ARTIGO ORIGINAL Efetividade do procedimento de intubação ... · um minicurso e uma demonstração...
Transcript of ARTIGO ORIGINAL Efetividade do procedimento de intubação ... · um minicurso e uma demonstração...
ARTIGO ORIGINAL
Efetividade do procedimento de intubação orotraqueal assistida de baixo custo
Effectiveness of low cost assisted orotracheal intubation procedure
Gabriela Alves de Lima1, Larissa Magalhães de Moraes Lopes1, Renata Pinto
Ribeiro Miranda2
1 Acadêmica do 6º ano da Faculdade de Medicina de Itajubá
2 Professora da Faculdade de Medicina de Itajubá
Contato:
Gabriela Alves de Lima
Faculdade de Medicina de Itajubá
Efetividade do procedimento de intubação orotraqueal assistida de baixo custo
RESUMO
Introdução: A intubação orotraqueal é um dos principais procedimentos salvadores
de vida, sendo esse um cuidado de suporte avançado de vida. Em casos de uma via
aérea difícil os broncoscópios de fibra óptica são usados para facilitar o atendimento.
Objetivo: Comparar a efetividade do procedimento com a técnica de intubação
assistida com um equipamento de vídeo baixo custo comparada à técnica
convencional sob visão direta. Métodos: Trata-se de um estudo prospectivo,
comparativo e quantitativo. Foram selecionados 28 alunos da graduação em medicina
com conteúdo teórico e prático prévio da temática. Foi realizada a apresentação de
um minicurso e uma demonstração prática, nivelando o conhecimento dos
participantes. Em seguida, houve a divisão dos mesmos em dois grupos. O grupo
controle, que realizou o procedimento pela técnica convencional e o grupo
experimental, que realizou a técnica com equipamento de baixo custo. Foram
avaliados através do tempo total de intubação; quantidade de tentativas até o sucesso;
número de erros e acertos, e quanto à satisfação dos participantes. Resultados: O
tempo de intubação para realização do procedimento (p=0,082), assim como o
número de tentativas (p=0,631) e erros (p=0,773) não apresentaram diferenças
estatisticamente significativas entre os dois cenários. Entretanto, na avaliação de
satisfação dos participantes, ao serem questionados sobre melhor visualização da
cavidade oral, o grupo experimental demonstrou maior satisfação (p= 0,003).
Conclusão: A partir disso, identificou-se diferença estatisticamente significativa no
que se refere à satisfação do grupo experimental, principalmente em relação à melhor
visualização da cavidade oral.
Palavras-chave: Intubação; Laringoscopia; Tecnologia de Baixo custo.
Effectiveness of low cost assisted orotracheal intubation procedure
ABSTRACT
Introduction: Orotracheal intubation is one of the main life-saving procedures, which
is an advanced life support care, and in cases of a difficult airway the fiberoptic
2
bronchoscopes are used to facilitate care. Aims: To compare the effectiveness of the
assisted intubation technique using low cost video equipment comparated an
conventional technique under direct vision. Methods: It is a prospective, comparative
and quantitative study. 28 undergraduate students in medicine with theoretical and
practical content were selected. The presentation of a mini-course and a practical
demonstration, leveling the knowledge of the participants. Then, they were divided into
two groups The control group, who performed the procedure using the conventional
technique and the experimental group, who performed the technique with low cost
equipment. They were assessed through the total time of intubation; number of
attempts until success; number of errors and correctness, and the satisfaction of
participants. Results: The intubation time to perform the procedure (p-value 0.082),
as well as the number of trials (p=0.631) and errors (p=0.773) did not present
statistically significant differences between the two groups. However, in the evaluation
of satisfaction of the participants, when asked about better visualization of the oral
cavity, the experimental group showed higher satisfaction (p=0.003). Conclusion:
From this, a statistically significant difference was identified with greater satisfaction in
the experimental group, mainly in relation to the better visualization of the oral cavity.
Keywords: Intubation; Laryngoscopy; Low Cost Technology.
INTRODUÇÃO
A intubação orotraqueal (IOT) é um dos principais procedimentos potencialmente
salvadores de vida, quando trata-se de pacientes críticos. Refere-se a um
procedimento de suporte avançado de vida. Nesse sentido, sua principal indicação é
em situações nas quais haja prejuízo na manutenção da permeabilidade das vias
aéreas.1
Assim, o procedimento de IOT convencional é realizado com o auxílio de um
laringoscópio, com lâmina de Macintosh ou de Miller. Antes de iniciar o procedimento,
deve-se preparar o paciente, realizando a hiperextensão do pescoço, de modo a
alinhar os eixos da cavidade oral, faringe e laringe.2
3
Outro aspecto importante a ser analisado é o tamanho adequado do tubo
orotraqueal o qual deve ser escolhido conforme idade do paciente, sua constituição
corporal e tipo de cirurgia.2
Outra alternativa para a realização da IOT é o uso de fibra óptica, para auxiliar
no procedimento quando uma possível dificuldade na via aérea é antecipada. Por
exemplo, em relação às dificuldades com o paciente não-cooperativo e presença de
secreções na via aérea que possam impedir a visualização de fatores importantes.2
A intubação com broncoscópio de fibra óptica (FOI) flexível tornou-se um pilar
da via aérea difícil em pacientes acordados, sedados ou anestesiados;2 a transmissão
de uma imagem visual através de uma de fibra óptica foi relatada primeiramente em
1954.3 Essa tecnologia baseia-se nas fibras de vidro muito finas (diâmetro de 8-25
mm) e flexíveis que são capazes de transmitir luz através do seu comprimento. Um
feixe de fibra óptica está ligado a uma luz fonte fornecendo iluminação enquanto as
lentes estão na ponta do alcance dos olhos que fornecem uma imagem ao usuário.
Uma evolução mais recente ao broncoscópio é a adição de uma câmera de dispositivo
de carga acoplada, onde uma imagem digital capturada é, então, transmitida
eletronicamente para uma tela de monitor externo.5
A necessidade da FOI pode ser antecipada com base em uma história de
intubação difícil e várias características anatômicas e antropométricas que podem
prever uma laringoscopia difícil,5 como mobilidade reduzida do pescoço, incapacidade
de prognosar, classificação do tipo de orofaringe e obesidade.4
Alguns estudos comprovam que a técnica de videolaringoscopia apresenta
fatores positivos como maiores taxas de acerto e melhor visualização da cavidade
oral. Desse modo, essas vantagens asseguram maior segurança ao paciente.
Entretanto, os videolaringoscópios são equipamentos de alto custo e portanto,
inacessíveis à uma parcela dos centros médicos e instituições de ensino. Por outro
lado, há escassez de estudos avaliando a IOT pela técnica de vídeo com
equipamentos de baixo custo. Assim, este estudo foi proposto com o objetivo de
observar e comparar a técnica de intubação orotraqueal por meio de um sistema
composto por um broncoscópio de inspeção que transmita a imagem a um
4
smartphone, sendo um sistema de baixo custo, com a técnica de intubação
convencional sob visualização direta.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo prospectivo, comparativo e quantitativo, em que foram
selecionados 28 alunos dos 2º ao 6º anos da graduação em medicina da Faculdade
de Medicina de Itajubá – FMIt, os quais tiveram o conteúdo teórico e prático de IOT e
aceitaram participar e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE).
O número mínimo de participantes por grupo foi calculado para detectar o
aumento de 20% no rendimento acadêmico para variáveis quantitativas não
pareadas.4
𝑛 = (𝑆𝑎2 + 𝑆𝑏
2) ∙ (𝑍𝛼2+ 𝑍𝛽
𝑑)
2
.
Considerando-se:
𝑍𝛼
2= 1,96;
𝑍𝛽=0,84;
d= 20% do tempo total até intubação [5] = (0,2*47,7s)=9,54;
𝑆𝑎2 + 𝑆𝑏
2 = 111,4 (Obtido da análise de provas realizadas anteriormente).
n=(1111,4)*((1,96+0,84)/9,54)^2=32*0,87=9,59 – aproximadamente 10
participantes por grupo. Vale ressaltar que considerou-se um nível de significância de
5%, ou seja, um p-valor menor que 0,05 evidencia que uma técnica de intubação
orotraqueal é mais eficiente que a outra.
O estudo ocorreu no Laboratório de Simulação do Hospital de Clínicas de Itajubá,
nos meses de outubro de 2018 a fevereiro de 2019 e envolveu o uso de manequim de
cabeça e pescoço para a gestão das vias aéreas, tubo endotraqueal, laringoscópio de
Macintosh, pilhas, equipamento de vídeo de baixo custo (Figura 1.) adquirido em site
de compras online, no mês de Junho/2018, com custo aproximado de cinquenta reais
e um smartphone com sistema operacional Android, como meio de transmissão de
imagem do equipamento de vídeo.
5
Figura 1. Equipamento de vídeo de baixo custo de filmagem.
Inicialmente, foi realizado um estudo piloto com quatro participantes do 5º ano,
os quais foram recrutados através de um aplicativo de mensagem instantânea e foi
combinado previamente um dia e horário com os discentes. Essa atividade teve o
intuito de avaliar fatores como o tempo, a qualidade da apresentação do minicurso,
melhores formas de demonstração da prática, avaliação dos instrumentos e a
dinâmica de toda atividade de coleta de dados. Posteriormente, os alunos foram
divididos em grupo controle (GC) (n=2) e grupo experimental (GE) (n=2) por meio da
técnica da moeda ao ar, sendo ”cara” para o GC e “coroa” para o grupo experimental.
Foram realizados os mesmos passos da coleta de dados. Ao final do piloto foi possível
realizar algumas adequações e organizações para a coleta de dados propriamente
dita, como, por exemplo, a adequação dos tempos do minicurso, da demonstração e
uma melhor organização da aplicação dos instrumentos.
No que se refere à coleta de dados propriamente dita, essa foi dividida em três
momentos. No primeiro momento, foi realizado o recrutamento dos participantes, os
quais foram convidados a participar da pesquisa, pelas próprias pesquisadoras, por
meio de um aplicativo de mensagem instantânea. Foi combinado previamente um dia
e horário com todos os 28 discentes para a realização do primeiro momento da
pesquisa, conforme disponibilidade dos mesmos. Nesse momento realizou-se a
apresentação de um minicurso (Apêndice A) e uma demonstração prática do
procedimento. O minicurso consistiu em uma apresentação de Microsoft Power Point®
2010 sobre IOT, a qual abordou os seguintes tópicos: suas definições, indicações de
intubação, materiais e cuidados durante o procedimento, a qual teve uma duração
6
total de 10 minutos. Após o término da aula teórica, foi realizada a demonstração
prática (Figura 2) com a apresentação da técnica convencional e da técnica de
intubação assistidas com equipamento de baixo custo, pelas próprias pesquisadoras,
com duração média de 10 minutos. Ao final da aula, todos os alunos puderam retirar
dúvidas e manusear os equipamentos utilizados durante o procedimento.
Figura 2. Demonstração da técnica de IOT pelas pesquisadoras.
Tanto a aula teórica quanto a demonstração prática tiveram como objetivo nivelar
o conhecimento de todos participantes. Todos os alunos receberam a mesma
orientação e realizaram o procedimento de IOT, porém com técnicas diferentes.
No segundo momento, imediatamente após a aula teórica e a demonstração
prática foi realizada a divisão aleatória dos participantes em dois grupos, a qual foi
feita por meio da técnica da moeda ao ar, formando assim dois grupos: um grupo
controle (GC) (n=14) e um grupo experimental (GE) (n=14). Nesse momento, antes
de iniciar a coleta, os mesmos responderam ao questionário sociodemográfico, criado
especificamente para a presente pesquisa, pelas pesquisadoras, composto por nove
itens que visaram à caracterização sociodemográfica dos participantes do referido
estudo (Apêndice B).
No terceiro e último momento da pesquisa, cada participante, individualmente,
realizou o procedimento de IOT, tendo até cinco chances, a fim de manter um número
máximo de tentativas por participante. Os alunos do GC realizaram o procedimento
de intubação pela técnica convencional e o GE realizou a técnica com o uso do
equipamento de custo de R$ 50,00 (cinquenta reais), o qual possuía uma câmera de
visualização da cavidade oral. Nesse momento, a medida em que os participantes
realizaram a técnica, eram anotados os seguintes parâmetros de avaliação: tempo
7
total de intubação; quantidade de tentativas até o sucesso; número de erros e acertos
(Apêndice C). A contagem do tempo começava quando o participante terminava a
montagem do laringoscópio, e terminava na primeira ventilação dos pulmões. Todos
os participantes tiveram o tempo cronometrado e os parâmetros anotados pelos
pesquisadores.
Além dos dados acima, ainda no terceiro momento da coleta, ao final de cada
procedimento, os participantes responderam ao questionário de avaliação da
satisfação, o qual continha seis questões que avaliavam a percepção dos mesmos
quanto à técnica realizada, no que se refere à facilidade e segurança em realizar o
procedimento em ambas as técnicas (Apêndice D). Ao final das intervenções, foi
permitido aos alunos que realizaram a técnica por meio da visualização direta, que
realizassem novamente o procedimento utilizando o equipamento com câmera de
visualização de baixo custo, caso desejassem.
Após a coleta os dados, estes foram tabulados em planilha eletrônica por meio
do programa Microsoft Excel®, e posteriormente importados ao software Minitab®
versão 17, para se proceder à análise estatística na qual utilizou-se o teste t Student
para amostras independentes e análise descritiva dos dados.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de
Medicina de Itajubá - FMIt (PARECER 2.900.979) e os alunos que aceitaram participar
da pesquisa receberam o TCLE.
Resultados
Assim, o estudo contou com a participação de 28 estudantes, no qual 14 (50%)
alunos compuseram o GC e 14 (50%) alunos, o GE. O perfil sociodemográfico é
apresentado na Tabela 1.
8
Tabela 1. Aspectos sociodemográficos dos participantes do grupo controle (GC) n=14,
e grupo experimental (GE) n=14, Minas Gerais.
Variáveis do Estudo
GC GE Total
(n=14) (n=14) (n=28)
n Frequência
relativa (%) n
Frequência
relativa (%) n
Frequência
relativa (%)
Gênero Feminino 9 64% 9 64% 18 64%
Masculino 5 36% 5 36% 10 36%
Estado Civil Solteiro 14 100% 14 100% 28 100%
Ano que está na
Graduação
2º ano 3 22% 1 7% 4 14%
3º ano 4 28% 7 50% 11 40%
4º ano 1 7% 3 22% 4 14%
5º ano 5 36% 2 14% 7 25%
6º ano 1 7% 1 7% 2 7%
Número de vezes que já
realizou o procedimento
IOT
1 vez
7
50%
11
79%
18 64%
2 vezes 2 14% 1 7% 3 11%
3 vezes 3 22% 0 0% 3 11%
4 vezes 1 2% 1 7% 2 7%
5 vezes 0 0% 1 7% 1 3,5%
7 vezes 1 7% 0 0 1 3,5%
Já realizou o
procedimento no
manequim de cabeça
pescoço
Sim 14 100% 14 100% 28 100%
Já realizou o
procedimento em
paciente
Sim 2 14% 1 7% 3 11%
Não 12 86% 13 93% 25 89%
9
Qual técnica já utilizou
para realizar o
procedimento, seja em
manequim ou paciente
Convencional 14 100% 14 100% 28 100%
Fonte: Dos autores.
Quanto à idade dos alunos, estes possuíam de 18 a 28 anos, com uma média
de idade de 23 anos com desvio padrão de 2,85 e uma mediana de 22 anos para os
alunos do GC e 23,21 com desvio padrão de 2,29 e uma mediana de 23 para os alunos
do GE. Em relação ao estado civil, houve o predomínio de solteiros, 28 (100%).
Quando questionados em relação ao ano da graduação em medicina que
estavam, 4 (14%) referiram estar no segundo, 11 (40%) no terceiro ano, 4 (14%) no
quarto ano, 7 (25%) no quinto ano e 2 (7%) no sexto ano.
Em relação a esses dados, do ano da graduação dos participantes do estudo,
não foram identificadas diferenças estatisticamente significativas entre os grupos,
evidenciando uma homogeneidade dos mesmos.
No que se refere à quantidade de vezes que já realizaram o procedimento de
IOT, 18 (64%) referiram ter realizado apenas uma vez, 3 (11%) duas ou três vezes, 2
(7%) referiram 4 vezes e 1 (3,5%) cinco ou sete vezes.
Todos os 28 (100%) dos alunos referiram já terem realizado o procedimento no
manequim de cabeça e pescoço.
Quando questionados se já realizaram o procedimento em paciente real,
apenas 3 (11%) referiram que sim, sendo 2 (14%) do GC e 1 (7%) do GE executaram
o cuidado na prática clínica em paciente.
Todos os 28 (100%) dos alunos tiveram a oportunidade de realizar o
procedimento apenas pela técnica convencional de visualização direta, não tendo
nenhum aluno que já havia realizado o procedimento pela técnica de vídeo.
Pode-se observar que a média de tempo do GE foi de 122 segundos e do GC
130,6 segundos, sendo o p-valor de 0,082, o que afirma que não há diferença
estatisticamente significativa de tempo para a realização do procedimento nas duas
técnicas testadas, conforme Tabela 2.
Tabela 2. Comparação entre as médias de tempo para a realização do procedimento
no GC e GE, MG, n=28.
10
Grupos N
Média
de
tempo
(seg)
DP Valor t p-
valora GL
GE 14 122 113
-0,22 0,082 24
GC 14 130,6 92,3
Fonte: Dos autores
a Teste t Student GL: Grau de Liberdade
Seguindo o mesmo procedimento, realizou-se para os valores relacionados à
quantidade de erros que aconteceram no GE e no GC durante a realização do
cuidado. Pode-se observar na Tabela 3, que não há diferença entre a quantidade de
erros na realização do procedimento, pois tem-se um p-valor de 0,773.
Tabela 3. Comparação entre a quantidade de erros durante a realização do
procedimento no GC (=14) e GE (N=14), MG.
Amostra N
Média
de
erros
DP Valor t p-valora GL
GE 14 1,29 2,23 -0,29 0,773 24
GC 14 1,5 1,61
Fonte: Dos autores
a Teste t Student GL: Grau de Liberdade
Similarmente, adotou-se o mesmo procedimento para os valores de tentativas
para a realização do procedimento no GE e GC. Conforme observado na Tabela 4,
esses valores também não se diferem estatisticamente, já que o p-valor é de 0,631.
Assim, pode-se concluir, que não há diferença estatisticamente significativa entre a
quantidade média de tentativas na realização do cuidado nos dois grupos.
11
Tabela 4. Comparação entre as tentativas para a realização do procedimento no GC
e GE, MG, n=28.
Amostra N Média DP Valor t p-
valora
GL
GE 14 2,21 2,19 -0,49 0,631 24
GC 14 2,57 1,65
Fonte: Dos autores
a Teste t Student GL: Grau de Liberdade
Ao avaliar a satisfação dos alunos sobre a realização do procedimento em
ambas as técnicas, foi possível verificar na Questão 2, a qual menciona se a técnica
proporcionou maior visibilidade da cavidade oral, a satisfação do GE (técnica por
vídeo) se mostrou superior, com uma diferença estatisticamente significativa, com p-
valor de 0,003, conforme Tabela 5.
Tabela 5. Comparação entre a satisfação dos alunos na realização do procedimento
no GC e GE, MG, n=28.
Questões GC GE
p-valora Média (DP) Média (DP)
1 6,64 (2,06) 6,85 (2,98) 0,827
2 5,64 (2,13) 8,50 (2,37) 0,003
3 6,07 (2,12) 7,71 (2,64) 0,082
4 5,71 (2,61) 7,14 (2,68) 0,166
5 8,00 (1,75) 7,71 (2,84) 0,751
6 8,35 (1,54) 8,35 (2,27) 1,000
Fonte: Dos autores a Teste t Student Grau de liberdade = 27 para todas as questões.
12
Discussão
No presente estudo, um dos parâmetros encontrado foi o número de vezes que
os participantes haviam realizado o procedimento de IOT, e o resultado obtido foi que
64% deles haviam realizado o procedimento apenas uma vez. Pode-se observar que
esse dado coincide com um estudo realizado em um Hospital do Estado de São Paulo,
Brasil, com intensivistas, o qual concluiu que o conhecimento e a prática de IOT é
ainda insatisfatório.1 Por isso, é importante reforçar o estudo sobre o tema na
formação médica e a criação de uma nova estratégia de ensino para fortalecer o
conhecimento e evitar possíveis complicações no procedimento.1
Além disso, no presente estudo, apenas 3 alunos (11%) realizaram o
procedimento no paciente real. Apesar de existir defesa no uso de manequins para
aprimoramento do ensino médico,6 um estudo realizado em Corunha, Espanha, que
avaliou videolaringoscopia em simuladores relatou limitações já que o manequim não
reproduz com exatidão as condições clínicas de intubação, que incluem o surgimento
de secreções ou sangue, sendo fatores de dificuldade na prática médica rotineira.7
Quanto à técnica realizada, todos os 24 participantes (100%) só haviam utilizado
a técnica convencional através do laringoscópio de Macintosh, evidenciando o
trabalho realizado com anestesiologistas em Corunha, Espanha, que apesar da área
de atuação na medicina, possuíam pouca familiaridade com laringoscópios de vídeo
como Airtraq®
NT, McGrath®
MAC.7 Deve ser considerado que o uso da
videolaringoscopia tem como fator limitante o alto custo dos dispositivos,2 o que
dificulta a disseminação do uso no ensino e rotina médica.
No entanto, no presente estudo foi proposta a utilização de um equipamento de
baixo custo, para que isso não limitasse seu uso em ampla escala para a realidade
médica brasileira.
Ao avaliar a diferença do tempo de intubação entre o GC e GE, foi possível
constatar que não houve diferença estatisticamente significativa entre as duas
técnicas. Esse parâmetro possui divergências na literatura, pois um estudo feito em
um hospital de Balneario Camboriu realizou comparação de intubação em pacientes
obesos através do Airtraq®
versus Macintosh e obteve como resultado uma redução
13
estatisticamente significativa no tempo e melhor visualização das cordas vocais no
grupo que fez uso do Airtraq®
.8
Em contradição, um estudo realizado em um hospital universitário da Turquia
com o objetivo de comparar o videolaringoscópio King Vision (VLKV) versus o
laringoscópio de Macintosh constatou que anestesiologistas experientes podem obter
taxas semelhantes de sucesso na primeira tentativa de intubação, e de traumas das
vias aéreas com o VLKV e o laringoscópio Macintosh. Além disso, foi relatado que
VLKV é inferior ao laringoscópio Macintosh em termos de tempo até a melhor
visibilidade da glote e tempo de intubação.9
Quanto à satisfação dos alunos no presente estudo, houve significância
estatística na satisfação do GE ao serem questionados sobre a melhor visualização
da cavidade oral. Esse fato corrobora com o apresentado em um estudo realizado na
Espanha, que fez um comparativo entre os laringoscopios Airtraq®
NT, McGrath®
MAC e Macintosh para intubaçao nasotraqueal em simulaçao de via aérea fácil e difícil
em simuladores. A conclusão foi que os laringoscopios Airtraq e McGrath pareceram
mais úteis do que o laringoscopio Macintosh. Ambos os dispositivos foram associados
a um tempo menor de intubaçao, menos tentativas e maior satisfação do profissional,
possivelmente por causa da melhor visualização e de menos manobras adicionais
para melhor visao.7
No presente estudo, não encontraram diferenças estatisticamente significativas
na comparação das taxas de tentativa e erro entre os participantes do GC e GE na
realização do procedimento. Entretanto, o estudo realizado em um serviço de
anestesiologia na Turquia por Kilicaslan et al. realizou uma revisão de tentativas e
falhas de intubação com o uso de laringoscópio de Macintosh, nos quais o
videolaringoscópio C-MAC foi usado como dispositivo de resgate primário. O resultado
foi intubação bem sucedida em 86% dos casos na primeira tentativa e 14% dos casos
na segunda tentativa. Desse modo, confirmou a eficiência e segurança do
videolaringoscópio C-MAC como dispositivo de resgate em intubações malsucedidas
inesperadas.10
Quanto à experiência dos participantes, GE foi composto por maior porcentagem
(n=11) (79%) de acadêmicos que haviam realizado o procedimento apenas uma vez
e, desse modo, pode ter ocorrido maior dificuldade do manejo do dispositivo devido à
pouca familiaridade desses alunos com o procedimento.
14
No entanto, segundo um estudo por Mathieson em um hospital canadense, para
ter experiência é necessário realizar pelo menos 30 tentativas de intubação com o
GlideScope® (outro tipo de videolaringoscopio), existindo uma correlação baixa entre
a experiência na laringoscopia convencional e o sucesso na utilização deste
videolaringoscópio.11 O que evidencia que, para o sucesso de uma
videolaringoscopia, a experiência com o equipamento se mostra necessária,
independente da experiência com a laringoscopia convencional.
No que se refere às limitações do presente estudo, pode-se destacar o tamanho
reduzido da amostra (n=28), o que dificultou obter melhor precisão nos dados
coletados. Outro aspecto foi o dispositivo testado no GE que apresentou resistência
em ser removido do tubo endotraqueal 8.0, após a intubação, o que poderia dificultar
seu uso na prática clínica. Além disso, houve predominância de alunos dos anos
iniciais da graduação no GE, o que poderia ter ocasionado diferenças devido à
experiência e conhecimento prévios.
Um estudo foi realizado em Singapura com um adaptador de baixo custo com
função de transmissão da imagem do laringoscopio Airtraq®
à um smartphone. Foi
mencionado o fato que o laringoscopio Airtraq®
possui o inconveniente de permitir
que apenas uma pessoa tenha visualização da imagem. Desse modo, a transmissão
ao smartphone proporcionou o acompanhamento, instruções e suporte do processo
por mais membros equipe e o estudo obteve desfecho positivo em relação à esses
aspectos.12 Apesar do adaptador desenvolvido possuir baixo custo, o laringoscopio
Airtraq®
apresenta custo elevado e portanto, não é amplamente disponível.
Por fim, é importante ressaltar que existe escassez de estudos avaliando
dispositivos com baixo custo adaptados para realização de IOT. A maioria dos estudos
avaliam apenas o procedimento com videolaringoscópios, que apesar de bons
resultados nos estudos acima supracitados, são de alto custo e podem ser
inacessíveis para uso ampliado nas instituições de ensino, hospitalares e de
emergência.
15
CONCLUSÃO
A partir dos resultados encontrados nesse estudo, pode-se observar que o
dispositivo de vídeo de baixo custo não proporcionou menor tempo de intubação. Além
disso, não houve diminuição no número de tentativas e erros. Entretanto, o mesmo
evidenciou maior satisfação dos participantes do GE, principalmente quanto à melhor
visualização da cavidade oral quando comparada à experiência prévia dos
participantes.
Assim, os estudos disponíveis na literatura atualmente só abordaram os
videolaringoscópios, os quais apresentam alto custo e possuem inviabilidade na
aquisição por muitos serviços de saúde.
Nessa ótica, a relevância para uso do dispositivo de vídeo de baixo custo em
IOT no ensino e prática clínica permanece desconhecida até que estudos
semelhantes e mais detalhados sejam realizados de forma a ter melhor conhecimento
dos benefícios e desvantagens do método.
REFERÊNCIAS
1. Yamanaka CS, Góis AFT, Vieira PCB, Alves JCD, Oliveira LM, Blanes L, et al. Intubação orotraqueal: avaliação do conhecimento médico e das práticas clínicas adotadas em unidades de terapia intensiva. Revista Brasileira de Terapia Intensiva. 2010 2;11(1):1 – 4. 2. Vieira VLR, de Assis Duarte Vieira F, Leite CCA, Pimentel CFM, Pereira TG. Manejo de vias aéreas. HU Revista. 2004 5;30(2-3):35 – 39. 3. Gil KSL. Fiber-Optic Intubation: Tips From the ASA Workshop. Anesthesiology News Guide to Airway Management. 2009; 91-98. 4. Hopkins HH, Kapany NS. A flexible fiberscope, using static scanning. Nature. 1954;173(4392):39-41
5. Collins SR, Blank RS. Fiberoptic Intubation: An Overview and Update. Respiratory Care. 2014 6;59(6):865 – 880. 6. Pezzi L, Pessanha Neto S. O laboratório de habilidades na formação médica. Cadernos da ABEM. 2008 10;4:16 – 22. 7. Gómez-Ríosa MA, Pinegger S, de Carrillo Mantilla M, Vizcaino L, Barreto-Calvo P, Paech MJ, et al. Estudo cruzado e randômico comparando os laringoscópios Airtraq®
16
NT, McGrath® MAC e Macintosh para intubação nasotraqueal em simulação de via aérea fácil e difícil em manequim. Revista Brasileira de Anestesiologia. 2016 Maio;66(3):289 – 297. 8. Jr DR, Zinelli FR, Neubauer AG, Schneider AP, do Nascimento Jr P. Dados da avaliação pré-anestésica não influenciam o tempo de intubação com o videolaringoscópio Airtraq® em pacientes obesos. Revista Brasileira de Anestesiologia. 2014 Maio;64(3):190 – 194. 9. Erdivanli B, Sen A, Batcik S, Koyuncu T, Kazdal H. Comparação entre o videolaringoscópio King Vision e o laringoscópio Macintosh: um ensaio clínico prospectivo randomizado e controlado. Revista Brasileira de Anestesiologia. 2018 Setembro;68(5):499 – 506. 10. Kilicaslan A, Topal A, Tavlan A, Erol A, Otelcioglu S. Eficácia do videolaringoscópio C-MAC no manejo de intubações malsucedidas inesperadas. Revista Brasileira de Anestesiologia. 2014 Janeiro;64(1):62 – 65. 11. Mathieson E, Joo H, Naik V, Chandra D, Alam S. Learning curve for intubations with the Glidescope. Canadian Journal of Anaesthesia. 2007 June;54(1):42457 – 42457. 12. Lee D, Thampi S, Yap E, Liu E. Evaluation of a smartphone camera system to enable visualization and image transmission to aid tracheal intubation with the Airtraq® laryngoscope. Journal of Anesthesia. 2016 June;30(3):514-517.
17
APÊNDICE A – POWER POINT DO MINICURSO DE IOT
18
19
20
21
22
23
24
25
Apêndice B – Instrumento Sociodemográfico
Esse questionário objetiva-se a produzir informações sobre seu perfil
sociodemográfico e compreender melhor seu conhecimento e sua experiência no que
se refere ao procedimento de intubação orotraqueal. Nesse sentido, é muito
importante que você responda a todas essas questões.
Identificação do aluno:
1 – Idade em anos:
2 - Gênero: a( ) Feminino b( ) Masculino
3 – Estado civil: a( ) Solteiro b( ) Casado c( ) Mora junto d( ) Separado / viúvo
4- Ano da graduação: _______________________________________________
5- Já realizou o procedimento de IOT alguma vez?
a( ) Sim. b( ) Não
6 – Se sim, quantas vezes? _____________________________
7 – Em manequim?
a( ) Sim. b( ) Não
26
8 – Em paciente real?
a( ) Sim. b( ) Não
9 – Qual técnica utilizou?
a( ) Convencional sob visão direta. b( ) Equipamento com vídeo
Apêndice C – Instrumento de Observação da Técnica de IOT
Identificação do participante:__________________
Data:____/_____/_______
Técnica que realizou:________________________________________________
Tempo
Taxa de acertos
Taxa de erros
Número de tentativas
27
Apêndice D - Instrumento de Avaliação da Satisfação dos discentes
Observação: A nota 1 é a pior nota e refere-se a total insatisfação, e a nota 10 é a
melhor nota e refere-se a totalmente satisfeito.
Identificação do participante:__________________
Data:____/_____/_______
Técnica que realizou:_________________________________________________
1. A técnica me proporcionou facilidade para realizar o procedimento de intubação
orotraqueal.
1 ( ); 2( ); 3 ( ); 4 ( ); 5 ( ); 6 ( ); 7 ( ); 8 ( ); 9 ( ); 10 ( );
2. A técnica me proporcionou maior visibilidade da cavidade oral.
1 ( ); 2( ); 3 ( ); 4 ( ); 5 ( ); 6 ( ); 7 ( ); 8 ( ); 9 ( ); 10 ( );
3. A técnica me proporcionou maior segurança para realizar o procedimento.
1 ( ); 2( ); 3 ( ); 4 ( ); 5 ( ); 6 ( ); 7 ( ); 8 ( ); 9 ( ); 10 ( );
4. A técnica me proporcionou maior rapidez para a realização do procedimento
1 ( ); 2( ); 3 ( ); 4 ( ); 5 ( ); 6 ( ); 7 ( ); 8 ( ); 9 ( ); 10 ( );
5. Adotaria essa técnica para uso na minha prática clínica.
1 ( ); 2( ); 3 ( ); 4 ( ); 5 ( ); 6 ( ); 7 ( ); 8 ( ); 9 ( ); 10 ( );
6. Recomendaria a adoção da técnica para ensino nas escolas médicas.
1 ( ); 2( ); 3 ( ); 4 ( ); 5 ( ); 6 ( ); 7 ( ); 8 ( ); 9 ( ); 10 ( );