Avaliação Escolar do Centro de Ensino Médio Santa...
Transcript of Avaliação Escolar do Centro de Ensino Médio Santa...
UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS
Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica
Curso de Especialização em Coordenação Pedagógica
Avaliação Escolar do Centro de
Ensino Médio Santa Terezinha1
Fernando Alves Lima Neto2
RESUMO
O baixo rendimento dos alunos do Centro de Ensino Médio Santa Terezinha nas avaliações do ENEM nos últimos quatro anos foi o ponto de partida para a realização dessa pesquisa, que procurou elencar possíveis respostas para a atual situação da escola e propor eventuais soluções para esse problema. Buscou-se por meio de leituras acerca dos conceitos de avaliação e observações in loco, diagnosticar o perfil de trabalho pedagógico realizado na escola, fazendo um paralelo com o que se considera ideal em termos de instrumentos e critérios avaliativos utilizados para mensurar a aprendizagem do aluno, e aquilo que efetivamente é aplicado na escola. A pesquisa teve como objetivo principal a intenção de corroborar a projeção inicial de melhoria dos resultados gerais de desempenho dos alunos nas avaliações externas como o Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM, em nível nacional e mais recentemente o Sistema de Avaliação, Monitoramente e Valorização da Educação do Estado do Tocantins (SALTO), em nível estadual, por meio da criação de um sistema de avaliação que atenda, pelo menos em parte, as exigências de saberes e procedimentos específicos que os alunos devem dominar ao término do ensino médio. Essa foi uma iniciativa da coordenação pedagógica visando à melhoria do trabalho escolar como um todo, com o foco principal voltado à apropriação dos processos avaliativos por parte do professor, porém com o objetivo subliminar de elevar a qualidade das aulas por meio da diversificação e contextualização dos conteúdos ministrados, mostrando ao professor a necessidade da utilização de variadas formas de abordagem e uso de recursos diversos para auxiliar o aluno na compreensão do conteúdo ministrado, garantindo assim a efetivação do processo de ensino e aprendizagem. Contrariando ao que prega a metodologia da pesquisa-ação, o projeto que originou o presente artigo surgiu a posteriori à implementação da efetiva ação de replanejamento e organização dos critérios avaliativos da escola, com o intuito de enriquecer o
1 Artigo sobre o sistema de avaliação adotado no Centro de Ensino Médio Santa Terezinha, em Miracema do
Tocantins – TO, apresentado ao curso de Pós-Graduação em Coordenação Pedagógica do Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica pela Universidade Federal do Tocantins sob a orientação da professora Menissa Bessa Carrijo. 2 Coordenador Pedagógico do Centro de Ensino Médio Santa Terezinha. Rua 13 de Maio, 79, Centro –
Miracema do Tocantins – Telefone – 3366-2350. E-mail: [email protected].
trabalho desenvolvido e dar embasamento científico aos conceitos de avaliação ora debatidos e aplicados na escola. Ao final desse estudo verificou-se a eficácia da proposta realizada, haja vista o aumento da média geral de desempenho da escola na avaliação do ENEM, após a implantação dos critérios avaliativos sugeridos pela coordenação pedagógica.
Palavras chave
Avaliação, critérios, sistema.
1. INTRODUÇÃO
O Centro de Ensino Médio Santa Terezinha, inscrito no INEP sob o número
17014646, está localizado em Miracema do Tocantins em seu perímetro urbano e
atende a uma clientela de 519 alunos, na faixa etária dos treze aos dezenove anos
no período matutino; com o Ensino Médio Regular do 1º ao 3º ano e no período
noturno, os alunos estão na faixa etária dos quinze aos sessenta anos, no Ensino
Médio nas modalidades: Regular e EJA, 3º Segmento.
O presente artigo objetiva explicitar como se desenvolveu o processo de
análise, discussão, criação e efetivação dos critérios de avaliação implantados na
escola. O tema gerador: Processo avaliativo no Centro de Ensino Médio Santa
Terezinha e seu impacto sobre a aprendizagem dos alunos do Ensino Médio –
Regular e EJA, foi o que desencadeou as discussões acerca do sistema de
avaliação até então vigente. Foi através das observações da coordenação
pedagógica que se evidenciou a falta de articulação entre a metodologia das aulas
ministradas e o processo avaliativo desenvolvido pela maioria dos professores da
escola, em muitos casos por simples falta de conhecimento acerca de conceitos e
metodologias de avaliação.
Quando falamos em “avaliação da aprendizagem”, geralmente
estamos nos referindo a todo o conjunto de procedimentos, que vão
da formulação de questões – qualquer que seja o método adotado e
os instrumentos escolhidos – à análise dos resultados alcançados
pelos avaliados. (ROMAO, 2008, p. 70).
Essa desarticulação não contemplava a demanda de saberes e
procedimentos que os alunos devem ser capazes de articular ao término do ensino
médio. E o problema principal consistia em saber se seria possível elevar a
qualidade do ensino ofertado através da estruturação de um processo avaliativo
institucional embasado em padrões e critérios avaliativos claros, definidos pela
equipe escolar e que fossem compatíveis com o que se exige dos educandos nas
avaliações externas.
Então, através da intervenção da coordenação pedagógica foi proposto, como
objetivo principal, a elaboração de um plano de trabalho, tendo como base um
processo avaliativo bem estruturado, em consonância com o que se espera do
educando nos dias atuais, tendo como base a Matriz de Referência do ENEM, com
objetivos definidos e critérios claros, fatores determinantes para a melhoria da
qualidade do ensino ofertado bem como ao êxito dos alunos em avaliações externas
à Unidade Escolar.
A criação e utilização desses critérios, procedimentos e instrumentos
avaliativos são fatores primordiais para o sucesso do projeto, tais ações se
justificaram pela necessidade emergencial da escola em fazer um sistema, ter um
padrão definido de avaliação que traduzisse a ideologia do trabalho que se queria
realizar na escola e que fosse pensado, estruturado e executado pela equipe escolar
(direção, coordenação pedagógica e professores), o que até então jamais existira, o
que havia eram as apropriações de sugestões acerca da avaliação feitas pelos
técnicos e supervisores que visitam a escola vez ou outra e que são baseadas em
realidades díspares às vivenciadas no cotidiano escolar.
A proposta do projeto visa principalmente à mudança de postura dos
profissionais da escola frente à relação: ensino x avaliação x qualidade x resultados,
nesse sentido, fez-se necessário antes de tudo, a realização de estudos, coletas de
dados, entrevistas com profissionais da educação, com a equipe diretiva e os
professores da escola, para a elaboração de um perfil do processo avaliativo da
instituição escolar.
Através de questionários e da observação do estilo das avaliações propostas
pelos professores, a coordenação pedagógica realizou estudos sobre as formas de
avaliação adotadas pelos professores da escola. A função do estudo não foi punir ou
expor qualquer professor que por ventura estivesse desenvolvendo um trabalho que
não contemplasse as aspirações do projeto, mas poder subsidiá-los para a melhoria
do trabalho, a partir da análise dos dados obtidos, a equipe pedagógica interveio na
tentativa de corrigir eventuais problemas.
2. CARACTERÍSTICAS E METODOLOGIAS DA AVALIAÇÃO ESCOLAR
O Centro de Ensino Médio Santa Terezinha, atende a uma diversificada
clientela formada por alunos dos mais variados segmentos da sociedade de
Miracema, no ensino médio regular e também na modalidade de Educação de
Jovens e Adultos – EJA 3º segmento, e apesar de ser uma escola tradicional que
tem sua história marcada pela abertura à comunidade, pouco dessa atuação popular
foi observada em relação aos resultados apresentados pela escola nos últimos anos.
O quadro de professores é formado 100% por profissionais formados,
habilitados nas respectivas áreas de atuação, porém essa qualificação não se
traduziu, ao longo dos últimos anos, em resultados significativos, e mesmo assim
não se percebeu a cobrança da comunidade externa (pais, responsáveis, sociedade
em geral) quanto a real aprendizagem dos alunos, que deveria ser evidenciada
pelas notas da escola. Ao contrário, a cobrança que existe limita-se a questão dos
alunos passarem ou não de ano na escola, atendendo aos objetivos estabelecidos
pela SEDUC/DRE.
A avaliação da aprendizagem escolar, além de ser praticada com
uma tal independência do processo ensino-aprendizagem, vem
ganhando foros de independência da relação professor-aluno. As
provas e exames são realizados conforme o interesse do professor
ou do sistema de ensino. Nem sempre se leva em consideração o
que foi ensinado. (LUCKESI, 2011, p. 41).
Pode-se confirmar essa tendência, também através das palavras de
Perrenoud:
Os alunos são considerados como tendo alcançado êxito ou fracasso
na escola porque são avaliados em função de exigências
manifestadas pelos professores ou outros avaliadores, que seguem
programas e outras diretrizes determinadas pelo sistema educativo.
(PERRENOUD, 1999, p. 25).
Como sugerem ou autores, o que importa nesse caso é o fato de que, os
alunos tendo aprovação na escola, não importando a forma como essa aprovação
ocorreu é mais importante do que saber se houve ou não aprendizagem, o que
poderia ser mensurado através dos resultados dos alunos em avaliações externas,
que são imparciais.
2.1. APROVAÇÃO EM XEQUE
Os resultados de aprovação na escola, geralmente são tendenciosos, aprova-se
sem critério, muitas vezes sem cobrar do aluno conhecimentos mínimos, se ele
souber bem, se não o professor “completa”, até mesmo como um mecanismo de
autodefesa.
Essa falta de planejamento pôde ser observada em várias ocasiões onde nem
a prova3 era elaborada visando estabelecer um diálogo entre a avaliação e a
metodologia usada pelo professor, neste caso, percebe-se claramente a falta de
critério empregado na elaboração da prova, Hadji, (2001, p. 45) diz que: “Não se
poderia avaliar um objeto do qual não se espera nada. Neste sentido, a relação de
avaliação é uma relação de não-indiferença com o objeto avaliado”. Esse
procedimento, que visa apenas o índice de aprovação na escola, caracteriza-se por
privilegiar uma avaliação meramente quantitativa.
O modelo de avaliação quantitativa considera a educação como um
processo tecnicista. Assume a nítida diferença entre fatos e valores,
a determinação de fins e objetivos da educação e a neutralidade
ética da intervenção tecnológica. A avaliação quantitativa tem, como
preocupação única, a comprovação do grau em que os objetivos
previamente estabelecidos foram alcançados” (SAUL, p.46. 2010)
Esse tipo de avaliação, quantitativa, além de não favorecer a aprendizagem
do aluno, contraria o que prega a LDB em seu Artigo 24, inciso V, alínea a e o
Regimento Escolar Padrão da SEDUC em seu Artigo 59, inciso V, que diz que na
avaliação da aprendizagem devem prevalecer os aspectos qualitativos em
detrimento dos quantitativos. E acaba por ratificar a observação feita por Luckesi em
relação à dicotomia entre avaliação classificatória, que também pode ser entendida
como quantitativa e a avaliação diagnóstica.
Com a função classificatória, a avaliação constitui-se num
instrumento estático e frenador do processo de crescimento; com a
função diagnóstica, ao contrário, ela constitui-se num momento
dialético do processo de avançar no desenvolvimento da ação, do
3 Anexo A: Prova de Exame Especial de matemática, que deveria abranger todo o conteúdo ministrado no
decorrer do ano letivo de 2009. Essa prova evidencia a falta de planejamento do professor no ato de elaborá-la, pois além de não oferecer níveis diferenciados de dificuldade, confunde o objetivo de cada grupo de questões ao solicitar do aluno que simplifique quando a questão dada necessita ser calculada e que calcule quando esta deve apenas ser simplificada.
crescimento para a autonomia, do crescimento para a competência
etc. (LUCKESI, 2011, p. 83).
A avaliação, diferentemente da verificação, envolve um ato que
ultrapassa a obtenção da configuração do objeto, exigindo decisão
do que fazer ante ou com ele. A verificação é uma ação que
“congela” o objeto; a avaliação, por sua vez, direciona o objeto numa
trilha dinâmica de ação. (LUCKESI, 2011, p. 53).
3. PROFESSORES VS. AVALIAÇÃO
A primeira grande barreira para se começar um trabalho diferenciado no que
diz respeito à avaliação realizada na escola, foi convencer os professores da
necessidade de mudar sua prática avaliativa e, consequentemente, a forma como se
posicionavam em relação ao planejamento de suas aulas, sabe-se que o ato de
planejar constitui-se em fator preponderante no processo dialético de ação/ reflexão/
ação, que determina o sucesso ou não de qualquer atividade.
Planejamento do ensino: é a previsão inteligente e bem articulada de
todas as etapas do trabalho escolar que envolve as atividades
docentes e discentes, de modo que torne o ensino seguro,
econômico e eficiente; é a previsão das situações específicas do
professor com a classe; é o processo de tomada de decisões bem
informada que visam à racionalização das atividades do professor e
do aluno, na situação ensino-aprendizagem, possibilitando melhores
resultados e, em consequência, maior produtividade. (LUCKESI,
2011, p. 131.)
No início dos debates a coordenação pedagógica teve grande dificuldade
para tentar incutir no professor as características dos variados conceitos sobre
avaliação, conceituando e diferenciando as relações entre os critérios – Conceituais:
Compreensão ou entendimento do significado de cada conteúdo estudado, saber
aplicar a conceituação do que foi ensinado em sala de aula e na vida. Expor, situar,
interpretar o fato, em situações que podem ser constantemente ampliadas,
elaboração e construção pessoal a partir das atividades propostas pela escola.
Atitudinais: Valores, atitudes e normas, verificados por sua interiorização e
aceitação, elaboração complexa de caráter pessoal, a ser construído
processualmente, valorar princípios ou ideias éticas que permitem as pessoas emitir
juízo sobre condutas e seu sentido: solidariedade, respeito, responsabilidade,
liberdade, entre outros. Procedimentais: Socializar saberes adquiridos no cotidiano
escolar, desenvolver pesquisas sobre os temas abordados e compartilhar as
informações coletivamente, aprender formas de aproximar-se da informação para
verificar hipótese – e instrumentos avaliativos.
O conhecimento de diferentes instrumentos para avaliação e da
melhor forma de utilizá-los é um dos recursos de que o professor
competente deve dispor. O domínio desse conhecimento está ligado
à convicção de que a avaliação não deve servir de instrumento de
pressão para manter a disciplina em aula ou de fazer o aluno
estudar. (MORETTO, 2008, p. 29).
3.1. DETECTANDO O PROBLEMA
Muitos professores, principalmente aqueles que trabalham com as disciplinas
de ciências da natureza, matemática e suas tecnologias, não haviam se apropriado
das definições, características e aplicações de cada um desses conceitos, não
sabendo, por exemplo, diferenciar critérios de instrumentos avaliativos e não
consideravam a avaliação como um meio para repensar sua própria prática
educativa.
A avaliação como prática de investigação tem o sentido de romper as
barreiras entre os participantes do processo de ensino/aprendizagem
e entre os conhecimentos presentes no contexto escolar. [...] A
avaliação como prática de investigação pressupõe a interrogação
constante e se revela um importante instrumento para professores e
professoras comprometidos com uma escola democrática [...]
(ESTEBAN, 2010, p. 99 apud ESTEBAN, 1999)
A maioria dos professores pautava seu trabalho avaliativo simplesmente na
aplicação de provas bimestrais, sem o devido planejamento e nem rigor quanto à
sua correspondência com a metodologia utilizada em sala de aula para abordar os
conteúdos ministrados, dando ênfase à avaliação pontual, por meio da prova, em
detrimento ao processo de apropriação do saber por parte do aluno ao longo de todo
o período, sem valorizar o erro em busca de uma nova abordagem no intuito de
sanar as dificuldades do aluno na apreensão do conteúdo.
[...] ao longo do processo de aprendizagem, predominará a função
diagnóstica, isto é, a verificação das dificuldades dos alunos, a fim de
que sejam disponibilizados os instrumentos e as estratégias de sua
superação. Por isso, mais do que verificar acertos, a avaliação da
aprendizagem volta-se, substancialmente, para a constatação dos
equívocos. [...] para que o professor atento perceba os esquemas e
mecanismos que foram pelo aluno na solução das situações-
problemas que lhe foram apresentadas na avaliação (ROMAO, 2008,
p. 65).
Perrenoud também se posiciona acerca dessa questão quando destaca:
Quando a avaliação é contínua, feita ao longo de todo o ano pelos
professores, ela se dilui no fluxo do trabalho cotidiano em aula. Ela
não escapa, portanto, ao cálculo intuitivo dos custos e dos benefícios
que está no princípio de qualquer investimento dos alunos na escola.
(PERRENOUD, 1999, p. 43).
Uma situação frequente no procedimento dos professores frente a avaliação
da aprendizagem dos alunos, era a aplicação dos mesmos instrumentos (provas)
repetidas vezes, com objetivo de fazer com que o aluno „recuperasse‟ possíveis
notas baixas. Dessa forma, o professor não se colocava como parte integrante do
processo avaliativo, transferindo toda a responsabilidade da aprendizagem
exclusivamente para o aluno.
[...] As atividades do professor vão induzir as atividades específicas
dos alunos. O professor deve, desse ponto de vista, considerar-se
como um instrumento de regulação, e ver nas variações de sua
própria conduta (diferenciação de suas maneiras de ser e de fazer)
um meio de ação que pode revelar-se particularmente eficaz.
(HADJI, 2001, p. 125).
Apesar da direção da escola contar com instrumento4 específico para
diagnosticar o trabalho do professor, este era pouco efetivo, uma vez que sua
aplicação não servia como referência para a melhoria do trabalho docente, pois ao
final do ano letivo seus resultados já não tinham o devido vinculo com a realidade, e
mesmo que fossem detectadas falhas, já não se poderia intervir na condução do
trabalho do professor.
4 Anexo B: Ficha de avaliação do professor – foi concebida com o objetivo de servir como parâmetro do
trabalho docente e deveria ser aplicada bimestralmente, porém raramente conseguia-se utilizá-la com todos os professores num mesmo bimestre e seus resultados não eram tabulados para que se vislumbrasse a evolução ou não do desempenho do professor, procurando realizar as intervenções necessárias em situações específicas.
4. A RELAÇÃO ESCOLA/ENEM
Miracema do Tocantins conta com apenas três escolas que oferecem o
Ensino Médio, nas modalidades Regular e EJA – O Colégio Tocantins (CT), o Centro
de Ensino Médio Dona Filomena Moreira de Paula e o Centro de Ensino Médio
Santa Terezinha. Tradicionalmente, no que concerne aos resultados de
desempenho dessas escolas no ENEM5, o CT sempre figurou em primeiro lugar, o
C.E.M. D. Filomena aparece em segundo lugar seguido pelo C.E.M. Santa
Terezinha, em último.
Os resultados e a posição do CT talvez se expliquem pelo fato da escola
adotar a metodologia e os recursos do sistema Positivo® - é reconhecida por ser a
“melhor escola” da cidade, quanto ao C.E.M. Santa Terezinha, os maus resultados
de desempenho dos alunos no ENEM, perpassam pela metodologia do trabalho até
então desenvolvido, que não priorizava a preparação dos alunos para esta
avaliação.
Percebeu-se que não havia de fato uma preocupação com a questão da
elevação das notas da escola, o trabalho se dava de forma desordenada, sem um
planejamento voltado para esse fim, onde cada professor realizava suas atividades
rotineiramente, avaliavam seus alunos de forma desarticulada com o conteúdo
ministrado, sem levar em consideração a metodologia utilizada nas aulas, atribuíam
a essas avaliações a pontuação que lhes fosse conveniente, repetindo a aplicação
das mesmas avaliações caso julgassem necessário – mais pela comodidade de não
ter que elaborar outra prova do que levando em consideração critérios técnicos ou
pedagógicos – sem maiores interferências nem da coordenação, nem da direção.
Confirmou-se então a suposição inicial que atribuía os maus resultados de
desempenho dos alunos e consequentemente as notas da escola, à precariedade da
metodologia usada pelos professores em suas aulas e seu consequente reflexo na
avaliação, além da pouca, ou nenhuma intervenção da coordenação pedagógica
(anterior a 2008), que apenas “acompanhava” o trabalho do professor, sem intervir
de fato, além da inoperância da direção em solucionar problemas de ordem
administrativa.
5 Anexo C: Resultado das notas médias das escolas no ENEM de 2009. Essa configuração de pódio,
representação do desempenho das escolas nas provas do ENEM já perdura a bastante tempo, obviamente com variações de notas.
4.1. PROPOSIÇÃO DE MUDANÇA
Objetivando sanar os problemas detectados, a coordenação pedagógica
sugeriu a implementação de procedimentos que favorecessem o processo de
avaliação na escola, tornando-os comuns a todos e que aproximasse o sistema de
avaliação escolar aos critérios exigidos dos alunos nas avaliações exteriores,
principalmente o ENEM. Para tanto seria necessário também que a metodologia
empregada pelos professores fosse adequada às exigências do sistema avaliativo
que se almejava implantar, pois como define (LUCKESI, 2011, p. 45) “A avaliação da
aprendizagem escolar adquire seu sentido na medida em que se articula com um
projeto pedagógico e com seu consequente projeto de ensino”.
O processo de amadurecimento dessa nova filosofia de trabalho na escola foi
de aproximadamente três anos, nesse período houve muita resistência por parte de
alguns em aderir à metodologia proposta. Á princípio a coordenação apenas sugeria
e incentivava os professores quanto à utilização de abordagens diferenciadas em
suas aulas e consequentemente estratégias de avaliação mais condizentes com os
conteúdos ministrados.
Mesmo com a necessidade comprovada de mudança, alguns professores
ainda não seguiam de forma correta as orientações da coordenação e não
planejavam suas atividades, principalmente as avaliativas, de forma a deixar claro
para o aluno os objetivos da realização de tais atividades.
Para corrigir essa falha, a saída encontrada pela coordenação pedagógica foi
apropriar-se de todo o processo avaliativo da escola de modo que ele pudesse ser
facilmente gerenciado, para isso foi estruturado um documento, baseado na
legislação vigente, que determinava os procedimentos que todos os professores e
alunos deveriam seguir acerca do processo avaliativo da escola, quais instrumentos
deveriam ser utilizados e os valores (pontuação) que deveria ser atribuída a cada
um deles. Para que se estabelecesse de fato a proposta de trabalho feita pela
coordenação pedagógica, foram necessárias diversas reuniões6 para replanejarmos
os termos do projeto, nessas reuniões a davam-se ênfase a de todos, pois entende-
se que a melhor forma de construção de uma proposta de trabalho é aquele que
ocorre de forma coletiva.
6 Anexos D, E, F, G, H: Evidência de reunião ocorrida em 20 de Janeiro de 2011, registrada no Livro Ata 01/2011,
nas páginas 07, 08 e 09.
Abaixo seguem alguns trechos importantes do documento:
5. CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO AO CENTRO DE ENSINO MÉDIO
SANTA TEREZINHA
Em se tratando da avaliação, esta deve encaminhar o professor para a
reflexão sobre a eficácia de sua prática educativa e, desse modo, orientar o ajuste
de sua intervenção pedagógica para que o aluno aprenda. Possibilita também à
Equipe escolar definir prioridades em suas ações educativas.
De acordo com os conteúdos e objetivos propostos, a avaliação deve
considerar o desenvolvimento das competências e habilidades dos alunos com
relação à aprendizagem não só de conceitos, mas também, de procedimentos e de
atitudes. Dessa forma, serão utilizados diversos instrumentos e situações para poder
avaliar diferentes aprendizagens, para tanto o professor deverá considerar as
diversas formas de avaliações possíveis, bem como os mais variados instrumentos
avaliativos – Avaliação coletiva7,prova escrita, individual (com consulta ou sem
consulta), prova escrita, em dupla (com consulta ou sem consulta), trabalhos:
debates, seminários, relatórios, pesquisas, registro de atividades.
O posicionamento dos professores frente ao ato de avaliar deve obedecer aos
conceitos constantes nos critérios conceituais, critérios atitudinais e critérios
procedimentais.
Itens a serem observados pelo professor na aplicação das avaliações bimestrais:
O professor deverá aplicar um número mínimo de 04 (quatro) avaliações por
bimestre (utilizando os diversos instrumentos avaliativos, especificando-os no diário),
sendo que uma delas será obrigatoriamente a avaliação coletiva; O total da soma
das avaliações não poderá ultrapassar os 10,0 pontos; Deverão constar em cada
atividade avaliativa (escrita), o bimestre a que se refere e a quantidade de pontos
que vale a mesma; Em uma avaliação de múltiplas questões (prova ou trabalho)
deverá constar o valor de cada uma das questões; O professor deverá observar a
distribuição do total de pontos do bimestre (em um total de 10,0) levando em
7 Anexo I: Avaliação coletiva – Conjunto de regras elaboradas pela escola, baseadas em seu Regimento Interno,
que avalia a turma coletivamente em até 2,0 pontos, essa pontuação é parte integrante da composição da média bimestral dos alunos. Caso a turma não atinja a pontuação máxima na avaliação coletiva, o professor pode, a seu critério, completar a nota daqueles alunos que julgar merecedores, porém jamais deve punir alguém atribuindo nota menor do que a média da turma.
consideração a divisão mais simples, ex: 0,5 – 1,0 – 2,5, etc..., evitando frações
como: 4,6 – 3,7 – 5,8 ou 6,9; Quando uma avaliação se der por meio de trabalho
escrito, também deverá ser feita uma prova escrita a respeito do tema do trabalho,
para complementar a nota da avaliação; Divulgar para os alunos (e para a
Coordenação Pedagógica), quantas e quais serão as avaliações que serão feitas no
bimestre (Se possível estipulando datas); As datas em que as avaliações ocorrerão
no decorrer do bimestre ficarão a critério do professor.
6. CONCLUSÃO
Por meio da proposta de organização do sistema de avaliação do Centro de
Ensino Médio Santa Terezinha a coordenação pedagógica viabilizou, a partir do ano
de 2008, a mudança de atitude de uma equipe confortavelmente adaptada a sua
rotina de trabalho, que em alguns casos pautava-se apenas no improviso, na
repetição (de erros) e no desordenamento, fazendo-a entender a necessidade de se
procurar meios para elevar a qualidade do trabalho desenvolvido. Foi um processo
longo e difícil, assim como acontece em toda evolução, para podermos alcançar
novas conquistas é necessário que nos desprendamos de algo, como diz a
sabedoria popular: “Cada escolha, uma renúncia”. Além das atividades
desenvolvidas na estruturação da proposta, por várias vezes foi necessário realizar
ações com o objetivo de conquistar aqueles mais resistentes à mudança e para que
isso acontecesse, houve o engajamento de todos nessa árdua batalha: da
coordenação que estava à frente do trabalho, da direção que sempre apoiou a
iniciativa e disponibilizou meios para que se efetivasse e dos professores que
entenderam que a proposição seria benéfica a todos.
É claro que essa tarefa em nenhum momento foi fácil, ao longo dessa
jornada, por várias vezes houve a necessidade de reflexão, discussão e adaptação
dos objetivos inicialmente propostos, foi um fazer e refazer constante. Mas, mesmo
com todas as dificuldades pelas quais a equipe passou, pode-se verificar que todo o
esforço foi válido quando um dos objetivos principais foi alcançado, o de elevar8 a
nota da escola no ENEM, resultado de muito empenho no decorrer de três anos de
trabalho, nada acontece da noite para o dia e nem por acaso. Porém, as mudanças
8 Anexo J: Resultado das notas médias das escolas no ENEM de 2010.
que acontecem na educação, para atender aos anseios políticos e as pretensões
pessoais de alguns, geralmente emperram os processos de construção democrática.
Especificamente no caso do Centro de Ensino Médio Santa Terezinha essas
mudanças foram determinantes para que um trabalho de três anos se extinguisse
em poucos meses. Desastre motivado unicamente pela prepotência de quem se
acha dono da verdade e toma decisões unilaterais, sem levar em conta critérios
meritocráticos, apenas para satisfazer a necessidade de se impor à custa da
derrocada alheia. Mas apesar disso tudo, ficou provado que o trabalho, o
planejamento e a vontade de fazer diferente são ingredientes fundamentais para a
construção de uma educação de qualidade, que requer tempo e empenho, mas que
é possível.
REFERÊNCIAS
ESTEBAN, Maria Tereza; AFONSO, Almerindo Janela (orgs.). Olhares e interfaces:
reflexões sobre a avaliação. – São Paulo: Cortez, 2010.
HADJI,Charles. Avaliação desmistificada; trad. Patrícia C. Ramos. – Porto Alegre: Artmed,
2001.
LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 5. ed. – Brasília: Câmara dos
Deputados, Coordenação Edições Câmara, 2010. Disponível em
<http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/2762/ldb_5ed.pdf>. Acesso em: 25
ago. 2011.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 22.
ed. – São Paulo: Cortez, 2011.
Material encontrado em página interna: <http://noticias.uol.com.br/educacao/infografico/nota-
enem-2010/>. Acesso em: 22 set. 2011.
Material encontrado em página interna: <http://veja.abril.com.br/educacao/enem/>. Acesso
em: 22 set. 2011.
MORETTO, Vasco Pedro, 1942-. Prova: um momento privilegiado de estudo, não um acerto
de contas. 8. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2008.
PERRENOUD, Philippe. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens – entre
duas lógicas; trad. Patrícia Chittoni Ramos. – Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
REGIMENTO ESCOLAR PADRAO DA SEDUC. Secretaria da Educação e Cultura do
Estado Tocantins. 2008. Disponível em:
<http://www.seduc.to.gov.br/index.php?option=com_docman&task=cat_view&gid=26&Itemid
=99999999&limitstart=10>. Acesso em: 25 ago. 2011.
ROMAO, José Estáquio. Avaliação dialógica: desafios e perspectivas. 7. ed. – São Paulo:
Cortez; Instituto Paulo Freire, 2008.
SAUL, Ana Maria. Avaliação emancipatória: desafio à teoria e à pratica de avaliação e
reformulação de currículo. 8. ed. – São Paulo: Cortez, 2010.
ANEXO J – CLASSIFICAÇÃO DA ESCOLA NO ENEM 2010
Fonte: http://noticias.uol.com.br/educacao/infografico/nota-enem-2010/