As Síndromes Geriátricas

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    Promoo e prev

    8. Grandes sndromes geritricas

    Ana Lucia Vilela

    Edgar Nunes de Moraes

    Valeria Lino

    Dona Oflia tem 85 anos, IMC 21, mede cerca de 1,54m, e mora comsua irm Conceio, 91 anos, na rua Sergipe n. 15. Ambas so vivas

    e moram juntas h 10 anos. Dona Oflia tem histria de cirurgia car-

    daca h cerca de oito anos e estava evoluindo bem at dois anos atrs,

    quando iniciou com lapsos de memria e tornou-se mais dependente

    da irm para resolver os problemas da casa, como fazer compras, con-

    trolar as finanas e sair sozinha. Sempre foi excelente cozinheira, mas

    nos ltimos dois anos est tendo dificuldades para acertar o ponto

    dos principais pratos que tinha o costume de fazer. Ora exagera no sal,

    ora na pimenta. At ento, este esquecimento estava sendo atribudo

    desateno e velhice. Todavia, no ltimo ano, Dona Conceio ficou

    mais preocupada, pois a irm comeou a acusar a empregada de roubo e

    desconfiar da vizinha, que, segundo ela, passou a espion-la quase todo

    dia. A vizinha deixou inclusive de freqentar a casa das duas irms, pois

    percebeu a mudana de comportamento da antiga amiga. Dona Oflia

    j havia ido consulta mdica, expondo estas queixas e o mdico falou

    que tudo poderia ser explicado pelas alteraes prprias da idade. Dona

    Conceio ficava intrigada com tudo isso, pois mesmo mais velha que

    a irm era absolutamente independente para tudo: saa sozinha para

    fazer compras, cozinhava sempre que necessrio, lembrava-se das datas

    mais importantes, freqentava a igreja, enfim, fazia tudo o que se dispu-

    nha a fazer. O nico problema de sade de Dona Conceio tinha sido

    um cncer de intestino, diagnosticado oito anos antes, por um exame

    rotineiro de pesquisa de sangue oculto nas fezes. Foi confirmado o cn-

    cer e a cirurgia (hemicolectomia) foi um sucesso. Alm disso, tem uma

    artrose no joelho, facilmente controlada com uso de paracetamol.

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    Dona Conceio comentou com a vizinha suas preocupaes, que tam

    bm concordou com a necessidade de conversar com o agente comuni

    trio e agendar uma consulta no posto.

    ATIVIDADE 1

    Como voc abordaria as queixas cognitivas de Dona Oflia? Ser que tudo podeser atribudo ao envelhecimento normal?

    Envie para o tutor as suas consideraes.

    Incapacidade cognitivaA cognio o conjunto de funes cerebrais formadas pela memria

    (capacidade de armazenamento de informaes), funo executiva

    (capacidade de planejamento, antecipao, seqenciamento e monito

    ramento de tarefas complexas), linguagem (capacidade de compreens

    e expresso da linguagem oral e escrita), praxia (capacidade de executa

    um ato motor), gnosia (capacidade de reconhecimento de estmulos visu

    ais, auditivos e tteis) e funo visuo-espacial (capacidade de localizao

    no espao e percepo das relaes dos objetos entre si). O funcionamento

    integrado destas funes nos permite interagir com as pessoas e com o

    mundo, com o objetivo de resolvermos as dificuldades do cotidiano, responsvel pela nossa capacidade de decidir, que, juntamente com o

    humor(motivao), fundamental para a manuteno da autonomia

    A individualidade resultante do acmulo de conhecimentos da nossa

    histria e da cultura que herdamos. A perda da cognio ou incapaci

    dade cognitiva , portanto, o desmoronamento ou o apagamento da

    identidade que nos define como ser pensante.

    O envelhecimento fisiolgico no afeta a cognio de forma significa

    tiva. Ocorre uma atrofia do sistema nervoso central, o que pode ser per

    cebido em toda tomografia computadorizada de crnio. O lobo frontaparece ser a regio mais acometida, de forma irregular. As nicas con

    seqncias so maior lentificao no processamento cognitivo, reduo

    da ateno (dficit atentivo), maior dificuldade no resgate das informa

    es aprendidas (memria de trabalho), reduo da memria prospec

    tiva (lembrar-se de lembrar) e memria contextual (dificuldades com

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    detalhes). Estas alteraes no trazem nenhum prejuzo significativo na

    execuo das tarefas do cotidiano. As alteraes dos rgos dos sentidos

    (viso, audio, entre outros) dificultam o acesso s informaes e ao

    aprendizado.

    Vimos, na seo anterior, que as atividades de vida diria, particularmenteas instrumentais, avaliam as funes cognitivas de forma indireta, mas

    completa. Queremos dizer que a independncia nas AVD instrumentais

    um excelente indicador de bom funcionamento da cognio.

    ATIVIDADE 2

    Identifique, no quadro a seguir, trs Atividades Instrumentais da Vida Diria(AIVD) que voc acha que mais exigem o funcionamento harmonioso das fun-es cognitivas. Justifique sua escolha e envie para o tutor.

    Atividades Instrumentais de Vida Diria

    Preparar as suas refeies.

    Tomar os seus remdios corretamente.

    Fazer compras.

    Controlar o seu dinheiro ou finanas.

    Usar o telefone.

    Arrumar a sua casa ou fazer pequenos trabalhos

    domsticos.

    Lavar e passar a prpria roupa.

    Sair de casa sozinho para lugares mais distantes,

    usando algum transporte, sem necessidade de

    planejamento especial.

    Desta forma, o envelhecimento normal aquele apresentado por Dona

    Conceio, que mantm sua capacidade de resolver os problemas do

    dia-a-dia, embora de forma mais lenta. Por outro lado, Dona Oflia apre-

    senta lapsos de memria preocupantes, pois esto trazendo importan-

    tes repercusses no seu funcionamento habitual. Ela no mais capaz

    de resolver os problemas da casa, como fazer compras, controlar as

    finanas, sair sozinha e cozinhar. Portanto, no podemos atribuir estasmudanas ao envelhecimento normal.

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    Figura 1 Esquema do esquecimento

    Fonte: Moraes (2008).

    Para refletirSe o esquecimento de Dona Oflia no normal da idade,estamos diante de uma paciente com dficit cognitivo aesclarecer. Como podemos confirmar esta hiptese?

    Os testes de triagem cognitiva so muito teis para a avaliao da fun

    o cognitiva. Voc deve utiliz-los rotineiramente para esclarecimento

    da suspeita de incapacidade cognitiva. O diagnstico de incapacidade

    cognitiva pode ser feito pela histria do esquecimento relatada pelo

    paciente e confirmado pelos familiares, associada a alteraes nos tes

    tes de triagem cognitiva e dificuldades na realizao das atividades de

    vida diria. A avaliao neuropsicolgica formal pode ser necessria em

    alguns casos. No transtorno cognitivo leve, o dficit cognitivo no afet

    as AVD.

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    Figura 2 Testes de triagem cognitiva

    Fonte: Moraes (2008).

    Em relao s AVD, Dona Oflia independente para o autocuidado

    (ndice de Katz). Ver Quadro 1.

    Quadro 1 Resultados do ndice de Katz de Dona Oflia

    Independncia Dependncia

    Banhar-seUsa adequadamente

    chuveiro, sabo e/ou

    esponja.

    No recebe assistncia no

    banho. Independente para

    entrar e sair do banheiro.

    Necessidade de ajuda

    humana para lavar

    algumas partes do corpo

    (costas ou pernas) ou

    superviso.

    Recebe assistncia no banho para mais de uma p

    do corpo (ou no se banha).

    Vestir-seApanha a roupa do

    armrio ou gaveta, veste-

    se e consegue despir-se.

    Excluem-se calados.

    Independente para pegar

    a roupa e se vestir, sem

    assistncia.

    Pega as roupas e veste-se

    sem assistncia, exceto

    para amarrar os sapatos.

    Recebe assistncia para pegar as roupas ou vestir

    ou fica parcialmente ou completamente despido.

    Uso do banheiroLocomove-se at obanheiro, despe-se,limpa-se e arruma aroupa.

    Vai ao banheiro, limpa-se e arruma as roupas sem

    assistncia (pode usar objeto para apoio, tal como

    bengala, andador ou cadeira de rodas e pode

    manusear noite a comadre ou o urinol, esvaziando o

    mesmo pela manh).

    Recebe assistncia para ir

    ao banheiro ou limpar-se

    ou arrumar a roupa aps

    a eliminao ou para usar

    comadre ou urinol noite.

    No vai ao banheiro

    o processo de elimin

    Transferir-seLocomove-se da cama para

    a cadeira e vice-versa.

    Move-se e sai da cama to bem quanto senta-se e

    levanta-se da cadeira sem assistncia (pode usar objeto

    para apoio tal como bengala ou andador).

    Move-se ou sai da

    cama ou cadeira com

    assistncia.

    No sai da cama.

    ContinnciaControle esfincteriano.

    Controla eliminao

    intestinal e urinria por si

    mesmo.

    Tem acidentes

    ocasionais.

    Superviso ajuda manter controle urinrio e intes

    fralda ou cateter usado ou incontinente.

    Alimentar-seConsegue apanhar a

    comida do prato ou

    equivalente e levar boca.

    Alimenta-se sem

    assistncia.

    Alimenta-se sozinho

    exceto pela assistncia

    para cortar a carne e

    passar manteiga no po.

    Recebe assistncia para alimentar-se ou aliment

    parcialmente ou completamente pelo uso de tub

    fluidos intravenosos.

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    Por outro lado, apresenta comprometimento importante nas AVD instru

    mentais. Observe que ela praticamente no capaz de fazer nenhuma

    destas atividades sem ajuda.

    Quadro 2 Teste AVD de Dona Oflia

    Atividade de vida diria Sem ajuda Com ajudaparcial

    Incapaz

    Voc capaz de preparar as suas refeies?

    Voc capaz de tomar os seus remdios na dose

    certa e horrio correto?

    Voc capaz de fazer compras?

    Voc capaz de controlar o seu dinheiro ou

    finanas?

    Voc capaz de usar o telefone?

    Voc capaz arrumar a sua casa ou fazer pequenos

    trabalhos domsticos?

    Voc capaz de lavar e passar a sua prpria roupa?

    Voc capaz de sair de casa sozinho para lugares

    mais distantes, usando algum transporte, semnecessidade de planejamento especial?

    Os testes de triagem cognitiva confirmaram a suspeita de incapacidade

    cognitiva, como voc pode observar pelos resultados (Quadro 3).

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    Quadro 3 Teste Mini-mental de Dona Oflia

    Mini-mental Normal Dona Oflia

    Orientao temporal (05 pontos)D um ponto para cada item.

    Ano 1 0

    Ms 1 0

    Dia do ms 1 0

    Dia da semana 1 0

    Semestre/hora aproximada 1 1

    Orientao espacial (05 pontos)D um ponto para cada item.

    Estado 1 1

    Cidade 1 1

    Bairro ou nome de rua prxima 1 0

    Local geral: que local este aqui (apontando ao

    redor num sentido mais amplo: hospital, casa de

    repouso, prpria casa).

    1 1

    Andar ou local especfico: em que local ns estamos

    (consultrio, dormitrio, sala, apontando para o

    cho).

    1 0

    Registro (03 pontos) Repetir: GELO, LEO e PLANTACARRO, VASO e TIJOLO.

    3 3

    Ateno e clculo (05 pontos)1 ponto para cada acerto

    Considere a tarefa com melhor

    aproveitamento.

    Subtrair 100 7 = 93 7 = 86 7 = 79 7 = 72 7

    = 65.

    5 0

    Soletrar inversamente a palavra

    MUNDO = ODNUM.

    5 0

    Memria de evocao (03 pontos) Quais os trs objetos perguntados anteriormente? 3 0

    Nomear dois objetos (02 pontos) Relgio e caneta 2 2

    Repetir (1 ponto) NEM AQUI, NEM ALI, NEM L 1 1

    Comando de estgios (03 pontos)D 1 ponto para cada ao correta.

    Apanhe esta folha de papel com a mo direita,

    dobre-a ao meio e coloque-a no cho.

    3 3

    Escrever uma frase completa (01 ponto) Escreva alguma frase que tenha comeo, meio e

    fim.

    1 0

    Ler e executar (01 ponto) FECHE SEUS OLHOS. 1 0

    Copiar diagrama (01 ponto) Copiar dois pentgonos com interseo. 1 0

    Pontuao final (escore = 0 a 30 pontos) 30 13

    Quadro 4 Resultado do CERAD (Consortium to Establish a Registry forAlzheimers Disease) de Dona Oflia

    Lista de dez palavras do CERAD

    Normal Dona Oflia

    Tentativa 1 4 1

    Tentativa 2 6 3Tentativa 3 7/8 3

    Evocao de 5 minutos 3/4 0

    Reconhecimento de palavras 8 3

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    Quadro 5 Teste de fluncia verbal de Dona Oflia

    Flunciaverbal

    Normal

    Dona OfliaEscolaridade

    Analfabeto 8 anos

    Animais9 13

    5

    Frutas 4

    Quadro 6 Teste de reconhecimento de dez figuras de Dona Oflia

    Reconhecimento de dez figuras Normal Dona Oflia

    Percepo visual correta 10 6

    Nomeao correta 10 6

    Memria incidental

    Esconda as figuras e pergunte: Que figuras eu acabei de lhe

    mostrar?

    5 2

    Memria imediata 1

    Mostre as figuras novamente durante 30 segundos, dizendo:

    Olhe bem e procure memorizar estas figuras.

    6 3

    Memria imediata 2

    Mostre as figuras novamente durante 30 segundos, dizendo:

    Olhe bem e procure memorizar estas figuras.

    6 3

    Evocao de 5 minutos 5 0

    Reconhecimento de figuras 8 3

    Quadro 7 Teste do relgio de Dona Oflia

    Teste do relgioDesenhe um relgio com todos os nmeros e marcando 11h

    10min.

    Normal Dona Oflia

    0 Inabilidade absoluta para representar o relgio.

    O desenho tem algo a ver com o relgio, mas com

    desorganizao viso-espacial grave.

    2 Desorganizao viso-espacial moderada que leva a uma

    marcao de hora incorreta, perseverao, confuso esquerda/

    direita, nmeros faltando, nmeros repetidos, sem ponteiros,

    com ponteiros em excesso.

    3 Distribuio viso-espacial correta com marcao errada da hora

    4 Pequenos erros espaciais com dgitos e hora corretos

    5 Relgio perfeito

    Ao final da triagem cognitiva, podemos concluir que Dona Oflia apresenta dficit cognitivo significativo, confirmando o diagnstico de inca

    pacidade cognitiva.

    A incapacidade cognitiva (Figura 3) um diagnstico sindrmico

    apresenta quatro grandes causas (4 D): demncia, depresso, deliriume

    doena mental.

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    Figura 3 Os 4D da incapacidade cognitiva

    Fonte: Moraes (2008).

    Como se suspeita de demncia?

    Demncia significa a perda do funcionamento harmonioso das funes

    cognitivas e comportamentais, comprometendo a autonomia e a inde-pendncia do indivduo. A prevalncia de demncia estimada em cerca

    de 5% da populao idosa em geral e aumenta com a idade, dobrando

    a cada cinco anos, aproximadamente, aps os 65 anos de idade. Em

    Catanduva, no Brasil, a prevalncia de demncia foi de 7,1% entre os

    habitantes com 65 anos ou mais; 1,6%, entre os de 65 a 69 anos; 3,2%,

    entre os de 70 a 74 anos; 7,9%, entre os de 75 a 79 anos; 15,1%, entre

    os de 80 a 84 anos e 38,9%, entre os maiores de 85 anos.

    Segundo o DSM IV-TR, Manual de Classificao de Doenas Mentais da

    Associao Americana de Psiquiatria (2002), o diagnstico de demn-

    cia deve ser dado na presena de mltiplos dficits cognitivos, que

    incluem o comprometimento da memria e outra funo cognitiva

    (linguagem, funo executiva, gnosia e praxia). A repercusso deve

    ser grave o suficiente para comprometer o funcionamento social e

    ocupacional(atividades de vida diria) e representar um declnioem

    relao a um nvel anteriormente avaliado. O diagnstico no pode ser

    dado exclusivamente durante o curso de um delirium(confuso men-

    tal aguda), nem ser explicado por doena psiquitrica, como depresso

    maior e esquizofrenia.

    As queixas relacionadas memria seguem, normalmente, uma hierar-

    quia cronolgica. Inicialmente, o dficit secundrio ao comprometi-

    mento da memria e descrito como esquecimento para fatos recentes,

    perda de objetos, acidentes domsticos, desorientao temporal e espa-

    cial, e repetio de fatos, respeitando o gradiente temporal (memria

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    episdica recente, intermediria e remota). Com a evoluo da doena

    h maior comprometimento da memria, com empobrecimento do

    conhecimento do mundo, nomeao inadequada, discurso pobre e

    dificuldade de compreenso de conceitos. Em fases mais avanadas da

    doena, o paciente apresenta, inclusive, dificuldades de repetir instru

    es simples (memria de curto prazo).

    Afasia alteraes da linguagem representadas pela presena de:

    anomia (dificuldade de nomeao de objetos ou de achar apalavra apropriada);

    circunlquios explicativos (inveno de histrias para justifi-car a dificuldade cognitiva, rodeio de palavras);

    parafasias (substituio de palavras);

    logorria (fala incessante), discurso pobre, termos vagos

    (coisa, troo), neologismos, erros gramaticais e frases inacaba-das.

    Disfuno executiva percebida pela presena de:

    desateno, distrao;

    dificuldade na realizao de atividades que exigem seqencia-mento, planejamento e mudana de estratgias (fazer a barba,fazer compras, sair de casa);

    perseverao motoras ou verbais (rituais);

    dificuldade na resoluo de problemas do cotidiano ou detomar decises;

    inadequao no julgamento de situaes ou problemas docotidiano.

    O comprometimento do lobo frontal tambm est associado desregula

    o do comportamento social e controle das emoes, com desinibio

    inquietao motora, perambulao, jocosidade inadequada, hipersexua

    lidade, hiperfagia, agressividade, comportamento anti-social, labilidad

    emocional, apatia sem o colorido negativista do deprimido e sem ideao

    suicida, perda de iniciativa ou motivao, desinteresse por atividades ou

    passatempos e irritabilidade.

    Apraxia a incapacidade de executar atividades motoras, ape-sar do funcionamento motor intacto. Caracteriza-se pela dificuldadepara vestir-se, amarrar os sapatos, pentear o cabelo, andar, cozinhar,acender o cigarro, usar a chave, entre outros.

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    Agnosia a incapacidade de reconhecer ou identificar obje-tos, apesar do funcionamento sensorial intacto. O paciente oufamiliar menciona dificuldade de decodificao ou reconheci-mento do estmulo, na ausncia de comprometimento dos rgosdo sentido. Nas fases avanadas ocorre agnosia de objetos, cores e

    faces (prosopagnosia).

    Quais so os critrios diagnsticos paradepresso, deliriume doena mental?

    As desordens depressivas representam um grupo de entidades clni-

    cas ou sndromes independentes caracterizadas pela baixa do humor e

    variabilidade na gravidade. Deve ser diferenciada de tristeza, ou seja,

    existe a depresso-sintoma e a depresso-doena. A tristeza um sen-

    timento presente em vrios momentos da vida. Por exemplo: na rea-

    o ao luto, a tristeza est presente, mas insuficiente para inviabilizarcompletamente os projetos de vida da pessoa, que preserva o interesse

    em algumas atividades. O paciente supera a perda progressivamente,

    num perodo varivel de 4 a 12 meses. O envelhecimento est associado

    a diversas perdas, desde familiares queridos, cnjuges, filhos, perda do

    prestgio social e do nvel socioeconmico e, finalmente, da prpria

    independncia fsica. Entretanto, estas perdas so superveis e podem

    permitir uma vida psquica normal. A depresso maior , atualmente, a

    principal causa de incapacidade no mundo moderno e constitui-se em

    verdadeira epidemia silenciosa, cuja importncia na morbimortalidade

    geral se aproxima aos observados nas doenas crnico-degenerativas.No idoso, a depresso maior est associada a vrios sintomas somticos,

    que dificultam o diagnstico.

    A prevalncia de depresso maior varia de 10%, nos idosos residentes

    na comunidade, at 30%, nos idosos institucionalizados. Os critrios

    diagnsticos de depresso maior, segundo o DSM-IV, incluem a presena

    de cinco ou mais sintomas durante o perodo de duas semanas (todos os

    dias ou quase todos os dias) e que representaram uma alterao do seu

    funcionamento anterior. Pelo menos um dos sintomas humor depri-

    midoouperda do interesseouprazer(anedonia):

    interesse ou prazer acentuadamente diminudos : o idoso deixade sentir prazer com atividades que anteriormente eram agradveis,tendendo ao isolamento social e familiar;

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    humor deprimido indicado por relato subjetivo (sensao de

    tristeza, autodesvalorizao e sentimentos de culpa) ou obser-

    vao feita por outros: o idoso menciona sensao de vida vazia,demonstra fcil irritabilidade (rabugento) ou considera-se umpeso para a famlia, afirmando ser a morte a nica soluo. Tendn-

    cia emotividade excessiva, com crises de choro freqentes;perda ou ganho significativo de peso sem estar em dieta, ou

    diminuio ou aumento do apetite: a inapetncia o sintoma maiscomum e importante causa de emagrecimento no idoso. Pode pre-dominar e mascarar sintomas como baixa do humor e anedonia,dificultando o diagnstico de depresso (depresso mascarada);

    insnia ou hipersonia : habitualmente a insnia terminal(matinal, despertar cedo e piora matinal da sintomatologia depres-siva) ou sono entrecortado e dificuldade para dormir novamente.Portanto, a queixa de insnia, to comum no consultrio, deve

    sugerir prontamente o diagnstico de depresso;

    agitao ou retardo psicomotor ;

    fadiga ou perda de energia : por vezes simulando doenasconsumptivas, insuficincia cardaca congestiva, hipotireoidismo,parkinsonismo (bradicinesia), polimialgia reumtica, entre outros;

    sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada ;

    capacidade diminuda de pensar ou concentrar-se : lentificaodo pensamento com dficit atencional significativo, por vezes simu-lando sndrome demencial (pseudodemncia);

    pensamentos recorrentes de morte, ideao suicida recor-

    rente.

    Dona Conceio relata que Dona Oflia sempre foi uma pessoa mai

    animada e alegre. No percebeu nenhum dos sintomas a seguir:

    interesse ou prazer acentuadamente diminudos;

    humor deprimido (sente-se triste ou vazio);

    perda ou ganho significativo de peso, ou diminuio ou aumento

    do apetite;

    insnia ou hipersonia;

    fadiga ou perda de energia;

    sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada;

    pensamento recorrente de morte, ideao suicida recorrente.

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    Os nicos sintomas de rebaixamento do humor apresentado por Dona

    Oflia so:

    capacidade diminuda de pensar ou concentrar-se;

    agitao ou retardo psicomotor.

    E, realmente, Dona Oflia mostrou-se alegre e satisfeita com sua vida.

    A Equipe de Sade da Famlia aplicou a escala geritrica de depresso

    (Escala de Yesavage), conforme voc pode observar no quadro que

    segue:

    Quadro 8 Resultado da escala geritrica de depresso de Dona Oflia

    Escala geritrica de depresso (GDS-15 e GDS-5)Para cada questo, escolha a opo que mais se assemelha ao que voc est sentindo nas ltimas

    semanas.

    Voc est basicamente satisfeito com sua vida? Sim

    Voc se aborrece com freqncia? No

    Voc se sente um intil nas atuais circunstncias? No

    Voc prefere ficar em casa a sair e fazer coisas novas? Sim

    Voc sente que sua situao no tem sada? No

    Voc tem medo que algum mal v lhe acontecer? No

    Voc acha que sua situao sem esperanas? No

    Voc acha maravilhoso estar vivo? Sim

    Voc sente que sua vida est vazia? No

    Voc sente que a maioria das pessoas est melhor que voc? No

    Voc se sente com mais problemas de memria do que a maioria? SimVoc deixou muitos de seus interesses e atividades? No

    Voc se sente de bom humor a maior parte do tempo? No

    Voc se sente cheio de energia? Sim

    Voc se sente feliz a maior parte do tempo? Sim

    ATIVIDADE 3

    Voc acha que podemos aplicar a escala geritrica de depresso (Escala de Ye-savage) em idosos com diagnstico de demncia?

    Pense, reflita e discuta com seu tutor e seus colegas quais as dificuldades que opaciente com demncia poderia apresentar na utilizao da escala.

    Participe do frum de discusso organizado pelo seu tutor.

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    ENVELHECIMENTOESADEDAPESSOAIDOSA

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    O delirium uma causa de incapacidade cognitiva aguda e flutuan-

    te, caracterizada:

    pela presena de alteraes do nvel de conscincia (reduo dacapacidade de focalizar, sustentar e desviar a ateno);

    pelo comprometimento global das funes cognitivas (memria,percepo, linguagem, entre outros).

    Deve ser diferenciado do sintoma delrio ou deluso, que se caracteriz

    pela presena de convices falsas, imprprias para o nvel de intelign

    cia, cultura e educao do paciente. Representa, portanto, um sintoma

    de doena psiquitrica que pode, inclusive, estar presente no delirium.

    As doenas mentais no idoso capazes de causar incapacidade cognitiva

    podem ser a esquizofrenia residual, a parafrenia tardia e a oligofrenia

    A esquizofrenia residual e a oligofrenia apresentam um histrico clarode doena mental prvia. Por outro lado, a parafrenia apresenta-se como

    um quadro no-progressivo, caracterizado por delrios e alucinaes e

    com incio mais tardio em relao esquizofrenia clssica. Seria qua

    dro clnico intermedirio entre a esquizofrenia e a parania ou trans

    torno delirante. Outras caractersticas associadas so: predominncia

    em mulheres, em especial solteiras ou nulparas (ausncia de gravidez)

    isolamento social, elevada prevalncia de prejuzo sensorial (audio

    viso) e personalidade pr-mrbida com traos paranides ou esquizi

    des em 50% dos casos. Aproximadamente 10% de todos os paciente

    idosos internados em hospitais psiquitricos apresentavam este quadroque tende a ser crnico.

    Portanto, o diagnstico de incapacidade cognitiva deve ser seguido pel

    diferenciao entre depresso, delirium, demncia e doena menta

    (esquizofrenia, parafrenia, oligofrenia, entre outros). Este diagnstico

    diferencial pode trazer dificuldades, particularmente, quando a histri

    pregressa do idoso desconhecida. Alm disso, no rara a coexistncia

    entre elas.

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    Grandes sndromes geri

    ATIVIDADE 4

    Na sua opinio, qual a causa de incapacidade cognitiva de Dona Oflia? Justi fi-que como voc chegou a este diagnstico.

    Responda e envie para o tutor.

    Feito o diagnstico de demncia, deve-se definir a sua etiologia. Existem

    diversas causas de demncia, que variam desde causas reversveis ou

    potencialmente curveis at causas irreversveis ou degenerativas.

    A prevalncia de demncias reversveis varivel, mas geralmente

    inferior a 5% dos casos de demncia. Porm, pelo impacto catastrfico

    da doena no paciente e sua carga nos familiares, justifica-se a investiga-

    o destas causas, principalmente nos pacientes com sintomas precoces

    de demncia (demncia pr-senil).

    Alm da histria clnica e do exame fsico completo, recomenda-se a

    realizao de exames complementares, considerados rotineiros na pro-

    pedutica de demncia, como neuro-imagem (tomografia computado-

    rizada do crnio ou ressonncia magntica); dosagem srica do TSH;

    vitamina B12; cido flico; ionograma (sdio, potssio, clcio); funo

    renal e heptica; sorologia para sfilis (VDRL) e infeo pelo vrus HIV(anti-HIV). O resultado destes exames foram todos normais na Dona

    Oflia. A tomografia computadorizada do crnio mostrou hipotrofia

    cerebral compatvel com a idade.

    Afastada a possibilidade de demncia reversvel, deve-se pensar nas

    causas irreversveis, que so, didaticamente, subdivididas em demncia

    de Alzheimer (50%) e no-Alzheimer (50%). Pacientes portadores de

    demncia irreversvel podem ter a superposio de doenas reversveis.

    Por exemplo: a encefalopatia txica por drogas ou de origem metablico-

    nutricional, como a deficincia de vitamina B12, superposta doena deAlzheimer. Na presena de vrias comorbidades, muitas vezes a relao

    de causa-efeito com o declnio cognitivo torna-se mais complicada. O

    tratamento destas condies pode melhorar o quadro cognitivo basal e,

    conseqentemente, a qualidade de vida do paciente.

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    ENVELHECIMENTOESADEDAPESSOAIDOSA

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    Figura 4 TIME das demncias reversveis

    Fonte: Moraes (2008).

    As principais causas de demncia irreversvel no-Alzheimer incluem:

    Demncia vascular : representa a segunda causa de demncia noidoso, responsvel por 15% a 20% de todas as demncias. No Bra-sil, em Catanduva, esteve presente em 18% dos idosos com demn-cia. Resulta da presena de doena crebro-vascular isqumica ouhemorrgica, assim como da injria cerebral resultante do hipofluxocerebral. A associao entre doena crebro-vascular e demnciaremonta da Antigidade. O termo esclerose foi muito utilizadopara descrever a importncia das doenas crebro-vasculares comoprincipal causa de demncia associada ao envelhecimento. A des-crio da doena de Alzheimer como principal causa de demnciaresultou na alzheimerizao das demncias e, muitas vezes, ostermos doena de Alzheimer e demncia senil so consideradossinnimos.

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    Grandes sndromes geri

    Os critrios para o diagnstico de demncia vascular, segundo o DSM-IV, so:

    Desenvolvimento de mltiplos dficits cognitivos manifestados tantopor (1) quanto por (2):

    1. Comprometimento da memria: amnsia2. Uma (ou mais) das seguintes perturbaes cognitivas:

    afasia :perturbao da linguagem;

    apraxia :capacidade prejudicada de executar atividades motoras, apesardo funcionamento motor intacto;

    agnosia : incapacidade de reconhecer ou identificar objetos, apesar dofuncionamento sensorial intacto;

    disfuno executiva :perturbao do funcionamento executivo (i.e. pla-nejamento, organizao, seqenciamento, abstrao).

    Os dficits cognitivos nos critrios (1) e (2) causam

    comprometimentosignificativo do funcionamento social ou ocupacional e representamum declnio significativo em relao a um nvel anteriormente superior defuncionamento.

    Sinais e sintomas neurolgicos focais (por exemplo: exagero dos reflexostendinosos profundos, resposta extensora plantar, paralisia pseudobulbar, anor-malidades da marcha, fraqueza em uma das extremidades) ou evidncias labo-ratoriais indicativas de uma doena crebro-vascular (por exemplo: mltiplosinfartos envolvendo o crtex e a substncia branca) considerados etiologica-mente relacionados perturbao.

    Os dficits no ocorrem exclusivamente durante o curso de um delirium.

    Demncia por corpos de Lewy : a Demncia por Corpos deLewy (DCL) representa a segunda causa de demncia degenerativa,responsvel por 15% a 25% dos casos. O diagnstico correto fun-damental para o manejo farmacolgico. A sintomatologia cognitiva,comportamental, motora, autonmica e os distrbios do sono res-pondem bem ao uso de anticolinestersicos e apresentam grandehipersensibilidade ao antipsicticos, podendo induzir a complica-

    es potencialmente fatais. As manifestaes centrais da doenaso: presena de parkinsonismo precoce e espontneo, flutuaocognitiva e alucinaes visuais recorrentes e complexas. Alm disso, freqente a presena de alteraes do sono REM (sonhos vvidose pesadelos).

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    Demncia fronto-temporal (doena de Pick) : o quadro clnicorelaciona-se sndrome frontal com predomnio da sintomatologiacomportamental (desinibio, comportamentos anti-sociais, impul-sividade, hipersexualidade, entre outros). Apesar da gravidade dossintomas comportamentais, os pacientes permanecem orientados

    no seu ambiente at fases avanadas da doena.Outras demncias : so causas mais raras de demncia e so

    representadas pela demncia associada doena de Parkinson,como degenerao corticobasal, paralisia supranuclear progressiva,doena de Huntigton e doena de Creutzfeldt-Jacob, entre outras.

    Figura 5 Principais causas de demncias irreversveis

    Fonte: Moraes (2008).

    ATIVIDADE 5

    Com base nos dados apresentados at agora, qual a possvel causa da demn-cia de Dona Oflia?

    Responda e envie para o tutor.

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    Grandes sndromes geri

    A sintomatologia apresentada por Dona Oflia teve incio insidioso e

    caracterizado pela presena de esquecimento progressivo. No houve

    evoluo em degraus e no foi percebido dficit motor ou alterao da

    marcha. Alm disso, o nico fator de risco para doena crebro-vascular

    a idade. Como j vimos, a Tomografia Computadorizada (TC) de crnio

    foi normal para a idade. Desta forma, o diagnstico de demncia vascu-lar torna-se pouco provvel.

    O diagnstico de Corpos de Lewy pode tambm ser descartado pela

    ausncia de parkinsonismo e alucinaes visuais precoces. Os nicos

    sintomas psicticos apresentados pela paciente so as idias delirantes

    de roubo e perseguio. No houve relato de alucinaes visuais. A nica

    flutuao observada a piora da agitao psicomotora no final do dia,

    ao entardecer, quando a paciente insiste que no est em sua casa e

    pede insistentemente para ser levada para sua verdadeira casa. No h

    desinibio, comportamento anti-social, hipersexualidade ou qualqueroutro sintoma que sugira o diagnstico de demncia fronto-temporal.

    Afastadas todas as outras causas de demncia, podemos concluir que

    Dona Oflia , provavelmente, portadora da doena de Alzheimer. O diag-

    nstico de demncia de Alzheimer , portanto, de excluso. No h

    nenhuma prova laboratorial que defina o diagnstico, exceto a bipsia

    cerebral, que, obviamente, no feita rotineiramente. Portanto, deve-se

    estar bastante atento para a presena de determinados sintomas preco-

    ces que sugerem demncia no-Alzheimer: incio sbito, deteriorao

    em degraus, sintomatologia comportamental proeminente, apatia pro-

    funda, afasia proeminente, distrbio de marcha progressivo, flutuao

    proeminente do nvel de conscincia ou habilidades cognitivas, alucina-

    es vvidas e bem estruturadas, parkinsonismo precoce, anormalidades

    dos movimentos oculares, dficit neurolgico focal, sinais cerebelares,

    convulso, incontinncia urinria e fecal precoces. A utilizao de

    mtodos de neuro-imagem para a definio etiolgica das demncias ,

    habitualmente, recomendada. As informaes obtidas podem apontar

    para algumas causas reversveis (estruturais) ou mesmo irreversveis de

    demncia (vascular). Todavia, o diagnstico etiolgico da demncia irre-

    versvel no depende, isoladamente, da neuro-imagem.

    Qual ser a abordagem teraputica para Dona Oflia?

    O tratamento das pessoas com demncia deve ser iniciado assim que

    feito o diagnstico, havendo maior possibilidade de resposta. A pessoa

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    ENVELHECIMENTOESADEDAPESSOAIDOSA

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    idosa com suspeita de demncia, aps avaliao na UBS, dever se

    encaminhada para a ateno especializada, respeitando-se os fluxos d

    referncia e contra-referncia locais e mantendo sua responsabilizao

    pelo acompanhamento.

    Em 2002, foi publicada a Portaria n. 849 (BRASIL, 2002c), que aprovouo Protocolo Clnico e Diretrizes Teraputicas Demncia por Doena

    de Alzheimer. Este protocolo contm o conceito geral da doena, o

    critrios de incluso/excluso de pacientes no tratamento, critrio

    de diagnstico, esquema teraputico preconizado e mecanismos de

    acompanhamento e avaliao desse tratamento. de carter nacional

    devendo ser utilizado pelas secretarias de sade dos estados, do Distrito

    Federal e dos municpios, na regulao da dispensao dos medicamen

    tos nela previstos.

    O protocolo define o diagnstico. O tratamento e o acompanhamentodos pacientes portadores da doena de Alzheimer dever se dar no

    Centros de Referncia em Assistncia Sade do Idoso, definidos pela

    Portaria GM/MS n. 702 (BRASIL, 2002a) e a Portaria SAS/MS n. 249

    (BRASIL, 2002b), ambas de abril de 2002.

    Trs a quatro meses aps o incio do tratamento com os anticolineste

    rsicos (rivastigmina, donepezil e galantamina), o paciente dever faze

    uma reavaliao. Aps esse perodo, as reavaliaes devero ocorrer em

    intervalos de quatro a seis meses. Cabe ressaltar que, mesmo que a pes

    soa idosa seja assistida por um especialista, a equipe da Ateno Bsica

    dever manter o seu acompanhamento.

    O tratamento especfico da doena de Alzheimer visa a diminuir a

    progresso da doena e retardar ou minimizar os sintomas comporta

    mentais das pessoas, que, apesar do tratamento, iro piorar progressi

    vamente. Portanto, de fundamental importncia orientar e dar apoio

    aos familiares.

    Que orientaes Dona Conceio deve receber para lidarcom a doena da irm?

    A Associao Brasileira de Alzheimer e Doenas Similares (ABRAz) d

    apoio e orientao aos familiares dos portadores da doena de Alzhei

    mer e outras demncias. Atuando em todo o territrio nacional, fo

    criada em 1991, e constituda como carter privado, sem fins lucrativos

    Leia a Portaria n. 843, aPortaria GM/MS n. 702 e aPortaria SAS/MS n. 249, todasde 2002, disponveis para vocna biblioteca do AVA, ou noCD-ROM do curso.

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    Grandes sndromes geri

    no governamentais e de um significativo esforo voluntrio. A misso

    da ABRAz reunir todos os envolvidos com a doena de Alzheimer e

    outras demncias, permitindo o intercmbio, oferecendo meios de atua-

    lizao e apoiando aes voltadas ao bem-estar do portador, da famlia,

    do cuidador e do profissional.

    A ABRAz atende s necessidades geradas pelo diagnstico, tratamento

    e cuidados dos portadores de demncias no desenvolvimento de uma

    doena degenerativa com tratamento medicamentoso e no medica-

    mentoso. As informaes sobre o diagnstico, as ltimas novidades

    cientficas, os medicamentos e os cuidados so prestados pelos boletins,

    folhetos, livros, atendimento telefnico, atendimento pessoal ou pgina

    na internet (www.abraz.gov.br). Os boletins so distribudos ao pblico

    interessado e o atendimento pessoal se faz por meio de grupos de apoio,

    treinamento de cuidadores, seminrios de atualizao cientfica, jorna-

    das, congressos e palestras informativas.

    Um dos deveres de uma associao de pacientes tambm defender os

    interesses do portador de demncia junto aos rgos pblicos em todas

    as esferas. Nesse sentido, tem que estar sempre presente no Ministrio

    da Sade, nas secretarias estaduais e municipais de sade, no Conselho

    Nacional de Sade e nos conselhos estaduais e municipais de sade, para

    defender a incluso dos pacientes nos programas especficos do SUS.

    As famlias dos portadores de demncia tm, por meio da informao e

    do apoio recebidos dessa Associao, conseguido entender o processo

    da doena, aprendido como cuidar e dar qualidade de vida aos seus

    pacientes.

    comum surgirem conflitos familiares ao longo do processo de demncia

    que dificultam ainda mais a tarefa de cuidar. Em fases iniciais, tambm

    comum haver conflitos entre o cuidador e o doente, que percebe as suas

    perdas, porm rejeita assistncia ou ajuda. Com o avano da doena,

    surgem diferenas de opinio entre o cuidador e outros familiares sobre

    os cuidados, o tratamento mdico, o controle financeiro e as obrigaesem geral. O grupo de apoio tem um papel importante nestes casos.

    Nos ltimos anos, uma mudana notvel tem ocorrido na vida de fam-

    lias que cuidam do seu ente querido com demncia eles descobriram

    um ao outro e se uniram em busca de apoio mtuo e encorajamento.

    A vergonha e o isolamento, que antigamente faziam com que evitassem

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    Grandes sndromes geri

    Epidemiologia

    A queda um evento sbitoe por isso, como indicador epidemiolgico,

    estimada em taxa de incidncia (nmero de casos novos por ano).

    Quadro 9 Percentual de incidncia de quedas dos idosos por faixa de idadeIdade Incidncia de quedas

    mais de 65 anos e menos de 70 anos 28% a 35%

    mais de 70 anos e menos de 75 anos 35%

    mais de 75 anos 32% a 42%

    Estudos prospectivos (estudos que analisam uma comunidade por um

    determinado perodo de tempo) indicam que de 30% a 60% da popu-

    lao com mais de 65 anos que vive em comunidade cai anualmente e

    metade apresenta quedas mltiplas.

    animador saber que os idosos mais saudveis caem menos, 15% em

    um ano. Mas este dado de que 60% a 70% dos idosos que j caram

    cairo novamente no ano subseqente muito preocupante e nos alerta

    para a necessidade de desenvolver medidas preventivas para evitar esta

    ocorrncia. A Caderneta da Pessoa Idosa um instrumento que ajuda a

    identificar os idosos que caem com mais freqncia, principalmente, nos

    ltimos 12 meses.

    Um estudo com idosos de uma comunidade no municpio de So Paulorevelou uma incidncia de 31% de quedas e 11% de duas ou mais que-

    das (PERRACINI; RAMOS, 2002). Esses dados so interessantes, pois

    refletem um pouco da realidade brasileira.

    Em idosos asilados, 50% esto sujeitos a quedas e a prevalncia mdia

    nas instituies de cerca 43%. Essas estatsticas nos confirmam a

    impresso de que quanto pior a capacidade funcional, maior o risco de

    quedas. Os idosos asilados apresentam maior limitao de movimento e

    marcha e, por isso, maior chance de cair.

    Como conseqncia da queda pode haver a hospitalizao que mais

    freqente na faixa etria mais elevada. Alm disso, esses pacientes ten-

    dem mais a ser encaminhados para Instituies de Longa Permanncia

    para Idosos (ILPI). Outros dados nos informam que as leses acontecem

    de 30% a 75% das quedas, porm metade dos feridos no procura aten-

    Fonte: Downton (1998).

    Voc poder se aprofundar assunto, lendo o Caderno dAteno Bsica, volume 19,cap.12.

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    ENVELHECIMENTOESADEDAPESSOAIDOSA

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    dimento mdico. As fraturas (as mais comuns so as vertebrais, fmur

    mero, rdio distal e costelas) ocorrem em menos de 10% das quedas

    a incidncia de fratura do colo do fmur de cinco sujeitos por 1.000

    acima de 65 anos, por ano (dados dos Estados Unidos). A incidncia de

    leses maior em pacientes institucionalizados. Tem sido reportada uma

    gravidade maior das leses em indivduos que sofreram queda longe desuas casas, provavelmente por serem mais ativos e estarem mais sujeito

    a leses mais violentas.

    ATIVIDADE 7

    Responda:

    1. As quedas constituem um problema de sade pblica no Brasil? Por qu?

    2. Por que perguntamos a um idoso se ele j sofreu alguma queda? O quequeremos saber?

    3. Descreva como deve ser a abordagem a uma idosa hipertensa que j tevequatro episdios de quedas nos ltimos 12 meses. Desenvolva uma estratgiapreventiva, destacando os fatores intrnsecos e extrnsecos.

    4. Considerando a afirmativa quanto mais quedas uma pessoa sofre, maior asua incapacidade funcional, pergunta-se:

    a) Esta afirmativa correta?

    b) Uma queda predispe a novas quedas? Justifique sua resposta.

    A morte acidental a quinta causa de bito na populao idosa e aquedas representam dois teros destes acidentes. A morte como evento

    diretamente relacionado queda ocorre em dois sujeitos por 1.000

    acima de 65 anos, por ano, com um risco maior em homens e tendendo

    a aumentar com a idade. Como exemplos das causas de morte aps hos

    pitalizao por queda, temos:

    pneumonia;

    infarto do miocrdio;

    tromboembolismo pulmonar (SUDARSKY; TIDEIKSAAR, 1997).

    A queda considerada um preditor de maior mortalidade. Em um estudo

    na Nova Zelndia, os caidores (idosos com mais de duas quedas po

    ano) tinham o dobro da taxa de morte comparado com o grupo de no

    caidores.

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    Grandes sndromes geri

    Grfico 1 Distribuio da incidncia de internao por causas externas,segundo sexo e idade. Estado de So Paulo, 2005

    Fonte: Secretaria de Sade do Estado de So Paulo (2007).

    O medo de novas quedas to prevalente quanto as quedas, 30% a 73%

    dos idosos.

    As quedas podem provocar sintomas de ansiedade e depresso. A perda

    de confiana na capacidade de deambular com segurana pode resultar

    em piora do declnio funcional, depresso, sentimento de inutilidade e

    isolamento social. Aps a queda, o idoso pode restringir sua atividade

    por precauo, dor ou incapacidade funcional. A fratura de fmur o

    exemplo mais importante desse declnio funcional que encontrado

    tambm em outras fraturas, gerando um grande impacto negativo na

    independncia. A reabilitao ps-queda pode ser demorada e pode

    haver acamamento prolongado, levando a complicaes maiores ainda,

    como tromboembolismo venoso, lceras por presso e incontinncia

    urinria. O idoso mais restrito pode demandar um tempo maior do

    seu cuidador, acarretando problemas de relacionamento. Os caidores

    apresentam maior institucionalizao.

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    ENVELHECIMENTOESADEDAPESSOAIDOSA

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    ATIVIDADE 8

    Esta realidade nos reflete toda a problemtica da institucionalizao. Quandocolocar o idoso em uma Instituio de Longa Permanncia para Idosos (ILPI)?

    melhor a instituio do que a assistncia em casa? Quem cuidar melhor: umprofissional de uma instituio ou um cuidador informal? A famlia deseja oupode arcar com esta responsabilidade? So perguntas que nos fazemos ao de-pararmos com a situao do idoso acamado ou dependente.

    Participe do frum de discusso organizado pelo seu tutor.

    Aproveite e liste as Instituies de Longa Permanncia para Idosos em seu ter-ritrio e envie para o seu tutor.

    Aps uma viso epidemiolgica, vamos descobrir os motivos que levam

    o idoso a correr um risco maior de sofrer uma queda e qual o perfil do

    chamado caidor.

    Fatores relacionados a quedas

    Vrios estudos apontam para um aumento do risco de quedas com o

    aumento da idade e relacionado tambm a mulheres. A maioria do

    fatores interdependente e a combinao destes mais importante do

    que cada um analisado separadamente. Por exemplo: idade e funo cognitiva, confuso mental e dependncia, doena neurolgica e distrbio

    de marcha. H relao tambm com algum grau de comprometimento

    nas atividades de vida diria, (AVD) presena de vrias doenas clnica

    e viver s ou passar a maior parte do tempo sozinho. Sintomas psicol

    gicos, como depresso e ansiedade, tambm so fatores de risco. Como

    voc est observando, h uma confluncia de fatores que aumentam o

    risco de quedas. Mesmo que a pessoa ainda no tenha cado, voc pod

    identificar se ela est correndo um risco maior de cair. Esta informao

    a misso principal do estudo deste tema: identificar e prevenir.

    A maioria das quedas ocorre durante o dia e somente 20% noite. mai

    comum dentro de casa nos cmodos mais utilizados (quarto e banheiro)

    Assim, podemos inferir que no s h um perfil de idoso mais propenso

    a quedas, como h um cenrio mais comum no qual ocorre o evento.

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    Grandes sndromes geri

    Podemos classificar os fatores contribuintes para as quedas como:

    intrnsecos so aqueles relacionados ao indivduo, levando instabilidade postural. So responsveis por cerca de 70% dos inci-dentes de queda.

    extrnsecos so aqueles relacionados ao ambiente que cerca oindivduo. So responsveis por 30% dos incidentes de queda.

    Fatores intrnsecos

    Alteraes ligadas ao envelhecimento

    Uma das mais importantes mudanas da idade a diminuio da velo-

    cidade de integrao central dos mecanismos envolvidos no reflexo pos-

    tural. Ou seja, a resposta neurolgica e, conseqentemente, motora aos

    estmulos est lentificada.

    As alteraes descritas a seguir compem o quadro das alteraes liga-

    das idade que predispem o indivduo idoso a quedas: diminuio da

    viso e da audio, distrbios vestibulares, distrbios da propriocepo,

    aumento do tempo de reao, hipotenso postural, degenerao articu-

    lar, diminuio da massa muscular, sedentarismo, deformidades dos ps,

    perda da massa muscular (diminuio do tamanho e da quantidade de

    fibras musculares), aumento de colgeno muscular (fibrose muscular) e

    perda das fibras nervosas de conduo rpida.

    Estas alteraes conferem uma marcha caracterstica da pessoa idosa ou

    marcha senil, caracterizada por:

    Base alargada

    Diminuio do balano dos braos

    Postura encurvada

    Flexo de quadril e joelhos

    Dificuldade para retornar

    Passos curtos

    Lentido

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    ENVELHECIMENTOESADEDAPESSOAIDOSA

    220

    A marcha senil caracteriza-se por uma forma mais cuidadosa de andar

    resultante da tentativa de aumentar a estabilidade e a segurana. O padro

    de marcha dos idosos assemelha-se ao de algum que anda sobre uma

    superfcie escorregadia ou no escuro.

    Foto 1 Marcha senil

    Deve-se considerar como paciente com risco aumentado de queda:

    sexo feminino, 80 anos ou mais, equilbrio diminudo, marcha

    lentificada com passos curtos, pouca aptido fsica, fraqueza muscular

    dos membros inferiores, dficit cognitivo, doena de Parkinson, uso desedativos e ou polifarmcia.

    Figura 6 Instabilidade

    Para ter uma idia dadificuldade do idoso em seus

    deslocamentos, tente mimetizara postura e a marcha descritasanteriormente; assim, vocfixar melhor na memriacomo pode ser a marcha senil.

    Foto:ManuCastilho(200

    8).

    Ilustrao:SaloBuksman(2002).

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    Resumindo, as drogas psicoativas tm um efeito de lentificao da res

    posta, sonolncia, hipotenso postural e outros efeitos anticolinrgicos

    como viso turva. J os anti-hipertensivos podem aumentar a chance de

    queda por hipotenso postural.

    de vital importncia que voc entenda os efeitos colaterais que ocorrem com as medicaes para correlacionar com o risco de quedas e veri

    ficar qual medicao usada pelo paciente pode ser mais nociva.

    Algumas consideraes em relao ao perfil do caidor:

    Indivduos entre 75 e 84 anos que necessitam de ajuda paraAVD tm possibilidade de quedas 14 vezes maior do que os inde-pendentes.

    No conseguir levantar-se sem assistncia em menos de cinco

    minutos aps a queda, aumenta o risco de hospitalizao ou, atmesmo, de bito. Aqueles que conseguem se levantar esto emmelhores condies fsicas.

    Fatores extrnsecos

    Riscos ambientais

    Tipos de movimentao executada pelo indivduo

    Mais de 70% das quedas acontecem em casa, principalmente no quarto

    na cozinha, no banheiro e na sala de jantar. Alguns trabalhos demons

    tram que 10% das quedas ocorrem em escadas, especialmente ao des

    cer, sendo o primeiro e o ltimo degraus, os mais perigosos (Figura 7)

    O simples fato de abrir uma porta j fator de risco para queda, poi

    houve uma mudana de ambiente e, como h uma dificuldade de viso

    de profundidade, pode acarretar uma queda. O idoso tambm pode se

    colocar em risco de cair ao subir em bancos e usar calados inadequados

    A seguir, apresentamos uma lista dos principais obstculos a uma deam

    bulao segura em casa.

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    Figura 7 Escada com corrimo

    Riscos nas reas comuns da casa

    Iluminao inadequada

    Tapetes soltos ou com dobras

    Degraus altos ou estreitos

    Ausncia de corrimo

    Obstculo no caminho

    Piso irregular

    Fios soltos no cho

    Acmulo de moblia

    Riscos nos aposentos

    Camas e cadeiras com altura inadequada

    Telefones pouco acessveis

    Prateleiras excessivamente altas ou baixas

    Riscos no banheiro

    Piso escorregadio

    Ilustrao:EduardoMorcillo(2008).

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    Falta de barras de apoio

    Vaso sanitrio baixo

    Foto 2 Tapetes soltos ou com dobras

    Em 1998, um estudo avaliou se os fatores de risco ambiental domstic

    aumentam as chances de leses provocadas por quedas entre idosos da

    comunidade. Nesta avaliao, foram considerados: presena de tapetes

    acmulo de mveis ou objetos, fios no cho, interruptores mal posi

    cionados, gavetas ou prateleiras muito baixas (< 70cm) ou muito alta

    (acima do nvel dos olhos), ausncia de barra de apoio nos banheiros

    altura do vaso sanitrio e uso de piso antiderrapante no boxe.

    Foram realizadas entrevistas com idosos com histria de quedas usando

    questionrio para registrar o ambiente domstico, o histrico, o estado

    mental, as circunstncias da queda e o uso de medicamentos. Por meio

    deste estudo foram encontradas as seguintes concluses:

    Local mais freqente de quedas: quarto.

    Relao da queda com algum fator de risco ambiental: 20,9%.

    Possvel utilidade de interveno de estrutura fsica: barra deapoio e piso antiderrapante no banheiro.

    Por fim, vimos que os riscos ambientais existem, mas h uma baixa cor

    relao com a queda. O importante preparar o idoso para os riscos do

    meio ambiente. Ento, o que se apregoa sobre a casa segura no to

    importante como se divulga.

    Foto:ManuCastilho(2008).

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    No podemos deixar de abordar o meio urbano, que hostil para o

    idoso e qualquer cidado que no esteja em sua plena capacidade fsica.

    Vocs devem se lembrar da Dona Conceio na Unidade de Aprendiza-

    gem I. Naquela situao, pudemos perceber como o transporte coletivo

    inadequado (nibus com degraus altos, motoristas despreparados para

    as necessidades do cidado da terceira idade e impacientes). Podemosapontar ainda outros problemas, como:

    temporizao dos sinais de trnsito insuficiente para uma tra-vessia segura;

    calamento irregular e buracos;

    iluminao inadequada;

    falta de rampas.

    ATIVIDADE 9

    Faa uma lista de todos os obstculos que voc percebe em sua casa, na USFe no seu territrio.

    Faa uma proposta de interveno para tornar a realidade diagnosticada porvoc mais segura para um idoso.

    Encaminhe ao seu tutor.

    Figura 8 Natureza multifatorial da queda

    Ilustrao:SaloBuksman(2002).

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    Como est a capacidade funcional AVD/AIVD?

    Fez exame oftalmolgico recentemente?

    Existem fatores de risco ambiental?

    Existem evidncias de maus-tratos?

    Existe evidncia de abandono?

    Exame fsico do paciente que sofre quedas

    O exame deve ser minucioso, detendo-se, principalmente, nos sistemas

    cardiovascular, neurolgico e msculo-esqueltico.

    Exame fsico convencional (hidratao, anemia, estado nutri-cional).

    Sinais vitais (presso arterial deitado, sentado e de p aps cincominutos para verificar hipotenso postural).

    Exame neurolgico, estando-se atento para sinais de localizao(avaliar estado mental de orientao e equilbrio com teste de Rom-berg; caminhar com os olhos fechados, um desvio anormal podeindicar alterao na funo vestibular e empurro no esterno).

    Testar fora muscular e estabilidade da articulao do joelho.

    Teste de acuidade visual (como exemplo, carto de Snellen).

    Pesquisa de trauma oculto (cabea, coluna, costelas, pelve equadril).

    Exame dos ps.

    Testes para uma avaliao mais detalhada do equilbrio e marcha so

    necessrios para um diagnstico mais preciso, no s da causa da queda,

    mas tambm do estado funcional do paciente. O teste Timed up and go

    um bom teste de rastreio: o paciente levanta-se da cadeira, percorre trs

    metros e senta-se novamente, um tempo maior que 20 segundos indica

    necessidade de interveno. J o teste Get up and gono analisa o tempo

    e sim como o idoso procede. O controle postural pode ser avaliado, dina-micamente, com o teste do alcance funcional, em que o paciente fica

    de p paralelo a uma parede (ou superfcie com metragem) com o brao

    levantado a 45 e deve estic-lo para a frente o mximo possvel; um

    alcance de 15 centmetros ou mais considerado normal.

    Esses testes encontram-sedescritos no livro de bolso

    Avaliao mult idimensional

    do idoso: instrumentos de

    rastreio, bem como no

    Cadde Ateno Bsica, volume19, que compem o conjundidtico deste curso.

    Voc encontrar, tambm,um DVD que traz a filmageda aplicao dos diversosinstrumentos de avaliao.

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    Racionalizao do uso de medicamentos (identificao de efei-tos colaterais, doses inadequadas e ou combinaes inadequadas)

    Reduo de consumo de bebida alcolica

    Avaliao da acuidade visual com testes de visualizao deletras ou sinais de perto e a distncia

    Avaliao nutricional para correo dos distrbios nutricionais

    Exerccios fisioteraputicos e atividade fsica (inclusive emidosos frgeis), visando:

    melhora do equilbrio e da marcha;

    ao fortalecimento da musculatura proximal dos membrosinferiores;

    ao aumento da amplitude articular;

    ao alongamento e aumento da flexibilidade muscular;

    a atividades especficas para pacientes em cadeiras de rodas;

    identificao dos pacientes que caem com freqncia, enco-rajando-os a superarem o medo de nova queda.

    Exerccios aerbicos, que so teis e podem:

    aumentar a expectativa de vida;

    aumentar a independncia funcional;

    diminuir o risco de cardiopatia, fratura, osteoporose e depresso.

    Foto 3 Hidroginstica: exerccio e lazer

    Foto:ChristianeAbbade(20

    08).

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    Denunciar casos de suspeita de maus-tratos

    Principalmente os idosos frgeis podem ser vtimas de violncia, e a

    queda pode ser provocada. Em caso de leses suspeitas, sua obrigao

    averiguar e, para que isso seja feito, voc deve denunciar. No Caderno d

    Ateno Bsica, volume 19, pgina 185, voc encontra o Modelo de Ficha

    de Notificao de Violncia.

    Correo de fatores de risco ambientais

    Como exemplos de intervenes de preveno de quedas que mostrem

    resultados estatisticamente relevantes, temos:

    instalao de barras de apoio no banheiro;

    colocao de piso antiderrapante no banheiro e na cozinha.

    Figura 9 Intervenes em reas domiciliares de risco

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    Figura 10 Correo para aumentar a altura do vaso

    Controle do comportamento de risco : conscientizar o idoso ano se colocar em risco; apesar de se sentir bem fisicamente, umdesafio para qualquer profissional da rea do envelhecimento. Indi-car o uso de rteses (bengalas e andadores), quando necessrio,exige que o profissional conscientize o idoso da necessidade do uso;caso contrrio, a adeso ao tratamento no acontecer.

    Figura 11 Comportamento X segurana nas tarefas de risco do dia-a-dia

    Ilustrao:EduardoMorcillo(2008).

    Ilustrao:EduardoMorcillo(20

    08).

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    Foto 4 Uso de bengalas para ajudar e evitar quedas

    Observe a tabela a seguir; ela traduz o resultado de um estudo que com

    parou diversos tipos de interveno e respectiva eficcia.

    Tabela 1 Tipos de interveno e respectiva eficcia

    Interveno Reduo da taxa anual dequedas

    Nmero de pacientestratados para prevenir aqueda

    Exerccio 6,9% 14

    Viso 4,4% 23

    Correo de riscos domsticos 3,1% 32

    Exerccio + viso 11,1% 9

    Exerccio + correo de riscos

    domsticos9,9% 10

    Viso + correo de riscos

    domsticos7,4% 14

    Exerccio + viso + correo de

    riscos domsticos14% 7

    Fonte: British Medical Journal (2002).

    A tabela demonstra que o mais eficaz uma interveno trplice:

    exerccios fsicos;

    melhora da acuidade visual;

    controle do risco ambiental.

    Isso comprova que, na maioria das vezes, a causa das quedas

    multifatorial.

    Foto:ManuCastilho(2008).

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    Medidas gerais de promoo de sade , como a preveno e otratamento da osteoporose e a imunizao contra gripe e pneumonia.

    ATIVIDADE 10

    Dona Ana, 79 anos, moradora na rua Acre, n. 2, autnoma, independente, teveuma queda domiciliar e fratura, mora com a filha Antnia com 46 anos, taba-gista, separada h cinco anos de um alcoolista e namorada de Seu Francisco,residente rua Acre, n. 3.

    Voc faz parte da Equipe de Sade da Famlia da Vila Brasil e est fazendo umavisita domiciliar a esta casa, logo aps Dona Ana sofrer a fratura.

    a) Qual a sua conduta emergencial? Como abordar o paciente?

    b) Ela foi internada e operada. Aps a alta, como voc conduziria o caso em

    relao s causas da queda e reabilitao?c) O programa de preveno de quedas deve incluir quais intervenes e porqu?

    d) Ao conversar com a filha da paciente, a Antnia, ela confessa estar preocu-pada em como lidar com a me. Como voc a aconselharia?

    e) Antnia perguntou a voc, durante a visita domiciliar, se ela deve tomaralguma providncia para no se fraturar ao cair, como aconteceu com sua me.O que voc responderia?

    f) Dona Ana, ao tentar se levantar da cama, questiona sobre a possibilidade devoltar a danar no baile da terceira idade. Qual ser a sua resposta?

    g) Ao final da consulta, voc percebe que o ex-marido de Antnia invadiu a casa,alcoolizado, e ameaou machucar Dona Ana, se esta no lhe desse dinheiro.Disse claramente que, desta vez, ela no sobreviveria. Qual a sua conduta diantedesta frase?

    Envie para o tutor.

    Sndrome da imobilidade

    Vamos agora dar incio ao estudo da Sndrome da Imobilidade (SI), queimplica a incapacidade de deslocamento sem o auxlio de terceiros para

    os cuidados necessrios vida diria, podendo o paciente estar restrito

    a uma cadeira ou ao leito. Caracteriza-se por um conjunto de altera-

    es que podem ocorrer aps perodo de imobilizao prolongada, os

    quais comprometem a qualidade de vida e a independncia. No estgio

    No devemos nos esquecerde que nosso objetivo, alm

    de prevenir a queda, o depromover a sade, que incluo bem-estar biopsicossocialEnto, orientar o idoso quecaiu, ajud-lo a enfrentaro medo, a frustrao e osentimento de impotnciae reintegr-lo sociedade nosso dever.

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    mais avanado ocorre a supresso de todos os movimentos articulares

    acarretando incapacidade para mudana postural, qual se sucedem

    complicaes perpetuadoras da dependncia. Sua prevalncia de 25%

    a 50% aps hospitalizao prolongada, ao passo que na comunidade e

    em instituies ocorre em 25% e 75%, respectivamente.

    Como podemos identificar a SI?

    O fato de um paciente estar acamado no implica por si s a existncia

    de SI. Em geral, h dficit cognitivo, contraturas musculares e mais dua

    das seguintes condies: lcera por presso, incontinncia urinria e

    fecal, algum grau de disfagia e de afasia.

    Quais as causas da SI?

    Considerada multifatorial, o que se observa na prtica uma associaode fatores causais, envolvendo polipatologias, aspectos psicolgicos

    sociais. Como os sinais iniciais so decorrentes de perda do equilbrio e

    limitao da marcha, diversos problemas podem levar o idoso ao confi

    namento no leito, desencadeando a sndrome. As principais causas so

    Osteoarticulares fratura de fmur, osteoartrose;

    Doenas dos ps deformidade plantar, calosidade, lcera plan-tar;

    Cardiovasculares acidente vascular cerebral, insuficincia car-

    daca, cardiopatia isqumica, doena arterial perifrica, seqela detrombose venosa profunda;

    Respiratrias doena pulmonar obstrutiva crnica;

    Iatrogenia medicamentosa neurolpticos, ansiolticos, hipn-ticos;

    Dficit neurossensorial cegueira, surdez;

    Neurolgicas e psiquitricas demncia, depresso, doena deParkinson, neuropatia perifrica;

    Isolamento social;

    Desnutrio;

    Quedas de repetio.

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    Figura 12 lceras por presso

    Xerose o uso de hidratantes, associado reduo de banhosquentes e do uso freqente de sabonete, podem corrigir o pro-

    ema.

    Dermatite amoniacal ecorre o contato a ur na com a pe e,podendo ser evitada com a troca de fralda regularmente. O uso de

    coletor, no caso de homens, tambm reduz a incidncia desse tipode leso.

    Monilase inframamria a candidase cutnea ocorre em virtude de umidade constante, provocada por m higiene, suor, colches com cobertura plstica e roupas que no deixam passar aumidade. A exposio ao sol, o uso de roupas e capas de colchesque no retenham umidade previnem o surgimento de micosecutnea.

    Sistema osteoarticular

    Anquilose em virtude da falta de mobilidade, reduz-se a circu-lao de lquido sinovial e nutrientes na cartilagem, que, associada tendncia de flexo das articulaes, leva a contraturas e reduoda amplitude de movimentos. Conseqentemente h a proliferaode fibroblastos e matriz extracelular, dando origem ao pannus, cau-sador de aderncia entre as superfcies intra-articulares. Esse qua-dro pode ser prevenido com fisioterapia passiva e posicionamento

    o pac ente no e to.

    Osteoporose ecorre, pr nc pa mente, a aus nc a e sustentao do peso e da falta de atividade muscular, mas a reduo da

    ingesto de vitamina D e da exposio ao sol tambm contribuempara o problema. A massa ssea sofre um declnio de aproximadamente 1% a cada semana at o sexto ms. A administrao declcio e vitamina D pode reduzir o impacto da imobilidade sobre amassa ssea.

    Ilustrao:Edu

    ardoMorcillo(2008).

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    Isquemia arterial aguda ocorre quando h uma contratura,cujo ngulo menor do que 20 (principalmente em quadril e joe-lho). O fator predisponente o ateroma e a preveno pode serrealizada posicionando-se o paciente no leito.

    Hipotenso postural o confinamento ao leito diminui a res-

    posta normal de compensao postural pelas modificaes na fre-qncia e no dbito cardacos, fato agravado por doenas (diabetes,hipotiroidismo) e medicamentos. Medidas para prevenir a hipoten-so ortosttica incluem a oferta adequada de lquidos, mobilizaoe elevao lentas do paciente para a posio sentada e depois parao ortostatismo.

    Sistema urinrio

    Incontinncia Urinria (IU) quase 100% dos pacientes apre-

    sentam IU, no havendo medidas profilticas para tal. Assim,recomenda-se o uso de coletores para os homens e fralda para asmulheres.

    Reteno urinria a ocorrncia de reteno urinria comume deve-se principalmente ao uso de anticolinrgicos, fecaloma ehipertrofia prosttica.

    Infeco urinria 40% dos pacientes acamados apresentaminfeco urinria, tendo como fatores predisponentes a incontinn-cia, pouca ingesto de lquidos, hipoestrogenismo e o uso de fraldasgeritricas. Devemos ter em mente que a bacteriria assintomtica

    no requer antibioticoterapia.

    Sistema digestrio

    Desnutrio na SI mais de 90% dos pacientes apresentamdesnutrio, que se deve, principalmente, a: anorexia, problemasodontolgicos; uso de sonda, perda do olfato e paladar, m-absor-o intestinal, aumento do catabolismo, infeces, entre outros. Aoexame, verifica-se reduo da gordura subcutnea, da massa muscu-lar, havendo, comumente, desidratao e infiltrado cutneo decor-rente de hipoalbuminemia. O tratamento e a preveno dependemdo trabalho da equipe interdisciplinar, envolvendo a avaliao domdico, do enfermeiro, da nutricionista e do fonoaudilogo.

    Constipao freqente, assim como a ocorrncia de fecaloma(fezes endurecidas e impactadas no retossigmide), podendo havertambm uma falsa diarria, em virtude da eliminao de fezes lqui-das, apesar da obstruo, decorrente do excesso de estimulao do

    Ainda nesta Unidade deAprendizagem III, abordaremos aincontinncia urinria com maiordetalhamento.

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    intestino no local desta obstruo. Tais problemas se devem baixaingesto de fibras e lquidos, ao trnsito intestinal mais lento nopaciente acamado, ao uso de anticolinrgicos e fraqueza da mus-culatura abdominal. No rara a ocorrncia de agitao, e mesmode delirium, em pacientes constipados. A ingesto adequada de

    fibras, a hidratao, a manuteno de uma rotina diria de toaletee o uso de emolientes fecais, quando necessrio, previnem a consti-pao. O toque retal mandatrio para o diagnstico e tratamentode fecaloma, e a prescrio de clister glicerinado a 20% costumareverter o quadro.

    Disfagia presente em quase todos os pacientes, cuja capacidadede impulsionar o alimento da boca para a orofaringe est reduzida,comprometendo o reflexo de deglutio. O maior risco nesses casos a broncoaspirao, que pode ser letal. O tratamento de disfagiarequer uma abordagem interdisciplinar, sendo importante a pre-

    sena do fonoaudilogo.

    Sistema nervoso

    Delirium inmeras podem ser as causas de delirium nopaciente com SI, incluindo infeces, privao sensorial, constipa-o e medicamentos. Pode ser prevenido mantendo-se a interaodo paciente com a famlia e a equipe; orientaes para a realidadecom a colocao de relgios e calendrios no local, alm do uso derteses (culos, aparelho auditivo).

    Depresso freqente em pacientes imobilizados, podendoocasionar alteraes de comportamento. No paciente com SI, adepresso deve ser tratada com frmacos, da mesma forma que emoutras situaes.

    Sistema respiratrio

    Pneumonia a principal causa de morte na SI. s alteraesdecorrentes do envelhecimento (diminuio do reflexo de tosse, daelasticidade da parede torcica, da superfcie alveolar e do nmerode macrfagos alveolares) associam-se os problemas relacionados

    imobilidade: reduo da expanso pulmonar por diminuio damobilidade diafragmtica, acmulo de lquido nas bases, fecha-mento de unidades respiratrias e atelectasia. Quando h refluxodo contedo gastroesofgico para as vias respiratrias, ocorre apneumonia por broncoaspirao. A preveno de pneumonia deveincluir medidas como:

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    Incontinncia esfincteriana

    Incontinncia urinria

    Iniciaremos este estudo com um caso clnico:

    Dona Safira, 82 anos, pesando 54 kg, me de quatro filhos, mora na rua

    Bahia, n. 20. Portadora de diabetes, hipertenso e depresso, estava em

    uso de diurtico, hipoglicemiante e antidepressivo inibidor de recapta-

    o de serotonina. Era ativa, independente, participava de um grupo

    de ginstica para terceira idade e morava com a filha e os netos. H

    sete meses iniciou um quadro de vrios despertares noturnos para ir

    ao banheiro (cerca de quatro vezes durante seis horas de sono) e apre-

    sentou um episdio de perda urinria espontnea durante a ginstica.

    Apesar de constrangida, retornou aula na semana seguinte, quando

    ocorreu novo episdio. Resolveu no ir mais ginstica e despediu-se

    do grupo, dando a desculpa de que estava com crise de artrose. Em

    casa conversou com a filha e disse que no iria mais s aulas, pois estava

    se cansando muito. A filha levou-a a um cardiologista, pensando que o

    corao estava fraco. Durante a consulta, Dona Safira no contou ao

    mdico o que estava acontecendo e ele tambm no perguntou sobre

    este assunto. Logo viu-se que o corao estava bom, mas, mesmo assim,

    ela no retornou mais ao grupo. As perdas urinrias passaram a ser mais

    freqentes e Dona Safira j no saa mais de casa, nem para fazer com-

    pras, o que ela adorava. Afastou-se das amigas e nunca mais foi ao baile

    da terceira idade aos sbados. Passou, ento, a ver televiso no quarto

    e pouco comparecia mesa para as refeies com a famlia, antes um

    ato sagrado. Apresentou trs episdios de queda ao ir ao banheiro. Em

    apenas sete meses, Dona Safira encontrava-se mais esquecida, falando

    pouco, mais confusa que de costume e muito deprimida. At que um

    determinado dia sua casa foi visitada pela Equipe de Sade da Famlia

    que estava iniciando um programa naquela rea.

    Iniciaremos o estudo sobre a incontinncia numa abordagem geritrico-

    gerontolgica.

    Definio

    Existem algumas definies, pouco diferentes entre si, porm impor-

    tante que sejam citadas para identificarmos corretamente o que o

    paciente nos informa. So estas:

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    perda involuntria de urina;

    dificuldade de controlar a urina;

    dificuldade de segurar a urina at chegar ao banheiro.

    Epidemiologia

    A estimativa ser dada em prevalncia (nmero de casos da doena

    populao). Cerca de 50% dos idosos que vivem em ILPI tm algum

    grau de incontinncia urinria. J entre os idosos que vivem na comu

    nidade, um tero das mulheres e menos que um quarto dos homens so

    acometidos por algum grau de incontinncia. A prevalncia aumenta

    com a idade (JULIE; GAMACK, 2004).

    H uma correlao entre cognio e incontinncia, pois 75% dos idoso

    com incontinncia urinria apresentam alteraes cognitivas.

    Fisiologia da mico

    O sistema urinrio possui duas funes: armazenar e eliminar a urina

    Quando h um aumento de volume urinrio, e conseqentemente de

    presso dentro da bexiga, origina-se a urgncia da mico (ato de uri

    nar). A mico um ato voluntrio (depende da vontade), porm h a

    fase involuntria. Nesta fase, o msculo detrusor, que compe o assoalho

    da bexiga, contrai e o esfncter uretral externo relaxa, deixando a urinpassar. Este mecanismo controlado: pelo centro inibitrio da mico

    no crtex cerebral; pelo centro pontino da mico, no tronco cerebral

    pelo centro sacral, que so fibras nervosas da medula. Os ncleos da

    base, hipotlamo e o cerebelo tambm exercem influncia na mico.

    O centro inibitrio da mico tem o papel de inibir as contraes do

    msculo detrusor. J o centro pontino da micocoordena os estmulo

    excitatrios e inibitrios. Estas ordens so transmitidas bexiga atrav

    das fibras nervosas da medula at o plexo sacral (centro sacral). Ento

    vamos descrever alguns problemas que afetam estas estruturas e, conseqentemente, podem ser responsveis pela incontinncia.

    A atrofia cortical da idade ou um processo de demncia podem afetar o cen

    tro inibitrio no crtex, diminuindo, assim, sua ao inibitria sobre as con

    traes do detrusor. Origina-se, ento, a urgeincontinncia, a hiperatividad

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    do detrusor (mesmo pouca quantidade de urina pode estimular a con-

    trao deste msculo). Outros problemas, como Acidente Vascular Cere-

    bral e Traumatismo Craniano Enceflico podem causar incontinncia.

    Doenas como Parkinson, que afeta os ncleos da base, podem resultar

    em hiperatividade do detrusor, ou seja, contraes no inibidas pelos

    centros regulatrios. O hipotlamo est relacionado ao incio da micoe o cerebelo participa da coordenao da atividade motora do esfncter

    externo, da musculatura do assoalho plvico (regio genital) e, possivel-

    mente, do detrusor, a fim de inibir as contraes. Qualquer condio que

    afete estas estruturas poder resultar em incontinncia. Outras doenas

    podem afetar as fibras nervosas que seguem da medula at a bexiga,

    como o diabetes ou a neuropatia perifrica por outra causa.

    O traumatismo raquimedular (TRM), na coluna, lesa as fibras de forma

    que no h mais passagem dos impulsos nervosos, no havendo mais

    contrao do detrusor. H, ento, reteno urinria: a chamada bexigahipoativa. Segue um modelo esquemtico das estruturas anatmicas

    envolvidas na mico.

    Figura 14 Centro pontino de mico

    Ilustrao:E

    duardoMorcillo(2008).

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    fundamental que voc tenha entendido a fisiologia da mico.

    Vejamos como as alteraes do envelhecimento contribuem para um

    quadro de incontinncia.

    Alteraes da mico no envelhecimento

    Vale lembrar que o idoso urina mais noite do que uma pessoa mai

    jovem. Nos mais jovens, o volume urinrio excretado 2/3 de dia e 1/3

    noite; j no idoso a relao de metade durante o dia e metade noite

    Agora veremos as mudanas estruturais. As alteraes comuns aos doi

    sexos so: reduo da contratilidade e da capacidade de armazenament

    vesical, diminuio da habilidade para retardar a mico, aumento do

    volume residual para 50ml a 100ml (quantidade de urina na bexiga

    aps a mico) e surgimento de contraes no inibidas do detrusor (omsculo apresenta contraes espontneas que antes eram inibidas pelo

    centro inibitrio da mico).

    No homem, o aumento do volume da prstata o principal fator de

    alterao da mico (a prstata uma esfera que abraa a uretra e seu

    aumento leva a um estrangulamento da uretra).

    J nas mulheres, a reduo de presso de fechamento uretral a princi

    pal alterao. Isso conseqncia da atrofia do epitlio (mucosa) uretra

    e dos tecidos que envolvem a bexiga e a vagina. A atrofia se d peladiminuio da vascularizao e diminuio hormonal (estrognio) ap

    o climatrio. Este hipoestrogenismo (baixos nveis de estrognio) dimi

    nui a produo de muco pela uretra, o que facilita a infeco urinria

    que tambm causa de incontinncia. Tambm pode haver estreita

    mento da luz uretral, o que causa desconforto mico (disria).

    Classificao

    Incontinncia de urgncia ou bexiga hiperativa

    Incontinncia de esforo

    Incontinncia por transbordamento

    Incontinncia funcional

    Incontinncia mista

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    INCONTINNCIA URINRIA TRANSITRIA

    Antes de apresentarmos cada uma destas formas, discutiremos as causas da in-continncia urinria transitria, pois um tero dos pacientes com incontinncia

    apresentam causas reversveis, como:Delirium

    Infeco urinria

    Uretrite e vaginite atrficas

    Restrio da mobilidade

    Aumento da diurese

    Medicamento

    Impactao fecal

    Distrbios psquicos

    O uso de determinados medicamentos a causa mais comum da incontinnciatransitria. Exemplo:

    Diurticos rpido enchimento vesical; diminui a capacidade de contraomiccional.

    Cafena diurtico.

    Sedativos deprimem os centros cerebrais que inibem a mico.

    lcool efeito diurtico e sedativo.

    Anticolinrgicos reteno urinria e fecal e delirium.

    Antidepressivo efeito anticolinrgico e sedao.

    Antipsicticos efeito anticolinrgico, sedao, rigidez e imobilidade.

    Analgsicos opiides sedao, impactao fecal e urinria.

    Em outras condies, como no delirium, as funes cerebrais de controle damico esto diminudas. Tanto a infeco urinria como a uretrite causam in-flamao que diminui a capacidade de controle miccional. A imobilidade limitao acesso do paciente ao banheiro, o que facilita a incontinncia. A impactaofecal causa incontinncia por transbordamento (reteno urinria), pois h umaalterao do ngulo entre o reto e a uretra, o que causa obstruo parcial destae possui grande associao com a imobilidade.

    Todas estas condies devem ser investigadas na avaliao do idoso inconti-nente.

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    Incontinncia de urgncia e bexiga hiperativa

    A bexiga hiperativa uma sndrome de urgncia urinria, que pode

    estar associada incontinncia ou no. Geralmente acompanhada de

    freqncia aumentada e noctria (duas ou mais mices durante o sono

    Sociedade Internacional de Continncia). Ela se caracteriza pela pre

    sena de contraes involuntrias do detrusor. Se houver distrbio neu

    rolgico associado, chamada hiperreflexia; se no houver, chamada

    instabilidade do detrusor. Essas contraes deveriam ser inibidas pelo

    centro inibitrio da mico e todas as outras estruturas envolvidas no

    controle miccional deveriam prover um bom funcionamento da mico

    As doenas neurolgicas mais comumente ligadas urgeincontinncia

    so: Acidente Vascular Cerebral (AVC), demncia e Parkinson.

    H uma terceira condio: hiperatividade do detrusor com reduo da

    contratilidade. H um aumento na freqncia, porm com uma dimi

    nuio da fora de contrao muscular, podendo haver aumento do

    volume residual.

    Incontinncia de esforo

    a perda involuntria de urina quando h aumento da presso intra

    abdominal, como acontece durante a tosse, o espirro, o riso ou o exer

    ccio. Surge por duas alteraes: hipermobilidade uretral ou deficincia

    esfincteriana intrnseca. Na hipermobilidade a funo esfincteriana est

    preservada, mas h um deslocamento da uretra e do colo vesical. Isso

    decorrente do enfraquecimento da musculatura do assoalho plvicoocasionado pelo envelhecimento, multiparidade (vrios partos) ou

    trauma de uma cirurgia. Na deficincia esfincteriana o posicionament

    uretral est correto, mas a funo est alterada por trauma cirrgico ou

    doena neurolgica da medula.

    A incontinncia de esforo o tipo mais comum em mulheres jovens e o

    segundo, em idosas. Porm pode acometer homens, se houver dano no

    esfncter aps uma cirurgia transuretral, prostatectomia radical (retirad

    total da prstata) ou radioterapia.

    O uso de certos medicamentos que afetam a inervao do esfncter

    que adrenrgica (receptores alfa estimulam a contrao esfincteriana

    e beta relaxam o esfncter), pode alterar a funo esfincteriana. Como

    exemplo, temos os anti-hipertensivos, bloqueadores alfa adrenrgico

    que podem relaxar o esfncter e estimuladores dos receptores beta qu

    podem aumentar o relaxamento mediado por estes receptores.

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    Incontinncia por transbordamento

    a perda involuntria de urina associada hiperdistenso da bexiga.

    Aps um aumento importante do volume e, conseqentemente, da

    presso intravesical (dentro da bexiga), o esfncter torna-se incompe-

    tente e deixa extravasar urina at a presso retornar a um patamar no

    qual ele possa voltar a funcionar e no ser sobrepujado pela presso.

    causada por:

    obstruo anatmica, como aumento do volume da prstataou impactao fecal;

    fatores neurognicos, como diabetes, arreflexia do detrusorou esclerose mltipla, que resultam em bexiga hipoativa ouarreflexa;

    medicamentos, como:

    anticolinrgicos diminuem a fora do msculo detrusor.Exemplo: antidepressivo tricclico, antipsicticos, anti-histam-nicos (antialrgicos) e antiespasmdicos;

    anti-hipertensivos bloqueadores do canal de clcio que rela-xam a musculatura e diminuem a fora do detrusor.

    antiinflamatrios no hormonais que, ao bloquearem osreceptores de prostaglandinas, diminuem a fora de contraomuscular.

    estimuladores dos receptores-alfa que aumentam seu funcio-namento, causando reteno e bloqueadores beta adrenrgicos

    que bloqueiam a oposio ao fechamento do esfncter que estereceptor faz, facilitando a ocluso esfincteriana. H, assim, umadesregulao do funcionamento esfincteriano.

    Incontinncia funcional

    Perda involuntria de urina, secundria a fatores que no so do trato

    urinrio, como problemas msculo-esquelticos, problemas psicolgicos e

    fatores ambientais (acesso difcil ao banheiro). um diagnstico de exclu-

    so, ou seja, as outras causas foram descartadas aps a investigao.

    Incontinncia mista

    a presena simultnea da incontinncia por esforo e de urgncia.

    Diagnstico feito por critrios clnicos e urodinmica (exame realizado

    com colocao de cateter intravesical com medio de vrias presses).

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    Avaliao clnica

    A avaliao consiste de anamnese, exame fsico e anlise da urina. Caso

    haja necessidade, pode ser feita a medida do resduo ps-miccional. Est

    aferio pode ser rpida e simples por meio de mtodos pouco com

    plexos, como ultrassonografia ps-miccional e colocao de um cateteatravs da uretra e verificao da sada de urina. Em casos mais comple

    xos ser necessrio o teste de urodinmica.

    Anamnese

    Deve-se investigar toda a histria da incontinncia e seu impacto social

    Quando comeou, intermitente ou contnua, ocorre durante o dia ou

    noite, a caminho do banheiro e/ou durante o esforo. Verifica-se a

    existncia de polaciria (aumento da freqncia miccional), estrangri

    (dor mico), enurese (perda involuntria de urina dormindo), inter

    valo entre as mices, sensao de esvaziamento insuficiente e caractersticas do jato. Informaes adicionais a respeito de constipao intesti

    nal e acesso ao banheiro so importantes. Histria de cirurgias prvias

    quais e qual a relao temporal com os sintomas pode ser til. Inves

    tigar doenas neurolgicas, especialmente: Acidente Vascular Cerebra

    (AVC), Parkinson e demncia. Finalmente, imperativo saber sobre uso

    de medicamentos, investigar a automedicao e a relao destes com a

    incontinncia. A investigao da incontinncia noite deve levar em

    considerao condies como:

    consumo excessivo de lquidos noite,

    insuficincia cardaca;

    insuficincia venosa.

    O impacto social da incontinncia urinria extremamente relevante

    Representa um importante estigma social, capaz de causar restrio da

    atividades sociais, isolamento e depresso. Alm disso, constitui-se na

    segunda causa de institucionalizao nos Estados Unidos.

    Exame fsico

    O exame convencional deve ser acrescido de um cuidado maior em:

    Exame abdominal identificar globo vesical palpvel ps-mic-o, massas ou cirurgias.

    Exame retal identificar impactao fecal, tnus do esfncter,massa retal e volume prosttico.

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    Exame genital avaliar atrofia genital e muscular, colorao dapele, prolapso uterino ou vesical e tnus muscular.

    Exame neurolgico avaliao do estado cog