Nabucodonosor une o império (3:1-7)

A imagem erigida foi imensa, tendo 60 côvados de altura e 6 de largura (cerca de 30m de altura por 3 de largura)57 – o número seis indica coisas puramente humanas (ver I Sm 17:4 e Ap 13:18, onde também sobressai o número humano). Os comentadores admitem que a estátua poderia representar o espírito

57 O arqueólogo Oppert, que fez escavações nas ruínas de Babilônia, em 1854, achou o pedestal de uma colossal estátua, num lugar chamado Duair, que pode ter sido o resto da gigantesca estátua de ouro de Nabucodonosor, que talvez fosse uma imagem dele mesmo.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 69da Babilônia, ou o próprio imperador, ou um dos deuses nacionais tradicionais, ou poderia constituir-se num ponto de enfoque sincretista para todas as religiões. Champlin sugere que essa imagem de ouro provavelmente representava o panteão do império, e talvez deificasse o próprio rei como seu deus-mensageiro. O sonho do segundo capítulo, em que Nabucodonosor figura como a cabeça de ouro da imensa e grotesca imagem, pode ter-lhe sugerido que seria apropriado construir uma imagem dele próprio, para efeitos de autoglorificação.

Ao estabelecer culto à estátua, o rei estava misturando o poder político com a religião. No caso da Babilônia, Nabucodonosor era a lei e o Estado; portanto, prostrar-se perante a estátua era prostrar-se perante Nabucodonosor. Temos aqui a tentativa de uma religião mundial de aparências, de exterioridades. Algo para ver (v. 3), algo para ouvir (v. 5), mas nada para satisfazer a alma. O incidente representa o conflito entre a adoração ao Deus verdadeiro e o uso humanístico da religião como um meio de incrementar o poder dos governantes deste mundo. O ato de adorar aquela imagem tipificou então o que haverá de acontecer na metade da grande tribulação, com relação ao anticristo.

A longa lista de pessoas importantes reunidas para a cerimônia de dedicação da imagem gradua-os com o status de cada um. “Assim que começaram a ouvir, começaram a prostrar-se” (v. 7) – houve uma resposta total e imediata. O rei havia alcançado a unidade que buscava. Baldwin resume: “Aqui estão todos os grandes do império, caindo estirados sobre os seus rostos diante de um obelisco sem vida, ao som de uma miscelânea musical, regida pela batuta do rei Nabucodonosor”. b) Três judeus protestam (3:8-18)

Se não fosse pelos informantes, o rei não teria sabido que os três homens que havia promovido não lhe deram atenção. Acusaram maliciosamente; esta expressão significa literalmente “comer a carne arrancada do corpo de alguém”; daí, “difamar”. Os acusadores estavam ressentidos pelo fato de ter o rei promovido estrangeiros para estarem acima deles. Agora, está aí a oportunidade de obter o favor do rei, revelando-lhe a traição daqueles. Havia inveja e preconceito para com esses varões de Deus somente pelo fato de eles serem judeus. Pelo relato, se vê que Daniel não estava presente, talvez estivesse viajando ou doente.

Os amigos de Daniel recusaram-se a ajoelhar perante a estátua, isto é, recusaram a contaminação com religião falsa. A justiça exigia que os três homens não fossem condenados tão somente com base no “dizem que” e por isso, a despeito da sua furiosa raiva, Nabucodonosor lhes deu uma chance de se retratarem. Era imperativo que o grande rei não perdesse a compostura diante de tão magnificente assembléia de delegados internacionais, e ele desafia qualquer deus a livrá-los das mãos da majestade babilônica.

Os jovens crentes hebreus fizeram a confissão de sua fé diante de Nabucodonosor. Não há nada que os três possam dizer em sua defesa. Tecnicamente, eles são culpados, porém também havia se dado deles uma imagem falsa. Tudo o que podem fazer é se colocar nas mãos do seu Deus, ao qual o rei desafiara. Eles não duvidavam do poder do seu Deus de livrá-los da fornalha do rei, mas não tinham o direito de presumir que Deus efetivamente o faria. Se não o fizesse, estavam dispostos a assumir as conseqüências, não comprometendo a sua consciência diante de tal trama – ou seja, estavam preparados para arriscar suas vidas em nome daquele a quem serviam – “Ilustra mais uma vez como o comportamento fiel e leal, mantido durante as decisões de questões menos importantes, pode chegar à frutificação num testemunho espetacularmente corajoso a Deus na hora da provação mais severa, perante outros.” Eles se dispuseram a tornar-se mártires de sua causa, o que é melhor do que a apostasia.

c) Livramento na fornalha (3:19-30)

A fúria do rei diante desse desafio à sua autoridade faz com que cometa grandes erros (vs. 3-18):58 1. Utilizar os homens mais fortes do exército para atar

três mansos hebreus (v. 20). 2. Aquecer demasiado a fornalha – se é que queria

prolongar e multiplicar o sofrimento dos três jovens, teria de usar menos fogo (v. 19). As fornalhas na Babilônia tinham uma relação com a queima de tijolos (cf. Gn 11:3), os quais eram largamente usados na falta de pedras. O combustível usado era o carvão, o qual, uma vez que houvesse a necessária circulação de ar, produzia as altas temperaturas exigidas no forno e na fundição (Is 44:12). Alguns fornos de olaria, bastante grandes, têm sido escavados fora de Babilônia.

3. A fornalha superaquecida consumiu os mais fortes soldados do rei.

4. O contra-senso do rei quanto a Deus. Em 2:47, o rei engrandece a Deus, agora o desafia (v. 15). Assim faz o homem que não controla a sua ira, a qual transforma-se em cólera ou fúria (Sl 37:8). Esta é apenas uma das muitas ocasiões em que a ira irracionalmente desencaminhada pode levar à estultícia e à tragédia. O soberbo Nabucodonosor teve um susto (vs. 24-

26): em vez de três homens amarrados, ele vê quatro homens soltos. O quarto é semelhante a um filho dos deuses ou “semelhante a um deus” – e começa a ficar claro para o rei que há um Deus que pode livrar 58 O crime da intolerância religiosa (Dn 3:6). Um infame exemplo disso são os horrores da Inquisição, instituída pela Igreja Romana no Concílio de Tolosa, em 1229. Entre os anos 1540 e 1570 esse tribunal matou 900.000 cristãos. Na fomigerada Noite de São Bartolomeu, na França, em 24-08-1572, a Inquisição matou 70.000 cristãos.

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Betel Japonês — Livros Proféticos 70alguém de sua mão. Quanto mais os perseguisse, tanto mais confirmaria o testemunho deles. Os três homens estão livres para irem ao seu encontro quando os chama, saindo da fornalha.59

Impressionado pela ausência de quaisquer sinais de queimaduras, o rei é forçado a reconhecer que o Deus deles os havia livrado, reduzindo a nada o decreto de Nabucodonosor. Embora ele possa fazer decretos que são obrigatórios no mundo, o seu poder está longe de ser absoluto. Ele havia deixado fora dos seus cálculos o Deus Altíssimo (v. 26), cujo poder passa a reconhecer no novo decreto do versículo 29. Este título para Deus é freqüentemente encontrado na boca de não-judeus (Gn 14:19; Nm 24:16; Is 14:14). O edito declara a religião dos judeus legal no âmbito do império; ou seja, o rei concedeu uma posição oficial ao judaísmo. A fé dos judeus podia ser praticada sem perseguição. O rei continuaria a reconhecer outros deuses mas estava certo de que nenhum outro deus faria o que ele vira o Deus dos judeus fazer. O rei moveu-se na direção de um monoteísmo piedoso, mas é inútil falar aqui em algum tipo de conversão. Um decreto raro sobre blasfêmia contra Deus, sobre falar mal de Deus – e por um rei pagão!

“Aqueles hebreus “apresentaram seu corpo” como sacrifício a Yahweh (ver Rm 12:1). Ele ficou satisfeito e os devolveu sem ferimentos e sem sequer terem sido chamuscados pelo fogo. Eles se dispuseram a fazer o sacrifício final e a vida deles foi protegida e, em certo sentido, devolvida. Essas são as lições morais e espirituais que aprendemos da história. Aqueles jovens obedeceram a Deus e não aos homens (ver At 5:29).”

Os três hebreus já tinham recebido altos ofícios por influência de Daniel (2:4,9), mas agora foram promovidos. O rei “fez prosperar” os três jovens, ou segundo outra tradução, “constituiu em novas dignidades”.

Champlin aplica: “A história foi escrita como uma nota geral que

mostra que a idolatria é um grande mal, e que morrer como mártir é preferível a contaminar-se com a idolatria”.

59 Salvos na fornalha foi um milagre maior do que salvos da fornalha (v. 26). É o caso de Lázaro. O milagre da sua ressurreição foi maior do que o da sua cura (Jo 11:44). Deus não nos promete livrar sempre da angústia, mas estará conosco na angústia, se tivermos de atravessá-la (Sl 91:15; Is 43:2; Jo 12:26). Ocasionalmente, todos os homens enfrentam situações em que “somente Deus é capaz” e então são obrigados a entregar a vida nas mãos dele.

CONSIDERAÇÕES:

1. A grande estátua que Nabucodonosor construiu é um símbolo da imagem idólatra que será construída em honra ao anticristo (Ap 13), em cumprimento das palavras de Jesus em Mt 24:15. Vimos que o tempo dos gentios começou com a adoração de imagens, e desse modo também findará. A Palavra de Deus adverte: “Guardai-vos dos ídolos” (I Jo 5:21). Na vida do cristão, um ídolo é tudo aquilo que toma o lugar e o tempo que pertencem a Deus.

2. Babilônia na Bíblia indica a rebelião dos homens contra Deus; como uma idéia humana de governo independente de Deus, começou em Gn 10 e 11. Em nossos dias, essa rebelião continua, mesmo que disfarçada de muitas maneiras. Toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus (II Co 10:5) é parte desta rebelião.

3. Babilônia como cabeça de ouro do capítulo 2 torna-se um tipo ou modelo da cabeça do sistema gentílico. Esse sistema tem como objetivo eliminar a Deus e exaltar a satanás. Nabucodonosor é um símbolo do anticristo. E Babilônia é um símbolo do sistema político-religioso que será estabelecido nos últimos dias.

4. Na libertação dos jovens judeus, vemos de forma figurada a libertação do remanescente de Israel durante a tribulação.

CAP. 4: a loucura de Nabucodonosor – ORGULHO POLÍTICO JULGADO

Este capítulo é uma declaração, pelo próprio rei, de suas experiências.

1. Segundo sonho de Nabucodonosor A soberba de Nabucodonosor trouxe sobre si o jul-

gamento divino, com uma enfermidade que durou sete tempos. Como resultado do julgamento, seu coração de homem foi mudado por um coração de animal selvagem. Tudo isto em cumprimento da Palavra de Deus, revelada pelo profeta Daniel mediante a interpretação do segundo sonho de Nabucodonosor.

O sonho mostrava uma árvore que era cortada. Isto representava o fim do reinado de Nabucodonosor por não ter havido arrependimento de sua parte.

2. PRONUNCIAMENTO DE NABUCODONOSOR

Nabucodonosor fez a sua proclamação depois de ter-se recuperado da loucura proveniente do castigo de Deus. A declaração não contém data, mas é possível que tenha ocorrido durante a segunda metade do seu reinado, quando ele esteve em paz e tinha terminado a

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Betel Japonês — Livros Proféticos 71obra de edificação. Note-se que a proclamação é dirigida a todos... os povos, nações e línguas.

Nabucodonosor foi o primeiro rei gentio mundial e, ao levar para o cativeiro os judeus, deu início ao tempo dos gentios, em cumprimento ao mandamento de Deus.

Paz vos seja multiplicada, são palavras que mostram uma mudança na vida do rei. Aparentemente, o castigo de Deus sobre Nabucodonosor lhe favoreceu para o seu bem eterno.

Quais foram os motivos pelos quais Daniel não in-terferiu mais cedo? Não está declarado, mas deve-se notar que Daniel apareceu por sua própria vontade (Dn 4:8). Isto mostra a graça que Deus havia dado a ele.

A expressão deuses santos (Dn 4:8) pode ser traduzida também como “Deus santo”. O contexto deste capítulo indica o uso do singular. A duração da condenação predita é de sete tempos, frase que pode significar sete anos. O número sete confirma que o castigo era proveniente de Deus.

O propósito do decreto (Dn 4:17): “(...) a fim de que conheçam os viventes que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens; e o dá a quem quer; e até ao mais baixo dos homens constitui sobre eles.”

A INTERPRETAÇÃO DO SONHO E SEU CUMPRIMENTO (DN 4:24-37)

A árvore simboliza Nabucodonosor. A humilhação do rei é representada por uma árvore cortada. A continuidade do império é vista na atadura do tronco.

Nabucodonosor sofria de: Orgulho, Vaidade, Impiedade, Soberba, Altivez e coisas semelhantes (Dn 4:30-31).

Nas Escrituras, uma grande árvore é o símbolo de um homem com poder e influência na Terra. Por exemplo, Ezequiel falou da Assíria como um cedro do Líbano (Ez 31:3). Israel é a videira tirada do Egito (Is 5). Em Mt 13, lemos do grão de mostarda que se tornou uma árvore onde todas as aves do céu repousavam, tipificando o cristianismo mundano com grande poder e influência. Juntamente com o crescimento do poder dos gentios há exaltação de si e soberba. Este foi o grande pecado de Nabucodonosor (Dn 4:30).

O domínio dos gentios é como esta grande árvore, que será cortada pelo juízo. Em Romanos 11, lemos que os gentios são enxertados na boa videira, mas são avisados que não devem se exaltar em terem sido enxertados. Assim fazendo, serão cortados.

NABUCODONOSOR FOI HUMILHADO

Passaram-se doze meses e o sonho se cumpriu. Olhando sua obra de edificação, ele atribui a si mesmo

a glória que só pertence a Deus.60 Nabucodonosor não havia terminado de louvar a ele próprio quando Deus, no mesmo instante, o castigou do alto céu.

Sobreveio-lhe uma condição que o fez comportar-se como um animal. Alguns têm dado nome a esta enfermidade, como, por exemplo, “loucura zoantrópica” (considerar-se como um animal).

Nabucodonosor andou sete anos com as bestas, simbolizando os últimos sete anos do Tempo dos Gentios, quando os homens andarão com as bestas. Em vez de olhar para os céus, olharão para a Terra e para as obras humanas. Loucura e bestialidade marcarão a sua natureza durante os sete anos dominados pelas bestas. O juízo cairá, mas o trono brotará tipificando as nações que entrarão no milênio. O capítulo termina com o nome Rei do Céu e Altíssimo, o qual será o nome do Milênio.

Nabucodonosor, ao terminar os sete tempos (possivelmente anos) de castigo, experimentou um relacionamento pessoal com o Deus Altíssimo. E lhe foi acrescentada maior grandeza (Dn 4:34, 36).

Nota: Os capítulos 3 e 4 não falam especialmente do futuro, mas revelam certas características prevalecentes durante o Tempo dos Gentios. São acontecimentos durante os reinados de Nabucodonosor, Belsazar e Dario — acontecimentos históricos que têm um sentido profético, embora não seja uma profecia direta. Cinco coisas são reveladas:

a. Características morais do tempo dos gentios; b. O que acontecerá no fim do tempo dos gentios; c. O restante fiel do povo sofredor de Deus; d. Sua libertação; e. Os gentios reconhecem Deus como Rei e Deus

nos céus.

CAP. 5: AS PALAVRAS NA PAREDE — IMPIEDADE PAGÃ JULGADA

Noite de blasfêmia Jeremias havia profetizado que todas as nações

serviriam a Nabucodonosor, a seu filho, e ao filho de seu filho (Jr 27:6-7; IIRs 25:27; Jr 52:31): a. A ele — 60 O resultado da soberba é a humilhação. Há leis espirituais que

governam o mundo. Exemplos disto podem ser encontrados normalmente nas páginas da Bíblia: — O orgulho resulta em humilhação (Mt 23:12); A semeadura determina a colheita (Gl 6:7); O ato de julgar resulta no julgamento de quem julga (Mt 7:2).

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Betel Japonês — Livros Proféticos 72Nabucodonosor; b. A seu filho — Evil-Merodaque; c. Ao filho de seu filho — Nabonido.

Belsazar é filho de Nabonido. Historicamente, Belsazar era só um co-regente. Belsazar estava exercendo o comando como vice-rei 61 quando Babilônia caiu. Seu pai (o rei legítimo) Nabonido, talvez estivesse viajando, e Belsazar estava no comando.

A queda de Babilônia havia sido profetizada por Jeremias (e outros profetas) quase um século antes. Jeremias apresenta muitos detalhes do evento em profecia (Jr 50:2, 3, 24, 26; 51:53-58).

A profanação dos vasos sagrados do templo diante de todos, por parte de Belsazar (Dn 5:2, 3), foi o que provocou a ira de Deus. Esta foi a causa da mão aparecer na parede e Belsazar morrer naquela mesma noite (Dn 5:5, 6, 30).

A expressão teu pai (Dn 5:11) é usada para significar a idéia de sucessão. Tem a mesma força de alguém que diz “somos filhos de Abraão”.

A rainha não era a esposa de Belsazar. Ela era a rainha-mãe. Possivelmente havia sido uma das esposas de Nabucodonosor. O mais correto é pensar que ela havia presenciado o que Daniel tinha feito antes e sabia o que ele poderia fazer (Dn 5:10, 11).

No tempo desses acontecimentos, Daniel tinha em torno de oitenta e cinco anos de idade, e esse rei blasfemo, certamente, não tinha nenhuma simpatia por este santo ancião. E tão pouco valeria ao profeta a simpatia de um rei que, naquela mesma noite, seria derrotado e morto. Um homem de Deus nunca deve agir com a finalidade de receber o que as pessoas lhe oferecem.62

A SENTENÇA A mão havia permanecido na parede até o

momento em que Daniel começou a dar a interpretação. É possível que as palavras MENE, MENE, TEQUEL e PARSIM (Dn 5:25) não fizessem parte de nenhum idioma humano. Por outro lado, muitos comentaristas apresentam uma lista de significados desta frase, relacionando-os com alguma linguagem existente na terra. Diante disso, pergunta-mos: Por que, na presença de tantos sábios não houve 61 Por isso não pôde oferecer a Daniel o segundo lugar no reino,

pois ele era o número dois. A Daniel só pôde oferecer o posto número três.

62 “Daniel se dissocia de qualquer idéia de recompensa (v. 17-23). Isto estava em consonância com a consciência profética de que a necessária palavra de sabedoria vinha do Senhor, não podendo ser comprada por preço algum (Nm 22:18; Mq 3:5). Pelo contrário, era bom que Belsazar, como Naamã antes dele (IIRs 5:16), reconhecesse a sua dívida para com o Deus verdadeiro, não se iludindo a si mesmo ao pensar que poderia saldar esta dívida com recompensas, ou comprar o seu livramento do desastre.”— Joyce G. Baldwin. Daniel, Introdução e Comentário. Pág. 130.

nenhum que decifrasse a mensagem, se sua origem era de linguagem natural? Uma resposta seria que Deus os cegou para que ninguém desse a interpretação até que Daniel chegasse.

As três palavras aqui empregadas são interpretadas por alguns como representando três pesos numa escala descendente: “uma tonelada, um quilo e uma grama”, ou “mil reais, um real, um centavo”. A simples leitura destas palavras com tal sentido teria sido suficiente para advertir o rei de que ele estava no caminho da degeneração e que aviltara a totalidade da condição do valor do seu reino, a ponto de ser rejeitado por Deus.

Tendo lido as palavras, Daniel dá a Belsazar um tríplice significado:

MENE = contado, e pronto para a venda. TEQUEL=pesado, e achado em falta quanto à

substância. PARSIM = dividido, isto é, entregue aos medos e

aos persas. O fato é que, sendo de idioma natural ou celestial,

as palavras significavam o fim da Babilônia como império e a passagem do poder gentílico aos Medo-Persas. Todos os “sábios” da Babilônia ali reunidos não puderam entender a mensagem sem a intervenção do profeta, pois era assunto de Deus.

O CUMPRIMENTO DA SENTENÇA

O salário do pecado é a morte. Naquela mesma noite Belsazar morreu. Era o dia 16 do mês de tisri do ano 539 a.C. quando Babilônia caiu nas mãos dos Medo-Persas, cumprindo assim a Palavra de Deus. Com este acontecimento, Daniel teve o privilégio de ver o cumprimento da profecia que ele mesmo havia feito.

A cidade de Babilônia estava sitiada por um grande exército dos Medos e dos Persas, mas Belsazar confiando na altura dos seus muros, fez um banquete para o qual convidou mil, dos seus grandes, juntamente com suas mulheres e concubinas, ocasião em que blasfemou o nome de Jeová, usando os vasos do Templo de Jerusalém e bebendo em honra dos seus deuses. Com isso completou a medida da sua iniqüidade e terminou a paciência de Deus.

O temor de Belsazar foi bastante para ele estar pronto a escutar até a um judeu que pudesse explicar o sentido das palavras. Daniel, já avançado em idade, e cansado com a impiedade do rei, ao entrar na sua presença, não demonstrou a simpatia que teve com Nabucodonosor. Antes, recusando os seus presentes, acusou-o de negligente perante a experiência de seu avô e o rei ficou calado. Lendo as palavras tão visíveis,

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Betel Japonês — Livros Proféticos 73mas tão incompreensíveis na parede, declarou ao rei o juízo que havia de cair naquela mesma noite.

O ato de sacrilégio Que relevância especial tinham estes vasos

sagrados, a ponto de o abuso deles ser considerado um pecado tão sério? O comentário a seguir é de Ronald S. Wallace: 63

A tradição de Israel ensinava que Deus escolhia certas pessoas e certos objetos para seu próprio uso especial. Por causa da escolha dele, e não devido a qualquer qualidade inerente que possuíssem, estas pessoas ou coisas deviam ser consideradas sagradas e eram chamadas santas. Por exemplo, o povo de Israel como nação é chamado na Bíblia de povo santo, porque Deus assim o chamou (cf. Dt 7:6-8). O templo é chamado o lugar santo, porque Deus o escolheu como sua habitação, onde se encontraria com o seu povo (cf. Êx 29:43-46; I Rs 8:10; 9:3). Deus estabelecera para este templo um culto com um ritual esmerado. Havia certas coisas e pessoas especialmente separadas e consagradas exclusivamente para serem usadas no culto do templo. Essas pessoas e coisas – o sacerdócio, as vestes, o altar, os vasos usados sobre este, os candelabros – eram considerados como tendo uma santidade especial, simplesmente porque Deus as escolhera, declarando-as separadas e destinando-as para este tipo de serviço (cf. Êx 40:9-11). Quando o templo ficou pronto, com os acessórios que lhe foram dedicados, o próprio Deus veio numa nuvem e encheu todo o lugar com a sua glória, como que aceitando todas estas coisas para o seu culto para sempre (cf. Êx 40:34-35; I Rs 8:10-11) .

Outra maneira de indicar que o altar e os vasos do templo tinham uma santidade especial era dizer que Deus colocara o seu nome sobre eles (cf. Dt 12:11), de modo que, quando fossem usados no culto e o seu nome fosse invocado na oração e na adoração, Ele honraria e abençoaria o uso santo para o qual foram separados.

Belsazar tinha feito mal uso daqueles acessórios que tinham sido separados para o uso exclusivo de Deus, aqueles com os quais Deus ligara o uso do seu nome de uma maneira tão graciosa. Tratar tais vasos com desprezo era um desafio contra o terceiro mandamento: “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão, porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão”. Este mandamento não é simplesmente uma proibição do praguejar ou do perjúrio. É uma proibição a qualquer tipo de uso pervertido ou vão daquilo que Deus nos deu visando ao propósito de buscarmos a sua presença e de conclamarmos o seu nome na oração e na adoração.

Além disso, quando Belsazar ostentou os vasos na sua mesa e fez do abuso deles o ponto alto da sua orgia, houve desafio e presunção no seu ato. Era um

63 A Mensagem de Daniel. ABU Editora, p. 96-97.

sinal de que acreditava que esse Deus, de cujos vasos estava abusando e cujo nome estava insultando, não tinha agora na Babilônia qualquer realidade ou poder. Belsazar contava com a ausência desse Deus. Havia, portanto, na sua ação, um desafio ao Deus de Israel. Daniel enfatiza que Belsazar conhecia plenamente as implicações do que estava fazendo: “Sabias tudo isto. E te levantaste contra o Senhor do céu” (vs. 22-23). Seu pecado foi uma escolha absurda e deliberada a favor das trevas, em contraste com o pleno brilho da luz – o que faz com que o pecado seja realmente pecado é a decisão da vontade, à plena luz do conhecimento, no sentido de não receber a graça de Deus, nem reconhecer a sua luz, nem guardar a sua lei mas, sim, com ódio dele, preferir as trevas e a transgressão. Em tal atitude e decisão da vontade contra o Deus vivo, há sempre o elemento irracional, demoníaco e absurdo.

Belsazar desprezou as coisas santas porque desprezava a Deus; e espatifou-se contra a rocha do Deus de Israel. Agora Belsazar teria de aprender que esse Deus era o Deus vivo, sempre vigilante quanto aos seus próprios interesses, bem como aos interesses do seu povo e da humanidade, nunca descartando aquilo que reservara para a sua propriedade exclusiva, e que, portanto, dotara de santidade e separara para o seu uso especial ao aproximar-se dos homens e das mulheres.

Sua história adverte-nos de que todos nós podemos facilmente deslizar para o hábito de não levar Deus a sério, o que pode levar paulatinamente, através do contínuo descuido e de um endurecimento silencioso e inflexível da mente e das atitudes, a formas mais profundas e sérias de resistência, até cessarmos de nos importar com o que anteriormente nos teria comovido, e de ter vergonha ou de enrubescer diante do que antes nos teria chocado. Podemos chegar cedo demais a este ponto de desastre, a não ser que conheçamos a nossa fraqueza, precavendo-nos contra ela, “atentando diligentemente por que ninguém seja faltoso separando-se da graça de Deus” (Hb 12:15).

Lições:

Os últimos dias de Belsazar foram dias de concupiscência, impiedade e blasfêmia. Babilônia representa o sistema religioso mundial, especialmente aquele que brotará quando a Igreja for tirada. A última Babilônia será aquele sistema centralizado em Roma que existirá no Tempo do Fim, mas não chegará até o fim; conforme Ap 17:16-17, os dez reis o vencerão antes do fim dos sete anos. Embora nós não vejamos esses últimos dias, porque a hora ainda não chegou, estamos já vendo o material de que será feito. Hoje ouvimos por todo o lado da grandeza de nossa civilização; entretanto, permeia sobre ela o espírito de

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Betel Japonês — Livros Proféticos 74impiedade e de blasfêmia, de incredulidade e nominalismo religioso. Juntamente com a degeneração espiritual, permeia a degeneração moral, com seus luxos e vícios. Sobre a civilização de hoje está escrito: Mene, Mene.

Como Daniel e seu testemunho estavam esquecidos, também hoje está esquecida a Palavra de Deus. Esta será lembrada, mas, como para Belsazar, será tarde demais. A degeneração moral dos dias de Belsazar, quase no fim do cativeiro, tipifica a degeneração dos gentios quando estiver perto da hora de cortar os ramos bravos e enxertar de novo os judeus, na sua oliveira (Rm 11:23-24). Escutemos a chamada de Deus para nos separar dos males deste dia e honrar a Cristo em nossas vidas, a fim de nos ocuparmos com a sua Palavra e com a sua vontade e não tomarmos parte nos pecados da nossa geração.

Baldwin aplica:

“Este capítulo ilustra a junção de rei e reino em um destino. O descarado desrespeito de Belsazar diante do Altíssimo estava de conformidade com o caráter nacional, e, eu diria, com a condição humana de todos nós, tal como é pintada no Salmo 90. Embora os dias dos homens estejam contados (v. 10), poucos os contam para si mesmos, “alcançando um coração sábio” (v.12). Belsazar, neste capítulo, apresenta uma vívida descrição do insensato, do ateu praticante, que no fim só consegue ainda sustentar a sua posição com a ajuda do álcool, que mascara a dura realidade.”

Olhado de um outro ponto-de-vista, o capítulo contém um comentário muito perspicaz a respeito da política do poder. “O capítulo todo é uma instrutiva avaliação simbólica dos perigos e limites, das fontes e responsabilidades do poder nas questões humanas”. Faltava liderança, e uma mudança de governo já se fazia premente.

CAP. 6: DANIEL NA COVA DOS LEÕES — PERSEGUIDORES PAGÃOS JULGADOS

No capítulo 6, a soberania do poder gentílico já foi transferida ao segundo reino, o dos Medos e dos Persas, representado no sonho de Nabucodonosor pelo peito e braços de prata.

Os governadores tinham inveja de Daniel. Parece que entre os principais motivos para destruí-lo estavam a inveja e o preconceito. Não aceitavam que um “judeu” fosse tão respeitado. Procuraram arruinar a Daniel atravês de sua vida pública ou privada. Porém, não conseguindo encontrar nada de mal nele, criaram, então, situação para poder acusá-lo (Dn 6:5).

Dario, rei dos Medos e dos Persas, caiu na tentação de ser considerado como um deus (Dn 6:7-9). Isto abriu caminho para que os inimigos de Daniel pudessem acusá-lo de falta de respeito ao rei (Dn 6:13). Nada mais distante da verdade.

O rei Dario chamou Daniel de: “servo do Deus vivo...” (Dn 6:20). A ação de Daniel é citada como um exemplo de fé. Dario mandou que aqueles que denunciaram a Daniel fossem lançados na cova dos leões, lugar que acreditavam ser o sepulcro do varão de Deus. “Os leões se apoderaram deles, e lhes esmigalharam todos os ossos” (Dn 6:24). Deus deu um sinal, pois o leão, por natureza, só mata sua presa para comer. Destaca-se que foram quebrados todos os seus ossos. Isto foi para aquelas pessoas perversas uma morte de angústia e tormento. Ficou claramente demarcada a intervenção de Deus.

Como resultado, Dario fez uma declaração parecida a que Nabucodonosor havia feito em reconhecirnento ao Deus de Daniel (Dn 6:25-27).

Daniel agora com 80 anos ou mais, com a mesma paciência e fé, sabendo que o decreto estava assinado, como de costume entrou em casa e orou ao seu Deus. Este que na mocidade foi fiel, também na velhice não se desviou da devoção a Deus. 64

No capítulo 3 foi levantada uma imagem de ouro para ser adorada: a deificação do homem. No capítulo 6, o homem está posto no lugar de Deus, para receber honra. Essa é uma característica de todo o tempo dos gentios, nas figuras de Nabucodonosor, Dario ou Ciro, Alexandre, Imperadores Romanos, Herodes, Roma Papal e, finalmente, o Anticristo (Dn 11:36-37; IITs 2:4).

CAP. 7: A VISÃO DOS QUATRO ANIMAIS

O capítulo 7 de Daniel volta ao estudo dos quatro impérios gentios, representados nesta seção na forma de quatro animais. Este capítulo termina com a destruição do pequeno chifre, que será o personagem que terá todo o poder do último império gentio nos dias da presente dispensação.

O profeta viu os quatro ventos do céu perturbando as águas do grande mar — o Mediterrâneo, e tipifica as nações que o rodeiam (Ap 17:15; Is 17:12). Estes animais saindo do mar foram homens e nações saindo do meio das nações do mundo. A areia do mar representa as multidões.

64 Crente carnal é carne fresca — prato pronto para leão. Este animal não come carne assada. O homem queimado pelo fogo do Espírito Santo não alimenta o inimigo!.