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AS IMAGENS DE UM BAIRRO DO MUNICÍPIO DE CASTRO: VIL A RIO BRANCO
NAS DUAS ÚLTIMAS DÉCADAS
Rosi Eliane Alves Teixeira1
Janaína de Paula do Espírito Santo2
RESUMO
O presente artigo mostra um estudo acerca da história local a partir da leitura de imagens fotográficas da Vila Rio Branco na cidade de Castro durante as duas últimas décadas. O principal objetivo foi o resgate através de fotografias, da memória do bairro do qual os alunos estão inseridos. Selecionou-se uma turma de 8ª série para vivenciar as atividades previstas para a implantação de um caderno temático intitulado “Fotografia: Fonte, Memória e História”, elaborado pela professora onde faz uma retrospectiva desde a origem da fotografia no mundo até a sua utilização como fonte de pesquisa pelos historiadores e seu possível uso em sala de aula. No decorrer das atividades organizou-se um Grupo de Apoio à implementação do projeto, formado por professores de diferentes disciplinas que atuam na escola. Além da coleta de fotografias, entrevistas com um fotógrafo e antigos moradores da cidade, realizou-se uma exposição de fotografias e imagens que contou com a participação da comunidade.
Palavras-chave: Fotografia. Leitura de imagens. Fonte-histórica. História. Memória.
ABSTRACT
This article presents a study of the local history from the reading of photographic images of Vila Rio Branco located in the city of Castro, Paraná, during the last two decades. The main goal was to rescue, through photographs, the memory of the neighborhood in which the students are inserted. It was selected an 8th grade class to experience the activities planned for the implementation of a thematic book called “Photography: Source, Memory and History”, which was elaborated by the history teacher. The material contains a retrospective since the origins of photography until its use as a source of research by historians and its possible use in the classroom. During the activities, it was organized a support group for the implementation of the project, formed by teachers of different school subjects who work at school. Besides the collection of photographs, interviews with a photographer and people who live in the neighborhood for a long time, it was held an exhibition of photographs and images that included the participation of the community.
Key words: Photography. Image reading. Historical source. History. Memory.
1 Formada em História pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, pós - graduada pelo Instituto IBPEX em Psicopedagogia com o tema Evasão Escolar, Professora QPM integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional de Educação (2008) da Secretaria Estadual de Educação do Paraná. Atua no Ensino Fundamental na cidade de Castro-Paraná. E-mail [email protected] 2 Professora do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Mestra em Educação. Orientadora do PDE.
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1. INTRODUÇÃO
Viver cercados por uma imensidade de novas tecnologias, informações e
imagens vindas de diversos lugares do mundo, nos leva a refletir sobre a influência
que as mesmas exercem no nosso cotidiano e em especial na vida de nossos
alunos.
As imagens produzidas a partir da fotografia podem ser um instrumento a
mais para a construção do conhecimento histórico. Por serem carregadas de signos,
as imagens são captadas pelo nosso olhar no primeiro momento de observação.
Isso se deve ao conjunto de características que a envolve como: cor, formas,
posturas e outros, diferentemente de um texto escrito que requer maior análise e
reflexão por parte do observador. Encontra-se na fotografia uma linguagem não
verbal que alude a uma realidade, mas que figura como uma representação, como
um fragmento do real. "Nesse sentido, a fotografia será sempre uma interpretação” 3
e cabe a quem recebe a imagem, a função de esmiuçá-la criticamente, procurando
os pormenores que passaram despercebidos no contato primário com a fonte
iconográfica.
As imagens muitas vezes iludem e confundem o receptor e assim como se faz
ao analisar e interpretar um texto procurando compreender a mensagem transmitida
pelo mesmo, também é preciso captar o que está implícito nas imagens. Muitas
vezes as imagens, em especial as fotográficas, foram e são alvo de interesses
pessoais ou de determinados grupos que exercem o controle da informação. Elas
podem ser utilizadas até mesmo para determinar comportamentos, como no caso
das imagens encomendadas pela mídia com intenção comercial ou àquelas que na
história foram produzidas para enaltecer ou desgastar a imagem de um indivíduo ou
de um coletivo. Assim, o documento fotográfico é o resultado final de uma série de
técnicas estabelecidas conforme o interesse de seus autores no decorrer de sua
produção. Para Ivo Canabarro,
“Na contemporaneidade, as imagens aparecem nos distintos meios de circulação da cultura. Elas representam pequenos fragmentos que indicam os diferentes modos de vida dos atores sociais, a forma como compreendem o mundo, suas representações, o imaginário e mesmo cenas muito próximas de seu cotidiano”. (2005, p.23) Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do
Paraná, “A finalidade da História é expressa na produção do conhecimento, que é
3 Kossoy, Boris.Fotografia e História. p. 78. 1989
3
provisório, sob a consciência histórica dos sujeitos”. (PARANÁ, p.14, 2007). Com base
nesta orientação o ensino de história prima oportunizar ao aluno a busca de sua
identidade, para que possa compreender as transformações ocorridas ao longo do
tempo e estabelecer relações de continuidades e permanências, explorando sua
capacidade de formular as próprias representações e conceitos a fim de aplicá-las
concretamente.
A proposta desse artigo é demonstrar as inúmeras possibilidades de
investigação histórica que podem ser realizadas a partir das fotografias e seu uso
por outras disciplinas em sala de aula. A respeito disto vale à pena salientar que
muitas vezes a teoria para o aluno é uma abstração e que talvez por este fato não
desperte nele o interesse esperado pelo professor. Neste sentido, cabe ao professor
a usar de estratégias que visem à pesquisa e a produção do conhecimento em sala
de aula, para que o aluno não seja apenas um expectador de aulas.
Por isso, optou-se por uma metodologia diferenciada, utilizando algo que lhes
é bastante comum, ou seja, a fotografia. Assim, o professor oportuniza aos alunos
situações de pesquisa nas quais terão contato com outra fonte de estudo
historiográfico que poderá auxiliá-los na reconstrução de sua história partindo do
lugar em que vivem. Trabalhar com fotografias da localidade aproxima os alunos de
seu cotidiano e ao mesmo tempo favorece a leitura de outras imagens.
O trabalho com fotografias e imagens que constam nesse artigo tem por base
a história local. O uso pedagógico da história local representa a possibilidade de
desenvolvimento de um pensamento histórico através das memórias que envolvem
o entorno do aluno e levam-no a valorizar o conhecimento popular. Isso não significa
diminuir a importância do conhecimento histórico mais amplo, mas pelo contrário
procura entender os sujeitos históricos como protagonistas da história em sua
realidade sócio-cultural. Pesquisar a história da localidade aproxima o pesquisador
do passado, permitindo que a memória da cidade possa ser percebida, através dos
traços das ruas, da distribuição das casas, da organização dos bairros. A ampliação
deste tipo de pesquisa é fruto da renovação historiográfica que vem ocorrendo no
mundo desde o movimento dos Annales e que perpassa o século XX e se faz
urgente no século XXI.
O objeto dessa pesquisa é a fotografia como fonte, algo que passou a ser
aceito pelos historiadores como fonte de investigação histórica a partir da Escola de
Annales, fundada por Marc Bloch e Lucien Febvre em 1929.
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A Escola de Annales teve suas idéias divulgadas pela Revue Les Annales
d´Histoire Économique et Sociale4. A revista de origem francesa foi criada por Bloch
e Febvre com a intenção de promover uma nova forma de história. Nas três
gerações de administradores da revista, priorizou-se respectivamente a substituição
de uma história narrativa por uma história - problema, a análise de todas as ações
humanas e não apenas a história política e o trabalho conjunto com outras
disciplinas. Como é possível observar nas palavras de Ana Maria Mauad:
[... “A necessidade dos historiadores em problematizar temas pouco trabalhados pela historiografia tradicional levou-os a ampliar seu universo de fontes, bem como a desenvolver abordagens pouco convencionais, à medida que se aproximava das demais ciências sociais em busca de uma história total. Novos temas passaram a fazer parte do elenco de objetos do historiador, dentre eles a vida privada, o quotidiano, as relações interpessoais, etc.”...] (p.5,6-1996)
Surgiram, a partir daí, novas abordagens historiográficas como da Nova
História, Nova História Cultural e Nova Esquerda Inglesa. Abriu-se então, condições
para se considerar, na metodologia de História, o uso de documentos e fontes
historiográficas em sala de aula, tais como: documentos escritos, fontes orais,
fotografias, cinema, jornais, revistas, quadrinhos e outros.
O estudo proposto iniciou-se com a origem da fotografia, partindo depois para
a evolução do processo fotográfico no mundo, a leitura de imagens e, finalmente,
sugestões para que o professor possa desenvolver atividades utilizando-as,
principalmente as fotográficas.
Inicialmente, buscou-se apoio teórico para compreender a história da
fotografia e somente depois qualificá-la como fonte histórica.
Para fundamentar o estudo sobre a história da fotografia foram relevantes os
apontamentos retirados da obra Fotografia & História de Boris Kossoy e O que é
fotografia de Cláudio Araújo Kubrusly.
Segundo Kossoy, ”toda fotografia tem atrás de si uma história e toda
fotografia é um resíduo do passado” (2001, p. 45). Embora seja apenas um
fragmento da realidade, ela nos remete à investigação e nos possibilita a análise e
posterior construção de um determinado momento histórico. Boris Kossoy
acrescenta ainda que:
[...] “as fontes fotográficas são uma possibilidade de investigação e descoberta que promete frutos na medida em que se tentar sistematizar suas informações, estabelecer metodologias adequadas de pesquisa e análise para decifração de seus conteúdos, e por conseqüência, da realidade que os originou.” (p.32, 2001)
4 Revista dos Anais de História Econômica e Social
5
Neste sentido, a análise de imagens exige cautela por parte do investigador,
pois há que se considerar o contexto histórico da época em que a fotografia foi
tirada, se o registro fotográfico foi encomendado por alguém ou se tratam de
imagens feitas no cotidiano familiar, da comunidade, de encontros e outros, ou seja,
perceber com que intencionalidade a imagem foi produzida.
Pensemos que a fotografia surgiu num momento de pleno desenvolvimento
industrial e isso possibilitou o avanço das técnicas que há muito tempo vinham
sendo pesquisadas. Sobre isso assinala Kubrusly “No momento em que a
fotografia surgiu os homens estavam em plena lua-de-mel com a Máquina. A
indústria parecia ter vindo para resolver todos os problemas da humanidade”. (p.71,
1984)
As máquinas, ao mesmo tempo em que causavam espanto e certo temor,
pois vinham imbuídas de grandes transformações no cenário econômico, político e
social, representavam para alguns a garantia de progresso e prosperidade. Os
custos de produção das mercadorias tornavam-se mais acessíveis e um contingente
maior de pessoas tinha acesso a bens antes inatingíveis. É nesse contexto histórico
cultural que surge a fotografia, como uma máquina capaz de produzir imagens que
antes eram privilégio de uma elite. Kubrusly observa que “Aparentemente não havia
nenhuma habilidade especial para produzir imagens fotográficas, ao contrário do
que acontecia com a pintura, a gravura ou o desenho” (p.71, 1984).
Antes da fotografia as pessoas recorriam aos pintores para registrar pessoas,
casas, lugares etc. Com o surgimento da fotografia muitos deixaram de lado a
pintura e aos poucos esta foi sendo substituída pelas imagens produzidas por
métodos fotográficos.
Houve muitas discussões em torno da possibilidade da fotografia ser
considerada ou não uma arte e vários pintores temiam pelo desaparecimento da
pintura.
Mas, diferentemente do que eles esperavam a fotografia não tomou o lugar da
pintura, pelo contrário, ela apenas definiu o espaço que seria ocupado por cada uma
delas.
A preocupação em concorrer com a agilidade e a nitidez fotográfica levou os
artistas a buscarem novas técnicas, novas cores e outros motivos para
representarem, além de retratos e cenas da natureza. Pode-se dizer que a fotografia
foi a alavanca para que a pintura se firmasse como Arte nos dias de hoje.
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Objetiva-se, nesse estudo, que fotografia seja utilizada para a observação das
transformações que ocorreram na cidade, em especial no bairro Vila Rio Branco.
Para Circe BITTENCOURT,
[...] “toda imagem gera nos observadores outras imagens mentais, fazendo-o produzir textos intermediários orais. É preciso perceber que as fotografias estão intimamente associadas a um processo de memória e sempre despertam a oralidade. (p. 367, 2004)
Através das imagens fotográficas é possível construir a noção de tempo,
observar as mudanças, as rupturas e permanências ocorridas em determinada
época e local em comparação com o momento histórico atual.
As cidades, muito especialmente, são e foram objeto de preocupação em
registros fotográficos. Esta visão é fruto de um modelo de registro histórico que tem
suas bases na segunda revolução industrial, marcado especialmente pelo uso de
novos elementos, como os fotossensibilizantes. Para as cidades pequenas, a
fotografia era uma forma de registro útil e festejado. Útil, no sentido de que não
dependia de grandes movimentações governamentais para ser feita; e festejado,
pois representava o advento da técnica. Esse movimento se amplia na medida em
que a fotografia passa a estar presente cotidianamente na vida das pessoas. Hoje,
assistimos uma nova popularização, com o advento da fotografia digital.
Ao mesmo tempo em que esse trabalho se voltou para imagens antigas da
cidade de Castro, rememorando sua história, também propôs a análise do presente.
Neste sentido, o trabalho com a fotografia, além de resgatar o passado
histórico de uma determinada região, permite a exploração do interesse pela
tecnologia destas fontes no presente.
2. O ENSINO DE HISTÓRIA DIANTE DA REALIDADE ESCOLAR
Uma das preocupações do ensino de História na atualidade tem sido a de
acompanhar as transformações que vêm ocorrendo no mundo e nas quais estamos
inseridos. A História, que tem como objeto de investigação a humanidade, não
poderá ausentar-se dessas mudanças. Antes, precisa refletir sobre elas e entender
qual é o papel da História dentro desse contexto e como podemos auxiliar os alunos
nessa compreensão, a fim de que ele possa se sentir como parte integrante do
processo histórico.
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Despertar no educando o interesse pelo estudo histórico tem sido uma tarefa
bastante desafiadora já que, muitas vezes, ele não parece atrativo. Na maior parte
dos casos, o aluno reclama por não se identificar com o conteúdo, ou ainda, pela
forma como o mesmo é transmitido.
Qual seria então o melhor caminho para inseri-lo no processo de construção
da História?
A pesquisa com o uso de imagem levanta questões acerca do cotidiano e da
cidade. O bairro Vila Rio Branco fez parte desse estudo por estar vinculado à história
dos alunos, uma vez que são oriundos desse lugar ou das proximidades do mesmo.
Trata-se também de uma localidade que vem passando por constantes mudanças
nos últimos vinte anos, deixando de ser apenas mais um bairro periférico da cidade
de Castro para transformar-se numa próspera região.
Apesar de conviverem com imagens variadas em todos os lugares que
frequentam, na escola ainda se privilegiam as ilustrações encontradas nos livros
didáticos, o que nos remete a indagações: como fazer a leitura dessas imagens
dando a elas maior significação?
Durante a execução do projeto procurou-se desenvolver, junto com os alunos
e professores envolvidos, diferentes métodos e estratégias de leitura de imagens
retiradas de fontes diversas, tais como jornais, revistas, livros, documentos e álbuns
de família. Estes recursos podem ser aproveitados como procedimento para a
compreensão das mensagens implícitas nas imagens, inclusive as dos livros
didáticos. Segundo Bittencourt,
[...] “fazer os alunos refletirem sobre as imagens que lhes são postas diante dos olhos é uma das tarefas urgentes da escola e cabe ao professor criar as oportunidades em todas às circunstâncias, sem esperar a socialização de suportes tecnológicos mais sofisticados para as diferentes escolas e condições de trabalho que enfrenta, considerando a manutenção das enormes diferenças sociais, culturais e econômicas pela política vigente” (p. 89, 2005).
No entanto, ao se trabalhar com imagens fotográficas, procurou-se tomar um
cuidado especial no que se refere à veracidade das mesmas, pois como nos alerta
Kossoy,
As reconstruções históricas deste meio não alcançarão sua
verdadeira significação se desvinculadas da trama histórica particular, do
contexto cultural a que se referem. São os componentes econômicos,
sociais, políticos, estéticos, tecnológicos e religiosos que direcionaram
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e influíram decisivamente para que a fotografia, desde seu advento e em
suas diferentes manifestações, tivesse uma evolução determinada em
cada espaço específico. (p. 91,1989)
Nesse conjunto de pessoas envolvidas no processo fotográfico faz-se
necessário tentar perceber a função do fotógrafo e qual sua intenção ao tirar a
fotografia, se ele está a serviço de algum órgão oficial ou se trabalha de forma
autônoma. Nem sempre é possível obter tais informações, mas é fundamental para
que as imagens sejam traduzidas e não figurem apenas como meras ilustrações.
Dentro desta proposta de ensino de história se insere a intervenção
pedagógica desenvolvida com os alunos de 8ª série da Escola Estadual Profº
Nicolau Hampf, onde o trabalho com a história local, aliado à fotografia, se constitui
numa possibilidade teórico-metodológica para desenvolver no aluno as habilidades
de pesquisa, síntese, compreensão do conteúdo e o despertar do mesmo por sua
própria história.
3. FOTOGRAFIA: FONTE, MEMÓRIA E HISTÓRIA - RELATO D A
EXPERIÊNCIA
Fotografia: fonte, memória e História. Esse foi o título atribuído ao caderno
temático elaborado pela professora, como uma das atividades previstas pelo
Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) para a implementação do projeto
desenvolvido entre os anos de 2008 e 2009, cujo tema era “O uso de imagens em
sala de aula” e o título “As imagens de um bairro do município de Castro: Vila Rio
Branco, nas duas últimas décadas.”
Esse título foi escolhido pensando nas diversas representações da fotografia
e na infinidade de possibilidades que ela nos oferece enquanto instrumento de
conhecimento, análise e reflexão.
Inicialmente, a fotografia como fonte para pesquisa historiográfica associada a
um determinado tema histórico e a outras fontes; a fotografia aparece como
ferramenta de memória, pois guarda em si elementos que nos remetem ao passado
e não conseguimos ficar imunes a recordações quando estamos diante dela; a
fotografia desponta como testemunho da história, pois registra acontecimentos de
épocas passadas que, quando analisadas e contextualizadas, propiciam reflexões
sobre a relação presente/passado, representando um possível resgate da memória
visual e de seu entorno sócio-cultural. As informações nela contida auxiliam na
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construção dos saberes humanos no tempo, tais como diferenças e semelhanças,
mudanças e permanências e a valorização do que fomos e somos.
Para facilitar o desenvolvimento das atividades com os alunos, o caderno foi
dividido em quatro unidades que foram subdivididas em seções. Procurou-se usar
uma linguagem descontraída com a finalidade de despertar nos educandos o
interesse pelo tema e pela história.
As unidades foram organizadas da seguinte forma:
• UNIDADE I: A ORIGEM DA FOTOGRAFIA.
- Seção 1: quando tudo começou...
- Seção 2: precursores do processo fotográfico no mundo.
Nesta unidade os alunos tiveram contato com a história da fotografia desde as
primeiras tentativas de fixação das imagens, até a descoberta, em várias regiões, da
fotografia. Eles perceberam que a fotografia passou por um longo processo, mas
que, desde os primórdios já havia por parte da humanidade a preocupação em
registrar os acontecimentos vividos.
Compreendeu-se que a fotografia nasce num momento histórico muito bom
para inovações, pois era o auge da Revolução Industrial, período em que o
desenvolvimento científico se voltava para diversos campos, e é também um período
de transformação econômica, social e cultural. Ou seja, surgiram muitos inventos, e
a maneira de pensar e de viver das pessoas também começava a mudar.
É nesse período, marcado por grandes inovações, que a fotografia vai se
definindo como uma possibilidade inovadora de informação e conhecimento, pois
representava um instrumento de auxílio a vários campos da ciência, além de ser
uma representação artística. Com o advento da fotografia e sua constante evolução,
retratar imagens, acontecimentos ou objetos, popularizou-se, tornando-se algo
acessível a todos.
A partir da nitidez obtida pela fotografia, a pintura passou por um período de
reformulação no qual os artistas procuravam detalhar minuciosamente suas obras a
fim de chegar à perfeição conseguida através da fotografia. Sendo assim, muitos
artistas passaram a empregar técnicas de luz e cor, que eram comuns à fotografia,
em suas obras. A fotografia torna-se uma aliada, principalmente dos pintores, os
quais aderiram ao Impressionismo, movimento surgido por volta de 1874, que
aplicava a tinta em pequenos toques de cor pura deixando a pintura com um aspecto
mais brilhante. Já não existia, por parte dos artistas, o interesse pela imitação da
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realidade, pois passaram a observar o ser humano e a natureza de uma forma
inovadora.
Não é possível precisar as datas e etapas dos processos que levaram ao
surgimento da fotografia, pois fazem parte de um apanhado de práticas realizadas e
conhecidas pelos povos desde a Antiguidade, e somam-se a isso as pesquisas, as
experiências e as descobertas, que irão resultar no surgimento da fotografia no final
do século XIX. Da mesma forma, não se pode dizer que há um único inventor da
fotografia, pois ela é o efeito de um conjunto de sucessivas observações e tentativas
que resultaram no conhecimento de técnicas que se traduziram na invenção da
mesma.
“A invenção da fotografia é de fato a invenção do filme fotográfico, pois a câmara - a futura máquina fotográfica - já existia e era usada pelos artistas como instrumento auxiliar do desenho desde o século XVII”. (KUBRUSLY, Cláudio A. p.77, 1984).
De fato, os artistas já utilizavam a câmara escura para auxiliar a produção de
seus desenhos, muito antes do aparecimento da fotografia.
A câmara escura e a existência de materiais fotossensíveis foram básicas
para a concretização da criação da fotografia e eram princípios já conhecidos que
foram aperfeiçoados ao longo do tempo.
Definiu-se para a classe o que é câmara escura e matérias fotossensíveis. Da
mesma forma expôs-se o trabalho realizado pelos primeiros fotógrafos e sua
contribuição para os métodos evolutivos que dispomos atualmente, na resolução de
imagens e no aperfeiçoamento das câmeras fotográficas.
Procurou-se chamar a atenção dos alunos para o fato de que tudo o que
temos e somos, foi construído pelos nossos antepassados e que por isso devemos
valorizar, preservar e resgatar a memória coletiva da qual fazemos parte. A aula foi
dinamizada pelo uso de slides com auxílio da TV/multimídia.5
• UNIDADE II: A EVOLUÇÃO DO PROCESSO FOTOGRÁFICO NO
MUNDO.
- Seção 1: o daguerreótipo.
- Seção 2: a evolução das câmaras fotográficas.
- Seção 3: o surgimento de uma nova profissão: o f otógrafo. 5 Nome dado aos equipamentos que foram instalados nas salas de aula nas Escolas Estaduais do Paraná, onde é possível a transmissão de slides, vídeos etc.
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- Seção 4: a fotografia no brasil.
Nesta unidade, os alunos conheceram alguns métodos e pesquisas
realizadas no campo da fotografia, entre eles o daguerreótipo, até que o objetivo de
fixação da imagem fosse alcançado, enquanto as câmeras fotográficas também
passavam por um processo evolutivo e surgiam os primeiros profissionais da
fotografia. Para aprofundar essas reflexões os alunos envolvidos no projeto
entrevistaram um dos fotógrafos mais antigos da cidade.
A fotografia no Brasil despertou um grande interesse, pois perceberam que
fomos um dos pioneiros nessa descoberta. Graças a Hêrcules Florence fomos
contemporâneos de experiências realizadas no campo da fotografia que se
igualariam, mesmo distantes de recursos tecnológicos, com os países onde se
processava a Revolução Industrial.
Os alunos visualizaram, por meio de slides, câmeras antigas, pequenos
binóculos, câmeras digitais e equipamentos tecnológicos modernos como celulares,
mp5 e outros.
Percebeu-se, com essa atividade, que as câmaras fotográficas que
conhecemos hoje são bem diferentes das primeiras que surgiram e que ao longo
dos anos elas foram evoluindo até chegar ao formato atual, mas que na verdade a
estrutura básica das máquinas fotográficas continua sendo muito parecida com a da
câmara escura.
• UNIDADE III: LENDO E INTERPRETANDO AS IMAGENS
FOTOGRÁFICAS.
- Seção 1: você sabia que as imagens podem ser lid as e interpretadas?
Podemos afirmar que essa unidade é o cerne da pesquisa, pois desde o
primeiro momento a intenção desse trabalho é que, após conhecerem um pouco
mais sobre fotografia, os alunos estejam aptos para fazer a leitura de qualquer
imagem.
Enfatizou-se para os alunos que uma mesma imagem pode ser interpretada
de diferentes maneiras dependendo de quem a olha. Como observa Cláudio Araújo
Kubrusly “É impossível separar a fotografia do tema fotografado, mas ela não é o
tema, é apenas o vestígio deixado por ele no momento mágico do clic”.
(KUBRUSLY, p.81, 1984).
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O tema fotografado sempre será o que se vê num primeiro olhar, mas a
análise detalhada da foto leva o observador a lançar diferentes olhares sobre a
mesma imagem.
A fotografia hoje é tida como um produto social, pois trata de representações
sociais. É também considerada como um documento pela maioria dos historiadores,
porque ela está inserida num determinado tempo e espaço e as imagens congeladas
no passado confrontam-se com a realidade presente.
Quando você vê uma foto consegue descrevê-la? Com essa indagação
apresentou-se o tema aos alunos, os quais responderam oralmente que muitos
detalhes podem ser observados em uma fotografia. A professora complementou
dizendo que fotografia é também uma forma de comunicação, pois as imagens nela
contidas nos trazem informações a respeito de uma dada época, tais como, datas,
aspectos geográficos de um lugar, tipo de vestimentas, ocasiões, eventos etc. Esses
são dados facilmente identificados já num primeiro olhar, mas para se fazer a leitura
fotográfica é preciso ir além das evidências primárias, é necessário interpretá-la.
Mas, como fazer isso? Como ler e interpretar o que não está escrito? Para
entender essa questão pode-se tirar proveito das palavras de Ana Maria Mauad “A
imagem não fala por si só; é necessário que as perguntas sejam feitas.” (p.10,1996)
As fotografias são símbolos de uma determinada época, num determinado
espaço e tempo. Através dela podemos ter uma ideia de como as pessoas viviam,
que roupas usavam, que festas frequentavam. Outras informações podem ser
obtidas com a análise de fotos, como por exemplo, as mudanças que ocorreram e
aquilo que permanece até hoje.
Não se pode deixar de observar o que a foto deixa transparecer através da
fisionomia das pessoas que nela estão, embora muitas vezes possa aparentar uma
coisa e ser outra. Por exemplo, uma pessoa pode estar triste e sorrir no momento da
foto. A foto não consegue representar intenções, sentimentos e emoções, a menos
que seja tirada de forma espontânea, em algum tipo de comemoração, em
momentos de lazer etc. Esta é uma das razões que faz a imagem fotográfica ser
considerada como representação da realidade e não como a própria realidade.
Nesse conjunto de pessoas envolvidas no processo fotográfico é importante
perceber a função do fotógrafo e sua intenção ao tirar uma fotografia, o que ele
busca mostrar e o que procura esconder. Se a foto for encomendada por um cliente,
ele procurará deixá-lo mais bonita possível, mesmo que para isso, use recursos
técnicos para melhorá-la. Mas, se ele quiser denunciar uma triste realidade (fome,
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catástrofes, violência, guerras, corrupção) procurará aproximar-se ao máximo do
fato real. Por outro lado, existe o observador da foto que irá dar a sua interpretação.
Se durante a aula cada aluno observar, analisar, criticar uma mesma foto, haverá as
mais diferentes interpretações.
Mas como ter certeza do que estamos vendo? Como entender o que uma
imagem reproduz? Sem ter recebido informações prévias além daquelas já
apontadas pelas fotos, isso não será possível.
Com essa reflexão os alunos observaram que as imagens não devem ser
vistas somente como ilustração de um conteúdo nem devem estar dissociadas de
uma fonte documental, mas podem ser lidas porque trazem em si mesmas uma
linguagem não verbal, mas visual.
Desta forma, buscou-se uma metodologia simplificada com a finalidade de
introduzir os alunos na análise semiótica de fotografias e propagandas, para
somente depois partirem para a interpretação de imagens de seu bairro.
Realizou-se com os alunos uma atividade prática onde eles completaram um
quadro inserido no caderno temático e compararam imagens retiradas de fontes
diversas, inclusive as produzidas pela mídia, como comerciais e propagandas. A
idéia principal dessa atividade foi estabelecer uma comparação entre quatro
imagens fotográficas de diferentes arquivos ou publicações, completando o quadro
proposto.
Para essa atividade prática selecionaram-se fotos de acordo com a seguinte
tabela:
Foto I - imagens de jornais;
Foto II - imagens de revistas;
Foto III - imagens retiradas de arquivos públicos ou particulares;
Foto IV – imagens de arquivo pessoal, ou seja, fotos que você tem em sua
casa.
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FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DE DADOS CONTIDOS EM IMAGENS FOTOGRÁFICAS
Os alunos realizaram as atividades completando o quadro proposto. Durante
a execução dessa tarefa a professora propôs várias questões em forma de
questionário, com perguntas abertas, e os alunos tiveram a oportunidade de expor
suas opiniões sobre o projeto. Seguem-se comentários de alguns alunos.
“Não encontrei dificuldade em observar as fotos e completar o quadro, pois, as imagens
fotográficas escolhidas continham as informações necessárias. Gostei muito porque pude
conhecer um pouco mais sobre o lugar onde moro comparando as fotos antigas com as
recentes” (P D F B 8ª b)
Foto ou imagem I
Jornal
Foto ou imagem
II
Revista
Foto ou imagem
III
Arquivo público
ou particular
Foto ou imagem
IV
Arquivo pessoal
(álbum de família)
Local onde a foto
foi retratada e ano
de sua produção
Local onde se
encontra a
fotografia (álbum,
museu, revista,
jornal etc.)
Autor da fotografia
(fotógrafo amador
ou profissional)
Aspectos
geográficos do
lugar
Ocasião em que a
foto foi tirada
Ambiente (há
pessoas objetos,
animais na foto?)
Como elas estão
vestidas?
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“Para mim a maior dificuldade encontrada foi identificar o fotógrafo quando trabalhamos com
as imagens fotográficas retiradas de revistas. Mas achei o trabalho bem interessante, pois
antes olhava uma fotografia só por olhar e evitava as propagandas. Hoje reflito sobre as
mesmas e penso porque foram produzidas e como são importantes, pois registram os
acontecimentos e nos dão uma idéia de como as pessoas viviam”. (L B 8ªb)
“Achei o quadro bem prático, pois nos leva a procurar as informações que as imagens
trazem. É muito bom perceber que o local onde moramos passou por mudanças e conhecer
através das fotos coisas que hoje não existem mais. O projeto me influenciou a gostar mais
de estudar a história da minha cidade”. (L N R 8ªb)
“Antes de aprender que as imagens podem ser fontes para o estudo da história eu só
observava a pessoa retratada e não prestava atenção no seu significado histórico. Fazer a
comparação de várias imagens foi bom porque percebi que apesar de diferentes elas
procuram transmitir uma mensagem. Mais legal ainda foi analisar as fotos antigas do nosso
bairro, ver o que mudou, a forma como as pessoas se comportavam e perceber que algumas
coisas já nem existem mais” ( M J S 8ªb)
Quando eu via uma propaganda só prestava atenção no produto e não no que ela queria
dizer. Agora comecei a pensar sobre o que quer transmitir para o consumidor. “Nas
fotografias via só o que me interessava, mas com o projeto minha forma de ver uma foto
mudou, comecei a ver os detalhes” (T A 8ªb)
“Achei importante saber sobre nossa história e quem fez e faz até hoje parte dela”. (A M C 8ªb)
As observações feitas pelos alunos conduziram à percepção, pela professora,
de que a proposta de trabalho de resgate da história local através da fotografia e
leitura de imagens foi compreendida pelos mesmos em quase sua totalidade.
Porém, um dos alunos não demonstrou interesse, pois julgou estar perdendo
conteúdo da disciplina de história enquanto participava do projeto.
A sua opinião evidenciou-se ao relatar as seguintes palavras “Não gostei do
projeto porque atrasou o conteúdo de história” (E M G 8ªb). Suas expressões
demonstraram seu descontentamento e a não compreensão dos objetivos propostos
pelo projeto.
A preocupação do aluno é bastante compreensível, pois o mesmo prepara-se
para ingressar no Ensino Médio e há uma inquietação muito grande em relação ao
conteúdo. Caberá, então, ao professor que for utilizar-se do projeto, fazer
adequações para que não haja detrimento do conteúdo durante o desenvolvimento
do mesmo.
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Além da atividade acima citada, outras puderam ser realizadas, como a
troca de imagens com outro colega, situação na qual se repetiu o mesmo
procedimento, efetuando-se, assim, mais de uma interpretação e leitura da mesma
imagem.
Outra forma de proceder à leitura fotográfica pode ocorrer pela comparação
de fotos em tempo e espaço diferentes, questionando sobre o que as imagens nos
mostram, se é possível reconhecer as pessoas que estão na foto, como elas estão
se comportando, como estão vestidas, onde e como é o local e qual é o estado de
conservação das fotografias.
Todas essas perguntas podem ser feitas ao analisar uma fotografia e também
outras imagens.
• Seção 2: cidade, bairro e fotografia.
A cidade de Castro, como tantas outras, nasceu do tropeirismo, ou seja, foi
caminho de passagem para as tropas que transportavam no lombo de mulas e
burros mantimentos, roupas e utensílios para outras regiões. A ação dos tropeiros
abriu caminho para a colonização e expansão portuguesa pelo interior do Paraná.
Assim, ao longo do tempo foram se instalando grandes propriedades de criação de
animais e surgiram povoados, armazéns, hospedarias, ferrarias e outras atividades
que, mais tarde, deram origem a vilas e cidades.
Várias cidades da região que nasceram do tropeirismo conservam traços
marcantes do movimento, como “A Rua das Tropas” (rota por onde os tropeiros
passavam), o “Bairro da Ronda” (lembrança dos acampamentos de tropeiros que
faziam sentinela para proteger suas mulas contra o ataque de animais).
Nosso tema de interesse é justamente perceber as mudanças que ocorreram
na cidade de Castro, mais especificamente na Vila Rio Branco, bem como verificar o
que ainda se conserva.
A extensa Vila Rio Branco foi e ainda é conhecida pelos moradores mais
antigos como o Bairro da Ronda. Isso se deve, como já vimos, a sua formação
histórica influenciada pela ação dos tropeiros.
A mudança do nome para Vila Rio Branco partiu de um grupo de moradores
influentes na política local que tinham admiração pelo Barão do Rio Branco, pois
elogiavam sua atuação como defensor de nossos limites e fronteiras. Quando
ocorreu sua morte em 1912, houve reunião na Câmara e foi mudada a denominação
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de Ronda para Vila Rio Branco, segundo a lei nº 20 de 28 de maio do mesmo ano,
sancionada pelo então prefeito Indalécio Rodrigues Macedo. (WEINERT, 1999)
No entanto, o nome Ronda era tão forte que persiste até os dias de hoje.
Por se tratar de um território com maior agrupamento de pessoas, a cidade é
o espaço onde as transformações acontecem de forma mais visível. E é aí que entra
a fotografia! Ela congela imagens de um tempo já vivido. Apesar de não conter em si
a totalidade, ela guarda fragmentos de uma realidade. Isso ocorre principalmente
com fotografias de lugares de memória, como museus, igrejas, prédios, parques,
ruas, e são carregadas de lembranças.
Quantas vezes se passam por lugares que mesmo modificados trazem muitas
recordações? Quando se dedica alguns momentos em companhia de fotografias
ocorre o mesmo. Mas as fotografias também nos revelam outros traços do bairro, da
cidade e de sua população, como a transformação da natureza pela ação humana, o
progresso acompanhado de suas consequências, os costumes e tradições.
Utilizando-se da metodologia para leitura de imagens, a qual consta nesse
artigo, os alunos observaram, analisaram e interpretaram imagens fotográficas
antigas e recentes da Vila Rio Branco.
• Seção 3: descrição do bairro vila rio branco: onte m e hoje.
As imagens antigas de Castro e da Vila Rio Branco foram coletadas entre
moradores da cidade e fazem parte de arquivo pessoal. As recentes foram
propositalmente tiradas para que a comparação fosse possível. Outras ainda foram
obtidas da internet.
Imagem da cidade de Castro pintada por Jean Baptiste Debret- 1827 http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/arquivos/Image/conteudos/imagens/arte/5debret4.jpg
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Vista aérea da cidade de Castro - Arquivo pessoal da autora
Para o trabalho com as fotos seguiu-se um roteiro pré-estabelecido,
fundamentado nas perguntas a seguir:
Que lugares estão sendo retratados nas imagens? É possível determinar a
época em que foram retratadas? Que semelhanças e diferenças podem ser
observadas nas imagens? Há permanências ou rupturas? Quais? A que conclusões
se podem chegar a partir dessas imagens?
As fotografias foram aliadas às entrevistas com moradores da cidade,
proporcionando aos alunos habilidades de pesquisa e conhecimento da história de
sua localidade, sendo possível descrever o bairro Vila Rio Branco ontem e hoje,
relacionando seu passado e seu presente.
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Vista parcial da Vila Rio Branco – Arquivo pessoal da autora
Centro Cultural de Castro – Arquivo pessoal da autora
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Fórum Eleitoral de Castro – Arquivo pessoal da autora
Comércio na Rua Javert Madureira em Castro- Vila Rio Branco – Arquivo pessoal da autora
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As mudanças ocorridas no bairro Vila Rio Branco puderam ser percebidas
pelos alunos ao analisarem imagens do comércio local e de suas movimentadas
ruas em comparação com imagens fotográficas antigas da localidade.
O aluno E M G (8ªb) após observar e comparar as fotos relatou “O bairro
mudou muito, urbanizou-se, criaram-se escolas, postos de saúde e outras coisas
ainda permanecem, como o Campo do Caramuru”
As fotografias se tornaram evidências da diversidade de atividades
econômicas desenvolvidas na vila e dos órgãos de prestação de serviços públicos,
como o Centro Cultural e o Fórum Eleitoral.
Os alunos foram levados a pensar no por que destas transformações na Vila
Rio Branco.
Conclui-se que a população periférica da cidade tem aumentado muito,
necessitando de maior infra-estrutura e meios para sua sobrevivência e comodidade.
Pensando nisso, muitos empresários têm investido no comércio e nos serviços na
região.
• UNIDADE IV: O PROFESSOR TRABALHANDO EM SALA DE AULA : UMA
NOVA PERSPECTIVA PARA O ENSINO DE HISTÓRIA.
- Seção 1: sugestões teóricas e práticas de como t rabalhar com o
caderno temático em sala de aula.
As atividades que compõem o caderno foram pensadas e elaboradas com a
intenção de tornar o ensino de História mais agradável e próximo do momento
histórico em que vivemos na atualidade.
Preparou-se, nessa unidade, um encarte destinado ao professor de história e
áreas afins, no qual são apresentadas sugestões para desenvolver as atividades
propostas no caderno.
Aproveitando que uma das atividades propostas pelo PDE era a formação do
Grupo de Apoio à implantação do material didático pedagógico na escola, essa
unidade foi levada ao conhecimento dos professores participantes do mesmo.
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4. O GRUPO DE APOIO À IMPLANTAÇÃO DO MATERIAL DIDÁT ICO
PEDAGÓGICO NA ESCOLA.
A participação dos professores de outras áreas na implementação do trabalho
deu-se de forma bastante satisfatória e mostrou-se fundamental para que os
objetivos do projeto fossem alcançados, uma vez que, através das reuniões
realizadas, surgiram novas idéias e sugestões e foi possível o conhecimento da
metodologia usada pela professora para a leitura de imagens pelas demais turmas
da escola. Sendo assim, o projeto tornou-se notório em toda a escola.
As reuniões com o grupo de apoio aconteceram no espaço escolar no período
noturno e totalizaram oito encontros, nos quais ficou conhecida a proposta de
implementação do projeto na escola. Os professores entraram em contato com o
material didático produzido pela professora, se interaram da fundamentação teórica
que embasou o projeto, realizaram as atividades práticas propostas no caderno
temático e discutiram a viabilidade e a importância do mesmo para a diversificação
do ensino de História e a participação das demais disciplinas nesse trabalho.
Seguindo uma orientação multidisciplinar o envolvimento das mesmas seguiu-
se da seguinte forma: Língua Portuguesa: Compreensão e interpretação de
charges, história em quadrinhos, quadros de pinturas e fotografias, bem como a
produção de texto (descrição e narração); Matemática: A imagem como
subjetividade e objetividade (formas e simetria, congruências e semelhança);
Ciências: Análise de imagens como alerta na questão do meio ambiente e da
saúde; Artes: Releitura de imagens, cores e planos; Geografia: Leitura de mapas e
fotografias da cidade de Castro; História: análise das imagens, especialmente as
fotográficas, buscando o contexto histórico, político e social das mesmas,
trabalhando com a memória; Língua Estrangeira Moderna : Associação do objeto
concreto com o léxico; Educação Física: Associação de ideias por meio de imagens
para o exercício prático.
A respeito do projeto os professores fizeram o seguinte relato:
“O caderno temático produzido pela professora PDE foi considerado eficiente e de acordo
com a proposta de levar os educando a perceberem a fotografia como um documento que poderá ser
pesquisado pelos historiadores e, ainda, aprofundar o conhecimento dos mesmos para que sejam
capazes de observar fotografias e ou outras imagens com outro “olhar”.
As estratégias adotadas pela professora foram relevantes para que os alunos tivessem
contato com diversos documentos, como fotografias, jornais, revistas, livros, objetos, certidões e
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permitiu aos mesmos a liberdade de observar e expressar suas ieéias, especialmente sobre as
imagens implícitas nos documentos.
Ao trabalhar com imagens produzidas por diferentes meios, inclusive a midiática
(propagandas), a professora oportunizou aos alunos uma análise crítica, pois os despertou para a
percepção em busca da subjetividade por trás das imagens. Ao analisar fotografias antigas e
recentes de sua localidade, os alunos foram despertados a construir reflexões sobre a relação
presente/passado, conhecer outros costumes de seu tempo e de outras épocas.” ( Professores:
Claudinéia Stukio, Josiane de Fátima Kolodzieiski , Marcos Cesar Carneiro, Marli Teresinha Fillus,
Neoci Fidelix e Rosane Gabriel Klimeck).
Os professores tiveram a oportunidade de entrar em contato com o material e
praticar as atividades que posteriormente foram desenvolvidas com os alunos. Na
prática dessa atividade houve a possibilidade de observar como os professores
reagiram diante da análise das imagens pesquisadas em fontes diversas e depois
frente às suas próprias fotos.
A coordenação do grupo de estudos representou uma experiência
enriquecedora, pois ao pesquisar a opinião dos colegas percebeu-se que a ação
conjunta das disciplinas é uma opção viável e exequível. Isso se deu através de
debates, de questionamentos dirigidos e trocas de técnicas e métodos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com esse trabalho procurou-se transmitir métodos para a análise e a
interpretação de imagens fotográficas que estão bastante presentes em nosso
cotidiano. Nesse sentido, o resultado obtido demonstrou-se satisfatório na medida
em que os alunos passaram a perceber a fotografia como fonte histórica, que nos
remete a indagações e reflexões acerca do momento histórico reproduzido na
imagem, considerando tempo, espaço e contexto histórico. Ainda, despertou-os para
a valorização das fotos como um patrimônio cultural, já que rememora o passado
vivido por outras sociedades. O contato com imagens fotográficas retiradas de
jornais, revistas, de arquivos públicos e particulares estimulou a pesquisa e sua
contribuição para que os envolvidos sejam capazes de compreender a
intencionalidade com que as fotografias são produzidas.
Ao trabalhar com as fotografias de seu bairro os alunos tiveram contato com
sua própria história, o que lhes possibilitou um sentido de pertencimento àquela
região, contribuindo para a formação de sua identidade. Ao confrontarem as
imagens antigas e recentes da Vila Rio Branco, os alunos notaram as mudanças e
permanências, as rupturas e as continuidades que se deram com o passar dos anos.
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A associação cidade e fotografia não é algo novo, pois desde sua divulgação
oficial por Daguerre, em 1839, passou a despertar o interesse de muitos fotógrafos
empenhados em registrar as transformações urbanas pelas quais ela passava.
A preocupação em reter a memória das cidades se evidencia através da
grande quantidade de cartões-postais, folders, panfletos etc., que são usados para a
divulgação do progresso que as constituem em confrontação com o que se eternizou
ou desapareceu, restando apenas fragmentos congelados em uma imagem.
Notadamente, nas pesquisas fotográficas realizadas sobre a história de
Castro e em especial sobre um de seus bairros, a Vila Rio Branco, constatou-se o
seu desenvolvimento e a existência de um “policentrismo” (Jacques Le Goff, p.145,
1998) com o crescimento cada vez maior em torno do bairro. Essa verificação veio
de encontro às expectativas do projeto, o qual buscou, por meio da representação, a
percepção do aluno sobre o papel desempenhado pelas cidades como um espaço
no qual as mudanças acontecem e sua função política na medida em que elas
ocorrem.
Outro ponto relevante do projeto era como fazer a leitura de imagens e para
isso foi de grande importância a colaboração dos professores de outras áreas, que
contribuíram utilizando o método apresentado pela professora com outras turmas e
divulgando suas ideias e técnicas sobre o tema nas reuniões realizadas no Grupo de
Apoio à Implementação do Projeto na Escola. A participação desses docentes
demonstrou-se fundamental para que o projeto não ficasse restrito somente às aulas
de História, possibilitando o envolvimento de toda a comunidade escolar.
Ao acompanhar todas as etapas desde a elaboração do que chamamos
esqueleto do projeto observou-se que a proposta deste trabalho foi além de suas
expectativas, pois, alcançou um despertar da maioria dos alunos envolvidos para a
História, em especial a de sua localidade. Os alunos demonstraram-se mais
interessados pelo conteúdo e pela análise das imagens trazidas pelo livro didático.
Como diz Kossoy (apud GEJÃO p.4, 2008) “Na construção da fotografia estão
envolvidos necessariamente três componentes: o autor, o texto visual propriamente
dito e o leitor da imagem” e por isso é preciso ir além da simples observação das
imagens.
Considera-se, nesse sentido, que o resultado deu-se de forma bastante
positiva e isso pôde ser observado através dos depoimentos coletados junto aos
alunos e professores implicados no projeto e que estão relatados neste artigo.
Porém, um dos alunos manifestou-se contrário ao projeto, pois entendeu que o
25
tempo gasto com a execução das atividades resultou em perda do conteúdo de
História. Entretanto, em outro momento desse estudo, encontra-se um comentário
feito por esse mesmo aluno no qual elenca uma série de mudanças que ocorreram
no bairro e que foram por ele observados através da comparação das fotografias.
Isso nos leva a presumir que o mesmo obteve um aproveitamento histórico reflexivo
a partir do projeto.
Ainda assim é necessário considerar a possibilidade de se fazer
reformulações no projeto para que, posteriormente, venha a ser utilizado pela
professora e por outros interessados, sem comprometer o conteúdo da grade
curricular da série em que o aluno está inserido, mas não se pode perder de vista
que o objetivo mais amplo do ensino de História está além dos dados.
Conclui-se ainda que, entre as possibilidades obtidas com a análise de
imagens, especialmente a fotográfica, está a importância das mesmas como rica
fonte documental, se associada a outros tipos de documentos, e sua contribuição
para a construção do conhecimento histórico pelos alunos, pois fornece subsídios
para que haja um diálogo entre os discentes e a sua própria história.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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