Auto da Índia parte 1
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Plural 9, Raiz Ed., p. 143-144
1ª parte
Auto da Índia
1. Argumento: a didascália inicial apenas revela que se trata de uma mulher cujo marido estava de partida para a Índia, quando vieram dizer-lhe que ele já não partiria, tendo ela reagido chorando. Com ela contracena a criada.
A primeira representação aconteceu em 1509, em Almada, perante a rainha D. Leonor.
As personagens intervenientes são cinco: Ama, Moça, Castelhano, Lemos, Marido.
“Auto da Índia” - Leitura do texto, p.145
2. Nesta primeira parte do auto intervêm a Ama e a Moça.
3. A peça começa com a interjeição “Jesu! Jesu!”. A Moça espanta-se por ver a Ama a chorar. O facto de se espantar revela que sabe o que a Ama quer: que o marido parta.
“Auto da Índia” - Leitura do texto, p. 145
“Auto da Índia” - Leitura do texto, p. 145
4.1. “Por minha alma, que cuidei/ E que sempre imaginei/ Que choráveis por nosso amo”
A criada está a fingir, porque, evidentemente, ela não imaginava a patroa a chorar pelo marido e, por isso mesmo, se espanta.
4.2. Profere estas palavras com ironia.
5. As duas primeiras falas da Moça provocam na patroa irritação.
5.1. A Ama chora porque receia que o marido já não parta, como lhe disseram.
5.2. “Arreceo al de menos.” [Agasta-se-me o coração, /que quero sair de mim.]
Esta gradação sublinha e intensifica o seu receio de que o marido não parta.
“Auto da Índia” - Leitura do texto, p. 145
6. A Moça sai de cena e vai ver se a armada parte ou fica.
7. Monólogo da Ama – da linha 38 à linha 47.
7.1. A Ama roga a Santo António que não lhe traga o marido e confessa que é impossível não estar cansada dele. Pede a Deus que realize o seu sonho de ficar sem marido.
“Auto da Índia” - Leitura do texto, p. 145
8. “Dai-me alvíssaras, Senhora.” (l. 49) 8.1. A criada pede recompensa porque
traz a boa notícia da partida da armada que leva o marido da patroa.
8.2. Quer alguma coisa que ele traga da viagem. Ao fim e ao cabo, a Moça também quer tirar algum proveito da viagem à Índia.
“Auto da Índia” - Leitura do texto, p. 145
9. “Agora há de tornar cá? / Que chegada e que prazer!” (ll. 55-56)
9.1. Estas palavras da Ama revelam que ela não apenas desejava que o marido partisse, como também não quer que ele regresse.
9.2. O recurso expressivo presente no segundo verso é a ironia.
“Auto da Índia” - Leitura do texto, p. 145
10. “Virtuosa está minha ama! / Do triste dele hei dó” (ll. 57-58)
A Moça não pretende que a patroa ouça estas palavras. Esta fala é um aparte.
11. Sabemos que a Ama não era fiel ao marido, mesmo antes de ele partir para a Índia porque é ela própria que afirma “se vai ele a pescar /Mea légua polo mar?/ Isto bem o sabes tu”, deixando implícita a sua habitual infidelidade nas ausências do marido mesmo para perto.
“Auto da Índia” - Leitura do texto, p. 145
12. A função desta primeira parte do Auto da Índia corresponde à exposição, o momento dramático inicial que introduz a ação, apresentando a situação – o marido está de partida para a Índia e a mulher não deseja outra coisa nem tem a intenção de lhe ser fiel – e apresenta a protagonista, revelando em traços muito gerais o seu caráter – a Ama é uma mulher jovem que quer gozar a vida e fá-lo sem escrúpulos.
“Auto da Índia” - Leitura do texto, p. 146
1. Arcaísmos - mal estreada, demo, gamo, anojada, desconcerto, leda, eramá, nécia.
2.1. Ama – aceção 2: a dona da casa para os criados; senhora, patroa.
2.2. s.f. substantivo (nome) feminino; p. ext. por extensão; p. ana. por analogia; B Brasil; ant. antigo.
2.3. V. (a entrada do dicionário, com os vários significados da palavra ama, mostra o seu campo semântico).
Gramática - p. 146
3.1. Frases exclamativas: “Jesu! Jesu!” (admiração); “Olhade a mal estreada!” (censura
irónica); “Como vos deixa saudosa! /Toda eu
fico amargurada!” (pesar fingido); “Ali muitieramá!” (irritação); “Mau pesar veja eu de ti” (praga,
ameaça).
Gramática - p. 146
3.2 Frases interrogativas retóricas:
“Eu hei de chorar por isso?” (negação com desdém);
“Como pode vir a pelo?” (incredulidade);
“E essa cama, bem, que há?” (censura)
Gramática - p. 146
4. “Dixeram-mo por mui certo/ Que é certo que fica cá” (ll. 17-18)
4.1. Nestes versos, o recurso expressivo usado é o trocadilho certo que sublinha o receio da Ama perante a certeza de que o marido não parte.
4.2. Classe gramatical - “mo” é a contração dos pronomes pessoais me e o.
4.3. Funções sintáticas - Complemento indireto: me + complemento direto: o.
Gramática - p. 146
4.4. Moça - “Quem diz esse desconcerto?” Ama - Dixeram-mo por mui certo/ Que é
certo que fica cá” (ll. 16-18)
O antecedente do pronome me é eu (subentendido); o antecedente do pronome o é “esse desconcerto”.
Gramática - p. 146
5. “Dai-me alvíssaras, Senhora” (l. 49) “alvíssaras” da expressão árabe al-bixrã, que
significa boa nova. 5.1. A entrada da expressão decorre da
existência de um superstrato árabe, conjunto de vocábulos que entraram na língua, em virtude da ocupação árabe da península ibérica.
5.2. Alvíssaras: recompensa dada por boas novas, pela restituição de um objeto perdido ou por prestação de qualquer serviço ou favor.
Gramática - p. 146