Balanco da década 2001-2010

16
2001 2010 UMA DÉCADA EM BALANÇO SAÚDE EDUCAÇÃO CULTURA POLÍTICA AMBIENTE DESPORTO ECONOMIA Este suplemento faz parte integrante do DIÁRIO AS BEIRAS de 3 de Janeiro de 2011 e não pode ser vendido separadamente Na entrada de 2011, o DIÁRIO AS BEIRAS passa em revista os principais acontecimentos que marcaram a última década na região Centro. E destaca as figuras do ano 2010. Com o sublinhar do melhor e pior do passado, este documento ajuda a refletir um 2011 pleno de decisões e acontecimentos que se desejam de sucesso

description

Balanço da década na região Centro, publicado na edição de 3 de Janeiro de 2011 no DIÁRIO AS BEIRAS

Transcript of Balanco da década 2001-2010

Page 1: Balanco da década 2001-2010

2001 2010UMA DÉCADA EM BALANÇOS A Ú D E E D U C A Ç Ã O C U LT U R A P O L Í T I C A A M B I E N T E D E S P O R T O E C O N O M I A

Este

sup

lem

ento

faz

part

e in

tegr

ante

do

DIÁ

RIO

AS

BEI

RAS

de 3

de

Jane

iro d

e 2011 e

não

pod

e se

r ve

ndid

o se

para

dam

ente

Na entrada de 2011, o DIÁRIO AS BEIRAS passa em revista os principais acontecimentos

que marcaram a última década na região Centro. E destaca as figuras do ano 2010.

Com o sublinhar do melhor e pior do passado, este documento ajuda a refletir um 2011 pleno de decisões

e acontecimentos que se desejam de sucesso

Page 2: Balanco da década 2001-2010

2 

20012010 AMBIENTECULTURADESPORTOECONOMIAEDUCAÇÃOPOLÍTICASAÚDE

A água no centro do novo séculoUma década que fica marcada por grandes avanços de natureza legislativa, em matéria de Direito do Ambien-te, mas que não tiveram, ainda, a correspondência práti-ca que se desejaria. No rescaldo, ficam os extraordinários avanços no que respeita à cobertura nacional por redes de abastecimento de água potável, mas também a cons-ciencialização coletiva da relevância deste escasso e pre-cioso bem.

. Paulo Marques [email protected]

Há vinte anos, Portugal era um país feio e sujo. No dealbar do novo século, abundavam os projetos e as vontades revolucionárias de inverter décadas de degradação ambiental. Desde então, muito se fez.

Tudo começou – vale a pena recordar – com José Sócrates, que, como se sabe, foi o ministro do Ambiente do segundo governo de António Guterres, até ao fim do primei-ro trimestre de 2002, portanto. Ao seu con-sulado se deve, reconheça-se, a coragem de romper imobilismos e arriscar soluções... de risco político notório, como a co-incineração de resíduos industriais perigosos

Mas o atual primeiro-ministro vai ficar para sempre ligado a medidas ambiental-mente tão relevantes quanto o programa de erradicação de lixeiras, o objetivo nacional de abastecimento de água e de recolha, tra-tamento e rejeição de resíduos sólidos urba-nos e, também, os programas de requalifica-ção ambiental das cidades, Polis – aqui com passos de “gigante”, nos casos que beneficia-ram, em primeira instância, as principais ci-dades de média dimensão da região Centro, como as capitais de distrito (Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria e Viseu) e outras, como a Covilhã.

Nos tempos mais recentes, embora já co-

mo primeiro ministro, há que creditar-lhe a séria aposta que tem sido feita na promoção das energias renováveis.

Sistemas multimunicipaisEm detalhe, pode dizer-se que a década co-

meçou da melhor forma, com o fim de linha para as lixeiras a céu aberto, em todo o país. Aqui, como noutras áreas, a estratégia passou pela criação de empresas com uma forte com-ponente multimunicipal, mas sempre sus-tentadas e/ou impulsionadas pela Empresa Geral de Fomento – já então integrada, como subholding para a área dos resíduos no Grupo Águas de Portugal (AdP).

Foi, de resto, a partir deste gigante econó-mico em crescimento acelerado que muitos outros sistemas se desenvolveram e estão a desenvolver. É, desde logo, o caso do abaste-cimento de água e das redes de saneamento. Aos poucos, o país – e também a região Cen-tro – foi sendo como que “retalhado” por sis-temas multimunicipais.

A água, diga-se, assume-se cada vez mais como fator central das políticas ambientais e de desenvolvimento sustentável. Bem ca-da vez mais escasso, a água com qualidade já não é mais o que foi, no passado e o pa-ís (e uma boa parte do mundo) interioriza uma consciencialização muito significativa da importância de salvaguardar a água e a sua qualidade. O reverso da medalha surge,

entretanto, com os sinais cada vez mais cla-ros de que os preços vão disparar e, também, de que grandes grupos privados olham o se-tor com avidez.

(Des)ordenamentoMais devagar se avançou, infelizmente,

nos meandros do ordenamento do território – área sempre muito permeável a fatores ex-ternos e, designadamente, ao desenvolvimen-to económico e à pressão imobiliária. Esta re-alidade afeta áreas tão diferentes como a orla costeira ou zonas ambientalmente sensíveis, algumas mesmo protegidas, onde têm vindo

em destaque2001 – 14 anos depois da publicação da lei de bases do ambiente, Portugal vê finalmente aprovada uma Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e da Biodiversidade. Entram em reta final o Plano Nacional da Água e os Planos de Bacia Hidrográfica.

2002 – Depois de anos a fio a selar an-tigas lixeiras ou a transformá-las em modernos aterros sanitários, a última lixeira a céu aberto, ainda em funciona-mento, foi selada, em Évora. Para che-gar a esta situação ambiental foram ne-cessários 935 milhões de euros e cinco anos e 28 dias.

2003 – É criada, em maio, a primei-ra empresa municipal do concelho: a Águas de Coimbra, substituindo uma estrutura de grande prestígio: os Servi-ços Municipalizados de Água e Sanea-mento de Coimbra.

Setembro de 2004 – É selada, em se-tembro, a célula 1 do Aterro de Taveiro, explorado pela ERSUC. Na mesma al-tura, entra em funcionamento a célula que atualmente está em funcionamen-to e que se prevê que feche, definitiva-mente, no último trimestre deste ano.

Julho de 2005 – No dia 1 de julho, e na sequência de um processo que se ini-ciou pouco depois de 2000, o Governo de José Sócrates, o PSD e o CDS apre-sentam na Assembleia da República projetos de “Lei Quadro da Água”. A 29 de dezembro a lei 58/2005 é aprova-da, estabelecendo as bases e o quadro institucional para a gestão sustentável das águas.

2006 – No ano da publicação oficial dos planos estratégicos para o setor das águas (PEAASAR) e dos resíduos sólidos urbanos (PERSU), o Instituto de Resíduos (a que sucedeu a Agência Portuguesa do Ambiente, em 2007) é designado como Autoridade Nacional de Resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de setembro).

2007 – Dados oficiais apontam para que a área ardida é a menor dos últi-mos cinco anos. Em 2009, porém, a GNR faz “estalar a bronca”, ao denun-ciar a manipulação de dados.

Julho de 2008 – Entra em vigor a 2.ª fase do Sistema de Certificação Energética e da Qualidade do Ar Inte-rior (SCE). Todos os edifícios novos, in-dependentemente da área ou fim, são obrigados a possuir uma declaração de conformidade regulamentar.

2009 – Os líderes políticos mundiais falham o acordo em Copenhaga, para que o combater às alterações climáti-cas, depois de 2012.

Os programas Polis, de requalificação das principais cidades médias, foram dos mais significativos empreendimentos públicos na área do ambiente

Desenvolveu-se o tratamento de águas residuais

Page 3: Balanco da década 2001-2010

3 

AMBIENTECULTURADESPORTOECONOMIAEDUCAÇÃOPOLÍTICASAÚDE 20012010

a ser autorizados grandes projetos turístico-imobiliários, menosprezando a preservação das espécies e habitats.

Ainda assim, o Centro não será das regi-ões mais afetadas, podendo mesmo dizer-se que, aqui, as áreas protegidas são ainda o ga-rante para a proteção do que a região tem de melhor: as suas gentes e cultura, as suas pai-sagens e o seu património natural.

Poluição no Lis e coincineraçãoNa região Centro, porém, subsistem ainda

graves problemas do foro ambiental. A erosão da orla costeira é um exemplo. Tal como é o

grave problema de poluição no rio Lis, provo-cado pelas descargas repetidas e criminosas dos efluentes com origem nas suiniculturas. Há, como se sabe, compromissos firmados, fi-nanciamentos garantidos e projetos em curso. Mas o problema persiste.

Por fim, como não pode deixar de ser, va-le a pena voltar a referir a chaga da coincine-ração em Souselas – que tanto mexeu e fez mexer Coimbra e a sua região, num proces-so político-ambiental que está longe de estar sanado, não obstante as sentenças judiciais já transitadas em julgado.

Em suma, Portugal avançou muito, em ter-

mos ambientais. E, no que respeita ao Direi-to do Ambiente, encontra-se mesmo ao nível, quando não até à frente, da realidade de outros Estados Europeus. O problema – há sempre um problema e, em Portugal, é um problema crónico – é a dificuldade em fazer valer essas boas leis que deveriam proteger o ambiente e a qualidade de vida dos cidadãos.

Não obstante, no todo europeu e, sobre-tudo, em comparação com os países da cha-mada Europa Ocidental, os atrasos são ainda muito significativos. Basta atentar, por exem-plo, na péssima qualidade do ar nos principais centros urbanos.

as figuras

José Sócrates – A primeira década do novo século “apanhou-o” como mi-nistro do Ambiente e poucos imagi-nariam quanto a sua herança haveria de marcar os anos seguintes. Para o bem e para o mal. Algumas das suas medidas haveriam de ser contestadas. Outras corrigidas. Mas nenhuma er-radicada. A história dirá se a sua pas-sagem pelo ambiente se sobreporá à liderança do país...

Castanheira Barros – Advogado es-pecializado em Criminologia, era, há uma década, um quase desconhecido. Fez da luta contra a coincineração em cimenteiras a sua cruzada. Fê-lo mu-nido das suas armas – a ciência jurídi-ca –, travando sucessivas batalhas judi-ciais, quer em Coimbra quer na penín-sula de Setúbal. Foi sempre perdendo. Mas, tal como no PSD, partido de que é militante, desistir não é o seu lema. E a verdade é que se, hoje, ainda sub-siste algures uma réstea de interesse pelo destino dos resíduos industriais perigosos a ele se deve.

Dulce Pássaro – Depois de Elisa Ferreira, a área do Ambiente voltou a ter uma mulher como titular da pas-ta, no Governo. Mas, ao contrário da agora eurodeputada, a atual ministra – que é oriunda de Oliveira do Hospi-tal, onde foi, até há pouco, membro da assembleia municipal – prima por uma discrição que roça a invisibili-dade, com reflexos notórios nas cada vez maiores fragilidades, ao nível da decisão política, que o setor atravessa.

Os programas Polis, de requalificação das principais cidades médias, foram dos mais significativos empreendimentos públicos na área do ambiente

A problemática dos fogos e a reciclagem também marcam a década

Arquivo-Luís Carregã

Arquivo-Paulo Leitão Arquivo-Paulo Leitão Arquivo

Arquivo-Gonçalo Manuel Martins

Arquivo-Gonçalo Manuel Martins

Arquivo

Page 4: Balanco da década 2001-2010

4 

20012010 AMBIENTECULTURADESPORTOECONOMIAEDUCAÇÃOPOLÍTICASAÚDE

A década deSanta Clara-a-VelhaSubmerso durante quatro séculos, o mosteiro medieval de Coimbra alimentou polémi-cas e acabou por reunir consensos em torno da melhor forma para a sua conservação e devolução à cidade. Um ano depois de abrir portas, é o “melhor” museu português.

. Lídia Pereira [email protected]

A década que, em Coimbra, quase teve início com mais uma das inúmeras ocasiões perdi-das para a cidade – Capital Nacional da Cultura 2003 –, foi marcada, indelevelmente marcada, por um projeto que, está provado, tem tudo pa-ra se afirmar dentro e fora do país: depois de 400 anos submerso pelas águas do Mondego, o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha renasceu em todo o seu esplendor e acaba de ser considerado o “melhor” museu português pela Associação

Portuguesa de Museologia. Isto depois de ter conquistado outras impor-

tantes distinções, de que são exemplo o Prémio Internacional AR&PA 2010, atribuído pela Jun-ta de Castela e Leão, e o Prémio Europa Nostra, na área da conservação e restauro, entregue em junho último em Istambul, na Turquia (no âm-bito da Capital Europeia da Cultura).

Aberto ao público em abril de 2009, o Mos-teiro de Santa Clara-a-Velha está a aproximar-se dos 100 mil visitantes. De então para cá, num processo em que o enquadramento científico, nomeadamente na área da arqueologia – Santa

Clara-a-Velha é hoje o mais importante “sítio” medieval da Europa –, tem sido de um rigor ab-soluto e reconhecido, os 7,5 milhões de euros financiados pelo Programa Operacional da Cultura serviram para construir uma “cortina” para contenção das águas e lançar um concur-so internacional para a valorização da ruína e espaço envolvente (arquitetos Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez), com o restauro da igreja e claustro, escavações arqueológicas e a construção de um edifício de raiz para o Cen-tro Interpretativo.

Mas a década da cidade em termos

em destaquenovembro de 2000 – Lançada a pri-meira pedra para a construção do Centro de Artes e Espectáculos (CAE) da Figueira da Foz, num projeto do arquiteto Luís Marçal Grilo, que ha-via de ser inaugurado a 1 de Junho de 2002, tendo-se convertido num pólo de atração e projeção do concelho a nível regional e nacional.

Outubro de 2002 – A Escola da Noi-te instala-se na Oficina Municipal do Teatro de Coimbra, a aguardar a con-clusão da obra do Teatro da Cerca de São Bernardo. Mais tarde, a infraes-trura do Vale das Flores seria ocupada pelo Teatrão.

Janeiro de 2003 – Coimbra Capital Nacional da Cultura teve início com um programa a três tempos: a exposi-ção “Escultura de Coimbra: do Gótico ao Maneirismo” abriu na Sala da Ci-dade; na Casa da Cultura inaugurou-se uma outra exposição, sobre Miguel Torga, integrada no projecto “A Rota dos Escritores”; no TAGV apresentou-se a Orquestra Gulbenkian, dirigida pelo maestro Yaron Traub e acompa-nhada ao piano por Pedro Burmester.

Abril de 2003 – Constituição do Jazz ao Centro Clube (JACC), a partir de Jazz ao Centro – Encontros Interna-cionais de Jazz de Coimbra, no âm-bito de Coimbra Capital Nacional da Cultura.

Junho de 2003 – A Igreja de Santa Cruz, em Coimbra, onde estão sepul-tados os primeiros reis de Portugal, passa à categoria de Panteão Nacional.

Setembro de 2003 – Os Rolling Sto-nes atuaram no renovado Estádio Ci-dade de Coimbra, num concerto con-siderado como um dos maiores de sempre em Portugal.

Abril de 2005 – No dia 25, um con-certo de José Mário Branco inaugu-rou o Teatro Municipal da Guarda, um edifício construído no centro da cidade, num investimento de 10 mi-lhões de euros.

Junho de 2005 – Morre, no POrto, onde vivia, Eugénio de Andrade, o po-eta nascido no Fundão e que estudou em Coimbra.

Abril de 2009 – Abertura ao público do projeto patrimonial e museológico de Santa Clara-a-Velha, na margem esquerda do Mondego, em Coimbra. Outubro de 2010 – Dois concertos que trouxeram milhares de pessoas ao Estádio Cidade de Coimbra. Bono Vox e os irlandeses U2 foram monu-mentais.

O processo de requalificação começou em 1992, mas a abertura ao público só aconteceu em abril de 2009

Arquivo-Luís Carregã

Page 5: Balanco da década 2001-2010

5

AMBIENTECULTURADESPORTOECONOMIAEDUCAÇÃOPOLÍTICASAÚDE 20012010

patrimoniais conheceu outras marcas impor-tantes: a intervenção no Pátio da Inquisição, com a instalação do Centro de Artes Visuais (arquiteto João Mendes Ribeiro) e a construção do Teatro da Cerca de São Bernardo (arquiteto Luís Durão) ; a instalação do Pavilhão de Por-tugal (arquitetos Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto Moura); a primeira fase do Museu da Ci-ência da Universidade de Coimbra no Labora-tório Chimico (arquitetos João Mendes Ribeiro, Carlos Antunes, Désirée Pedro) – a que, infe-lizmente, acabou por corresponder o “limbo” interminável do Museu Nacional da Ciência e da Técnica.

Museu Machado de Castro Outro caso paradigmático é o da requalifica-

ção profunda no Museu Nacional de Machado de Castro (Gonçalo Byrne), cuja abertura total irá acontecer apenas em 2011. Realce ainda pa-ra a requalificação da Casa das Caldeiras (João Mendes Ribeiro, Cristina Guedes) e também a intervenção e inauguração da Casa da Escrita (João Mendes Ribeiro).

Para a década que agora irá iniciar-se anun-ciam-se igualmente projetos marcantes, de que são exemplo a intervenção no Convento de S. Francisco (Carrilho da Graça) ou a segunda fa-se do Museu da Ciência da UC no Colégio de Jesus (arquitetos Carlos Guimarães, Luís Soa-res Carneiro).

Oficina e Teatro da CercaNo que respeita a novos equipamentos cul-

turais – que a cidade reclamou anos a fio –, a década, não sendo pródiga, acabou por não desiludir: à Oficina Municipal do Teatro de Coimbra – a acolher O Teatrão –, juntou-se depois, num processo que, à semelhança de outros na área cultural, não teve nada de pací-fico, o Teatro da Cerca de São Bernardo – onde reside e programa A Escola da Noite. E, muito recentemente, numa vocação anunciada para as áreas da música e da dança, o Auditório do Conservatório de Música de Coimbra, magní-fico espaço a oferecer condições técnicas até agora inexistentes na cidade.

De novos ou requalificados equipamentos culturais reza ainda parte substancial da déca-da cultural na região Centro. Década que, re-corde-se, acaba por ficar para a história do país como aquela em que se estruturou uma rede de equipamentos culturais, a que falta agora igual empenho em termos de densificação e coordenação programática.

Mas, no que ao Centro respeita, essa não pa-rece ser a regra: do Centro de Artes e Espetácu-los (CAE) da Figueira da Foz – agora a acolher em residência e programação a Vórtice Dance – ao Teatro Municipal da Guarda – dinamiza-do a um nível de qualidade artística que não é muito vulgar na nossa realidade quotidiana –, a dinâmica cultural associada a espaços e equi-pamentos conhece outros exemplos de refe-rência, como o Teatro Viriato, em Viseu, com a Companhia Paulo Ribeiro, ou o Novo Ciclo, em Tondela, com a ACERT.

De volta a Coimbra, na área da música, para lá da confirmação e afirmação de projetos e car-reiras como a de Paulo Furtado (The Legendary Tigerman) e dos Sean Riley and The Slowriders ou do terminus de outros que deixaram marcas profundas, como os Belle Chase Hotel, a déca-da fica para os anais como aquela que assistiu ao nascimento e desenvolvimento de um pro-jeto centrado na divulgação e na pedagogia: a Orquestra Clássica do Centro, agora instalada e a programar o Pavilhão de Portugal.

CAV e CAPCAs artes visuais, continuam a marcar dois

projetos fundamentais: os Encontros de Fo-tografia/Centro de Artes Visuais (sob a tu-tela carismática de Albano Silva Pereira) e o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (até há muito pouco dirigido por Victor Dinis e agora sob a coordenação de Carlos Antunes). Mas, nos anos mais recentes, também o cine-ma – para lá do cineclubismo – assumiu um protagonismo fundamental. Para além da afir-mação do festival Caminhos do Cinema Por-tuguês, dois nomes ganharam relevo e reco-nhecimento: António Ferreira, realizador de Coimbra, instalou-se em Casconha, Cernache, com uma produtora que tem feito filmes pa-ra o mundo; Jorge Pelicano, realizador da Fi-gueira da Foz, assumiu-se com dois trabalhos – “Ainda há pastores?” e “Pare Escute Olhe” – no mundo português do documentário.

De entre as personalidades que Coimbra e o Centro “deram” ao país em termos culturais, destaque ainda para António Filipe Pimentel, antigo pró-reitor para a área do Património da Universidade de Coimbra e professor do Ins-tituto de História da Arte da Faculdade de Le-tras da UC, que “saiu” da direção do Museu Grão Vasco, em Viseu, para assumir os desti-nos do mais importante projeto museológico nacional: o Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.

as figuras

Paulo Furtado – Nasceu para a mú-sica, em Coimbra, com os míticos Té-dio Boys. Cresceu, depois, em projetos como os Wraygunn. Mas é como The Legendary Tigerman que o homem do blues e estilo singular se afirmou na década. A confirmar, os dois últimos discos: “Masquerade” (2006. Nortesul/BMG) e “Femina” (2009. EMI).

João Mendes Ribeiro – O arquiteto de Coimbra marcou, definitivamente, a década com uma obra a estender-se igualmente à cenografia, que tem exer-cido com alguns dos maiores nomes das artes do palco em Portugal, de Ol-ga Roriz a Ricardo Pais. Na arquitetu-ra, a sua marca fica em projetos com a importância das Celas da Inquisição (CAV), do Laboratório Chimico ou da Casa das Caldeiras.

Jorge Pelicano – Transformou-se, des-de que deu a conhecer o seu primeiro trabalho – “Ainda há pastores?” –, num dos nomes cimeiros do documentário português. O jovem realizador da Fi-gueira da Foz confirmou talento e ar-te no mais recente “Pare Escute Olhe”.

10-27

79

Centro de Artes e Espetáculos (CAE), na Figueira da Foz

Centro de Artes Visuais (Coimbra)

Teatro Municipal da Guarda

Museu Machado de Castro

DR

DR

DR

DB-Luís Carregã

DR

DB-Luís Carregã

DR

Page 6: Balanco da década 2001-2010

6 

20012010 AMBIENTECULTURADESPORTOECONOMIAEDUCAÇÃOPOLÍTICASAÚDE

Uma década que mudou instalações e instituiçõesForam muitos os ilustres do desporto que partiram na última década. Dez anos marcados uma autêntica revo-lução no que diz respeito às infraestruturas na cidade de Coimbra, mas não só.

em destaquenovembro de 2002 – É inaugurado, dia 17, o Estádio Sérgio Conceição, em Ta-veiro. Uma homenagem a um dos joga-dores de Coimbra com maior projeção internacional.

setembro de 2003 - No sítio do velho “Municipal”, é inaugurado, dia 27, o Es-tádio Cidade de Coimbra, que viria a aco-lher o Euro’2004.

julho de 2004 – No Estádio da Luz, Portugal perde com a Grécia a final do Euro’2004, a 4 de julho.

outubro de 2004 – O presidente da Aca-démica João Moreno não resiste à doen-ça e acaba por falecer.

maio de 2005 - Apesar da derrota (4-0) nos Açores, a Naval termina em 2.º lu-gar na Liga de Honra e consegue a subi-da à Liga, pela primeira vez na história do clube.

março de 2006 - As mulheres da Escola Agrária de Coimbra conquistam o cam-peonato nacional de râguebi feminino. O coroar de uma época em grande para a equipa das “charruas”.

10-24

27

. Bruno Gonçalves [email protected]

Sobre os últimos 10 anos, entre vitórias, derrotas, alegrias e tristezas, muita coisa mu-dou na região, principalmente nas instituições e nas infraestruturas.

O início da década, com Campos Coroa na presidência da Académica, fica marcado pela chegada de João Alves a Coimbra. O homem que viria a virar uma página importante na história recente do clube.

Consequência dessa chegada, o ano de 2002 foi talvez o que mais marcou os aman-tes do futebol em Coimbra. Após várias épocas de altos e baixos, a Académica regressava ao principal escalão do futebol português. Costu-ma dizer-se que a cidade tem mais magia na altura da Queima das Fitas... e talvez tenha si-do isso mesmo que fez com que a Académi-ca conseguisse a subida de divisão, à última jornada, em plena festa académica. Os estu-dantes, no verdadeiro sentido da palavra, ou não, festejaram por toda a cidade, o fechar de um ciclo de mais de uma década de 2.ª Divi-são, em que as exceções foram as épocas de 1997/1998 e 1998/1999.

Em virtude do início das obras que deita-ram abaixo o velho estádio do Calhabé, nasceu

em Taveiro o Estádio Sérgio Conceição, onde a Académica viria a jogar a época 2002/2003. Não foi um ano fácil e não fora um golo de Paulo Adriano, à última jornada, e a Académi-ca tinha regressado à Liga de Honra. Um jogo de nervos, em que todos ficaram 90 minutos agarrados aos rádios de bolso.

Certamente que também poucos se terão esquecido da vitória da Naval, em jogo a con-tar para os quartos-de-final da Taça de Portu-gal, em pleno Estádio de Alvalade... frente ao Sporting, numa altura em que os figueirenses militavam ainda na Liga de Honra. Viriam a “cair de pé”, no Estádio das Antas.

Novo estádio em CoimbraJá com João Moreno na presidência, 2003

marca o início de uma nova era para a Brio-sa. É a inauguração do Estádio Cidade de Coimbra e, depois das enchentes do Calhabé... e do Sérgio Conceição, são cada vez menos os adeptos a lotar um estádio de 30.000 lugares.

É impossível falar de 2004 sem pensar na última vitória do campeonato nacional pe-la Secção de Rugby da Académica. Uma das mais antigas e prestigiadas equipas da moda-lidade no país.

No entanto, à distância de meia-dúzia de anos, poucos se lembrarão de algo mais do

setembro de 2008 – António Marques (prata) e Paulo Fernandes (ouro) con-quistam as primeiras medalhas para Portugal na edição de Pequim dos Jogos Paralímpicos.

julho de 2009 – Vasco Gervásio faleceu, aos 65 anos, vítima de doença prolonga-da. O adeus a uma glória da Académica, que foi o segundo jogador com mais jo-gos pela Académica, a seguir a Miguel Rocha, tendo sido também dirigente do clube.

fevereiro de 2010 – No estádio de Al-valade, a Naval vence o Sporting por 1-0, com golo de Fábio Júnior, aos 64 minu-tos. Um golo que deixaria os figueiren-ses na 8.ª posição da Liga.

agosto de 2010 – A 1.ª jornada da Li-ga 2010/2011. A Académica vence, no Estádio da Luz, o Benfica, por 2-1, com um “chapeu” de Laionel, já com dois mi-nutos de descontos... e a jogar com me-nos um.

dezembro de 2010 – Horácio Antunes, presidente da AFC, candidata-se à presi-dência da FPF.

A subida à I Liga foi um marco na história da Naval

Arquivo

Page 7: Balanco da década 2001-2010

7 

AMBIENTECULTURADESPORTOECONOMIAEDUCAÇÃOPOLÍTICASAÚDE 20012010

que o Euro’2004. Coimbra, Aveiro e Leiria acolheram a mais importante competição fu-tebolística alguma vez realizada em Portugal. As cidades, os cidadãos e principalmente as autarquias, foram obrigados a um grande es-forço para que Portugal voltasse a colocar-se no mapa dos grandes eventos. Nalguns casos, ainda hoje o estão a pagar.

José Eduardo SimõesEm Coimbra há ainda a recordar o faleci-

mento de João Moreno, presidente da Aca-démica. José Eduardo Simões, até então pre-sidente interino, foi depois o escolhido para próximo presidente, num processo eleitoral que o opôs a Maló de Abreu.

A meio da década, mais propriamente no verão de 2005, foi na Figueira da Foz que se festejaram com empenho as vitórias do fute-bol. A Naval subiu pela primeira vez à Liga, com Rogério Gonçalves ao comando, coroan-do da melhor forma a dedicação de dirigen-tes empenhados... mas de um em particular: Aprígio dos Santos.

Coimbra inaugurou as duas principais in-fraestruturas da década, o Pavilhão Multides-portos – que depois veio a ganhar o nome de Mário Mexia, que faleceu em 2009 – e o Com-plexo de Piscinas Olímpicas.

Em 2006, as mulheres da Escola Superior Agrária de Coimbra sagram-se campeãs de râguebi e a cidade acolhe o 20.º campeonato

do mundo de ginástica acrobática, reunindo cerca 720 participantes.

Em 2007, nasce uma insfraestrutura há muito esperada pela Académica: a Academia Briosa XXI, nos campos do Bolão.

Ouro e prata paralímpicosOs Jogos Paralímpicos de Pequim, em

2008, ficam na memória. Afinal, Portugal conquista as medalhas de ouro e prata na prova de boccia BC1. Melhor, as medalhas vêm para a região Centro. Paulo Fernan-des (Vale de Cambra) e António Marques

(Penacova) pintam o pódio a vermelho e verde.

Os 12 meses de 2009 revelaram-se ne-gros para a Académica. Não pelos resultados desportivos, mas pelos nomes que viu partir. João Mesquita, Vasco Gervásio, Isabelinha, Mário Mexia, Guilherme Luís e Cagica Rapaz deixaram a Briosa de luto.

Sobre o último ano, muito haveria a dizer: destaque para o 8.º lugar em que a Naval ter-minou a Liga, a melhor classificação de sem-pre, e para o grande arranque da Académica na época 2010/2011.

as figuras

Aprígio dos Santos – Desde 1992, há 19 anos, que Aprígio dos Santos di-rige os destinos da Associação Naval 1.º de Maio. Nos últimos anos viveu vários momentos marcantes sendo, certamente, o que mais anos perdu-rará na história do clube a subida à então 1.ª Divisão Nacional, na época 2005/2006. Desde essa altura que a as-sociação dirigida por Aprígio Santos se mantém no principal escalão do fute-bol português.

Ticha Penicheiro – A melhor basque-tebolista portuguesa de todos os tem-pos é natural da Figueira da Foz e tem levado o nome da cidade ao mundo. Ticha é a jogadora da WNBA que fez mais assistências em toda a história da Liga, liderando também nas assistên-cias por jogo. Detém ainda o recorde de maior número de roubos de bola num jogo, com 10, entre outros títulos, no-meadamente o de campeã de Portugal na longínqua época de 1992/93. Agora, de regresso ao seu país natal, está atu-almente no Algés.

António Marques – Desde sempre ligado à competição de boccia, Antó-nio Marques viveu um dos momentos mais altos com as duas medalhas de prata nos Jogos Paralímpicos de Pe-quim, na modalidade de boccia. O atle-ta, natural de Penacova, participa em competições internacionais de boccia desde 1986, e foi o capitão da equipa nacional durante mais de 10 anos. En-tre outras distinções, foi agraciado com o Prémio Carreira da Federação Portu-guesa de Desporto para Deficientes.

O Euro’2004 trouxe uma revolução nas infraestruturas futebolísticas do país. Coimbra ganhou um estádio novo, inaugurado em 2003

O Euro’2004 e a consolidação da Briosa na I Liga em destaque

Arquivo-Rogério Neves

Arquivo

Arquivo-Luís Carregã

ArquivoArquivo

Arquivo

Page 8: Balanco da década 2001-2010

8 

20012010 AMBIENTECULTURADESPORTOECONOMIAEDUCAÇÃOPOLÍTICASAÚDE

. António [email protected]

Economia em Coimbra e na região Centro ri-ma com comércio e consumo, mas também com empreendedorismo e produção industrial.

Qualquer que seja a perspetiva, a última dé-cada foi marcante para a economia deste territó-rio. Surgiram as grandes “catedrais de consumo” em todas as sedes de distrito e outras cidades se-cundárias, consolidaram-se três grandes grupos empresariais (nos distritos de Leiria e Viseu) e afirmaram-se outros tantos gigantes exportado-

res, com sede em Mangualde (Peugeot-Citroen), Cacia/Aveiro (Vulcano-Bosch Termotecnologia) e Figueira da Foz (Soporcel).

Logo no início da década, a Portucel adquiriu a Papéis Inapa e a Soporcel (fábrica de celulose localizada na Leirosa), formando o maior grupo produtor europeu de pasta branca de eucalipto e de papéis finos não revestidos. Em 2004, a Se-mapa adquiriu a maioria do capital deste grupo iniciando um novo ciclo onde se atingiu um volume de negócios superior a 600 milhões de euros e o terceiro lugar das empresas exportado-ras portuguesas.

Mesmo ao lado labora a Celbi (Celulose Beira Industrial), também de pasta de papel e integra-da no grupo Altri. Desde 2000 foi considerada oito vezes pela revista Exame a melhor empre-sa do setor. Com um volume de negócios anual de 140 milhões de euros, fez um investimento de 350 milhões este ano, o que lhe permite du-plicar a produção. Paralelamente foi construída uma central termoelétrica a biomassa flores-tal, pertencente à EDP-Produção Bioelétrica, enquanto a cidade via concluída a empreitada de prolongamento do molhe norte do porto de mercadorias e pesca.

Bosch-Vulcano investe nos painés solaresMais a norte, em Cacia/Aveiro está instala-

do o líder europeu e terceiro produtor mundial de esquentadores: a Bosch-Vulcano afirmou-se ao longo da década na conceção e fabricação de caldeiras a gás e painéis solares. Exporta mais de 100 milhões de euros.

No distrito de Viseu, em Mangualde, a Peu-geot-Citroen, consolidou nos últimos anos a sua presença em Portugal. Depois de um mo-mento difícil ocorrido há cerca de dois anos de-vido à quebra de procura do setor automóvel, em que foi necessário despedir meio milhar de trabalhadores, a laboração retomou a velocida-de cruzeiro.

Três grupos empresariaisCom uma atividade mais diversificada no

em destaqueFevereiro de 2001 – A farmacêu-tica Bluepharma adquiriu a Bayer de Coimbra. Especializou-se na fabricação de genéricos e patentes de medicamen-tos.

Maio de 2002 – O Instituto Pedro Nunes, constituído em 1991 pela Uni-versidade de Coimbra, cria a incubadora de empresas, de onde saíram dezenas de projetos de base tecnológica.

Setembro de 2003 – É inaugurado o Museu do Vinho da Bairrada. A parce-ria da Câmara de Anadia com a Comis-são Vitivinícola é o símbolo dos novos tempos da economia em redor do vinho, como o enoturismo, mas respeitando a tradição.

Janeiro de 2005 – A farmacêutica La-besfal, com sede em Campo de Besteiros, Tondela, é vendida por Joaquim Coimbra à multinacional Fresenius Kabi, líder na produção de medicamentos para terapêu-tica intravenosa.

Fevereiro de 2005 – Parceria entre a Turistrela e a Vodafone para a estância de Esqui da Serra da Estrela, que passa a ter o nome da operadora de telecomu-nicações.

Abril de 2005 – É inaugurado o Centro Comercial Dolce Vita Coimbra, integrado no complexo residencial Studio Residen-ce e equipamentos desportivos.

Setembro de 2005 – Entra em funcio-namento, em Cantanhede, o Biocant – Centro de Inovação em Biotecnologia. A inauguração da segunda fase, por José Sócrates, ocorre em 2010.

Abril de 2006 – Abre o Forum Coimbra, o maior centro comecial da cidade, que passa a ser um verdadeiro pólo dinami-zador da margem esquerda.

Outubro de 2006 – Entra em laboração a nova linha de engarrafamento da fá-brica do Licor Beirão (Lousã), em simul-tâneo com a renovação da imagem da marca. Em junho de 2006 havia falecido o fundador, J. Carranca Redondo.

Outubro de 2008 – Abertura do Centro de Negócios de Ansião, instalado no Par-que Empresarial do Camporês, que inclui o Estúdio 33 do mágico Luís de Matos.

Junho de 2009 – José Sócrates inau-gura a fábrica da espanhola Pescanova em Mira, empreendimento de aquacul-tura que custou 140 milhões de euros.

Julho de 2010 – Cavaco Silva, inaugu-ra novas instalações da Celbi (Figueira da Foz). Um investimento de 350 mi-lhões de euros que permite à fábrica de pasta de papel duplicar a produção.

Base tecnológica substituiu indústria tradicionalAs fábricas tradicionais de têxteis e cerâmica foram substituídas por empresas de nova geração. Também o comércio tradicional sucumbiu perante os grandes centros comerciais.

A Bluepharma é um dos maiores exemplos de sucesso. Nascida no início da década, afirmou-se depois de comprar a Bayer de Coimbra

A Estância Vodafone da Serra da Estrela é um pólo de dinamização da Beira Interior

Arquivo-Gonçalo Manuel Martins

DR

Page 9: Balanco da década 2001-2010

9 

AMBIENTECULTURADESPORTOECONOMIAEDUCAÇÃOPOLÍTICASAÚDE 20012010

mercado, os grupos empresariais Lena (Leiria), Martifer (Oliveira de Frades/Viseu) e Visabeira (Viseu) são outros exemplos de afirmação da década. Nascido junto às margens do Lena, o grupo com sede em Leiria adotou o nome do rio local mas projetou-se a nível global, alicerça-do em empreitadas de concessões rodoviárias, barragens, hospitais e escolas. Avançou depois para o Ambiente e Energia, Automóveis, Turis-mo e Serviços e Comunicação.

A Martifer surgiu como especialista em es-truturas metálicas e progrediu para as energias renováveis. Tem 18 fábricas, sete delas no es-trangeiro. Entrou na Bolsa em junho de 2007.

No mesmo distrito, o grupo vizinho Visabei-ra tem três décadas de existência, mas foi nos últimos dez anos que a sua estrutura empresa-rial se consolidou de forma a avançar para a in-ternacionalização. Cresceu na área da instalação de redes de Telecomunicações, evoluindo para a Energia, Turismo e Imobiliário.

O Hotel Montebelo e o Palácio do Gelo (am-bos em Viseu) são disso exemplo.

Forum, Dolce Vita, Vivaci, Alegro...Ao ser inaugurado em abril de 2008, o Palá-

cio do Gelo Shopping integrou um ciclo de aber-turas de grandes centros comerciais que mar-caram a década na região. Também em abril, mas um par de anos antes, em 2005 e 2006, surgiam em Coimbra, respetivamente, o Dolce Vita (integrado no complexo do Estadio Muni-cipal) e o Forum Coimbra. Em outubro de 2007 aparecia o Forum Castelo Branco, cidade onde se instalou também outro complexo comercial com a insígnia Allegro. Na Guarda, há cerca de dois anos abriu o Vivaci e já este ano, em mar-ço, o Grupo Sonae concluiu o Sierra de Leiria, mais recente e maior do que o Sierra (Serra) da

Covilhã, que abriu portas no longínquo mês de novembro de 2005.

No litoral, a cidade da ria foi a sede de dis-trito que iniciou esta vaga de inaugurações de grandes centros comerciais, ainda no final do século XX, como foram os casos do Aveiro Forum e do Glicínias Shopping. A Figueira da Foz não se deixou ficar para trás e também nessa altura avançou com o Foz Plaza.

Leiria esperou 15 anos por um shoppingMais a sul, Leiria esperou 15 anos para ter

um centro comercial de nova geração depois de ver gorado o projeto comercial integrado na requalificação do topo norte do Estádio Maga-lhães Pessoa. Nesta cidade também ficou por concretizar a vertente comercial do Cinema Ci-ty, que abriu portas em fevereiro de 2007, cons-tituindo-se como o maior complexo de cinemas da região. Uma outra unidade Cinema City, do grupo SIMO-Sociedade Imobiliária de Cine-mas, chegou a estar anunciado para os primei-ros anos da década nos terrenos da antiga Fá-brica Triunfo em Coimbra, mas revelou-se um projeto falhado.

Pelo contrário, esta foi foi a década das in-cubadoras. A do Instituto Pedro Nunes (IPN), associada à Universidade de Coimbra, foi a que obteve maior protagonismo, até porque ganhou (2010) o prémio de melhor incubadora de ba-se tecnológica do mundo, concorrendo directa-mente com outras 50. Surgiram também a in-cubadora grupUnave (Aveiro) e o Biocant (Can-tanhede). Com mais dificuldades em arrancar está a incubadora D. Dinis (Leiria), associada ao Instituto Politécnico de Leiria.

De regresso a Coimbra, em 2006 foi consti-tuído um núcleo de competências para gerir o projecto do iParque, uma área de 30+70 hecta-

res (duas fases) em Antanhol, vocacionada pa-ra receber empresas integradas em quatro clus-ters fundamentais: Ciências da Vida e da Saúde, Biotecnologia, Telecomunicações, Multimédia e Novas Tecnologias.O capital é detido maiorita-riamente pela câmara municipal e pela agência de desenvolvimento Coimbra Vita. A primeira fase já deveria estar concluída, mas a obra atra-sou-se. Deverá ser uma obra emblemática da segunda década do milénio.

Outro eixo de desenvolvimento, com os olhos postos em mercados internacionais, é a vitivinicultura.Em duas regiões demarcadas – Bairrada e Dão – a aposta tem sido na fabrica-ção de vinhos de qualidade mundial, em que diversas casas rurais e caves competem com as adegas cooperativas. Com o trabalho de casa fei-to ao longo dos últimos anos, as exportações de vinho nacional em 2010 deverão atingir os 600 milhões de euros. O enoturismo e as “rotas do vinho” completam a oferta.

Serra da Estrela aposta no skiOutra fileira económica da região que se

consolidou na primeira década do milénio, foi o turismo de habitação, de charme e rural. No ter-ritório da Beira Interior este investimento está a ser feito em redor dos destinos de montanha e neve. A Serra da Estrela passou a contar, desde 2005 com a Estância Vodafone, assumindo-se desde essa altura como verdadeiro domínio de esqui para os, cada vez mais, portugueses que revelam interesse pela modalidade. São nove pistas, com um total de 7,7 quilómetros. Sem reunir condições infraestruturais para compe-tir com outras estâncias da Europa, consegue dar alguma resposta ao mercado interno, des-de que os acessos estejam desimpedidos para chegar ao topo.

as figuras

Paulo Fernandes – O presidente da Altri (PSI 20) recebeu das mãos de Cavaco Silva a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Agrícola Comercial e In-dustrial. O ato decorreu este ano na Figueira da Foz, nas instalações da fábrica Celbi, celulose do grupo onde foram aplicados 350 milhões de euros. É o maior investimento industrial da década na região Centro.

Teresa Mendes – Na liderança do Instituto Pedro Nunes há uma déca-da, atingiu este ano o plano interna-cional mais elevado quando a insti-tuição conquistou o primeiro lugar mundial entre as incubadoras de base tecnológica. A professora da Faculda-de de Ciências e Tecnologia continua empenhada em “transformar as ideias que surgem da investigação em negó-cio e levá-las até ao mercado”. Sobre a mais emblemática empresa que nas-ceu no IPN, afirma: “o que eu costu-mo dizer a brincar, mas muito a sério, é que a Critical Software ajudou mais a Incubadora do que a Incubadora aju-dou a Critical Software”.

Paulo Barradas – É o líder da Blu-pharma, empresa de Coimbra aposta-da no desenvolvimento e fabricação de medicamentos genéricos que tem fei-to um caminho de sucesso exportando 80 por cento da sua produção. A em-presa que, em 2001, adquiriu a fábrica da Bayer/Coimbra cresceu, ampliou as instalações e triplicou a capacidade de produção (um bilião de unidades). Está envolvida na investigação de um potente fármaco contra o cancro.

Base tecnológica substituiu indústria tradicionalAs fábricas tradicionais de têxteis e cerâmica foram substituídas por empresas de nova geração. Também o comércio tradicional sucumbiu perante os grandes centros comerciais.

Cada um na sua área , os edifícios do Forum Coimbra e do Biocant, em Cantanhede, contribuiram para o desenvolvimento das respetivas cidades

Arquivo-Gonçalo Manuel MartinsArquivo

Arquivo-Luís Carregã

DB-Gonçalo Manuel Martins

Arquivo-Carlos Jorge Monteiro

Page 10: Balanco da década 2001-2010

10 

20012010 AMBIENTECULTURADESPORTOECONOMIAEDUCAÇÃOPOLÍTICASAÚDE

A revolução necessária em todos os setores do ensino Cortes orçamentais, aumento do valor das propinas, lu-tas estudantis. Os primeiros 10 anos do milénio foram de transformações profundas no ensino superior. A Uni-versidade de Coimbra conseguiu modernizar-se e apos-tou na internacionalização. A década foi também de con-testação intensa às políticas encetadas pelo Ministério da Educação. Em 2008, Portugal assistiu a uma das maiores manifestações de sempre da classe docente.

. Patrícia Cruz [email protected]

É com a Universidade de Coimbra fechada a cadeado que começa a primeira década do mi-lénio. Em novembro de 2001, os estudantes de-cidem encerrar, durante uma semana, as por-tas da instituição universitária contra os cortes orçamentais. A contestação é de tal ordem que, um mês depois, mais de dois mil alunos par-ticipam na maior assembleia magna desde a crise estudantil de 1969. Foi nos Jardins da As-sociação Académica de Coimbra, no mandato presidido por Humberto Martins.

Relações tensas Os primeiros anos da década são marca-

dos, também, pelas relações tensas com os reitores da universidade. Primeiro Fernando Rebelo: os estudantes exigem a sua demissão caso não se coloque ao lado da luta estudan-til contra os cortes orçamentais anunciados na altura pelo Governo. “Não trabalho sob chantagem ou ameaças”, disse o então reitor. Em outubro de 2002 anuncia a sua demissão.

Dois anos depois, nova hecatombe: um gru-po de estudantes interrompe a cerimónia da abertura solene das aulas na universidade de Coimbra. Os cadeados voltam a fechar a Porta Férrea. A contestação dura todo o ano, mas um dos momentos mais tensos acontece em Outu-bro, no Pólo II, quando os estudantes tentam

impedir a reunião do Senado. A polícia de inter-venção, que o reitor Seabra Santos prometera nunca chamar, carrega. Alguns estudantes fi-cam feridos e um deles é detido Começa o bra-ço-de-ferro entre o reitor e os alunos.

Nesse ano, Seabra Santos é reiteradamente afrontado, mas não cede: não põe os pés na Queima das Fitas nem na tomada de posse de qualquer dirigente estudantil. As relações com a direção-geral seriam pacificadas mais tarde, em 2008, durante o mandato de André Oliveira.

É nesse ano, a 8 de março, que Portugal assiste a uma das maiores manifestações da classe docente. Em causa a alteração do esta-tuto da carreira docente, a burocratização do trabalho dos professores ou aumento do nú-mero de horas de trabalho. Mário Nogueira é o rosto mais mediático da contestação contra as políticas levadas a cabo por Maria de Lurdes Rodrigues, titular da pasta da Educação. Um ano antes, em 2007, tinha vencido folgadamen-te a eleição para a liderança da Federação Na-cional dos Professores (Fenprof), tornando-se o novo secretário-geral da maior estrutura sin-dical de docentes.

É também em 2007 que a Parque Escolar inicia a sua atividade, tendo como objetivos de concretização a intervenção em 332 esco-las até 2015. As obras incluem quatro escolas no distrito de Coimbra – Escola Secundária de Infanta D. Maria, Quinta das Flores, que inte-

gra o Conservatório de Música, Dr. Joaquim de Carvalho, na Figueira da Foz e Escola Secundá-ria de Montemor-o-Velho.

Grandes mudançasO ano de 2007 marca também o início de

uma revolução no ensino superior: Portugal é um dos países empenhados na adoção das transformações propostas na Declaração de Bolonha, que a subscreveram em 1999. Bolo-nha surge do reconhecimento da necessidade de empreender esforços conjuntos para desen-volver um espaço europeu de ensino superior coeso e coerente. No ano letivo de 2006-2007, a Universidade de Coimbra dá início ao Pro-cesso de Bolonha. Começam a funcionar os Mestrados Integrados em Psicologia e em En-genharia Informática.

No dia 3 de outubro de 2008 uma má no-tícia chega à Figueira da Foz. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior determi-na, por despacho, o encerramento compulsivo da Universidade Internacional da Figueira da Foz (UIFF) e do Instituto Superior Politécnico Internacional – estabelecimentos de ensino su-perior privado cuja entidade gestora é a SIPEC.

A política educativa tem, no decorrer do ano de 2009, algumas importantes mexidas. A pri-meira a merecer amplo destaque é a que insti-tui o princípio da escolaridade obrigatória de 12 anos – ou a permanência obrigatória na escola, até aos 18 anos –, para todos os estudantes que

em destaque2001 – A Universidade de Coimbra é fechada a cadeado durante uma sema-na contra os cortes orçamentais. Em dezembro, a assembleia magna regis-ta a participação de mais de duas mil pessoas, a maior desde a crise de 1969.

outubro de 2002 – Depois de ter sido reeleito no início do ano, reitor da Uni-versidade de Coimbra Fernando Rebe-lo demite-se em outubro.

2003 -–Seabra Santos é eleito à primei-ra volta, com 70 por cento dos votos. Em outubro, o país chora a morte de Ferrer Correia, reitor honorário da Uni-versidade de Coimbra.

2004 – O ano é fértil em contestações estudantis devido ao aumento das propinas. Em Coimbra, um dos mo-mentos mais tensos acontece no Pólo II, quando os estudantes impedem a reunião do Senado. A polícia de in-tervenção, que o reitor Seabra Santos prometera nunca chamar, carrega. Resultam vários feridos e a detenção de um estudante.

2005 – Novas regras para os horários dos docentes e aulas de substituição geram controvérsia.

2006 – Em 2006-2007, a Universida-de de Coimbra dá início ao Processo de Bolonha. Começam a funcionar os mestrados integrados em Psicologia e em Engenharia Informática.

2007 – O estatuto da carreira docente que o Ministério da Educação aprova solitariamente, é um dos fatores que levam milhares de professores (e sin-dicatos) a manifestarem-se.

2008 – Nuno Viegas Nascimento mor-re depois de uma vida dedicada à obra de Bissaya Barreto.

outubro de 2008 – No dia 3 uma má notícia na Figueira da Foz. O Ministé-rio da Ciência, Tecnologia e Ensino Su-perior determina o encerramento com-pulsivo da Universidade Internacional.

2009 – Novo Regime Jurídico impõe al-terações estatutárias de fundo: a eleição de novos diretores para as faculdades (ou de presidentes, para as unidades orgânicas dos politécnicos); a criação de um Conselho Geral, aberto a perso-nalidades externas, com poderes alar-gados, que incluem, por exemplo, a eleição do reitor.

2010 – Isabel Alçada anuncia o encer-ramento de 701 escolas primárias. O Presidente da República promulga o diploma que regula o apoio do Estado aos estabelecimentos do ensino parti-cular e cooperativo.

Um dos momentos mais tensos acontece no Pólo II, quando os estudantes impedem a reunião do Senado. Foi em outubro de 2004

Page 11: Balanco da década 2001-2010

11 

AMBIENTECULTURADESPORTOECONOMIAEDUCAÇÃOPOLÍTICASAÚDE 20012010

tenham ingressado no 7.º ano de escolaridade neste ano letivo

Vivem-se também momentos decisivos de mudança no ensino superior. Em causa a ope-racionalização do novo Regime Jurídico do se-tor, que impõe alterações estatutárias de fundo: a eleição de novos diretores para as faculdades (ou de presidentes, para as unidades orgânicas dos politécnicos); a criação de um Conselho Ge-ral, aberto a personalidades externas, com com-

petências e poderes alargados, que incluem, por exemplo, a eleição do reitor.

No Instituto Politécnico de Coimbra, as elei-ções dão muito que falar, com vários processos em tribunal e a intervenção do Ministério da Ciência e do Ensino Superior. Depois de mui-tas polémicas, Rui Antunes assume, finalmen-te, a presidência do politécnico.

A década é também marcada pela evolução do ensino profissional. De acordo com os da-

dos do Ministério da Educação, quase um terço dos estudantes do secundário encontram-se a frequentar o ensino profissional: mais do que o triplo em relação há dez anos. Mas, no domínio da qualificação não há, como nunca houve, so-luções instantâneas. O ano de 2011 trará uma nova mudança: a partir do início do ano letivo de 2011/2012, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa será aplicado no sistema educativo e nas escolas portuguesas.

as figuras

Seabra Santos – Os dois mandatos de Seabra Santos notabilizaram-se no suporte da excelência, no reforço da aproximação à sociedade e ao tecido empresarial envolvente, na moderniza-ção e rejuvenescimento dos quadros de topo da instituição, na aposta na inter-nacionalização. A sua nomeação para a presidência do Conselho de Reitores das Universidades Portugueses foi um sinal de reconhecimento pelo trabalho desenvolvido.

Mário Nogueira – Foi o rosto mais mediático da contestação contra as políticas levadas a cabo por Ma-ria de Lurdes Rodrigues, titular da pasta da Educação. Em 2007, Mário Nogueira venceu folgadamente a eleição para a liderança da Federa-ção Nacional dos Professores (Fen-prof ), tornando-se o novo secretá-rio-geral da maior estrutura sindi-cal de docentes.

Ferrer Correia – Em 2003, a Aca-demia e a cidade ficam de luto com a morte de Ferrer Correia, o catedrático de Direito que fica na história, sobretudo pela sua ação enquanto reitor (1976-1982), nos anos conturbados do pós 25 de Abril. A morte de António Arruda Ferrer Correia, que era reitor hono-rário da Universidade de Coimbra e que presidiu à Fundação Calouste Gulbenkian, justificou uma segun-da edição do DIÁRIO AS BEIRAS, a única em 2003.

Arquivo

Arquivo-Luís Carregã

Arquivo-Gonçalo Manuel Martins

Arquivo-Rui Semedo

Arquivo

Um dos momentos mais tensos acontece no Pólo II, quando os estudantes impedem a reunião do Senado. Foi em outubro de 2004

A contestação dos professores aos sucessivos ministros da educação foi uma constante

Page 12: Balanco da década 2001-2010

12 

20012010 AMBIENTECULTURADESPORTOECONOMIAEDUCAÇÃOPOLÍTICASAÚDE

Região Centro à beirade um ataque de nervosAmor e ódio. Os dois sentimentos ilustram bem a última década em termos políti-cos na região. Santana Lopes saiu da Figueira da Foz e Carlos Encarnação entrou em Coimbra. Mas foi José Sócrates que, da Covilhã, dominou politicamente… o país.

. António Alves [email protected]

A teimosia da coincineração. José Sócrates foi aluno do ISEC no final da década de 70 do século passado. Há quem diga que esta sua passagem pela cidade dos doutores não correu da melhor forma, levando-o a ter um compor-tamento dúbio para a cidade onde obteve o pri-meiro diploma do ensino superior. Um com-portamento que o levou, no início desta década, a ter um braço de ferro com o poder socialista do município, liderado por Manuel Machado. A escolha da cimenteira de Souselas para aí proceder à queima de resíduos perigosos foi o primeiro sinal desta relação amor-ódio com a cidade. Nem a aprovação em Assembleia da República da suspensão do processo demoveu o ministro do Ambiente da altura de avançar. O mesmo ministro que, no início desta década, decide colocar a cidade de Coimbra na lista dos municípios do Programa Polis.

Ponte que quase não deu passagemA década começa com o arranque de uma

das obras há muito reclamada pela cidade: Ponte Europa (agora baptizada de Ponte Rai-nha Santa Isabel). O ministro de então, Jorge Coelho, garantiu que passados 700 dias e sem qualquer tipo de derrapagem financeira a es-trutura permitiria a passagem entre as duas margens do rio Mondego. Só que a ponte ape-nas ficou pronta em 2004. Três anos depois do previsto e um buraco financeiro de mui-

tos milhões de euros. A inauguração contou com a presença de Durão Barroso, primeiro-ministro que pouco tempo depois deixava o cargo para assumir a presidência da Comis-são Europeia.

Pesos-pesados da social-democraciaO sucessor de Durão Barroso foi Santana

Lopes. O advogado que, até final de 2001, ocu-pou o cargo de presidente da Câmara Muni-cipal da Figueira da Foz. O seu mediatismo tirou a cidade da letargia em que vivia, mas o que é certo é que desde a sua saída o municí-pio figueirense nunca mais conseguiu recom-por-se financeiramente. Sai Santana Lopes na Figueira da Foz, entra Carlos Encarnação em Coimbra. Nas eleições que, em Dezembro de 2001, ditaram a saída de cena de António Gu-terres, o antigo deputado, governador civil e secretário de estado da Administração Interna conquistou a primeira de três maiorias abso-lutas para o município de Coimbra.

A construção do Estádio Cidade de Coimbra, o projeto Eurostadium e as no-vas vias marcaram, pela positiva, o primei-ro mandato de Encarnação que, antes de se recandidatar em 2005, quis ter do Estado um sinal positivo para a realização do Metro Mondego. Apesar do concurso ter sido lança-do no tempo de Santana Lopes, o novo pri-meiro-ministro José Sócrates decidiu anulá-lo e reformular o projeto. A entrada em cena do especialista Álvaro Maia Seco deu o impulso necessário para que as obras arrancassem. O

que aconteceu no final de 2009. Mas, menos um ano depois e perto de

100 milhões de euros gastos, as obras no ca-nal Serpins-Alto de São João (Coimbra) vão parar… porque não há dinheiro para continu-ar o projeto. O anúncio levou, primeiro, à de-missão de Álvaro Maia Seco como presiden-te do Metro Mondego e, dois meses depois, à saída da presidência da câmara de Coimbra de Carlos Encarnação. Ambos agastados pela forma como o governo de José Sócrates tratou este assunto.

Se, com António Guterres, o peso político de Coimbra tinha alguma força, a entrada no poder de Durão Barroso e, posteriormente, de Santana Lopes esmoreceu essa importância. Mas foi com José Sócrates que o declínio se acentuou. Uma situação a que não foi imune a morte de Fausto Correia. Desde então, e ti-rando alguns casos esporádicos – Paulo Mota Pinto (PSD) e Paulo Campos (PS) –, Coimbra e região ficaram arredados dos corredores do poder.

Liderar a partir de ViseuA derrota socialista nas autárquicas levou a

que o cadeirão da Associação Nacional de Mu-nicípios Portugueses passasse a ser ocupado por um autarca social-democrata. Fernando Ruas, presidente da câmara de Viseu, foi o escolhido. A sua eleição, confirmada após os atos eleitorais de 2005 e 2009, deu um novo dinamismo ao órgão representativo das câ-maras municipais de todo o país, tendo sido

em destaqueJaneiro 2001 – A população de Sou-selas boicota no dia 14 as eleições pre-sidenciais e os boletins de voto são ras-gados. Tudo por causa do processo de co-incineração.

Março de 2001 – A Ponte Hintze Ri-beiro, em Entre-os-Rios, cai, no dia 4. O acidente causa 60 mortos. Jorge Coelho, ministro, e Luís Parreirão, secretário de Estado, demitem-se.

Janeiro de 2002 - No dia 30, assi-natura da consignação da obra de reestruturação do Estádio Municipal de Coimbra, com vista ao Euro’2004, no va-lor de 35 milhões de euros.

Novembro de 2003 - Os primeiros-mi-nistros de Portugal e Espanha abrem dia 7 os trabalhos da 19.ª Cimeira Ibérica no Centro de Artes e Espetáculos da Fi-gueira da Foz.

Maio de 2004 - Três anos depois do pre-visto e cerca de 20 milhões de euros a mais, o primeiro-ministro Durão Bar-roso inaugura no dia 30 a Ponte Rai-nha Santa.

Agosto 2005 – As chamas entram dia 22 na cidade de Coimbra. Os prejuízos materiais são elevados e presidente da câmara e governador civil trocam acusa-ções sobre a forma de combate.

Novembro 2006 – Cavaco Silva inau-gura dia 26 o Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental, entrada po-ente do Parque Verde e Ponte Pedro e Inês, obras do Polis Coimbra.

Outubro 2007 – Morre Fausto Correia. O eurodeputado socialista faleceu no dia 9 aos 55 anos vítima de ataque cardíaco e deixa de luto Coimbra, região Centro e o país.

Setembro 2008 – Pedro Machado, pre-sidente da Turismo Centro de Portugal, sabe dia 12, pelo secretário de Estado, que Coimbra perde a sede da nova es-trutura para Aveiro.

Setembro 2009 - No dia 27, a hegemo-nia do “centrão” para a Assembleia da República é quebrada. Serpa Oliva, pelo CDS-PP, e José Manuel Pureza, do BE, são eleitos. Dezembro 2009 – No dia 2 começam a ser levantados em Serpins os carris na Linha da Lousã para instalação do novo Sistema de Mobilidade do Mondego.

Outubro 2010 – O presidente da so-ciedade Metro Mondego, Álvaro Maia Seco, bate dia 17 com a porta magoa-do com o Governo. Dois meses de-pois foi o presidente da câmara, Carlos Encarnação.

Santana Lopes e Durão Barroso, dois pesos pesados do PSD

Arquivo-Rui Semedo

Page 13: Balanco da década 2001-2010

13 

AMBIENTECULTURADESPORTOECONOMIAEDUCAÇÃOPOLÍTICASAÚDE 20012010

mesmo uma voz incómoda contra o Gover-no. Fosse ele do PSD ou, mais ainda, do PS.

“Dinossauros” e novos valores A limitação dos mandatos dos presidentes

de câmara e junta de freguesia não permi-tirá a recandidatura de alguns dos autarcas em funções há alguns mandatos. Os chama-dos “dinossauros” da política autárquica vão ter, desta forma, de deixar o seu lugar. Jaime

Soares (Vila Nova de Poiares), José Marques (Oleiros), Fernando Costa (Caldas da Rainha) e Ivo Portela (Tábua) são alguns dos exemplos. Mas, como em tudo na vida, alguns nomes eleitos recentemente começam a despontar. Paulo Júlio (Penela) e Luís Leal (Montemor-o-Velho) merecem um lugar de destaque em termos autárquicos. Em termos políticos, o Partido Socialista já conta com nomes como Paulo Campos (secretário de Estado das Obras

Públicas), Óscar Gaspar (secretário de Estado da Saúde) e Valter Lemos (secretário de Esta-do do emprego e Formação Profissional). Do lado do PSD, José Manuel Canavarro (antigo secretário de Estado da Educação e atual res-ponsável pelo Gabinete de Estudos do PSD) aumentou a sua influência. Tudo isto numa década onde também começou a despontar o nome de José Manuel Pureza – atual líder da bancada parlamentar do Bloco de Esquerda.

as figuras

Carlos Encarnação – Quebrou a hegemonia socialista na câmara de Coimbra. Foi durante os seus manda-tos que o concelho melhorou em ter-mos de acessibilidades e infraestru-turas desportivas. Para o fim ficou a cereja no topo do bolo: a recuperação do Convento de S. Francisco para um centro de congressos. Saiu no final do primeiro ano do terceiro mandato, agastado com a política do Governo.

Fausto Correia – Faleceu como eu-rodeputado em Bruxelas e deixou ór-fão o PS Coimbra que, desta forma, se viu privado de um forte candidato à câmara em 2009. A sua morte simbo-lizou também a perda da importância política da região, principalmente nos corredores do tão falado Bloco Central. Apesar de alguns nomes terem des-pontado na segunda metade da dé-cada, nenhum mostrou ter a força e a influência que Fausto Correia tinha junto dos principais partidos portu-gueses. Coimbra e a região perderam muito com o seu desaparecimento.

José Sócrates - Pode gabar-se de ter conseguido a primeira maioria abso-luta para o PS. O engenheiro, formado no ISEC, que no tempo de Guterres se começou a evidenciar, acabou por ser a maior desilusão para a região que o viu crescer para a política. O Polis amenizou um pouco uma tempesta-de que começou com a co-incineração, com alguns dos traçados inscritos no Plano Rodoviário Nacional e, mais re-centemente, com a questão do Siste-ma de Mobilidade do Mondego (Me-tro Mondego).

A construção de uma ponte nova sobre o Mondego, em Coimbra, foi decidida por António Guterres, que visitou as obras antes de se demitir

Encarnação marcou a década em Coimbra Serpa Oliva foi eleito deputado e quebrou a hegemonia do “centrão”

Arquivo

Arquivo-António Alves

Arquivo

Arquivo-Luís Carregã Arquivo

Arquivo

Page 14: Balanco da década 2001-2010

14 

20012010 AMBIENTECULTURADESPORTOECONOMIAEDUCAÇÃOPOLÍTICASAÚDE

Fusão de serviços e hospitais marca a décadaOs anos são marcados por uma sucessão de reformas pro-fundas no setor, desde os centros de saúde aos hospitais psiquiátricos. A justificação é comum: controlar os custos e garantir a sustentabilidade do SNS. No final da década anuncia-se o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.

. Dora Loureiro [email protected]

Em Coimbra, o final da década traz consigo o anúncio da fusão de três unidades hospitala-res – Hospitais da Universidade de Coimbra, Centro Hospitalar de Coimbra e Centro Hos-pitalar Psiquiátrico de Coimbra –, dando lugar à criação do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC). A intenção do Governo surge plasmada no Orçamento do Estado para 2011, em meados de outubro de 2010, e dois meses depois é aprovado em Conselho de Mi-nistros o decreto-lei que regulamentará a fu-são das três unidades hospitalares, um proces-so complexo que, sob a tutela da ministra da saúde, Ana Jorge, irá marcar o próximo ano. A anunciada fusão apanha quase todos de surpresa e colhe manifestações de apoio, mas também de alguma prudência e desconfian-ça. Evitar a duplicação de serviços e de recur-sos humanos e rentabilizar melhor os meios disponíveis são os argumentos do Governo.

Mas a fusão e concentração de hospitais é anunciada, no decreto-lei aprovado em Con-selho de Ministros a 16 de dezembro de 2010, para várias unidades da região Centro. O de-creto-lei determina ainda a integração dos hospitais de Leiria e Pombal, que passam a in-tegrar o Centro Hospitalar de Leiria – Pombal; os hospitais Infante D. Pedro (Aveiro), Vis-conde Salreu (Estarreja) e Distrital de Águeda passarão a estar reunidos no Centro Hospi-talar do Baixo Vouga e o Centro Hospitalar Tondela-Viseu resultará da fusão dos hospi-tais Cândido de Figueiredo (Tondela) e São Teotónio (Viseu).

De hospitais SA a EPEA década fica marcada por uma suces-

são de reformas profundas nos serviços de saúde. A justificação é comum a todas as alterações: controlar os custos e garantir a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saú-

de (SNS). De resto, nunca como nos últi-mos anos foi tão discutido o financiamento e sustentabilidade do SNS, criado por António Arnaut. Assim, muitas das reformas no setor da saúde passam pela concentração de servi-ços e recursos humanos, como foi o caso da extinção das sub-regiões.

Uma das primeiras reformas da década é a introdução da gestão empresarial nos hos-pitais públicos. O primeiro passo foi dado no final de 2002 pelo ministro Luís Filipe Perei-ra, no Governo PSD-CDS/PP, com a transfor-mação do estatuto jurídico de 31 hospitais do setor público administrativo em sociedades anónimas (SA), medida que desencadeou fortes protestos no setor da saúde e no plano político. Contra, invocaram-se os receios da privatização dos hospitais; a favor, os benefí-cios da introdução de regras que permitissem agilizar a gestão num setor burocratizado, co-mo o estatal, com o objetivo final de reduzir o défice do SNS.

Mas em 2005, o ministro Correia de Cam-pos transforma os hospitais SA em EPE (En-tidades Públicas Empresariais): um dos obje-tivos é afastar o estigma da eventual privatiza-ção de serviços de saúde públicos. Contudo, anos volvidos, a derrapagem financeira dos hospitais EPE continua a ser notícia.

Em Coimbra, o Centro Regional de Onco-logia/IPO, dirigido, então tal como agora, por Manuel António Silva, foi o primeiro hospi-tal a ver o seu estatuto jurídico alterado para SA, seguindo-se depois o CHC e os HUC, já como EPE.

HUC passa a EPe com turbulênciaOs HUC adotam o estatuto de EPE a 1 de

setembro de 2008, mas nem todos concordam com as alterações e, antes e depois, ocorrem demissões. Antes, em abril de 2007, o então presidente do conselho de administração, Agostinho Almeida Santos, demite-se, por considerar que as reduções orçamentais com-

prometem uma “gestão rigorosa e eficaz”. É conhecida a sua oposição à transformação do hospital em EPE.

Almeida Santos é substituído por Fernan-do Regateiro, que transita da ARS Centro e sob a direção do qual se concretiza, no ano seguinte, a passagem dos HUC a EPE. Na se-quência da alteração do estatuto jurídico é de-sencadeado alguns meses depois, em 2009, o processo de restruturação interna do hospital, que conta com a oposição de alguns médicos e leva mesmo a Faculdade de Medicina da Uni-versidade de Coimbra a instaurar uma provi-dência cautelar contra os HUC. O argumento para instaurar a ação é a defesa da qualidade do ensino médico e a oposição às mudanças é liderada por Castro e Sousa e Carlos Olivei-ra, entre outros nomes. A contestação dura alguns meses, durante os quais a providência cautelar é indeferida e Carlos Oliveira perde para Santos Rosa as eleições para a Faculdade de Medicina de Coimbra.

em destaquedezembro de 2002 – O Centro Regio-nal de Oncologia de Coimbra (CROC/IPO) é o primeiro hospital da cidade a transformar-se em SA.

novembro de 2003 – No primeiro ano em que inicia o programa de transplan-tação, o Centro de Cirurgia Cardiotorá-cica dos HUC realiza 24 transplantes de coração, número nunca antes alcan-çado por nenhum centro em Portugal.

abril de 2004 – É lançado o concur-so público internacional para o novo Pediátrico de Coimbra. Com um prazo de execução de dois anos e meio, pre-via-se que a obra estivesse concluída em 2008. Espera-se ainda que possa ser inaugurado no início de 2011.

dezembro de 2006 – Os HUC reali-zam o maior número de transplantes cardíacos e renais. Após muitos protes-tos, é encerrada a maternidade da Fi-gueira da Foz e os partos passam a ser realizados em Coimbra. A medida é do ministro Correia de Campos e leva ao fecho das maternidades que realizam menos de 1.500 partos por ano.

abril de 2007 – Agostinho Almeida Santos anuncia a sua demissão da pre-sidência do conselho de administração dos HUC, em protesto contra as redu-ções orçamentais. Correia de Campos nomeia para o lugar Fernando Rega-teiro, então presidente da ARS, que é substituído por João Pedro Pimentel.

janeiro de 2008 – O fecho do SAP de Anadia, a contestação popular e a morte de uma criança antecedem a demissão de Correia de Campos, no dia 30.

2009 – Chegada do México, a gripe A causa alarme entre os portugueses. De-pois das quarentenas e das máscaras, foi a corrida às vacinas, que acabaram por sobrar.

agosto de 2009 – O Tribunal Admi-nistrativo de Coimbra indefere uma providência cautelar da Faculdade de Medicina de Coimbra, que contestava a reestruturação interna dos HUC.

outubro de 2010 – Mais um passo de sucesso na telemedicina do Pediátrico de Coimbra, programa liderado por Eduardo Castela. É inaugurada a liga-ção das consultas de cardiologia pediá-trica e fetal com o Hospital Baptista de Sousa, em Cabo Verde.

novembro de 2010 – O Orçamento do Estado 2011 não contempla verbas para a construção da sede do Instituto Nacio-nal de Medicina Legal, em Coimbra. É presidido por Duarte Nuno Vieira, que revolucionou os serviços médico-legais portugueses na última década.

A construção do novo Pediátrico de Coimbra começou em 2005, para ficar concluída no início de 2008. Hoje ainda se espera saber a data da inauguração, que deverá ser em breve

Nos HUC, Agostinho Almeida Santos foi substituído por Fernando Regateiro

Page 15: Balanco da década 2001-2010

15 

AMBIENTECULTURADESPORTOECONOMIAEDUCAÇÃOPOLÍTICASAÚDE 20012010

Além de Agostinho Almeida Santos, que acaba por solicitar a reforma antecipada em janeiro deste ano – a seis meses da data da sua jubilação –, também Carlos Oliveira, pre-sidente da Comissão Oncológica e diretor do Gabinete de Apoio à Investigação dos HUC, se demite destes cargos, por discordar da sepa-ração dos serviços de radioterapia e oncologia, incluída na restruturação interna.

Saúde mental e centros de saúdeA década fica também marcada pelo Plano

Nacional de Restruturação da Saúde Mental, que teve na linha da frente Coimbra. A 13 de dezembro de 2007 os três hospitais psiquiátri-cos do distrito de Coimbra fundem-se: os hos-pitais psiquiátricos de Sobral Cid (Coimbra), do Lorvão (Penacova) e o Centro Psiquiátrico de Recuperação de Arnes (Soure) unem-se e dão origem ao atual Centro Hospitalar Psiqui-átrico de Coimbra (CHPC), uma das unidades que agora irá também integrar, novamente

por fusão, o Centro Hospitalar e Universitá-rio de Coimbra.

Em Coimbra a reforma dos serviços de saúde mental é liderada pelo médico Fernan-do Almeida, que preside ao conselho de admi-nistração do CHPC, e consubstancia-se numa das primeiras experiências de fusão de hospi-tais e serviços. No âmbito da reforma, na cida-de os serviços de urgência de Psiquiatria são concentrados num único serviço, que passa a funcionar apenas nos HUC e é assegurado por médicos de vários hospitais.

Na saúde as reformas também são profun-das nos cuidados de saúde primários, culmi-nado com a constituição dos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES), e incluem a cria-ção da Rede Nacional de Cuidados Continua-dos Integrados, cuja necessidade é unanime-mente reconhecida.

À espera do novo Pediátrico A discussão em torno da construção

do novo Hospital Pediátrico de Coimbra atravessou a década e provocou mesmo pedidos de demissão de responsáveis do hospital. Instalado num edifício velho, sem condições, o Pediátrico reivindica-va há muito um novo edifício. Depois de muitas discussões em torno do plano fun-cional, as obras começam em 2005, para terminarem no início de 2008, mas hoje, o novo hospital, o primeiro pediátrico a ser construído de raiz em Portugal, embora praticamente concluído, ainda não entrou em funcionamento. Pelo meio ficam pro-blemas nas obras – como o lençol de água encontrado na zona das fundações – e no financiamento, que atrasam alguns anos a conclusão do hospital.

O presidente da ARS Centro, João Pedro Pimentel, e a presidente do conse-lho de administração dos CHC, Rosa Reis Marques, anunciam agora a sua inaugura-ção para o início deste ano.

as figuras

Correia de Campos – Ministro da Saúde por duas vezes, nesta década, Correia de Campos, natural de Torre-deita (Viseu), lançou uma série de re-formas no setor, de que são exemplo a criação de taxas moderadoras nas ci-rurgias e internamento, a concentração das maternidades e o encerramento dos SAP. Demitiu-se a 30 de janeiro de 2008, após a forte contestação popular em Anadia, onde acabou por morrer uma criança que foi transferida para um hospital de Coimbra.

Manuel Antunes – O diretor do Centro de Cirurgia Cardiotorácica dos Hospitais da Universidade de Coimbra criou o único centro de res-ponsabilidade integrada em Portugal, durante mais de uma década. Cedo se destacou pela produtividade – no centro realizam-se cerca de 1.600 ci-rurgias ao coração por ano – e pela au-sência de listas de espera. Nesta déca-da avançou com o programa de trans-plantação cardíaca, realizando cerca de dois terços dos transplantes cardíacos feitos em Portugal. Faltam ainda os anunciados transplantes pulmonares.

Jeni Canha – Soube dar voz, como ninguém, aos alertas para os maus tratos a crianças, num trabalho per-sistente que desenvolve há muito mas que ganhou maior visibilidade na última década. Médica e profes-sora da Faculdade de Medicina, coor-dena o Núcleo de Estudo da Criança de Risco do Hospital Pediátrico de Coimbra.

A construção do novo Pediátrico de Coimbra começou em 2005, para ficar concluída no início de 2008. Hoje ainda se espera saber a data da inauguração, que deverá ser em breve

Nos HUC, Agostinho Almeida Santos foi substituído por Fernando Regateiro Presidente da ARS, João Pedro Pimentel Passagem dos HUC a EPE teve “baixas”

Arquivo-Gonçalo Manuel Martins

Arq

uiv

o-G

on

çalo

Man

uel

Mar

tin

s

Arq

uiv

o-L

uís

Car

reg

ã

Arq

uiv

o-L

uís

Car

reg

ã

Arquivo

Arquivo-Luís Carregã

Arquivo-Carlos Jorge Monteiro

Page 16: Balanco da década 2001-2010

16 

20012010 AMBIENTECULTURADESPORTOECONOMIAEDUCAÇÃOPOLÍTICASAÚDE

Aida Rechena – A diretora do Museu Fran-cisco Tavares Proença Júnior, localizado no antigo Paço Episcopal de Castelo Branco, deu um novo fôlego cultural àquele terri-tório. Como investigadora das questões de género na museologia portuguesa, refres-cou os estudos sobre a matéria, depois de ter apresentado um mestrado em muse-ologia sobre os “Processos museológicos locais. Panorama museológico da Beira In-terior Sul”.

Helder Roque – O diretor do Hospital Dis-trital de Leiria, que chegou a ser falado no ano anterior como possível candidato à au-tarquia, recusou outros voos e manteve-se de pedra e cal nas suas funções. Os resul-tados de gestão chegaram no fim do ano: o Hospital de Santo André (HSA) supera a média nacional na maior parte dos indi-cadores económico-financeiros, revela um estudo do Banco de Portugal. Ao mesmo tempo o HSA regista, nos mesmos exercí-cios, desde 2007, uma atividade assistencial também crescente.

D. Manuel Felício – O bispo da Guarda te-ve, ao longo do ano, diversas intervenções em defesa dos mais desprotegidos da dio-cese, culminando com uma esclarecida e vigorosa mensagem de Natal, em que apon-ta, como uma das causas da crise, “os jogos de interesse que continuam a fazer-se nas costas do povo, envolvendo sobretudo de-

cisões políticas, económicas e financeiras”. Noutra perspetiva, o prelado considerou que qualquer alteração às leis laborais deve ter em conta “a dignificação do trabalho e não o contrário”. Sobre o encerramento da fábrica Delphi, deslocalizada para Castelo Branco e provocando 321 despedimentos, o bispo exortou a comunidade a “não ficar de braços cruzados e ajudar as pessoas a aproveitarem todas as oportunidades para as relançar na linha do trabalho”.

Raul Castro – À terceira foi de vez. O pre-sidente da Câmara de Leiria foi eleito no final de 2009 para tentar alterar as regras de gestão de uma autarquia asfixiada em problemas financeiros. Perante as dificul-dades, o autarca tem vindo a prometer em-penho em concretizar “soluções partilha-das” para a construção, por exemplo, dos novos centros educativos e para a integra-ção do município numa nova empresa pú-blica que permita investimentos no sanea-mento. Com clarividência, não hesita em defender a extinção da Leirisport, empre-sa municipal que gere as infraestruturas desportivas do concelho, considerando-a “o maior problema” da autarquia.

José eduardo Simões – O presidente da Académica viu-se envolvido, durante seis meses, num julgamento em que foi con-frontado com 11 acusações de crimes de corrupção. Nas alegações finais, o Minis-tério Público pediu para que os donativos – alegadamente ilegítimos – que foram entregues à Académica, revertessem pa-ra o Estado, mas não fez nenhum enqua-dramento penal. A leitura do acordão está marcada para 31 de janeiro. Entretanto, o presidente da Académica tem mantido a equipa em patamares competitivos na Li-ga, mesmo confrontado com as dificulda-des em substitutir o treinador Jorge Costa, que deixou o clube.

Cristina Robalo Cordeiro – Uma das vice-reitoras da Universidade de Coimbra, integrada na equipa de Seabra Santos, teve uma atividade constante e mediática du-rante 2010. Assumiu-se como candidata a reitora, em eleições marcadas para feve-reiro, enfrentando nas urnas João Gabriel Silva. É a primeira mulher a candidatar-se a este cargo numa universidade tradicional, mas que tem lidado bem com os ventos de modernidade.

Jaime Ramos – O antigo governador civil de Coimbra tem feito obra na Fundação ADFP – Assistência, Desenvolvimento e Formação Profissional. No final do ano des-tacou-se por ser o porta-voz do movimento Cívico de Miranda e Lousã, acérrimo defen-sor da reposição do ramal ferroviário, cujas obras o Governo resolveu suspender por dificuldades financeiras. Depois de mobi-lizar autarcas e forças vivas dos três conce-lhos que eram servidos pelo comboio, pro-moveu uma marcha lenta na autoestrada que congregou todas as atenções do últi-mo dia do ano.

Luís de Matos – Sem o mediatismo que os programas regulares na televisão portu-guesa lhe conferiram em anos anteriores, o mágico com raízes em Coimbra teve tem-po para concluir, ao fim de quatro anos, as instalações do estúdio 33 que fez crescer em Ansião. Estas instalações passaram a ser

um dos espaços tecnicamente mais bem equipados para espetáculos ao vivo e grava-ção de programas de televisão. Prosseguiu com o seu ciclo de programas na TV Galicia e surpreendeu, no final do ano, ao assinar um contrato com a cadeia britânica BBC para uma série de programas a serem emi-tidos neste mês de janeiro. “Esta mini série de cinco especiais assinala o momento em que BBC1 traz a magia de volta às noites de sábado, pela primeira vez, em quase duas décadas”, sublinhou o mágico.

André Vilas Boas – Foi uma grande sur-presa quando, com pouco mais de 30 anos e vindo quase diretamente da equipa de ad-juntos de José Mourinho, o jovem nortenho chegou a Coimbra para treinar a Académi-ca, substituindo Rogério Gonçalves. Em pouco mais de meio ano, provou ser um ca-so sério de capacidade de liderança, conhe-cimentos tecnico-táticos e, acima de tudo, intuição futebolística. Não admirou, pois, uma primeira abordagem, pelo Sporting, e, no final da época, a mais do que espera-da abordagem certeira, de Pinto da Costa. No Porto, lá está André a mostrar o que vale.

Paulo Campos – Caído Mário Lino em des-graça e substituído o ministro da importan-te pasta das Obras Públicas, Transportes e Comunicações por um politicamente nulo docente universitário, apenas uma perso-nalidade transitou: Paulo Campos, secre-tário de Estado de um e de outro, homem de crescente intervenção política e partidá-ria, inclusivamente, em Coimbra e no seu distrito – de onde é, de resto, originário (do concelho de Oliveira do Hospital). Foi ele que fez avançar a rede viária no distrito e, ao mesmo tempo, que ajudou a eleger Má-rio Ruivo, derrotando Victor Baptista, na Distrital do PS. Mas é ele, também, um dos muitos socialistas mudos no triste processo do Metro Mondego.

Figuras do ano 2010