ARTETERAPIA

10
Educação permanente de adultos maduros, idosos e de profissionais da área do envelhecimento: fundamentos para um projeto pedagógico de extensão universitária Continuing education of elder adults, older persons and professionals dealing with the ageing process: foundations for a university extension project Educación permanente de adultos maduros y ancianos y de profesionales para el área de envejecimiento: fundamentos para un proyecto pedagógico de extensión universitaria Profa. Dra. Marluce Auxiliadora Borges Glaus Leão Universidade de Taubaté – Pró-reitoria de Extensão e Relações Comunitárias Endereço para correspondência: Rua Rosa Barbieri Paiotti, 244 – Urbanova São José dos Campos-São Paulo – e-mail:[email protected] Resumo Este artigo trata de algumas concepções de educação permanente no contexto da sociedade atual, enfatizando a emergência do fenômeno do envelhecimento e das necessidades dos adultos maduros e idosos. Expressa as bases teóricas do projeto pedagógico de um programa de extensão e descreve as atividades educativas em dois grandes eixos de atenção: junto a esses segmentos etários, contribuindo para seu processo de inclusão social e envelhecimento bem-sucedido; e junto à comunidade civil e acadêmico-científica, visando instrumentalizar recursos humanos para o trabalho na área da gerontologia. Estas ações têm requerido reflexões e enfrentamento interdisciplinar para uma adequada formação técnica e humana de profissionais sensíveis a esta demanda social e o (re) conhecimento do indivíduo idoso como protagonista ativo do processo de educação permanente, cuja mediação pedagógica é feita pela extensão universitária. Palavras-chave: educação, idosos, envelhecimento, extensão universitária Abstract This article addresses some conceptions of continuing education within the present society, emphasizing the increasing of the ageing phenomenon of elder adults and older persons. It aims at expressing the theoretical basis of a pedagogic project from an extension program and describing the educational activities with two main concerns: first, working exclusively with those ageing segments, providing contribution to their social inclusion and successful ageing; second, working together with the society and academic-scientific community intending to develop human resources for the gerontology area. Those actions have required interdisciplinary in order to 45 Revista de Extensão da Universidade de Taubaté - Pró-Reitoria de Extensão e Relações Comunitárias. -- No. 1 (2008). – Taubaté: 2008 http://periodicos.unitau.br/ojs-2.2/index.php/extensao | [email protected] | Tel.: (12) 3625-4227/4208

description

ARTETERAPIA

Transcript of ARTETERAPIA

  • Educao permanente de adultos maduros, idosos e de profissionais da rea do envelhecimento: fundamentos para um projeto pedaggico de extenso universitria

    Continuing education of elder adults, older persons and professionals dealing with the ageing process: foundations for a university extension project

    Educacin permanente de adultos maduros y ancianos y de profesionales para el rea de envejecimiento: fundamentos para un proyecto pedaggico de extensin universitaria

    Profa. Dra. Marluce Auxiliadora Borges Glaus LeoUniversidade de Taubat Pr-reitoria de Extenso e Relaes ComunitriasEndereo para correspondncia: Rua Rosa Barbieri Paiotti, 244 UrbanovaSo Jos dos Campos-So Paulo e-mail:[email protected]

    Resumo

    Este artigo trata de algumas concepes de educao permanente no contexto da sociedade atual, enfatizando a emergncia do fenmeno do envelhecimento e das necessidades dos adultos maduros e idosos. Expressa as bases tericas do projeto pedaggico de um programa de extenso e descreve as atividades educativas em dois grandes eixos de ateno: junto a esses segmentos etrios, contribuindo para seu processo de incluso social e envelhecimento bem-sucedido; e junto comunidade civil e acadmico-cientfica, visando instrumentalizar recursos humanos para o trabalho na rea da gerontologia. Estas aes tm requerido reflexes e enfrentamento interdisciplinar para uma adequada formao tcnica e humana de profissionais sensveis a esta demanda social e o (re) conhecimento do indivduo idoso como protagonista ativo do processo de educao permanente, cuja mediao pedaggica feita pela extenso universitria.

    Palavras-chave: educao, idosos, envelhecimento, extenso universitria

    Abstract

    This article addresses some conceptions of continuing education within the present society, emphasizing the increasing of the ageing phenomenon of elder adults and older persons. It aims at expressing the theoretical basis of a pedagogic project from an extension program and describing the educational activities with two main concerns: first, working exclusively with those ageing segments, providing contribution to their social inclusion and successful ageing; second, working together with the society and academic-scientific community intending to develop human resources for the gerontology area. Those actions have required interdisciplinary in order to

    45Revista de Extenso da Universidade de Taubat - Pr-Reitoria de Extenso e Relaes Comunitrias. -- No. 1 (2008). Taubat: 2008

    http://periodicos.unitau.br/ojs-2.2/index.php/extensao | [email protected] | Tel.: (12) 3625-4227/4208

  • establish a proper

    com os ideais de educao, de ser humano e de suas relaes com a sociedade.

    technical and humanistic training of the professionals involved, so that they should be able to recognize that social demand, beig sensitive to the ageing individual as a live protagonist of the continuing education process, whose pedagogical supervision has been performed by the university extension.

    Keywords: educacion, elder, ageing, university, extension

    Resumen

    Este artculo trata de algunas concepciones de educacin permanente en el contexto de la sociedad actual, enfatizando la emergencia del fenmeno de envejecimiento y de las necesidades de los adultos maduros y ancianos. Expresa las bases tericas del proyecto pedaggico de un programa de extensin y describe las actividades educativas en dos grandes ejes de atencin: junto a esos niveles de edad, contribuyendo para su proceso de inclusin social y envejecimiento bien llevado; e junto a la comunidad civil y acadmico-cientfica, buscando instrumentalizar recursos humanos para el trabajo en el rea de la gerontologa. Esas acciones han requerido reflexiones y enfrentamiento interdisciplinario para una adecuada formacin tcnica y humana de profesionales sensibles a esa demanda social y el (re) conocimiento del anciano como protagonista activo del proceso de educacin permanente, cuya mediacin pedaggica se realiza a travs de la extensin universitaria.

    Palabras clave: educacin, ancianos, envejecimiento, extensin universitaria

    Introduo

    A literatura cientfica tem reportado amplamente o progresso da biotecnologia e a maior conscincia acerca de um estilo de vida mais saudvel, dentre outros fatores, como responsveis pelo aumento da longevidade, resultando em um crescente nmero de indivduos que, por dia, chegam aos sessenta anos em todo o mundo.

    No Brasil, cuja estimativa da populao com sessenta anos e mais, da ordem hoje de 17 milhes (IBGE, 2000; FUNDAO ABRAMO/SESC, 2006), este fenmeno pode ser visto como desafio e oportunidade emergncia de novas reas profissionais e educacionais, para absorver as demandas desse grupo etrio, que cada vez mais mostra grande capacidade laboral e intelectual. Se um novo mercado de trabalho e uma nova sociedade esto em formao, uma questo que se impe reflexo, qual o posicionamento pedaggico a ser dinamizado na prtica, que se supe adequado e coerente

    46Revista de Extenso da Universidade de Taubat - Pr-Reitoria de Extenso e Relaes Comunitrias. -- No. 1 (2008). Taubat: 2008

    http://periodicos.unitau.br/ojs-2.2/index.php/extensao | [email protected] | Tel.: (12) 3625-4227/4208

  • O fato de ter indivduos vivendo mais, e com mais tempo disponvel para atividades que no so as do trabalho, tem exigido reformulaes de muitas polticas pblicas. Em relao educao, as propostas educacionais alinhadas com a segregao dos idosos mostram-se agora em vias de falncia, diante da heterogeneidade de experincias de velhice que se v no Brasil de hoje, exigindo

    1aes educativas diferenciadas no campo da gerontologia .

    permanente na perspectiva do desenvolvimento cultural, alegando a necessidade de estratgias de formao em vista de uma sociedade nova, caracterizada pela exploso do saber, modificaes estruturais provocadas pelo avano tecnolgico, entre outros aspectos. Ao retomar as origens da terminologia empregada para educao permanente, aponta que a primeira maneira de conceber o que se convencionou como 'educao permanente' fundamenta-se numa interpretao

    2Os adultos maduros e idosos que atualmente retomam o caminho da educao o fazem no apenas pela perspectiva da atualizao cultural, da busca por novos vnculos sociais, necessidades de regulao emocional ou como atividades para ocupar o tempo livre. Procuram atividades para desenvolvimento de habilidades especficas, para uso prtico dos conhecimentos. Procuram espaos educativos mais crticos e contextualizados.

    Desde a ltima dcada, a vertente extensionista das universidades, como instncia tradicionalmente articuladora de programas e projetos destinados a adultos mais velhos, demonstra uma evoluo em termos da concepo de extenso universitria que reflete a importncia da construo de um saber bilateral. Seu trabalho com essa populao indica avanos na compreenso de que a educao e a aprendizagem so contnuas e acumulativas, e no um conjunto pontual de eventos institucionais; as aes devem incentivar o protagonismo social desses indivduos; necessrio o desenvolvimento de metodologias adaptadas s peculiaridades de seus aspectos cognitivos, afetivos e ambientais nas aes educativas e, sobretudo, imperativo capacitar recursos humanos no enfrentamento das questes impostas pelo processo de envelhecimento populacional.

    Prope-se, neste espao, fundamentar teoricamente esta ao de extenso universitria, que tm como linha programtica a ateno integral s questes do envelhecimento, almejando-se uma

    3prxis pedaggica favorvel velhice bem-sucedida .

    Paradigmas de educao e velhice A configurao atual de mundo globalizado e da era da informao preconizam a necessidade de constante aprendizagem para adaptao s transformaes da sociedade, mas a literatura cientfica reporta que a perspectiva da educao ainda a obteno de resultados, a educao para a produo.

    Pierre Furter, na dcada de 70, mostra preocupao com essa questo, ao abordar a educao

    47Revista de Extenso da Universidade de Taubat - Pr-Reitoria de Extenso e Relaes Comunitrias. -- No. 1 (2008). Taubat: 2008

    http://periodicos.unitau.br/ojs-2.2/index.php/extensao | [email protected] | Tel.: (12) 3625-4227/4208

  • da educao como um processo que deve prolongar-se durante a vida adulta (FURTER,1975, p. 106).

    idosos como um remdio, que se traduz em ofertas de entretenimento, lazer e contatos sociais a um pblico injustiado () A velhice vista como algo negativo e deve ser protegida pelo Estado () No h

    Observa-se o alerta desse autor para o fato de a extenso da educao permitir atingir uma nova clientela: a dos adultos, que retornaro escola pela possibilidade de aprender o que no puderam na juventude; o fato de sua cultura geral e, sobretudo, tcnica no corresponder mais s exigncias da cultura tecnolgica e cientfica dominante; o tempo livre na fase do ps-trabalho formal favorecer a condio de autodesenvolvimento; o sistema de educao continuada corresponder s aspiraes que o ensino regular no satisfez e os conhecimentos adquiridos na mocidade terem se tornado insuficientes.

    Para evitar que o envelhecimento provoque a estagnao intelectual, a regresso cultural e a 'obsolescncia' profissional, os adultos, cada vez mais, sentem necessidade de renovar os conhecimentos e de se 'reciclarem' para no carem na rotina e ficarem marginalizados. (FURTER, 1975, p.107)

    A educao coexistindo com a vida, constituindo-se no prprio desenvolvimento do ser humano constatada tambm na perspectiva de Freire (1979), quando advoga que a vida toda do homem esse ser inacabado e em constante busca, se constitui num processo educativo, que se d durante todo o tempo e em todas as dimenses da existncia humana.

    Da mesma forma, a perspectiva de educao para o sculo XXI, do relatrio de Delours (1998) para 4a UNESCO , trata a educao ao longo de toda a vida como uma condio para um domnio mais

    perfeito dos ritmos e dos tempos da pessoa humana. Um continuum educativo, coexistindo vida e ampliado dimenses da sociedade, um meio para o exerccio de uma cidadania ativa, que requer a valorizao hoje de todos os espaos e tempos da educao, principalmente para o acesso daqueles que dela no usufruram.

    Considerando, no entanto, as dimenses continentais do Brasil, a diversidade de experincias de envelhecimento e de oportunidades sociais dos idosos neste pas, diferentes concepes de homem podem subsidiar as inmeras aes educativas vigentes para este segmento etrio. Para uma reflexo, faz-se uma referncia aos paradigmas de educao e velhice resenhados em 1976, por

    5Moody , citados por Cachioni e Neri (2004, p. 30-1) e expressos em quatro modelos:

    O primeiro dos modelos o da rejeio, abordagem que se fundamenta numa viso negativa da velhice. () Considera a educao destinada aos idosos como um investimento desnecessrio, uma vez que este grupo etrio visto como improdutivo e dependente. O segundo modelo o de servios sociais. Ele une a educao idia de justia social e v os servios educativos para adultos maduros e

    48Revista de Extenso da Universidade de Taubat - Pr-Reitoria de Extenso e Relaes Comunitrias. -- No. 1 (2008). Taubat: 2008

    http://periodicos.unitau.br/ojs-2.2/index.php/extensao | [email protected] | Tel.: (12) 3625-4227/4208

  • preocupao com uma pedagogia especfica para os idosos, uma vez que se acredita que eles no mais se desenvolvem. O terceiro modelo concentra-se sobre os conceitos de participao e atividade, negando a passividade e a segregao dos modelos anteriores. Nessa concepo, a educao se define como meio de manuteno das habilidades e das experincias dos idosos para que possam intervir nos problemas da sociedade, por meio de programas educacionais organizados para eles e por eles. O quarto modelo fundamenta-se na idia de auto-realizao e de educao permanente, com o reconhecimento dos valores inerentes aos idosos, dos seus direitos e de suas oportunidades.

    linha programtica de um programa, aes compatveis com o projeto pedaggico que se deseja implantar, o Programa de Ateno Integral ao Envelhecimento PAIE, estabeleceu dois grandes eixos de trabalho: a Educao Gerontolgica e a Gerontologia Educacional. Na prtica,

    A partir desses modelos, Palma e Cachioni (2002, p. 1108) ressaltam a importncia de trs princpios para uma proposta educativa para adultos maduros e idosos: o princpio da atividade, enfatizando a importncia do desenvolvimento de sua autonomia e potencial de auto-realizao; o princpio da independncia, incrementando a reflexo, autodidatismo e capacidade de explicitar seu potencial; e o princpio da participao, respeitando seu direito participao social.Esses princpios mostram consonncia, tambm, com o paradigma de desenvolvimento ao longo da

    6vida (life span) em psicologia, que v as oportunidades educacionais como importantes antecedentes de ganhos evolutivos na velhice, justamente por intensificarem os contatos sociais, a troca de vivncias e de conhecimentos e por promoverem o aperfeioamento pessoal (NERI E CACHIONI, 1999).

    Constata-se, portanto, que o papel da educao tem sido discutido no sentido de despertar e incrementar as possibilidades criativas dos indivduos e das sociedades, jogando por terra os paradigmas de educao em termos de idades para estudo formal, para o paradigma de que a educao nunca se conclui. Ou seja, a educao no pode definir-se em relao a um perodo particular da vida; , antes de tudo, uma tarefa, um direito e um dever ao longo da vida, para facilitar o acesso a melhores condies de vida, trabalho, renda e bem-estar. (FURTER,1975; DELOURS, 1998; PALMA E CACHIONI, 2002).

    7Esses pressupostos da Pedagogia Social e do modelo de desenvolvimento ao longo da vida, em Psicologia, balizam o desenvolvimento deste trabalho de extenso universitria com o adulto mais velho e do profissional que com ele trabalhar; com sua insero social e desenvolvimento enquanto ser humano. Aliceram a construo do seu projeto pedaggico que poltico no sentido de compromisso com a formao do cidado para um tipo de sociedade e pedaggico no sentido de definir as aes educativas e efetivao da intencionalidade da escola (VEIGA, 1995, p.13).

    Estrutura pedaggica do programa

    Atendendo s diretrizes do Plano Nacional de Extenso Universitria (2001), que recomenda atrelar

    49Revista de Extenso da Universidade de Taubat - Pr-Reitoria de Extenso e Relaes Comunitrias. -- No. 1 (2008). Taubat: 2008

    http://periodicos.unitau.br/ojs-2.2/index.php/extensao | [email protected] | Tel.: (12) 3625-4227/4208

  • esses dois eixos so interdependentes, mas do ponto de vista didtico, sistematizam as aes educativas voltadas aos adultos acima de 50 anos e comunidade civil e acadmico-cientfica.

    necessidades da comunidade civil, sendo viabilizada por meio do ncleo de estudos e pesquisas, da organizao e participao em eventos cientficos, ncleo de estgios, publicaes, cursos como o de Cuidadores de Idosos, entre outras aes.

    8O campo da gerontologia educacional foi definido, em 1976, por Peterson , como estudo e prtica das tarefas de ensino dirigidas a e sobre as pessoas envelhecidas e em processo de envelhecimento. Considera a gerontologia educativa como forma de melhorar a vida dos idosos, por meio da participao destes idosos em programas educacionais, da educao para a populao em geral sobre a velhice e os idosos, e, ainda, da capacitao de recursos humanos para o trabalho com idosos (PALMA E CACHIONI, 2002).

    Para Glendenning (1989) os novos modos de envelhecer dos indivduos tm exigido o incremento, por um lado, da gerontologia educacional, como rea que se preocupa com o processo de educao do idoso: quem este aprendiz, como sua aprendizagem, suas necessidades e potenciais. De outro, da educao gerontolgica, focalizam-se o ensino sobre o idoso e o processo de envelhecimento para uma sociedade que envelhece.

    Neste programa, acompanhando a proposta de Glendenning, ao eixo de gerontologia educacional vinculam-se projetos de reas interdisciplinares, necessrios compreenso das vrias dimenses do fenmeno do envelhecimento. Os projetos so agrupados aos quatro ncleos temticos: ncleo de cursos de extenso, ncleo de sade do idoso, ncleo sociocultural e ncleo de poltica e cidadania. O projeto Idoso em ao, do curso de Educao Fsica e o de Promoo de sade, do curso de Enfermagem e Psicologia, integram o ncleo de sade supracitado. A participao da Universidade de Taubat no Conselho Municipal do Idoso e na organizao de eventos municipais, entre outras atividades, integram as aes do ncleo de poltica e cidadania. O projeto Unitau Aberta Maturidade configura o ncleo de oficinas e cursos oferecidos, a cada semestre, com diferentes opes para o desenvolvimento sociocultural e ou pessoal, a partir dos interesses manifestados pela populao alvo.

    Como o eixo da educao gerontolgica visa educao daqueles que devero se incumbir do trabalho gerado pelas demandas do envelhecimento, as atividades do programa so realizadas, principalmente, pelo corpo docente e por profissionais externos, com o apoio do corpo discente. Configura-se uma possibilidade transversal de capacitao de recursos humanos, na rea de gerontologia, visando minimizar as lacunas da formao generalista dos cursos de graduao ou

    50Revista de Extenso da Universidade de Taubat - Pr-Reitoria de Extenso e Relaes Comunitrias. -- No. 1 (2008). Taubat: 2008

    http://periodicos.unitau.br/ojs-2.2/index.php/extensao | [email protected] | Tel.: (12) 3625-4227/4208

  • A dimenso educativa das estratgias

    As aes junto ao idoso apontam para a aquisio de novas formas de vivenciar a velhice: manejando com responsabilidade aspectos de sua sade, aprimorando conhecimentos sobre si mesmos e o mundo, fortalecendo a convivncia comunitria e uma viso crtica da realidade e participando ativamente dos interesses da coletividade. Como exemplo, os cursos de Lngua Inglesa e Informtica facilitam a aquisio da autonomia e independncia para o enfrentamento das necessidades da sociedade contempornea. O trabalho com a memria sociocultural (re)significa suas experincias como protagonistas da histria.

    Atividades como Hatha Ioga, Danas Circulares e a prtica de exerccios fsicos e esportes promovem autoconhecimento. Trabalham o corpo como uma dimenso concreta de sua existncia, propiciando novos modos de se perceber e incorporar significados diferentes quilo que realiza, modulando respostas adaptativas ao meio. A participao em oficinas de otimizao cognitiva, arteterapia e decorao de interiores reativam o senso de competncia, facilitando a avaliao subjetiva das capacidades comportamentais. Em 2007, foram 210 participantes nos vrios cursos, e um contingente flutuante de convidados.

    O corpo docente e discente lida, cotidianamente, com as demandas crescentes dos adultos mais velhos, sob diferentes perspectivas do conhecimento e de possibilidades de interveno, que se relacionam a diversos aspectos, tais como, as necessidades de sade (preveno), interferindo nos modos de viver, nas condies e relaes de trabalho e na qualidade dos ambientes; as necessidades de atendimento jurdico, scio-assistencial e de proteo aos direitos do idoso; as demandas de melhoria da acessibilidade para garantia de qualidade de vida, entre outras questes. Essa oportunidade educativa viabilizada pela extenso favorece, assim, a contnua retro-alimentao do processo ensino e pesquisa, essencial na dinmica da instituio universitria.

    Em 2007, houve a participao direta nos projetos do PAIE, de quinze estagirios (Psicologia, Servio Social, Enfermagem, Matemtica, Educao Fsica, Arquitetura) e de sete docentes nas reas de Psicologia, Enfermagem, Educao Fsica, Servio Social, Cincias e Letras, Informtica e Arquitetura. Foi espao de estgio curricular, atividades complementares e Trabalhos de Concluso de Curso diversos.

    51Revista de Extenso da Universidade de Taubat - Pr-Reitoria de Extenso e Relaes Comunitrias. -- No. 1 (2008). Taubat: 2008

    http://periodicos.unitau.br/ojs-2.2/index.php/extensao | [email protected] | Tel.: (12) 3625-4227/4208

  • Consideraes Finais

    Ao longo dos ltimos quatro anos, este programa sofreu os ajustes prprios de toda e qualquer ao pedaggica, devidos ao carter dinmico e constante da evoluo do conhecimento, visibilidade crescente da heterogeneidade da experincia do envelhecimento e ainda ao amadurecimento da prxis da extenso, resultante da interao com a comunidade e os segmentos representativos do idoso. Embora haja avanos no alcance dos seus propsitos, so inmeros os desafios a serem enfrentados. A complexidade e pluralidade de aspectos que envolvem a rea do envelhecimento, revestindo-a de importncia interdisciplinar no universo acadmico-cientfico, demandam um esforo multiprofissional para atender s questes destes dois eixos temticos.

    Evoluiu a viso de que o idoso um indivduo capaz de identificar seus potenciais e limites, indicando como o processo de ensino-aprendizagem deve ocorrer; o que relevante aprender, a partir de sua histria de vida e contexto social. Essa concepo de homem tem orientado a formao do profissional que com ele trabalha, na definio do ambiente propcio a aprendizagem, das formas de encorajar a vivncia de situaes novas e compartilhar saberes, o respeito ao ritmo de sua aprendizagem decorrentes da caractersticas prprias da velhice e as possibilidades de ampliar seus relacionamentos sociais significativos.

    Como projeto pedaggico, ao reunir a dimenso educacional para os idosos dimenso educacional do corpo docente e discente que dele participa, e, indiretamente comunidade no entorno, o Programa de Ateno Integral ao Envelhecimento integra e articula um conjunto de prticas e saberes de vrias reas do conhecimento, com vistas sua interdisciplinariedade, concretizados internamente por meio de atividades de estgio e linhas de ensino e pesquisa, de acordo com as exigncias e limites da realidade institucional. fruto de uma relao transformadora com sua populao alvo, uma prtica que viabiliza sua crescente autonomia e a conquista de interlocuo com outros atores da comunidade, estimulando consensos e respeitando diferenas, em um contnuo processo de diagnosticar, planejar, implementar e avaliar.

    Pelo fato de a afirmao da extenso universitria no projeto poltico-pedaggico ainda pressupor conquistas em relao dimenso educacional que lhe inerente, pretende-se que este programa, a despeito dos tmidos avanos, assuma maior amplitude a partir de um esforo interdepartamental legtimo e um enfrentamento das dificuldades inerentes convivncia interdisciplinar, para o empoderamento da gerontologia como uma rea do conhecimento com mais visibilidade cientfica.

    52Revista de Extenso da Universidade de Taubat - Pr-Reitoria de Extenso e Relaes Comunitrias. -- No. 1 (2008). Taubat: 2008

    http://periodicos.unitau.br/ojs-2.2/index.php/extensao | [email protected] | Tel.: (12) 3625-4227/4208

  • Notas

    Gerontologia aqui entendida como a cincia do envelhecimento que trata do mesmo como campo cujo fundamento o estudo do fenmeno do envelhecimento sob uma tica basicamente interdisciplinar (Papalo Netto, 2002, p. 7-9).2 Segundo a Organizao Mundial de Sade, o idoso definido pela idade acima de 60 anos nos pases em desenvolvimento e 65 nos pases desenvolvidos. Consideram-se adultos maduros indivduos na fase do desenvolvimento que compreende a meia-idade, geralmente entre 45 e 60 anos.3 A expresso velhice bem-sucedida aqui compreendida como possibilidade de manuteno da competncia em domnios selecionados do funcionamento, atravs dos mecanismos psicolgicos de seleo, otimizao e compensao. Ver BALTES, P.B.; BALTES, M.M. Psychological perspectives on successful aging: The model of selective optimization with compensation. In: BALTES, P.B.; BALTES, M.M. (eds). Successuful aging. Perspectives from the behavioral sciences. Cambridge: Cambridge University Press.4 As teses defendidas neste relatrio da UNESCO, da educao bsica universidade, voltam-se essencialmente para o desenvolvimento humano, entendendo-se a educao como uma experincia global que se desenvolve ao longo de toda a vida.5 Ver MOODY, R.H. Philosophical presuppositions of education for the old age. Educational Gerontology, n. 1, p.1-16.6 O termo Life span, em Psicologia, refere-se ao desenvolvimento ao longo da vida. A partir da dcada de 70, processou-se uma grande transformao na psicologia do desenvolvimento, derivando entre outras perspectivas tericas, a do desenvolvimento ao longo da vida. Neste paradigma, a idade cronolgica no vista como varivel causal, mas como um indicador dos eventos biolgicos, sociais e psicolgicos de natureza normativa e no-normativa que um indivduo j viveu e est vivendo. Ver BALTES, P.B. Theoretical propositions of the life span development psychology: on the dynamics between growth and decline. Developmental Psychology, v. 23, p. 611-96.7 Os diversos tericos na perspectiva da Pedagogia e da Educao Social so sugeridos por KRUG, J.G. Aes socioculturais na velhice. In: CASARA,M.B.; CORTELLETTI, I.A.; BOTH,A. Educao e envelhecimento humano. Caxias do Sul: Educs, 2006. 8 Ver PETERSON, D.A. Educacional Gerontology: the state of art. Educational Gerontology, 1976, 1, n.1.

    53Revista de Extenso da Universidade de Taubat - Pr-Reitoria de Extenso e Relaes Comunitrias. -- No. 1 (2008). Taubat: 2008

    http://periodicos.unitau.br/ojs-2.2/index.php/extensao | [email protected] | Tel.: (12) 3625-4227/4208

  • Referncias

    DELOURS, Jacques. Educao: um tesouro a descobrir. Relatrio para a Unesco da Comisso Internacional sobre educao para o sculo XXI. So Paulo: Cortez, 1998. FREIRE, Paulo. Educao e mudana. 2.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

    FUNDAO PERSEU ABRAMO, SERVIO SOCIAL DO COMRCIO-SO PAULO. Idosos no Brasil: vivncias, desafios e expectativas na 3. Idade. Pesquisa de Opinio Pblica. CD-Room. Maio de 2006.

    FURTER, Pierre. Educao permanente e desenvolvimento cultural. 2.ed. Petrpolis: Vozes, 1975. Traduo de Teresa de Arajo Penna.

    GLENDENNING, F. Educational Gerontology In: Britain as an emerging field of study and practice. Educational Gerontology, n. 15, p. 121-31, 1989.

    INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA (IBGE). Censo. Disponvel em http://ibge.gov.br. Acesso em 30/out/2007.

    CACHIONI, Meire; NERI, Anita Liberalesso. Educao e velhice bem-sucedida no contexto das universidades da terceira idade. In: NERI, Anita Liberalesso; YASSUDA, Mnica Sanches (Org.);

    CACHIONI, Meire. (Colab.). Velhice bem-sucedida: aspectos afetivos e cognitivos. Campinas: Papirus, 2004. p. 29-49.

    NERI, Anita Liberalesso; CACHIONI, Meire. Velhice bem-sucedida e educao. In: NERI, Anita Liberalesso; DEBERT, Guita Grin. (Org.). Velhice e sociedade. Campinas: Papirus, 1999. p. 113-40.

    PALMA, Lcia Saccomori; CACHIONI, Meire. Educao Permanente: perspectiva para o trabalho educacional com o adulto maduro e com o idoso. In: FREITAS, Elizabete Viana de; et al.(Orgs.) Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2002. p. 1101-9.

    PLANO NACIONAL DE EXTENSO UNIVERSITRIA. Frum de Pr-reitores de Extenso das Universidades Pblicas Brasileiras. Ilhus: Editus, 2001.

    VEIGA, Ilma Passos Alencastro.(Org.). Projeto poltico-pedaggico da escola: uma construo possvel. 13. ed. Campinas: Papirus, 1995.

    54Revista de Extenso da Universidade de Taubat - Pr-Reitoria de Extenso e Relaes Comunitrias. -- No. 1 (2008). Taubat: 2008

    http://periodicos.unitau.br/ojs-2.2/index.php/extensao | [email protected] | Tel.: (12) 3625-4227/4208