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UM CONVITE PARA PENSAR UMA EDUCAÇÃO PARA A VIDA Eliane Balonecker Siqueira 1 Tania T. S. Nunes 2 Maria Isaura Rodrigues Pinto (Coordenadora do Subprojeto PBID) 3 Quando o tempo é de ousar, calar é se acovardar. É preciso ousar, querer, usar saber, ousar Ser... Se não for agora, quando? Se não for aqui, onde? Se não for você, quem? (Roberto Crema) Pensar em educação é pensar no seu protagonista: sujeito. A Educação do século XXI, cada vez mais, precisa estar pautada em quatro pilares: aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser, como preconiza o pensador Edgard Morin (2011). É fato que a escola privilegia muito mais o primeiro pilar, valorizando pouco o aprender fazendo. E, quase sempre, fica para o plano secundário o aprender a conviver e o aprender a ser, aprendizados dependentes do segundo pilar. Preocupar-se com o sujeito ultrapassa a ideia de aluno, pessoa ou indivíduo, para centrar-se no cidadão, enquanto ser social. Sobre esse pensamento, não se pode deixar de dizer que Paulo Freire (1996) postulou uma educação pela autonomia do sujeito cidadão. É importante ressaltar que a escola assume função valiosa no processo ensino-aprendizagem quando repensa constantemente sua prática, pois, assim, atuará não só como mediadora do conhecimento, mas, como espaço de trocas de ideias, de pensamentos criativos para elaborar novas propostas de ensino mais lúdicas e mais prazerosas para o aluno e para o professor. É preciso pensar em ensinar valores. É preciso pensar em vidas-exemplo. É preciso conhecer o aluno para melhor moldar a proposta de ensino. Todo indivíduo é um ser incompleto, mas em que a escola pode contribuir para sua felicidade, para que tenha uma vida mais digna, mais completa?É preciso valorizar suas expectativas e crenças, seus sonhos e talentos para que conquistas possam ser alcançadas. Afinal, como igualar os desiguais? A valorização da escola como espaço de busca e de autoconhecimento se faz necessária, pois extirpa o medo do por vir e promove a liberdade de ser. Promove a 1 Professora e Supervisora do Projeto no Colégio Estadual Coronel Francisco Lima, São Gonçalo-RJ. 2 Professora e Supervisora do Projeto no Colégio Estadual Coronel Francisco Lima, São Gonçalo-RJ. 3 Orientadora do Projeto CAPES/PIBID-UERJ Saber Escolar e Formação Docente na Educação Básica

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UM CONVITE PARA PENSAR UMA EDUCAÇÃO PARA A VIDA

Eliane Balonecker Siqueira 1

Tania T. S. Nunes 2

Maria Isaura Rodrigues Pinto (Coordenadora do Subprojeto PBID) 3

Quando o tempo é de ousar, calar é se acovardar. É

preciso ousar, querer, usar saber, ousar Ser... Se não for

agora, quando? Se não for aqui, onde? Se não for você,

quem? (Roberto Crema)

Pensar em educação é pensar no seu protagonista: sujeito. A Educação do

século XXI, cada vez mais, precisa estar pautada em quatro pilares: aprender a

aprender, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser, como preconiza o

pensador Edgard Morin (2011).

É fato que a escola privilegia muito mais o primeiro pilar, valorizando pouco o

aprender fazendo. E, quase sempre, fica para o plano secundário o aprender a conviver

e o aprender a ser, aprendizados dependentes do segundo pilar. Preocupar-se com o

sujeito ultrapassa a ideia de aluno, pessoa ou indivíduo, para centrar-se no cidadão,

enquanto ser social.

Sobre esse pensamento, não se pode deixar de dizer que Paulo Freire (1996)

postulou uma educação pela autonomia do sujeito cidadão.

É importante ressaltar que a escola assume função valiosa no processo

ensino-aprendizagem quando repensa constantemente sua prática, pois, assim, atuará

não só como mediadora do conhecimento, mas, como espaço de trocas de ideias, de

pensamentos criativos para elaborar novas propostas de ensino mais lúdicas e mais

prazerosas para o aluno e para o professor.

É preciso pensar em ensinar valores. É preciso pensar em vidas-exemplo. É

preciso conhecer o aluno para melhor moldar a proposta de ensino. Todo indivíduo é

um ser incompleto, mas em que a escola pode contribuir para sua felicidade, para que

tenha uma vida mais digna, mais completa?É preciso valorizar suas expectativas e

crenças, seus sonhos e talentos para que conquistas possam ser alcançadas. Afinal,

como igualar os desiguais?

A valorização da escola como espaço de busca e de autoconhecimento se faz

necessária, pois extirpa o medo do por vir e promove a liberdade de ser. Promove a

1 Professora e Supervisora do Projeto no Colégio Estadual Coronel Francisco Lima, São Gonçalo-RJ. 2 Professora e Supervisora do Projeto no Colégio Estadual Coronel Francisco Lima, São Gonçalo-RJ. 3 Orientadora do Projeto CAPES/PIBID-UERJ Saber Escolar e Formação Docente na Educação Básica

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formação de leitores, o desenvolvimento do uso das palavras, dos sonhos, dos atos

criativos. E também um aprendizado sempre em construção.

Então, cabe à escola formar cidadãos inseridos no mercado de talentos, para

sua inclusão na vida ativa, com cidadania plena e direção consciente do rumo a seguir

no seu futuro, sujeitos cientes de como obter conhecimento com autonomia e não

meros “reprodutores”.

Isto é educar com consciência. No entanto, a escola precisa saber quem é o

sujeito que existe em cada aluno.

A proposta deste artigo é apresentar uma sequência didática, planejada e

utilizada pela equipe do Subprojeto PIBID Letras da FFP para melhor conhecer os

alunos do Colégio Estadual Coronel Francisco Lima. O seu emprego, no início do ano,

antes do trabalho com os conteúdos da grade curricular, mostrou-se eficiente, razão

pela qual se considerou válido compartilhá-la neste espaço, após de ter sido

socializada, na Seccional II, da Secretaria de Estado de Educação, durante evento

destinado à apresentação de boas práticas pedagógicas.

Vale ressaltar que a sequência didática referenciada e para a qual dirigimos

nossa atenção foi aplicada no início do ano letivo de 2015.

1 – Conhecendo o aluno

O projeto de trabalho denominado “Selfie Perfil” se dividiu em diferentes

atividades realizadas com todas as turmas do primeiro ano do ensino médio, as quais

serão destacadas a seguir. Como afirma Iván Izquierdo: “Da mesma forma que sem

fome não aprendemos a comer e sem sede não aprendemos a beber água, sem

motivação não conseguimos aprender". Com base nesse pensamento, incentivamos o

grupo para o conhecimento e o acolhimento do Subprojeto, para refletir sobre si

mesmo e para a exposição de opiniões acerca do mundo real e virtual (SALLA, 2015,

p.2).

Inicialmente, exibimos o vídeo da canção “Reconvexo” de Caetano Veloso. A

letra altamente imagética e rica em personagens e personalidades nos permitiu

apresentar e conhecer figuras públicas como Henri Salvador, Andy Warhol, Dona Canô,

Joãozinho Trinta e o jogador Bobô. Foi possível, também,construir com a turma

sentidos para a nossa história e cultura nacionais.

Ao analisarmos o trecho “...quem é você?”, os alunos foram instigados com

essa pergunta. Fizemos uma analogia com a filosofia socrática do “conhece-te a ti

mesmo”, isto é, uma referência na busca pelo autoconhecimento e o conhecimento da

vida e do mundo.

2 – Produção de texto individual e coletiva

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Nessa etapa, apresentamos a parte teórica do gênero textual “perfil” no

contexto virtual, suas características e o seu propósito comunicativo, no caso: fornecer

um mecanismo para que os participantes possam se "conhecer a distância" com o

objetivo de se engajarem em ações de comprometimento entre o grupo. Os alunos

perceberam em quais momentos produzimos esse tipo de texto e quais seriam seus

suportes. Fizemos referência ao curriculum vitae e os orientamos a respeito do tipo de

informação que devem constar tanto nele como nos perfis públicos virtuais.

Fizemos um debate sobre o uso das redes sociais. O assunto foi bastante

discutido em sala. Os alunos foram estimulados a refletir sobre o uso das tecnologias,

seus pontos positivos e negativos. Foram estimulados a perceber também, quanto

tempo dedicam ao mundo virtual em detrimento do mundo real. Comentamos sobre o

que deve ou não aparecer em seus perfis e refletimos a respeito da proporção

imensurável do que é posto na rede. Falamos sobre o cyberbullying e sobre o vício do

uso da internet. Alguns alunos, percebendo o perigo do excesso de horas dedicadas ao

mundo virtual, que pode causar certas doenças, solicitaram à escola uma palestra com

um psicólogo em busca de orientação profissional sobre o assunto.

Preparamos uma cópia de um celular do tamanho de uma folha A4, com as

fotos dos alunos, as quais foram solicitadas com antecedência. Com adesivos e

recortes de jornais e revistas, cada aluno preparou o seu próprio perfil e apresentou ao

grupo, tirando as dúvidas, assim que elas surgiam. Esse momento de ação prática

permitiu uma intensa troca de informações entre as professoras e os alunos, já que as

fotos levadas eram de um momento especial na vida de cada um deles.

Em seguida, apresentamos aos alunos uma proposta de uso de uma rede social

desconhecida deles, mas muito comum nos anos 80: o Caderno de Perguntas. Para tal,

confeccionamos um caderno com algumas perguntas direcionadas para o

conhecimento do aluno. Mostramos como os adolescentes se conheciam antes do uso

dos computadores e celulares. Eles apreciaram muito a ideia e gostaram de escrever

no caderno.

Para a preparação de uma produção de texto coletiva, lemos com os alunos a

Lei Estadual nº 5.222, de 11.4.2008, que determina que é proibido o uso de aparelhos

eletrônicos nas escolas. Em sala, os alunos leram e debateram essa lei e também leram

diferentes textos sobre o tema e se posicionaram a respeito da lei. Em outro

momento, a turma foi dividida em grupos e cada grupo produziu um texto coletivo

sobre o tema, com orientação da professora.

Na etapa final, voltamos a discutir a noção de gênero para pensar em

agrupá-los a partir dos usos sociais de comunicação (narrar, relatar, argumentar, expor

e instruir). Nesse sentido, foi realizada a leitura de diferentes textos do domínio do

argumentar, que se referiam ao uso de celulares nas escolas. Depois, os alunos

elaboraram individualmente seu textos sobre a lei e os melhores textos, foram

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escolhidos dos no blog da escola e no jornal escolar InformAção. Percebeu-se neste

momento que nossos alunos têm consciência do quanto o uso do celular atrapalha a

atenção.

3 – Considerações Finais:

O primeiro passo deste trabalho foi conhecer o aluno e criar certo vínculo com

ele. Para isso, apresentamos elementos da formação de nossa cultura nacional, para

que a partir daí, o aluno fosse capaz de pensar em si mesmo como agente de

transformação de uma realidade.

O objetivo principal do projeto foi melhor conhecer o aluno e aproximar a

escola de seu pensar. Refletimos sobre a atração que o mundo virtual exerce sobre

pessoas, levando-as a permanecer por horas na internet, muitas vezes para não

enfrentar os problemas da vida ou para buscar suprir algo que lhes falta no mundo

real.

Com a criação de um perfil próprio, o aluno foi estimulado a refletir sobre sua

história individual, família e comunidade. Sabemos que uma das saídas para

reconectar o indivíduo ao mundo onde vive passa pelo desenvolvimento de

competências socioemocionais.

Esperamos ter, com essas atividades docentes, contribuído para a autoestima

do aluno e para tornar suas relações sociais mais positivas, não só na escola, mas

também na vida fora dela.

4 - Referências

DOLZ, Joaquim; NOVERRAZ, Michele; SCHNEUWLY, Bernard. Sequências didáticas para

o oral e a escrita: apresentação de um procedimento. In: DOLZ, Joaquim; SCHNEUWLY,

Bernard e colaboradores. Gêneros orais e escritos na escola. Trad. E Org. de Roxane

Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Campinas, SP: Mercado das Letras, 2004.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia; saberes necessários à prática educativa [Col.

Leitura]. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São

Paulo: Parábola, 2008.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do Futuro. Trad. Catarina

Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2011.

SALLA, Fernanda. Neurociência como ela ajuda a entender a aprendizagem. Revista

Nova Escola. Domínio:

http://revistaescola.abril.com.br/formacao/neurociencia-como-ela-ajuda-entender-ap

rendizagem. Acesso: 13.10.2015.