Artigo Comparação Democratização Moçambique e Zambia
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XII Congresso Nacional de Ciência Política - Sociedade Argentina de Analise
Político e Universidade Nacional de Cuyo - Mendoza, 12 a 15 de Agosto de 2015
Democracia e Democratização na África Austral: Uma análise comparativa do
sistema Político-Eleitoral de Moçambique e Zâmbia (1990-2009) ______________________________________________________________
ÁREA TEMÁTICA PARA APRESENTAÇÃO
Política Comparada
SUB ÁREA TEMÁTICA PARA APRESENTAÇÃO
Partidos políticos e sistemas eleitorais
Representação Política e Sistemas Eleitorais
Autor: Fidel Terenciano
Mestrando em Ciência Política - Universidade Federal do Pará – Brasil
Co-autor: Carlos Augusto da Silva Souza
Doutor em Ciência Política – IUPERJ, Professor no PPGCP-Universidade Federal do
Pará – Brasil
A democracia e a democratização devem ser entendidas em seu
contexto e dinâmicas de cada coletividade. O que ocorreu na Europa foi
algo tipicamente europeu; O que ocorreu na América Latina é típico da
América Latina e o mesmo deve ser compreendido e valido para África
(2015).
2
INTRODUÇÃO
A democracia e a democratização devem ser entendidas no seu escopo, tomando
em conta as singularidades e os aspetos contextuais de cada sociedade. E as democracias
da terceira vaga, também se contemplam e apresentam singularidades que não podem ser
medidas a partir dos antolhos de outros contextos. Ora, a pretensão da presente pesquisa
é de estudar a democracia e democratização, tomando em conta dois elementos: o sistema
eleitoral, e a suas singularidades e seguidamente o sistema partidário. Porém, porque era
importante analisar o efeito de um em relação ao outro, concentramos a analise em dois
aspetos: primeiro, a competição eleitoral nos dois países, dando ênfase as flutuações dos
partidos no parlamento e em segundo lugar, analisamos a competição eleitoral na
perspectiva de alternância no poder. Porque a análise sobre a democracia e
democratização poderia ser ínfima, se não a inclusão de analises de Dahl, Robert (1966),
O'Donnell, G. e Schmitter, P. (1986), Huntington, S. (1991), Whitehead (2001) e
Carothers, T. (2002). Na análise sobre sistema eleitoral e partidário, a nossa construção e
modelo teórico ancorado a partir das abordagens de Sartori, G (1982ª, 1986b) Nicolau, J
(2004).
Transição e Democratização: Retrospectiva da história política Ex e Post
independência (Moçambique e Zâmbia)
Como refere Jibrin Ibrahim [...] de entre as características essenciais da
transição democrática figura a autoridade constitucional, o
multipartidarismo, mas igualmente uma transformação sociocultural
muito mais profunda permitindo à equipa dirigente livremente eleita e
à maioria da população civil de fazer prevalecer a sua primazia em
relação às oligarquias militares, os grupos étnicos e regionalistas e/ou a
nomenclatura[...] Ibrahim, J (1997-98, p: 124).
Na perspectiva de FURTADO (1997/98), a democratização das Sociedades e dos
Estados está hoje na ordem do dia mundial, e durante os finais dos anos oitenta e no
decorrer dos anos noventa, notou-se um movimento robusto da democratização, que de
alguma forma, abalou os países africanos. Porém, apesar de reconhecer importância do
contexto político internacional, não se pode de alguma forma decepar dos
condicionalismos históricos e estruturais internas da própria democratização
Uma análise em torno das proposições de Wiseman, JOHN, W. (1997) explica-se
que o colapso do comunismo na URSS e o fim da Guerra Fria criaram novas
oportunidades para as transições democráticas, não apenas na Europa e na ex-URSS, mas
3
também em África. A competição Leste-Oeste que tinha fornecido apoio, ou pelo menos
protegia aos regimes autoritários em África chegava ao fim (p: 5). O autor cita que “os
principais eventos da mudança estavam a abanar os coqueiros em África”, dizia o
presidente Omar Bongo do Gabão.
No mais, Kpundeh, Sahr (1992) explica que o General Obasanjo, antigo chefe de
Estado da Nigéria, comentava no Fórum de Líderes Africanos, Abril de 1990, que:
[...] as mudanças que estão a ter lugar na Europa de Leste têm enormes
implicações para o terceiro mundo em geral e para África em particular.
Os ventos que derrubaram as ditaduras, os regimes autocráticos, os
sistemas econômicos ultrapassados e promoveram a transição
democrática e o respeito pelos direitos humanos, não são desconhecidos
em África. Os ventos da mudança na Europa de Leste estão a trazer
inúmeras oportunidades aos povos africanos para que intensifiquem a
sua justa luta pela democracia[...] PAIVA, José (s/d. p: 6)
É importante notar que duas marcas históricas ficaram para a posteridade e
influenciaram a história política bem como teve consequências totais em toda África.
Segundo Pavia (s/d. p: 5), ao nível endógeno, primeiro, foi à situação de Benin, quando
numa Conferência Nacional das Forças Ativas da Nação, que foi então convocada pelo
regime monopartidário, para começar a realizar reformas a fundo e que deveriam ser
constitucionais, e que deveriam ter como finalidade restabelecesse alguma legitimidade
ao regime, contrariando deste modo a tomada de poder, e decide depor o então Presidente
Mathieu Kerekou, e inicia a preparação do caminho para eleições multipartidárias.
Segundo evento que marca a história política da África foi à situação na África do Sul,
quando o então eleito Presidente Frederik de Klerk, legalizou o Congresso Nacional
Africano (ANC) e libertou Nelson Mandela da prisão, que culminou com início de fato
da transição democrática naquele País.
No âmbito exógeno, de acordo com Phiri, M. e Macheve, A. (2014/15, p: 38), as
negociações que levaram ao fim do conflito no período pós-Guerra Fria, sob os auspícios
de uma agenda liberal e socialista, coincidiu com a Terceira Onda Democrática
(HUNTINGTON, S. 1991, BRATTON e VAN DE WALLE 1997). Recordar que para
Huntington (1991, p: 15) chama-se de uma onda de democratização, quando um grupo de
transições de não democrático para regimes democráticos, isso dentro de um determinado
período de tempo e que superam significativamente as transições na direção oposta
durante esse período.
4
Recordar que após seis anos (1989 a 1994) uma vaga de transições democráticas
atravessou toda a África; neste período, cerca de 40 países africanos passaram por
eleições multipartidárias e muitos deles houve efetivas mudanças de regime. Entre eles
contam-se, por exemplo, África do Sul, Benin, Burkina Faço, Cabo Verde, Gana,
Lesotho, Malawi, Moçambique, Namíbia, São Tome e Príncipe, Seychelles, Tanzânia,
Zâmbia.
GRAFICO: 1
Transição democrática e realização de Eleições Multipartidárias (1989-1994)
Fonte: Elaborado pelos autores. Com dados da (Feedom House (2015) http://www.freedomhouse.org).
O teórico Whitehead, nas suas colocações sobre a democratização e o processo de
transição, relaciona a transição associando a dimensão internacional e propõe assim em
três categorias, com as quais qualquer processo de transição deveria se ancorar, que são
(Contágio; Controlo e Consentimento).
Assim, para a primeira categoria (contágio), que o autor apelida de fator dominó,
que é a propagação da experiência de certo País para outros, por vias não coerciva e
também não intencional. Exemplificando o autor mostra duas formas que ocorreu em
momentos diferentes, no decorrer da segunda metade do séc. XX (a partir de 1950).
Houve aquilo que ele chamou de contágio por proximidade, que se viveu na Europa no
final da 2ª Segunda Guerra Mundial: França, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Noruega,
Alemanha, Áustria, Itália. Estes todos ocorreram dentro de um intervalo de cinco anos.
1994
1991
1992
1991
1992
1993
1994 1994
1989
1991
1993
1995
1991
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
Transição Democratica e Eleições Multipartidarias (1989 a 1994)
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Segundo, foi essencialmente a série de 1989: que contem países como Polônia,
Checoslováquia, Alemanha de Leste, Hungria, Romênia, Bulgária, todos no espaço de
um ano. Incluindo este segundo ciclo, vem alguns países Africanos como Namíbia,
Lesotho, Malawi, Zâmbia, África do Sul, Moçambique, no período também de cinco anos
(1990-94).
Recordar, como também enfatiza o autor que o caso de Moçambique foi
extremamente influenciado pelo efeito contagia da África do Sul, ou seja, pode-se afirmar
que os desenvolvimentos políticos na África do Sul, que é e era a potência regional e a
libertação de Nelson Mandela, bem como a legalização do ANC e finalmente a aceitação
do princípio do sufrágio universal, que leva à realização, em Abril de 1994, das primeiras
eleições multirraciais e à Constituição de um governo liderado por Nelson Mandela, teve
um efeito de contágio em Moçambique. Em segundo plano, encontramos a categoria
(controlo). Como adianta Whitehead (2001), ela em si, consiste muita das vezes na
promoção da ideia da democracia de forma intencional, usando as medidas explícitas, que
de um jeito podem ser incentivadoras e de outro penalizadoras, algo apelidado como
sendo a situação mais comum. Exemplo desta segunda dimensão, segundo o autor, é a
África Austral, que desde 1989, as notou-se uma pressão conjugada das grandes
potências, que operavam através das Nações Unidas, sobretudo via FMI e BM, e que
conseguiu surtir efeito desejado, que levou a muitos países a uma reconciliação nacional
e da democratização. Finalmente, a terceira categoria (consentimento), que se constitui
como sendo a categoria mais recente, que adaptada uma situação de consolidação da
democracia que envolve um conjunto complexo de interações entre processos
internacionais e grupos nacionais, que vai produzir novas normas democráticas e
expectativas de forma vertical (baixo para cima). Como tal, Whitehead (2001) apud Pavia
(s/d), considera o consentimento em quatro aspetos: 1º Os limites territoriais das
sucessivas democratizações e as suas consequências para sistemas de alianças
estabelecidos; 2º As principais estruturas internacionais que tendem a gerar
consentimento para as mudanças de regime; 3º As formas como se podem constituir
autênticos atores democráticos e nacionais a partir de grupos transnacionais
relativamente difusos; 4º O papel dos efeitos de demonstração internacionais.
Não obstante, é possível compreender o debate teórico sobre a transição
democrática na ordem institucional e de mudanças institucionais, que vai pressupor o
autoritarismo como uma ruptura espacial e temporal com a própria ordem social e
democrática, aceite como ordem política da sociedade aberta, nos moldes de Karl Popper.
6
O'Donnell, G. e Schmitter, P. (1986) propõe que a transição democrática ocorre
em três fases: a liberação, a democratização e a consolidação. Estas etapas devem ser
entendidas da seguinte maneira: A liberação significa o momento de queda do regime
autoritário; democratização valerá no processo de construção do sistema político e de
garantias democracias e a consolidação que diz respeito à plenitude democrática.
Finalmente, a transição para a democracia incide no intervalo entre um regime político e
outro. Este intervalo muita das vezes é demarcado, por um lado, pelo lançamento dum
processo de dissolução dum regime autoritário pelo outro regime, e por outro lado, pela
instauração de alguma forma de democracia, pelo retorno a alguma forma de regime
autoritário ou pela emergência de uma opção revolucionária (O'DONNELL &
SCHMITTER, 1986, p: 6 apud AVRITZER, L. s/d). Por isso, o primeiro pressuposto das
teorias da transição é que a democracia não é uma situação, e sim um processo o que pode
ser temporalmente longo.
Tudo isto, tomando como ponto de partida as descrições teóricas e práticas, bem
como conceituais da democratização, partindo do pressuposto de que as transições, tanto
em Moçambique assim como na Zâmbia, ocorreram em paralelo com as tendências
globais no sentido de uma busca por uma "Nova Democracia Africano" através do
continente, com vista à redefinir a realidade sócio-política como aconteceu com a maioria
dos países africanos (PHIRI, M. e MACHEVE, A. 2014/15, p: 38). Internamente, o fim
dos conflitos regionais prolongadas na África do Sul e da Namíbia, bem como a abertura
de quase a totalidade dos países de partido único, levou com que fosse possível sentir em
jeito de esperança e incutir a ideia de que a opção da democracia era a mais viável em
países pós-conflito.
Moçambique: Da história político à transição para Democracia Multipartidária
Moçambique como nação resultou da guerra contra os colonizadores portugueses
levada a cabo pela FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) entre 1964 a 1974.
Este processo foi auxiliado a partir das bases recuadas na recém-independente Tanzânia
de orientação socialista e a FRELIMO cedo estabeleceu a sua base central no planalto de
Mueda, geralmente entre as simpatizantes populações makonde (idem). Com apoio
militar da China, da URSS e de outros países do bloco de Leste, a Frente tinha expulsado
os portugueses de zonas substanciais das províncias setentrionais de Tete, Niassa e Cabo
Delgado, quando o golpe militar de 1974, em Lisboa, derrubou Marcelo Caetano que abre
caminho a independência de Moçambique, em 1975, sob o poder da FRELIMO
7
(TERENCIANO, 2014). A orientação socialista da FRELIMO foi consolidada em 1977,
com a adoção oficial do marxismo-leninismo pelo partido. Sob a liderança do movimento
de libertação (FRELIMO), Moçambique independente tornou-se um Estado socialista de
partido único baseado nos princípios do centralismo democrático e um sistema político-
administrativo altamente hierarquizado.
Recordar que história política e eleitoral de Moçambique muito antes das eleições
multipartidárias, foi instituída por eleições num contexto de partido único. Como tal, em
1977 foram realizadas as 1ªs eleições unipartidárias, para escolha de membros da
Assembleia até então Popular. Este membro deveria vir a partir de escolhas populares,
mas que obrigatoriamente tinham que passar por aceitação por parte do partido no poder.
Quer dizer, de alguma forma a escolha ou simplesmente a indicação advinha do partido
FRELIMO, que se constituía partido-Estado. Situação similar aconteceu em 1986, mais
uma vez, eleições, mas num contexto de partido único, e simplesmente para eleição dos
membros da Assembleia Popular, cujo processo foi similar ao de 1977, mas com algumas
singularidades1.
Ora, no período em que reinou o Partido-Estado com ideologia Marxismo, foi
crítico e controverso. Pitcher (2003) explica que atravessou se rapidamente um período
de crise e subsequente transição, bem como mudanças ocasionais do modelo socialista de
governação, ao mesmo tempo em que o Governo Socialista da FRELIMO lutava pela
sobrevivência aos dezessete anos de conflito contra Resistência Nacional Moçambicana
(RENAMO)2. Como forma de corrigir estes problemas, inicia um processo de reformas
econômicas que foi acompanhada pela liberalização política. Esta passagem é ilustrada
quando em 1989, no Vº Congresso do Partido, à FRELIMO abandonou sua ideologia
marxista-leninista e transformou-se num partido de frente mais ampla. Ademais, explica-
se que a partir daquele momento, possibilitava-se um caminho aberto para que as
condições estruturais seguissem finalmente o modelo capitalista.
O processo de abertura política foi caracterizado por um amplo debate sobre a
organização institucional da nova república que culminou com a promulgação da nova
1 Em 1986, apesar de terem realizado eleições nos moldes de 1977, sobretudo na eleição dos membros da
Assembleia Popular, houve alguma ligeira e singela mudança. Por exemplo, a própria escolha dos membros
para compor os Assentos na Assembleia Popular, foi com base em eleições indiretas baseadas em comícios
em todo o país. 2 Como salienta António Dias (2012) o processo de democratização de Moçambique culminou com o
processo de construção de paz que veio terminar com quase duas décadas de guerra. Seguido a
independência, o partido-Estado FRELIMO não conseguiu aglutinar os diferentes anseios e grupos, que
culminou com a guerra civil entre RENAMO e FRELIMO.
8
Constituição em novembro de 1990. Entre outras mudanças notáveis foi introduzido pela
primeira vez o multipartidarismo e Moçambique deixou de ser República Popular para
tornar-se simplesmente República de Moçambique (TERENCIANO, 2014).
Oponente duradoura da FRELIMO na guerra civil, a RENAMO assinou um
Acordo Geral de Paz em 1992 e começou a edificar um partido político e a fazer a sua
campanha para as eleições. No pleito de 1994 a FRELIMO ganhou com 44% dos votos
para Assembleia da República, mas a RENAMO transformou-se numa robusta força de
oposição, ganhando 38% do voto nas eleições para a Assembleia da República de 1994.
Isto quer dizer que, após o cessar-fogo da guerra civil, e consequente acordo em 1992,
que levou à realização das eleições 1994, consideradas democráticas e pacíficas (PHIRI,
M. e MACHEVE, A, 2014-15, p: 38).
No entanto, após as primeiras eleições de 1994, a RENAMO foi posteriormente
violando os termos do AGP. Nas eleições presidenciais e parlamentares 1999, dois
partidos disputaram as eleições, agora a FRELIMO e a RENAMO-UE3. O partido no
poder foi acusado de manipular votos e falta de transparência, levando RENAMO a
reclamar sobre as regras de contagem de votos. Apesar das reformas e transparência do
processo eleitoral, permitiu à participação de observadores nacionais e internacionais,
pois a RENAMO sentiu que as reformas tinham sido manipuladas para atender o domínio
da FRELIMO. Estas eleições de 1999 foram precedidas do boicote das eleições
autárquicas de 1998. O antagonismo ressurgiu durante as eleições gerais e culminaram na
renúncia e violação do Acordo Geral da Paz por parte da RENAMO (PHIRI, M. e
MACHEVE, A, 2014, p: 39).
Do Multipartidarismo após independência ao multipartidarismo após sistema de
partido Único. Um olhar ao processo transição e Democratização da Zâmbia
Um achado de Ali Mazrui, na história da África, volume VIII, explica que a
Zâmbia primeiramente tinha o nome de Rodésia do Norte, administrado pela Companhia
Britânica da África do Sul, época em que passa ao domínio direto do Reino Unido.
Em 1953, então as duas Rodésias (Rodésia do Norte e do Sul), fundem-se com a
colônia britânica de Niassalândia (atual Malawi) e formam a Federação da Rodésia e de
3 RENAMO-UE, se constituiu uma coligação de vários partidos da oposição, com dupla percepção: para os
partidos pequenos, significava que poderiam ter oportunidade de conseguir alguns assentos parlamentares
ou influenciar o jogo político. Ao contrário, a RENAMO, tinha o objetivo de limpar o terreno da eleição
presidencial dos candidatos de pequenos partidos cujos líderes recebiam em troca lugares elegíveis nas
listas da coligação para o parlamento.
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Niassa, sob tutela britânica. Em 1963 a federação se dissolve. No ano seguinte, a antiga
Rodésia do Norte torna-se independente com o nome de Zâmbia, sob a presidência de
Kenneth Kaunda da União Nacional da Independência (UNIP) e a Zâmbia conseguiu a
independência da Grã-Bretanha em 24 de Outubro de 1964, transformando-se em
republica, um Estado unitário, governado por um presidente e uma assembleia nacional
unicameral e com uma democracia multipartidária (KABEMBA, 2004). A história pós-
independência da Zâmbia, tem algumas singularidades que o diferencia dos demais países
da região da África Austral. Primeiro não houve sequer um conflito armado antes e após
o colonialismo. Segundo, na sua maioria, grandes partes do protesto contra a
administração direta do governo Britânico foram na sua maioria sem recurso e uso da
violência, não obstante alguns episódios recorrentes de agitação social. Historicamente
comprova-se que houve tendências de resistência de alguns moradores à administração
colonial no Vale do Gwembe em 1958 e os graves surtos de indisciplina entre os alunos
em 1960 e entre os habitantes rurais entre julho e agosto de 1961.
Importante realçar que na Zâmbia, diferentes de muitos países da África Austral,
existiram dois principais movimentos de libertação, UNIP e o Congresso Nacional
Africano da Zâmbia (ZANC), que nos anos próximo a independência, reuniu e organizou
protestos populares contra o domínio britânico e após a independência, os dois partidos
participaram na eleição multipartidária direta e a participação para as eleições
presidenciais juntamente com outros concorrentes (RASMUSSEN, 1974 apud
SANCHES, E. 2014, p: 154).
De multipartidarismo depois da independência
De acordo com Kabemba e Eiseman (2004), a história da Zâmbia mostra que a
altura da independência, o País tinha um sistema multipartidário no lugar. Os partidos da
oposição foram autorizados ao abrigo de uma Constituição independência. Durante as
eleições da Zâmbia independente, em 1964, o UNIP do Dr. Kenneth Kaunda, venceu
confortavelmente tendo 55 dos 65 principais assentos. Este parlamento também incluiu
os dois partidos minoritários, nomeadamente o ZANC e o Partido Federal Unido (FPU)
Apesar do domínio da UNIP no campo política do País, a Zâmbia tinha uma democracia
vibrante até 1972 quando a liderança política UNIP optou por um Estado de partido único.
Com adoção do sistema partidário de partido único, o país passou a ter um presidente
10
executivo que também era o chefe de Estado e de Governo, como se sucedeu na maior
parte dos países da Região da África4 (KABEMBA e EISEMAN, 2004).
Porém, O País mergulhado num sistema de partido único, desde 1972 (legalmente
a partir da constituição de 1973) haviam conferido amplos poderes ao Presidente da
República. Ele era não responsável por qualquer outra autoridade, a não ser que em
determinadas circunstâncias os tribunais tinham o poder de questionar suas ações e
declará-los ou lícita ou ilícita. Parlamento também teve seu papel especial como um corpo
legislar.
No exercício dos seus poderes executivos, o presidente “não era obrigado a
seguir o conselho oferecido por quaisquer outras pessoas”. A constituição de 1964 foi
inspirado nos ideais da democracia liberal, bem como pelo ideário
tradições dos combatentes da liberdade da África, que havia consistentemente uma
oposição e o governo ao abrigo dos grupos minoritários de colonos brancos cuja
governação foi caracterizado por discriminação com base na cor, classe ou direitos de
propriedade. A filosofia subjacente à constituição pré-1964 supôs a existência de
democracia e multipartidarismo. O Parlamento foi representativo e constituía uma
democracia multipartidária com base sobre os britânicos, ao que dizia respeito os seus
poderes e procedimentos formais. Não existe dúvida que o sistema multipartidário
trabalhou nos primeiros anos após a independência.
Os dois partidos minoritários, especialmente o ZANC cujos membros eram
conhecidos por sua disciplina no parlamento, proporcionou uma tendência de democracia
consolidada na Zâmbia e aumentou o prestígio e a reputação do Parlamento zambiano.
Num parlamento, onde os membros do partido do governo aprovavam certa convenção e
nunca questionavam o Governo, membros da oposição desempenhavam um papel
importante em fazer barganhas e negociações parlamentares eficaz sob o sistema
multipartidário. A oposição manteve continuamente no governo, ocupando alguns cargos
de ministros.
Do partido Único: Significou um intervalo do Multipartidarismo?
Na perspectiva dos autores Kabemba e Eiseman (2004) a introdução de um Estado
de partido único, em 1972, matou a jovem e vibrante democracia Zambiana, que abraçou
após a independência do País em 1964. Ora, havia muitos fatores em meados dos anos
4 Para mais detalhes e de forma comparativa, veja em: Sartori, G, 1982. p: 290-291. Onde o autor faz uma
comparação dos sistemas partidários e políticos na África após as independências dos países, e Zâmbia,
está incluindo.
11
1960 e início dos anos 1970 que de alguma forma podemos afirmar que enfraqueceram
os princípios democráticos e ideais de liberal democracia consagrados no estado e na
Constituição de 1964. Porém, para estes autores, a principal razão para a introdução de
democracia participativa de um partido, era para lidar com a crescente setionalismo na
base em divisões tribais e étnicas no país. As esperanças do Presidente Kaunda para
Zâmbia para se tornar um Estado de partido único, já foram expressos bem antes
independência.
No início de 1970, o governo e incapacidade da UNIP de lidar com as divisões
política no país, especialmente dentro do partido UNIP, convenceram o presidente
K. Kaunda da ideia de que tinha chegado o momento de introduzir o estado de partido
único. A nova constituição de 1973, UNIP foi feito o único partido legal na Zâmbia, e
para os 17 anos que se seguiram, UNIP governada como o único partido legal
(KABEMBA e EISEMAN, 2004). O partido UNIP alegou que era um Estado de partido
único, mas uma democracia em que pessoas poderiam participar. O maior teste para esta
afirmação veio quando as pessoas tinham de eleger os seus representantes5.
Na sequência da introdução do sistema de partido único, duas fases de eleições
para os membros do parlamento (MPs) foram instaladas. Durante as eleições primárias, a
votação foi por um colégio eleitoral de funcionários do partido em cada círculo eleitoral.
Apenas três candidatos com o maior os votos procederiam às eleições gerais de segundo
estágio. No entanto, o comitê central do partido UNIP, tinha o poder de rejeitar qualquer
candidato que foi bem-sucedida nas primárias, caso o candidato seja considerado hostil
aos interesses do partido-Estado. Esta prática claramente diluída o pouco que restava do
sistema multipartidário dos anos de independência.
Interessante o fato de, embora a pais tenha deixado de ser uma democracia
multipartidária em 1972, o país ainda permaneceu em uma democracia participativa de
partido único, o que significava que as pessoas ainda poderiam participar de eleições para
apenas escolher seus líderes. Explica-se que a competitividade nas eleições, sobretudo
em nível do parlamento e dos governos locais, permaneceu muito elevada, mas o mesmo
não se notou para a eleição do presidente da República, onde efetivamente não existia
nenhuma concorrência. Importante salientar que depois de duas décadas de regime de
5 Kabemba e Eiseman (2004) criticam de forma direta o fato de acreditar-se que este sistema permitia a
escolha de representantes. Uma democracia verdadeiramente, as pessoas devem ser capazes de escolher os
seus representantes sem medo ou interferência de qualquer trimestre, o que não acontecia na Zâmbia.
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partido único (1972 a 1991), a Zâmbia voltou a eleições multipartidárias em Novembro
de 1991.
Todavia, é possível inferir que existiram até então três Repúblicas Zambianas:
começando com a República com competição de caris multipartidária que assegura que
os partidos políticos da oposição poderiam existir, mas que não poderiam ter tanta
relevância, isto foi até 1972, quando o sistema de partido único veio existir de fato até as
eleições de 1991. Finalmente a terceira republica, de 1991 até os dias atuais
Nova? Transição político-democrática e regresso ao Multipartidarismo após 1991
A democratização da terceira onda ou se quisermos a transição democrática no
final do século XIX, teve de entre os estudos relevantes, alguns dos estudos com
influência quase global, que foi o estudo de Samuel Hantigthon e do Thomas Carothes.
Porém, Kabemba e Eiseman, explicam que os eventos na Europa Oriental de alguma
forma agitaram e influenciaram os latentes movimentos em favor da pró-democracia em
África, que de alguma forma, provocaram demandas generalizadas para o que tem sido
chamado de pluralismo político.
Assim, durante muitas noites dos finais de 1989 e princípios de 1990, novos
movimentos foram iniciados por homens e mulheres em vários países do continente. Em
1990, em simultâneo, houve uma tendência de empurrar os países para regimes mais
democráticos em toda a região, o continente e o mundo. Foi assim que surge um novo
partido na Zâmbia o Movimento para a Democracia Multipartidária (MMD) na Zâmbia.
Apesar de ter começado como movimento pró-democracia de base ampla Integração
sindicatos e estudantes, e apoiada pela igreja, o MMD transformou-se em um partido
político a tempo para Eleições multipartidárias da Zâmbia em 1991. Estas eleições foram
ganhas pelo Movimento recém-formado para a Democracia Multipartidária (MMD), que
substituiu o UNIP6 que era o partido político dominante na Zâmbia. Isso levou com que
Frederick Chiluba, um ex-líder sindical, fosse eleito presidente. O partido MMD
conquistou 125 dos 150 assentos no parlamento, reduzindo UNIP a um punhado de
assentos em todo país, e seu candidato presidencial, o ex-líder sindical Frederick Chiluba,
ganhou a presidência em uma vitória esmagadora. O partido UNIP foi devastado e sua
liderança agora descreve as eleições de 1991 como uma traumática experiência, e o então
6 Em português: Partido da União Nacional para a Independência
13
Presidente Kenneth Kaunda, graciosamente reconheceram a derrota e entregou as rédeas
do poder para Chiluba.
O País por si só, deveria organização e planejamento de futuras eleições, que
significaria construir todo processo com base na experiência e o sucesso de 1991. É
importante salientar que o partido MMD tinha mais de dois terços dos assentos na
Assembleia Nacional, logo, presume-se que o primeiro governo do MMD, tinha o poder
de alterar a Constituição unilateralmente. Para tal, aproveitou esta situação em 1995 para
introduzir algumas alterações cosméticas, para uma terceira constituição desde a
independência7.
Re-visitando a literatura sobre Democracia: Que Democracia?
Um debate conceitual
As colocações sobre a democracia e as disposições clássicas sobre o mesmo
conceito, são determinantes e os autores da Grécia antiga como Sócrates, Platão, assim
como os contratualistas, doravante Hobbes, Locke, Montesquieu, Rousseau, etc. serão os
fundamentos práticos para conceber o conceito da democracia, que vai ser levado em
conta na presente pesquisa.
Assim, comumente a ideia da democracia é compreendida com a noção de que o
povo deve ter o controle da decisão do governo sobre eles. As democracias
contemporâneas e não só, sempre foram acompanhadas pela ideia de que só a partir de
uma votação de todos os Estados Gerais (diferentes segmentos da sociedade), de tal
forma que a maioria determine os desígnios do povo, e comumente pela regra da
representação política. Por outro lado, a democracia pode ser tida como sendo a
capacidade dos membros da coletividade, participar na escolha real dos seus governantes,
e participar diretamente ou indiretamente nas determinações sobre questões que abrange
todo povo.
A democracia é um conceito e um processo sócio-histotico. Sob ponto de vista
conceitual, a democracia é o governo do povo como avançado acima, e as formas
históricas como o exercício da democracia na maioria dos países, se dão com o princípio
7 Como explica Kabemba e Eiseman (2004), a intenção ao alterar a constituição era clara. Verificou-se que
uma das mudanças na nova Constituição, foi que, era necessário que qualquer um que aspira à candidatar-
se a presidência deveria provar que os seus pais eram zambianos. Isso de fato, era uma regra
percebida por muitos para ser destinado a impedir a candidatura de Kaunda, cujo pai nasceu no Malawi.
Além disso, ninguém deveria se candidatar, caso os País não tenham morado/vivido na Zâmbia durante
pelo menos 20 anos. Esta segunda regra o alvo era o Congresso Democrático da Zâmbia (ZDC) e seu líder
Dean Mungomba.
14
da delegação. Isso acaba por determinar não só, as diversificadas concepções da
democracia, mas também as diversas formas da construção sócio histórica da democracia.
No processo sócio histórico, é possível verificar segundo Mafeje três modelações da
democracia: a liberal, a social e a socialista. Que comumente se desdobram em três formas
de governo: liberalismo, a social democracia e o socialismo, respectivamente.
Importante ressalvar que, para Dahl, um processo de definição de democracia
deve incluir necessariamente dois aspetos: um entendimento maximalista do que seria
uma democracia, e por outro lado, a entendimento a partir de uma definição descritiva,
que doravante se preocupa em descrever os elementos sui generis das organizações que
comumente são tidas como democráticas. De forma descritiva, no aspecto ligado a
concepção maximalista, que a nosso ver é mais adequado aos estudos comparativos em
países da terceira onda da democratização, pelo fato de dar mais ênfase os princípios
norteadores que um sistema político, que se pretende democrático deve venerar e aplicar
na sua plenitude para ser considerada democracia, na definição de Dahl. De outro modo,
a segunda forma de concepção da democracia na perspectiva de Dahl, centra-se em duas
categorias, e acarreta também dois riscos: primeiramente quando centra a definição de
democracia, tomando em conta o contexto histórico e geográfico, e a segunda categoria
que atribuir à concepção da democracia, olhando especificamente instituições e os
mecanismos de funcionamento dos mesmos. Uma explicação Schmitter e Karl apud Dias
(2012, p: 7) relembram a ideia de que existem formas que regularmente se associam à
noção de governo democrático que necessariamente não fazem parte duma definição
essencial de governo democrático. Dando continuidade da discussão do que é democracia
em Dahl, é importante associar ao debate da teoria pluralista8 iniciado nos EUA, e que
por via disso, se apropria do mesmo e considerou então a teoria populista de democracia9
e a sua preocupação em maximizar a ideia de igualdade10, a soberania popular, e
acrescemos a liberdade e descobrir quais as condições necessárias para isso. O autor
identifica então, oito condições (DAHL, 2006, p. 67-71), a saber: 1. Todos os membros
da organização exprimem a sua preferência dentro das alternativas planeadas (quer sejam
líderes ou políticas); 2. Na contagem destas expressões, cada indivíduo é valorizado da
8 Um estudo de Bruno Reis, num artigo sobre Corporativismo, Pluralismo e Conflitos Distributivo no Brasil
(1995), mostra categoricamente que a visão pluralista inicia na década de 50, do século XIX, que era
enxergado como teoria dos grupos como enfatiza Norberto Bobbio, 1986. 9Um debate aprofundado do que é teoria pluralista da democracia, veja em: DAHL, 2006, p. 34-62. 10 O debate sobre a igualdade de condições entre cidadãos foi muito explorado pelo Francês Alexis
Tocqueville. Com mais fundamentos, ele sugere que uma sociedade deve lutar para almejar dois
pressupostos: igualdade de condições e liberdade. Só com isso, estamos em uma de democracia.
15
mesma forma; 3. A alternativa com o maior número de votos é declarada vencedora; 4.
Qualquer membro que concebe um conjunto de alternativas, ou pelo menos uma, que ele
acha preferível a qualquer das alternativas apresentadas, pode inserir a sua alternativa nas
apresentadas para votação; 5. Todos os indivíduos possuem a mesma informação acerca
das alternativas. 6. As alternativas com maior número de votos tomam o lugar de uma
alternativa com menos votos; 7. As ordens dos eleitos para cargos políticos são
executadas e finalmente 8. Todas as decisões tomadas no período Inter eleitoral são
subordinadas ou executadas pelos que foram eleitos, ou as novas decisões tomadas
durante este período são governadas pelas sete condições anteriores.
Nestes termos, olhando a democracia a partir das colocações de Robert Dahl, ela
em sim, se constitui um tipo ideal, e em nossa opinião é necessária uma breve discussão
da poliorquia, que é a parte mais pratica da ideia de democracia a partir do autor. Para tal,
a questão que se coloca é: O que seria então a poliorquia? Para R. Dahl há sete garantias
institucionais mínimas que levam a um sistema político seja considerada poliorquia,
tomando em conta não os seus efeitos nominais, mas sim, em termos atuais (atuação): 1
- O controlo sobre decisões governativas está investido constitucionalmente em órgãos
eleitos; 2 - Os órgãos eleitos são escolhidos frequentemente e em eleições justas nas quais
a coerção é comparativamente incomum; 3 - Praticamente todos os adultos têm o direito
de votar nas eleições desses órgãos; 4 - Praticamente todos os adultos têm o direito de se
candidatarem a cargos públicos no governo, mesmo que limites de idade possam ser mais
altos para os elegíveis do que para os eleitos; 5 - Os cidadãos têm o direito de se expressar
sobre questões políticas (incluído a possibilidade de criticar os eleitos, o governo, o
regime, a ordem socioeconômica e a ideologia prevalecente), sem o perigo de uma
punição severa; 6 - Os cidadãos têm o direito de procurar fontes de informação
alternativas. Estas fontes existem e são protegidas pela lei e finalmente 7 - Para cumprir
os seus direitos, incluído os listados anteriormente, os cidadãos têm o direito de formar
associações e organizações relativamente independentes, incluindo partidos políticos e
grupos de interesse independentes.
Tomando como referência as garantias mínimas para a democracia, segundo
Schmitter e Karl (1991), que associam mais algumas categorias, como A - Os órgãos
eleitos têm de conseguir exercer os seus poderes constitucionais sem estarem sujeitos a
um poder sobrepujante de órgãos não eleitos. B - O sistema político deve ser
independente. De forma conclusiva, é importante dar referência aos estudos de Müller
(2011). Para tal, mostra-se quase impossível deixar de fazer referência ao papel da esfera
16
social (societal), que foi sublinhado por Tocqueville, que também trouxe a explicação do
funcionamento da democracia nos Estados Unidos ou, ainda, o papel do fator associativo
(capital social) no desempenho das instituições governamentais na Itália da década de
1970, explicado por (PUTNAM, 1996). Porém, Tocqueville e Putnam nos contemplam
com o debate sobre as condições básicas e sociais para a democracia comumente aceites,
que são: os condicionamentos sociais, econômicos, culturais, que são próprios a
edificação de democracias sólidas.
Metodologia e Resultados da Analise (Tendências e Retrospectivas)
Questões metodológicas e limitações
Metodologicamente a pesquisa foi descritiva, tomando em conta os dados de
forma comparativa, não se decepando da nossa medida de produtividade qualitativa,
associada à medida quantitativa, que foram os dois Países, olhando sumariamente a
democratização e a democracia, mas especificamente o sistema eleitoral e o sistema
partidário. O intervalo de analise compreende desde o processo de transição e
consumação da democratização da terceira onda (1991) e foi inicialmente até 2009. A
pesquisa foi exploratória e descritiva, usando a pesquisa bibliográfica, ademais,
recorrendo à abordagem comparativo que buscamos compreender as realidades em estudo
a partir de comparações de fenômenos diferentes, como explicamos a seguir:
Depois da Democracia Multipartidária (Moçambique e Zâmbia)
Do Sistema Eleitoral na sua relação com o Sistema partidário: Debate teórico e
conceitual
A ciência política e principalmente a componente de estudos eleitorais tem levado
de forma seria o debate sobre o sistema eleitoral e sistema partidário. Nisso, é possível
adiantar que no meio da vasta literatura que se debruça sobre o sistema eleitoral e
partidário, muitas vezes estão em complementaridade. Assim, os sistemas eleitorais
comumente são compreendidos como sendo as regras para as quais são computados os
votos de cada partido e transformados em assentos. Mais ainda, o sistema eleitoral, é tido
como o conjunto de regras que definem como em uma determinada eleição o eleitor pode
fazer as suas escolhas e como os votos serão contabilizados para serem transformados em
mandatos, ou seja, como este processo irá afetar o comportamento do eleitor, ao
17
determinar se ele votará em partido ou pessoa11 (TAVARES, J. 1994; SARTORI, G.
1996; DA CRUZ, M. 1998; NICOLAU, J. 2004). Adiante, além das normas que regula
as leis eleitorais de uma sociedade democrática, de acordo com Nicolau, J (2004, p: 10),
o sistema eleitoral regula:
[...] quem são os eleitores, aptos a votar, se o voto é obrigatório ou
facultativo, os critérios para apresentação de candidatura, as normas de
acesso aos meios de comunicação, os mecanismos de controle dos
gastos de campanha e acesso aos fundos partidários, as normas para a
divulgação de pesquisas, as regras de propaganda eleitoral [...].
O processo de definição, desenho, construção dos sistemas eleitorais, deve tomar
em conta como esclarece Tavares, J. (1994, p: 33) que se constituem construções
institucionais políticas e estrategicamente concebidas e tecnicamente realizadas, para
viabilizar e sancionar em última instancia a representação política, nos moldes da
democracia contemporânea. Quatro fatores determinam a concepção do sistema eleitoral:
[...] 1- As peculiaridades da estrutura sócio-política e das instituições
da sociedade nacional particular em que o sistema eleitoral é adotado
constituem o elemento principal de constrangimento na decisão política
que o define; 2- A avaliação estratégica da realidade e o desígnio
estratégico por parte do instituidor constituem o elemento de mediação
subjetiva na qual decorre aquela decisão; 3- a teoria positiva e
normativa da representação política, conscientemente ou não assumido
pelo instituidor, constitui o marco que orienta a concepção ou não da
escolha do sistema eleitoral; e finalmente 4- a engenharia institucional
e legal constitui o meio técnico capaz de implementá-lo [...]
TAVARES, J (1994, p: 34).
Numa análise mais simbólica, Schepis, G. (1955) distingue duas modalidades para
a definição do sistema eleitoral. Primeiro, no sentido amplo, a definição compreende o
conjunto orgânico dos diferentes institutos jurídicos, recursos técnicos e procedimentos
que regulam o processo que inicia com a convocação da eleição e termina com a
proclamação dos resultados eleitorais12 e dos eleitos. Enquanto em sentido inverso, a
concepção restrita, o sistema eleitoral compreende apenas o procedimento técnico com
11 Há outros dados interessantes a serem avançadas na definição do sistema eleitoral, por exemplo, Douglas
Rae (1967) define o, como sendo regras, mecanismos e instituições que apenas enquanto formalizados em
leis, disciplinam o processo eleitoral. In TAVARES, J (1994, p: 34). 12 Itálico dos autores.
18
base no qual se realiza a distribuição das cadeiras legislativas, entre os partidos ou
candidatos.
A literatura sobre o sistema eleitoral agrega-se em duas famílias que são: a
representação majoritária e proporcional, e mais uma que é o misto13. No ideal da
representação majoritária, o pressuposto básico é garantir a eleição do candidato que
obteve mais votos. Para tal, neste sistema, o candidato vitorioso é o único a ganhar a
eleição, a escolha do eleitor é canalizada e condensada em uma alternativa, e permitir
com que haja mais candidatos individuais e o vencedor leva tudo (SARTORI, G. 1996;
NICOLAU, J. 2004). Assim, o sistema eleitoral majoritário não tem por objetivo um
parlamento que deve refletir a distribuição dos votos, mas sim, busca apenas um vencedor.
Sua pretensão de forma implícita é eleger um governo.
O sistema majoritário normalmente é estabelecido por um número mínimo de
apoio percentual da votação, que comumente tem sido 50%, para que um candidato seja
vencedor. Desta feita, ele distingue-se em três modelagens: o sistema de maioria simples,
que não garante que o mais votado receba o apoio de mais da metade dos eleitores, logo
é uma condição que assegura e é assegurada pelo sistema majoritário de dois turnos, com
apenas dois candidatos disputando o segundo turno, para que seja atingida a maioria
absoluta. E terceira distinção, o sistema majoritário do voto alternativo, para garantir que
os eleitos tenham maioria absoluta, onde não haja necessidade de segundo turno e este
processo ocorre em função da transferência quase direta de votos dos candidatos menos
votados, para os mais votados (NICOLAU, J, 2004, p: 17).
Por isso, para Sartori, as distinções do sistema majoritário, podem ser melhor
interpretadas, pelo fato de:
[...] para identificar a diferença mais importante entre os vários sistemas
majoritários indagamos se eles requerem uma maioria relativa (uma
pluralidade) ou absoluta. Nos dois casos, a priori, há eleições para
escolha de um só representante e por isso, também, preocupam-se em
encontrar um único vencedor. Mas outrem, um vencedor por
pluralidade simplesmente atingiu o maior número de votos,
representando muita das vezes a escolha da maior minoria, já o
vencedor com maioria absoluta representa uma autentica maioria,
acima de 50% [...]. Por outro lado, o processo de efetivação do voto
alternativo, deve ser explicado à luz das seguintes colocações: [...] voto
13 O sistema eleitoral misto, por se apresentar como o que mescla uma ou outra característica dos dois
principais sistemas, não será objeto de exposição no presente artigo.
19
alternativo, é um sistema de eleição preferencial, em distritos com um
só representante, onde os eleitores são solicitados a enumerar todos os
candidatos na ordem da sua preferência e onde o candidato com menor
numera de preferência são eliminados, e seus votos transferidos. A
votação alternativa é um autêntico sistema majoritário, que permite e
estimula a votação sem vínculos partidários, ao personalizá-la
fortemente [...] (SARTORI, G. 1996, p: 17-18)14.
Sobre o sistema eleitoral de representação proporcional, Tavares (1994), Sartori
(1996), Da Cruz (1998), Nicolau (2004), mostram a priori que o objetivo é assegurar com
que a diversidade de opiniões dos diferentes seguimentos da sociedade esteja refletida no
legislativo e garantir uma correspondência entre os votos recebidos pelos partidos e a sua
representatividade. Continuando, explica-se que este sistema propicia para que a vitória
eleitoral seja partilhada e exige-se apenas uma cota suficiente (um número mínimo de
votos), que geralmente recebe o nome de quociente eleitoral. Neste sistema, os eleitores
não são obrigados a concentrar seus votos, pois sua gama de opção pode ser ampla, e o
processo de votação, geralmente se dá em uma lista organizada pelos partidos
(NICOLAU, J. 2004, p: 37 e SARTORI, G. 1996, p: 16).
Como enfatiza Nicolau Jairo (2004), o sistema proporcional:
[...] procura garantir uma equidade matemática entre os votos e as
cadeiras dos partidos que disputam uma eleição. Seria comum, por
exemplo, se um partido recebesse 15% dos votos, ficaria com um
percentual de representação próximo a 15% [...] (NICOLAU, J. op cit,
p: 37).
A principal distinção do sistema eleitoral de representação proporcional enquadra-
se em duas categorias: o voto único transferível e o sistema de listas. Para o primeiro caso,
tem o propósito de garantir com que as opiniões relevantes na sociedade estejam no
parlamento. Enquanto o segundo, o de listas, procura distribuir e redistribuir as cadeiras
do parlamento utilizando os partidos como unidade principal.
Explicitamente, o sistema de voto único transferível, é calculada uma quota de
votos que cada candidato deve atingir de forma obrigatória e vedada por lei, para que se
constitua representante; no segundo caso, é calculada uma quota que cada partido deve
atingir. No geral, o sistema eleitoral é fundamental por prover o controle popular sobre o
governo, assegurando níveis diferentes de sensibilização, responsabilização quanto ao
14Itálico dos autores
20
comportamento dos governantes. O sistema eleitoral, nos sistemas de governo
parlamentares, tem um papel decisivo na definição do caráter dos governos, sejam eles
de um partido ou formado a partir de coalizões, assim como o período da sua duração
(TAVARES, J. 1994, p: 229). Da mesma forma, Butler (1981) explica que os sistemas
eleitorais, afetam com maior ou menor intensidade o comportamento dos eleitores, em
particular quanto a sua identificação e a lealdade partidária, o número, a coesão, a rigidez
ideológica e a disciplina interna dos partidos, o perfil dos candidatos, e de suas carreiras
políticas, por fim, a estabilidade e a continuidade dos governos.
Do sistema eleitoral ao Sistema Partidário
O sistema partidário, como enfatiza Tavares, J (1994), é uma dimensão envolvente
e complexo do sistema político e o seu perfil resulta da associação única para cada caso
contextual, de quatro conjunto forte de fenômenos, a saber:
[...] 1- a organização interna dos partidos, incluindo as relações entre
elites dirigentes, quadros, membros aderentes, eleitores e massas; 2- as
relações entre as diferentes forças e tendências ou projetos, bem como
entre clivagens sócio-políticas relevantes, em que se divide a sociedade,
e os partidos; 3- a natureza da competição eleitoral e parlamentar entre
os partidos; e finalmente 4- as relações entre os partidos quanto à sua
participação relativa de cada um no mercado eleitoral e no exercício da
representação política e do governo [...] (TAVARES, J. 1994, p: 287).
Salientar que, estes fenômenos, sobretudo os três últimos, são com maior ou
menor grau, afetados pela diferenciação da sociedade, por um lado, e pela cultura política,
que inclui percepções, valores, e atitudes, que se situam no pragmatismo e na política
ideologicamente polarizada, pelo número de partidos e pelo sistema eleitoral.
A construção do nosso argumento vai basear-se na ideia de que sistema partidário,
está ancorada pelas categorias e efeitos do sistema eleitoral. Porque, no nosso desenho,
seria impossível uma separação total do debate do sistema partidário, decepado do sistema
eleitoral. Assim, o ponto principal será que apresentamos debruça-se sobre a ligação entre
sistema eleitoral ao sistema partidário e por outro lado, este debate deve estar ancorado a
partir das Leis comumente chamadas de Duverger. O que elas são na essência?
Leis de Duverger, como salienta Tavares, J (1994), foi uma tentativa de Mauricio
Duverger, em 1951, no seu texto clássico (Os partidos Políticos), para explicar a tendência
que algumas sociedades mediante sistemas eleitorais diferentes, tendiam ao dualismo
dicisional e da bipolarização, que para Duverger, ocorria em formando uma lei natural.
21
Para tal, foram três leis formuladas pelo autor, e que associa ao sistema partidário. Sobre
as leis de Duverger, primeiramente em 1945, Duverger, apresentou primeiramente os
resultados do impacto das três variedades dos sistemas eleitorais (Pluralidade, eleição
majoritária de dois turnos e representação proporcional), sobre a estrutura e a natureza
dos partidos políticos, e a relação entre eles. Para o autor, cada um daqueles sistemas
eleitorais (conduz) a um sistema particular de partidos (TAVARES, J, 1994, p: 237).
Cinco anos depois, novamente Duverger, num relatório que apresentou sobre a sua
pesquisa no Congresso da Associação Internacional de Ciência Política, após duras
críticas que recebeu, substitui de forma cosmética o termo (conduz), para o termo (tende
a conduzir). Assim:
[...[ 1º a representação proporcional tende a um sistema de partidos
múltiplos, rígidos e independentes; 2º o escrutínio majoritário de dois
turnos, tendem a um sistema de partidos múltiplos, flexíveis e
independentes; 3º o escrutínio majoritário de um único turno, tende ao
dualismo dos partidos [...] (DUVERGER, M, 1950, p: 13).
Em 1951, no seu escrito sobre partidos políticos, o autor define continuamente a
partir das suas conclusões em três formulas, e caracteriza a partir de então como
tendências e esquemas. Aqui, Duverger, modifica a sua segunda formula, que
inicialmente tratava em demonstrar que tinha a tendência de surgirem partidos
independentes, para a ideia de dependentes, embora relativamente estáveis. Assim, ficou
reformulada da seguinte maneira:
[...] 1º a representação proporcional tende a um sistema de partidos
múltiplos, rígidos, independentes e estáveis; 2º o escrutínio majoritário
de dois turnos tende a um sistema de partidos múltiplos, flexíveis,
dependentes e relativamente estáveis (...) e 3º a escrutínio majoritário
de um único turno, tende a um sistema dualista, com tendências dos
grandes partidos independentes (DUVERGER, M, 1957, p: 230-231
apud TAVARES, J, 1994, p: 238).
NICOLAU, J. (2004), explica que é comumente aceite na ciência política que os sistemas
eleitorais produzem efeitos mecânicos psicológicos. Que seriam essencialmente:
[...] primeiro, a tendência dos sistemas eleitorais darem um bônus aos
partidos mais votados e sub-representarem os partidos menos votados.
Enquanto o efeito psicológico ocorre na medida em que o sistema
eleitoral, afeta a maneira como os eleitores e dirigentes partidários
fazem suas escolhas. Por isso, o número de partidos, depende assim por
22
dizer do autor15, dos efeitos mecânicos e psicológicos [...] (NICOLAU,
J. 2004, p: 80).
A influência do sistema eleitoral no sistema partidário deve ser ancorada a dois
níveis: ao nível dos partidos, de alguma forma facilitando ou não o surgimento de novos
partidos e até consolidando o status quo da existência e funcionalidade dos sistemas
partidários. Ao nível do eleitor, que Sartori, chama de efeitos restritivos. Nossa
preocupação é com os efeitos nos partidos políticos, que tem a alcunha de efeito redutivo,
pelo fato do seu número ou ser reduzido ou o sistema eleitoral tornar-se ineficaz
(SARTORI, G. 1986b, p: 46).
Especificamente, aqui daremos ênfase aos sistemas partidários pluralistas
competitivos e não competitivos (SARTORI, 1982), monistas não competitivos
(TAVARES, 1994). Entre os sistemas de partidários não competitivos, é necessário
distinguir os de partido único, de partido hegemônico e de partido predominante. Nos
regimes unipartidários (SARTORI, G. 1982a) o poder é monopolizado por um partido
apenas, no sentido de que nenhum outro partido pode existir. Temos também em seguida,
o cão em que um partido conta mais do que os outros. No mesmo segmento, TAVARES,
J. (op. cit), diz que em sistemas unipartidários, totalitários e autoritários, nota-se que um
determinado partido, normalmente detém o poder do Estado, agrega verticalmente a
sociedade na sua generalidade e de tem o monopólio da representação política e do
governo, excluindo o funcionamento de qualquer outro partido. Sobre os partidos
Hegemônicos, permite a existência de outros partidos como satélites e subordinados, ou
seja, há à hegemonia do partido no poder não pode ser questionada.
De outro modo, um único partido detém o monopólio do governo, ou ao menos,
do governo central, permitindo-se a existência e o funcionamento de partidos que
permanece confinados a possibilidade de competirem, inclusive pela via eleitoral, por
posições periféricas no sistema político, compreendendo a representação parlamentar e
outros níveis inferiores de governo e da administração.
Em relação aos sistemas partidários (quase) competitivos e (quase) pluralistas,
sistema de partido hegemônico, e dando salto para o sistema de partido predominante
(expressão de Sartori, G. 1982a) ou dominante (TAVARES, J. 1994), que é uma
configuração de poder na qual um partido governa sozinho, e sem estar sujeito a
alternância no poder, enquanto continua conquistar eleitoralmente uma maioria absoluta.
15 Itálico dos autores
23
Ademais, ao longo dum determinado período de tempo, um único partido tem condições
de conquistar sozinha a maioria absoluta da representação parlamentar, embora não
necessariamente de votos e o governo. Assim, é tido partido dominante por duas
situações: primeiro porque não necessita dos votos de nenhum outro partido, nas eleições
parlamentares, para ocupar e exercer a governabilidade, e em segundo, nenhum dos
demais partidos, possui potencial de governo ou coalizão, como observou e ilustrou
Charlot:
[...[ por uma espécie de paradoxo, o partido dominante adquire e
protege sua posição hegemônica à multiplicidade, ao esfacelamento de
seus adversários, contrariamente ao partido único, que estabelece o seu
monopólio com repressão e a interdição das outras formações políticas
[...] (CAHRLOT, 1982, p: 200).
Neste momento, vamos aprofundar o debate sobre os sistemas pluralistas
competitivos com alternância governamental entre os partidos. A característica básica
deste sistema é a tendência da existência efetiva de dois polos, por um lado, o
bipartidarismo e o pluripartidarismo e de outro lado, o sistema de dois partidos e meio. O
que molda estas tipologias é a identidade da representação dos paridos, a coerência, a
coesão, a solidez, e a estabilidade governamental, a duração média e a alternância dos
governos, a integração e o consenso político (TAVARES, J. 1994, p: 190).
A rigor, o sistema bipartidário é aquele que é explicado sumariamente pela
existência de dois partidos que competem por uma maioria absoluta que está ao alcance
dos ambos. Continuamente, um sistema bipartidário, é aquele que qualquer que seja o
número de partidos existentes, dois partidos, e apenas dois, entre as quais a força eleitoral
se distribui com equilíbrio simétrico estável, e conta com probabilidades efetiva de
conquistar eleitoralmente o governo, cada um sozinho, sem o concurso de qualquer outro
partido (SARTORI, 1982a; BLONDEL, 1986; PASQUINO). Para Leslie Lipson, um
sistema só é efetivamente bipartidário, se cumpre três condições:
1º não mais do que dois partidos, em um determinado momento, têm
uma probabilidade autentica de conquistar o poder; 2º um desses
partidos está apto a conquistar a maioria requerida para manter-se no
poder sem precisar do auxílio de um terceiro partido; 3º Durante
sucessivas décadas, só dois partidos se alternam no poder (LIPSON, L.
1953, apud TAVARES, J. 1994, p: 291).
Partindo das explicações acima, o que caracteriza o bipartidarismo, é o duopólio
partidário, com uma efetiva alternância no governo, o equilíbrio e harmonia quanto a
24
força eleitoral entre os dois maiores partidos, bem como o consenso básico, solido acerca
dos valores e de regras políticas e a competição orientada para o centro ideológico do
sistema. Recapitulando algumas colocações em jeito de acréscimo do bipartidarismo,
Sartori (1996b) explicou que o bipartidarismo é um sistema na qual:
[...] 1º ao longo do tempo, dois partidos ultrapassam reiterada e
amplamente os demais, de tal modo que, 2º cada um dos dois se
encontra em posição de competir pela maioria absoluta das cadeiras
legislativas e pode razoavelmente esperar a alternância no poder; 3º e
cada um dos dois governa, quando assume o governo, sozinho [...]
(SARTORI, G. 1982a, p: 216; 1986b, p: 57).
Finalmente, Rae (1967, p: 93), trouxe uma explicação quantitativa do conceito de
bipartidarismo, que são aqueles cujo o primeiro partido consegue obter igual ou acima de
70% das cadeiras legislativas e os dois primários partidos de tem pelo menos 90% das
cadeiras.
Sobre o sistema pluripartidário, ou multipartidário, deve ter ao menos três
características: 1º nenhum partido tem a probabilidade de alcançar, ou pelo menos manter
uma maioria absoluta; 2º a força ou debilidade relativa dos partidos pode ser classificada
de acordo com sua respectiva disponibilidade ou não para uma coalização e ou 3º de
acordo com o seu potencial final de intimidação ou chantagem. No mais, o pluralismo
limitado ou moderado compreende então três a cinco partidos relevantes, isto quando se
trata do pluralismo limitado; Seis a Oito partidos relevantes, nos sistemas partidários do
pluralismo extremado e vários partidos, mas sem influência de um ao outro, estamos
diante de um sistema partidário atomizado16.
Sistema Eleitoral e Partidário: Uma análise comparativa (Moçambique e Zâmbia)
Como discutido a cima, os sistemas eleitorais, podem ser categorizados em
majoritários, proporcionais, e mais uma terceira forma que não foi dada a descrição no
presente artigo. Com isso, a definição avançada no artigo, mostra-se satisfatória ao
englobar não só oque em termos ideias se constitui o sistema eleitoral, mas a possibilidade
de colocar em pratica. Como tal, olhando o sistema eleitoral como conjunto de regras,
16 Partido relevante na definição de Sartori, G. (1982, P: 156), são aqueles que permanecem após a exclusão
de partidos aos quais lhes falta o potencial para coalizão. Duas características: a capacidade de chantagem
e o potencial de coalizão e veto.
25
procedimentos, instituições que vão moldar o processo eleitoral no seu todo, pensamos
pertinente dissecar o sistema eleitoral dos dois casos em análise comparativa:
Tabela 1:
Sistema Eleitoral e Partidário de Moçambique e Zâmbia
Moçambique Zâmbia Sistema Eleitoral - Representação Proporcional para Parlamento;
- Majoritário de duas voltas para presidente (Não há
segunda volta caso um candidato receba 50% + 1 voto);
- First past the post FPTP para Parlamento;
- Majoritário simples para Eleição do Presidente;
Sistema Partidário - Dominante (1994 a 2014) FRELIMO, com uma
tendência do Bipartidarismo (1994 a 1999);
- Tendência quase de dois partidos e meio (1994; 2009
e 2014).
- Dominante: 1991-2001 MMD;
- Multipartidarismo fragmentado: De 2001 até hoje, com
algumas variações: PF, MMD, UNPD, UDA, FDD,
UNIP, ZRP, HP, ZDC, ADD.
Fonte: Compilado pelos autores. Dados da Freedom House (http://www.freedomhouse.org) 2015; African
Election Database (http://africanelections.tripod.com/zm.html) 2015.
Os dois países tiveram trajetórias diferentes e consequentemente os seus sistemas
político e eleitoral, também foi moldado diferentemente. Duas modelações podem ser
construídas. Primeira, o fato de Moçambique apenas ter tido a sua primeira experiência
em Processos Eleitoral multipartidários, a partir da terceira onda da democracia (desde
1990), especificamente em 1994. Segundo, Zâmbia de forma diferentemente, já teve
situação similar, em 1964 e 1968, que se veio re-viver a partir de 1991. Interessante o fato
dos dois países terem tido experiências de sistemas unipartidários, mas que se diferenciam
na forma como entraram em funcionamento. No caso de Moçambique, o sistema
unipartidário seguiu a lógica de muitos dos países da África Lusófona, como o caso de
Angola, Cabo Verde, Guine Bissau, São Tomé e Príncipe, onde os movimentos de
guerrilha, que lutaram em favor da independência, se (auto) intitularam os deuses do povo
e responsável do destino do povo. Como consequência disso, não permitia a entrada de
nenhum outro partido, associando os demais grupos latentes, fora do Partido Estado,
como mera extensão e ilusão do colonialismo (continuação do colonialismo, mascarado pela
textura interna... in: Samora Machel, Primeiro Presidente da República Popular de
Moçambique).
Zâmbia implanta o sistema de partido único, como consequência da influência da
ala mais radical do partido UNIP. Isto é, dentro do partido UNIP, alguns segmentos
convenceram o presidente Kenneth Kaunda com a ideia de que já teria chegando
momento certo para introduzir e construir um Estado de partido único. Como nota
Kabemba e Eiseman (2004), a adoção legal do sistema de partido único, tinha em voga a
26
tentativa de lidar com o crescente setionalismo17 com base em divisões tribais e étnicas
no País. Aliás as pretensões com o sistema Unipartidário são visíveis nas palavras do
então Presidente Kaunda, antes da independência do País em 1964:
[...] um sistema de partido único pode ser configurado se o povo eleito
um só partido. Seria, então, apenas de acordo com os desejos do popular
expressa nas urnas em quaisquer eleições futuras [...] (KABEMBA e
EISEMAN, 2004).
Dois fatores devem ser resgatados: o povo poderia participar tanto na democracia
de partido único na Zâmbia, assim como o unipartidarismo que estava vadiando em
Moçambique. Isso é ilustrado a partir das eleições realizadas no período unipartidário,
onde o povo (sentido reducionista)18 participava na escolha dos representantes, mas isso
determinado pelos moldes de Partido-Estado. Segundo fator, é o fato de, mesmo que o
povo participe, quem determinava as disposições, a maneira de eleger, etc., era o partido.
Em Moçambique, a história política e eleitoral mostra que mesmo quando o povo se
escolhe quem achavam conveniente para representá-los, caso o partido acha-se
conveniente que não é nosso (que comunga as mesmas ideias e que é hostil as pretensões
do Partido) então, não era eleito.
Institucionalização dos Processos Eleições
Moçambique e Zâmbia, apesar das suas diferenças nos processos políticos
eleitorais, tem se mostrado que desde a realização das eleições multipartidárias no início
da década de 90, do século XX, estão numa caminhada que se pretende aceitável em um
estado de democracia eleitoralista. No mais, apesar das dificuldades e problemas
inerentes a desconfiança entre a oposição e o partido no poder, interessante o fato de não
existir interdição da vereda eleitoral. Assim, Moçambique, até ao momento, realizou
[Cinco] eleições gerais para eleição do Presidente da República e Deputados e mais
[Quatro] eleições Locais, para representantes da autarquia. De outro lado, Zâmbia tem até
[Sete] experiências eleitorais de democracia multipartidária, para eleição dos Deputados
para o presidente da República, que incluí às eleições de 1964 e 1968, por serem
consideradas multipartidárias.
17 Pode ser visto como sendo a divisão entre Norte e Sul, sociedade industrial e sociedade arcaica, fidelidade
aos interesses locais ou regionais. 18 Termo povo denota a massa. Esta por sua vez, pode ser guiada pelo viés da elite política e intelectual.
Esta última como aconteceu na França muito antes da Revolução, que Alexis de Tocqueville mostra no seu
livro: Antigo Regime e a Revolução.
27
Tabela 2:
Analise Comparativa da institucionalização dos processos Eleitorais
Moçambique Zâmbia Eleições Multipartidárias para PRESIDENTE 1994; 1999; 2004; 2009; 2014.
1968; 1991; 1996; 2001; 2006; 2011;
201519;
Eleições Multipartidárias para DEPUTADOS e
LOCAIS 1994; 1999; 2004; 2009; 2014
Locais: 1998; 2003; 2008; 2013.
1964; 1968; 1991; 1996; 2001; 2006;
2011.
Fonte: Compilado pelos autores, com dados Database (http://africanelections.tripod.com/zm.html), 2015.
Competição Política e Eleitoral
A competição política e eleitoral neste estudo é medida não de forma continua,
mas de eleição em eleição. Porque, uma tentativa de medir de forma geral, acarreta riscos
metodológicos, sobretudo em situações em que a ciência, especificamente as ciências
sócias, se preocupa mais em tendências, padrões e não categorizações. Assim, o nosso
foco será medir a competição a partir dos resultados eleitorais de cada eleição, focando o
número de partidos relevantes e a possibilidade de alternância no poder. Todavia, vamos
verificar tendências para sistema partidário (pré) dominantes, bipartidário, multipartidário
em cada processo eleitoral nos dois casos de estudo.
Moçambique, desde as 1ªs eleições fundadoras em 1994, houve uma tendência
dum bipartidarismo, aliás os estudos feitos na década de 90 (Brito, 1995; Pereira, 1996;
Lundin, 1995 e outros), tendenciavam que Moçambique poderia ser considerado um
sistema bipartidário. Mas em nossa analise, este fenômeno não se consumou, visto que a
característica típica de um sistema bipartidário, ao menos tomando como ostentação o
efeito bumerangue Europeu, não se enquadra em Moçambique. Por quê?
Em princípio, o sistema bipartidário apresenta sumariamente dois partidos que
estão em competição por uma maioria absoluta, que está ao alcance dos ambos.
Continuamente, sistema bipartidário apresenta além dos demais partidos, dois partidos e
apenas dois, entre as quais a força eleitoral se distribui com equilíbrio estável, com
probabilidades de conquistar o governo por via de eleições. Até então, por um lado, estas
categorizações descrevem Moçambique nas primeiras duas eleições.
Com algumas variações, por hipótese podemos dizer que a primeira década das
eleições multipartidárias se viveu um sistema bipartidário. Contrariamente a isso, Leslie
Lipson (1953), explica que o esforço de ser considerado um sistema efetivamente
bipartidário, deve cumprir com três condições. Neste sentido, podemos dizer que analises
19 O presidente Michael Chilufya Sata, após triunfar nas quintas eleições presidências na Zâmbia, desde a
independência, morre em exercício, e por obrigação categórica da Constituição da República, formam
realizadas eleições presidências, em janeiro de 2015.
28
avançadas nas primeiras eleições, não compactuaram com o ideal da Bipartidarização,
porque a terceira condição avançada por Lipson que é [...]. Durante sucessivas décadas,
apenas dois partidos alternam-se no poder [...], não se corroa no contexto Moçambicano.
Gráfico 1:
Alternância no Poder em Moçambique
Fonte: Compilado pelos autores, com dados Database (http://africanelections.tripod.com/zm.html), 2015 e
CNE-STAE, 2015.
A mais clara indicação duvidosa da Bipartidarização encontra sua limitação pelo
fato de não existir alternância no poder. Por quê? O caso interessante é o fato do
bipartidarismo tender ao duopólio partidário, que de entre outras coisas, há uma efetiva
alternância no governo. Mas Sartori, nesta linha mostra que o que mais importa não é
efetivamente alternância no governo, mas sim, o partido na oposição, poder
razoavelmente esperar a alternância. Curiosamente, Moçambique não deve ser negado a
sua tipificação bipartidária, pois alguns subsídios como existência do equilíbrio quanto à
força eleitoral dos dois maiores partidos e um consenso básico acerca das regras políticas,
foram visíveis ao menos nas 1ªs eleições de 1994.
Numa explicação matemática, Rae (1967) esclarece que bipartidarismo, pode ser
medido a partir dos resultados duma eleição, onde o primeiro partido deve
compulsivamente obter quase 70% das cadeiras legislativas e os dois primários partidos
detém pelo menos 90% das cadeiras. Em certa medida, Moçambique pelo menos nas
eleições de 2009, poderia ser considerado um sistema bipartidário, porque o partido
FRELIMO conseguiu acima de 70% dos Assentos parlamentares, e combinado com o
partido RENAMO, obtinham 90%.
No que diz respeito às analises futurológicas, esperava-se que Moçambique passa-
se de um estado da Bipartidarização tradicional, para a moderna como sintetiza Sartori.
Desta forma, previu-se que a RENAMO poderia perder seu espaço em detrimento do
0% 0% 0% 0% 0,00%
1994 1999 2004 2009 2014
Alternância no poder Total de Eleições Realizadas
29
Movimento Democrático de Moçambique (MDM), entretanto, os resultados eleitorais de
2014, apontaram que a estrutura do campo político Moçambicano é leal e está longe de
(re) definir-se, pois, ela está constituída de si, em si e para si mesma, como enfatiza Hegel.
Gráfico: 2
Competição Eleitoral 1994-2014
Fonte: Compilado pelos autores, com dados Database (http://africanelections.tripod.com/zm.html), 2015 e
CNE-STAE, 2015.
Se bem que é correto dizer que não temos uma linearidade da Bipartidarização,
talvez não seja menos verdade assumir que sistema competitivo hegemônico tomou conta
de Moçambique. Aliás, é importante sublinhar que o fato da FRELIMO ser o único
partido que conta mais em detrimento dos demais, vale-lhe no nosso modelo a autoria da
hegemonia20. Segundo, a FRELIMO, sempre permitiu que existissem outros partidos
tipicamente satélites, mas o monopólio do governo, quer dizer, o governo central, sempre
esteve em suas mãos. E pode se disser mais, talvez o sistema partidário Moçambicano ao
longo do processo da evolução Política e Eleitoral, tenha experimentado (ou experimenta)
um sistema partidário de “Dois partidos e meio” que caracteriza se por apresentar um
equilíbrio estável entre dois partidos maiores (FRELIMO e RENAMO: 1994; 2014),
quanto a sua força eleitoral. A literatura mostra que neste tipo de sistemas, o terceiro
partido, neste caso (1994: UD; 2014: MDM), a priori se apresenta como menores em
comparação com cada um dos dois partidos isoladamente.
20 Recordar que a tipificação que está sendo feita da ideia da hegemonia da FRELIMO, devemos tomar
cautela ao colocar numa linha continua imaginaria, porque efetivamente em 2004 e 2009, partido
FRELIMO quase se constitui um partido Hegemônico. Vide: Forquilha e Orre (2011).
44%49%
62%
75%
57,00%
38% 39% 39%
18%
37,00%
5%0 0 0 00 0 0
4% 6,00%0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
1994 1999 2004 2009 2014
FRELIMO
RENAMO
UD
MDM
30
Gráfico 3:
Sistema Partidário de Dois partidos e Meio?
Fonte: Compilado pelos autores, a partir dos resultados oficiais da CNE-STAE (2015).
No caso especifico da Zâmbia, a nossa pesquisa sobre as propriedades da
competição política e eleitoral, a priori apresenta duas dicotomias. Primeiro como sendo
sistema de partido (pré) dominante (1991 a 2001) e multipartidário (talvez a partir das
eleições de 2001). É com base nestes pressupostos analíticos que a pesquisa mostra que
a partir de 2001 houve uma tendência dum multipartidarismo ou (sistema pluripartidário),
assim categorizado por Sartori. Entretanto, dois fatores explicativos: Primeiro, porque
nenhum partido tem probabilidade de obter, ou manter uma maioria absoluta e porque os
partidos representados no Parlamento, não tendo maioria (relativa ou absoluta)
necessitam de coalizões, se bem que estes constituem dois dos demais fatores explicativos
do multipartidarismo, então por hipótese, podemos dizer que o campo político da Zâmbia,
sobretudo ao que refere à competição eleitoral, tende ao multipartidarismo. Segundo, os
resultados eleitorais mostram que a tendência da alternância no poder, se constitui em si,
um dado importante para análise da competitividade eleitoral. Desde 1991, o Partido
MMD, consegue capturar o poder, e de forma continua, foi alastrando a sua influência na
cena política, que culminou na sua predominância (1991 até 2001), altura que perde de
alguma forma a sua supremacia, sobretudo nos assentos parlamentares que vinha
dominando com mais de 70%, assim como a perca de espaço no campo político do Partido
UNIP, que até a data de 1991, estava em voga juntamente ao presidente Kenneth Kaunda.
44%
38%
5%
75%
18%
4%
57%
37%
6%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
FRELIMO RENAMO UD MDM
1994
2009
2014
31
Depreende-se que mais do que perder as eleições de 1991, o UNIP quase desaparece na
cena política, que só voltaria em 2011, mas com uma insignificância quase total21.
Gráfico 4:
Alternância no Poder (1991 a 2011)
Fonte: Compilado pelos autores, a partir dos dados da African Election Database (2015).
Doravante, porque o sistema eleitoral Zambiano permite a representatividade de
quase a totalidade dos partidos, até para ocupar um ou dois assentos parlamentares, então
se configura como sendo multipartidário; Mas de fato, o que acontece é a predominância
de um, dois e no Máximo três partidos como aconteceu em 2001 e 2011.
Estas e outras ocorrências podem ser visíveis, na competição eleitoral na Zâmbia.
Recordar, que excetuando o MMD, na Zâmbia, há uma quase tendência de alguns partidos
até relevantes, desaparecer após uma legislatura. Como aconteceu com o partido UNIP
(entre 1991 que só voltaria em 2001) Agenda para Zâmbia-AZ (existiu em 1996 e jamais
voltou à cena política com mais visibilidade), Congresso Democrático Zambiano-ZDC
(existiu em 1996, desaparecendo na cena política com maior visibilidade).
21 O partido UNIP, em 2001, voltou a concorrer nas eleições dos deputados e os resultados mostram que
obteve 0. 69%, do total da votação, e para o Presidente candidato do mesmo partido (Tiyenji Kaunda)
obteve 0.36%. A nossa descrição deste partido, é pelo fato de ter se constituído partido Único no período
que vai de 1972 à 1991, após a realização de eleições multipartidárias, o partido desapareceu no mapa
Político.
1964 1968 1991 1996 2001 2006 2011 2014
Alternância no Poder Zâmbia: Partidos (UNIP, MMD, PF)
Alternancia Total Total de Eleições
32
Gráfico 3:
Competição Eleitoral e Flutuações parlamentares
Fonte: Compilado pelos autores, com dados Database (http://africanelections.tripod.com/zm.html), ZEC
(2015).
Dito isto, um dos reflexos mais evidentes da competição política e eleitoral na
Zâmbia é a alternância no poder. Recordar que entre 1991 a 2011, ocorreu (uma)
alternância no poder (saída do poder do MMD e entrada do partido Frente Patriótica-PF).
Interessante o fato de, desde 2001 até 2011, a competição eleitoral, por via da
representação de diferentes partidos em cada ciclo legislativo ter aumentado. Este
aumento deu-se em função da perca do apoio eleitoral do partido MMD e levou com que
a competição política e eleitoral fosse relativamente mais apertada, que é típico dos
sistemas quase multipartidários e quase fragmentado.
Considerações Finais
A abertura política dos países Africanos significou de alguma forma, o início do
processo de transição e implantação das eleições multipartidárias. Mas o mesmo não pode
ser dito para o caso da Zâmbia, porque após a independência em 1964, o País viverá uma
democracia multipartidária.
A história política aliado a competição eleitoral são fatores que explicam a
trajetória dos dois países. Por exemplo, nos dois países, mesmo de forma diferenciada,
MMD PF UNIP UDA FDD AZ NP UPND ZDC
1991 76% 24%
1996 60% 15% 7% 14%
2001 28% 11% 16% 24%
2006 46% 29% 18%
2011 34% 38% 16% 16%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
33
tiveram, experiências de sistemas unipartidários (Moçambique: 1975 a 1994 e Zâmbia
1972 a 1991), mas o seu processo de efetivação teve trajetória diferencial. O processo de
abertura política e consequente eleições multipartidárias para o caso de Moçambique,
laureou o Partido-Estado FRELIMO, mas o mesmo não se consumou na Zâmbia, onde o
recém partido formado MMD derrotou o então Partido-Estado UNIP, com uma larga
vantagem (MMD obteve 76% dos votos contra 24% do UNIP). Na decorrência disso,
Moçambique consegue consolidar o sistema bipartidário, com tendências de dois partidos
e meio, enquanto a Zâmbia, as suas propriedades enfatizaram uma tendência de domínio
do MMD de forma predominante, ocupando acima de 80% dos assentos de entre 1991 a
1996.
Outro dado importante é a alternância no poder, que foi usado como uma
dimensão da competição eleitoral. Recordar que Moçambique passado cinco eleições,
ainda não sentiu o sabor da alternância no poder, em contrapartida, Zâmbia, passada 20
anos após a realização de (novas) eleições multipartidárias, houve alternância. Porém,
interessante porque a competição eleitoral na Zâmbia, sobretudo a partir da
representatividade no Parlamento, se constitui em si, um indicador de um sistema quase
pluripartidário ou multipartidário. Por isso, neste trabalho, demonstramos que se não é
verdade que Moçambique vive um sistema bipartidário de fato, então não é menos
verdade que em 1994, 2009 e 2014, viveu (vive) um sistema partidário de dois partidos e
meio. Enquanto Zâmbia, com base nesta pesquisa, é um sistema multipartidário,
relativamente fragmentado, onde se nota flutuações muito constantes nos partidos
parlamentares.
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