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FERRAMENTAS DIGITAIS: SUPORTE PARA APRENDIZAGEM DA ESCRITA DA LÍNGUA DE SINAIS E APROPRIAÇÃO DA ESCRITA DA LÍNGUA PORTUGUESA Creice Barth: Graduanda de Pedagogia Multimeios e Informática Educativa (PUCRS) ([email protected]) Cristiane de Barros Castilho Loureiro: Fonoaudióloga, Especialista em Audiologia (IMEC-RS), Mestranda em Informática na Educação Especial (UFRGS) ([email protected]) Lucila Maria Costi Santarosa: Professora Drª do Curso de Pós- Graduação em Informática na Educação (PGIE) da UFRGS, pesquisadora IA do CNPq e consultora da SEESP/MEC. Presidente da Redespecial-Brasil, coordenadora nacional da RIBIE ([email protected]) Resumo Este trabalho descreve a construção da língua escrita de sinais por sujeitos surdos fazendo uso de um teclado construído especialmente para este objetivo visando minimizar a distância existente entre a L1 (língua de sinais) como forma de expressão e comunicação e a L2 (língua portuguesa) como forma escrita buscando facilitar esta relação. Apresentaremos sinteticamente a proposta bilíngüe na educação dos surdos enfatizando a importância da apropriação da escrita dos sinais e o relato da experiência realizada.

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FERRAMENTAS DIGITAIS: SUPORTE PARA APRENDIZAGEM

DA ESCRITA DA LÍNGUA DE SINAIS E APROPRIAÇÃO

DA ESCRITA DA LÍNGUA PORTUGUESA

Creice Barth: Graduanda de Pedagogia Multimeios e Informática Educativa (PUCRS) ([email protected])

Cristiane de Barros Castilho Loureiro: Fonoaudióloga, Especialista em Audiologia (IMEC-RS), Mestranda em Informática na Educação Especial (UFRGS) ([email protected])

Lucila Maria Costi Santarosa: Professora Drª do Curso de Pós-Graduação em Informática na Educação (PGIE) da UFRGS, pesquisadora IA do CNPq e consultora da SEESP/MEC. Presidente da Redespecial-Brasil, coordenadora nacional da RIBIE ([email protected])

Resumo

Este trabalho descreve a construção da língua escrita de sinais por sujeitos surdos

fazendo uso de um teclado construído especialmente para este objetivo visando minimizar a

distância existente entre a L1 (língua de sinais) como forma de expressão e comunicação e a L2

(língua portuguesa) como forma escrita buscando facilitar esta relação.

Apresentaremos sinteticamente a proposta bilíngüe na educação dos surdos

enfatizando a importância da apropriação da escrita dos sinais e o relato da experiência

realizada.

Palavras-chave: Surdo, teclado especial, comunicação, ambientes digitais, bilingüismo

Campo Temático: Bloco II: Acessibilidade para a Comunicação – Sistemas Específicos

de comunicação

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FERRAMENTAS DIGITAIS: SUPORTE PARA APRENDIZAGEM

DA ESCRITA DA LÍNGUA DE SINAIS E APROPRIAÇÃO

DA ESCRITA DA LÍNGUA PORTUGUESA

Resumo

Este trabalho descreve a construção da língua escrita de sinais por sujeitos surdos

fazendo uso de um teclado construído especialmente para este objetivo visando minimizar a

distância existente entre a L1 (língua de sinais) como forma de expressão e comunicação e a L2

(língua portuguesa) como forma escrita buscando facilitar esta relação.

Apresentaremos sinteticamente a proposta bilíngüe na educação dos surdos

enfatizando a importância da apropriação da escrita dos sinais e o relato da experiência

realizada.

Palavras-chave: Surdo, teclado especial, comunicação, ambientes digitais, bilingüismo.

Campo Temático: Bloco II: Acessibilidade para a Comunicação – Sistemas Específicos

de comunicação

Introdução

A comunicação é a troca de informações mediada por um código e regida por regras. A

espécie humana apresenta como seu principal instrumento de comunicação: a linguagem.

Atualmente, os surdos possuem cultura e língua próprias, fazem parte de uma

comunidade e não são mais vistos do ponto de vista patológico, sendo assim, embasamos esta

pesquisa na transposição da língua de sinais para a construção de sua própria escrita, pois

poderão transformar os sinais manuais em símbolos gráficos, com a utilização de ferramentas

digitais favorecendo o crescimento da produção escrita e conseqüentemente de seu acervo

cultural.

A linguagem não se reduz a um instrumento, pois muito antes de articularmos ou

acenarmos com o menor gesto já estamos imersos em um mundo simbolizado.

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Por outro lado, “A linguagem nasce da necessidade de comunicar e de pensar; o

pensamento e a comunicação são resultantes da adaptação às condições complexas da vida”.

(Vygotsky, 1997, p. 90) É um fator significativo no desenvolvimento de contatos sociais,

interações e trocas.

A linguagem no Surdo é desenvolvida através da LIBRAS1, sua língua materna que

auxilia na construção de sua fala interior, exercendo a função planejadora da linguagem,

evitando atrasos cognitivos e escolares.

Consideramos a proposta bilíngüe, por referir-se à aquisição da Língua de Sinais,

LIBRAS (L1) e da Língua Portuguesa( L2). Acreditamos, com isto, que diminuiremos a

distância existente entre as modalidades de aprendizagem de L1 e L2, tendo a escrita de sinais

como elo de suporte na apropriação da L2 no seu processo de comunicação e expressão escrita

do surdo.

Este aprendiz tem sido desafiado a aprender conteúdos programáticos em uma língua, que

não é sua língua materna, no caso o português, que tem sido difícil de dominar e o resultado

visível, invariavelmente, é o fracasso, a frustração e o isolamento social, devido às alternativas

até agora utilizadas para que esta apropriação seja facilitada.

A PROPOSTA BILÍNGÜE NA EDUCAÇÃO DOS SURDOS.

A capacidade de comunicação lingüística apresenta-se como um dos principais

responsáveis pelo processo de desenvolvimento do indivíduo Surdo. “A aquisição da linguagem

em crianças Surdas deve ser garantida através de uma língua visual espacial” (Quadros,1997, p.

3)

Se a opção volta-se para a LIBRAS, o surdo deverá assumir sua identidade de indivíduo

Surdo inteligente e capaz.

A língua de sinais assume estruturação gramatical complexa, permitindo pensamentos

baseados na visão. Mostra-nos uma percepção de tempo, espaço e expressão corporal.

Nesta perspectiva, podemos citar a Educação Bilíngüe que tem como ponto fundamental

a aquisição da primeira língua (L1) caracterizada pelo aprendizado da LIBRAS e

secundariamente o aprendizado da segunda língua (L2), referenciada pelo aprendizado da língua

portuguesa, em suas modalidades oral e/ou escrita.

1 LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais2

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O objetivo da educação bilíngüe é que a criança surda possa ter um desenvolvimento

cognitivo-lingüístico equivalente ao verificado na criança ouvinte e que ela possa desenvolver

uma relação harmoniosa também com ouvintes, tendo acesso às duas línguas: a de sinais e a do

grupo majoritário.

Segundo Santarosa (2000), a língua designa um sistema específico de signos que é

utilizado para a comunicação em sociedade, portanto, a LIBRAS é uma língua natural surgida

entre os Surdos brasileiros com o propósito de atender às necessidades comunicativas de sua

comunidade.

A língua de sinais brasileira é composta de todos os componentes pertinentes às línguas

orais, como gramática, semântica, pragmática, preenchendo assim, os requisitos científicos para

ser considerada instrumental lingüístico de poder e força. Possui todos os elementos

classificatórios identificáveis de uma língua e demanda de prática para seu aprendizado. É uma

língua viva e autônoma, reconhecida pela lingüística.

O que a diferencia é a estrutura seqüencial no tempo, onde as línguas orais são

caracterizadas pela linearidade, pois os fonemas se sucedem seqüencialmente em contraste com a

simultaneidade das línguas de sinais onde estes possuem estrutura, podendo emitir indicações

envolvendo ao mesmo tempo diversas partes do corpo do sinalizador.

É necessário que haja um bom desenvolvimento e aperfeiçoamento da LIBRAS,

introduzida precocemente, para que este aprendizado possa auxiliar o Surdo na aprendizagem da

escrita dos sinais, tendo em vista que quanto mais sinais forem introduzidos e apreendidos

coerentemente, melhor será sua percepção ao adquirir a língua escrita dos sinais.

A IMPORTÂNCIA DA ESCRITA DOS SINAIS.

A língua de sinais foi desenvolvida de maneira a demonstrar movimentos no espaço, e a

representação de sua escrita deve estar correlacionada a escrita destes sinais.

Sendo assim, “a construção de qualquer sistema de representação necessita, por parte dos

sujeitos, de um processo de diferenciação entre os elementos, as propriedades e as relações que

eles apreenderam no objeto que se tornará objeto da representação, bem como de um processo de

seleção, já que inevitavelmente somente alguns elementos e algumas propriedades e relações

serão retidos na representação”.(Ferreiro, 1990,p 65).

Um dos maiores problemas que envolvem a educação dos Surdos é a de não poder

expressar-se através da escrita de sua própria língua, fazendo uso da língua oral para escrever,

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sendo que esta não é a sua língua natural, pois o código escrito de uma língua oral está fundado

foneticamente na grafia dos sons, dificultando seu aprendizado.

A escrita é um sistema de signos que não têm significado em si. Os signos representam

outra realidade, isto é, o que se escreve tem uma função instrumental, funcionando como um

suporte para a memória e a transmissão de idéias e conceitos. É necessário que o Surdo

compreenda que a língua escrita dos sinais não tem nada a ver com o português, pois são duas

línguas separadas, cada uma com seu sistema de escrita.

A escrita alfabética não capta as relações de significação da língua de sinais, tornando

bastante complicado o registro dos pensamentos e significados da criança de forma completa.

Reforçando a necessidade da apropriação da escrita dos sinais, Quadros (2000), coloca que as

oportunidades que as crianças têm de expressar suas idéias, pensamentos e hipóteses sobre suas

experiências com o mundo são fundamentais para o processo de aquisição da leitura e escrita.

(p.12).

Segue a autora colocando que quando a criança lida com a escrita de forma consciente,

passa a ter poder sobre ela desenvolvendo competência crítica. A criança passa a construir e

reconhecer seu ambiente e refletir sobre o outro.

Dessa forma, “a escrita da língua de sinais capta as relações que a criança estabelece

naturalmente com a língua de sinais. Se as crianças tivessem acesso a essa forma escrita para

construir suas hipóteses a respeito da escrita, a alfabetização seria uma conseqüência do

processo”. (Quadros, 1997, p. 13)

Tendo o computador como ferramenta educacional que auxilia no processo de ensino e

de aprendizagem, possibilitando vivências e situações que facilitam o desenvolvimento das

potencialidades dos Surdos através da interação entre o sujeito e o objeto podemos citar que de

acordo com Costa (1996), ambientes interativos podem ser vistos como sistemas abertos,

condizentes com a abordagem construtivista/interacionista, e propiciam facilidades de pesquisa,

vasta quantidade de informações e meios de interação com outros usuários, favorecendo a

aquisição e construção de novos conhecimentos de maneira crítica e criativa.

DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA

As atividades foram propostas tendo em vista primeiramente a avaliação do

conhecimento prévio de duas crianças surdas com a ferramenta utilizada: o computador.

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Foram realizadas sessões de 2 (duas) horas 1 (uma) vez por semana, tendo um facilitador

e um observador mediando as interações.

As crianças foram observadas, filmadas e foram feitos os registros de todos os passos

realizados frente às atividades solicitadas, para que, pudéssemos analisar os dados através da

visualização das expressões faciais e corporais e principalmente na observação dos passos

utilizados na construção do conhecimento.

Empregamos esta metodologia por se tratar de crianças surdas que utilizam como

comunicação básica a língua de sinais, que vem acompanhada de trejeitos e expressões muitas

vezes mais claras e explícitas que os próprios sinais.

A partir desta observação, foram trabalhados os passos para uma boa manipulação da

ferramenta e de seus ambientes virtuais, não deixando margem à quebra da atividade por falta de

experiência.

Inicialmente trabalhamos com o software signbank (www.signwriting.org) para que a

criança tenha contato com os símbolos e conheçam as etapas de construção dos sinais a partir da

constituição dos símbolos através de sua junção de acordo com as configurações estipuladas.

Esta ferramenta apresenta individualmente as configurações de mãos, ombros, etc,

auxiliando o aprendizado da construção de cada sinal, mas não oportuniza às crianças visualizar

o sinal completo correspondente a sua construção.

Fig 01 – Programa SignBank disponível no site www.signwriting.org

Após as crianças conhecerem cada símbolo e suas configurações, trabalhamos com o

teclado especial, confeccionado especificamente para auxiliar na elaboração do texto construído

com o recurso do teclado desenvolvido para a criação dos sinais no software aplicativo Microsoft

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creice, 03/01/-1,
Tiramos do plural?
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Word, possibilitando a transposição para outros softwares aplicativos como Microsoft Power

Point e FrontPage.

Fig 02 Teclado apropriado para aprendizado da língua de sinais escrita

Descrição Do Teclado Especial

A construção do teclado especial visou acrescentar ao teclado padrão nova configuração,

isto é, para cada tecla foram adicionadas três ou quatro configurações de mãos, cabeça, ombro,

entre outras e para cada determinado comando unitário e isolado dado pela criança, constituindo

a construção do sinal correspondente ao que ela deseja escrever, este aparece na tela do

computador.

Teve possibilidade de acessar a tecla com a configuração unitária correspondente até 4

vezes utilizando-se do acesso em sentido horário.

Criamos alguns critérios que devem ser seguidos para que o sinal possa ser construído

seguindo uma ordem lógica.

Primeiramente, seleciona-se a parte do corpo, a configuração das mãos, a posição desta

(frente, lado ou costas), localização de chão ou parede, verificação se o símbolo é espelhado em

relação ao símbolo da tecla (ou seja, se a mão que sinaliza é a esquerda, já que o padrão para o

teclado é a representação com a mão direita), se há rotação da mão e finalmente o movimento

propriamente dito.

Criamos um código com a união de vários caracteres utilizando o recurso do AutoTexto

da ferramenta Word; selecionamos a configuração e ao teclar a tecla F3 o AutoTexto mascara a

codificação inserindo a figura correspondente na ordem selecionada.

Foram criadas possibilidades de erro na construção do sinal gráfico, portanto se a criança

digitar o conjunto de caracteres codificados para um determinado sinal e errar um dígito,

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aparecerá a configuração do sinal de forma errada, possibilitando-a corrigir sua construção

através da visualização e perceber em que parte da configuração deve consertar.

Experiência Realizada: Estudo De Caso.

Iniciamos esta experiência estudando dois casos de crianças surdas (C. e G.) ambas com

11 anos de idade que conhecem e utilizam para sua comunicação a LIBRAS e a escrita da língua

portuguesa. Esta experiência visa demonstrar como se dá a apropriação da escrita dos sinais com

a utilização do teclado especial, buscando oportunizar a construção da escrita dos sinais

caracterizada por ser sua língua materna.

Tendo em vista todo o processo de construção, facilitado pelo uso computacional, não só

dos sinais, mas também de significados conceituais dos mesmos, propomos a construção de uma

revista virtual primeiramente enfatizando a produção textual da escrita dos sinais e

posteriormente a escrita da língua portuguesa.

Primeiramente apresentamos o software SignBank para que pudessem ter contato com os

símbolos que formam a construção da escrita de sinais, e posteriormente passamos para o teclado

especial.

Por estarmos no início desta pesquisa descreveremos as primeiras demonstrações da

apropriação dos símbolos e suas configurações e conseqüentemente a escrita de alguns sinais que

as crianças conseguiram construir utilizando o teclado especial.

C. escolheu palavras que já conhecia em LIBRAS para seu primeiro contato com o

teclado, e olhando para este, seguiu os critérios criados (descritos acima) para a composição pré-

estabelecida dos sinais, passando a construí-los, observando um a um para chegar na seqüência

correta. No entanto, havia momentos em que C. errava, olhava para a tela, pensava novamente e

corrigia o erro. Em alguns momentos precisou da ajuda da Facilitadora que o acompanhava, em

outros corrigiu os sinais sozinho. Havia momentos em que C. corrigia o erro durante a

construção do sinal, não havendo necessidade de esperar ver o sinal pronto para notar que

deveria haver mudanças em alguma configuração.

Em contrapartida, G. solicitou muito mais a presença do Facilitador dando suporte tanto

nos sinais manuais quanto na construção da escrita de sinais utilizando o teclado especial.

Observamos que G. apresentou mais dificuldades na utilização do teclado, pois demorava

para associar os símbolos e referia estar difícil a procura pelos símbolos isolados, mas ao

conseguir ver na tela o sinal pronto que acabara de construir referiu ter gostado e sugeriu a

construção de um novo sinal.

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Podemos ressaltar que C. não demonstrou dificuldades ao seguir as configurações dos

símbolos na construção dos sinais, tendo em vista que fazia uso do sinal manual anteriormente à

transposição para o sinal escrito.

Observamos esta facilidade de C. como um ponto positivo ao nos referirmos à distância

encontrada no bilingüismo, ou seja, a criança constrói a escrita dos sinais com mais propriedades

por já ter conhecimento e apropriar-se da LIBRAS como sua língua materna.

Para G. esta dificuldade transformou-se em desafio, pois demonstrou maior interesse em

aprender, buscar e construir novos sinais.

Como estamos no início desta pesquisa, não conseguimos enfatizar a proposta inicial que

era a construção de uma revista virtual escrita em sinais, mas pudemos obter uma prévia desta

construção apresentada no quadro abaixo.

Fig 03 Sinais construídos por C. com a utilização da escrita de sinais

Fig 04 Sinais construídos por G. com a utilização da escrita de sinais

Considerações Finais

Ao considerarmos a aprendizagem como um processo social no qual os sujeitos

constroem seus conhecimentos, pudemos observar que inicialmente as crianças apresentaram 8

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bom desempenho ao conceber que cada sinal é formado por partes específicas constituídas pela

união dos símbolos vistos no teclado especial.

Os sujeitos surdos se dão conta que podem construir frases e transmitir suas idéias de

forma escrita após a seleção dos símbolos na ordem correta. Para tanto podemos ressaltar que os

símbolos são letras que unidas formam palavras e conseqüentemente as frases.

Portanto, conforme Stumpf (2002), “na aula de escrita dos sinais também as palavras do

português paralelas a cada sinal podem ser concertadas e os textos comparados nas duas línguas.

Então, é uma forma interessante e participativa de os Surdos trabalharem as duas escritas, e

muito profundamente, de maneira acessível.” (p. 4).

O trabalho experimental realizado mostrou que é possível para os surdos apropriar-se da

construção da escrita de sinais, expressar-se e desenvolver-se através dessa forma escrita e

concomitantemente abre a possibilidade de interagir com outras pessoas possivelmente

apropriando-se também da escrita da língua portuguesa.

Bibliografia

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Parâmetros Fonéticos de Configurações de mãos de Língua de sinais e sua Representação

Computacional Simbólica. PUCRS, 1996.

FERREIRO, Emília.A Produção de Notações na Criança-Linguagem, Número, Ritmos e

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_______________. Aquisição de L1 e L2: o contexto da pessoa surda. Anais do seminário:

desafios e possibilidades na educação bilíngüe para surdos. Porto Alegre, 1997.

_______________. Aspectos da Sintaxe e da Aquisição da Língua de Sinais Brasileira.

Letras de Hoje. Porto Alegre, 1997.

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SANTAROSA, Lucila Maria Costi. Telemática y la inclusión virtual y social de personas com

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STUMPF, M.R. Transcrições de Língua de Sinais Brasileira em SignWriting. III Congresso

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VYGOTSKY, Lev S. Obras Escogidas, 1997.

http//:www.signwriting.org – 14/06/02

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