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AVALIAÇÃO DA COMBUSTIBILIDADE E REATIVIDADE AO CO2
DE CHARS DE CARVÃO BRASILEIRO E DE CARVÕES
IMPORTADOS OBTIDOS EM ATMOSFERAS CONVENCIONAL
(O2/N2) E DE OXI-COMBUSTÃO (O2/CO2)
Juliana G. Pohlmann*, Eduardo Osório*, Antonio C. F. Vilela*, Angeles G. Borrego**,
Maria A. Diez** *Laboratório de Siderurgia (LASID), UFRGS, Cx. Postal 15021, 91501-970, Porto Alegre, Brasil.
E-mail: [email protected] **
Instituto Nacional del Carbón (INCAR), CSIC, Cx. Postal 73, 33080, Oviedo, Espanha.
RESUMO
A injeção de carvão pulverizado (PCI) na parte inferior dos altos-fornos gera energia e gases redutores
necessários ao processo de produção de ferro primário. A taxa de consumo do carvão/char tanto na zona de
combustão pelo ar quanto fora desta zona pelo CO2 influencia diretamente nas condições operacionais do
processo. Novas tecnologias têm sido estudadas para otimizar o processo de injeção e adequar a fabricação
de ferro primário às exigências ambientais. A tecnologia de oxi-combustão é baseada na queima do carvão
numa atmosfera de ar enriquecida de oxigênio ou livre de nitrogênio. Esta queima gera gases de combustão
ricos em CO2, o que facilita a sua captura. Em estudos prévios, chars de diferentes carvões importados já
utilizados em PCI no Brasil foram produzidos em um forno de queda livre (DTF) em atmosferas
convencional (O2/N2) e de oxi-combustão (O2/CO2). Os chars foram obtidos em diferentes proporções de O2
com N2 e com CO2. Em continuação aos estudos, o objetivo deste trabalho é avaliar o comportamento de
chars de um carvão brasileiro de baixo rank, obtidos nas mesmas condições, comparando aos resultados
observados para os carvões importados de diferentes ranks. Foram obtidos dados de burnout e avaliadas a
área superficial, a estrutura em microscópio ótico e a reatividade ao ar e ao CO2 em termobalança via método
isotérmico. Os resultados serão apresentados e discutidos de maneira a avaliar o comportamento do carvão
nacional frente aos carvões importados e identificar a possibilidade do uso deste carvão na siderurgia. Além
disso, serão comparados os resultados de combustão convencional e oxi-combustão no sentido desta última
influenciar ou não no comportamento dos chars se aplicada no processo de produção de ferro primário.
Palavras-chave: Carvão, Char, PCI, Reatividade, Oxi-combustão
1. INTRODUÇÃO
Novas tecnologias e diferentes matérias-primas têm sido estudadas para aprimorar
a produção de ferro-primário nos altos-fornos. O processo de injeção de combustíveis
auxiliares na região das ventaneiras tem grande flexibilidade para utilização de diversos
materiais carbonosos, além da injeção de diferentes composições e proporções gasosas. Ao
ser injetado, o combustível dispõe de um curto tempo para sua queima na zona de
combustão, levando à saída de char incombusto juntamente com o fluxo gasoso para fora
desta zona, onde o char compete com o coque pelo CO2 (Akiyama e Kajiwara, 2000). Tal
fato justifica a grande necessidade do estudo das propriedades dos combustíveis/chars e do
seu comportamento de combustibilidade e reatividade, de forma a comparar os diferentes
materiais e atmosferas a que eles são submetidos quando injetados.
Além de aprimorar o processo, estudos têm sido feitos com o objetivo de reduzir as
emissões de gases causadores do efeito estufa para a atmosfera na siderurgia. O aumento
da eficiência da combustão e o consumo total do char incombusto pela gaseificação com o
CO2 na cuba tornam-se chave no sentido de diminuir o fuel rate, aumentar a produtividade
do alto-forno e liberar menos CO2 para a atmosfera. A otimização do processo de PCI tem
sido então voltada também para a diminuição do impacto ambiental causado pela indústria
siderúrgica.
Outro fator que influencia na busca por novas alternativas de carvões e materiais
carbonosos para injeção, é que, atualmente, todo o carvão empregado na siderurgia
brasileira é importado de vários países tais como Austrália, Canadá, Venezuela etc. Uma
destas alternativas para utilização em PCI é o carvão minerado no Rio Grande do Sul. Os
carvões do estado, são de baixo rank e possuem um alto teor de cinzas na forma bruta, este
último é um fator limitante para o alto-forno. Porém, quando beneficiado, o uso destes
carvões em misturas com materiais de menor teor de cinzas pode viabilizar a sua
participação na siderurgia. Estudos anteriores comprovaram a potencialidade do uso de
carvões gaúchos quando misturado a carvões importados de mais alto rank e baixo teor de
cinzas (Osório e outros, 2006; Osório e outros, 2008).
A tecnologia de oxi-combustão (oxy-fuel) consiste na queima de carvão em uma
atmosfera livre de N2. Usualmente, o nitrogênio é substituído por um gás rico em CO2, o
qual é recirculado do próprio processo. O foco de estudo e aplicação da tecnologia de oxi-
combustão tem sido para uso em plantas de geração de energia, novas ou já existentes.
Diversos estudos de combustão de carvões em laboratório têm sido feitos comparando
diferentes atmosferas e as características de chars produzidos em condições convencional
(O2/N2) e de oxi-combustão (O2/CO2) (Borrego e Alvarez, 2007; Rathnam e outros, 2009;
Tappe e Krautz, 2009), voltados para a geração de energia em plantas termelétricas. Há,
portanto, uma carência de estudos de aplicação da tecnologia de oxi-combustão voltados
para o contexto do alto-forno.
Com vistas à aplicação desta tecnologia na siderurgia, foi realizado um projeto de
cooperação bilateral entre o INCAR (Instituto Nacional del Carbón – Espanha) e o
Laboratório de Siderurgia da UFRGS para o estudo da combustão de chars em atmosferas
convencional e de oxi-combustão. Chars foram obtidos em diferentes atmosferas O2/N2 e
O2/CO2 em forno DTF (Drop Tube Furnace – Forno de queda livre), simulando diferentes
condições na zona de combustão do alto-forno. Tais chars foram caracterizados quanto à
eficiência da combustão (burnout), reatividade ao ar e ao CO2 em termobalança, área
superficial e aparência em microscópio ótico. A reatividade aparente ao CO2 a 1000ºC
simula a reação que ocorre com o char incombusto na saída da zona de combustão no alto-
forno. Algumas publicações a respeito deste estudo já foram feitas (Borrego e outros,
2008; Pohlmann e outros, 2010). No presente trabalho, foi aplicada a mesma metodologia
para um carvão minerado no RS. O objetivo foi comparar esta matéria-prima com outras
importadas já estudadas, verificando a influência da atmosfera de oxi-combustão nas
propriedades do char resultante, com ênfase na combustibilidade e reatividade, e a
possibilidade do uso deste material e de tal atmosfera na siderurgia.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Matérias-Primas
A respeito dos carvões utilizados para a obtenção dos chars, dois deles são carvões
típicos utilizados em PCI, Black Water (BW) e Jellinbah (JB) da Austrália. O terceiro
carvão é da Mina do Butiá Leste, localizada no município de Butiá no Rio Grande do Sul,
que possui originalmente em torno de 30% de cinzas em base seca. A amostra foi
beneficiada através do processo afunda-flutua, em meio denso constituído por líquidos
orgânicos (xileno e bromofórmio) na densidade de 1,4 g/cm3, a fim de alcançar um teor
final de cinzas adequado ao uso deste carvão em alto-forno.
A caracterização química e petrográfica dos carvões utilizados para obtenção dos
chars estão apresentadas na Tabela I.
Tabela I – Análise química e petrográfica dos carvões.
Carvão Cz MV C H N O S Rr V L I
% bs % bsic % % vol imm
B3 10,1 38,6 79,0 5,2 1,2 9,5 0,9 0.42 77.8 13.5 8.7
BW 9,5 29,3 83,4 4,3 2,0 10,6 0,7 1,02 61,8 2,8 35,4
JB 9,8 17,6 87,2 3,8 1,9 5,6 0,7 1,56 69,3 - 30,7 Cz = cinzas; MV = matéria volátil; bs = base seca; Rr = Poder refletor da vitrinita; V = vitrinita; L = liptinita;
I = inertinita; bsic = base seca e isenta de cinzas; vol = volume; imm = isento de matéria mineral.
Conforme a Tabela I, os carvões cobrem um uma ampla faixa de rank, conforme o
poder refletor da vitrinita (Rr). O carvão B3 é rico em vitrinita e o teor de inertinita é
baixo. O teor de cinzas e de enxofre dos três carvões estáno limite do adequado ao alto-
forno.
2.2 Obtenção dos chars em forno de queda livre
Os chars foram obtidos em forno DTF a 1300°C conforme as atmosferas apresentadas
na Figura 1.
Figura 1 - Esquema da metodologia de obtenção dos chars e oxi-chars no DTF.
Conforme a Figura 1, os carvões foram alimentados no forno DTF em três diferentes
atmosferas: 2,5% O2 em N2, 5 ou 10% O2 em N2, estes denominados chars, e a 5 ou 10%
O2 em CO2, denominados oxi-char. Estas amostras foram preparadas passando uma vez
pelo forno DTF, caracterizando uma etapa. Devido a alta combustibilidade esperada para
um carvão de baixo rank, o carvão brasileiro (B3) foi preparado no DTF com teor de
oxigênio de 5% nas atmosferas de uma etapa e os carvões de mais alto rank (BW e JB)
foram preparados com 10% de oxigênio. A injeção do carvão numa atmosfera com baixo
teor de oxigênio (2.5% O2 em N2 – aproximadamente 30% do oxigênio estequiométrico)
leva à desvolatilização sem uma considerável combustão. A injeção do carvão com maior
teor de oxigênio (5 a 10% O2) tanto com N2 ou CO2 garante burnouts na faixa de 60 a 90%
(Borrego e outros, 2008). A obtenção de chars em DTF simula as condições
experimentadas pelas partículas de carvão ao ingressarem na região das ventaneiras (Lu e
outros, 2002).
Carvão
2.5% O2 em N2 Char
5-10% O2 em N2 Char
5-10% O2 em CO2 Oxi-char
5% O2 em CO2 Ref-oxi
10% O2 em CO2 Ref-oxi
1 ETAPA
2 ETAPAS
5% O2 em N2 Ref-char
A amostra 2,5% O2/N2 foi re-alimentada no reator em atmosferas de 5% O2 em N2,
denominadas refired char (Ref-char), de 5% O2 em CO2 e 10% O2 em CO2, denominadas
refired oxi-chars (Ref-oxi 5% e Ref-oxi 10%, respectivamente) para os chars dos três
carvões. Este procedimento caracterizou a preparação de amostras em duas etapas (re-
queimadas), a fim de alcançar uma combustão em alta temperatura sem a interferência dos
voláteis.
O burnout dos carvões foi calculado pelo método ash tracer, o qual é um balanço
de massa entre a quantidade de cinzas que entra e que sai do reator, conforme a Equação 1
a seguir:
100100
1001(%)
.
.
.
.
combchar
combchar
coal
coal
Ash
Ash
Ash
AshBurnout (Equação 1).
Na Equação 1, o termo Ashcoal se refere ao teor de cinzas presente no carvão e o
termo Ashchar-comb. se refere ao teor de cinzas presentes no resíduo da combustão.
2.3 Caracterização dos chars
2.3.1 Aparência em microscópio ótico
Os chars obtidos no DTF foram embutidos e analisados em microscópio ótico de luz
polarizada incidente com objetivas de imersão em óleo e placa de retardo de 1.
2.3.2 Determinação da área superficial
A área superficial dos poros foi avaliada pelo método isotérmico de adsorção de N2
a 77K para análise dos mesoporos e adsorção de CO2 a 273K para análise dos microporos.
Antes dos experimentos de adsorção, os chars foram aquecidos sob vácuo, a 5°C.min-1
e
mantidos nas temperaturas de 90°C (1h) e 350°C (4h) a fim de eliminar a umidade e os
voláteis condensados, os quais poderiam impedir a acessibilidade dos gases adsorventes. A
teoria de Brunauer-Emmett-Teller (BET) foi aplicada nos dados de adsorção com N2. As
isotermas ao CO2 foram realizadas à pressão máxima de 0,035torr e a teoria de Dubinin-
Radushkevich (D-R) aplicada para tais dados de adsorção. Os resultados foram expressos
em base isenta de cinzas.
2.3.3 Reatividade em termobalança
A reatividade dos chars foi avaliada isotermicamente sob duas condições: ao ar a
550ºC e ao CO2 a 1000ºC. Os testes foram realizados em termobalança. Para ambos os
testes a amostra foi aquecida em atmosfera inerte (N2) até a temperatura da isoterma.
Imediatamente o N2 foi substituído pelo gás reagente (ar ou CO2) e mantida a isoterma até
a estabilização da perda de massa.
A taxa da reação foi calculada a partir da tangente da curva que representa o melhor
ajuste linear entre os pontos da perda de massa, ocorrida na isoterma. Essa taxa mede o
consumo de reagente em função do tempo de reação e é determinada através da Equação 2:
R = -1/m0 (dm/dt) (Equação 2)
na qual, m0 é a massa inicial isenta de cinzas e dm/dt é a variação da perda de massa no
instante de tempo t. A taxa da reação R é representada em s-1
. Foi escolhida a taxa de
reação calculada para o momento em que a amostra alcançou 50% de conversão para a
comparação dos resultados.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Combustibilidade dos carvões
A Figura 2 apresenta os resultados de burnout em função do rank dos carvões
obtidos nos ensaios em forno DTF em uma etapa (Figura 2a) e em duas etapas (Figura 2b)
nas atmosferas convencional e de oxi-combustão a diferentes teores de oxigênio.
Figura 2 – Burnout dos carvões para as diferentes atmosferas a uma (a) e duas etapas (b).
Na Figura 2, pode-se verificar que os resultados de burnout dos carvões foram
menores quanto mais alto o rank. Como esperado, as amostras obtidas a 2,5% O2 em N2
(menor teor de O2) foram as de menores burnouts. Comparando os chars do B3 de uma
etapa produzidos com 5% de oxigênio, porém um em atmosfera O2/N2 e outro em
atmosfera O2/CO2, verifica-se que o burnout em atmosfera O2/CO2 foi um pouco mais alto
do que o burnout em atmosfera O2/N2. Não houve diferença significativa de burnout no
caso dos chars dos carvões de médio e alto rank obtidos a 10%O2 em atmosferas
convencional e de oxi-combustão (BW 10%O2/N2=66% e 10%O2/CO2= 68 e JB
10%O2/N2=59% e 10%O2/CO2=59). Além disso, os chars do carvão de baixo rank obtidos
em uma etapa no DTF, apresentaram burnouts de 67% para a amostra obtida a 5%O2 em
N2 e de 77% para a amostra 5%O2/CO2. Estes valores foram iguais ou maiores do que os
burnouts dos chars dos carvões de mais alto rank obtidos em uma etapa com 10%O2. Isso
indica a influência do teor de oxigênio quanto menor o rank do carvão.
Não existe ainda um consenso a respeito de uma tendência do burnout quando
comparadas amostras de combustão convencional e de oxi-combustão na mesma
concentração de oxigênio. Diferentes grupos de pesquisa encontraram tanto burnouts mais
baixos para atmosfera de oxi-combustão (Li e outros, 2010, Borrego e outros, 2007), como
iguais e também mais altos (Borrego e Alvarez, 2007; Rathnam e outros, 2009). A
concentração de oxigênio e o tipo de carvão são os principais motivos destas diferenças.
Além dos motivos para os diferentes comportamentos de burnout citados acima dentro do
mesmo grupo de trabalho, diferenças entre grupos de pesquisa se devem também às
condições experimentais como tipo de equipamento, tempo de residência e temperatura de
ensaio.
Os burnouts das amostras re-queimadas a 5% O2 em atmosferas convencional e de
oxi-combustão (Ref-char 5% e Ref-oxi 5%) não apresentaram diferenças significativas para
nenhum dos carvões (Figura 2b). Para os oxi-chars de duas etapas (Ref-oxi com 5 e 10%)
dos três carvões, mais altos burnouts foram observados para as amostras re-queimadas em
maior teor de oxigênio. Esta diferença foi menor para o carvão brasileiro devido à grande
influência do oxigênio em carvões de baixo rank que fez a amostra re-queimada a 5%O2 já
alcançar um elevado burnout . As amostras re-queimadas com 10% O2 apresentaram os
mais altos burnouts para os três carvões por terem experimentado as situações de mais alto
teor de oxigênio (1ª eatapa 2,5% O2 + 2ª etapa 10% O2).
Estas observações comentadas acima indicam que, para os três carvões estudados
neste trabalho, o fator mais relevante na eficiência da combustão foi o teor de oxigênio na
atmosfera na qual o char foi gerado, sendo a atmosfera de oxi-combustão influente
somente no caso do carvão brasileiro. Esta fato já havia sido observado anteriormente para
outro carvão de baixo rank (Pohlmann e outros, 2010).
3.2 Caracterização dos chars
3.2.1 Análise das estruturas dos chars em microscópio ótico
Quanto à aparência dos chars ao microscópio ótico, são apresentadas as
micrografias na Figura 3, salientando as diferenças devido ao tipo de carvão e à condição
de obtenção no DTF.
Conforme a Figura 3, para os três carvões foram observadas partículas cenosféricas,
típicas de altas taxas de aquecimento (Marsh, 1997). O carvão B3 gerou uma estrutura
essencialmente isotrópica, esperada para um carvão de baixo rank e paredes finas. O
carvão de médio rank (BW) gerou chars de estrutura principalmente anisotrópica,
pequenas regiões isotrópicas e paredes grossas. Os chars gerados pelo carvão de alto rank
(JB) apresentaram estrutura anisotrópica de grandes domínios, indicando maior
ordenamento comparado ao carvão BW, o que é lógico devido ao mais alto rank do carvão
JB frente ao BW (Alonso e outros, 2001). Para ambos os carvões, a maioria das partículas
exibiu inchamento, formando partículas arredondadas com abundante porosidade
secundária nas paredes.
A respeito das amostras preparadas em duas etapas no DTF (Figura 3 à direita), é
possível verificar o progresso da combustão na estrutura dos chars. Houve um alargamento
da porosidade secundária comparado à amostra que gerou tais chars (2,5%O2), levando à
perda de integridade das partículas de char. Esta observação está de acordo com a evolução
da área superficial de microporos, a qual será vista a seguir.
Figura 3 - Micrografias óticas dos chars obtidos a 2,5% (à esquerda) e re-queimados com
5% O2 (à direita) no DTF.
3.2.2 Determinação da área superficial
Os resultados da análise de área superficial de micro e mesoporos são apresentados
na Tabela II.
Tabela II - Áreas superficiais de meso (SBET) e microporos (SCO2) dos chars obtidos
em diferentes atmosferas.
SBET (m2g
-1)ic SCO2 (m
2g
-1)ic
B3 BW JB B3 BW JB
Char 2,5% 176,9 12,7 12,2 449,3
161,08 150,5
Char 5-10% 289,5 40,7 23,6 492,5
Oxi-char 5-10% 567,5 n.d 22,7 526,5
Ref-char 5% 125,8 20,3 14,0 505,0
Ref-oxi 5% 317,5 20,9 n.d 482,2
Ref-oxi 10% 205,1 n.d 20,1 839,8 n.d. não determinado; ic = isento de cinzas.
50 μm
Na Tabela II é possível verificar a grande influência do rank na área superficial dos
chars tanto de micro quanto de mesoporos. Os chars do carvão brasileiro (B3)
apresentaram áreas superficiais muito maiores do que os chars dos carvões de médio (BW)
e alto rank (JB). Sabe-se que mudanças durante a formação do char afetam principalmente
a vitrinita e estruturas isotrópicas e são muito maiores nos mesoporos do que nos
microporos (Alvarez e Borrego, 2007; Feng e Bathia, 2003 e Marsh e Menéndez, 1989).
Por esta razão, os chars de estrutura mais desordenada do B3 (essencialmente isotrópicos)
apresentaram as maiores áreas superficiais e maiores diferenças entre as amostras, enquanto
que os chars dos carvões de mais alto rank, com domínios anisotrópicos, apresentaram
áreas muito menores, pois texturas isotrópicas são mais reativas (Marsh e Menéndez,
1989). Também, por esta razão, no caso dos chars de médio e alto rank, somente uma
amostra foi analisada quanto à microporosidade, e verificamos que estes apresentaram SCO2
bastante semelhante. A área superficial de microporos apresentou um leve aumento com o
burnout para os chars do carvão brasileiro obtidos em atmosferas com até 5% de oxigênio
(Figura 4).
Figura 4 – Evolução da área superficial de microporos (SCO2) (m2g
-1) com o burnout para
os carvões. ●= B3; ■= BW; ♦= JB. Símbolos sólidos: 1 etapa; símbolos vazios: 2
etapas.
A amostra do B3 re-queimada em 10% de oxigênio (maior burnout) foi a que
apresentou um incremento maior na SCO2 frente às amostras obtidas em atmosferas com
menor teor de oxigênio, pois o carvão é rico em vitrinita. A evolução da área superficial de
mesoporos (SBET) para as três séries de chars em relação ao burnout é apresentada na
Figura 5.
Figura 5 - Evolução da área superficial de mesoporos (SBET) (m2g
-1) com o burnout para os
carvões. Símbolos sólidos: 1 etapa; símbolos vazios: 2 etapas.
Pode ser observado para os três carvões que houve um aumento na área superficial
BET com o progresso da combustão (Tabela II e Figura 5). Isso ocorre devido à
coalescência e alargamento de microporos (Gale e outros, 1995), aumentando a área dos
mesoporos. As amostras obtidas em duas etapas no DTF, no entanto, apresentarem
burnouts maiores e áreas BET menores do que as amostras de uma etapa. Tais amostras
que experimentaram uma re-queima no DTF tiveram sua estrutura mais consumida, e
conseqüente redução da área superficial.
Em relação ao efeito da atmosfera de oxi-combustão na área superficial, os chars
dos carvões de médio e alto rank preparados no DTF com o mesmo teor de oxigênio
apresentaram BET semelhantes, independente da atmosfera de balanço ser N2 ou CO2. Já,
para os chars do carvão brasileiro, a área das amostras de oxi-combustão foi o dobro da
área das amostras de combustão convencional tanto para os chars obtidos em uma etapa
quanto para os chars obtidos em duas etapas com 5%O2 (Tabela II). A maior área
superficial de chars produzidos em atmosfera de oxi-combustão é provavelmente devido ao
alargamento dos poros provocado pela gaseificação do char com o CO2, o que pode ser
relevante no sentido de aumentar a reatividade dos chars em atmosfera oxidante (Rathnam
e outros, 2009).
3.2.3 Reatividade ao CO2
Na Figura 6 a seguir é apresentada a reatividade ao CO2 a 50% de conversão de
todos os chars.
Figura 6 - Reatividade ao CO2 a 50% de conversão dos chars preparados em forno DTF a
diferentes atmosferas.
Da mesma forma que ocorreu com o burnout, na Figura 6 é possível observar que
houve uma tendência de aumento da reatividade ao CO2 quanto mais baixo o rank do
carvão para amostras obtidas na mesma atmosfera no forno DTF. Além disso, os chars do
carvão de baixo rank alcançaram reatividades muito mais altas do que os chars dos carvões
de médio e alto rank.
Comparando as amostras de atmosfera convencional e de oxi-combustão, a
reatividade dos chars O2/N2 foi semelhante à reatividade dos chars O2/CO2 para as
amostras provenientes dos carvões BW e JB obtidos a duas etapas no DTF. Esta mesma
tendência ocorreu para as amostras destes carvões obtidas a uma etapa com 10%O2 (BW
10%O2/N2=3,2x10-4
s-1
e 10%O2/CO2=3,5x10-4
s-1
e JB 10%O2/N2=1,5x10-4
s-1
e
10%O2/CO2=1,8x10-4
s-1
). No caso dos chars do carvão brasileiro (B3), a amostra de uma
etapa obtida com 5%O2 em N2 (Char 5%) apresentou maior reatividade do que a amostra
de atmosfera de oxi-combustão e mesmo teor de oxigênio (Oxi-char 5%) (Figura 6). Para
os chars deste carvão obtidos em duas etapas no DTF a tendência foi oposta, tendo a
amostra de atmosfera O2/CO2 apresentado reatividade levemente inferior à da amostra de
combustão convencional. Em ambos os casos (uma e duas etapas), houve um aumento na
área superficial da amostra de combustão convencional para a amostra de oxi-combustão
(Tabela II), o que justifica a maior reatividade a elevada temperatura da amostra de uma
etapa. Estas tendências de reatividade acompanham as tendências observadas para os
resultados de burnout. Para verificar melhor o efeito do burnout na reatividade dos chars,
este é apresentado na Figura 7.
Figura 7 - Relação da reatividade ao CO2 a 1000°C e ao ar a 550ºC com o burnout dos
chars.
Para os chars dos três carvões, pode ser observado que a reatividade ao CO2
aumentou com o aumento do burnout (Figura 7). Este aumento na reatividade com o
burnout é devido ao aumento na área superficial BET das amostras, o qual ocorre em
função do burnout. O aumento da reatividade ao CO2 com o burnout indica que esta reação
ocorreu em regime misto (reação química + difusão), pois para mais altos burnouts a maior
área superficial BET facilitou a difusão do gás nas partículas do char, melhorando a
reatividade. Já a reatividade ao ar diminuiu com o aumento do burnout para os chars dos
carvões BW e JB e não variou para os chars do carvão brasileiro. Isso indica uma leve
diminuição na reatividade intrínseca dos chars dos carvões de médio e alto rank e nenhuma
variação nesta propriedade para os chars do B3.
Este trabalho se propôs a dar indicativos para a possibilidade de aplicação da
tecnologia de oxi-combustão no processo de injeção de combustíveis auxiliares nas
ventaneiras do AF. Os resultados se mostraram positivos, pois o burnout, a área superficial
BET e a reatividade ao CO2 dos oxi-chars foram semelhantes ou mais altos do que tais
propriedades dos chars de combustão convencional na maioria das comparações entre as
amostras obtidas com o mesmo teor de oxigênio nas duas atmosferas. No entanto, este
trabalho é apenas o início de um longo estudo que deve ser feito a respeito da aplicação da
tecnologia de oxi-combustão no AF. Testes que simulem mais próximo as condições da
zona de combustão deverão ser realizados a fim de confirmar os resultados obtidos.
O uso de um carvão brasileiro com teor de cinzas reduzido também pode ser mais
profundamente estudado. Mas este estudo deu indicativos da alta combustibilidade e
reatividade deste carvão, o que é positivo para seu uso em misturas para injeção.
5 CONCLUSÕES
As seguintes conclusões podem ser descritas a respeito deste estudo:
O comportamento dos chars nos testes foi fortemente influenciado pelo rank. Foram
alcançados burnouts, áreas superficiais e reatividades mais altas quanto menor o rank
do carvão. Isto indicou a maior combustibilidade do carvão brasileiro frete aos carvões
importados.
Para os carvões de médio e alto rank estudados neste trabalho, não foi verificado efeito
no burnout devido à substituição do N2 (atmosfera convencional) pelo CO2 (atmosfera
de oxi-combustão). No caso do carvão brasileiro, houve um aumento no burnout
devido à troca de atmosfera (N2 para CO2) para as amostras de uma etapa e uma leve
diminuição para as amostras de duas etapas.
Para os resultados de área superficial, somente foi verificada diferença entre chars
obtidos em atmosfera convencional e de oxi-combustão com o mesmo teor de
oxigênio no caso dos chars provenientes do carvão brasileiro.
Houve um aumento da área superficial BET com o burnout e as áreas BET foram
menores nos chars obtidos em duas etapas no DTF.
A reatividade ao CO2 dos chars aumentou com o aumento do burnout e a reatividade
intrínseca ao ar diminuiu para os chars dos carvões de médio e alto rank e se manteve
constante para os chars do carvão brasileiro de baixo rank.
A reatividade ao CO2 dos chars obtidos em combustão convencional foi semelhante à
reatividade dos chars de oxi-combustão para as amostras provenientes dos carvões de
mais alto rank, tanto em uma quanto em duas etapas. No caso dos chars do carvão
brasileiro, a amostra de oxi-combustão foi mais reativa do que a amostra de combustão
convencional para os chars de uma etapa e menos reativa para os chars de duas etapas.
As mais altas combustibilidade, área superficial e reatividade alcançadas pelo carvão
brasileiro em condições de oxi-combustão podem ser positivas para o uso associado
dessa atmosfera com um carvão de baixo rank, como o carvão brasileiro, no AF.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao CNPq e à Rede Carvão e ao projeto de cooperação bilateral
CSIC (PIB2010BZ-00418)-CNPq pelo suporte financeiro.
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