Todos nós passamos por grandes tempestades na vida. As tempestades nos apanham de surpresa.
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Ben Santiago
baby,
1ª Edição
sou homem!
quando um homem se revela de verdade a sua mulher
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Todos os direitos reservados pelo autor.
É proibida a reprodução parcial ou total sem permissão escrita do autor.
1ª Edição. 2014. Minas Gerais. Brasil
Baby, sou homem. SANTIAGO, Ben.
Editora Ántras
Contato: (31) 3592-4353
Email: [email protected]
Capa: Gleidistone Antonio
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SSSSumário
Introdução 5
Capítulo 1 – Enigma 6
Capítulo 2 – Brinquedos 17
Capítulo 3 – Emoções 35
Capítulo 4 – Relacionamentos 51
Capítulo 5 – Discutir a Relação 78
Capítulo 6 – Sexo 87
Capítulo 7 – É difícil ser homem 106
Capítulo 8 – A Sinceridade 113
Capítulo 9 – O Silêncio 120
Capítulo 10 – Detalhes 130
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Para ela, que com sua pele morena e
seu batom rosado me fez perder a concen-
tração por muito mais que várias vezes.
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IIIIntrodução
"Acho que esses consultores de relacionamentos, que
vivem doutrinando sobre como se ter um relacionamento
perfeito, poderiam começar, já na primeira lição, a ensinar
para os homens as diferenças entre sombra, delineador, pó
compacto, corretivo facial, blush, lápis, batom e gloss. Já
salvariam muitos casamentos!"
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CCCCapítulo 1 – Enigma
Não! Você não acreditou mesmo que fosse me compreen-
der, entender o que se passa em minha cabeça valendo-se
das suas revistas femininas, valendo-se dos depoimentos
das suas amigas, valendo-se dos artigos do tipo “Saiba tudo
sobre o seu homem”, “Como entender a vontade do seu
amor”, “Como conquistar um homem em dez passos” – Ei!
Não estamos falando de como pintar a sua unha ou como
se maquiar para a noite, ou ainda como controlar o efeito
de cabelo armado – então como pode haver dez passos, cin-
co passos, ‘qualquer que seja’ passos?
É muita inocência ler coisas do tipo “como descobrir se
ele está a fim de você ou não”. Pior ainda é seguir esses
passos fielmente e se frustrar no final. Não adianta escrever
para a autora e dizer que o seu homem é diferente, que não
deu certo. Não, baby! Diferente ele seria é se desse certo!
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Você não acreditou mesmo, acreditou? Não creio que te-
nha sido tão ingênua... Afinal, você sabe quem escreve es-
sas revistas? Você sabe quem cria, edita, opina nesses arti-
gos? São mulheres! E mulheres jamais entenderão o uni-
verso misterioso e inatingível da mente de um homem. Pode
ser que outro homem entenda, mas jamais uma mulher!
Pode ser que nem mesmo eu entenda o que se passa na
minha cabeça, você jamais!
Se aquela história do gênio da lâmpada fosse verdadeira
acho que o moço teria um trabalho difícil quando sua lâm-
pada fosse esfregada por você. Pedidos impossíveis ou no
mínimo imprevisíveis.
Se fossem concedidos três pedidos posso apostar que um
deles, e talvez o primeiro, seria ter superpoderes. Mas não
estou falando de qualquer superpoder.
Não quero dizer aqueles normais que vemos em histórias
de super-heróis. Poderes como fazer tempestades em dias
de céu claro. Poderes como colocar fogo em tudo ao redor e
ser a única que ficará ilesa. Poderes como passar por uma
parede como se ela nem existisse ali.
Nada disso se compara ao poder que certamente você
pediria ao gênio: Penetrar, silenciosamente, minha mente
misteriosa. Descobrir os segredos mais encobertos. Visitar
as regiões mais inóspitas dessa minha cabeça obscura.
Confesso que tenho dado boas risadas ao ver os sites que
você tem acessado, as revistas que você tem lido, os artigos
que você tem compartilhado – diverte-me ainda mais quan-
do ouço as suas conversas com as amigas sobre mim. Não
sabia que eu ouvia? Mas, claro! É divertido ouvir alguém
tentando da sua melhor maneira decifrar aquele enigma
implacável. Melhor ainda é saber que você é o tal enigma.
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Sinto-me como se fosse um estojo de maquiagem, ou en-
tão um novo produto para a pele que é só ler a bula e pron-
to... Ou ainda aquele esmalte super da moda, que você mis-
tura as cores assim, mexe o pincel assim e pronto, terás
uma unha perfeita até o próximo fim de semana...Como ter
a sobrancelha de causar inveja nesta vizinha mal-amada:
Segure a pinça deste lado, retire o pelo pro lado de lá, faça
uma curva ali, engrosse lá, afine cá...
Mas revelo a você que o que me deixa em risos incontro-
láveis não é o fato de você querer me compreender, mas o
fato de acreditar, jurar de pés juntos, que isso é possível. E
o que me faz perder o juízo é você perguntar tais coisas pa-
ra amigas... Ler dicas de amigas... Ouvir depoimentos de
amigas...Amigas são amigas! O sujeito da oração é femini-
no! Não é “ele”, é “ela”! Está aí o motivo do fracasso dessa
missão impossível! Os sujeitos são incomunicáveis! Como
“ela” vai compreender o “ele”? “Ela” compreende o “ela”;
“ele” compreende o “ele”...
Mas, tudo bem. É uma necessidade pungente que você
tem! É um desejo incontrolável; é maior que você; é mais
forte que você! Se não tentares me compreender é como se o
seu coração fosse parar de bater; as suas funções vitais fos-
sem cessar em instantes. Você até sente a sua respiração
com dificuldade; respiras fundo; tem acessos de ansiedade;
come, e depois reclama que comeu. É uma sensação emer-
gencial, passível de primeiros-socorros.
Liga pra amiga; escreve; anda daqui para lá e de lá para
cá, mas em círculos; liga pra amiga de novo; fica remoendo
cada palavra tentando encontrar a palavra-chave que eu
tenha falado que faça você compreender a razão do nada;
diz que me odeia, pergunta pra amiga se o homem dela já
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fez a mesma coisa, já falou a mesma coisa, já mexeu a so-
brancelha do mesmo jeito, já falou com o mesmo tom de
voz...
Tudo isso é pior que cólica... Você prefere passar uma
semana padecendo com os efeitos de uma boa TPM do que
passar sessenta segundos sem compreender aquele sorriso
misterioso, aquele silêncio mórbido, aquela palavra indeci-
frável, aquela mexida de lábio para a esquerda, aquela res-
piração mais funda que eu tenha dado... Meu Deus! O céu
está caindo! O que significam esses sinais? Deve ser alguma
coisa mais importante que qualquer outra coisa da galáxia
inteira... Pensas logo em perguntar pra quem? Pra amiga!
E o diálogo começa sempre da mesma maneira. Sempre
com um “ai amiga”. É como um botão para iniciar um dile-
ma. A conversa está dentro dos limites da normalidade até
que vem o “ai amiga” para trazer o homem à história.
E conforme a maneira que o botão é acionado sabe-se o
gênero da peça que está por vir... Drama ou romance, tra-
gédia ou comédia. Se for um “ai amiga” com entusiasmo,
enfatizado, cheio de pontos de exclamação, cheio de brilho
nos olhos e sorriso largo, sabe-se que um romance tomará
conta do palco. Haverá fogo, ardor, paixão e intensidade.
Mas se o “ai amiga” vier choramingado, quase deitado,
debruçando-se no colo da confidente, peguem os lenços,
abaixem as luzes, pois teremos um drama com muito mis-
tério. Ele cortou o seu coração com um enigma. “Ai amiga...
o que eu faço?”. É drama na certa. É dúvida, é angústia, é
desespero por estar cativa por uma vontade patente de pe-
netrar o centro de comando daquele Ser misterioso e extrair
todas as respostas de uma vez por todas.
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Se a resposta da amiga for um “me conta” cheio de entu-
siasmo é porque o romance deixou sinais avassaladores,
arrebatou os sentidos, levou à dimensões intangíveis, mas
se for um confortante “fala amiga”, o vilão foi cruel, impie-
doso. Destruiu a vítima sem oferecer possibilidade de defe-
sa. Coisa do tipo um “não é nada” quando ela perguntou “O
que foi?”.
Entenda-me: não tenho nada contra a sua irmã de mães
diferentes, a sua maninha que o coração escolheu, a sua
Best! O problema é que ela não sabe nem sobre o homem
dela, que dirá sobre o seu homem! Ela é uma mulher como
você! Acorda no meio da noite pensando em uma reza brava
pra poder entrar na cabeça de um homem e compreender
os seus mistérios do mesmo jeito que você! Ela morre de
vontade de procurar alguém com alta sensibilidade espiri-
tual, coisa do tipo mesa branca, vela, incenso aromático,
para que revele os segredos obscuros por trás daquele si-
lêncio de sábado passado, da mesma forma que você.
Compreendo que é super necessário que você tenha
aquela amiga confidente, que saiba tudo sobre a sua vida e
você saiba tudo sobre a vida dela, aquela que te conhece só
pelo olhar ou pela risada sarcástica que você dá sempre que
precisa dizer muito sem falar nada, pois isso faz parte do
universo belo e rosa da mulher. Quanto mais mulheres jun-
tas, mais bonito o mundo. É como um jardim de girassóis
na Toscana de bella Italia.
Mas que elas sejam apenas para opinar sobre o tama-
nho do salto que você deverá usar naquela festa que vamos
no mês que vem, ou da cor do batom que você deverá usar
para ser feminina sem ser vulgar; que elas sejam suas fiéis
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confidentes na escolha do vestido que vai disfarçar a falta
de controle no chocolate e sobremesas durante o mês.
Que sejam elas as fadas madrinhas na escolha daquela
bolsa que vai fechar o seu look divino e vai te tornar a mais
notada, observada, invejada de toda a noite – pois, nisso
elas são experts, dominam com maestria a arte da beleza;
sabem com detalhes qual maquiagem usar para cada ambi-
ente, cada hora do dia, cada estação do ano... Mas ensinar
sobre homens? Acredito que somos mais complexos do que
a fórmula secreta daquele shake para emagrecer.
Por isso, decidi te livrar deste mal que te assola, desta
maldição milenar que transforma os homens em mistérios
insondáveis e vou falar pra você o que realmente passa em
minha cabeça.
Não! Isto não é um sonho e nem algum efeito das muitas
orações, pedidos, promessas, penitências que você tenha
feito para tudo o que é santo, canonizado ou não, cristão ou
hindu... É apenas um momento, um momento em que um
homem se revela para sua mulher para que ela o conheça
de verdade; um momento em que um homem tenta compre-
ender a si mesmo na medida em que se explica para aquela
que o quer conhecer, que pra ele também é um mistério.
Este é um tratado de confidência. Uma carta de alforria,
quando ambos se libertam.
Mas preciso contar com a sua fiel lealdade e compreen-
são, pois nem mesmo um homem conhece o homem. O que
temos são leves relances do que somos. Temos breves de-
duções e até algumas induções. Não conseguimos respon-
der a todas as perguntas que permeiam a nossa mente. É
muita testosterona para pouca capacidade de deixar fluir.
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Espero não te causar imensa frustração. Esse meu uni-
verso não é lá assim tão incrível, interessante, fascinante.
Não existe x da questão, aquele ponto do “como não percebi
isso antes?”. Não há nada disso. Mas é complexo, intrigan-
te, sistemático. Bem-vinda à mente de um homem formado.
Bem-vinda ao universo de um homem que jamais seria con-
fundido com um rapaz. Bem-vinda ao mundo de um ho-
mem experimentado, que sabe diferenciar uma mulher de
uma menina.
Não se assuste quando descobrir segredos não tão puros.
Não se decepcione quando descobrir manias infantis, pois
mesmo que eu seja um homem formado, com todas as ha-
bilidades e experiências masculinas, com a força do que
lavra a terra, a perspicácia do que vai à caça e a sutileza
daquele que cultiva, a essência do garoto não sairá do meu
mais profundo ser. A essência do garoto não deve jamais
ser confundida com a inocência do rapaz. Sou um homem.
Não um rapaz. Você é uma mulher. Não uma mocinha. Ago-
ra, sim, podemos conversar. De igual pra igual.
A verdade, clareza, objetividade será a bússola nessa
nossa viajem pelos mares da descoberta. Nesse cruzeiro
romântico, dramático, trágico, mas cômico. Cruzaremos
mares de indagações, seremos assolados por ondas de sur-
presas, açoitados por ventos de encantos e desencantos,
mas atracaremos em segurança e sorriremos após a odis-
seia.
Assim espero, embora eu tenha o breve receio de que es-
teja sendo ingênuo em fazer previsões. Pode ser muita pre-
tensão de minha parte te considerar previsível. Mas não
quero retirar tudo que falei, pois espero poder dizer ao final
disso tudo que acertei, ganhei o jogo.
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Dizer desta forma é como se já estivesse deixando vazar
algo de mim. É como se um detalhe escapasse acidental-
mente em um momento de tensão. É como aquela palavra
que saiu da boca e desejamos ardentemente que ela volte de
onde saiu sem que ninguém a perceba, mas como que por
uma maldição ela vai, longe e mais longe, atraindo a aten-
ção até do menos atento. Como assim “ganhei o jogo”?
Afinal, encaro nossa relação como um jogo? Absoluta-
mente não! O que ocorre é que todo jogo tem suas regras.
Somos seres de regras. Homem sem regra não é homem.
Entendemos o mundo quando há regras. Não mude a regra
se não quiser nos colocar em um estado de confusão perpé-
tua. Não temos atenção aos detalhes do jogo, mas à regra
de como jogar. Não me refiro a um vencedor e um perdedor,
mas ganhar este jogo quer dizer ser capaz de começá-lo e
terminá-lo sendo leal às regras.
Quebre as regras e verás o furor. Pois quebrá-las é colo-
car-me em um estado de surpresa. Surpresa significa vul-
nerabilidade. Não lidamos bem com surpresa. Nem surpre-
sa boa, nem surpresa ruim. Toda surpresa é surpresa,
sempre há um risco por trás de cada uma.
Mesmo aquela surpresa picante, fogosa, ardente causa-
nos arrepios. E não no bom sentido da sensação. Curtimos
muito, mas depois de perceber que a situação está sob con-
trole. Jamais deixe de surpreender; a adrenalina é o com-
bustível dessa chama. Mas, entenda que nunca agirei como
você age quando te surpreendo com um beijo inesperado,
um jantar romantizado ou trago flores quando não há nada
a comemorar.
O sorriso no meu rosto será sempre diferente do sorriso
no seu rosto. O meu será de confusão: “O que devo fazer
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agora? Como lido com essa situação? Qual deverá ser a mi-
nha próxima palavra?”. É um sorriso amarelo, misturado
com olhares para todas as direções antes de olhar direta-
mente nos seus olhos.
Jamais espere que eu vá correndo em sua direção e te
abrace. Sim, ficarei ali imóvel, confuso, contente, mas con-
fuso até que você demonstre qual deverá ser o meu próximo
passo. Se você vem em minha direção com os braços aber-
tos, entenderei que devo abraçar; se você faz um sinal com
a mão chamando-me, entendo que devo ir.
Mas pelo amor de Deus, dê algum sinal, apresente a re-
gra, o próximo passo, se não quiser me ver parado ali, imó-
vel e ainda por cima soltar aquela programada indagação:
“O que é isso?” – está tudo muito óbvio, não exige nenhuma
inteligência para que se entenda, mas se não vem a regra,
vem “O que é isso?”. Dependendo da intensidade da surpre-
sa, o “o que é isso?” pode ser acidentalmente substituído
por um “você é louca?” e estragar tudo. Estou curtindo, é
tudo o que quero, mas se não vem a regra posso jogar tudo
a perder.
Diferente de quando eu chego com uma surpresa pra vo-
cê. Qualquer que seja ela. Seja um presente fora de época
ou um monte daqueles seus chocolates preferidos. O que
você faz? Sorri largamente, elogia da sua melhor maneira e
vem em minha direção correndo com um abraço gostoso
com as suas mãos se encontrando atrás da minha nuca.
Beijo-te, levanto-te no abraço e pronto. Estou no controle
da situação... Mas porque você agiu conforme a regra.
Esta é, sim, a nossa carta de alforria. A partir daqui as
coisas poderão ser melhores, com menos pressão e ansie-
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dade. Não digo que serão compreendidas, mas pelo menos
serão aceitas como devem ser. É o que espero.
Desta vez os papéis foram entregues aos atores certos.
Se quiserem conhecer um homem, então que um homem
vos fale. Não se deve perguntar sobre tempero para o que se
serve do prato. Pergunte ao cozinheiro.
Tão logo você entenderá que a lógica feminina é intrigan-
temente diferente da lógica masculina. Há coisas que você
faz jurando na certeza de que me aproximará e na verdade
o efeito é contrário. É como em uma equação quando se
invertem os sinais dos fatores. Um resultado quando se es-
perava por positivo sai negativo, justamente por um sinal-
zinho fora do contexto, invertido.
Às vezes você nem chega a perceber que o final foi inver-
so. Mas foi, tragicamente. É como quando se tem dois pe-
daços de imã nas mãos e se espera com muita expectativa
que um vá saltar em direção ao outro, mas acontece o opos-
to, pois em um momento de desatenção os polos não fica-
ram como deveriam, invertidos, positivo para atrair negati-
vo; diferentes para que aja atração. Mas tentou-se igualar.
Houve distância.
Talvez pela primeira vez você vá saber a verdade sobre
um homem, pois não é comum eventos assim. Seu pai não
se apresentou a você, nem algum homem ao seu redor ver-
dadeiramente se revelou, pois não nos é permitido tamanho
ultraje. Tudo o que você teve até hoje foram meras e super-
ficiais especulações, mitos, crendices, criadas por outras
que, assim como você, jamais penetraram o universo mas-
culino, jamais ouviram uma confissão sequer.
Que assim seja, aberto e sincero, lógico, racional, con-
tundente. Vem comigo, sempre atenta a toda trilha, pois