Artsy #6 | Junho 2013

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Transcript of Artsy #6 | Junho 2013

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charlie holtfernando ribeiro

isa mestrejoana melo

jorge mestre simãoluis nunes albertomarta cascalheira

milita doréraquel mouro

roberto leandrotelma guita

tiago custódiotiago rocha

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Art.sy #06

junho 2013

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roberto leandro | portugal dos pequeninos

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Meu Portugal, pequenino…

que destino te calhou?

Cada vez estás mais franzino,

triste fado te encarnou…

Sempre te vi pelejando

nos sete mares desta Terra

Indo ao mundo, conquistando,

Senhor da Paz e da Guerra

Quanta destreza mostraste

nas artes de navegar,

Quanta riqueza juntaste

num império por findar?

Quantos povos abraçaste

com tuas naus lusitanas,

Quantas pátrias tu fundaste

entre praias e savanas?

Quantos homens por ti foram

ao mais fundo dos infernos,

Quantas lágrimas se choram

por esses heróis eternos?

Oh Portugal, pequenino…

Que vento te fez perder

o norte, a fé, o querer,

o teu lugar de Senhor;

Tanto vivido saber

e não mostras já poder

derrubar o Adamastor…

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In Poesia em Combustão, de Roberto Leandro (Chiado editora,2012)

Oh Portugal, pequenino…

Por que esperas, afinal?

Para que olhas o oceano?

Já provaste do seu sal,

não repitas esse engano…

Meu Portugal sem tino

não temas superstições,

Sempre traçaste o destino

marchando contra canhões!

Abandona essa carcaça

de mesquinhez pestilenta,

Dá provas da tua raça

ganha pêlo nessa venta!

Anda, Portugal, não quedes,

que o mundo por ti se não queda

Fecha essa mão com que pedes

como o pobre, uma moeda

Não contes com pena alheia

que nada é gratuito por cá,

Sai-me da cauda europeia

acorda, pequeno; ACORDA JÁ!!!

Meu Portugal, pequenino,

não estás na luta sozinho!

Tens um povo peregrino

a trilhar o teu caminho!

Tens uma nação lutando

que nenhum cansaço vence,

Não te percas admirando

o que ao passado pertence…

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Anda, Portugalinho,

mostra lá de que és tu feito…

Diz-me cá, mesmo baixinho,

que orgulho trazes no peito

Diz-me que chão é o meu

que ondas me beijam os pés

Diz-me que não! Não morreu

este país que ainda és.

Neste recanto plantado

não és pátria clandestina,

Tens nome há muito gravado

nas lições que a História ensina

Eu quero ver, sem igual,

verde e vermelho hasteados,

Do cume da serra ao leito areal

os barões assinalados,

Da província à capital

agricultores e soldados,

Velha quimera Imperial

Novos mundos conquistados,

Novas rotas, novo sal

E outros campos são plantados

E outros mares são navegados…

Em nome de Portugal!

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charlie holt | untitled

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luis nunes alberto | chegada na praia

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12/13luis nunes alberto | chegada na praia renato costa sobre as suas palavras

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luis nunes alberto | renato costa pelas suas palavras

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joana de melo sampaio | caderno de areia, quinhentos mil esboços

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telma guita | sem título

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tiago rocha | carnificina no jardim de orquídeas

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isa mestre | analogia do sorriso

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A mulher senta-se. Não sorri. Sabe, afinal que os sorrisos atrapalham sempre um

bocadinho. Apercebe-se que ninguém à sua volta sorriu. Sente-se feliz por não

ter sorrido. Por momentos tem a sensação de que se sorrisse seria vista como

algo ridículo. E se há coisa que tem medo é de ser vista como tal.

Sento-me também. Não na mesma mesa, mas no mesmo palco. Também eu

com medo de ser visto como algo ridículo. Venho sozinho. Pergunto-me se haverá

no mundo alguma fórmula capaz de anular o factor pergunta. Anular de uma

vez por todas a velha que se senta diante de mim a conjecturar se sou paneleiro

ou se me morreu a mulher.

Visto-me de preto. Um ponto a favor do luto. Se calhar até tem pena de mim.

Nem uma coisa nem outra. Sou alérgico à mentira. Sou alérgico, portanto, a

casamentos.

Os outros menos alérgicos que eu, mais enérgicos na farsa, mais poderosos na

personagem que vestem para se esquecerem de quem são. Não que eu não me

esqueça também por vezes. Mas não sou tão bom actor.

A minha mãe pergunta-me,

- És feliz?

E eu penso que a felicidade é apenas a mulher que se senta sem sorrir com

medo que o seu sorriso possa parecer ridículo.

É isso a felicidade. A ilusão de sermos perfeitos aos olhos dos outros.

Respondo-lhe que sim. Ainda que nunca consiga pôr os lençóis direitos quando

faço a cama, ainda que me sente sozinho, ainda que me sinta pressionado pelos

olhos de qualquer uma mulher a encontrar um destino. Mesmo que eu não queira

tê-lo, mesmo que ele não me faça falta nenhuma.

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tiago custódio | untitled

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tiago custódio | sardinha tuga

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tiago custódio | untitled

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fernando ribeiro| everlasting

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isa mestre | eco

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Eu queria ler-te Lobo Antunes antes de dizer-te qualquer outra coisa. Queria entrar

e ler. Alheio a tudo e a todos. Mesmo que me chamassem louco, mesmo que

me pusessem porta fora. Eu queria que se fizesse silêncio e que as pessoas que

te olhavam com ar de pena por momentos se suspendessem no pensamento

ridículo de ver-me por ali.

Eu queria que as pessoas me olhassem perplexas enquanto sem usar quaisquer

palavras diriam,

- o joão,

E o nome soar-te-ia estranho, como se fingisses nunca ter-me conhecido. Mas eu

não me importaria. Nunca me fez confusão a ausência com que nos entregamos

ao mundo.

Tu ficarias séria. E essa seriedade far-me-ia acreditar que nada mudou. Não que

eu tenha vindo por mais alguma razão. Como te disse, queria apenas ler-te Lobo

Antunes. Sim, quem sabe devolver-te um pouco à realidade, desanestesiar-te

desse aglomerado de gente que te rodeia com o pensamento cego que, mais

dia, menos dia, vais morrer.

Ignorando que morremos todos um bocadinho.

Não te faria perguntas. De que nos servem as perguntas senão para nos inquietar

o pensamento?

Depois de ler, ficaria em silêncio. E mesmo que não tivesses ouvido nada

respiraríamos os dois a doçura cruel de cada palavra. Cada parágrafo derramado

sobre a tua pele, um tratamento urgente para o amor (ou quem sabe para a

falta dele).

Confesso que talvez sentisse a tua mão carinhosamente pousada sobre o meu

cabelo. A saudade do tempo em que tudo era perfeito – se é que os amantes

não baniram já a perfeição do dicionário do amor.

Não tenhas medo. Se eu viesse não falaria sobre o passado. Ignoraríamos que

existe futuro. Fechados na esfera da nossa solidão olharíamos apenas o presente,

como se o hoje fosse um retrato adulterado do que foi o ontem, ou do que virá a

ser o amanhã.

Não te preocupes. Não precisarias de fingir. Seríamos afinal os mesmos.

Trago a folha na mão. Os dedos tremem-me. O texto não. Continua firme, ávido

para que os meus olhos se fixem nele, sem me distrair, sem me arrepender, sem

dar um passo atrás. Pergunto-te,

Posso entrar?

E a minha voz faz eco na sala.

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raquel mouro | viagem I

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marta cascalheira | pedro e inês

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Eram seis da tarde, os carros subiam e desciam a avenida sempre num ritmo

frenético. Formavam-se filas enormes como já era habitual. Os condutores

apertavam a buzina com grande raiva e irritação e, mesmo sem os conhecer,

conseguíamos perceber o desejo e ansiedade que tinham por chegar a casa.

Foi um dia complicado. Todos tiveram muito que fazer, por isso, descarregavam

a sua raiva na buzina do carro. Uns sentiam-se cansados por trabalhar demais,

outros sentiam a fadiga de mais um dia em que o seu único trabalho foi procurar

um verdadeiro emprego. Estavam impacientes e, enquanto buzinavam quase

involuntariamente, as suas cabeças vagueavam por outros lugares. Só queriam

poder teletransportar-se para as suas casas para poder tomar um belo banho e

enroscarem-se no sofá, esquecendo o mundo que existe fora das quatro paredes.

Pedro conduzia para casa e, ao contrário dos outros, não queria chegar depressa.

A ideia de chegar a casa e encontra-la vazia e em silêncio assustava-o. Pedro

não gostava da solidão. Todos os dias aquele homem sentia o mesmo: sentia

medo, angústia e dor por não ter ninguém que o esperasse de braços abertos

quando chegasse a casa.

Todos aqueles pensamentos negativos distraíram-no e, sem noção, avançou

com o carro, provocando um ligeiro acidente. Quando saiu do carro para falar

com o condutor do outro veículo envolvido, sentia-se envergonhado, mas Inês, a

condutora do outro carro, acalmou-o e disse-lhe para não se preocupar.

Aquele sorriso brilhante deixou-o relaxado e fê-lo esquecer todos os seus

pessimismos. Foi assim, por um mero acaso, sem ninguém esperar, que Pedro

conheceu Inês, a mulher que iria mudar para sempre a vida daquele homem

amargurado.

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jorge mestre simão | sem título

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jorge mestre simão | sem título

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milita doré | flores íntimas

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Roberto LeandroPágs. 5 à 7

Marta cascalheiraPágs. 59

Telma GuitaPágs. 25

Charlie HoltPágs. 8 à 11

Jorge Mestre SimãoPágs. 60 à 63

Tiago RochaPágs. 26

Luis Alberto NunesPágs. 12 à 15

Milita DoréPágs. 64 à 67

Isa MestrePágs. 29 e 45

Fernando RibeiroPágs. 41 à 43

Joana de Melo SampaioPágs. 16 à 23

Tiago CustódioPágs. 1 e 30 à 39

Raquel MouroPágs. 46 à 57

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Art.sy_Online Art Fanzine

Edição #06

EditorJorge Mestre Simão

PaginaçãoJorge Mestre Simão

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