Baixar revista Museu Universitário – UFSC – 30 anos

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30 anosReitor

Rodolfo Joaquim Pinto da Luz

Pró-Reitora de Cultura eExtensão

Denise Guerreiro Vieira da Silva

Diretor do Museu UniversitárioGelci José Coelho

Edição da RevistaMuseu Universitário

Transcrição das entrevistasJean Carlos Antônio

Sônia Maria Kempner

FotografiasJoi Cletison Alves, Francisco do Vale

Pereira, Gelci José Coelho, Milton Knabben

Fileti

Acervo do Museu

Seleção de imagensHermes J. Graipel Júnior, Cristina

Castellano, Gelci José Coelho, Francisco

do Vale Pereira e Vicenzo Berti.

Design Gráficowww.vicenzoberti.com.br

CapaCartaz institucional do MU

Contatoswww.museu.ufsc.br [email protected]

FAX: (48) 331 9325

Tel.: (48) 331 8821

Tiragem e circulaçãoDistribuição: instituições federais, estadu-

ais e municipais, escolas, universidades e

associações culturais e museológicas.

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4Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br

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MUSEU UNIVERSITÁRIOMUSEU UNIVERSITÁRIOMUSEU UNIVERSITÁRIOMUSEU UNIVERSITÁRIOMUSEU UNIVERSITÁRIOMuseu UniMuseu UniMuseu UniMuseu UniMuseu Univvvvvererererersitário "Ossitário "Ossitário "Ossitário "Ossitário "Oswwwwwaldo Raldo Raldo Raldo Raldo Rodrigues Caodrigues Caodrigues Caodrigues Caodrigues Cabrbrbrbrbral”al”al”al”al”

PrPrPrPrProfofofofof..... R R R R Rodolfodolfodolfodolfodolfo Jo Jo Jo Jo Joaquim Pinto da Luzoaquim Pinto da Luzoaquim Pinto da Luzoaquim Pinto da Luzoaquim Pinto da LuzRRRRReitor da UFSCeitor da UFSCeitor da UFSCeitor da UFSCeitor da UFSC

Nascido do antigo Instituto deAntropologia, idealizado e implan-tado pelo professor OswaldoRodrigues Cabral como um espa-ço propício às atividades de pes-quisa na área de Antropologia, oMuseu Universitário tem sido fielà sua missão, há mais de três déca-das, de buscar a "ampla compre-ensão da realidade, a partir da re-gião na qual está inserido, refletin-do criticamente sobre a diversida-de sócio-cultural". Esta postura dereflexão crítica premeia o trabalhorealizado no nosso Museu Univer-sitário, como nos mostram os de-poimentos que abarcam toda a sua história. Orelato do atual diretor, dos ex-diretores, dos co-laboradores técnicos e de apoio, são uníssonosna sua declaração de amor ao trabalho que reali-zam e realizaram neste ambiente propício à pes-quisa e de renovação do ensino e da extensão.

O Museu é uma porta aberta à comunidadeexterna, convidando-a a vir até a UniversidadeFederal de Santa Catarina para conhecer um pou-co mais de seu próprio passado e refletir sobre asua identidade cultural tão diversificada. Alémdo importante acervo de Arqueologia Pré-Colo-nial e Histórica, e de Etnologia Indígena, o Mu-seu é guardião da coleção "Profª Elizabeth PavanCascaes", preservando o significativo acervo doartista Franklin Joaquim Cascaes, constituído demais de 2.700 peças - desenhos, manuscritos e

Atividade cultural em frente ao Museu Universitário

esculturas que retratam o cotidiano, a religiosi-dade, lendas, mitos folguedos folclóricos e tradi-ções dos primeiros colonizadores da Ilha de San-ta Catarina.

Lançando sementes, o Museu criou tambémo Núcleo de Estudos Museológicos que, em par-ceria com a Fundação Catarinense de Cultura,está envolvido na capacitação do pessoal que tra-balha nos museus localizados nos vários municí-pios catarinenses. Desejamos que toda esta di-versidade de atividades desenvolvidas no Museuvingue, frutifique e se multiplique pelo Estadoafora. Esta seria a melhor recompensa e o teste-munho histórico do trabalho profícuo de todosaqueles que construíram o Museu Universitário"Oswaldo Rodrigues Cabral".

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5Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br

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AAAAAGRADECIMENTGRADECIMENTGRADECIMENTGRADECIMENTGRADECIMENTOOOOOA todos que trA todos que trA todos que trA todos que trA todos que traaaaabalharbalharbalharbalharbalharam no Museu Uniam no Museu Uniam no Museu Uniam no Museu Uniam no Museu Univvvvvererererersitáriositáriositáriositáriositário

DirDirDirDirDireção do Museueção do Museueção do Museueção do Museueção do Museu

Desde a sua criação, em 1965,como Instituto de Antropologia, até osdias atuais, quando recebe a denomina-ção Museu Universitário "OswaldoRodrigues Cabral", em homenagem aoseu fundador, já se passaram mais de trin-ta anos.

A publicação dessa memória, tema intenção de divulgar o Museu Univer-sitário através de depoimentos de pes-soas que ajudaram a formar sua históriapor meio da pesquisa, do ensino, da ex-tensão, constituindo um patrimônio sig-nificativo na produção científica, na do-cumentação museológica, coleta e aqui-sição de acervos nas áreas de Arqueolo-gia, Etnologia Indígena e Cultura Popular.

É impossível denominar a imensa quantida-de de colaboradores do Museu: professores, fun-cionários, estudantes e voluntários que por aquipassaram, deixando sua importante contribuição.A todas as pessoas desejamos agradecer e solici-tar a continuação dessa parceria.

Engenho de fabricar farinha de mandioca

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6Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br

ESTRESTRESTRESTRESTRUTURA UTURA UTURA UTURA UTURA AAAAATUTUTUTUTUALALALALALSetorSetorSetorSetorSetores e dies e dies e dies e dies e divisõesvisõesvisõesvisõesvisões

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Diretor:Gelci José Coelho

Diretora da Divisão de Museologia:Cristina Castellano

Diretora da Divisão de Pesquisa:Teresa Domitila Fossari

Secretaria:Elizabeth Pereira Russi Alexandre, EuclidesVargas, Maria Bernadete de AmorimJollembeck e Sônia Maria Kempner

Setor de Arqueologia:Teresa Domitila Fossari

Setor de Cultura Popular:Gelci José Coelho e Francisco do Vale Pe-reira

Setor de Etnologia Indígena:Aldo Litaiff, Deise Lucy Oliveira Montardoe Maria Dorothea Post Darella

Serviço de Documentação e Arquivo:Cristina Castellano, Hermes José GraipelJúnior e Wanda Ritta

MissãoMissãoMissãoMissãoMissão

O Museu Universitário"Oswaldo Rodrigues Cabral" tempor finalidade pesquisar, produzire sistematizar o conhecimentointerdisciplinar sobre populaçõespré-coloniais, coloniais, indígenas eações museológicas, visando a am-pla compreensão da realidade, apartir da região na qual está inseri-do, refletindo criticamente sobre adiversidade sociocultural.

ESTRESTRESTRESTRESTRUTURAUTURAUTURAUTURAUTURA

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7Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br

EstrEstrEstrEstrEstruturuturuturuturutura ora ora ora ora orggggganizacionalanizacionalanizacionalanizacionalanizacionalDireção:Serviço de expediente

Divisão de Museologia:Serviço de Documentação e ArquivoNúcleo de Estudos Museológicos - NEMU

Divisão de Pesquisa:Setor de ArqueologiaSetor de Etnologia IndígenaSetor de Cultura Popular

PrPrPrPrProjetos em desenojetos em desenojetos em desenojetos em desenojetos em desenvvvvvolvimentoolvimentoolvimentoolvimentoolvimento

DIVISÃO DE MUSEOLOGIA

Serviço de Documentação e Arquivo:- Acondicionamento e armazenamento do acer-vo arqueológico do Museu Universitário.- Acondicionamento e higienização da Coleção

Profa. Elizabeth Pavan Cascaes- Exposição itinerante "O UniversoBruxólico de Franklin Cascaes".- Exposição "Peixes Mitológicos" -desenhos de Franklin Cascaes.- Visitas guiadas (recepção e orien-tação aos visitantes do Museu Uni-versitário).

NEMU - Núcleo de Estudos Museológicos- Capacitação e aperfeiçoamento dos trabalhado-res dos museus do estado de Santa Catarina.

DIVISÃO DE PESQUISA

Setor de Arque-ologia:- Assentamentospré-coloniais degrupos de tradi-ção Itararé na pai-sagem da Ilha deSanta Catarina.

- Projeto gerenciamento dos sítios arqueológi-cos do empreendimento Jurerê Internacional.

Setor de Etnologia Indígena:- Registros sonoros e pesquisa dos repertóriosmusicais no Sul e Centro-Oeste do Brasil.- Tradução do Livro: Pramatisme et Sociologie.- Projeto "Sem tekoa não há teko" (Sem terranão há cultura).- Projeto “Resgate Memória Egon Schaden (Mu-seu Universitário/Departamento de Antropologia

Setor de Cultura popu-lar:- Registros da religiosi-dade popular do litoralcatarinense (vídeo).- Projeto Pilão da Ilha -mapeamento fotográficoseguido de exposiçãodas peças utilitárias.- Mapeamento culturalaçoriano do litoralcatarinense, em parceria com o Núcleo de Estu-dos Açorianos - NEA.- Projeto de extensão: palestras sobre a herançacultural de base açoriana.

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8Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br

HISTÓRIAHISTÓRIAHISTÓRIAHISTÓRIAHISTÓRIA

HISTÓRIA DO MUSEU UNIVERSITÁRIOHISTÓRIA DO MUSEU UNIVERSITÁRIOHISTÓRIA DO MUSEU UNIVERSITÁRIOHISTÓRIA DO MUSEU UNIVERSITÁRIOHISTÓRIA DO MUSEU UNIVERSITÁRIO"Os"Os"Os"Os"Oswwwwwaldo Raldo Raldo Raldo Raldo Rodrigues Caodrigues Caodrigues Caodrigues Caodrigues Cabrbrbrbrbral"al"al"al"al"

O Museu Universitário da UniversidadeFederal de Santa Catarina - UFSC tem sua ori-gem no Instituto de Antropologia, criado pormeio da Resolução nº 089, de 30 de dezembrode 1965. Até 1968 este Instituto funcionava juntoao Curso de História da Faculdade de FilosofiaCiências e Letras da UFSC. Em 29 de maio des-se mesmo ano foi inaugurada a sede própria doInstituto de Antropologia, uma edificação refor-mada e adaptada que integrava o complexo daantiga Fazenda "Assis Brasil", cujo espaço foitransformado no atual campus universitário.

O Instituto de Antropologia era compostopelas divisões de Arqueologia e AntropologiaFísica e Cultural. Suas instalações dentro de umaárea de 480m² abrigavam laboratórios, além deuma biblioteca e uma sala de exposições para oacervo arqueológico, indígena e de cultura po-pular.

A Reforma Universitária, implantada naUFSC na década de 1970, implicou a transfor-mação do Instituto de Antropologia em Museude Antropologia. Esta alteração na nomenclatu-ra não afetou o exercício das atividades de pes-quisa que continuavam sendo prioritárias, po-rém tendo que assumir definitivamente a expo-sição do acervo, atendendo aos objetivos: ex-

Prof. Cabral proferindo discurso de instalação doInstituto de Antropologia

Da esquerda para direita, Prof. Cabral e Prof. Egon Schaden

tensão e ensino. Para que pudesse haverexposições, foram transformadas trêssalas de aula que ficavam anexadas aoprédio principal em salas de exposições.

Em 1978, por meio da Resoluçãonº 065, de maio de 1978, o Museu deAntropologia é transformado em MuseuUniversitário. A partir desse momento oMuseu passa a ser uma instituição vol-tada exclusivamente para a guarda deacervo. Esta denominação sempre cau-sou estranheza ao público em geral, pois,no entendimento do senso comum, se eraou é universitário, percebia-se como um

receptor do acervo material dos diversos órgãosque compõem a UFSC. Entretanto, era latenteaos técnicos que atuavam no Museu Universitá-rio que seu caráter estava voltado à Antropolo-gia, e a forma "universitário" dava-se ao tripénorteador de uma instituição como a UFSC, vol-tada ao ensino superior, ou seja, pesquisa, ensi-no e extensão.

Assim sendo, em meados da década de 1980,o Setor de Arqueologia, com uma equipe coor-denada por uma arqueóloga, retomou a pesquisacom o projeto intitulado "O povoamento pré-his-tórico na Ilha de Santa Catarina", financiado pelaFINEP. A partir daí outros setores do Museuincrementaram projetos de pesquisa.

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HISTÓRIAHISTÓRIAHISTÓRIAHISTÓRIAHISTÓRIA

Prof. Cabral com assistentes mostrando as futurasinstalações do Instituto de Antropologia

Instituto de Antropologia - Finais da década de 1960

Prof. Cabral com pesquisadores doInstituto de Antropologia - 1968

Em 1991, após ampla discussão in-terna, foi formado o corpo técnico-cien-tífico que elaborou o novo regimentointerno objetivando a priori sedimentaro tripé pesquisa, ensino e extensão comoforma de atuação de um Museu com umcaráter eminentemente antropológico.

Em maio de 1993, o Museu com-pletou vinte e cinco anos de existência epassou a ser denominado Museu Universitário"Oswaldo Rodrigues Cabral", por meio da Reso-lução n.º 106/Cun, de 26 de outubro de 1993, emhomenagem a seu idealizador, fundador e primeirodiretor. Cabe ressaltar que, apesar de ser criadoem 1965, somente em 1968 foi aberto ao públi-

co, ainda comoInstituto de An-tropologia.

Atualmen-te, o Museu de-senvolve ativi-dades de pes-quisa, ensino eextensão emArqueolog ia(pré-colonial eh i s t ó r i c a ) ,Etnologia indí-gena, Culturapopular e Divi-são dem u s e o l o g i a

bem como em documentação e arquivo, e estu-dos museológicos. Dentro dessa perspectiva, oatendimento ao público especializado chegou nosúltimos quatro anos a 1.354 pessoas.

Merece atenção especial o acervo do Mu-seu, não só pela intensa procura por parte depesquisadores do Brasil e de outros países, comotambém por parte de instituições que se utilizamdele para exposições, como, por exemplo a "As-

sociação Brasil 500 Anos Artes Visuais - Mostrado Redescobrimento", uma mostra de acervosque denotam a multiplicidade e abrangência dacultura material no Brasil. Tal evento ocorreu noperíodo de 23 de abril a 7 de setembro de 2000no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, com umpúblico visitante que ultrapassou um milhão depessoas. A mesma exposição foi dividida emmódulos e apresentada em: Lisboa, FundaçãoCalouste Golbenkian, com uma visitação de oi-tenta e cinco mil pessoas; São Luís do Maranhão,no Convento das Mercês, com sessenta e cincomil visitantes; Santiago do Chile, no Museu Na-cional de Belas Artes, com quarenta e dois milvisitantes. O Museu se fez presente com o em-préstimo de vinte e seis peças do seu acervo ar-queológico, já estando programado para o anode 2005 o empréstimo de dez peças do acervode Arqueologia e Etnologia Indígena para oMuseu Nacional da França.

Outro ponto relevante do acervo e tambémmotivo de cuidados especiais é a sua diversidadede matérias-primas empregadas. Temos, sob a

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HISTÓRIAHISTÓRIAHISTÓRIAHISTÓRIAHISTÓRIA

Egon Schaden proferindo palestra no Auditório doMuseu Universitário - 1968

Arqueólogo Pe. João Alfredo Rohr, Prof. Cabral eProf. Paulo Duarte com equipe do Museu

Laboratório de Antropometria Física

guarda do Museu, acervos líticos, cestarias, ce-râmicas, vidros, papéis, ósseos, madeiras, fibrasvegetais, ferros, materiais fotográficos, tecido eplumária. Esta diversidade está intrinsecamenterelacionada à forma de aquisição do acervo queé, na sua maioria absoluta, resultado de pesqui-sas executadas pelo corpo técnico-científico doMuseu. Há coleções que têm forte apelo popu-lar, como por exemplo a coleção "Profª ElizabethPavan Cascaes", obra do artista Franklin JoaquimCascaes, que se tornou referência para a com-preensão da ocupação humana na Ilha de SantaCatarina e arredores. Ainda é fruto de exausti-vas pesquisas a coleção "Arqueológica", pré-colonial ou histórica (séc. XVI).

O acervo etnográfico indígena foi expostono Museu Histórico de Santa Catarina a partirdo mês de agosto de 2002. Também há uma ex-

posição com textos e fotos intitulada"Índios e terras indígenas em SantaCatarina: situação atual", que está emexposição pelo interior do nosso estado.No que tange as exposições no Museu,é fator limitante e motivo de preocupa-ções suas precárias instalações.

Como já foi dito anteriormente, dis-pomos de três salas denominadas blo-cos M2, M3 e M4, segundo definição

do Escritório Técnico-Administrativo (ETUSC),que totalizam 480 m². Cabe salientar que a áreautilizável sofre interferência de corredores queligam um bloco ao outro. Outra questão é ainadequação do espaço, uma vez que são cons-truções da década de 1970, com piso em madei-ra, janelas venezianas e telhado de amianto semforro, a princípio construídas para serem utiliza-

das como salas de aula. Este conjuntoimpede o controle de umidade, tempe-ratura, iluminação e até mesmo a circu-lação do público e a segurança do acer-vo de maneira adequada.

Ainda que tenhamos um conjuntode problemas, dificuldades e preocupa-ções, mantemos exposições a fim deatender ao público da UFSC, escolas doensino fundamental e médio da rede pú-blica e particular, ao público local e aosturistas provenientes do Brasil e outrospaíses. A questão da visitação ao Museurequer condições de segurança tanto parao acervo quanto para o público, que nos

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HISTÓRIAHISTÓRIAHISTÓRIAHISTÓRIAHISTÓRIA

Vista parcial do prédio do Básico - Década de 1970. Ao fundo, à esquerda, o então Instituto de Antropologia, atual MuseuUniversitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”

Sr. Duca, oleiro do município de São José,demonstrando a confecção de cerâmica de torno

últimos quatro anos perfizeram um total de 71.140visitantes.

A atuação de museus pós-década de 1980está sendo norteada pelas Cartas de Caracas e deSantiago do Chile. Ambas centram esforços paraque as questões museográficas voltem-se para a região na qual está inserido omuseu, de forma que a museografia -técnica expositiva - contemple aspectosda cultura local. Esta orientação daregionalização já é contemplada histori-camente pelo Museu; porém, no que serefere à museografia, temos sérias difi-culdades em razão do espaço físico.

Mostras museográficas não se res-tringem em colocar à disposição do pú-blico o acervo, pois elas têm como obje-tivo servir a um processo educacional,permitindo a sua reflexão e compreen-são por meio da cultura material. Os ob-jetos no museu adquirem o status de

acervo e são descaracterizados de sua funçãoprimeira e assim tornam-se signos que por si nãofalam, mas traduzem o arcabouço cultural deuma sociedade. Dessa forma, é de vital impor-tância que os espaços museográficos tenham uma

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HISTÓRIAHISTÓRIAHISTÓRIAHISTÓRIAHISTÓRIA

Visita do então Reitor, Prof. David Ferreira Lima, recebido peloProf. Silvio Coelho dos Santos, no laboratório de AntropometriaFísica

Salas de exposição - década de 1970

Hall do MuseuAo fundo, fotografia do Prof. Cascaes

adequação que possibilitem uma interação entreo público e a exposição que os objetos/acervos/signos não sejam olhados como "curiosidades",mas como ação educativa.

Por se tratar de um Museu que desenvolveatividades em uma instituição de ensino superior,a procura de informações pertinentes à área aca-ba sendo uma constante.

Esta demanda, não só pelas prefeituras doestado de Santa Catarina, como também de ou-tros museus e mesmo de instituições do ensinofundamental, médio e superior. Ainda assim, nointuito de otimizar as atividades externas, foramcriados dois núcleos de estudos com atribuiçõesespecíficas, quais sejam: NEMU - Núcleo de Es-tudos Museológicos e o NEA - Núcleo de Estu-dos Açorianos.

O Núcleo de Estudos Museológicos em

conjunto com a Fundação Catarinense de Cultu-ra, por meio da Gerência de Organização dosMuseus Catarinenses, oferecem oficinas, cursos,palestras e seminários para mais de cento e qua-renta museus do estado de Santa Catarina. A idéiacentral é a capacitação dos trabalhadores em mu-seus, permitindo desta forma o desdobramentodas informações em cada região de atuação doNúcleo.

A questão da ocupação humana no litoralde Santa Catarina, a partir do Séc. XVIII, é alvode atenção do Núcleo de Estudos Açorianos.Dessa forma, o mapeamento cultural - levanta-mento de dados da cultura material e da culturaoral, tenta perceber na contemporaneidade as per-manências e a dinâmica cultural dos descenden-tes dos antigos povoadores açorianos. Cabe sali-entar que até a presente data, quarenta e trêsmunicípios participam de forma sistemática deeventos que vão desde pesquisas, palestras, se-minários, publicações e até festas populares,objetivando incentivar a participação da comuni-dade de forma lúdica, reconhecendo e valorizan-do os aspectos da herança cultural de base açori-ana, e estimular a organização de grupos folcló-ricos, de festividades e da produção artesanal,buscando criar um corredor turístico cultural aolongo do litoral catarinense.

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DEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTOS DE DIRETOS DE DIRETOS DE DIRETOS DE DIRETOS DE DIRETORESORESORESORESORES

DIRETDIRETDIRETDIRETDIRETORES DO MUSEU UNIVERSITÁRIOORES DO MUSEU UNIVERSITÁRIOORES DO MUSEU UNIVERSITÁRIOORES DO MUSEU UNIVERSITÁRIOORES DO MUSEU UNIVERSITÁRIO

Nas páginas a seguir você teráo depoimento de diretores do MuseuUniversitário, desde sua criação,bem como de pessoas próximas aele.

Os depoimentos trazem umpouco das suas experiências àfrente da administração do Museu,no dia-a-dia deste setor que primapela guarda da história de nossosantecessores.

Crianças visitando o Museu Universitário. A Bernunça é uma das figuras que compõem o folguedo folclórico do Boi-de-Mamão

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14Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br

DEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTOS DE DIRETOS DE DIRETOS DE DIRETOS DE DIRETOS DE DIRETORESORESORESORESORES

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O Instituto de Antropologia, eu vi nascerdo sonho de Oswaldo Cabral. Aos poucos elefoi formando uma equipe na medida das necessi-dades e tudo foi funcionando, apesar das dificul-dades. Quando surgiram problemas para se fa-zer a restauração de crânios tirados dossambaquis, foi chamado um dentista, o Dr. Ed-son Araújo, que criou um sistema para restauraros crânios; inovação aplaudida por vários pes-quisadores. Tudo foi surgindo do nada, foi indo,foi se desenvolvendo no Instituto de Antropolo-gia, embasado no amor daqueles que ali atua-vam. Foi um trabalho de amor. Eu era aluna docurso de História e auxiliava nas horas vagas.Aqui onde estamos dando esta entrevista eraexatamente o local onde montei a primeira bibli-oteca do Instituto - era um monte de livros erevistas, a maioria doada por meu tio, tirada dasua biblioteca particular. O pessoal que aqui tra-balhava era pouco para o muito que havia parafazer. O senhor Costa (José Antonio Costa) erao secretário e o senhor Hélio (Hélio ManoelAlves) era o servente.

O professor Cabral ajudou a fundar aUFSC, foi diretor da Faculdade de Filosofia; masa "menina dos olhos" dele era o Instituto de An-tropologia. A sua maior satisfa-ção era dizer que havia transfor-mado uma estrebaria numa insti-tuição científica. Sim, porqueonde estamos era a estrebaria daantiga fazenda "Assis Brasil".

Muitas pessoas que fre-qüentavam o Instituto comopalestrantes são ícones da cultu-ra brasileira. Por aqui passaramos eminentes Paulo Duarte eEgon Schaden da USP; profes-sores do Museu do Homem deParis; Wesley Hart dos USA etantos outros nomes, no momen-to, impossíveis de enumerar.Acho que foi uma época brilhan-te da nossa Universidade.

O arqueólogo W. Hart era

uma "figura". Trabalhei com ele em escavaçõese, para mim, foi uma pessoa inesquecível, erauma sumidade!

Espero que, a partir desses trinta anos dacriação do Instituto de Antropologia, depoistransformado em museu, ele possa ir em frente,que consiga verbas e possa voltar a ser aquiloque o Dr. Oswaldo Cabral pretendia, uma insti-tuição de caráter científico, que se possa fazermuito mais pesquisas do que se faz hoje, porqueo Museu não era intenção dele; ele não pretendiao Museu. Teria uma sala com objetos arqueoló-gicos encontradas em escavações científicas, masseriam peças de acervo para estudo, não seriampeças para exposição pública.

Ele não chegou a ver essa transformação queocorreu aqui por causa da sua morte, mas eu acre-dito que ele não iria se importar com a criaçãodo Museu. Transformações acontecem em qual-quer instituição, mas o Museu como instituiçãode pesquisa, ensino e extensão, chega ao pontoque ele gostaria.

Visita guiada

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15Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br

DEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTOS DE DIRETOS DE DIRETOS DE DIRETOS DE DIRETOS DE DIRETORESORESORESORESORES

Sílvio Coelho dos Santos Sílvio Coelho dos Santos Sílvio Coelho dos Santos Sílvio Coelho dos Santos Sílvio Coelho dos Santos (dir (dir (dir (dir (diretor no período de 1970 a 1975)etor no período de 1970 a 1975)etor no período de 1970 a 1975)etor no período de 1970 a 1975)etor no período de 1970 a 1975)

Gostaria de dizer inicialmente quecomecei a trabalhar com o professorOswaldo Rodrigues Cabral na cadeira deAntropologia, como auxiliar de ensino,e foi nesse cenário que acabei fazendoum curso de especialização no MuseuNacional, no Rio de Janeiro.

Como o professor Cabral era umentusiasta, ele se cercou de vários jovensque estavam interessados na pesquisa,na área de Antropologia e em camposespecíficos como Arqueologia, Antro-pologia Física, Etnologia, e foi assimtambém que colegas meus, comoAnamaria Beck, Marcílio Dias dos San-tos, Gerusa Duarte, fizeram seus cursosde especialização. De sorte que pelo ano de 1965,o professor Cabral estava rodeado de auxiliarestrabalhando cada um em um campo particular daárea de Antropologia. Surgiu nesse cenário a idéiade transformar a cadeira de Antropologia numInstituto de Pesquisa em Antropologia. Lembro-me de que eu, o professor Walter Fernando Piazzae o Professor Cabral assinamos um documentoque enviamos no início de 1966 para o reitorFerreira Lima, que autorizou o professor Cabrala ocupar esta edificação da antiga fazenda "AssisBrasil", que estava abandonada. Naquela épocaera usada por dois moradores que foram transfe-ridos.

O gabinete do reitor cedeu uma pequenaverba para o professor Cabral. Com aquele pou-co dinheiro, ele não só reformou o prédio comocomprou móveis e equipamentos e um veículopara garantir a pesquisa. Em 1967, mudamos paracá; creio que no mês de agosto ou setembro. Masrealmente o prédio só foi inaugurado em 1968,quando houve aqui uma reunião do Conselho deReitores. Lembro-me de que muitos estudantesse colocaram aqui na frente para vaiar o reitor eas demais autoridades que estavam chegando paraaquela inauguração formal. Foi motivo inclusivedaquela placa de inauguração que está ali na es-cada.

Naquela época, o Instituto era referência não

só nacional, mas também internacional. Váriospesquisadores estrangeiros já tinham passado poraqui. Alguns pesquisadores se associaram à equi-pe do Museu, como aconteceu com a professo-ra Anamaria Beck. Teve um professor america-no que fez pesquisa com ela, aqui na região Sul,em Laguna. Antes disso, havia o Programa Na-cional de Pesquisa Arqueológica, sob a respon-sabilidade do professor Walter Fernando Piazza.Isto foi anterior à criação do Instituto, nos anosde 1964/1965. Vários estudantes freqüentavamo Instituto, de tal sorte que se criou um ambien-te de pesquisa e de ensino. As aulas regulares deAntropologia eram dadas aqui. O ambiente nãoera apenas de trabalho, era um espaço cordial,camarada. Um ambiente que se transformou,assim, numa espécie de ilha no cenário da Uni-versidade, que naquele tempo era bastante pe-quena. Podemos dizer que naquele tempo issoaqui já começava a ser uma ilha de excelência.Excelência no sentido de bom ensino, de boapesquisa.

Com a Reforma Universitária em 1970,acabamos sendo surpreendidos pelo veto à pa-lavra Instituto. A organização que se deu à novaadministração da Universidade tinha departa-mentos, centros e as sub-reitorias. Mas a pala-vra instituto foi julgada como incompatível comessa estrutura. Havia naquele momento, em

Presépio Natalino confeccionado com fibras naturaise idealizado pelo Prof. Franklin Cascaes

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1970, três institutos. Um de pesquisa na áreasocioeconômica; o Instituto de Antropologia; eum Instituto de Direito do Trabalho que funcio-nava na antiga Faculdade de Direito. Houve aírazões técnicas, mas também razões políticas paraque ocorresse este veto, de maneira que os ou-tros dois institutos realmente desapareceram.

O professor Cabral, na última hora, quandoo projeto estava indo para o Conselho Universi-tário, recebeu uma mensagem da reitoria para verse poderia encontrar outro nome para a nossa or-ganização, para o nosso instituto. Tivemos aí vintee quatro horas ou quarenta e oito horas para to-mar essa decisão. Sem ter outro nome disponí-vel, tomamos o nome de museu. Então em vez deInstituto de Antropologia, passamos a ser Mu-seu de Antropologia. Isto gerou um mal-estar. Oprofessor Cabral imediatamente fez uma carta aoreitor e pediu demissão do cargo de diretor doInstituto de Antropologia, e também do Museu.Essa carta do professor Cabral nunca saiu da ga-veta do reitor. O doutor Cabral foi para casa e sóvinha aqui para dar aulas, depois entrou em licen-ça. Realmente fiquei como substituto dele, já queera o mais antigo dos auxiliares. Tive que deixaratividades que tinha no período da tarde porque aUniversidade só nos remunerava dezoito horaspor semana. Não havia período integral. Eu eradiretor de um Centro de Pesquisas Educacionaisno sistema da UDESC. Fui chamado pelo vice-reitor, que estava no exercício da reitoria, o pro-fessor Lacerda, que me colocou diante de um di-lema: ou eu assumia para fazer os atendimentosadministrativos de uma forma plena, ou havia aameaça do encerramento das atividades do Mu-seu.

Consultando meus colegas e o próprio pro-fessor Cabral, chegamos a conclusão de que al-guém tinha que ir para o sacrifício. Acabei dei-xando a minha atividade de pesquisador daUDESC. A reitoria me concedeu um regime ad-ministrativo de quarenta horas. Então eu pude fi-car aqui os dois expedientes. Nessa altura, o Mu-seu começou a receber público, tanto no horáriomatutino quanto no vespertino. Tudo isso nos le-vou a discutir a "figura do público", até então paranós era uma incógnita. Éramos professores e pes-quisadores. Decorrente das nossas atividades,havia um certo acervo acumulado, originário da

pesquisa arqueológica, etnológica, e mesmo dapesquisa de Antropologia Física. Mas não tínha-mos prática de atender ao público. Agora eramestudantes de 1º e 2º graus, gente que vinha dointerior para conhecer o acervo do Museu. Naverdade, a gente tinha pouca coisa para mostrar.Além da falta de prática, havia a falta de instala-ções. Nesse cenário, e num contexto de improvi-sação, fomos salvos por esse nome Museu. Naestrutura da Universidade ficamos muito tempomeio marginalizados. Sabíamos que éramos com-petentes. Havia realmente uma produção cientí-fica, a revista que editávamos, as pesquisas quecontinuavam. Havia prestígio externo. Mas nocenário da Universidade agora instalada, com umaoutra dinâmica, o que interessava era o profes-sor em sala de aula. Então, nesse cenário, fica-mos à margem. Fomos lotados como professo-res no Departamento de Sociologia. O grupo deSociologia tinha pouca identidade conosco. Essaidentidade foi aos poucos sendo construída. Atéentão nós tínhamos uma vida razoavelmente in-dependente. Os departamentos até 1970 erammuito frágeis. Nesse cenário começamos a pen-sar, como atender ao público, como assumir oaspecto de face da Universidade, já que o públi-co quando vem aqui na Universidade, no campus,que naquela época era muito pequeno, quer veralguma coisa; no caso, o Museu. Então fizemosalguns arranjos no prédio: improvisamos umacobertura aqui, onde estamos, muito pobre; co-locamos algumas coisas referentes à Etnologia,à Cultura popular , como carro de boi, boi-de-mamão, uma carroça, e peças de olaria.

O Vendedor de Pássaros - Coleção EscultóricaAutoria: Franklin Cascaes

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17Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br

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Foi nesse cenário que atraímos o professorFranklin Joaquim Cascaes, que para cá veio pormeio de um convênio que atendendo a um apelomeu, foi firmado com a Prefeitura deFlorianópolis, cujo prefeito era Nilton Severo daCosta, que havia sido aluno do professor Cascaesna Escola Técnica Federal. O professor Cascaespassou a ser pago por esse convênio com a Uni-versidade. Assim, ficou por dois ou três anos.Ele exigiu, para vir para cá, que houvesse umpouco de dinheiro a fim de que ele pudesse con-tinuar com suas pesquisas. Ele não queria salá-rio. Só três ou quatro anos mais tarde que aUniversidade encontrou uma forma para contra-tar o Cascaes. Nesseínterim, Cascaes re-moveu da sua casapara o ambiente doMuseu o seu acervo.Na administração doprofessor CasparErich Stemmer(1976/1980), foramconstruídas duas des-sas salas que temosaqui, onde o Cascaesinstalou as suas expo-sições. O acervo doCascaes chegou num

momento em queFlorianópolis cres-cia, que a Univer-sidade crescia.Alunos vinham dointerior ou de ou-tros estados. Aomesmo tempo che-gava o pessoal daEletrosul. Aconte-ceu uma expansãourbana. Chegarampessoas de outrasregiões que nadasabiam da Ilha de

Santa Catarina, sobre a cultura doseu povo. O processo de urbaniza-ção da Ilha se acentuava. Então oacervo do Cascaes foi redescobertoe começou a ser valorizado. Isso re-percutiu na imagem do Museu.Quem queria saber alguma coisa daIlha recebia a informação "vá aoMuseu Universitário, o Cascaes estálá". Ao mesmo tempo as pesquisasde Arqueologia e Etnologia conti-nuavam. Os acervos foram crescen-do por meio de doações. Recebemosvárias doações importantes, como ado Tom Wildi, que veio para cá nos

anos 70. Desta maneira, o Museu continuou cres-cendo. Outras salas foram construídas. O nomemuseu acabou pegando e ficou. Mas, felizmen-te, não se perdeu da tradição da qualidade dapesquisa que aqui se fazia. Ela teve prossegui-mento, e também o ensino.

Devo voltar um pouco atrás para dizer queno ano de 1970, no início, já era rotina a presen-ça dos estudantes graduados que aqui faziam es-tágios durante um ano, às vezes mais. A partirdaqui se candidatavam a fazer pós-graduaçãono país ou fora dele. Houve vários casos. Rece-bemos alunos de todo o estado e de outros lo-cais. Vieram atraídos pela fama que o Museuhavia adquirido. Nesse cenário, em 1974, pen-

Índio Guraní. Autoria: Domingos FossariTécnica carvão sobre papel

Índio Xokleng. Autoria: Domingos FossariTécnica carvão sobre papel

Índio Kaingang. Autoria: Domingos FossariTécnica carvão sobre papel

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samos em criar um curso de especialização emAntropologia. Essa idéia tinha a professoraAnamaria Beck, à frente. Mas as negociaçõescom o Departamento de Sociologia foram difí-ceis. Nós éramos em seis ou sete e o número desociólogos já era dez ou onze. Entretanto, o gru-po de sociólogos não dispunha de professorespós-graduados em número suficiente para tam-bém propor um curso de especialização. Houve,por parte do Departamento de Sociologia, umacerta restrição à nossa proposta, desde que essase limitava a atender só ao interesse da Antropo-logia. Para levar o projeto a termo, tivemos queincluir a área de Sociologia. O curso acabousaindo com a denominação Curso de Pós-Gra-duação em Ciências Sociais, Especialização emSociologia e Antropologia, instalado em 1976.Já em 1978, esse curso passava para a condiçãode mestrado.

Agora já se discute o doutorado. Nesta al-tura, já está tudo separado. Nos anos 80, o De-partamento de Sociologia passou a se chamarCiências Sociais. Foi criado um Curso de Gra-duação em Ciências Sociais. O Departamento deCiências Sociais obte-ve boas instalaçõesaqui no prédio doCFH, compartilhandocom o grupo de An-tropologia. Aquelasdificuldades de relaci-onamento foram evi-dentemente supera-das. O Departamentocresceu, chegou a ummomento que tinhamais de quarenta pro-fessores. Nos anos 90foi criado o Departa-mento de Antropolo-gia, separando-se doDepartamento de So-ciologia e da Política.Mas, mesmo assim,mantém com essesnossos colegas rela-ções extremamentefraternas. Estamospensando num douto-

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rado de Antropologia, mais ajustado a uma outraproposta que está sendo estudada por parte doscolegas de Ciências Sociais, que contemplam umprojeto de Sociologia Política, também em nívelde doutorado. Os alunos fazem intercâmbio dedisciplinas, etc.

Tudo isso demonstra a trajetória que se co-meçou no Instituto de Antropologia. Esta casatem tradição. A parte amarela do prédio era aestrebaria da Fazenda "Assis Brasil". Falo istopara lembrar o Dr. Cabral, que gostava de infor-mar aos visitantes que aqui era a antiga estrebariada Fazenda "Assis Brasil", e completava, "felizde quem pode transformar uma estrebaria numcentro de ciências".

Boitata Enamorado. Nanquim sobre papel. Autoria: Franklin Cascaes

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19Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br

AlrAlrAlrAlrAlroino Baltazar Eboino Baltazar Eboino Baltazar Eboino Baltazar Eboino Baltazar Eble -le -le -le -le - In memoriam (dir (dir (dir (dir (diretor no período de 1975 a 1976)etor no período de 1975 a 1976)etor no período de 1975 a 1976)etor no período de 1975 a 1976)etor no período de 1975 a 1976)

PPPPPor Gelci Jor Gelci Jor Gelci Jor Gelci Jor Gelci José Coelho “Posé Coelho “Posé Coelho “Posé Coelho “Posé Coelho “Peninha”eninha”eninha”eninha”eninha”

Dirigiu o Museu de Antropologia no perío-do de1975 a 1976, período em que iniciou aampliação de visitação ao Museu, para a comu-nidade externa da UFSC, pois na concepção deleo Museu era antes de tudo um Instituto de pes-quisas em Antropologia com laboratórios e umaexcelente biblioteca especializada. O auditórioabria-se à comunidade universitária, provocan-do uma significativa freqüência de pessoas aoInstituto de Antropologia, que oferecia encon-tros e palestras com eminentes cientistas nacio-nais e internacionais, e depois o Museu, além detoda a atividade acadêmica e de pesquisa, apre-senta pequenas exposições de objetos arqueo-lógicos, artefatos indígenas , arte popular do fol-

clore regional, máquinas pré-industriais como oengenho de fabricar farinha de mandioca e o defabricar açúcar de cana. Também o torno de olei-ro, canoa, carroça, carro de bois, tear manual,pilão, gamela e balaios.

Além de todo esse acervo, ingressara noMuseu a coleção "Profª. Elizabeth PavanCascaes", de autoria do artista e professorFranklin Joaquim Cascaes, que montava exposi-ções de seus conjuntos de esculturas e desenhosno Museu. Toda essa oportunidade era oferecidaprincipalmente ao público acadêmico e o profes-sor Eble buscava ampliar a visitação da comuni-dade externa ao Museu. Como atrair o públi-co? O Museu só faz sentido com a presença do

público. O Eble era vanguarda e apoiou o ar-tista Franklin Cascaes quando da implantaçãodas instalações artísticas com temas que setransformaram em tradição. Principalmente opresépio, atraindo verdadeiras populaçõespara a sua apreciação. Como tais manifesta-ções são realizadas em frente ao Museu, acabapor possibilitar uma visita às exposições, atécomo um complemento do lazer cultural, per-mitindo uma ampla visibilidade do Museu etodo o seu significado. Foi um importante iní-cio nas atividades educativas voltadas para acomunidade e por ela reconhecido.

Professor Eble, como gostava de ser cha-mado, era um cientista/erudito, de espírito jo-vem, polêmico e desafiador. Foi um privilé-gio conviver com semelhante espírito de luz.A professora Anamaria Beck foi quem meapresentou, mas foi o professor Eble que meconvidou para trabalhar junto ao setor de Cul-tura popular, auxiliando o professor Cascaes.Era exatamente o que eu buscava. Tentaraprender e entender a minha própria herançacultural. O Museu é repleto de possibilidades,e estou imensamente agradecido ao professorAlroino Baltazar Eble, in memoriam.

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Urna Pacoval. Ilha de Marajó. Coleção Tom Wild

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20Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br

AlrAlrAlrAlrAlroino Baltazar Eboino Baltazar Eboino Baltazar Eboino Baltazar Eboino Baltazar Eble -le -le -le -le - In memoriam (dir (dir (dir (dir (diretor no período de 1975 a 1976)etor no período de 1975 a 1976)etor no período de 1975 a 1976)etor no período de 1975 a 1976)etor no período de 1975 a 1976)

PPPPPor Maria Jor Maria Jor Maria Jor Maria Jor Maria José Rosé Rosé Rosé Rosé Reiseiseiseiseis

Em 21 de junho de 1990,parentes e amigos, nos despedi-mos do Eble (assim eu o chama-va), na "sua" Blumenau, de quese fizera filho a partir dos 11 anosde idade.

Embora tivéssemos ambosnascido em Rio do Sul (SC), sóvim a conhecê-lo pessoalmenteem meados da década de sessen-ta, já na UFSC. Antes dele, che-garam até mim os "diz-que-diz",próprios de uma pequena univer-sidade, que contava, à época,com apenas quinhentos alunos.Comentava-se que ingressara emnosso curso de História um "ra-paz de Blumenau" que fazia fu-ror entre os colegas, provocan-do, também, inquietação e até irritação em algunsprofessores, satisfação em outros, pelo seu indis-cutível preparo intelectual, pela ousadia eirreverência com que expunha suas idéias. Era beminformado em várias áreas de conhecimento, alémda História; um pouco ao estilo dos "naturalis-tas" do século XIX. Aventurava-se, ainda, na li-teratura, tendo publicado uma coletânea de poe-sias que escrevera aos dezenove anos de idade.Sua grande paixão, no entanto, já era a Arqueo-logia.

Mal terminara a graduação na UFSC (1969),iniciava um Curso de Pós-graduação em Antro-pologia na Pennsylvania State University, ondepermaneceu por um ano.

Ingressamos ambos na UFSC, em março de1971, como professores. Daí para frente, comoeu também optara por fazer carreira na Arqueo-logia, desenvolvemos juntos várias atividades aca-dêmicas. Em 1972, visitamos os Museus Antro-pológicos do Rio Grande do Sul e, no mesmoano, realizamos levantamentos de sítios arqueo-lógicos no Alto Vale do Itajaí (SC). Em 1973 ini-ciamos o Mestrado na USP. Em 1976, realiza-mos pesquisa em sítios da região da Serra do Ta-buleiro (SC). Em tudo que compartilhamos, foi

um bom companheiro.Eble elegeu, todavia, como sua área prefe-

rencial de pesquisa, o Vale do Itajaí, tendo pu-blicado, principalmente nos Anais do Museu deAntropologia da UFSC, vários artigos sobre aArqueologia da região. Sua trajetória acadêmi-ca incluiu uma curta viagem de estudos a Paris,além de ter dirigido, por um ano, nosso Museude Antropologia. A par destas atividades, lecio-nou disciplinas de Antropologia para diferentescursos. Sua imagem como professor foi semprecontraditória, acredito que pelo caráter polêmi-

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Visita guiada

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21Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br

Anamaria BecAnamaria BecAnamaria BecAnamaria BecAnamaria Beckkkkk (dir (dir (dir (dir (diretoretoretoretoretora no período de 1977 a 1982)a no período de 1977 a 1982)a no período de 1977 a 1982)a no período de 1977 a 1982)a no período de 1977 a 1982)

O Museu na ver-dade iniciou como Ins-tituto de Antropologiae foi uma idéia que co-meçou a ser construídano início da década de1960, quando o Dr.Cabral, o professorWalter FernandoPiazza e o professorSílvio Coelho dos San-tos (na época assisten-te do Dr. Cabral) resol-veram reunir um gru-po não apenas de pro-fessores mas tambémde pesquisadores; umgrupo de antropólo-gos. Foi uma idéiamuito interessanteporque o processo deconstrução desse gru-po, a idéia de termos um Instituto de Antropo-logia, foi se consolidando. Inicialmente no sen-tido de formar pessoas, e vários alunos nesseprocesso foram escolhidos dentro das discipli-nas de Antropologia dos cursos de História eGeografia. E nesse sentido, por exemplo, come-çamos a ter bolsas de estudos das instituiçõesnacionais para fazermos nossa formação fora deSanta Catarina, como foi o caso inicial do pro-fessor Sílvio Coelho dos Santos, do MarcílioDias dos Santos, eu mesma, do professor LuísCarlos Halfpap, do Alroino Baltazar Eble, já fa-lecido, que foi também diretor do Museu, dasprofessoras Maria José Reis, Neusa Maria SensBloemer, da Sônia Ferrari e Giralda Seiferth. ASônia Ferrari hoje está na USP e a GiraldaSeiferth está no Museu Nacional do Rio de Ja-neiro. Esse conjunto de professores (inicialmen-te éramos alunos) estava querendo uma pós-gra-duação para dinamizar esse grupo de estudos deAntropologia, que foi constituindo-se no Insti-tuto de Antropologia. À medida que começá-vamos a voltar da nossa pós-graduação, conso-

lidou-se a idéia de termos um espaço físico maisamplo do que tínhamos na faculdade de Filoso-fia, da antiga faculdade de Filosofia, Ciências eLetras e se optou então por uma área no campusuniversitário que estava abandonada, e que eraum estábulo. O laboratório, por exemplo, era ocurral onde as vacas eram ordenhadas, e se trans-formou inicialmente no laboratório de Arqueo-logia e Antropologia Física, e atualmente só olaboratório de Arqueologia.

Lamentavelmente, com a Reforma Univer-sitária, que foi dura na sua implantação, a idéiade Instituto foi banida, e a única saída regimen-tal, estatutária e burocrática que encontramospara manter o Instituto de Antropologia foitransformá-lo em um Museu. É a partir dessemomento então passamos a dar ênfase à partede exposições. Até então, nos dedicávamos maisàs pesquisas e ministrávamos aulas. Todos nóscursávamos alguma disciplina dentro do progra-ma em que atuávamos de acordo com a nossaespecialização, nas várias disciplinas da Antro-pologia mas, a partir da Reforma Universitária,

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Higienização do Acervo de Franklin Cascaes

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ocorreu um fenômeno muito interessante, poisse ampliou o grupo de Antropologia porque comodisciplina passou a ser ministrada para vários cur-sos. Então tínhamos que atender a essa demandae ampliar a área de exposições. Também a partirda Reforma Universitária é que há uma grandeênfase na necessidade de formalizar a pós-gra-duação. Os cursos de doutorado são concluídos,o grupo vai tornando-se muito mais qualificado.É muito interessante porque é um dos poucosgrupos no início de criação da UFSC que teveuma qualificação mais ou menos homogênea; àmedida que os novos alunos entravam, já iampara o mestrado ou para o doutorado, tínhamosentão um encaminhamento nessa direção. Com aReforma Universitária, criamos e começamos otrabalho de regulamentação do estágio, recebe-mos alunos de praticamente todo o Brasil, comoestagiários. Não existia ainda a pós-graduação emAntropologia e todo este processo aconteciadentro do Museu, entendia-se que ele funcionavacomo um órgão suplementar da universidade, as-sim como a Biblioteca Central, Imprensa Univer-sitária, Restaurante Universitário e outros. O Mu-seu era um órgão suplementar diretamente subor-dinado ao gabinete do reitor, conseqüentementenão era um órgão didático, não era um departa-mento de ensino; os professores que ali atuavamficavam lotados no Departamento de Ciências So-ciais e atendiam a toda a parte didática das disci-plinas de Antropologia. Houve um momento emque tivemos uma sobrecarga muito grande, o pes-soal do Museu fazia tudo, nós tínhamos aula dagraduação, o estágio no Museu, atendíamos atédoze turmas de estagiários por ano, de acordocom a especialidade. Havia seminários comuns eespecíficos, dependendo da área da especializa-ção e também atendíamos a nossa pesquisa e anossa própria pós-graduação, os que já eram pro-fessores e já estavam incluídos na carreira. Mu-dou muito com a Reforma Universitária. Todosnós tínhamos a nossa pós-graduação, mestradoou doutorado, e não tínhamos uma licença parafazer isso, particularmente o professor Sílvio eeu tivemos esse problema. Nós não fomos dis-pensados da aula para fazer o doutorado, issoaconteceu com outros professores, só que elestiveram alguns períodos para que isso pudesse serfeito. Já outros professores fizeram a sua pós-

graduação antes de ingressar na carreira, foi ummomento bastante penoso da perspectiva naquantidade de trabalho, mas também foi ummomento muito rico na história do Museu, poistínhamos um intercâmbio muito grande com vá-rias universidades, não só do Brasil, mas comuniversidades da área do Prata. Chamamos áreado Prata por causa da sua área arqueológica quecorresponde à Argentina, Uruguai e Paraguai,não só da perspectiva da Arqueologia, mas tam-bém da Etnologia indígena. Com a implantaçãoda Reforma Universitária, em 1970, foi muitodifícil e assim continuando durante toda essa dé-cada. Já há uma regulamentação melhor na ques-tão da pós-graduação; as pessoas já podem saircom bolsas, há substituição de professores quesaem para pós-graduação. Criamos um Mestradode Antropologia Social; conseqüentemente con-seguimos trazer também professores doutores

para a UFSC. Assim então foi dando um espaçopara respirar, mas a década de 1970 foi bastan-te pesada na perspectiva de trabalho, mas foi tam-bém uma década muito rica em termos de expe-riências que aqui se desenvolveram. A experi-ência mais rica foi a de trabalhar a questão deensino e pesquisa de forma articulada, que a mimtocou bastante. Conseguiu-se que todo estegrupo pudesse ter efetivamente um momento deencontro, que era exatamente a área didática,porque se não cada grupo ficava no seu setortrabalhando até de uma forma aprofundada, mas

DEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTOS DE DIRETOS DE DIRETOS DE DIRETOS DE DIRETOS DE DIRETORESORESORESORESORES

Elementos de pescaria

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um tanto isolada. Foi nesse período também quefizemos uma experiência que infelizmente nãocontinuou. Foram as primeiras reuniões de pro-fessores de Antropologia do sul do Brasil, reu-nindo professores dessa região para trocar ex-periências, organizar os mestrados que foramcriados e as pesquisas. Também passamos a par-ticipar de uma Mostra Nacional de Museus.Trouxemos para a universidade, para o hall dareitoria, uma mostra de museus que foi muitointeressante, como por exemplo, pequenos mu-seus do interior do estado de Santa Catarina,pequenos museus históricos, etnológicos, de Ar-queologia, que estavam na nossa área direta deinteresse, trazendo-nos grandes informações doque acontecia em termos de museus e deMuseologia no interior do estado. Entendíamosque o papel do Museu era ter uma liderança efe-tiva nessa área em Santa Catarina, considerandoa importância dos museus. Então esse foi maisum setor que tivemos que desenvolver, pois aindanão existia no Museu um setor de Museologiapropriamente dito. Toda a nossa atividade a par-tir da reforma e da transformação do Institutoem Museu foi uma atividade também marcadapor esse interesse museológico. Não éramos ape-nas um museu que mostrava o andar das nossaspesquisas, mas era um museu que tinha preocu-pação como elemento de informação, comuni-cação e formação da comunidade catarinense.Também nessa década, foi firmado importanteconvênio que nos permitiu trazer para o Museuo professor Franklin Joaquim Cascaes - 1979-1980, período em que eu já era diretora -, dan-do-nos imensa contribuição, sobre a cultura po-pular do litoral catarinense. Alguns anos antesdo seu falecimento, foi firmado um convênio, noqual deixou toda a sua coleção para a UFSC, oque permitiu a sua permanência em SantaCatarina e também a sua conservação aqui noMuseu. Em função disso, algumas pessoas fo-ram mandadas para fazer cursos de conservaçãoem cerâmica e papel, que era fundamental, prin-cipalmente no que se refere à coleção Cascaes.Acho que essa perspectiva colocava o Museucomo um referencial da cultura e sociedadecatarinenses, começando pela Arqueologia deoito mil anos atrás e chegando aos grupos atu-ais de colonizadores. Na verdade foi uma pers-

pectiva que, em termos globais, talvez não tenhase realizado, mas deu, sem dúvida, uma grandecontribuição ao aprofundamento e entendimentode algumas questões dessa cultura. Talvez nãonos tenhamos aprofundado muito na questão daimigração européia; mas na cultura popular dolitoral, na Arqueologia e na questão indígena, oMuseu deu e está dando até hoje uma contribui-ção muito importante para o seu aprofundamento.Um dos seus setores que foi bastante dinamiza-do é o Setor de Arqueologia (pré-colonial e his-tórica), até porque Santa Catarina é um estadomuito rico na perspectiva arqueológica. Então aArqueologia brasileira sempre foi extremamentedinamizada, e alguns desses trabalhos importan-tes na Arqueologia brasileira foram feitos aqui,particularmente os trabalhos com sambaquis. AArqueologia se constituiu num setor bastante di-nâmico do Museu, não só em termos de pesqui-sa, mas também em exposições. Eu fui diretorano período de dezembro de 1977 a maio de 1982e, nesse período, dinamizamos as exposições,inaugurando duas salas novas, uma de Geologiae outra com o material do Cascaes. Havia tam-bém uma sala de exposições do Setor deEtnologia Indígena e um Setor de exposições deArqueologia, nos quais expúnhamos o acervo danossa pesquisa e da nossa produção, no caso doCascaes, a produção de uma vida, que era umacoisa muito bonita e continua sendo até hoje umdos aspectos muito significativo do Museu. Al-gumas das coisas boas que fizemos nesse perío-do, além da incorporação do Cascaes, dadinamização da parte didático-pedagógica e di-dática da Antropologia, foi também essadinamização no setor de exposições, e podermostrar em congressos, além de escrever a res-peito, os resultados das nossas pesquisas, comotambém por meio de exposições no Museu. Umaoutra coisa de que eu me lembro, são os Anaisdo Museu de Antropologia, que estamos tentan-do agora dinamizar. O Museu publicou, e espe-ramos que continue publicando, uma revista anualinicialmente com a produção do seu pessoal, ospesquisadores, e depois fomos incorporando con-tribuições de outras áreas da universidade, prin-cipalmente de ciências humanas e também deantropólogos de outras universidades.

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24Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br

Neusa Maria Sens Bloemer Neusa Maria Sens Bloemer Neusa Maria Sens Bloemer Neusa Maria Sens Bloemer Neusa Maria Sens Bloemer (dir (dir (dir (dir (diretor no período de 1982 a 1986)etor no período de 1982 a 1986)etor no período de 1982 a 1986)etor no período de 1982 a 1986)etor no período de 1982 a 1986)

Eu estive na direção do Museu de Antropo-logia, como era chamado na época, no períodode 1982 a 1986.

Quando fui convidada para assumir a dire-ção do Museu vi-me diante de um desafio, pri-meiro porque nunca havia administrado um ór-gão público e segundo porque não se tratava dequalquer órgão público, mas de um Instituto dePesquisa. O que veio a se constituir o atual Mu-seu Universitário nasceu de um órgão de pesqui-sa na Universidade Federal de Santa Catarina,criado pelo Prof. Oswaldo Rodrigues Cabral.

A primeira iniciativa que tomei no primeiroano de minha administração foi dar visibilidadeao Museu, usando como recurso a atração de ummaior número de visitantes. Aliás, esta era umaantiga idéia do professor David Ferreira Lima por-que, na sua concepção, o Museu de Antropolo-gia deveria ser o "cartão postal" da UniversidadeFederal de Santa Catarina. Afinal, tratava-se, noseu entender, de um local em que se desenvolvi-am pesquisas, e o material coletado, por exem-plo, material arqueológico, deveria ser apresen-tado ao público com análises e interpretações re-

sultantes destes estudos. Portanto, administrarum órgão com este caráter exigia não só res-ponsabilidade, mas também, muita disposiçãopara a ação, o que encarei como um desafio.

Assim, minha gestão foi, em parte, inspira-da nessa perspectiva do professor David FerreiraLima, como também do professor Ernani Bayer,que era o reitor quando assumi a administraçãodo Museu, e que também trazia pessoalmentevisitantes para conhecê-lo. Vale ressaltar, no en-tanto, que nessa época, afinal já estávamos em1982, o Museu já não tinha mais o mesmo apoio

financeiro no âmbitofederal, uma vez queas verbas destinadasàs pesquisas erammuito disputadas e ha-via um grande núme-ro de pesquisadoresconcorrendo para ob-tenção de tais verbas,a maioria delas prove-nientes de projetosapresentados aoCNPq, FundaçãoFord, etc.

Pensando, por-tanto, em divulgar edar visibilidade aoMuseu de Antropolo-gia, foi que passamosa incentivar os direto-res de escolas básicas

e secundárias da Grande Florianópolis, para quemandassem seus alunos em visita oficial ao Mu-seu da UFSC. Nessa proposta, recomendáva-mos que marcassem a visita antecipadamente, afim de que pudéssemos dispor de pessoal paraatendimento a estes visitantes especiais, porquese a estes tratava de crianças em formação, queprecisavam aprender sobre a importância de ummuseu, sobre a preservação do patrimônio cul-tural e, inclusive, sobre como se comportar emum museu. A maioria das crianças nunca tinhamvisto uma instituição desse tipo e se encanta-

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Zoólito. Coletado na Ponta do Leal - SC.

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vam. Em pouco tem-po, a demanda foi au-mentando e tivemosnecessidade de con-tar com a atuaçãodos estudantes queestagiavam no Mu-seu de Antropologia,provenientes doscursos de História,Arqueologia e Ciên-cias Sociais. Estesestagiários eram pre-parados para acom-panhar as visitas, in-formando e explican-do sobre o materialque se encontravaexposto em cadauma das salas. Desta forma, os alunos das esco-las tinham, além do contato visual com o materi-al, informações sobre sua procedência, forma decoleta, tipo de pesquisa realizada, quem o haviapesquisado, etc. Obtinham, assim, conhecimen-tos sobre os grupos indígenas de Santa Catarinae alguns outros do Brasil, sobre os sítios arque-ológicos e, ainda, sobre alguns costumes dosaçorianos que ocuparam o litoral de SantaCatarina. Este trabalho educativo deu visibilida-de ao Museu. Foi muito importante porque alémde se tornar conhecido por estudantes de dife-rentes localidades, também adquiriu visibilidade,inclusive, junto à administração da Universida-de. Você sabe, quem não é visto não é lembradoe, conseqüentemente passa a ser esquecido. Tra-tava-se de uma estratégia administrativa. Con-seguimos no período de dois anos dobrar o nú-mero de visitantes provenientes das escolas. Seno início tínhamos visitas de novecentas crian-ças por ano, passamos a ter dois mil e quinhen-tos até quatro mil crianças no decorrer de umano. Isso foi devidamente registrado nos livrosde visitas e nas agendas de visitação. O movi-mento era tão intenso que, inclusive, alguns co-legas da Universidade perguntavam o que esta-va acontecendo no Museu, com movimento detantos ônibus estacionados em suas imediações.Tratava-se, apenas, de um serviço que a Univer-sidade por meio do Museu de Antropologia pres-

tava à comunidade, um verdadeiro trabalho deextensão universitária.

Em decorrência desse trabalho, passamos aser solicitados a proferir palestras em diferentesescolas, para falar sobre os grupos indígenas deSanta Catarina, sobre preconceito, etc; neste tra-balho, envolvemos alguns pesquisadores e esta-giários do Museu.

A aproximação com a comunidade deman-dou um outro trabalho. Realizamos um projetode atendimento a pessoas que queriam aprendera fazer alguns trabalhos artísticos. E, com a cola-boração de artistas populares, realizamos ofici-nas nas quais se ensinava a fazer máscaras compapel machet, trabalho com barro, confecção debrinquedos tais como pandorga, etc. Essa de-manda exigia a colaboração de pessoas que seprontificavam, como voluntários, a ensinar. Eramos verdadeiros "amigos do Museu".

Por outro lado, Florianópolis começara a serdescoberta por gaúchos e paulistas, exigindo queparticipássemos desse processo, e começamosentão a abrir o Museu aos sábados à tarde. Estaera uma ação complicada. Não tínhamos recur-sos para pagar horas extras aos funcionários epor isso acordamos com eles que teriam um diade folga durante a semana. Por esta nova pro-posta, passamos a ser indicados nos folders ela-borados pela Secretaria de Turismo do municí-pio como um ponto turístico a ser visitado. No

O Cacumbi. Coleção Escultórica. Autoria: Franklin Cascaes

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verão, as visitas eram poucas porque as praias daIlha são muito atraentes, mas no inverno, ao quetudo indicava, visitar o Museu era consideradouma boa opção.

Outro desafio a ser vencido foi a retomadada publicação da Revista de Antropologia, cujapublicação, por falta de recursos financeiros, ha-via sido interrompida, assim como conseguiu re-cursos para a realização de pesquisas. Graças àvisibilidade que o Museu adquirira e a sensibili-dade e identificação do professor Sílvio Coelhodos Santos, então pró-reitor de pesquisa, para comas propostas do Museu, obtivemos apoio finan-ceiro para editar a revista, respeitando a sua peri-odicidade anual. Ela havia deixado de serpublicada por uns cinco anos. A revista ampliouo espaço de divulgação da produção acadêmica,não só para os pesquisadores do Museu de An-tropologia, mas abriu também espaço para o Cen-tro de Ciências Humanas. Eu ainda era professo-ra do Departamento de Ciências Sociais, área deAntropologia, e coloquei o espaço da revista àdisposição dos colegas pesquisadores. Não tive-mos dificuldades em compor os números porqueo Centro ainda não tinha uma revista e já contá-vamos com muitos pesquisadores nos diversosdepartamentos, produzindo artigos. É interessanteressaltar que a Revista de Antropologia do Mu-seu circulava em âmbito nacional e internacional,e eu tenho certeza absoluta de que, até hoje, aadministração recebe correspondência dos E.U.A,solicitando os exemplares da Revista do Museude Antropologia. A prática da permuta era usual.Nós remetíamos a nossa publicação e em trocarecebíamos publicações de diversos institutos depesquisa não só do Brasil como de institutos in-ternacionais. Assim, a nossa produção era am-plamente divulgada e, por outro lado, podíamosconhecer o que estavam pesquisando em outroslocais.

Os trabalhos de pesquisa relacionados à Ar-queologia também foram priorizados com a vin-da da arqueóloga Teresa Domitila Fossari para oMuseu. Esta profissional teve como desafio iden-tificar e catalogar um imenso material de Arque-ologia que se encontrava apenas depositado noMuseu, mas ainda pouco trabalhado. Em funçãodessa sua experiência, posteriormente, o Museufoi chamado a fazer levantamentos arqueológi-

cos em sítios daIlha de SantaCatarina, com oobjetivo de realizaro salvamento des-se material, quedeveria ser devida-mente registradoantes que ali se im-plantasse umloteamento, comofoi o caso de JurerêInternacional.

Além de pes-quisas, do atendi-mento ao público eda publicação dosAnais, no decorrerde 1985, o Museude Antropologia,por meio de suadireção, envolveu-se politicamente com a demar-cação das Terras Indígenas do ToldoChimbangue. Eu havia sido solicitada, juntamen-te com a professora Aneliese Nacke para que,como antropólogas, elaborássemos o laudo an-tropológico que subsidiaria a demarcação da-quelas terras indígenas. Devo salientar que aidentificação dos funcionários do Museu com acausa indígena foi fundamental para esta luta.Contamos com o apoio de seu corpo adminis-trativo e de seus pesquisadores, de modo espe-cial da Maria Dorothea Post Darella, recém-transferida para o Museu, e da Teresa Fossarique sempre estiveram prontas a colaborar. OMuseu transformou-se no local de apoio paraos Kaingang do Toldo Chimbangue, emFlorianópolis, pois tanto divulgava e informavaà imprensa local e nacional sobre sua luta quan-to encabeçava listas de abaixo-assinados, enca-minhando correspondências para ministros, de-putados e senadores para que se comprometes-sem e se empenhassem na solução do problemae ainda estimulava manifestações públicas. Pro-movemos um ato público na AssembléiaLegislativa, lotando aquele espaço, tanto comindígenas Kaingang que vieram dar o seu depo-imento quanto com manifestantes e simpatizan-tes da causa indígena, mas sem acusar ou pena-

Máscara Tikuna - Amazonas

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27Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br

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lizar os colonos que ocupavam as terras porqueentendíamos que eles também eram vítimas doprocesso. Há belas fotos desse ato público. Ocu-pamos espaço na imprensa local e nacional na-quela ocasião.

À medida que fomos expandindo as ativi-dades do Museu, tivemos necessidade de apri-morar e aperfeiçoar a nossa mão-de-obra. Umainiciativa nessa direção foi encaminhar uma es-tudante para estagiar junto ao Museu Paulistada Universidade de São Paulo, localizado nobairro do Ipiranga/SP, e por isso conhecido tam-bém como Museu do Ipiranga. Todos sabíamosda riqueza desse Museu em termos de coleçõesetnológicas, arqueológicas, históricas e da com-petência dos profissionais que lá se encontravam,entre os quais destaco a Dra. Thekla Hartmann eSonia T. Ferraro Dorta, que deram total apoio ànossa proposta. Estagiar no Museu Paulista eraum sonho para muita gente, mas foi realidadepara a Cristina Castellano. Quando eu saí doMuseu, esta estagiária ainda não havia retornado,mas por certo veio com uma bela bagagem.

Ainda em relação à preocupação com o pre-paro da mão-de-obra que atuava no Museu, ten-

tamos envolver seus próprios funcionários nosprojetos. Um destes projetos foi a realização deuma festa junina em frente ao Museu de Antro-pologia, em que se priorizava apresentar somen-te o que fosse da "tradição junina". Uma espéciede saudosismo tomou conta de todos nós. Osfuncionários lembravam de suas festas de infân-cia nos bairros periféricos à Universidade, e cadaum dava a sua contribuição em termos de idéias.Neste evento tivemos o total apoio da professo-ra Zuleika Mussi Lenzi, que era diretora do De-partamento de Cultura da Universidade. Numaparceria, realizamos a festa, que foi aplaudidapelos funcionários da Universidade e pela comu-nidade que residia em torno da Universidade; foium sucesso. Foi uma coisa meio afoita da nossaparte, na medida em que as festas juninas eramrealizadas pelas escolas e não pela Universidade.Conseguimos a contribuição do comércio localque fez doação de guloseimas tais como,paçoquinha, pipoca, amendoim, mas sem a pro-posta de ganhos financeiros porque o objetivocentral era apenas retomar uma festa junina comouma "tradição cultural". Foi muito interessanteporque nós fizemos em um ano e no seguinte

Detalhe da Procissão do Senhor Morto. Coleção Escultórica de autoria de Franklin Cascaes

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28Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br

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houve cobrança da comunidade universitária paraque se fizesse outra festa. Não me lembro exata-mente porque deixamos de promover este even-to.

Em termos administrativos, vale destacar quea direção do Museu tinha como uma de suas prá-ticas a realização de reuniões quinzenais com to-dos os funcionários, independente da função queexercessem: serventes, pesquisadores,museólogo, vigilantes, todos deveriam estar com-prometidos com os projetos do Museu, desde aidéia original até sua execução. Nestas reuniõesos funcionários tinham total liberdade para expo-rem suas pretensões, o que gostavam e o que nãogostavam, as dificuldades que tinham em lidar como acervo, com os visitantes, enfim, como deverí-amos administrar a casa, de forma que todos, oupelo menos a maioria, estivessem satisfeitos ecompreendessem cada trabalho que era executa-do. Aliás, um dos aspectos ressaltados nestas reu-niões era justamente a importância do trabalhode cada um para que o Museu pudesse ser queri-do e amado pelo público que o visitava. Nestesentido, era necessário, também, envolver o fun-cionário com o acervo que ele lidava todos osdias. Em decorrência dessa festa junina surgiu umaprogramação que teve um fim educativo, comótimos resultados. Surgiu a idéia de abrir um es-

paço para que os funcionários do Museu crias-sem alguma coisa relativa à cultura popular daIlha. Inicialmente, ficaram muito inibidos, até queGelci José Coelho (Peninha), que havia feito es-pecialização em Museologia, na USP, teve a idéiade representar uma festa junina. Esta festa, cria-da pelos funcionários do Museu, foi toda repre-sentada em bonequinhos de barro, muito peque-nos, com uns 8cm de altura, que eles coloriram,apresentando-se como verdadeiros artistas po-pulares. Foi uma coisa magnífica, belíssima. In-clusive, alguns canais da televisão local divulga-ram este trabalho para o público. Foi montadoum grande estrado no qual se apresentou umacomunidade em miniatura, com representaçõesque iam desde o estábulo, a casa, a igreja local,as barraquinhas de biscoito, barraquinhas de co-cada, enfim, tudo que compõe uma pequena co-munidade comemorando uma festa junina. É in-teressante registrar que eles próprios se surpre-enderam com a sua capacidade criativa, vibra-ram com o trabalho que fizeram e se identifica-ram como artistas. A produção desse trabalho,além de melhorar a auto-imagem dos funcioná-rios, aproximou-os porque, apesar de exerce-rem funções diferentes, perceberam que se tor-naram iguais por meio da criatividade. Aliás,durante a execução do trabalho um auxiliava o

outro, trazendomaterial de casa.Tivemos momen-tos de grandesintonia. Foi abso-lutamente feliz aidéia, educativa,tal como desejá-vamos, porque oacervo do Museutambém passou aser visto com ou-tros olhos. Afinal,puderam compre-ender o que signi-fica criar e poderapresentar a pro-dução ao público.

Como estavadizendo, o resul-tado deste traba-

Zoólito. Sambaqui do Perrixil. Laguna - SC

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lho foi fantástico por-que os próprios fun-cionários se surpreen-deram com a suacriatividade e elesmesmos ficaram em-polgados com o seutrabalho. A partir dis-so, passamos aincentivá-los no senti-do de desenvolveremoutros trabalhos artís-ticos. Eu fiquei saben-do, posteriormente,que houve funcioná-rio que começou apintar. Mas o resulta-do, a meu ver, maisimportante para oMuseu foi a compre-ensão sobre o que sejaum trabalho de arte,por meio da própriaprática, demonstran-do zelo por sua pro-dução e muito orgu-lho dela. Se, por ven-tura, alguma criança,ao visitar a exposição,tentasse pôr a mão epegar umbonequinho, eles seaproximavam e orien-tavam para ter cuida-do e não mexer, apenas olhar. Então foi um apren-dizado no sentido de cuidar do Museu, de respei-tar e compreender o seu acervo.

Isso foi muito positivo, especialmente por-que tínhamos a obra de Franklim Cascaes que seencontrava exposta, e é muito frágil, uma vez quetambém é composta por bonecos de barro e degesso e exigem um cuidado muito especial ao setirar o pó, remover de um local para outro, e comisso eles passaram a ter muito mais cuidado como acervo no sentido de perceber, inclusive, queaquele trabalho já não podia mais ser repostoporque o seu criador não se encontrava maisconosco. Esse trabalho e seu significado para osfuncionários foi extremamente positivo e produ-

ziu outros frutos, permitindo que, juntamentecom a professora Zuleika Lenzi, fosse possívelincentivar os funcionários da Universidade a re-alizarem exposições das suas obras, dos seus tra-balhos. Tínhamos na Universidade pintores, es-cultores, por vezes desconhecidos pela própriacomunidade universitária. Eu penso que isto épositivo na medida em que se estimula e ensinaa valorizar o trabalho artístico e cultural e, aomesmo tempo, faz o funcionário se ver valori-zado, com auto-estima positiva. Esta foi, por-tanto, uma pequena ação que teve resultados ex-tremamente positivos em vários sentidos.

Depois que me afastei da direção do Mu-seu de Antropologia, passei a atuar somente no

O Vampiro. Nanquim sobre papelAutoria de Franklin Cascaes

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Departamento de Ciências Sociais e o meu con-tato com o Museu tornou-se esporádico, massempre de muita afetividade. Foi motivo de mui-to orgulho para mim dirigir o Museu de Antro-pologia, mas foi um desafio pela imagem que eupossuía dele e pela forma como entrei em con-tato com ele. Entre as razões, lembro-me pri-meiramente de que aqui neste prédio eu tive omeu primeiro contato com a Antropologia, noentão Instituto, por meio das aulas do professorOswaldo Rodrigues Cabral, na década de 1960,que, além de professor, era pesquisador e dire-tor desse Instituto. E, em segundo lugar, porquefoi neste Instituto que soube o que era ser pes-quisador, durante o período em que fui estagiá-ria do Instituto de Antropologia, realizando umaespecialização, antes de partir para o Mestradona Universidade de São Paulo. O Museu de An-tropologia, que nasceu como um dos primeirosInstitutos de Pesquisa da UFSC, tinha, na déca-da de 1960, um corpo de pesquisadores com-prometidos, ética e socialmente. Nossas aulaseram nesta sala do andar superior e, quando en-trávamos no Instituto, o funcionário HélioManoel Alves cobrava nosso comprovante de fre-qüência na entrada do prédio. Entregávamos aele um bilhetinho, como se fosse um passe deônibus, que trazia um carimbo com a data da aula.O professor Cabral era extremamente organiza-

do e não perdia tempo fazendo chamada em salade aula. Você entregava e subia para a aula. Asala era fechada e lá ocorria a aula cinqüenta mi-nutos cravados, sem perder antes, nem depois;ninguém entrava e ninguém saía para não pertur-bar a concentração. A exigência, o rigor, a siste-matização eram ressaltados como absolutamen-te necessários para se fazer pesquisa, para se fa-zer ciência. Apesar da rigidez, todos os alunosadoravam as aulas e nós não faltávamos. Assim,fui despertada para a Antropologia, neste espa-ço, que hoje é o Museu Universitário. Posterior-mente, tivemos aulas com o professor Sílvio Co-elho dos Santos, que, por ter sido aluno do pro-fessor Cabral, não perdia em nada para o velhomestre em termos de exigência. Aliás, foi exata-mente o professor Sílvio que acabou substituin-do o professor Cabral, quando este se afastou dadireção do Instituto de Antropologia em protes-to à Reforma Universitária que se implantara em1970.

Portanto, por todas estas razões, o MuseuUniversitário continua sendo para mim um espa-ço que deve manter acesa a chama da pesquisa edo trabalho de extensão universitária, como umlocal de pesquisa, fazendo ciência e servindo àcomunidade ao divulgar os resultados dos seus

Higienização e acondicionamento do acervo arqueológico

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Luis CarLuis CarLuis CarLuis CarLuis Carlos Halfpalos Halfpalos Halfpalos Halfpalos Halfpappppp (dir (dir (dir (dir (diretor no período de 1986a 1992)etor no período de 1986a 1992)etor no período de 1986a 1992)etor no período de 1986a 1992)etor no período de 1986a 1992)

Para mim, é uma satisfação estaraqui na Universidade apresentando umdepoimento sobre a minha atividade noMuseu de Antropologia. Considero sem-pre importante a memória histórica, eladeve ser cultivada porque é por meio delaque se pode passar exemplos a geraçõesfuturas, sendo boas ou más memórias,não importa.

Fui diretor nesse Museu de Antro-pologia no período de 1986 a 1992, por-tanto fiquei na direção dessa casa quaseseis anos; um bom tempo. Tenho a im-pressão de que fui um dos diretores quepermaneceu mais tempo nesse cargo. Éevidente que alguma coisa de positivonesse período se fez. Devo, no momen-to apropriado, apontar algumas coisas. Queria,antes de mais nada, fazer uma pequena conside-ração, até porque, creio que no futuro não mui-to distante, alguém poderá fazer uma históriadeste Museu e, ao fazê-la, esta pessoa, de umaforma ou de outra, este estudioso, também esta-rá fazendo uma história da Universidade Federalde Santa Catarina.

O Museu foi criado pelo professor OswaldoRodrigues Cabral, grande historiador, e, comoInstituto de Antropologia, foi inaugurado em1968.

Inicialmente o Instituto de Antropologiadeveria trabalhar com a pesquisa científica nasáreas da Antropologia e Arqueologia principal-mente. No caso da Antropologia era subdivididaentre Física e Cultural.

O professor Cabral dava muita importânciaà Antropologia Física e ministrava aulas a res-peito desse assunto no Curso de História ou ondeessa disciplina era apresentada, e, com o tempo,o Instituto de Antropologia foi crescendo.

Em 1970, quando vim trabalhar nesta Uni-versidade, a partir de julho, aconteceu a chama-da Reforma Universitária. Ela mudou completa-mente os cursos, tornando-os semestrais, crian-do novos setores, enfim, foi um início muitotumultuado e no bojo desta reforma o antigo Ins-

tituto de Antropologia passou a ser denomina-do Museu. Lembro-me, em conversas informaiscom o professor Cabral, de que ele ficou insatis-feito com isso, tão insatisfeito com os rumos quea Universidade tomou que pediu a sua aposen-tadoria, deixando-a mais ou menos nesse perío-do. Ele considerava, e disse para mim, que otermo instituto, para ele, era mais adequado. Naépoca eu não pensei muito no assunto. Então oantigo Instituto passou a ser Museu de Antro-pologia, mas com um detalhe interessante: na-quele período também foi criado o Curso deCiências Sociais, e, com a Reforma Universitá-ria a disciplina Antropologia era ministrada paravários cursos, os chamados cursos básicos. Onúmero de professores então cresceu no Depar-tamento de Ciências Sociais que, se não me en-gano, numa época fora chamado de Departa-mento de Sociologia, mas o campo de trabalhodos professores de Antropologia da época era oMuseu. Nós trabalhávamos aqui, e o diretorentão era o professor Sílvio Coelho dos Santos.O Museu na década de 1970 era pequeno, e asexposições existentes se reduziam ao pequenosetor de Arqueologia ou ao pequeno setor deEtnologia indígena, ou seja, o setor de Arqueo-logia em função das pesquisas patrocinadas peloprofessor Cabral e o setor de Etnografia indíge-

DEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTOS DE DIRETOS DE DIRETOS DE DIRETOS DE DIRETOS DE DIRETORESORESORESORESORES

Auditório do Museu UniversitárioProf. Halfpap em primeiro plano

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na em função das pesquisas feitas pelo professorSílvio, que inclusive escreveu uma tese sobre osíndios de Ibirama. Mas é preciso dizer que nós,os professores que trabalhavam aqui, não tínha-mos muita consciência sobre a Museologia. Anossa atenção maior era voltada para o ensino e apesquisa. O número de visitantes no Museu nãoera muito grande e, quando apareciam alguns vi-sitantes, nós é que acompanhávamos essas ativi-dades. Enfim, a atividade museológica, nesseperíodo enquanto éramos professores aqui, era,por assim dizer, uma atividade subsidiária, em quese discutia pouca coisa a respeito de Museu. Oque discutíamos eram as aulas, pesquisas even-tuais que pudessem ser feitas, era mais ou menosassim. O Museu, portanto, tinha uma formaçãoacanhada. Isso se modifica um pouco quando o

professor Sílvio, ainda diretor, conseguiu tra-zer o acervo do professor Franklin JoaquimCascaes, que começou a ser transferido a partirde 1972 e mais tarde o próprio professorCascaes, fruto desse convênio, vem trabalhar noMuseu. Isso implica, na época, a atividademuseológica. Na esteira desse acontecimentoque eu considero importante, o "Peninha", comomuseólogo, também vem trabalhar aqui paraacompanhar principalmente a obra do professorCascaes. Então o Museu na verdade passou ater três setores: o de Arqueologia, criado basi-camente pelo professor Cabral, o de Etnologiaindígena, criado pelo professor Sílvio Coelhodos Santos, e o de Cultura popular, criado gra-ças à vinda do acervo do professor Cascaes e dopróprio artista, pois aqui trabalhou por um bom

período de tempo. Ampliou-seentão, consideravelmente, di-gamos assim, o espaçomuseológico. Mas nós, profes-sores da Universidade, continu-amos muito mais ligados à ativi-dade didática e de pesquisa doque à atividade museológica. Naépoca, com exceção do"Peninha", não havia funcioná-rios como agora, que se dedica-vam aos vários setores. O"Peninha", os funcionários deapoio e os professores que sepreocupavam, fundamentalmen-te, como já disse, com as ativi-dades didáticas. A partir de umcerto momento as coisas come-çaram a mudar, quando, atravésde pressões do próprio Departa-mento, nós éramos insistente-mente convidados para sair doMuseu e trabalhar naquele setor.Partia-se do princípio de que erapreciso reunir os professores.De certa maneira, nós aqui noMuseu, na época, gozávamos deuma certa autonomia, mas estarelativa autonomia não era bemvista, até porque a própria Re-forma Universitária e seus esta-tutos e normas retirava a possi-

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Detalhe do maquinário de Engenho de Farinha

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33Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br

bilidade de pro-fessores continu-arem a exercersua atividade aquino Museu. Eraum período dita-torial; nós vivía-mos naquela épo-ca sobre a vigên-cia do AtoInstitucional nú-mero 5, haviapouca liberdadede expressão. Eume lembro,como professor

da época, de que tínhamos que apresentar a bi-bliografia que era usada em sala de aula,apresentá-la a pessoas competentes para ver o queestávamos ministrando nas aulas, que autores nósestávamos trabalhando, era um período muito di-fícil. Nesta época muitos professores saíram doMuseu para se instalarem no departamento de Ci-ências Sociais, ficando apenas o diretor. Foiquando, assumiu a professora Anamaria Beck,dezembro de 1978. Nesse período foi criado ocurso de pós-graduação, em nível de aperfeiço-amento ou de mestrado. Era uma idéia bem cor-rente na época; as pesquisas que os professoresrealizavam deveriam ser feitas especialmente nestecurso, de pós graduação. Ao Museu caberia cui-dar das suas exposições, lidar com suas ativida-des museológicas. Num pequeno parêntese, eununca concordei com isso. É claro que hoje exis-te doutoramento; os cursos de pós-graduação sedifundiram muito, inclusive na nossa Universi-dade; é claro que eles fazem pesquisas, até paraque os alunos possam obter seus graus dedoutoramento; isso só pode ser feito por meiode uma pesquisa minuciosa. Mas a Universidadeé um lugar de estudo, é um dos poucos espaçosem que se pode debater qualquer assunto de basecientífica. Ora, então qualquer setor da Univer-sidade, na minha opinião, pode trabalhar compesquisa, independente de curso de graduaçãoou pós-graduação. Eu não vejo, honestamente,nenhuma incompatibilidade, mas na época isso seapresentava, e nós saímos por esta circunstância,na verdade, lembrando um pouco da época; isso

foi meio doloroso porque contávamos aqui comum espaço de trabalho, repito, tínhamos umacerta independência intelectual, em uma épocaque isso era muito difícil de ser mantida. Apartir daí então, no meu caso específico a gentese afasta um pouco do Museu, mas no períododa professora Anamaria, com todos os entra-ves de ordem cultural e política, porque a soci-edade brasileira começou a se liberalizar a partirde 1984, independente disso a impressão que eutenho é de que o Museu cresceu, em termos deatividades museológicas. Nesse período, no-vos funcionários foram contratados, funcionári-os com determinado nível, que ajudaram a man-ter essa atividade. Eu voltei ao Museu em 1986para ser o diretor. Na época o reitor era o pro-fessor Rodolfo Joaquim Pinto da Luz e o pró-reitor de Pesquisa e Extensão, ao qual estavasubordinado o Museu, era o professor AntônioDiomário de Queiroz, que mais tarde veio a serreitor desta Universidade. Ele me convidou paradirigir o Museu quando a professora Anamariadeixou a sua direção. Quando comecei a traba-lhar com o Museu, devo confessar honestamen-te, eu tinha uma visão muito curta da atividademuseológica. Eu reconhecia a importância dainstituição, sabia do seu acervo aqui existente, éclaro, tinha interesse junto com o pessoal de fa-zer uma boa administração, independente das li-mitações impostas à Universidade; limitaçõesestas de base orçamentária. Então comecei a tra-balhar no Museu, o que me permitiu ter umavisão muito boa da atividade museológica, aoter participado entre 16 e 18 de fevereiro de1987, do primeiro Encontro do Sistema de Mu-seu do Estado de São Paulo, e realizado as Ofi-cinas Culturais Três Rios. Foi um dos grandescongressos que eu participei, e lá tive oportuni-dade de conversar com diretores de museus,assistir a palestras, debates, participar de me-sas-redondas, e adquiri uma formaçãomuseológica, uma visão da instituição em si, quefoi muito útil. Quando voltei dessa reunião ti-nha uma visão mais aprofundada. Em cima des-ta visão, começamos a trabalhar com uma rela-tiva força, mas evidentemente em condições sem-pre limitadas. Lembro-me de que um dos gran-des acontecimentos que nós realizamos no Mu-seu, ainda no início da minha gestão, foi o Semi-

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Bonecas Karajá - Pará

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nário Calha Norte, provavelmente a melhor reu-nião de estudo que fizemos aqui nesta Universi-dade. Convidamos especialistas de todo o paíspara discutir a realidade da Amazônia, todos osproblemas da Amazônia, o desflorestamento, aocupação militar, tema, na época de 1988, mui-to em voga. Realizamos aqui e durou três ou qua-tro dias; um seminário que alcançou grande re-percussão. Dei-me conta, então, de que não es-távamos em um museu qualquer, estávamos naverdade em um Museu Universitário. Ora, umMuseu Universitário trabalha com a atividademuseológica em si, nós cuidamos disso, mas tam-bém de outras atividades. Na época da reuniãode São Paulo, por exemplo, um tema que apare-cia muito nas mesas-redondas era a iniciação domuseu na comunidade, até que ponto o museupreenchia a finalidade a que estava direcionada,tinha condições de atingir a comunidade, tinhavisitação ou não tinha, numa Mesa-Redonda dosMuseus Universitários, por exemplo, em que opessoal da USP se queixava de ter os seus mu-seus, o da Pré-história, de não ter visitação. Eume dei conta na época de que nós aqui não tínha-mos esse problema, ou pelo menos não tínhamoscomo o pessoal da USP. Resolvemos por um ladoincrementar essa inserção na comunidade porqueisso é uma atividade importante e, no contextodessa atividade, fizemos inúmeras exposições.Não me lembro de todas, e naturalmente essasexposições devem estar nos relatórios aqui dacasa, então basta consultá-los, mas foi o Seminá-rio Calha Norte, que aconteceu aqui nesta Uni-versidade em 1988, só por exemplo, a exposiçãoUniverso Açoriano no Museu de Arte de SantaCatarina, com as obras de Cascaes, que obtevegrande repercussão na época. Fizemos em 1987,se eu não me engano, a exposição com as peçasde Cascaes na casa da ex-alfândega, apresentan-do as coleções "Procissões da Mudança", "Nos-so Senhor dos Passos", "Nosso Senhor Morto",além de aspectos sobre "A Vida de Joana Gomesde Gusmão". Inclusive tenho um filme feito nes-sa época a respeito do assunto. Além disso, en-tre tantas outras atividades culturais, ainda gos-taria de citar a exposição da "Cultura Açoriana",no hall da reitoria, em 1989; e a "Noite do fol-clore ilhéu" - que na época (1990) chamou muitoa atenção -, que foi realizada em frente ao Mu-

seu, quando mais de mil pessoas comparecerama fim de assistir às brincadeiras de boi-de-ma-mão, catimbó, a dança dos vinte e cinco bichosdo jogo, o cacumbi, enfim uma série de mani-festações folclóricas da Ilha de Santa Catarina.Sobre as exposições da "Cultura Açoriana" e da"Noite do folclore ilhéu", nós temos filmes, e osestou passando para o Museu a fim de que per-maneçam na posteridade. Além dessas ativida-des todas, nós fizemos um único experimentoque foi o "1º Seminário Franklin Cascaes", em1990. Foram dois dias de mesas-redondas comtemas relacionados à cidade de Florianópolis,com uma boa participação de alunos e de públi-co para assistir às várias mesas-redondas. Nósdiscutíamos o impacto do turismo, a importân-cia da obra de Cascaes, quando ele compare-ceu para dar uma palestra. A professora AdaliceMaria de Araújo escreveu uma tese de douto-rado em cima de obras de alguns artistas deFlorianópolis, entre eles Cascaes. Queríamosrepetir esse seminário, respeito à cidade deFlorianópolis. Na época, como hoje, o turismoé um assunto em voga; era necessário discutiros aspectos positivos e negativos dessa ativida-de econômica. Fizemos apenas um, e um segun-do não conseguimos realizar até por falta derecurso. É preciso dizer que essas atividadesdavam muito trabalho, e o Museu não tinha,como até hoje não tem, um corpo de funcionári-os muito grande para dar conta de tanta ativida-de. Eu gostaria de citar também a realização deduas coisas que eu considero importantes: umadelas foi as comemorações dos 500 Anos doDescobrimento da América e a outra foi a reali-zação de uma atividade aqui entre 1991 e 1992,acho que nunca um evento deu tanto trabalho.Em primeiro lugar, projetamos aqui no auditó-rio do Museu uma série de filmes, principalmentesobre a situação indígena da América Latina.As escolas da comunidade e alunos da Universi-dade foram todos convidados para assistirem aessas projeções. Isso ocorreu durante todo oano, além de realizarmos nesse período umasérie de mesas-redondas colocando os váriostemas que dizem respeito à América Latina. Em1992, chegamos a fazer no centro da cidade deFlorianópolis, em frente à Catedral Metropoli-tana, uma grandiosa exposição tipo " Museu na

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rua" , situando alguns temas sobre a AméricaLatina, particularmente à respeito da realidadeindígena latino-americana, e também brasileira.Foi uma atividade muito grande, fez muito su-cesso, trabalhamos muito, mas o Museu se sen-tiu muito gratificado com toda essa atividade.

No final da minha gestão fui designado peloreitor para dirigir a "IV Semana de Estudos Aço-rianos" e montamos nossa equipe de trabalhoaqui neste Museu, que se realizou em abril de1992. Foi um trabalho muito interessante, poisvieram professores do Arquipélago dos Açorese discutiu-se sobre a obra do Professor Cascaes.Lembro-me de que priorizamos, pela primeiravez, um assunto que até então era tabu nessetipo de encontro, que foi a "farra do boi". Con-seguimos, com algum trabalho, situar na "IVSemana de Estudos Açorianos" uma mesa-re-donda sobre a "farra do boi", com presença ma-ciça de pessoas da época. Esta questão era dis-

cutida largamente na imprensa nacional, algunsa favor , outros contra. Realizamos uma mesa-redonda com esta temática; enfim, tenho a im-pressão de que em tempos de realizações cultu-rais, avançamos muito, era uma época em queos funcionários do Museu eram entrevistados;o Museu aparecia muito nos jornais e havia sem-pre notícias a serem apresentadas. De outro lado,creio também que outro aspecto importante daatividade museológica foi a presença da comu-nidade aqui. Também se realizou, na semanado índio, projeções cinematográficas com a pre-sença de inúmeras escolas no Museu. Realiza-mos vários seminários, sobre o Dia da Cultura.Fazíamos mesas-redondas e apresentávamos fil-mes, atraindo sempre um grande público. Nes-te aspecto, eu posso dizer com segurança quenos sentimos realizados. Também neste períodopublicamos dois números da revista Anais doMuseu de Antropologia. Quando o professorCabral criou esta revista, ela devia apenas serpreenchida com artigos dos funcionários ou dosprofessores aqui existentes e foi publicada tam-bém na época do professor Silvio Coelho dosSantos, da professora Anamaria Beck e tambémda professora Neusa Maria Sens Bloemer. Naminha gestão conseguimos publicar apenas doisnúmeros, até por limitações orçamentárias daprópria Universidade; não é muito fácil fazer umarevista. Eu achava que qualquer contribuição nãoapenas do pessoal do Museu era importante,pois, se algum professor tinha algum artigo im-portante relacionado com a Antropologia, porque não publicar? Espero que no futuro o Mu-seu possa voltar a publicar esta revista, que temum significado internacional, porque recebía-mos correspondência de universidades estran-geiras solicitando seus números, como, porexemplo, da Europa e dos Estados Unidos, talfoi a importância que ela adquiriu em um deter-minado momento. Creio que esta é uma heran-ça positiva que a publicação dos Anais, de re-pente, pode ser recuperada, não só com publi-cações de trabalhos de funcionários do Museu,mas também de professores desta Universida-de, desde que eles tenham algum ponto de con-tato com as Ciências Antropológicas, que é oconteúdo de exposição deste Museu. Também,neste período, talvez até mais do que em ou-

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Higienização do Acervo Arqueológico

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tros, procuramos divulgar a obra do professorCascaes realizando várias exposições já citadasaqui. Montamos algumas vezes, principalmenteem frente ao Museu, o presépio de natal feito depiteira e barba de velho, em quatro anos conse-cutivos. Lembro-me muito bem de que o profes-sor Cascaes montava esses presépios com gran-de repercussão debaixo da figueira na praça cen-tral de Florianópolis e, como era muito difícil fa-zer essa montagem, então passamos a montá-loaqui durante quatro anos. Enfim, procuramos,na medida do possível, divulgar a obra doCascaes. Uma administração nunca se completa,realiza muitas coisas boas, mas também deixade fazer outras. Sempre tivemos problemas como prédio do Museu, com o resguardo do acervo.Sentimos que a abra do Cascaes se deteriorava;não tínhamos local para a reserva técnica, pararesguardar todo esse significativo acervo. Mui-tas coisas nos preocupavam, e, em função disto,formamos uma comissão de professores e funci-onários para avaliação do espaço técnico-admi-nistrativo do Museu. Esse relatório ficou prontoem 1991 e foram colocadas as questões não sódo pessoal, mas do espaço físico do prédio, comgraves problemas; também o resguardo do acer-vo que, para garantir a conservação, necessita deum espaço para a instalação de uma reserva téc-nica, por exemplo. Eu sei agora, com satisfação,que esta reserva foi implantada. Na nossa épocaisso não foi possível, então muita coisa deixou deser feita, mas claro que uma administração nãopode esgotar todos os assuntos, isto é impossí-vel; é a continuação de uma gestão que vai deter-minar o que foi feito de melhor ou de pior; neste

caso, pode ser o governo ou o Museu.Então uma série de coisas não pode serconcluída, como, por exemplo, o res-guardo da coleção do professor Cascaes.Embora nos interessamos também pelosetor de Etnologia indígena e pelo setorde Arqueologia; na verdade, eu queria,quase que concluindo essa explanação,dizer que o Museu tem três setores e nanossa administração tentamos trabalharcom os três, não protegendo um em de-trimento do outro, na medida do possí-vel se deu força para as três atividades:Arqueologia, Etnologia indígena e Cul-

tura popular. Não se pode esquecer que o Mu-seu de Antropologia é um órgão isolado, elepertence à Universidaade Federal de SantaCatarina; o seu destino de uma forma ou deoutra está ligado ao da Universidade.

Temo muito pelo fim da Universidade pú-blica. No fundo, eu sempre a defendi pública egratuita, pois as universidades públicas e gratui-tas são as melhores do país e é lamentável queum dia essa Universidade possa vir a desapare-cer, até por política de governos equivocados,pois o Museu, eu repito, está ligado ao destinoda Universidade e eu espero que esse destinoseja melhor no futuro.

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Trabalho feminino. Coleção EscultóricaAutoria: Franklin Cascaes

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TTTTTerererereresa Fesa Fesa Fesa Fesa Fossari ossari ossari ossari ossari (dir (dir (dir (dir (diretoretoretoretoretora no período de 1992 a 1996)a no período de 1992 a 1996)a no período de 1992 a 1996)a no período de 1992 a 1996)a no período de 1992 a 1996)

Antes da criação do Instituto de Antropo-logia, na década de 1960, na época em que eraDepartamento do Curso de História, já se prati-cava pesquisa de Arqueologia. Foi o professorWalter Feranando Piazza que começou e depoisoutros assumiram tais pesquisas como AnamariaBeck, Maria José Reis e Alroino Baltazar Eble.Na década de 1980 não havia nenhum trabalhode Arqueologia no Museu.

Quando comecei a trabalhar no Museu, em1982, as atividades relacionadas à Arqueologiaestavam paradas. Comecei tudo de novo, foi "pe-dra sobre pedra". Em 1987 consegui financiamen-to da FINEP para desenvolver um levantamentoarqueológico na Ilha, criei oportunidade de está-gios remunerados para alunos da Universidade,orientei alunos e desenvolvi pesquisas, enfim(re)instalei o Setor de Arqueologia.

A partir daí até 1992 era o único setor doMuseu que mantinha pesquisa. Em 1992, quan-do o reitor me convidou para ser diretora doMuseu, disse que só aceitaria se fosse para trans-formar esta Instituição em um verdadeiro museu,

com uma concepção de museu e não de espaçode guarda e preservação de acervo. Eu haviaestagiado em museus de São Paulo, tinha umreferencial. Com toda a equipe do Museu, con-seguimos fazer um balanço de como estáva-mos, o que tínhamos e, assim, esboçamos umprojeto apontando para onde queríamos chegare do que precisávamos para concretizar nossosonho.

No projeto elaborado pela equipe do Mu-seu Universitário constava a história do Museu(desde a sua criação até as transformações pelasquais passou). Os resultados de nossas refle-xões sobre o trabalho que vinha sendo feito noMuseu apontou para uma prática museológica.Foi com esta vontade de mudar que assumi asua direção, nossas cabeças ferviam, quería-mos mudar, era a oportunidade de sentarmospara uma autocrítica, para enxergarmos o queéramos, e o que queríamos ser.

Colocamos tudo no papel, apontamos di-retrizes e concluímos que a nossa maior defici-ência eram as instalação físicas e a carência deespecialistas no quadro de funcionários. Hoje,podemos dizer que nosso esforço está valendoa pena. Aí estão a reserva técnica recém-construída e o prédio do Museu todo reforma-do; sem contar que o corpo técnico-científico,apesar de numericamente reduzido, está embusca de seu aperfeiçoamento por meio de cur-sos de pós-graduação em nível de mestrado edoutorado.

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Zoólito. Antropomorfo. Sambaqui de Mina Velha. Garuva /SC

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DEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTOS DE DIRETOS DE DIRETOS DE DIRETOS DE DIRETOS DE DIRETORESORESORESORESORES

Gelci JGelci JGelci JGelci JGelci José Coelho "Posé Coelho "Posé Coelho "Posé Coelho "Posé Coelho "Peninha"eninha"eninha"eninha"eninha" (dir (dir (dir (dir (diretor desde 1996)etor desde 1996)etor desde 1996)etor desde 1996)etor desde 1996)

PPPPPor ele mesmoor ele mesmoor ele mesmoor ele mesmoor ele mesmo

Iniciei minhas atividades na UniversidadeFederal de Santa Catarina no ano de 1970 comosecretário do Departamento de História e estu-dante do Curso de História. Interessado em His-tória da Arte, tive oportunidade de conhecer oartista e professor Franklin Joaquim Cascaes, queutilizava seu talento artístico para documentaras tradições culturais dos descendentes dos anti-gos colonizadores procedentes do Arquipélagodos Açores.

Por meio de convênio com a Prefeitura Mu-nicipal de Florianópolis e o Museu Universitá-rio, o artista passou a realizar exposições no Se-tor de Cultura popular. Desde 1973 passei a con-viver intensamente com o professor e artista,objetivando aprender mais sobre o folclore daIlha de Santa Catarina.

Acompanhando pesquisas e revisões dosdiversos temas abordados por Franklin Cascaes,acabei sendo transferido para o Museu, que pas-sei a integrar o Setor de Cultura Popular, comespecial atendimento ao professor Cascaes,aprendendo a realizar as montagens das maquetespara a exposição dos conjuntos escultóricos, querepresentam várias das tradições culturais de ori-gem luso-açoriana. O acervo composto de ma-nuscritos, desenhos, esculturas em argila crua egesso calcinado, acessórios em madeira, tecido,tintas, papel, metais e fibras vegetais implicauma conservação difícil e muito delicada, exi-gindo amplo conhecimento para garantir a inte-gridade da significativa obra do mestre Cascaes,que, em essência, revela a alma da gente da Ilhade Santa Catarina.

Com a doação de todo o acervo do artistaao Museu, a imensa responsabilidade que nosrecaiu reforçou cada vez mais a necessidade debuscar conhecimento; então a Universidade pro-porcionou a minha participação no Curso deEspecialização em Museologia que estava sen-do oferecido, pela primeira vez, no Brasil, jun-to à Escola de Sociologia e Política da USP e oMuseu de Arte São Paulo, iniciativa da profes-sora doutora Valdisa Russio Camargo Guarnieree Pietro Maria Bardi. Assim, uma nova

museologia foi introduzida na Universidade, bus-cando dinamizar a atividade museológica, inclu-sive em todo o estado de Santa Catarina, orien-tado para a realização de pesquisas e a documen-tação de acervos, visando à segurança, à con-servação e à apresentação como apoio à educa-ção fundamental e ao lazer cultural.

Desde 1996 a direção do Museu Universi-tário "Prof. Oswaldo Rodrigues Cabral" está soba minha responsabilidade, cujo objetivo é inten-sificar a dinâmica de utilização do Museu comoaparelho educativo, espaço de apresentação deresultados das pesquisas científicas nas áreas deArqueologia, Etnologia indígena e Cultura po-pular por meio de exposições museográficas. Paraalcançar o objetivo proposto, além de desenvol-ver trabalhos na área de ensino, pesquisa, exten-são, conservação e documentação, estamos bus-cando viabilizar a construção do Pavilhão deExposições, que se encontra em fase de capta-ção de recursos, por meio da Lei de Incentivo àCultura.

Banco Kayapó. Xingu

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DEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTOS DE FUNCIONÁRIOSOS DE FUNCIONÁRIOSOS DE FUNCIONÁRIOSOS DE FUNCIONÁRIOSOS DE FUNCIONÁRIOS

DIRETDIRETDIRETDIRETDIRETORES DO MUSEU UNIVERSITÁRIOORES DO MUSEU UNIVERSITÁRIOORES DO MUSEU UNIVERSITÁRIOORES DO MUSEU UNIVERSITÁRIOORES DO MUSEU UNIVERSITÁRIO

A seguir, depoimentos defuncionários do Museu Universitário“Oswaldo Rodrigues Cabral”.

Funcionários que dedicaramsuas vidas ao bom funcionamentodo departamento.

Atividade paralela as exposições do Setor de Cultura PopularOficina: Olaria: cerâmica de torno com o apoio da artesã Tânia Inácio Fernandes

Acondicionamentodos desenhos deFranklin Cascaes

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DEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTOS DE FUNCIONÁRIOSOS DE FUNCIONÁRIOSOS DE FUNCIONÁRIOSOS DE FUNCIONÁRIOSOS DE FUNCIONÁRIOS

Hélio Manoel Hélio Manoel Hélio Manoel Hélio Manoel Hélio Manoel AlvAlvAlvAlvAlveseseseses (funcionário mais antigo) (funcionário mais antigo) (funcionário mais antigo) (funcionário mais antigo) (funcionário mais antigo)

O mês da inauguração foi em maio de1968,quando o doutor Cabral convidou o reitor e oIvo Silveira, que era o governador do estado deSanta Catarina. Ele veio para inaugurar e, na vés-pera do dia da inauguração, estava acontecendouma manifestação de estudantes contra o reitor.Eles fizeram uma passeata em frente ao Institu-to, mas o reitor não deu importância. Os estu-dantes passaram e não fizeram nada que pertur-basse a inauguração do Instituto de Antropolo-gia.

Para mim, passados trinta anos desde oInstituto de Antropologia e agora Museu Uni-versitário, é a mesma coisa como se fosse hoje.Claro que é diferente, naquela época não havia aUniversidade toda formada, só o Instituto, aBotânica, a Filosofia, e a Engenharia. A reitoriaestava sendo construída. Enquanto isso a admi-nistração da Universidade era no centro, na RuaBocaiúva. Era lá onde o exército está agora. Nóstrabalhávamos aqui e recebíamos o salário lá.Aqui havia essas casas, a estrada era de chão, oscarros circulavam na Trindade. Muita gente vi-nha a pé, outros de carro; eu vinha de bicicleta.Depois que asfaltaram, melhorou muito. Lá, em

1967-1968, quandonós chegamos aqui,havia muitas tropasde boi, que perten-ciam ao senhorPedro Vidal.

O Instituto ti-nha bastante materi-al e aumentava sem-pre a ponto de o es-paço físico se tornarpequeno. Desde en-tão, o Instituto pas-sa a ser um Museue, unindo esforços,temos tentado me-lhorar os espaçospara a apresentaçãodas exposições.Tudo sempre foi

muito trabalhoso, mas o pior é sempre a falta deverbas. Pensávamos em montar alguma exposi-ção e éramos impedido pela falta de recursos, masmesmo assim se dava um jeito e sempre apresen-távamos os acervos. O "Peninha" sempre fez tudoo que pode para que as exposições estivessemsempre em ordem. As exposições mais interes-santes, para mim, eram aquelas montadas com oacervo do professor Cascaes. Foi sempre uma fe-licidade trabalhar no Museu. Aprende-se muitosobre a história; sempre gostei muito de traba-lhar aqui. Desde o exigente Dr. Cabral até a ani-mação maior, com as montagens dos grandes pre-sépios criados por Franklin Cascaes, sempre tí-nhamos novidades. O Museu é um lugar que apre-senta coisas do passado, mas é assim, tudo pa-rece sempre novidade.

Tanga - Waiwái - Amazônia

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DEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTOS DE FUNCIONÁRIOSOS DE FUNCIONÁRIOSOS DE FUNCIONÁRIOSOS DE FUNCIONÁRIOSOS DE FUNCIONÁRIOS

PPPPPedredredredredro Gero Gero Gero Gero Geraldo Baaldo Baaldo Baaldo Baaldo Batistatistatistatistatista

A pedido, fuilotado no Museu deAntropologia em 27de julho de 1971, cujadireção estava a car-go do professor SílvioCoelho dos Santos e osecretário era JoséAntônio da Costa.

Como técnicoadministrativo atueiaté 1975 e assumi afunção de secretárioaté 1982. Durante esteperíodo, passarampela direção do Mu-seu os professoresAlroino Baltazar Eblee Anamaria Beck. Noquadro de pessoal deapoio contávamoscom os servidoresValdomiro Gonçalves, Djalma Elias Correa (inmemoriam), Osmar Conceição, Hélio ManoelAlves, Cecília Rau (biblioteca) e Dilma MariaMenezes Conceição.

Um dos grandes acontecimentos neste perí-odo foi a incorporação da coleção Profa. ElizabethPavan Cascaes ao acervo do Museu, realizandoo desejo do fantástico professor Franklin JoaquimCascaes.

Vista parcial das salas de exposição do Museu Universitário

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DEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTOS DE FUNCIONÁRIOSOS DE FUNCIONÁRIOSOS DE FUNCIONÁRIOSOS DE FUNCIONÁRIOSOS DE FUNCIONÁRIOS

HerHerHerHerHermes Jmes Jmes Jmes Jmes José Grosé Grosé Grosé Grosé Graipel Júnioraipel Júnioraipel Júnioraipel Júnioraipel Júnior

Cheguei ao Museu Universitário em abrilde 1989 para desenvolver atividades como se-cretário na gestão do professor Luiz CarlosHalfpap.

Nessa função, organizando e sistematizan-do toda a parte administrativa, contei com a co-laboração de colegas, como Sônia MariaKempner (Assistente em Administração), DilmaMaria Menezes Conceição (recepcionista), Hé-lio Manoel Alves (operador de máquinas copia-doras), Euclides Vargas (técnico em restauração),Maria Conceição das Chagas (Costureira),Elizabeth Pereira Russi Alexandre (professora de1º e 2º graus). Atuava também no recém-criadocorpo técnico-científico do Museu, que reuniapesquisadores visando traçar as diretrizes geraisdeste órgão suplementar.

Com a mudança da direção, ao assumir ocargo a arqueóloga Teresa Domitila Fossari, con-tinuei como secretário e também atuava no cor-po técnico-científico. Nesse momento, já deline-ava-se meu futuro na Divisão de Museologia,uma vez que, sistematicamente, passei a desen-volver algumas atividades nessa área, preparan-do-me para assumir funções correlatas. Assim,recebi incentivo para participar de vários even-tos, como seminários, congressos, palestras eestágios em outras instituições congêneres.

Passo a passo, fui encaminhando minha atu-ação na área administrativa para a área fim doMuseu: o público e o acervo; interação essa queforma o processo educacional.

Em 1996, assumiu a direção do Museu oMuseólogo Gelci José Coelho, liberando-me dasfunções administrativas para que, definitivamenteeu pudesse dedicar-me às atividades de pesquisadentro do campo museal.

Hoje, na Divisão de Museologia, desenvol-vo projetos e oriento pesquisas que visam a con-servação e guarda do acervo, além de colaborarna montagem de exposições, quando solicitadopor outras instituições.

A Bruxa Grande. Nanquim sobre papelAutoria de Franklin Cascaes

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43Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br

DEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTOS DE FUNCIONÁRIOSOS DE FUNCIONÁRIOSOS DE FUNCIONÁRIOSOS DE FUNCIONÁRIOSOS DE FUNCIONÁRIOS

Maria DorMaria DorMaria DorMaria DorMaria Dorothea Pothea Pothea Pothea Pothea Post Darost Darost Darost Darost Darellaellaellaellaella

Quando se pensa em universidade, ainda sepercorre as concepções de ensino, pesquisa e ex-tensão, ou estaria tal reflexão ultrapassada? Seriaa única? Sinceramente não sei. Gostaria de pon-derar, entretanto, quanto à singularidade do Mu-seu Universitário da Universidade Federal SantaCatarina, no qual se realiza mais do que instigantetrabalho reunindo ensino, pesquisa e extensão:compõe-se a permanente possibilidade de proje-to de vida. Refiro-me especificamente às Ciênci-as Sociais, à Antropologia, às populações indíge-nas, ainda que tenha clareza da abrangência dodesafio que o caminho interdisciplinar enseja. Sim,porque constantemente há envolvimentos com aArqueologia, a Biologia, a Agronomia, a Peda-gogia, a História, a Geografia, a Lingüística, oDireito, para citar algumas disciplinas conexas aomeu trabalho.

A partir do Museu, pude elaborar e me en-volver com projetos distintos, relacionados à edu-cação, agricultura, direitos fundiários; tive opor-tunidade de tecer estudos de impactosocioambiental, relatórios de identificação de ter-

ras indígenas, laudos antropológicos, trabalhos,textos; elaborei exposições fotográficas; orga-nizei seminários, fóruns, mesas-temáticas, encon-tros; co-orientei monografias; participei de even-tos relacionados à temática indígena. Esse mo-vimento, entretanto, não é solitário e sim soli-dário: só se faz possível em conjunto com cole-gas pesquisadores e com profissionais compro-metidos e envolvidos com a população indíge-na. Ele substancializa-se e atualiza-se nas per-manentes interlocuções com as comunidades in-dígenas, com as constantes comunicações numarede de estudo, atuação e sociabilidade referen-te aos índios Guarani. É trabalho embebido emreciprocidade.

Neste momento formulo meu texto de qua-lificação do doutorado que denominei "oreroipota yvy porã (nós queremos terras boas)".O movimento do passado ao futuro:territorialidade e temporalidade no presente dasaldeias Guarani no litoral de Santa Catarina, de-sejando que seja um exercício para continuida-de das ponderações e efetivações com os índiosGuarani. E continuo acreditando que esteamálgama é razão de ser das instituições de en-sino federais.

Cunjunto escultórico. Mito do Dilúvio Guarani/SP

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44Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br

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Deise LucDeise LucDeise LucDeise LucDeise Lucy Oliy Oliy Oliy Oliy Olivvvvveireireireireira Montara Montara Montara Montara Montardododododo

Após terminar minha graduação em Ciên-cias Sociais, em 1989, comecei a trabalhar noMuseu, no qual conclui minha especialização pormeio do trabalho com os colegas ou com seuapoio, nas ocasiões em que me afastei para aper-feiçoamento. Durante sete anos participei de vá-rias pesquisas no setor de Arqueologia, nos cam-pos da Arqueologia pré-colonial e histórica, ten-do neste período desenvolvido minha disserta-ção de mestrado "Práticas funerárias das popu-lações pré-coloniais e suas evidências arqueoló-gicas (Reflexões iniciais)" na PUC/RS, PortoAlegre/RS, defendida em 1995.

Neste mesmo ano iniciei uma pesquisa so-bre a música dos índios, sobre a qual desenvolvia tese de doutorado "Através do mbaraka: mú-sica e xamanismo guarani", defendida em 2002,no Programa de Pós-Graduação em Antropolo-gia Social, USP/SP.

O Museu Universitário é um espaço quepermite a ampliação dos horizontes do conheci-mento, possibilitada por meio da troca constan-te entre os três setores que comporta, com ou-tros Departamentos da Universidade, bem comocom a comunidade em geral.

Colar Kamayurá - Xingu

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45Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br

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Cristina CastellanoCristina CastellanoCristina CastellanoCristina CastellanoCristina Castellano

Minha experiência no Museu remonta aosanos 80, quando me tornei funcionária destaUniversidade e aluna do Curso de Ciências Soci-ais. O interesse pela instituição ocorreu por meioda interface entre minha formação acadêmica e aárea de atuação deste Museu, com possibilida-des de qualificar-me profissionalmente. Então,apresentei-me à professora Neusa Bloemer, di-retora do Museu na época. Foi um momento im-portante, de aproximação com a Arqueologia,pelas mãos carinhosas de Teresa Fossari. Tam-bém na ocasião, conheci a obra de FranklinCascaes, a qual ainda hoje me surpreende peladiversidade de técnicas empregadas e temáticasabordadas. De lá para cá muitas portas abriram-se em minha vida profissional e venho me aper-feiçoando no fértil campo da Museologia. Hoje,não me restam dúvidas de que o potencial de umainstituição museística como o Museu Universitá-rio é enorme, tanto para se trabalhar a extroversãomuseológica, como as atividades de educação epesquisa.

Boneca Karajá. Pará

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46Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br

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Aldo LitaifAldo LitaifAldo LitaifAldo LitaifAldo Litaiffffff

A característica doMuseu, como centro de ex-tensão, possibilitou-me umcontato maior com minhaformação acadêmica teóricae prática. Isto acontece,principalmente, pelo perfilde suas atividades as quaisrelacionam produção acadê-mica com a realidade da so-ciedade envolvente, como éo caso do Setor de Etnologiaindígena, com os povos in-dígenas do estado de SantaCatarina. Tudo isso me pos-sibilitou uma rica experiên-cia, em termos de conheci-mento, que somente umainstituição como o Museupode oferecer.

Mbaraka mirim. Guarani. SC

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47Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br

DEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTOS DE FUNCIONÁRIOSOS DE FUNCIONÁRIOSOS DE FUNCIONÁRIOSOS DE FUNCIONÁRIOSOS DE FUNCIONÁRIOS

FFFFFrrrrrancisco do ancisco do ancisco do ancisco do ancisco do VVVVVale Pale Pale Pale Pale Pererererereireireireireiraaaaa

O Museu Universitário daUniversidade Federal de SantaCatarina é uma escola por si só.É um centro de referência na áreade Antropologia - a ocupaçãohumana em Santa Catarina.

A oportunidade de estar en-volvido com os trabalhos de pes-quisa, de divulgação, de exposi-ção do acervo do Museu Univer-sitário é ímpar, enriquecedora einstrutiva.

Nos anos de 1984 a 1986trabalhei no Museu Universitário,Setor de Cultura Popular, quan-do estive em contato direto comos escritos do Professor FranklinCascaes. Foi um mergulho nummar de informações e conheci-mentos da cultura da Ilha de San-ta Catarina. Foi a motivação maisforte para seguir meus estudos, jáque havia me formado recentemente em Histó-ria.

Um convite, em 1992, para formar um gru-po de reorganização do Núcleo de Estudos Aço-rianos, foi um passo importante para reaproximar-me com a cultura popular. Afinal, eu já estavaenvolvido com os vários encontros de estudosaçorianos que já se realizavam na UFSC; tam-bém porque aquele primeiro período trabalhandono Museu Universitário foi decisivo para definiras linhas de estudos e gosto pela questão cultu-ral.

Boi-de-mamão. São José/SC

Depois de assumir outras funções adminis-trativas na administração central da UFSC, re-gressei ao Museu Universitário em 1999, e des-de aquele ano, realizo-me com as questões daCultura Popular, mais especificamente, da basecultural açoriana. Têm sido anos de muito tra-balho, desenvolvendo projetos de revitalizaçãode aspectos da nossa herança cultural.

Estar no Museu Universitário é apaixonantee completa todo aquele que busca conhecimen-to, pois aqui temos um universo cultural signifi-cativo e abrangente.

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48Revista Comemorativa dos 30 anos do Museu Universitário “Oswaldo Rodrigues Cabral”- UFSC - www.museu.ufsc.br

DEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTDEPOIMENTOS DE FUNCIONÁRIOSOS DE FUNCIONÁRIOSOS DE FUNCIONÁRIOSOS DE FUNCIONÁRIOSOS DE FUNCIONÁRIOS

WWWWWanda Rittaanda Rittaanda Rittaanda Rittaanda Ritta

Em julho de 1999, assumi neste Museu afunção de arquivista, efetivada pelo Ministérioda Educação - DEMEC/SC, função esta que veioao encontro dos objetivos deste Museu: centra-lizar, organizar e criar um Centro de Documen-tação.

Ao tomar conhecimento de que boa partedo acervo da biblioteca encontrava-se em esta-

A Benzedeira. Coleção Escultórica de autoriade Franklin Cascaes

do de deterioração, em conseqüência de umaenchente, o Diretor me perguntou se eu tinhacoragem para recuperá-lo. A partir daí, com suaanuência e como gosto de desafios, iniciei os tra-balhos (limpar, restaurar, arquivar, alimentar li-vros, os que estavam desvanecendo resultante daumidade e do mofo. Foi prazeroso ver o resulta-do deste trabalho e, principalmente, ver que otesouro que ali se encontrava, no que se refere àfontes primárias, datavam de 1831 em diante, in-cluindo o acervo da literatura "Negra" particu-larmente. Depois de tantas mudanças de sala àprocura de espaços mais favoráveis para sua aco-modação, o Centro começa a se expandir comnovas aquisições. Atualmente, estamos instala-dos no 1º piso do novo prédio da Museologia,sala ampla e com condições climáticas para quenosso acervo frutifique e breve possa fazer cone-xão com a Biblioteca Central, oportunizandoacesso a todos os usuários desta Universidade.

Nosso acervo está constituído dos seguin-tes títulos: Antropologia, Etnologia,Paleontologia, Sociologia, Literatura Portugue-sa, Literatura Brasileira, Folclore e Cultura, Ar-tesanato (olaria, rendas), História de SantaCatarina, História, etc., incluindo acervo fotográ-fico em fase de organização preliminar.

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