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REDVET Rev. Electrón. vet. http://www.veterinaria.org/revistas/redvet 2017 Volumen 18 Nº 10 - http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n101017.html Argola nasal em suínas reprodutoras criadas ao ar livre http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n101017/101705.pdf 1 REDVET - Revista electrónica de Veterinaria - ISSN 1695-7504 Argola nasal em suínas reprodutoras criadas ao ar livre - Nose ring in swine female in free range production Barbosa, Andressa Jalyne de Sousa 1* | Gomes, Patrícia Moura 1 | Cabral, Amanda Renata Rodrigues 2 | Silva, Karoline Messias da 1 | Silva, Frederico Lopes da 3 | Paiva, Jacqueline Nery de 1 | Soares, Felipe Herrero 2 | Pereira, Cristiane da Silva 6 | Castro, Juliana 4 | Brethel, Suiyan 4 | Perini, Julia Eumira Gomes Neves 5 | Santana, Angela Patrícia 6 | Murata, Luci Sayori 6 1 Discente do curso de Medicina Veterinária da FAV-UnB, (*) Bolsita ProIC/CNPq/UnB; 2 Discente do curso de Agronomia da FAV-UnB; 3 Docente da UPIS/Brasília, 4 Médica Veterinária da FAV-UnB, 5 Docente do IFB/Brasília, 6 Docente da FAV/UnB/Brasília ([email protected] ). Resumen Com o objetivo de avaliar o comportamento de suínas submetidas a inserção de argola nasal e criadas ao ar livre, foram utilizadas oito suínas de linhagem comercial, quatro foram submetidas ao processo de inserção da argola e quatro consideradas como controle. Os animais foram observados durante 23 dias após a inserção das argolas (período de cicatrização). Os comportamentos observados de fuçar, coçar na árvore, comer parte da árvore, cavar, banhar na lama, pastar, apresentar comportamento ativo, descanso, social positivo e negativo, beber água e investigar foram dispostos num etograma e observados pelo método “scan sampling”. A duração do consumo ingestivo (minutos) foi observada pelo método focal. Os dados de comportamento foram transformados em frequência e submetidos ao teste do Qui 2 e os de duração de consumo submetidos ao Teste T. O comportamento de fuçar não foi observado em fêmeas aneladas durante o período estudado, nas fêmeas controle esse comportamento apareceu com frequência de 0,63%. Cavar foi um importante comportamento apresentado pelas fêmeas aneladas, que esteve ausente nas fêmeas controle. A duração da refeição das fêmeas aneladas e controle foram de 25,58 e 34,64 minutos, respectivamente. Houve redução do tempo de consumo da dieta, mas a quantidade ingerida permaneceu adequada. Comportamentos dinâmicos, como banhar na lama e investigar, foram expressos com maior frequência no grupo controle, em contrapartida, caminhar foram mais frequentes nas fêmeas aneladas. Conclui-se que argolas nasais em

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REDVET - Revista electrónica de Veterinaria - ISSN 1695-7504

Argola nasal em suínas reprodutoras criadas ao ar livre - Nose ring in swine female in free range production

Barbosa, Andressa Jalyne de Sousa1* | Gomes, Patrícia Moura1 | Cabral, Amanda Renata Rodrigues2 | Silva, Karoline Messias da1 | Silva, Frederico Lopes da3 | Paiva, Jacqueline Nery de1 | Soares, Felipe Herrero2 | Pereira, Cristiane da Silva6| Castro, Juliana4 | Brethel, Suiyan4 | Perini, Julia Eumira Gomes Neves5 | Santana, Angela Patrícia6 | Murata, Luci Sayori6

1 Discente do curso de Medicina Veterinária da FAV-UnB, (*) Bolsita ProIC/CNPq/UnB; 2 Discente do curso de Agronomia da FAV-UnB; 3 Docente da UPIS/Brasília, 4 Médica Veterinária da FAV-UnB, 5 Docente do IFB/Brasília, 6 Docente da FAV/UnB/Brasília ([email protected]).

Resumen Com o objetivo de avaliar o comportamento de suínas submetidas a inserção de argola nasal e criadas ao ar livre, foram utilizadas oito suínas de linhagem comercial, quatro foram submetidas ao processo de inserção da argola e quatro consideradas como controle. Os animais foram observados durante 23 dias após a inserção das argolas (período de cicatrização). Os comportamentos observados de fuçar, coçar na árvore, comer parte da árvore, cavar, banhar na lama, pastar, apresentar comportamento ativo, descanso, social positivo e negativo, beber água e investigar foram dispostos num etograma e observados pelo método “scan sampling”. A duração do consumo ingestivo (minutos) foi observada pelo método focal. Os dados de comportamento foram transformados em frequência e submetidos ao teste do Qui2 e os de duração de consumo submetidos ao Teste T. O comportamento de fuçar não foi observado em fêmeas aneladas durante o período estudado, nas fêmeas controle esse comportamento apareceu com frequência de 0,63%. Cavar foi um importante comportamento apresentado pelas fêmeas aneladas, que esteve ausente nas fêmeas controle. A duração da refeição das fêmeas aneladas e controle foram de 25,58 e 34,64 minutos, respectivamente. Houve redução do tempo de consumo da dieta, mas a quantidade ingerida permaneceu adequada. Comportamentos dinâmicos, como banhar na lama e investigar, foram expressos com maior frequência no grupo controle, em contrapartida, caminhar foram mais frequentes nas fêmeas aneladas. Conclui-se que argolas nasais em

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fêmeas suínas criadas ao ar livre podem suprimir o comportamento de fuçar e com isso reduzir a degradação de pastagens. Palavras-chave: ao ar livre | bem-estar animal | cicatrização | degradação ambiental | destrompe Abstract Aiming to evaluate the behavior of sows submitted to nasal ring insertion, eight commercial strain female were used, four were submitted to the ring insertion process and four were considered control. The animals were observed for 23 days after the insertion of the rings (cicatrization period). The observed behaviors of rooting, rubbing in the tree, eating part of the tree, digging, bathing in the mud, grazing, presenting active and resting behavior, presenting positive and negative social behavior, drinking water and investigating were arranged in an etogram and observed by scan sampling method. The lasting of voluntary intake (minutes) was observed by the focal method. The behavior data were transformed into frequency and submitted to the Chi2 test and the voluntary intake submitted to the T test. The rooting behavior was not observed in ringed females during the studied period, in the control females this behavior appeared with frequency of 0.63%. To dig was an important behavior presented by ringed females, which was absent in control females. The lasting of feed intake of the ringed and control females was 25.58 and 34.64 minutes, respectively. There was a reduction in the consumption time of the diet, but the amount consumed feed remained adequate. Dynamic behaviors, such as mud bathing and investigating, were expressed more frequently in the control group; in contrast, walking was more frequent in ringed females. The nasal rings in outdoor sows can suppress the behavior of rooting and thereby reduce the degradation of pastures. Key words: animal welfare | cicatrization | environmental degradation | free range | nose ring Introdução Originado na Europa no fim da década de 50, o Sistema Intensivo de Suínos Criados ao Ar Livre (SISCAL) foi introduzido no Brasil no final da década de 80 (Carvalho e Viana, 2011). Esse modelo de criação é crescente em diversos países por apresentar bom desempenho zootécnico, custos de implantação e manutenção reduzidos, facilidade de ampliação da produção quando comparado aos sistemas de confinamento, associados a preocupação com o bem-estar animal e os benefícios posteriores quanto à comercialização (EDWARDS & ZANELLA, 1996). Além dos fatores econômicos, o consumidor está cada vez mais

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exigente em relação à qualidade de vida dos animais nas diferentes fases de criação e a relação do bem-estar o impacto ambiental (Matthews, 1996). É importante considerar tais fatores, pois a qualidade de vida dos animais interfere diretamente nas características finais do produto (Warris, 1990). O SISCAL depende fundamentalmente do dimensionamento do sistema, do manejo utilizado e da capacidade gerencial do responsável pela granja (DALLA COSTA, 2001). No Brasil, esse sistema vem sendo adotado como alternativa de modernização da criação de suínos aos pequenos produtores (Abreu et al., 2001), principalmente da região Sul (Filippsen et al., 2001) preconizando a criação em ambiente aberto, geralmente em piquetes de forrageiras formadas ou áreas arborizadas, com cabanas ou abrigos (Rohr, 2014) nas fases de reprodução (machos e fêmeas), maternidade e, em alguns casos, creche, pois é necessário que as respectivas leitegadas permaneçam ao ar livre pelo menos durante 70 dias (Machado Filho et al., 2001). Nas fases de crescimento e terminação, os animais que serão destinados ao abate serão transferidos para o confinamento (Dalla Costa et al., 2000). Dentre as características do SISCAL que garantem o bem-estar dos suínos está a manutenção do comportamento natural da espécie (Dalla Costa, 2005). O comportamento de fuçar é inerente a espécie e realizado em 52% do período ativo do animal, com o objetivo de encontrar alimento ou lugar atraente para se deitar ou apenas por curiosidade. Sabe-se que reprodutores suínos, especialmente quando em fase de gestação passam grande parte do tempo ingerindo forragens e, quando esse recurso se esgota, passam a fuçar o solo (Dalla Costa e Sobestiansk, 1999). O bem-estar animal pode ser comprometido caso haja recorrentes situações de estresse como fome, sede, ausência de conforto térmico, dor, doenças, restrição acentuada a expressão do comportamento natural (Haskell e Hutson, 1996), medo ou angústia (Appleby, 1996). Como os suínos são bastante sensíveis a esses fatores estressantes (Warris, 1990), podem desenvolver os comportamentos estereotipados observados no sistema de criação em confinamento. Além do espaço reduzido provocar estresse crônico e interferir nos índices de crescimento dos animais (Pearce & Peterson, 1993) e altas concentrações de amônia devido a menor ventilação, se comparada a criação ao ar livre (Smith et al., 1996). A avaliação do comportamento é um dos principais critérios de manutenção do bem-estar animal, pois um comportamento normal, não estereotipado, é fundamental nas adaptações biológicas e representa a parte do animal que interage com o ambiente (SNOWDON, 1999). Assim, quando as necessidades biológicas e comportamentais da espécie são atendidas, há melhorias significativas na saúde e na produtividade dos animais.

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O SISCAL indiscutivelmente promove bem-estar aos animais quando permite preservar o comportamento natural da espécie, porém, gera impactos ambientais que devem ser considerados como a degradação dos recursos naturais, principalmente do solo, que sofre compactação e erosão laminar e rápida remoção da vegetação nas áreas próximas aos bebedouros, cabanas, sombras e cercas, erosão do solo, lixiviação e poluição dos cursos d’água (Costa et al., 1995; Oliveira, 1996; Stevenson, 1997; Figueiredo et al., 2002). A cobertura vegetal protege o solo do impacto provocado pelas chuvas, pelos raios solares e o pisoteio dos animais, que tendem a seguir sempre nas mesmas áreas (Figueiredo et al., 2002). Equipamentos como os comedouros devem ser confeccionados com materiais leves e resistentes e ter suas posições alteradas ao longo do período de permanência dos suínos (Dalla Costa, 2002; Rohr, 2014). O ideal para o sistema seria a implantação de gramíneas resistentes ao pisoteio e ao hábito de fuçar dos animais, com baixa exigência de insumos, de crescimento estolonífero e propagação através de mudas ou sementes (Dalla Costa, 2002). Diversas práticas de manejo podem ser adotadas para reduzir o risco de degradação ambiental, por exemplo, a rotação de pastagens, isolando com cerca elétrica os locais mais frequentados para a recuperação da vegetação e o uso do destrompe (Perdomo et al.,2001). Para reduzir os danos ambientais que podem ser gerados, as normas de bem-estar animal permitem uma argola no septo em criação de suínas, se for provado que a atividade do animal pode trazer os problemas citados anteriormente ou comprometer o bem-estar dos leitões (Bassett, 2011). Diante do exposto, este trabalho teve como objetivo monitorar e avaliar as fêmeas que foram submetidas ao procedimento de inserção da argola nasal em relação a ingestão de alimentos e expressão de comportamentos normais durante o processo de cicatrização. Material e métodos O experimento foi realizado na Unidade Demonstrativa de Criação de Suínos Criados ao Ar Livre na Fazenda Água Limpa da Universidade de Brasília, sob admissão da Comissão de Ética no Uso Animal (CEUA), UnBDoc nº 101046/2014. Oito fêmeas suínas multíparas não gestantes da linhagem comercial foram distribuídas casualmente em dois grupos: com e sem argolas nasais, com quatro animais cada. Cada grupo foi alocado em área de 1000m² limitados por cercas elétricas solares, com pastagem de B. decumbens e bebedouros automáticos do tipo concha. As fêmeas foram alimentadas com ração farelada comercial, em quantidade aproximada de 2kg/animal/dia.

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Os dados climatológicos foram obtidos da estação agrometeorológica da Fazenda Água Limpa. No período em que ocorreram as observações, a temperatura (°C) esteve em máxima de 32,04°C e mínima de 17,90°C e a média foi 23,37°C. E a umidade relativa do ar (%) alcançou máxima de 98,36% e mínima de 29,72%, com média de 71,38%.

As argolas nasais utilizadas no experimento foram de aço inoxidável, medindo de 3 a 4 cm de diâmetro, disponível comercialmente no mercado para uso em suínos e foram aplicados nas fêmeas com auxílio de um aplicador para esse tipo de técnica (Figura 01).

Figura 01. (a) administração de quetamina intravenosa (b) bloqueio infiltrativo para dor com lidocaína, (c) e (d) inserção da argola nasal.

Em relação ao período pré-cirúrgico, os animais foram submetidos

ao jejum na noite anterior ao procedimento. Não houve contenção física das fêmeas, apenas a técnica da escovação da parte contralateral do animal. Foi injetada azaperona, uma droga neuroléptica com efeitos sedativos e antieméticos como tranquilizante, em dose 1mg/kg por via intramuscular no pescoço. Aproximadamente 15 minutos depois, as fêmeas deitaram em decúbito lateral quando foi administrado quetamina, um anestésico geral que preserva os reflexos de deglutição e das vias aéreas superiores, em dose 0,8mg/kg. A quetamina foi associada com diazepam que também tem ação sedativa e neuroreguladora, em dose 0,04mg/kg na veia auricular lateral. O bloqueio infiltrativo para dor foi feito com uma dose de lidocaína injetada em cada narina. Posteriormente, foi feita assepsia com clorexidina e iodo povidona no

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plano nasal e narinas. Dez minutos após a indução anestésica, foi feita a incisão com lâmina de bisturi cirúrgico atrás do osso rostral.

A colocação dessa argola iniciou-se, somente, após o animal ser

devidamente anestesiado e isento de qualquer estímulo doloroso. O aplicador foi posicionado entre o tecido fibroso subcutâneo e a cartilagem do septo nasal para proceder a inserção da argola para que o anel possa ficar móvel. Assim, o anel foi inserido e fechado com alicate próprio para a finalidade .Essa forma de destrompe é utilizada com relativa frequência em países europeus. Em nosso país, ela tem sido pouco adotada, devido ao alto custo das argola e do alicate, instrumento necessário para colocar a argola (COSTA & SOBESTIANSKY, 1995).

Durante 4 dias, foi realizada uma antibioticoterapia preventiva

com enrofloxacina 10%, em dose 2,5mg/kg, por via intramuscular no pescoço. O anti-inflamatório utilizado foi a flunixina, 1,1mg/kg também por via intramuscular no pescoço, durante 3 dias. E finalmente, para evitar o aparecimento de miíases durante o processo de cicatrização, ivermectina em dose 1ml/50kg, pela via intramuscular no pescoço no dia do procedimento.

A avaliação do comportamento das fêmeas durante os cinco

primeiros dias, que correspondem ao período de inflamação, foi realizada de forma contínua. A partir do 6º dia, durante as fases de proliferação e remodelamento, a observação foi intermitente. O método “scan sampling” (varredura) buscou observar todos os animais a cada 10 minutos durante 6 horas por dia, 3 horas no período da manhã e 3 horas no período da tarde. A avaliação do período destinado à refeição foi feita com base na observação do período, pelo método focal, em que cada fêmea esteve nessa atividade (minutos/fêmea). O teste qui-quadrado foi utilizado para interpretar os dados de frequência de comportamento obtidos no período de cicatrização após o a inserção da argola nasal e análise de variância nos resultados de consumo ingestivo.

Os comportamentos de fuçar, coçar em árvores, comer cascas de árvores, cavar, banhar na lama, pastar, estar ativo, descansar, apresentar comportamento social positivo ou negativo, ir até o bebedouro e investigar foram observados e interpretados com a construção de um etograma de frequência (Tabela 1) desenvolvido de acordo com Bornett et al. (2003).

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Tabela 01. Etograma referente aos comportamentos observados

Comportamento Descrição 1. Fuçar Buscar por alimento ou apenas curiosidade 2. Coçar na

árvore Friccionar a pele na árvore

3. Comer a árvore Ingerir parte da árvore 4. Cavar Revolver o solo com os membros anteriores 5. Banhar na

lama Deitar na lama com os olhos abertos

6. Pastar Consumir a pastagem disponível 7. Ativo Animal deitado, sentado, de joelhos ou de pé, com a cabeça

erguida e olhos abertos. Vigilante, porém inativo. 8. Descanso Animal deitado com os olhos fechados 9. Social positivo Cheirar, coçar, massagear o outro

10. Social negativo Ameaçar, bater ou lutar contra outro 11. No bebedouro Beber ou manipular o bebedouro 12. Investigando Buscar algo no solo Resultados e discussão De acordo com os dados obtidos durante o período de observação dos animais, pode-se observar variações comportamentais no decorrer das fases de cicatrização das fêmeas submetidas ao procedimento cirúrgico quando comparadas as fêmeas controle (Tabela 02).

Tabela 2. Frequência dos comportamentos avaliados, em porcentagem, nas diferentes fases de cicatrização após a inserção da argola nasal nas fêmeas suínas.

A partir das observações de comportamento das fêmeas, verificou-se que o grupo anelado gastou 60,65% do tempo total descansando em comparação ao grupo controle gastou 47,46% nessa atividade (P<0,01). Normalmente o tempo total de descanso, sonolência e sono profundo está por volta de 19 horas, sendo que o último ocorre no período noturno e

Frequência de comportamentos (%) na fase de cicatrização após a inserção da argola nasal

Inflamação Proliferação Remodelação Cinco dias 6º ao 16º dia 17º ao 23º dia

Total

Comportamento

Controle Anelada Valor de p Controle Anelada Valor de p Controle Anelada Valor de p Controle Anelada Valor de p 1. Fuçar 0,57 no - 0,55 no - 0,88 no - 0,63 0 no 2. Coçar na árvore 0,43 no - 0,55 0,33 ns 0,88 no - 0,58 0,14 p<0,02 3.Comer a árvore 0,14 no - 0,22 0,33 ns 1,1 0,22 ns 0,39 0,19 ns 4. Cavar no 0,28 - No 0,33 - no no - 0 0,24 no 5. Banhar na lama 7,75 3,95 p<0,01 9,32 6,58 p<0,05 13,38 24,12 p<0,01 9,69 9,54 ns 6. Pastar 15,06 13,7 ns 17,43 13,49 p<0,05 14,91 12,94 ns 16,08 13,44 p<0,03 7. Ativo 12,05 11,58 ns 10,96 10,96 ns 5,48 7,46 ns 10,12 10,4 ns 8. Descanso 47,35 64,12 p<0,01 48,57 63,6 p<0,01 45,39 49,34 ns 47,46 60,65 p<0,01 9. Social positivo 0,29 0,14 <5 0,22 0,44 <5 1,1 0,88 ns 0,44 0,43 ns 10. Social negativo 0,57 no - 0,88 0,77 ns no no - 0,58 0,34 ns 11. No bebedouro 0,57 1,13 ns 1,21 0,99 ns 0,66 1,32 ns 0,87 1,11 ns 12. Investigando 15,21 5,08 p<0,01 10,09 2,19 p<0,01 16,23 3,73 p<0,01 13,17 3,52 p<0,01

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corresponde a 5 horas (Fraser, 1983), mas esse período foi ainda maior nas fêmeas submetidas ao procedimento cirúrgico. A prática de fuçar não foi observada em nenhum momento em fêmeas aneladas, apesar de corresponder a 30% das horas de vigília desses animais quando não são submetidos ao procedimento (Stolba e Wood Gush, 1989). Já nas fêmeas controle esse comportamento aparece com frequência de 0,63%. Segundo Studnitz (2003), esse é o principal comportamento de exploração das fêmeas suínas. Cavar não foi um comportamento apresentado pelas fêmeas controle, mas apareceu com 0,24% de frequência nas fêmeas aneladas. Quanto ao consumo ingestivo observado foi verificado a diminuição do tempo de consumo, porém, a quantidade ingerida permaneceu adequada, 2,0kg de ração seca/animal/dia. O mesmo foi observado em relação ao consumo hídrico (Tabela 03). Tabela 03 – Duração da refeição em minutos dos grupos de animais controle e aneladas. Duração da refeição (min) Controle 34,64 Anelada 25,58 Valor de P 0,0001 CV (%) 46,12 MSE 13,81

CV = coeficiente de variação, MSE = quadrado médio do erro.

Esse resultado difere do que foi encontrado em análises de Horrel et. al. (2000), onde a presença da argola nasal pode reduzir a eficiência do animal em consumir alimentos sólidos, que são consumidos de forma mais lenta (Bornett et al., 2003). Além de afetar a capacidade de executar atividade exploratória, por causa do estresse agudo provocado no procedimento de da argola nesses animais (Horrel et al., 2001), que evitam fuçar para se alimentar (Horrel et al., 2000). Por isso, é necessário manter animais com as mesmas características agrupados, pois fêmeas aneladas são mais relutantes em iniciar agressões físicas se comparadas aos animais sem argola (Horrel et al., 2001).

Na fase período de inflamatória, correspondente aos 5 primeiros dias, caracterizada pela hemostasia que compreende a formação de coágulos de fibrina, migração de leucócitos fagocitários que removerão substâncias estranhas e o início da cascata de reparação tecidual. Os neutrófilos são as primeiras células que chegam à ferida, cerca de 24 horas após o processo de quimiotaxia plaquetária, sendo que os macrófagos se direcionam à ferida 48 a 96 horas, antes da chegada dos

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fibroblastos que iniciam a replicação (Campos et al., 2007). Nessa fase não foram observados comportamentos de fuçar, coçar ou comer a árvore nas fêmeas aneladas, pois danos tissulares de qualquer origem, física, química ou biológica desencadeiam de imediato rubor, calor, dor e tumor (Balbino et al., 2005). Em contrapartida, o comportamento de cavar com a pata apareceu como forma de substituição comportamental, pois fuçar é o comportamento de preferência desses animais e naturalmente está acompanhado pela revolução do solo. E, já que as fêmeas aneladas sentem dificuldade em tocar o focinho, tentam maneiras alternativas (Horrel et al.,2001). Comportamentos dinâmicos, como banhar na lama e investigar, foram presentes com maior frequência no grupo controle. Comportamento social negativo não foi observado nas fêmeas aneladas como no grupo controle. E no período em que o grupo de fêmeas esteve no bebedouro, ativas ou pastando, não houve diferença significativa na frequência desses comportamentos entre elas. Assim como foi observado por Eriksen et. al (2006), as fêmeas não aneladas fuçam e revolvem o solo significativamente mais do que as aneladas. As aneladas caminham significativamente mais que as controle, mas a diferença de tempo gasto deitadas, em pé ou pastejando não foi significativa. Na fase de proliferação, composta pela fase de epitelização, angiogênese, formação do tecido de granulação e deposição de colágeno, observada do 6º ao 16º dia, o comportamento de fuçar permaneceu ausente. E as atividades coçar na árvore e comer a árvore aparecem nos dois grupos em frequência semelhante. O comportamento de cavar persiste no grupo de fêmeas aneladas, assim como na fase anterior. O período de descanso mantém-se elevado no grupo anelado. Já os comportamentos banhar na lama, pastar e investigar foram significativamente maiores para as fêmeas controle. Nos demais comportamentos analisados não houve diferença significativa entre as fêmeas aneladas e controle. Na terceira etapa, a fase que encerra o processo, a remodeladora ou fase de maturação que provoca mudança no padrão de organização do colágeno, melhoria nos componentes das fibras colágenas e reabsorção da água, o comportamento de fuçar foi inexistente. As fêmeas também não se coçaram nas árvores durante esse período e nenhum dos grupos apresentou o comportamento de cavar. Houve uma inversão no comportamento de banhar na lama, que nessa fase foi superior no grupo anelado. Investigar ainda é mais comum às fêmeas controle. A expressão dos demais comportamentos foi semelhante nos dois grupos. Mesmo com certa variação de frequência de comportamentos, pode-se observar que fêmeas aneladas, mesmo incapazes de fuçar, substituíram esse comportamento por outros como pastar, mastigar, cheirar ou comer, sem demonstrar frustração ou apresentar comportamentos anormais (Studnitz et al., 2003). Em contrapartida,

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segundo Burnett (2003), suínas aneladas não fuçam, pois a pressão do anel contra o solo provoca dor durante essa prática. No entanto, quando essas argolas são removidas, elas retomam esse comportamento (Studnitz et al., 2003). Ao comparar o nível de redução de pastagem nos piquetes das fêmeas aneladas e não aneladas (figura 02), observa-se que a degradação foi significativamente maior no piquete de fêmeas controle, se comparado ao de fêmeas aneladas que ainda permite a visualização de parte da forragem implantada, o que comprova a efetividade do procedimento.

Figura 02 – (a) piquete de fêmeas não submetidas ao anelamento no dia

21/01/2016, (b) piquete de fêmeas não submetidas ao anelamento no dia 30/01/2016, (c) piquete de fêmeas submetidas ao anelamento no dia 21/01/2016, (d) piquete de fêmeas submetidas ao anelamento no dia 30/01/2016. Variação dos níveis de vegetação no intervalo de 10 dias.

Conclusão De acordo com os resultados obtidos no estudo, pode-se concluir que a inserção da argola nasal em fêmeas vazias criadas ao ar livre pode suprimir o comportamento de fuçar e com isso reduzir a degradação de pastagens. Estratégias de proteção de árvores devem ser estudadas para preservação ambiental e das sombras naturais.

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