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Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,
na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
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ARTICULANDO ATIVIDADES INTERDISPLINARES DE ENSINO, PESQUISA E
EXTENSÃO POR MEIO DA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: A DEMOCRATIZAÇÃO
DE SABERES EM CONTEXTO DE COMUNIDADES RURAIS.
Renata Orlandi (Universidade Federal da Fronteira Sul – [email protected])
Emerson Martins (Universidade Federal da Fronteira Sul- [email protected])
Cristiane Quadros (Universidade Federal da Fronteira Sul – [email protected])
Eixo temático: Teoria e Prática da Interdisciplinaridade
1. Resumo
Os meios de comunicação, na contemporaneidade, são decisivos, crítica e acriticamente, nos processos de
formação de opinião, bem como no imaginário popular e no processo de subjetivação. De acordo com
Vygotsky, a aprendizagem está atrelada ao processo de constituição do sujeito, sendo um “aspecto
necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas
e especificamente humanas” (1984, p. 101). Não obstante, no plano da cultura, os sujeitos estão em
constantes processos de recriação e re-interpretação de informações, conceitos e significados. Ao tomar
posse do patrimônio cultural engendrado ao longo da história da humanidade, o indivíduo o torna seu,
passando a empregá-lo como ferramenta pessoal de pensamento e ação no mundo (VYGOTSKI, 1993). O
objetivo do presente trabalho fundamenta-se na verificação de que a região do sudoeste paranaense não
dispõe de meios de veiculação/divulgação científico-acadêmicos. A partir disto, implantamos, junto aos
meios de comunicação local (rádio, jornais e pela criação de um blog), a divulgação de conhecimentos
acadêmicos, buscando contemplar uma linguagem acessível e não redutora para toda a população,
destacando dados pertinentes ao cotidiano, promovendo-se assim o diálogo entre a comunidade acadêmica e
a externa. Entende-se que a promoção do direito ao acesso e compreensão dos avanços produzidos e/ou
ensinados, por meios de comunicação externos à Universidade, colabora nos processos de constituição do
senso crítico e reflexivo. A escrita das notícias tem buscado a interdisciplinaridade dos temas, destacando
suas dimensões técnicas, políticas, sociais, culturais, históricas, econômicas, educativas e subjetivas, em sua
interface com os projetos de ensino, pesquisa e extensão do campus Realeza, na Universidade Federal da
Fronteira Sula, no que concerne aos campos epistemológico-pedagógicos da Psicologia, Sociologia, Língua
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e Literatura, Ensino de Ciências, Saúde e Nutrição. Os avanços científicos e a interface entre o seu acesso e
sua dimensão ético-política da convivência em sociedade tornam necessário que aqueles avanços sejam
compartilhados, assimilados e debatidos pelos sujeitos. Nesse contexto, torna-se mister o delineamento de
estratégias voltadas para a divulgação do conhecimento científico, na medida em que se configura como um
processo de inclusão social, emancipação e promoção de cidadania, ao se considerar seu potencial no
favorecimento da consciência crítica e reflexiva por meio do acesso a tais saberes.
Introdução
O nosso país tem uma história pouco conhecida sobre as atividades de divulgação científica, mas sa-
be-se que ao longo dos séculos, a disseminação de tais conhecimentos respondeu a motivações e interesses
diversificados (MOREIRA E MASSARANI, 2002). Para Machado e Sandrini (2013), grosso modo, a divul-
gação científica destina-se a popularizar as informações advindas das mais diversas áreas e tem o compro-
misso de apresentar os conceitos e efeitos científicos ao público leigo, possibilitando um elo entre comuni-
dade científica e senso comum. Neste sentido, cabe dizer que a divulgação científica, além de promover o
acesso à informação de forma ética e consciente, também exerce a função de promover a cidadania, pois a
cultura acadêmica de uma sociedade também é requisito básico para o exercício da democracia.
Candotti (2002) amplia o olhar sobre a importância e a responsabilidade a cerca da temática e afirma
que “[...] a divulgação das pesquisas científicas para o público, quando possível, deveria ser vista como parte
das responsabilidades do pesquisador, de modo semelhante à publicação de suas pesquisas em revistas
especializadas. [...]” (p.15). Este ponto de vista apresentado pelo autor nos confere condições de defender a
divulgação científica como um importante mecanismo de construção de uma educação popular de fato
transformadora, para entender e transformar a sociedade, para torná-la mais justa e igualitária.
Na esfera da formação de professores, tal projeto tem atuado tanto no processo de constituição da
identidade docente dos licenciandos envolvidos nas atividades de ensino e extensão vinculadas ao mesmo,
assim como subsidiado ações voltadas para a capacitação de docente no campo da disseminação do
conhecimento científico, sendo o próprio material aqui produzido passível de ser empregado com fins
didáticos. Por este motivo, percebe-se uma demanda no sentido de instaurar um meio para a divulgação de
conhecimentos científicos, de forma acessível para toda a população, com dados pertinentes ao dia a dia,
promovendo o diálogo entre a comunidade acadêmica e a externa, com vistas à promoção do direito ao
acesso e compreensão dos avanços produzidos na instituição. Vale ressaltar, que assim como os conteúdos
científicos divulgados ao público em geral, também está sendo possível através do desenvolvimento do
projeto, maior envolvimento dos acadêmicos dos cursos de Licenciatura em Ciências, Biologia, Física,
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Química e Letras do noturno, desmistificando a ideia de que por serem trabalhadores no diurno, os mesmos
não podem fazer parte do processo de formação para a pesquisa ou a extensão. O presente projeto tem
possibilitado a participação de acadêmicos em horários flexíveis e articulados às atividades de aprendizagem
em desenvolvimento nos componentes curriculares nos quais estarão matriculados, ministrados por
professores colaboradores no projeto. Nesse sentido, delineou-se como objetivo geral do projeto: Divulgar
os conhecimentos científicos produzidos na Universidade Federal da Fronteira Sul (Campus de Realeza),
por meio de comunicação de massa, à mesorregião do sudoeste paranaense, visando colaborar nos processos
de constituição do senso crítico e reflexivo.
Desenvolvimento
A Universidade Federal da Fronteira Sul tem como uma de suas pretensões “estabelecer
dispositivos de combate às desigualdades sociais e regionais, incluindo condições de acesso e permanência
no ensino superior, especialmente da população mais excluída do campo e da cidade” e atuar como uma
instituição popular, democrática, de qualidade e pública (BRASIL, 2012). Para tanto, faz-se necessário o
fortalecimento do diálogo entre docentes, discentes, técnicos administrativos e a comunidade em geral. No
contexto deste projeto, considera-se a Universidade como um palco de negociações de sentidos entre
diversos atores, os quais atuam nos três pilares que a sustentam: o ensino, a pesquisa e a extensão.
Nesse sentido, entendemos que o ensino universitário deve contemplar e problematizar as fronteiras
entre “diferentes” modalidades de conhecimentos (acadêmico, popular, artístico, técnico, científico, literário,
estético e outros), com vistas à promoção do engajamento político dos atores presentes na cena institucional,
de modo que a Universidade, em lugar de tornar-se especializada na formação de pessoas voltadas para a
manutenção da sociedade como está, torne-se, ao contrário, uma ferramenta dinâmica para uma sociedade
em movimento e que se vislumbre e se (re)produza melhor.
A obra de Vygotski (1984) tem como uma de suas marcas a preocupação com questões
educacionais e foi eleita como o norte teórico do presente projeto. A relação entre os processos de
desenvolvimento e de aprendizagem é central no pensamento deste autor. Face à importância que o autor
atribui à dimensão histórico-cultural na constituição do psiquismo, destaca-se o processo de aprendizagem
humana. Segundo Vygotsky, a aprendizagem diz respeito ao processo de constituição do sujeito, sendo um
“aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente
organizadas e especificamente humanas” (VYGOTSKI, 1984, p. 101). A aprendizagem diz respeito à relação
entre as pessoas. Nesse caso, o outro é quem fornece os significados que possibilitam pensar o mundo, bem
como o contato com a produção cultural acumulada pelos homens ao longo de sua história.
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Os sujeitos no plano da cultura estão em constantes processos de recriação e re-interpretação de
informações, conceitos e significados. Ao tomar posse do material cultural, o indivíduo o torna seu,
passando a utilizá-lo como instrumento pessoal de pensamento e ação no mundo (VYGOTSKI, 1993). Este
processo de apropriação (“internalização”) dos bens culturais que corresponde à própria formação da
consciência é também um processo de constituição da subjetividade, a partir das situações de inter-
subjetividade. A passagem do nível “inter-psicológico” para o “intra-psicológico” envolve relações inter-
pessoais densas, mediadas simbolicamente e não trocas mecânicas limitadas a um patamar meramente
intelectual. Envolve também a produção de sujeitos absolutamente únicos, com trajetórias pessoais
singulares e experiências particulares em sua relação com o mundo e, fundamentalmente, com as outras
pessoas (VYGOTSKI,1984; VYGOTSKI, 1993).
Na atualidade, o fluxo de informações é muito grande e a cada momento dão-se novos avanços
científicos, todavia, a própria constituição dos sujeitos na contemporaneidade torna necessário que aqueles
avanços sejam compartilhados, assimilados e debatidos pela sociedade. Não obstante, Massarani (2005)
afirma que na América Latina não são desenvolvidas estratégias voltadas para o debate acadêmico com a
comunidade em geral. Destaca-se a gravidade dessa questão na medida em que a ciência e a tecnologia
incidem na cotidianidade dos sujeitos e geram repercussões em todos os âmbitos. Nesse sentido, o
comprometimento do acesso a tais conhecimentos atua como um obstáculo no processo de formação da
consciência crítica, o que, por sua vez, faz com que os sujeitos sejam excluídos “do processo decisório em
questões que tem impacto na vida cotidiana” (MASSARANI, 2005, p.1).
Segundo Camargo, Barbará e Bertoldo, a “divulgação não pode ser entendida como contribuição
para reduzir a ignorância dos cidadãos, mas um caminho para entender o que ele pensa a respeito de ciência
e quais dificuldades têm de avaliar os riscos e valores da vida cotidiana” (2008, p.1). Estes mesmos autores
afirmam que “o indivíduo que tem este entendimento desenvolve uma atitude científica frente ao mundo,
sendo capaz de interpretar os resultados científicos com base em evidências e poderá nortear seus
julgamentos” (2008, p.2). Esta perspectiva nos coloca frente a constatação de que o acesso é primordial na
construção da própria ciência, vislumbrando sua dimensão pedagógica. Neste contexto a “[...] a divulgação
científica consiste no resultado de uma atividade discursiva que se desenvolve em condições de produção
inteiramente diferentes daquelas em que o conhecimento científico é produzido pelos cientistas.”
(NASCIMENTO, 2010, p. 5)
Ao abordar o caráter educacional da transmissão do conhecimento acadêmico, Chassot (2003)
menciona a importância da alfabetização científica, definindo-a como o acesso a uma linguagem que torna
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possível uma forma específica de leitura do universo. Conforme Caruso (2003) e Mendonça (2010), a
divulgação científica favorece a promoção da cidadania e a formação do senso crítico dos sujeitos que tem
acesso aos saberes e fazeres engendrados pela ciência. São Tiago (2010) ressalta que a educação científica
transcende a disseminação de conhecimentos científicos prontos e acabados, visando, por sua vez, a
problematização dos caminhos produzidos pelos cientistas nos processos de produção desses saberes, das
contradições e controvérsias vivenciadas no cenário acadêmico, do momento histórico, pressões sociais e
interesses que possibilitaram tais avanços, dos fatores que compõem o fazer científico.
O aporte teórico das representações sociais (MOSCOVICI, 1978) tem subsidiado importantes
estudos voltados à investigação da divulgação científica pelos meios de comunicação. Analisando
historicamente a divulgação do conhecimento científico, Camargo, Barbará e Bertoldo (2008) verificam a
atuação tendenciosa da imprensa brasileira, na medida em que tais mídias limitavam-se à publicação
somente do que era conveniente aos cientistas e aos interesses de classe, e, gradativamente, passou-se a
refletir, também, a intensidade dos problemas sociais implícitos nessa atividade.
Atualmente, a divulgação científica tem sido pensada em sua dimensão educacional estratégica,
fomentando o diálogo entre o saberes produzidos no meio acadêmico e os compartilhados nos contextos
escolares e nas relações cotidianas que transcendem as situações formais de educação e produção do
conhecimento (CAMARGO, BARBARA e BERTOLDO, 2008). No que se refere à atuação dos meios de
comunicação na divulgação científica, conforme Medeiros (2010), esses são determinantes das
representações sociais da ciência e de suas aplicações.
O primeiro jornal impresso no Brasil foi a Gazeta que foi fundada no dia 10 de Setembro de 1808,
no Rio de Janeiro. Ela foi criada por Dom João VI e era voltada para os interesses da Coroa, e também para
a vida cortesã. Um dos seus objetivos era divulgar atos governamentais, ou seja, atos políticos sendo
encontrados e divulgados em todos os meios de transmissão de informações.
O rádio é um meio de comunicação que envolve o processo de imaginação. Segundo Chagas et al.
2010 o rádio é até hoje um meio de comunicação de massa com grande abrangência e desenvolve uma
cumplicidade com o ouvinte. A primeira emissora de rádio do Brasil foi fundada pela Academia Brasileira
de Ciências por volta de 1923, tendo como fundador o cientista e educador Edgar Roquete Pinto, uma de
suas frases na época que ficaram para a história de nosso rádio é que “o rádio é a escola dos que não têm
escola”, pois o propósito foi utilizá-la para a educação popular (CHAGAS et al. 2010). Esta influência de
divulgações atribuiu-se ao surgimento do movimento higienista que nasce neste período juntamente com o
liberalismo. Esse movimento se voltava para o “cuidado” (domínio) da população (sobretudo famílias de
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baixa renda) ensinando (impondo) novos hábitos. O rádio, por ser um meio de fácil acesso e baseado na
oralidade, torna-se um instrumento dinamizador de desenvolvimento das práticas educomunicativas quando
inserido nos espaços educativos com uma proposta definida e centrada para esse fim, contudo, não se pode
perder de vista os processos de opressão e dominação veiculados pelas ondas radiofônicas, cabendo-nos a
promoção da emancipação e da reflexividade não perdendo de vista o resgate e a valorização dos saberes
populares.
Portanto os meios de comunicação selecionados para este projeto (programa de rádio, jornal
impresso e blog) procuraram ser complementares e com capacidade de abranger públicos distintos e com
demandas diferenciadas. Por exemplo, no caso dos surdos, é possível que este tenha acesso aos
conhecimentos divulgados por meio do blog e da mídia impressa.
O fluxo de informações é muito grande e a cada momento dão-se novos avanços científicos,
tornando-se necessário que aqueles avanços sejam compartilhados e assimilados pela sociedade. Nesse
sentido, torna-se mister o delineamento de estratégias, tal como a aqui apresentada, voltadas para
compartilhamento do conhecimento científico, na medida em que esse configure-se como um processo de
inclusão social, emancipação e promoção de cidadania.
Massarani (2005) denuncia que em nosso continente uma das barreiras no processo de divulgação
dos saberes científicos é a tradição autoritária e excludente que também circula na comunidade acadêmica e
que engendra a perspectiva de que para opinar e influenciar em decisões políticas de maior calibre torna-se
condição um alto grau de educação científica formal. Ao contrário, na proposta do presente projeto,
considera-se que é em meio às contradições e pelo debate, pela tolerância, bem como, pelo respeito e pela
valorização da trajetória cultural e política de todos/as que é constituído um espaço de produção e
compartilhamento do conhecimento. No que diz respeito ao compromisso social da UFFS nesse cenário,
considera-se que é em meio as subjetividades, saberes e fazeres plurais, que se torna possível a realização do
projeto de uma Universidade comprometida com a transformação social e a divulgação do conhecimento
produzido nessa instituição, imprimindo seus valores como direitos da população e de suas demandas.
Visando colaborar no processo de disseminação do conhecimento científico produzido e ensinado no
contexto da Universidade Federal da Fronteira Sul, a execução do projeto será didaticamente ilustrada a
partir das seguintes etapas para seu desenvolvimento:
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Etapa 1. Realização de reuniões entre os professores colaboradores de modo a articular sobre temas
para a estruturação de notícias, estas escritas pelos colaboradores inicialmente para alimentação das colunas
jornalisticas.
Etapa 2. Aplicação das atividades de ensino propriamente ditas voltadas para a execução do projeto
em sala de aula, incluindo estas atividades no plano de ensino dos docentes colaboradores, levantando
notícias de divulgação científica para serem disponibilizadas na rádio, jornal e blog vinculados ao projeto.
Etapa 3. Os textos são organizados, revisados e formatados para serem publicados e gravados.
Etapa 4. Início da realização das transmissões e publicações do material produzido.
Etapa 5. Os conhecimentos disseminados, através dos programas e dos produtos jornalísticos, farão
parte do cotidiano dos professores e estudantes da rede pública de modo que possa repercutir nas práticas em
sala de aula na realização de oficinas de divulgação científica.
Etapa 6- Além da participação em eventos científicos, redação de trabalhos acadêmicos de
divulgação científica, e a construção do relatório de extensão conforme as atividades realizadas
semestralmente.
As informações e textos coletadas entre os colaboradores do projeto, com temas variados definidos
pelos mesmos estão sendo divulgados em alguns jornais impressos da região, após coletarmos um acervo
considerável de textos, estes serão transmitidos em uma rádio e também terá uma página na internet.
Inicialmente, cabe as bolsistas levantar junto à comunidade acadêmica e externa os temas pertinentes ligados
aos saberes cotidianos e curiosidades dentro do campo do conhecimento científico, detectando pautas de
interesse do grupo, cujas problematizações científicas possam tornar-se significativas para esta população.
Nesta perspectiva evidencia-se que “[...] As atividades de divulgação científica se situam na perspectiva de
difusão de conhecimentos, de partilha de saberes, e para além de mero caráter informativo, representam a
possibilidade de corroborar para a educação” (SOUSA, 2009, p. 53)
Ao longo do semestre letivo, os acadêmicos dos Cursos de Licenciatura em Ciências, Biologia,
Física, Química e Letras, além do Curso Bacharel em Nutrição, ocuparam-se do levantamento de
conhecimentos científicos a partir da mediação dos professores colaboradores do projeto em componentes
curriculares ministrados pelos mesmos, configurando-se como uma das atividades de aprendizagem e
avaliação previstas em seus planos de ensino. A proposta articulada entre os professores colaboradores do
projeto e os acadêmicos foi pautada pela busca de fontes e referências seguras que posteriormente foram
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disponibilizadas pelos colaboradores do projeto, para que os acadêmicos pudessem ter subsídios na
construção das notícias e programas a serem escritos, gravados e transmitidos.
Quanto à mídia impressa, alguns jornais regionais disponibilizaram uma coluna semanal com esse
fim. Iniciou-se as publicações em apenas um jornal da região, e agora mais de sete jornais fazem
transmissões semanais das notícias de cunho científico construídas no decorrer do projeto. Duas rádios já
confirmaram um espaço destinado às transmissões radiofônicas que terão início em outubro de 2013. As
notícias são elaboradas de maneira cautelosa visando a preservação da complexidade dos conceitos
abordados por meio de uma redação de fácil compreensão (vocabulário acessível, exposição didática, uso de
entrevistas com especialistas e destaque de fenômenos cotidianos com explicações científicas, buscando
despertar a curiosidade do leitor/ouvinte). Esse movimento, em processo, é interessante uma vez que se
entende que “[...] A divulgação científica compreende a “[…] utilização de recursos, técnicas, processos e
produtos (veículos ou canais) para a veiculação de informações científicas, tecnológicas ou associadas a
inovações ao público leigo” (BUENO, 2009, p.162).
Os textos jornalísticos e as gravações serão realizadas e enviadas à rádio com a colaboração dos
jornalistas do campus. Caberá também a esses, aos estudantes e aos professores colaboradores a atualização
do blog produzido ao longo do projeto, assim como a resposta aos contatos feitos pelos ouvintes. Serão
produzidos dois programas semanais que serão transmitidos de segunda a sexta-feira. Na mídia impressa
será divulgada uma coluna jornalística semanal e no blog serão disponibilizadas todas as notícias
disseminadas pelo rádio e pelo blog com maiores detalhes e com as devidas fontes, assim como links para
maior aprofundamento.
Os programas de rádio serão então gravados pelos integrantes do projeto e terão uma duração
máxima de dois minutos, nos quais serão abordados temas relacionados ao cotidiano da comunidade local e
que tenham relação com as atividades de ensino, pesquisa e extensão universitária desenvolvidos no Campus
de Realeza. Ao longo dos programas, o narrador(a) destacará os procedimentos científicos de produção
desses saberes, os quais possibilitam a construção de narrativas explicativas dos fenômenos investigados.
As produções não obedecerão a uma única estrutura. De acordo com o tema a ser tratado, estarão
organizados em forma de diálogo, redação, dramatização, dentre outras formas de expressão, buscando
problematizar de maneira parcimoniosa conceitos presentes no cotidiano do ouvinte/leitor. Essas
informações serão transmitidas à comunidade pela rádio local AM, que é um meio de comunicação muito
utilizado nessa região. Primeiramente, a difusão será realizada na cidade sede do campus – Realeza,
posteriormente, buscar-se-á expandir o projeto, se possível, em outros municípios do sudoeste paranaense.
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A colaboração destes veículo de comunicação já está acordada e ocorre por meio da disponibilização
de “espaço”, de forma gratuita, para que os programas produzidos pelos executores dessa atividade de
extensão sejam transmitidos ao público alvo. A freqüência da divulgação desses textos será cinco vezes ao
dia, de segunda a sexta-feira, sendo um dia destinado especificamente para expor atividades desenvolvidas
pela universidade, de modo que o direito à informação seja garantido à comunidade na qual o campus de
Realeza está inserido.
Serão disponibilizados diversos meios de comunicação, visando o estabelecimento do diálogo entre
os executores desse projeto e os ouvintes do programa de rádio a ser veiculado, tais como: telefone, e-mail e
blog. Nestes, os ouvintes poderão ter acesso a mais informações, bem como manifestar questionamentos,
críticas, sugestões e proposições de pautas. Inclusive, estas participações contribuirão para a avaliação do
projeto e os possíveis ajustes e mudanças nos procedimentos voltados para o cumprimento dos nossos
objetivos com esta extensão.
Considerações Finais
A UFFS tem entre suas pretensões o estabelecimento de “dispositivos de combate às desigualdades
sociais e regionais, incluindo condições de acesso e permanência no ensino superior, especialmente da
população mais excluída do campo e da cidade” e a atuação como uma instituição popular, democrática, de
qualidade e pública (BRASIL, 2012). Para tanto, faz-se necessário o fortalecimento do diálogo entre
docentes, discentes, técnicos administrativos e a comunidade em geral. No contexto deste projeto,
considera-se a Universidade como um palco de negociações de sentidos entre diversos atores, os quais
atuam nos três pilares que a sustentam: o ensino, a pesquisa e a extensão.
Na contemporaneidade, os meios de comunicação atuam sobremaneira nos processos de formação de
opinião, bem como no imaginário popular. Em sua dimensão política, “a divulgação da ciência é
instrumento necessário para consolidar a democracia e evitar que o conhecimento seja sinônimo de poder e
dominação” (CAMARGO, BARBARÁ e BERTOLDO, 2008, p.1). Nesse sentido, torna-se mister o
delineamento de estratégias voltadas para compartilhamento do conhecimento científico, na medida em que
esse configura-se como um processo de inclusão social, emancipação e promoção de cidadania, haja vista o
favorecimento da consciência crítica e reflexiva dos sujeitos por meio do acesso a tais saberes.
Entretanto, são raras as iniciativas eticamente voltadas para a emancipação dos sujeitos, formação
crítica e a promoção de cidadania, sobretudo, no campo da disseminação do conhecimento científico. A
região do sudoeste paranaense, na qual se insere o Campus de Realeza, da Universidade Federal da Fronteira
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Sul, por sua vez, até o momento, não dispunha até o início deste projeto, de um meio de veiculação de
informações de cunho acadêmico. Entende-se que um veículo de informações que contribua para o
enriquecimento cultural e científico de forma ética e consciente é fundamentalmente capaz de contribuir no
sentido da formação popular e da transformação local. A dedicação à divulgação da ciência como área
comum do cientista, do escritor, do docente e das instituições é materializada na ação de pessoas
preocupadas com a educação popular.
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