artigo identidade nacional
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8/6/2019 artigo identidade nacional
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Embora o tema tenha s ido t ra tado em dcad as passada s por a lgun s dos
ma is p restigiosos e conh ecidos an troplogos (ver Bateson 1942; Ben ed ict
1946; Gore r 1953; Lowie 1954; Mea d 1942; 1962, entre outros), a pe squ i-
sa e mp rica sobre na es e iden tida de s na cionais tem tido u ma vida dif-
cil no inte rior da disciplina . Por alguma s boa s razes. A tran sposio ime -
diata de conceitos elaborados no m bito de e stud os de pe qu ena s comu-
nidad es tn icas oriun dos pa rticularmen te da Escola d e C ultura e Per-sonalida de resultou em um a srie de m onografias sobre culturas na-
ciona is p articulares ou cara cteres na ciona is e spe cficos, cujas ge ne ra-
lizaes e simp lificaes foram e m larga me dida repu diada s por inaceit-
veis (Ne iburg e G oldm an 1998:68-ss.).
Em vista disso, qu an do voltada pa ra as socied ad es complexas, a
pe squ isa a ntropolgica limitou-se p rincipalmente ao e studo d e m inorias
tnicas e /ou peq uen as comunidade s a lde s. At m esmo a ant ropologia
urbana e a chamada anthrop ology at hom e (Cole 1977; Jack son 1987)
permane ceram enfocando grupos pe que nos e supostamen te bem delimi-
tad os do pon to de vista terri torial ou cultural . No q ue toca a gru pos d e
ma ior escala e , outrossim, socied ad es n aciona is, formad as p or milhe s de
mem bros e por uma grand e complexidad e e m ul tip l ic idad e d e cultu-
ras, pa recia n o ha ver um a via de a cesso terico-metodolgica consis-
tente com o pa radigma e tnogrfico fun da do por Malinowski , qu e b a-
seia todo razoamen to antropolgico em p esqu isa de camp o e observao
participante1.
Existem, porm , incertezas em d ua s direes. De um lado, nae s
pode m ser comu nidade s cujo grau d e coeso ent re os mem bros, a de s-
pei to de seu tama nh o, comparvel ao de q ualquer grup o tnico de p e-
quena escala, ou assim considerado. Esta caracterst ica singular a
grand e cap acidad e d e m obilizar seus mem bros, a ponto mesmo de fazer
DISCURSOS SIMB LICO S E
SMBOLOS DISCURSIVO S:C O N SIDERA ES SOBRE A ETN O G RAFIA
DA IDEN TIDADE N ACION AL*
Jen s S ch n e i d e r
MAN A 10(1):97-129, 2004
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com qu e e les estejam ap tos a m orrer pe la n ao (Ande rson 1991:7, 144)
foi o qu e, no incio dos a nos 80, motivou a lgu ns h istoriad ores a investi-
ga r mais de pe rto os meios pe los qua is as na es logram torna r-se a prin-cipa l referncia pa ra a constituio d os sentimentos de pe rtena (cf. An-
de rson 1991; Hobsb aw m 1990; Hob sbaw m e Ran ge r 1983; Ge llne r 1983;
Schne ide r 2001a:19-32). Comu nidad es na ciona is so fortes refern cias
pa ra a formao da iden tida de . N o sem razo, portanto, qu e Ben ed ict
Ande rson insis te em compreen de r o per tencimen to nacional no como
simp les ideologia, ma s como uma ca tegoria cultura l b sica , tal qu al o
pa ren tesco e a re ligio (And erson 1991:5). Slido argu me nto, alis, pa ra
incluir as n aes e as iden tida de s na cionais sob o olhar an tropolgico.Por out ro lad o, o tam an ho e a d en sida de p opulacional no de vem
servir de argu me nto pa ra a an tropologia evi tar o tema . Em p rime iro lu-
ga r, porqu e existem gru pos tnicos mu ito ma is num erosos que ce rtos Es-
tados-nao. Segu nd o: na es e gru pos tnicos pode m t ransformar-se
un s nos outros mu itas vezes, alis, de m an eira ba stante r pida , como
ilustram d rama ticame nte os even tos ocorridos n o Leste Europe u de pois
de 1989. Terceiro: gru pos tnicos tam b m so comun ida de s ima gina-
da s no sen tido d e And erson (1991). Toman do a s rio as concluses d ean troplogos como Fred rik Barth (1969), Georg e Devere ux (1978) e Joh n
Armstrong (1982), podem os dizer q ue a iden tida de tnica fun ciona ba si-
camen te como um disposit ivo de rotulage m [labe lling de vice]. Assim,
a formao do grup o e da ide ntida de so, amb os, processos que n o es-
to nece ssariam en te vincu lad os a comp ortame ntos culturais esp ecfi-
cos (Deve reu x 1978).
Alm disso, se a cultura n o o e xerccio sui ge ne ris de um p oder de te rmi-
nan te sobre as pe ssoas, ento ela precisa ser considerad a como o produto de
outra coisa: se n o a replicao lgica d e ou tros processos sociais relaes
de produ o, por exem plo , ento a re pl icao lgica da in tera o social
ela m esma . [] Portanto, nossas construes etnog rficas e explicaes a n-
tropolgicas no pode m derivar o comportam en to dos ind ivduos a pa rt ir da
prem issa a xiomtica da cultura. precisame nte e ssa relao en tre o ind ivi-
dua l e o co le t ivo que deve se r r econhec ida como prob lemt ica (Cohen
1994:119).
Desse modo, a a n lise d as iden tida de s e d e se us p rincpios b sicos
de estruturao de ve voltar-se an tes para as condies e processos polti-
cos e histricos da formao e m si, do q ue pa ra seu conte do cultural,
qu alqu er q ue seja (cf. Barth 1969:15).
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Da pe rspect iva de uma prt ica e tnogrfica qu e d edu z as ide nt ida-
de s e fronteiras tn icas diretame nte d os comp ortam en tos culturais obser-
vados, as naes s pode m m esmo a pa recer como alvo imp ossvel paraas pe squisas de camp o em a ntropologia. Primeiro, porqu e q ua nd o se en-
tend e, por exem plo, os brasileiros ou os alem es , primordialme nte ,
como culturas na cionais, se e st produ zind o um dilem a em prico insol-
vel, pe la prpria ma gn itude d os grupos em qu esto. Qu alquer observa-
o sobre a cultura de u m de sses grupos ser considerad a, ine vitavel-
me nte e corretame nte , uma hipersimp lificao e/ ou g en eralizao.
Segu nd o, porqu e m esmo se fosse possvel enviar milha res de an troplo-
gos a campo, e se p ud ssemos coletar uma q uan tidad e ma cia de d adossobre a vida cot idiana de um a g am a m ultivariad a d e p essoas, t irar con-
cluses a resp ei to de um a cultura nacional, provavelmen te, torna r-se-ia
ainda ma is complicado. Qu an to mais pe rto, mais difcil de en xerga r.
De fato, no h n enh uma razo para q ue devesse existir uma cultu -
ra nacional. Como j foi obse rvad o de an tem o pe lo filsofo fran cs Er-
ne st Ren an , em 1882, ne m a s condies territoriais e ge ogrficas, nem os
asp ectos cultura is (lng ua ou religio, por exe mp lo) prova ram -se histri-
ca e em piricame nte ne cessrios ou suficien tes nos p rocessos de constru-o na ciona l (Ren an 1992). Toda via cab e a dve rtir , ne ga r qu e su as
proprieda de s sejam cond ies ne cessrias ou suficien tes n o sign ifica d i-
zer qu e cu ltura, histria e territrio sejam e lem en tos ou fatores ne glige n-
civeis na a n lise de certas naes. Ao contrrio, eles desem pe nh am um
pa pel crucial no processo contnu o de au to-imag ina o da s comunida-
de s nacionais ma s eles prprios, tamb m , enqu an to construes.
Para uma ant ropologia da const ruo
da ident idade nacional
Ora, dirigir o foco de n ossa aten o pa ra os processos de construo da s
diferenas e nvolve considerar q ue naes e grupos tnicos obedecem ba-
sicame nte a os mesm os processos de forma o. Isto nos faz ver a n a o
como u m sub tipo histrica e politicam en te e spe cfico de forma -
o tnica . Nesse sen t ido, a ant ropologia p ode d esemp en har um pa pel
proem ine nte n os estud os interd isciplina res da iden tida de , sobretudo e m
vista d e seu rico acervo de pesq uisas sobre um a vasta g ama de processos
de forma o grupa l.
A an lise d as iden tida de s na cionais obriga -nos a procurar e isto
, de fato, muito inte ressan te o locus social e cultural onde a forma o
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identitria realm en te ocorre no a pen as en qua nto representao sim-
blica, mas tamb m en qu anto dispositivo extrema men te p oderoso para a
reproduo contnu a e cotidiana, entre os membros de u ma d ada nao,dos princpios bsicos qu e a fun da m e e struturam . Com o j foi di to h
pou co, a iden tida de pod erosa o suficien te pa ra mob ilizar rapidam en te
milhes de pe ssoas pa ra morrer pela na o. Ou, pelo menos, pa ra sen-
tar em frente te leviso e torcer pe la se leo de futeb ol du rante um a
compe tio intern aciona l.
Uma vez qu e a nao a r t icula sen t imen tos de comunho [com -
monness] en tre seus me mb ros (me smo que esta ltima n o possa ser ob-
servada em piricame nte), tal articulao d eve estar intima me nte associa-da mediao ou transmisso das narrativas-mestras da nao a os seus
mem bros. Minha hiptese qu e u ma p arte importante de ssa transmisso
est na prpria e strutura comu m a essas na rrat ivas, isto , em seu s ele-
me ntos inte rind ividu ais, ou segu ind o Michel Foucau lt discursivos ,
qu e rea lizam a tarefa, tanto no qu e d iz respei to aos sentimen tos de pe r-
tencimen to, quan to s narrativas e m odos de e xpresso2. Por outras p ala-
vras, o discurso nacional no ap en as um a expresso de d eterminad os
sentimen tos na cionais, ma s tam b m um me canismo qu e cria a na o en-quan to uma comunidade 3.
De fato, como se sab e, a relao en tre na o e lng ua m uito estrei-
ta. O idioma a principa l ferrame nta de un ificao cu ltural (cf. Ande rson
1991:70-ss.), e o perten cime nto de um ind ivdu o a u ma comun ida de , na
maior ia das vezes, di to ou declarado em pr imeiro lugar (Deve-
reux 1978:148). A lng ua um eq uipam en to comun icacional que precisa
ser apren dido; , portan to, um a de qu ad o marcador de distintivida de p a-
ra me mb ros de diferen tes culturas e n aes. O u so do idioma em de ter-
minada socied ad e , em g eral, estvel o suficien te pa ra ga rantir a comu-
nicao en tre vrias g erae s, ma s tam b m flexvel o suficien te p ara
incorporar rapidam en te mu da nas h istricas e/ ou sociais.
Alm disso, a l ing ua ge m m an tm u ma relao nt ima com a cogni-
o. some nte p or meio da rep resen tao ling stica qu e o reconhe ci-
me nto social e cultural d a rea lida de se torna possvel. Isto v lido in-
clusive n o que concerne aos estmu los visuais que , por vezes, qua nd o no
pode m ser n omead os, pa ssam de spercebidos men te. Por outro lad o, tu-
do aq ui lo que n omead o pode ser considerad o real , mesmo se a sua
real idad e rep ousa un icamen te sobre o fa to de ter s ido nome ad o, ad-
qu irind o a ssim significad o cultura l (Taylor 1987:53). Isto se a plica ain da
mais propriame nte qu elas caractersticas ab stratas q ue n o oferecem
mu itos ap elos sen soriais como o caso da ide ntida de na cional.
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Discurso como campo etnogrf ico
A que sto saber , ento, se possvel imag inar u ma abordag em etno-grfica objetiva d o discurso nacional enq ua nto cam po d e p roduo cul-
tural (Bourdieu 1993), preservan do, ao me smo temp o, algu ma s da s vir-
tude s em pricas d a a ntropologia, tais como: observa o e p articipa o,
emp atia d o pesqu isador acompanh ad a simultan eam ente d e reflexivida -
de crtica, en tre outras4.
Discursos, da me sma forma q ue smb olos, ad qu irem pod er, eficcia
e fun o por me io do contexto social em qu e se situam . De fato, a prpria
de finio de discurso como um sistema forma tivo inte r ou sup ra-indivi-du al, voltado p ara as n arrativas e pa ra a construo de sign ificado, imp li-
ca sua imerso [embeddness] em u m contexto mais abrang en te. O ter-
mo q ue vem se nd o ut ilizado, tanto em ling st ica q ua nto em an tropolo-
gia, para d escrever a relao en tre discurso e contexto intertextuali-
dade. Ele se refere s conexes d iscursivas en tre todos os tipos d e tex-
to e o con texto ma is am plo. Assim:
[] a an lise inter textual dem onstra de q ue m an eira os textos lanam m o,selet ivame nte, de orde ns de discurso configu raes e spe cficas den tro do
conjunto da s prticas conven ciona da s (g ne ros, discursos, na rrat ivas, etc. )
que esto disposio de p rodutores e in trpretes de u m texto em uma de-
termina da s itua o social []. Mas a a n l ise in ter textu al , conceb ida p or
Bak ht in de forma d inmica e dial t ica , tamb m mostra como os textos po-
de m tran sforma r esses m esm os ma teriais sociais e h istricos; como os textos
pode m da r novas in ten sida des a d eterminad os gn eros; e como os gne ros
(discursos, na rrativas, registros) pod em misturar-se u ns a os outros em ce rtos
textos. Nos te rmos d e Kristeva [1986:39], trata-se da inser o da histria (so-
cied ad e) em um texto, e d esse texto na histria (Faircloug h 1992:194-195).
Ne sse sen t ido, por tan to, os textos n o so a na lisados como ex-
presses cu lturais sing ulares, mas como referncias para determinad as
cond ies sociais, culturais e d iscursivas ma is abra ng en tes, em cujo m -
bito esse s textos so p rodu zidos (cf. Tyler 1991:86). Ce rtam en te, isto
vlido tamb m , qui m ais ainda , no caso de en un ciad os orais e conver-
saes, tomados en qu an to pr ticas d iscursivas (e diferen ciais) cotidiana s.
Pode-se argu me ntar qu e tud o isso semp re foi assun to da a ntropolo-
gia; o n ico problem a qu e rep resentaes discursivas no so (e n o
precisam se r) ne cessariam en te coeren tes com outras p rticas sociais. Dis-
corren do sobre a s relaes sociais, os falante s tend em a rep roduzir a a r-
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ro, rea lizado d e 2001 a 2003, incorporou diferen as reg iona is e d eu ma is
nfase q uesto da diversidad e tnica.
Realizar uma pe squisa antropolgica no camp o da produo cultu-ral (Bourd ieu 1993) de discursos sobre g erman idad e, brasilidad e e per-
tencimen to nacional imp lica, antes de tudo, assidu ida de nos dois am bien-
tes e tnog rficos (pa ssei vinte me ses e m Berlim e dois an os no Brasil). Im-
plica tamb m pa rt icipa r de (ou assist ir a) um a g rand e variedad e d e si-
tua es d iscursivas: conversa s, discursos, discusses p b licas, progra -
ma s de TV, jorna is e revistas, rep rese nta es cotidian as e miditicas d e
de terminad os even tos etc. Alm disso, toda conve rsa qu e tive com am i-
gos, coleg as ou conhe cidos a respe ito do meu tem a d e p esqu isa se cons-tituiu, de fato, em valiosa fonte de da dos.
Ou tras vezes, procurei compleme ntar a obse rvao e an lise da s si-
tuaes-pad ro d e p roduo discursiva p or meio da ob servao pa rtici-
pa nte e ntre grup os sociais qu e m e era m me nos acessveis cotidianam en -
te. Em Berlim, por exemp lo, passei dua s seman as na redao d e u m d os
ma iores jornais da impre nsa ma rrom d a cidad e. Passei outras cinco se-
ma na s na se de local do comit p arlame ntar d o Partido d o Socialismo De-
mocr tico (PDS) an tig o Partido Socialista Un itrio (SED) , qu e g o-verna va a Alem an ha Oriental. J n o Brasil, man tive contatos pe ridicos
com rep resen tante s de diversos projetos culturais e sociais e com p essoas
da s ma is difere nte s orige ns e profisses. Alm disso, fiz viag en s a vrias
cida de s do p as (sobretudo n as reg ies Norte, Nordeste, Sul e Sude ste),
ond e p ud e en trevistar jornal istas e polt icos, complem en tan do assim a
rotina diria d e trab alho no Rio de Ja ne iro cida de ond e vivi com mi-
nha faml ia. Nos dois pases f iz um acompanhamento sistemtico dos
me ios de comu nicao de ma ssa, que resultou em farto acervo, constitu-
do d e a rtigos de impren sa e diversos outros docume ntos. Todas essas ex-
per inc ias de campo a cabaram compond o uma imag em mul tiface tada
da s represen taes d iscursivas p blicas e cotidianas, seja da ge rman i-
da de (e da iden t ida de a lem ) , se ja da brasi lida de (e da iden t ida de
bra sileira) incluind o a as estratg ias d e ide ntifica o tanto n o plan o
individual quanto coletivo.
Com b ase n essas experincias pu de reunir um corpo de textos prin-
cipa l, na forma d e en trevistas com produtores de discursos p b licos, a
saber, jornalistas, polticos, ge nte d a m dia, alm de repre sen tante s de mo-
vime ntos sociais e a rtistas. Tal categ oria de pe ssoas se ca racteriza, no g e-
ral, por um a e lab orada com pe tncia discursiva . Por esse m otivo, mais do
que outros grupos, essas pessoas parecem capa zes de rep roduzir um pan o-
rama ba stante d iferen ciad o da s construes d iscursivas e ide ntitrias5.
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As en trevistas foram an alisad as leva nd o-se em esp ecial considera-
o os seg uintes tpicos: definies d e ide ntida de ou p ertencime nto; de-
finies dos atribu tos tpicos d e a lem es e bra sileiros; ge rao/ ida de ;reconstrues histricas e pe riodizao de eve ntos; construes de dife-
renas e mecan ismos de al terizao [othering]. Para as an lises, u tili-
zei basicamen te a tcnica de interpretao textual e intertex tual pro-
ced ime nto algo seme lha nte an lise literria ou de textos: as en trevistas
era m situa da s em contextos diversos (discursivo, poltico, social, circun s-
tancial e b iogrfico). O objetivo principa l a era d esvelar as orden s de
discurso (Faircloug h 1992) sub jacen tes. Por outras p alavras, relaciona r
as n arrativas e estratg ias d iscursivas individuais com as refern cias in-tertextuais compartilhadas pelos indivduos.
Em sum a, cada e ntrevista precisou ser situad a : a) no corpus total
de en trevistas; b) na arm ad ura discursiva e sociopolt ica m ais ge ral ; c)
no contexto espa cial e tem poral em qu e foi real izada . A interp retao
bu scou revelar as referncias e estruturas comuns sub jacentes suma-
rizan do-se, en to, as ten d ncias ma joritrias e minoritrias, e ressaltan -
do a s principa is l inh as d ivisrias n o interior de cada grup o en trevistado.
Fina lme nte , tais ten d ncias e linh as d ivisrias foram trad uzida s em po-sies prototpicas e i lust rada s por c itaes qu e e xpressam de man eira
pa rticularme nte clara as caractersticas dominan tes pe rcebida s no g rupo
em qu esto.
Exemplos: Deutsch seine brasil idade6
Brasil e Alem an ha rep resen tam d ois casos-mode lo contrastan tes no qu e
diz respei to s suas re spect ivas orige ns, ao tran scurso de su as h istrias
na ciona is, a se us mitos fun da dores e a seu s ide ais constituciona is b si-
cos sobre cida da nia e na cionalida de . N o obstan te, so casos raram en te
comparados7.
O Brasil considera -se, assim como a lgun s outros pases (Estados Uni-
dos e Austrlia, por exem plo), um a socied ad e d e imigra ntes . Em con-
sonncia, as leis qu e reg ulam a cidada nia no pa s franq ue iam acesso au-
tomtico n acionalida de bra sileira no caso de na scime nto em territrio
bra sileiro. O p rincpio de jus soli* n o foi somen te a forma m ais lgica de
integ rao n aciona l em um pa s qu e vivia (e promovia) a imigrao m a-
cia, como aca bou por tornar-se p arte d a retrica n aciona lista bra sileira.
Recorde-se, por e xemp lo, um famoso slogan do Estado N ovo: Qu em nas-
ce n o Brasil b rasileiro ou traidor .
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Em comparao, as leis de cidad ania na Alema nha do nfase as-
cendncia . Inde pen den te do local de nascimen to, filhos de alemes tm
na cionalida de a lem ga rantida (jus sang uinis**). Por outro lado, o na sci-me nto, em te rritrio germ n ico, de um ind ivdu o cujos pais n o tenh am
na ciona lida de alem , n o faculta o acesso cida da nia alem . Foi somen -
te de q ua tro anos para c qu e o primeiro elemen to de jus soli foi in trodu -
zido, pa ssand o-se a conside rar automaticam en te cida d o alem o qu al-
quer descend ente da segu nda g erao de imigrantes (ou se ja, indivduos
qu e tenh am p elo men os um dos pais na scidos na Alema nha ), bem como
os indivduos qu e che garam ao pa s com m enos de 14 anos8.
Nascimento e descendncia
Conforme d emon strou John Borneman (1992) em trab alho que com-
pa rava p olticas fam iliares na Alema nh a Orien tal e O cide nta l do ps-1945,
textos jurdicos e pr ticas bu rocrtico-administrativas pod em e xerce r pro-
fun da influn cia na s na rrat ivas de construo de ide ntida des pe ssoais e
histrias d e vida. De igua l mod o, as d ifere na s na s leg islae s bra sileirae a lem re fletem -se nos resp ectivos processos de au todefinio e d e for-
mao d o sent ido de pe r ten cimen to que ocorrem no d ia-a-dia dos dois
pa ses (ver, tamb m , Bruba ke r 1994). Os meu s gru pos de en trevista,
aqu i e l , reproduziram p redominan temen te um discurso coerente com
os critrios oficiais de de finio da na ciona lida de . De a cordo com a s pro-
posies tericas apre sen tada s pouco acima , pode -se dizer qu e a cons-
t ruo da ide nt ida de se comp e de t rs e lemen tos: um a de clarao de
pe rtencime nto; um a rgu me nto que justifica e ssa autode clara o; e um a
estratg ia discursiva. Tais eleme ntos so nitida me nte discern veis (e fa-
cilme nte evocados) na s en t revistas qu e real izei. Comeo com algun s
exe mp los do Brasil.
1. Voc se conside ra b rasileira?
Sim .
Por qu e?
Cons i de r aes sobr e a e t nogr a f ia da i den t i dade na c i ona l 105
* Jus soli: direito do solo. Princpio segund o o qua l a pe ssoa tem a n acionalidade d o pas onde nas-ceu [N. do T.].** Jus sang uinis : direi to do sang ue. Princpio segun do o qua l a pe ssoa h erda a nacionalidade d eseus pa is ou ascen den tes [N. do T.].
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Cons i de r aes sobr e a e t nog r a f ia da i den t idade nac i ona l106
(Pau sa) Porqu e e u n asci aq ui e me iden tifico com os brasileiros (Ma ria).
2. Voc b rasileira?
Sou.Por qu e?
Eu n asci no Brasil. Porqu e e u n asci aq ui no Brasil (Jlia).
3. Voc b rasileiro?
Sou b rasileiro.
Por qu e?
(Risos) Bom, eu na sci no Brasil, obviame nte , um pa s bom d e se viver ,
ape sar de todas as contradies que a g ente apresen ta (Rena to).
4. Voc brasileiro? Mine iro, ua i. (risos)
Por qu e brasileiro?
Por que eu sou b rasileiro? Por qu e e u sou bra sileiro (risos) Bom, na tu-
ralmente , em p rime iro lug ar porque eu n asci aq ui, n o ? Ma s, ma is do qu e
isso, porqu e e u g osto da n ossa terra (Albe rto).
5. Voc b rasileiro?
Sou.
Por qu e? Por qu e e u sou bra sileiro? (risos) Eu n asci aq ui, s por isso. Mas e u p ode -
r ia ser a mer ican o, eu poder ia ser a lem o, eu pode r ia se r afr icano, eu p ode-
ria ser indiano, eu p oderia ser au stralian o, no teria o m en or problem a (Joo).
Ne nh um dos en trevistados que st ionou o local de na scime nto como
critrio p rincipal de au todefinio de b rasileiro. Este foi tamb m o ni-
co critrio au to-suficien te (cf. trechos 2 e 5). No Brasil, mu ito rgida a
id ia d e d efinir o pertencimento p elo local de na scime nto no que toca
tanto ide ntida de reg ional qua nto local. Pessoas qu e na sceram em d e-
termina do luga r, ma s foram criad as em outro desde a infn cia, normal-
me nte indicam o p r ime iro como sua ide nt ida de regional . Vejamos um
exem plo prototpico. Ce rta vez pe rgun tei a um senh or, vend ed or de q ue i-
jos em C opacaba na, se e le e ra car ioca, ao q ue e le respondeu neg at i-
vamen te , afirmand o-se perna mbu cano. Somen te d epois de inqu ir ido
novam en te por mim, ele reve lou e star vivend o no Rio de Ja ne iro h cin-
q en ta an os, tend o aqu i cheg ad o aos 19. Um outro exem plo vem d o obi-
tu rio do violinista Isaac Stern , pu blicad o no Jornal do Brasil em sua e di-
o de 24/9/2001. O ar t igo d ava pa r t icular nfase ao fa to de Stern ter
n ascido n a Ucrnia , mas [ter s ido] levad o ainda be b pa ra os Estad os
Unidos como se fosse n ecessrio ou d ese jve l relativizar a ide ntidad e
ame ricana do m sico. Todavia, no q ue concerne a os aspectos estratgi-
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cos, a m aioria dos e ntrevistados a cima citados p rocurou reforar su a ide n-
tida de bra sileira e e nfatizar os pon tospositivos de ser b rasileiro, ad icio-
na nd o outros elem en tos me nos pa ssivos q ue o nascime nto, a sab er:razes reg iona is, forte iden tifica o com o pa s e se u p ovo etc.
J na s entrevistas alem s, a coisa se pa ssa de m odo bem diferen te.
Reflet indo tam b m os conceitos sobre cida da nia contidos na leg islao
da Alema nh a, as e ntrevistas m ostram m uitas referncias ascend ncia e
aos vnculos com p are ntes (pa is e avs) ge rmn icos. Ao contrrio do Bra-
sil, porm , as leis de reg ulamen tao da cidad ania a lem foram exten sa-
men te de ba t ida s nas lt ima s dua s dcad as ou ma is . O p r incpio de jus
sanguinis falha diante da s dema nd as da rea lidad e em prica marcadape la imigrao e pe lo increm en to da d iversida de tnica na socied ad e ale-
m contemp ornea . Ao me smo temp o, ele uma reminiscncia do pa s-
sado na ciona l-socialista e de sua ide ologia de san gu e e solo. Por isso, a
construo de uma ge rmanidade basea da na ascend ncia pode ser alta-
me nte p roblem tica, sobretu do pa ra os memb ros da s elites discursivas.
De sorte q ue as referncias diretas so e xceo. Porm, como n o h a l-
terna tivas d iscursivas p lena me nte consolida da s, m uito difcil evitar re-
fern cias indiretas ou involuntrias, me smo qu an do a inteno do d iscur-so exatam en te o contrrio. Tomem os o segu inte e xemp lo.
6. Voc se considera alem ?
Sou alem , sou
Por qu e?
cidad a lem ; i sto , do pon to de vis ta leg al . Espir itua lmen te me vejo
mu ito mais como eu ropia.
M as voc se d efiniria como alem apen as do ponto de vista leg al?
Eu nun ca pe nsei mui to sobre esse a ssunto porque nun ca sent i a necessi -
da de d e me ide ntificar , enqu an to pessoa, atravs da na o. E o que signi-
fica se r a lem o? Bom, segu rame nte eu tenh o algun s t raos caracter s t icos,
qu alificad os, em ge ral , como t ipicame nte a lem es. Isso bvio: sou alem ,
me us pais eram alem es, meus bisavs eram a leme s S me us ta taravs
n o eram a leme s, tinh am algum a coisa a ver com a Frana (risos) (Ga briele).
cur ioso notar que as referncias culturais de ssa en t revistada
uma dep utada social-dem ocrata passaram de repente a fazer pa rte d e
sua herana biolgica, muito em bora e la e st ivesse ten tand o relat ivizar
sua ide nt ida de a lem . A propsito, todos os ent revistados procuraram
evitar o u so da de scend n cia como critrio vlido, ma s n o raro ele rea -
pa recia pe la p orta dos fun dos. Outro exemp lo:
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7. Voc se considera alem ?
Claro.
Por qu e? Tenh o passap orte a lem o; na sci pe rto de Colnia, que f ica na Alem anh a;
minha m e ve m de uma fam lia cen tenr ia da r eg io do Reno . E me u pa i,
da Prssia d o Leste . Mas com e sse lado eu n o ten ho mu i to contato No
sei No m e e voca n enh um sentimen to (Sabine).
A men o s orige ns centen r ias da me na regio do Ren o, onde
na sceu tam b m nossa en trevistada (jornalista de esq ue rda ), pod e ser vis-
ta como um a referncia cultural importante pa ra fund ame ntar seu sen ti-men to de ge rmanidade da mesma forma como vimos apa recer nas res-
postas d os entre vistad os brasileiros. No en tan to, esse e feito inten ciona l
, de a lgu ma man eira, enfraqu ecido pe la origem paterna em um territ-
r io que fez par te da Alema nh a somente a t o final da Segu nd a Gran de
Gu erra, e qu e, portanto, no teve influn cia direta n a socializao cultu-
ra l local da en t revistada. Dentro da arma du ra d iscursiva d ominante ,
claro qu e su a ascend n cia prussian a p elo lad o pa terno refora a au to-
de finio d e a lem . Mas ela ao me smo tempo p roblem tica, como pa-rece ind icar o final evasivo da fala.
Todavia, note-se que o primeiro argumen to de Sabine foi o fato de p os-
suirpassaporte alem o. Alis, esse foi rea lmente o arg umen to mais freqe n-
te en tre os meus entrevistados. E isso estratg ico, pois, um a vez que o pas-
saporte tran smite uma idia meramente a dministrativa do pertencimento
nacional, o argumento serve como u m instrumen to a ma is pa ra relativizar a
imp ortn cia da ide ntida de n acional. Novam en te, h a um a am bivaln cia,
visto qu e o funda men to leg al mais comum para possuir um pa ssaporte a le-
m o , justamen te, o fato de ter na scido d e p ais aleme s. As profun da s ra-
zes da n oo de descend ncia n o discurso dominan te sobre a germa nidade
so ilustrad as p elo fato de qu e a ma ioria d os entrevistad os confirmou se u
p ertencime nto alemo, qua nd o lhe s pergu ntei, a ttulo de h iptese, qual
seria sua identidad e caso fossem filhos dos me smos pa is, ma s tivessem na s-
cido em outro pas. Tais concep es se expressaram tambm no fato de q ue
qu ase todos os en trevistados u tilizaram ascen dn cia e orige m como cri-
trio principa l de distino en tre n ativos e Auslnder(estrang eiros), in-
clusive no ca so de filhos e ne tos de imigran tes nascidos na Alemanh a.
Em resum o, pa ssaporte e na scime nto foram os principa is argum en -
tos utilizados p elos alem e s pa ra d efinir a p rpria iden tida de . No en tan-
to, difere nte me nte d o qu e se v n as en trevistas brasileiras, os entrevista-
dos alem e s quase nu nca de monstraram construir uma relao positiva
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com a na o. Ao contrrio, a estratg ia m ais freq en te foi introdu zir um a
id ia d e ine vitabilida de . Vejam os algu ns exe mp los.
8. Eu sou alem o por um lado, porque na sci aq ui; por outro, porqu e cres-
ci, fui edu cado e social izad o aqu i. Acho qu e isso, antes d e tud o, o que faz
algu m ser alem o. No foi um a coisa qu e e u pu de sse de cidir (Stefan ).
9 . Eu na sci aq ui . At onde eu e m eu s familiares sabem os, pe lo lado mate r -
no, vivemos na Alem an ha desd e o sculo XVI. No sei d izer por que razo
eu n o me sen tir ia alem o (Wolfgan g).
10. Bem , no se p ode d ecidir nessa ma tria voc , ou n o , certo? Qu er
dizer, p elo nascimento simplesmen te (Monika).
Percebe -se qu e a noo de de scend ncia , apesar de problem t ica ,
sustenta a idia de um a ine vitabilida de d o pertencimen to n acionali-
da de alem . E isto , de fato, sua principa l fun o e inten o. Uma d as
construes ma is fortes ne ssa linh a a pa rece no seg uinte trecho:
11. Voc a lemo?
Sim, isso ine vitvel . Me u p assap orte e minha carteira de ide ntidad e jdizem Eu n asci aqui, o que eu posso fazer? como se voc me perg untas-
se: voc b ran co?. Sim, eu ten ho a p ele clara , sou b ran co, n o posso sair
de den tro da minha prpria pele (Dieter).
Enqu an to a m aioria dos bra sileiros procurou a dicionar u m elemen to
ativo (por e xem plo, me iden tifico [1], gosto [4]), os entre vistad os ale-
me s tende ram a enfatizar mais a passividade em sua construo da g er-
ma nida de . Na ltima citao (11), por exe mp lo, o en trevistad o qu e
jornalista e conse rvador che ga me smo a a firma r, discursivam en te, seu
pe r tencimento na cional em termos de seus p r-req uisitos biolgicos, e
reintrodu z a noo d e a scend n cia. Ind o alm, o trecho indica, emb ora
indi re tamen te , que a qu es to da iden t idad e a lem t amb m a presenta
compon en tes racializad os, j q ue , na interao cotidiana , a cor da p ele
fun ciona como um indicador visvel de orige m ou d escen d ncia estran -
ge ira am bos os aspectos eq uivalem a um a no-germanidade .
Tipicidades brasileira(s) e alem(s)
As diferen as qu e de stacamos n a construo da s ide ntida de s ind ivi-
du ais brasi leira e alem tam b m se expressam n o modo de ima ginar as
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respe ctivas comun ida de s na ciona is como um todo. prime ira vista, pa-
radoxa lme nte, a rigidez do critrio b rasileiro de na scime nto pa rece con-
trad izer a boa integ rao dos imigrantes recm-cheg ad os. Mas e mbora asocied ad e b rasileira seja, de fato, toleran te e a be rta prese na d e es-
trange iros, preciso notar qu e a p rime ira ge rao de imigran tes nun ca
pe rde u m certo est igm a d e estrang eiro, a d espe ito de terem vivido s
vezes qu ase a vida inteira no p as ou at se n atural izado b rasileiros. No
en tanto, a situao mu da radicalmente com a segunda ge rao, i.e., para
os filhos de imigran tes. Estes, em ge ral, n o encon tram ne nh um obstcu-
lo ao p len o reconh ecimen to como b rasileiros. Um a spe cto cen tral aqu i
o acesso ilimitad o cida da nia. Outro aspe cto imp ortan te a au to-ima -gem do pa s, que se v como uma socieda de heterogne a e tolerante com
a d ifere na . isto qu e p erm ite conciliar a m an ute n o de ce rtos a tribu -
tos tnicos (como a religio e a lng ua dos p ais) com a ad oo inq ue stio-
n vel da ide ntidad e bra sileira.
Em relao qu esto da diversidade tida como ca racte rstica d a
ide nt ida de e d a socied ad e b rasile i ras , convm observar qu e p arece
ha ver dois mode los anta gn icos: o modelo carioca e o m odelo paulista. O
primeiro, pred ominan te no N ordeste e no Rio de Ja ne iro, vale-se do d is-curso da miscigenao, construind o o bra sileiro tpico como u m indiv-
du o racialm en te m isturado, cuja heran a gen tica apresen ta idea lmen -
te traos da s trs raas fund adoras: portugu eses, african os e ind ge na s.
Exemp lo tpico desse d iscurso se e ncontra n a citao a segu ir:
12 . Voc pode achar qu e eu descen do dessa ou da que la e tn ia , que i sso
pode influir na m inh a idia d e b rasilidade . Mas, no. Ao contrrio, eu ten ho
razes be m p rofun da s no Brasil. Eu sou ca rioca, do Rio de Ja ne iro, ond e isso
[etn ia] rea lmen te j est pe rdido h m uito ma is tem po. A colonizao do Sul
do Brasil veio bem mais recente, no ? Em 1840 ainda tinha gen te cheg and o.
Voc sabe algo sobre a origem da sua fam lia?
descende nte de neg ros de e scravos. Tamb m somos descende ntes de
por tugu eses, mas da pr imeira leva de p or tug ue ses, a inda no pe r odo colo-
nial . Isso da faml ia imp er ial Algu ns, de a nte s a t . Dessa poca , n o ?
Tm h olan de ses, [] dos holand ese s de 1630!
Do Nordeste?
Do Nordeste . Par te da m inha famlia veio do Nordeste . Meu pa i era p a-
raba, ainda , sabe?
E a me, carioca m esm o?
Minh a m e era d o inter ior do Rio de Ja ne iro. De u ma fam lia q ue veio do
Sul, [de scen de nte ] de ndios do Sul, ndios charrua [] aq ui do Rio Gra nd e,
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sabe ? Descen de nte de ndios charrua com estan cieiros, do t ipo h eris do fe-
deralismo. Bento Gonalves meu antep assado.
Vocs so descen de ntes e m linh a direta de Bento G onalve s? (risos) em linh a d ireta, sim. Eu n o sou Gonalves, mas os Gonalves so um a
coisa d a faml ia a inda , enf im Ou se ja: um a sa lada . (r isos) uma salad a
bem legal na minha famlia.
A cha qu e, ne sse sen tido, voc um a tpica brasileira?
Exato. Este o bra si leiro mais t pico, en ten de u? Aque le qu e e st no Rio
(Helena).
O trecho assinalo de p assagem qu e a entrevistad a uma jornalis-ta de e sque rda, do Sul do pa s de fato excepciona l pe la combina o
de qu ase todos os elem en tos contidos no mod elo carioca d e b rasilida -
de . Temos um a referncia explcita ao Rio de J an eiro; h a q ue sto das
trs raas; ap arecem me nes s du as regies de e special sign ificado n a
rep rese nta o do Brasil como pa s da diversidad e (Norde ste e Su l); e, fi-
na lme nte, tem os aluses a eleme ntos do ima ginrio histrico na cional (os
primeiros portugu ese s, a fam lia imp erial e Ben to Gona lves he ri do
fed eralismo). Alis, ap esar de ter, em da do mome nto, utilizado o termosalada , o qu e a entrevistad a q uis realmente indicar q ue os diferentes
ingred ien tes q ue formam sua histria familiar n o so ma is discern-
veis , t ransformaram-se em um a mistura na cional , encarnada em sua
prpria pessoa 9.
Alm disso, na primeira p arte da fala de H elena , nota-se um argu -
me nto exp licitam en te contrrio ao outro mod elo p au lista , qu e v
o Brasi l como um a socied ad e p luritnica ou m ult icul tural formad a p or
imigran tes. No mod elo pau lista, pred ominan te em So Paulo e no Sul, o
ind ivdu o t pico q ua nd o perten ce a um (ou ma is) dos g rup os tni-
cos qu e comp em o un iverso cultural da imigrao b rasileira, ou se ja,
portug ue ses, jap one ses, alem e s, ital ian os e outros, qu e permanecem
discernveis en qu an to tais (tipo salad b owl). So Pau lo surg e, en to, co-
mo um a cida de mais tipicamen te brasi leira q ue o Rio de J an eiro em ra-
zo da presen a for te e vis vel das cul turas imigrantes . esse m odelo
qu e se p ercebe , por exem plo, na segu inte e ntrevista, real izada com um
jorna lista televisivo de So Pa ulo.
13. Eu acho qu e sou u m tpico brasileiro. Voc sab e, o Brasil tem um a mis-
tura mu ito grand e. difcil voc ver u m b rasileiro que n o ten ha pa i estran -
ge iro ou m e estra ng eira, mu ito difcil . [] Eu ten ho a vs ital ianos, ten ho
ingls na m inha famlia e sou fi lho de japon s. Ento, car reg a-se u m pou-
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qu inho dessas culturas diferen tes, pr incipalmente na p oca da infn cia. Pa-
ra voc ter um a id ia: em casa , me us pa is so bu distas. Ento, difcil voc,
em So Paulo pr incipalmen te , se sent ir exclusivame nte d entro de uma cul-tura brasi le i ra Acaba sendo a ssim: pequ enos p ases d entro de So Paulo.
Mas isso, eu a cho, que a nossa cultura difcil voc acha r algum qu e
no t raga u m pouco da Europa, da sia , a lguma coisa de sse t ipo para d en-
tro de casa . No consigo ver, assim, fam lias brasileiras qu atrocen tonas, n o
consigo ver isso ainda no Brasil.
Qual o lug ar mais b rasileiro do Brasil?
O lugar m ais brasi leiro? Ah, eu ficaria aq ui com So Pau lo mesmo, sabe ?
(r isos), que o luga r que acei tou todo mu ndo, onde h os imigrantes , ondeh Eu acho qu e d eu um pouco cer to essa mistura . Eu sou resultado de ssa
mis tu ra . Eu acho q ue o Bras il i sso mesmo. Um pouco da ide n t idade do
mun do inteiro. Ento, eu acho qu e So Pau lo est represen tando b em o Bra-
sil (Pedro)10.
Apesa r de me nciona r a mistura, e de ser ele mesmo racialme nte
misturado, no a m iscige nao o q ue marca e de fine a brasilidad e t-
pica no d iscurso de Ped ro, ma s sim o pe rtencime nto aos distintos g ru -pos de imigran tes. A id ia q ue subjaz ao mode lo pau lista a preservao
da s di feren as, ao passo qu e o mode lo car ioca postula a convergnciadas d iferenas originais na direo de um am lgama comum de iden ti-
da de b rasileira.
No entanto, a oposio ent re esses dois modelos desaparece
qu an do se trata d os ing redien tes culturais da bra silida de . Como em q ua l-
qu er construo d e iden tida de coletiva, imag ina r a comunidade na cio-
na l brasi leira req ue r que se tenh a u ma coerncia cul tural mnima e ntre
os brasileiros. Ora, isso claram en te p ercep tvel, outra ve z, no caso d os
imigra nte s, e, sobretud o, me lhor dizen do, no qu e d iz resp eito aos crit-
rios implcitos e e xplcitos (e s e xpe ctativas) dos b rasileiros sobre o qu e
de fine a integ rao ou assimilao dos imigran tes. Dois exe mp los:
14. O q ue faz de um imigran te, um b rasileiro? Prime iro, eu ach o que e s-
colher u m time de fute bol, [o time ] pe lo qu al se va i torcer (risos) Isso u ma
coisa q ue vale un iversalmen te , voc se a da pta s prt icas locais . Ento, as
prticas locais so os valores, que r dizer, os valores culturais que voc Quer
dizer , cheg a u m imigrante , por exem plo, na pe r ifer ia de So Paulo: e le vai
comea r a freq e nta r os bares a l i, vai tomar cerveja com os am igos, vai as-
s is t ir a dete rminados p rogramas d e te leviso, vai comen tar os assun tos co-
mun s (Henrique ).
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tan to, e a o contrrio do caso b rasileiro, pa rece ser m ais difcil lida r com a
tenso e ntre um mode lo vigoroso, por um lado, e uma n tida discrepn -
cia e tnogrfica n o plano d os comp ortam en tos e preferncias culturais daspe ssoas, por outro. o que de monstra o trecho a seg uir:
17. Tipicame nte alem o eu n o se i o que isto sign ifica. O qu e tipica-
me nte a lem o? Em gera l, qua ndo se fa la de algum a coisa t ip icamen te a le-
m , isso tem u ma conotao n eg ativa. bvio, en to, qu e eu n o aceite ne-
nh um a cone xo com a minha prpria pessoa. (risos)
M as pode have r algu ns termos conside rados neg ativos e q ue , no obstante,
algum Pontual pontu alida de .
Sim , isto, por exe m plo.
Eu sou ba stante pon tual . Mas a contece, infelizmen te, que a p ontualida de
n o ma is um a coisa t ip icame nte a lem . Ne sse sen t ido, os [a lem e s] oci-
de n ta i s , p r inc ipa lmente os de esq ue rda , bagu naram tudo . Es to semp re
at rasados, e i sso vem tendo u ma influncia . Mas, sim a p ontual ida de por
exe mp lo (Silke ).
Do ponto d e vista formal, a fala de nossa e ntrevistada (alem orien-
tal, poltica d e esqu erda ) mu ito seme lha nte do b rasileiro Marcelo (aci-
ma , 15 e 16). Amb os recusam a valida de dos resp ectivos esteretipos na -
cionais e , ad em ais , n o se reconhe cem n eles . Ambos reprodu zem, em
pa rte, o mod elo discursivo dom ina nte sob re os supostos atribu tos tpicos
de bra sileiros e a lem es. Porm , ao contrrio de M arcelo, Silke aca ba
rend en do-se armad ura discursiva. As d vida s que e la de monst ra ter
sobre a valida de e mprica da pontua lida de en qu an to trao do carter
coletivo na Alem an ha contemporn ea un ificada n o so suficien tes pa ra
qu est iona r o mod elo discursivo, e tam pou co evitam q ue a en trevistada
acab e por iden tificar-se e ap licar a si mesma a caracterstica.
A dificuldad e exp erimen tada por Silke em lida r com a ten so en tre
a valida de discursiva e a validad e etnogrfica do conceito tem vrias cau -
sas. Historicame nte, a n oo alem d e Kultur(em op osio concep o
francesa de civilisation ) exige u ma coerncia cul tural ma ior como b ase
de au tode finio n aciona l. Por isso, a n oo discursiva typisch d eu tsch
(tpico alem o) praticame nte imun e m ud an a cultural e, alm d is-
so, larga me nte rep resen tada por traos de ca rter ind ividu al. Ou tro pro-
blema su rge e m razo da s emb araosas refern cias h istria alem , mu i-
to ma rcada p elos fan tasmas do au toritar ismo e da obed in cia cega .
Me smo que as cham ad as virtude s alem s p ossam ser vistas como solo
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cultural leg t imo p ara a reconstruo d o ps-gue rra (Wiederaufbau )11 ,
e las adquirem, por out ro lado, juntamente com a noo de typisch
deutsch , uma conotao f ran came nte ne ga t iva , como reg istra o d ep oi-me nto d e Silke (17).
A expresso typisch de utsch u tilizada nos dias de hoje, por exem -
plo, pe los aleme s ocide ntais qu an do q ue rem ridicularizar os orien tais,
impingindo-lhes a pecha de serem mais parecidos com os a lemes
pr-democrticos, o que significa dizer quadrados, preconceituosos,
intoleran tes e atra sad os (tud o isso, sinte tizad o na p alavra spieig ). Veja-
mos os trechos a ba ixo, extrados de en trevistas com d ois polticos: um de
esqu erda , outro de d ireita.
18. Se voc qu iser investiga r a verda de ira Alema nh a, tem q ue visitar um a
vila na RDA [Alem an ha Oriental]. L voc vai encontrar a Alem an ha tal co-
mo e ra a ntes d e toda s essas inf lu ncias nor te-ame r icana s, ita l iana s e tc . L
tudo mui to mais autn t ico; e m ui to mais qua drado [spieig ] (risos) (An-
drea).
19. Na Alem an ha Or iental as pe ssoas tm um a rot ina mu i to regular . Eu
n o di r ia spieig , a inda que o t e rmo fique be m p er to d isso . Lngua s maisafiad as certam en te dir iam q ue isso t ipicame nte a lem o. A socieda de n a
RDA era mu ito mais alem qu e a socieda de da Alem an ha Ociden tal [RFA],
consideran do esse sen tido ne gativo da p alavra voc sab e tem g ente que
usa a pa lavra alem o como ofen sa (Ch ristian ).
Smbolos nacionais e alt erizao
Com efeito, em u m con texto discursivo am bivalente como esse , fica d if-
cil estab elecer, sem a mb ig ida de , uma relao posit iva com a cultura
alem . E isto n o pode se r compe nsad o, por exem plo, por meio de um a
relao a fetiva com os smbolos na ciona is ba nd eira, hino etc. , justa-
men te porque esses smbolos tamb m levantam suspeitas, pelas mes-
ma s razes histricas h pou co alud ida s. Pode-se d izer qu e o nico sm-
bolo positivo, incontestvel, da ide ntida de alem atua l a Grundgesetz :
a Con stituio Democrtica da Alema nh a Ociden tal do ps-gu erra.
O resu ltado qu e a prtica de ide ntificao mais larga men te conso-
lidad a e ntre os alem es contemp orne os vem a ser a h omogene idad e d is-
cursiva d e sua s na rrativas de iden tificao e a lteriza o [othering ]. Ne -
las, a amb ig idad e contida na definio de germa nidade contrabalan-
ada p or uma p ercepo e u ma d efinio ine qu vocas do qu e no e
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d e q ue m n o alemo. Send o assim, a imigrao macia de m o-de-
obra pa ra o pas no pe r odo do ps-gue rra ofereceu aos a lem e s uma
oportun ida de excelente d e ide ntificarem-se indiretame nte pe la op osioao espe ctro neg ativo do Auslnder(estran ge iro) e d o Gastarbeiter(tra-
ba lha dor ad ven tcio), evitan do, desse m odo, as armad ilha s de u ma d efi-
nio direta da g erman idad e.
Sob e sses dois aspe ctos a relao com os smb olos na cionais e os
princpios fun da me ntais de alterizao , o Brasil rep resen ta u m m ode lo
qu e contrasta fortem en te com o caso alemo. As refer ncias ban de ira e
ao h ino b rasileiro so sem pre p ositivas, no levan tan do, por si, susp eitas
de na ciona lismo ou ch au vinismo. Alm d isso, mu itos dos traos conside-rad os caractersticos ou tpicos da cultura b rasileira corriqu eira, como
futeb ol e ca rna val, n o so ap en as p rticas cultura is coletivas, mas sm-
bolos na ciona is em si me smos. Por exem plo, o simp les fato de algu m
ter u m time, isto , ser f d e u m clube de futeb ol local, j um a perfor-
mance simb lica da ide ntidad e b rasileira tanto qua nto a celebrao d e
uma vitr ia d a se leo na c iona l na Copa do Mu ndo, inde pen den te de
qu alqu er prt ica social ou cultura l efet ivam en te real izad a pe la pe ssoa
enq uan to torced or12
. Nesse sentido, a expe rincia da iden tidad e nacionalbrasileira pa rece u m p rojeto amp lam en te de mocrtico, de scomplicado e
n o problem tico.
Essa ima ge m au toconfian te reforad a pe la viso dominan te qu e se
tem d o lug ar ocupad o pelo Brasil entre os de mais pases do m un do. Ne-
la, o pas ap arece como um g iga nte pa cfico, che io de alegria e criati-
vidad e, que no se de ixa en volver em situaes de g uerra. As tend ncias
na ciona listas n o Brasil parece m limitar-se a um posiciona me nto contrrio
s inten es heg em nicas dos EUA e a um a certa rivalida de esportiva
com a Argentina . De modo sign ificat ivo, a p az tamb m uma cifra
onipresen te n o discurso pb lico brasileiro, e o lema p az e am or pa rece
ter se tornad o um smb olo na cional propriamen te d ito.
20. Em qu e v oc pe nsa quan do se fala da paz?
Um gra nd e objetivo a ser alcan ado. [] Eu ach o que p reciso ba talhar
pela pa z, tem qu e brigar pela paz, tem q ue lutar pela paz
M as a esse respe ito voc est pe nsand o m ais no Brasil , ou n o Rio, em parti-
cular
Eu a cho qu e n o Brasil
ou em nvel m undial?
N o, no n vel mu nd ial . Eu ach o que o Brasil u m p as pa cfico. O b rasi-
le iro pa cfico, n o ? Agora, voc pe ga o exem plo da cidad e, pe ga o Rio
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de Jan e i ro : d para se v iver em p az? No d p ara v iver em paz , por causa
da violncia. Agora, o cida d o carioca pa cfico, no ? Sai um m ovime n-
to, uma passea ta , de ban de i r a b ranca , e l e va i . E le va i pa ra as rua s , se m a-nifesta e tal
Isso p arte d a iden tidade brasileira, ser pacfico, am ar a paz?
Eu a cho qu e o b rasile iro tem um a rejeio g uerra , re je io br iga , re-
jeio ao conflito, n o ? Voc v qu e o b rasileiro pa cfico o brasileiro
um cidad o p acfico (Luca ).
O car ter simb lico da cifra p az exp resso, simu ltane am en te, por
su a ve rsatilidade contextu al ela utilizad a p ara falar tan to da polticae d os conflitos em mb ito mun dial qua nto de tema s locais, como a vio-
ln cia d as ruas e por sua ap aren te imu nidad e contra as mais gritantes
contrad ies. A imag em do bra sileiro pacfico contra sta com os nveis
de violn cia pre sen tes em q ua se todos os segm en tos da vida cotidiana :
de sde os assassinos de a lug ue l e o uso de arma s de fogo para solucionar
as conte nd as p olticas n o inte rior do p as, at a tortura e a violn cia p oli-
cial em de leg acias e prises; desde os efeitos catastrficos das de sigu al-
da de s sociais, at a a lta incid ncia de violn cia d om stica, e a ssim p ordiante. Um exem plo eloq en te de ssa contrad io pode ser visto na forma
como o p blico brasi leiro rece be u o fi lme de Michae l Moore (Tiros e m
Columbine , 2002) sobre o p roblem a d os crime s m o a rmad a e o fasc-
nio pelas arma s na socied ad e n orte-ame ricana . O filme fez suce sso e foi
ba stante comentad o no Brasil. No en tanto, qu ase n ing u m me ncionou
que , se o filme a presenta u m n me ro alarman te de m ortes por arma d e
fogo nos EUA, esse n m ero ce rca de qu atro vezes ma ior no Brasil.
A que sto da violn cia e st int ima men te re lacionad a a uma out ra
qu esto fun da me nta l, j referida acima: os princpios de alterizao p re-
sentes n os processos de formao da ide nt ida de brasile i ra . No caso d a
Alem an ha , as fronteiras iden titrias so traada s, essencialmen te, sobre
um a d iviso en tre os cham ad os na tivos e e stran ge iros n o interior da
soc ieda de a lem . Es te n o o pad ro dominan te qu and o enfocamos a
const ruo da iden t idad e b rasile i ra ne m me smo qua nd o os out ros
so turistas am erican os, imigran tes chinese s ileg ais ou, ainda , estran ge i-
ros stricto sen su . Uma p ista pa ra d escobrir o O utro b rasileiro acha -se
no com en trio de C lvis Rossi, colunista d o jorna l Folha de S. Paulo. Inti-
tulado O s netos de Bin Lade n , o artigo faz uma reflex o sobre os pro-
blemas de identidad e en tre d escenden tes de imigrantes rabes na Fran-
a e sobre a suposta suscet ibi lida de de stes lt imos ao fun da men talismo
islm ico. Ao final, o jorna lista acen a com a seg uinte concluso:
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t inos] . Este um p roblema re alme nte d e imigrao qu e n o foi resolvido,
[] no foi de sen volvido l, o qu e fez com q ue eles viessem procurar a s ci-
dad es g rande s, no ?, para poder traba lhar e viver (Claudia).23. Esse xodo rural aqu i no Brasil impressiona nte , as c ida de s dobram
de pop ula o em p oucos an os. [] Ento, esse xodo rural traz todo o pro-
blema d e desenraizame nto, e d epois de re lacionamen to de n ovo. Como que
essas p essoas [] vo sen do l iteralmen te jogada s para as p er i fer ias . E da
todo o problema de violncia qu e e xiste, no ?
Qu e ex iste aqui em Braslia tam b m ?
Em Braslia tam b m existe sim (Albe rto)13.
No Brasil, as fronte iras ide ntitrias so, esse ncialme nte , fronte iras
sociais. E a classe m dia, com sua influ ncia p repond erante sobre a m -
dia e a ag en da poltica, determina as clivage ns p rincipa is: os pobres e m-
ba ixo e as elites em larga m ed ida imag in rias no topo. De fato,
interessante ob servar que os esteretipos ma is comu ns a resp ei to dos
favelados n o Brasil so m uito seme lha ntes a os esteretipos q ue de scre-
vem os Auslnder(est rang ei ros) na Alema nh a. Como so sem elhantes
tam b m a s pr ticas p oliciais de violen ta a lterizao. Assim, os discursossobre a iden tida de no Brasil cen tram-se na q ue sto de classe ou outras
que stes sociais, enqu an to a noo de iden t idad e n acional de ixada a
cargo da s representaes simblicas no some nte smb olos oficiais do
Estado, mas tamb m o futebol, o samba e at m esmo a paz.
O p redom nio da const ruo social da ide nt idade tem a poio, tam-
b m, em u ma out ra represen tao freq en te sobre o Brasil, seg un do a
qu al o pas est d e costas voltada s a o resto do continen te. Dirigind o o
olha r sobe jam en te p ara d en tro, os brasileiros acaba m, ipso facto, agu-
and o a cap acida de de pe rceb er as d iferen as internas. E isto se refle-
te, por exe mp lo, na con cep o d e q ue o Brasi l s o vrios Brasis (cf.
Freyre 1952) mote qu e faz refern cia sua g rand e d iversidad e g eo-
grfica, ma s tam b m a sua s ime nsas de sigu aldad es sociais.
Concluso
O q ue fiz at aq ui foi fornecer algun s exemp los de u m q ua dro cuja com-
plexida de m uito ma ior qua nd o comp leto. Alm d isso, pa ra lem brar ap e-
nas d e u m a specto, faltaram m en es histria, esse relato que respond e
ind ag ao de onde viem os? (cf. Hobsba wm 1983:7). Toda via, pa re-
ce-me qu e o p r incipa l problema da invest igao a re lao ent re a re-
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coletivida de cap az de recorrer e e m certa me dida obriga do a fa-
z-lo aos me smos princpios bsicos, um a de scrio de nsa (Gee rtz
1973) de sses princpios dep en de mu ito da recon struo intertex tual d arelao e ntre u m vasto conjunto d e textos (incluind o outras en trevis-
tas, conversas cot idiana s e a mostras de p ronun ciam en tos pb licos, por
exe mp lo) e a d iscursivida de de pr ticas sociais, eve ntos, smb olos, ri-
tuais etc. Aqu i, um clssico d a a ntropologia a pre sen a sistem tica
em camp o p articularme nte relevante, pois pe rmite ag rega r a leitu-
ra e a de codificao da s experincias e observaes do pesq uisador.
Em tese, pe nso qu e o foco metodolgico de senvolvido a qu i deve se r-
vir na invest iga o de q ua lqu er comun ida de na cional suposio quese confirmou a o compa rarmos os casos contrastan tes de Brasil e Alema -
nh a. Ma s o caso brasileiro mostrou, alm d isso, qu e a an lise d o discurso
na ciona l precisa ser comp lem en tada em outro eixo: o dos smbolos de
ide ntida de . Os smb olos, em si me smos, n o possuem ne nh um sign ifica-
do esp ecfico difere ncian do-se , assim, da s palavra s. Eles ga nh am sig-
nificado, e xclusivamen te, por via d o contexto social em qu e esto coloca-
dos e n o qua l desempe nh am determinada fun o. Represen taes s im-
bl icas ad qu irem relevn cia , justame nte , em vir tude de sua potencialva cuidad e e ve rsatilida de en qu an to sign ifican tes. Assim, muitos dos
eleme ntos utilizados reg ularmen te pe los meu s entrevistados na constru-
o da ide ntidad e b rasileira como futeb ol, carna val ou p az se tor-
na m sign ifican tes vazios, que so pre en chidos por diferen tes sign ifica-
dos, segu nd o os diferen tes contextos de au todefinio brasileira.
O Brasil pod e ser conside rad o um caso mode lo de constru o es-
sencialmente simblica de comunidade (Cohen 1985), ao passo que n a
Alema nha a n fase clarame nte posta no discurso. Por esse motivo, sm-
bolos de todos os tipos d eve m a dq uirir proem in ncia ma ior no Brasil a
comear, evide ntem en te, pe los smb olos oficiais de qu alque r Estado-na-
o: a b an de ira e o hino. De fato, a ba nd eira b rasileira p ode ser vista em
todo lug ar, usada em q ua lqu er ocasio, sem n en hu m motivo particular. O
me smo ocorre com o hino brasileiro: ele e xecuta do freq e nte me nte , e
sem n ece ssria vincu lao com ocasies e orien taes p olticas. As refe-
rncias simb licas b rasilida de em si tamb m so mu ito comun s, me smo
qu an do fora d e contexto, por assim d izer. Dou um exem plo. Qu an do a
compan hia telefnica Telemar an un cia ser 100% brasileira, isto pod e
ser en tend ido como u m ap elo aos sentime ntos na cionalistas, no contexto
de um un iverso mercadolgico dominad o por corporaes m ul tina cio-
nais . Mas qu and o esse mesmo ape lo fe i to por uma pe qu ena locadora
de vdeo no ba irro de Copa cabana , que se ap resenta como uma e mpre-
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sa bra sileira, mesmo sab en do qu e 90% dos filme s oferecidos so produ-
es norte-american as e q ue n o h n en hu ma loja Blockbuster nas re-
dond ezas, a sim p odem os falar de u ma performance simb lica fora decontexto. Ce rtamen te, isso no n os pe rmite tirar concluses sobre o su-
cesso de ssa estratg ia com os clien tes.
Os smbolos nacionais brasileiros so fortes, o qu e dispen sa, em al-
gu ma m ed ida , a ne cessida de d e o discurso pb lico ter um p oder ub -
qu o. Vejam os. Embora os gra nd es jornais produzidos no Rio de Ja ne iro
e So Pau lo sejam distribu dos em escala naciona l, o fato q ue a g rand e
ma ioria d a p opu lao n o l jornal algum . As tran smisses de rdio, por
sua vez, so fenme nos ma is locais do qu e n aciona is. A n ica exce o a Rede Globo , cujos program as d e TV tm alcance na ciona l, principal-
me nte o telejorna l noturn o (Jornal N acional) e a lgu ma s novelas. Por ou-
t ro lado, a qua lidad e e a n a tureza he te rognea desses programa s no
concorrem realmen te p ara produ zir, no mb ito discursivo, um retrato uni-
forme d a brasilida de . Trata-se, sobretud o, da imp osio sobre o resto do
pas de u ma certa p erspectiva oriund a d a a lta classe m dia do Sude ste.
Na Alema nh a, d-se o contrrio. Enq ua nto a re lao d os entrevista-
dos b rasileiros com os smb olos n aciona is oscilava d o carinho ind ife-rena, pa ra os aleme s era m uito mais uma oscilao e ntre indiferen a e
rejeio. A ban de ira na cional da Alema nh a q ua se s vista e m p b lico
du ran te cerimnias oficiais ou even tos esp ortivos. J o ato de d esfrald -la
em conte xtos mais privativos visto como (e de fato sign ifica!) exp ress o
de nacionalismo de direita. O hino alemo tamb m b astante problem-
tico a come ar pe lo primeiro verso, cuja e ntoa o p blica p roibida
de vido a o tom e xcessivame nte na ciona lista. Por outro lad o, a d eb ilida de
qu e os s mb olos naciona is a leme s man ifestam na fun o de cr iar um
sentido de coeso compe nsada pela alta homogen eidade e onipresena
do d iscurso p blico. Em seu s eleme ntos b sicos, o discurso na ciona l ale-
mo, surpreende nteme nte , apresenta var iaes mnimas, ape sar de to-
da s as d iferen as polt icas e d a q ua ntida de conside rvel de t ima s pro-
du es miditicas competind o en tre si (cf. Schn eide r 2001a:336-ss.). Nes-
se caso, lige iras diferen as no u so das p alavras p odem ser extrema men te
significativas. Faz muita d ifere na , poltica e discursiva, utilizar, por exe m-
plo, as expresses: a lem e s jud aicos, jude us-aleme s ou a lem es
de religio juda ica . Fen me no d ifcil de ima gina r no contexto bra sileiro.
No e ntanto, palavras tamb m pode m ser smbolos. Isto acontece n a-
qu eles casos em qu e a s prime iras so to versteis e va zias d e sen tido
qu an to os l timos. Um bom exemp lo a pa lavra p az n o contexto bra-
sileiro. Ou tro exe mp lo pode ser a e xpress o orgu lho nacional. Em a l-
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gu mas p esqu isas de opinio, pe rgun tas do t ipo Voc se sente ma is or-
gu lhoso ou m ais enverg onh ad o pe lo fato de ser brasileiro? ou Voc se
orgulha d e ser alem o? foram resp ondidas p ositivame nte (orgulhoso)por cerca de 75% a 90% dos brasi leiros, ao pa sso que as respostas afir-
ma tivas dos alem es ficaram e m torno de 45% a 55% (Datafolha / Folha
de S. Paulo, 13/4/ 2003; Spiegel, 38:65, 1994). Note-se q ue esses n m eros
n o devem , ne cessariam en te, ser interpretad os como falta de iden tidad e
na cional na Alema nh a. Eles indicam to-somente qu e a cifra orgu lho n a-
cional tamb m um smb olo, como a b an de ira e o hino, isto , algo p oli-
ticamen te contestad o na Alema nh a, e a mp lame nte a colhido no Brasil.
Fina lme nte , tam b m os smb olos possue m e fei tos e conte xtos dis-cursivos. Ne sse se ntido, faland o esp ecificame nte de construo e poltica
de iden tida de, d iscurso e simbolismo so m utuam ente complemen tares.
A compa rao entre Brasil e Alem an ha su ge re qu e a d iferen a , antes
de tudo, uma que sto da nfase que se d a e ste (simbolismo) ou q uele
(discurso) asp ecto. Na Alem an ha , h fortes ra zes h istricas e p olticas
pa ra qu e os smb olos sejam fracos e imp ug na dos; por outro lad o, no Bra-
sil, h b oas exp licaes pa ra q ue o simb olismo seja mu ito mais imp ortan -
te qu e o d iscurso: considere-se a e xtens o do pa s, seu s tantos locais dis-tante s, sua d iversida de tnica e cultural, sua s desigua lda de s sociais, seu s
altos ndices de an alfab etismo total ou fun ciona l.
Ou tros estudos d e caso p odero forne cer mais evid ncias emp ricas
sobre exem plos de n fase n o discurso, nos smb olos ou e m a mb os ao mes-
mo tem po. Entreme ntes, conforme j d ito, a a n lise d as formaes d is-
cursivas e/ ou simb licas n o deve d esconside rar a inte rao social, mu i-
to pe lo contrrio. Foi visto, por e xem plo, qu e a au tode finio de a le-
me s est ba seada , fund ame ntalmen te , na de finio de cer tos grupos
de imigrantes como n o-alem es, a d espe ito do local de na scimen to
ou da cidad ania de sses imigrantes. No obstante, h um a g rande qu anti-
da de de pr ticas sociais solap an do os discursos, tais como: casa me ntos e
relaes am orosas tran sculturais, crian as com d up la orige m cultura l, etc.
At agora , essas prt icas no che ga ram a a lterar substancialme nte a s
prticas discursivas de alterizao. Apesar d isso, elas so pa rte da s estra-
tg ias individu ais para lida r com a d iscrep ncia en tre discurso e re ali-
da de em prica; so, portan to, altame nte sign ificativas.
A jovem trad io an tropolgica d e a n lise d e d iscurso, aliad a sua
longa expe rin cia no estud o de smb olos e rituais, certame nte p ode r da r
contribu ies valiosas a os esforos transdisciplina res d e alcanar am plo
entend imen to sobre as qu estes de iden t idad e e m socieda des cada vez
ma is comp lexa s e globa lizada s. Nisso, a an tropologia estar a compa nh a-
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da , qua nd o me nos, das h um an ida de s, da psicologia social, da sociologia
e d a h istria. O p rincipa l obstculo p arte a lgu ma dose d e comp eti-
o em nom e d as fronteiras disciplina res tradiciona is pa rece se r a ten-d ncia a ind a comu m n a a ntropologia social de procurar culturas na cio-
na is, ten tand o descrever, por exemp lo, como so realmen te os brasi-
leiros e a lem e s14 .
Recebido em 1o de setemb ro de 2002
Aprovado e m 27 de janeiro de 2004
Traduo: Cesar Gordon
Je ns Schn eider professor no Inst i tu to de Cincias Cu l turais da Universi-da de de Breme n, Alem an ha . E-mail: .
Notas
* Em verses prel iminares d este a r t igo, foram val iosos os comen tr ios querecebi dos coleg as do PPGAS/Mu seu N aciona l/UFRJ, a que m sou ime nsam en tegra to , em pa r t icular : Giralda Se yfer th , Fed er ico Neibu rg, Mar lia Fac Soares ,
Marc io Goldman e G ilbe r to Velho . Gos ta r ia d e a grad ecer t amb m a H einr ich-Bll-Stiftung por ap oiar o p rojeto de pe squisa e m Berlim, e Fund ao Alem dePesquisa (DFG-Deu tsche Forschung sgem einschaft) que , gene rosam en te, custeouo trab alho n o Brasil.
1 Por cer to , essas conside raes di ferem qu and o vamos de uma an tropolo-g ia nac iona l a ou t r a . Enqua n to a Alema nha t em um a longa t r ad io de es tudarexclusivame nte g rupos qu e vivem o ma is long e p ossvel, a antropologia b rasi-leira parece ter se concentrado, sobretud o, em sua prpria socied ad e. H , inclusi-ve, e talvez por causa d isso, um a tradio an tropolgica esp ecial de preocup a-
o com a iden t ida de b ras i le i r a . Contudo , tam bm esses t r aba lhos (de Srg ioBua rque de Holanda a Da rcy Ribe iro) se u til izam de traos culturais p ara de fi-ni r a brasi lida de , o que, de modo qu ase autom t ico, nos leva de volta a o t ipo deesse ncializa o ontolgica to criticad o nos estudos sobre ca rter na ciona l. Pa-ra u ma crt ica a esse s trab alhos n o Brasil e n os Estados Unidos, ver Leite (1976);Ne iburg e Goldma n (1998:68-70).
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2 Em A arqu eologia do sabe r, Fouca ult define o discurso como um sistemaformativo, capa z de arranjar certos conjuntos de proposies em p rincpios co-mu ns d e d ifus o e distribu io (1994:156).
3 Embora os autores n o tenha m e laborado e ste ponto, o fato de a represen-tao l ing stica ocupa r um p ap el central na imag inao comunitr ia nacionale tn ica fo i tam bm ma ni fes tado , por exem plo , por Armstrong , que suge re :Q ua se se mp re, meca nismos de fronteira simblica so p alavras (1982:8).
4 Marcus e Cush ma n (1982:56) criticaram a ap licao d o conceito foucau ltianode discurso porqu e e le neg ava a au tonomia de a utores e textos espe cficos. No m -bito de u m p rojeto qu e d efinia etnogra fia como texto passvel de an lise similar
d a crtica literria , certo qu e a utiliza o do discurso em termos e spa ciais etemp orais mais am plos n o tem g rand e valia pa ra aqu eles autores. Diferen teme ntede seu p rojeto, o que proponho a qui uma etnografia d a p roduo textual e cul-tural das identidad es em um conte xto histrico e societrio mais ab rang en te.
5 Na s cin cias sociais, e li tes d iscursivas n o so a me sma coisa q ue e li-tes tradicionais, visto que o ace sso privilegiado s instncias de produ o p bli-ca de discurso no e qu ivale, por exe mp lo, ao pode r econm ico e p oltico (cf. Ha ll1989:105-ss.). Teoricame nte , o acesso pa ssivo aos me ios de comun ica o est aoalcance de qua lquer um . Mas, especialmente no Brasil, evidente que as possibi-
lida des sociais e e conmicas de acesso n o esto ga rantida s a todos sobretudo,no interior do pas. Nos gran de s centros urban os, por outro lad o, qu ase a totalida-de dos dom iclios tem a cesso televiso e ao rd io.
6 Uma a presentao pormenor izada do ma ter ia l a lemo pode ser encontra-da e m (Schn eide r 2001a; 2001b; 2002). Os resu ltad os da pe squ isa brasi leira n oforam ainda pub licados na ntegra.
7 Estudos compa rativos sobre o Brasil ge ralmen te focalizam a pe na s o pro-
blema da s relaes raciais. Por isso, qu ase se mp re so os Estad os Unidos, mastam b m, em algu ns trab alhos, a frica d o Sul (cf. Marx 1998) o caso de contraste.A Alem anh a , por sua vez , fr eq en te men te ana l isada e m comparao com aFrana (cf. Schn app er 1996), even tualmen te com os Estados Un idos, mas n uncacom pases da Am r ica Lat ina emb ora me p area q ue examinar os pioneiroscriollos (creole pionee rs; Ande rson 1991:47-ss.) do n acionalismo e urope u possaser um te rreno frtil pa ra futura s compara es.
8 Atualmente, as cr iana s nascidas na Alema nha , cujos pais sejam imigran-tes de seg und a g erao, tm d ireito automt ico c idad ania , mas com a rest rio
de que a m edida s vl ida at os 23 anos de idade, j q ue a legis lao no p er -mite a dup la cidada nia. Passada esta idade , a pessoa precisa d ecidir se ir m antera cidada nia alem ou optar pe la n acionalidad e d e se us pa is (e a vs).
9 Fao essa observao pe nsand o na distino norte-americana en tre os mo-de los de salad b owl e m el ting p o t . N o salad b owl, os ing redien tes ficam juntos,
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mas a inda d i scern ve is ; no m el tin g p o t , isso n o ocorre: cr ia-se a lgo novo, umam lgama , a p ar t ir dos ingred ien tes in ic ia i s . No t r echo d a en t r ev i s ta c it ado , aidia qu e ressalta muito mais a d o m elting pot, j q ue se fala de uma mistura in -terna aos indivdu os, ap esa r do termo utilizad o ter sido sa lada .
10 Ver , tambm , a ap resentao de So Paulo no site oficial do esta do n a in-ternet . O texto de a be rtura traz o segu inte: Falar do Estado de So Paulo sem-pre n o supe rlat ivo. o Estad o com a ma ior popu lao, o ma ior parq ue industr ial ,a m aior produo econmica, o maior registro de imigrantes e , como tamb m n opode r ia d eixar de se r , com toda a complexida de do Estado ma is cosmopoli ta d aAmrica do Sul (http:// ww w.saopau lo.sp.gov.br/sa opau lo/inde x.htm).
11
Em 1978, J rgen H ab erma s questiona va as constantes refern cias a essassupostas vi rtude s a lems , observand o que caracter s t icas como pontual ida de,diligncia e que tais so vir tudes se cund rias, teis tam b m como foi suces-s ivame nte observad o na g ern c ia de camp os de concen t rao , por exemp lo(1984:13).
12 Isso vale part icularmen te pa ra as mu lhe res. Qu ase toda s as minhas en tre-vistadas a firma ram ter um time , mas rar ssima s vezes vo aos estd ios de fute-bol e assistem m uito pouco s p artidas tran smitida s pe la televiso. sign ificativoque a Copa d o Mund o de Futebol seja vis ta habi tualmente como uma festa na-
cional, a d espe ito do sucesso ou d o fracasso da seleo brasi leira. Fen men o se-me lha nte a contece com o de sfi le d as Escolas de Sam ba do Grup o Especial do Riode Jan eiro , que vem se tornand o, cada vez mais , um e vento de relevncia na cio-na l (p r inc ipa lme nte d ep o is que a Rede Globo assegu rou a t ran smisso r egu la rdos de sfiles em m bito naciona l). Hoje, por todo o pa s, ter u ma escola d e sam-ba favor ita n o Rio e acompa nha r o de sfile pela te leviso faz par te d a iden t idad ebrasileira.
13 Outro bom exem plo sai de uma declarao de J os Graziano, minis t ro da
Seguran a Alimentar e do Comb ate Fome do governo Lula. Em mome nto de ra-ra franq ue za (pa ra um p oltico ou represe ntan te do pod er p blico, em g eral), Gra -z iano es tabe leceu uma re lao d i r e ta en t r e a v iolnc ia u rban a e a migrao denorde stinos pa ra os estad os do Sul e Sude ste (cf. O G lobo , 16/4/2003).
14 Para ci tar some nte d ois exem plos desse t ipo de d escr io an tropolgicaontologizante , justame nte sobre os dois casos apresen tados aq ui, ver O que fazo Brasil, Brasil?, de Robe rto DaMa tta (1984), e Typisch de utsch, de Hermann Bau-singer (2000).
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Resumo
Partind o da n fase recen te que a teoriadas na es vem da ndo ao carter ima-ginado ou construdo da comunida-de n acional, este artigo procura estab e-lecer pontes com a teoria an tropolgicae a na l isar as impl icaes de sse movi-mento para uma antropologia d as iden-tida de s tnicas e n aciona is. Em p articu-
lar, seguindo a boa trad io em prica dadisciplina, procura-se a valiar essa s con-side raes tericas ten do em vista pos-sveis dese nvolvime ntos da etn ografiada formao e das p olticas de identida-de em contextos nacionais. Nesse sen ti-do , aqu i esboado o p ro je to de u maa ntropologia do discurso, e xemp lifi-cada com materiais oriun dos de p esqu i-sas sobre iden t ida de n aciona l na Ale-
ma nh a e n o Brasil. A an lise de sses doiscasos condu z proposio de u ma dis-tino terica e ntre construo da iden-t idad e n ac iona l centrada no discurso(Alemanha) e centrada nos s mbolos(Brasil).Palavras-chave Alema nh a; Brasil; Ide n-tida de na ciona l; Discurso; Metodologia
Abstract
Start ing from the re cent em ph asis thatna t ion the ory has bee n g iv ing to theimagined and /or constructed char-acter of the na tional community, the pa-pe r looks for connections with an thro-pological theory and an alyses the im-plications for anth ropologys pe rspe c-tive on n ational an d e thn ic iden tities. In
part icular , following the tradit ionallystrong e mp irical orien tation of the dis-cipline , it also inte rpre ts these the oreti-cal assump tions be aring in mind p ossi-b le de ve lopments in e thn ograph ic r e -search reg arding the forma tion an d pol-itics of ide ntity in na tional settin gs. Inthis context, the pap er sketches the con-cept of a discourse anthropology with exam ples from research on n ation-
al ide ntity in G erm an y and Brazil. Thean alysis of these two cases lead s to a th e-oretical distinction between discourse-centred (Germa ny) an d symbol-centred(Brazil) constru ctions of national identity.Key w ords Ge rma ny; Brazil; Nationaliden tity; Discourse; Me thod