Barbara Cartland - Casamento Em Nova York (Coleção Barbara Cartland 259)
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Casamento em Nova York The Unknow Heart
Barbara Cartland
Herdeira da maior fortuna dos Estados Unidos, Virgnia tinha tudo ara ser uma
das moas mais invejadas do mundo. Por ser feia e gorda, porm, era desdenhada por
todos. Sua me, dama esnobe e autoritria, no lhe dedicava amor nem carinho. A rica
senhora, desejosa de um ttulo de nobreza, para se impor ainda mais s amigas, chegou ao
cmulo de "vender" a filha a um duque ingls, dando-lhe em troca um dote de sete
milhes de dlares. Virgnia foi obrigada, ento, a casar-se com um homem desprezvel,
ambicioso e falido!
Digitalizao: Dores Cunha.
Correo: Edith Suli
Formatao: Projeto Revisoras
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Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)
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Ttulo: Casamento em Nova York
Autor: Barbara Cartland.
Ttulo original: The Unknow Heart.
Dados da edio: Nova Cultural, So Paulo, 1990.
Gnero: romance.
Digitalizao: Dores Cunha.
Correco: Edith Suli.
Estado da obra: corrigida.
Numerao de pgina: rodap.
Esta obra foi digitalizada sem fins comerciais e destina-se unicamente leitura de pessoas
portadoras de deficincia visual. Por fora da lei de direitos de autor, este ficheiro no
pode ser distribudo para outros fins, no todo ou em parte, ainda que gratuitamente.
BARBARA CARTLAND
Casamento em Nova York
Ttulo original: The Unknow Heart
Copyright: (c) Barbara Cartland 1969
Traduo: Carmita Andrade
Copyright para a lngua portuguesa: 1990
EDITORA NOVA CULTURAL LTDA.
Av. Brigadeiro Faria Lima, 2000 3 andar
CEP 01452 So Paulo SP Brasil
Caixa Postal 2372
Esta obra foi composta na Editora Nova Cultural Ltda
Impressa na Artes Grficas Parmetro Lida.
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Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)
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CAPTULO I
1902
No vou me casar com um homem que nem conheo, mame! No vou, no vou,
no vou! No pode me obrigar!
Virgnia Stuyvesant Clay, voc vai fazer o que eu mandar! replicou uma voz
spera.
A sra. Clay levantou-se com impacincia, andou pela enorme sala decorada com
exagero, e encarou a filha.
Sabe o que est dizendo, menina? Recusa casar-se com um ingls que muito
breve ser duque! Um duque! Ouviu bem? H apenas vinte e seis duques na Inglaterra, e
voc ser duquesa. Isso dar uma lio sra. Astor que me olha por baixo, como se eu
fosse uma "ningum". O dia que eu vir voc saindo da igreja como futura duquesa acho
que vou morrer de alegria!
Mas, mame, ele nem me conhece! queixou-se Virgnia.
Que tem isso a ver com o caso? Estamos em 1902, verdade, no comeo de um
novo sculo, mas na Europa casamentos ainda so arranjados pelos pais dos noivos, e do
certo.
Voc sabe, mame, que o marqus quer se casar comigo por dinheiro, nada mais.
Que modo ridculo de falar, Virgnia respondeu a me.
A duquesa velha amiga minha. H mais ou menos dez anos seu pai e eu a
conhecemos numa viagem Europa, e ela amavelmente nos convidou para um baile em
seu castelo.
E vocs pagaram a entrada interrompeu-a Virgnia.
Isso no vem ao caso. Foi um baile de caridade, e nunca escondi. Continuei
ajudando-a em suas obras sociais e ela sempre se mostrou muito grata a mim.
Gosta de seu dinheiro, mame!
Mantemos correspondncia regularmente, mando-lhe presentes pelo Natal e ela
agradece. Escreveu-me perguntando se eu tinha uma filha na idade de casar. Ento, senti-
me recompensada pelos milhares de dlares que lhe tenho enviado ano aps ano. Agora
comeam a ser pagos os dividendos.
Mas eu no desejo ser esses dividendos, mame. E, embora a duquesa seja
encantadora, voc nem conhece o filho dela.
Vi fotografias e me parece um rapaz muito simptico. No um menino, fez
vinte e oito anos j. Um homem, Virgnia. Um homem para cuidar de voc e de toda essa
incalculvel fortuna que seu pai lhe deixou.
Oh, mame, vamos entrar nesse assunto outra vez? Voc rica, muito rica, e a
razo de papai ter deixado seu dinheiro dividido igualmente entre ns duas no importa.
Quanto a mim, pode ficar com tudo. A, s quero ver se esse marqus ainda vai se
interessar por mim.
Virgnia, voc a criatura mais ingrata do mundo! Tem a oportunidade de
realizar o sonho de todas as moas, casando-se com um dos homens mais importantes da
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Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)
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Inglaterra; na verdade, do mundo! Pode imaginar o que suas amigas diro? Pense em
Millie, em Nancy, em Gloriana. Vo ficar verdes de inveja! Voc ser convidada para ir ao
Buckingham Palace, jantar com o novo rei e a rainha. Usar uma coroa na cabea.
Uma tiara, mame!
Bem, uma tiara ento. E eu providenciarei para que no casamento use a maior e
mais preciosa tiara existente na Inglaterra. J pensou nas notcias dos jornais?
No me casarei com um homem que nem conheo insistiu Virgnia com
firmeza.
Vai fazer o que eu mandar! Ser em breve uma duquesa!
No tenho o menor desejo de ser duquesa, mame; no entende isso? E a vida
mudou muito ultimamente, mame; no se d mais valor a esse negcio de nobreza.
Mudou, mas s no fato de que mais ingleses vm aos Estados Unidos, e mais
americanos milionrios viajam para a Europa. Seu tio dizia um dia desses que pensa at
em investir nosso dinheiro na construo de transatlnticos.
Quer dizer que ficaremos ainda mais ricas. Mas, para qu?
Para qu? Pare de falar sobre dinheiro com esse desprezo, Virgnia. Devia ser
grata pelo fato de termos tanto!
Impossvel ser grata, se por esse motivo eu tiver de me casar com um homem
que nunca vi, e cujo nico interesse em mim so meus dlares!
Olhe, Virgnia, no bem assim. Como j lhe disse, a duquesa e eu ficamos
muito amigas, e ela sugeriu que um casamento do filho dela com minha filha seria o
coroamento de nossa antiga amizade. Que poderia ser mais encantador e prtico que essa
ideia? Quanto voc vai lhe pagar pelo privilgio de minha entrada na aristocracia
britnica?
No responderei a essa pergunta, Virgnia! Soa mal nos lbios de uma jovem
como voc. Deixe essa parte do negcio comigo e com seu tio.
Quero saber quanto, mame.
No lhe direi!
Ento posso adivinhar. A duquesa exige uma soma considervel exclusiva para
ela. No ficaria contente apenas com meu dinheiro, que seu filho controlar. Ouvi o tio
falar qualquer coisa sobre isso com voc, mas calou-se assim que eu entrei na sala.
Quanto?
J lhe disse que no de sua conta!
de minha conta. Eu serei a sacrificada nesse altar do esnobismo!
Observaes sarcsticas nunca sero favorveis a voc, na sociedade britnica
preveniu-a a sra. Clay. No sei por que no hei de ter uma filha boazinha, obediente,
como a filha dos Belmont, que vem aqui s vezes.
Ela vem aqui porque voc insiste. No minha amiga. Bella Belmont a moa
mais tonta que existe no mundo.
No obstante, bonita, amvel, fcil de ser conduzida. tudo que eu pediria a
Deus para uma filha.
E voc s conseguiu a mim, pobre mame!
Sim, s voc repetiu a sra. Clay. E se casar com o marqus de Camberford
nem que eu tenha de arrast-la aos berros at o altar. Chega de falarmos sobre o assunto, e
vamos ao enxoval. Temos muito pouco tempo, pois o marqus chegar nos Estados
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Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)
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Unidos em trs semanas.
Nesse caso, espere que ele chegue, mame, para eu dar uma resposta.
Absolutamente, no! protestou a sra. Clay.
Por que no?
No h tempo. Ele chega no dia vinte e nove de abril e vocs se casaro no dia
trinta.
Nos casaremos no dia seguinte? Impossvel, mame! Como ele ousou sugerir
isso? E como voc pde aceitar?
Virgnia jogou-se no sof, e ps a mo na cabea.
Que h, Virgnia? perguntou-lhe a me. uma de suas dores de cabea?
Sinto-me mal. O ltimo remdio que o mdico receitou me deixa pior que antes.
Ele acha que voc est anmica, e quer que se fortalea mais. Tomou o copo de
vinho s onze horas?
S um pouco, no consegui tomar o copo inteiro.
Mas, Virgnia, o mdico disse que o vinho tinto faz bem para o sangue. Que tal
um copo de xerez antes do almoo?
No, no, no quero nada protestou Virgnia. No tenho tampouco
vontade de comer, com essa dor de cabea.
Precisa comer, Virgnia. O chef fez uma sobremesa especial para voc. E um po-
de-l para o ch.
No desejo nada, mame. S em pensar em comida me d nuseas.
Tem de ficar mais corada antes de o marqus chegar, Virgnia.
Oua, mame, no podemos continuar discutindo o mesmo assunto por trs
semanas. No vou me casar com esse tal de ingls, futuro duque ou no, e ningum me
persuadir a agir em contrrio.
Muito bem, Virgnia, se assim, tenho outros planos.
Tem? Oh, mame, por que me tortura tanto? Sabe que no quero me casar. Quais
so os outros planos?
J decidi. Se no se portar como uma moa normal, no a considero mais minha
filha. Vou mand-la para a casa de sua tia Louise.
Tia Louise! Mas...tia Louise uma freira! Ela dirige um Instituto Correcional para
moas.
Exatamente! E onde voc vai morar at os vinte e cinco anos de idade. Porque,
embora seu pai lhe tenha deixado muito dinheiro, ele me nomeou sua tutora.
Mas, mame, diga que no est falando srio!
Estou! Voc pode ser minha nica filha, e eu talvez a tenha mimado muito; mas
no vai destruir todos os sonhos que sempre tive de ser um dia a rainha da sociedade de
Nova York. Voc far um casamento brilhante ou ir morar com sua tia. Escolha! minha
ltima palavra.
Mas isso impossvel sussurrou Virgnia, assustada.
Sabe muito bem que quando decido uma coisa vou at o fim. Fui eu quem fez de
seu pai um milionrio! E minha palavra um ultimato, Virgnia. No vou titubear em
cumprir essa ameaa.
No posso... acreditar gaguejou Virgnia. No posso acreditar que voc...
minha me... me faa tal ameaa.
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Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)
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Vai me agradecer quando ficar mais velha. Agora, prometa-me que se casar
com o marqus e que ir Europa com ele como sua esposa legtima.
No posso prometer, mame! Como possvel me unir a um homem que deseja
apenas meu dinheiro? vou me casar um dia, sim, mas com algum que me ame, e que eu
ame.
A sra. Clay deitou a cabea para trs e deu uma sonora gargalhada.
Algum que a ame! repetiu ela num tom sarcstico. Acha isso possvel? to
idiota a ponto de imaginar que um homem a amar? Venha c!
A sra. Clay agarrou a filha pelo brao e arrastou-a at junto do espelho pendurado
na parede, entre as duas janelas da sala.
Veja! D uma olhada em sua aparncia! disse ela cruelmente. E diga se um
homem se casar com voc por outro motivo que no seu dinheiro! Olhe! Olhe-se bem no
espelho!
Quase hipnotizada, Virgnia fez o que lhe foi ordenado. Enxergou-se ao lado da
me, esta magra, esbelta, com a cintura fina acentuada pelo elegante vestido. Um colar
brilhava em seu longo pescoo. Enfim, l estava uma linda mulher que chamaria ateno
em qualquer grupo social.
A, Virgnia se viu: pequena, mal chegando aos ombros da me, e obesa. Uma
figura grotesca! Seus olhos quase desapareciam devido ao rosto muito gordo, e vrias
papadas lhe escondiam o pescoo. As mos que ela levou ao rosto eram vermelhas e
disformes, Virgnia no tinha cintura, e seus quadris faziam trs vezes os da me. Os
cabelos sem brilho tinham cor indefinida.
Ela no conseguiu articular uma s palavra. E a me disse num tom de desprezo:
Agora entende do que eu falava?
Sei... Sou horrvel! Mas os mdicos prometeram que eu emagreceria. Apenas
sinto-me muito doente!
Promessas! Promessas! Todos garantiram que voc ficaria elegante, que sararia.
Questo de tempo, afirmavam eles. Gastei milhares de dlares nos ltimos cinco anos com
sua sade. H ainda uma pequena esperana de que emagrea com o casamento. Milagres
s vezes acontecem!
Talvez o marqus desista de se casar quando me vir.
Isso eu no acredito, Virgnia!
Por que?
Porque, minha cara, voc lhe ser entregue envolta em fitas de ouro. Ele precisa
desesperadamente de dinheiro.
Quanto vai lhe dar?
Quer mesmo saber? No prefere crer em sonhos de amor? No prefere que o
prncipe encantado desa pela chamin e se apaixone por voc primeira vista? Mas,
pensando bem, minha filha, melhor que saiba a verdade! Qualquer que seja sua
aparncia, no vai rastejando para a aristocracia inglesa. Cada um receber sua parte, e a
verdade
lhe dar autoconfiana.
Bem, e qual a verdade? perguntou Virgnia. Quanto vai dar a ele?
Sete milhes de dlares. Um bom presente para qualquer noivo receber junto
com sua tmida noivinha. E agora, chega de histeria. Vai se casar no dia trinta de abril.
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Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)
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Caso contrrio, ir morar com tia Louise, e anunciarei ao mundo que voc viver num
convento pelos prximos sete anos.
Virgnia no respondeu. A sra. Clay observou-a por minutos e depois sussurrou, na
esperana de que a filha no a escutasse:
Meu Deus! Que mal fiz eu para merecer isso? Uma filha desobediente e feia!
Nos dias subsequentes Virgnia mal tomou conhecimento do que se passava em
redor dela.
Mdicos visitavam-na diariamente e mudavam sua dieta a cada vinte e quatro
horas. Ela era forada a ingerir pratos nutritivos e doces de todos os tipos, apesar de estar
gorda.
Bebia sangue de boi para combater a anemia. O creme de leite era levado a Nova
York de New Jersey, puro, e no contaminado pelo ar da cidade. Legumes e frutas vinham
das fazendas dos Clay localizadas no sul. Virgnia s tomava champanhe francs, xerez da
Espanha, caviar da Rssia, pat de Strasbourg. E comia tudo, para no criar caso com a
me e os mdicos. Ficava horas experimentando vestidos, chegando s vezes exausto.
Somente quando sozinha no quarto pensava num meio de escapar daquilo tudo.
Mas reconhecia ser impossvel. Sentia-se cansada, doente, fraca, at para se levantar da
cama pela manh.
Tinha amide a impresso de que uma voz dentro de si dizia. "Voc gorda e
intil! Gorda e tola! Gorda e feia! O marqus vai se casar por dinheiro!"
E Virgnia tinha vises: enxergava pilhas de ouro, brilhando, que enchiam seu
quarto, chegando ao teto, cobrindo-a toda.
Francamente, Virgnia a me lhe disse um dia voc parece estar bbada.
Preciso falar com o dr. Hausell para no lhe dar mais remdios contendo narcticos.
Porm Virgnia sabia que no eram os remdios que a faziam assim, mesmo porque
ela jogava fora mais da metade deles. Ela tentava era fugir da realidade, agindo como uma
autmata.
O marqus chega amanh ela ouviu a me dizer, e no reagiu; nem mesmo
mostrou surpresa.
Virgnia desistira h muito de preocupar-se com o futuro marido. Sentia-se, no
obstante, muito infeliz. "Ele vai se casar por dinheiro! Ele quer seu dinheiro!" aquela voz
interior repetia incessantemente.
Ouro! ouro! ouro! Virgnia tinha a sensao de que sua comida era ouro puro, e o
champanhe que bebia possua gotinhas de ouro lquido.
A sra. Clay preparou uma enorme recepo para a noite da chegada do marqus.
A cerimnia do casamento teria lugar no salo que se assemelhava a um jardim de
orqudeas brancas. Nas salas de recepo, porm, as flores tinham uma cor mais alegre:
rosa. Virgnia usaria um vestido cor-de-rosa, e na cabea uma tiara de botes de rosa.
Dias aps a recepo, no se falava em outra coisa em Nova York. Infelizmente, o
marqus no comparecera. Houve um atraso do navio que s chegou na madrugada do
dia seguinte. A cerimnia de casamento propriamente dita teve de ser adiada.
Virgnia se perguntava que tipo de mentiras sua me dissera duquesa. com
certeza no revelara nada sobre sua aparncia. Ela olhava-se no espelho e achava-se cada
dia mais gorda.
"Talvez tivesse sido melhor ter ido casa de tia Louise", dizia ela a si mesma. "Oh,
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Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)
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Deus, como gostaria de morrer! Oh, Deus, como gostaria de estar morta!"
Mas continuava muito viva e era o centro das atividades da casa. Sua me foi a
primeira a entrar no quarto para comunicar-lhe a chegada do marqus. Abriu as cortinas e
chamou a empregada.
Recebi um recado do seu noivo disse ela com satisfao.
Ele escreveu assim que chegou em Nova York, pedindo desculpas pelo atraso do
navio. Pobre homem, como se fosse culpa dele. Mas, talvez tenha sido melhor assim.
Vocs s se encontraro no altar.
Como Virgnia no falasse nada, a sra. Clay continuou:
O dia est lindo! O sol brilha no cu e agora lamento no ter planejado a
cerimnia na igreja de St. Thomas. Mas nosso salo aconchegante! Levante-se, Virgnia.
No comece a vida de casada deixando seu marido esperar; nada irrita mais um homem.
No me sinto bem gemeu Virgnia.
nervoso, voc sabe disso. Beba um pouco de leite e, antes da cerimnia, tome
uma taa de champanhe.
No quero champanhe. Me d enjoo.
Bem, mas tem de tomar alguma coisa. Que foi que o mdico receitou?
Virgnia considerou intil responder. No ignorava que as ordens do mdico eram
quase sempre contrariadas pela me, que possua suas prprias ideias quanto a nutrio.
Beba caf ordenou a sra. Clay. Mandei trazer um bule para o quarto. Eu
mesma acho que no poderei aguentar tudo isso sem pelo menos uma dzia de xcaras.
Chegando o caf, a sra. Clay encheu uma grande xcara para Virgnia, adicionou
vrias colheres de acar, explicando:
Acar d energia.
Acelera meu corao replicou Virgnia. Francamente, prefiro no tomar
caf.
Pelo amor de Deus, Virgnia. Precisa discutir sempre? Beba esse caf, sei que lhe
far bem. E vista-se depressa.
Virgnia achou mais fcil obedecer que protestar. Tomou um banho quente e, logo
aps, ficou to atordoada que necessitou sentar-se por cinco minutos antes de se enxugar.
A cabeleireira chegou. O vu foi arrumado em sua cabea, preso por uma tiara de
diamantes to grande que, ao se olhar no espelho, Virgnia achou-se ridcula.
Isso o que eu chamaria de coroa, e no tiara exclamou a sra. Clay com
satisfao, entrando no quarto da filha a fim de supervisionar tudo. No me pergunte
quanto custou; seu pai teria um enfarte se soubesse, pobre homem. Ele no admitia gastar
dinheiro em jias, preferia t-lo sempre nas mos.
linda essa tiara! mentiu Virgnia.
meu presente de casamento para voc, querida. Achei que gostaria. E, aps
uma pausa, acrescentou: Mandei um convite sra. Astor para a recepo de ontem, mas
ela no compareceu e nem se desculpou. Deve estar ausente da cidade. Imaginei que no
resistiria tentao de conhecer o marqus! um lindo homem, Virgnia!
Voc j o viu, mame?
Se j o vi? Ele apareceu aqui s nove horas da manh, cheio de desculpas. um
rapaz muito atraente. Voc a moa mais feliz que pisou este solo dos Estados Unidos. Se
eu fosse vinte e cinco anos mais jovem, no seria voc, Virgnia, quem se casaria com ele!
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Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)
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A sra. Clay sorriu. E Virgnia, sem corresponder ao sorriso, perguntou:
Voc j lhe deu o dinheiro?
No seja vulgar, Virgnia. Se quiser que seu casamento resulte num sucesso,
jamais mencione o dinheiro a seu marido. Eu no deveria ter revelado isso a voc mas,
nunca soube guardar segredos. Prometa-me, Virgnia, que se comportar como uma lady,
deixando o assunto das finanas a cargo de seu marido.
No tenho outra escolha, de qualquer jeito. Como sabe, papai deixou meu
dinheiro sob a superviso de minha tutora e, em me casando, meu marido cuidar dele at
que eu tenha vinte e cinco anos de idade. Espero que o bondoso marqus, se eu suplicar,
me d alguma coisa para os alfinetes.
Virgnia, no tolero que fale dessa maneira rude, sarcstica! O marqus um dos
homens mais encantadores que j conheci. Toda Nova York ficar louca por ele. As moas
daqui invejaro voc na certa. Agora, acalme-se, e lembre-se de que devem ser
considerados os dois lados do negcio. Ele, tambm, talvez preferisse casar-se por amor.
A sra. Clay retirou-se do quarto e bateu a porta com fora. Virgnia ps a mo na
cabea. Como sempre, nas discusses com a me, perdia. Nas brigas com o marido, a sra.
Clay tinha tambm a ltima palavra, magoando-o muitas vezes.
O corao de Virgnia pulsava violentamente. Ela sentia falta de ar e pediu criada
que abrisse a janela.
O tempo fora estava agradvel. Mas Virgnia duvidava que teria foras para
atravessar o enorme salo repleto de gente, pelo brao do tio.
Enfim, ficou pronta. O vestido, com babados e mais babados de renda de Bruxelas,
seria lindo em outra mulher menos gorda. O vu caa-lhe pelas costas, e a tiara brilhava.
Diante do espelho, Virgnia comparou-se a uma rvore de Natal.
Deu uma gargalhada, nervosa. Nesse instante, bateram na porta. Um lacaio entrou
trazendo uma taa de champanhe numa salva de prata.
Com os cumprimentos da senhora sua me, miss Virgnia declarou ele.
A moa tomou um gole.
Desejo-lhe felicidades, miss disse o empregado, de libr nova, cabeleira
empoada, e luvas brancas.
Obrigada agradeceu Virgnia.
Est pronta, Virgnia? o tio gritou do corredor. Todos a esperam l
embaixo.
Estou, tio.
Foi ao encontro dele e notou um ar de admirao em sua face. Mas era pela tiara...!
Espere um minuto, miss falou uma das criadas. Esqueceu de pr o vu no
rosto.
Obrigada sussurrou Virgnia.
Ela sentiu-se ainda mais sufocada, e seu corao batia mais forte.
"So meus nervos", pensou.
Ela ps a mo enluvada no brao do tio, e apanhou o buque de lrios do vale. Os
dois desceram vagarosamente as escadas.
O som da msica suave sumia ao tagarelar de centenas de vozes. Cada passo
representou enorme esforo para Virgnia, que tinha a impresso de ser arrastada pelo tio.
Levantou os olhos e enxergou o bispo. A um lado dele estava sua me, triunfante; no outro
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Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)
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lado havia um homem.
Virgnia no supusera que o marqus fosse to alto, de ombros to largos, e to
moreno. Sempre imaginara que os ingleses tivessem tez clara. E, a me tinha razo, era o
homem mais atraente que j vira.
Ela apertou com mais fora o brao do tio, que perguntou:
Voc est bem, Virgnia?
Estou, tio.
Chegaram ao altar. Ela ficou diante do bispo e o marqus a seu lado. A cerimnia
teve incio.
A senhorita aceita este homem como seu marido, na riqueza e na pobreza, na
sade e na doena?
E, com voz que parecia vir de muito longe, Virgnia disse:
Sim, aceito.
Feita a mesma pergunta pelo bispo ao marqus, ele respondeu com firmeza, num
sotaque bem britnico:
Sim.
A cerimnia terminava. Algum levantou o vu do rosto de Virgnia. O marqus
conduziu-a para a outra sala, onde fora arrumado o bufe com um bolo gigantesco de cinco
camadas.
Virgnia tropeava no vestido, e no conseguia fitar o marqus. Tinha conscincia
da proximidade dele, e sabia-o tenso.
A me no parava de conversar ao lado dos dois.
Por aqui, marqus dizia ela. Oh, no, devo cham-lo de Sebastian, no
acha? Que nome maravilhoso! Sebastian e Virgnia combinam bem! Espero que tenham
gostado da cerimnia religiosa. O bispo de Nova York um homem encantador. velho
amigo meu, e s poderia casar vocs, mais ningum.
Aproximavam-se da sala de recepo.
Uma taa de champanhe antes! a sra. Clay foi logo dizendo. Em seguida,
recebero os convidados e cortaro o bolo. Todos os nossos amigos esto ansiosos por
conhec-lo, marqus... quer dizer, Sebastian, voc a visita mais importante de Nova York
no momento.
Champanhe! Champanhe! ordenava a sra. Clay aos lacaios. Uma taa para
voc, Sebastian! Uma para Virgnia. Espero que sejam felizes para sempre.
Obrigado, sra. Clay, muito amvel declarou o marqus com voz grave e
controlada.
Virou-se para Virgnia e o encarava pela primeira vez. Ela viu nos olhos do marido,
no o desprezo que esperava, mas uma quase indiferena.
sua sade, Virgnia disse ele.
Virgnia achou que a sala girava em torno dela; o bolo de camadas inclinava-se.
No, no era um bolo, mas dinheiro, ouro, ouro resplandecente! Caa em cima dela,
roubando-lhe o equilbrio...
Virgnia no resistiu ao peso do ouro que a cobria. Ouviu algum gritar, e sups
que fosse sua me.
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CAPTULO II
Pssaros cantavam. Virgnia escutava-os tentando identific-los. Anos atrs sabia o
nome de cada um deles.
Bem devagar, com esforo, abriu os olhos. Uma nuvem de borboletas vermelhas,
brancas e amarelas movia-se no cu azul, e ela teve uma sensao de xtase, de pura
felicidade. Subitamente, um rosto apareceu entre ela e o cu, e uma voz, suave e satisfeita,
exclamou:
Acordada! Virgnia, voc acordou!
Virgnia queria falar, porm sua garganta estava paralisada. Mas, em breve,
sussurrou:
Quem a senhora?
Sou sua tia, Virgnia, a tia Ella May! Lembra-se de mim?
Lembro...
Virgnia fechou os olhos e caiu no sono de novo.
Horas mais tarde, ou talvez dias, recobrou a conscincia mais uma vez. Os pssaros
estavam silenciosos, mas as borboletas permaneciam l.
Um brao forte ergueu-a e ps um copo entre seus lbios.
Beba, Virgnia vai fazer-lhe bem. Era a tia.
Virgnia bebeu alguns goles de um lquido delicioso.
Onde... estou? Ela quis saber.
Em minha casa replicou a tia. Cuido de voc.
Tia... Ella May. Recordo-me... agora; minha enfermeira? Estive... doente?
Sim, querida. Muito doente.
Que houve comigo?
No vamos falar sobre isso agora. Descanse. Daqui a pouco lhe darei outra coisa
para beber.
Quero... j. Tenho muita sede insistiu Virgnia.
A tia satisfez-lhe o pedido. Assim que terminou de beber, Virgnia murmurou:
Mel!
Sim, mel com agrio, aipo, e outros vegetais.
H quanto tempo estou aqui?
H muito tempo.
Tento... rememorar os fatos. Eu ca... Foi um acidente?
No se preocupe com isso agora pediu a tia. Durma.
Tenho a impresso de que dormi por muito tempo... muito tempo gaguejou
Virgnia, adormecendo em seguida.
Acordou noite. As cortinas estavam fechadas; cortinas de cor alegre, de chintz,
bonitas, mas modestas. O quarto era pequeno, de teto baixo, e achas queimavam na
lareira.
A tia aproximou-se dela.
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Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)
12
Gostaria de tomar uma sopa?
Sim, tia.
Virgnia achou que a sopa era ainda mais deliciosa que mel. Sentia-se menos
cansada.
Estou contente... em v-la, Tia Ella May. Pensei muitas vezes na senhora, que
nunca nos visitou em Nova York.
verdade, Virgnia.
Alguns incidentes voltaram mente de Virgnia. Enxergava seu pai furioso, a me
igualmente, portas batendo, e tia Ella May saindo da casa com lgrimas nos olhos, mas
com bastante determinao.
Eu... me lembro observou Virgnia em voz alta. A senhora foi embora... para
sempre.
verdade... Casei-me contra a vontade da famlia. Mas sua me insistiu que eu
fosse ao seu casamento.
Meu... casamento...
E Virgnia disse em voz baixa: "O bolo... Caiu em cima de mim. Era de ouro... A
minha cabea doa. Devia ter sido o peso... da tiara..."
Quando voc caiu acrescentou tia Ella May sua ridcula tiara rolou pelo
cho.
Mame... chamava-a de coroa comentou Virgnia, e as duas mulheres riram
muito.
Mame! repetiu Virgnia. Deve ter se irritado muito por eu estar... doente.
Como permitiu que viesse para c?
Falaremos sobre o caso em outra ocasio.
No, agora! Quero saber. Ela est zangada, no est?
No pretendia aborrec-la, Virgnia. Mas sua me no est zangada porque...
morreu!
Morreu! Nunca pensei... que mame pudesse morrer. Ela era to forte, to...
indestrutvel! Por isso estou aqui?
, querida.
Seguiram-se mil perguntas, mil sentenas interrompidas. As respostas suaves por
parte da tia eram cuidadosas a fim de no chocar Virgnia, de no tirar-lhe o sono. Mas ela
estava to curiosa que, vinte quatro horas aps ter recobrado a conscincia, descobriu
tudo.
Depois de seu colapso relatou a tia sua me teve uma tremenda crise de
nervos e de frustrao. Achou que voc fingia estar doente para evitar encontrar-se com os
convidados. Irritou-se ao ver a tiara no cho, e irritou-se mais ainda ao deparar com a
dificuldade de erguer voc do solo.
Continue, tia murmurou Virgnia.
Enfim, voc foi carregada para outra sala. Sua me berrava, dizendo que as
comemoraes tinham de prosseguir. E falou: "Virgnia se unir a ns logo que se sentir
melhor! Mas algum precisa ficar com ela". Foi ento que eu disse: "Eu fico". Sua me
aceitou logo a sugesto. Deixou-me na sala, saiu e fechou a porta. Mas, quando observei
voc mais detalhadamente, vi que no se recuperaria to cedo.
Oh, tia Ella May, que tragdia!
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Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)
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Os mdicos que foram v-la deram uma srie de nomes sua doena
continuou a tia. Mas acho que posso explic-la em termos simples. Por anos voc foi
alimentada com todo o tipo de substncias prejudiciais a seu organismo. Acar, creme de
leite, pats, vinho etc. Os mdicos e sua me transformaram um corpo saudvel numa
monstruosidade. No apenas seu corao no poderia aguentar tamanho peso, como as
toxinas invadiram seu crebro. Isso, em combinao com a infelicidade suscitada por seu
casamento, provocou em voc o que ns aqui no campo chamamos de febre-cerebral.
Febre-cerebral? gritou Virgnia. Quer dizer que fiquei louca?
Em estado de delrio. S falava sobre dinheiro o tempo todo.
Achei que montanhas de ouro caam sobre mim, e faziam-me perder o equilbrio.
Lembro-me bem disso. O bolo tombou tambm.
O horrvel bolo branco cheio de acar! exclamou a tia com um sorriso.
E eu no voltei sala de recepo! Mame deve ter ficado furiosa!
To furiosa, que noite teve um derrame fatal.
Oh, no! Pobre mame! Devo ter-lhe causado um grande desapontamento.
Acho que sim, Virgnia.
Mame nunca me amou. E, quando se referia a ter-me mimado, isso apenas
significava que me enchia de presentes que em geral no me interessavam. Nunca tive
permisso para fazer uma coisa de que gostasse. Sei que vou choc-la, tia Ella May, mas
no posso sofrer com a morte de mame. Ela sempre me sufocou, sem me dar esperanas
de salvao.
No devemos falar mal dos mortos, querida. Mas concordo que mesmo a melhor
amiga dela considerava-a uma mulher difcil. Fez de seu pai um milionrio, porm ele
sucumbiu tenso do trabalho.
E o que aconteceu... com o marqus?
Foi a nica pessoa a conservar a cabea no lugar quando sua me teve o
derrame. Voc estava doente num quarto, sua me em outro, e todo mundo dando
palpites o mais absurdos possvel. Ningum fazia nada. Advogados e testamenteiros, um
monte de homens apareceu como num toque de mgica para organizar tudo. Mas eu logo
conversei com seu marido pedindo-lhe permisso para traz-la para c comigo. Disse-lhe
quem eu era, que tinha prtica de enfermagem, e ele concordou imediatamente.
Por isso vim sua casa. Ele ficou... zangado?
No, zangado, no. Apenas triste... com franqueza, Virgnia, gostei muito dele.
Eu o odeio! Ainda o odeio! Agora que mame morreu, no preciso viver mais ao
lado dele, preciso?
Falaremos sobre isso depois.
No, quero falar j. Veja, tia Ella May, mame forou-me a casar com um
desconhecido, somente por vaidade. Queria competir com a sra. Astor, e nada do que eu
pudesse dizer alteraria sua deciso.
Voc poderia ter recusado, no acha, Virgnia?
Recusei e mame ameaou me enviar para a casa de tia Louise onde eu ficaria at
os vinte e cinco anos de idade.
Na casa da tia Louise? Isso seria cruel demais.
Como v, no tive outra escolha continuou Virgnia. precisei obedecer. Mas
odeio aquele homem. Nunca mais quero pr meus olhos nele.
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Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)
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No fale assim, Virgnia, no pense no assunto agora, h tempo para isso. Voc
esteve doente e tem de ser cuidadosa para se recuperar. No se preocupe com coisa
alguma. Tudo sair bem no fim, eu lhe prometo.
Por segundos Virgnia ficou tensa, mas depois acrescentou, rindo:
Ele tambm deve me odiar. No sabia nada sobre minha aparncia at o instante
em que me viu no altar. Acho que lhe dei o maior choque da vida! Uma noiva gorducha
com aquela horrvel tiara!
Virgnia, admiro-a muito! Aprecio qualquer pessoa que consiga rir de si mesma!
No sou to idiota a ponto de no reconhecer meus pontos fracos. Mame me fez
tomar caf e champanhe a manh inteira, meu rosto estava quente e vermelho. Oh, tia Ella
May, por que nasci to feia? Mame era to bonita, e papai atraente, no verdade?
Sim, formavam um belo casal concordou a tia. Mas, estar voc preparada
para outro choque?
Que foi agora, tia?
Espere um minuto. vou ajud-la a sentar-se na cama. Feche os olhos. Ao abri-los,
ter uma surpresa, porm boa.
Mesmo? Vai entrar algum aqui?
Confie em mim e feche os olhos.
Ella May foi buscar um espelho e o ps diante da sobrinha, dizendo:
Abra os olhos agora.
Virgnia viu-se frente a frente com uma estranha. Imaginou estar sonhando, ou...
louca. No espelho enxergou uma imagem desconhecida: a de uma moa de sua idade, de
olhos grandes e face oval. Os malares acentuavam-se um pouco no rosto magro. Porm,
cabelos brancos, sem vida, caam-lhe pelas costas.
Durante muito tempo Virgnia olhou para o espelho, e enfim perguntou:
Sou... eu?
voc. A tia sorriu. Seu pobre corpo permanecia escondido pela gordura
que desfigurava o que deveria ser jovem, lindo e gracioso.
Virgnia cobriu o rosto com as mos.
Veja meus dedos disse ela , e meus braos. Oh, tia Ella May, jamais me
reconheceria. Mas que houve com meus cabelos?
A febre cerebral s vezes faz isso. Porm a cor deles voltar quando ficar mais
forte. Como v, Virgnia, voc uma moa bonita!
Bonita, eu! Mal posso acreditar!
Virgnia continuava apreciando, com enorme prazer, seus olhos cinzentos com
reflexos violeta, seus longos clios! E o rosto de um oval perfeito, o nariz pequeno, as
sobrancelhas arqueadas, a testa, eram atributos de grande beleza, sem dvida.
No posso acreditar! repetiu ela, e comeou a chorar. Alis, pela primeira vez
desde que recuperou a sade.
A tia retirou o espelho e fez Virgnia deitar-se.
No... posso... acreditar sussurrava ela entre lgrimas.
No posso... acreditar.
Mas verdade. Agora, querida, durma. Se ficar nervosa, vou me arrepender de
ter mostrado sua imagem no espelho.
Considero dormir perda de tempo queixou-se ela. Tenho tanto a planejar.
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Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)
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Mas adormeceu enfim.
Duas semanas mais tarde Virgnia passeou no jardim e sentou-se no terrao,
enquanto a tia debulhava ervilhas para o almoo.
Fui at o parque e no estou nada cansada declarou Virgnia com prazer.
Mas no exagere, querida...
Sinto-me to leve que tenho a sensao de que o vento vai me levar para o topo
das rvores.
Est leve, talvez magra demais. Temos frango no almoo. Se no comer bastante
a mandarei de volta para a cama.
A senhora no seria to cruel! Tenho muito a conversar sobre meu futuro, sobre
meu casamento.
Ia entrar nesse assunto hoje mesmo observou a tia. Recebi uma carta de seu
marido esta manh.
Uma carta do marqus?
Sim. Agora ele duque, e voc uma duquesa!
a ltima coisa que desejo ser na vida. No quero voltar para ele.
Seu marido tem sido muito atencioso. Escreve todos os meses para saber de voc.
Por que se preocupa? J tem o dinheiro que mame lhe deu para casar-se
comigo; e minha fortuna tambm, se quiser. No estou interessada em coisa alguma, ele
pode ficar com tudo!
Esse outro assunto que pretendo abordar com voc. Com a morte de sua me,
tornou-se uma das mulheres mais ricas dos Estados Unidos, Virgnia.
No me interessa. No quero nada mais do que tenho aqui. A tia riu muito.
Voc no se sentiria feliz por muito tempo neste lugar ermo.
Acha?
Acho. Eu gosto daqui porque foi meu ninho de amor. Quando me casei, seu pai
expulsou-me da famlia. Meu marido e eu ramos muito pobres, mas felizes.
Oh, tia Ella May! Ele ainda vive?
No. Morreu h dois anos. uma das razes pela qual fiquei contente em poder
cuidar de voc. Sofria muita solido. No tivemos filhos, e voc foi como uma filha para
mim, todos esses meses que morou aqui, dependendo exclusivamente de mim.
Todos esse meses! Quantos meses?
Um ano e dois meses replicou a tia.
Um ano e dois meses?! No imaginava que fosse tanto tempo!
Claro, voc esteve inconsciente. E uma das maiores satisfaes de minha vida
ver voc como est hoje.
Virgnia olhou para o vestido de algodo que usava, da tia, desbotado e um tanto
grande para ela.
bom que tenha uma roupa para me emprestar. Mas, uma condio vou tornar
bem clara, tia Ella May. Quero ficar aqui, se a senhora permitir, porm pagarei minha
estada. a nica coisa para que meu dinheiro til.
No aceito seu dinheiro replicou a tia prontamente. De forma alguma.
Disse a seu pai, quando ele me baniu da famlia, que eu me defenderia sozinha e nunca lhe
pediria um centavo sequer. Cumpri minha promessa, e no vou quebr-la agora, nem por
voc.
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Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)
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Quer dizer que pagou minhas despesas todas nestes meses?
Voc no foi dispendiosa, Virgnia. E, se no teve o conforto de uma casa de
sade cara, ao menos eu a trouxe de volta vida, do meu jeito.
O melhor jeito do mundo. E no se preocupe, tia Ella May. Se um dia eu sair
daqui, continuarei com os bons hbitos alimentares que a senhora incutiu em mim. O
nico acar que consumirei ser o mel produzido pelas abelhas.
Voc a melhor propaganda de meus mtodos. Agora est bonita e forte. O
mundo l fora a espera, e quando se sentir com mais coragem, ter de enfrent-lo.
Por que razo?
A primeira seu marido.
No quero v-lo! Nunca mais quero v-lo!
Tem medo dele, Virgnia?
No, medo no, mas desprezo-o. um caa-dotes, um homem que aceita
dinheiro para se casar com uma mulher que nem conhece.
Isso soa mal, concordo. Mas tenho de ser honesta, Virgnia, e confessar que
gostei dele. Conservou-se calmo e srio quando todos gritavam. Na hora que sua me
caiu, levou-a para cama, chamou um mdico, deu ordens aos empregados, e ningum
ousou desobedec-lo. Admiro um homem assim. Ele me fez lembrar de Clement, meu
marido.
No me interessa quem ele a fez lembrar. Preciso livrar-me do marqus... quer
dizer, do duque.
Um divrcio no coisa fcil aqui nos Estados Unidos, e muito menos na
Inglaterra.
Mas ele tambm pode no me querer mais! exclamou; Virgnia.
Isso cabe a seu marido decidir. As cartas que escreve so amveis. Pergunta
sempre se h algo que possa fazer. Suponho, Virgnia, que devo comunicar-lhe que voc
est boa.
No! No! No faa isso! Entendeu, tia Ella May? No faa isso. Ele pode vir me
visitar e eu no aguentaria v-lo.
No h pressa, mas ele ter de saber tudo, mais cedo ou mais tarde. Por que ele
ter de saber?
Porque, a menos que voc se esconda aqui pelo resto da vida, muitas pessoas
tomaro conhecimento de seu estado atual.
Que pessoas? No tenho amigos!
E a imprensa? Quando voc se sentir melhor, lhe mostrarei uma infinidade de
jornais que guardei, com fotografias de seu casamento, com notcias sobre sua doena. A
noiva de um marqus no podia deixar de ocupar as manchetes dos peridicos, por
semanas. A morte de sua me acrescentou sensacionalismo ao drama.
Oh, tia Ella May. Que posso fazer ento?
Precisa vencer essa barreira. Veja, Virgnia, voc nunca resolveu nada por si
mesma. Sua me jamais o permitiu e, embora ela fosse uma mulher prepotente, acho que
voc submeteu-se demais. bem estranha tal atitude numa moa americana. Tem de
encetar essa batalha, e vencer esse bicho-papo criado por voc: o medo das pessoas.
Afinal, so todas iguais a voc, seus coraes batem no peito tambm, sangram quando se
ferem, e sofrem apreenses, medos, preocupaes, tristezas.
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Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)
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Que quer que eu faa, tia?
Isso voc quem vai resolver.
Acha que eu devo pedir a meu marido que venha me ver?
Penso que muito breve teremos de lhe dizer que voc sarou. Vai ser divertido
observar a cara dele quando a vir, uma mulher bem diferente daquela com quem se casou.
Eu o odeio e desprezo. Desmaiei, tia, porque durante trs semanas no consegui
dormir. At fiz uma pequena imagem de um homem, com cera, e espetei alfinetes nela,
dizendo: "Morra! Morra!" Minha governanta contou-me que os ndios faziam isso para
quem odiavam. Mas ele no morreu... casou-se comigo.
Virgnia deu um soluo e continuou:
A senhora pode ter vontade de rir, sabendo como eu era feia. Mas costumava
sonhar que um dia me apaixonaria por algum. Esperava encontrar um homem que me
amasse apesar de meu aspecto, e no quisesse apenas meu dinheiro.
Oh, pobre menina! sussurou a tia.
Eu ia ficando cada vez mais feia, mas no parava de sonhar. Quando me deitava
noite, imaginava uma histria na qual eu era sempre a herona, e o heri se apaixonaria
por mim sem saber quem eu era. s vezes encontrava-me com ele por acaso num parque,
outras vezes numa loja. Depois, quando caa em mim e lembrava de minha feira, fingia
que meu heri era cego. Lia para ele por piedade, e ele apaixonava-se por minha voz.
Enfim, casvamos e vivamos felizes porque nos amvamos.
Oh, Virgnia! Se ao menos eu tivesse sabido disso! Depois de uma pausa, a tia
acrescentou: No teria adiantado nada, pois sua me no permitiria que eu me
aproximasse de voc.
Pensando bem agora, acho que vivi mais de sonhos que de realidade. Contudo,
tia Ella May, eu procurava melhorar intelectualmente. Estudava muito quando no sofria
minhas horrveis enxaquecas. Lia bastante, pois queria ao menos merecer um homem pela
minha cultura.
E conseguiu muito nesse terreno, Virgnia. Voc uma moa inteligente.
Espero que sim. Pode rir, mas sei toda a histria dos Estados Unidos e da Gr-
Bretanha; e muito sobre a Frana.
A cultura nunca perdida, Virgnia.
Agora pode compreender, tia, que a ideia de casar-me com um homem que me
queria s por dinheiro foi como viver num inferno. Isso traa tudo aquilo em que
acreditava, meus sonhos, minhas ambies, coisas que fizeram parte de minha vida nos
ltimos cinco anos.
Virgnia ajoelhou-se diante da tia e suplicou:
Ajude-me, tia Ella May! Ajude-me a me livrar dele! Agora talvez eu possa
encontrar o homem de meus sonhos. Mas antes preciso me livrar desse caa-dotes. Por
favor, ajude-me!
Ella May olhou para aquele rosto ansioso, voltado para ela. "Virgnia linda!",
pensou. "No lhe vai ser difcil achar um homem; dzias se apaixonaro por ela. Mas
sempre ter dvidas se a sua pessoa ou o dinheiro que amam."
Ajude-me suplicava Virgnia, seus olhos cor de violeta num apelo
desesperador.
Vou ajudar voc, Virgnia, mas agora deixe-me cuidar do almoo. Precisamos
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Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)
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estar bem alimentadas para atacar um problema dessa envergadura.
Oh, tia Ella May, tinha certeza de que a senhora no me abandonaria.
Tudo bem, Virgnia, mas no vai ser tarefa fcil.
Escreva para o duque, tia. Diga-lhe que quero um divrcio e que ele pode ficar
com o dinheiro que quiser, contanto que me d liberdade.
No tinha planejado escrever-lhe para falar isso disse a tia indo para a
cozinha.
No tinha?
Para comeo de conversa, um homem colocado diante desse dilema vir aqui
assim que receber minha carta. o que deseja?
Claro que no! No, no, tia Ella May! Diga-lhe que se ele vier aos Estados
Unidos no lhe darei nem um centavo.
Isso no vai funcionar.
Ento, que podemos fazer?
Tive uma ideia, Virgnia. Pensei nisso uma noite destas, mas depois disse a mim
mesma: "No, Virgnia no vai aceitar. Ela no tem suficiente fibra, nem determinao".
Claro que tenho insistiu Virgnia. Do que se trata?
Decidi no tocar no assunto to j. Mas, vamos a ele. Minha ideia implica em
algum com bastante determinao e ousadia. Honestamente, Virgnia, mesmo gostando
de voc como gosto, no a considero qualificada para meu plano.
Tia Ella May, a senhora me ofende! Tenho todas essas qualidades; que nunca
me deram chance de us-las. D-me uma oportunidade e garanto que no falharei.
Prometo!
Muito bem, Virgnia. vou lhe relatar meu plano. Mas, calma! Sei que no gostar
dele. Voc deve ir imediatamente para a Inglaterra...
CAPTULO III
Virgnia atravessou o convs, e foi ficar na popa do navio, apreciando o suave mar
azul, agitado apenas pelo rastro deixado pelo barco, e pelas gaivotas com seus pios
plangentes. Muitas pessoas observavam a moa elegante, bonita, de linda cabeleira
prateada com reflexos de ouro.
Homens a admiravam, porm Virgnia no lhes dava ateno. Permanecia imersa
em seus pensamentos, perdida num mundo irreal.
Fora difcil a tia Ella May convenc-la a ir Inglaterra.
Que outra opo voc tem? a tia lhe perguntara. Quer que eu escreva ao
duque? Prefere que ele venha aqui?
No! No pode lhe escrever pedindo que ele me conceda o divrcio, sem vir
aqui?
Ele nunca aceitar um divrcio. Conheo os aristocratas britnicos, so muito
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Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)
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orgulhosos e detestam escndalos. H muitas coisas que ns, americanos, chamamos de
imoral no comportamento deles. Mas na Inglaterra maridos no abandonam esposas, e
vice-versa, embora comportem-se de maneira repreensvel na vida privada. Em
pblico, mantm a dignidade.
Hipcritas! falou Virgnia, indignada.
De certo modo, verdade.
Mas, tia Ella May, como a senhora sabe disso? Morou l?
Quando me tornei enfermeira, nossa famlia era muito pobre. Consegui um
emprego para cuidar do sr. Vanderbilt. Ele viajava frequentemente, e eu junto. Fomos
Inglaterra e nos hospedamos em manses de vrios nobres, incluindo a sua.
A minha?
Sim. Ficamos no castelo Ryll. Claro que seu marido, o duque atual, no passava
de um meninozinho. Mas os pais dele viviam como verdadeiros aristocratas. Eu no
gostava da duquesa.
A senhora conversava com eles?
No! Via-os a distncia e ouvia comentrios acerca dos dois. As vezes estava
presente quando falavam com o sr. Vanderbilt. Gostaria que voc, Virgnia, testemunhasse
o tipo de vida que est recusando usufruir.
A senhora pode me enxergar nessa espcie de sociedade? indagou Virgnia rindo
muito.
Francamente, posso. Voc linda, educada e os ingleses apreciam beleza e
educao numa mulher.
Aps refletir alguns minutos, Virgnia concordou em ir Inglaterra.
Aceito sua ideia, tia Ella May, mas com uma condio. Irei sob nome falso, e
ningum saber quem sou eu.
Li muitos romances, Virgnia, mas sua proposta me parece uma aventura ainda
mais interessante que qualquer livro que li. Pessoa alguma reconhecer voc. O duque viu
somente uma moa gorda, disforme, e jamais a associar mulher bonita que visita o
castelo Ryll por motivos outros que no o de esposa dele.
Que sugere que eu deva ser?
Voc me disse que se interessava por histria. Que tal se eu pedir a ele o grande
favor de hospedar uma amiga minha, uma jovem que quer estudar a histria da Inglaterra,
e por isso fazer pesquisas na magnfica biblioteca do castelo Ryll?
Que ideia sensacional, tia!
Vi essa biblioteca s uma vez, quando o sr. Vanderbilt me pediu para apanhar
um livro para ele. Fiquei deslumbrada. a biblioteca mais completa que conheo.
Acha que o duque vai concordar em ter uma pessoa a mais no castelo?
Querida, no far nenhuma diferena se mandarmos um exrcito para l. O
castelo Ryll enorme. H centenas, milhares de empregados trabalhando na casa, nas
estrebarias, nas fazendas, nas florestas. Eles tm sua prpria cervejaria e carpintaria.
Lembro-me de ter levado o sr. Vanderbilt para visit-las, em sua cadeira de rodas, porque
ele se interessava muito por tudo.
O sr. Vanderbilt no podia andar?
Oh, no! Era muito velho e doente. Contratou-me por que eu era forte e jovem.
"Gosto de gente moa a meu redor", ele costumava dizer. "Me do um pouco de sua
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Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)
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juventude." Ella May fez uma pausa, talvez pensando em seus verdes anos, e
continuou:
Nada do que existe nos Estados Unidos se assemelha Inglaterra. Mas no
critique os ingleses, eles tm suas qualidades e defeitos, e h l uma vida social de
ostentao que, embora artificial, fascinante!
Fale-me mais sobre a Inglaterra, tia Ella May. Foi a muitas festas?
No, claro que no. Eu era apenas uma enfermeira. Mas gostava de espiar as
recepes quando o prncipe e a princesa de Gales compareciam aos jantares. As senhoras
de vestidos decotados e cheias de jias assemelhavam-se a lindos cisnes exibindo-se pelo
recinto. Os homens usavam mil condecoraes. Eu tinha vontade de entrar no salo,
danar as valsas vienenses e flertar com os rapazes.
Tia Ella May, a senhora me surpreende!
Minha querida, fui muito romntica, do contrrio no teria me casado com seu
tio. Necessitei de muita coragem para enfrentar a famlia a rejeitar os atrativos que seu pai
me ofereceu para eu desistir do casamento.
A senhora teve mais coragem do que eu!
No se culpe. Voc estava doente, muito doente.
O dr. Fraser disse que a senhora salvou-me a vida observou Virgnia.
Acho que se os doutores de Nova York a tivessem tratado daquela maneira louca
deles, voc teria morrido. Eu os culpo por sua doena em grande parte, e o resto foi falha
de sua me.
Mame fez o melhor que pde, do ponto de vista dela, penso.
Desculpe, Virgnia, mas temos falado sempre com franqueza uma com a outra, e
jamais menti para voc. Sua me era uma mulher egosta, forou-a a cometer o maior erro
que uma moa poderia fazer: casar-se sem amor. No quero que caia em outro erro agora.
Considera um erro separar-me do duque?
Acho que deve fazer o que lhe parecer melhor.
Naturalmente quero me divorciar. Espera que eu permanea casada com um
caador de dotes? Um homem que me comprou como se eu estivesse no mercado? Ele
vendeu seu ttulo e mame no levou em considerao meus sentimentos.
Acha que ela contou ao marqus que voc no concordava com o casamento?
perguntou a tia.
Virgnia hesitou antes de responder:
Penso... que no.
Nesse caso, como sabe que ele no se casou acreditando, com toda a sinceridade,
que voc queria um ttulo tanto quanto ele queria o dinheiro? Talvez isso seja errado, seja
contra o que ns consideramos um comportamento decente; mas como negcio, no
houve nada de errado da parte dele.
No havia pensado nas coisas sob esse aspecto admitiu Virgnia.
Por essa razo, voc deve ir Inglaterra e ver tudo com seus prprios olhos. A
duquesa conseguiu centenas de dlares para obras de caridade. Por falar nisso, os
advogados mandaram para c a correspondncia de sua me, para que eu mostrasse tudo
a voc quando melhorasse. Foi fornecido duquesa dinheiro para crianas doentes;
animais abandonados; habitantes de favelas; reformas de igrejas; e at para auxlio aos
pescadores. Surpreende-me ver uma pessoa pedindo ajuda em outro pas para caridades
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Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)
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nacionais. Mas sua me nunca disse "no" aos pedidos da duquesa.
Mame jamais recusaria o que quer que fosse a uma duquesa Virgnia riu.
evidente. E imagino que seu dinheiro continue sendo usado para as mesmas
causas.
O qu?
O duque pode dispor de sua fortuna como bem entender.
Assim sendo observou Virgnia, preciso ver como meu dinheiro est sendo
gasto.
exatamente o que quero que voc faa concordou a tia.
E as duas mulheres comearam a providenciar o necessrio para a viagem. Foram a
Nova York a fim de comprar roupas para Virgnia, que se deliciou em poder escolher tudo
que gostava.
Magra agora, qualquer vestido lhe ficava bem. Ela comprou vrios de chifon, com
corpete justo, bolero elegante, saia rodada e angua de seda. Cuidou, no obstante, de no
exagerar.
Como estudante, no posso apresentar-me sofisticada demais comentou ela.
Tia Ella May no respondeu, mas concluiu que qualquer roupa que Virgnia usasse
a enfeitaria.
Penso que cresci um pouco observou Virgnia diante do espelho de uma loja.
Precisamente seis centmetros. comum acontecer isso quando se fica de cama
por muito tempo.
Virgnia no podia ainda crer que mudara tanto. Seus cabelos, devido ao contato
com o sol, perderam aquele aspecto opaco. Tinham um toque dourado, como o sol ao
amanhecer.
Cada dia tia Ella May a instrua sobre a etiqueta da Inglaterra
Por exemplo, a senhora mais importante presente ao jantar sempre a primeira a
se retirar da sala, e as outras a seguem por ordem do status que possuem.
E supondo que a pessoa no saiba de seu status?
Ento, fica em ltimo lugar replicou a tia rindo. melhor ser humilde que
pretensiosa.
Havia tanto a aprender que Virgnia resolveu ser ela mesma.
Todos sabem que sou americana disse. Alm do mais, em minha posio
de estudante de histria, no tomarei parte nas grandes recepes.
Contudo, no instante de partir, Virgnia estava amedrontada.
No quero ir, tia. Mudei de ideia. Deixe-me ficar com a senhora.
Covarde! caoou a tia. Voc nem parece americana.
Por que devo ir Inglaterra, e ser dependente de pessoas que odeio e desprezo?
No seja dependente delas. Levante a cabea sempre, menina. Lembro-me de
quando voc caiu do pnei aos oito anos de idade. Seu pai tentou consol-la, e voc
insistiu:
"Quero montar de novo. Esse animal no vai me vencer, nem mesmo que me d
uma dzia de coices".
Falei mesmo isso, tia?
Falou. Fiquei to impressionada que disse a mim mesma: "Ningum jamais
subjugar essa menina".
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E a senhora acha que vou vencer agora? Bem, no tenho vergonha de lhe dizer
que estou com medo.
Vai perder o medo ao chegar l consolou-a a tia. Lembre-se de que ser
uma pessoa pouco importante, no vai ser notada. Os ingleses em geral pensam que nos
Estados Unidos s h ndios e milionrios. Eles ignoram a existncia de gente normal,
comum, entre essas duas categorias.
E eu perteno a esse grupo.
Mas no perca nada aconselhou-a a tia. Quero, na sua volta, saber de tudo,
detalhe por detalhe. Oh, Virgnia, se eu fosse mais jovem iria com voc.
Por que no vai, jovem ou no?
E quem cuida de meus animais? De minhas galinhas, vacas, de meu jardim?
No, tenho trabalho demais para vagabundear! Ficarei muito contente aqui, esperando por
voc.
E eu ficarei muito contente ao voltar.
Ella May acompanhou a sobrinha a bordo, e despediu-se dizendo:
Cuide-se, minha querida. Peo a Deus que eu tenha acertado em envi-la para
essa aventura.
Ainda estou em tempo de desistir.
E que vamos fazer com os vestidos lindos que comprou? protestou a tia rindo.
Foram adquiridos com uma finalidade especial, e seria uma pena no us-los.
Que desculpa absurda, tia Ella May! E, muito obrigada pelas flores.
Mandei algumas para a sra. Winchester, em seu nome, Virgnia. Portanto, no se
espante quando ela agradecer.
A sra. Winchester viaja na cabine ao lado da minha?
No. Est na outra extremidade do corredor. No se esquea, Virgnia, de pagar
as contas dela, sendo possvel. A sra. Winchester no est em boas condies financeiras.
Porm, se vai me servir de dama de companhia, no seria justo que fosse paga
pelo servio?
No acha estranho uma simples estudante ter dinheiro para pagar, alm de sua
passagem, as despesas de uma dama de companhia?
Sempre esqueo do papel que represento.
Procure lembrar-se, Virgnia, para no estragar tudo.
Sou Virgnia Langholme, estudante de histria, a caminho da Inglaterra! Um dia
vou escrever um livro sobre minha aventura.
Voc a estudante de histria mais bonita que j existiu nos Estados Unidos.
Ainda acho errado conservar meu nome.
Oh, j falamos sobre isso antes. Como possvel que o duque ligue o nome
Virgnia Langholme ao da esposa, que ele acredita estar em coma? H milhares de
Virgnias nos Estados Unidos. E, no se esquea de que a imagem que o duque tem de
voc das fotografias dos jornais.
Detesto pensar nisso, tia. Aquela montanha de carne jogada no cho!
Bem, no se agite. Seu marido no a reconhecer em milhes de anos. Seria
interessante, todavia, contar ao duque, antes de voc voltar para casa, quem realmente ,
s para ver a cara dele.
Jamais farei isso! gritou Virgnia. Oua, tia Ella May, ser uma viagem
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Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)
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exploratria. Nada de dramaticidade, e no espere pelo final feliz.
No? replicou a tia num tom enigmtico. Ingleses, em geral, so muito
atraentes.
Quando ficar livre, vou eu mesma procurar um americano simptico, como tio
Clement, para me casar. Quero morar numa pequena fazenda e esquecer que sou rica.
Neste navio, pelo que posso ver dentre os passageiros, no encontrar esse tal
homem.
Acho que no concordou Virgnia.
De fato, os viajantes eram todos homens de negcios, pouco interessantes, que
passavam o tempo no bar contando piadas.
A sra. Winchester, que seria a companheira de viagem de Virgnia, falava demais e
gostava de ouvir o som da prpria voz. Mas, para alvio de Virgnia, ela sentiu-se mal
assim que o navio zarpou, e recolheu-se cabine. O mar esteve agitado nos dois primeiros
dias, mas melhorou logo aps. O assunto da conversa de todos a bordo consistia num s: o
tempo.
Sempre achei que agosto o melhor ms para se viajar os passageiros no
paravam de dizer.
Ao se cumprimentarem, trocavam invariavelmente palavras como:
Que lindo dia!
No mesmo? Que sol radioso!
Duas ou trs pessoas tentaram aproximar-se de Virgnia, perguntando sobre o
tempo. Mas ela mais que depressa dava mostras de querer ficar sozinha. Havia tanta coisa
em que desejava pensar...
Sarar de sua prolongada doena fora o mesmo que renascer. Era como se, durante
os longos meses em que permanecera inconsciente, tivesse voltado ao ventre materno e
nascido outra vez, num mundo inteiramente novo, num mundo que no possua nada em
comum com o que conhecera antes.
No seu ntimo, sentia um certo alvio por se ver livre. "Estou livre! Estou livre!" no
cessava de repetir a si mesma; livre do jugo da me; livre, no momento, das
responsabilidades e preocupaes que sua fortuna lhe causavam; livre da ansiedade acerca
do futuro. O navio era um veculo que a transportava do "ontem" para o "amanh"; e ela
deixava para trs os dias tristes do passado.
Quando a costa da Inglaterra apareceu vista, Virgnia sentiu-se como uma
conquistadora, e no teve mais medo. Estava sozinha, mas no solitria. Pela primeira vez
em sua vida ningum lhe dava ordens.
Ao pisar em solo europeu, achou at que poderia sumir sem que pessoa alguma
soubesse de seu paradeiro. Poderia ir da Inglaterra Frana, ou, se quisesse, voltar aos
Estados Unidos!
Correu para sua cabine e fez as malas. Encontrou-se com a sra. Winchester, ainda
plida e com ar doentio.
Oh, miss Langholme disse ela, procurava pela senhorita a fim de me
desculpar. Senti-me to mal o tempo todo que no pude fazer-lhe companhia. O mdico
de bordo disse nunca ter visto um paciente sofrer tanto! Detesto viagens por mar, miss
Langholme, e prefiro nadar de volta aos Estados Unidos.
Por favor, sra. Winchester, no se preocupe. Fui bastante capaz de cuidar de mim
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Barbara Cartland - Casamento em Nova Iorque (Coleo Barbara Cartland 259)
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mesma.
E agora, na Inglaterra, vai estar bem, no mesmo? H algum esperando-a no
porto?
Sim, sim. No se preocupe repetiu Virgnia. E no precisa comentar com tia
Ella May sobre seu sofrimento a bordo.
Ento, vamos guardar segredo entre ns duas. Porm, em Londres, v visitar-
me. Aqui est meu endereo acrescentou ela dando a Virgnia um pedao de papel.
Meu marido e eu teremos prazer em receb-la. Nossa casa pequena, mas h um quarto
de hspedes no sto. Espero que no se importe de dormir l.
Claro que no. muito amvel, sra. Winchester. E muito obrigada por tudo.
Falhei lamentavelmente em minha inteno de lhe servir de companhia.
Desculpe.
A sra. Winchester comeava mais uma vez com a mesma cantilena, e Virgnia no
via a hora de se ver livre dela. Chamou o comissrio de bordo para carregar sua bagagem,
j com as etiquetas: "Miss Virgnia Langholme. Destino: Castelo Ryll, Kent."
Virgnia, na verdade, no contava com algum esperando-a. Mas, no cais, um
senhor idoso, de chapu-coco, foi ao seu encontro e perguntou:
Miss Virgnia Langholme?
Sim, sou eu.
Sua Graa, o duque de Merrill, pediu-me para escolt-la at o trem. A carruagem
nos aguarda, e os carregadores j transportaram sua bagagem.
Virgnia foi conduzida a uma luxuosa carruagem que a levou estao ferroviria.
Espero que faa boa viagem disse o homem, acomodando-a num vago de
primeira classe, dirigindo-se em seguida para o de segunda classe.
Obrigada agradeceu Virgnia.
A seus ps estava uma cesta de piquenique com pat, pedaos de codorna e uma
asa de frango. Para sobremesa havia profiteroles recheadas de creme, trs tipos de queijo,
biscoitos, e uma profuso de frutas: enormes pssegos, uva moscatel, pras descascadas;
para beber, gua fresca e uma garrafa de caf enrolada em flanela.
"Acho que uma amostra do que vou ter no castelo", pensou Virgnia. "Ficarei
logo gorda como h um ano."
Ela serviu-se da asa do frango e de algumas frutas. Tomou apenas gua, deixando o
caf intato.
"Estou muito nervosa para comer", disse a si mesma, e comeou a contar as horas
at a chegada a Ryll.
Chegaram numa pequena plataforma onde estava escrito: "Para o Castelo Ryll,
somente".
Carregadores levaram sua bagagem a uma luxuosa carruagem. Os arreios de prata
dos cavalos brilhavam ao sol da tarde, e na boleia havia o cocheiro e um cavalario.
O mesmo homem de chapu-coco que a esperara no cais estendeu-lhe a mo,
despedindo-se.
No vai comigo? perguntou-lhe Virgnia.
Oh, no, miss. J cumpri minha tarefa.
Ento, at logo. E muito obrigada.
Foi um prazer servi-la, miss.
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"Bem", pensou Virgnia acomodando-se no assento estofado. "Se Sua Graa trata
assim uma simples estudante, como trataria uma duquesa?"
Ela sorriu. Havia algo de fascinante em penetrar incgnita no que ela chamava de "a
toca do leo".
Em poucos minutos chegaram no castelo Ryll. Havia enormes carvalhos ladeando o
porto. As torres eram to grandes que no pareciam pertencer a uma residncia
particular. Pombas sobrevoavam os telhados. Jardins e matas circundavam o majestoso
edifcio.
No lago nadavam cisnes brancos e pretos, e grande nmero de patos.
Que lindo! sussurrou Virgnia. Estou encantada! Desceu da carruagem cuja
porta foi aberta por um criado de libr.
Quando comeou a subir as escadas do castelo, saam pela porta da frente,
escorraados por algum, dois homens. Atrs deles vinha um cavalheiro alto, moreno,
gritando furiosamente:
Saiam daqui! Se os encontrar de novo nesta casa, toro-lhes o pescoo. Ouviram
bem?
Mas... a duquesa... nos pediu um dos homens gaguejava, o rosto plido de
medo.
O que a duquesa pediu ou no pediu no me interessa. Obedeam minhas
ordens. Saiam e nunca mais voltem! Se no fizerem o que estou mandando, pior para
vocs. Agora, vo!
Havia tanta fria naquele tom de voz que os dois homens correram; um deles quase
caiu ao descer os degraus para o ptio.
Virgnia ficou paralisada, imvel, no sabendo o que fazer. O homem furioso
desapareceu logo, e um mordomo, de cabelos grisalhos, surgiu porta.
Miss Virgnia Langholme, creio? Venha por aqui, senhorita, por favor.
Que... houve com aqueles homens? ela perguntou ao mordomo.
Este apenas explicou:
Sua Graa est furioso hoje.
Furioso?! repetiu Virgnia. No cabia a ela criticar o anfitrio.
Embora ele fosse seu marido...
CAPTULO IV
Um lacaio, de mais de um metro e oitenta de altura, majestoso em sua libr verde e
prateada, acompanhou Virgnia ao segundo andar.
Veio dos Estados Unidos, miss? indagou ele, gentilmente.
Vim. Aportei em Southampton esta manh.
Tenho muita curiosidade acerca dos Estados Unidos. Nunca pensei que
houvesse gente como a senhorita por l. Achei que o pas todo era habitado por ndios e
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milionrios.
Ele riu da prpria piada e Virgnia concluiu que, por ser ela uma estudante
americana, podia ser tratada com informalidade, No se aborrecia por isso, apenas
divertia-se. E, quando uma criada foi ajud-la a desfazer as malas, conversou com a
mesma despreocupao.
Espero que goste daqui, miss. diferente dos Estados Unidos, isso eu garanto.
Por que tem tanta certeza?
Oh, bem, porque os americanos no so como ns. E desconfio que suas casas
no sejam como este castelo, nem mesmo a dos milionrios.
verdade. Temos casas grandes, mas so exatamente assim. Virgnia
impressionou-se com a beleza do interior do castelo. A enorme escadaria em curva, de
carvalho, possua entalhes magnficos. Os quadros das paredes eram todos de artistas
famosos, no apenas da escola inglesa, como do renascimento italiano e do holands.
Ficou encantada ao reconhecer um famoso Van Dyck que vira num livro de arte.
Seu quarto era confortvel e atraente, embora pequeno. O banheiro ficava no fim de
um longo corredor. Virgnia ficou por muito tempo olhando pela janela para o lago abaixo,
e para as enormes e centenrias rvores do parque.
No centro do lago uma pequena ilha onde fora construdo um templo grego. Ela
queria explorar tudo: os canteiros de rosas, as matas a distncia, e os estbulos que se
localizavam na ala oeste do castelo.
Tudo era to fascinante que Virgnia, por instantes, esqueceu-se da razo de sua
visita Inglaterra. Ansiava por penetrar num mundo do qual conhecia muito pouco, e que
se apresentava cheio de surpresas.
Trocou de roupa. Ps um vestido de musseline florida, simples porm elegante,
comprado numa loja da Quinta Avenida.
A musseline branca, com pequenas flores estampadas, fazia-a muito jovem e ao
mesmo tempo atraente. Seus cabelos prateados, presos na nuca, eram to cheios de vida
que lhe emolduravam a face como uma aurola de elegncia clssica.
Algum bateu porta.
Entre! falou Virgnia.
Uma senhora de meia-idade, usando pincen e um costume de sarja branca,
apresentou-se:
Sou Marjorie Marshbanks, secretria de Sua Graa a duqueza. Precisa de alguma
coisa?
De nada, muito obrigada. Meu nome Virgnia Langholme, e tenho sido bem
tratada desde que desembarquei.
Fazemos o possvel para pr nossos hspedes vontade. Acho que a senhorita
adoraria tomar uma xcara de ch agora. Quer descer comigo? Vou lhe mostrar onde fica a
saleta, e depois a levarei para se encontrar com sua Graa a duquesa.
Virgnia pegou a bolsa, pesada e um tanto grande para ser carregada pela casa; mas
no queria deix-la no quarto antes de encontrar um lugar seguro, pois tinha considervel
quantia de dinheiro.
claro tia Ella May dissera antes da viagem que voc pode enviar seu
dinheiro por intermdio do banco, mas isso foraria explicaes. Acho que o melhor
levar uma boa quantia com voc. Se precisar de mais, escreva-me que eu providenciarei a
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remessa atravs de seus advogados.
No quero que eles saibam onde estou.
Tomarei cuidado para que isso no acontea. Mesmo agora, tirei o dinheiro de
que voc vai precisar de minha conta, e no da sua.
No far falta para a senhora, tia?
Claro que no. Se eu necessitar de alguma coisa, direi que para voc. Mas,
nesse meio tempo, terei a satisfao de financi-la, querida. Uma pobre viva de um
fazendeiro sem sucesso na vida, emprestando dinheiro sobrinha milionria... Imagine!
Quando eu voltar, comprarei para a senhora a fazenda mais linda dos Estados
Unidos.
No quero nada disso. No me mudaria daqui nem que fosse para o palcio do
x da Prsia. E o mais estranho que tenho tudo que desejo, ainda que ningum acredite.
No h nada mais que voc me possa dar, Virgnia, alm de seu amor.
Isso a senhora j tem. Virgnia beijou a face da tia. toda famlia agora, sabe
disso, pai, me, irmos, primos e tios. Se existir outro parente meu, no quero v-lo. A
senhora tudo que desejo ter.
Fico com vontade de chorar quando voc fala dessa maneira replicou a tia Ella
May, com lgrimas nos olhos.
Virgnia, ao pegar a bolsa para descer com a secretria, decidiu tomar mais cuidado
com o dinheiro da tia do que queria com seu prprio.
"Espero que haja em meu quarto uma gaveta com chave", pensou. "Porei tudo em
vrios envelopes a fim de no despertar suspeitas."
Marjorie Marshbanks tagarelava alegremente.
Tenho muito prazer em conhec-la, miss. Sempre desejei ser bibliotecria, mas
nunca tive tempo de estudar. A duquesa me ocupa o tempo todo, principalmente quando
h festas no castelo. Membros da realeza se hospedam aqui com suas damas de
companhia, valetes, empregados e cocheiros, o que requer enorme trabalho para acomod-
los.
E a senhora organiza tudo?
Claro! A duquesa confia plenamente em mim. Quantas vezes ela me disse:
No sei o que faria sem voc, Marshy.
Este castelo to grande, exige muito trabalho! observou Virgnia.
Os empregados esto aqui h anos, e conhecem bem suas obrigaes. Mas so os
hspedes que causam dificuldades. Oh, minha cara, se soubesse o problema que
acomod-los nos lugares certos!
Ela riu ao ver que Virgnia no entendia a aluso. Por isso explicou:
Depois que voc morar na Inglaterra algum tempo, vai ver que existe na
sociedade uma coisa que se chama "tato". Por exemplo, um rapaz charmoso enamora-se de
uma moa tambm charmosa; ento, poderia resultar numa tragdia pr o rapaz num
andar e a moa no outro.
Quer dizer... Virgnia comeou a falar.
Quer dizer isso mesmo que estou dizendo interps miss Marshbanks.
Claro, esse tipo de gafe no acontece no castelo Ryll, porque a duquesa e eu tentamos
evitar.
As duas chegavam saleta, mobiliada com um piano, um confortvel sof, e vrias
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poltronas.
Meu escritrio fica em cima, perto dos aposentos da duquesa explicou miss
Marshbanks. Mas aqui que eu descanso quando tenho tempo, e onde tomo minhas
refeies. A mesa fica perto da janela, e agradvel apreciar os jardins num dia de sol.
Deve ser um grande prazer almoar aqui concordou Virgnia.
E a comida boa. Muito boa. No como em certas casas onde a secretria mal
alimentada. No aguentaria esse tratamento. O chef sabe de minhas preferncias, e a
senhorita tem de me dizer das suas.
Como muito pouco replicou Virgnia.
Pode-se ver. Precisa engordar. Eu tenho orgulho de meu peso.
E sente-se bem assim? indagou Virgnia que achava miss Marshbanks quase
obesa.
Minha querida miss Langholme, o mais importante ter sade. Sem mim, este
lugar seria um caos. A duquesa no passa de um beb no que se refere a finanas, ao
cuidado da casa, e organizao de centenas de pequenos itens. Eu sou a alma desta casa,
como a senhorita ver em breve.
Um lacaio trouxe a bandeja com o ch. Havia diferentes tipos de pes e bolos.
Deve estar faminta aps a longa viagem comentou miss Marshbanks. No
faa cerimnia e coma.
Virgnia serviu-se de um pedao de po com manteiga apenas. Porm miss
Marshbanks experimentou de tudo, e Virgnia surpreendeu-se por ela no ser ainda mais
gorda.
No est com frio? indagou a secretria. Seu vestido muito leve para
nosso clima. Espero que tenha trazido roupas mais quentes. No outono a temperatura
cai consideravelmente.
Sim, eu trouxe roupas quentes, mas no vou ficar aqui por muito tempo.
No? miss Marshbanks ergueu as sobrancelhas. A duquesa disse que a
senhorita iria trabalhar numa pesquisa muito importante.
Vou concordou Virgnia. Mas penso que no permanecerei por longo
tempo num s lugar.
Bem, agora melhor irmos ter com Sua Graa. Ela sempre descansa a esta hora.
Deve estar no quarto.
As duas mulheres foram ao segundo andar. Virgnia s queria encontrar tempo
para apreciar cada quarto, cada pea do mobilirio.
Miss Marshbanks bateu numa porta. Ela e Virgnia entraram num grande quarto;
havia sobre as mesas vasos cheios de flores de estufa e inumerveis objetos de prata. Sobre
belas estantes grande quantidade de bibels de porcelana de Dresden e tanto as poltronas
como o sof possuam infinidades de almofadas de todos os formatos e cores.
A duquesa repousava num sof-cama perto da janela. A primeira impresso de
Virgnia foi de que ela era mais jovem do que pensara. Porm, ao chegar perto, notou que
fora uma iluso; a face da duquesa estava empoada e os lbios pintados. Vestia uma tnica
transparente, lils, de chifon pregueado, cheia de fitas e rendas. Usava um colar de prolas
de trs voltas, brincos e pulseiras de diamantes.
O que h, Marshy? indagou a duquesa com voz petulante.
Trouxe miss Virgnia Langholme para conhec-la, Vossa Graa. Lembra-se de
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que ela era esperada para hoje, dos Estados Unidos?
Oh, sim, verdade!
A duquesa estendeu a mo para Virgnia.
Foi muita bondade sua receber-me em sua casa, duquesa...
Ficamos encantados com sua visita, no foi mesmo, Marshy? Nossa vasta
biblioteca permanece vazia ano inteiro, e acho que ningum folheia um livro que seja.
No diga isso, Vossa Graa! protestou miss Marshbanks. Eu leio alguns
livros s vezes.
Bobagem! No acredito! Aqueles livros no so nada interessantes. Voc prefere
assuntos romnticos, e seu quarto est repleto desses livros.
Oh, Vossa Graa! No diga isso!
E agora, v embora, Marshy. Quero conversar com miss Langholme a ss.
Preciso saber de meus amigos l dos Estados Unidos disse a duquesa, e miss
Marshbanks retirou-se relutantemente do quarto.
Em seguida, dirigindo-se a Virgnia, a duquesa pediu:
Fale-me sobre seu pas. Tenho muitos amigos l, e tive uma amiga em particular,
que ajudava em minhas obras sociais sempre que eu lhe pedia. Chamava-se sra.
Stuyvesant Clay. Conheceu-a, por acaso?
Antes que Virgnia pudesse arranjar um meio de mentir convincentemente, a
duquesa continuou:
No, claro que no. Ela morava em Nova York e era rica, muito rica mesmo.
Sinto falta dela! A senhorita rica, miss Langholme?
De novo, Virgnia no teve tempo de dar uma resposta, porque a duquesa
prosseguiu.
Como haveria de ser rica? Meu filho disse que era uma estudante ou coisa
parecida. que sempre penso que os americanos so ricos. Porm, diga-me uma coisa, no
havia dois cavalheiros na estao quando a senhorita desembarcou?
No, havia apenas um replicou Virgnia.
No entendo. Tinha encontro marcado com eles esta tarde. No apareceram at
agora.
Virgnia refletiu se devia ou no mencionar o drama que presenciara ao chegar ao
castelo, mas a duquesa falou:
Se a senhorita fosse rica, poderia me ajudar agora. H uma coisa... uma coisa
muito importante para a qual necessito de dinheiro.
Muito dinheiro? perguntou Virgnia.
Muito! A duquesa suspirou. Contudo, um pouco tambm serviria. Pode me
ajudar? Detesto pedir-lhe esse favor, porm at cinco libras viriam a calhar.
Virgnia ficou atnita ante to estranho pedido, mas disse:
Acho que... cinco libras... posso lhe dar.
Pode? Ento, d-me agora, por favor.
Virgnia abriu a bolsa. Por sorte, escondera a maior parte do dinheiro num
compartimento separado. Ela trocara seus dlares aos poucos, no navio. Pegou cinco libras
de ouro e passou-as s mos da duquesa.
Obrigada! Muito obrigada, querida! muito bondosa! Esse dinheiro vai me
ajudar bastante!
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Vossa Graa disse que a sra. Stuyvesant Clay costumava contribuir para suas
caridades?
Minhas... minhas... caridades? Oh, sim, naturalmente! replicou a duquesa.
uma pena que tenha morrido. Na verdade...
Ela ia falar mais quando a porta se abriu e o duque entrou. Agora Virgnia podia
v-lo bem, e constatou que era, de fato, muito atraente. Porm, tinha uma expresso de ira
no rosto ao se aproximar da me.
Oh, Sebastian, enfim voc veio me ver! exclamou a duquesa.
Demorei-me, eu sei respondeu o duque. Voc esperava dois homens, me?
A duquesa corou ao replicar:
Sim, esperava. Sabe o que houve com eles?
Disse-lhes que, se voltassem aqui, eu lhes torceria o pescoo.
Mandou-os embora? gritou a duquesa.
Mandei-os. Sabe muito bem, me, que no possui nada que possa ser vendido.
Eu ia apenas mostrar-lhes duas de minhas coisas declarou a duquesa guisa
de desculpa.
So por acaso suas jias? No tem mais nenhuma que lhe pertena, so todas do
patrimnio da famlia. J disps do que era s seu, h anos.
O que no entendo, Sebastian, por que voc mandou embora pessoas que
vieram me ver, sem me consultar.
Sinto muito, me. E ainda disse a Matthews que se ele permitir a entrada desse
tipo de gente no castelo, ser despedido.
Despedido? Matthews trabalha conosco h quase quarenta anos! Voc deve estar
louco! Realmente, Sebastian, est exorbitando de seus poderes. No sou uma criana, e
nem uma louca para ser tratada dessa maneira.
Trato-a com todo o respeito e considerao, mas no permitirei que venda as
jias da famlia para alimentar seu vcio do jogo, noite aps noite. E, por que precisar de
tanto dinheiro? Prometeu-me que no faria apostas altas!
E no fao. No sou idiota, menino! Mas pare de falar de assuntos pessoais e
deixe-me apresent-lo nossa hspede dos Estados Unidos.
O duque fitou Virgnia e sua expresso mudou imediatamente.
Desculpe-me disse ele , no percebi que havia uma pessoa estranha no
quarto. Julguei que se tratasse de miss Marshbanks.
Ela no se parece nada com Marshy, parece? interrompeu a duquesa.
uma moa linda e espero que goste de trabalhar aqui na nossa biblioteca.
O duque estendeu a mo a Virgnia.
Espero tambm, como disse minha me, que goste de trabalhar aqui. Um
sorriso transformou-lhe o semblante totalmente.
Sei que vai ser interessante replicou Virgnia, tentando no se mostrar tmida
e nem embaraada.
Havia qualquer coisa de artificial em tocar a mo do homem com que se casara,
percebendo que ele a olhava com admirao, sorrindo amigavelmente.
Desculpe por minha indelicadeza acrescentou ele. Permita-me agora que a
acompanhe biblioteca?
muita bondade sua sussurrou ela, um pouco intimidada.
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Boa ideia aprovou a duquesa. Preciso descansar. No fique zangado
comigo, Sebastian. No fiz nada de errado.
Apenas porque cheguei a tempo de impedir replicou o duque com rudeza.
Ele deu um suspiro e foi abrir a porta para Virgnia. Os dois desceram as escadas
em silncio. No hall, o duque comeou a explicar a Virgnia a histria do castelo,
construdo na poca dos normandos, e aumentado durante o reinado de Henrique VIII.
Parte do castelo incendiara-se no sculo XVIII, e o velho duque, pai de Sebastian, gastara
um bom dinheiro adicionando uma nova ala trinta anos atrs.
um pot-pourri de cada gerao terminou o duque. Foi o rei Carlos quem
investiu sir Thomas Ryll para os servios da coroa. Tornamo-nos condes no reinado da
rainha Anne e de George IV.
Interessante declarou Virgnia, notando, pelo entusiasmo do duque, que a
famlia significava muito para ele.
Na biblioteca, o duque disse a Virgnia:
Aqui esto os tesouros mais inestimveis de toda casa.
Virgnia soubera, pela tia, que a biblioteca era linda, mas nunca imaginou que fosse
to grande. Havia livros do cho ao teto abobadado, com figuras de deuses do Olimpo. As
janelas altas tinham vitrais coloridos por onde penetravam os raios solares, lanando no
cho um verdadeiro caleidoscpio. Uma escada em caracol conduzia galeria, um tipo de
mezanino. Os livros eram todos encadernados em couro, forrando as paredes por
completo.
fantstico! exclamou Virgnia batendo palmas.
Achei que essa seria sua opinio disse o duque. Cada vez que entro aqui,
me emociono com a grandiosidade do local. Vai gostar de trabalhar nesta biblioteca.
Aquela pode ser sua escrivaninha. Acrescentou ele, apontando para uma mesa no meio
da sala. Espero que encontre tudo o que precise.
Encontrarei com certeza replicou Virgnia.
Porm, aps haver mostrado a biblioteca, o duque no se retirou. Apoiou-se no
consolo da lareira e disse:
Voc no se parece nada com o que eu esperava. Virgnia corou.
O que Vossa Graa esperava?
Uma jovem sem beleza, antiptica e cheia de espinhas.
Oh, que maldoso! exclamou Virgnia.
Bem, retiro as espinhas.
Nem sempre uma pessoa mostra no fsico como por dentro
Virgnia sorriu.
Voc fala como se quisesse insinuar alguma coisa replicou o duque.
Virgnia desviou o olhar.
"Ele mais observador do que eu pensei. Preciso tomar cuidado."
Falava de um modo geral disse ela em voz alta.
Espero que algumas vezes encontre tempo para conversar comigo pediu o
duque. No h muitas pessoas atualmente que lem, em especial entre mulheres jovens.
Talvez Vossa Graa tenha tido pouca sorte entre suas conhecidas aventou
Virgnia.
possvel, e mais uma razo para querer conversar com voc.
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Desculpe, mas... Temo estar ocupada demais. Tenho tanto a fazer em to pouco
tempo!
Por que essa pressa? Enquanto estiver aqui, vai desejar conhecer a Inglaterra,
no vai? um lugar lindo! No pode deixar de ver os locais histricos de Londres!
Duvido que tenha tempo para tanto.
Todo o mundo tem pressa hoje em dia. O duque suspirou. E acho que se
perde muito com essa pressa. Muito breve teremos centenas desses novos veculos, os
automveis, rasgando as estradas, levantando ondas de poeira, e no dando s pessoas a
oportunidade de apreciar as belezas da paisagem.
O duque foi at uma das janelas e abriu-a.
Venha aqui ordenou a Virgnia.
Ela obedeceu e viu uma longa alia de pinheiros que se estendia at uma fonte que
jorrava suas guas para o cu. E, mais adiante, arbustos se confundiam com o horizonte
nublado, onde o sol do acaso incidia sobre a floresta negra.
muito lin