ARTETERAPIA

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UNP UNIVERSIDADE POTIGUAR ALQUIMY ART PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ARTETERAPIA LÍDIA ALVES HEITOR SILVA ARTETERAPIA, UMA ALTERNATIVA PARA RESSIGNIFICAR NATAL 2006

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ARTETERAPIA

Transcript of ARTETERAPIA

  • UNP UNIVERSIDADE POTIGUAR ALQUIMY ART

    PR-REITORIA DE PESQUISA E PS-GRADUAO CURSO DE ESPECIALIZAO EM ARTETERAPIA

    LDIA ALVES HEITOR SILVA

    ARTETERAPIA,

    UMA ALTERNATIVA PARA RESSIGNIFICAR

    NATAL 2006

  • LDIA ALVES HEITOR SILVA

    ARTETERAPIA,

    UMA ALTERNATIVA PARA RESSIGNIFICAR

    Monografia apresentada Universidade Potiguar-RN e a Alquimy Art, de So Paulo como parte dos requisitos para a obteno do ttulo de Especialista em Arteterapia. Orientadora: Maria dos Prazeres da Silva.

    NATAL/RN 2006

  • S586a Silva, Ldia Alves Heitor.

    Arteterapia: uma alternativa para ressignificar / Ldia Alves

    Heitor Silva. Natal, 2006.

    48f.

    Monografia (Especializao em Arteterapia) Universidade

    Potiguar. Pr-Reitoria de Pesquisa e Ps-Graduao.

    1. Arteterapia Monografia. 2. Transformao Monografia. 3. Auto-expresso Monografia. I. Ttulo.

    RN/UNP/BCFP CDU:37.015.3(043)

  • LDIA ALVES HEITOR SILVA

    ARTETERAPIA,

    UMA ALTERNATIVA PARA RESSIGNIFICAR

    Monografia apresentada Universidade Potiguar-RN e a Alquimy Art, de So Paulo como parte dos requisitos para a obteno do ttulo de Especialista em Arteterapia.

    APROVADO EM ____/_____/________ BANCA EXAMINADORA __________________________________________________ Att. Maria dos Prazes Perreira da Silva __________________________________________________ Dra. Cristina Dias Allessandrini __________________________________________________ Prof. MsC. Deolinda Florim Fabietti

  • Dedico todo esse meu processo, que se iniciou em 16 de novembro de 1961 at os dias de hoje. No que tenha concludo, e sim por ter chegado at aqui. A meus pais, Luiz Jos Heitor e Arline Alves de Almeida, que so as pessoas mais presentes e constantes em minha vida, mesmo quando separados pela distncia. A cada dia percebo com mais clareza esse vnculo to forte e to singular. (12/2005)

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo a todos que diretamente ou indiretamente participaram de todo

    esse processo pelo qual ainda hoje estou a trilhar: meus pais que escolhi e que

    ainda hoje meu maior referencial LUIZ HEITOR E ARLINE, meu marido

    companheiro e amigo JAERTON JOS.

    Meus filhos que no dia-a-dia deram-me fora e inspirao para nunca desistir

    ANDERSON, ARETHA e AMAURY JR.

    Aos mestres queridos que repassaram seus conhecimentos com dedicao

    mostrando que a jornada do saber, infinita.

    Aos meus primeiros clientes, que com muita garra se permitiram acreditar em

    meu projeto Arteterapia, uma alternativa para ressignificar.

    Desse modo ressignificando todo um propsito inicial, ao me matricular no

    curso de Especializao de Arteterapia, quando na realidade pensei inicialmente em

    fazer Psicopedagogia.

    Para finalizar agradeo as amizades sinceras que colhi nesse jardim de artes

    terapeutas, dentre elas em especial a Rosa, o Girassol, a Violeta e as Margaridas e

    as arteterapeutas formadas nas primeiras turmas, que tm sido exemplo de

    dedicao nessa nova especializao.

  • O primeiro dever do homem em sociedade de ser til aos membros dela; e cada um deve, segundo as suas foras fsicas ou morais, administrar, em benefcio da mesma, os conhecimentos, ou talentos, que a natureza, a arte ou a educao lhe prestou. O indivduo, que abrange o bem geral duma sociedade, vem a ser o membro mais distinto dela; as luzes, que ele espalha, tiram das trevas, ou da iluso, aqueles, que a ignorncia precipitou no labirinto da apatia, da inpcia e do engano.

    (Hiplito Jos da Costa, 1808).

  • RESUMO

    ARTETERAPIA, UMA ALTERNATIVA PARA RESSIGNIFICAR.

    Objetiva este estudo interligar subsdios terico-prticos relativos ao emprego da modalidade expressiva - construo em Arteterapia junto a idosos que passaram por um processo de Acidente Vascular Cerebral (AVC), com o intuito de auxiliar esta clientela em seu processo natural de desenvolvimento. Trata-se de um estudo descritivo e exploratrio, com enfoque qualitativo. A anlise dos dados se baseia na mudana de comportamento dos idosos durante o perodo estudado levando-se em considerao todos os conceitos semelhantes ao que diz respeito auto-expresso. a arte ilimitada unida ao processo teraputico, que transforma a Arteterapia em uma tcnica especial resgatando o potencial criativo do homem, buscando a psique saudvel e estimulando a autonomia e transformao interna, para reestruturao do ser. Esse estudo ainda parte do princpio, de que muitas vezes no se consegue falar de conflitos pessoais, a Arteterapia possui recursos artsticos para que sejam projetados e analisados, todos esses processos, obtendo uma melhor compreenso de si mesmo, e podendo ser trabalhado no intuito de uma libertao emocional. Sendo portando o principal propsito mostrar que a Arteterapia pode trazer subsdios aos indivduos que busquem transformar seu modo de pensar, ser, estar e agir diante de todas as situaes.

    Palavras Chaves: Arteterapia. Transformao. Auto-expresso.

  • ABSTRACT

    ART THERAPY, AN ALTERNATIVE FOR TRANSFORMATION.

    This study aims at to interconnect relative theoretical-practical subsidies to the job of the expressive modality - construction in Art therapy close to senior that passed for a process of Cerebral Vascular Accident (AVC), with the intention of aiding this clientele in this natural process of development. It is a descriptive and exploratory study, with qualitative focus. The analysis of the data if it bases on the change of the seniors' behavior during the studied period being taken into account all of the concepts similar to the that concerns the self-expression. It is the limitless art united to the therapeutic process, that it transforms Art therapy in a special technique rescuing the man's creative potential, looking for the healthy psyche and stimulating the autonomy and transformation interns, for the being's restructuring. That study still part of the beginning, that a lot of times she don't get to speak of personal conflicts, Art therapy possesses artistic resources so that they are projected and analyzed, all those processes, obtaining a better understanding of himself, and could be worked in the intention of an emotional liberation. Being carrying the main purpose to show that the Art therapy can bring subsidies to the individuals that look for to transform way of thinking, to be, to be and to act before all of the situations.

    Key Words: Art therapy. Transformation. Self-expression.

  • SUMRIO

    1 INTRODUO................................................................................................. 10

    2 ARTETERAPIA, UMA ALTERNATIVA PARA RESSIGNIFICAR................... 13

    3 ARTETERAPIA................................................................................................ 17

    3.1 CONCEITUANDO ARTETERAPIA............................................................... 17

    3.2 HISTRICO DA ARTETERAPIA................................................................... 18

    4 TRAJETRIA PESSOAL................................................................................ 22

    5 PROJETO........................................................................................................ 28

    5.1 ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (AVC): O QUE FAZER DIANTE DO

    DERRAME..........................................................................................................

    30

    5.2 O QUE AVC............................................................................................... 31

    5.3 O QUE PROVOCA........................................................................................ 31

    5.4 QUAIS OS SINTOMAS................................................................................. 32

    5.5 SEQELAS................................................................................................... 32

    5.6 TRATAMENTO.............................................................................................. 33

    5.7 REABILITAO............................................................................................ 33

    5.8 FAIXAS ETRIAS ATINGIDAS..................................................................... 34

    6 ESTUDO DE CASOS.................................................................................... 35 7 CONSIDERAES FINAIS............................................................................. 45

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS................................................................... 48

  • 10

    1 INTRODUO

    Na ARTETERAPIA conheci os fascinantes mundos coloridos, flexveis,

    plsticos e multiformes e de infinitos caminhos, prontos para nos levar a uma viagem

    a qualquer dos nossos hemisfrios em nosso consciente e inconsciente.

    Na vida nem sempre os acontecimentos se do ao nosso bel prazer. Mas

    eles esto a, e s nos resta duas alternativas: transform-los para uma melhor

    convivncia ou cruzar os braos e se dar por vencido e aceitar sem se perguntar se

    posso mudar algo. Ficando na mesmice, e obscuridade dos movimentos circulantes

    do existir por existir.

    Ferguson (1980, pg. 276) afirma que:

    ... recebendo informaes, integrando-as, usando-as. O educando aluno transforma o estmulo, ordenando-o e tornando a orden-lo, criando coerncia. Sua viso continuamente ampliada para incorporar o que novo. De tempos em tempos, rompe-se e reformulada, como na aquisio de novas e importantes habilidades e conceitos: aprender a caminhar, falar, ler, nadar ou escrever; aprender uma lngua estrangeira ou geometria. Cada um desses eventos um tipo de mudana de paradigma. Uma modificao do aprendizado precedida por uma tenso cuja intensidade obedece a uma sucesso: inquietao, excitao, tenso criativa, confuso, ansiedade, angstia, medo.

    meu propsito mostrar os benefcios que a arteterapia pode trazer aos

    indivduos que busquem ressignificar seu modo de pensar, estar, ser, ou agir diante

    de situaes excepcionais e at mesmo corriqueiras.

    O ttulo que escolhi de uma sugestibilidade inconteste Arteterapia, uma

    Alternativa Para Ressignificar. Ressignificar o qu? Por qu? Como? Esses

    questionamentos esto fervilhando em minha mente, e quando no d mais para

    calar, pensei, chegada hora de compreender, refletir e acomodar de forma a

    ordenar, ou seja, arrumando essas inquietaes, como quem arruma gavetas de um

    armrio, qui da nossa prpria baguna mental. Mesmo que para isso seja preciso

  • 11

    fazer uma reviravolta interior, olhar para dentro self e se enxergar como quem est

    diante de um espelho sem temer a imagem refletida. Antes, porm, aceitar,

    compreender e acolher essa imagem tal como ela se apresenta.

    Esses questionamentos sero respondidos ao longo de todo um processo,

    que se dar em uma longa jornada, que ir sendo traada de forma branda e

    espontnea, onde cada passo significa crescimento, amadurecimento, confiana

    em si, no arteterapeuta e no grupo. Essa caminhada poder ser feita em grupo ou

    individual. Especificamente neste caso trabalhei com um grupo de cinco clientes.

    Desse grupo, escolhi dois para apresentar como estudo de caso.

    O que busquei alcanar ao fim de todo esse estudo, pesquisa e observao

    do processo por eles experimentado, foi que cada cliente tomasse conscincia de si

    mesmo, e dessa forma se fazendo autnomo para fazer suas prprias escolhas e

    gerir sua prpria vida, sendo um indivduo pr-ativo.

    A arteterapia ir atuar em conjunto com outras reas da sade e terapias

    afins, onde uma complementar a outra. E esse processo nunca cessar, pois em

    quanto vida houver, o SER humano dever sempre buscar SER e ESTAR, cada

    vez melhor consigo e com o outro.

    No desenvolvimento da minha monografia apresento situaes aonde a

    arteterapia ressignifica a vida desses clientes, e que por mais difcil que tenha sido a

    situao que eles atravessaram, quando esto em uma sala de um atelier

    teraputico interagindo com materiais expressivos, h uma comunicao, antes

    imperceptvel, efeito salutar provocado pela conscientizao de uma lembrana

    fortemente emocional e ou traumtica, at ento reprimida.

    Acredito que esse caminho foi aberto para uns. Para outros que j se

    encontravam na caminhada dei minha participao. Estive dentro do possvel de

  • 12

    mos dadas com eles em seus primeiros passos. Este trabalho foi realizado no

    mbito da Associao de Orientao aos Deficientes (ADOTE) e como essa

    instituio j trabalha seus clientes dentro de uma viso arteterapeutica, fico

    satisfeita em saber que a caminhada ir prosseguir.

  • 13

    2 ARTETERAPIA, UMA ALTERNATIVA PARA RESSIGNIFICAR.

    Escolhi esse ttulo que tem como objeto de estudo, indivduos que se

    encontram em situaes inesperadas, sejam no pessoal ou profissional, pois nunca

    nos preparamos para o caos.

    Certamente me incluo nesse percentual que por essas ou aquelas

    mudanas indesejveis comprometemos a nossa vida e a vida das pessoas que

    esto ao nosso redor. Pois esse fato novo que chega sem pedir permisso e sem

    consultar se queremos ou estamos preparados para aceit-lo. Ele simplesmente se

    instaura e pronto. E quando essas mudanas ou fatos ocorrem observamos que

    nem sempre fcil de identificar, aceitar e menos ainda enfrentar esse intruso em

    nossa vida.

    Perceber sozinho a conexo causa e efeito nem sempre nos possvel,

    muitas vezes necessitamos da ajuda de um profissional que com habilidade e

    conhecimento nos ajuda nesse processo de descobertas, reflexo, negao e

    transformaes, quando possvel e at se for o caso aceitar aquela mudana de

    forma mais branda.

    A arteterapia atravs de seus mecanismos leva o cliente a se observar no

    s de fora para dentro, como tambm de dentro para fora. Essa prtica tem haver

    com uma deciso mais a frente, onde nos vemos obrigados por foras externas a ter

    essa viso do todo de ns mesmos.

    No fica por a essa falta de conhecimento sobre ns mesmos. O que

    queremos e o que sentimos, o que nos incomoda, so questes que no fomos

    ensinados a perceber, e menos ainda de express-los, acarretando muitas vezes

  • 14

    danos em nossos relacionamentos, visto que quase sempre temos no inconsciente a

    raiz de nossos conflitos que se manifestam como: medo, ansiedade, tristeza,

    incerteza, alta baixa estima e outros tipos de desconforto.

    A arteterapia traz esse olhar humanizado, harmnico e que nos acolhe com

    suas muitas formas e maneiras ao abrir a nossa frente um leque de informaes que

    acessamos do nosso inconsciente.

    Vivenciamos esse processo de auto-conhecimento em um Atelier

    Teraputico, espao voltado para realizao de oficinas (expresses livres), onde

    sero utilizadas modalidades expressivas diversas como (desenhos, pinturas,

    colagens, dramatizao, danas, contao de histria) entre outras vivncias.

    O arteterapeuta ser o facilitador que conduzir o cliente nesse processo

    que tem como objetivo acessar e estimular o potencial criativo e relacional, de todo

    aquele que busque esse caminho de cura existencial. Tendo em vista a sade e a

    qualidade de vida, acessando contedos expressivos do inconsciente e at mesmo

    do consciente por vezes sabotado por ns mesmos.

    Todo esse processo trilhado em suas mltiplas vivncias afasta por

    completo as questes de ordem esttica. Ao arteterapeuta no cabe a funo de

    interpretar, julgar ou qualificar as produes que surgem durante um atendimento,

    se for da vontade do cliente em partilhar o processo anterior e ou durante a

    produo, esse o far dando o seu real significado.

    Quando fui apresentada a Arteterapia, para minha surpresa eu j me

    encontrava nesse processo de busca e conhecimento, ainda que sem o

    embasamento terico.

    Philippini (2001 p. 13) afirma que:

    Arteterapia, um lugar de encontros e desencontros, onde conceituar torna-se uma rdua tarefa. (...) As atividades artsticas utilizadas, configuraro uma produo simblica, concretizada em inmeras possibilidades

  • 15

    plsticas, diversas formas, cores volumes, etc. Esta materialidade permite o confronto e gradualmente a atribuio de significados s informaes provenientes de nveis muito profundos da psique, que pouco a pouco sero apreendidas pela conscincia.

    Poder repassar esses conhecimentos na pele de uma arteterapeuta, a

    minha meta, por acreditar que possvel ressignificar atravs do mergulho no self.

    O compromisso de um arteterapeuta no maior ou menor que o de

    nenhum outro profissional. Responsabilidade, compromisso, respeito dedicao e

    tica profissional com o cliente e demais profissionais so aspectos que devem

    sempre estar presentes nessa relao.

    A viso do bem comum despida de preconceitos, ou rtulos, buscando

    sempre o melhor para aqueles que depositam em ns confiana e expem seus

    conflitos, medos e fantasmas, por acreditarem que ao contrrio de mostrar a

    soluo, podemos em conjunto trilhar uma rota com vrias possibilidades, onde

    antes s existia o caos.

    A arteterapia tem uma fora transformadora muito grande, visto que ela se

    alia as outras reas do conhecimento como: psicologia, psiquiatria, pedagogia, artes,

    desenvolvendo trabalhos co-participativos, visando a melhoria de vida do indivduo.

    A arteterapia, uma alternativa para ressignificar, para mim a viso mais

    completa que eu consegui filtrar de tudo que estudei, pesquisei, li, e observei no

    estgio com meus clientes com seqelas de Acidente Vascular Cerebral (AVC), e

    ainda experincias extra universidade chegando para tanto a esse tema, e tendo

    como objeto de estudo um campo muito amplo, ou seja, todo e qualquer indivduo

    que busque se conhecer melhor, assumindo seus medos, fantasmas, sombras, e

    toda sorte de sentimento.

    Elaborar o projeto para a ADOTE, no foi por acaso, busquei realmente pr

    em prtica, todo esse conhecimento adquirido com um pblico que tenho como

  • 16

    muito especial. Desde muito cedo tenho uma ateno muito particular pelas

    crianas e os idosos.

    Nesse momento trabalhar com o idoso foi o que falou mais alto, e tocou

    mais forte em meu corao. E assim elaborei o meu primeiro projeto que teve como

    ttulo o mesmo que adotei para minha monografia, Arteterapia, uma alternativa para

    ressignificar, ttulo esse que foi ficando cada vez mais claro e justificado ao passo

    que aconteciam os encontros e os indcios de mudanas eram comprovados.

  • 17

    3 ARTETERAPIA

    3.1 CONCEITUANDO ARTETERAPIA

    Fabietti (2004, p. 15) afirma que:

    A arteterapia vem auxiliando muitos profissionais da sade e da educao nas tarefas de compreenso e elaborao de alguns dos contedos emocionais que, presentes em todas as etapas da vida, ganham contornos singulares na velhice. Em que pesem suas diversas linhas e correntes, o que tipifica a arteterapia o fato de ela oferecer subsdios para que os sujeitos desenvolvam, durante o processo, um olhar que permita a adoo de novas posturas e a ressignificao da vida, dedicando-se construo de uma existncia mais gratificante.

    A arteterapia abre um espao j existente, porm esquecido, que de nos

    permitir reinventar de maneira mais prazerosa momentos por ns j vividos, sem que

    tenhamos tirado deles a real essncia. Por medo ou tabu.

    - O que a Arteterapia?

    Arteterapia, segundo Claudia Brasil, in http://www.cest.edu.br/noticia8.htm.

    uma atividade teraputica que utiliza as tcnicas expressivas como veculo facilitador de liberao dos contedos inconscientes. Atravs das artes plsticas, msica, dana, dramatizao, poesia e outras modalidades artsticas o indivduo tem acesso aos aspectos seus antes adormecidos. Dessa forma pode-se interagir com faces da personalidade ainda desconhecidos, tornando-se mais seguro das suas potencialidades.

    Quando vamos contar um fato nosso ou um sonho, s vezes as palavras

    parecem no sarem, isso ocorre muito em uma terapia. Representar de maneira

    ldica tem dado excelentes resultados. Cria uma oportunidade de sermos mais

    livres, mais verdadeiros. Sem contar que aflora o criativo.

    Chan (2006, p. 1) enfatiza que

    A Arteterapia conscientiza as pessoas de sua essncia, e de seu poder criativo. As pessoas adoecem fsica, mental e emocionalmente quando no expressam partes de seu ser e reprimem sentimentos. A Arteterapia trabalha a compreenso e a integrao dos smbolos na mente,

  • 18

    promovendo o desenvolvimento pessoal. utilizada terapeuticamente na elaborao e resoluo de questes pessoais, nos problemas de aprendizagem, na educao como um todo, em empresas, apresentando excelentes resultados, uma vez que a pessoa constri seu prprio caminho de auto-compreenso e auto-conhecimento por meio da expresso artstica. Ela auxilia no desenvolvimento da capacidade de ser mais criativo, tanto a nvel pessoal, como tambm profissional. Conscientizando como est sendo praticada a criatividade, e como pode ser melhorada.

    Pelo exposto acima pode-se afirmar que a Arteterapia recupera a

    criatividade humana e busca estimular um psiquismo saudvel reestruturando o ser.

    Partindo do princpio, de que muitas vezes no se consegue falar de

    conflitos pessoais, a Arteterapia usa recursos artsticos para que sejam projetados e

    analisados, todos esses processos, obtendo uma melhor compreenso de si

    mesmo, e podendo ser trabalhado, no intuito de uma libertao emocional. atravs

    da expresso artstica que o homem consegue colocar seu verdadeiro self da

    maneira mais pura e direta que possa existir.

    Para mim, a arteterapia uma atividade teraputica que se ocupa em

    viabilizar a viso mais pura que se possa ter de (si mesmo). Atividade essa que se

    d em um lugar todo especial, amplo, iluminado, ao qual chamamos de atelier. No

    atelier so desenvolvidas oficinas criativar, onde so utilizados recursos artsticos

    para uma melhor expresso do Eu aqui e agora, de imagens que emergem do

    inconsciente.

    3.2 HISTRICO DA ARTETERAPIA

    De acordo com o site www.hpm.com.br/historico.html - 5k A Arteterapia tem

    sua origem na Antroposofia de Rudolf Steiner segundo o qual o Homem

    considerado um ser espiritual constitudo de alma e corpo vivo, onde atravs dos

  • 19

    elementos (cor, forma, volume, disposio espacial, etc.) na terapia artstica,

    possibilita que a pessoa vivencie os arqutipos da criao, ou seja, re-conecte-se

    com as leis que so inerentes a sua natureza, como isso, traz um contato com a

    essncia criadora de cada um. Entre 1876 a 1906, a arte era utilizada por

    criminalistas e psiquiatras para diagnstico de doenas mentais. As motivaes

    inconscientes abalaram a viso tradicional da poca. Freud, de 1906 a 1913, aponta

    a comunicao simblica como funo catrtica. A pedagogia contempornea

    instaura mtodos ativos (Decroly, Freinet, Montessori). Na dcada de XX, Jung

    comea a utilizar a arte como parte do tratamento psicoterpico; as imagens

    representavam uma simbolizao do inconsciente pessoal e muitas vezes, o

    inconsciente coletivo, decorrente da cultura humana nas diversas civilizaes, onde

    analisou culturas e mitologias. A configurao de imagens e idias anlogas

    carregadas de emoo em diferentes civilizaes foram denominadas estruturas

    arquetpicas tornando possvel compreender o comportamento individual e a

    manifestao da sociedade no tempo e espao. Este fenmeno com seus smbolos

    e arqutipos, faz parte do acervo da humanidade e recebe o nome de inconsciente

    coletivo.

    Ainda de acordo o histrico sobre arteterapia constante no site

    www.hpm.com.br/historico.html - 5k, em 1925/27, na Sua, a Dra. Ita Wegmann, o

    Dr. Steiner e na Alemanha, o Dr. Husseman prescreviam a arte como parte do

    tratamento mdico. Na dcada de 40, nos Estados Unidos, Margareth Naumburg

    sistematiza a arteterapia dando impulso ao uso das artes no processo teraputico,

    com nfase em trabalhos corporais, tendo em vista a emergncia de um pblico

    diferenciado do ps-guerra, suprindo as prticas convencionais existentes. Nesta

    poca, a arteterapia j estava sendo difundida na Europa nos hospitais gerais, em

  • 20

    comits e conferncias, sendo oficializado o curso de graduao e ps-graduao

    em 1980. No Brasil, em 1923 Osrio Csar, interno do Hospital Juquer no Rio de

    Janeiro, comea a desenvolver estudos sobre artes dos alienados. Em 1925 foi

    criada a escola livre de artes plsticas neste hospital. Nise da Silveira, em 1946,

    inclui oficinas de arte na seo de terapia ocupacional no Centro Psiquitrico

    D.Pedro II. Em 1952, criado o Museu do Inconsciente. Em 1956, Nise da Silveira

    participa do Congresso em Zurique a convite de C.G.Jung levando uma enorme

    quantidade de trabalhos dos internos. Em torno de 1970, foi ministrado o primeiro

    curso de arteterapia na PUC por um norte-americano. Nise da Silveira em 1981

    escreve seu livro "Imagens do Inconsciente". O primeiro curso de ps-graduao em

    arteterapia no Rio de Janeiro ocorreu em 1996. Em outubro de 1999, foi criada a

    Associao de Arteterapia no Rio de Janeiro.

    Em Natal o curso de Arteterapia foi trazido no ano de 19xx pela Dr. Cristina

    Dias Allessandrini. Hoje temos em Natal trs turmas concludas e uma para iniciar

    ainda esse ano. J temos uma associao dos Arteterapeutas, ASPOART, que foi

    fundada em maro de 2005.

  • 21

    Quero uma arte de equilbrio entre pensamento, emoo e ao.

    Quero a cor pura, mesmo que contaminada.

    No quero a figura revelada pela luz. Quero transfigurar pela luz.

    No quero a forma. Quero transformar.

    No quero cdigo. Quero transcodificar.

    Quero o suporte plano. Mesmo que se projete no espao.

    Quero a matria. S para transcender em esprito.

    Quero uma arte libertria. Do homem para o homem.

    Quero transitar entre a construo e a desconstruo.

    Quero transitar entre o inconsciente e o consciente.

    Neste fim de sculo,

    Quando o tempo tende a zero,

    Quero apenas a eternidade.

    1993 Odilon Cavalcanti

  • 22

    4 TRAJETRIA PESSOAL

    Eu estava em um momento sensvel e difcil, o qual necessitava da ateno

    de todos e minha tambm. Sempre me questionava sobre o que eu queria o que no

    queria, onde gostaria de estar, com quem, entre outras dvidas. Gostaria de fazer,

    conscientemente, minhas prprias escolhas, sem pensar em nada ou ningum, para

    assim ter o domnio das minhas emoes.

    Ansiava por olhar no espelho e reconhecer a imagem refletida, sendo que

    essa muitas vezes no reconhecia, nem identificava os meus sentimentos, no

    conseguindo tambm associ-lo aos acontecimentos vivenciados por mim. Eu no

    sabia olhar para mim mesma e perceber os sinais que o meu crebro enviava

    atravs do meu corpo.

    Em determinadas ocasies eu me encontrava alegre, muito alegre, e de

    repente ocorria uma mudana de humor involuntria e me tornava aptica, infeliz,

    triste, sem aparente motivo. As pessoas ao meu redor me questionavam o porqu

    da minha tristeza, eu negava estar triste, pois no sabia o motivo da minha sbita

    mudana de humor. Quando tentava encontrar as respostas, eu tentava sempre

    ach-las de fora pra dentro. Dessa forma, eu enumerava tantas coisas, mas no me

    convencia de que era uma daquelas respostas o motivo especfico da minha

    aparente infelicidade.

    Como eu estava chateada e insatisfeita com tudo, e tudo era motivo para

    reclamaes, at que um dia meu filho mais velho, Anderson que fazia um curso de

    guitarra pela OPERART (RN), me disse: mainha voc est precisando ocupar mais

    o seu tempo e deixar de pegar tanto no p da gente".

  • 23

    E certo dia ao voltar do OPERART, com um carto na mo, disse-me ligue

    para essa pessoa, e v fazer sua matrcula no curso de artes plsticas. Olha tem

    apenas uma vaga, melhor ir logo.

    E no dia seguinte fiz minha matrcula, e j fui encaminhada para o atelier de

    artes. O curso j estava em andamento, todos trabalhavam na confeco de

    mscaras. Achei tudo to interessante e logo quis participar, comecei fazendo a

    minha com tiras de jornal.

    Preparei o rosto da colega com um creme e fui molhando as tiras em uma

    mistura de gua com um pouco de cola. As tiras de papel poderiam ser de jornal ou

    revistas, cortadas com tesoura ou cuidadosamente rasgadas com a mo. Sai dali

    leve, at um pouco envaidecida da mscara que tinha feito no rosto da colega. Fui

    para casa com esse sentimento de bem estar, aps o jantar todos se aquietaram em

    suas preferncias, ainda sob o efeito de tudo que vivenciei no atelier, olhei a minha

    volta e pensei em fazer a minha mscara, reuni todo material que dispunha fui para

    o closet e diante do espelho protegi todo meu rosto com um hidratante e os cabelos

    com uma faixa, as tiras j estavam cortadas em diversos tamanhos, dessa vez

    experimentei um outro material, gaze gessada.

    Fazer a minha prpria mscara foi uma sensao muito especial, pois eu

    queria que ficasse esteticamente bonita e que todos, ao verem de pronto,

    reconhecessem que se tratava do meu rosto e percebi ou comecei a admitir que

    existiam detalhes em meu rosto que eu gostava e outros no. Cada vez que ia

    acrescentando uma tira da gaze era como se eu valorizasse os pontos que me

    agradavam alisando-os com mais prazer, e os outros pontos eu trabalhava querendo

    torn-los ou transform-los, para que me agradassem.

    E assim se passaram dois meses, das mscaras passamos para outros

  • 24

    trabalhos e era tudo muito interessante, ramos um grupo aproximadamente de

    doze pessoas, todas mulheres, mais a facilitadora Ftima Fernandes.

    Eu procurava no faltar para no perder a minha vaga. Mas tinha dias que

    eu no me sentia muito disposta e pensava em faltar, entretanto reunia foras e l

    estava eu, naquele atelier com as mesmas colegas, porm, sempre com assuntos

    diferentes e fui percebendo o quanto era bom estar ali trocando idias com pessoas

    to diferentes. Como eu, tinham seus altos e baixos, e procuravam de alguma

    maneira ajuda umas nas outras, ao falarem de seus temores, mgoas e outros

    sentimentos. A faixa etria era bem variada, casadas, solteiras, separadas e at

    vivas. Para mim tudo aquilo era muito novo, pois desde adolescente falei muito

    pouco das minhas preferncias e menos ainda dos meus sentimentos. Apesar de

    muito sapeca e de ter tido uma infncia at onde me lembro dita como normal,

    convivi em um universo pequeno e fechado, a censura l em casa funcionava. Dei

    muito trabalho para minha querida me Arline mulher forte, trabalhadora, submissa

    aos filhos e marido. Muito suportou calada no me lembro de t-la visto chorando.

    Arline, mulher bonita que gosta de cantar danar e beber vinho. Lembro quando eu

    era pequena e ela gostava de trocar receitas de licor de jenipapo com sua vizinha e

    comadre D. Maria de Barros, boas lembranas trago da minha infncia. Mas ao

    crescer passei a perceber aspectos que no consegui aceitar e sofria ao ver minha

    me silenciar, e eu pensava no aceitarei tal situao, nem de filhos nem de

    marido. Hoje minha me com seus setenta e um anos de idade ainda me

    surpreende com tanta disposio, alegria e sabedoria, quer seja falando ou

    simplesmente, quando silencia. Ouvir os relatos at certo ponto pessoais das

    amigas no atelier me remetia a lembranas da minha vida. E passei a achar

    interessante desempenhar o papel de observadora quando possvel fazia um

  • 25

    comentrio aqui outro acol, porm bastante comedidos. Suscitado um outro tipo de

    inquietao. Por que naqueles momentos ramos to nostlgicas? Tinha haver com

    o dia, o local, a facilitadora ou os materiais manuseados? E que algo estava se

    dando naqueles encontros e dilogos, mesmo no sabendo explicar percebia a

    transformao em mim e nas outras colegas. O desejo de entender mais, observar e

    at de investigar logo ficou bvio.

    Ento resolvi que iria fazer uma especializao, e para minha surpresa a

    coordenadora do curso de artes plsticas Gorethe entra na sala e distribui uns

    panfletos da UNP, onde falava dos cursos de Ps-Graduao, e dirigindo-se a mim

    dizendo: - Ldia voc iria se dar muito bem fazendo o curso de Arteterapia. A

    inteno j existia, mas para o curso de Psicopedagogia. Fiz a entrevista,

    apresentei a documentao e paguei a matrcula. Fiquei aguardando o incio do

    curso que seria nos prximos trinta dias.

    Eu estava to ansiosa que comecei a tirar do fundo do ba meus livros de

    pedagogia, porm para minha tristeza uma pessoa por nome Roberta me informa

    que o curso foi adiado por mais trinta dias. Tudo bem, o que se h de fazer.

    Enquanto aguardava essa longa espera continuei fazendo meus cursos de artes

    plsticas que eu adorava, pois l descobri o quo talentosa eu era. E a Gorethe e a

    Ftima Fernandes sempre dizendo: que pena que voc no vai fazer arteterapia.

    O telefone toca e quem era? Ela mesma a Roberta adiando mais uma vez e

    a j no fiquei to calma e perguntei o porqu de tantos adiamentos e qual seria

    realmente a data de incio do curso. Ela me respondeu que a turma s poderia

    comear com no mnimo trinta e cinco alunos e s tinha vinte e poucos, que se eu

    quisesse a UNP devolveria a matrcula que eu havia pagado. Disse-me tambm que

    um outro curso estaria comeando na semana seguinte e perguntou se eu no me

  • 26

    interessava em faz-lo. A princpio disse que no. Depois pensei melhor e resolvi

    perguntar qual era o curso, ARTETERAPIA. Respondi que no, pois no tinha

    nada a ver com a minha formao, ou ao forte desejo que estava sentindo naquele

    momento de retomar ao mundo da educao.

    Fiquei inquieta, pois j estava eufrica pela iminncia da oportunidade de

    voltar a produzir, de reviver aqueles movimentos de faculdade.

    Novas amizades, naquele momento, era tudo o que eu queria e precisava.

    Pois sinto que ficou incompleta a minha primeira grande obra, pois mesmo me

    formando em pedagogia no exerci a profisso de pedagoga, atuei sempre na rea

    de indstria. Dessa forma acredito que a Ps-graduao ser uma forma de retomar

    minha grande obra e voltar a atuar na minha verdadeira vocao.

    No dia seguinte fui at a UNP, procurei por Roberta que at ento s a

    conhecia por telefone, me apresentei e pedi para ver a programao do curso de

    arteterapia, eu queria saber os temas que seriam abordados, quem eram os

    ministrantes. Ela que com seu jeito meigo colaborou no que pode, me mostrou a

    ementa do curso anterior, perguntei se poderia levar para casa para analisar melhor,

    disse-me que no era possvel, pois todo ano tinha alteraes, ajustes e que eu iria

    gostar muito do curso.

    Sem querer pensar ou esperar mais, fui a UNP e sem mais delonga solicitei

    a minha transferncia de um curso para o outro. E aqui estou traando minha

    trajetria pessoal para dar incio monografia.

    Pois o que houve naquela poca foi uma inverso de ordem de

    acontecimentos obra e vocao. Casei, constitui famlia, tive trs filhos perfeitos,

    lindos, maravilhosos, respondes e teimosos. Estou sempre perguntando a minha

    me, a quem saram?

  • 27

    Hoje para minha satisfao esto todos na universidade, dando os primeiros

    passos talvez para as primeiras de algumas de suas obras. Estou sempre torcendo

    e apoiando suas escolhas, e repetindo sem dvidas inconscientemente modelos

    arcaicos que meus pais receberam dos meus avs, que passaram para mim e aos

    meus oitos irmos.

    Todo esse processo de transformao no qual me encontro h bastante

    tempo, foi escolha exclusiva minha.

    No importa se temos uma, duas ou mais opes. Temos que responder

    pelas nossas escolhas.

    Depois de fazer uma retrospectiva da minha descoberta e relao com a

    arteterapia surgiu a necessidade e oportunidade por ocasio do curso de Ps-

    Graduao Curso de Especializao em Arteterapia, de elaborar meu primeiro

    projeto, onde atuei como arteterapeuta em formao. O ttulo que dei ao projeto teve

    a ver com o pblico alvo e o objetivo ao qual me destinei em atingir, que ser o

    prximo passo que descreverei a seguir.

  • 28

    5 PROJETO

    A instituio que escolhi foi a ADOTE, por ter ouvido falar no maravilhoso

    trabalho desenvolvido por parte de seus administradores e profissionais.

    Associao de Orientao aos Deficientes - ADOTE uma instituio

    filantrpica, sem fins lucrativos, fundada em 1982, com sede prpria, situada rua:

    Aracati, 30 Cidade da Esperana, Natal/RN CEP. 59.025-003.

    Reconhecida de utilidade publica federal, estadual e municipal, inscrita no

    conselho nacional de assistncia social. Mantm a escola Madre Fitzbach, de

    educao infantil, 1 e 2 ciclos (1 a 4 series), funcionando Av. Sul, 02, no

    mesmo bairro.

    A ADOTE, valoriza a pessoa portadora de deficincia em Natal e grande

    Natal, promovendo a assistncia integral, atravs de atendimento nas reas de

    sade, educao, reabilitao, esporte, cultura, lazer e trabalho. Tem tambm um

    atendimento de transporte que pega seus clientes em suas residncias e deixa na

    instituio, para tanto cobrando apenas uma simblica taxa. Muitas so as

    atividades desenvolvidas pela ADOTE, todas devidamente acompanhadas por

    profissionais reconhecidamente qualificados.

    * Apoio pedaggico

    * Oficinas de arte, dana e do corpo

    * Brinquedoteca

    * Psicopedagogia

    * Psicologia

    * Natao teraputica

  • 29

    * Hidroterapia

    * Estimulao

    * Fisioterapia

    * Servio social

    * Terapia ocupacional

    * Arteterapia

    * Odontologia

    * Fonoaudiologia

    * Recreao

    * Capoeira

    A ADOTE tambm valoriza a incluso da sua clientela no contexto social,

    dessa forma vivenciando o calendrio letivo com suas datas festivas, natal, carnaval,

    pscoa, So Joo, dia das mes, dos pais, das crianas e outros. Acontecimentos

    esses em que h uma verdadeira interao entre os que fazem instituio, os

    clientes e seus cuidadores. O que de saldo resulta uma grande fora e um s

    propsito a troca e doao de energias positivas em forma de ateno, dedicao e

    carinho, que se d nesse movimento to peculiar a ns seres humanos.

    A metodologia que utilizei foram as oficinas criativar realizadas semanalmente

    com durao de uma hora e trinta minutos visando: Promover a preveno e a

    sade psquica e fsica, facilitar o contato e o desenvolvimento de potenciais da

    personalidade, a inteligncia emocional, a criatividade, a motivao, a auto-estima, a

    capacidade relacional tendo como meta qualidade de vida de nossos clientes. O

    pblico alvo: Clientes com seqelas de AVC. Faixa etria: todos acima de trinta

    anos, ambos os sexos. Tive um total de trinta e cinco encontros sendo 1h. 30m

    atendimento no atelier e 1h para elaborao dos relatrios perfazendo um total de

  • 30

    2h. 30m, uma vez por semana. Apresentei o projeto, que aps ser apreciado e

    aprovado pela instituio, dei incio no dia 09/03/2005 e o trmino em 09/11/2005.

    As oficinas eram normalmente gravadas e fotografadas passo a passo, para que

    isso fosse possvel, foi necessrio pedir por escrito autorizao de todos os clientes

    e a instituio. Nos relatrios entregues semanal e bimestralmente inclumos fotos e

    depoimentos, e para preserva-lhes a identidade dei-lhes nomes fictcios.

    Fia com 70 anos,

    Pio com 73 anos,

    Jove com 75 anos,

    Igi com 61 anos,

    Bob com 60 anos,

    Lo com 50 anos,

    Titio com 30 anos.

    5.1 ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (AVC): O QUE FAZER DIANTE DO

    DERRAME

    O acidente vascular cerebral (AVC), conhecido popularmente por derrame

    cerebral, uma doena sria que pode causar seqelas irreversveis se a pessoa

    no for atendida rapidamente. Conhea suas causas, formas de tratamento e

    reabilitao. (http://www.entreamigos.com.br/dicas/dicas.html).

  • 31

    5.2 O QUE AVC

    O acidente vascular cerebral (AVC) caracterizado pela leso no crebro

    causada por um "acidente" em um dos vasos sangneos que irrigam a regio

    cerebral. Pode ocorrer por um entupimento desses vasos, impedindo a circulao

    sangnea, caracterizando o "AVC isqumico", ou, ainda, um vaso sangneo pode

    se romper provocando um sangramento no crebro. Nesse caso, a denominao

    "AVC hemorrgico". (http://www.entreamigos.com.br/dicas/dicas.html).

    5.3 O QUE PROVOCA

    O AVC pode ser causado por vrias doenas, mas tambm existem fatores

    de risco. Os mais comuns para os tipos isqumicos so presso alta, diabetes,

    doenas cardacas e taxas de colesterol e triglicrides altas. Pode acometer pessoas

    fumantes. No caso do AVC hemorrgico, os fatores que o ocasionam so: a presso

    alta, distrbios de coagulao e, eventualmente, a presena de aneurisma cerebral

    (dilatao das paredes de artrias ou veias), que congnito (a pessoa nasce com

    ele). (http://www.entreamigos.com.br/dicas/dicas.html).

  • 32

    5.4 QUAIS OS SINTOMAS

    Os sintomas do AVC dependem da parte do crebro que foi lesada. Em geral,

    pode haver dificuldade na fala e nos movimentos ou alteraes na viso.

    Formigamento ou fraqueza em uma das partes do corpo tambm comum, alm de

    dor de cabea repentina. Estes sintomas so os mais comuns e podem at ter

    relao com outro problema, mas a recomendao que a pessoa procure

    imediatamente um hospital. (http://www.entreamigos.com.br/dicas/dicas.html).

    5.5 SEQELAS

    O AVC, em geral, deixa seqelas que so mais ou menos graves,

    dependendo da rea do crebro afetada e do tempo que o paciente levou para ser

    atendido. As mais comuns so paralisia total ou parcial (de um lado do corpo, pode

    ser esquerdo ou direito); a alterao da fala, tanto no que diz respeito a expresso,

    quanto na compreenso; alteraes visuais, dificuldades que podem atingir um lado

    do campo esquerdo ou direito e alteraes de memria.

    (http://www.entreamigos.com.br/dicas/dicas.html).

  • 33

    5.6 TRATAMENTO

    A pessoa que sofre AVC isqumico deve procurar imediatamente um mdico

    neurologista para prescrio de medicamentos apropriados para dissolver os

    cogulos, causado por entupimento de vaso, para que o sangue volte a circular

    normalmente na regio cerebral atingida. (http://www.entreamigos.com.br/

    dicas/dicas.html).

    5.7 REABILITAO

    A reabilitao de quem sofre AVC importante no tratamento, passado o

    momento agudo do acidente. Existem vrias formas de reabilitao e sua aplicao

    vai depender do tipo de comprometimento neurolgico que a pessoa tiver. Por

    exemplo, no comprometimento motor, h intervenes fisioterpicas de vrias

    naturezas. Se o paciente tiver alterao na fala, a Fonoaudiologia pode ser

    recomendada. Outros tipos de distrbios neuropsicolgicos, por exemplo, distrbio

    de ateno, podem ser reabilitados com tratamentos neuropsicolgicos. Existem

    recursos e reabilitao em vrias esferas. Somente um especialista pode prescrever

    o melhor tratamento e a reabilitao adequados para cada caso.

    (http://www.entreamigos.com.br/dicas/dicas.html).

  • 34

    5.8 FAIXAS ETRIAS ATINGIDAS

    O AVC atinge todas as faixas etrias, sendo raro na infncia. mais

    freqente nas pessoas acima de 45 anos. H isquemias relacionadas com os

    pacientes que tm diabetes e hipertenso arterial, mas existem outros fatores de

    risco que so comuns em pacientes mais jovens, como os sangramentos cerebrais

    por aneurisma, que podem acontecer entre a terceira e quarta dcadas da vida. H

    tambm casos de AVC causados por uso de plula anticoncepcional ou consumo de

    drogas. (http://www.entreamigos.com.br/dicas/dicas.html).

  • 35

    6 ESTUDO DE CASOS.

    Simbolismo Minhas idias abstratas, De tanto as tocar, tornaram-se concretas: So rosa familiares Que o tempo traz ao alcance da mo, Rosas que assistem inaugurao de eras novas No meu pensamento, No meu pensamento do mundo em mim e nos outros: De eras novas, mas ainda assim Que o tempo conheceu, conhece e conhecer. Rosas! Rosas! Quem me dera que houvesse Rosas abstratas para mim. (Murilo Mendes, Poesia dos anos 40).

    http://www.usp.br/revistausp/n2/25seis.html

    Vou apresentar dois estudo de casos onde utilizei tcnicas de arteterapia

    em um espao de atelier teraputico j existente na ADOTE. L tive o privilgio de

    atuar como arteterapeuta em formao com um grupo fixo de cinco clientes todos

    portadores de seqelas de AVC, e a cada atendimento me surpreendi com a

    coragem que aos poucos eles foram construindo, a partir de um novo olhar ao qual

    eles se permitiram, fazendo uso da arteterapia, dentro de um atelier artstico onde

    cada resultado ali esboado trazia o DNA de seu criador.

    Desse resultado surgiu tal como fnix a minha monografia, a qual tenho o

    prazer de partilhar com todos aqueles que se sentirem desejosos de conhecerem

    um pouco mais do sentir e do agir de um indivduo que passou por uma

    transformao como a que atravessou esse grupo o qual tive o prazer de

    acompanhar.

    Cada caso que acompanhei me trouxe a alegria de participar das

    descobertas vivenciadas por eles passo a passo semanalmente. Assim sendo foi

    muito difcil fazer a escolha de apenas dois dos cinco clientes, para desenvolver meu

    estudo de caso e apresentar na monografia. No houve aqui critrio de importncia,

  • 36

    escolhi a nica mulher do grupo e o cliente que mais respondeu ao usar os materiais

    expressivos. Primeiras impresses ao chegar ao grupo.

    FIA (70)

    Quieta, tranqila, quase sem movimento. Sua maior queixa: a dificuldade

    que passou a ter em se locomover, dependia muito das filhas (o) e genro.

    Possuidora de muita criatividade trabalhava com ateno e dedicao,

    desenhava, coloria, pintava entre outras atividades, mas sempre reclamava das

    suas produes, dizendo:

    - No sei fazer.

    - no sei desenhar, nunca fui ao jardim de infncia.

    - Que coisa feia.

    - No fui eu quem fez isso.

    Nos encontros, o papel do facilitador imprescindvel, pois alm de conduzir

    o processo a partir da chegada dos clientes ao atelier at a concluso de cada tarde,

    ele tambm tem que desenvolver o papel de observador, ficando atento s reaes,

    as expresses, aos sentimentos que emergem de cada participante ali presente,

    afim de que possamos avaliar o que de bom e curativo, esse ou aquele material

    pode oferecer a cada cliente e a cada caso em particular. No caso da FIA, as suas

    queixas e desconfortos eram muito claras. No aceitava aquela vida dependente

    que estava levando. Envelhecer, solitria e sem sade, era muito difcil de aceitar.

    Estava sempre fazendo comparaes e lembrando do tempo em que podia fazer de

    tudo sem precisar da ajuda de ningum. Hoje no faz quase nada sozinha, no pode

    sair de casa, fazer uma viagem, cuidar da casa. Diz at que no tem mais sade e

    disposio para fazer seus trabalhos manuais que tanto gostava de fazer antes do

  • 37

    AVC. Nas nossas tardes no atelier ela se revelava sempre com esses mesmos

    relatos. Mas com a sucesso dos encontros, pude perceber que houve muita

    transformao em seu comportamento. Ela passou a assumir o papel de lder

    quando necessrio nas atividades de grupo, recortando papel, escolhendo ttulos

    para as produes e at sugerindo como deveria ser a sensibilizao. s vezes se

    arriscava em dar um conselho a um dos participantes quando estava triste. Percebi

    tambm uma mudana fsica. Mais preocupada com a aparncia, cabelos mais

    arrumados, unhas e sobrancelhas. Passou a se queixar menos, na realidade tudo o

    que ela queria era ser compreendida, ser ouvida, ser produtiva. Na medida em que

    foi encontrando e criando esse espao e compreendendo que poderia ressignificar

    aqueles incmodos, tudo foi ficando mais leve, mais agradvel e ela deixou de ser o

    centro das prprias queixas, e passou a ver um pouco mais alm.

    Expresso verbal de algumas de suas produes feitas no atelier durante

    atendimento:

    - sou como a ma, nem sou doce demais nem amarga demais.

    Confeco do crach.

    - Estou com vontade de morar no abrigo. Pintura a dedo em azulejo.

    - estou cansada e com sono. Textura.

    - vejo uma estrela. Dinmica do barbante.

    - ... essa a minha casa. A primeira casa, o primeiro amor, o primeiro filho,

    o primeiro automvel, a primeira viagem. Registrar fases da vida...

    atravs da percepo criativa, mais do que qualquer outra coisa, que o

    indivduo, sente que a vida digna de ser vivida. (WINNICOTT, 1975 p.95).

    Tomando como base as produes que nascem de suas prprias mos e

    vem tona carregada de muito sentimento revelador, e que algumas vezes vem

  • 38

    acompanhada de uma fala espontnea que estava l dentro, talvez quem saiba

    sufocada guardada a sete chaves. Mas naquele momento de exploso onde tudo

    parece brincadeira ou pura descontrao acontece o processo de auto-

    conhecimento de si mesmo.

    Entrar em contato com seu passado, sua histria, com seus medos, a partir

    dessa descoberta que se d quando aflora o nosso lado criador algo indescritvel,

    que s quem se permite trilhar esses caminhos poder descrever.

    Em contraste, existe um relacionamento de submisso com a realidade externa, onde o mundo em todos os seus pormenores reconhecido apenas como algo a que ajustar-se ou a exigir adaptao. A submisso trs consigo um sentimento de inutilidade e est associada idia de que nada importa e de que no vale a pena viver a vida. Muitos indivduos experimentaram suficientemente o viver criativo para reconhecer, de maneira tantalizante, a forma no criativa pela qual esto vivendo, como se estivessem presos criatividade de outrem, ou de uma mquina. (WINNICOTT. 1975 p. 95).

    Nesses encontros buscamos respostas para essas questes existncias

    experimentando o criativo se permitindo fazer escolhas, sem se preocupar em

    agradar ou copiar um modelo pr-estabelecido, experimentar o novo ou renovar o

    usual. Precisamos nos permitir a trilhar esse caminho, de descobertas e

    transformaes, e fazer as nossas escolhas, dessa forma nos livraremos das

    correntes que arrastamos por algum tempo antes que percebssemos que somos

    capazes de lanar mo da nossa criatividade, valorizar um novo vocabulrio, uma

    nova maneira de expresso: Eu sou capaz. Eu posso, quero e vou fazer.

    Renovar a crena em ns mesmas, para amadurecer com sabedoria e se

    redescobrir a cada dia com luz, cor e alegria.

    Essas so algumas expresses de fechamento de alguns encontros:

    - muita saudade da minha filha. 06/05.

    - So Gonalo do Amarante. 06/05.

    - Saudade 06/05.

  • 39

    - Saudade. 08/05.

    - Amizade meu vizinho. 08/05.

    - Saudades. 08/05.

    TITIO (30)

    Teve AVC aos 25 anos.

    No atelier uma pessoa passiva que respondia bem as propostas, tmido,

    falava pouco e com bastante dificuldade, esquecia as palavras e gaguejava.

    Algumas vezes j chegava com algum tipo de incmodo: sono, raiva, tristeza.

    Esse foi o quadro por ele apresentou nos quatro primeiros encontros.

    Nos encontros seguintes j percebamos algumas, ainda que tmida,

    indicaes de mudana, como: falava um pouco mais, sorria, pedia ajuda e interagia

    com o grupo e as Arteterapeutas. E as mudanas no pararam por a. No quarto

    ms de encontros aproximadamente, trabalhamos com ele um material muito

    expressivo, o BARRO, e o saldo foram produes que vinham acompanhadas de

    muitos sentimentos, dos quais ele j no suportava mais reprim-los. E houve

    momentos que percebamos o seu desejo de falar, mas ele se negava. Em outros

    momentos percebamos que queria falar e no encontrava oportunidade. Algumas

    vezes era preciso que, como arteterapeuta, no papel de observadora e viabilizadora

    de todo aquele processo, eu acalmasse um pouco os nimos do grupo, dando

    oportunidade aos que tinham menos facilidade de se fazer ouvido. Essas situaes

    s vezes se apresentam e necessrio que estejamos atentas, para que o cliente

    no deixe de dar continuidade a um processo que j se iniciou dentro dele, evitando

    assim um sentimento de impotncia frente ao grupo, e podendo at haver uma

    desistncia de permanncia por se sentir rejeitado ou ignorado.

  • 40

    11/05/05

    Nesse dia trabalhvamos com a confeco do crach, ele se representou

    com uma flor.

    Titio chegou um pouco atrasado, j havamos iniciado a oficina, estava muito

    eufrico, trazia na mochila um CD do grupo Tits, pediu que colocssemos para

    tocar. Assim que a msica comeou a tocar ele era s felicidade, comeou a se

    balanar, contagiando todo o grupo, que ficou a olhar aquele homem de trinta anos

    feliz como um garoto que acaba de ganhar um brinquedo. E o clima aptico inicial

    em que alguns se encontravam foi se transformando em algo mais ameno. Ao

    concluir o seu crach Titio falou que a flor dele representava a msica que estava

    tocando dos Tits e disse quando estava com muito dio, como estava naquele

    momento s ouvido msica flor e que conseguia se acalmar. Disse ainda:

    quando eu odeio pode ser quem for at a minha me. Gosto dela, mas ela l e eu

    aqui, no conversamos muito. Terminou sua expresso verbal dizendo: socorro

    vocs me ajudem. Foi um momento muito forte o que dizer diante daquele desabafo

    seguido de um pedido de socorro. Porm em tudo isso h algo que no pode deixar

    de ser mencionado, o fato de que ele tomou conhecimento de seu incomodo e que

    dentro do seu mundo encontrou e entendeu que poderia lidar com aquela situao,

    Transitar por diferentes linguagens expressivas, que no apenas a verbal possibilita a amplido do campo de conflito, como o efeito de uma lente de aumento. Muitas vezes sabemos que algo nos incomoda, mas no sabemos exatamente o que ou ficamos aprisionados em uma nica forma de ver a questo. Pintar, desenhar, modelar, danar etc. dentro de um contexto teraputico, possibilita a compreenso e representao dos prprios processos, bem como a integrao destas descobertas num todo maior. (ALLESSANDRINI, 1999, p.155).

    Trabalhar com esse cliente foi um grande desafio, pois o AVC, no deixou

    apenas seqelas fsica e mental. A sua vida mudou por completo e ele tem como

    certo a necessidade de aprender tudo outra vez. Ao acordar do coma como se o

    cho lhe faltasse, perdeu amigos e companheira. Parece que o que restou foram

  • 41

    questes de ordem pessoal que no eram bem entendidas, e uma constante

    sensao de abandono. Mas entrar em contato com seus medos, sombras trouxe

    para uma dimenso bem superficial a necessidade de encontrar respostas, para

    ressignificar toda aquela dura realidade.

    Olhei at ficar cansado De ver os meus olhos no espelho Chorei por ter despedaado As flores que esto no canteiro Os punhos e os pulsos cortados E o resto do meu corpo inteiro H flores cobrindo o telhado E embaixo do meu travesseiro H flores por todos os lados H flores em tudo que eu vejo A dor vai curar essas lstimas O soro tem gosto de lgrimas As flores tm cheiro de morte A dor vai fechar esses cortes Flores Flores As flores de plstico no morrem Flores Flores As flores de plstico no morrem (TitsComposio: Tony Bellotto / Srgio Britto /Charles Gavin / Paulo Miklos 1989)

    26/10/05

    muito difcil para ele aceitar essa nova realidade, reclama do pouco

    resultado obtido pelo tratamento e medicamentos. Sentisse injustiado pela vida, e

    me pergunta: Por que eu? Acha que os outros do grupo tem uma resposta maior e

    mais rpida. Eu que estou no papel de observadora no vejo assim. Ele uma

    pessoa extremamente sensvel, se entrega proposta como poucos e consegui

    emergir contedos muito fortes, percebo que isso tem haver com o desejo de se

    conhecer, de se permitir na busca de uma transformao.

    Nessa tarde levei para o grupo a histria de uma lagarta que lamenta a sua

    falta de sorte em no ter nascido borboleta... E um belo dia uma borboleta que

    passava por ali, ao escutar a lamentao da lagarta, parou e disse-lhe que tambm

  • 42

    havia sido uma lagarta e que se transformou em borboleta depois de ter passado

    algum tempo num casulo. (SILVA, 2003 p.83). Em seguida sugeri que ele se

    imaginasse como uma lagarta e percebessem: - Como estava o seu corpo? Esse

    corpo que te acompanha em todas as jornadas te amparando e compartilhando de

    tantas emoes s vezes boas s vezes nem to boas. Mostrando sua produo a

    todo grupo disse:

    -Meu corpo... Preto.

    - pssimo...

    -Derrame...

    Tornei a perguntar: E esse corpo, como ele ? Tem movimento? Apontando

    para o desenho e diz: ele agora esta se abrindo.

    Ele desenhou um corpo preto, e circulou esse corpo com quatro linhas

    fechadas, uma de cada cor: laranja, azul, rosa e verde, e disse que cada crculo

    representava um amigo da arteterapia.

    O atelier teraputico um lugar Sagrado de encontro e desencontro, de fazer

    amigos. L tudo permissvel, l todos tem a oportunidade de receber e oferecer um

    ombro amigo um lugar para se fazer reflexes e ressignificar.

    Ciampa (1998), apud Fabietti (2004, p. 25) autor que dedicou seus estudos

    reviso da noo de identidade, afirma que a identidade metamorfose, ou seja,

    um processo permanente de formao e transformao.

    A palavra metamorfose, segundo Ferreira (1999), um substantivo que pode

    significar transformao de um ser em outro: mudana de forma e de estrutura que

    ocorre na vida de certos animais, como os insetos e os batrquios e, no sentido

    figurativo, como mudana notvel na fortuna, no estado, no carter de uma pessoa.

  • 43

    Assim, e no contexto deste trabalho, a identidade pensada como algo em

    movimento.

    Fabietti (2004, p. 25), diz ainda que: a arte foi o combustvel que alimentou a

    mente e a vontade do cliente em atendimento, em obter novas respostas, de superar

    restries e de conquistar um espao para expressar seus anseios e vontades.

    Ao trmino desse encontro o TITIO encerra com uma palavra de fechamento

    Amor e ao se levantar pela primeira vez toma a iniciativa de abraar todo o grupo

    inclusive as arteterapeutas. Foi um momento muito especial, pois ele j havia

    revelado que tem dificuldade de se deixar tocar.

    Palavras de Fechamento:

    Tempo bom 13/07.

    Renata 03/08.

    No sei... 24/08.

    Paz 14/09.

    Amor 04/10.

    Amor 26/10.

    Em ARTETERAPIA temos mos traando linhas, traando fios, riscando o ar, o papel, a areia, a gua, pressionando o barro, dando indicaes definindo rumos. Mos em mudras, preces e rituais, mos geradoras de personagens no teatro de sombras, mos ativas marcando ritmos, mos em concha prontas a receber, mos ferramentas de muitos bordados, delicadas tramas de afetos, desejos e emoes. (PHILIPPINI, 2001 p. 68).

    No atelier arteteraputico em contato com o material expressivo que se d o

    setting, onde arteterapeuta e cliente se conectam naquela atmosfera de criao,

    dando forma aos sentimentos, sonhos, desejos e fantasias. Quando um cliente usa

    suas mo (marcada pelo avc) como ferramenta e transforma uma poro de barro

    em uma pea, e a descreve como R, e diz odeio R, pois ela me abandonou,

  • 44

    percebo que houve um dilogo durante o fazer artstico e que esse dio no

    necessariamente um sentimento feio ou perigoso.

    surpreendente e emocionante escutar os relatos e perceber as (re) descobertas que cada uma faz de si mesma. A dificuldade da massa dura despertou vrios sentimentos como raiva, desafio, vontade de desistir, tentativa de fuga da situao presente do aqui e agora, percepo dos seus prprios limites (ALLESSANDRINI, 1999, p.152).

    Titio nos conta que gostou muito de trabalhar com o barro. Que quando

    estava de olhos fechados dialogando com o barro lembrava de muitas coisas de sua

    vida, Morro Branco o bairro onde passou toda sua infncia, com muita sade jogava

    bola, subia nas dunas, tinha muitos amigos. Esse contato trouxe a tona lembranas

    agradveis e outras no. Fez algumas figuras abstratas e outras, que trazia-lhe

    lembranas forte como a desempoladera lembrei do nome dele, mau pai, eles no

    tinham uma boa relao, presenciou agresses por parte do pai a sua me. Mais

    quando a pea estava pronta perguntou se podia levar para dar de presente ao pai.

    E a figura abstrata daria a sua me. Durante todo tempo que estivemos juntos s

    agora que ele demonstrou alguma forma de amor pelo pai. Trabalhar com o barro,

    a gua dando formas (fazendo, desfazendo e re-fazendo), como quem d vida.

    Aquele toque era como se ele estivesse entrando em contato com seus medos e

    mgoas, e ao molhar o barro para facilitar aquela difcil moldagem, ele ressignificava

    na tentativa de tornar o seu mundo melhor.

  • 45

    7 CONSIDERAES FINAIS

    Meu encontro com a arteterapia se deu h aproximadamente trs anos

    atrs. EU me encontrava no pice da maior crise existencial que tenho lembrana,

    onde os assuntos em minha mente resolveram dar o famoso primeiro passo para

    uma revoluo interior.

    Hoje digo com toda tranqilidade: acomodei, porque entendi que quando

    entramos nessa crise, porque de alguma maneira negligenciamos com ns

    mesmos, no ouvindo a nossa voz interior e os sintomas expressos pelo nosso

    corpo. Dessa forma deixando de existir espao para fluir de maneira natural os

    acontecimentos que todo indivduo experimenta ao longo de sua vida. Muitas vezes

    no apenas resolver, e sim entend-los. Entender o que ocasionou, e saber se os

    estragos ficam por ali ou se ainda tende a piorar.

    Estar disponvel para ns mesmos dar um mergulho para dentro do nosso

    EU, e perceber no s aquilo que est presente em nossa conscincia, mas

    tambm o que por ventura emergi do nosso inconsciente e at o que possa estar

    margeando a nossa pr-conscincia.

    Isso posto, senti o desejo de dividir todo esse achado, e eleger um pequeno

    gro de areia que necessitasse dessa luz que conduz aos caminhos que a

    arteterapia tm a oferecer. E para minha total realizao chego ao final desse relato

    com a certeza de que os resultados foram comprovados a cada atendimento, onde

    os clientes ao realizarem suas produes artsticas, estavam revelando-se autores

    de seu mundo interior, trazendo para seu mundo externo as imagens acessadas

    com o auxilio de materiais expressivos por eles escolhidos na hora de fazer uso.

  • 46

    A arteterapia com toda essa abrangncia quebra regras e posturas

    castradoras, quando aflora no indivduo o desejo de se permitir ser e ousar vos

    mais altos ou rasantes. com muito cuidado e respeito s limitaes do cliente que

    busca uma alternativa nova para os velhos desconfortos, que o arteterapeuta tem

    um papel fundamental de facilitador desse processo to difcil.

    Sim, no restam dvidas que seja difcil se perceber depois de tantos anos

    adormecido, onde o passado sempre falar mais alto, e o amanh que o

    desconhecido por certo sempre assusta.

    A arteterapia tem um papel muito interessante e importante que o de dar

    uma sacudidela em nossa vida, e depois nos convidar a arrum-la: trocando,

    mudando, transformando, reinventado.

    O ato criativo sustentado pela capacidade que o indivduo tem para

    simbolizar e dar significado aquilo que experienciou. A capacidade de simbolizar

    um atributo inerente ao animal racional.

    Ao realizar ou esboar uma imagem pictrica ao manusear materiais dando

    concretude a um fazer, seu autor produz uma ao.

    Carvalho et al (1995, p.25): afirma que:

    Arteterapia como a rea de terapias expressivas, abrangendo todas as modalidades de uso de recursos artsticos, expresso plstica, dana teatro, expresso potica, expresso corporal, dentro de um processo teraputico. A arteterapia no possui uma teoria e metodologia prpria, sendo necessrio ao Arteterapeuta lanar mo de uma teoria, assim como de sua prpria criatividade, intuio e habilidade de expresso artstica, para delinear seus procedimentos no processo teraputico. O meu referencial terico a Abordagem Centrada na Pessoa, que se fundamenta no Humanismo.

    Conservar-se em uma atitude de vigilncia cncio aniquila o elo entre o

    sofrimento e o processo do pensamento, e acelera o processo de transformao.

    como se o sofrimento se tornasse uma substncia para aclarar a conscincia,

    resultando em uma luz mais irradiante. Se perceber por inteiro e se deixar cicatrizar

  • 47

    transformando o sofrimento em aprendizado nos torna pessoas mais fortes diante

    das adversidades da vida. Reconhecer o que sofrimento, aceite que ele esteja ali,

    como quem espreita algo para entender e enfrentar. Perceba no s o sofrimento

    mais o seu potencial criativo e transformador, para ressignificar sempre que

    entender que o melhor para voc.

  • 48

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ALLESSANDRINI, C. D. Tramas criadoras na construo do ser si mesmo. So Paulo: Casa do Psiclogo, 1999.

    BRASIL, Cludia. Disponvel em: . Acesso em: 11/02/06.

    CARVALHO, M.M.M.J de. et.al A Arte Cura? Campinas: Editorial Psy II, 1995.

    CHAN, Glria. Arteterapia: Harmonia com Arte. Disponvel em: . Acesso em: 12/02/06.

    FABIETTI, Deolinda M. C. F. Arteterapia e envelhecimento. So Paulo: Casa do Psiclogo, 2004.

    FERGUSON, Marilyn. A conspirao aquariana. 10. ed. Rio de Janeiro: Record, 1995.

    FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda. Dicionrio Aurlio eletrnico sculo XXI. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

    CAVALCANTI, Odilon. Atelier. Disponvel em: . Acesso em: 13/06/2006.

    Acidente vascular cerebral: o que fazer diante do derrame. Texto extrado do Jornal da AME-Associao Metrovirios dos Excepcionais, ANO IV - no. 23 - setembro de 2000. Disponvel em: . Acesso em: 12/02/06.

    Histrico Arteterapia. Disponvel em: Acesso em: 12/02/06.

    MENDES, Murilo. Idias rosas. Disponvel em: Acesso em: 12/02/06.

    PHILIPPINE, ngela. Cartografia da coragem: rotas em arteterapia. 2. ed. Rio de Janeiro: Pomar, 2001.

    SILVA, Maria Salete de A. LIMA, Wilma R.J. Para que minha famlia se transforme. Campinas: Verus Editora, 2003.

    WINNICOTT, DW. O Brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.