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Avaliação do caráter transdisciplinar na
educação ambiental em trilhas
em unidades de conservação: análise do
“Protocolo Trilha dos Ecossistemas”,
Parque CienTec-USP.
Autor: Rodrigo Romeo
Orientador: Flávio Berchez
Departamento de Botânica
Instituto de Biociências
2014
RESUMO
O projeto Trilha dos Ecossistemas, implementado no parque CienTec – USP,
visa a criação de um protocolo modelo de educação ambiental em trilhas,
conceitualmente embasado, que possa ser aplicado em outras unidades de
conservação, especificamente voltado para grupos de alunos de escola
pública, de forma a permitir uma integração interdisciplinar de conteúdos e
conceitos dentro da unidade escolar, complementando o ensino formal. O
presente projeto de pesquisa tem como objetivo avaliar o caráter
transdisciplinar do protocolo utilizando o conceito de transdisciplinaridade
proposto por Max-Neef (2005) como base. Através de análises do conteúdo
abordado no protocolo durante apresentações feitas por monitores treinados do
parque CienTec, foi verificado se o mesmo aborda os diferentes temas e
habilidades aplicados em sala de aula, comparando o conteúdo presente no
protocolo com a Proposta Curricular do Estado de São Paulo para o ensino
fundamental II e o ensino médio, seguido da avaliação da transdiciplinaridade,
observando-se a transversalidade de temas e a formação de redes envolvendo
simultaneamente vários conceitos e disciplinas. A partir da análise dos
resultados, foi discutido se o protocolo se encaixa no modelo de atividade
Inter/transdisciplinar proposto por diferentes autores que discutem estratégias
atuais de educação, focadas na formação de indivíduos preparados para
lidarem com a complexidade dos problemas globais atuais.
INTRODUÇÃO
Os Parques Urbanos são espaços verdes localizados em áreas de uso público,
com o intuito de propiciar recreação e lazer aos seus visitantes. Em sua
maioria, oferecem também serviços culturais, como museus, casas de
espetáculo e centros culturais e educativos. Também estão frequentemente
ligados a atividades esportivas, com suas quadras, campos, ciclovias, etc. O
Parque CienTec é um órgão vinculado à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da
Universidade de São Paulo, mas simultaneamente, se constitui em uma área
de preservação tendo, por força da lei, obrigações relacionadas a conservação
do meio ambiente e a prática da educação ambiental. (SNUC, 2000)
O conceito de parque urbano mais usual é o que serve para usufruto dos
cidadãos, ou seja, o objetivo central é oferecer opções de lazer à população. O
Parque Cientec, como parte do Parque Estadual Fontes do Ipiranga, promove
além de pesquisas acadêmicas, divulgação da Ciência e Tecnologia, a
educação para a preservação da natureza, como ocorre nos parques de
preservação - denominados Unidades de Conservação. Em outras palavras,
propicia o contato direto com paisagens verdes, fauna e flora, que faz com que
cidadãos dos grandes centros urbanos estabeleçam uma relação de respeito
ao meio ambiente, possibilitando o desenvolvimento um processo crítico de
consciência, no sentido de entender que “fazer parte e ser parte integrante do
meio”, ou seja, desenvolve o sentimento de pertencimento e a co-
responsabilização (JACOBI, 2005). O sentido de “estar colaborando para
preservação do meio”, que, por si só, não significa promover transformação
(CARVALHO, 2012), se amplia para a responsabilidade cidadã da gestão dos
espaços urbanos.
As iniciativas de educação ambiental em áreas protegidas e as pesquisas
sobre a gestão compartilhada dos recursos naturais cresceram de forma
considerável no Brasil nos últimos anos. A gestão pública passa a ser o lugar
onde o conhecimento, as habilidades, atitudes e os valores são construídos
pela educação com intenção clara de intervir na realidade para transformá-la
em favor dos interesses coletivos e comuns de todo cidadão.
A Educação Ambiental promove o (re)pensar de conceitos e a construção de
novos conhecimentos e valores capazes de contribuir para a transformação de
práticas, para o desenvolvimento de novas competências, visando a mediação
de conflitos e na solução/tomada de decisão sobre problemas socioambientais
por meio de processos de co-aprendizagem e participação.
A Educação Ambiental tem, nesse sentido, o objetivo promover uma educação
emancipatória no processo de gestão dos recursos naturais, visando subsidiar
a participação dos diferentes grupos sociais para a intervenção nos espaços da
gestão pública. Como salienta Jacobi (2005), um dos caminhos possíveis para
alterar o quadro atual de degradação socioambiental é promover o crescimento
da consciência ambiental, expandindo a possibilidade da população participar
do processo decisório, como uma forma de fortalecer sua corresponsabilidade
na fiscalização e no controle dos agentes de degradação ambiental.
O desenvolvimento de ações de EA efetivas depende de seu correto
embasamento conceitual e da aplicação de técnicas adequadas à situação e à
idade dos participantes. A educação ambiental (EA) no Brasil e no mundo está
baseada nos conceitos sintetizados no Tratado de Educação Ambiental para
Sociedades Sustentáveis, elaborado durante e Rio-92 (BERCHEZ ET et al.,
2007; BRASIL, 2000). Por esse documento, fica evidente o caráter
transformador e de emancipação dessas ações, visando em última instância
uma mudança de paradigmas e a construção de uma sociedade cujos valores
estejam ligados a conservação do meio ambiente e a uma melhor qualidade de
vida (La TROBE & ACCOTT, 2000).
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC, 2000) estabelece
que os Parques Estaduais devem aliar a conservação ambiental ao uso
público, minimizando ao máximo os impactos para conservar a UC, assim
como garantindo a qualidade da experiência do visitante, apesar da ocorrência
de impactos negativos em áreas naturais ser consequência inevitável do uso
(MAGRO, 2001). Em uma parcela significativa dos parques, o ecoturismo é a
principal forma de uso público, sendo alicerçado na educação ambiental
(COSTA; COSTA, 2005) e podendo trazer inúmeras vantagens a essas UCs
(BERCHEZ et al., 2007).
Protocolo “Trilha dos Ecossistemas”
O projeto Trilha dos Ecossistemas (BERCHEZ, em elaboração) visa a criação
de um protocolo modelo de educação ambiental em trilhas, destinado ao
público de Ensino Fundamental II e Médio, que possa ser aplicado em outras
unidades de conservação, de forma a permitir uma integração interdisciplinar
de conteúdos e conceitos dentro da unidade escolar, sendo assim, pode ser
considerado uma atividade que aborda conteúdos da educação formal em
ambiente não formal.
O protocolo se destina a educação ambiental relacionada ao ecossistema de
Mata Atlântica, contextualizando-o em relação aos ecossistemas ou ambientes
que o cercam, tentando mostrar ao visitante o quão complexas e dinâmicas são
as redes que compõem o espaço local. A atividade pode ser realizada por um
monitor (trilha guiada), e se divide em estações abordando temas específicos.
São elas:
1- Alongamento, Aquecimento e Sensibilização
Preparação física antes da atividade, visto que se consiste em uma caminhada.
O monitor orienta a turma em uma sequência de alongamentos e
aquecimentos, seguidos de uma atividade de sensibilização e relaxamento,
onde o foco é aguçar os sentidos antes de se entrar na trilha. O monitor propõe
que os participantes fechem os olhos e, em silêncio, foquem nos diversos
estímulos do ambiente ao redor durante alguns segundos.
2- Segurança e Mínimo Impacto
Além de instruções sobre procedimentos básicos de segurança ao se praticar
atividade de caminhada em trilha, o monitor reitera aos envolvidos que a
atividade está sendo aplicada em uma Unidade de Conservação, o que implica
que todos estão sobre normas de legislação e políticas ambientais.
3- Bosques em Miniatura
Atividade em que se utiliza uma lupa para se observar partes de seres vivos ou
seres inteiros em uma escala menor, pouco observáveis a olho nu. Introduz a
questão da escala em processos de funcionamento, destacando que o que
ocorre nas escalas menores (ou maiores) também está influenciado as escalas
intermediárias. Aborda também o conceito de lupa e seu funcionamento físico,
concentrando os raios luminosos.
4- Geografia, Rotas e Mapas
Introduz princípios e conceitos físicos relacionados ao funcionamento da
bússola e bases conceituais relacionadas à utilização de mapas (escala e
orientação magnética).
5- Patrimônio Histórico
Apresenta o contexto histórico-social da região em questão, no caso, o Parque
Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI), onde se localiza o ParqueCien-Tec,
relacionando-o a marcos arquitetônicos, como edifícios ou ruínas; ou
geográficos, como rios, elementos da paisagem e locais impactados.
6- Geologia e Patrimônio Geológico
Apresenta o patrimônio geológico do local em questão, suas características e
importâncias, falando sobre origem geológica do local e a constituição química
das rochas e do solo.
7- Ecossistemas e Ecologia
Aborda conceitos de ecologia ao longo do percurso, destacando processos que
envolvem ciclos biogeoquímicos (C,O,N), através da fotossíntese,
decomposição (fungos) e ciclo da água, relacionando-os com alguns dos
problemas atuais de destaque, como poluição, combustíveis fósseis e efeito
estufa. Destaca relações entre seres vivos e fatores abióticos do ambiente.
O percurso passa por uma região em recuperação, na qual recentemente
sofreu uma queimada. Neste momento abordam-se conceitos de sucessão
ecológica. Em um momento no qual se pode ver um trecho urbano do bairro,
discute-se o conceito de ecossistema e se o ambiente urbano se enquadra
nesse conceito.
8- Mudanças Climáticas Globais
Na última estação da atividade, ocorre uma conversa entre alunos e monitor na
qual se introduz o conceito de Mudanças Climáticas Globais e suas possíveis
causas. O monitor busca sempre resgatar exemplos de problemas da
atualidade envolvendo mudanças climáticas nos quais os alunos se inserem,
para que assim possam desenvolver um senso crítico a respeito do assunto e
se questionarem sobre seus papéis no problema em questão. Momento de
diálogo e reflexão entre os envolvidos na atividade.
Em última análise, o protocolo tem como principal obetivo a elaboração de uma
atividade educacional numa abordagem Transdisciplinar, integrando diferentes
disciplinas e conteúdos que se coordenam para proporcionar um conhecimento
mais crítico sobre a questão ambiental por parte dos participantes.
O conceito de Transdisciplinaridade varia ligeiramente entre alguns autores, no
entanto, para o presente trabalho, foi utilizado como base conceitual o artigo de
Max-Neef (2005) no qual o autor apresenta uma definição completa e clara do
termo, passando através dos conceitos de disciplinaridade, até
interdisciplinaridade nos seus níveis hierárquicos: pragmático, normativo e
valores. Quando um conhecimento coordena diferentes disciplinas em todos os
níveis interdisciplinares até atingir questões relacionadas à ética e aos valores,
tal conhecimento se insere no aspecto transdisciplinar (MAX-NEEF, 2005)
(Figura 1)
Espera-se que o protocolo Trilha dos Ecossistemas se enquadre no perfil
Transdisciplinar de acordo com Max-Neef (2005), conferindo todos os níveis de
Interdisciplinaridade descritos acima, no entanto, o objetivo geral do projeto é
avaliar o caráter Transdisciplinar do protocolo, sendo os objetivos específicos:
verificar aspecto pluri e multidisciplinar.
verificar aspecto interdisciplinar nos diferentes níveis: pragmático,
normativo e valores.
MÉTODOS
O protocolo Trilha dos Ecossistemas passou por uma análise teórica de seus
conteúdos, relacionando-os às disciplinas abordadas em sala de aula. Para tal,
utilizou-se como base para a análise, a Proposta Curricular do Estado de São
Paulo, no qual se inserem todas as disciplinas e conteúdos que, por lei, são
abordados durante o ano letivo, da quinta série do ensino fundamental, ao
terceiro colegial no ensino médio.
Figura 1: Transdisciplinaridade. Na base estão as disciplinas empíricas, se referem ao o que
existe ou o que temos à disposição. O segundo nível, interdisciplinar pragmático, são as
disciplinas que colocam em prática os conhecimentos das disciplinas empíricas. Respondem a
pergunta o que somos capazes de fazer? Um nível acima, se encontram as disciplinas
normativas, que respondem a pergunta como fazer? O último nível, dos valores, nos responde
porque fazer?
Para avaliação do aspecto pluri e multidisciplinar do protocolo, foi necessário
identificar quais seriam as disciplinas empíricas que formariam a base de todo
o conhecimento aplicado durante as estações, ou seja, seria necessário avaliar
quais os conhecimentos que os alunos teriam como base para a prática da
atividade. Para tanto, cada uma das estações foram organizadas em tabelas
nas quais incluiam-se as disciplinas que estão sendo abordadas com seus
respectivos conteúdos aplicados durante a estação. Os conteúdos de cada
disciplina foi retirado diretamente da Proposta Curricular, na qual determina,
para cada bimestre, os conteúdos que serão abordados durante o ano letivo.
A partir desses resultados, foi montada uma tabela final relacionando todas as
estações com as disciplinas da Proposta Curricular, verificando assim quais as
disciplinas do ensino formal que estão sendo abordadas no protocolo e em
quais estações elas se inserem.
Para avaliação do caráter interdisciplinar do protocolo, foi necessário identificar
as disciplinas envolvidas na atividade em cada um dos níveis hierárquicos.
Após determinar as disciplinas empíricas que compõem a base da atividade,
definindo o aspecto multidisciplinar, verificou-se a integração entre algumas
dessas disciplinas, estabelecendo o aspecto pluridisciplinar do protocolo.
Max
– N
eef
(20
05
)
O primeiro nível de interdisciplinaridade foi verificado através da análise de
disciplinas abordadas que colocam em prática os conhecimentos empíricos da
base, definindo, no entanto, o nível Pragmático.
Para estabelecer o nível interdisciplinar Normativo, foi preciso verificar se a
atividade aborda conceitos relacionados a implementação de leis e políticas
dentro da temática ambiental proposta pelo protocolo.
O ultimo nível, dos Valores, foi verificado através da análise dos conteúdos da
atividade que se relacionam à temática dos valores e da ética dentro do
contexto ambiental e educacional que se insere o protocolo.
As disciplinas foram organizadas em forma de pirâmide semelhante a proposta
por Max- Neef (2005), verificando a partir desses resultados, se o protocolo se
encaixa no perfil Transdisciplinar esperado.
RESULTADOS
Ao se fazer a análise dos conteúdos da Proposta Curricular, foi possível
verificar em detalhes todos os conteúdos abordados em cada bimestre, para
cada uma das disciplinas da quinta série do ensino fundamental ao terceiro ano
do ensino médio. Esses resultados foram organizados em tabelas para cada
uma das estações do protocolo.
1- ALONGAMENTO, AQUECIMENTO E SENSIBILIZAÇÃO:
Tabela 1: Conteúdos de ciências, biologia, física e ed. física abordados na estação
DISCIPLINAS CONTEÚDOS ABORDADOS
Ciências Músculos, ossos e movimento do corpo; saúde; estímulos
e órgãos dos 5 sentidos
Biologia Aspectos da biologia humana
Física Som: fontes, características físicas e elementos do
sistema auditivo humano
Ed. Física Exercícios físicos, saúde, bem estar e meditação
2- SEGURANÇA E MÍNIMO IMPACTO:
DISCIPLINAS CONTEÚDOS ABORDADOS
Cièncias Tipos de ambiente e especificidade: caracterização,
localização geográfica, biodiversidade, proteção e
conservação dos ecossistemas brasileiros.
Geografia O patrimônio ambiental e a sua conservação: Políticas
ambientais no Brasil, O sistema nacional das unidades de
conservação (SNUC)
Tabela 2: Conteúdos de ciências e geografia abordados na estação 2.
3- BOSQUES EM MINIATURA:
DISCIPLINAS CONTEÚDOS ABORDADOS
Ciências Distâncias e tamanhos em escala; o olho humano e a
propagação da luz
Biologia Sistemas biológicos em diferentes escalas
Física Efeitos de lentes e ampliação da visão: lupas
Tabela 2: Conteúdos de ciências, biologia e física abordados na estação 2.
4- GEOGRAFIA, ROTAS E MAPAS:
Tabela 3: Conteúdos de ciências, geografia, física e matemática abordados na estação 3.
DISCIPLINAS CONTEÚDOS ABORDADOS
Ciências Localização geográfica; orientação norte-sul
Geografia A linguagem dos mapas ( Escala, pontos cardeais e
colaterais)
Física Campos e forças eletromágnéticos
Matemática Ângulos; coordenadas
5- PATRIMÔNIO HISTÓRICO:
Tabela 4: Conteúdos de história e geografia abordados na estação 4.
6- GEOLOGIA E PATRIMÔNIO GEOLÓGICO:
Tabela 5: Conteúdos de ciências, geografia e química abordados na estação 5.
7- ECOSSISTEMAS E ECOLOGIA:
Tabela 6: Conteúdos de ciências, geografia, física, biologia e química abordados na estação 6.
DISCIPLINAS CONTEÚDOS ABORDADOS
História Contexto histórico do local em questão. Ex. PEFI:
Independência do Brasil, Economia Cafeeira
Geografia O tempo histórico: os objetos sociais, o patrimônio
ambiental e a sua conservação
DISCIPLINAS CONTEÚDOS ABORDADOS
Ciências Ciclo hidrológico; minerais, rochas e solo; fósseis
Geografia História da terra; recursos minerais; placas tectônicas;
bacias hidrográficas
Química Transformações químicas na natureza
DISCIPLINAS CONTEÚDOS ABORDADOS
Ciências Ecossistemas brasileiros; seres vivos e fatores não-vivos
do ambiente; teias alimentares; fluxo de energia;
fotossíntese
Geografia Biomas: clima e cobertura vegetal; impactos ambientais
Física Transformação de energia
Biologia Teia trófica; ciclos biogeoquímicos; características dos
ecossistemas; relação entre seres vivos; plantas; animais;
impactos da transformação do ambiente
Química Transformações químicas na natureza; ciclos da água,
carbono, oxigênio e nitrogênio
8- MUDANÇAS CLIMÁTICAS GLOBAIS:
DISCIPLINAS CONTEÚDOS ABORDADOS
Ciências Sustentabilidade; impactos antrópicos no ambiente;
tecnologia; recursos energéticos
Geografia Crise ambiental; população e economia; agronegócio;
consumo; produção de energia; indústria
Biologia Intervenção humana e os desequilíbrios ambientais;
fatores associados aos problemas ambientais; problemas
ambientais contemporâneos
Física Calor: aquecimento global, efeito estufa e clima; produção
e consumo de energia elétrica
Química Impactos ambientais da extração de metais; poluição da
água e da atmosfera; combustíveis; chuva ácida; redução
da camada de ozônio
História Revolução industrial: urbanização e industrialização
Sociologia Homem como ser social; classes sociais; desigualdade
social
Filosofia Desigualdade social e ideologia; o homem como um ser
da natureza
Tabela 7: Conteúdos de ciências, geografia, biologia, física, química, história, sociologia e
filosofia abordados na estação 7.
Sintetizando esses resultados, foi possível montar uma tabela na qual se
incluem todas as estações do protocolo e todas as disciplinas da Proposta
Curricular, revelando dados importantes como: Quais disciplinas estão sendo
abordadas em cada uma das estações; quais as estações que abordam mais
disciplinas; quais disciplinas são mais colocadas em prática durante a
atividade; e quais as disciplinas da Proposta Curricular que se inserem ou não
se inserem no protocolo.
Considerando-se:
1- Alongamento, Aquecimento e Sensibilização
2- Segurança e Mínimo Impacto
3- Bosques em Miniatura
4- Geografia, Rotas e Mapas
5- Patrimônio Histórico
6- Geologia e Patrimônio Geológico
7- Ecossistemas e Ecologia
8- Mudanças Climáticas Globais
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3
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Tabela 8: Na primeira coluna, numerado de 1 a 7, as estações do protocolo. Na base, as disciplinas da
Proposta Curricular do EM e EF.
DISCUSSÃO
Definido o aspecto multi/pluridisciplinar do protocolo estabelecendo as
disciplinas que compõem a base do conhecimento empírico da atividade,
discutiremos os niveis hierárquicos acima delas, definindo quais disciplinas
com aspecto interdisciplinar que estão sendo abordadas no protocolo, para
assim, montar a “pirâmide” de disciplinas proposta por Max Neef (2005).
Praticamente todas as disciplinas da Proposta Curricular do Estado de São
Paulo estão sendo abordadas no protocolo. As únicas que, de acordo com a
análise, seus conteúdos não são vistos em nenhum momento do Protocolo
são: Língua Estrangeira, Língua Portuguesa e Artes. Entre as disciplinas que
são abordadas no protocolo, Ciências é a mais acionada durante as atividades,
seguida por Geografia. Em menor escala, Física, Química e Biologia são
disciplinas recorrentes no protocolo. As demais: Matemática, História,
Sociologia, Filosofia e Educação Física, tem seus conteúdos abordados em
alguns momentos pontuais. De acordo com a análise dos resultados, Filosofia
tem seus conteúdos abordados somente na estação Mudanças Climáticas
Globais, porém é uma disciplina que está indiretamente relacionada com todas
as outras áreas de conhecimento.
Disciplinas Empíricas:
Compondo a base da pirâmide, se encaixam quase todas as disciplinas da
Proposta Curricular do ensino fundamental e médio. São disciplinas empíricas,
em que seus conhecimentos se coordenam para compor disciplinas num nível
acima. São os conhecimentos que os alunos teoricamente possuem como
base, aprendidos durante o ensino formal, em sala de aula, e que serão
colocados em prática ao longo das estações do protocolo.
Dentro deste mesmo nível observa-se que algumas disciplinas cooperam entre
si, ou seja, os conhecimentos de algumas disciplinas são compatíveis, em que
o estudo de uma delas reforça o entendimento em outra(s). Por exemplo: o
conhecimento em Ciências se coopera com os conhecimentos de Biologia,
Química e Física, determinando assim, o aspecto Pluridisciplinar do protocolo
(Max-Neef, 2008)
Neste nível se encaixam as disciplinas: Matemática, Química, Física, Ciências,
Geografia, Sociologia, História e Biologia. (Figura 2)
Disciplinas Pragmáticas:
Ao se definir as disciplinas em nível pragmático, precisamos responder à
pergunta: Como essas disciplinas empíricas estão sendo colocadas em prática
no protocolo? Para isso, foram estabelecidas 3 disciplinas que sintetizam
algumas práticas da atividade. (Figura 2)
Em cursos para formação de pilotos de diferentes categorias de veículos, como
licença de piloto privado de aviação ou carteira de mestre amador de barcos,
por exemplo, é comum que sejam abordados conceitos básicos de navegação,
sendo uma disciplina em nível pragmático que aborda principalmente
conteúdos de Matemática, Física e Geografia.
Durante a estação Geografia, Rotas e Mapas, esses conceitos são aplicados
para utilização de bússola e mapas, colocando em prática os conhecimentos
escolares de Matemática, Física, Geografia e Ciências.
Educação Física, uma das disciplinas da Proposta Curricular que não se insere
no nível empírico, pode ser encaixada no perfil interdisciplinar em nível
pragmático. Pelo fato de se trabalhar o corpo humano, aborda diferentes
conteúdos relacionados à saúde, bem estar, características físiológicas e
aspectos da biologia humana. Durante a estação Alongamento, Aquecimento e
Sensibilização, os participantes fazem uma preparação física para uma
atividade de caminhada e abordam também conteúdos relacionados aos
órgãos dos sentidos e estímulos físicos do ambiente. Para isso são colocados
em prática conteúdos de Física, Ciências e Biologia.
Ecologia é uma disciplina complexa que se relaciona a diversas questões.
Justamente por ser a ciência que estuda as interações entre os seres vivos e
seu ambiente, seus conhecimentos aplicam conteúdos de Biologia, Geografia,
Química, Física, entre outras; e podem ser aplicados à práticas de conservação
e sustentabilidade, envolvento indiretamente questões de políticas ambientais,
leis ambientais e ética da conservação.
Durante o protocolo, diversas estações abordam conteúdos de Ecologia. Ciclos
biogeoquímicos, transformações de energia e interação entre seres vivos são
assuntos recorrentes ao longo da atividade. A estação Mudanças Climáticas
Globais está intimamente ligada a esses assuntos, dado que o conhecimento
abordado ao longo da atividade, destacando as causas e consequências de
processos como poluição e aquecimento global por exemplo, proporcionam um
repertório maior de conhecimento para que seja discutido a temática das
mudanças climáticas globais.
Disciplinas Normativas:
Disciplinas normativas nos dizem como fazer o que desejamos, ou seja,
imprimem normas e estão relacionadas a política e criação de leis.
Leis são normas impostas para garantir o bom funcionamento de algo, estando
intimamente relacionadas à ética e aos valores vigentes. No caso das leis
ambientais e da política ambiental, são normas impostas para garantir a
preservação do meio ambiente e de seus recursos, garantindo o uso
sustentável e consciente.
Durante a estação Segurança e Mínimo Impacto, os participantes são
introduzidos a alguns regulamentos e normas da Unidade de conservação
onde a atividade ocorre, destacando a importância da existência desta e suas
principais funções em prol da preservação ambiental.
Durante a estação Mudanças Climáticas Globais, discute-se questões em torno
de problemas ambientais, como promover preservação ambiental e
desenvolvimento sustentável. Tais questões estão intimamente ligadas às
Políticas Ambientais e Legislação Ambiental, disciplinas normativas que são
abordadas no protocolo, estando expressas nas leis relacionadas ao SNUC
(BRASIL, 2000)
Disciplinas no nível dos Valores:
O nível dos valores nos pesponde a pergunta: Porque fazer? São as disciplinas
que abordam questões relacionadas a Filosofia, Ética e Valores, e dão um
propósito para a criação das normas sociais. Discutem o propósito do bem
estar humano e do direito à vida.
Filosofia é uma das disciplinas do ensino formal que se encaixa no nível dos
valores dentro do protocolo. São abordadas questões de Filosofia ambiental,
ou seja, discute-se porque conservar o meio ambiente.
A questão ética ligada a preservação é discutida pela filosofia ambiental
(LEOPOLD, 2004) e avança além dos valores ecológicos e econômicos,
admitindo que a questão ambiental é intrinsicamente ligada a valores éticos e
que, sem a evolução nestes, é impossível se atingir um equilíbrio que leve a
construção de sociedades sustentáveis (Rozzi et al. 2012).
Mudanças climáticas globais são uma questão chave no nosso tempo, da qual
depende a continuidade da vida como conhecemos. Durante a estação
Mudanças Climáticas Globais, são discutidas diversas questões éticas e
relacionadas aos valores de consumo da sociedade atual que contribuem para
o processo de mudanças climáticas, questionando qual o papel de cada um
nesse processo. Procura-se proporcionar a visão do homem como um ser da
natureza, visando o sentimento de pertencimento ao meio ambiente em que
vivemos.
É reconhecida a importância da percepção sobre as mudanças climáticas na
construção de políticas públicas adequadas tanto em termos de mitigação
como adaptação. Tendo em vista a imprecisão de cenários baseada nos
modelos atuais, em muitos casos não há consenso sobre diferentes aspectos
ligados as mudanças climáticas globais (DESER et al., 2012). Pessoas com
diferentes valores podem chegar a diferentes conclusões baseadas nas
mesmas evidências (KAHAN, 2012). Dessa forma é importante não apenas o
desenvolvimento de conhecimento e habilidades que permitam uma melhor
compreensão e análise dessa questão, mas também o desenvolvimento de
valores éticos que garantam uma avalição imparcial dos fatos e uma motivação
para a ação, dentro do conceito de “Earth Stewardship” (POWER & CHAPIN,
2009)
Nesse sentido, o protocolo engloba a questão da desigualdade social e
diversos problemas sociais ligados as mudanças climáticas globais.
Abordagens Interdisciplinares são frequêntes no ensino superior, exemplos
comuns são os cursos de graduação em Medicina, Direito, Arquitetura e
Engenharia, apesar de serem comuns os cursos de graduação com formação
mono-disciplinar. Cursos de pós graduação possuem um potencial maior de
apresentarem uma abordagem Transdisciplinar, quando inseridos em áreas
temáticas ao invés de disciplinas (MAX-NEEF, 2005). Um curso sobre
Mudanças Climáticas Globais, por exemplo, poderia juntar especialistas nas
mais diversas áreas de conhecimento para proporem uma solução para o
problema com uma visão integrada, ao invés de múltiplas visões na perspectiva
de cada área de conhecimento, atingindo todos os níveis de
interdisciplinaridade e discutindo a questão no âmbito dos valores e da ética do
problema. Dessa forma, problemas mundiais de grande complexidade como
pobreza e fome poderiam ser combatidos de maneira mais eficaz. No entanto,
têm se reconhecido cada vez mais a importância da abordagem
inter/transdisciplinar na formação de indivíduos mais preparados e capazes de
enfrentar tais problemas (CIANELLI, L. et al, 2014; MCCRIGHT, A. et al, 2013;
GEWIN, V., 2014; MAX-NEEF, M. A., 2005). O ensino formal durante os anos
de Ensino Fundamental a Ensino Médio é composto majoritariamente por
monodisciplinas, nas quais abordam uma área de conhecimento isoladamente.
A educação escolar, no entanto, enquadra-se mais no perfil pluridisciplinar,
visto que as disciplinas interagem seus conhecimentos e cooperam entre si,
porém raramente abordam-se conteúdos em que os conhecimentos se
coordenam para formação de um nível hierárquico acima, determinando uma
interdisciplina.
Nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica destaca-se a
importância da abordagem interdisciplinar no currículo escolar através de
atividades que promovam trabalho coletivo, de modo integrado e pactuado com
Química Matemática Biologia Física Ciências Geografia Sociologia História
Navegação Ecologia Ed. Física
Políticas Ambientais Leis Ambientais
Filosofia da Conservação
Figura 2: Aspecto Transdisciplinar do protocolo. Na base as disciplinas empíricas, acima as disciplinas em nível Pragmático,
acima destas as disciplinas Normativas e em último nível a disciplina no âmbito dos valores.
a comunidade educativa (DCNGEB, 2013). Nesse aspecto, o protocolo Trilha
dos Ecossistemas se enquadra no perfil de atividade Interdisciplinar, focada em
alunos de Escolas Públicas, aplicando conceitos do ensino formal em ambiente
não formal.
Através da análise feita no presente trabalho, concluiu-se que o protocolo
conferiu todos os níveis de interdisciplinaridade propostos por Max-Neef para
se encaixar no perfil Transdisciplinar. Abordando as disciplinas do ensino
formal inclusas na Proposta Curricular do Estado de São Paulo como a base de
conhecimentos, os alunos utilizam suas capacidades cognitivas para resolução
de problemas complexos de cunho interdisciplinar, principalmente nos
momentos em que discute-se a principal problemática proposta na atividade:
Mudanças Climáticas Globais.
Por se tratar de uma atividade de educação ambiental, o objetivo é
proporcionar aos participantes o sentimento de pertencimento ao meio
ambiente e induzir a reflexão do papel de cada indivíduo dentro dos problemas
ambientais, numa perspectiva holística, promovendo a transformação dos
valores individuais de cada participante envolvido na atividade.
O protocolo Trilha dos Ecossistemas pode ser considerado uma ferramenta
eficaz nesse sentido, promovendo educação e consciência ambiental a alunos
de escolas públicas numa abordagem Transdisciplinar.
Agradecimentos
CNPq/PIBIC e Parque de Ciência e Tecnologia da USP (CienTec/USP). A Dra.
Suzana Ursi pela colaboração em relação a proposta curricular do Estado de
São Paulo.
REFERÊNCIAS
BERCHEZ, F.; GHILARDI, N. ; ROBIM, M. DE J.; PEDRINI, A. de G.; HADEL,
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