attos - Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC · Mattos, “Ato ‘Legal” , sobre a criança...
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Universidade Estadual de Santa Cruz
GOVERNO DO ESTADO DA BAHIAJaques Wagner - Governador
SECRETARIA DE EDUCAÇÃOAdeum Hilário Sauer - Secretário
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZAntonio Joaquim Bastos da Silva - ReitorLourice Hage Salume Lessa - Vice-Reitora
diretora da editUsMaria Luiza Nora
Conselho editorial:Maria Luiza Nora – Presidente
Antônio Roberto da Paixão RibeiroElis Cristina Fiamengue
Fernando Rios do NascimentoJaênes Miranda Alves
Jorge Octavio Alves MorenoLino Arnulfo Vieira Cintra
Lourice Salume LessaLourival Pereira Junior
Maria Laura Oliveira GomesMarileide Santos OliveiraMarcelo Schramm Mielke
Ricardo Matos Santana
Música na ruae outros poemas
Samuel Mattos
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Ficha catalográfica: Elisabete Passos dos Santos - CRB5/533
©2008 by Samuel Leandro Oliveira de Mattos
Direitos desta edição reservados àEDITUS - EDITORA DA UESC
Universidade Estadual de Santa CruzRodovia Ilhéus/Itabuna, km 16 - 45662-000 Ilhéus, Bahia, Brasil
Tel.: (73) 3680-5028 - Fax: (73) 3689-1126http://www.uesc.br/editora e-mail: [email protected]
Projeto gráfiCo e CaPaGeorge Pellegrini
ilUstraçãoVioliniste bleu, Marc Chagall, 1947Retoques e efeitos em Photoshop
revisãoAline Nascimento
M435 Mattos, Samuel Leandro Oliveira de. Música na rua e outros poemas / Samuel Leandro Oliveira Mattos. – Ilhéus : Editus, 2008. 86p. ISBN : 978-857455-139-5
1.Poesia brasileira – Coletânea. I.Título. CDD – 869.91
Dedicatória
Para Ana Cândida, filha, cuja complexa e simplória vida me veio trazer amadurecimen-to, mais compreensão do mundo e de mim
próprio,
para Isis, esposa, pela parceria grandiosa e doce que muito me alegra e alenta,
para Damares, mãe, que por mim tudo fez, a quem devo o fôlego de vida e um grande
investimento de amor,
para Guilherme (in memorian), pai, pelo exemplo de profissionalismo
e trabalho humanitário,
para Ivana e Rebeca, irmãs, pela útil amizade com que sempre contei,
para todos que fazem parte prazenteira da minha vida finita.
Agradecimentos
À Universidade Estadual de Santa CruzA Guilherme Lamounier Vieira
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mNota do Autor
Música na rua e outros poemas abriga o verso como tentativa de expressar o sentimento múltiplo e cotidiano do ser humano diante de si mesmo, do outro e da sociedade em que vive.
A poesia procura aqui chamar atenção da de-licadeza e da inteligência para a necessidade do auto-conhecimento e da reflexão. Os versos, des-sa forma, tentam apresentar-se como sinal ou apelo ao bom senso e à ética civil - sem contudo prescindir do humor e da ironia, que por certo prolongam a vida e minimizam a dor.
Como cenário, tem-se uma sociedade recém sa-ída de regimes arbitrários e de uma irreal situação econômica, buscando agora, com os pés no chão, compreensão mais exata de si própria. Porém, um sistema perverso de transferência de renda e geração de pobreza avulta o desemprego. A violência urbana então se torna um confronto de classes sociais.
Simultaneamente, surge uma geração jovem hedonista e politicamente ausente, perdida em si, pobre de valores éticos e que ameaça destruir a escola e a já debilitada família.
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A televisão mediocriza as massas, a tecnologia e a idiotice se multiplicam velozmente, banaliza-se o sexo e o eu prevalece sobre o coletivo.
Contudo, cresce lentamente uma consciência ecológica e cosmopolita. O país, assim como no ciclo do açúcar ou do ouro, ora pela sua biodiver-sidade e abundância de água, torna-se objeto de cobiça internacional.
Após a comemoração de 500 do Brasil no mapa europeu, vive-se a ansiedade de um novo século, como se o tempo recomeçasse.
Todavia, a sensação que se tem é aquela apre-goada pelo Eclesiastes, de que nada há de novo debaixo do sol. Afinal de contas, há milênios os homens cultivam a cobiça, o amor e a paixão, ma-tam e morrem pelos mesmos motivos.
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aA obra Música na Rua e outros poemas, de autoria do Professor Samuel Leandro Oliveira de Mattos, é uma coletânea de poemas, dividida em três par-tes, que correspondem a três grandes grupos te-máticos: a primeira, “Sociais”; a segunda, “Exis-tenciais”; a terceira, “Amorosos”.
Em “Sociais”, ouve-se com nitidez a influência dos anos sessenta, de sua política, de sua cultura. O poeta põe no papel as dores da Ditadura e, com olhos bem críticos, vê como sua geração foi ma-nipulada, a fim de não perceber o que se passava à sua volta. Essa fase da criação começa com um dos pontos altos do Trabalho Poético de Samuel Mattos, “Ato ‘Legal” , sobre a criança de rua e que remete o leitor ao clássico de Chico Buarque “Pivete”, não pela forma, mas pelo olhar poéti-co: “Tal resto sou tido/ Tal lixo danoso/ Feroz e nocivo/ Entulho da vida”. Destaco o poema de temática regional “Fluvial”, onde o eu-lírico se volta para a pobre realidade ribeirinha, trazendo as águas do Rio Cachoeira, e a dor da fome dos que dele dependem, para as páginas de seu livro: “Mas canto é o homem/ Da margem da beira/ Do Rio Cachoeira/ Do peixe que é pouco/ E da vida ligeira.”.
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Na segunda parte, predomina a angústia hu-mana diante da vida, do divino e do material, o que se traduz em poemas com uma linguagem, de certa forma, barroca, como em “À Deriva”: “O que busco é o que bem sei/ Não sei bem porém se busco/ Sempre em mim nem sempre mundo/ Corro em luta é por vivê-lo”. Em alguns momen-tos, ressalta uma atitude de conformação religiosa perante o Divino: “Obrigado, grande Deus/ Pela vida que é triste / Pela arte que me deste/ No sentir que só existe/ A tristeza e o adeus/ Nessa noite que me veste” (Poema “Aurora”).
Há, em “Existenciais”, alguma metapoesia. Em “Como um Rio”, o eu-lírico compara o poema a um rio “Em meandros de linguagem”, rio este que carregaria a vida em seu leito, uma vida de prazer e dor. A temática se repete em “Poética”, e o fazer poético vem mais uma vez associado à tradução da dor e da mágoa. O poema “Fingin-do” traz uma quase explícita inspiração em Fer-nando Pessoa, “Autopsicografia”, e, na mesma linha do poeta português, o próprio fingimento poético acaba relativizado.
Na terceira parte, “Amorosos”, o eu-lírico tra-duz, principalmente, uma visão erótica da mu-lher. Essa erotização, por vezes atenuada, vem organizada por intensa intertextualidade, a partir da qual ouvem-se as vozes de Camões (“Amo-ramigo”: “Oh, querida amada minha/ Que de
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mal bem me fizeste/ Que o corpo a ti só busca/ Que minh’alma aqui suspira/ Por te ver e tudo ser-te?”), com sua angústia pelo amor que mis-tura bem e mal, felicidade e dor; e Vinicius de Moraes (“Menu à Baiana”: “Se queres querida guardar no teu corpo/ Textura de quinze firme-za doçura/ Copie a receita do “maitre”calouro/ Que ama cozinha carinhos amores/ E mais teus amores que bolos e vinhos”), em sua associação erotizante entre a comida e o amor, a beleza femi-nina; além de um certo tom das cantigas medie-vais (“És tão linda, amiga, tão livre que te invejo as asas d’alma”, em “Proposta”). Há, também, em alguns poemas, uma linguagem neoclássica, que lembra o Dirceu que sente o tempo passar, afastando-o de sua Marília, como no texto “Fu-gaz”: “Porém o que és/ Pra teres porvir/ E seres a vida/ Sem pele tão bela?”.
Entendo que o Trabalho Poético de Samuel Mattos tem valor artístico-literário e dá conta de um olhar voltado não apenas para a sentimentali-dade humana, mas, principalmente, para a existên-cia do homem, e para a realidade social baiana.
Agradecendo a oportunidade de fazer tão agra-dável leitura,
Professora Doutora Patrícia Kátia da Costa Pina(Departamento de Letras e Artes da Universidade Estadual de Santa Cruz)
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“Tudo vale a penase a alma não é pequena”. Fernando Pessoa
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Sumário
Ato “Legal” ..................................................19Bahia ...........................................................21Chuva na Cidade .........................................23Ecologia da Globalização ............................24Fluvial .........................................................27“Intelectual” ................................................29Metropolitano .............................................30Milagre 1970 ...............................................31Música na Rua .............................................33O Lixo .........................................................35Samba da Vida ............................................36Pretexto Brasiliense .....................................37Sertão ..........................................................39Sincopado ...................................................40Sufrágio .......................................................41Vil ...............................................................43Autobiografia...............................................46Caduco........................................................49Como um Rio ..............................................50Criar ............................................................51Engano ........................................................52Estar e ser ....................................................53Existência ....................................................54Filosofia ......................................................55Fingindo ......................................................57Insegurança .................................................58Intemporal ...................................................59Lágrima .......................................................60Noite ...........................................................61Pensando ....................................................63
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Poética ........................................................64Revelação ....................................................65Risco ...........................................................66Sabedoria ....................................................67Sentir e Ver .................................................68Amoramigo .................................................70Confissão ....................................................72Fugaz ..........................................................73Menu à Baiana ............................................74Mergulho ....................................................76Atemporal ...................................................77Miss ............................................................78Prescrição ....................................................79Proposta ......................................................81Reflexo ........................................................83Saudade ......................................................84Silêncio .......................................................85
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Ato “Legal” (Estatuto da Criança e do Adolescente)
Nasci não sei ondeDe mãe que não vejoDe pais em desejoNum parto de vida
Do nada surgindoNa rua morandoDo lixo vivendoMe crio na vida
Por todos olhadoPor outros temidoPra muitos: Que pena!Pra outros: A vida!
Sozinho me sintoAgrido, maltratoMe dopo, me firoÀ margem da vida
Se quero, rapinoSe mato, não ligoSe valho? Existo?Sou nada pra vida
Tal resto sou tidoTal lixo danosoFeroz e nocivoEntulho da vida
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Sou vil execradoSou nó e sujeiraMe cospem me batemSou fez duma vida
Me furam projéteisQual bicho me matamNo mato me jogamMe tiram da vida
Sem dor ou remorsoAgora esquecidoFui nada, foi nada!Foi lenda da vida.
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Bahia(De Gregório de Matos a Carlinhos Brown, primazia e sorriso à civilização brasileira)
Sambando suando calor e foliaDançando na vida vivendo só diaBarrica cuíca timbau atabaqueNa preta só festa só roda magia
Gingado de Jeje caxixe cachaçaMulato malungo malandro sabidoLibido na rua terreiro cabocoNo toco na praça Nagô em chibata
Castanha paçoca moqueca d’arraiaNa praia domingo do bicho da missaDo Rasta do “reggae” do Bimba cabaçaD’Angola do golpe da perna que voa
Da broa cocada sacada sobradoDo Carmo d’oiteiro ladeira calçadaVelada rezada benzida pipocaDa prosa da tarde preguiça manhosa
Da Rosa mulata cabrocha mucamaNa cama do fundo da mesa da damaDa chama da lua Baía do SantoDo canto d’encanto sorriso da gente
Doente na fome na sede de festaModesta tal vida já vista dementeCarente pulando na rua no largoVadio molambo que ginga contente
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No frio na chuva no sol e no morroPenoso moreno cafuzo garbosoPomposo famoso na arte batuqueNo truque no jogo na pinga saúde
Padrinho sobrinho vizinho cunhadoNa farra dos trios ao meio da praçaRessaca da cana talvez ameaçaMas vida se passa na graça belezaDeus queira que seja amanhã feriado.
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Chuva na Cidade(das encostas do Rioà Bolsa de São Paulo)
A chuva que molha bom teto vidraçaQue leva riqueza do campo pro bancoDo grande “plantation” pra casa de praiaDo fino colar té o vôo a Miami,Brasília São Paulo com terno e gravataTal é como chuva que morro desmanchaQue cobre com terra barracos e gentesE bichos e mesas e telhas de zincoCom Pedros Antônios e outros da lamaQue nela já morrem com fé confiançaQue finde tal dano, que haja abastança.
Na chuva que cobre que mata que regaPorém há saber que o sol não o sabe:Que dura morada de morte do morro-se morte não leva seu resto de vida -Com vida de morte e de dor só ensinaQue vale viver essa vida com raçaPraquele que salta do tédio pra mortePor falta de dor ou excesso de sorte.
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Ecologia da Globalização(Conferência para o meio ambienteRio de Janeiro - 1992)
Hoje falam sobre o verdePor salvar a vida-terraFolha tronco galho relvaAmazônia, bicho n’água
Tudo ao Sul assim se voltaToda boca então labutaToda mão em gesto clamaTodo o mundo aqui discuteTodo rei por cá reclama
Mas por sob o grande verdeQue será que há de fato?Cobre prata ferro ouro,Manganês madeira zinco?
Que será que tanto ricoLá do Norte tão distantePor Brasil se faz amanteJá depois de ter roídoTodo chão em seu Estado?
Vêm de novo em nossa “ajuda”Ensinar como “guardar”?Vem trazer o que bem sabe,Rapinar em tom de amar?Vem sacola ou vem com sacoPra levar o quanto cabe?
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Oh Tupino, quanto “amigo”Sempre há em teu pomarQuanto “auxílio” quanta mãoQuanta briga por teu viçoSó porque não és só beloSó porque não és só ricoMas também porque teu filhoVive cego... de rezarVive rico de vender-te,Vive pobre por não ter-te...mas alegre por sambar.
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Encosta
Criança brincando na terra tão sujaDa vida que passa não dá-se por contaRuína da casa tampouco lhe falaLembrança de nobre seu teto de hoje
De panos e trapo repleta a cordaAbertas e podres janelas e portaMadeira da Costa telhado de FrançaQue tudo já foram mas mofam n’agora
Seu coro de riso entoa meninoD’encosta vislumbra cidade que correDo morro do lixo do mato de vultoDo canto singelo que nunca ouvido
Tão doce cantando pureza do diaNem sente que magro será com’agoraQue mundo deveras não é o que pensaPois vida que corre não dá-lhe lugar.
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Fluvial
Sob o luar frioDeslizando nas águasSubindo o rioDe dores e mágoasSurge sombrio
Penumbra da noiteEncobre seu nomeE seu sobrenome(tal feito essa noite)No escuro já some
Não falo da ninfaDo leito do rioDo verso de linfaDo poeta vazioQue hoje inda sonha
Mas canto é o homemDa margem da beiraDo Rio CachoeiraDo peixe que é poucoE da vida ligeira.Geração Coca cola
O país está em trevaPela mente não há luzGrito vário pela ruaTudo ócio, sem alento
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Da TV se jorra sanguePra milhares sem caminhoNada visa esse BrasilQue só lixo vê na tela
No idoso não há forçaNo mais tenro não há causaNo marasmo assim caídoNão se dá que vale nada
Na escola o eu se sentaAula assiste e vai-se emboraSem comum sem coletivoSem porquê e sem melhora
Oca faz-se juventudeComo fruto duma messeQue por fortes semeadaFloresceu em eu distante
Todo verde fez-se “blue”“Blue” vestido “blue” faladoMente e corpo já imersosNos valores doutro mar
Sem razão sem movimentoSem raiz e sem pensarSem questão e sem TupiVai Brazil sem se achar.
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“Intelectual”(à erudição tupiniquin)
O saber que cá se buscaNada sabe desta genteQue padece numa lutaQue de letra não entende
Nada pensa de si mesmoNão possui sua questãoE se acha ainda cultoNo saber do estrangeiro
Como tolo é tal saberServirá só para nadaO pensar de outro povoSem o seu aqui pensar
Faz-se vão seu conhecerSem razão que seja suaPois anula o seu papelDe ser luz a quem não vê.
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Metropolitano
A cidade é um mar de ruídosUm mar sem luar e sem solUm grito de guerra sem causaDum lado pra outro a correrSem tempo de não ser em vão.
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Milagre 1970
Gasolina... era baratoDava até pra teto e chãoCarro e chão assim regadosPão à farta concessão
Esso sempre numa esquinaEu garoto ainda lembroDa fartura azul comumQue durava até dezembro
Mas também a gente lembraGás em bomba e explosãoTão brincando a morte vinhaMuito corpo teve à mão
Bem dizia o fardadinhoTão bonzinho e tão cabal“Cada qual que tome vinhoQue não sinta a bordoadaQue não morra à cacetadaQue apanhe só um pouquinhoMas confesse no final”
“Para o carro a gasolinamas pensar não se atura,mundo em crise não triturameu país que não declina”
Tanta coisa aqui haviaTé Tio Sam por cá andavaNos brasis do tudo tinhaNo futuro a que buscava
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Milagreiro bom sambistaSe famou por mundo aforaNo pensante deu sumiçoSem jornal nem ver a hora
Mas durou o sonho poucoPois que foi-se já emboraSó deixando ao povo o trocoQue tornou país infladoQue fundou nação devendoE findando em hoje atadoSe pergunta em se doendo:- Que milagre salva agora?
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Música na Rua
Vêm beijar-te doces cantosTernos sons nos ares teusBom batuque samba, rodasTudo enfim que faz-te ser
Vem de ti também cançõesDos coqueiros que balançamDos saveiros na baíaNum gingado sob a noite
Das estrelas vem-te brilhoNo teu mar beleza moraPele negra, dentes alvosFaz a graça do teu filho
Vem de ti porém tristezaQue insiste no seu cantoDos pequenos que da ruaFazem casa pais e vida
Dos pedintes na calçadaMolambentos sobre o lixoQue se amam na marquiseQue se matam na encosta
Da menina qual madame Com convite na esquinaAdestrada pela fomePro amor que chama arte
Sempre em ti o belo vêemMas tristeza é teu haverTeu cantar de tão soturno
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Busca em festa se esconder
Vêem-te assim com alegriaQual vitrina sob o solMil folias mil encantosMil festejos na Bahia.
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O Lixo
O lixo estão revirandoProcurando o pão da vidaCarne e fruta apodrecidaDe restos se alimentando
O cão e o homemMulheres e gatosCrianças e ratosQue juntos já comem
Remexendo o lixo, animaisLixo burguês, egoístaLixo sujo, capitalistaQue os trata como iguais
O lixo consomem, destroemOs filhos das servidõese pródigas dominaçõesUsinas constroem
Estão revirando o lixoDos palácios, casarõesDas favelas, barracõesDo sistema... de lixo.
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Samba da Vida
Cá no morro um pinho roucoDe compasso firme e forteGeme ao canto que é poucoDum mulato já sem parteNesse mundo branco e oco
Logo ao pinho vem se unirUm pandeiro, um tamborimE atabaque em bom bramirContra a vida tão ruimQue ora castra sem ferir
Mas tristeza vai-se emboraO bom samba não suportaSamba a outra e a senhoraSamba a casa sem ter portaSamba a vida o grande agora
Cá a gente é uma famíliaDe cachaça pura e quenteDe criança que tem filhaE o samba em lua ardenteTorna dor em maravilha
Pois batuque é alegriaDesse povo que é tristeE que luta todo o diaContra a vida que insisteEm somente ser folia.
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Pretexto Brasiliense(a ritmo de zabumba e triângulo)
A AIDS ora mata e é sabidoEntre os povos lá do norteOnde o mal é difundidoQue é doença de má sorte
E o povo cá do morroSabe lá o que é isso?O doutor lhe dá socorro?O cura é feitiço
Cá se morre é de navalhaDe um bamba e de valenteSe mulher ciosa ralhaVê morte de repente
Morre muito é de cachaçaTiroteio com políciaCapoeira roda sem graçaMas é morte com perícia
De malária nem se falaMorre tanto que nem digoÉ mosquito em muita valaDe esgoto e de perigo
E essa febre amarelaDizimando o povo pobreZé do barro e da tramelaDando duro por um cobre
Mas maior de toda morteÉ a fome assassina
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Mata o povo que sem sorteVai seguindo sua sina
Mata o velho e o anjinhoQue nem sabe o que é vidaQue não teve um carinhoJá nasceram na ferida
É assim que o povo morreNesta terra de mazelaE a AIDS já percorreNosso rádio nossa telaDivulgando nova açãoDum governo preocupadoPara o povo sem ter pãoQue já morre até calado.
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Sertão
Dois olhos miúdosNas trevas percorremPautados mundosDe letras que dormemSonos profundos
A letra não falaOs olhos não ouvemA boca se calaE a mente de nuvemSó traz chuva rala
Se letra fosse fumoQuem sabe cachaçaVeriam num rumoSeu gosto sem graçaO sentido e o prumo
Mas letra é letra sóNão lhe serve para nada“Isso é coisa de doutor”,Diria o camaradaDo roçado e do cipó.
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Sincopado
O samba em compasso binárioBatendo ora fraco ora forteÉ o grito latente e diárioDum povo na dor do seu corte
Tão belo porém é sambarContente ardente e festivoQue o mundo jamais saberáQue seu criador é cativoE samba pra se libertarOu samba mostrando estar vivo.
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Sufrágio(do Sertão à Zona da Mata)
Cê vote em meu filho, compadreMenino é tão bom que nem digoRapaz de vigor e coragemMancebo de garra e sabido
Só disso que o povo precisaCoragem pru’m tudo mudarSó nele cê vote, compadreFarinha te mando levar
Por bem que te digo, colegaPor todos aqui da seçãoVotar no menino é negócioSenão vai-se ver demissão
Amados pastores amigosConselho que dou não de meu:Votai no menino dotadoCom todo que cá congregadoPois ele é o homem de Deus
Bem quero eleger o meninoMais nada pra mim levareiQue sinto no peito é a leiQue nada se muda ao acasoVotai no menino dotadoQue tudo rirá outra vez
Teu neto não quer o Senado?Teu genro mandar em soldado?Já sabes então o recado:Do gado lá do seu pasto
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Me veja dez mil de votadoPro jovem chamado dotado
Depressa somai os folhetosRogai sim a Deus o SenhorSe eleja mancebo com honraQue seja pra sempre penhor
Que nada de fraude se vejaSe veja somente justiçaMas vindo porém o incertoQue põe o mancebo na riscaEnchei de pontinhos a folhaQue encho teu lar de comida
Mancebo destarte se elegeNa glória de todos afinsQue enfim reunidos em risoPor causa do povo sem sisoNa súcia-família-colégioCelebram por anos sem fim.
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Vil
Não exalto a minha terraNem canto no meu versoPois de que me serviriaO louvor a terra ricaSe seu filho envilecidoPela mão do Norte “amigo”Não a tem como deviaE nem tem como a ter?
O que canto é a revoltaDe um povo que nem sabeDa corrente que o prendeE é debalde seu trabalho
O que louvo é a sediçãoContra o jugo desigualPelo povo que não sonhaPor porvir no seu quintal.
“No dia da alegria, seja feliz. No dia da tristeza, medite. Deus fez tanto um como
outro, para que o homem não saiba o que lhe virá no amanhã”.
Eclesiastes 7:14
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Autobiografia(apresentação de um desconhecido)
Nasci na Bahia do sambaTambém onde a Bossa nasceuNo Sul do Estado contudoCresci no cacau amareloQue Jorge tão bem descreveu
Surgi nesse ano de GolpeQue fora qual fase de trevaCegueira porém se nos veioQue vimos azul o cinzentoE assim nesse infante momentoBrinquei de soldado e de rei
Na Copa de 70 fui festaNação em fervor se achavaFardado de farsa mandavaLegando problema ao futuroMas sempre saltando do muroFugi da escola pra vidaCom muitos garotos na lidaVoltando com galos na testa
Corri com saberes de ruaVidraça quebrando com risoEnquanto um Brasil orgulhosoNa crise do óleo preciosoGastava qual pródigo filho
Piano me foi desistênciaLeitura gerava alergiaPreguiça me dava a escritaSeis anos custou o ginásio
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Com tom de amor-paciênciaDe mãe, e é bom que se diga,Findei os estudos primáriosGerando inaudita alegria
Só "rock" importado ouviaPalavras estranhas do NorteTé quando o Brasil me despertaNa dor que o Chico cantavaFazendo-me ver descobertoQue sonho-país terminavaQue triste era o povo que ria
A dor que a gente exalavaMe veio ser dor já de meuMorri para o eu isoladoMe vi num poeta acanhadoVersando mal verso por Deus
Tentei um comércio de roupasBoutique de malhas e linhosSenti que não era lojistaQue nada de venda sabia
Mulheres-amores bem tiveMas tudo é segredo de EstadoUm dia porém num achadoEncontro essa fêmea queridaQue hoje comigo conviveNa cama na mesa no versoNa dor e na festa da vida
Amores também que abrigoSão samba e batuque cantadoBarzinho, conversa de amigo
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Silêncio porém no meu quarto
Depois bacharel me formei(em vez de poesia, turismo)De tanto viagem estudarIgualmente hotel e transporteRumei à América do NorteE lá resolvi foi ficar
Três anos mais tarde retornoPaís promissor encontravaCom plano Real que de fatoFuturo ao Brasil ofertava.
Então ao ensino me dava(conforme ao ensino me dou)Alunas, alunos qual filhosNa lida de ser professor
E enfim encerrando à baianaDiria que tudo é bobagemQue vida se vive é vivendoQue verso sem vida não agePortanto, pra luta, malungoDeixemos a prosa de lado.
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Caduco
Quem zela somente seu tempoDos tempos não tem o primorDa vida só vê um momentoQue traz a saudade em sabor
Porém o viver é um motoCom ele é preciso girarsomando vanguarda a remotoTal velho e tal jovem pensar
Quem pois é avesso a modernoSe fecha no tempo que é seuE velho sem cã e sem ternoSe há como quem já morreu.
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Como um Rio
O poema é como um rioEm meandros de linguagemCarregando no seu leitoUma vida num só fio,Espalhando pela margemO prazer e a dor do peito
Pra beber da sua águaÉ mister porém sentirA beleza em toda dor,Navegar em sua mágoaVendo a vida assim fluirPela letra em som e cor.
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Criar(a dor louvada)Se distante assim me vejoNesse mundo em que sou euSó por ser-me vivo muitoPenso o tudo enquanto meu
No pensar me tenho grandeFlor se faz a vida em mimTé que enfim me sai morosaFeita versos pro porvir
No porvir é pois amadaCada dor bem lhe lerãoVer-me-ão tal brio alado- não mais sonhos como então
Mas então não mais sereiNada a mim se me daráPois em sonho habitareiQual agora em meu sonhar.
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Engano
Mui pobre e vazio é o serQue ergue o riso e o peitoSem nunca cair ou sofrerSe olhando do alto perfeito
Pois anda à flor duma águaE a vida no fundo é que estáUm fundo de dores e mágoaQue fere mas faz transformar
E eleva e nutre enriqueceO homem em tudo enterneceDe grande que ela se faz
Enquanto que a vida sem dorSe engana no mundo de florE nem de se ver é capaz.
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Estar e ser(to be or not to be)
Quando saio sou inversoEm portar-me bem eu vouSendo tudo o que se pensaMas um vácuo do que sou
Em chegando é que porémSendo o mundo no pensarNão sou nada que convémE sou todo em meu criar
Em criando sou eu mesmoQue me venho esmigalharSobre a folha, pelo ermoQue sozinho quis formar
Onde a pena é uma amigaQue rabisca e me revelaE me sente sem que digaQue sem ela eu nada sou.
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Existência
Há um vácuo a entreterQue se diz ser amizadeE um amor a envolverMas não ama de verdade
Que viver o dessa vidaQue não pára pra pensarEm ser tudo na investidaSendo um nada no falar!
É mister ser como a luaQue se mostra inteira nuaLogo após o dia ido
Sê sensível ao viverPois senão vais perecerSem deveras ter vivido
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Filosofia
Pra bem viver e ser a vidaEm si não muito importa terE sim bem vivo estar atentoO bem vivê-la é todo haver
O que se diz que falta fazÀs vezes nada em si traduzSenão pra quem a venda trazAlgum trocado e luxo e luz
O teto-abrigo em tom silenteAmor-ternura à cor d'amadaArdor de peles flor do ventreAfeto doce e paz se veja
E mesmo parco o teto ditoEmbora forte em bom tijoloAli habite a rica rimaEm que se olhe a terna amigaEm que se cante a vida em coro
A dor também paixão e causaAté quem sabe à luta à morteEterno fato à vida sejaE tal razão produza a sorte
À mesa o nada falte ou sobreO tudo à mão porém se estendaA dar riqueza e bem sem tê-laEncher de graça a quem mais pobre
À farta seja a lida brutaEm sol suor até cansaço
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A fim porém de ter-se largo(em vez luxo e fútil bem)Um bom saber que tudo escruta
À rua haver-se e ser o povoAmar-lhe sempre o que produzO belo o todo o dom do novoO livre estilo o ser verdadeEm meio a arte a vida sejaEm meio a cor ciência e luz
A Deus querer sem forma-formaAmigo tê-lo em prece e festaO choro o riso o nada e tudoEm si lhe sejam culto e norma
Enfim a vida assim vivê-laO mais virá n'aurora e noiteA cada passo um gosto um soproA cada sopro um nascimentoA cada alento um dia grandeA cada dor um riso fartoAté que finde em longo ocasoOu finde agora enquanto penso.
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Fingindo
O ente humanoNão é o que éE sim representaO que deve ele ser
No mar de fingirA dor vira risoE até o que senteVivido não é
E a vida se vaiFingindo que é boaEnquanto o fingirJá finge que é vida.
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Insegurança
Todo ser que necessitaAmiúde doutro alguémÉ também o que hesitaEm ficando sem ninguém
É aquele que sem vidaSó a tem em outro serLogo a sua tão queridaInda vai de si nascer
Não se dá que solidãoÉ a vida concentradaQue germina como grãoFlorejando té do nada
Multidão é o opostoPois só faz estagnarO sorriso pôr no rostoSem em nada meditar
E assim o que sozinhoÉ bem firme no andarMas o outro do vizinhoTudo espera sem pensar.
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Intemporal
Que é a vida senão um só fio?Dor e prazer a fiar é que vemCedo se vai carregando tambémTodo bom sonho já feito vazioPor se pensar e um nada fazer
Por se pensar e um nada fazerOco se esvai o viver e sonharLogo se finda a razão de amarTudo de belo que move o viverSer e fazer o que pode ficar
Ser e fazer o que pode ficar(como se tudo findasse no ora)é que já pode o viver alongarTorna tal fio que nada demoraN'algo morando no seu eternal.
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Lágrima
Feliz é aquele que choraPois sabe verter sua dorNa gota de sangue sem corTão logo provendo melhora
Quem sofre sem choro porémVertendo só versos que fiaNa dor tem demais agoniaQue faz-lhe penar qual ninguém
Seu pranto na folha cai lentoCom letras da dor que dizimaJuntando na poça da rimaTristeza, beleza e alento.
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Noite
Agora escureceA lua no marJá brilha cheiaE brilha belaComo ela só
Porém na noiteQue há em mimNão se vê luaE nem o brilhoDo alvrecr
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Parto
Pensa a vida pensa o mundoVive o mundo sofre a vidaVê-se em dores vê-se parco
Vêm-lhe gritos da entranhaDa entranha vem-lhe algoLentamente corre e gritaCorre e grita mas silente
Toma a pena, risca doresRisca sangue, risca morteRisca choro e verte vida
Toca a vida com ternuraNos contornos do formatoDá-lhe corpo dá-lhe soproSuspirando pós o parto
Vai amá-lo, com certezaVão amá-lo, não se sabeMas enfim se faz alentoMas enfim se faz vivente- Vinte versos qual a vida,Vinte versos tão somente.
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Pensando
Viver comumente e pensarSão mundos distantes em lutaQual rir e chorar se opõemQual noite e o dia a raiar
Sorrisos, amigos colhendoEstados de vida implicamPorém é no só se ficandoNa dor que o mundo espreitaQue faz-se crescer em si sendo
Contudo qual dor que se mostraNa vida difícil seguindoBem gera prazer no pensandoQue cria viver mais divino
Tratados de como portar-se,Valores de grupo sufocamEsvai-se mui tempo de vidaE nada se faz de melhora
Mister é sonhar sem o sonoO mundo dos homens mudarPra tanto é preciso sofrerViver por fazer e pensar.
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Poética
O poeta é quem é sóE em solidão vastaTraduz sua alma
E em si debulhaA vida e o nóE vive o versoCom dor e mágoa.
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Revelação
Quando a vida faz-me bemE de todo estou sem dorMeu pensar se vai em corMas um vão é que contém
Se contudo vem a guerraDe em mim me ver aflito,Penso sempre o infinitoQue me eleva desta terra
Sendo assim o meu penarVem dizer que ser eu souPois na vida onde estouConhecer se faz na dor.
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Risco
Em face do bem por fazerSe penso demais não o façoPensando me vou sem quererTemendo seu fim seja laço
Porém se não faço o que devo(o bem que aos olhos desponta)Não posso saber se apontaCaminhos de dor ou enlevo
Pensar é cautela de fatoMas muito pensar nada fazViver é somar cada atoQue a vida de novo não traz
Pois todo fazer que esquivoJamais o meu ser saberáMas dor ou prazer que bem vivoQual parte de mim me será.
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Sabedoria
Quem acho que sou se maldigo esta vidaPor simples estorvo no meu caminharSabendo que vem ao meu ser ensinarMostrando a razão que me foi escondida?
Gemendo gritando bem alto essa dorDe nada me serve senão pra sofrerSe penso porém no seu grande porquêDo fel já renasço pra doce sabor
Quem busca portanto viver a belezaFugindo da dor que a vida bem trazRepousa no leito do sonho da pazMas sem o saber que provem da tristeza.
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Sentir e Ver
O bonito quer ser beloNo portar e no sentirQual beleza fosse formaQue se pode bem medir
Se porém a forma fosse, Cujo fim é sempre o pó,Vida breve então teriaSem gerar prazer maior
Mas deveras na belezaNada tem de ver tocarPois somente no sentirVem seu brilho revelar
E por fim o brilho seuNo viver que agraciaÉ que faz o belo serIrisando feito o dia.
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“Quão doce é o teu amor,minha irmã, noiva minha!
quanto melhor é o teu amordo que o vinho!
E o aroma dos teus ungüentos mais doque o de toda sorte de especiarias”.
Cantares 4:10
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Amoramigo
Oh querida amada minhaQue de mal bem me fizesteQue o corpo a ti só buscaQue minh'alma aqui suspiraPor te ver e tudo ser-te?
Que magia tens contigoNessa carne doce escuraEncerrando a graça amigaDo teu ser que me habitaDa peçonha que me cura
Terna dança em mar d'amoresLuta agreste sem decoroTal me é teu fogo insanoTeu arfar em mim guardadoTeu ardor que tanto amo
Oh menina amiga minhaQue tão bom é ter-te ao ladoSer-te par ao teu cuidadoVer-te assim qual terna manaNo meu ror de eu sozinho
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Que beleza tens no jeitoTão baiano tão trigueiroOh mulher criança adultaQuanta vida em ti avultaQuanto abrigo no teu peito
Quero em ti me ser a lidaSer-te dor amor encantoPaz que foge mal que duraGraça afeto mão ternuraNa paixão sorver a vidaPra contigo bem vivê-la.
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Confissão
De princípio eu bem te olheiDe mui longe em meu pensarSem notar que me houveraConhecendo um doce serQue em ti se fez brotar
No depois porém me viaJá me vendo em teu olharQue me trouxe do remotoToda cor que quis acharIrisando um novo dia
Que de claro fez-se beloMeu querer virou sentirEm te ter formou-se um eloComo as letras deste versoQue me enlaçam hoje a ti.
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Fugaz
Que pensas da vidaInsana e tenraMulher em florSenão no amar?
Tu és toda firmeE tens alma boaE gozas aindaDo alvor em tua carne
Porém o que ésPra teres porvirE seres a vidaSem pele tão bela?
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Menu à Baiana
Se queres querida guardar no teu corpoTextura de quinze firmeza doçura,Copie a receita do "maitre" calouroQue ama cozinha carinhos amoresE mais teus amores que bolos e vinhos:
Primeiro é preciso se ter apetiteSem que não se vive a delícia da mesaPorém etiqueta e sabor não se rimePois sigo uma rima que tudo permite:- Bem mais que convir é preciso nutrir(tal como te amar é bem mais que viver)Portanto comamos com rito de risoSem jeito sem siso qual nossos afagos
A hora é bem cedo d'aveia, do leiteBranquinho que deixa a morena supimpaTão belo teu lábio na manga molhadoQue uvas e pêras também te receito
Mel puro e cenoura somado a cuidadoNa face te geram saúde e deleitePorém a ternura bem mais que meladoDeveras de unte qual finos azeites
Moquecas d'arraia ostrinhas e peixePra ti recomendo mas só com ressalva:- sorriso nos olhos, benzinho do ladoSem pressa sem data sem hora marcada
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Também sob a mesa que pés se alisemSem pois esse mimo não dura o almoçoTampouco se atura viver numa criseSem beijo sem torta carinho e sem doce
Mas sempre depois dessa hora de gulaMister é sair pra uns passos, a doisN'aragem dos mares coqueiros d'areiaE até lua cheia subir às alturasFicar em silentes momentos a sós
Chuveiro na volta descanso beijinhoPreguiça dosada medida à baianaBatidas de coco vermutes e vinhoAmores à farta cansaço cochiloe até um sussurro se integre ao menu
Depois a conversa pudins e cocadasEm meio a resenhas e bolos e risosA noite dum salto se faça alvoradaTrazendo bom sono com ondas e brisasNem sempre dormida quão sempre feliz
Mas tudo é um nada se falta à receitaPetisco de amor e essência de amigoSem que não se vive o amor verdadeiroSem que não se nutre da vida perfeitaQue terna e gulosa se faz num sigiloQue ora prescrita só resta fazê-la.Portanto à vida, à saúde e beleza.
Mú
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Mergulho
Em ti imergiBuscando o tesouroDe pedras-amoresMas nada encontrei
E nem me molhouTu'água em azul- não era senãoUm mar de palavras.
Mú
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Atemporal
Um sol se nos abre e a noite dissipaCom asa nos leva pra dentro de nósMuralhas caíram ruíram paredesNascemos de novo na vida que gritaQue grita alegria sem medo de dor
Sem medo de si vê-se bela somenteQual ave flutua no mar desse arQue dantes olhado jamais fora vistoQue dantes já visto jamais enxergadoNo prisma "pureza" que a nós foi legado
Agora vadios em nós nos amamosA vida adentramos em corpos que suamCom olhos que tocam nos vemos no outroCom livres palavras dizemos que somosQue somos a mente e o corpo do amor.
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Miss(parca aproximação do sentido de sau-dade)
Oh mulher amiga minhaBom te ter na mente vivaQual em mim te ver mais lindaNo sonhar tão desejada
Cá de longe és minha pertoPois te amo a cada instanteBem no que também me firoCom saudade e dor no peitoQue morosa vem cortante
Mas que doce a dor que tenhoQue suave o corte o prantoForma assim em que porquantoSinto a ti concretamenteNão na alma em si somenteMas em derme carne e sangue
Vida abrigo em ti alegreMesmo agora em triste cantoSonho a ti no meu poenteTé que venhas como encantoPr'amanhã em vez de prantoSer-te pele e corpo sempre.
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Prescrição(para solidão e mal-estar)
Se querem bem juntos viver esta vidaPreciso somente é que sejam amantesNem sempre sorrir ou amar como antesPorém no amor ser a paz e o prantoPorque sem o pranto o amor não rebrilhaTampouco sem a paz há lugar pro encan-to
Mas sempre lhes vá o amor que labutaQue sua que cuida que zela e exortaQuem pois afinal por melhora só lutaPrecisa de bem que lhe seja conselhoBem sério maduro sisudo e ordeiroQue ame porém sem pudor e sem ordem
Com fritas, filé e comida a requinteBem como dispor os talheres na mesaDe nada conquista o amor-naturezaQue busca bem mais o arfar e delícia.Que mostre-se pois a querida querendoTambém amamente o seu bem já cresci-do
Sobrinhos, vizinhos, parentes, amigosEm si não são males, contudo cuidadoBom tempo vos levam de horas baralhoSalgados bebidas ruídos enfadosTé quando o amor se chateia caladoE assim enfadada já dorme de lado
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Presentes e flores e roupas e jóiasAmores alegram com cor e perfumeMas haja n'agenda do amor amiúdeBem mais um lhe dar-se de corpo e de alma(com dengos e gulas, ardores e calma)Que tudo que há na vitrine do mundo
No mais na fartura ou na falta de tudoTé falta de leite e de leito macioQue boca consuma o filé ou batataQue cama se faça n'areia no pisoMas sempre o amor seja veio do rioCom fogo com jogo e calor à exata.
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Proposta
És tão linda, amiga, tão livre que te invejo[as asas d'alma
Tens em ti a leveza e inconstância da[vida que vivemos
Ventos qu'entoam canções, temporais[que roubam calma
Aventuras de amores que tive, sonhos [do amor que anseio
Busco em ti porém só laço, e malha,[e corda que me prenda
Atar-me ao teu corpo liso, trigueiro...[acorrentar-me em ti
Mergulhar em teu mar de fogo insano,[prazenteiro, denso
Ver-me em ti como que em mim próprio,[cativo, prisioneiro
Não me sei se usurpo ou tenho-te[por direito... por fato
Teu sorriso todavia é-me doce,[justifica-me o ato, a posse
Enche-me de prazer como o tempo[que já nos ouviu segredos
Com'a febre que já nos roçou a pele [porosa, eriçada
Que fazer ou não fazer pra te ter[qual parte minha?
Como ter-te, perto e longe, feito dor[que bem me faz?
Como a pele vir tocar-te sem amar-te[a alma tenra?
Mú
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Como assim em ti viver-te sem beber-te[a graça, a paz?
Que será que a mim fizeste?[Por querer-te pois te quero.
Deixa ser-te então sorriso, vida alegre[em ror de amores
Mares, cores, beijo doce, sol que[arde em noite clara.
No teu corpo assim silente, quando[em ti já teu me faço
Na tu'alma assim contente té que[enfim me venha a paz.
Mú
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Reflexo(amar ou amar-se?)
Não se ama um outro serNem se serve a ele amorPra lhe ser calor e vidaCompletá-lo e dar prazer
Pois se ama é por amar-seEm si mesmo em forte amorQue do outro busca apenasTernos meios de cuidar-se
Se por fim assim não fosse(esse amor se amando a si)Sempre o outro então queriaQuando até ferir lhe fosse
E se o outro assim se busca- mesmo sendo um mar de dor -Não se mostra o quanto o amaMas só mostra um não amar-seQue dizima o próprio amor.
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Saudade
Esperar-te contra o tempoNo pensar que só te buscaFaz-se paz em sonho doceFaz-se dor em ânsia lenta
Vem-me gozo no sentir-teNo viver-te cada instanteDo teu corpo embora longeDessa mágoa embora perto
No querer-te vivo poucoPor não ver-te morro muitoPois te vejo qual a vidaPois renasço só no ter-te
Na saudade assim me firoNo ardor por encontrar-tePra dizer-me que te queroque em ti me faço lassoDescansando dessas doresPara enfim sorver a paz.
Mú
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Silêncio
Que segredo tens nos olhosQuando falam-me silentesCom mistérios e ternurasInvadindo a alma minha?
Que me vêm assim dizerSe me chegam com verdadesEntornando o que bem sentesSem em nada te esconder?
Donde sai seu meigo brilhoQue a mim se faz espelhoOnde vejo-me te vendoComo fôssemos um só?
Que será que são de fatoSe os vejo já tão belos?...e lhes quero como nuncaPor querer somente quero
Pois razão temor e medoHoje enfim não dizem nadaMas teus olhos e meu versoNo silêncio se enlaçam.
Mús
ica
naru
ae
outr
ospo
emas
Sam
uel
Matto
s