AVALIAÇÃO DO EFEITO DO LASER EM λ= 830nm NA EXPRESSÃO ... · EXPRESSÃO GÊNICA DE CÉLULAS...

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AUTARQUIA ASSOCIADA À UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO AVALIAÇÃO DO EFEITO DO LASER EM λ = 830nm NA EXPRESSÃO GÊNICA DE CÉLULAS MESENQUIMAIS INDIFERENCIADAS DE POLPA DENTAL EM CULTURA VISANDO TERAPIA CELULAR VINICIUS MARCHIORI SILVA Dissertação apresentada como parte dos requisitos para obtenção do Grau de Mestre Profissional em Lasers em Odontologia. Orientadora: Profª. Drª. Martha Simões Ribeiro Co-orientadora: Profª. Drª. Luciane Hiramatsu Azevedo SÃO PAULO 2009

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AUTARQUIA ASSOCIADA À UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

AVALIAÇÃO DO EFEITO DO LASER EM λ= 830nm NA

EXPRESSÃO GÊNICA DE CÉLULAS MESENQUIMAIS INDIFERENCIADAS DE POLPA DENTAL EM CULTURA

VISANDO TERAPIA CELULAR

VINICIUS MARCHIORI SILVA

Dissertação apresentada como parte dos requisitos para obtenção do Grau de Mestre Profissional em Lasers em Odontologia.

Orientadora: Profª. Drª. Martha Simões Ribeiro Co-orientadora: Profª. Drª. Luciane Hiramatsu Azevedo

SÃO PAULO

2009

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Mestrado Profissionalizante Lasers em

Odontologia

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AUTARQUIA ASSOCIADA À UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

AVALIAÇÃO DO EFEITO DO LASER EM λ= 830nm NA

EXPRESSÃO GÊNICA DE CÉLULAS MESENQUIMAIS INDIFERENCIADAS DE POLPA DENTAL EM CULTURA

VISANDO TERAPIA CELULAR

VINICIUS MARCHIORI SILVA

Dissertação apresentada como parte dos requisitos para obtenção do Grau de Mestre Profissional em Lasers em Odontologia.

Orientadora: Profª. Drª. Martha Simões Ribeiro Co-orientadora: Profª. Drª. Luciane Hiramatsu Azevedo

SÃO PAULO

2009

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Dedico este trabalho à futura geração em nome do meu filho Gabriel

Raggio Marchiori, que todo esforço seja feito para melhorar seu

caminho, espero que este trabalho sirva de inspiração pra você e pra

alguns que vierem depois de mim.

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AGRADECIMENTOS

À minha orientadora Professora Doutora Martha Simões

Ribeiro pela paciência, pelos conhecimentos compartilhados,

pelas ótimas idéias e perfeita sintonia de trabalho, espero

poder continuar trabalhando com você.

À minha co-orientadora, Professora Doutora Luciana

Hiramatsu Azevedo pela dedicação e pelas respostas rápidas

sempre que foi solicitada, além do empenho clínico excepcional.

A todos os professores do curso de mestrado Lasers em

Odontologia, com destaque especial aos professores Nilson Dias

Vieira Junior e Carlos de Paula Eduardo pela força e coragem de

manter um curso tão especial envolvendo três instituições de

renome: FOUSP, LELO e IPEN.

Aos funcionários ligados ao curso, especialmente a Andrea

Malavazzi do fundo do meu coração pelo empenho em fazer

nossa vida acadêmica funcionar nestes anos.

Aos colegas que compartilharam a sala de aula deste

curso comigo e ao amigo Rodrigo que compartilhou a clínica, os

textos, as fotos e bons momentos.

Ao Professor Doutor Sang Won Han, do CINTERGEN da

UNIFESP pelas orientações, pelos equipamentos gentilmente

cedidos e pelos conhecimentos compartilhados nos últimos

anos.

A Minha grande amiga, pois é assim que chamamos

alguém que está sempre presente de forma importante em

nossa vida, Bianca Lisboa, que muito colaborou para que este

trabalho e outros pudessem acontecer.

A minha grande amiga e professora Flávia Helena da

Silva, companheira de laboratório e de muitas conversas

ótimas, sem você eu estaria na estaca zero, tenho certeza que

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nosso futuro reserva ótimas oportunidades para trabalharmos

juntos.

Aos amigos Dr. Henrique Celebrone, Dra. Angélica Luppi e

sua equipe por dar suporte fundamental durante todo o período

da pesquisa.

Ao professor Doutor Niels Olsen Câmara, que acreditou em

meu trabalho e ajudou cedendo tempo, recursos e muito

conhecimento valioso.

A minha amiga Patricia Semedo, que em meio a toda

dificuldade para cuidar da sua própria pesquisa ainda arrumou

tempo pra cuidar da minha e me ensinar caminhos para ser feliz

no mundo científico.

Agradeço aos amigos Raphael Pacheco e professora

Doutora Rejane Daniele Reginato da morfologia da UNIFESP

pela grande ajuda no ano passado e nos trabalhos atuais,

espero trabalhar muito mais com vocês.

Aos amigos Gil, Eduardo, Priscila e Pri, Rô, Leonardo, Xuxu

por me aguentarem perguntando e pedindo coisas dentro do

laboratório, ajudarem com cálculos, cederem tempo, material e

até por fazerem procedimentos para mim sem perder o bom

humor.

A minha paciente Ligia Shizuko Sumi Vieira do ICB da USP

por tão gentilmente me arrumar dispase no início do meu

trabalho, sem você eu teria perdido muito tempo.

A minha sócia, amiga e mãe do meu filho, Andrea Raggio

por garantir o funcionamento do consultório enquanto eu estive

fora.

A minha cunhada Professora Doutora Daniela Raggio que

me deu muitas orientações como ótima acadêmica que é.

Meus pais, Elena Marchiori e Antonio Carlos Bueno que me

deram suporte de todas as formas que existem e mais algumas

que eles inventaram.

7

Minha irmã Bianca e meu cunhado Eduardo Claro que me

receberam em sua casa e em seus corações para que eu

pudesse levar meu trabalho para a Europa.

Ao meu irmão Emerson que sempre me deu socorro

linguístico quando precisei me virar em outros idiomas.

Ao amigo Fernando Henrique Costa e Silva que moveu um

mundo pra me ajudar quando eu não conseguia me levantar

sozinho, me trouxe luz e me levou às águas.

Ao amigo Professor Doutor Marcelo Abla, graças a você

isso tudo vai ter um sentido, nossa caminhada está apenas

começando apesar de já ter 20 anos de parcerias diversas e

amizade intensa.

A amiga Rana Rached: veterinária, revisora, chefe de

cozinha, enóloga e companheira de dança, além de mulher do

meu amigo Marcelo Abla, amo vocês.

A mio amico Carmine Gentile, sono grato per l’appoggio in

2008 a Ginevra, Svizzera i per iChat!

A minhas amigas que acreditaram que era possível fazer

uma especialização e um mestrado ao mesmo tempo,

pesquisar envolvendo as duas áreas e ainda me deram suporte

emocional durante o percurso: Renata Chinaite e Cristiane

Henrique Soares excelentes fonoaudiólogas.

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EFEITOS DO LASER EM λ= 830nm NA EXPRESSÃO GÊNICA DE

CÉLULAS MESENQUIMAIS INDIFERENCIADAS DE POLPA

DENTAL EM CULTURA VISANDO TERAPIA CELULAR

VINICIUS MARCHIORI SILVA

Resumo

Este estudo visa investigar a possível relação entre a irradiação

laser λ= 830 nm e a expressão gênica dos genes ligados à

diferenciação de células mesenquimais indiferenciadas em células de

linhagem osteoblástica. Dentes extraídos de pacientes por motivos

clínicos foram levados ao ambiente estéril em laboratório BL-2 e

abertos para acesso às câmaras pulpares. O tecido pulpar foi então

digerido para que a separação das células mesenquimais ocorresse.

Amostras iniciais coletadas das células recém obtidas foram analisadas

por citometria de fluxo e foi comprovada a presença de marcadores de

superfície correspondentes aos das células indiferenciadas,

caracterizando-se desta forma a população estudada como sendo de

células mesenquimais indiferenciadas, ou células tronco de adultos.

Após obtenção por digestão fracionada, foi feito o plaqueamento e

essas células foram mantidas em culturas, que foram expandidas e

divididas em dois grupos: GL, grupo que recebeu irradiação laser e

GC, que não recebeu irradiação laser e foi utilizado como controle.

Diferenças nas expressões dos genes ligados à diferenciação

celular foram detectadas por análise molecular tipo RT-PCR e PCR e

nossos resultados indicam que a diferenciação celular foi mais rápida

nas células que receberam irradiação laser.

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EFFECTS OF LASER AT λ= 830nm ON THE GENIC EXPRESSION

OF MESENCHIMAL STEAM CELLS FROM DENTAL PULP IN

CULTURE AIMING CELLULAR THERAPY

VINICIUS MARCHIORI SILVA

Abstract

This study aims to investigate the possible relation between 830

nm laser radiation and the genic expression of the genes linked to

differentiation of the mesenchymal steam cells (MSC) to osteoblastic

lineage. Tooth extracted from patients for clinical purposes were taken

to the sterile ambience at biosecurity level 2 and opened to access to

dental pulp chamber. The pulp tissue was them digested to separate

the MSC. Samples collected from the cell population freshly extracted

were analyzed by flow citometry and the presence of markers

corresponding to MSC was confirmed, characterizing in this way the

population studied as MSC. After obtaining the cells by digestion, those

were put into culture, expanded and divided into two groups: GL,

group that received laser radiation and the other called GC, that didn’t

received laser radiation and it was used as a control. Differences

between the expression of the genes linked to cellular differentiation

were detected by molecular analysis RT-PCR and PCR. Our results

indicate that differentiation occurs more rapidly in the cells that

received laser radiation.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 CÉLULAS E LASER: APLICABILIDADE NA MEDICINA

REGENERATIVA

2.2 - BIOLOGIA MOLECULAR DA CÉLULA

2.2.1 DNA, CÓDIGO DA VIDA.

2.2.2 TODAS AS CÉLULAS TRANSCREVEM PORÇÕES DE

SUAS INFORMAÇÕES HEREDITÁRIAS EM UMA MESMA

FORMA INTERMEDIÁRIA, O RNA.

2.2.3 TRADUÇÃO DOS RNAS EM PROTEÍNAS

2.3 USO DE CÉLULAS EM REGENERAÇÃO TECIDUAL.

2.4 TECIDO ÓSSEO E REGENERAÇÃO

2.5 SINALIZAÇÃO CELULAR ESPECÍFICA: REGULAÇÃO DA

EXPRESSÃO GÊNICA.

3.OBJETIVOS.

11

13

13

18

18

23

27

35

37

38 42

4.MATERIAL E MÉTODOS 43

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO. 50

8.CONCLUSÕES

9.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

61

62

11

1. Introdução

A utilização de células tronco de adultos em regeneração tecidual

e na construção de órgãos artificiais vem ganhando espaço e está

presente atualmente como uma realidade possível.

Construção de órgãos artificiais, como por exemplo válvulas

cardíacas recobertas de células, membranas com cobertura celular

para reconstrução óssea, pele artificial, ou mesmo um spray rico em

células para reparo de descontinuidades de derme causados por

queimaduras ou feridas diversas, já são realidade e envolvem o uso de

células coletadas, na maioria das vezes, do próprio paciente. Os

tecidos coletados são levados para o laboratório, as células de

interesse são isoladas e colocadas em cultura. Normalmente, são

células mesenquimais indiferenciadas, que após sofrerem expansão, ou

seja, aumento na quantidade de células da cultura, são diferenciadas

por estímulos dados pelos meios de cultura modificados de forma que

estas células são levadas a cumprir uma função específica como

fibroblastos, osteoblastos, cardiomiócitos, entre outros.

As fases de obtenção, isolamento e expansão celulares seguem

tempos ditados pelo metabolismo celular e por algumas inovações

tecnológicas, como os meios de cultura aperfeiçoados, ou culturas em

perfusão ou microgravidade. É bem conhecida a capacidade dos lasers

em acelerar o reparo de tecidos in vivo e aumentar a proliferação

celular em cultura, mas essa inovação tecnológica ainda não entrou

nos protocolos de expansão de culturas celulares e esta introdução

poderá ocorrer caso comprove-se eficiente para esta utilização e caso

os parâmetros de irradiação sejam definidos para os diversos tipos

celulares. É importante também o conhecimento de como o laser pode

atuar na expressão dos genes envolvidos na diferenciação celular. Se

alguma modificação na expressão ocorre, é possível que as culturas

12

celulares se tornem diferenciadas mais rapidamente para o tipo celular

desejado, ou então que se mantenham indiferenciadas, o que permite

expansão maior, uma vez que células indiferenciadas tem maior

capacidade de diferenciação do que células diferenciadas. Outra

possibilidade é a expansão das culturas diferenciadas, mas somente

uma análise dos genes envolvidos poderá dizer em que fase de

diferenciação as células se encontram e se algo muda com o uso do

laser.

Este trabalho, portanto, tem como objetivo investigar os efeitos

doa radiação laser emitindo em λ= 830 nm na expressão gênica dos

genes ligados à diferenciação de células mesenquimais indiferenciadas

em células de linhagem osteoblástica.

13

2. Revisão de literatura

2.1 Células e laser: aplicabilidade na medicina

regenerativa

Há muitos anos, a ciência vem tentando reabilitar pacientes com

perdas ósseas de etiologias diversas e muitos progressos ocorreram

desde as primeiras tentativas de regeneração feitas na década de

1960, com materiais que nada mais faziam do que separar defeitos

ósseos e suas células reparadoras da influência de outros tipos

celulares (Boyne, 1964).

Sem dúvida os maiores avanços vieram com o avanço

tecnológico, e técnicas de reabilitação óssea surgiram nas décadas

posteriores (Buser et al., 1994; Lynch et al., 1999) bem como o uso do

laser como adjuvante no reparo ósseo (Freitas et al., 2000)

A interação de estímulos físicos e seu efeito sobre as células

foram alvo de estudos e atualmente têm ganhado maior atenção

devido à possibilidade de uso destas células em terapias baseadas em

engenharia de tecidos (Tsai et al., 2007; Burger & Klein-Nulend,

1998; Mai et al. 2007; zheng et al., 2007) e o efeito do laser de baixa

potência vem sendo citado como efetivo na aceleração cicatricial e

reparação de tecidos duros do corpo humano bem como no controle da

sintomatologia dolorosa crônica e reparo de tecidos moles (Hawkins et

al., 2006). A fototerapia laser pode, além de estimular o crescimento

celular em tecidos ósseos, promover regeneração celular e

remodelação vascular além de promover maior atividade enzimática,

aumentar a formação de produtos pelas células e alterar potencial de

ação em células nervosas (Ribeiro e Zezell, 2004).

Em odontologia, o laser tem várias aplicações e sua efetividade

em acelerar o reparo do tecido duro auxilia tratamentos relacionados

ao osso em diversas especialidades, tais como: ortodontia, cirurgia,

14

implantodontia (Blay, 2001) e outras onde o potencial bioestimulatório

possa ser usado (Saito & Shimizu, 1997; Kawasaki & Shimizu, 2000).

Estudos in vivo mostram maior rapidez na recuperação de fraturas

ósseas (Trelles & Mayayo, 1987) e aumento da reparação óssea em

tratamentos ortopédicos (Saito & Shimizu, 1997).

O efeito do laser de baixa potência também foi analisado in vitro

(Ozawa et al., 1998) e foi observado aumento da proliferação celular e

da atividade de fosfatase alcalina bem como formação de nódulos

ósseos nas placas de cultura. Outro estudo (Fujihara, 2005)

comprovou aumento na proliferação e adesão celular em osteoblastos

em cultura estimulados por laser

A proliferação celular de células mesenquimais indiferenciadas,

conhecidas como células tronco adultas, também aumenta com a

irradiação das culturas com laser em baixa intensidade conforme

descreve Tuby e colaboradores (2007), estes autores demonstraram

este fato e creditam à irradiação laser a indução de síntese de

proteínas regulatórias celulares devido à ativação de genes do ciclo

celular responsáveis pelo início da mitose como o MAPK (mitogen

activated protein kinase) e ERK (extracellular signal regulated kinase).

Estas reações são dependentes de transporte de energia e reações de

oxi-redução que ocorrem nas células (Voet et al. 2002).

Segundo Alberts e colaboradores (2004), reações de oxidação e

redução são constantes nas células e fazem parte do processo de

transformação de energia em função dentro destas. O NAD

(nicotinamida adenina dinucleotídeo) e FAD (flavina adenina

dinucleotídeo) são moléculas carreadoras de elétrons de grande

importância na célula e participam de processos ligados à energia e

seu uso nas mesmas, da mesma forma é o ATP (adenosina tri-fosfato).

Estas moléculas estão envolvidas diretamente no funcionamento do

ciclo do ácido cítrico ou ciclo de Krebs que ocorre nas mitocôndrias

(figura 1 A). As reações bioquímicas encontradas neste sistema

acontecem devido ao potencial redox das moléculas envolvidas e

15

quanto maior o potencial padrão de redução, maior a afinidade por

elétrons, ou seja, existe a tendência da forma oxidada de um par redox

aceitar elétrons e tornar-se reduzida. Baseado nesta constatação

bioquímica, algumas explicações surgiram para que o laser tenha efeito

sobre tal sistema. A dualidade onda-partícula da luz leva alguns

autores a explicar sua influência sobre as reações de oxi-redução

ocorridas nas mitocôndrias pela transferência de energia para esta

organela.

Segundo Wilden e Karthein (2000), o modelo clássico de

transferência de energia mitocondrial é dado pela bioquímica do

transporte de elétrons nesta organela e a função do elétron no sistema

é operar a fosforilação oxidativa neste local produzindo ATP. A

fosforilação oxidativa somente pode ocorrer na conexão entre um

doador de elétron e um aceitator do mesmo e os mais importantes

doadores são o NADH e o FADH2. O NADH doa seu elétron a proteínas

de membrana ligadas à cadeia respiratória a partir de colisões

randômicas na membrana mitocondrial interna e o FADH por estar na

parede mitocondrial entre as membranas externa e interna da mesma

doa seu elétron diretamente à cadeia respiratória. Para que as reações

envolvendo estes parceiros ocorram com maior eficiência ou

velocidade, a energia deve estimular pelo menos um deles de forma a

mudar a distribuição de cargas por pelo menos um instante, ou seja, a

presença de radiação em freqüência específica, comprimento de onda

adequado e intensidade ideal pode ser fator decisivo para que as

reações tomem lugar ou não (figura 1 B).

Os estudos in vitro corroboram com os resultados dos estudos in

vivo, entretanto, as células envolvidas nos trabalhos pesquisados não

eram visadas para uso em terapia celular com pacientes, mas apenas

para pesquisa sobre a influência da irradiação laser nas células in vitro,

mas será que a irradiação laser poderia ser útil no caso dessas culturas

serem usadas em terapia celular?

16

Figura 1A – Cargas elétricas envolvidas nas reações das paredes

mitocondriais, a energia entregue pela luz laser pode influenciar a

diferença de potencial acelerando as reações do ciclo do ác. Cítrico.

17

Figura 1B Esquema de Tiina Karu: a presença de radiação em

freqüência específica, comprimento de onda adequado e intensidade

ideal pode ser fator decisivo para que as reações tomem lugar ou não

18

2.2 - Biologia Molecular da célula

2.2.1 DNA, código da vida.

Todas as células replicam e mantém sua informação hereditária

seguindo um padrão por isso podemos dizer que o mecanismo da vida

está contido na estrutura dupla da molécula de DNA (Alberts e cols.,

2004).

Cada monômero, chamado nucleotídeo, presente em uma cadeia

simples de DNA consiste em duas partes: um açúcar (desoxiribose)

com um grupo fosfato ligado a ele e uma base que pode ser: Adenina

(A), Timina (T), Citosina (C) ou Guanina (G) (figura 2). Cada açúcar

se liga ao próximo através do grupo fosfato e a criação de uma cadeia

de polímeros composta por um esqueleto repetitivo de açúcar-fosfato

com séries de bases sobressaindo-se dela forma a fita de DNA (figura

2A). Nas células esta fita não é sintetizada isoladamente como uma fita

livre mas sim formada por complemento a um molde padrão de fita

DNA pré-existente de forma que há uma regra definida pelas

estruturas das bases nitrogenadas de forma que: “A” liga-se com “T” e

“C” liga-se com “G” (figura 2 B), por este pareamento de bases os

monômeros são adicionados conforme o molde original e a fita dupla é

formada por 2 sequências exatamente complementares de As, Ts, Cs e

Gs, essas duas fitas torcidas entre si formam a estrutura da dupla

hélice (figura 2C). As ligações entre os pares de bases das duas fitas é

feita por pontes de Hidrogênio e é mais fraca que a ligação entre

açúcar-fosfato de forma que é possível a separação dessas fitas sem

causar dano ao esqueleto do DNA (figura 2B e 2C). A partir da

separação das fitas a sequência pode ser copiada em pontos

específicos que são os genes, conforme explicado a seguir.

19

Figura 2: Esquema representativo de nucleotídeo de Adenosina mono fosfato feito com adenina unida a uma ribose

20

Figura 2A: Cada açúcar se liga ao próximo através do grupo fosfato e a criação de uma cadeia de polímeros composta por um esqueleto

repetitivo de açúcar-fosfato com séries de bases sobressaindo-se dela forma a fita de DNA.

21

Figura 2B: Ligações entre as bases nitrogenadas púricas e pirimídicas. Os açúcares (pentoses) são unidos entre si por ligações covalentes dos

grupamentos fosfato e as bases nitrogenadas das fitas complementares são ligadas por pontes de hidrogênio.

22

Figura 2c: Dupla fita de DNA. As ligações entre as bases nitrogenadas dentro da mesma fita são feitas por ligação tipo covalente entre os grupamentos fosfato, esta ligação é mais forte que as ligações feitas

por pontes de hidrogênio e que mantém as fitas unidas (em vermelho), por isso é possível a separação das duas fitas para leitura do DNA sem que cada fita sofra rompimento na estrutura principal, isto garante a

integridade durante a transcrição.

23

2.2.2 Todas as células transcrevem porções de suas

informações hereditárias em uma mesma forma intermediária,

o RNA.

O DNA não faz somente cópias de si mesmo mas é capaz de

expressar as informações que contém e guiar a síntese de outras

moléculas na célula, isso ocorre pela formação de outras classes de

polímeros: RNAs e proteínas.

O processo sempre se inicia pela polimerização (a partir de

moldes do DNA) de uma molécula de RNA chamada de transcrição ou

transcrito primário, na qual sequências de DNA (genes) são usados

como moldes para guiar a síntese de moléculas menores de polímeros

de ácido ribonucléico, os RNA mensageiros (mRNA). Depois, em um

processo mais complexo, chamado tradução, muitas dessas moléculas

de RNA direcionam a síntese de polímeros pertencentes a classes

químicas radicalmente diferentes, as proteínas.

No RNA o esqueleto molecular é formado por um açúcar

ligeiramente diferente daquele do DNA com ribose em vez de

desoxirribose (figura 3) e uma das quatro bases também é

ligeiramente diferente: Uracila (U) no lugar de Timina (T).

Durante a transcrição os monômeros de RNA são alinhados e

selecionados de acordo com a fita molde de DNA pela enzima RNA

polimerase e assim a fita simples formada representa uma parte da

informação genética da célula mas em um “alfabeto” ligeiramente

diferente. Um mesmo fragmento de DNA (gene) pode ser lido repetidas

vezes e produzir uma série de RNAs, que são os intermediários entre a

informação genética contida no núcleo e a proteína final e são

chamados RNAs mensageiros, desta forma enquanto o arquivo de

informação genética da célula na forma de DNA é fixo, os RNAs

transcritos são produzidos em massa e descartados (figura 4).

As moléculas de RNA possuem estruturas distintas que também

podem conferir-lhes outras características químicas especializadas.

24

Sendo fita simples, seu esqueleto é flexível, podendo dobrar-se para

permitir que uma parte da molécula forme ligações fracas com outra

parte desta mesma molécula. Isso acontece quando os fragmentos da

mesma sequência são localmente complementares: um segmento

...GGGG... por exemplo tenderá a se associar a outro ...CCCC... Esses

tipos de associações iternas fazem com que uma cadeia de RNA se

dobre em uma forma específica, dirigida por sua própria sequência

(figura 5). A forma da molécula de RNA por sua vez pode habilitá-la a

reconhecer outras moléculas, ligando-se a elas seletivamente e até

catalizar mudanças químicas nas moléculas às quais se ligam.

Figura 3: No RNA o esqueleto molecular é formado por um açúcar ligeiramente diferente daquele do DNA com ribose em vez de desoxirribose e uma das quatro bases também é ligeiramente

diferente: Uracila (U) no lugar de Timina (T).

25

Figura 4: O DNA é lido e transcrito para RNA e o RNA por sua vez é traduzido em proteína, dois “alfabetos”diferentes, ácidos nucléicos e

aminoácidos, a este processo chamamos “expressão gênica”.

26

Figura 5: Loop de RNA forma o tRNA, observa-se região 3’ que acopla

um aminoácido e região do loop do anticodon (inferior no esquema)

que pode ser lida na tradução pelo complexo ribossômico pois encaixa-

se ao códon do mRNA.

27

2.2.3 Tradução dos RNAs em proteínas.

Todas as células traduzem RNAs em proteínas de uma mesma

maneira e como regra as moléculas de RNA são muito grandes e

contém as especificações para milhares de proteínas. Os segmentos de

sequências inteiras de DNA são, portanto, transcritos em moléculas de

mRNA separadas, com cada segmento codificando uma proteína

diferente. Um gene é definido como um segmento de DNA

correspondentes a uma única proteína ou a uma única molécula de

RNA catalítico ou estrutural para aqueles genes que produzem RNA

mas não proteínas uma vez que RNAs também podem ter funções por

si só que não a confecção de proteínas.

As moléculas de proteínas, como as moléculas de DNA e RNA,

são cadeias poliméricas longas não ramificadas, formadas por

sequências de blocos construtores monoméricos retirados de um

repertório padrão encontrado em todas as células vivas. Assim como o

DNA e RNA, elas carregam informações em uma forma de sequências

lineares de símbolos como um “alfabeto”. Existem muitas moléculas

diferentes de proteínas em cada célula e descontando-se a água a

massa celular é dada na sua maior parte por elas.

Os monômeros de uma proteína são os aminoácidos e são

completamente diferentes dos monômeros de RNAs e DNAs por isso

damos o nome de tradução à leitura dos mRNAs para confecção das

proteínas, afinal é outro tipo e “alfabeto” que foi utilizado! Ao invés de

4 monômeros foram usados 20 e cada aminoácido é constituído da

mesma estrutura básica, por meio da qual pode-se ligar de um modo-

padrão a qualquer outro aminoácido e ligadas a este esqueleto ou

estrutura básica existem cadeias laterais que atribuem a cada

aminoácido propriedades químicas distintas (figura 4). Cada molécula

28

de proteína, ou polipeptídeo, formada pela união de aminoácidos em

determinada sequência particular adquire conformações específicas,

formando uma estrutura tridimensional de alta especificidade e com

sítios reativos em sua superfície que se unem a outras moléculas e

atuam como enzimas das reações celulares, catalizando-as por

formação e quebra de ligações covalentes. As proteínas tem funções

diversas tais como: estruturais, sensoriais, geradoras de movimentos,

sinalização celular e desta forma colocam em ação as informações

genéticas das células em um ciclo de retroalimentação de forma que

DNAs formam RNAs que formam por sua vez proteínas e estas entram

nos processos celulares incluindo aquelas onde novas moléculas de

DNA são produzidas.

Para a produção dos polímeros de aminoácidos temos quatro

letras de nucleotídeos que se combinam para formar 20 de

aminoácidos, isso é um processo complexo (figura 6A e 6B).

A informação contida nos RNAs é lida em grupos de três

nucleotídeos de forma que para cada triplete de nucleotídeos, chamado

códon, temos um aminoácido correspondente ou seja: codificado na

proteína que irá se formar. Como existem 64 códons possíveis (4 x 4 x

4) mas apenas 20 aminoácidos sabe-se que muitos códons

correspondem a um mesmo aminoácido (figura 7). Os códons dos

RNAs são lidos por pequenas moléculas de outros RNAs, os RNAs

transportadores (tRNAs) de forma que cada tRNA tem em uma

extremidade um aminoácido acoplado e na base (que nada mais é do

que um loop do próprio tRNA) expõe parte da sua sequência de forma

que três letras ou bases nitrogenadas que estão livres para combinar

com as três do mRNA na região do códon e por isso essa região do

tRNA é chamada anticódon e é essa porção que o habilita ao

reconhecimento, por pareamento das bases, desta forma o aminoácido

acoplado a esta molécula de tRNA é levado à sequência e ligado à

cadeia de proteína crescente, esta reação ocorre no ribossomo, que é

uma estrutura ou organela celular formada por outras duas moléculas

29

de RNA (o RNA ribossômico ou rRNA) e mais de 50 proteínas

conjugadas a eles (figura 8). Esta superestrutura une-se à molécula de

mRNA e vai acoplando a ela, de acordo com os códons encontrados, as

moléculas de tRNA correspondentes de forma a ir unindo os

aminoácidos que estas carregam para formar os polipeptídeos (figura

9).

Os marcadores de superfície são moléculas protéicas expressas

na membrana celular, produzidas a partir de genes celulares e ajudam

a identificar uma população de células (Voet D, et al., 2002).

O gene é uma seqüência específica de nucleotídeos do DNA

celular que é lido e transcrito para RNA no núcleo celular e este é

traduzido para uma seqüência de aminoácidos nos ribossomos do

citoplasma da célula formando molécula de proteína que é então

dobrada (folded) e endereçada às organelas para exercer funções

diversas, para ser secretada, ou ainda à membrana celular (figura 10 a

e 10b) para comunicação com o meio extracelular e com outras células

em situações específicas (Alberts et al. 2004), ao processo de

transcrição e tradução do gene damos o nome de expressão gênica e

sua regulação foi explicada adiante.

No caso das proteínas de superfície, ou seja, aquelas que foram

endereçadas e encontram-se fixas à membrana plasmática, é possível

detectar sua presença com o uso de anticorpos que se ligam a estas

proteínas e que podemos ler com ajuda do citômetro de fluxo conforme

descrito na metodologia e assim comprovar qual é a célula em questão

ou qual seu grau de diferenciação dentro de uma linhagem pois células

em estágios diferentes de diferenciação apresentarão proteínas

diferentes e específicas em sua superfície (Voet et al., 2002). Outra

possibilidade para estudar quais proteínas estão sendo produzidas

pelas células de uma amostra em determinado momento e assim

comprovar seu grau de diferenciação ou sua interação com o meio é

detectar diretamente do citoplasma qual ou quais os RNAs que a célula

está produzindo e que vão dar origem a determinadas proteínas, como

30

por exemplo o do gene da STRO-1 (stromelisina 1) que é expresso por

células mesenquimais indiferenciadas que se comprometem com a

linhagem osteoblástica mas que ainda permanecem com suas

características de célula indiferenciada conforme descrito no ítem 1.3

abaixo, para esta detecção é usado o método de RT-PCR também

descrito a seguir.

Figura 6A: Para a produção dos polímeros de aminoácidos temos quatro letras de nucleotídeos que se combinam para formar 20 de aminoácidos. Nesta representação descobrimos qual o aminoácido corresponde a determinado códon partindo de uma letra na região

central e seguindo para fora.

31

Figura 6: Detalhe da figura anterior: observe que a combinação AUG é a única que leva à METionina, este aminoácido sempre significa início

de transcrição dos mRNAs nos ribossomos.

32

Figura 7: Cada 3 bases nitrogenadas formam um códon do mRNA e será lido no ribossomo para acoplamento de um tRNA contendo o

aminoácido específico.

Figura 8: Complexo ribossômico em representação cristalográfica, RNA somado a outras proteínas formam o ribossomo.

33

Figura 9: O mRNA recebe acoplamento do tRNA devido à compatibilidade entre códon e anticódon, o tRNA transporta o aminoácido e a cadeia polipeptídica (proteína) vai surgindo.

34

35

2.3 Uso de células em regeneração tecidual.

O uso de células tronco embrionárias gera questões éticas (Hug,

2006), mas a medicina regenerativa as emprega na tentativa de

reparar tecidos lesionados ou repor perdas teciduais devido à

característica destas células de proliferar em cultura indefinidamente e

seu potencial de diferenciar-se em outros tipos celulares (Gepstein,

2002). São classificadas em três grandes grupos: multipotentes,

pluripotentes e totipotentes.

Totipotentes são células com capacidade de gerar o organismo

completo (Klimankaya et al., 2006), como exemplo temos o ovócito

fecundado e células do blastômero. Pluripotentes são as células com

capacidade de divisão indefinida e que podem se diferenciar em células

dos três folhetos embrionários (Prelle et al., 2002) como as células do

interior do blastocisto, núcleo do embrião e produzem fator de

transcrição Oct-4, que as mantém indiferenciadas e com capacidade de

divisão celular indefinida. Nestes dois casos os questionamentos éticos

surgem, pois é necessário o uso de um embrião para obtenção das

células.

As células multipotentes podem se transformar em vários tipos

celulares e podem ser obtidas de tecidos de indivíduos, como por

exemplo do sangue, de onde obtemos as células tronco

hematopoiéticas (Kaufman et al., 1999). Outra alternativa é a

obtenção de células tronco mesenquimais (MSC) ou células

mesenquimais indiferenciadas, encontradas em diversos tecidos no

decorrer da embriogênese e em adultos (Kassem et al., 2004).

Quanto à utilização das células mencionadas acima em terapia

celular, podemos encontrar na literatura a sua diferenciação em

linhagem condrogênica, osteogênica, adipogênica e miogênica,

sugerindo que é possível a reconstrução de tecidos a partir destes tipos

36

celulares. (Zuk. A et al., 2001). Pode-se, por exemplo, obter células de

tecido adiposo por lipoaspiração (Gimble, 2003) ou polpa dental

(Gronthos, 2000) e tentar diferenciar estas células sob condições

osteogênicas de forma que estas células passam a expressar genes e

proteínas típicas ao fenótipo descrito para osteoblastos, como por

exemplo fosfatase alcalina (ALP), colágeno tipo 1, osteopontina,

osteonectina, osteocalcina, sialoproteína óssea, receptores da proteína

morfogenética de osso (BMP) tipo 2 e 4 e receptor de parathormônio

(Gronthos, 2000; Halvorsen et al., 2001; Zuk et al., 2002).

Encontramos nestas células os marcadores de superfície que

identificam potencial de multidiferenciação (CD105, CD166 e STRO-1)

(Gronthos, 1999), o que as torna candidatas a terapias celulares

diversas inclusive em terapia de regeneração óssea conforme a

presente proposta.

A obtenção de outros tipos celulares chamados de células

mesenquimais indiferenciadas, tais como as hematopoiéticas (HSC)

também foram descritas de forma que é possível obter estes tipos

celulares da medula óssea, do sangue ou do cordão umbilical (Dzierzak

et al., 1998; Kaufman et al., 1999). Estas células são responsáveis

pela constante reposição da linhagem celular hematopoiética e tem

capacidade de proliferação similar a das células embrionárias e estudos

comprovam que estas células têm capacidade de se diferenciar em

outros tipos celulares como neurônios (Mezey et al., 2000), mioblastos

(Bittner et al., 1999) e hepatócitos (Lagasse et al., 2000).

Na área da terapia celular, um substrato para a cultura que seja

absorvível pelo corpo humano pode compor, com as células

osteoblásticas cultivadas sobre ele, um enxerto que pode ser devolvido

ao paciente do qual as células se originaram, desde que sob

determinadas circunstâncias (Sittinger et al., 1996 e Marchiori-Silva et

al., 2008). Experimentos de outros pesquisadores (Perka et al., 1999 e

Schimming & Schmelzeinsen, 2004) comprovam esta possibilidade

terapêutica, mas ainda existe uma lacuna no estudo da ação do laser

37

neste tipo de procedimento que comprove algum benefício e que

indique sua utilidade como parte do protocolo nesta terapia durante a

fase laboratorial de cultivo celular.

2.4 Tecido ósseo e regeneração.

A constituição do tecido ósseo dá-se por uma combinação de

matriz majoritariamente composta por hidroxiapatita e colágeno tipo 1

e componentes celulares. Os componentes celulares são: osteoblastos,

osteócito, esteoclastos, células mesenquimais indiferenciadas.

Os osteoblastos são responsáveis pela deposição da matriz e pela

mineralização. Após depositarem matriz ao redor de si mesmos,

mantêm pequenos canalículos alimentadores e se tornam reféns do

seu próprio material secretado, modificam sua estrutura e passam a

constituir os osteócitos. Os osteoclastos são células de tamanho

grande, multinucleadas e responsáveis pela remodelação constante

sofrida pelo tecido ósseo. Os osteoclastos fazem a reabsorção da

matriz óssea e, acompanhados dos osteoblastos em formação

denominada por Daniel Buser (1994) de cone osteoclástico, o osso vai

sendo aos poucos reabsorvido e refeito em uma troca constante de

íons que mantém o equilíbrio dos minerais envolvidos no corpo do

indivíduo.

As células mesenquimais indiferenciadas no tecido ósseo são

células com capacidade de se diferenciar para promover a reposição de

osteoblastos quando necessário (Gartner e Hiatt, 2001).

Todos os componentes do tecido ósseo se organizam de forma

que a estrutura macroscópica tridimensional possa suportar cargas e

exercer a função de suporte, proteção de órgãos internos, locomoção e

ainda servir como reservatórios de minerais. A medula óssea exerce

também a importante função de fornecer células do sistema

hematopoiético a partir de células precursoras lá presentes (Satija et

al. 2007, Freitas e Dalmau, 2006).

38

Todo este tecido é regulado por estímulos mecânicos, fatores

hormonais, fatores de crescimento e citocinas (Gartner e Hiatt, 2001)

de forma que todo o tecido ósseo sofre remodelação de tempos em

tempos e calcula-se que a cada quatro anos todo o esqueleto adulto

seja renovado (Parfitt, 2002).

O desenvolvimento de processos e técnicas para produzir tecido

ósseo in vitro tem avançado nos últimos anos (Goessler et al., 2006;

Sanmartin et al., 2006; Salgado et al., 2007; Perka et al., 2000) o que

possibilitará no futuro a reposição de perdas ósseas por causas

variadas. Esta área da ciência avançou com técnicas de cultura celular

avançadas, cuidadosamente feitas com intenção de produzir formação

de tecido autólogo in vitro (Sittinger et al., 1996 e 2004; Risbud e

Sittinger 2002).

2.5 Sinalização celular específica: regulação da expressão

gênica.

Toda alteração da expressão gênica da célula está relacionada a

estímulos recebidos pela célula para que determinado gene seja

transcrito e traduzido e desta forma uma resposta é dada a tal

estímulo.

Os estímulos indutores ou inibidores da expressão gênica podem

ser recebidos das células vizinhas, da matriz extra-celular (Alford e

Hankenson, 2006) ou de fonte externa de energia tal como uma fonte

de luz laser (Carvalho et al., 2006) ou um campo eletromagnético (Tsai

et al., 2007) e desta forma são chamados parácrinos ou podem ser de

origem da própria célula e desta forma serem denominados autócrinos

(Alberts, 2004), neste caso substâncias sinalizadoras produzidas pela

própria célula vão atuar em cascatas moleculares nela mesma e

produzir efeito inibitório ou estimulatório.

A transcrição de um gene não depende somente da enzima RNA

polimerase como descrito anteriormente, mais do que isso, o primeiro

39

passo para que um gene seja expresso, ou seja, transcrito, é a ligação

de uma proteína indutora ou “fator de transcrição” à sequência

promotora do gene (promotor). Estes fatores de transcrição se ligam a

sequências específicas do promotor, principalmente na sequência

TATAAA, também conhecida como “TATA box”. Esta sequência é

comum à maioria dos promotores de genes de células eucarióticas.

Assim, o fator de transcrição, que é uma proteína, possui sítios de

reconhecimento desta sequência. A ligação do fator de transcrição ao

“TATA box” propicia a ligação da enzima RNA polimerase ao sítio de

iniciação de transcrição do gene e a síntese do RNA começa (Schor et

al., 2003).

O sítio de iniciação de transcrição (ou domínio do fator de

transcrição) “runt” presente no DNA é um componente integral das

cascatas de sinalização mediadas pela TGF-β e pelas BMPs (Bone

Morphogenetic Proteins) e é ativado a partir da presença destas duas

proteínas nos seus respectivos receptores de membrana.

Quando TGF-β ou BMPs se unem aos seus respectivos receptores

estes se ativam como serinas kinases ou seja, o domínio extra-celular

que contém um sítio de ligação para a molécula sinalizadora ao receber

tal molécula muda de conformação e ativa por fosforilação os resíduos

serina do domínio intra-celular que a partir desta modificação

funcionará como sítio de ligação de proteínas intra-celulares. No caso

das TGF-β as proteínas intra-celulares ativadas pela ligação com o sítio

intra-celular dos receptores são as Smad2 e Smad3 e no caso das

BMPs as Smad1, Smad5 e Smad8 (Miyazono, 1999). Essas proteínas

reguladas por receptores Smad, R-Smad, se associam com a Smad-4

(comum a todas, Co-Smad) e entra no núcleo, lá o complexo R-

Smad/Co-Smad se une ao fator de transcrição para regular a

transcrição do gene, este fator de transcrição é chamado RUNX, assim

chamado por ser homólogo ao gene runt presente na Drosophila ou

seja: “runt related” (Ito e Miyazono, 2003)

40

RUNX-2 é componente importante para a maturação de

osteoblastos pois induz células mesenquimais indiferenciadas à

diferenciação em osteoblastos sendo chave reguladora para

osteocalcina e fosfatase alcalina além de conduzir o sinal dado pela

BMP para regular os genes responsáveis pela osteogênese. Segundo

Gronthos (1999) o Runx-2 se une ao DNA na região promotora do

gene da osteocalcina, regulando assim a sua expressão. Não foram

aboradadas aqui as outras formas do gêne: RUNX-1 e RUNX-3 por

serem respectivamente ligados à hematopoiese/angiogênese e à

supressão de tumores, características que fogem ao propósito deste

trabalho mas merecem serem citadas (Ito e Miyazono, 2003).

Segundo Gronthos (1999) os osteoblastos podem ser

caracterizados histologicamente pela alta expressão de fosfatase

alcalina e bioquimicamente pela síntese de certas proteínas de matriz

extra-celular específicas tais como: colágeno tipo I, osteocalcina,

sialoproteína óssea, osteonectina e osteopontina. entretanto esta

heterogeneidade de fenótipos acontece de acordo com a fase

proliferativa e funcional da população celular. Juntos estes marcadores

são úteis em determinar comprometimento osteogênico mas não

podem ser associados de forma indubitável com células em discreto

estágio de diferenciação, além disso as precursoras menos

diferenciadas continuam sem uma identificação pela ausência de

marcadores confiáveis para tais células.

O grupo de Gronthos, liderado por Simmons em 1991, já havia

identificado um marcador de superfície para células precursoras de

medula óssea chamado STRO-1 que segundo estes autores estaria

associado e serviria para caracterização de células fibroblásticas

formadoras de colônias, ou seja, células precursoras indiferenciadas

que sob diferentes condições de cultura se diferenciam em diferentes

tipos celulares como osteoblastos, adipócitos e células musculares.

O STRO-1 está presente em células precursoras de osteoblastos

e quando as células expressam a fosfatase alcalina é possível observar

41

mineralização in vitro (Gronthos 1999) o que demonstra diferenciação

para osteoblasto, segundo estes autores a diferenciação leva a uma

redução na expressão do STRO-1 e aumento na expressão da ALP

(fosfatase alcalina). Estudo mais recente (D’Aquino 2007) revela que o

gene da STRO-1 está associado a células com potencial osteogênico e

no caso de células da polpa dental este gene estaria presente após o

cultivo destas células em meio osteogênico por pelo menos 20 dias no

entanto o gene RUNX-2 somente estaria presente após 45 dias em

cultura osteogênica uma vez que este, segundo os autores, seria um

gene expresso apenas em osteoblastos maduros. Neste mesmo

trabalho é possível entender como a população de células da polpa é

heterogênea pois os autores encontraram uma grande porcentagem de

células STRO-1+ e cerca de 30% de STRO-1 – e afirmam que esta

presença de células STRO-1 – é características das células precursoras

endoteliais e por isso esta população de células tem capacidade de se

diferenciar em tecido ósseo vascularizado. Ainda neste trabalho ficou

constatado que nenhuma molécula precursora de dentina foi

encontrada nessa população, ao contrário do que se imagina uma vez

que o tecido de onde as células saíram é contido na câmara pulpar de

terceiros molares.

42

3. Objetivos

• Desenvolver protocolo de obtenção de células

mesenquimais indiferenciadas a partir de explantes e de

cultivo dessas células da polpa dental;

• Investigar a ação do laser de λ=830nm sobre as células

isoladas dos explantes;

• Avaliar a expressão dos genes: STRO-1, Runx-2, ALP, OC,

OCT-4 e NANOG sob ação da luz laser neste comprimento

de onda.

• Caracterizar fenotipicamente as linhagens obtidas

43

4. MATERIAL E MÉTODOS 4.1 Meios de cultura 4.1.1 Meio de cultura Basal α-MEM (Minimum Essential Medium, Gibco) suplementado com

5mM de bicarbonato de sódio (Merck), 10% de soro fetal bovino

(Gibco); 100 unidades de penicilina/mL; 0,23mg de streptomicina/mL

(Gibco).

4.1.2 Meio de cultura osteogênico

Para indução de diferenciação de células mesenquimais em

linhagem osteogênica foi usado α-MEM (Minimum Essential Medium,

Sigma) enriquecido com FBS (soro fetal bovino) 10%; 10mM de β-

glicerofosfato; 10nM de dexametasona e 50 µM de ácido ascórbico

(vitamina C).

4.2 Linhagens celulares: células-tronco humanas isoladas de

polpa dental.

Terceiros molares extraídos de pacientes com indicação para tal

procedimento (figuras 11 e 12) na clínica do CETAO

(www.cetao.com.br) e doados pelos pacientes sob termo de doação e

consentimento foram encaminhados ao laboratório em meio de cultura

basal para extração da polpa dental. A extração foi feita em condições

assépticas por corte nos dentes e fratura do remanescente de forma a

evitar contaminação do tecido por broca. No fluxo laminar em

laboratório BL-2 (Biosecurity Level 2) no CINTERGEN (Centro

Interdisciplinar de Terapia Gênica, Escola Paulista de Medicina) foi

retirado o tecido da câmara pulpar (figura 13) e em seguida este foi

44

digerido (figura 14) por uma mistura de colagenase tipo I 3mg/mL e

dispase 4mg/mL a 37°C por 1 hora, filtrado com filtros Falcon 70µm

(BD Biosciences), centrifugados a 1200rpm por 2 minutos. O pellet

formado foi ressuspendido em meio basal com FBS (Gibco) 10%,

penicilina/streptomicina 1% e as células obtidas foram plaqueadas em

frascos de cultura (figura 15) e incubadas a 37°C com 5% CO2 por 4

dias antes da primeira troca de meio para que aconteça adesão celular,

conforme descrito por Gronthos et al. (2000) e aperfeiçoado por nossa

equipe (Marchiori-Silva et al., 2008) com a metodologia de seccionar

parcialmente os dentes durante o procedimento clínico e fraturá-lo em

ambiente estéril para remover a polpa.

Após a primeira troca de meio de cultura as trocas de meio

passaram a ser feitas duas vezes por semana e as passagens, ou seja,

as trocas de placa, ocorreram no décimo e no vigésimo dias quando as

culturas estavam em subconfluência.

Uma amostra inicial foi coletada para a citometria de fluxo e para

o RT-PCR inicial.

4.3 Citometria de fluxo

A análise das moléculas de superfície das células-tronco

mesenquimais isoladas de polpa dental humana foram realizadas por

citometria de fluxo em amostra de células retiradas de polpas recém

extraídas. Os resultados foram plotados na forma de histograma.

As células mesenquimais indiferenciadas de polpa dental são

caracterizadas por citometria de fluxo através da análise da presença

(+) de moléculas da superfície celular: CD117 (+), CD81 (+), CD105

(+), conforme encontrado na literatura (Lindros et al., 2008).

3.3.1 Marcação celular com anticorpos primários e secundário.

45

As células-tronco da polpa foram removidas das placas de cultura

pela utilização de tripsina 10% e contadas através da câmara de

Neubauer. Aproximadamente 5.105 células foram incubadas por 30

min, a 4ºC com o anticorpo para marcação de moléculas de superfície

CD105 (BD), CD81 (BD), e CD 117 (BD) na diluição de 1:10. Após o

período, as células foram lavadas duas vezes com PBS e fixadas (1%

paraformaldeído, 0,1% azida sódica e 0,5% SFB). As células foram

analisadas em FACSCalibur flow cytometer (BD Biosciences).

4.4 Extração de RNA e RT-PCR

O RNA total foi isolado de 1 x 106 células usando o reagente

TRIZol (Gibco). O RNA foi precipitado na fase aquosa com álcool

isopropílico. O precipitado resultante foi ressuspendido em água DEPC

(di-etil pirocarbonato). A concentração do RNA foi determinada pela

leitura da absorbância em 260/280nm (nanodrop, Thermo Scientific).

O cDNA foi sintetizado a partir de 1µg de RNA total, oligo dt e a enzima

transcriptase reversa SuperScript III (Invitrogen). O cDNA resultante

foi diluído a uma concentração de 20µg /µl e utilizado nas reações de

PCR (Polymerase Chain Reaction) utilizando-se o reagente Mastermix

(Qiagen) e os primers (fermentas) para: OCT-4, sinalizador de

indiferenciação forward: GAGAACAATGAGAACCTTCAGGA e reverse:

TTCTGGCGCCGGTTACAGAACCA; Nanog, sinalizador de indiferenciação

forward: TGCCTCACACGGAGACTGTC e reverse:

TGCTATTCTTCGGCCAGTTG; GAPDH, house keeping genes forward:

AGCCACATCGCTCAGACACC e reverse: GTACTCAGCGGCCAGCATCG;

STRO-1, que sinaliza capacidade das células mesenquimais

indiferenciadas para diferenciar em linhagem osteoblástica forward:

CGCAAATCCCTCAGGAAGCTTGAA e reverse:

AAACCTAGGGTGTGGATGCCTCTT; RUNX-2, sinalizador de

diferenciação para linhagem osteoblástica forward: CGC CCC TCC CTG

AAC TCT e reverse: TGC CTG CCT GGG ATC TGT A; Osteocalcina (OC)

46

forward: CTG ACA AAG CCT TCA TGT CCA A e reverse: GCG CCG GAG

TCT GTT CAC TA; Fosfatase Alcalina (ALP) forward: TTG TGC GAG AGA

AAG GAG A e reverse: GTT TCA GGG CAT TTT TCA AGG T que

identificam atividade osteoblástica (Gronthos et al., 1999).

4.5 Protocolo de irradiação e cultura celular.

O tecido pulpar sofreu digestão em dispase e colagenase

conforme descrito acima, a seguir as células foram filtradas e

centrifugadas em seguida foram plaqueadas em meio basal.

Um equipamento emissor de laser diodo de GaAlAs λ=830nm,

DMC equipamentos, foi usado para a irradiação laser. Foi feita de

forma a obter-se a densidade de energia de 3J/cm2 (Fujihara, 2001)

seguindo para isto a seguinte fórmula: D=PxT/A onde teremos como

potência 80mW determinados no equipamento. A irradiação foi feita

sob a placa de cultura de 6cm com espaçador fornecido pelo fabricante

para garantir que a incidência do feixe laser coincidisse com os

parâmetros mostrados no painel do equipamento e de forma contínua,

em movimento espiral do centro para as bordas da placa e no sentido

inverso, até que se esgotasse o tempo de irradiação pré-determinado

pelo painel.

No plaqueamento as células foram divididas em dois grupos, o

grupo C (GC)- grupo controle que não recebeu irradiação laser e o

grupo L-(GL), que recebeu irradiações conforme protocolo descrito a

seguir. Ambos os grupos passaram pelas mesmas trocas de meio de

cultura e passagens.

O grupo LASER foi irradiado segundo o seguinte protocolo:

Primeiro dia sem laser – isolamento das células e plaqueamento.

Segundo dia sem laser

Terceiro dia sem laser

47

Quarto dia 3J/cm2 – primeira troca do meio de cultura

Quinto dia

Sexto dia 3J/cm2 – troca do meio de cultura

Sétimo dia

Oitavo dia 3J/cm2 – troca do meio de cultura

Nono dia

Décimo dia 3J/cm2 – Primeira passagem e substituição do meio

de cultura basal por meio de cultura osteogênico.

Décimo primeiro dia

Décimo segundo dia 3J/cm2 – troca do meio de cultura

Décimo terceiro dia

Décimo quarto dia 3J/cm2 – troca do meio de cultura

Décimo quinto dia

Décimo sexto dia 3J/cm2 – troca do meio de cultura

Décimo sétimo dia

Décimo oitavo dia 3J/cm2 – troca do meio de cultura

Décimo nono dia

Vigésimo dia 3J/cm2 – Segunda passagem

Vigésimo primeiro dia

Vigésimo segundo dia – 3J/cm2 coleta de RNA para RT-PCR

48

Figura 11: Foram utilizados terceiros molares (seta) pois os mesmos

contém células indiferenciadas e normalmente são descartados.

49

50

5. Resultados e discussão

Células de polpa dental foram isoladas pelos métodos descritos

acima. As células isoladas das polpas dentais de pacientes foram

caracterizadas com uso de citômetro de fluxo conforme descrição da

técnica informada acima e foi constatado que a população de células

obtidas corresponde ao esperado, ou seja células mesenquimais

indiferenciadas de polpa dental (DPMSC).

A presença dos marcadores de superfície celular CD117, CD 81 e

CD 105 confirmaram que a população de células obtidas pela

metodologia descrita pode ser considerada como uma população de

células mesenquimais indiferenciadas, ou seja, células tronco de

adultos (figura 16). A população celular apresentou negatividade para

os marcadores CD45, CD14 e CD34 (figura 17) comprovando também

serem o tipo celular buscado. A parte da população positiva para o

marcador de superfície CD34 representa células tronco

hematopoiéticas dentro desta cultura, esta presença já era esperada

uma vez que o tecido hematopoiético e vasos estão presentes na polpa

dental entretanto as células hematopoiéticas não de desenvolvem em

culturas deste tipo pois são células que não crescem aderidas mas sim

em suspensão, desta forma é esperado que esta contaminação

desapareça no tipo de cultura celular em placas que foi utilizado aqui,

da mesma forma células endoteliais já diferenciadas não se mantém

por muito tempo no meio de cultura utilizado e também tendem a

desaparecer, o meio de cultura α-MEM é adequado às células

indiferenciadas por ser um meio pobre em nutrientes inclusive

facilitando a não diferenciação num primeiro momento mas as

endoteliais não se mantém bem com este meio de cultura.

As células obtidas foram então cultivadas (figura 18) em placas

de cultura estática em meio basal α-MEM não osteogênico inicialmente

e osteogênico após a primeira passagem até o final e dividida em dois

51

grupos: grupo A, que recebeu irradiação laser conforme descrito

(figura 19 e 21) e grupo B, que não recebeu irradiação laser (figura 20

e 22).

Amostras do RNA das células foram obtidas logo após seu

isolamento da polpa bem como depois da irradiação laser no grupo A e

depois da segunda passagem do grupo B e foram analisadas por RT-

PCR para determinar se os RNAs presentes nas células, nesses tempos,

correspondiam àqueles esperados.

Foram encontrados RNAs nas células isoladas correspondentes à

expressão dos genes Oct-4 e Nanog logo após a obtenção destas dos

dentes extraídos (figura 23), a presença de mRNAs correspondentes a

estes genes comprovaram que estas células são indiferenciadas, como

as descritas por Prelle em 2002, as células ainda indiferenciadas tem

maior capacidade de proliferação e também capacidade de diferenciar-

se em alguns tipos celulares e a presença destes genes sugere

portanto que este grupo celular pode ser expandido em cultura e assim

pode ser utilizado em terapias celulares no que se refere à quantidade

de células que pode ser obtida a partir do explante, no entanto

técnicas de cultura avançadas são necessárias para que o número de

células aumente sem que ocorra diferenciação para tipos celulares

indesejados como por exemplo em caso de utilização em regeneração

óssea ocorrer diferenciação para fibroblastos. Células cultivadas em

placas como foi o caso do presente estudo tendem a se diferenciar com

mais facilidade pois o contato com as células vizinhas por si só já é um

estímulo e esta diferenciação pode ocorrer para tipos celulares

indesejados pois não é uma diferenciação ocorrida por estímulo

específico do meio de cultura osteogênico por exemplo mas sim por

estímulo do contato entre as células, além disso a cultura pára de

expandir quando as placas estão em confluência e há pouco espaço

para que as células se desenvolvam, conforme observamos ao

microscópio as placas irradiadas com laser rapidamente chegavam à

subconfluência (figuras 19 e 21).

52

Observamos também que o gene STRO-1 estava ativo em fase

inicial (figura 24), segundo Gronthos este gene caracteriza células em

estágio inicial de diferenciação mas ainda precursoras de tipos

celulares variados pois este autor constatou a diferenciação destas

para outros tipos celulares além da linhagem osteogênica, de qualquer

forma a presença deste gene indica uma capacidade osteogênica,

existe uma dificuldade grande na literatura em se determinar

diferenças entre os tipos celulares de uma mesma linhagem em estágio

de diferenciação diferentes mas muito próximos, ou seja, células que

estão ainda num estágio muito inicial de diferenciação apresentam

poucas diferenças em relação umas às outras, mesmo que entre elas

os estágios de diferenciação não sejam os mesmos. Também segundo

estes autores o gene da Stro-1 vai aos poucos sendo menos evidente

ao longo da diferenciação e o gene Runx-2 passa ser expresso ao longo

da diferenciação osteoblástica, no presente trabalho detectamos por

PCR a presença do gene Runx-2 nas células irradiadas com o laser

antes que esta expressão ocorresse nas células não irradiadas (figura

24) e isso nos permite afirmar que o estágio de diferenciação das

células irradiadas para linhagem osteoblástica aconteceu antes.

Podemos assim ter duas conclusões possíveis, a primeira é que não

necessariamente o laser causa diferenciação mas como os processos

ligados ao metabolismo celular são acelerados a diferenciação que

ocorreria normalmente acaba acontecendo em menos tempo portanto

a expressão dos genes aconteceu antes de uma forma indireta e não

pela sua ativação por parte do estímulo da luz laser ou então a outra

conclusão que é a de que o laser pode causar sim diferenciação pela

ativação direta dos genes responsáveis e neste caso será necessária

uma investigação mais específica da relação entre a irradiação e a

expressão de cada gene com por exemplo medindo-se a proliferação

da cultura em relação à ativação dos genes. Ainda que a expressão dos

genes possa ser alterada pela irradiação com o laser temos que levar

em conta também a observação nossa e de outros autores de que o

53

laser aumenta a proliferação celular, como exposto anteriormente a

proliferação ocorre em momento anterior à diferenciação e após a

diferenciação as células proliferam menos por isso a hipótese de que o

laser pode acelerar os processos naturais nos parece mais realista uma

vez que caso o laser levasse à ativação dos genes ligados à

diferenciação antes que ocorresse a proliferação destas células na

cultura poderíamos observar menos proliferação pois células

diferenciadas proliferam menos, acreditamos que a diferenciação

acontece antes porque todos os processos relacionados às culturas

celulares aconteceram antes também e assim a expressão dos genes

estudados ocorreu antes no grupo irradiado mas de forma indireta, ou

seja, pelo aumento da velocidade do processo como um todo. Podemos

ainda levantar a hipótese de que o laser ative os genes estudados e

ainda assim mantenha as células em proliferação mas isso seria como

dizer que a célula já diferenciada poderia continuar proliferando o que

é incompatível tanto com a literatura quanto com a experiência clínica

pois células diferenciadas em proliferação estariam em um mecanismo

muito similar ao de um tecido tumoral e isso não tem sido associado ao

uso do laser.

Ambos os grupos testados não apresentaram mRNAs

correspondentes aos genes da osteocalcina e da fosfatase alcalina, esta

constatação pode ser explicada devido ao pouco tempo de cultura

utilizado neste trabalho, segundo Gronthos (2007) a osteocalcina e

principalmente a fosfatase alcalina são produzidas por osteoblastos já

maduros e a diferenciação dos tipos celulares estudados segundo a

literatura ocorreria próxima aos sessenta dias de cultura celular de

forma que mesmo acelerando a cultura a observação da produção

destas moléculas não seria possível antes de trinta dias, é possível que

a osteocalcina esteja presente pouco antes da fosfatase alcalina mas

mesmo esta primeira é um marcador de célula osteoblástica madura e

não em estágios iniciais de diferenciação ou então em diferenciação

não completa.

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As células irradiadas com laser nos parâmetros determinados

para este trabalho apresentaram proliferação mais organizada em

relação às células que não receberam laser.

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6. CONCLUSÕES É possível obter células mesenquimais indiferenciadas de polpa dental pela técnica proposta, caracterizá-las e cultivá-las para expandir sua quantidade. A irradiação laser λ=830nm promove mudanças no metabolismo celular que influenciam na velocidade da expressão dos genes aqui estudados. Foi possível demonstrar que as células indiferenciadas de polpa dental podem iniciar diferenciação para linhagem osteoblástica de forma mais rápida com o uso da luz laser em λ=830nm. Para a completa diferenciação das células estudadas para osteoblastos será necessário mais tempo de cultura. Mais estudos serão necessários para determinar a exata influência do laser na expressão gênica celular.

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