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197 Artigo Original/Original Article Acta Obstet Ginecol Port 2009;3(4):197-204 ABSTRACT Objective: to evaluate the safety and success rate of uterine artery embolization for treatment of symptomatic uterine leiomyomas and adenomyosis. Study design:.retrospective observational study. Population: a total of 600 women aged 23 - 59 years (mean 40.8) treated for symptomatic leiomyo- mas or adenomyosis by uterine artery embolization with polyvinyl alcohol particles between 2004 and 2008. Methods: clinical observation and magnetic resonance were performed between 2 weeks and 42 months after embolization, and patient questionnaires were applied at the same time. Follow-up results were available for 469 patients. Results: both uterine arteries were successfully occluded in 594 patients (99.0%). Primary clini- cal success between 6 and 42 months was observed in 389 of 469 patients (82.9%). After repeated embolization, performed in 58 patients, clinical success was observed in a total of 432 of the 469 patients (92.1%). Major complications occurred in two cases (0,3%). Conclusion: uterine artery embolization appears to be a safe treatment for symptomatic leiomyomas and adenomyosis, offering a high success rate. Embolização das artérias uterinas no tratamento de fibromiomas e adenomiose: uma série de 600 doentes tratadas num único centro Uterine artery embolization for the treatment of leiomyomas and adenomyosis: a series of 600 patients treated at a single centre João M. Pisco * , Tiago Bilhim ** , Marisa Duarte ** , Ana Ferreira ** , Daniela Santos *** , João Castaño **** , Maria Clara Bicho ***** , Jorge Branco ****** Hospital Saint Louis, Lisboa; Serviço Universitário de Radiologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa; Serviço de Radiologia do Hospital Pulido Valente, Lisboa; Serviço de Cirurgia do Hospital de Cascais; Serviço de Ginecologia do Instituto Português de Oncologia de Lisboa; Maternidade Alfredo da Costa, Lisboa. * Director do Serviço Universitário de Radiologia e Professor da Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Nova de Lisboa ** Interno Complementar de Radiodiagnóstico. *** Interno Complementar de Cirurgia Geral. **** Director do Serviço de Radiologia do Hospital Pulido Valente ***** Assistente Hospitalar do Instituto Português de Oncologia de Lisboa, ****** Director da Maternidade Alfredo da Costa, Director do Serviço Universitário de Obstetrícia e Ginec logia e Professor da Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Nova de Lisboa.

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Artigo Original/Original Article

Acta Obstet Ginecol Port 2009;3(4):197-204

AbstrAct

Objective: to evaluate the safety and success rate of uterine artery embolization for treatment of symptomatic uterine leiomyomas and adenomyosis.Study design:.retrospective observational study. Population: a total of 600 women aged 23 - 59 years (mean 40.8) treated for symptomatic leiomyo-mas or adenomyosis by uterine artery embolization with polyvinyl alcohol particles between 2004 and 2008. Methods: clinical observation and magnetic resonance were performed between 2 weeks and 42 months after embolization, and patient questionnaires were applied at the same time. Follow-up results were available for 469 patients.Results: both uterine arteries were successfully occluded in 594 patients (99.0%). Primary clini-cal success between 6 and 42 months was observed in 389 of 469 patients (82.9%). After repeated embolization, performed in 58 patients, clinical success was observed in a total of 432 of the 469 patients (92.1%). Major complications occurred in two cases (0,3%). Conclusion: uterine artery embolization appears to be a safe treatment for symptomatic leiomyomas and adenomyosis, offering a high success rate.

Embolização das artérias uterinas no tratamento de fibromiomas e adenomiose: uma série de 600 doentes tratadas

num único centro Uterine artery embolization for the treatment of leiomyomas and adenomyosis: a series of 600 patients treated at a single

centre João M. Pisco*, Tiago Bilhim**, Marisa Duarte**, Ana Ferreira **, Daniela Santos ***, João Castaño ****,

Maria Clara Bicho *****, Jorge Branco ******

Hospital Saint Louis, Lisboa; Serviço Universitário de Radiologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa; Serviço de Radiologia do Hospital Pulido Valente, Lisboa; Serviço de Cirurgia

do Hospital de Cascais; Serviço de Ginecologia do Instituto Português de Oncologia de Lisboa; Maternidade Alfredo da Costa, Lisboa.

* Director do serviço Universitário de radiologia e Professor da Faculdade de ciências Médicas, Universidade Nova de Lisboa ** Interno complementar de radiodiagnóstico.

*** Interno complementar de cirurgia Geral.**** Director do serviço de radiologia do Hospital Pulido Valente

***** Assistente Hospitalar do Instituto Português de Oncologia de Lisboa, ****** Director da Maternidade Alfredo da costa, Director do serviço Universitário de Obstetrícia e Ginec logia e Professor da Faculdade de ciências

Médicas, Universidade Nova de Lisboa.

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IntrOdUçãO

Actualmente a embolização das artérias uterinas (EAU) é uma alternativa bem estabelecida à terapêu-tica médica ou cirúrgica no tratamento dos fibromio-mas sintomáticos.1,2

As vantagens da embolização em relação à histe-rectomia são a preservação do útero, curto interna-mento e uma recuperação mais rápida.3

comparativamente à miomectomia abdominal, à histerectomia abdominal ou vaginal a EAU está as-sociada a um custo hospitalar inferior e a um interna-mento mais curto.4

Na embolização arterial de orgãos sólidos os doentes frequentemente referem o síndrome pós embolização, que consiste em dor, náuseas, vómitos, febre, leucoci-tose, e mal-estar geral.5 Na maioria dos centros as doen-tes ficam internadas durante 24 a 48 horas após a EAU6 para controlo da dor abdominal pós-procedimnto.4

Há protocolos terapêutcos simplificados e eficazes decritos para o controlo da dor após a EAU.1,7 Na nos-sa instituição realizamos actualmente o procedimento de forma ambulatória, tendo a maioria das doentes alta 4 a 6 horas após a EAU. As pacientes ficam então controladas com o esquema terapêutico instituído.

O objectivo deste trabalho é avaliar se a EAU é uma técnica eficaz tendo como base os resultados observados em 600 doentes com fibromiomas sinto-máticos. As doentes foram tratadas num único centro, e em 470 foi possível controlo, a médio termo, num período compreendido entre 6 e 42 meses.

MAtErIAl E MétOdOs

seiscentas pacientes com idades compreendidas entre 23 e 59 anos (média 40,8) foram submetidas a embo-lização das artérias uterinas. O sintoma principal das doentes era menstruação prolongada ou menorragia em 395, sintomas relacionados com aumento do vo-lume do abdómen em 141 e dor em 64. trataram-se 3 doentes pós-menopausa e os seus sintomas eram po-laquiuria, sensação de peso sobre a bexiga e dor.

O estudo foi aprovado pela comissão de Ética do Hospital saint Louis e com consentimento informado de todas as doentes tratadas.

todas as pacientes tinham sido sujeitas a exame ginecológico completo há menos de 6 meses, 253 efectuaram ecografia pélvica e 561 ressonância mag-nética (rM) pélvica com administração endovenosa de contraste (gadolínio), com recurso a uma aparelho de 1.5 tesla (Philips®). A qualidade dos exames de rM é muito importante, para que o grau de isquémia dos fibromiomas e a percentagem da sua redução e do útero possam ser avaliados rigorosamente após a em-bolização. Por tal motivo, a rM foi sempre efectuada pelos mesmos radiologistas.

com estes exames avaliou-se o volume do útero e dos fibromiomas particularmente do fibromioma do-minante, o de maiores dimensões, o número de fibro-miomas e sua localização.

No dia anterior à embolização, as doentes inicia-ram terapêutica com anti-inflamatórios. Antes, duran-te e após a embolização, as doentes foram submetidas a terapêutica endovenosa com analgésicos, anti-infla-matórios e antibióticos.

A embolização das artérias uterinas efectuou-se sob anestesia local ou, como alternativa, sob acu-punctura (em 32 doentes). Para a realização da embolização, introduziu-se, através da técnica de seldinguer, pela região inguinal, um catéter na ar-téria femoral com o qual se cateterizaram, selectiva e sucessivamente, as duas artérias uterinas. Após a realização da angiografia das artérias uterinas, pro-cedeu-se à sua embolização com partículas de álcool polivinil (Contour, Boston Scientific ®), numa sus-pensão homogénea de contraste iodado, não iónico e diluído a 50% em soro fisiológico à qual se adicio-nou como anti-inflamatório o cetoprofeno (Profenid ® 100 mg). A introdução de partículas efectuou-se de forma lenta, e sempre sob controlo radioscópico, até ocorrer desaparecimento da abundante vasculari-zação dos fibromiomas. As artérias uterinas continu-aram todavia permeáveis, a fim do útero ser preser-vado, permitindo a possibilidade de gravidez mais tarde. Por fim, efectuou-se nova angiografia para confirmar a ausência de qualquer vascularização dos fibromiomas (Fig. 1).

concluída a embolização retirou-se o cateter e fez-se compressão da artéria fémoral durante cerca de 5 minutos, seguindo-se a colocação de um penso.

Pisco JM, Bilhim t, duarte M, Ferreira A, santos d, Castaño J, Bicho MC, Branco J

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Quatro a seis horas após o tratamento, as doentes tomaram uma ligeira refeição, depois da qual inicia-ram terapêutica oral e tiveram alta hospitalar, saindo medicadas com anti-inflamatórios, analgésicos e an-tibióticos.

O controlo fez-se por observação clínica, ques-tionários médicos preenchidos periodicamente e rM Pélvica. Esta foi efectuada às 2 semanas nas primei-ras 200 pacientes e nas restantes aos seis meses (Fig.2 e Fig.3). Posteriormente o controlo realizou-se anual-mente, durante três anos. A rM com gadolínio avalia a percentagem de redução do volume do útero, do fi-bromioma dominante e o grau de isquémia dos fibro-miomas. Aos 3 anos, realizou-se também radiografia simples da bacia, para verificar se os fibromiomas já estavam calcificados.

considerou-se sucesso técnico a embolização selectiva das artérias uterinas que a doente possuía e consequente redução da vascularização dos fibro-miomas. O sucesso clínico, refere-se a melhoria dos sintomas, a redução das dimensões dos fibromiomas e útero e a isquémia dos fibromiomas superior a 90%. todos os sintomas eram avaliados, embora o que mais pesasse fosse o principal. considera-se sintoma principal aquele que mais incomodava a paciente ou que mais repercussão tinha sobre a sua saúde e qua-lidade de vida. A menorragia e o aumento do fluxo menstrual presente na maioria das pacientes, quan-do existente, foi considerado o sintoma principal na maioria dos casos.

Os sintomas foram verificados pela informação dada pela paciente, nomeadamente a suspensão ou

Fig. 1 - Angiografia das artérias uterinas antes e após a embolização

a, b, c - Angiografia da artéria uterina esquerdaa - Antes da embolização - hipervascularização b - Depois da embolização - a hipervascularização não é visível, mas a artéria uterina mantém-se permeável. c - Fase parenquimatosa depois da embolização - aumento da densidade, por estase de contraste, na metade esquerda do fibromioma,. d, e, f - Angiografia da artéria uterina direitad - Antes da embolização - hipervascularização.e - Depois da embolização - a hipervascularização não é visível, mas a artéria uterina mantém-se permeável. f - Fase parenquimatosa, depois da embolização - aumento da densidade, por estase de contraste, na metade direita do fibromioma.

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Fig. 2 - Isquémia total de fibromiomas e progressiva redução das suas dimensões e do útero comprovadas na RM efectuada às 2 sema-nas, 6 e 12 meses após EAU.

a - sagital, b - Axial - útero de dimensões aumentadas com heterogeneidade de sinal devido à presença de 2 fibromiomas.c - sagital, d - Axial - 2 semanas após EAU, fibromiomas de baixa intensidade, devido a isquémia (setas). e - sagital, f - Axial - 6 meses após EAU - fibromiomas de menores dimensões e baixa intensidade por isquémia (setas). Útero de menores dimensões.g - sagital, h - Axial - 12 meses após EAU - continuação da redução dos 2 fibromiomas em isquémia (setas); as dimensões do útero continuaram a reduzir.

Fig. 2

Fig. 3 - Isquémia total de fibromiomas e progressiva redução das suas dimensões e do útero como se observa na RM efectuada aos 6 e 12 meses, após EAU.

a - Útero de dimensões aumentadas com heterogeneidade de sinal devido à presença de fibromiomas.b - Seis meses após EAU, os fibromiomas (setas) de menores dimensões identificam-se facilmente pela baixa intensidade devido a isquémia; o útero reduziu igualmente de dimensões. c - Aos 12 meses após EAU, os fibromiomas (setas) continuam a reduzir de dimensões e com isquémia; o útero continuou a reduzir de dimensões

Pisco JM, Bilhim t, duarte M, Ferreira A, santos d, Castaño J, Bicho MC, Branco J

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redução da menorragia, a redução do número de dias da menstruação ou do fluxo, a redução dos pensos di-ários, a redução da intensidade da dor (medida pela escala de dor de 0 - 10), da polaquiuria, do peso sobre a bexiga e redução do volume do abdómen. com su-cesso clínico verificou-se melhoria da maioria destes sintomas.

A área da sexualidade também foi avaliada após embolização.

O sucesso clínico acompanhou-se igualmente da redução das dimensões dos fibromiomas, do útero e de elevado grau de isquémia dos fibromiomas.

Uma isquémia inferior a 80% mesmo quando acompanhada de melhoria dos sintomas, acaba sem-pre, mais tarde, por ser insucesso, porque o fibromio-ma seguramente irá crescer, como tal é considerado insucesso. Contudo, nestas circunstâncias aguarda-se a evolução clínica e o resultado da rM efectuada 6 meses mais tarde.

Os exames imagiológicos são, por isso, muito im-portantes na valorização do êxito da técnica. De igual modo a calcificação do fibromioma aos 3 anos con-firma que parou a sua evolução e que não voltará a crescer.

O sucesso clínico secundário foi o avaliado após nova embolização em 58 doentes nas quais ocorreu recidiva. Os critérios para efectuar segunda emboli-zação foram: ausência de melhoria clínica, associado a grau de isquémia inferior a 90% em alguns dos fi-bromiomas e a não redução do dimensões do fibro-mioma dominante e útero.

considerou-se insucesso clínico a persistência ou o regresso dos sintomas, a não redução das dimensões do fibromioma dominante e útero e a ausência de is-quémia ou apenas isquémia parcial dos fibromiomas.

rEsUltAdOs

Das 600 doentes tratadas, 542 eram portadoras de um ou mais fibromiomas, 51 de fibromiomas associados a adenomiose e 7 de adenomiose pura, sem qualquer fi-bromioma associado. As dimensões do fibromioma do-minante estavam compreendidas entre os 2 e os 30 cm.

realizou-se embolização das 2 artérias uterinas em 591 doentes e apenas de uma artéria em 9 doentes,

3 das quais tinham apenas uma artéria uterina. Nas restantes 6 não foi possível a cateterização de uma das artérias uterinas devido às pequenas dimensões, a espasmo ou a tortuosidade do vaso, pelo que o suces-so técnico foi obtido em 594 doentes (99,0%).

Em 106 (17,7%) doentes tratadas há menos de 6 meses não se efectuou ainda qualquer controlo ima-giológico, contudo 104 tinham melhorado clinica-mente.

Das 494 (82,3%) doentes tratadas há mais de 6 meses, o controlo não foi possível em 25 (5,1%) das doentes por não terem efectuado rM pélvica, nem ter sido possível qualquer informação sobre o seu estado clínico. Das restantes 469 (94,9%) em que o controlo foi possível não se verificou melhoria em 80 (17.1%). Por isso o sucesso clínico, entre 6 e 42 meses ocorreu em 389 (82,9%) das 469 doentes (Quadro I).

Das 80 doentes (17,1%) em que se verificou insu-cesso, em 6 (7,5%) não foi efectuada qualquer tera-pêutica, 8 (10%) foram submetidas a histerectomia, 8 (10%) a miomectomia e em 58 (72.5%) efectuou-se a repetição da embolização. Nestas, observou-se bons resultados em 43 (74,1%) (Quadro II). Por isso, o sucesso clínico secundário, entre 6 e 42 meses, após nova embolização, verificou-se em 432 das 469 pa-cientes (92,1%). Os bons resultados traduzem me-lhoria clínica, redução das dimensões do fibromioma dominante e útero, bem como do grau de isquémia superior a 90%.

No global, a situação actual das doentes já tratadas e controladas é a seguinte:

- Das 10 doentes tratadas há mais de 3 anos ocorreu recidiva em 3 e após nova embolização em 2, 9 continuam com melhoria;

- Das 115 pacientes tratadas entre 2 e 3 anos veri-ficou-se recidiva em 34 e após nova embolização

Quadro I - resultado inicial da embolização em pacientes tra-tadas há mais de 6 meses (n=494 de 600 doentes; 82,3%)

Resultado da embolização Nº de pacientes sem controlo 25 (5,1%) sem melhoria 80 (17,1%) com melhoria 389 (82.9%) Total 494 (100%)

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em 21, 96 continuam com melhoria; - Das 207 tratadas entre 1 e 2 anos observou-se re-

cidiva em 29 e após nova embolização em 23, 193 continuam com melhoria;

- Das 137 tratadas entre 6 e 12 meses ocorreu reci-diva em 14 e após nova embolização em 12, 134 continuam com melhoria (Quadro II).

As recidivas clínicas foram confirmadas pelos exa-mes de rM, realizados após a embolização que re-

velaram ausência de isquémia, ou apenas isquémia parcial com visualização de zonas irrigadas, respon-sáveis pela recidiva e não redução das dimensões do útero e fibromiomas.

Os factores associados ao insucesso da técnica fo-ram:

- insuficiente embolização das 2 artérias uterinas em 28;

- causa desconhecida em 22;

Quadro II - resultado global da EAU entre 6 e 42 meses

Meses Nº Doentes Nº Doentes Nº Doentes Nº Repetições NºDoentes Nº Doentesapós EAU Tratadas Controladas sem sucesso UAE c/sucesso c/sucesso clínico clínico 1º (% )* clínico 2º( % )*

6 – 12 155 137 14 12 123 (89.8) 134 (97.8)12 – 24 211 207 29 23 178 (85,9) 193 (93,2)24 – 36 117 115 34 21 81 (70,4) 96 (83,5)>36 11 10 3 2 7 (63,6) 9 (81,8)total 494 469 80 58 389 (82,9) 432 (92.1)

* Entende-se como sucesso clínico 1º (primário) a melhoria clínica, redução das dimensões dos fibromiomas e útero, bem como grau de isquémia superior a 90% após a 1ª EAU e sucesso clínico 2º (secundário) após repetição da EAU.

- irrigação dos fibromiomas pelas artérias ováricas em 15 doentes;

- terapêutica hormonal (agonistas Gnrh) em 8 do-entes;

- embolização apenas de uma artéria uterina em 4;- adenomiose em 2 doentes;- expulsão de fibromioma em 1 doente.

O insucesso após administração de agonistas Gnrh deve-se à sua acção vasoconstritiva sobre os ramos da artéria uterina, facto que impede a entrada de partículas embolizantes nesses vasos.

Das 7 doentes portadoras de adenomiose pura, sem fibromioma associado, verificou-se melhoria em 5 (71,4%) e recidiva em 2 (28,6%). Nas 51 doentes com fibromiomas associados a adenomiose observou-se reci-diva em 8 (15,7%) e melhoria nas restantes 43 (84,3%).

Das 9 doentes em que foi possível a embolização de apenas uma artéria uterina, verificou-se recidiva em 4 e melhoria nas restantes, nas quais se incluem as que possuíam apenas uma artéria uterina.

Ocorreram complicações major em 2 doentes. Numa verificou-se expulsão do volumoso fibromio-

ma de 10 cm de diâmetro, que por não ter sido pos-sível a sua remoção por histeroscopia, foi efectuada histerectomia. Noutra doente, verificou-se trombose da artéria ilíaca externa, que tratámos com colocação de stent, tendo a doente ficado sem qualquer sequela.

Verificou-se expulsão de fibromioma em 19 do-entes, duas das quais necessitaram de remoção his-teroscópica. Nas restantes o fibromioma foi expulso espontaneamente, tendo duas necessitado de interna-mento durante 2 dias.

O síndrome pós embolização ocorreu em cerca de metade das doentes e manifestou-se por náuseas, vó-mitos e dor.

Das últimas 200 doentes tratadas, 192 (96%) tive-ram alta 4 a 6 horas após o tratamento, pelo que, pre-sentemente, na maioria das doentes, a técnica realiza-se em regime ambulatório.

Das doentes tratadas 52 pretendiam engravidar após o procedimento. Destas, 30 (57.7%) engravidaram após a embolização, tendo já nascido 16 crianças. As idades das grávidas variou entre 27 e 42 anos de idade sendo a média de 35,5 anos. A gestação decorreu normalmente em todas as doentes, tendo o parto sido por via vaginal

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em 9 e por cesariana em 7, estando todas as crianças nascidas de perfeita saúde. Um dos partos foi prematu-ro, às 36 semanas, as restantes foram de termo, depois das 37 semanas. Duas crianças nasceram com 2.090 Kg e 2.325 Kg, respectivamente. Nas outras o peso va-riou entre 2610Kg e 4910 Kg sendo o peso médio de 3.043 Kg. As restantes 14 grávidas aguardam o termo da gravidez que continua a decorrer sem complicações. De notar, que das 52 pacientes que pretendiam engra-vidar, 5 já tinham engravidado, 2 das quais já tinham um filho e as outras 3 tinham tido abortos de repetição. Além destas 5 doentes, 4 pacientes já tinham sido sub-metidas a miomectomia e as restantes não conseguiam engravidar ou levar a termo uma gravidez, apesar de o terem tentado há mais de um ano.

Nenhuma das doentes tratadas referiu disfunção sexual após a EAU, tendo 76 notado desaparecimento ou melhoria da dispareunia.

Nas doentes em que se verificou sucesso clínico (432 das 469 pacientes; 92.1%), os fibromiomas so-freram um processo atrófico, notando-se redução das suas dimensões de 20% a 90% e do volume do útero de 10 a 70% nos primeiros 6 meses, continuando a di-minuir de tamanho até aos 3 anos. Além disso, nestas doentes a RM revelou uma isquémia dos fibromiomas superior a 90%.

A radiografia simples da bacia revelou calcifica-ção de fibromioma em 6 de 7 doentes tratadas há mais de 3 anos.

dIsCUssãO

A maioria dos fibromiomas são assintomáticos e não requerem mais investigação nem tratamento. Para os fibromiomas sintomáticos a histerectomia oferece uma solução definitiva. Contudo não é a solução preferida pelas mulheres que desejam preservar o seu útero.8

A EAU é uma técnica minimamente invasiva com baixa morbilidade e elevada eficácia a curto e médio prazo no controlo dos sintomas dos fibromiomas.1,9 Existem já múltiplos estudos prospectivos e retros-pectivos de grandes dimensões que demonstraram a eficácia e segurança deste procedimento, com suces-so clínico em aproximadamente 85% dos doentes e com morbilidade e mortalidade mínimas.10,11

As mulheres referem melhorias significativas na qualidade de vida e nos sintomas específicos dos fi-bromiomas nos controlos evolutivos realizados a cur-to e médio prazo após a EAU.12,13,14,15,16 Há já estudos que comprovam o alívio sintomático na maioria dos doentes durante um período de controlo evolutivo de 5 anos após a EAU, que demonstra tratar-se de uma técnica com sucesso a longo prazo.2 O sucesso clí-nico superior a 85%, associado à sua baixa taxa de complicações e curto período de recuperação torna este procedimento atractivo quando comparado com a miomectomia laparotómica ou laparoscópica.17,18

Além disso, a EAU é comprovadamente a forma tera-pêutica definitiva com menos custos no tratamento de fibromiomas sintomáticos.4

No presente estudo obtivemos um sucesso clí-nico e imagiológico primário entre os 6 e 42 meses de 82.9%. contudo, após repetição da embolização em 58 doentes, o sucesso clínico secundário foi de 92.1%. Estes resultados estão concordantes com os valores obtidos por outras instituições, com compli-cações major em apenas 2 casos já referidos.

Alguns doentes referem o síndrome de pós-em-bolização, que consiste em náuseas, vómitos, dor ou febre após o procedimento.1 A severidade da dor é bastante imprevisível.19

Há vários protocolos descritos na literatura para controlo da dor após a EAU.5,6,19,20,21,22 Inicialmente realizavamos o procedimento num regime de interna-mento de um a dois dias para controlo dos sintomas após a EAU. Porém, nos últimos dois anos temos vin-do a desenvolver um regime terapêutico que permi-te efectuar este procedimento de forma ambulatória com sucesso clínico e imagiológico. Para o efeito, uti-lizamos uma combinação de anti-inflamatórios, anal-gésicos (ketorolac, toradol, tramadol), anti-eméticos, antibióticos e inibidores da secreção ácida gástrica. Esta medicação é administrada antes, durante e após a EAU. A terapêutica é eficaz no controlo dos sintomas pós-embolização, como se comprova pelos resultados demonstrados (das últimas 200 doentes tratadas, 192 tiveram alta no mesmo dia – 96%).

A taxa de gravidez neste estudo foi de 57,7%, que é ligeiramente abaixo do expectável na população em geral. Apesar do pequeno número de casos de gravi-

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dez levado a termo com sucesso, ser baixo, este grupo de doentes compreende 30 casos de gravidez, 16 das quais já levadas a termo. O grupo de 52 pacientes que pretendiam engravidar não faz parte da população geral, mas de um de um grupo de pacientes que não conseguira engravidar ou levar a termo uma gravidez, apesar de o terem tentado há mais de um ano. Pensa-mos que parte destes resultados se justifiquem por se tratar de um subgrupo de pacientes de alto risco, com história prévia de infertilidade e abortos e algumas com intervenções médicas prévias. Uma limitação deste estudo é o facto de não ter sido possível investi-gar as causas do insucesso nas outras pacientes.

Existe ainda muita controvérsia quanto à possibi-lidade de engravidar após a EAU e sobre os riscos de infertilidade deste procedimento, com muitos estudos com referência à ocorrência de 3% de casos de ame-norreia por atrofia endometrial e a casos de falência ovárica, particularmente em mulheres mais velhas. Vários estudos como o nosso têm mencionado suces-so em engravidar após a EAU, mas os dados relati-vos à fertilidade e sucesso em engravidar após a EAU permanecem escassos.

seria bastante útil realizar mais estudos nomeada-mente que comprovem se a EAU condiciona ou não infertilidade feminina e quais as melhores estratégias terapêuticas que permitam controlar mais eficazmen-te os sintomas do síndrome de pós-embolização.

COnClUsãO

A EAU parece permitir tratar de forma segura, defi-nitiva e eficaz os sintomas dos fibromiomas uterinos, com preservação do útero. Actualmente realizamos o procedimento em regime de ambulatório com 92,1% de sucesso clínico e imagiológico.

BIBlIOGrAFIA

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Pisco JM, Bilhim t, duarte M, Ferreira A, santos d, Castaño J, Bicho MC, Branco J