Barroco. Origens e contexto sociocultural do Barroco Etimologia: vem de barrueco, palavra espanhola...
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Barroco
Origens e contexto sociocultural do Barroco
• Etimologia: vem de barrueco, palavra espanhola que sugere pérola irregular, defeituosa.
• O termo também estaria ligado a processos confusos de raciocínio.
• A palavra “barroco” reforça o caráter defeituoso que a concepção clássica deu à estética que nascia e que contrariava os padrões de beleza da época.
• Na estética anterior considerava-se belo aquilo que possuía equilíbrio, clareza, simplicidade, objetividade, etc.
• O barroco foi considerado pejorativo, bizarro e interpretado como forma de decadência da arte renascentista.
• Wölfflin, pesquisador suíço, interpretou o barroco de modo diferente. Para ele, a estética possuía características próprias.
• O Barroco surge na Espanha, em contexto de mudanças.
• Domínio espanhol sobre Portugal. • Advento da Contrarreforma.
• Fundação da Companhia de Jesus. • Concílio de Trento.• Isso gerou no homem, àquela época, conflitos
na busca de conciliar a visão renascentista com um viés religioso imposto pela Igreja por meio da Contrarreforma.
• A reação da igreja católica ao protestantismo deu expressão à arte barroca.
O Barroco Português
• Inicia-se em 1580 com a unificação da Península Ibérica e se finda em 1756 com a fundação da Arcádia Lusitana.
• Contou com a influência do sebastianismo.• A unificação ibérica transforma parte do continente em
reduto da cultura medieval. • A arte barroca recebe noutros países nomes diferentes:
Gongorismo na Espanha; Marinismo na Itália; Eufuísmo na Inglaterra; Preciosismo, na França; Silesianismo, na Alemanha.
• Autores representativos: Padre Antônio Vieira, Francisco Rodrigues Lobo, Padre Manuel Bernardes, frei Luís de Sousa.
O Barroco no Brasil
• Não se apresentou como um movimento tipicamente literário, pois não havia coesão de escritores.
• Durou de 1601, com Prosopopeia, de Bento Teixeira, a 1768, com a publicação de Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa
• No Nordeste, as manifestação do Barroco na literatura e nas artes plásticas foram concomitantes.
• Em Minas Gerais, o Barroco tardio, na arquitetura e nas artes plásticas, coincidirá com a produção árcade.
• Foi do Nordeste que ecoaram as principais vozes literárias do Barroco, sendo Gregório de Matos – o Boca do Inferno – , juntamente com Padre Antônio Vieira, a mais importantes.
Padre Antônio Vieira
• Nasceu em Portugal, mas se mudou para o Brasil ainda criança.
• Aos 15 anos, ingressa na Companhia de Jesus.• Regressa a Portugal em 1641 e volta ao Brasil em 1680. • Seus sermões ficaram famosos. Revelam a intenção de
intervir no mundo, corrigir os erros do mesmo.• Defendia um tipo de vida na colônia diferente daquele da
metrópole. Para ele, era necessário que a colônia seguisse um caminho próprio, sem ser necessário reproduzir os termos da vida europeia ou seguir todas as determinações do sistema mercantil.
• Nos século XVII, a igreja era o único espaço de formação e de informação que a população, em geral, poderia frequentar.
• Os sermões assumiram, assim, um elo importante entre a doutrina católica e o povo, e também eram importantes na discussão de problemas políticos.
• Os sermões foram muito utilizados para a edificação religiosa e moral dos colonos.
• Cabe destacar que agir, para os jesuítas, era a expressão máxima da alma humana criada racional e essencialmente livre. Padre Vieira, o sermonista de maior destaque de língua portuguesa, realizou esse ideal como poucos.
• Os sermões de Vieira são permeados pela sutileza, de citações latinas e referências bíblicas.
Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda
• Abrasai, destruí, consumi-nos a todos; mas pode ser que algum dia queirais espanhóis e portugueses, e que os não acheis. Holanda vos dará os apostólicos conquistadores, que levem pelo Mundo os estandartes da cruz; Holanda vos dará os pregadores evangélicos, que semeiem nas terras dos bárbaros a doutrina católica e a reguem com o próprio sangue; Holanda defenderá a verdade de vossos Sacramentos e a autoridade da Igreja Romana; Holanda edificará templos, Holanda levantará altares, Holanda consagrará sacerdotes e oferecerá o sacrifício de vosso Santíssimo Corpo; Holanda, enfim, vos servirá e venerará tão religiosamente, como em Amsterdão, Meldeburgo e Flisinga e em todas as outras colônias daquele frio e alagado inferno se está fazendo todos os dias.
Entrarão os hereges nesta igreja e nas outras; arrebatarão essa custódia, em que agora estais adorado dos anjos; tomarão os cálices e vasos sagrados, e aplicá-los-ão a suas nefandas embriaguezes; derrubarão dos altares os vultos e estátuas dos santos, deformá-las-ão a cutiladas, e metê-las-ão no fogo; e não perdoarão as mãos furiosas e sacrílegas nem às imagens tremendas de Cristo crucificado, nem às da Virgem Maria.
Não me admiro tanto, Senhor, de que hajais de consentir semelhantes agravos e afrontas nas vossas imagens, pois já as permitistes em vosso sacratíssimo corpo; mas nas da Virgem Maria, nas de vossa Santíssima Mãe, não sei como isto pode estar com a piedade e amor de Filho. No Monte Calvário esteve esta Senhora sempre ao pé da cruz, e com serem aqueles algozes tão descorteses e cruéis, nenhum se atreveu a lhe tocar nem a lhe perder o respeito.
Gregório de Matos
• Nasceu no Brasil. Por ter origem fidalga, cursou Direito em Portugal.
• Viveu em Salvador dos 48 aos 60. Nesse período produziu a maior parte de sua obra poética.
• Participou de grupos que se opunham ao poder Colonial.
• Sua obra poética se divide entre o profano e o místico, o lirismo amoroso idealizado e o erotismo, a reflexão moralizante e a sátira francamente burlesca (que incita ao riso por ser ridículo).
De dois ff se compõe esta cidade a meu ver: um furtar, outro foder. Recopilou-se o direito, e quem o recopilou com dous ff o explicou por estar feito, e bem feito: por bem digesto, e colheito só com dous ff o expõe, e assim quem os olhos põe no trato, que aqui se encerra, há de dizer que esta terra de dous ff se compõe. Se de dous ff composta está a nossa Bahia, errada a ortografia, a grande dano está posta:
eu quero fazer aposta e quero um tostão perder, que isso a há de perverter, se o furtar e o foder bem não são os ff que tem esta cidade ao meu ver. Provo a conjetura já, prontamente como um brinco: Bahia tem letras cinco que são B-A-H-I-A: logo ninguém me dirá que dous ff chega a ter, pois nenhum contém sequer, salvo se em boa verdade são os ff da cidade um furtar, outro foder.
A arte barroca
• Arte marcada pela fusão de forças antagônicas, geradora de dualismos, expressões de angústias e questionamentos.
• A Igreja se vale da manifestação barroca para persuadir o homem da época à religiosidade exacerbada por meio da exuberância sensorial alcançada pela arte da época: pintura, escultura, arquitetura, música e literatura.
• Esperava-se revitalizar a herança medieval da Idade Média.
• Tensão entre razão e fé, misticismo e erotismo, entre ordem e aventura, entre sensação de miséria da carne e de bem-aventurança do espírito, entre racionalidade e irracionalidade, entre claro e escuro, luz e sombra.
• O Barroco foi um movimento artístico prensado entre o pensar renascentista e os valores religiosos da Contrarreforma.
• Nas artes plásticas, o Barroco voltou-se para a obscuridade da pintura e dos ambientes arquitetônicos, para o sensualismo visual, para a dramaticidade dos movimentos.
• Na música de Bach, Handel, Vivaldi e Corelli, a expressão barroca se faz pela dramaticidade extraída de frases musicais que surgem num ritmo crescente e se repetem até culminar numa grande apoteose.
• Na pintura destacam-se Velásquez, Rubens, Caravaggio, etc.
Características literárias
• Cultismo:• Uso de muitas metáforas e imagens rebuscadas que
afetam os sentidos e provocam perplexidade no leitor.
• Riqueza de detalhes nas artes plásticas é luxo metafórico e redundância no texto, é ludismo verbal, tudo para envolver o espectador e o leitor.
• O maior nome do Cultismo foi Gôngora, escritor espanhol.
• Mais comum na poesia.
• Conceptismo:• Nasce da busca do conhecimento interno do
objeto, conhecimento que se dá na esfera do pensamento, dos conceitos e das ideias.
• Marcado pela lógica, inteligência e o raciocínio como elementos de sedução, também com intenção de convencer e ensinar, levando o leitor/ouvinte a uma direção predeterminada.
• Mais comum na prosa, sermões.
• Sentimentos de insegurança, pessimismo, angústia, evidenciados pela presença de muitos questionamentos e contradições, em função da ausência de um meio-termo para unir céu e terra, os interesses terrenos e as promessas celestiais. No texto se dá pelo uso de frases interrogativas.
• Dualismo, fusionismo e conflitos expressos pelo abuso de figuras de estilo – paradoxo e antítese – , na tentativa de conciliar matéria e espírito, erotismo e religiosidade, antropocentrismo e teocentrismo, etc.
• Linguagem rebuscada: expressões eruditas, sintaxe confusa, repetições, paralelismo, ordem inverso, uso abusivo de figuras de estilo (metáfora, hipérbole, sinestesia, anáfora, prosopopeia, etc).
• Temor à morte, como expressão da efemeridade da vida, da transitoriedade das coisas do mundo, da fugacidade do tempo (tempus fugit), da instabilidade das coisas. A expressão latina carpe diem (Aproveite o dia) contrasta com a sinalização da Igreja de se preservar para a vida eterna.
• Noção clara de pecado, castigo, arrependimento e perdão. Erotismo, sobrenatural, misticismo e apelo à religiosidade se misturam em expressões de angústia humana.
• Jogos de palavras, trocadilhos: cultismo, mais comum na poesia.
• Jogo de ideias: conceptismo, mais comum nos sermões e na prosa em geral.
• Dramaticidade, intensidade, exuberância, teatralidade, emoções fortes para encontrar o sentido da vida.
• Feísmo (exploração do locus horrendus). • Sensorialismo: tentativa de impressionar pelos
sentidos.