ARCELI ANGELINI BEZERRA PSICOPEDAGOGIA - UM OLHAR...
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ARCELI ANGELINI BEZERRA
PSICOPEDAGOGIA - UM OLHAR PREVENTIVO NA EDUCA<;Ao
INFANTIL
Monografia apresentada ao curso de P6s-graduac;:ao em PSicopedagogia, daUniversidade Tuiuti do Parana, comorequisito final para obtenc;:ao do titulo deespecialista.
Orientadora: ProF. Maria Letizia Marchese
CURITIBA2004
CONSULTAINTERNA
SUMARIO
RESUMO ..
1 INTRODUCAO ..
........................................................................ iii
. ..4
2 EDUCACAO INFANTIL .7
2.1 Psicopedagogia em Crian9as com Dificuldades de Aprendizagem 7
2.2 APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO INFANTIL.. ..9
2.2.1 Concep90es de Aprendizagem e Praticas Pedag6gicas 16
2.2.2 Conceito de Aprendizagem ..
2.2.3 Conhecimentos da Neurocifmcia ...
. 19
. 21
2.2.4 A Aprendizagem para Vygotsky.. . 22
2.3 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA EDUCAc;:AO INFANTIL 24
2.4 PSICOPEDAGOGIA - Ac;:Ao PREVENTIVA ..
3 PROPOSTA DE TRABALHO ..
. 26
.............. 29
3.1 COMO EDUCAR? 30
3.2 0 JOGO E 0 LUDICO NA APRENDIZAGEM .. . 32
3.2.1 As Brincadeiras 35
4 CONCLUSAO ...
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ..
. 37
. .40
RESUMO
Os aspectos relevantes deste estudo estaa primeiramente relacionados a dificuldadede aprendizagem que as educandos vern apresentando nas series iniciais do ensinefundamental. Este assunto costuma desencadear impasses, conflitos, desarticula.yaoe desestrutura nas escolas. Alem disso, e perceptivel a quanta este assunto temdesgastado os diversos profissionais da educac;;ao,as quais deparam com crianyasque naD conseguem aprender e naD apresentam nenhum diagnostico quecaracterize essas dificuldades. A psicopedagogia, como campo de conhecimento,tern vida 9, portanto, um nascimento e urna hist6ria que S9 forma atraves de urnamem6ria. Dessa forma pretende-S8 investigar as situar;6es que leva urna crianc;a anao aprender de acordo com a esperado para a sua faixa etaria. Uma das areas deestudo do ser humano que apresenta maior desenvolvimento nas ultimas decadas ea neuraci€mcias.Com 0 desenvolvimento da tecnologia e da informatica tomou-sepossivel estudar 0 cerebra humano em funcionamento no individuo sao. 0 serhumano organiza aquila que Ihe e significativo em seu contexto espa<;o-temporalvivido. A inteligencia nao se organiza no vacuo. Ela s6 organiza coisas, espa90s,lugares, pessoas e ocasi6es significativas, ou seja, que tenham um sentido para ahist6ria da vida. 0 individuo que aprende na escola esta se desenvolvendo enquantopersonalidade e enquanto membra do grupo cultural a que pertence. 0conhecimento que ele elabora, as informayoes que ele recebe e a forma comotrabalha com elas sao elementos de um todo que se caracteriza pelas formas deayao, rea~o e inser~o de cada educando no complexo tecido social da escola efora dela. E importante considerar a processo de aprender em todos os seuscomponentes que incluem func;6es hoje urn tanto esquecido no discurso psico-pedagogico, como, por exemplo: a memoria, a aten~o, a imagina~o, a percep~o,todas elas consideradas par Vygotsky como func;6es centrais no processo dedesenvolvimento humano. 0 processo de aprender e multiplo. Nao hi! uma unicaforma de resolver um problema ou de estudar uma lingua, au formar um conceito dehistoria ou ciencia. Aprendemos pela realiza~o de sistemas, cuja efetivayao efun~o do contexto socia-cultural.
iii
INTRODU';:AO
A psicopedagogia e urn campo do conhecimento que pode contribuir com a
Educayao Infantil, cnde S8 mostra fundamental, 0 desenvolvimento de uma
inteligencia rna is rica, intuitiva e criativa. E necessaria utilizar-s8 das fases do
desenvolvimento, e a neurociencia vern ajudando a considerar que as dificuldades
das crianC;8s podem ir al6m do processo ensina aprendizagem e que podem ser
processos mais complexos de conceituac;ao de informa<;6es pelo sistema nervoso.
Mostra tambem, que samente S8 aprende S8 tiver aplicabilidade consciente do
conteudo em situ8<;oes diarias, podendo fazer suas analogias, a relaC;8oe
compreensao de problemas.
Eo importanle desenvolver na Educa<;ijo Infanlil a capacidade de raciocinio de
forma competente e critica para conceber, projetar, dar significados de forma ludica
e prazerosa as situac;oes de aprendizagem socializando em todas as oportunidades
vividas. Deve-se propiciar as crianc;as contato com diferentes tipos de materiais
concretos, analisar a sua realidade fundamentando-se nas leituras propostas,
observando 0 meio em que vivem, suas caracteristicas e como se encontram na
aprendizagem. E imprescindivel favorecer ao educando a percepc;ao como
integranle de um grupo SOCial, possibililando a rela<;ijo enlre 0 passado e 0 presente
na vida pessoal e social ampliando sua vi sao de mundo e levantando situac;oes para
elevar sua auto-estima.
as aspectos relevantes deste estudo estao primeiramente relacionados a
dificuldade de aprendizagem que os educandos vern apresentando nas series
iniciais do ensino fundamental. Esta pesquisa tern relevancia social por tratar da
dificuldade de aprendizagem, pois este assunto costuma desencadear impasses,
conflitos, desarticulac;ao e desestrutura das escolas. Alem disso, e perceptlvel 0
quanto este assunto tern desgastado os diversos profissionais da educac;ao, os
quais deparam com criancyas que nao conseguem aprender e nao apresentam
nenhum diagnostico que caracterize essas dificuldades.
Pesquisas que avancem nessa tematica podem contribuir de forma
significativa para 0 trabalho nas escolas em geral, no sentido de amenizar essas
dificuldades partindo de que a crianc;a ate as seis anos podera desenvolver uma
forma complementar para superar OS obslaculos da aprendizagem.
Esta pesquisa e de can3.ter relevante para avangos nos estudos cientificos
dessa tematica. A psicopedagogia, como campo de conhecimento, tern vida e,
portanto, urn nascimento e uma historia que se forma atraves de uma memoria.
o acesso as fontes teoricas e de grande relevancia para 0 progresso do
trabalho, onde se busca urna resposta a necessidade pratica e funcional de atender
a relagao de aprendizado restrita a situagao escolar. Dessa forma pretende-se
investigar as situagOes que leva uma crianga a nao aprender de acordo com 0
esperado para a sua faixa etaria.
Educar e ensinar a crianc;a a conhecer e a cuidar de seu carpo, de sua
saude, formar habitos e, neste senti do, a rotina e bastante valiosa. Educar e auxiliar
a crianga na explorag80 de seu ambiente: 0 espago em que esta; os objetos que a
rodeiam, suas caracteristicas e seus usos; os elementos que compoem a natureza;
os elementos que compoem a cidade, etc. Educar e ir mostrando para a erianga a
transformagao das eoisas realizadas atraves do trabalho do homem. Educar ecolaborar com a crianga na aprendizagem e dominio da linguagem falada e escrita,
ouvindo-a, estimulando-a a contar historias e fatos que ela vivencia, mostrando-Ihe
os usos da escrita.
A psicopedagogia podera colaborar no senti do de evitar dificuldades de
aprendizagens futuras, se forem feitos trabalhos adequados na Educa(:ijo Infantil,
onde se sabe que e a base de toda a aprendizagem. Em todos os momentos devem
ser relacionadas atividades que valorizem a aprendizagem global, para isso eimportante desenvolver propostas que viveneiem as areas: Motora (com atividades
de coordenagao dinamica manual; coordenagao viso-motora; relagao espacial;
lateralidade). Cognitive: (aten980 concentrada; Percepgoes visuais, auditivas e
tateis; Discriminagoes visuais, auditivas e tateis, Memoria, raciocinio; Seriagao;
Classifica(:ijo; Conceitua(:ijo; Sequencia(:ijo). Afetiva emocional: (socializa(:ijo, jogos,
trabalhos em grupos); Criatividade Academica: (constru9ao do numero;
Alfabetiza(:ijo (Iinguagem, leitura, escrita); Linguagem oral).
Com as criangas da educagao infantil deve-se usar sempre materiais
concretos, tendo 0 corpo como principio e ponto de partida, para que a crianc;a
reconhega a si e aos outros, como se integra no meio em que vive.
Deve-se levar em conta que as criangas nao sao papel em branco, elas
fazem parte de um todo e mesmo quando pequenas (3 a 6 anos) demonstram ja
saber alguns conceitos, outros deverao ser apreendidos e ensinados par pessoas
que compreendem 0 processo de desenvolvimento infantil, assim como 0
desenvolvimento cerebral, 0 que influencia no que ensinar e ate onde a crian9a
podera entender, interagir e internalizar.
Toda crianc;ase for bern trabalhada, com certeza sera menos provcflvelque
apresente dlficuldades de aprendizagem, pois estara em total desenvolvimento e
pronta para iniciar 0 processo de alfabetizayao, salvo as exce90es onde seja
diagnosticadas crianc;ascom necessidades especiais.
A psicopedagogia come90u de uma consciencia da falta, da necessidade de
atuayao no campo dos disturbios do aprendizado. A consciencia da falta e
fundamental para 0 desenvolvimento da crianya.
No Brasil, a psicopedagogia S8 ateve a urn atendimento mais imediato,
restringiu-se a um enfoque menor do que tem hoje, buscando uma resposta anecessidade pratica e funcional de atender a relac;iio de aprendizado. Uma das
areas de estudo do ser humano que apresenta maior desenvolvimento nas ultimas
decadas e, sem duvida alguma, a das chamadas neurociencias. Com 0
desenvolvimento da tecnologia e da informatica tornou-se possivel estudar 0 cerebro
humano em funcionamento no individuo sao. Em conseqOencia destas novas
tecnologias aprendeu-se mais sobre 0 cerebra humano nas ultimas duas decadas do
que nos 200 anos que as precederam.
Urn grupo vern se dedicando ao estudo da memoria, principalmente das
relay6es entre memoria e aprendizagem. Entre este, muitos tambem S8 ocupam da
consciencia.
o cerebro se forma da dinamica cotidiana das reay6es do individuo ao meio,
ideia defendida decadas atras por Wallon, para quem 0 processo de
desenvolvimento humane e funyao do contexto.
Nao adianta tratar 0 sintoma, e preciso ir mais longe, procurar ver em que
sistema esta inserido esta dificuldade de aprendizagem, onde se observa que nem
sempre esta relacionada a escola, mas sim em estruturar sua reaHdadede vida.
Para as crianyas, pensar significa lembrar, no entanto, para 0 adolescente,
lembrarsignificapensar.(SANDRONI,1986, p. 17)
2 EDUCACAo INFANTIL
2.1 PSICOPEDAGOGIA EM CRIANCAS COM DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
Os profissionais da psicopedagogia, observando as dificuldades de
aprendizagem, perceberam que nao adiantava tratar os sintomas observados, tinha-
S8 que ir mais longe, procurando ver em que sistema maior estava inserido esta
dificuldade de aprendizagem 8, conseqOentemente passando a ver a crianc;a nao
somente com dificuldade, mas sim urn todo, comec;ando nos conceitos basicos da
infancia.
Ao falar da crian<;a,fala-se do ser humano, de sua possibilidade de refietir
sabre a sua ayao, de formar e de S8 utilizar mecanismos simb61icos para construir
sua hist6ria de vida, de modo pessoal e original, a partir da histona da especie.
A hist6ria da crianc;a tambem, mostra essa abertura crescente de seu campo
de ayao. Sua mane ira de agir no inleia da vida tambem e pratica e funcionaL Pouco
a pouco, vai aprendendo a esperar e a ligar varios campos de agao, a relacionar
suas a,oes e refiexoes. A psicopedagogia, tambem vern tentando estabelecer
relay5es dinamicas e complementares entre os diversos subsistemas relacionados acriam;a.
Piaget tenta estabelecer uma relagao analogica de funcionamento entre
todos os seres vivos, pode-se dizer que a vida de qualquer forma pulsa. A vida tern
urn ritmo para fora e para dentro, e, ao mesmo tempo em que da continuidade,
procura S8 inovar. Procura-se conservar aquilo que temos e ao mesmo tempo inovar
a partir daquilo que se conserva.
A medida que a inteligencia cresce, nao ha mais condigOes do ~eu~
experimentar as coisas de forma fisica apenas, do "euP ir ate aquela porta para ver
se ela real mente esta abrindo, como faz a criancinha. 0 sujeito passa a utilizar sua
mem6ria para se organizar no presente com vistas no futuro.
Para que isso aconte98, e preciso que a estruturagao mental evolua a ponto
do arquivo de informagoes passar de uma memoria corporal, muscular, sensorial
para uma memoria imagetica, internalizada, daquilo que 0 "eu" vivem, de uma
memoria de vida.
o ser humano organiza aquilo que Ihe e significativo em seu contexto
espatyO-temporalvivido. A inteligenda nao se organiza no vacuo. Ela 56 organiza
coisas, espag,os,lugares, pessoas e ocasi6es significativas, ou seja, que tenham um
sentido para a hist6ria da vida.
Para PIAGET (1986, p. 54) a construc;aoda forma simb6lica de arquivar a
memoria faz-se necessaria tanto do ponto de vista logioo quanto do biologico. A
capacidade de oonstruir a representag,80 interna daquilo que vai acontecendo
comel):aa ser feita quando a crianva comeg,aa falar. Isto quer dizer que a crianya
esta, ao mesmo tempo desenvolvendo duas formas de representac;ao
complementares: a verbal e a imagetica. Ela aprende a representar as ooisas por
palavras, ou seja, a representac;ao verbal, que e aleatoria e social, transmitida
culturalmente, e aprende tambem a representar 0 mundo atraves de imagens
mentais, formando pouco a pouco seu acervo de lembranyas, a fim de se organizar
vida a fora.
De acordo com PIAGET (1986, p. 68), na pre-€scola, ate os seis anos, a
crianya aprende a Iidar com essas duas formas de representac;ao, a verbal e a
imagetica, de forma complementar. 0 que se assiste, numa cultura ocidental como a
nossa e muitas vezes, uma preocupac;aomuito grande com 0 verbal e 0 racional, em
detrimento do imagetico. 0 trabalho com imagens e fundamental na pre-escola para
o desenvolvimento de uma inteligenda rnais rica, intuitiva e criativa. As
representar;6es arquivadas, suas lembran98S,ficam muitas vezes pouco elaboradas.
Piaget fala que a assimilac;:aoultrapassa sempre 0 campo da consciencia. E, para
que torne-se conscientes do que vive-se e pode-se organizar e preciso que seaprenda a sistematizar as representar;6es.
o conhecimento, a representayao e 0 objeto do conhecimento se constroem
de forma paralela e complementar. Ou seja, a consciencia de quem eu sou se
constr6i a medida do que eu represento e da consciencia do outro. Portanto, quando
a crianva tern oportunidade de ver alguma representagao sua,de se ouvir, de se ver,
ela tern possibilidade de entrar em contato consigo mesma.
Quando existe algum problema em area representativa, quer seja na
linguagem, quer seja na imagetica nao e born trabalhar s6 0 sintoma, porque nao
funciona. E preciso resignificar muitas vezes os esquemas motores que estao por
baixo, tem que refazer uma cansciencia de carpa, de corpo que se quer bem, que
funciona bern, que interage sem perder a propria individualidade.
Na pre-escola e na escola, entao e importantissimo que a crianQa trabalhe
as representac;6esverbais e as imageticas projetando as situac;6esvividas. Isso vai
Ihe dar condic;6esde entrar no pedodo operatorio concreto e depois no formal de
maneira mais fluente. Quando a estrutura mental e feita de forma equilibrada num
processo de adapta~o cada vez mais interativo e reflexivo, e feita a classificac;ao
maior; quem sou eu, em que sistemas eu me insiro, pelo que sou responsavel.
De acordo com a LOB 939411996,art.29: A educac;ao infantil, primeira etapa
da educaC;aobasica tem como finalidade a desenvolvimento integral da crianva ate
seis anos de idade em seus aspectos fisicos, psicologico, intelectual e social,
complementando a ayao da familia e da comunidade.
Art. 30 - A educac;aoinfantil sera oferecida em:
I - creches ou entidades equivalentes para crianc;as de ate tres anos de
idade;
II - pre-escolas para as crianc;asde qualro a seis anos de idade;
Art. 31 - Na educac;ao infantil a avaliac;ao far-se-a mediante
acompanhamento e registro do seu desenvolvimento sem a objetivo de promoryao
mesmo para a acesso ao ensino fundamental.
2.2 APRENOIZAGEM E OESENVOLVIMENTO INFANTIL
Ha var;as realizac;6esde ordem primordialmente biologica que ocorrem nos
primeiros anos de vida, envolvendo, principalmente, a movimento e a percepc;ao.
o desenvolvimento do ser humano prossegue pela continua transfonnac;aoresultante de sua interac;:aocom 0 meio. Sendo dotado de um sistemanervoso de grande plasticidade, 0 ser humano tem potencialmente umamultiplicidade de caminhos de desenvolvimento. A direc;:aoque tomara seudesenvolvimento e func;:aodo meio em que ele nasce, das praticas culturais,das instituic;:6es de que participa e das possibilidades de maturac;:aoorganica e a vivencia sOcia-cultural. (LlMA,1997, p.1)
A ac;ao pedag6gica que niio tem como base as pcssibilidades de
aprendizagem e desenvolvimento do periodo de formaC;ao, nem se utiliza dos
instrumentos culturais possiveis segundo 0 periodo de formac;ao e, aliem disso,
10
disso, nao S8 apoia nas formas de pensamento presente do educando sera sempre
uma ac;ao pedagogica com pouca probabilidade de sucesso.
Os procedimentos pedag6gicos terae que, necessariamente ser distintos
conforme a idade de formac;:ao e 0 contexto de desenvolvimento.
Par Qutro lado, enquanto meio de desenvolvimento humane - a escola tern
sua especificidade. 0 processo de escolarizagao transforma as experiencias
concomitantes vividas na comunidade no local de trabalho, na familia, etc. Hi! desta
forma uma relagao dialetica entre a vida na escola e fora da escola, mas elas
diferenciam-se entre si em varios aspectos. Entre eles, urn dos mais importantes e 0
tato de que, enquanto as aprendizagens na vida cotidiana trazem inerentes a si
mesmas seus significados uma vez que decorrem das praticas sociais e culturais,
das condi90es de vida e da organizaC;ao de cada coletivo humano, as aprendizagens
na escola encontram seu significado na historia das ideias e 0 complexo processo de
desenvolvimento da consciencia humana.
E por esta via, a do desenvolvimento do sujeito que 0 conhecimento
adquirido na escola atinge a pratica do cotidiano, na medida em que a forma pel a
qual 0 indivlduo percebe 0 cotidiano e afetado pelo desenvolvimento provocado
pelas aprendizagens na escola.
Pedagogicamente temos, entao, urn fato inegavel: cabe sempre ao professor
introduzir elementos novos para seus educandos. Ele tern a fun9210 social e poHtica
de expandir os campos posslveis de conhecimento. Isto e feita com base na
experiencia da historicldade no desenvolvimento biologico e na experiencia da
historicidade da institui9ao escolar do processo de desenvolvimento do individuo na
institui~o escolar.
Tendo em vista a produ921o de conhecimento das ultimas decadas e a
propria evolu~o da historia das ideias, somos levados a rever 0 papel da psicologia
no complexo processo de escolariza<;ao nas sociedades contemporaneas.
E claro e crescentemente aeeito em vanos paises que os concellos deaprendizagem e desenvolvimento que orientam a a~o pedag6gica e aestrutura da escola precisam ser revistos.Sernpre que pensarnos em aprendizagern e desenvolvirnento, pensamosem psicologia. Neste seculo a psicologia foi a area de conhecimento quemais infiuenciou a pratica pedag6gica, a avaliac;aoe 0 desenvolvimento decurriculo, bern como norteou a defini~o dos perfis ideais de aluno e deprofessor. Desta fonna conceitos da psicologia fazem parte hoje da propriacultura da aprendizagem.(LlMA, 1997, p.6)
II
A pSicologia da aprendizagern, a psicologia do desenvolvimento e a
pSicometria tern sido as areas mais populares entre educadores. Em decorrencia do
proprio encaminhamento em direyao da interdisciplinaridade e das mudant;as
metodol6gicas verificadas na area de pesquisa psicol6gica nas ultimas decadas,
tern-S8 urna situayao em que S8 torna necessario pensar a psicologia como urna
rede de conhecimentos articulados, produzidos par sub-areas autonomas, que
encontram seu significado na complexidade da realidade bio-cultural da natureza
humana.
Na verdade 0 individuo que aprende na eseela esta S8 desenvolvendo
enquanto personalidade e enquanto membra do grupo cultural a que pertence. 0
conhecimento que ele elabora, as informa¢es que ale reeebe e a forma como
trabalha com elas sao elementos de urn todo que se caracteriza pelas formas de
a~o, rea~o e inser~o de cada educando no complexo tecido social da escola e
fora dela. Wallon elaborou a tese de que a inteligencia humana se desenvolve a
partir do sistema emocional, tese hoje corroborada pelas descobertas recentes das
neurociencias.
E importante considerar 0 processo de aprender em todos os seus
componentes que induem fun90es hoje um tanto esquecido no discurso psico-
pedagogico, como, por exemplo: a memoria, a atenryao, a imagina~o, a percepryao,
todas elas consideradas por Vygotsky como fun0es centrais no processo de
desenvolvimento humano.
Segundo LIMA (1997, p.10), outra aspecto importante para a aprendizagem
na escola e 0 do desenvolvimento da consciencia. Aprender implica estar consciente
do conteudo, ou seja ler a possibilidade de utiliza-Io em outros contextos, para
solucionar problemas, atraves de analogias aplicayaes diretas, etc.
C problema da cultura no processo de aprendizagem e desenvolvimento e,
desta forma, recolocado a partir de uma perspectiva distinta das que tern sido
geralmente adotadas ate agora na discussao sobre 0 papel da cultura no processo
do ensino e aprendizagem na institui~o escolar. Uma pedagogia culturalmente
relevante nao e, entao, aquela que restringe 0 conhecimento formal a ser trabalhado
pelo aluno aquele diretamente relacionado a cultural do educando. Ao contrario, 0
que ela propoe e 0 alargamento do conhecimento formal do individuo, apoiando-se
na experiemcia cultural para a elaborac;ao do curriculo da praposta pedag6gica.
12
A discussao realizada por Vygotsky sobre a cultura como elemento mediador
no desenvolvimento humano. A teoria hist6rico-cultural eJaborada par Vygotsky 8,
em parte, respons8vel pela atenQ8,o que 0 lema da cultura na escola vern recebendo
atualmente.
o processo de aprender e multiplo. Nao ha uma unica forma de resolver urn
problema ou de estudar uma lingua, ou formar urn conceito de hist6ria ou ciencia.
Aprendemos pela realiza9iio de sistemas, cuja efetiva9iio e fun9iio do ccntexto
s6cio-cultural. Do ponto de vista biol6gica, a configurayao de redes neuronais S8
construin3 em fun980 do conjunto de experiencia do individuo assumincto, portanto,
uma configura~o individual. As formas de atividades para a constru~o de
conhecimento sao gerais para todos as individuos, mas em cada categoria havari8c;oes nas formas de execU(;ao da ayao.
o estudo da cultura e objeto principal da antropologia, em bora a questao
esteja presente em outras areas do conhecimento, e a necessidade de se incluir a
cultura como elemento integrante de processos biol6gicos e psicol6gicos venha se
evidenciando nos ultimos tempos em areas como a medicina, a psicologia e a
linguistica.
Pela antropologia sabe-se que todo ser humano constr6i conhecimento
atraves do dominio das praticas culturais existentes em seu meio e que este tipo de
aprendizagem obedece a certas leis gerais. Tempo e espa90 determinam as formas
e qualidade da aprendizagem.
Estudos etnograficos revelam 0 lado da infancia em muitas culturas, na vida
cotidiana pode-se detectar as formas de avao humana, usos de linguagem (verbal e
nao-verbal), rela90es crian9a - adultas, existentes em um determinado grupo, e as
variac;:oes existentes entre urn grupo e outm.
E neste aspecto que a antropologia interessa ao educador porque ela revelao contexto de desenvolvimenlo e as praticas correntes na comunidade paraensinar as criant;as. Ela indica, igualmente, a conce~o de infanciavigente. °que 0 individuo aprende no seu contexto cultural convencionou-se chamar de conhecimento informal, par contraposic;ao a aprendizagemescolar, referida como aquisic;aode conhecimento formal. A relac;ao entreestas duas formas de construyao de conhecimento e urn dos pontosprincipals de intersecyao da antropologia e da pedagogia, de interesseparticular para os educadores. (CARVALHO, 1982, p. 87)
J3
o trabalho nos Centros de Educa9"io Infantil vern favorecer urn ambiente
fisieD e social ande a crianc;a sinta-s8 protegida e acolhida, e ao mesmo tempo
segura para S8 arriscar e veneer desafios. Quanta mais rico e desafiador for a
ambiente, mais ele Ihe possibilitara a ampliac;ao de conhecimentos acerca de si
mesma, dos Qutrose do meio em que vivem.
o trabalho da Educa9"io Infantil esta muito ligado aos movimentos,
contempla a multiplicidade de fungoes e manifestagoes do ate motor, propiciando urn
amplo desenvolvimento de aspectos especificos da motricidade das crianc;as,abrangendo uma reflexao acerca das posturas corporais implicadas nas atividades
cotidianas, bern como atividades voltadas para a amplia9"io da cultura corporal de
cada crianya.o movimento para a crianc;a pequena significa muito mais do que mexer
partes do corpo ou deslocar-se no espac;o. A crianc;a S8 expressa e S8 comunica parmeio dos ge5t05 e das mimicas faciais e interage utilizando fortemente a apoio docorpo. A dimensao corporal integra-se ao conjunto da atividade da crianya. 0 atemotor faz-se presente em suas funt;6es expressiva, instrumental ou de sustenta~o
as posturas e aos gestos.
Quanto menor a cnant;.a, mais ela precisa de adultos que interpretem 0significado de seus movimentos e expressoes, auxiliando-a na satisfayao desuas necessidades. A meclida que a criant;.a cresce, 0 desenvolvimento denovas capacidades possibilila que ela atue de maneira cada vez maisindependente sobre 0 mundo a sua volta, ganhando maior autonomia emrelayao aos adultos. (vyGOTSKY, 1989, p.57)
A externaliza~o de sentimentos, emoy6es e estados intimos poderaoencontrar na expressividade do corpo um recurso privilegiado. Mesmo entre adultosisso aparece freqOentemente em conversas, em que a expressao facial pode deixartransparecer sentimentos como desconfianya, medo ou ansiedade, indicando muitas
vezes alga oposto ao que se esta falando.Compreender 0 carater ludico e expressivo das manifestayoes da
motricidade infantil podera ajudar 0 educador a organizar melhor a sua pratica,levando em conta as necessidades das crianyas.
Outre aspecto da dimensao expressiva do ato motor e 0 desenvolvimentodos gestos simb6licos, tanto aqueles ligados ao faz-<ie--conta quanto os que
possuem uma fun9"io indicativa, como apontar, dar tchau, etc.
14
podem-se observar situ8t;;OeS em que as crian98s revivem uma cena recorrendo
somente aos seus ge5t05, nesse caso, a imitac;ao desempenha um importante papel.
No plano da consciencia corporal, a criam;a comey8 a reconhecer a imagem
de seu carpa, 0 que ocorre principalmente par meio das interac;6es sociais que
estabelece e das brincadeiras que faz diante do espelho. Nessas situa¢es, ela
aprende a reconhecer as caracteristicas fisicas que integram a sua pessoa, 0 que efundamental para a constru9'3o de sua identidade.
A dimensao subjetiva do movimento deve ser contemplada e acolhida em
lodas as situac;6es do dia-a-dia, possibilitando que as crianc;as utilizem gestos,
posturas e ritmos para S9 expressar e S8 comunicar. Ah§m disso, e passivel criar,
intencionalmente, oportunidades para que as crianyas se apropriem dos significados
expressivos do movimento.
Brincadeiras que envolvam 0 canto e 0 movimento, simultaneamente,
possibilitam a percepyao ritmica, a identificac;:ao de segmentos do corpo e 0 contato
fisico. A cultura popular infantil e uma riquissima fonte na qual podem buscar
cantigas e brincadeiras de cunho afetivo nas quais 0 contato corporal e 0 seu
principal conteudo.
Os jogos e brincadeiras que envolvem as modula¢es de voz, as melodias e
a percepr;ao ritmica podem fazer parte de seqOencias de atividades. Essas
brincadeiras, ao propiciar 0 contato corporal da crianya com 0 adulto, auxiliam 0
desenvolvimento de suas capacidades expressivas.
As mimicas faciais e gestos possuem um papel importante na expressao de
sentimentos e em sua comunicar;ao. E importante que a crianya dessa faixa etaria
conheya suas proprias capacidades expressivas e aprenda progressivamente a
identificar as express6es dos outros, ampliando sua comunicac;ao.
A integrac;ao entre os aspectos sensiveis, afetivos, esteticos e cognitivos,
assim como a promoc;ao de interac;ao e comunicar;ao social, conferem carater
significativo a linguagem. E uma das formas importantes de expressao humana, 0
que por si s6 justifica sua presenya no contexto da educac;ao, de um modo geral, e
na educac;ao infantil, particularmente. A linguagem musical e excelente meio para 0
desenvolvimento da expressao, do equilibrio, da auto-estima e autoconhecimento,
al8m de poderoso meio de integra9'3o social.
15
Quando as crianyas S8 encontram em urn ambiente afetivo no qual 0
professor esta atento a suas necessidades, falando, cantando e brincando com e
para elas, adquirem a capacidade de atenyao, ternandO-s8 capazes de ouvir as sons
do entorna. Podem aprender com facilidade as musicas mesmo que sua reproduyao
naosejafie!.
Envolvendo 0 ge5to, a movimento, 0 canto, a dan9C3 e 0 faz-de-conta, esses
jogos e brincadeiras sao expresseo da infancia.
Segundo CERIZARA,(1999, p.35), a movimento,a equilibria, a ritmo, a
harmonia, 0 contraste, a continuidade, a proximidade e a semelhanya sao atributos
da cria~o artistica. A integrayao entre as aspectos sensiveis, afetivQs, intuitivQs,
esteticos e cognitivos, assim como a promoc;ao de interarrao e comunicayao sodal,
conferem carater significativo a vida infanti!.
As criantyas exploram, sentem, agem, refletem e elaboram sentidos de suas
experiencias. A partir dai constroem significac;6es sobre como 58 faz, 0 que 13, para
que serve 8 sobre outros conhecimentos a respeito da arte.
o desenvolvimento da imagina~o criadora, da expressao, da sensibilidade
8 das capacidades esteticas das crianyas podera ocorrer no fazer artistico, assim
como no contato com a produ~o de arte presente nos museus, igrejas, livros,
reprodu~6es, revistas, gibis, videos, CD-ROM, atelies de artistas e artesaos
regionais, feiras de objetos, espa.,os urbanos etc. De acordo com CARVALHO
(1982, p. 68), a desenvolvimentoda capacidade artistica e criativa deve estar
apoiado tambem, na troca reflexiva das criantyas ao aprender, que articula a ayao, a
percep~o, a sensibilidade, a cogni9ao e a imagina9ao. E assim que, por meio do
desenho, a criantya cria e recria individualmente formas expressivas, integrando
percepc;ao, imagina980, reflexao e sensibilidade, que podem entao ser apropriadas
pel as leituras simb6licas de outras criantyas e adultos.
A imita980, que e utilizada no desenho pelas crianyas e por muitos
combatida, desenvolve uma func;ao importante no processo de aprendizagem. Imitar
decorre antes de uma experiemcia pessoal, cuja inten<;ao e a apropriac;ao de
conteudos, de formas e de figuras por meio da representac;ao.
As hist6rias, as imagens significativas ou os fates do cetidiano podem
ampliar a possibilidade das crian~as escolherem temas para trabalhar
expressivamente. Tais intervenyoes educativas devem ser feitas com 0 ebjetivo de
16
ampliar 0 repertorio e a linguagem pessoal das crianc;ase enriquecer seus trabathos.
Os temas e as intervenc;oes podem ser urn recurso interessante desde que sejam
observados seus objetivos e fun~o no desenvolvimento do percurso de criayao
pessoal da crianya. E preciso, no entanto, ter atenc;ao quanta a programayao de
atividades para as criam;as para S8 favorecer tarnbam aquelas originarias das suasproprias idei8s au geradas pelo cantata com as mais diversos materiais.
A organizac;ao do tempo deve respeitar as possibilidades das crian<;as
relativas ao rltmo e interesse pelo trabalho, ao tempo de concentrayao, bern comoao prazer na realizac;ao das atividades. Cada crianva tern seu ritma, demonstra a
necessidade de prolongar 0 tempo de trabalho ou de reduzi-Io, quando for 0 caso.
2.2.1 ConceP90es de Aprendizagem e Praticas Pedagogicas
Ap6s a existencia das concepr;oes de aprendizagem de teor mecanicista eidealista, acredita-se que urn grupo de pesquisa que compoe 0 que se chamapsicologia genetica tenha muito a contribuir. Desse grupo, saJienta-se as que maisse voltaram para 0 problema da aprendizagem segundo uma perspectiva que nos
parece extremamente promissora: as inauguradas par Piaget, Vygotsky e Wallan.
Para CERIZARA (1999, p. 54) Piaget dedicou tada a sua vida a formac;ao e 0
desenvolvimento do conhecimento. Ao pesquisar a forma~o e 0 desenvolvimentodo conhecimento, e inaugurada a Epistemologia Genetica, definindo-a como"pesquisa essencialmente interdiscipJinarque se propoe estudar a significa~o dos
conhecimentos, das estruturas operat6rias ou de nogoes, recorrendo, de uma parte,a sua hist6ria e 80 seu funcionamento atual em uma ciemcia determinada, e deoutra, ao seu aspecto 16gicoe enfim a sua forma pSicogenetica au as suas rela<;6escom as estruturas menta is. A perspectiva epistemol6gica de Piaget e extrema mente
complexa e original, nao se interessa apenas pelo conhecimento cientifico. AexpJicac;aodas formas de conhecimento tipica da ciencia 56 e passive!, recorrendo-se a genese dessas formas e ao estudo dos caminhos percorridos".
Como ideia central de sua teoria pode-se dizer que MO conhecimento naoprocede nem da experiencia unica dos objetos nem de uma programayao inata pre-formada no sujeito, mas de construgoes sucessivas com elaboragoes constantes de
estruturas novas". Pode-se dizer que essas constru<;6es sucessivas sao resultantes
17
da relayao sujeito X objeto, rela~o 95sa que nao S8 opoem, mas se solidarizam,
formando urn todo unico. 0 desenvolvimento da inteligemcia vai-se operando da
periferia para 0 centro, na dire980 dos mecanismos centrais da 8980 do sujelto e daspropriedades intrinsecas do objeto. Essa direyao no sentido do sujeito e do objeto
nao deve ser entendida como uma polarizayao, 0 conhecimento 16gico-matematico e
o conhecimento do mundo objetivo S8 relacionam mutua mente.
Buscando par Piaget, 0 sujeito constitui com a meio uma totalidade, passivel
de desequilibrio, em funyao das perturbac;6es desse meio. IS50 obriga as pessoas afazer urn esfon;a de adaptac;ao, de readaptac;ao, afim de que 0 equilibrio seja
reslabelecido.A adaptayao, ou 0 restabelecimento do equillbrio comporta dois processos
distintos, porem indissociaveis, que sao a assimilat;8o e a acomodat;8o. A
assimila~o consiste na incorporat;ao, pelo sujeito, de um elemento do mundo
exterior as suas estruturas de conhecimento, aos seus esquemas sens6rios-motores
ou conceituais. Portanto, 0 sujeito age sabre os objetos que 0 rodeiam, aplicando
esquemas ja constituidos au jil solicitados anteriormente. A acomodac;:ao, termo
complementar da rela980 sujeit%bjeto, representa 0 momento da a980 do objelo
sabre a sujeito. 0 restabelecimento do equilibrio nao apenas deve ser visto como a
volta ao equilibrio anterior, mas como formac;ao de um novo equilibrio, ou, mais
precisamente, de um melhor equilibria.
Para que essa equilibrac;aoseja estruturada, PIAGET (1969, p. 83), acentua
uma func;ao paralela a adaplac;ao: a func;ao da organizac;ao. A medida que 0
individuo assimila/acomoda, a organizat;ao se faz presente, para integrar uma nova
estrutura a uma outra pre-existente. A func;aa de organizayao garante a totalidade,
atraves da solidariedade das mecanismos de diferenciac;ao e de integrayao,
preservando a continuidade e a transformayao. Sua teoria nao se preocupou em
qualificar esse mundo como meio social concreto, sendo seus resultados isentos do
compromisso com a luta de classes. Piaget se preocupa com a formac;ao dos
instrumentos do pensamento que propiciam a conhecimento, e acaba por afluir na
L6gica Formal, negligenciando a L6gica Dialetica. Para ele sua teoria nao seria de
aprendizagem, classificando-a como uma teoria do desenvalvimento.
18
Oevida a Piaget nao ter tido uma preocupa<;:ao incisiva com a psicologia, enecessaria complementar com Qutras abordagens e Qutros estudiosos como Wallon
e Vygotsky.
Wallon muito contribuiu, voltado-se para a evoluC;80 psicol6gica da crianc;a.
o seu legado ultrapassou as limites desse momento da vida, ao fornecer elementos
para a compreensao da dinamica do processo de conhecimento. Teoriza sabre a
passagem do organico ao psiquico e apontando caminhos para a analise dialetica
de teorias reducionistas que privilegiam ora 0 organicQ, ora 0 social, no curso do
desenvolvimento humano. A passagem do orgfmico ao psiquico, que equivale asiniese entre a individual e 0 social, e, urn dos problemas cruciais da Psicologia, ele
tenta explicar par meio de quatro elementos estreitamente interligados: a emoyao, a
motricidade, a imita~o e 0 social.
A emoeBo pennite a crianca nascer para a vida psiquica, por ter comofun~o inicial a comunhao com outro, a uniao entre as individuos, em virtudedas suas rea¢es organicas, da sua fragilidade. A primeira expressao daemoc;:aoe 0 movimento, que e ao mesmo tempo, 0 seu substrato. Amotricidade e, entao, para Wallon, 0 tecido comum e original de ondeprocedem as realiza¢es da vida psiquica. (LIMA,1997, p. 24)
Essa primeira fase das trocas do individuo com as outros, e com a mundo
em geral, corresponde a um tipo de inteligencia, a qual chamou-se de inteligencia
das situa90es. Wallon concentra sua analise em processos, par considerar que e a
confronto do individuo com a sociedade que 0 leva a constru~o da inteligencia.
o ser humano desenvolve, em seus primeiros anos de vida, as sintomas
simb6licos e expressivos que estarao na base de suas aprendizagens posteriores. A
todo sistema corresponde urn substrato orgfmico: a desenvolvimento de
representa90es, a format;ao e 0 uso de simbolos tern uma base organica para sua
realiza9ao, mas a efetiva~o do sistema e funt;:8o da vida social e da cultura.
A aprendizagem dos simbolos provoca modifica90es estruturais importantes
no relacionamento psiquico, possibilitando 0 desenvolvimento das fun¢es
psicol6gicas superiores. Qutras dizem respeito ao desenvolvimento dos sistemas
simb6licos, sendo a desenvolvimento da linguagem a de maior relevancia neste
periodo inicial da vida humana.
19
2.2.2 Conceito de Aprendizagem
Com 0 conhecimento acumulado nas ultimas decadas em varias areas do
conhecimento que estudam a ser humano, e passivel hoje encarar a processo de
aprender sob novas perspectivas. Este conhecimento tambem mostra as cuidados
com tais afirmac;6es categ6ricas sabre a ''forma correta" de ensinar. A hist6ria
recente da pedagogia e pautada pela adoc;ao de uma teoria ou uma metodologia
que traria a solu9aO para 0 problema da nao aprendizagem na escola, que afiige
hoje basicamente os sistemas educacionais de todos as cantos do globo. Em geral
esta tearia ou metodo[ogia e considerada como "verdade (lnica" e S8 transforma em
ingerencia na a9aO pedagogica do professor (cujo saber e, em geral, descartado),
durante urn determinado tempo, para depois ser ela mesma descartada em func;ao
de Dutra teoria que a substitui e que tera 0 mesma destino mais tarde,
Olhando a ato de aprender sob enfoque interdisciplinar, ve-se que tal
postura e ingenua (par vezes arrogante), pais, em realidade, a processo de
aprendizagem humana envolve ao menos tres componentes dos quais sabe-se
ainda pouco: a memoria, a consciencia e a emoc;ao. A estes se somam outros que
sao as proprios mediadores da 8c;aO humana, a desenvolvimento e a utilizac;ao dos
sistemas simb6licos, principal mente a linguagem, e a papel da cultura no processo
de desenvolvimento humano.
Segundo LIMA (1997, p.15), em vista disto, pode-se dizer que 0 eixo
epistemologico do processo de escoiariza9aO deve ser (necessariamente)
reformulado, uma vez que tal processo ocorre como resultante da articulac;ao entre
desenvolvimento, aprendizagem, socializayao e formayao da personalidade. Esta
articulac;ao, na verdade aspectos do processo globais de formac;ao do individuo, sao
a desafio que a eduCa9aO escolarizada enfrenta em todo a mundo.
Persistem-se inumeras quest6es a serem pesquisadas, e verdade que as
areas de conhecimento que se ocupam do ser humano tern produzido neste seculo
conhecimentos que, em sua grande maioria, ainda nao chegaram a ser utilizados
pel a institui9aO escolar. Sistemas educacionais dos paises economicamente
desenvolvidos tern sido criticados par ignorarem, sistematicamente, a produc;ao
cientifica sabre aprendizagem e desenvolvimento em areas como a da biologia, das
neurociencias, da antropologia e da linguistica, assim como por nao incluirem como
20
urn dos eixos do desenvolvimento 0 conhecimento estatica.
No entanto, usada muitas vezes como argumento de autoridade, a aplica<;ao
da psicologia na eseela tern servido em muitos cases mais a produ~o da exclusao
do que ao desenvolvimento e aprendizagem dos educandos. A psicologia tern, no
entanto, urna serie de contribuic;6es importantes para 0 processo educativQ que naD
foram ainda exploradas.
Qutras areas do conhecimento nos trazem colaboraQ5es imprescindiveis
para a compreensao do processo ensino-aprendizagem e desenvolvimento do
individuo na institui9ao. Dentre slas, 0 conjunto das neurociencias e a antropologia,
areas fundamentais ainda multo pouco discutidas pelos te6ricos e especialistas em
educa~o, serao apresentadas a seguir.
Certas praticas sao necessarias para construir 0 conhecimento da lingua
escrita, independentemente da idade de forma9aO do individuo, enquanto que outras
sao especificas de cada idade de formaC;ao. A memoria e aspecto central do
processo de aprendizagem e que seu funcionamento e bastante complexo.
Segundo LIMA (1997, p. 62), alguns estudiosos sugerem que 0 tempo de
exposiC;ao a um determinado assunto e 0 elemento-chave para que este assunto
seja ou "trabalhado" pela memoria imediata (0 que provocara seu rapido
esquecimento) ou pela memoria em longo prazo.
Com iSso, tem-se a hip6tese de que nao basta somente planejar situa96es
de aprendizagem, mas de que este planejamento deve incluir tambem a proje9ao
temporal. 0 planejamento do tempo deve incluir nao somente a realizac;ao da a9aO,
mas tambem a reflexao sobre ela.
Alguns fatos permitem sugerir que os conhecimentos produzidos pelas
neurociemcias sao fundamentais para a educa980 e nao podem estar ausentes na
concepyao te6rica de aprendizagem e na formulaC;ao de praticas educativas que
visem a construyao de conhecimento.
21
2.2.3 Conhecimentos da Neurociencia
Evidentemente nao S8 trata de transposi~o mecanica da produ~o de
conhecimentos das neurociencias para a educa~o, usanda-s8 0 argumento de
auloridade, tal como ocorreu com a psico\ogia, nem de medicalizac;,ao daquil0 que S8
convencionou chamar de problemas de aprendizagern. 0 que S8 sa be hoje S8 leva,
na realidade, a questionar esta noc;ao tao difundida de problemas de aprendizagem,
uma vez que as conhecimentos trazidos recentemente na area nos revetam que 0
que S8 considerava como deficiencia do individuo au incapacidade de aprender
podem ser, na realidade, processos muito complexos de processamento de
informac;6es pelo sistema nervoso que extrapolam a dinamica de ensino-
aprendizagem em sal a de aula.
o corpo caloso, feixe de nervos situado entre os dois hemisferios cerebrais,e responsavel pela transmissao de informac;Cies entre eles. 0 corpo calosoleva aproximadamente uma decada para amadurecer, 0 que significa que,quanto menor a crian~, menDs f1uente sera 0 f1uxo de infonnac;Cies entre oshemisferios. 0 corpo caloso tamMm esta ligado a memoria, e seu processode amadurecimenlo e parcialmente responsavel pelo fato de que n6s temospoucas lembranyas dos primeiros dais anos de nossa vida e de que aslembrancas vao ficando mais vividas e mais elaboradas a medida que osfatos ocorram em idades mais avanyadas da infancia (LIMA apud RESTAK,1997 p.101).
o que se torna irnportante para a educac;ao, e ensinar urn mesmo ass unto
para uma crian~ de 7 anos e para uma de 10 vai necessitar de procedimentos
metodologicos distintos, uma vez que as fun<;6es pSicologicas estarao em diferentes
niveis de desenvolvimento, como, por exemplo, no caso da memoria.
o processo de tomar-se consciente de algo e complexo em fun<;ao de varios
fatores que interagem simultaneamente, como atenc;:ao, percepc;ao e emoc;ao. De
acordo com pesquisas recentes com novas tecnologias da imagem, a consciencia
tern seu equivalente organico na formac;ao de uma saliencia no cerebra, provocada
pela elaborac;ao suficientemente consistente de uma rede neuronal, rede esta que
se constitui em func;ao do tempo e forma de exposi<;ao do individuo a determinado
conteudo.
22
Damasio (1995) sugere Que "relembrar" (mem6ria) depende tambem dabiografia. Se 0 conteudo estiver consistentemente [igada a algum evento dabiografia do indivfduQ, este tera mais probabilidade de recorda-Io. Estaafirmacao de Damasio tern uma implicacao fundamental para a discussaodas rela'Yoes entre pedagogia e cultura. Ela sugere Que e importante que 0conteudo se relacione com a hist6ria de vida do individua, mas 0 conteudonao necessita ser parte da experiencia imediata do sujeito. (L1MA, p.11,1997)
Na eseela, muitas vezes urn assunto e ensinado com a pressuposic;ao de
que 0 educando devera pensar sabre sle posteriormente, em casa, na lic;ao de casa,
ou rstoma-Io antes das provas. Ora, a auseneia do tempo para eJaborayao pel a
mem6ria de longa durac;ao (que envolve a atividade reflexiva) acarreta a perda da
elaboratyao, pois, se a informayao nao estiver Msituada organicamente" na memoria
de longa durayao, 0 individuo nao tera condi~oes de reativa-Ia par a~ao de sua
vontade. Fatos como este permite sugerir que as conhecimentos produzidos pelas
neurociencias sao fundamentais para a educayao e nao podem estar ausentes na
concepc;ao te6rica de aprendizagem e na formulagao de praticas educativas que
visem a construyao do conhecimento.
2.2.4 A Aprendizagem para Vygotsky
o processo de aprendizagem e abordado a luz do sociointeracionismo. Para
compreender os conceitos de Vygotsky na educag8a e essencial saber a defini9Eia
de zona de desenvalvimento proximal, que se considera central na concepgao de
desenvalvimenta e aprendizagem, relacionado aos conceitos de nivel de
desenvolvimento real e nivel de desenvolvirnento potencial.
o processo de desenvolvimento humane e perpetuado e garantido nas
rela~5es sociais, sendo a educa~ao urn dos principais processos da relagao humana
e se apresenta como uma forte indutora da canstituigao das fungoes psicologicas
superiores, por meio da interac;ao e/au cooperat;.Eio entre individuQs, em diferentes
espa90s e contextos socio-historico. Segundo OLIVEIRA (1993, p.36) para Vygotsky
sao fungoes pSicologicas superiores (os) Mmecanisrnos psicol6gicos mais
safisticadas, mais complexos, que sao tipicos do ser humano e que envolvem a
contrale consciente do comportamento, a ayao intencional e a liberdade do individuo
em relayao as caracteristicas do momenta e do espa90 presentes (. .. ) possibilidade
23
de pensar em objetos ausentes, imaginar eventos nunca vividos, planejar 890es a
serem realizadas em momentos posteriores".
Para Vygotsky 0 desenvolvimento humane e urn processo historico-Gultural
e a promoc;ao desse processo de desenvolvimento esta vinculada, em grande
medida, a uma pratica educacional. Esse processo de desenvolvimento real,
determinado par aquila que 0 individuQ e capaz de executar de forma aut6noma, e 0
nivel de desenvolvimento potencial, caracterizado par aquilo que a individuo ainda
nao pode realizar de forma independente, mas que pode ser executado com algum
auxflio. Entre esses dois niveis encontra-se a zona de desenvolvimento proximal,
caracterizada pelo momento ell) que a intera9ao e as rela90es sociais podem
provocar 0 desenvolvimento potencial para 0 real.
Ja a zona de desenvolvimento proximal e 0 caminho que 0 individuo
percorre para desenvolver fun90es que estao em processo de amadurecimento e
que se tomarao fun90es consolidadas, estabelecidas no nivel de desenvolvimento
real. Pode-se dizer que esta fase mostra tudo aquilo que a crian9C! e capaz de fazer
(hoje) com a ajuda de alguem, ela conseguira fazer sozinha amanha. 0 aprendizado
desperta processos de desenvolvimento que, aos poucos, vao-se tornar parte das
fungoes psicol6gicas consolidadas do individuo. Quando os adultos interferem na
zona de desenvolvimento proximal da crian~, estes contribuem ajudando os
individuos ainda considerados imaturos.
Vygotsky descreve em sua teoria, ou seja, 0 processo de desenvolvimento
segue-se ao de aprendizagem e, para isto, e necessario 0 processo social da
educac;ao. Por iSso, Vygotsky destaca, que a instruc;ao no processo educacional s6
e born quando vai adiante do desenvolvimento, despertando as fun90es que estao
no processo de manutengao ou na zona de desenvolvimento proximal.
A enrase dada por Vygotsky as situB(,":oesinterativas, ou seja, a a¢espontilhadas, pode auxiliar os educadores a: a compreender e a valor1zar asocializacao em grupos e a repensar tanto 0 seu papel quanto a das outrascrian(,":asno contexto da educacao, no qual es!ao interagindo nao 56parceiros diversos, como cul!uras diversas (...). 1550nao significa que bastaeslar com oulros para haver aprendizagern, ja que nao se pode dizer quetodas as intera¢es sociais tern carater fonnalivo. (CERIZARA, v.17, p.21,1999)
Vygotsky afirma que uma compreensiio plena do conceito de
desenvolvimento proximal deve levar a reavaliac;ao do papel da imita980 no
24
aprendizado. Essas considerac;oes poderao desencadear urn (re) pensar sabre 0
papel dos modelos culturais apresentados pel os educadores, nas situ8c;oes
pedag6gicas da educa\'iio, pois a crianc;a utiliza-se da imita\'iio para fazer e
compreender coisas elou situ8c;oes. Assim, a imitac;ao possibilita a criac;ao de uma
zona de desenvolvimento proximal.
o brinquedo, na teoria sociointeracionista de Vygotsky, tambem se
caracteriza como uma atividade importante para 0 desenvolvimento da crianrya e,
conseqOentemente, tem um papel fundamental na Educa\'iio, pois Ihe permite
colocar em avao a imaginaC;8o e opera com urn mundo simb6lico que nao e 0 da
realidade imediata. Desse modo Vygotsky conclui que no brinquedo ha a
possibilidade para que a crianc;a tenha um desempenho para alem do seu
comportamento habitual e, par tal motivD, 0 brinquedo possibilita a criayao de uma
zona de desenvolvimento proximal.
Esses conceitos devem nortear as papeis e as a95es dos educadores
responsaveis pela organizac;ao e proposi~o de situ8c;oes pedag6gicas na
educa\'iio.
2.3 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA EDUCACAO INFANTIL
Antes de iniciar 0 processo de aprendizagem da linguagem escrita, a crianya
deve ser portadora de uma diferenciada experiencia multissensorial, pois nela
desenvolve as integridades e as associa95es visomotoras, par urn lado, e as
auditivo-verbais, par Qutro, associac;6es que S8 passam no sistema nervoso e que
sao necessarias as aprendizagens escolares fundamentais. Num envolvimento
socia-familiar adequado e qualitativamente estimulado, a crianC;8 desenvolve as
aptid6es que terao urn papsl imprescindivel na aprendizagem, mas em envolvimento
socia-familiar inadequado e frustrado, com pouca estimula~o e interac;ao
sociolingi.Jistica, e obvio que as aptid6es da crianya nao atingem a maturayao
exigida para superar as situac;5es - problema da escolaridade.
A identifica~o precoce de -crianc;as vulnerave;s~ou ~em risco· e capaz deser menos dispendiosa do que ter no fim da escolaridade fundamental umapercentagem de repetiy5es que aumenla, entre nos, de ano para ano. Naocombatendo a inercia pedagogica da escola, provavelmente asinadaptay6es sociais mulliplicam-se e, no futuro, pode-se ser responsaveispormuitas neuroses. (OLIVEIRA, 1993. p. 28).
2S
o papel do diagnostico precoce justifica-se no principia da aprendizagem e
nao no tim. A pSicopedagogia, nao pade continuar a ser ·urn hospital no fim das
auto-estradas~. A Psicologia, como a Medicina, tern que edificar uma perspectiva das
dificuldades escolares. E no principia da escolariza~o. e nao no fim, que S8 deve
otimizar 0 potencial de aprendizagem das crianr;as.
A identificac;ao precoce de crianyas e a institucionaliza~o do ensina
materna-infanti! podem, desde que bern orientados cientificamente, detectar
dificuldades que se ultrapassam por metodologias pedag6gicas adequadas. Nao
basta urn puro diagnostico psicometrico au quantificador, nem basta alimentar 0
conformismo do inatismo hereditario do potencial intelectual. A identificac;ao
pedag6gica do potencial e aprendizagem e a condi<;ao fundamental de proporcionar
uma educac;ao em conformidade com as necessidades peculiares e originais de
cada crianc;a.
A falha escolar e uma condiC;ao de Mestresse emocional" Afeta a crianc;a,
afeta a familia e afeta a escola. Mas, 0 insucesso escolar e sin6nimo de insucesso
social. Sem as aquisic;6es escolares, o. indivfduo fica impedido de participar
eficientemente no progresso da sociedade.
A aprendizagem tern que ter a necessaria ingrediente ludico e emocional,
base de todo 0 sucesso e de toda a gratificac;:ao cultural. E essencial que se
reconhe~ que 0 sucesso nao e a condiC;ao acritica da aprendizagem. 0 sucesso
implica a supera<;iio de um obstaculo. Nele esta contida a base da motiva<;iio da
aprendizagem. As situac;6es demasiado faceis ou dificeis sao trampolim para a
des interesse e para a distrac;ao. Conduzir 0 processo de aprendizagem numa
crianc;a em desenvolvimento nao e facit nem e simples. A intervenc;:ao pedag6gica eum misto de relac;ao e de competencia cientifica.
Nao vale a pena constatar 0 insucesso escolar e sublinhar a conformismo
que Ihe e inerente. E preciso partir para pianos preventivos.
26
2.4 PSICOPEDAGOGIA - Af;Ao PREVENTIVA
Segundo CUNHA (2000, p.65), 0 diagnostico psicopedagogico e urn
processo no qual e analisadas a situ8980 do aluno com dificuldades dentro do
contexto de escola e de sala de aula, com a finalidade de proporcionar aos
professores orientac;6es, instrumentos que permitam modificar 0 conflito
manifestado.
De acordo com este trabalho realizado par profissionais especializados, a
familia e considerada a pet;a fundamental e indispensavel para a modificayao das
atitudes dos alunos. E necessario que a familia esteja constantemente presente na
vida escolar de seu filho, assim pedendo interferir no processo desejado desde 0
intcio do problema.
E claro que nao S9 pode desconsiderar 0 meio em que vive a criant;a e que
este ja tras infiuencias positivas ou negativas dependo do que apreendeu ate a seu
momento escolar.
o Centro de Educac;ao Infantil tern urna func;ao irnportante no
desenvolvimento do ajustamento social. Pode-se considerar que 0 este tern duas
fun96es principais: a) auxilia 0 ajustamento social, sobretudo no caso de algumas
crianc;as que foram super protegidas, ou daquelas cuja experiencia no lar foi mais ou
menos infeliz. Em tais casos, 0 professor pode ser mais objetivo do que as pais e,
por isso, mais eficiente na forma9Bo de seguranc;a ou em fazer com que 0
comportamento indesejavel se tome inutil para a crian9a; b) auxilia a preparac;ao
para 0 trabalho escolar, atraves da cria~o de atitudes favoraveis e da apresentac;ao
de oportunidade para 0 aperfei90arnento dos instrumentos de comunicac;ao. E, no
melhor dos casos, apenas urn suplemento, e nao urn substituto para 0 ambiente
familiar.
Espera-se que a crianca assuma seu lugar numa sociedade democratica, epreciso pennitir a pralica de viver em uma atmosfera democratica, ao passarpel0 processo de prepara~o, antes de tomar-se urn adulto em talsociedade. lsso supoe liberdade para tomar, decisoes que, as vezes,cometer erros - a fim de tomar-se cada vez mais capaz, de govemar-se. 0coni role autoritario da sala de aula se baseia na suposi~o contraria, queadmite 0 conformismo e a obediencia como valores em si mesmos.(MOULY,1993, p.1S1)
27
A trajet6ria do desenvolvimento intelectual, do pensamento sensoria, motor
as operac;6es formais, e acompanhada pelo desenvolvimento da sociabilidade do
individuo. Esse t6pico do paradigma, usualmente menes comentado que as demais,
e fundamental porque acrescenta relevantes contribuiy6es a uma Psicologia da
Educac;ao inspirada na psicog€mese piagetiana. Par seu intermedio, podemos
enlender com maior clareza a visao educadonal e social de Piaget.
Segundo a conce~o de Piaget, todas as crian~s vivenciam uma faseinicial em Que sao incapazes de distinguir 0 seu eu dos objetos e pessoascircundantes algo semelhanle ao Que vimos na teoria freudiana. Logo nosprimeiros meses de vida, entretanto, comeya a formar-se a perce~o doeu, 0 que da inicio de fato ao processo de socia'iza~o. 0 primeiro momentodesse processo traz 0 predominio absoluto do eu, quando todo 0 universo,objetos, pessoas, fenomenos fisicos etc., e compreendido pela crianc;:acombase em seu ponto de vista exdusivo, como se tudo girasse em tomo dela,o que Piaget denominou egocentrismo.(CUNHA, p. 93, 2000)
Entre 2 e 7 anos de idade, 0 egocentrismo da erian<;a vai sendo, aos poueos,
superado. Os progressos da fala socializada sao indicios de sse processo, mas 0
centramento no eu ainda prevalece ate 0 final do periodo.
Quando em situac;ao de grupo a crian98 brinca para si, joga para si, sem se
importar com os companheiros, como se cada urn estivesse praticando uma
atividade diferente. 0 dialogo entre crianc;:as costuma ser urn mon610go coletivo, uma
"pseudoconversa" em que 0 interlocutor parece ser 0 outro, mas realmente nao e. 0
egocentrismo impede que 0 individuo estabele<;a intera90es que permitam a troca de
irnpressoes sobre as coisas devendo prevalecer, exclusivamente, 0 seu ponto de
vista. Ao participar de uma brincadeira ou um jogo, a eriant;;a subrnete-se as regras,
sendo incapaz de questiona-Ias. As regras sao imperativas, como se nao fosse a
que realmente sao, isto e, meras eonven96es estabelecidas por uma pessoa au
comunidade num certo momenta hist6rico para urn determinado fim.
Essa passagem do estado egocentrieo e que da acesso a sociabihdade. No
inicio, as a90es da erian98 sao eonduzidas por esquemas sensorios motores e
destinadas a satisfagao unicamente individual, ao passo que mais tarde sao ag5es
refletidas, pensadas e arliculadas por meio de parametros do grupo social.
Fica demonstrado que 0 desenvolvimento cognitiv~ e 0 desenvolvimento da
sociabilidade constituem um imenso processo, eujo principio e a adapta9aO ativa do
individuo ao mundo. rt'~\ ~.tJ:'.~'. ":I! ..~}
~
28
o ponto mais alto do desenvolvimento da sociabilidade e tambem a da
personalidade, atributo usualmente vista como exclusivamente individual. A
personalidade encontra-se verdadeiramente estruturada quando S8 da a plena
integrac;aodo individuo a coletividade.
Sabe-s8 a importfmcia da familia e da escola nesse processo de
socializacao, porem em muitos casas podem ocorrer fracassos e insucessos das
crianyas, pois, foi conduzido os conceitos de forma err6nea e incapaz de atingir os
objetivos propostos para a modificacao do comportamento ou foi mostrado somente
a lado indisciplinado de uma sociedade, sendo intema (dentro da institui<;iio) au
externa (a sociedade em geral).
Segundo CUNHA (2000, p.93), a teoria piagetiana diz que a escola deve
considerar 0 educando como sujeito aliv~ e construtor de seu proprio conhecimento,
indo de encontro com as Qutras pedagogias que valorizam a autonomia, a liberdade
e a autogoverno como sendo primordial ao estudante.
A vida em sociedade e necessaria e essencial. 0 ser humano nao consegue
se desenvolver sem 0 outro. As relac;6es sao diflceis, complicadas, mas ninguem
duvida de que nao ha como viver sem elas. Nao hi!: saida, e preciso enfrentar a
diversidade e conseguir costurar relacionamentos, que se dao em varios niveis: ha
os familiares, os escolares, os profissionais, os eventuais, os afetivos, os politicos e
outros, de modo que nao existe momenta na vida em que nao se esta se
relacionando com alguem.
29
3 PROPOSTA DE TRABALHO
Na vida cotidiana, 0 ser humane S8 vale de estrategias. como a imita~o,
que sao transformadas na especie humana pela introduyao de simbolos e da
linguagem. Par exemple, 0 ser humano aprende observando e imitando a Dutro,
constituindo suas a<;6es passo a passo a medida que S8 apropria da forma de
atua~o do Dutro na vida cotidiana. Esta 8c;aO nac e apenas motara, ala
desencadeia processos neurologicos da memoria, 0 que permite que estas ayaes
par imitayao S8 tornem cada vez mais complexas, fato que nac ocorre com Qutras
especies animais que tambem aprendem observando e imitando os Qutros seres da
especie.
Par ter a possibilidade de inscrever em seu cerebra a 89aO realizada com
seu resultado et a19m disso, representa-Ia par meio de simbolos, a ser humano tern
a possibilidade de superar esta molecula de ac;ao para realizar outras, utilizando 0
conhecimento adquirido. E esta a base do processo humano de aprender.
Segundo SANDRONI (1986, p.76), a percepgiio, atengiio, memoria,
imaginac;ao e a compreensao dos mecanismos de aprendizagem na vida cotidiana
informam a ac;ao educativa na escola. As praticas sociais que a individuo constr6i
dependem do desenvolvimento de certas habilidades, as quais, por sua vez, estao
relacionadas com 0 desenvolvimento das funyoes psico16gicas superiores. As
situa¢es cotidianas sao complexas, envolvendo tomada de decisoes, reayoes
afetivo-emocionais e a formayao de padroes de comportamento individual e social
que orientam a atuayao do individuo no meio.
Para tanto e preciso, primeiramente, desconstruir a ideia de que 0
conhecimento escolar e superior ao conhecimento chamado do cotidiano. Do ponto
de vista do ser humano que se desenvolve e aprende, as processos implicados sao
complexos, quer se trate de aprendizagens da vida cotidiana, quer se trate de
aprendizagens que acontecem na escola.
Em segundo lugar, a aprendizagemformal, objetivo central da agiio
educativa na escola, nao se refere somente ao dominio de conteLidos das areas do
conheCimento, mas a apropriayao das formas de construc;ao de conhecimento, tal
como aconlece com 0 conhecimento cotidiano.
Tendo em vista a produgiio de conhecimentodas ultimas decadas e a
30
pr6pria evoluc;:ao da historia das ideias, cnde S8 pode $er lev ados a rever 0 papel da
psicologia no complexo processo de escolarizac;ao nas sociedades contemporaneas.
E claro que temas que redefinir a pSicologia em sua relac;ao com a
educa~o, porque a propria pSicologia hoje S8 redefine como area do conhecimento,
assim como S8 encaminha para 0 dialogo com Qutras areas do conhecimento.
3.1 COMO EDUCAR?
Educar e auxiliar a Criany8 na explorayao de seu ambiente: 0 espayo em que
esta, as objetos que a rodeiam, suas caracteristicas e seus uscs; as elementos que
comp6em a natureza: plantas, animais, a terra, a sol, as nuvens, a areia, a agua; as
elementos que compoem a cidade: as casas, as pracinhas, os carras, as ruas, as
carroc;as.
Educar e ir mostrando para a crianga a transformagao das coisas realizada
atraves do trabalho do homem: 0 cuUivo da terra, as plantagoes, a construgao das
casas, a manufatura dos objetos, ° prepare da alimentagao.. Educar e colaborar
com a crianga na aprendizagem e dominio da linguagem, ouvindo-a, estimulando-a
a contar est6rias e fatos que ela vivencia, mostrando-Ihe as usos da escrita, como
letreiros de onibus, indica¢es de transito, cartas, bilhetes, cartazes, informagoes
nas embalagens e, r6tulos de produtos comerciais, lendo est6rias, deixando que ela
manuseie jornais, livros e revistas, etc ..
Na visao de GERALDI (1987, p.26), sabe-se que varias das coisas que a
crianc;a aprende, ela aprende com seus amiguinhos, nao dependendo
necessariamente do adulto para aprender tudo, como se acreditava antes, e que ela
tern capacidade de Iidar com algumas situagoes, resolvendo, as vezes, ate mesmo
algum conflito que surja. E importante para a crianga de uma faixa etaria conviver
em alguns momentos com criangas de outras faixas, pois isto possibilitara tracas
entre elas, incluindo ai as trocas afetivas que sao tao importantes para as crianc;as.
Para as crianc;as, atuar, fazer coisas tern urn profundo sentido pedag6gico. Eassim que a crianga aprende, e assim que ela constr6i 5eu conhecimento e 59
constitui como individuo. E permitindo que a crianc;a falYCl escolhas, que 5iga seu
proprio ritmo, que inclua novidades, que invente na atividade que foi proposta, ou,
ainda mais, que ela invente uma atividade sozinha ou em ag80 com outras criangas,
31
que estaremos contribuindo como adultos para a autonomia desta crian98.
A autonomia da crianya e estimulada e S8 permite a ela tamar a iniciativa de
realizar determinadas eoisas em situ890es especificas, S8 for permitido que ela
propria va realizando, na medida em que ja tern condiC;oes, esta au aquela atividade,
como as habitos de higiene, pegar e guardar materiais, proper brincadeiras a seus
amiguinhos.
E importante planejar atividades que permitam a movimentayao livre da
crianc;a, a realiz8980 de brincadeiras, jogos, especial mente, 0 faz de conta. Isto
podera ser feito de varias formas: prevendo espayos que a crianc;a possa ocupar
livremente, deixando a sua disposi~o roupas e objetos que possam ser utilizados
no faz de conta, incluindo no planejamento certas atividades que envolvam ficC;ao,
como representayao dramatica, teatrinho de fantoches, momentos de conversa com
suporte na literatura e, principal mente, permitindo que a crianya se entregue a esta
atividade por periodos tongos. Nao e dando meia hora para a crianc;a brincar de faz
de conta e aquela meia hora antes do almoc;o, por exemplo, que se estara fazendo
isto. Em suma, que se proporcione a crianya situa¢es e atividades no dia a dia, que
terao, no conjunto, 0 objetivo de auxiliar 0 seu desenvolvimento, de promover
aprendizagem de conteudos especificos, de desenvolver a linguagem, de promover
sua autonomia e seu autoconhecimento, de contribuir para seu processo de
socializatyao e integraC;8o no grupo.
o desenvolvimento da crian<;a dependera, igualmente, da possibilidade que
ela tenha de explorar seu ambiente, expressar suas emoc;oes, ter contacto com
varias coisas e pessoas, estabelecer relac;oes afelivas. Dependera, em suma, de
executar e exercitar tudo que e proprio de seu periodo de desenvolvimento, 0 que
Ihe permitira sentir-se segura, desenvolver sua autonomia, constituindo-se como
indivfduo.
32
3.2 0 JOGO E 0 LUDICO NA APRENDIZAGEM
Como tudo que nasce e S8 desenvolve, a crianva, mais do que qualquer
outro ser, passa par estagios de evolu~o natural e, conseqOentemente, inalteraveis
e invioli3veis. A crian98 nasee e cresee em urn grupo e e atraves do cantata com as
pessoas e as eoisas que existem neste grupo que ela aprendera muito sabre 5i
propria e sobre 0 que a rodeia.
A crianc;a comec;a a aprender desde que nasee. E ela vai aprender muitas
eoisas em seus primeiros anos de vida, Algumas coisas aprenderao sQzinhas, mais
ceda au mais tarde, como andar. Qutras, como falar, aprenderao atraves da vivencia
com Qutras pessoas. Qutras, ainda, 56 aprenderao S8 for ensinada. Toda
aprendizagem, todavia, sera afetada pel as condi96es do meio em que a crianc;a se
encontra e das rela95es que ela estabelece com as outros seres humanos. Ela entra
em relac;ao com tudo e todos que compoe a seu meio.
De acordo com GIUSTA, (1985, p. 40), 0 jogo, na infancia, obedece a uma
evolucyao psicologica, determinada pelo desenvolvimento afetivo da crianc;a. Os
jogos desenvolvern-se na infancia atraves de diferentes faixas etarias e diversas
formas: as ;ogos sensoria is sao caracterizados pela manipulac;ao dos objetos que a
crianc;a arremessa au bate, pelo prazer do ruido; sao as j090s ruidosos que lhe
aprazem, nessa fase que vai ate um ano, um ana e meio de idade. Os jogos motores
caracterizam-se pelo movimento, a utilizac;ao do gesto, a ac;ao, que vai criar a
ordem. Esse estagio, que se inicia a partir de urn ana, urn ano e meio, desenvolve-se
ate as quatro a cinco anos de idade. Os j090s de ficc;ao aparecem com a fun~o
simb61ica da linguagem.
As situa!yoes ludicas, competitivas au nao, sao contextos favoraveis de
aprendizagem, pais permitem a exercicio de uma ampla gama de movimentos que
solicitam a atenc;ao inclui, sirnultaneamente, a possibilidade de repetir;ao para
manulen<;iio e por prazer funcional e a oportunidade de ter diferentes problemas a
resolver. Alem disso, pelo fato de 0 jogo constituir urn momenta de interac;ao social
bastante significativo, as questoes de sociabilidade constituem motivac;ao suficiente
para que a interesse pel a atividade seja mantido.
A atividade ludica e incomparavelmente a mais valiosa porque desenvolve
nao 56 a parte fisica, mas mental, emocional, nervosa da crianga conferindo-Ihe
33
poderes orgimicos que nao Ihe sao ministrados com a mesma intensidade dos
exercicios fisicos 0 interesse e urn dos elementos que melhor comprovam a
supremacia do jogo, satisfazem a criam;a porque consubstanciam as necessidades
do cresci menta.
o interesse da crianya pela atividade que realiza e urn estimulo para aquele
que a dirige. A conjunc;ao dos interesses, educador e crianya, e 0 caminho do exlto
para as resultados a alcanc;ar, naG 56 a criant;:a deve viver a atividade mas aquele
que a conduz, dirige, vigia ou observa. Com a valorizac;ao do jogo, reconhece-se
que sle exercita e desenvolve todas as faculdades, a crianc;a e infatigavel nesses
aspectos e notaveis sao as prodigies de habilidade que realiz8.
o progresso nestes ultimos cinqOenta anos vem mostrando, no entanto, que
a motivayao do jogo pode transferir-se para a motivaya.o do trabalho e considen3vel
e a importancia do jogo pelos beneficios que proporciona a saude fisica e mental da
crian9a. Os jogos devem visar, acima de tudo, ao aperfeir;oamento da personalidade
global da crianr;a, por isso devem ser cuidadosamente selecionados conforme cada
dificuldade e atividade a ser desenvolvida.
A crian98 tem absoluta, necessidadede alegria. 0 jogo dos pequeninos
jamais deve ser totalmente sileneioso. A crian9a "toree~, canta, grita e estes atos nao
s6 eonstituem evidentes manifesta<;oes de prazer, mas tambem verdadeiros
exercieios de ginastiea respirat6ria.
Segundo GIUSTA, (1985, p. 44), 0 jogo visa ao desenvolvimento fisico,
mental e moral da crian<;a. 0 aperfei<;oamento das funr;aes mentais, como a
aten9ao, a imagina9ao, a memoria, 0 raeiocinio e a aquisi<;ao de habitos ou virtudes
morais, como a lealdade, a bondade, 0 cavalheirismo, 0 espfrito de coopera<;ao e 0
senso social. 0 jogo e urn valioso elernento para observayao e conhecimento
met6dico da psicologia da erian<;a, suas tendencias, qualidades, aptidoes, lacunas e
defeitos.
Esse ato que pareee brincar constitui um precioso reeurso para estudo da
personalidade infantil, 0 educador ou terapeuta podera atraves dele, apurar as
qualidades e corrigir as falhas inerentes a crianr;a.
A erian<;a e particularmente passivel de sugestaa. As ideias, os camentarias,
as opinioes, oriundas direta au indiretamente do jago, implantarn-se no seu espirito.
A influimcia torna-se assim consideravel e proporciona meios para que a
34
observayao, a analise, 0 julgamento de fatos ocorridos antes, durante e depois do
jogo, constituam elementos valiosos para a formaryao moral da crianc;a. AIt~m disso,
a continuidade e a repetiIY80 terminam par infundir novas idai8s e urna mentalidade
em con stante evolu~o.
Entre os dois anos, 0 jogo se dramatiza pela fun\'iio simb6lica, dando lugar aficc;ao, desse modo a crianya realiza a sua fantasia que e, ao mesma tempo, a sua
realidade. 0 livro tambem e urna forma de jogos, deve ser urna constante na infaneia
desde 0 primeiro ano de vida, como urn dos objetos manipulados pela criam;a,
acompanhando as diferentes eta pas de sua evoluC;80 psicol6gica, atraves das
diversas formas de jogo. 0 jogo de ficyao acompanha a criam;a, enriquecendo-se
ate as oito anos.
Assim, paralelamente com a ficc;ao, que caracteriza a segunda infancia,
desenvolvem-se os jogos de construc;.ao ou fabricaC;ao, em que as crianc;as se
preocupam com 0 mecanisme dos objetos, sua fabricac;ao, como modifica-Ias,
desfaze-Ios e faze-los novamente, explorar, etc. Essas atividades extrapolam os
periodos pre-operatorios de Piaget, que se acentuam na faixa dos nove anos, com
enfase nos meninos que, nessa idade, apreciam menos a leitura do que as
atividades.
As condi~6es que uma atividade deve ter, segundo NASH (1968, p.117),
"certo valor construtivo e de carater que sao: a educac;ao deve ser um fen6meno de
ac;ao; a crianc;a deve estar interessada no que esta fazendo; a participac;ao na
atividade deve proporcionar prazer; as atividades devem oferecer oportunidade para
uma completa integraC;ao; as atividades devem oferecer oportunidade para lideranc;a
e companheirismo; as atividades devem oferecer oportunidade para autodirec;ao,
autoconhecimento e auto-estima".
A partir dos quatro anos, a crianc;a desenvolve certas caracteristicas que
coexistem ate os oito anos, caracterizando essa faixa da segunda infancia. Sao
essas caracteristicas pSicologicas que nos permitem a necessaria orientac;ao para
determinar, relativamente, 0 que deve ou nao ser oferecido a crianc;a, quando e por
que deve ser dado ou nao. Portanto, a crianc;a vive um universo maravilhoso e
complexo. Nesta faixa etaria a crianc;a, nao tem possibilidade de analise, de
pensamento analitico, 0 que permite perceber que ela nao pode interessar-se por
fatos e problemas que nao possam ser incorporados ao seu universo.
35
Para PIAGET (1986, p. 67), aos sete anos, a crianc;aesta na plenitude de
suas potencialidades psicol6gicas e intelectuais, dentro do processo evolutivo da
infimcia. Sua imagina~o e criadora, sua inteligencia e investigadora e sua
curiosidade e uma fonte de conhecimentos, que deve ser estimulada e cultivada,
tornando-se urn veiculo de explora~o pedagogica, quando bern orientad8. Nao
podemos esquecer a musica nesse 85tagl0, principalmente nos primeiros anos, ende
S8 enfatiza 0 som, nem 0 desenho, cujo entrosamento e interdependencia sao de
capital importancia no desenvolvimento artistico e psicologico da crianr;a.Na linguagem verbal, ela justap6e as proposi~6es, sem liga.,ao 16gica,au,
com a sua logica, 5ubstitui, muitas vezes, uma conjunt;ao conclusiva pelo adverbio,
entaD, recriando sua gramidica e criando sua sintaxe e 0 seu proprio estil0. Atraves
de seu realismo ela e impressionista: uma boneca e uma crianc;a e uma vassoura e
urn cavalo, ou urn maxixe e urn porquinho, como a abo bora foi a carruagem de
Cinderela; a que importa e a sua realidade.
Segundo CERIZARA (1999, p. 75) e tato inegavel que a jogo organizado
disciplina a crian9(3. Tal disciplina, no entanto, nao e imposta, e voluntaria, e uma
verdadeira autodisciplina. A crian9(3 cria 0 habito de obedecer a regra, a lei,
obedecer aquele que dirige e comanda 0 jogo. 1550 equivale dizer que, em todos os
jogos aprende a comportar-se de acordo com os padr6es morais comuns a todos,
respeitar e obedecer nao so as regras como tambem, aos responsaveis e pessoas
do seu convivio.
E necessario que aqueles que trabalham com as crian9(3s, sejam inspirados
pelo amor a ciencia e por nobre idealismo, onde poderao realizar algo imperecivel
com os pequeninos.
3.2.1 As Brincadeiras
A crian9(3 brinca muito e brincar e fundamental para a crianc;a, pois e uma
das forrnas principais que ela disp6e nesta fase de sua vida para aprender sobre os
objetos que estao a sua volta, aprender sobre as pessoas e sobre si propria. Etambem atraves do jogo, da brincadeira, que ela vai aprender quais sao as regras
que organizam as relac;6es entre as pessoas de seu grupo, 0 papel que cada uma
desempenha. Ela vai aprender quais sao as coisas que se pode e as que nao se
36
pode lazer na cultura dela.
Para entender estas regras, 0 que faz cada urn em seu grupo, quem manda,
quem obedece, como as pessoas S8 gostam OU entram em conflito, para entender
as ausemcias, tambem, a crianya lanya mao de sua imagina~o atraves dos jogos de
faz de conta. A crianya imagina e S8 coleca no papel do Qutro, imita a mae, imita urn
irmao, imita a pessoa que S8 ocupa dela, imita urn coleguinha de turma. Fazer de
conta e 0 grande recurso que a crianya tern para lidar tambem com os objetos, as
eoisas que compoem 0 seu mundo e como as pessoas S8 relacionam com estes
objetos fisicos.
Para brincar de faz de conta it crianya precisa, as vezes, samente da
tolerancia do adulto. Este, ao inves de propor urna atividade fechada a crianya,
permitira que ela S8 entregue ao "fazer de conta" sozinha au junto com um, dais ou
mais amiguinhos. A crianc;a pode utilizar objetos imaginarios - fazendo de urn
sabugo uma boneca, de urn pedayo de pau urn carrinho - objetos construidos com
sucata, elementos da natureza (Iolhas, galhos secos, pedrinhas), tocos de madeira e
peda90s de outros materiais, como retalhos, papel, etc. Pode tambem utilizar
brinquedos industrializados ou brinquedos construidos por ela propria.
Muitas vezes a crianc;a se entrega a brincadeiras com outras crianc;as que
sao urn verdadeiro exercicio de linguagem: elas desenvolvem a linguagem brincando
com as palavras, as sons, lidando com significados, procurando modifica-Ios em
relayao a cada palavra e assim por diante.
Ha momentos em que a crianya precisa, realmente, ficar sozinha, brincando,
pensando, imaginando. Em outros ela fica observando, olhando atentamente para
alguma cena, pessoa ou objeto em urn esforyo para entender 0 que se passa,
apreender a situayao.
Neste processo de desenvolvimento na infElncia ocorre, naturalrnente, uma
participagao muito grande do adulto. E esta participagao relera-se a educagao que 0
adulto da a crian"".
37
4 CONCLUSAO
Para caracterizar as aspectos sociais relacionados a dificuldade de
aprendizagem, as procedimentos pedag6gicos tereo que, necessariamente, ser
distintos conforme a idade de formac;ao e 0 contexte de desenvolvimento.
Em vista dista, pode-s8 dizer que 0 eixo epistemol6gico do processo de
escolarizayao deve ser reformulado, uma vez que tal processo ocorre com resultante
da articulayao entre desenvolvimento, aprendizagem, socializayao e forma98o da
personalidade. Esta articulac;iio, na verdade aspectos do processo global de
formac;ao do individua, e 0 desafio que a educac;ao escolarizada enfrenta em todo a
mundo.
A psicopedagogia nao e um enfoque banal e superficial que todo 0 mundo
domina. Os politicos da educayao tern que S8 envolver com especialistas consulta-
los e estimula-Ios cientificamente, a fim de lanc;ar medidas que impeyam a epidemia
assustadora das dificuldades escolares.
Com base nos estudos realizados, pode-se perceber que as dificuldades de
aprendizagem estao cada dia mais forte dentro das escolas, e que muito pouco esta
sendo feito na tentativa de diminuir esse problema. E claro que varios fatores
interferem na aprendizagem, desde 0 aspecto cultural, social, e principal mente 0
emocional. E importante que todos visem a superac;iio dessas dificuldades e a
psicopedagogia e capaz de colaborar infinitamente neste trabalho. Este trabalho foi
apenas urn comego na tentativa de buscar mais infarmag6es referentes ao porque
dessa dificuldade de aprendizagem e 0 porque do aumento de crianryas ditas com
"problemas". Diante do que foi exposto, existe a possibilidade de que haja uma
continuidade deste trabalho, pois verificou-se ha necessidade de urn
acompanhamento rna is sistematico no trabalho dentro da psicopedagogia.
Persistem-se inumeras quest6es a serem pesquisadas, e verdade que as
areas de conhecimento que se ocupam do ser humano tem produzido neste seculo
conhecimentos que, em sua grande maioria, ainda nao chegaram a ser utilizados
pel a institui<;ao escolar. Sistemas educacionais dos paises economicamente
desenvolvidos tem side criticados par ignorarem, sistematicamente, a produgao
cientifica sabre aprendizagem e desenvolvimento em areas como a da bialogia, das
38
neurociencias, da antropologia e da linguistica e da psicopedagogia, assim par nao
incluirem como urn dos eixos do desenvolvimento 0 conhecimento estetico.
E importante informar sempre as crian9C!s desde pequenas acerca de suas
competemcias. A valoriza~o de seu esfonyo e comentarios a respeito de como estao
construindo e S8 apropriando desse conhecimento sao atitudes que as encorajam e
situam com relac;:ao a propria aprendizagern. E sempre born lembrar que seu
empenho e suas conquistas devem ser valorizados em func;ao de seus progressos e
do proprio esforlYO, evitando, assim, caloca-Ias em situa~es de comparac;ao.
Deve-s8 levar em conta que, par urn lado, hit uma diversidade de res pastas
possiveis a serem apresentadas pelas crianyas, et por outro, essas respostas estao
freqOentemente sujeitas a altera<;6es, tendo em vista nao s6 a forma como as
crianyas pensam e sentem, mas a natureza do conhecimento.
Sao consideradas como experiencias prioritarias para a aprendizagem
realizada pelas crianyas de zero a tres anos: a atenc;ao para ouvir, responder ou
imitar; a capacidade de expressar-se par meio da voz, do corpo e com os diversos
materia is possive;s.
Para que 0 envolvimento com as atividades, 0 prazer e a alegria em
expressar-se ocorram e para ter curiosidade sabre os elementos que envolvem essa
linguagem e precise que as crianc;as participem de situa90es nas quais sejam
utilizadas a explorar;ao e produyao de com diferentes materiais, e a observac;ao do
ambiente.
Uma vez que tenham tido muitas oportunidades, na instituic;ao de educac;ao
infantil, de vivenciar experiencias, pode-se esperar que as crianc;as reconhec;:am e
utilizem a linguagem expressiva, consciente de seu valor como meio de
comunicac;ao e expressao. Por meio da voz, do corpo, de instrumentos e objetes
deverao interpretar, improvisar e camp~r, interessadas, tambem, pela escuta de
diferentes generos e estilos e pela confecc;ao de materials.
A canquista de habilidades da VOZ, do corpo e de instrumentos deve ser
observada, acompanhada e estirnulada, tendo-se claro que nao devem constituir-se
em fins em si mesmas e que pouco valem S8 nao estiverem integradas a urn
contexto em que a valor e forma de camunicac;ao e representar;ao do mundo.
o grupo, al9m de con stante, deve fazer parte de uma atitude sistematica da
instilui<;ijo. 0 registro dessas observa90es e das perceP90es que surgem ao longo
39
do processo, tanto em rela~o ao grupo quanta ao percurso individual de cada
crian~, fomece alguns parametros valiosos que podem orientar na escolha dos
conteudos atitudes a serem trabalhados. A crian~ naD e urn ser individualizado, 0
grupo deve ser sempre valorizado e estimulado na aceitac;ao, colaborac;ao e na
reciprocidade, pois devem entender que todos fazem parte do mesmo meio e que
devem se respeitar para que haja harmonia. Quando a aprendizagem nao est;;
acontecendo e preciso verificar a que ocorre com este pequenino ser, a instituic;aopade detectar algum problema existente ja na primeira infancia, e encaminhar para
atendimentos psicopedag6gicos, podendo evitar dificuldades de aprendizagem nas
series iniciais do ensina fundamental.
A psicopedagogia tem papel importante na Educa980, pais e capaz de
realizar com a criant;.a, atraves de jogos e brincadeiras, uma recuperac;ao da etapa
perdida, ou mesma internalizar conceitos de limite, problemas emocionais ou sociais
que podem estar afetando 0 desenvolvimento da aprendizagem.
40
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
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41
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