ARTETERAPIA
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UNP UNIVERSIDADE POTIGUAR ALQUIMY ART
PR-REITORIA DE PESQUISA E PS-GRADUAO CURSO DE ESPECIALIZAO EM ARTETERAPIA
LDIA ALVES HEITOR SILVA
ARTETERAPIA,
UMA ALTERNATIVA PARA RESSIGNIFICAR
NATAL 2006
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LDIA ALVES HEITOR SILVA
ARTETERAPIA,
UMA ALTERNATIVA PARA RESSIGNIFICAR
Monografia apresentada Universidade Potiguar-RN e a Alquimy Art, de So Paulo como parte dos requisitos para a obteno do ttulo de Especialista em Arteterapia. Orientadora: Maria dos Prazeres da Silva.
NATAL/RN 2006
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S586a Silva, Ldia Alves Heitor.
Arteterapia: uma alternativa para ressignificar / Ldia Alves
Heitor Silva. Natal, 2006.
48f.
Monografia (Especializao em Arteterapia) Universidade
Potiguar. Pr-Reitoria de Pesquisa e Ps-Graduao.
1. Arteterapia Monografia. 2. Transformao Monografia. 3. Auto-expresso Monografia. I. Ttulo.
RN/UNP/BCFP CDU:37.015.3(043)
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LDIA ALVES HEITOR SILVA
ARTETERAPIA,
UMA ALTERNATIVA PARA RESSIGNIFICAR
Monografia apresentada Universidade Potiguar-RN e a Alquimy Art, de So Paulo como parte dos requisitos para a obteno do ttulo de Especialista em Arteterapia.
APROVADO EM ____/_____/________ BANCA EXAMINADORA __________________________________________________ Att. Maria dos Prazes Perreira da Silva __________________________________________________ Dra. Cristina Dias Allessandrini __________________________________________________ Prof. MsC. Deolinda Florim Fabietti
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Dedico todo esse meu processo, que se iniciou em 16 de novembro de 1961 at os dias de hoje. No que tenha concludo, e sim por ter chegado at aqui. A meus pais, Luiz Jos Heitor e Arline Alves de Almeida, que so as pessoas mais presentes e constantes em minha vida, mesmo quando separados pela distncia. A cada dia percebo com mais clareza esse vnculo to forte e to singular. (12/2005)
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AGRADECIMENTOS
Agradeo a todos que diretamente ou indiretamente participaram de todo
esse processo pelo qual ainda hoje estou a trilhar: meus pais que escolhi e que
ainda hoje meu maior referencial LUIZ HEITOR E ARLINE, meu marido
companheiro e amigo JAERTON JOS.
Meus filhos que no dia-a-dia deram-me fora e inspirao para nunca desistir
ANDERSON, ARETHA e AMAURY JR.
Aos mestres queridos que repassaram seus conhecimentos com dedicao
mostrando que a jornada do saber, infinita.
Aos meus primeiros clientes, que com muita garra se permitiram acreditar em
meu projeto Arteterapia, uma alternativa para ressignificar.
Desse modo ressignificando todo um propsito inicial, ao me matricular no
curso de Especializao de Arteterapia, quando na realidade pensei inicialmente em
fazer Psicopedagogia.
Para finalizar agradeo as amizades sinceras que colhi nesse jardim de artes
terapeutas, dentre elas em especial a Rosa, o Girassol, a Violeta e as Margaridas e
as arteterapeutas formadas nas primeiras turmas, que tm sido exemplo de
dedicao nessa nova especializao.
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O primeiro dever do homem em sociedade de ser til aos membros dela; e cada um deve, segundo as suas foras fsicas ou morais, administrar, em benefcio da mesma, os conhecimentos, ou talentos, que a natureza, a arte ou a educao lhe prestou. O indivduo, que abrange o bem geral duma sociedade, vem a ser o membro mais distinto dela; as luzes, que ele espalha, tiram das trevas, ou da iluso, aqueles, que a ignorncia precipitou no labirinto da apatia, da inpcia e do engano.
(Hiplito Jos da Costa, 1808).
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RESUMO
ARTETERAPIA, UMA ALTERNATIVA PARA RESSIGNIFICAR.
Objetiva este estudo interligar subsdios terico-prticos relativos ao emprego da modalidade expressiva - construo em Arteterapia junto a idosos que passaram por um processo de Acidente Vascular Cerebral (AVC), com o intuito de auxiliar esta clientela em seu processo natural de desenvolvimento. Trata-se de um estudo descritivo e exploratrio, com enfoque qualitativo. A anlise dos dados se baseia na mudana de comportamento dos idosos durante o perodo estudado levando-se em considerao todos os conceitos semelhantes ao que diz respeito auto-expresso. a arte ilimitada unida ao processo teraputico, que transforma a Arteterapia em uma tcnica especial resgatando o potencial criativo do homem, buscando a psique saudvel e estimulando a autonomia e transformao interna, para reestruturao do ser. Esse estudo ainda parte do princpio, de que muitas vezes no se consegue falar de conflitos pessoais, a Arteterapia possui recursos artsticos para que sejam projetados e analisados, todos esses processos, obtendo uma melhor compreenso de si mesmo, e podendo ser trabalhado no intuito de uma libertao emocional. Sendo portando o principal propsito mostrar que a Arteterapia pode trazer subsdios aos indivduos que busquem transformar seu modo de pensar, ser, estar e agir diante de todas as situaes.
Palavras Chaves: Arteterapia. Transformao. Auto-expresso.
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ABSTRACT
ART THERAPY, AN ALTERNATIVE FOR TRANSFORMATION.
This study aims at to interconnect relative theoretical-practical subsidies to the job of the expressive modality - construction in Art therapy close to senior that passed for a process of Cerebral Vascular Accident (AVC), with the intention of aiding this clientele in this natural process of development. It is a descriptive and exploratory study, with qualitative focus. The analysis of the data if it bases on the change of the seniors' behavior during the studied period being taken into account all of the concepts similar to the that concerns the self-expression. It is the limitless art united to the therapeutic process, that it transforms Art therapy in a special technique rescuing the man's creative potential, looking for the healthy psyche and stimulating the autonomy and transformation interns, for the being's restructuring. That study still part of the beginning, that a lot of times she don't get to speak of personal conflicts, Art therapy possesses artistic resources so that they are projected and analyzed, all those processes, obtaining a better understanding of himself, and could be worked in the intention of an emotional liberation. Being carrying the main purpose to show that the Art therapy can bring subsidies to the individuals that look for to transform way of thinking, to be, to be and to act before all of the situations.
Key Words: Art therapy. Transformation. Self-expression.
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SUMRIO
1 INTRODUO................................................................................................. 10
2 ARTETERAPIA, UMA ALTERNATIVA PARA RESSIGNIFICAR................... 13
3 ARTETERAPIA................................................................................................ 17
3.1 CONCEITUANDO ARTETERAPIA............................................................... 17
3.2 HISTRICO DA ARTETERAPIA................................................................... 18
4 TRAJETRIA PESSOAL................................................................................ 22
5 PROJETO........................................................................................................ 28
5.1 ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (AVC): O QUE FAZER DIANTE DO
DERRAME..........................................................................................................
30
5.2 O QUE AVC............................................................................................... 31
5.3 O QUE PROVOCA........................................................................................ 31
5.4 QUAIS OS SINTOMAS................................................................................. 32
5.5 SEQELAS................................................................................................... 32
5.6 TRATAMENTO.............................................................................................. 33
5.7 REABILITAO............................................................................................ 33
5.8 FAIXAS ETRIAS ATINGIDAS..................................................................... 34
6 ESTUDO DE CASOS.................................................................................... 35 7 CONSIDERAES FINAIS............................................................................. 45
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS................................................................... 48
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1 INTRODUO
Na ARTETERAPIA conheci os fascinantes mundos coloridos, flexveis,
plsticos e multiformes e de infinitos caminhos, prontos para nos levar a uma viagem
a qualquer dos nossos hemisfrios em nosso consciente e inconsciente.
Na vida nem sempre os acontecimentos se do ao nosso bel prazer. Mas
eles esto a, e s nos resta duas alternativas: transform-los para uma melhor
convivncia ou cruzar os braos e se dar por vencido e aceitar sem se perguntar se
posso mudar algo. Ficando na mesmice, e obscuridade dos movimentos circulantes
do existir por existir.
Ferguson (1980, pg. 276) afirma que:
... recebendo informaes, integrando-as, usando-as. O educando aluno transforma o estmulo, ordenando-o e tornando a orden-lo, criando coerncia. Sua viso continuamente ampliada para incorporar o que novo. De tempos em tempos, rompe-se e reformulada, como na aquisio de novas e importantes habilidades e conceitos: aprender a caminhar, falar, ler, nadar ou escrever; aprender uma lngua estrangeira ou geometria. Cada um desses eventos um tipo de mudana de paradigma. Uma modificao do aprendizado precedida por uma tenso cuja intensidade obedece a uma sucesso: inquietao, excitao, tenso criativa, confuso, ansiedade, angstia, medo.
meu propsito mostrar os benefcios que a arteterapia pode trazer aos
indivduos que busquem ressignificar seu modo de pensar, estar, ser, ou agir diante
de situaes excepcionais e at mesmo corriqueiras.
O ttulo que escolhi de uma sugestibilidade inconteste Arteterapia, uma
Alternativa Para Ressignificar. Ressignificar o qu? Por qu? Como? Esses
questionamentos esto fervilhando em minha mente, e quando no d mais para
calar, pensei, chegada hora de compreender, refletir e acomodar de forma a
ordenar, ou seja, arrumando essas inquietaes, como quem arruma gavetas de um
armrio, qui da nossa prpria baguna mental. Mesmo que para isso seja preciso
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fazer uma reviravolta interior, olhar para dentro self e se enxergar como quem est
diante de um espelho sem temer a imagem refletida. Antes, porm, aceitar,
compreender e acolher essa imagem tal como ela se apresenta.
Esses questionamentos sero respondidos ao longo de todo um processo,
que se dar em uma longa jornada, que ir sendo traada de forma branda e
espontnea, onde cada passo significa crescimento, amadurecimento, confiana
em si, no arteterapeuta e no grupo. Essa caminhada poder ser feita em grupo ou
individual. Especificamente neste caso trabalhei com um grupo de cinco clientes.
Desse grupo, escolhi dois para apresentar como estudo de caso.
O que busquei alcanar ao fim de todo esse estudo, pesquisa e observao
do processo por eles experimentado, foi que cada cliente tomasse conscincia de si
mesmo, e dessa forma se fazendo autnomo para fazer suas prprias escolhas e
gerir sua prpria vida, sendo um indivduo pr-ativo.
A arteterapia ir atuar em conjunto com outras reas da sade e terapias
afins, onde uma complementar a outra. E esse processo nunca cessar, pois em
quanto vida houver, o SER humano dever sempre buscar SER e ESTAR, cada
vez melhor consigo e com o outro.
No desenvolvimento da minha monografia apresento situaes aonde a
arteterapia ressignifica a vida desses clientes, e que por mais difcil que tenha sido a
situao que eles atravessaram, quando esto em uma sala de um atelier
teraputico interagindo com materiais expressivos, h uma comunicao, antes
imperceptvel, efeito salutar provocado pela conscientizao de uma lembrana
fortemente emocional e ou traumtica, at ento reprimida.
Acredito que esse caminho foi aberto para uns. Para outros que j se
encontravam na caminhada dei minha participao. Estive dentro do possvel de
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mos dadas com eles em seus primeiros passos. Este trabalho foi realizado no
mbito da Associao de Orientao aos Deficientes (ADOTE) e como essa
instituio j trabalha seus clientes dentro de uma viso arteterapeutica, fico
satisfeita em saber que a caminhada ir prosseguir.
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2 ARTETERAPIA, UMA ALTERNATIVA PARA RESSIGNIFICAR.
Escolhi esse ttulo que tem como objeto de estudo, indivduos que se
encontram em situaes inesperadas, sejam no pessoal ou profissional, pois nunca
nos preparamos para o caos.
Certamente me incluo nesse percentual que por essas ou aquelas
mudanas indesejveis comprometemos a nossa vida e a vida das pessoas que
esto ao nosso redor. Pois esse fato novo que chega sem pedir permisso e sem
consultar se queremos ou estamos preparados para aceit-lo. Ele simplesmente se
instaura e pronto. E quando essas mudanas ou fatos ocorrem observamos que
nem sempre fcil de identificar, aceitar e menos ainda enfrentar esse intruso em
nossa vida.
Perceber sozinho a conexo causa e efeito nem sempre nos possvel,
muitas vezes necessitamos da ajuda de um profissional que com habilidade e
conhecimento nos ajuda nesse processo de descobertas, reflexo, negao e
transformaes, quando possvel e at se for o caso aceitar aquela mudana de
forma mais branda.
A arteterapia atravs de seus mecanismos leva o cliente a se observar no
s de fora para dentro, como tambm de dentro para fora. Essa prtica tem haver
com uma deciso mais a frente, onde nos vemos obrigados por foras externas a ter
essa viso do todo de ns mesmos.
No fica por a essa falta de conhecimento sobre ns mesmos. O que
queremos e o que sentimos, o que nos incomoda, so questes que no fomos
ensinados a perceber, e menos ainda de express-los, acarretando muitas vezes
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danos em nossos relacionamentos, visto que quase sempre temos no inconsciente a
raiz de nossos conflitos que se manifestam como: medo, ansiedade, tristeza,
incerteza, alta baixa estima e outros tipos de desconforto.
A arteterapia traz esse olhar humanizado, harmnico e que nos acolhe com
suas muitas formas e maneiras ao abrir a nossa frente um leque de informaes que
acessamos do nosso inconsciente.
Vivenciamos esse processo de auto-conhecimento em um Atelier
Teraputico, espao voltado para realizao de oficinas (expresses livres), onde
sero utilizadas modalidades expressivas diversas como (desenhos, pinturas,
colagens, dramatizao, danas, contao de histria) entre outras vivncias.
O arteterapeuta ser o facilitador que conduzir o cliente nesse processo
que tem como objetivo acessar e estimular o potencial criativo e relacional, de todo
aquele que busque esse caminho de cura existencial. Tendo em vista a sade e a
qualidade de vida, acessando contedos expressivos do inconsciente e at mesmo
do consciente por vezes sabotado por ns mesmos.
Todo esse processo trilhado em suas mltiplas vivncias afasta por
completo as questes de ordem esttica. Ao arteterapeuta no cabe a funo de
interpretar, julgar ou qualificar as produes que surgem durante um atendimento,
se for da vontade do cliente em partilhar o processo anterior e ou durante a
produo, esse o far dando o seu real significado.
Quando fui apresentada a Arteterapia, para minha surpresa eu j me
encontrava nesse processo de busca e conhecimento, ainda que sem o
embasamento terico.
Philippini (2001 p. 13) afirma que:
Arteterapia, um lugar de encontros e desencontros, onde conceituar torna-se uma rdua tarefa. (...) As atividades artsticas utilizadas, configuraro uma produo simblica, concretizada em inmeras possibilidades
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plsticas, diversas formas, cores volumes, etc. Esta materialidade permite o confronto e gradualmente a atribuio de significados s informaes provenientes de nveis muito profundos da psique, que pouco a pouco sero apreendidas pela conscincia.
Poder repassar esses conhecimentos na pele de uma arteterapeuta, a
minha meta, por acreditar que possvel ressignificar atravs do mergulho no self.
O compromisso de um arteterapeuta no maior ou menor que o de
nenhum outro profissional. Responsabilidade, compromisso, respeito dedicao e
tica profissional com o cliente e demais profissionais so aspectos que devem
sempre estar presentes nessa relao.
A viso do bem comum despida de preconceitos, ou rtulos, buscando
sempre o melhor para aqueles que depositam em ns confiana e expem seus
conflitos, medos e fantasmas, por acreditarem que ao contrrio de mostrar a
soluo, podemos em conjunto trilhar uma rota com vrias possibilidades, onde
antes s existia o caos.
A arteterapia tem uma fora transformadora muito grande, visto que ela se
alia as outras reas do conhecimento como: psicologia, psiquiatria, pedagogia, artes,
desenvolvendo trabalhos co-participativos, visando a melhoria de vida do indivduo.
A arteterapia, uma alternativa para ressignificar, para mim a viso mais
completa que eu consegui filtrar de tudo que estudei, pesquisei, li, e observei no
estgio com meus clientes com seqelas de Acidente Vascular Cerebral (AVC), e
ainda experincias extra universidade chegando para tanto a esse tema, e tendo
como objeto de estudo um campo muito amplo, ou seja, todo e qualquer indivduo
que busque se conhecer melhor, assumindo seus medos, fantasmas, sombras, e
toda sorte de sentimento.
Elaborar o projeto para a ADOTE, no foi por acaso, busquei realmente pr
em prtica, todo esse conhecimento adquirido com um pblico que tenho como
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muito especial. Desde muito cedo tenho uma ateno muito particular pelas
crianas e os idosos.
Nesse momento trabalhar com o idoso foi o que falou mais alto, e tocou
mais forte em meu corao. E assim elaborei o meu primeiro projeto que teve como
ttulo o mesmo que adotei para minha monografia, Arteterapia, uma alternativa para
ressignificar, ttulo esse que foi ficando cada vez mais claro e justificado ao passo
que aconteciam os encontros e os indcios de mudanas eram comprovados.
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3 ARTETERAPIA
3.1 CONCEITUANDO ARTETERAPIA
Fabietti (2004, p. 15) afirma que:
A arteterapia vem auxiliando muitos profissionais da sade e da educao nas tarefas de compreenso e elaborao de alguns dos contedos emocionais que, presentes em todas as etapas da vida, ganham contornos singulares na velhice. Em que pesem suas diversas linhas e correntes, o que tipifica a arteterapia o fato de ela oferecer subsdios para que os sujeitos desenvolvam, durante o processo, um olhar que permita a adoo de novas posturas e a ressignificao da vida, dedicando-se construo de uma existncia mais gratificante.
A arteterapia abre um espao j existente, porm esquecido, que de nos
permitir reinventar de maneira mais prazerosa momentos por ns j vividos, sem que
tenhamos tirado deles a real essncia. Por medo ou tabu.
- O que a Arteterapia?
Arteterapia, segundo Claudia Brasil, in http://www.cest.edu.br/noticia8.htm.
uma atividade teraputica que utiliza as tcnicas expressivas como veculo facilitador de liberao dos contedos inconscientes. Atravs das artes plsticas, msica, dana, dramatizao, poesia e outras modalidades artsticas o indivduo tem acesso aos aspectos seus antes adormecidos. Dessa forma pode-se interagir com faces da personalidade ainda desconhecidos, tornando-se mais seguro das suas potencialidades.
Quando vamos contar um fato nosso ou um sonho, s vezes as palavras
parecem no sarem, isso ocorre muito em uma terapia. Representar de maneira
ldica tem dado excelentes resultados. Cria uma oportunidade de sermos mais
livres, mais verdadeiros. Sem contar que aflora o criativo.
Chan (2006, p. 1) enfatiza que
A Arteterapia conscientiza as pessoas de sua essncia, e de seu poder criativo. As pessoas adoecem fsica, mental e emocionalmente quando no expressam partes de seu ser e reprimem sentimentos. A Arteterapia trabalha a compreenso e a integrao dos smbolos na mente,
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promovendo o desenvolvimento pessoal. utilizada terapeuticamente na elaborao e resoluo de questes pessoais, nos problemas de aprendizagem, na educao como um todo, em empresas, apresentando excelentes resultados, uma vez que a pessoa constri seu prprio caminho de auto-compreenso e auto-conhecimento por meio da expresso artstica. Ela auxilia no desenvolvimento da capacidade de ser mais criativo, tanto a nvel pessoal, como tambm profissional. Conscientizando como est sendo praticada a criatividade, e como pode ser melhorada.
Pelo exposto acima pode-se afirmar que a Arteterapia recupera a
criatividade humana e busca estimular um psiquismo saudvel reestruturando o ser.
Partindo do princpio, de que muitas vezes no se consegue falar de
conflitos pessoais, a Arteterapia usa recursos artsticos para que sejam projetados e
analisados, todos esses processos, obtendo uma melhor compreenso de si
mesmo, e podendo ser trabalhado, no intuito de uma libertao emocional. atravs
da expresso artstica que o homem consegue colocar seu verdadeiro self da
maneira mais pura e direta que possa existir.
Para mim, a arteterapia uma atividade teraputica que se ocupa em
viabilizar a viso mais pura que se possa ter de (si mesmo). Atividade essa que se
d em um lugar todo especial, amplo, iluminado, ao qual chamamos de atelier. No
atelier so desenvolvidas oficinas criativar, onde so utilizados recursos artsticos
para uma melhor expresso do Eu aqui e agora, de imagens que emergem do
inconsciente.
3.2 HISTRICO DA ARTETERAPIA
De acordo com o site www.hpm.com.br/historico.html - 5k A Arteterapia tem
sua origem na Antroposofia de Rudolf Steiner segundo o qual o Homem
considerado um ser espiritual constitudo de alma e corpo vivo, onde atravs dos
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elementos (cor, forma, volume, disposio espacial, etc.) na terapia artstica,
possibilita que a pessoa vivencie os arqutipos da criao, ou seja, re-conecte-se
com as leis que so inerentes a sua natureza, como isso, traz um contato com a
essncia criadora de cada um. Entre 1876 a 1906, a arte era utilizada por
criminalistas e psiquiatras para diagnstico de doenas mentais. As motivaes
inconscientes abalaram a viso tradicional da poca. Freud, de 1906 a 1913, aponta
a comunicao simblica como funo catrtica. A pedagogia contempornea
instaura mtodos ativos (Decroly, Freinet, Montessori). Na dcada de XX, Jung
comea a utilizar a arte como parte do tratamento psicoterpico; as imagens
representavam uma simbolizao do inconsciente pessoal e muitas vezes, o
inconsciente coletivo, decorrente da cultura humana nas diversas civilizaes, onde
analisou culturas e mitologias. A configurao de imagens e idias anlogas
carregadas de emoo em diferentes civilizaes foram denominadas estruturas
arquetpicas tornando possvel compreender o comportamento individual e a
manifestao da sociedade no tempo e espao. Este fenmeno com seus smbolos
e arqutipos, faz parte do acervo da humanidade e recebe o nome de inconsciente
coletivo.
Ainda de acordo o histrico sobre arteterapia constante no site
www.hpm.com.br/historico.html - 5k, em 1925/27, na Sua, a Dra. Ita Wegmann, o
Dr. Steiner e na Alemanha, o Dr. Husseman prescreviam a arte como parte do
tratamento mdico. Na dcada de 40, nos Estados Unidos, Margareth Naumburg
sistematiza a arteterapia dando impulso ao uso das artes no processo teraputico,
com nfase em trabalhos corporais, tendo em vista a emergncia de um pblico
diferenciado do ps-guerra, suprindo as prticas convencionais existentes. Nesta
poca, a arteterapia j estava sendo difundida na Europa nos hospitais gerais, em
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comits e conferncias, sendo oficializado o curso de graduao e ps-graduao
em 1980. No Brasil, em 1923 Osrio Csar, interno do Hospital Juquer no Rio de
Janeiro, comea a desenvolver estudos sobre artes dos alienados. Em 1925 foi
criada a escola livre de artes plsticas neste hospital. Nise da Silveira, em 1946,
inclui oficinas de arte na seo de terapia ocupacional no Centro Psiquitrico
D.Pedro II. Em 1952, criado o Museu do Inconsciente. Em 1956, Nise da Silveira
participa do Congresso em Zurique a convite de C.G.Jung levando uma enorme
quantidade de trabalhos dos internos. Em torno de 1970, foi ministrado o primeiro
curso de arteterapia na PUC por um norte-americano. Nise da Silveira em 1981
escreve seu livro "Imagens do Inconsciente". O primeiro curso de ps-graduao em
arteterapia no Rio de Janeiro ocorreu em 1996. Em outubro de 1999, foi criada a
Associao de Arteterapia no Rio de Janeiro.
Em Natal o curso de Arteterapia foi trazido no ano de 19xx pela Dr. Cristina
Dias Allessandrini. Hoje temos em Natal trs turmas concludas e uma para iniciar
ainda esse ano. J temos uma associao dos Arteterapeutas, ASPOART, que foi
fundada em maro de 2005.
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Quero uma arte de equilbrio entre pensamento, emoo e ao.
Quero a cor pura, mesmo que contaminada.
No quero a figura revelada pela luz. Quero transfigurar pela luz.
No quero a forma. Quero transformar.
No quero cdigo. Quero transcodificar.
Quero o suporte plano. Mesmo que se projete no espao.
Quero a matria. S para transcender em esprito.
Quero uma arte libertria. Do homem para o homem.
Quero transitar entre a construo e a desconstruo.
Quero transitar entre o inconsciente e o consciente.
Neste fim de sculo,
Quando o tempo tende a zero,
Quero apenas a eternidade.
1993 Odilon Cavalcanti
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4 TRAJETRIA PESSOAL
Eu estava em um momento sensvel e difcil, o qual necessitava da ateno
de todos e minha tambm. Sempre me questionava sobre o que eu queria o que no
queria, onde gostaria de estar, com quem, entre outras dvidas. Gostaria de fazer,
conscientemente, minhas prprias escolhas, sem pensar em nada ou ningum, para
assim ter o domnio das minhas emoes.
Ansiava por olhar no espelho e reconhecer a imagem refletida, sendo que
essa muitas vezes no reconhecia, nem identificava os meus sentimentos, no
conseguindo tambm associ-lo aos acontecimentos vivenciados por mim. Eu no
sabia olhar para mim mesma e perceber os sinais que o meu crebro enviava
atravs do meu corpo.
Em determinadas ocasies eu me encontrava alegre, muito alegre, e de
repente ocorria uma mudana de humor involuntria e me tornava aptica, infeliz,
triste, sem aparente motivo. As pessoas ao meu redor me questionavam o porqu
da minha tristeza, eu negava estar triste, pois no sabia o motivo da minha sbita
mudana de humor. Quando tentava encontrar as respostas, eu tentava sempre
ach-las de fora pra dentro. Dessa forma, eu enumerava tantas coisas, mas no me
convencia de que era uma daquelas respostas o motivo especfico da minha
aparente infelicidade.
Como eu estava chateada e insatisfeita com tudo, e tudo era motivo para
reclamaes, at que um dia meu filho mais velho, Anderson que fazia um curso de
guitarra pela OPERART (RN), me disse: mainha voc est precisando ocupar mais
o seu tempo e deixar de pegar tanto no p da gente".
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E certo dia ao voltar do OPERART, com um carto na mo, disse-me ligue
para essa pessoa, e v fazer sua matrcula no curso de artes plsticas. Olha tem
apenas uma vaga, melhor ir logo.
E no dia seguinte fiz minha matrcula, e j fui encaminhada para o atelier de
artes. O curso j estava em andamento, todos trabalhavam na confeco de
mscaras. Achei tudo to interessante e logo quis participar, comecei fazendo a
minha com tiras de jornal.
Preparei o rosto da colega com um creme e fui molhando as tiras em uma
mistura de gua com um pouco de cola. As tiras de papel poderiam ser de jornal ou
revistas, cortadas com tesoura ou cuidadosamente rasgadas com a mo. Sai dali
leve, at um pouco envaidecida da mscara que tinha feito no rosto da colega. Fui
para casa com esse sentimento de bem estar, aps o jantar todos se aquietaram em
suas preferncias, ainda sob o efeito de tudo que vivenciei no atelier, olhei a minha
volta e pensei em fazer a minha mscara, reuni todo material que dispunha fui para
o closet e diante do espelho protegi todo meu rosto com um hidratante e os cabelos
com uma faixa, as tiras j estavam cortadas em diversos tamanhos, dessa vez
experimentei um outro material, gaze gessada.
Fazer a minha prpria mscara foi uma sensao muito especial, pois eu
queria que ficasse esteticamente bonita e que todos, ao verem de pronto,
reconhecessem que se tratava do meu rosto e percebi ou comecei a admitir que
existiam detalhes em meu rosto que eu gostava e outros no. Cada vez que ia
acrescentando uma tira da gaze era como se eu valorizasse os pontos que me
agradavam alisando-os com mais prazer, e os outros pontos eu trabalhava querendo
torn-los ou transform-los, para que me agradassem.
E assim se passaram dois meses, das mscaras passamos para outros
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trabalhos e era tudo muito interessante, ramos um grupo aproximadamente de
doze pessoas, todas mulheres, mais a facilitadora Ftima Fernandes.
Eu procurava no faltar para no perder a minha vaga. Mas tinha dias que
eu no me sentia muito disposta e pensava em faltar, entretanto reunia foras e l
estava eu, naquele atelier com as mesmas colegas, porm, sempre com assuntos
diferentes e fui percebendo o quanto era bom estar ali trocando idias com pessoas
to diferentes. Como eu, tinham seus altos e baixos, e procuravam de alguma
maneira ajuda umas nas outras, ao falarem de seus temores, mgoas e outros
sentimentos. A faixa etria era bem variada, casadas, solteiras, separadas e at
vivas. Para mim tudo aquilo era muito novo, pois desde adolescente falei muito
pouco das minhas preferncias e menos ainda dos meus sentimentos. Apesar de
muito sapeca e de ter tido uma infncia at onde me lembro dita como normal,
convivi em um universo pequeno e fechado, a censura l em casa funcionava. Dei
muito trabalho para minha querida me Arline mulher forte, trabalhadora, submissa
aos filhos e marido. Muito suportou calada no me lembro de t-la visto chorando.
Arline, mulher bonita que gosta de cantar danar e beber vinho. Lembro quando eu
era pequena e ela gostava de trocar receitas de licor de jenipapo com sua vizinha e
comadre D. Maria de Barros, boas lembranas trago da minha infncia. Mas ao
crescer passei a perceber aspectos que no consegui aceitar e sofria ao ver minha
me silenciar, e eu pensava no aceitarei tal situao, nem de filhos nem de
marido. Hoje minha me com seus setenta e um anos de idade ainda me
surpreende com tanta disposio, alegria e sabedoria, quer seja falando ou
simplesmente, quando silencia. Ouvir os relatos at certo ponto pessoais das
amigas no atelier me remetia a lembranas da minha vida. E passei a achar
interessante desempenhar o papel de observadora quando possvel fazia um
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comentrio aqui outro acol, porm bastante comedidos. Suscitado um outro tipo de
inquietao. Por que naqueles momentos ramos to nostlgicas? Tinha haver com
o dia, o local, a facilitadora ou os materiais manuseados? E que algo estava se
dando naqueles encontros e dilogos, mesmo no sabendo explicar percebia a
transformao em mim e nas outras colegas. O desejo de entender mais, observar e
at de investigar logo ficou bvio.
Ento resolvi que iria fazer uma especializao, e para minha surpresa a
coordenadora do curso de artes plsticas Gorethe entra na sala e distribui uns
panfletos da UNP, onde falava dos cursos de Ps-Graduao, e dirigindo-se a mim
dizendo: - Ldia voc iria se dar muito bem fazendo o curso de Arteterapia. A
inteno j existia, mas para o curso de Psicopedagogia. Fiz a entrevista,
apresentei a documentao e paguei a matrcula. Fiquei aguardando o incio do
curso que seria nos prximos trinta dias.
Eu estava to ansiosa que comecei a tirar do fundo do ba meus livros de
pedagogia, porm para minha tristeza uma pessoa por nome Roberta me informa
que o curso foi adiado por mais trinta dias. Tudo bem, o que se h de fazer.
Enquanto aguardava essa longa espera continuei fazendo meus cursos de artes
plsticas que eu adorava, pois l descobri o quo talentosa eu era. E a Gorethe e a
Ftima Fernandes sempre dizendo: que pena que voc no vai fazer arteterapia.
O telefone toca e quem era? Ela mesma a Roberta adiando mais uma vez e
a j no fiquei to calma e perguntei o porqu de tantos adiamentos e qual seria
realmente a data de incio do curso. Ela me respondeu que a turma s poderia
comear com no mnimo trinta e cinco alunos e s tinha vinte e poucos, que se eu
quisesse a UNP devolveria a matrcula que eu havia pagado. Disse-me tambm que
um outro curso estaria comeando na semana seguinte e perguntou se eu no me
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interessava em faz-lo. A princpio disse que no. Depois pensei melhor e resolvi
perguntar qual era o curso, ARTETERAPIA. Respondi que no, pois no tinha
nada a ver com a minha formao, ou ao forte desejo que estava sentindo naquele
momento de retomar ao mundo da educao.
Fiquei inquieta, pois j estava eufrica pela iminncia da oportunidade de
voltar a produzir, de reviver aqueles movimentos de faculdade.
Novas amizades, naquele momento, era tudo o que eu queria e precisava.
Pois sinto que ficou incompleta a minha primeira grande obra, pois mesmo me
formando em pedagogia no exerci a profisso de pedagoga, atuei sempre na rea
de indstria. Dessa forma acredito que a Ps-graduao ser uma forma de retomar
minha grande obra e voltar a atuar na minha verdadeira vocao.
No dia seguinte fui at a UNP, procurei por Roberta que at ento s a
conhecia por telefone, me apresentei e pedi para ver a programao do curso de
arteterapia, eu queria saber os temas que seriam abordados, quem eram os
ministrantes. Ela que com seu jeito meigo colaborou no que pode, me mostrou a
ementa do curso anterior, perguntei se poderia levar para casa para analisar melhor,
disse-me que no era possvel, pois todo ano tinha alteraes, ajustes e que eu iria
gostar muito do curso.
Sem querer pensar ou esperar mais, fui a UNP e sem mais delonga solicitei
a minha transferncia de um curso para o outro. E aqui estou traando minha
trajetria pessoal para dar incio monografia.
Pois o que houve naquela poca foi uma inverso de ordem de
acontecimentos obra e vocao. Casei, constitui famlia, tive trs filhos perfeitos,
lindos, maravilhosos, respondes e teimosos. Estou sempre perguntando a minha
me, a quem saram?
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Hoje para minha satisfao esto todos na universidade, dando os primeiros
passos talvez para as primeiras de algumas de suas obras. Estou sempre torcendo
e apoiando suas escolhas, e repetindo sem dvidas inconscientemente modelos
arcaicos que meus pais receberam dos meus avs, que passaram para mim e aos
meus oitos irmos.
Todo esse processo de transformao no qual me encontro h bastante
tempo, foi escolha exclusiva minha.
No importa se temos uma, duas ou mais opes. Temos que responder
pelas nossas escolhas.
Depois de fazer uma retrospectiva da minha descoberta e relao com a
arteterapia surgiu a necessidade e oportunidade por ocasio do curso de Ps-
Graduao Curso de Especializao em Arteterapia, de elaborar meu primeiro
projeto, onde atuei como arteterapeuta em formao. O ttulo que dei ao projeto teve
a ver com o pblico alvo e o objetivo ao qual me destinei em atingir, que ser o
prximo passo que descreverei a seguir.
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5 PROJETO
A instituio que escolhi foi a ADOTE, por ter ouvido falar no maravilhoso
trabalho desenvolvido por parte de seus administradores e profissionais.
Associao de Orientao aos Deficientes - ADOTE uma instituio
filantrpica, sem fins lucrativos, fundada em 1982, com sede prpria, situada rua:
Aracati, 30 Cidade da Esperana, Natal/RN CEP. 59.025-003.
Reconhecida de utilidade publica federal, estadual e municipal, inscrita no
conselho nacional de assistncia social. Mantm a escola Madre Fitzbach, de
educao infantil, 1 e 2 ciclos (1 a 4 series), funcionando Av. Sul, 02, no
mesmo bairro.
A ADOTE, valoriza a pessoa portadora de deficincia em Natal e grande
Natal, promovendo a assistncia integral, atravs de atendimento nas reas de
sade, educao, reabilitao, esporte, cultura, lazer e trabalho. Tem tambm um
atendimento de transporte que pega seus clientes em suas residncias e deixa na
instituio, para tanto cobrando apenas uma simblica taxa. Muitas so as
atividades desenvolvidas pela ADOTE, todas devidamente acompanhadas por
profissionais reconhecidamente qualificados.
* Apoio pedaggico
* Oficinas de arte, dana e do corpo
* Brinquedoteca
* Psicopedagogia
* Psicologia
* Natao teraputica
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* Hidroterapia
* Estimulao
* Fisioterapia
* Servio social
* Terapia ocupacional
* Arteterapia
* Odontologia
* Fonoaudiologia
* Recreao
* Capoeira
A ADOTE tambm valoriza a incluso da sua clientela no contexto social,
dessa forma vivenciando o calendrio letivo com suas datas festivas, natal, carnaval,
pscoa, So Joo, dia das mes, dos pais, das crianas e outros. Acontecimentos
esses em que h uma verdadeira interao entre os que fazem instituio, os
clientes e seus cuidadores. O que de saldo resulta uma grande fora e um s
propsito a troca e doao de energias positivas em forma de ateno, dedicao e
carinho, que se d nesse movimento to peculiar a ns seres humanos.
A metodologia que utilizei foram as oficinas criativar realizadas semanalmente
com durao de uma hora e trinta minutos visando: Promover a preveno e a
sade psquica e fsica, facilitar o contato e o desenvolvimento de potenciais da
personalidade, a inteligncia emocional, a criatividade, a motivao, a auto-estima, a
capacidade relacional tendo como meta qualidade de vida de nossos clientes. O
pblico alvo: Clientes com seqelas de AVC. Faixa etria: todos acima de trinta
anos, ambos os sexos. Tive um total de trinta e cinco encontros sendo 1h. 30m
atendimento no atelier e 1h para elaborao dos relatrios perfazendo um total de
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2h. 30m, uma vez por semana. Apresentei o projeto, que aps ser apreciado e
aprovado pela instituio, dei incio no dia 09/03/2005 e o trmino em 09/11/2005.
As oficinas eram normalmente gravadas e fotografadas passo a passo, para que
isso fosse possvel, foi necessrio pedir por escrito autorizao de todos os clientes
e a instituio. Nos relatrios entregues semanal e bimestralmente inclumos fotos e
depoimentos, e para preserva-lhes a identidade dei-lhes nomes fictcios.
Fia com 70 anos,
Pio com 73 anos,
Jove com 75 anos,
Igi com 61 anos,
Bob com 60 anos,
Lo com 50 anos,
Titio com 30 anos.
5.1 ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (AVC): O QUE FAZER DIANTE DO
DERRAME
O acidente vascular cerebral (AVC), conhecido popularmente por derrame
cerebral, uma doena sria que pode causar seqelas irreversveis se a pessoa
no for atendida rapidamente. Conhea suas causas, formas de tratamento e
reabilitao. (http://www.entreamigos.com.br/dicas/dicas.html).
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5.2 O QUE AVC
O acidente vascular cerebral (AVC) caracterizado pela leso no crebro
causada por um "acidente" em um dos vasos sangneos que irrigam a regio
cerebral. Pode ocorrer por um entupimento desses vasos, impedindo a circulao
sangnea, caracterizando o "AVC isqumico", ou, ainda, um vaso sangneo pode
se romper provocando um sangramento no crebro. Nesse caso, a denominao
"AVC hemorrgico". (http://www.entreamigos.com.br/dicas/dicas.html).
5.3 O QUE PROVOCA
O AVC pode ser causado por vrias doenas, mas tambm existem fatores
de risco. Os mais comuns para os tipos isqumicos so presso alta, diabetes,
doenas cardacas e taxas de colesterol e triglicrides altas. Pode acometer pessoas
fumantes. No caso do AVC hemorrgico, os fatores que o ocasionam so: a presso
alta, distrbios de coagulao e, eventualmente, a presena de aneurisma cerebral
(dilatao das paredes de artrias ou veias), que congnito (a pessoa nasce com
ele). (http://www.entreamigos.com.br/dicas/dicas.html).
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5.4 QUAIS OS SINTOMAS
Os sintomas do AVC dependem da parte do crebro que foi lesada. Em geral,
pode haver dificuldade na fala e nos movimentos ou alteraes na viso.
Formigamento ou fraqueza em uma das partes do corpo tambm comum, alm de
dor de cabea repentina. Estes sintomas so os mais comuns e podem at ter
relao com outro problema, mas a recomendao que a pessoa procure
imediatamente um hospital. (http://www.entreamigos.com.br/dicas/dicas.html).
5.5 SEQELAS
O AVC, em geral, deixa seqelas que so mais ou menos graves,
dependendo da rea do crebro afetada e do tempo que o paciente levou para ser
atendido. As mais comuns so paralisia total ou parcial (de um lado do corpo, pode
ser esquerdo ou direito); a alterao da fala, tanto no que diz respeito a expresso,
quanto na compreenso; alteraes visuais, dificuldades que podem atingir um lado
do campo esquerdo ou direito e alteraes de memria.
(http://www.entreamigos.com.br/dicas/dicas.html).
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5.6 TRATAMENTO
A pessoa que sofre AVC isqumico deve procurar imediatamente um mdico
neurologista para prescrio de medicamentos apropriados para dissolver os
cogulos, causado por entupimento de vaso, para que o sangue volte a circular
normalmente na regio cerebral atingida. (http://www.entreamigos.com.br/
dicas/dicas.html).
5.7 REABILITAO
A reabilitao de quem sofre AVC importante no tratamento, passado o
momento agudo do acidente. Existem vrias formas de reabilitao e sua aplicao
vai depender do tipo de comprometimento neurolgico que a pessoa tiver. Por
exemplo, no comprometimento motor, h intervenes fisioterpicas de vrias
naturezas. Se o paciente tiver alterao na fala, a Fonoaudiologia pode ser
recomendada. Outros tipos de distrbios neuropsicolgicos, por exemplo, distrbio
de ateno, podem ser reabilitados com tratamentos neuropsicolgicos. Existem
recursos e reabilitao em vrias esferas. Somente um especialista pode prescrever
o melhor tratamento e a reabilitao adequados para cada caso.
(http://www.entreamigos.com.br/dicas/dicas.html).
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5.8 FAIXAS ETRIAS ATINGIDAS
O AVC atinge todas as faixas etrias, sendo raro na infncia. mais
freqente nas pessoas acima de 45 anos. H isquemias relacionadas com os
pacientes que tm diabetes e hipertenso arterial, mas existem outros fatores de
risco que so comuns em pacientes mais jovens, como os sangramentos cerebrais
por aneurisma, que podem acontecer entre a terceira e quarta dcadas da vida. H
tambm casos de AVC causados por uso de plula anticoncepcional ou consumo de
drogas. (http://www.entreamigos.com.br/dicas/dicas.html).
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6 ESTUDO DE CASOS.
Simbolismo Minhas idias abstratas, De tanto as tocar, tornaram-se concretas: So rosa familiares Que o tempo traz ao alcance da mo, Rosas que assistem inaugurao de eras novas No meu pensamento, No meu pensamento do mundo em mim e nos outros: De eras novas, mas ainda assim Que o tempo conheceu, conhece e conhecer. Rosas! Rosas! Quem me dera que houvesse Rosas abstratas para mim. (Murilo Mendes, Poesia dos anos 40).
http://www.usp.br/revistausp/n2/25seis.html
Vou apresentar dois estudo de casos onde utilizei tcnicas de arteterapia
em um espao de atelier teraputico j existente na ADOTE. L tive o privilgio de
atuar como arteterapeuta em formao com um grupo fixo de cinco clientes todos
portadores de seqelas de AVC, e a cada atendimento me surpreendi com a
coragem que aos poucos eles foram construindo, a partir de um novo olhar ao qual
eles se permitiram, fazendo uso da arteterapia, dentro de um atelier artstico onde
cada resultado ali esboado trazia o DNA de seu criador.
Desse resultado surgiu tal como fnix a minha monografia, a qual tenho o
prazer de partilhar com todos aqueles que se sentirem desejosos de conhecerem
um pouco mais do sentir e do agir de um indivduo que passou por uma
transformao como a que atravessou esse grupo o qual tive o prazer de
acompanhar.
Cada caso que acompanhei me trouxe a alegria de participar das
descobertas vivenciadas por eles passo a passo semanalmente. Assim sendo foi
muito difcil fazer a escolha de apenas dois dos cinco clientes, para desenvolver meu
estudo de caso e apresentar na monografia. No houve aqui critrio de importncia,
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escolhi a nica mulher do grupo e o cliente que mais respondeu ao usar os materiais
expressivos. Primeiras impresses ao chegar ao grupo.
FIA (70)
Quieta, tranqila, quase sem movimento. Sua maior queixa: a dificuldade
que passou a ter em se locomover, dependia muito das filhas (o) e genro.
Possuidora de muita criatividade trabalhava com ateno e dedicao,
desenhava, coloria, pintava entre outras atividades, mas sempre reclamava das
suas produes, dizendo:
- No sei fazer.
- no sei desenhar, nunca fui ao jardim de infncia.
- Que coisa feia.
- No fui eu quem fez isso.
Nos encontros, o papel do facilitador imprescindvel, pois alm de conduzir
o processo a partir da chegada dos clientes ao atelier at a concluso de cada tarde,
ele tambm tem que desenvolver o papel de observador, ficando atento s reaes,
as expresses, aos sentimentos que emergem de cada participante ali presente,
afim de que possamos avaliar o que de bom e curativo, esse ou aquele material
pode oferecer a cada cliente e a cada caso em particular. No caso da FIA, as suas
queixas e desconfortos eram muito claras. No aceitava aquela vida dependente
que estava levando. Envelhecer, solitria e sem sade, era muito difcil de aceitar.
Estava sempre fazendo comparaes e lembrando do tempo em que podia fazer de
tudo sem precisar da ajuda de ningum. Hoje no faz quase nada sozinha, no pode
sair de casa, fazer uma viagem, cuidar da casa. Diz at que no tem mais sade e
disposio para fazer seus trabalhos manuais que tanto gostava de fazer antes do
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AVC. Nas nossas tardes no atelier ela se revelava sempre com esses mesmos
relatos. Mas com a sucesso dos encontros, pude perceber que houve muita
transformao em seu comportamento. Ela passou a assumir o papel de lder
quando necessrio nas atividades de grupo, recortando papel, escolhendo ttulos
para as produes e at sugerindo como deveria ser a sensibilizao. s vezes se
arriscava em dar um conselho a um dos participantes quando estava triste. Percebi
tambm uma mudana fsica. Mais preocupada com a aparncia, cabelos mais
arrumados, unhas e sobrancelhas. Passou a se queixar menos, na realidade tudo o
que ela queria era ser compreendida, ser ouvida, ser produtiva. Na medida em que
foi encontrando e criando esse espao e compreendendo que poderia ressignificar
aqueles incmodos, tudo foi ficando mais leve, mais agradvel e ela deixou de ser o
centro das prprias queixas, e passou a ver um pouco mais alm.
Expresso verbal de algumas de suas produes feitas no atelier durante
atendimento:
- sou como a ma, nem sou doce demais nem amarga demais.
Confeco do crach.
- Estou com vontade de morar no abrigo. Pintura a dedo em azulejo.
- estou cansada e com sono. Textura.
- vejo uma estrela. Dinmica do barbante.
- ... essa a minha casa. A primeira casa, o primeiro amor, o primeiro filho,
o primeiro automvel, a primeira viagem. Registrar fases da vida...
atravs da percepo criativa, mais do que qualquer outra coisa, que o
indivduo, sente que a vida digna de ser vivida. (WINNICOTT, 1975 p.95).
Tomando como base as produes que nascem de suas prprias mos e
vem tona carregada de muito sentimento revelador, e que algumas vezes vem
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acompanhada de uma fala espontnea que estava l dentro, talvez quem saiba
sufocada guardada a sete chaves. Mas naquele momento de exploso onde tudo
parece brincadeira ou pura descontrao acontece o processo de auto-
conhecimento de si mesmo.
Entrar em contato com seu passado, sua histria, com seus medos, a partir
dessa descoberta que se d quando aflora o nosso lado criador algo indescritvel,
que s quem se permite trilhar esses caminhos poder descrever.
Em contraste, existe um relacionamento de submisso com a realidade externa, onde o mundo em todos os seus pormenores reconhecido apenas como algo a que ajustar-se ou a exigir adaptao. A submisso trs consigo um sentimento de inutilidade e est associada idia de que nada importa e de que no vale a pena viver a vida. Muitos indivduos experimentaram suficientemente o viver criativo para reconhecer, de maneira tantalizante, a forma no criativa pela qual esto vivendo, como se estivessem presos criatividade de outrem, ou de uma mquina. (WINNICOTT. 1975 p. 95).
Nesses encontros buscamos respostas para essas questes existncias
experimentando o criativo se permitindo fazer escolhas, sem se preocupar em
agradar ou copiar um modelo pr-estabelecido, experimentar o novo ou renovar o
usual. Precisamos nos permitir a trilhar esse caminho, de descobertas e
transformaes, e fazer as nossas escolhas, dessa forma nos livraremos das
correntes que arrastamos por algum tempo antes que percebssemos que somos
capazes de lanar mo da nossa criatividade, valorizar um novo vocabulrio, uma
nova maneira de expresso: Eu sou capaz. Eu posso, quero e vou fazer.
Renovar a crena em ns mesmas, para amadurecer com sabedoria e se
redescobrir a cada dia com luz, cor e alegria.
Essas so algumas expresses de fechamento de alguns encontros:
- muita saudade da minha filha. 06/05.
- So Gonalo do Amarante. 06/05.
- Saudade 06/05.
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- Saudade. 08/05.
- Amizade meu vizinho. 08/05.
- Saudades. 08/05.
TITIO (30)
Teve AVC aos 25 anos.
No atelier uma pessoa passiva que respondia bem as propostas, tmido,
falava pouco e com bastante dificuldade, esquecia as palavras e gaguejava.
Algumas vezes j chegava com algum tipo de incmodo: sono, raiva, tristeza.
Esse foi o quadro por ele apresentou nos quatro primeiros encontros.
Nos encontros seguintes j percebamos algumas, ainda que tmida,
indicaes de mudana, como: falava um pouco mais, sorria, pedia ajuda e interagia
com o grupo e as Arteterapeutas. E as mudanas no pararam por a. No quarto
ms de encontros aproximadamente, trabalhamos com ele um material muito
expressivo, o BARRO, e o saldo foram produes que vinham acompanhadas de
muitos sentimentos, dos quais ele j no suportava mais reprim-los. E houve
momentos que percebamos o seu desejo de falar, mas ele se negava. Em outros
momentos percebamos que queria falar e no encontrava oportunidade. Algumas
vezes era preciso que, como arteterapeuta, no papel de observadora e viabilizadora
de todo aquele processo, eu acalmasse um pouco os nimos do grupo, dando
oportunidade aos que tinham menos facilidade de se fazer ouvido. Essas situaes
s vezes se apresentam e necessrio que estejamos atentas, para que o cliente
no deixe de dar continuidade a um processo que j se iniciou dentro dele, evitando
assim um sentimento de impotncia frente ao grupo, e podendo at haver uma
desistncia de permanncia por se sentir rejeitado ou ignorado.
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11/05/05
Nesse dia trabalhvamos com a confeco do crach, ele se representou
com uma flor.
Titio chegou um pouco atrasado, j havamos iniciado a oficina, estava muito
eufrico, trazia na mochila um CD do grupo Tits, pediu que colocssemos para
tocar. Assim que a msica comeou a tocar ele era s felicidade, comeou a se
balanar, contagiando todo o grupo, que ficou a olhar aquele homem de trinta anos
feliz como um garoto que acaba de ganhar um brinquedo. E o clima aptico inicial
em que alguns se encontravam foi se transformando em algo mais ameno. Ao
concluir o seu crach Titio falou que a flor dele representava a msica que estava
tocando dos Tits e disse quando estava com muito dio, como estava naquele
momento s ouvido msica flor e que conseguia se acalmar. Disse ainda:
quando eu odeio pode ser quem for at a minha me. Gosto dela, mas ela l e eu
aqui, no conversamos muito. Terminou sua expresso verbal dizendo: socorro
vocs me ajudem. Foi um momento muito forte o que dizer diante daquele desabafo
seguido de um pedido de socorro. Porm em tudo isso h algo que no pode deixar
de ser mencionado, o fato de que ele tomou conhecimento de seu incomodo e que
dentro do seu mundo encontrou e entendeu que poderia lidar com aquela situao,
Transitar por diferentes linguagens expressivas, que no apenas a verbal possibilita a amplido do campo de conflito, como o efeito de uma lente de aumento. Muitas vezes sabemos que algo nos incomoda, mas no sabemos exatamente o que ou ficamos aprisionados em uma nica forma de ver a questo. Pintar, desenhar, modelar, danar etc. dentro de um contexto teraputico, possibilita a compreenso e representao dos prprios processos, bem como a integrao destas descobertas num todo maior. (ALLESSANDRINI, 1999, p.155).
Trabalhar com esse cliente foi um grande desafio, pois o AVC, no deixou
apenas seqelas fsica e mental. A sua vida mudou por completo e ele tem como
certo a necessidade de aprender tudo outra vez. Ao acordar do coma como se o
cho lhe faltasse, perdeu amigos e companheira. Parece que o que restou foram
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questes de ordem pessoal que no eram bem entendidas, e uma constante
sensao de abandono. Mas entrar em contato com seus medos, sombras trouxe
para uma dimenso bem superficial a necessidade de encontrar respostas, para
ressignificar toda aquela dura realidade.
Olhei at ficar cansado De ver os meus olhos no espelho Chorei por ter despedaado As flores que esto no canteiro Os punhos e os pulsos cortados E o resto do meu corpo inteiro H flores cobrindo o telhado E embaixo do meu travesseiro H flores por todos os lados H flores em tudo que eu vejo A dor vai curar essas lstimas O soro tem gosto de lgrimas As flores tm cheiro de morte A dor vai fechar esses cortes Flores Flores As flores de plstico no morrem Flores Flores As flores de plstico no morrem (TitsComposio: Tony Bellotto / Srgio Britto /Charles Gavin / Paulo Miklos 1989)
26/10/05
muito difcil para ele aceitar essa nova realidade, reclama do pouco
resultado obtido pelo tratamento e medicamentos. Sentisse injustiado pela vida, e
me pergunta: Por que eu? Acha que os outros do grupo tem uma resposta maior e
mais rpida. Eu que estou no papel de observadora no vejo assim. Ele uma
pessoa extremamente sensvel, se entrega proposta como poucos e consegui
emergir contedos muito fortes, percebo que isso tem haver com o desejo de se
conhecer, de se permitir na busca de uma transformao.
Nessa tarde levei para o grupo a histria de uma lagarta que lamenta a sua
falta de sorte em no ter nascido borboleta... E um belo dia uma borboleta que
passava por ali, ao escutar a lamentao da lagarta, parou e disse-lhe que tambm
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havia sido uma lagarta e que se transformou em borboleta depois de ter passado
algum tempo num casulo. (SILVA, 2003 p.83). Em seguida sugeri que ele se
imaginasse como uma lagarta e percebessem: - Como estava o seu corpo? Esse
corpo que te acompanha em todas as jornadas te amparando e compartilhando de
tantas emoes s vezes boas s vezes nem to boas. Mostrando sua produo a
todo grupo disse:
-Meu corpo... Preto.
- pssimo...
-Derrame...
Tornei a perguntar: E esse corpo, como ele ? Tem movimento? Apontando
para o desenho e diz: ele agora esta se abrindo.
Ele desenhou um corpo preto, e circulou esse corpo com quatro linhas
fechadas, uma de cada cor: laranja, azul, rosa e verde, e disse que cada crculo
representava um amigo da arteterapia.
O atelier teraputico um lugar Sagrado de encontro e desencontro, de fazer
amigos. L tudo permissvel, l todos tem a oportunidade de receber e oferecer um
ombro amigo um lugar para se fazer reflexes e ressignificar.
Ciampa (1998), apud Fabietti (2004, p. 25) autor que dedicou seus estudos
reviso da noo de identidade, afirma que a identidade metamorfose, ou seja,
um processo permanente de formao e transformao.
A palavra metamorfose, segundo Ferreira (1999), um substantivo que pode
significar transformao de um ser em outro: mudana de forma e de estrutura que
ocorre na vida de certos animais, como os insetos e os batrquios e, no sentido
figurativo, como mudana notvel na fortuna, no estado, no carter de uma pessoa.
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Assim, e no contexto deste trabalho, a identidade pensada como algo em
movimento.
Fabietti (2004, p. 25), diz ainda que: a arte foi o combustvel que alimentou a
mente e a vontade do cliente em atendimento, em obter novas respostas, de superar
restries e de conquistar um espao para expressar seus anseios e vontades.
Ao trmino desse encontro o TITIO encerra com uma palavra de fechamento
Amor e ao se levantar pela primeira vez toma a iniciativa de abraar todo o grupo
inclusive as arteterapeutas. Foi um momento muito especial, pois ele j havia
revelado que tem dificuldade de se deixar tocar.
Palavras de Fechamento:
Tempo bom 13/07.
Renata 03/08.
No sei... 24/08.
Paz 14/09.
Amor 04/10.
Amor 26/10.
Em ARTETERAPIA temos mos traando linhas, traando fios, riscando o ar, o papel, a areia, a gua, pressionando o barro, dando indicaes definindo rumos. Mos em mudras, preces e rituais, mos geradoras de personagens no teatro de sombras, mos ativas marcando ritmos, mos em concha prontas a receber, mos ferramentas de muitos bordados, delicadas tramas de afetos, desejos e emoes. (PHILIPPINI, 2001 p. 68).
No atelier arteteraputico em contato com o material expressivo que se d o
setting, onde arteterapeuta e cliente se conectam naquela atmosfera de criao,
dando forma aos sentimentos, sonhos, desejos e fantasias. Quando um cliente usa
suas mo (marcada pelo avc) como ferramenta e transforma uma poro de barro
em uma pea, e a descreve como R, e diz odeio R, pois ela me abandonou,
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percebo que houve um dilogo durante o fazer artstico e que esse dio no
necessariamente um sentimento feio ou perigoso.
surpreendente e emocionante escutar os relatos e perceber as (re) descobertas que cada uma faz de si mesma. A dificuldade da massa dura despertou vrios sentimentos como raiva, desafio, vontade de desistir, tentativa de fuga da situao presente do aqui e agora, percepo dos seus prprios limites (ALLESSANDRINI, 1999, p.152).
Titio nos conta que gostou muito de trabalhar com o barro. Que quando
estava de olhos fechados dialogando com o barro lembrava de muitas coisas de sua
vida, Morro Branco o bairro onde passou toda sua infncia, com muita sade jogava
bola, subia nas dunas, tinha muitos amigos. Esse contato trouxe a tona lembranas
agradveis e outras no. Fez algumas figuras abstratas e outras, que trazia-lhe
lembranas forte como a desempoladera lembrei do nome dele, mau pai, eles no
tinham uma boa relao, presenciou agresses por parte do pai a sua me. Mais
quando a pea estava pronta perguntou se podia levar para dar de presente ao pai.
E a figura abstrata daria a sua me. Durante todo tempo que estivemos juntos s
agora que ele demonstrou alguma forma de amor pelo pai. Trabalhar com o barro,
a gua dando formas (fazendo, desfazendo e re-fazendo), como quem d vida.
Aquele toque era como se ele estivesse entrando em contato com seus medos e
mgoas, e ao molhar o barro para facilitar aquela difcil moldagem, ele ressignificava
na tentativa de tornar o seu mundo melhor.
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7 CONSIDERAES FINAIS
Meu encontro com a arteterapia se deu h aproximadamente trs anos
atrs. EU me encontrava no pice da maior crise existencial que tenho lembrana,
onde os assuntos em minha mente resolveram dar o famoso primeiro passo para
uma revoluo interior.
Hoje digo com toda tranqilidade: acomodei, porque entendi que quando
entramos nessa crise, porque de alguma maneira negligenciamos com ns
mesmos, no ouvindo a nossa voz interior e os sintomas expressos pelo nosso
corpo. Dessa forma deixando de existir espao para fluir de maneira natural os
acontecimentos que todo indivduo experimenta ao longo de sua vida. Muitas vezes
no apenas resolver, e sim entend-los. Entender o que ocasionou, e saber se os
estragos ficam por ali ou se ainda tende a piorar.
Estar disponvel para ns mesmos dar um mergulho para dentro do nosso
EU, e perceber no s aquilo que est presente em nossa conscincia, mas
tambm o que por ventura emergi do nosso inconsciente e at o que possa estar
margeando a nossa pr-conscincia.
Isso posto, senti o desejo de dividir todo esse achado, e eleger um pequeno
gro de areia que necessitasse dessa luz que conduz aos caminhos que a
arteterapia tm a oferecer. E para minha total realizao chego ao final desse relato
com a certeza de que os resultados foram comprovados a cada atendimento, onde
os clientes ao realizarem suas produes artsticas, estavam revelando-se autores
de seu mundo interior, trazendo para seu mundo externo as imagens acessadas
com o auxilio de materiais expressivos por eles escolhidos na hora de fazer uso.
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A arteterapia com toda essa abrangncia quebra regras e posturas
castradoras, quando aflora no indivduo o desejo de se permitir ser e ousar vos
mais altos ou rasantes. com muito cuidado e respeito s limitaes do cliente que
busca uma alternativa nova para os velhos desconfortos, que o arteterapeuta tem
um papel fundamental de facilitador desse processo to difcil.
Sim, no restam dvidas que seja difcil se perceber depois de tantos anos
adormecido, onde o passado sempre falar mais alto, e o amanh que o
desconhecido por certo sempre assusta.
A arteterapia tem um papel muito interessante e importante que o de dar
uma sacudidela em nossa vida, e depois nos convidar a arrum-la: trocando,
mudando, transformando, reinventado.
O ato criativo sustentado pela capacidade que o indivduo tem para
simbolizar e dar significado aquilo que experienciou. A capacidade de simbolizar
um atributo inerente ao animal racional.
Ao realizar ou esboar uma imagem pictrica ao manusear materiais dando
concretude a um fazer, seu autor produz uma ao.
Carvalho et al (1995, p.25): afirma que:
Arteterapia como a rea de terapias expressivas, abrangendo todas as modalidades de uso de recursos artsticos, expresso plstica, dana teatro, expresso potica, expresso corporal, dentro de um processo teraputico. A arteterapia no possui uma teoria e metodologia prpria, sendo necessrio ao Arteterapeuta lanar mo de uma teoria, assim como de sua prpria criatividade, intuio e habilidade de expresso artstica, para delinear seus procedimentos no processo teraputico. O meu referencial terico a Abordagem Centrada na Pessoa, que se fundamenta no Humanismo.
Conservar-se em uma atitude de vigilncia cncio aniquila o elo entre o
sofrimento e o processo do pensamento, e acelera o processo de transformao.
como se o sofrimento se tornasse uma substncia para aclarar a conscincia,
resultando em uma luz mais irradiante. Se perceber por inteiro e se deixar cicatrizar
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transformando o sofrimento em aprendizado nos torna pessoas mais fortes diante
das adversidades da vida. Reconhecer o que sofrimento, aceite que ele esteja ali,
como quem espreita algo para entender e enfrentar. Perceba no s o sofrimento
mais o seu potencial criativo e transformador, para ressignificar sempre que
entender que o melhor para voc.
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REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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