Aquarela Hip Hop

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B | SÁBADO, 10 DE OUTUBRO DE 2009 | Gazeta de Alagoas Você será apresentado às teias de ritmos de um disco parti- cular. O segundo trabalho de Vitor Pirralho e Unidade trans- cende os possíveis muros de um “estilo”. O rap nordesti- no tem cheiro de praia, fler- ta naturalmente com terras la- tinas, caribenhas e africanas. Uma possível conexão Jamaica- Chã da Jaqueira. Em Pau-Brasil, a maior parte do latifúndio é do índio catequizado e acultu- rado pela igreja europeia. Fogo cerrado contra o poder catequi- zador. A vinheta Programa de Índio, seguida da contagiante Tupi Fusão, é a carta de inten- ções que reverbera ecos da po- esia modernista de Oswald de Andrade; Língua Geral compila os nomes indígenas das cida- des alagoanas, enquanto Divór- cio namora o samba em nome de uma “infidelidade” musi- cal. A palavra é transgressão, na melhor das ironias. Extin- ção Abundante (Cadeia Alimen- tar) reúne a fauna monetária brasileira com batidas sotur- nas. O melhor exemplo dessa mistura constante é a dobradi- nha Sinistro, uma viajem ragga com Wado nos vocais, e a “gre- goriana” Índex, de forte acen- to melancólico e na qual se destacam o naipe de metais a cargo do saxofonista Everaldo Borges e o melhor refrão do disco – “Devolva meus livros/ Pois mesmo não lidos/ Eu sei que são meus”. Versos Negros, com quase apenas percussão e voz, em pouco mais de um minuto consegue colocar Áfri- ca e Oceania na mesma cara- vela rumo às terras alagadas. Tupi, inglês e português se jun- tam em Abaporu Self Serve-se, que traz ainda os violões e o bandolim da dupla Willbert Fia- lho e Bruno Palagani. Ao final, U.N.I.D.A.D.E. reafirma o princí- pio básico da abertura dos tra- balhos, a ausência completa de regras e limites que impeçam a mutação dos ritmos. Afinal, à música não cabe catequização. Um disco particular. E por isso abrangente. |RR PARTICULAR E ABRANGENTE | RAMIRO RIBEIRO Repórter Foi-se o tempo de “índio quer apito/ se não der pau vai comer”. Vitor Pirralho tem sede, sua am- bição vai muito além disso. Quer levar seu hip hop antropofági- co para todos os recantos do es- tado e do País. Um dos artistas alagoanos vencedores da última edição do Projeto Pixinguinha, o rapper lança seu segundo disco, o caleidoscópico Pau-Brasil. Ne- le, percebe-se a nítida evolução do projeto musical iniciado com Devoração Crítica do Legado Uni- versal, de 2008. “A gente foi me- lhorando. Desde o primeiro, a in- tenção já era essa, ter outras coi- sas inseridas além do rap”. O que marca seu segundo tra- balho é a constante busca pe- la miscigenação sonora. As le- tras se concentram sob o foco do guarda-chuva antropofágico de Oswald de Andrade (1890-1954) e o movimento modernista bra- sileiro. Centra munição contra a Igreja Católica e a coloniza- ção dos povos indígenas. Há es- paço para tudo e todos nesse caldeirão: José de Anchieta, pa- jés, Abaporu e até para o bis- po Dom Pero Fernandes Sardi- nha, devorado pelos índios ca- etés. “É um disco temático, ba- seado em Oswald de Andrade, na questão antropofágica e na modernização do índio. O títu- lo é uma homenagem ao Mani- festo da Poesia Pau-brasil. A li- nha é essa. A ironia do homem moderno brasileiro, mas resga- tando suas bases. É um traba- lho bem irônico mesmo, ampa- rado no conceito modernista. Fa- ço questão de deixar clara es- sa influência ‘oswaldiana’”. In- fluências do professor de litera- tura Vitor Lucas Dias Barbosa. Musicalmente ensolarado, a vontade de cruzar e unir sono- ridades transparece em todas as faixas. A começar pelo time po- deroso de participações: Wado, Marcelo Cabral, Everaldo Bor- ges, ChamaLuz e outros que de- monstram não só o leque de pos- sibilidades da atual música pro- duzida em Alagoas, mas tam- bém as intenções de Vitor: “Mi- nha ideia é essa. Quanto mais eu puder, dentro do rap, fugir dele, melhor. Acrescentar coisas e dar uma cara de não-rap. Tem som bom pra caramba na cidade”. Em entrevista à Gazeta, o mú- sico falou destes assuntos e de muito mais. Do processo de fei- tura de um disco, dos shows de lançamento realizados em agos- to e setembro no interior e na capital – também via prêmio da Funarte – e dos próximos passos de sua carreira. Confira. Gazeta – Quanto tempo durou a gravação do disco? Vitor Pirralho – O nosso pro- cesso de criação é mais rápido. Começa comigo e o Tup. Ele me apresenta as bases que cria no computador, me mostra, aí en- caixo uma letra. Vejo o contex- to da base, para encaixar a letra. Só aí é que levamos para o es- túdio e apresentamos aos músi- cos, quando eles arranjam, pra- ticamente. Então, a questão de autoria é mais comigo e com o Tup. No estúdio a coisa é rápida: quando vai para o estúdio já es- tá bem adiantado. O primeiro disco foi feito da mesma maneira? Sim. Em algumas músicas acon- tece também do músico criar, compor alguma coisa, dar uma ideia. Aí entra na autoria. Mas a maior parte somos Tup e eu. Por isso é mais rápido. E como funciona essa parceria, esse entrosamento? Como tu- do começou? O Tup fazia parte da Dona Ma- ria. Ele saiu da banda e começou a mexer com essas coisas eletrô- nicas, bases programadas. Já ti- nha me visto em participações em outras bandas, viu que a pe- gada era de rap, e me chamou. Funciona assim: ele tem uma ba- se e manda; eu tenho uma letra e falo com ele – “Queria uma base assim” –, e vice-versa. O proces- so começa conosco, depois leva- mos para os músicos. E isso tem ocorrido há quanto tempo? Nesse formato, desde 2003. An- tes estávamos em outros proje- tos, mas sempre em contato. Cada vez mais envolvido com o ideário de Oswald de Andrade e do movimen- to modernista brasileiro, o rapper alagoa- no Vitor Pirralho lança seu segundo disco. Produzido com recursos do Projeto Pixin- guinha, Pau-Brasil torna ainda mais eviden- te sua busca por uma espécie de ‘misci- genação sonora’. Em entrevista à Gazeta, Pirralho fala deste e de outros assuntos SERVIÇO Disco: Pau-Brasil Artista: Vitor Pirralho e Unidade Onde encontrar: download gratuito no site vitorpi.com.br O Manifesto Pi ingressou na rede mundana. Manifesto 3,14. 3+1+4=8. 8=infinito. Soube que o sub subiu de categoria e o under andou pro main da rua. Eu estou aposentado nas letras. Afinal, a arte da palavra é meu aposento. O primeiro a chegar ao Brasil foi Cate. Cate quis ação. Eu me intriguei de Cate, pois não me interessava sua ação. Bicho, preguiça era o que eu queria. Só o sol que fazia já provocava “suação”. Suan- do frio no calor tropical por influenza. Doenças de além- mar transformadas em epide- mias culturais. Influência carní- vora de nossos primitivos an- cestrais. Influência primitiva de nossos carnívoros ancestrais. In- fluência ancestral de nossos pri- mitivos carnívoros. E vice-versa. O Manifesto PI é a favor da ironia. Quer morrer atropelado por uma ambulância. Quer ser o motorista de ônibus que tem que pegar o ônibus no ponto depois de bater o ponto. Quer ser o médico doente. Quer ser o padeiro que não tem o pão nosso de cada dia. Espelho, es- pelho meu, existe alguém mais tu/ele/nós/vós/eles do que eu? O tupi guarani tomou pitu com guaraná. Virou bicho. Lobiso- mem guará. O índio usa cocar. O rei usa coroa. O padre, co- roinha. Este último indivíduo, em(di)vi(d)ado de deus, aben- çoa a monogamia, até que a morte separe, e excomunga a pedofilia, varrendo toda sujeira para debaixo da batina. Inver- são de valores. Qual o valor da inversão? A aversão é de grátis! Façam suas apostas. O menor lance único não leva nada. MANIFESTO PI * AQUARELA HIP HOP CONTINUA NAS PÁGS. B2 E B3 * Texto publicado pelo rapper no encarte de Pau-Brasil Pirralho: “A gente foi melhorando. Desde o primeiro disco, a in- tenção já era essa, ter outras coisas inse- ridas além do rap” Amanda Nascimento/Cortesia

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Entrevista com o rapper alagoano Vitor Pirralho, quando do lançamento do álbum Pau-Brasil.

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B | SÁBADO, 10 DE OUTUBRO DE 2009 |

Gazeta de Alagoas

Você será apresentado às teias de ritmos de um disco parti-cular. O segundo trabalho de Vitor Pirralho e Unidade trans-cende os possíveis muros de um “estilo”. O rap nordesti-no tem cheiro de praia, fler-ta naturalmente com terras la-tinas, caribenhas e africanas. Uma possível conexão Jamaica-Chã da Jaqueira. Em Pau-Brasil, a maior parte do latifúndio é do índio catequizado e acultu-rado pela igreja europeia. Fogo cerrado contra o poder catequi-zador. A vinheta Programa de Índio, seguida da contagiante Tupi Fusão, é a carta de inten-ções que reverbera ecos da po-esia modernista de Oswald de

Andrade; Língua Geral compila os nomes indígenas das cida-des alagoanas, enquanto Divór-cio namora o samba em nome de uma “infidelidade” musi-cal. A palavra é transgressão, na melhor das ironias. Extin-ção Abundante (Cadeia Alimen-tar) reúne a fauna monetária brasileira com batidas sotur-nas. O melhor exemplo dessa mistura constante é a dobradi-nha Sinistro, uma viajem ragga com Wado nos vocais, e a “gre-goriana” Índex, de forte acen-to melancólico e na qual se destacam o naipe de metais a cargo do saxofonista Everaldo Borges e o melhor refrão do disco – “Devolva meus livros/

Pois mesmo não lidos/ Eu sei que são meus”. Versos Negros, com quase apenas percussão e voz, em pouco mais de um minuto consegue colocar Áfri-ca e Oceania na mesma cara-vela rumo às terras alagadas. Tupi, inglês e português se jun-tam em Abaporu Self Serve-se, que traz ainda os violões e o bandolim da dupla Willbert Fia-lho e Bruno Palagani. Ao final, U.N.I.D.A.D.E. reafirma o princí-pio básico da abertura dos tra-balhos, a ausência completa de regras e limites que impeçam a mutação dos ritmos. Afinal, à música não cabe catequização. Um disco particular. E por isso abrangente. |RR

PARTICULAR E ABRANGENTE

| RAMIRO RIBEIRO Repórter

Foi-se o tempo de “índio quer apito/ se não der pau vai comer”. Vitor Pirralho tem sede, sua am-bição vai muito além disso. Quer levar seu hip hop antropofági-co para todos os recantos do es-tado e do País. Um dos artistas alagoanos vencedores da última edição do Projeto Pixinguinha, o rapper lança seu segundo disco, o caleidoscópico Pau-Brasil. Ne-le, percebe-se a nítida evolução do projeto musical iniciado com Devoração Crítica do Legado Uni-versal, de 2008. “A gente foi me-lhorando. Desde o primeiro, a in-tenção já era essa, ter outras coi-sas inseridas além do rap”.

O que marca seu segundo tra-balho é a constante busca pe-la miscigenação sonora. As le-tras se concentram sob o foco do guarda-chuva antropofágico de Oswald de Andrade (1890-1954) e o movimento modernista bra-sileiro. Centra munição contra a Igreja Católica e a coloniza-ção dos povos indígenas. Há es-paço para tudo e todos nesse caldeirão: José de Anchieta, pa-jés, Abaporu e até para o bis-po Dom Pero Fernandes Sardi-nha, devorado pelos índios ca-etés. “É um disco temático, ba-seado em Oswald de Andrade, na questão antropofágica e na modernização do índio. O títu-lo é uma homenagem ao Mani-festo da Poesia Pau-brasil. A li-nha é essa. A ironia do homem moderno brasileiro, mas resga-tando suas bases. É um traba-lho bem irônico mesmo, ampa-rado no conceito modernista. Fa-ço questão de deixar clara es-sa influência ‘oswaldiana’”. In-fluências do professor de litera-tura Vitor Lucas Dias Barbosa.

Musicalmente ensolarado, a vontade de cruzar e unir sono-ridades transparece em todas as faixas. A começar pelo time po-deroso de participações: Wado, Marcelo Cabral, Everaldo Bor-ges, ChamaLuz e outros que de-monstram não só o leque de pos-sibilidades da atual música pro-duzida em Alagoas, mas tam-bém as intenções de Vitor: “Mi-nha ideia é essa. Quanto mais eu

puder, dentro do rap, fugir dele, melhor. Acrescentar coisas e dar uma cara de não-rap. Tem som bom pra caramba na cidade”.

Em entrevista à Gazeta, o mú-sico falou destes assuntos e de muito mais. Do processo de fei-tura de um disco, dos shows de lançamento realizados em agos-to e setembro no interior e na capital – também via prêmio da Funarte – e dos próximos passos de sua carreira. Confira.

Gazeta – Quanto tempo durou a gravação do disco? Vitor Pirralho – O nosso pro-cesso de criação é mais rápido. Começa comigo e o Tup. Ele me apresenta as bases que cria no computador, me mostra, aí en-caixo uma letra. Vejo o contex-to da base, para encaixar a letra. Só aí é que levamos para o es-túdio e apresentamos aos músi-cos, quando eles arranjam, pra-ticamente. Então, a questão de autoria é mais comigo e com o Tup. No estúdio a coisa é rápida: quando vai para o estúdio já es-tá bem adiantado.

O primeiro disco foi feito da mesma maneira? Sim. Em algumas músicas acon-tece também do músico criar, compor alguma coisa, dar uma ideia. Aí entra na autoria. Mas a maior parte somos Tup e eu. Por isso é mais rápido.

E como funciona essa parceria, esse entrosamento? Como tu-do começou? O Tup fazia parte da Dona Ma-ria. Ele saiu da banda e começou a mexer com essas coisas eletrô-nicas, bases programadas. Já ti-nha me visto em participações em outras bandas, viu que a pe-gada era de rap, e me chamou. Funciona assim: ele tem uma ba-se e manda; eu tenho uma letra e falo com ele – “Queria uma base assim” –, e vice-versa. O proces-so começa conosco, depois leva-mos para os músicos.

E isso tem ocorrido há quanto tempo? Nesse formato, desde 2003. An-tes estávamos em outros proje-tos, mas sempre em contato.

Cada vez mais envolvido com o ideário

de Oswald de Andrade e do movimen-

to modernista brasileiro, o rapper alagoa-

no Vitor Pirralho lança seu segundo disco.

Produzido com recursos do Projeto Pixin-

guinha, Pau-Brasil torna ainda mais eviden-

te sua busca por uma espécie de ‘misci-

genação sonora’. Em entrevista à Gazeta,

Pirralho fala deste e de outros assuntos

SERVIÇO Disco: Pau-Brasil

Artista: Vitor Pirralho e

Unidade

Onde encontrar: download

gratuito no site vitorpi.com.br

O Manifesto Pi ingressou na rede mundana. Manifesto 3,14. 3+1+4=8. 8=infinito. Soube que o sub subiu de categoria e o under andou pro main da rua. Eu estou aposentado nas letras. Afinal, a arte da palavra é meu aposento. O primeiro a chegar ao Brasil foi Cate. Cate quis ação. Eu me intriguei de Cate, pois não me interessava sua ação. Bicho, preguiça era o que eu queria. Só o sol que fazia já provocava “suação”. Suan-do frio no calor tropical por influenza. Doenças de além-

mar transformadas em epide-mias culturais. Influência carní-vora de nossos primitivos an-cestrais. Influência primitiva de nossos carnívoros ancestrais. In-fluência ancestral de nossos pri-mitivos carnívoros. E vice-versa. O Manifesto PI é a favor da ironia. Quer morrer atropelado por uma ambulância. Quer ser o motorista de ônibus que tem que pegar o ônibus no ponto depois de bater o ponto. Quer ser o médico doente. Quer ser o padeiro que não tem o pão nosso de cada dia. Espelho, es-

pelho meu, existe alguém mais tu/ele/nós/vós/eles do que eu? O tupi guarani tomou pitu com guaraná. Virou bicho. Lobiso-mem guará. O índio usa cocar. O rei usa coroa. O padre, co-roinha. Este último indivíduo, em(di)vi(d)ado de deus, aben-çoa a monogamia, até que a morte separe, e excomunga a pedofilia, varrendo toda sujeira para debaixo da batina. Inver-são de valores. Qual o valor da inversão? A aversão é de grátis! Façam suas apostas. O menor lance único não leva nada.

MANIFESTO PI *

AQUARELA HIP HOP

CONTINUA NAS PÁGS. B2 E B3

* Texto publicado pelo rapper no encarte de Pau-Brasil

Pirralho: “A gente foi melhorando. Desde o

primeiro disco, a in-tenção já era essa,

ter outras coisas inse-ridas além do rap”

Amanda Nascimento/Cortesia

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B2 CADERNO B SÁBADO, 10 DE OUTUBRO DE 2009 Gazeta de Alagoas

Romeu de [email protected]

Soirée à Française Aqui vão mais detalhes sobre a Soirée à Française para os que dela não pu-deram participar – até por causa do limite de 159 lu-gares, do teatro do Centro Cultural do Sesi, onde a mesma se realizou. Com o placet do cônsul honorário da França, Daniel Quintel-la Brandão, o evento – que marcou a presença da Ala-cos – contou com a par-ceria do comissaire-général das comemoração locais do Ano da França no Bra-sil, professor George Sar-mento Lins Júnior, diretor da Alliance Française de Maceió, o qual, aliás, via-bilizou o patrocínio oficial da Via France – Concessio-nária Citroën.

No Foyer Ao chegar, cada convida-do era clicado por Jô Car-naúba, tendo como ce-nário um grande banner, com a imagem da “patro-na” da Crônica Social”, a deusa greco-romana Fama (cujos atributos são gran-des trombetas). Só depois havia o acesso ao coquetel – embalado pelo piano de mestre Antônio Carmo e

George Sarmento Lins Júnior, diretor da Alliance Française de Maceió, discursando durante a nossa Soirée à Française

Maria Rocha Accioly com seu filho Paulo Patury Accioly, cuja Via France deu patrocínio à nossa Soirée à Française

Fotos: Jô Carnaúba - Cortesia

pelo acordeão de Douglas Marcolino – com serviço volant de iguarias forne-cidas pelos buffets Favo de Mel, Izabel Pinhei-ro e Márcia Vasconcelos – regadas com espumantes estrangeiros e scotchs.

No teatro Primeiro houve uma ou-verture, pelo Ballet de Maria Emília Clark, com coreografia especial, visu-alizando a absorção do classicismo francês pela malemolência brasileira, até um grand finale, em ritmo de samba. Fecha-das as cortinas (para a instalação dos equipa-mentos do trio que acom-panharia a cantora Ma-dalena Oliveira no show Douce France), usaram da palavra, para breves spee-chs, este colunista (como anfitrião), o cônsul da França e o citado comis-saire-général.

Presentes Autoridades militares e civis, “imortais” do IHGAL, da Sobrames-AL e da Academia Alagoana de Letras e dezenas de ou-tros colunáveis “cults”.

››› CURTINHAS ››› O colunista social Di Menezes convidando colu-

náveis e confrades para um churrasco, hoje, no Clube do Legislativo, em comemoração aos 18 de seu afilhado Danilo Barros Ferreira.

››› Completando “Bodas de Mármore” (39 anos de casamento), hoje, Jane (nascida Braga Lame-nha) e Manoel Gomes de Barros.

››› Janice (nascida Brandão Vilela) e Décio Barbosa de Azevedo festejam, neste dia, suas “Bodas de Cerâmica” (nove anos de casamento).

DIREITO

Hoje, às 11 horas, aula da saudade da nova turma de ba-charéis em Direito da Fama. A missa de Ação de Graças será dia 13, na Igreja de São Pedro (Ponta Verde), e a colação de grau na quarta-feira (às 19h30). O baile ficou para sába-do (dia 17), no Espaço Pierre Chalita. Entre os novos bacha-réis, a sobrinha-neta Adriana Cavalcanti Loureiro.

Na nossa Soirée à Française: o cônsul honorário da França, Daniel Brandão, e senhora (Ana Rosa)

Homenagem Após os prolongados aplausos, Maria Emília Clark recebeu das mãos deste colunista agradeci-do um brinde: um mini-vestido, da very exclusive grife Thewre – doado pela Loja 1.370, da jovem soci-alite Ana Carolina Vascon-celos.

Homenagem 2 Depois, a pedido deste co-lunista, a socialite Ivana Barbosa Brêda entregou a Ana Rosa de Almeida Brandão (senhora do côn-sul da França) uma joia em prata de lei, criada e doada por sua filha, a con-sagrada designer Ivana Lavenère.

| RAMIRO RIBEIRO Repórter

Gazeta – O que mudou na sua sonoridade, do início da carrei-ra até aqui? Vitor Pirralho – Na primei-ra banda que participei, Cogu-melos, a formação era guitarra, baixo e bateria. O vocal era rap com som de rock, refrões pesa-dos, com a direção das estrofes para o rap. Sempre gostei des-sa proposta, desse formato “rap mais musical”. Não só a coisa eletrônica. Que tenha mais pe-so, guitarra, outros elementos. Na época curtíamos muito Ra-ge Agaisnt The Machine, aí ti-nha essa linha vocal, rap com peso. Agora com o Tup fazemos uma coisa mais refinada, mas mantivemos a proposta de ter os instrumentos, inserindo te-

clados, percussão. Sempre com o referencial eletrônico ali pre-sente, a base. Mas não é a refe-rência principal. A bagagem ele-trônica do rap nos acompanha. Mas quanto mais elementos mu-sicais, melhor.

Isso está mais evidente no Pau-Brasil, com a diversidade de instrumentos e arranjos e até nas participações. Participações com certeza. E os arranjos, a gente foi melhoran-do. Desde o primeiro, a intenção já era essa, ter outras coisas in-seridas além do rap. No primei-ro não tínhamos baterista. Era só guitarra, baixo e a base. Já no segundo colocamos o Dinho nos teclados, o Luciano na per-cussão, e uma bateria. Antes era só o groove eletrônico. Agora te-mos a bateria em cima do groo-

| CONTINUAÇÃO DA PÁGINA B1 |

Referências literárias permeiam o álbum PROFESSOR DE LITERATURA, VITOR LUCAS DIAS BARBOSA USA ELEMENTOS HISTÓRICOS EM SUAS COMPOSIÇÕES, MAS NÃO CANTA NA SALA DE AULA

ve, que é o próprio Tup que faz. Acho que no primeiro ele não se sentia tão à vontade para tocá-la. Acredito que os arranjos es-tão sim melhores agora. Mas já havia a ideia de outros elemen-tos desde o Devoração.

O primeiro me soa mais ho-mogêneo. E o segundo, mais heterogêneo. No que isso tem de bom. Exato, é mais a questão da mis-tura. O primeiro é um pouco mais acanhado.

A UNIDADE É: Vitor Pirralho: voz

Pedro Ivo Euzébio: bateria e

programações

André Meira: baixo

Aldo Jones: guitarra

Dinho Zampier: piano

e teclados

Luciano Rasta: percussão

“A linha é essa. A ironia do homem moderno brasilei-ro, mas resgatando suas bases”

E o professor Vitor costuma utilizar a música em sala de au-la, com alunos? Não. É engraçado, os alunos brincam, pedem. “Faz um rap aí professor!”. Mas na sala eu não canto. “Aqui é aula meu amigo”. Para mim são dois trabalhos se-parados. Uso exemplos de com-posições literárias, minhas e de outros, mas não canto. Toda au-la eles pedem.

Este é mais desinibido? É.

Nas letras também... E é um disco temático. Busquei isso. Falar de mistura racial, sin-cretismo cultural, baseado em Oswald de Andrade, na questão antropofágica, na modernização do índio. Quanto a isso, o Devora-ção é mais aleatório, não há algo que amarre as faixas.

A inscrição no Projeto Pixin-guinha possibilitou esse mo-mento, a oportunidade de pensar num conceito? A gente pensou, amarrou um conceito para poder se inscrever. O que mandamos foram as idei-as que estão presentes no disco.

Qual o objetivo do Manifesto PI, presente no encarte do CD?

É o nome do meu blog (manifes-topi.blogspot.com). Foi o primei-ro texto que postei. Decidi colo-cá-lo no disco por ter a ver com a temática. A colonização do ín-dio, Bispo Sardinha, todo aquele contexto histórico. A linha temá-tica é muito ligada a Oswald de Andrade, o manifesto antropofá-gico. O nome do disco é uma ho-menagem ao Manifesto da Poe-sia Pau-brasil. A linha é essa. A ironia do homem moderno bra-sileiro, mas resgatando suas ba-ses. É um trabalho bem irônico mesmo, amparado no conceito modernista. Faço questão de dei-xar clara essa influência “oswal-diana”, da poesia moderna bra-sileira.

Você é professor? De literatura. Por isso que escre-vo muito em cima dessas ideias.

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B3CADERNO BGazeta de Alagoas SÁBADO, 10 DE OUTUBRO DE 2009

| programe-se |

GAZETA INDICA››

TEATRO ›› Chico.Tom Chico Anysio e Tom Cavalcante fazem hoje, no Teatro Gusta-vo Leite, a última sessão do espetáculo que tem arrancado gargalhadas pelo Brasil

Divulgação

MÚSICA ›› Carlos Bala e o Trem Bala O baterista que tocou com nomes como Maria Bethânia e Djavan integra o grupo que é atração hoje no Parmegiano da Serraria

Marco Antônio/Arquivo GA

TEATRO Projeto Arte Sesinho. Neste mês de outubro, o Centro Cultural Sesi tem uma programação especialmente de-dicada às crianças. Com peças e fil-mes infantis no roteiro, as ativida-des continuam hoje com a montagem O Casamento da Baratinha, da Ápice Produções. Amanhã (11), às 16h, será exibido o filme O Grilo Feliz e os Inse-tos Gigantes. Já na segunda-feira (12) e nos dias 18 e 25 de outubro, a guriza-da confere o longa Cine Cocoricó. ›› Centro Cultural Sesi. Av. Dr. Antô-nio Gouveia, 1113, Pajuçara. Progra-mação teatral: hoje e nos dias 12, 17, 24 e 31 de outubro, às 16h; programa-ção cinematográfica: amanhã (11/10) e nos dias 12, 18 e 25 de outubro, às 16h. Ingressos: R$ 12 (inteira) e R$ 6 (meia-entrada). Mais informações: 3235-5191. Chico.Tom. Dois dos maiores hu-moristas do Brasil, Chico Anysio e Tom Cavalcante estão juntos em Ma-ceió para apresentar o espetáculo Chico.Tom, que tem sua última sessão na noite deste sábado (10) no Tea-tro Gustavo Leite. No programa, cada um faz uma apresentação solo de 40 minutos para depois brindar o públi-co com a soma de seus talentos, en-carnando os impagáveis Professor Rai-mundo e João Canabrava. Imperdível. ›› Teatro Gustavo Leite. Centro Cul-tural e de Exposições de Maceió. Rua Celso Piatti, s/n, Jaraguá. Hoje (10/10), às 21h. Classificação: 18 anos. Mais in-formações: 3035-3962. Projeto Teatro à Vista. Iniciado em setembro, no Espaço Cultural de Ara-piraca, o projeto que apresenta espe-táculos teatrais produzidos em Alago-as traz hoje (10) em sua programação a peça Caboré – A Ópera da Moça Feia, da Cia. Nega Fulô. ›› Espaço Cultural de Arapiraca. Pç. Marques da Silva, s/n, Centro. Hoje (10/10), às 19h30. Ingressos: R$ 5. Ponto de venda: Carnes & Cia. Mais in-formações: 8874-4602 e 9929-1661. Dona Flor e seus Dois Maridos. Baseado no livro homônimo de Jorge Amado, o espetáculo estrelado pela trupe de globais Fernanda Paes Leme, Marcelo Faria e Duda Ribeiro tem suas apresentações hoje e amanhã (11) em Maceió, no Teatro Marista, com duas

sessões diárias. Dirigida por Pedro Vasconcelos, a peça traz canções do baiano Dorival Caymmi em sua trilha sonora, o que ajuda a “ambientar” o enredo, que se passa na Bahia da dé-cada de 40 e conta a história de Flor, uma professora de culinária que se di-vide entre o amor do mulherengo Va-dinho (que morre logo no início da história) e o casamento com o metódi-co Theodoro Madureira. ›› Teatro Marista. Av. Dom Antônio Brandão, s/n, Farol. Hoje e amanhã (11/10), com sessões às 19h e 21h30 e às 18h e 20h30, respectivamente. Pon-tos de venda: lojas W.O (Shopping Ma-ceió e Hiper Center Farol) e Academia Top Fitness (Pajuçara). Mais informa-ções: 3325 2373 e 9601-2828. MÚSICA Projeto Circulação Sesc de Músi-ca Alagoana. Em sua terceira edi-ção, o projeto que passa por cinco municípios alagoanos reúne artistas selecionados na 10ª edição do Femu-sesc, em março deste ano. Depois de passar pelas cidades de Teotônio Vi-lela, Palmeira dos Índios, Viçosa e Pe-nedo, a caravana musical encerra hoje (10) sua primeira etapa, na cidade de Arapiraca. No palco, shows de Raffa Honorato, Júlio Uçá, Allan Bastos, Jo-senildo Gomes e Basílio Sé. ›› Arapiraca. Parque Ceci Cunha, Cen-tro. Hoje (10/10), a partir das 20h. Aberto ao público. Mais informações: 0800 284 2440 e 3326-3700. Carlos Bala e o Trem Bala. Forma-do pelos músicos Osman (voz e vio-lão), Carlos Bala (bateria), Misso Fer-reira (teclado) e Anderson Almeida (baixo), o grupo é atração neste sába-do (10) no Parmegiano da Serraria. No repertório, MPB e ritmos como jazz, samba, bossa nova e pop-rock. ›› Parmegiano Anexo. Av. Menino Marcelo – Conj. Arvoredo, 09, Quadra A, Serraria/Barro Duro. Hoje (10/10), a partir das 22h. Couvert artístico: R$ 4. Mais informações: 3328-4040. Boxx Music/Festa Pré-parada. Muita “causação” na festa oficial da 9ª Parada da Diversidade Sexual de Ma-ceió. A turma promete esquentar os tamborins hoje (10) na Boxx Music, com a DJ Tânia Tumulto e gogo boys pra lá de dispostos. A noite promete. ›› Boxx Music. Av. Sá e Albuquerque,

774, Jaraguá. Hoje (10/10), a partir das 23h. Mais informações: 8801-7590. VI Tributo à Legião Urbana. O me-lhor do rock nacional toma conta do Orákulo Choperia, hoje (10), a partir das 23h, quando tem início o VI Tri-buto à Legião Urbana. Na escalação, as bandas Vozes Urbanas, Nau à Deri-va e Rei Joe, de Pernambuco, interpre-tando alguns dos vários sucessos de um dos maiores ícones do rock nacio-nal. Claro que não vão faltar hits como Pais e Filhos, Faroeste Caboclo e Gera-ção Coca-Cola. Vale a conferida. ›› Orákulo Choperia. Rua Barão de Ja-raguá, 717, Jaraguá. Hoje (10/10), a partir das 23h. Ingressos: R$ 10. Mais informações: 3326-7616. Orquestra Conexão Latina. A noite deste sábado (10) promete para quem curte rodopiar na pista ao som de sucessos “calientes”: a Orquestra Conexão Latina, do maestro Almir Me-deiros, é atração no Restaurante Bu-ganvillia, a partir das 23h. ›› Restaurante Buganvillia. Rua Santa Isabel, 346, Jacintinho. Hoje (10/10), a partir das 23h. Mais informações: 9981-4733. CINEMA I Mostra Sururu de Cinema Ala-goano. Com o objetivo de dar visi-bilidade à produção audiovisual local, a Mostra Sururu de Cinema Alagoa-no tem início no próximo dia 15. O programa reúne 28 produções, entre documentários, curtas de ficção e ani-mações. Poderão ser vistos filmes dos diretores Celso Brandão, Pedro da Rocha, Werner Salles, Hermano Fi-gueiredo e também de novos reali-zadores, como Alice Jardim, Larissa Lisboa, Henrique Oliveira e Raphael Barbosa, entre outros. Confira alguns dos títulos: O DJ do Agreste; Desal-mada e Atrevida, O Homem, o Rio e o Penedo, Areias que Falam e 1912 – O Quebra de Xangô. O evento é uma realização da Associação Brasileira de Documentarias e Curta-metragistas de Alagoas (ABD&C/AL). ›› Cine Sesi Pajuçara, Fits, Ufal e Calçadão do Centro de Maceió. De 15 a 23 de outubro. Programação, horários e locais de exibição nos sites www.nucleozero.com.br/sururu e abdc-al.blogspot.com. Mais informa-ções: 9317-8060 e 9304-5181.

Contatos: [email protected] | Avenida Aristeu de Andrade, 355, Farol - Maceió-AL - Cep.: 57051-090

Como foi feito o arranjo de me-tal em Index? Foi ideia do Tup. Ele chamou o Everaldo Borges, que fez o naipe de metal com mais dois músicos.

E a batucada de Versos Negros? Foi ideia minha. Compus a letra já pensando na música. É um rap sem rima. Não é necessário ter rima. Se tem ritmo, é rap. Sem ri-ma, são versos brancos, na acep-ção literária do termo. Por isso pensei no tema negro. Compus toda a métrica sem rima. Passei para o nosso percussionista e fo-mos inserindo os instrumentos. Além da pegada africana, há ins-trumento típico dos aborígenes australianos.

E o refrão ‘trava-língua’ de Tu-pi Fusão, como surgiu? Foi muito louco. Um dia acor-dei com isso na cabeça. “Tupi, pra entupir. Rapaz, que negócio doido”. Aí anotei aquilo ali e de-pois lapidei. Tem uma pegada agressiva.

Como foi o show de lançamen-to, na praça Marcílio Dias? Me preparei como se fosse o show da minha vida. Dei todo o gás. Me concentrei pra caramba. No camarim, parecia que ia en-trar num ringue. Foi muito legal por contarmos com todas as par-ticipações do disco. E toda a pro-dução estava no orçamento do Projeto Pixinguinha.

E os shows do interior? Foi a mesma estrutura. Mas é mais difícil trabalhar o som no interior, vai pouca gente pra rua. Penedo foi bem legal, já tínha-mos tocado lá. Na Barra de San-to Antônio já não foi tanto.

Foram pegos de surpresa? Sim. Teria que ser feito um traba-lho de assimilação, apresentar o som antes. É um balneário, mui-ta gente de passagem. Quando viram o palco ficaram animados, pensando que seria axé ou pago-de. Mas quem está disposto a ou-vir entende, assimila. E ainda to-camos na hora de Brasil x Argen-tina! A seleção dando um baile e a gente em cima do palco.

O que fazer depois do disco pronto? No próprio projeto está previs-ta uma assessoria de imprensa, até para mostrar todos os pre-miados. Quando o disco físico chegar vamos fazer outro show em Maceió.

Quando será o próximo show na cidade? Estamos esperando o CD chegar da fábrica.

Há previsão? Acho que agora mesmo em ou-tubro, no final do mês. Deu só um probleminha, reconhecer fir-ma, documentação, essas coisas de cartório. Acho que com isso

resolvido, em 15, 20 dias o dis-co chega. Aí faremos um novo show, para fazermos a casadi-nha ingresso mais CD.

E levar o disco pra fora? Esse é o intuito de todo músi-co. Por mais que ele consiga so-breviver da sua arte no seu esta-do, o que não é o nosso caso, ele gosta de entrar em choque cul-tural em outros lugares, mostrar o seu trabalho. O pessoal gosta do sotaque, se sente convidado a conhecer a cultura nordestina.

Você sente a curiosidade do público de conferir esse rap do Nordeste quando toca em ou-tros estados? O pessoal acha muito legal o lance do sotaque, o estilo. Quer queira ou não, tem uma coisa praieira no nosso som. O nordes-tino é sim bem aceito musical-mente. Podemos ter a ideia do preconceito social, que aconte-ce, isoladamente. Mas a música é muito bem recebida.

Você consegue comparar seus dois discos? Eles dialogam entre si? Rolou um amadurecimento, na-tural até, entre os dois. O Devo-ração tem letra que fiz com 15 anos. Tem muita coisa ali meio ingênua até. Mas foi o primeiro registro, a vontade de colocar tu-do o que tinha. Neste disco esta-mos mais maduros.

PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS ›› Wado

›› Cris Braun

›› Marcelo Cabral

›› ChamaLuz

›› Rabujo

›› Rodrigo Peixe

›› Everaldo Borges

| RAMIRO RIBEIRO Repórter

Gazeta – Como anda o cenário do rap em Alagoas? Vitor Pirralho – Aqui é um tanto restrito ainda. Sempre foi. Se você procurar vai encontrar o rap nas partes periféricas da cidade. Mas é mais restrito ali mesmo, na região do Tabuleiro principalmente. Rap de comuni-dade. Mas tem aparecido uma rapaziada no cenário com quem faço algumas parcerias. No disco tem uma participação do Rabu-jo, da banda Clandestinos, que traz temas mais variados, a par-te baixa da cidade, o litoral, o movimento do skate, exploran-do isso. Tem outra banda, Du-bex, com a proposta de mistu-rar rap, dub e reggae. Uma coi-sa nova na cidade. Minha pro-posta desde o início foi essa. Le-var o rap para todas as partes da cidade, não ficar fechado em si mesmo. Expandir para além des-sa coisa de classe social, de gue-to, tanto musical quanto geográ-fico. Um som mais expansivo.

Essa missão tem sido bem re-cebida ou enfrenta resistência de alguns setores? Fora da cidade sim. Viabilizar

um disco através de um projeto nacional do Ministério da Cultu-ra é uma prova disso. O show no Instituto Itaú Cultural também. A mistura é bem vista. A música nacional tende para isso, em to-dos os estilos. Quando se resga-ta alguma coisa, é inovando, co-locando algum ingrediente novo na receita. Por isso que, infeliz-mente, o músico alagoano tem que sair para poder aparecer. Di-ferente de outras cenas dentro do próprio Nordeste. Recife, por exemplo. Aqui, temos de correr atrás, ficar enviando projeto, es-sa coisa toda.

O Devoração tem muita coisa voltada para Alagoas e para o Nordeste. No segundo disco abri mão dis-so para tentar fazer uma coi-sa universal. Mas ainda há algu-mas coisas. Na faixa Língua Ge-ral usamos as expressões indíge-nas dos nomes das cidades: Ara-piraca, Igaci, Maragogi. Há refe-rências locais, mas livre daque-la coisa fixa: “Nordeste, Maceió”. Para que em qualquer lugar que você ouça saque que é nordesti-no, mas com o tema nacional, a questão do índio presente.

O projeto gráfico do disco re-flete essa intenção? Totalmente. A concepção da ca-pa foi minha. A modernização da colonização. Um índio vesti-do de maitre, de homem bran-co, servindo uma lata de sardi-nha. Passei a ideia para o Nego Robson, ilustrador que executou muito bem.

Como surgiram as participa-ções especiais? Como foram feitos os convites? Minha ideia é essa. Quanto mais eu puder, dentro do rap, fugir dele, melhor. Acrescentar coisas e dar uma cara de não-rap. Tem som bom pra caramba na cida-

de. Wado, Marcelo Cabral, Xi-que Baratinho, Cris Braun. Es-sa rapaziada até mais antiga do que eu, que me acolheu muito bem quando apareci, que sem-pre abriu espaço. Quando entrei na cena já acompanhava o tra-balho deles. Só que quando vo-cê participa de um movimento, geralmente você o toma de mo-do muito restrito. Acontece mui-to com o rap, com o reggae. Tem uma maneira de vestir, uma ma-neira de falar. E eu não sou as-sim, gosto de transitar por todas as áreas musicais. Quando pen-so em música, muitas vezes crio uma melodia que não consigo executar muito bem, pelo meu estilo mais recital. Aí a gente pensa nos nomes. “Vamos cha-mar as meninas do ChamaLuz”. Elas chegam e executam mui-to bem. O que dá uma rique-za ao trabalho. O Dinho Zampi-er cria muitas melodias, é um grande músico, colabora nis-so também. Esse disco é bem melódico, tem bastante refrão. Aí fomos encaixando os convida-dos nelas.

Como aconteceu a “tradução sonora” dos conceitos literári-os? Da letra para os arranjos, já que eles têm batidas mais dan-çantes. Pensamos primeiro no conceito literal do disco, as letras. Tem muita coisa para a qual imagi-no alguma melodia, já num tra-balho de direção musical. Pen-so numa batida solta e o Tup vai trabalhando no teclado, pro-curando timbres. Index retrata bem isso. O tema da letra inspi-rou o arranjo, um clima de can-to gregoriano, música de mo-nastério. Imagino os lampejos e passo para os músicos. Trabalho com caras muito bons. O Dinho é um maestrão. O Tup tem uma ótima concepção musical. Tô bem servido.

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“Quero levar o rap para todas as partes da cidade”, diz ele VITOR PIRRALHO FALA SOBRE O ‘APRISIONAMENTO’ DO GÊNERO EM GUETOS

Amanda Nascimento/Divulgação

Próxima apresentação do rapper só deve acontecer depois que o álbum ‘físico’ sair da fábrica