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    APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA E RELAES INTERPESSOAIS NASDIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

    INTRODUO

    Este estudo uma reflexo sobre o ensino e a motivao que o educando

    tem no processo de ensino-aprendizagem e a necessidade em pesquisar e desvelar o

    porqu somos obrigados a aprender, bem como a ensinar de maneira to abstrata e

    sem vnculo com a realidade do nosso aluno.Esta pesquisa est direcionada a mostrar como os fatores afetivos se

    apresentam na relao professor-aluno e a questionar o que poderia motivar o aluno a

    iniciar o processo de aprendizagem e nele prosseguir, sabendo-se que a motivao

    uma condio interna do indivduo.

    Na realidade, muitas escolas continuam dominadas por uma concepo

    pedaggica tradicional, na qual se ensina uma grande quantidade de informao,

    geralmente tendo como base o programa do prprio livro didtico, pois este no forma

    proposies significativas para elas; o que impede uma compreenso das frases ou

    sentenas atravs de seus processos cognitivos habituais. Por conseqncia, as

    crianas apresentam muita dificuldade para aprender a ler e calcular, pois parte do

    material utilizado no lhe significativo.

    Ao tentar preparar materiais de leitura considerados fceis para o

    principiante, produzem materiais essencialmente sem sentido que anulam o poder da

    aprendizagem significativa e da percepo, como um instrumento que desvenda o

    cdigo impresso.Diante deste contexto, o ato educacional impe mais do que nunca uma

    atitude intencional daquele que educa.

    necessria uma vontade explcita de intervir no processo de aprendizagem

    do aluno, que se traduz numa srie de decises de ordem pedaggica, que envolve

    todo processo educativo desde a elaborao do currculo at as prticas escolares da

    sala de aula. O que se pode observar que os currculos escolares devam ser

    organizados em torno de um conjunto de disciplinas nitidamente diferenciadas,

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    dominados pela ritualizao dos procedimentos escolares, algumas vezes j obsoletos,

    cujos contedos se apiam em uma organizao rigidamente estabelecida,

    desconectada das experincias dos prprios alunos.A despeito de todo avano das pesquisas em educao, de cincia e

    tecnologia, as aulas assemelham-se mais a modelos do incio do sculo, tendo como

    perspectiva: metodologia dominante, a exposio, a exercitao e a comprovao da

    aprendizagem por meio de atividades repetitivas, enfatizando mais a memria do que a

    prpria compreenso do aluno.

    A escola organizada sob tal enfoque carece de significado para os alunos,

    pois corremos o risco do abandono, da desmotivao e at mesmo o da rebeldia, queentre outras formas se manifesta por meio de atitudes de agressividade e indisciplina.

    A resposta que a escola d a isso, muitas vezes, acentuar procedimentos

    repressivos, impor recursos disciplinares ou atribuir esses problemas a fatores externos,

    tais como o desequilbrio familiar, a imaturidade do aluno ou os incontestveis

    problemas de aprendizagem.

    Na essncia, temos uma escola classificatria, que quando no exclui por

    meio de reprovaes, exclui pela no aprendizagem que ocorre.

    No estamos ainda preparados para as diferenas individuais. Falamos das

    classes heterogneas, sonhando com a homogeneidade e, como conseqncia mais

    direta, criamos a categoria dos atrasados, dos excludos, dos imaturos e dos carentes

    de pr-requisitos para freqentarem nossas salas de aula.

    Tal cenrio est longe do discurso sobre formao para a cidadania e mais

    especificamente passa a largo da aprendizagem significativa. com o propsito de

    resgat-la que expomos este trabalho.

    Aprender deve ser entendido como compreenso de significadosrelacionados s experincias anteriores e s vivencias pessoais dos alunos

    incentivando maior aprendizagem, desencadeando modificaes de comportamento e

    contribuindo para a utilizao do que aprendido em diferentes situaes.

    Para que o discurso da aprendizagem significativa se concretize e para que

    haja interao entre o processo de ensino e o de aprendizagem, preciso mais do que

    novas metodologias, recursos didticos ou at mesmo de um aparato tecnolgico.

    Acredita-se que o professor deva ser um comunicador que desperte o interesse do

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    aluno e considere os aspectos psicolgicos envolvidos no processo de aprendizagem.

    O educador no deve deter-se apenas em codificar sua mensagem, mas torn-las

    decodificveis para o aluno.Para tratar destas questes aqui expostas, este trabalho divide-se em trs

    captulos. O primeiro fala da aprendizagem significativa e seus conceitos, assim como

    seus tipos e os mapas conceituais como uma tcnica de aprendizagem significativa.

    No segundo captulo fazemos uma explanao da relao professor-aluno,

    como a relao afetiva se posiciona diante das tendncias pedaggicas. Que tipo de

    relao ocorre entre afetividade e cognio e que tipo de influncia afetiva do professor

    pode ocorrer no rendimento escolar. Quais fatores ocorrem no cotidiano escolar quelevam ao fracasso e em que sentido a afetividade pode auxiliar este aluno.

    O terceiro e ltimo captulo refere-se importncia da afetividade na

    aprendizagem, especialmente nos casos de alunos com dificuldades de aprendizagem,

    mostrando assim as caractersticas do desenvolvimento afetivo e as capacidades dos

    professores e dos alunos no processo de ensino e de aprendizagem.

    A relao professor-aluno deve ser o ponto chave num processo em que

    percebemos pessoas distintas, com experincias distintas, sendo aproximadas com o

    objetivo de troca de conhecimento, em ambientes e momentos especficos. preciso

    que a sala de aula seja um lugar de demonstrao de emoo, descontrao,

    afetividade e respeito onde as diferenas individuais sejam reconhecidas, respeitadas e

    valorizadas, pois estimulam a construo do conhecimento. Sabemos da capacidade

    que ns professores temos de encontrar estes caminhos de aprender, ensinar e

    construir.

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    CAPTULO I

    APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

    Falar de aprendizagem sempre uma tarefa rdua dada a complexidade do

    tema em questo. Sendo assim, no temos neste captulo a pretenso de esgotar as

    discusses acerca deste assunto. O que pretendemos aqui levantar dados que nos

    ajudem a compreender a necessidade da conquista da aprendizagem significativa no

    cotidiano escolar, para que posteriormente possamos discutir alguns meios de alcan-la.

    1. Noo de aprendizagem significativa

    Recorremos inicialmente a alguns autores que conceituam a aprendizagem

    significativa, propiciando-nos maior clareza do assunto.

    Para Ausubel (apud MOREIRA, 1982), aprendizagem significativa um

    processo pelo qual uma nova informao se relaciona com um aspecto relevante da

    estrutura de conhecimento do indivduo. Nesse processo, a nova informao interage

    com uma estrutura de conhecimento especfico, que Ausubel define como conceito

    subsunores ou simplesmente subsunores existentes na estrutura cognitiva do

    indivduo.

    A aprendizagem significativa ocorre quando uma nova informao ancora-se

    em conceitos relevantes, preexistentes na estrutura cognitiva de quem aprende.

    Ausubel v o armazenamento de informaes no crebro humano como sendoaltamente organizado, formando uma hierarquia conceitual na qual elementos mais

    especficos de conhecimento so ligados e assimilados a conceitos mais gerais, mais

    inclusivos. Estrutura cognitiva significa, portanto, uma estrutura hierrquica de conceitos

    que so abstraes da experincia do indivduo.

    Segundo SOL e COLL (1999, p.22-20) o conceito de aprendizagem

    significativa central na perspectiva construtivista, a ponto de se afirmar que nesse

    contexto a palavra construo est sendo utilizada no sentido de atribuir significados

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    pessoais a um conhecimento que existe objetivamente, em particular, aos contedos

    escolares.

    Alm disso, entende-se, que a aprendizagem significativa quando osestudantes conseguem estabelecer relaes substantivas e no-arbitrrias entre os

    contedos escolares e os conhecimentos previamente construdos por eles, num

    processo de articulao de novos significados (PCN, 1997, p.52).

    Isto est de acordo com o que escreve MACHADO (1995, p.138), ao afirmar

    que compreender apreender o significado e que apreender o significado de um

    objeto ou acontecimento v-lo em suas relaes com outros objetos ou

    acontecimentos.Ausubel, segundo MOREIRA et al (2000, p.4), argumenta que possvel

    desenvolver uma Teoria da Aprendizagem significativa alicerada em princpios. Um

    desses princpios, que ainda hoje continua a ser um farol que ilumina a teoria, o

    seguinte:

    O fator mais importante de que depende a aprendizagem de um aluno aquiloque ele j sabe, ou seja aquilo que est incorporado na sua estrutura cognitiva.Para Ausubel, a aprendizagem significativa, como incorporao substantiva,no meramente memorstica de um novo conhecimento numa estruturacognitiva prvia, est em oposio aprendizagem em sala de aula pode

    localizar-se ao longo de duas dimenses independentes, que so doiscontnuos, o contnuo aprendizagem mecnica - aprendizagem significativa e ocontnuo aprendizagem por recepo - aprendizagem por descoberta.

    Significa que tanto a aprendizagem por recepo quanto a aprendizagem por

    descoberta podem ser mecnicas ou significativas. Ser ou no significativa a

    aprendizagem resultante de uma tarefa de um aluno, no importa como ele

    confrontado com aquilo que vai aprender (se o que vai aprender lhe proporcionado

    numa forma acabada ou numa forma por descobrir mais ou menos autonomamente)

    consoante se verifiquem ou no as duas condies seguintes: que a tarefa de

    aprendizagem seja potencialmente significativa; e que ele se empenhe

    psicologicamente de modo ativo na tarefa, de modo a relacionar as novas idias que j

    possui na sua estrutura de conhecimento prvia.

    Segundo MOREIRA et al (ibidem, p. 5):

    A maioria da aprendizagem significativa ocorre por assimilao de conceitos,isto , por interao dos novos conceitos com os subsunores existentes, mas

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    Ausubel tambm se debruou sobre a formao dos conceitos, processo peloqual a criana recm-nascida cria os primeiros subsunores ao descobrir osatributos resultantes das diversas classes de estmulos que vai tendo.

    Ausubel alm de demarcar dos tericos cognitivistas da chamada pedagogia

    por descoberta, ao valorizar igualmente a chamada aprendizagem por recepo ativa e

    significativa, tambm demarca os defensores de certas teorias do processamento da

    informao, ao afirmar que a aprendizagem muito mais do que uma simples conduo

    dos estmulos entrados na memria sensorial para a memria a curto prazo e desta

    para a memria a longo prazo. A informao processada sob formas conceituais,

    formando-se primeiro o ncleo representativo do conceito e s depois a sua

    representao verbal.

    Para que a aprendizagem significativa ocorra preciso entender um

    processo de modificao do conhecimento, em vez de comportamento em um sentido

    externo e observvel, e reconhecer a importncia que os processos mentais tm nesse

    desenvolvimento.

    As idias de Ausubel tambm se caracterizam por basearem-se em uma

    reflexo especfica sobre a aprendizagem escolar e o ensino, em vez de tentar somente

    generalizar e transferir aprendizagem escolar conceitos ou princpios explicativosextrados de outras situaes ou contextos de aprendizagem.

    Para haver aprendizagem significativa so necessrias duas condies. Em

    primeiro lugar, o aluno precisa ter uma disposio para aprender: se o indivduo quiser

    memorizar o contedo arbitrria e literalmente, ento, a aprendizagem ser mecnica.

    Em segundo, o contedo escolar a ser aprendido tem que ser potencialmente

    significativo, ou seja, ele tem que ser lgica e psicologicamente significativo: o

    significado lgico depende somente da natureza do contedo, e o significadopsicolgico uma experincia que cada indivduo tem. Cada aprendiz faz uma filtragem

    dos contedos que tm significado ou no para si prprio.

    2. Tipos de aprendizagem significativa

    Ausubel (apud MOREIRA, 1982, p. 32), distingue trs tipos de aprendizagem

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    significativa: representacional, de conceitos e proposicional.

    A aprendizagem representacional o tipo mais bsico de aprendizagem

    significativa, do qual os demais dependem. Envolve a atribuio de significados adeterminados smbolos, tipicamente s palavras, isto , a identificao, por significado,

    de smbolos com seus referentes (objetos, eventos e conceitos) para o indivduo. Os

    smbolos passam a significar aquilo que seus referentes significam.

    A aprendizagem de conceitos , de certa forma, uma aprendizagem

    representacional, pois conceitos tambm so representados por smbolos particulares.

    Porm, so genricos ou categricos, representam abstraes dos atributos essenciais

    dos referentes, representam regularidades em eventos ou objetos.Na aprendizagem proposicional, contrariamente aprendizagem

    representacional, a tarefa no aprender significativamente o que palavras isoladas ou

    combinadas representam, mas, sim, aprender o significado das idias, sob forma de

    proposies.

    De um modo geral, as palavras combinadas em uma sentena, de modo que

    possa constituir uma proposio, representam conceitos. A tarefa, no entanto, tambm

    no aprender o significado dos conceitos, muito embora isso seja um pr-requisito,

    mas, sim, o significado das idias verbalmente expressas por meio de conceitos, sob

    forma de uma proposio, ou seja, a tarefa aprender o significado que est da soma

    dos significados das palavras: os conceitos que compem determinada proposio.

    3. Anlise dos tipos de aprendizagem

    Faremos aqui uma apresentao dos tipos de aprendizagem apontados nosestudos de Ausubel.

    3.1. Aprendizagem significativa

    Na fase de alfabetizao das sries iniciais do ensino fundamental, se o

    aluno j tem algum conhecimento sobre o alfabeto, isso pode servir de subsunor para

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    as novas informaes referentes formao de palavras, de frases e de textos. Uma

    vez que esses novos conceitos so aprendidos de forma significativa, em associao

    com os conceitos preexistentes, gerais, sobre as letras que formam o alfabeto, esses setornaro mais gerais elaborados, e mais subsunores. Com o conceito que o aluno tem

    das letras que formam o alfabeto ele concluir que, com elas, possvel formar

    palavras, frases e produzir textos.

    Entretanto, esse processo de ancoragem da nova informao resulta em

    crescimento e modificao do conceito subsunor. Isso significa que os subsunores

    existentes na estrutura cognitiva e podem ser abrangentes (bem desenvolvidos) ou

    limitados (pouco desenvolvidos), dependendo da freqncia com que ocorre aaprendizagem significativa em conjuno com um dado subsunor.

    De acordo com PELIZZARI et al (2001, p.38):

    ... a aprendizagem significativa tem vantagens notveis, tanto do ponto de vista

    do enriquecimento da estrutura cognitiva do aluno como do ponto de vista da

    lembrana posterior e da utilizao para experimentar novas aprendizagens,

    fatores que a delimitam como sendo a aprendizagem mais adequada para ser

    promovida entre os alunos. Alm do mais, e de acordo com Ausubel, pode-se

    conseguir a aprendizagem significativa tanto por meio da descoberta como por

    meio da repetio, j que essa dimenso no constitui uma distino to crucial

    como dimenso de aprendizagem significativa/aprendizagem repetitiva, do

    ponto de vista da explicao da aprendizagem escolar e do delineamento do

    ensino.

    A aprendizagem significativa no se restringe aos mtodos de ensino ou a

    processos de aprendizagem. Na sala de aula, o conhecimento no simplesmente

    transmitido pelo professor e aprendido pelos alunos. Ensinar e aprender com

    significado requerem interao, disputa, aceitao, rejeio, caminhos diversos,

    percepo das diferenas, busca constante de todos os envolvidos na ao de

    conhecer. A aprendizagem significativa segue um caminho que no linear, mas uma

    trama de relaes cognitivas e afetivas.

    Segundo MOREIRA at al (2005, p.5):

    Na aprendizagem significativa h uma interao entre o novo conhecimento e o

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    j existente, na qual ambos se modificam. medida que o conhecimento prvioserve de base para a atribuio de significados nova informao, ele tambmse modifica, os subsunores vo adquirindo novos significados, se tornando

    mais diferenciados, mais estveis. Novos subsunores vo se formando;subsunores vo interagindo entre si. A estrutura cognitiva est constantementese estruturando durante a aprendizagem significativa. O processo dinmico; oconhecimento vai sendo construdo.

    O conhecimento a grande categoria do processo educacional. uma

    aquisio fundamental e privilegiada da vida, de uma vida prtica que se constri,

    histrica e socialmente, no cotidiano, que emoldura e catalisa nossas experincias. O

    conhecimento mediao central do processo educativo. E dele se constri

    concretamente, supondo evidentemente que haja planejamento e metodologia.

    3.2. Aprendizagem mecnica

    Contrastando com a aprendizagem significativa, Ausubel define

    aprendizagem mecnica (rote learning) como sendo a aprendizagem de novas

    informaes com pouca ou nenhuma associao com conceitos relevantes existentes

    na estrutura cognitiva. Nesse caso, a nova informao e aquela j armazenada.

    O conhecimento assim adquirido fica arbitrariamente distribudo na estrutura

    cognitiva, sem ligar-se a conceitos subsunores especficos. A aprendizagem de pares

    de slabas sem sentido um exemplo tpico de aprendizagem mecnica, como sendo

    uma dicotomia. Considere-as um continuum. Uma simples memorizao de frmulas,

    por exemplo, situar-se em um dos extremos desse continuum - o da aprendizagem

    mecnica, enquanto a aprendizagem de relaes entre conceitos poderia estar no outro

    extremo, o da aprendizagem significativa.Conforme PELIZZARI et al (2001, p.37):

    Quanto mais se relaciona o novo contedo de maneira substancial e noarbitrria com algum aspecto da estrutura cognitiva prvia que lhe for relevante,mais prximo se est da aprendizagem significativa. Quanto menos seestabelece esse tipo de relao, mais prxima se est da aprendizagemmecnica ou repetitiva.

    A noo de aprendizagem significativa, definida dessa maneira, torna-se

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    nesse momento o eixo central da teoria de Ausubel. Efetivamente, a aprendizagem

    significativa tem vantagens notveis, tanto do ponto de vista do enriquecimento da

    estrutura cognitiva do aluno como do ponto de vista da lembrana posterior e dautilizao para experimentar novas aprendizagens, fatores que a delimitam como sendo

    a aprendizagem mais adequada para ser promovida entre os alunos.

    De acordo com MOREIRA at all (2000, p.5):

    Na aprendizagem mecnica, o novo conhecimento armazenado de maneiraarbitrria e literal na mente do indivduo. O que no significa que esseconhecimento armazenado em um vcuo cognitivo, mas sim que ele nointerage significativamente com a estrutura cognitiva preexistente, no adquire

    significados. Durante um certo perodo de tempo, a pessoa inclusive capaz dereproduzir o que foi aprendido mecanicamente, mas no significa nada para ela.

    Obviamente, a aprendizagem mecnica no se processa em um "vcuo

    cognitivo", pois algum tipo de associao pode existir. No entanto, isso no ser

    interao, como ocorre na aprendizagem significativa. Alm disso, embora a

    aprendizagem significativa deva ser preferida mecnica, por facilitar a aquisio de

    significados, a reteno e a transferncia de aprendizagem, pode ser que, em certas

    situaes, a aprendizagem mecnica seja desejvel ou necessria, como por exemplo,em uma fase inicial da aquisio de um novo corpo de conhecimento.

    3.3. Aprendizagem por descoberta e aprendizagem por recepo

    A distino anteriormente estabelecida, entre aprendizagem significativa e

    mecnica no deve ser confundida com a distino entre aprendizagem por descoberta

    e por recepo ou receptiva. Segundo Ausubel (apud MOREIRA, 1982), na

    aprendizagem receptiva, o que deve ser aprendido apresentado ao aprendiz em sua

    forma final.

    Na aprendizagem por descoberta, contudo, o contedo principal a ser

    aprendido deve, como o prprio nome indica, ser descoberto pelo aprendiz. Entretanto,

    aps a descoberta, a aprendizagem s ser significativa se forem estabelecidas

    ligaes entre o contedo descoberto e os conceitos subsunores relevantes j

    existentes na estrutura cognitiva. Isto , por recepo ou por descoberta, a

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    aprendizagem s ser significativa, segundo a concepo ausubeliana, se o novo

    contedo incorporar-se, de forma no arbitrria e no-literal, estrutura cognitiva.

    Isso significa que a aprendizagem por descoberta no necessariamentesignificativa, nem que a aprendizagem por recepo seja obrigatoriamente mecnica.

    Tanto uma quanto a outra podem ser significativas ou mecnicas, dependendo da

    maneira como a nova informao abstrada na estrutura cognitiva. Por exemplo, a

    soluo de quebra-cabeas por ensaio e erro um tipo de aprendizagem por

    descoberta, na qual o contedo descoberto (a soluo) , geralmente, incorporado, de

    maneira arbitrria, estrutura cognitiva e, portanto, aprendido mecanicamente.

    4. Os mapas conceituais: Uma tcnica para aprendizagem significativa

    Os mapas conceituais tm por objetivo representar relaes significativas

    entre conceitos, na forma de proposies. Uma proposio constituda de dois ou

    mais termos conceituais unidos por palavras para formar uma unidade semntica.

    Dirigem a ateno do aluno e do professor para o reduzido nmero de idias

    importantes, nas quais, em qualquer tarefa especfica de aprendizagem, devem

    concentrar-se e proporcionam, semelhana de um "mapa de estradas", um resumo

    esquemtico e mono-inclusivos na parte inferior.

    Devem ser hierrquicos, quer dizer, os conceitos mais gerais devem situar-se

    na parte superior, e os conceitos mais especficos e mono-inclusivos na parte inferior.

    Os mapas conceituais so instrumentos que permitem descobrir as

    concepes de um conceito, que sejam equivocadas ou interpretaes que no sejam

    aceitas, mas que podem no ser errneas, quando ilustradas por uma frase que inclui oconceito. Tambm podem ser considerados instrumentos teis para negociar

    significativos, isto , os alunos sempre trazem alguma coisa deles mesmos para essa

    negociao; por no serem como uma tbua rasa ou um recipiente vazio que o

    professor deve preencher.

    De acordo com MOREIRA (2005, p. 6), mapas conceituais foram

    desenvolvidos para promover a aprendizagem significativa.

    Mapas conceituais podem ser utilizados como recursos em todas essas

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    etapas, assim como na obteno de evidncias de aprendizagem significativa, ou seja,

    na avaliao da aprendizagem.

    Como a aprendizagem significativa implica, necessariamente, atribuio designificados idiossincrticos, mapas conceituais, traados por professores e alunos

    refletiro tais significados.

    Quer dizer, tanto mapas usados por professores como recurso didtico como

    mapas feitos por alunos em uma avaliao tm componentes idiossincrticos. Isso

    significa que no existe mapa conceitual correto. Um professor nunca deve apresentar

    aos alunos o mapa conceitual de um certo contedo e sim um mapa conceitual para

    esse contedo segundo os significados que ele atribui aos conceitos e s relaessignificativas entre eles.

    De maneira anloga, nunca se deve esperar que o aluno apresente na

    avaliao o mapa conceitual correto de um certo contedo. Isso no existe. O que o

    aluno apresenta o seu mapa e o importante no se este est certo ou no, mas sim

    se ele d evidncias de que o aluno est aprendendo significativamente o contedo.

    Segundo MOREIRA (2005, p.7):

    Naturalmente, o professor ao ensinar tem a inteno de fazer com que o alunoadquira acertos significados que so aceitos no contexto da matria de ensino,que so compartilhados por certa comunidade de usurios. O ensino buscafazer com que o aluno venha tambm a compartilhar tais significados. Mapasde conceitos podem ser valiosos na consecuo desse objetivo e podemfornecer informao sobre como est sendo alcanado.

    Todavia, mapas conceituais, tanto do aluno como do professor, tm

    significados pessoais. Basta pedir a dois professores, com igual conhecimento, que

    tracem um mapa de conceitos para certo contedo: seus mapas tero semelhanas e

    diferenas. Os dois mapas podero evidenciar bom entendimento da matria sem que

    se possa dizer que um melhor do que outro e muito menos que um certo e outro

    errado.

    O mesmo vlido em relao a mapas conceituais traados por dois alunos

    na avaliao da aprendizagem de um mesmo contedo. Contudo, preciso cuidado

    para no cair em um relativismo onde tudo vale: alguns mapas so definitivamente

    pobres e sugerem falta de compreenso. No momento em que um professor apresentar

    para o aluno um mapa conceitual como sendo o mapa correto de um certo contedo, ou

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    no momento em que ele exigir do aluno um mapa correto, estar promovendo (como

    muitos outros recursos instrucionais) a aprendizagem mecnica em detrimento da

    significativa. Mapas conceituais so dinmicos, esto constantemente mudando nocurso da aprendizagem significativa.

    Em geral, os fatores de estruturao do texto enfatizados por Ausubel

    parecem ser importantes, em especial, para assegurar que os estudantes

    compreendam as idias principais em uma apresentao e sejam capazes de transferi-

    las a respeito do ensino de matrias escolares para a compreenso e uso do

    conhecimento.

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    CAPTULO II

    RELAES INTERPESSOAIS NORTEADAS PELO PROFESSOR

    Este captulo trata da importncia das relaes interpessoais e, em especial,

    das relaes de afetividade para a conquista de uma aprendizagem significativa.

    1. Relao afetiva e tendncias pedaggicas

    Utilizaremos uma abordagem histrica para este tema, situando as relaes

    interpessoais nas diferentes tendncias pedaggicas.

    1.1 Tendncia pedaggica tradicional

    A Pedagogia tradicional caracterizada pela concepo de educao em

    que prevalece a ao de agentes externos na formao do aluno, como se o

    conhecimento do aluno no tivesse valor algum para a educao.

    Nesta tendncia, a relao professor-aluno no ocorre de forma harmoniosa,

    o professor detm o poder de deciso. Ele escolhe o contedo, a metodologia, a forma

    como o aluno ser avaliado, enfim, a educao est centrada no professor. Desta forma

    no se cria uma sala de aula em clima de amizade, de democracia, to necessrio para

    esclarecer dvidas, questionar, discutir e at discordar dos contedos e da maneira

    como so encaminhados os estudos dos mesmos.O aluno fecha-se em si e vai acumulando dvidas, pois no tem nem mesmo

    a colaborao dos colegas. Nesta tendncia, alm do professor no estar aberto ao

    relacionamento com os alunos, no permite nem mesmo as relaes de aluno com

    aluno.

    De acordo com LIBNEO, (1993, p.24):

    No relacionamento do professor-aluno predomina autoridade do professor, que

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    exige atitude receptiva dos alunos e impede qualquer comunicao entre elesno decorrer das aulas. O professor transmite o contedo na forma de verdade aser absorvida; em conseqncia, a disciplina imposta o meio mais eficaz para

    assegurar a ateno e o silncio.

    Neste contexto, o professor julga-se ser mais importante que os alunos, vai

    depositando contedos sem, no entanto, ter a humildade de ouvir o que os alunos

    pensam a respeito.

    Alm de repassar contedos do seu interesse, por vezes, o professor

    costuma confundir autoridade com autoritarismo, acreditando que, para que os

    contedos sejam assimilados, deva existir em sala de aula silncio total, s o professor

    tem o direito de falar e, assim, monopoliza a aula. Este silncio mantido atravs dadisciplina rgida e austera, evitando-se at mesmo o dilogo entre colegas. Desta

    forma, o aluno vai se distanciando do professor e dos parceiros, no se expressando

    livremente, no tendo direito dvida e esclarecimentos.

    Segundo GARDNER (1995, p.35), a escola tradicional est centrada na

    explorao das inteligncias lingsticas e lgico - matemticas. Para ele a escola

    deveria ter uma educao pessoal, centrada no aluno, onde ele no poderia ser

    comparado.

    Sua teoria de aprendizagem defende que inteligncia no apenas a

    capacidade de entender alguma coisa, mas tambm, criatividade e compreenso.

    1.2. Tendncia pedaggica da escola nova

    Se na pedagogia tradicional, o professor era o centro das atenes, com o

    aparecimento da Pedagogia da Escola Nova, as atenes se deslocaram para o aluno.

    Nesta tendncia, s o aluno pode ser o autor de sua prpria experincia.

    Essa atitude necessita de mtodos ativos e criativos - tambm centrados no aluno.

    Muda muito o papel do professor, que deixa de depositar conhecimentos, exercendo

    uma educao bancria, e passa a considerar o aluno como sujeito da aprendizagem.

    O professor deve colocar o aluno em condies para que, partindo de suas

    necessidades e estimulando a curiosidade, possa buscar seus prprios conhecimentos.

    Conforme SAVIANI (1991, p.21): O professor agiria como um estimulador e

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    orientador da aprendizagem cuja iniciativa principal caberia aos prprios alunos. Tal

    aprendizagem seria uma decorrncia espontnea do ambiente e da relao viva que se

    estabelece entre os alunos e entre estes com o professor.Assim, segundo esse autor, o professor no exerce mais a sua autoridade

    para ditar normas que devem ser seguidas pelos alunos; ele cria um ambiente de

    dilogo onde o aluno tem o direito de dizer a sua verdade, desenvolvendo-se de

    maneira espontnea. A sala de aula passa a ser um local agradvel, onde todos os

    envolvidos no processo de ensino tm oportunidades de opinar, criticar, enfim, dar a

    sua contribuio para o crescimento do grupo.

    Estabelece-se entre professor-aluno uma relao de dilogo, amizade erespeito mtuo, caractersticas da relao interpessoal, que vem favorecer o processo

    de ensino-aprendizagem favorecimento este que ser abordado no prximo subtema

    deste captulo.

    Sublinhamos ainda a disciplina que existe para organizar o grupo, no como

    imposio do professor, pois o contexto e iderio escolanovista, como bem afirma

    SAVIANI (1991, p.22):

    (...) tendo sido amplamente difundido, penetrou nas cabeas dos educadores,acabando por gerar conseqncias, tambm nas amplas redes escolaresoficiais organizadas na forma tradicional. Cumpre assinalar que taisconseqncias foram mais negativas que positivas uma vez que, provocando oafrouxamento da disciplina e a despreocupao com a transmisso deconhecimento, acabou por rebaixar o nvel do ensino destinado s camadaspopulares.

    comum vermos, quando do surgimento de novas teorias educacionais,

    professores que, sem um conhecimento aprofundado da nova teoria, deixam de lado o

    trabalho que vinham realizando para seguir a nova tendncia, sem uma reflexo maisprofunda, com um conhecimento apenas superficial dos pressupostos tericos e

    filosficos, o que geralmente gera transtornos.

    1.3. Tendncia pedaggica tecnicista

    Nesta tendncia, tanto professor quanto aluno so relegados a segundo

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    plano. Sendo que os procedimentos e tcnicas que visam mudar o comportamento

    exercem papel fundamental na educao.

    A comunicao professor-aluno tem um sentido exclusivamente tcnico, que o de garantir a eficcia da transmisso do conhecimento. Debates, discusses,questionamentos so desnecessrios, assim como pouco importa as relaesafetivas e pessoais dos sujeitos envolvidos no processo ensino-aprendizagem.

    (LIBNEO, 1993, p.30)

    D-se, portanto, mais importncia transmisso e assimilao do contedo

    do que s relaes pessoais, afetivas, entre alunos e professores. O professor um

    administrador e executor do planejamento, o meio de previso das aes realizadas edos meios necessrios para se atingir os objetivos.

    A aprendizagem uma mudana de comportamento atravs da prtica

    reforadora do professor. O que gera muitos transtornos no relacionamento entre

    professor e aluno que, para reforar determinado comportamento ou extingui-lo, o

    professor usa reforos arbitrrios como: nota, elogio, castigo, etc.

    A relao afetiva professor-aluno, nesta tendncia, se distancia. Deixa de

    existir em sala de aula um clima aberto a discusses, sugestes e um envolvimento

    pessoal entre professor e aluno, to fundamental para a formao de indivduos

    preocupados com a melhoria pessoal e social. Alm do fato de que o aluno tem um

    papel pouco participativo, ele aprende, recebe e fixa as informaes que so

    transmitidas pelo professor.

    1.4. Tendncia pedaggica crtico-social dos contedos

    Este movimento pedaggico interessado na educao popular, na

    valorizao da escola pblica com ensino de qualidade voltado para o povo.

    A relao afetiva professor-aluno se faz no dilogo, compreenso e,

    principalmente, atravs das trocas de experincia nas quais um sabe ouvir o que o

    outro tem a dizer. O professor, nesta tendncia, procura assegurar a divulgao dos

    conhecimentos sistematizados a todos, como condio para a participao do povo nas

    lutas sociais. Tambm procura, atravs do dilogo com o aluno, questionar a cultura

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    dominante, valorizando a cultura do aluno, ouvindo atentamente o que ele tem a dizer.

    De acordo com GADOTTI (1993, p.41):

    O aluno, com sua experincia imediata num contexto cultural, participa nabusca da verdade, ao confront-la com contedos e modelos expressos peloprofessor. Mas esse esforo do professor em orientar, em abrir perspectivas apartir dos contedos, implica em envolvimentos com o estilo de vida dos alunos,tendo conscincia, inclusive, dos contrastes entre sua prpria cultura e a doaluno.

    O professor procura, juntamente com os alunos, criar condies para que

    eles possam atuar criticamente na sociedade, no aceitando imposies sem

    question-las. Alunos e professores discutem os contedos, analisam, procuramdescobrir o que h nas entrelinhas, buscando seus direitos, enfim, fazendo parte das

    lutas sociais e do contexto sociocultural em que se encontram.

    O professor oferece oportunidade para as reaes afetivas do aluno, e

    entendemos isto como um bom incio para a conquista da aprendizagem desejada.

    Sendo assim, temos que o conhecimento das tendncias pedaggicas aqui

    apresentadas servir no como modelos prontos para o perfil do professor, mas para

    possibilitar uma reflexo acerca do professor cada um de ns pretende ser e que tipo

    de relao pretende estabelecer com seus alunos.

    Tomando por base as caractersticas fundamentais do educador, como ser

    humano e como sujeito construtor do conhecimento, veremos no estudo seguinte, as

    relaes que o professor estabelece com seus alunos, lamentavelmente, levando-os

    muitas vezes ao fracasso escolar.

    2. A relao entre afetividade e cognio

    A relao entre os termos emoo e afetividade muitas vezes confundida

    como se fossem sinnimos.

    Segundo GALVO (1995, p.61) que se fundamenta em Wallon "a

    afetividade um conceito mais abrangente no qual se inserem vrias manifestaes".

    As emoes, os sentimentos, e os desejos so manifestaes da vida afetiva, sendo

    que as emoes vm sempre acompanhadas de alteraes orgnicas.

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    Percebendo-se o ser humano na sua totalidade, no se pode separar a

    afetividade da cognio, ou seja, o sentimento do pensamento.

    Conforme VASCONCELLOS (1995, p.44) "... a emoo provoca reaesrecprocas ou semelhantes nos outros tornando as trocas afetivas direcionadas da

    cognio". Isto significa que as relaes afetivas estabelecidas na sala de aula

    dependem muito das atitudes do professor, se o mesmo se mantiver indiferente ou

    expressar raiva em relao aos alunos, a tendncia que essas atitudes causem

    reaes recprocas nos alunos, gerando um ambiente conflituoso que dificultar a

    aquisio do conhecimento. Entretanto, se o professor agir de forma que expresse o

    seu interesse pelo crescimento dos alunos, respeitando seus pontos de vista, criar umambiente mais agradvel e propcio para aprendizagem.

    As emoes esto presentes quando se busca conhecer, quando se

    estabelecem relaes com objetos fsicos, concepes ou outros indivduos. Afeto e

    cognio constituem aspectos inseparveis, presentes em qualquer atividade, embora

    em propores variveis. A afetividade e a inteligncia se estruturam nas aes e pelas

    aes dos indivduos. O afeto pode, assim, ser entendido como a energia necessria

    para que a estrutura cognitiva passe a operar. E mais: ele influencia a velocidade com

    que se constri o conhecimento, pois, quando as pessoas se sentem seguras,

    aprendem com mais facilidade.

    Tanto a afetividade como a inteligncia so mecanismos de adaptao, que

    permitem ao indivduo a construo de noes sobre as situaes, os objetos e as

    pessoas, atribuindo-lhes atributos, qualidades e valores. Isso contribui para a

    construo de si prprio e para a obteno de uma viso do mundo.

    VYGOTSKY (1993, p. 6), ao se referir relao entre intelecto e afeto, diz

    que "uma das deficincias da psicologia tradicional foi separar esses dois aspectosenquanto objeto de estudo". Ela apresenta o processo de pensamento de forma

    independente, dissociado da plenitude da vida, das necessidades e dos interesses

    pessoais. Para Vygotsky, a soluo desse problema indicada pela anlise em

    unidades. O autor (ob. cit.) em suas palavras salienta:

    A anlise em unidades indica o caminho para a soluo desses problemas deimportncia vital. Demonstra a existncia de um sistema dinmico designificados em que o afetivo e o intelectual se unem. Mostra que cada idia

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    contm uma atitude afetiva transmutada com relao ao fragmento de realidadeao qual se refere. Permite-nos ainda seguir a trajetria que vai dasnecessidades e impulsos de uma pessoa at a direo especfica tomada por

    seus pensamentos, e o caminho inverso, a partir de seus pensamentos, at ocomportamento e a sua atividade.

    Percebe-se que esse autor no separa o intelectual do afetivo, pois entende

    o indivduo na sua totalidade. Apesar de significados diferentes, intelecto e afeto

    formam uma unidade no processo dinmico do desenvolvimento.

    Falando especificamente do afeto, Dantas, Vasconcellos e Galvo, dentre

    outros autores, se dedicaram a estudar a obra de Wallon, em cuja obra a dimenso

    afetiva ocupa lugar central, tanto na construo do conhecimento quanto na construo

    da pessoa" (DANTAS, 1992, p. 85).

    Seguindo ainda as idias de Wallon, VASCONCELLOS (1995, p.41)

    considera que:

    (...) os aspectos afetivos e intelectuais ocorrem de forma integrada e a verdadedessa relao s fica conhecida quando eles so tratados como dois fatores,dialeticamente, determinantes na transio do fisiolgico para o psiclogo, nodesenvolvimento dos seres humanos.

    Isto quer dizer que os aspectos afetivos so a base para a formao dopensamento, da conscincia. Faz-se necessria a integrao entre os aspectos

    cognitivos e afetivos no desenvolvimento do ser humano como um todo.

    Desde o incio estamos evidenciando que no se pode dissociar a

    afetividade da cognio, pois a afetividade est presente na criana desde o

    nascimento, o primeiro vnculo que estabelece e, de acordo com DANTAS (1992,

    p.90), a afetividade e a inteligncia, no incio da vida, esto misturadas, entretanto o

    predomnio da afetividade".Todavia, logo se inicia a sua diferenciao - a afetividade reflui para dar

    espao intensa atividade cognitiva - sendo que as aquisies de uma repercutem no

    desenvolvimento da outra. Assim, a histria da construo da pessoa ser constituda

    por uma sucesso de momentos, dominantemente afetivos ou cognitivos, mas no de

    forma paralela, mas sim integrados. Portanto, a afetividade depende, para evoluir, de

    conquistas realizadas no plano da inteligncia, e vice-versa" (DANTAS, ob.cit.).

    GALVO (1995, p.66) complementa afirmando que "a origem da atitude

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    intelectual est na emoo. atravs das interaes sociais que as emoes

    propiciam, que se d o acesso ao universo simblico da cultura". Porm, uma vez

    instaurada, a atividade intelectual manter uma relao de antagonismo com asemoes.

    Este antagonismo pode ser constatado no cotidiano, principalmente escolar,

    onde "a elevao da temperatura emocional tende a baixar o desempenho intelectual e

    impedir a reflexo objetiva" (Ibid.). Essa elevao da temperatura emocional, da qual

    fala a autora, pode acontecer por raiva, ansiedade, medo, nervosismo, preocupao,

    susto e por muitos outros fatores presentes na emoo humana.

    Percebe-se que a afetividade pode interferir de forma negativa ou positivanos processos cognitivos. Esta questo no ambiente escolar parece ser muitas vezes

    ignorada, havendo mais preocupaes com os contedos e tcnicas. As escolas do

    muita nfase disciplina, ao silncio, impedindo muitas vezes, que as crianas sejam

    ouvidas e entendidas. Se o aluno no puder expressar o que pensa, o que sente, no

    poder ser entendido. D-se importncia somente atividade intelectual, como se o

    aluno fosse um ser fragmentado.

    DAVIS e OLIVEIRA (1994, p 80), por exemplo, salientam que "o objetivo da

    escola no resolver as dificuldades na rea afetiva, mas sim propiciar a aquisio e

    reformulao dos conhecimentos". Ou seja, mesmo que quisesse, a escola sozinha no

    teria condies de resolver as dificuldades na rea afetiva de todas as crianas, pois a

    afetividade envolve a famlia e as relaes sociais que a criana estabelece.

    A articulao dos aspectos afetivos e intelectuais, individuais e coletivos no

    processo de aprendizagem carece de novas matrizes, novas formas de dinmicas que

    permitam esta integrao.

    No diminuindo a importncia desta integrao, ressaltamos que nossaproposta de estudo a dimenso afetiva no relacionamento professor-aluno que

    interfere no processo cognitivo.

    Na viso de DAVIS e OLIVEIRA (1994, p.81) no h negao da importncia

    do desenvolvimento afetivo, pois afirmam que "cabe escola esforar-se por propiciar,

    um ambiente estvel e seguro, onde as crianas se sintam bem, porque nestas

    condies a atividade intelectual fica facilitada". Argumentam ainda que a interpretao

    que o professor faz do comportamento dos alunos fundamental para que a interao

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    professor-aluno propicie a construo do conhecimento" (Ibidem, p. 84).

    A partir do que apresentamos, pode-se afirmar que os aspectos afetivos e

    cognitivos esto integrados no desenvolvimento do ser humano. Este desenvolvimentodepender das relaes sociais que a criana estabelecer no seu cotidiano,

    principalmente o escolar.

    2.1. Caractersticas do desenvolvimento na rea afetiva

    Segundo BASSEDAS, HUGUET e SOL (1999, p.43) o substrato quepossibilita um bom desenvolvimento psicomotor, cognitivo e lingstico a progressiva

    construo da identidade pessoal (a personalidade) juntamente com as capacidades

    de relacionar-se e comunicar-se com outras pessoas.

    As crianas vo construindo sua maneira de ver o mundo e ver o outro a

    partir de relaes que vivenciam. Este processo se d ao longo de toda sua evoluo,

    um processo contnuo e permanente.

    Os autores acima citados afirmam que:

    A personalidade estrutura-se a partir da relao com outras pessoas e nessasinteraes vai sendo interiorizada. Dessa perspectiva conseqente atribuiruma grande importncia s relaes e s interaes entre as pessoas. Comofator que possibilita a construo progressiva da identidade da pessoa e dodesenvolvimento de todas as suas capacidades (ibidem).

    A maioria das crianas nasce em um ambiente de estima e cuidado. Neste ambiente

    vo organizando as primeiras relaes vivenciadas. Atitudes de sorriso, choro, que ocorrem neste

    ambiente constituem um momento de trocas entre as crianas e os adultos. Esta relao fundamental para que a criana inicie seu processo de socializao e atue como individuo. O ser

    humano tem vrias necessidades ao nascer que so resolvidas nas relaes com outras pessoas,

    sendo assim como nos mostra BASSEDAS, HUGUET e SOL (ob.cit., p.44):

    Essa relao que permite desenvolver e amadurecer todo seu potencialbiogentico o qual por sua vez ir deix-lo responder aos poucos e de maneiraadaptada, s suas potencialidades e aos estmulos externos. Essa relao toprspera ser o incio do estabelecimento de vnculos afetivos que soextremamente necessrios durante todo o processo de socializao das

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    pessoas.

    Os cuidados dispensados criana geram um sentimento de segurana oque a torna uma criana segura. Atravs do estreitamento do vnculo, as crianas vo

    gradativamente diferenciando as pessoas que as cercam e respondendo a elas de

    maneira diferenciada.

    Durante o primeiro ano, a criana estabelece contato com um nmero

    limitado de pessoas e a segurana gerada nestas relaes de cuidado e prazer permite

    que as crianas estabeleam novas relaes com pessoas que lhe so estranhas.

    No segundo ano de vida, a criana j possui mais liberdade e autonomia com

    a conquista da marcha e aquisio da linguagem. Neste ponto, ela j se reconhece no

    espelho e em fotografias, j conhece vrias caractersticas das relaes sociais.Sabe

    que algumas atitudes lhe so permitidas e outras no. O processo de conquista da

    autonomia, meta do processo educativo j teve incio.

    Este caminho longo, com momentos de dificuldades que so superados

    por meio das relaes de afeto e de confiana que a criana vivencia.

    No primeiro ano de vida os adultos so responsveis pela organizao da

    vida da criana. Por volta de dois anos, ela inicia um processo de oposio quefortalecer sua personalidade. As atitudes dos adultos que cercam esta criana so

    fundamentais. Dependendo da atitude dos adultos a maneira como ela passar a agir.

    Caso os adultos sejam muito permissivos a criana se torna onipotente, e em caso de

    adultos muito repressivos, crianas tmidas e retradas surgem. Nesta etapa elas

    precisam saber que a sociedade contm regras que so alheias sua vontade.

    Por volta de trs anos, as crianas percebem que tm que partilhar a

    ateno e o tempo dos adultos, o que pode gerar sentimentos de rivalidade em relao

    aos outros membros da famlia.

    BASSEDAS, HUGUET e SOLE (1999, p.45) afirmam que: As experincias

    que as crianas vivenciam no decorrer dos anos em todos os contextos (famlia, escola,

    entre amigos e amigas) fazem com que elas interiorizem uma imagem e um

    conhecimento de si mesma... e ao mesmo tempo, adquiram uma valorizao do prprio

    conceito que transmitido por pessoas significativas em sua relao diria. Isso

    representa a auto-estima.

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    A auto-estima positiva proporciona um maior xito escolar e a possibilidade

    de construir relaes scio-construtivas. Pais e professores que demonstrem afeto,

    disciplina e respeito pelas possibilidades das crianas esto contribuindo para oprocesso de construo de personalidade e autonomia.

    Outro ponto importante na construo da autonomia o controle das

    necessidades fisiolgicas com a conquista do uso das instalaes sanitrias.

    Gradativamente a criana vai tendo mais condies de se despir e vestir, bem como de

    conquistar a capacidade de se alimentar independente da ajuda do adulto.

    A conquista de amizades tambm se mostra importante nesta idade. As

    crianas que antes representavam rivais para tomar brinquedos e a ateno dosadultos, pouco a pouco vo se tornando colegas que contribuem com agradveis

    momentos de trocas e brincadeiras, isto se as regras forem respeitadas. Neste ponto

    aprender a ceder, a partilhar, a lutar pelo seu desejo extremamente importante.

    O conhecimento do processo de desenvolvimento infantil d ao professor

    mais condies para planejar e conduzir o processo pedaggico que deve atingir o

    mbito pessoal, social e o do conhecimento do mundo.

    2.1. A influncia afetiva do professor no rendimento escolar

    Os professores se tornam significativos na vida de seus alunos por causa de

    uma forte convivncia, passam com eles no mnimo quatro horas dirias. s vezes,

    nem os pais tm tanto tempo para darem ateno aos filhos, seja porque trabalham fora

    ou por outros fatores.

    Assim, o professor passa a ser uma das poucas pessoas que pode acreditarmais no valor e na capacidade de seus alunos.

    Entretanto, pode acontecer o contrrio, a criana ter um lar harmonioso e o

    professor ser indiferente e rejeitador, o que pode interferir negativamente no

    desenvolvimento do aluno.

    Segundo ALMEIDA (1997, p.14) "a relao professor-aluno em sala de aula

    tem se mostrado antagnica e conflituosa", visto que ambos tm interesses, objetivos e

    valores divergentes e, ao invs de buscarem um equilbrio para poderem progredir,

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    estabelecem relaes de conflitos, onde um quer impor suas idias ao outro, no

    respeitando os diferentes pontos de vista e gerando desentendimentos.

    Conflitos, angstias, medo e ansiedade so apontados como fatoresemocionais causadores da queda no rendimento escolar da criana.

    Para GOLEMAN (1995, p.92):

    A forma como as perturbaes emocionais podem interferir na vida mental no novidade para os professores. Alunos ansiosos, mal-humorados oudeprimidos no aprendem; pessoas colhidas nesses estados no absorvemeficientemente a informao e nem a elaboram devidamente.

    As turbulncias na sala de aula deixam a todos desamparados, sem saber oque fazer, elevam a temperatura emocional do grupo e fazem com que o professor

    perca o controle da situao. O que significa que manifestaes geradas pelas

    situaes conflitivas prejudicam tanto o desenvolvimento do aluno quanto o trabalho

    docente.

    Expressando o pensamento terico de Wallon, GALVO (1995, p.104) diz

    que "irritao, raiva, desespero e medo so manifestaes que costumam acompanhar

    as crises, funcionando como 'termmetro' do conflito".

    O professor deve ter clareza de quais so os motivos, quais so os fatores

    que provocam os conflitos, assim aumentar a possibilidade de controlar as reaes

    emocionais dos alunos e de encontrar os meios para solucion-los.

    Atravs da reflexo, o docente buscar compreender o motivo das reaes

    dos estudantes e das suas prprias reaes, pois tem mais condies de perceber o

    que est acontecendo para agir de forma mais adequada. Cabe ao docente encontrar

    os meios para reduzir a "temperatura emocional". Em vez de se deixar contagiar pelo

    descontrole dos alunos, precisa contagiar a todos com a sua racionalidade e bomsenso, expressos com sua afetividade.

    GALVO (1995, p.106) d destaque a dois tipos de situao conflituosa,

    muito comuns na prtica pedaggica: so as "crises de oposio e as dinmicas

    turbulentas".

    As crises de oposio acontecem quando os alunos se recusam a realizar

    uma determinada proposta pelo simples gosto de fazer oposio.

    Essas atitudes so freqentes na sala de aula e cabe ao professor detectar

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    qual a razo da oposio. s vezes, pode ser uma necessidade de autonomia que o

    estudante busca. O professor deve perceber o papel positivo destas condutas, sem

    torn-las como uma afronta pessoal, pois dificultaria ainda mais a interao.GALVO (ob.cit., p.107) tambm esclarece que reconhecer o papel positivo

    desta situao ajuda, mas no resolve o problema. preciso que se encontre meios

    prticos para lidar com a situao. Cada um em seu contexto especfico deve encontrar

    os meios, os procedimentos mais adequados, sobretudo estes que possibilitam

    autonomia e responsabilidade aos alunos, facilitando o convvio em situaes de crise.

    As dinmicas turbulentas so um outro tipo de interao de conflito que se

    caracterizam pelas condutas de disperso, agitao e impulsividade motora.Nessas interaes o professor visa conter os alunos, e os mesmos visam

    escapar do controle. comum nesta situao o uso das expresses: - "fica quieto e

    senta", "prestem ateno", "parem com esta correria", "calem a boca", "no faa isso".

    Estas, entretanto, s desgastam o professor e os alunos, e raramente surtem resultado

    positivo.

    Para a autora citada, frente aos momentos crticos, tantas vezes geradores

    de indisciplina, de atos inadequados,

    preciso romper com a viso tradicional de disciplina, que tem por expectativanuma classe com alunos permanentemente sentados e atentos atividadeproposta pelo professor. preciso deixar de olhar o movimento somente comotransgresso e fonte de transtornos, buscando enxergar nele sua multiplicidadede dimenses e significados. preciso, enfim, olhar a criana como serconcreto e corpreo, uma pessoa completa (GALVO, 1995, p.111).

    As relaes conflituosas, enfrentadas no dia-a-dia do processo educacional,

    acabam interferindo na atividade intelectual, podendo ocasionar o baixo rendimento

    escolar.

    SALTINI (1997, p.20) salienta que "a relao que o aluno estabelece com o

    professor fundamental enquanto elemento energizante do conhecimento".

    As atitudes, as palavras, a forma de se relacionar dos professores atraem,

    conquistam ou afastam os alunos.

    A relao professor-aluno necessita ir alm da mera transmisso do

    contedo e da aplicao de tcnicas, para que o aluno possa ser capaz de construir,

    reconstruir, elaborar e reelaborar os conhecimentos, no sentido de que os mesmos

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    passem a ter significado em suas vivncias. Para que isso ocorra fundamental que o

    relacionamento afetivo entre professor-aluno propicie as condies adequadas.

    Por relacionamento afetivo no se entende, por exemplo, o ato de passar amo na cabea do aluno que no consegue aprender.

    ALMEIDA (1997, p.14), ressalta que "muitos professores encaram a

    afetividade como a arte de dar beijinho, catar piolhos e passar a mo sobre a cabea

    dos alunos. Esta uma conceituao equivocada, pois, a afetividade um sentimento

    que pressupe interao".

    O relacionamento afetivo pressupe respeito s idias, s opinies do outro,

    bem como afeto, dedicao, troca, esforo e vontade por parte dos envolvidos.DAVIS e OLIVEIRA (1994, p.84), salientam que "o afeto pode ser entendido

    como a energia necessria para que a estrutura cognitiva passe a operar".

    O afeto na sala de aula extremamente importante, pois o aluno se sentir

    mais seguro, valorizado e confiante de suas capacidades.

    Para poder ajudar, o professor deve conhecer seus alunos, saber de suas

    inseguranas, medos, ansiedades, expectativas e perspectivas, para poder determinar

    o seu trabalho escolar e mediar a aprendizagem.

    Conhecendo seus alunos e escolhendo a melhor forma de trabalhar com

    eles, o educador propiciar melhores oportunidades para elevar o rendimento escolar

    dos educandos, elevando tambm o autoconceito destes, tornando a aprendizagem

    mais agradvel e produtiva.

    Concordamos com DAVIS e OLIVEIRA (1994, p.90), que reforam a idia de

    que:

    Cabe ao professor conhecer de perto seus alunos para estar familiarizado comos modos atravs dos quais eles raciocinam. Conhecendo bem o pensamentodos alunos, ele est em posio de organizar a situao de aprendizagem e,sobretudo, interagir com eles, ajudando-os a elaborar hipteses pertinentes arespeito do contedo em pauta, por meio de constante questionamento dasmesmas.

    O professor que se interessa pelo progresso dos alunos e o demonstra faz

    com que os mesmos tenham mais confiana em si prprios e sejam bem mais

    sucedidos em suas realizaes. J para os professores que so impessoais,

    indiferentes, a tendncia que acontea o contrrio.

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    Atravs da interao, professores e alunos vo se conhecendo melhor, um

    se coloca na posio, no lugar do outro, para que assim possam atingir os objetivos, os

    propsitos almejados.DAVIS e OLIVEIRA (1994, p.89), afirmam que "na interao professor-aluno,

    supe-se que o primeiro ajude inicialmente o segundo na tarefa de aprender, porque

    essa ajuda logo lhe possibilitar pensar com autonomia".

    O aprendiz necessita de algum ao seu lado que entenda o processo pelo

    qual est passando e o ajude a evoluir.

    Atravs da troca e do dilogo o docente vai procurar entender quais so os

    motivos, as dificuldades dos educandos, como reagem e se sentem perante ssituaes. Far com que as interaes aconteam de modo produtivo, que haja respeito

    de ambas as partes para, assim, poderem superar os obstculos na aquisio dos

    conhecimentos. Desta forma, o aluno se sentir mais seguro para expor suas idias,

    perguntar e participar, contribuindo para o crescimento do grupo e se desenvolvendo

    social-cognitiva e afetivamente No entanto, muitos so os fatores gerados a partir das

    relaes afetivas estabelecidas entre professor-aluno no cotidiano escolar, que podem

    conduzir o aluno ao fracasso escolar.

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    CAPTULO III

    PROFESSOR, APRENDIZAGEM E DIFICULDADES

    No captulo anterior tratamos da relao entre professor e aluno e daquela

    que se estabelece entre afetividade e cognio. Nesta etapa de nosso trabalho

    abordamos alguns fatores que podem ser gerados pelas relaes afetivas entre

    professor e aluno, tais como as expectativas do professor em relao a seus alunos, a

    freqncia de insucessos de alguns deles, a pobreza, a ansiedade, o medo dos alunos

    e a avaliao, que geralmente encarada pelo professor como um momento que

    dispensa a afetividade. Vale elucidar que o carter negativo de tais fatores deve-se ao

    fato de que as relaes aqui estabelecidas so geradoras de conflitos internos e

    externos do aluno e que a amplitude deste aspecto do tema no nos permite esgot-lo

    neste trabalho.

    1. Relaes afetivas e dificuldades de aprendizagem

    Um fator observvel que envolve emoes e afeto em sala de aula so as

    expectativas que o professor deposita em seus alunos, s vezes positivas e outras

    negativas.

    Concordamos com as idias de MELLO (1993, p.36) ao estabelecer que:

    quando o professor espera de seus alunos um bom desempenho, ele aumentaa probabilidade de que esse desempenho ocorra, do mesmo modo que quando

    o fracasso do aluno por ele esperado, sua probabilidade em concretizar-setorna-se maior.

    MELLO (ob.cit., p. 38), tambm explica que "as expectativas dos professores

    so determinadas pelas caractersticas e pelos comportamentos dos alunos. Atravs da

    convivncia o docente vai formando seus conceitos a respeito dos alunos e os expressa

    atravs das expectativas". Neste caso, importante que o professor tenha conscincia

    de que as expectativas que deposita no comportamento e no rendimento dos alunos de

    alguma forma se realiza, ou seja, as profecias dos professores se cumprem em sala de

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    aula.

    O docente expressa as suas expectativas atravs do seu comportamento,

    apoiando, encorajando, fazendo os alunos acreditarem em si prprios. Assim, os alunosvo se esforar cada vez mais para corresponder a estas expectativas.

    De acordo com HAMACHEK (1978, p.215):

    Se os estudantes se esforam por corresponder s expectativas dosprofessores, no ser apenas porque estas expectativas so razoveis, mastambm devido existncia de uma relao interpessoal na qual os professoresso vistos como pessoas basicamente dignas de confiana, amistosas, dotadasde calor humano e seguras a respeito de si mesmas.

    Para poder expressar expectativas em relao aos alunos, o professor deve

    ter antes de tudo, expectativas em relao a si mesmo, deve ser seguro de si.

    Se o professor tiver um autoconceito positivo - gosta, confia e acredita em si

    prprio - ver nos outros, principalmente em seus alunos que tambm so capazes e

    que tm possibilidades e, portanto, estar disposto a ajudar.

    A baixa expectativa dos professores com relao aos alunos pode ser

    expressa atravs da rejeio, frieza, indiferena, da discriminao dos que tm

    dificuldade em aprender e da desvalorizao do saber que j adquiriram. D-se mais

    nfase ao que o aluno no sabe, pois, o que sabe no tem importncia, ou ainda: sua

    obrigao! Esse aluno acaba se sentindo incapaz de superar suas dificuldades e ser

    um candidato repetncia ou evaso.

    comum observar que muitos docentes se interessam mais pelo

    desempenho dos alunos que possuem sucesso escolar, e os que mais necessitam de

    ajuda acabam sendo deixados de lado, ou no recebem a ateno que merecem.

    DORNELES (1987, p.269) constatou, atravs de pesquisas, que "a maioriados professores tratam de forma diferente os alunos que no se encaixam no seu

    padro idealizado". Emitem juzos de valor que sero reproduzidos pelos outros, e

    desta forma os alunos vo sendo rotulados. Constatou tambm que "pelo menos 50%

    dos alunos rotulados acabaram se evadindo, ou melhor, foram excludos".

    HAMACHEK (1978, pp.180-181) tambm aborda sobre a evaso escolar e

    entende que o motivo principal disto recai sobre a influncia dos fracassos no

    sentimento de autovalorizao dos alunos". Se o professor tem atitudes de

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    desvalorizao do aluno que reforam sua autodesvalorizao, ele acaba aceitando o

    seu insucesso (DORNELES, 1987, p. 264). A freqncia de fracassos escolares

    geradores de baixo rendimento leva o aluno a se sentir sem perspectivas de sucesso.Desta forma, a inferioridade um fator tambm presente nas relaes afetivas

    estabelecidas na sala de aula e o professor pode contribuir para que o aluno

    permanea com este sentimento. Entende-se por inferioridade aquela atitude que a

    pessoa possa ter, a respeito de si mesma, de se sentir menos capaz do que os outros

    (...) consciente ou inconsciente, implica uma comparao desfavorvel com os outros".

    (HAMACHEK, 1978, p. 238).

    Com relao ao rendimento escolar o aluno pode perceber-se menos capazse no conseguir aprender. Quando agravado, um baixo rendimento consecutivo

    poder conduzi-lo reprovao. Observa-se que, por ser reprovado, o aluno tratado

    como diferente ou deficiente em relao aos outros alunos, por isso mesmo acaba

    por se sentir inferior e tender a se evadir da escola.

    So comuns atitudes de professor que podem reforar e at gerar o

    sentimento de inferioridade. Um exemplo disso se d quando o professor faz

    comparaes entre os alunos que sabem mais e os que no sabem; ou quando

    comparam os comportamentos, elogiando os que se comportam como o esperado,

    criticam rebaixando os que fogem regra padro. Isto refora nossa idia de que o

    educando pode desenvolver este sentimento de inferioridade a partir das relaes

    afetivas que estabelece com o professor.

    H uma questo sria quando se trata de crianas pobres, sobretudo quando

    se entende que os prprios professores induzem os alunos das classes sociais que

    no correspondem ao seu modelo de aluno ideal, ao fracasso escolar, atravs das suas

    expectativas", como alega MELLO (1993, p.36). Isto significa que os docentes criamestas expectativas de fracasso, pois no conseguem evitar que o mesmo ocorra. Os

    estudantes acabam se sentindo realmente impotentes e aceitam os insucessos,

    conformam-se com as reprovaes ou se evadem da escola, como j foi dito.

    Sabe-se que as expectativas positivas ajudam, mas no so suficientes,

    devem ser acompanhadas do efetivo trabalho pedaggico. Sem o mesmo, as

    expectativas positivas podem gerar mais frustrao, pois os alunos no conseguiro

    superar suas dificuldades.

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    Alguns autores alegam que crianas pobres tm mais dificuldades para

    aprender e CECCON (1987, p.47) afirma que tais dificuldades escolares ocorrem

    devido a uma srie de fatores que a envolvem, como os problemas econmicos,familiares e sociais". O autor tambm reconhece o despreparo dos professores para

    ajudar essas crianas em suas dificuldades, pois eles seguem um modelo de escola

    adequado para as crianas da classe mdia, sem nenhuma dificuldade de

    aprendizagem, e a tendncia que atuem tendo em vista um aluno idealizado e no

    real.

    PATTO (1993, p.342), em relao s crianas pobres, diz que "relatos de

    pesquisas e de experincias educacionais nas quais o preconceito foi superado, (...)revelam-nas capazes de reflexo, avaliao crtica, abstrao e uso adequado da

    linguagem". O que nos leva a deduzir que as crianas pobres so to capazes quanto

    as crianas de outras classes sociais. Entretanto, devido aos problemas que enfrentam

    no seu meio social, que influenciam nos seus aspectos cognitivos, a criana ter mais

    dificuldade para aprender. Faz-se necessrio, por parte do educador, um trabalho muito

    mais abrangente, que perceba o educando como realmente , com suas dificuldades,

    necessidades e sofrimentos. Cabe ao educador muito mais dedicao, compreenso,

    competncia, compromisso e afeto - que um componente essencial no

    desenvolvimento das capacidades do educando, que far com que se sinta muito mais

    seguro e capaz de superar suas dificuldades.

    O professor, com competncia e compromisso, deve realizar seu trabalho no

    sentido de mostrar a seus alunos que so capazes e que tm possibilidades de

    aprender. Atravs de sua ao pedaggica, do conhecimento que tem sobre seus

    alunos, ajudar para que os mesmos venam os obstculos que o ato de aprender

    pode apresentar. Vencendo os obstculos, as dificuldades, eles se sentiro muito maiscapazes e autoconfiantes. Isso faz com que o sentimento de inferioridade diminua,

    dependendo do caso, da situao, pode at desaparecer.

    Um outro fator que pode ser gerado pelas relaes afetivas entre professor-

    aluno, a ansiedade. Expectativas em demasia geram ansiedade, preocupao

    excessiva e podem contribuir para aumentar as frustraes, principalmente quando o

    aluno no consegue atingir as expectativas.

    WEISS (1997, p.50) esclarece que "(...) a ansiedade bem dosada positiva

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    em qualquer situao". Ela funciona como um estmulo na busca de superar obstculos.

    Todavia, se tiver ansiedade em excesso, pode gerar perturbaes, pois:

    Os ansiosos tm mais probabilidade de falhar (...) A variedade de preocupaesrelatadas por pessoas que devero ser submetidas a um teste prediz qual sero desempenho delas. Os recursos mentais despendidos numa tarefa cognitiva -a preocupao - simplesmente minam os recursos existentes para oprocessamento de outras informaes (GOLEMAN, 1995, pp.96-97).

    Uma das grandes preocupaes dos alunos a de falhar na hora da prova.

    Claro que a preocupao bem dosada necessria. Entretanto, se for em excesso

    pode prejudicar.

    Quanto mais o aluno se preocupar com a possibilidade de fracassar no

    momento em que est realizando uma prova, mais ansioso ficar e ter menos ateno

    para resolver as questes, pois ter mais dificuldade para se concentrar. Desta forma, a

    preocupao vai desenvolvendo no s o estado ansioso, mas tambm o medo do

    fracasso, at que este se concretiza.

    Assim, o medo um outro fator que pode ser gerado pelas relaes afetivas

    entre professor-aluno. Ele ocorre no processo de controle das condutas e aes dos

    alunos, sobretudo quando internalizado e se torna freio s aes que so

    supostamente indesejveis. O medo gera a submisso forada, a tenso e a

    insegurana. O castigo o instrumento gerador do medo, seja ele explcito ou velado",

    no dizer de LUCKESI (1996, p. 24).

    Nas escolas observvel que o castigo fsico explcito no mais usado,

    pois um dos direitos adquiridos da criana e do adolescente o de no ser agredido

    nos bancos escolares. Todavia, utiliza-se ainda um castigo mais sutil - o psicolgico,

    que pode ser constatado atravs da ameaa, entendida por LUCKESI (ob.cit., p.25),como um castigo antecipado, pois atinge o controle psicolgico, devido permanncia

    da ameaa, mesmo sem que o aluno seja castigado.

    Muitas so as ameaas utilizadas na prtica docente, como: ficar sem

    recreio, realizar tarefas extras em casa ou no intervalo, suspender o lanche, ameaa de

    fazer uma prova difcil, tirar pontos da mdia, fazer perguntas relmpagos valendo nota,

    etc. Sublinhamos que as atitudes ameaadoras geram medo, ansiedade, insegurana e

    tenso que fazem com que o aprendiz no consiga se concentrar e aprender,

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    prejudicando dessa forma o seu rendimento, que poder ter como conseqncia o

    fracasso escolar.

    Assim sendo, o relacionamento afetivo na sala de aula se tornar negativo,tenso ou desestimulante, no s para o aluno que enfrentar mais dificuldade para

    aprender num ambiente de castigo e medo, mas tambm para o professor que no ter

    retorno positivo do seu trabalho, e poder ser um eterno insatisfeito.

    comum os professores utilizarem a avaliao - prova - como ameaa aos

    alunos. A avaliao um dos pontos centrais que permeia a relao professor-aluno e

    que constata o sucesso ou fracasso escolar. Se conduzida de forma inadequada, abre

    as portas para a freqncia de insucessos, ansiedade medo, sentimentos deinferioridade, repetncia e evaso.

    Segundo LUCKESI (1996, p.18-19) "o professor utiliza as ameaas quando o

    seu trabalho no produz o efeito esperado ou quando os alunos esto indisciplinados".

    As ameaas so anunciadas atravs de expresses como: "Estudem! Vocs podero

    se dar mal na hora da prova! Prestem ateno! Fiquem quietos! O dia da prova vem a

    e vocs vero o que vai acontecer! A prova ser bem difcil, se preparem!

    Atravs das ameaas, a avaliao toma um carter negativo, pois os alunos

    estudaro, se conseguirem, conduzidos pelo medo.

    Avalia-se para obter notas e para apenas verificar se o aluno aprendeu. Se

    no aprendeu apenas se constata isso e nada se faz para que supere as suas

    dificuldades. Os que no sabem acabam excludos, repetindo a mesma srie ou

    induzidos a sair da escola, por no suport-la mais e por no conseguirem se adequar

    a ela.

    LUCKESI (1996, p.172) define a avaliao "como um ato amoroso", no

    sentido de ser um ato acolhedor, integrativo e inclusivo. Assim deveria ser, porm,sabe-se que a realidade escolar da maioria das escolas de uma avaliao excludente

    e seletiva.

    A avaliao como um ato amoroso ultrapassa as prticas tradicionais

    baseadas na ameaa e no medo, pois atravs dela se diagnosticar quais os entraves,

    as dificuldades que os alunos apresentam e se buscar o meio mais adequado para

    super-las. Buscar-se- incluir, acolher e integrar o aluno na sala de aula, bem como

    suas experincias de vida, pois a avaliao passar a ser um instrumento de auxlio

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    para a aprendizagem.

    Enfim, quanto mais prazerosas forem as relaes afetivas que se

    estabelecem entre professor e aluno, quanto mais forem as marcas de dilogo entreeles, melhor ser o desenvolvimento afetivo e cognitivo do educando.

    2. As dificuldades de aprendizagem

    A aprendizagem e a construo do conhecimento so processos naturais e

    espontneos do ser humano que desde muito cedo aprende a mamar, falar, andar,pensar, garantindo, assim, a sua sobrevivncia. Com aproximadamente trs anos, as

    crianas so capazes de construir as primeiras hipteses e j comeam a questionar

    sobre a existncia.

    A aprendizagem escolar tambm considerada um processo natural, que

    resulta de uma complexa atividade mental, na qual o pensamento, a percepo, as

    emoes, a memria, a motricidade e os conhecimentos prvios esto envolvidos e

    onde a criana deva sentir o prazer em aprender.

    Apesar do conceito de dificuldades de aprendizagem ser complexo e at

    mesmo um pouco ambguo, necessrio que tentemos determinar nossa referncia

    com tal expresso ou etiqueta diagnstica, de modo que se possa reduzir a confuso

    com outros termos tais como necessidades educativas especiais, inadaptaes por

    dficit socioambiental etc.

    Partindo da realidade plenamente constatada de que todos os alunos so

    diferentes, tanto em suas capacidades, quanto em suas motivaes, interesses, ritmos

    evolutivos, condies de aprendizagem, situaes ambientais, etc, entendendo quetodas as dificuldades de aprendizagem so em si mesmas contextuais e relativas,

    necessrio colocar o acento no prprio processo de interao ensino/aprendizagem.

    Sabemos que este um processo complexo em que esto includas inmeras

    variveis: aluno, professor, concepo e organizao curricular, metodologias,

    estratgias, recursos. Mas, a aprendizagem do aluno no depende somente dele, e sim

    do grau em que a ajuda do professor esteja ajustada ao nvel que o aluno apresenta em

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    cada tarefa de aprendizagem. Se o ajuste entre professor e aprendizagem do aluno for

    apropriado, o aluno aprender e apresentar progressos, qualquer que seja o seu nvel.

    bvia a grande dificuldade que os professores sentem quando se deparamcom alunos que lhes so apresentados como aqueles com dificuldades de

    aprendizagem. Nessa altura do nosso trabalho, colocamos dificuldades de

    aprendizagem entre aspas, pois sabemos que, muitas vezes, difcil perceber se estas

    dificuldades so de aprendizagem ou de ensino. Ambas esto juntas, difcil dizer qual

    das duas tem mais peso.

    Devemos ter sempre em mente que nem todos aprendem da mesma

    maneira, que cada um aprende a seu ritmo e em seu nvel de condies. Precisamoscriar novos contextos que se adaptem s individualidades dos alunos, partindo do que

    cada um sabe, de suas potencialidades e no de suas dificuldades. Estas no podem

    ser o foco, mas sim o aluno.

    De acordo com BLIN (2005), sem subestimar o efeito de fatores externos

    escola, variadas pesquisas sobre a eficcia do ensino tm demonstrado a influncia

    dos professores e da maneira como conduzem a ao pedaggica, no somente sobre

    a forma como se d a aprendizagem dos alunos, mas tambm sobre o modo com que

    se comportam em aula. O conhecimento dos processos associados ao ato de aprender

    e uma prtica didtica capaz de facilit-los pode minimizar grande parte dos problemas

    e dos rtulos colocados nos alunos com dificuldades de aprendizagem.

    Segundo PERRENOUD (2001) pode-se duvidar que, mesmo em uma classe

    tradicional em que se pratica o ensino frontal, que o professor se dirija constantemente

    a todos os alunos, que cada um deles receba a mesma orientao, as mesmas tarefas,

    os mesmos recursos. E, coloca trs motivos para isto:

    O professor interage seletivamente com os alunos e, por isso, alguns tm, mais

    que outros, a experincia de serem ouvidos ou questionados, felicitados ou

    repreendidos. Pergunta ele: quanto comunicao no verbal, como ela poderia

    ser padronizada?

    Mesmo nessas classes tradicionais, muitas vezes o trabalho realizado em

    grupos e o professor circula como um recurso para atender os alunos.

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    A diversidade dos ritmos de trabalho pode levar ao enriquecimento ou ao

    empobrecimento das tarefas. Assim, sempre h aqueles que terminam primeiro e

    tm tempo para brincar, ler, enquanto outros demoram para terminar e preciso

    esper-los.

    O autor ainda afirma que se considerarmos o currculo real como uma srie

    de experincias, chegaremos, grosso modo, a uma concluso evidente:o currculo real

    personalizado, dois indivduos nunca seguem exatamente o mesmo percurso

    educativo, mesmo se permanecerem de mos dadas durante anos (Ibidem).

    O que Perrenoud deixa claro que a individualizao de itinerrios

    educativos possvel para os professores, pois ao invs de uma individualizao

    deixada ao acaso, "pode ser feita uma individualizao deliberada e pertinente dos

    percursos educativos s diferentes caractersticas, s possibilidades, aos projetos e s

    necessidades diferentes dos indivduos" (ob.cit.).

    Vrios autores, como Sara Pain, Alicia Fernndez, Maria Lucia Weiss,

    chamam a ateno para o fato de que o maior percentual de fracasso na produo

    escolar, de crianas encaminhadas a consultrios e clnicas, encontram-se no mbito

    do problema de aprendizagem reativo, produzido e incrementado pelo prprio ambienteescolar (WEISS et. al, 1999, p.46).

    importante considerar que a escola deve valorizar os muitos saberes do

    aluno, e que seja oportunizado a ele demonstrar suas reais potencialidades. A escola

    tem valorizado apenas o conhecimento verbal e matemtico, deixando de fora tantos

    conhecimentos importantes para sociedade.

    O sentimento de pertena deve ser estimulado, algum acuado jamais vai

    demonstrar as potencialidades que possui. Tornando o ambiente escolar acolhedor,

    aceitando a criana como ela , oferecendo meios para que se desenvolva, j uma

    garantia de dar certo o trabalho em sala de aula.

    necessrio que os profissionais da educao adotem uma postura tica em

    relao ao aluno, que assim como eles convivem em uma sociedade excludente.

    Portanto, diversificar as situaes de aprendizagem adapt-las s

    especificidades dos alunos, tentar responder ao problema didtico da

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    heterogeneidade das aprendizagens, que muitas vezes rotulada de dificuldades de

    aprendizagens.

    Atualmente, a poltica educacional prioriza a educao para todos e aincluso de alunos que, h pouco tempo, eram excludos do sistema escolar por

    portarem deficincias fsicas ou cognitivas. Alm desses alunos excludos do sistema

    escolar tnhamos aqueles que apresentavam dificuldades de aprendizagem que no

    tinham origens em quadros neurolgicos e estes, embora pudessem freqentar as

    escolas, estavam fadados ao fracasso escolar e eram rotulados em geral, como alunos

    difceis.

    Raramente as dificuldades de aprendizagem tm origens apenas cognitivas.Atribuir apenas ao prprio aluno o seu fracasso considerando que haja algum

    comprometimento no seu desenvolvimento psicomotor, cognitivo, lingstico ou

    emocional, desestruturao familiar sem considerar as condies de aprendizagem

    que a escola oferece a este aluno e os outros fatores intra-escolares que favorecem a

    no aprendizagem, proteger, negar escola, e aos seus protagonistas suas

    prprias responsabilidades.

    As dificuldades de aprendizagem originadas na e pela escola podem ser

    consideradas uma das causas condutoras ao fracasso escolar do aluno. No podemos

    desconsiderar que o fracasso do aluno tambm pode ser entendido como um fracasso

    da escola por no saber lidar com a diversidade dos seus alunos. preciso que o

    professor atente para as diferentes formas de ensinar, pois h muitas maneiras que

    possibilitam o aprender. O professor deve ter conscincia da importncia de criar

    vnculos com os seus alunos atravs das atividades cotidianas, construindo e

    reconstruindo sempre novos vnculos, mais fortes e positivos.

    O aluno, ao perceber que apresenta dificuldades em sua aprendizagem,muitas vezes comea a apresentar desinteresse, desateno, irresponsabilidade,

    agressividade, etc. A dificuldade acarreta sofrimentos e nenhum aluno apresenta baixo

    rendimento por vontade prpria.

    Durante muitos anos os alunos foram penalizados, responsabilizados pelo

    fracasso, sofriam punies e crticas, mas com o avano da cincia, hoje no podemos

    nos limitar a acreditar que a presena de dificuldades de aprendizagem, seja uma

    questo de vontade do aluno ou do professor, uma questo muito mais complexa,

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    onde vrios fatores podem interferir na vida escolar, tais como os problemas de

    relacionamento professor-aluno, as questes de metodologia de ensino e os contedos

    escolares inadequados.A relao professor-aluno pode tornar o aluno capaz ou incapaz. Se o

    professor trat-lo como incapaz, ele no ser bem sucedido, no permitir a sua

    aprendizagem e o seu desenvolvimento. Se o professor mostrar-se despreparado para

    lidar com o problema apresentado, mais chance ter de transferir suas dificuldades para

    o aluno.

    3. Professor e aluno: o processo de ensino e de aprendizagem

    Abordar sobre o processo de ensino e de aprendizagem nos leva,

    primeiramente, a pensar sobre competncias do professor. Estas esto diretamente

    ligadas aos novos paradigmas propostos para a escola, que vista como uma

    instituio que tem metas a atingir e objetivos a alcanar. E o professor, como um ator

    social, precisa se engajar no novo modelo proposto pela LDB/96 e pelas demandas

    scio-culturais.

    PERRENOUD et al. (2001, p. 25) definem o professor profissional como

    uma pessoa autnoma, dotada de competncias especficas e especializadas que

    repousam sobre uma base de conhecimentos racionais, reconhecidos, oriundos da

    cincia, legitimados pela Universidade, ou de conhecimentos explicitados, oriundos da

    prtica. Portanto, pode-se dizer que as competncias dos professores esto afetas ao

    profissionalismo, reflexo prtica, ao agir na urgncia e decidir na incerteza e s

    novas competncias para ensinar.Para que o professor possa organizar e dominar os saberes indispensvel

    que se sinta capaz de encontrar o essencial sob mltiplas formas contextualizadas em

    diversas situaes. Torna-se importante que o professor trabalhe suas prticas

    pedaggicas a partir da representao dos alunos, colocando-se no lugar dos

    aprendizes. Porm, ressaltamos que, em muitos casos, o que bvio para o professor

    no para os aprendizes.

    Os mesmos autores (2001, p. 89) preconizam que para as competncias

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    profissionais do professor existe um trptico de base que so associados entre si, ou

    seja, os projetos, os atos e as competncias.

    Carlier e Donnay (apud PERRENOUD et al., 2001, p. 89) apresentamexplicaes:

    a) os projetos: representam o sentido, os fins, os objetivos que o professor

    estabelece para sua ao;

    b) os atos: representam as condutas apresentadas enquanto professor

    (ajudar os alunos a aprender, mas tambm gerir o grupo, trabalhar em equipe com os

    colegas, entre outros);

    c) as competncias: representam os saberes, as representaes, as teoriaspessoais e os esquemas de ao mobilizados para resolver problemas em situao de

    trabalho.

    A cada incio de ano, o professor se v frente a classes com alunos

    diferentes: em tamanho, desenvolvimento fsico, fisiologia, resistncia ao cansao,

    capacidades de ateno e de trabalho; capacidade perceptiva, manual e gestual,

    capacidade criativa, em personalidade, em gostos, carter, atitudes, opinies entre

    muitas outras diferenas que seriam at mesmo difceis de serem enumeradas.

    De acordo com PERRENOUD et al. (ob.cit., p. 69), a diversidade do mundo,

    o desenvolvimento afetivo e intelectual responde com a diferenciao dos conceitos,

    dos esquemas de pensamento, de percepo e de ao, dos modos de comunicao e

    de relao, dos investimentos relacionais, das emoes.

    Depois de captar as diferenas entre esta e aquela criana, mais do que

    qualificar, etiquetar ou estigmatizar seria preciso pensar em alternativas didticas

    favorecedoras e no meramente compensatrias ou paliativas.

    FREIRE (2001, p. 75) levanta um questionamento: - Como ser educador,sobretudo numa perspectiva progressista, sem aprender com maior ou menor esforo, a

    conviver com os diferentes? Acreditamos que esta convivncia pode ser aprendida

    atravs do dilogo.

    As interaes entre professor e alunos devem aprofundar-se no campo da

    ao pedaggica. Na maioria dos casos, a inteno do professor intervir no caso dos

    alunos necessitados de modo a favorecer os desfavorecidos realizando uma ao

    compensatria (PERRENOUD, 2001, p. 93).

  • 8/2/2019 Aprendizagem e Relaes

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    A LDB de 1996 (apud CARNEIRO, 1998, p. 33) em seu Art. 2o apresenta as

    trs finalidades da Educao, que so:

    a) o pleno desenvolvimento do educando: o nvel cognitivo em evoluo;b) o preparo para o exerccio da cidadania: todos iguais perante a lei;

    c) a qualificao para o trabalho.

    PERRENOUD (2000, p. 13) tambm comenta que os professores precisam

    administrar a progresso das aprendizagens e envolver os alunos em suas

    aprendizagens e em seu trabalho. Ento, para desenvolver a competncia de

    considerar o erro como uma ferramenta para ensinar, o professor deve ter

    conhecimentos em didtica e em Psicologia Cognitiva.O professor prescinde vivenciar experincias menos decepcionantes e

    menos ingratas (PERRENOUD, 2001, p. 95) e, para que isso possa ocorrer pode ser

    adotada uma pedagogia diferenciada, de forma que se evite o fracasso escolar e que

    na escola, como tal, o professor possa ser partidrio de uma pedagogia diferenciada

    realizando esforos no sentido de deparar-se com a realidade histrica escolar de cada

    criana.

    A prtica educativa demanda a existncia de sujeitos, sendo um que

    ensinando, aprende e outro que aprendendo, ensina. Assim como existem os objetos,

    os contedos a serem ensinados e aprendidos, como alega FREIRE (2001, p. 77).

    Na aprendizagem freireana (ob.cit., p. 26-66) o aprender antecede o ensinar.

    Portanto, o ensinar exige respeito aos sabere