Creativeproblemsolvingpracticaltoolsfinal 131903461701-phpapp01-111019093051-phpapp01
apostilaempreendedorismocompleta-110306150155-phpapp01
-
Upload
marcio-ferreira-de-oliveira -
Category
Documents
-
view
12 -
download
0
Transcript of apostilaempreendedorismocompleta-110306150155-phpapp01
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 1
Empreendedorismo
Conceito, Processos de Formao Social
Conjuntura Internacional e Estudos de Caso
Prof. Ivan Jacomassi Junior
Material de apoio para disciplina junto
aos cursos de formao superior.
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 2
ndice
Tema 01 Por que Estudar Empreendedorismo 04
Parte 01 Evoluo Histrica
Tema 02 Conceitualizao: Empreendedor 06
Tema 03 Histria do Empreendedorismo no Mundo 07
Tema 04 Histria do Empreendedorismo no Brasil 09
Tema 05 Estudo de Caso Baro de Mau (Prof Camila Lopes) 11
Tema 06 Pesquisa Complementar Delmiro Gouveia (Prof. Oswaldo) 30
Parte 02 Formao Social de Empreendedores
Tema 07 Perfil Empreendedor 37
Tema 08 Educao Empreendedora 41
Tema 08 Debate sobre Modelo Educacional 47
Tema 09 Estudo de Caso Voando como a gua (Prof. Gretz) 47
Tema 10 Pesquisa Complementar Pirmide de Maslow 49
Parte 03 Ambiente e Empreendedorismo
Tema 11 Empreendedorismo no Mundo 51
Tema 12 Fatores de Presso sobre a Atividade Empreendedora 52
Tema 12 Debate sobre a Diviso da Riqueza no Mundo 57
Tema 13 Caractersticas do Empreendedorismo no Mundo 58
Tema 13 Debate sobre a Conjuntura Internacional 65
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 3
Tema 13 Debate sobre os Fatores de Presso no Brasil 65
Tema 14 Estudo de Caso Empreend. e Desenvolvimento (Prof. Ronney) 66
Tema 15 Pesquisa Complementar Agregando Conhecimentos 79
Parte 04 Especial Empreendedorismo, Burocracia e Legalidade
Tema 16 Legalidade de Empreendimentos 80
Tema 17 Documentao 82
Tema 18 Questo para Discusso Burocracia Necessria 90
Tema 19 Estudo de Caso Desburocratizao 90
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 4
Tema 01 Por que estudar Empreendedorismo ?
Preliminarmente, antes de iniciarmos nossos estudos, devemos situar a disciplina frente
ao curso, bem como as expectativas inerentes mesma. Veja, quando pensamos em
empreendedorismo, podemos ser induzidos a pensar que iremos aprender a abrir um negcio,
pois empreendedor aquele que abre empresas, correto ? Errado !
Com certeza podemos antecipar a voc aluno, que o foco desta matria NO A
ABERTURA DE EMPRESAS, embora inevitavelmente tratemos deste assunto de forma at
rotineira ao longo do contedo. Seja em qual curso voc estiver, existem duas classes de
disciplinas:
- Especficas; e
- Generalistas.
As matrias especficas so tpicos ferramentais de trabalho do profissional, quando o
mesmo exerce seu ofcio. Exemplo: Para o curso de Engenharia existe a disciplina especfica de
Elaborao de Projetos, que ferramenta bsica de trabalho do engenheiro. J no mesmo
curso podemos dizer que a disciplina Matemtica generalista, pois no se trata da aplicao
das frmulas em si, pois so vistas de forma abstrata, o que se faz criar uma viso geral no
discente que possibilite a aplicao do ferramental futuramente.
O mesmo podemos dizer de Empreendedorismo, no estamos aqui buscando o fim
em si, mas criando o meio.
Aqui temos a pergunta correta: Qual meio busca a disciplina Empreendedorismo ?
Pois bem, estaremos estudando, de forma geral, algumas dinmicas 1:
- Comportamento Humano;
- Psique profissional;
- Conjuntura nacional;
- Mercados;
- Legislao;
Assim, nesta matria estaremos buscando a construo junto ao aluno, de paradigmas 2
pessoais de comportamento favorveis. Estaremos analisando o perfil de um indivduo
empreendedor, suas caractersticas e individualidades.
1 Por dinmica estamos inferindo relaes entre diversos processos e procedimentos, no sentido de situaes em constante mudana, ou seja, no estticas. 2 Modelo, padro de regras, segundo as quais as pessoas procuram solucionar seus problemas e obter sucesso.
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 5
Analisaremos o perfil profissional procurado pelas empresas, e cruzando-o com as
caractersticas empreendedoras, ou seja, veremos o empreendedor frente ao mercado de
trabalho. Faremos uma avaliao da conjuntura estrutural do pas e os fatores que interferem
diretamente na criao e fomento empreendedor, atravs de dois estudos bsicos: a) As
inteligncias humanas frente ao modelo educacional brasileiro e b) Os fatores de
fomento/regresso da classe empreendedora no Brasil.
Aps, faremos ainda um estudo complementar comparado da dinmica nacional (letra
b pargrafo anterior) frente a outras economias no mundo e avaliaremos as conseqncias
econmico-sociais destas combinaes.
Ainda, realizaremos um diagnstico do cenrio brasileiro da burocracia x incolumidade
pblica x celeridade empresarial.
Estrutura de Tpicos junto a Disciplina:
Parte 01 Evoluo Histrica
Conceitualizao: Empreendedor;
Histria do Empreendedorismo no Mundo;
Histria do Empreendedorismo no Brasil;
Estudo de Caso: Empreend. no Brasil e o Processo de Inovao Prof Camila Lopes;
Pesquisa Complementar Delmiro Gouveia.
Parte 02 Formao Social de Empreendedores
Perfil Empreendedor;
Educao Empreendedora;
Estudo de Caso: Voando como a guia Prof. Gretz;
Pesquisa Complementar Pirmide de Maslow.
Parte 03 Ambiente e Empreendedorismo
Empreendedorismo no Mundo;
Fatores de Presso sobre a Atividade Empreendedora;
Caractersticas do Empreendedorismo no Mundo;
Estudo de Caso: Empreendedorismo e Desenvolvimento Prof. Ronney R. Mamede.
Parte 04 Especial: Empreendedorismo, Burocracia e Legalidade
Legalidade de Empreendimentos;
Documentao;
Desafio Governamental: Equilbrio entre Segurana e Celeridade.
Estudo de Caso: Desburocratizao - Prof. Ivan Jacomassi Junior.
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 6
Parte 01 Evoluo Histrica
Nesta parte estaremos posicionando o discente quanto ao conceito de Empreendedor,
Empreendedorismo e Intra-Empreendedorismo, para depois realizar uma anlise histrica
do objeto de estudo, entendendo seu reconhecimento pelos estudiosos, sua evoluo e
compreendendo seu papel e postura frente sociedade atual.
Tema 02 - Conceitualizao: Empreendedor;
Definies:
Empreender: Intentar, levar efeito, dar princpio;
Empreendedorismo: Designa estudos relativos ao Empreendedor, seu perfil profissional
e pessoal, suas origens, seu sistema de atividades e universo de atuao.
Empreendedor: O Empreendedor aquele que faz as coisas acontecerem, se antecipa
aos fatos e tem uma viso futura da organizao (Jos Carlos Assis Dornelas).
Empreendedor qualifica o indivduo com caractersticas de:
Pr-atividade;
Inovao;
Dedicao gesto e ao trabalho;
Viso de mercado;
Gerao de riquezas.
Intra-Empreendedorismo: O conceito de intra-empreendedorismo foi estabelecido h
duas dcadas, mas as empresas no estavam dispostas a dar aos empregados a
liberdade para criar e, conseqentemente, errar e oferecer-lhes um oramento para
financiar inovao. Alm do mais, no queriam arcar com os custos dos erros que
inevitavelmente acontecem no percurso. Hoje esse conceito j est muito difundido e
valorizado nas organizaes. O intra-empreendedorismo (intrapreneuring) um sistema
para acelerar as inovaes dentro de grandes empresas, atravs do uso melhor dos seus
talentos empreendedores. um sistema que oferece uma maneira saudvel para se
reagir aos desafios empresariais do novo milnio.
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 7
Ainda, a viso do capital em uma economia moderna sofreu profundas alteraes.
Financeiro ($)
Capital
Intelectual
Veja, o empreendedor muitas vezes possui pouco capital financeiro, mas macio capital
intelectual. Empreendedorismo, sob o prisma social est alm do simples ato de criar empresas,
est vinculado gerao de valor para a nao.
O Administrador e o Empreendedor, embora semelhantes quanto ao ato de gerir
negcios, no se confundem enquanto personagens atuantes no mundo econmico, pelo fato
de a Administrao ser uma Cincia Social Aplicada, um verdadeiro conjunto de tcnicas e
mtodos para melhoria dos negcios, enquanto que o Empreendedor corresponde a uma
espcie de habilidade, nata ou adquirida, ou um verdadeiro estado de esprito, mas
relembrando que ambas se encontram (Administrao e Empreendedorismo) no objetivo
comum do desenvolvimento econmico do mercado.
Tema 03 - Histria do Empreendedorismo no Mundo
Se considerarmos a evoluo humana, pode-se dizer que o homem primitivo
j possua uma veia empreendedora. Naquela poca, para sobreviver era
necessrio construir diversas ferramentas que tinham por objetivo agilizar a
caa de animais. Para se ter uma idia, o Homo Habilis, um dos ancestrais da
atual raa humana, surgiu h aproximadamente 2 milhes de anos, e j
possua hbitos de caa. Milhares de anos se passaram e um importante salto
para o empreendedorismo ocorreu com as grandes civilizaes antigas. Um
bom exemplo so os egpcios, famosos por suas pirmides. Para construir
O empreendedor algum capaz de desenvolver uma viso, deve saber persuadir
terceiros, scios, colaboradores, investidores, convenc-los de que sua viso poder
levar todos a uma situao confortvel no futuro. Utilizando energia e perseverana,
e uma grande dose de paixo constri algo a partir do nada e continua em frente,
apesar de obstculos, armadilhas e da solido. O empreendedor algum que
acredita que pode colocar a sorte a seu favor, por entender que ela produto de
trabalho duro.
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 8
uma dessas maravilhas, estima-se que eram necessrios 30 mil homens e 20
anos de trabalho. Na agricultura pode-se observar a perspiccia desse povo,
que aproveitava a cheia do rio Nilo para preparar a terra para o plantio da
safra seguinte. Alm disso, eles foram muito importantes para reas como a
matemtica e a engenharia. 3
Aproximando-nos da fase contempornea, no incio da teoria econmica com Adam
Smith 4 at muito recentemente, os economistas explicavam o desenvolvimento das naes
como resultado de trs variveis:
Mo-de-obra barata, matria prima abundante e capital disponvel para investimentos.
Hoje se sabe que existem duas outras variveis, provavelmente mais importantes que as
demais:
A Tecnologia 5 e o Empreendedorismo.
Muito embora o ato de empreender exista h milnios, o termo Empreendedor surgiu
originalmente na Frana (Entrepreneur), para designar indivduos que incentivavam brigas.
Posteriormente, entre os sculos XVII e XVIII, passou a ser empregada com objetivo de designar
pessoas ousadas, que auxiliavam no processo de desenvolvimento econmico do pas, pelas
suas prticas adequadas.
Posteriormente, no sculo XIX o economista francs Jean Baptiste Say conceituou o
Empreendedor como verdadeiro agente econmico, um indivduo capaz de elevar recursos de
baixa para a alta produtividade.
Peter Ferdinand Drucker 6 (1909 2005), filsofo e economista Austraco, considerado o
pai da Administrao Moderna, ampliou o conceito de empreendedorismo, articulando junto ao
conceito do profissional inovador e pr-ativo, capaz de gerar valor conforme exps Jean, aquele
indivduo que capaz de aproveitar oportunidades para promover mudanas.
3 Fonte: http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/empreendedorismo-origem-e-desafios-para-o-brasil-do-seculo-xxi/33075/ 4 Pai da economia moderna, considerado o mais importante terico do liberalismo econmico. Autor de "Uma investigao sobre a natureza e a causa da riqueza das naes", a sua obra mais conhecida, e que continua sendo referncia para geraes de economistas, na qual procurou demonstrar que a riqueza das naes resultava da atuao de indivduos que, movidos apenas pelo seu prprio interesse (self-interest), promoviam o crescimento econmico e a inovao tecnolgica. 5 Termo que envolve o conhecimento tcnico e cientfico e as ferramentas, processos e materiais criados e/ou utilizados a partir de tal conhecimento 6 Uma importante teoria de Drucker afirmava que a empresa que apresentasse condies de vender o produto/servio certo, para o cliente certo, com distribuio adequada, preo justo e momento oportuno teria um esforo de vendas equivalente zero, pela correta equao da oferta pela demanda.
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 9
E este um dos pontos chave do ato empreendedor, pela capacidade de responder a
frmula do problema, ou seja, enquanto a maioria das pessoas a interpreta da seguinte forma:
Problema = Frustrao
Par o empreendedor:
Problema = Oportunidade
ou
Problema + Soluo = Riqueza + Satisfao
Enquanto a maioria das pessoas entra em profundo estado de abalo emocional diante
de circunstncias desfavorveis, o sujeito empreendedor vislumbra a chance de criar solues,
conseqentemente realizando bons negcios e instaurando um Status Quo 7 de satisfao social
pela problemtica resolvida.
Importante tambm diferenciar historicamente o Empreendedor do Capitalista, sendo
que o segundo, aps a revoluo industrial iniciada no sculo XVIII 8, demonstrou sua verdadeira
vocao, ou seja, a financeira pura e simples, enquanto que o primeiro possui uma conotao de
vocao ao verdadeiro desenvolvimento econmico-social.
Tema 04 Histria do Empreendedorismo no Brasil
Foi a partir do sculo XVII que os portugueses, percebendo a imensido e o grande
potencial de explorao do territrio brasileiro, comearam a ocupar definitivamente essas
terras, distribuindo-as aos cidados portugueses, vindos principalmente da regio de Aores.
Dentre os homens que realizaram os mais diversos empreendimentos (muitos deles
custa de trabalho escravo degradante), um merece destaque: Irineu Evangelista de Sousa, o
Baro de Mau. Descendente dos primeiros empreendedores portugueses, ele foi responsvel
pela fabricao de caldeiras de mquinas a vapor, engenhos de acar, guindastes, prensas,
7 Expresso Latina que significa na situao ou no estado. Comumente empregada para designar uma
caracterstica de situao ou estado emocional. 8 A revoluo industrial consistiu em um conjunto de mudanas de ordem tcnica e tecnolgica, que
revolucionaram a sistemtica dos meios de produo, ampliando sobremaneira a capacidade de criao de bens de consumo, mas tambm minimizando o papel da mo de obra.
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 10
armas e tubos para encanamentos de gua. Foi responsvel tambm pelos seguintes
empreendimentos:
Organizao de companhias de navegao a vapor no Rio Grande do Sul e no Amazonas;
Implantao, em 1852, da primeira ferrovia brasileira, entre Petrpolis e Rio de Janeiro;
Implantao de uma companhia de gs para a iluminao pblica do Rio e Janeiro, em
1854;
Inaugurao do trecho inicial da Unio e Indstria, primeira rodovia pavimentada do
pas, entre Petrpolis e Juiz de Fora, em 1856.
Seu legado foi tamanho que ele ainda hoje reconhecido como uns dos primeiros
grandes empreendedores do Brasil.
Entretanto, o empreendedorismo comeou a ganhar fora de forma geral no pas a
partir da dcada de 1990.
Com grande volume de produtos importados, especialmente pela intensificao da
globalizao econmica e instituio de uma moeda estvel e valorizada (Real - R$) houve
relativo controle dos preos, mas criou-se tambm condies de competitividade por diversas
vezes desfavorveis s empresas brasileiras, favorecendo a atuao de estrangeiros com perfil
diferenciado (Empreendedores).
Destacam-se as condies adversas especialmente nos setores de brinquedos,
eletrnicos e roupas.
Portanto, com a formao de um novo paradigma de mercado, aes antes
consideradas eficientes do ponto de vista mercadolgico precisaram ser redesenhadas,
repensadas e redirecionadas, fato possvel somente entre empresas com posturas inovadoras,
flexveis e visionrias.
Mudanas na postura e polticas internacionais brasileiras favoreceram a vinda de
investimentos estrangeiros, que potencializaram a criao de renda e PIB Nacional.
O Brasil demonstra grande vocao empreendedora, segundo o relatrio executivo de
2000 do Global Entrepreneurship Monitor (GEM 2000), o pas possui uma relao entre adultos
que comeam um novo negcio em relao ao total populacional bastante aguerrida:
Brasil: 1/8 (leia-se hum para cada oito adultos);
EUA: 1/10;
Austrlia: 1/12;
Alemanha: 1/25;
Reino Unido: 1/33;
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 11
Finlndia e Sucia: 1/50;
Irlanda e Japo: 1/100.
Evidente que alguns fatores influenciam iniciativas deste tipo, como renda mdia
assalariada e estabilidade de emprego, fato que por vezes desacelera o processo empreendedor
em pases ricos, mas ressalte-se que nos EUA, grande potncia mundial, o empreendedorismo
bastante difundido.
Outro ponto a mencionar-se que a atividade empreendedora no pas est relacionada,
proporcionalmente, na sua grande maioria junto ao pblico jovem, sendo que mais da metade
dos empreendedores brasileiros possuem menos de 35 anos de idade, e somente 3% dos
empreendedores possuem idade acima dos 55 anos.
Esta jovialidade certamente possui ligao direta com o fato de o empreendedorismo
ter se acelerado somente recentemente, como demonstrado no incio do presente tema.
Ainda, este perfil empreendedor demonstra fatores favorveis e desfavorveis:
Prs:
Iniciativa;
Adaptabilidade;
Criatividade;
Facilidade de lidar com tecnologia.
Contra:
Inexperincia;
Baixa viso de risco;
Impulsividade;
Recusa metodologias antigas.
Tema 05 Estudo de Caso - O Empreendedorismo no Brasil e o Processo de Inovao:
O Caso Mau 9
Transcrio do Artigo:
Este artigo mostra um exemplo de empreendedorismo que alia conhecimento e
inovao, ao relacionar a vida de Irineu Evangelista de Sousa (Baro de Mau) com o tema
9 Artigo Publicado em: http://www.ead.fea.usp.br/semead/11semead/resultado/trabalhosPDF/197.pdf. Autores: LOPES, Camila Papa. SANTOS, Moacir Bispo dos. CLARO, Jos Alberto Carvalho dos Santos.
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 12
do empreendedorismo, passando pelas leituras de McClelland, Schumpeter, Vries,
Thimmmons, Say, Dornellas, Empretec pelo Sebrae, que tratam do comportamento
empreendedor e Caldeira, que aborda especificamente a histria de Mau, utilizando-se
para tal a anlise comparativa entre estes para mostrar a contribuio do Baro de Mau
para o desenvolvimento do Brasil, pelos negcios estabelecidos no sculo XIX, identificando
a capacidade administrativa e o pioneirismo no processo de industrializao brasileira.
Questiona-se como o processo de inovao no Brasil deve sua histria ao
empreendedorismo a partir de pioneiros que alavancaram nossa economia e
administrao? Adotou-se o exemplo de Irineu Evangelista de Sousa como o empreendedor
da inovao a partir de um estudo qualitativo descritivo, de forma a contextualizar a
realidade do empreendedorismo no Brasil e como foi consolidada sua estrutura. A pesquisa
entre o que a literatura estabelece como comportamento empreendedor e a postura do
Baro de Mau mostra quais caractersticas so consideradas no empreendedor para definir
a competncia para o sucesso nos negcios, como um exemplo de que a inovao
perpetuada pelas caractersticas empreendedoras.
Palavras-chave: Empreendedorismo. Administrao. Baro de Mau
Introduo
O empreendedorismo um tema que ganhou espao nos estudos administrativos
nos ltimos anos. A globalizao e as modificaes nas relaes de trabalho fazem com que
indivduos partam para reas inexploradas, dando importncia s idias e sonhos e criando
o prprio negcio. Esse contexto, denominado empreendedorismo, pode ser definido como
um conjunto de hbitos e caractersticas pessoais que tem como base a captao de idias e
iniciativas, transformando-as em oportunidades de negcio.
Este trabalho tem como premissa que o empreendedorismo tambm uma
caracterstica pessoal, uma vez que muitos estudos realizados sobre a personalidade dos
empreendedores concluem que o sucesso do empreendimento depende dos seus
comportamentos.
Pela histria de empreendedores famosos, observa-se que estes indivduos
ultrapassaram seus limites, enfrentando e superando as dificuldades, tanto da poca quanto
pessoais e desenvolveram negcios lucrativos e duradouros. Mesmo quando no tiveram
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 13
xito em um primeiro momento, no desistiram e recomearam. Nesse sentido se
apresenta a histria do Baro/Visconde de Mau.
Os empreendedores so pessoas diferentes, com comportamentos que se
diferenciam do senso comum, possuem motivao singular, so apaixonados pelas
atividades que desenvolvem, no se contentam em ser mais, querem ser reconhecidos,
admirados, referenciados e imitados, querem deixar seu legado, sua histria, e muitos o
deixam.
O estudo do empreendedorismo compreende a anlise do ser humano a partir do
desenvolvimento e execuo de idias e oportunidades, bem como a criao do negcio
pelas iniciativas individuais. Este campo de estudos tem sido explorado de forma crescente
nos ltimos anos, medida que se passou a enxergar a importncia do indivduo e do
estmulo criatividade.
No geral, os empreendedores so pessoas que se dispem a vislumbrar e criar
oportunidades e fazer acontecer, lutar pela sua consecuo, para por em prtica suas idias
e gerar um ou mais negcios. Alm disso, os empreendedores so essenciais no mercado,
pois eles so agentes de inovao, estimulam a criatividade.
Considerando que os indivduos se desenvolvem a partir de sua relao com o meio
ambiente, a partir da conduta cultural e social, observa-se que seu comportamento pode
ser definido como contnuo desenvolvimento orgnico constitudo pela produo de uma
forma particular de padro cultural, ou seja, como a cultura influencia comportamentos
direcionados a criao de negcios e como este comportamento contribui para definir o
ambiente de negcios de forma temporal e regional.
Faz-se uma reflexo sobre a relao do comportamento humano e a atitude
empreendedora, como um fator intrnseco ao conhecimento, algo que pode ser
desenvolvido ao decorrer da vida de um indivduo e da cultura onde ele cresceu,
conceituada como uma programao coletiva da mente, conhecimentos, que distinguem os
indivduos.
Os empreendedores realizam leituras e interpretaes diferenciadas da realidade e
colocam em prtica seus conhecimentos para gerar inovao com diferentes aplicaes, em
espaos e momentos histricos distintos. O conhecimento traz a capacidade de identificar
oportunidades e o empreendedorismo de coloc-las em prtica, a partir de
comportamentos humanos.
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 14
Este artigo aborda o comportamento empreendedor pela histria de Irineu
Evangelista de Sousa, o Baro de Mau, cujo ttulo atribudo s suas obras inovadoras, que
contriburam para o processo de desenvolvimento do Brasil.
Metodologia
O artigo foi desenvolvido a partir de pesquisa qualitativa descritiva, definida por
Charoux (2006) como pesquisa que descreve e classifica caractersticas de uma situao e
estabelece conexes entre a base terico-conceitual existente ou mesmo de outros
trabalhos j realizados. Para a autora: Esse tipo de pesquisa pressupe uma boa base de
conhecimentos anteriores sobre o problema estudado, j que a situao-problema
conhecida, bastando descrever seu comportamento. As respostas encontradas nesse tipo
de pesquisa informam como determinado problema ocorre.
A descrio baseia-se na histria de Irineu Evangelista, o Baro de Mau, sua
trajetria no mundo dos negcios e como seu comportamento empreendedor influenciou
no processo de inovao no Brasil.
Parte-se do contedo terico sobre empreendedorismo e comportamento
empreendedor, em seguida feito um levantamento histrico sobre as inovaes
propiciadas por Mau e por fim apresentada uma anlise comparativa entre as
caractersticas do comportamento do Baro de Mau evidenciadas na obra de Caldeira com
as teorias sobre o empreendedorismo como forma de identificar quais dessas caractersticas
embasaram o alcance do sucesso nos negcios, tambm para mostrar a relao entre
conhecimento, empreendedorismo e inovao.
O Estudo terico do Empreendedorismo
O empreendedorismo pode ser analisado por meio de focos de estudo, destacando-
se a fenomenologia, que observa atitudes e caractersticas do indivduo, que formam suas
competncias para conduzir a teoria a partir do que o indivduo faz, o que o motiva; e
outros que focam o comportamento empreendedor por uma definio e a ele so
relacionadas atitudes concernentes a atividade empresarial. O conceito de
empreendedorismo provm da palavra empreendedor (Entrepreneur) tem origem francesa e
significa aquele que assume riscos e comea algo novo (HIRISH, 1986).
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 15
Para Carland, Hoy e Boulton (1984), o empreendedorismo constitui-se em um
conjunto de comportamentos e de hbitos que podem ser adquiridos, praticados e
reforados nos indivduos, ao submet-los a um programa de capacitao adequado de
forma a torn-los capazes de gerir e aproveitar oportunidades, melhorar processos e
inventar negcios. O esprito do empreendedorismo compreende a busca permanente de
novos produtos, conceitos, mtodos e mercados, aliados com habilidades na execuo de
todas as atividades operacionais, contemplando um plano gestor para gerir as compras,
produo, vendas, entregas, administrao, planejamento, cronogramas, oramentos,
contabilidade etc.
Filion (1997) conceitua o empreendedor como um indivduo criativo, que possui a
capacidade de determinar e alcanar objetivos, com alto nvel de conscincia do ambiente
em que atua, usando as mudanas como forma para identificar oportunidades de negcio.
Mintzberget al (2000) relaciona o empreendedorismo a estratgias de inovao,
definindo como caractersticas do empreendedor a busca por oportunidades, centralizao
de poder, capacidade de lidar com o risco para conquistar lucros e sucesso nos negcios,
sendo estimulado pela necessidade de realizao.
Segundo o Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE,
2008), o empreendedorismo a arte de fazer acontecer com criatividade e motivao. Consiste
no prazer de realizar com sinergismo e inovao qualquer projeto pessoal ou organizacional, em
desafio permanente s oportunidades e riscos. assumir um comportamento proativo diante de
questes que precisam ser resolvidas. O empreendedorismo o despertar do indivduo para o
aproveitamento integral de suas potencialidades racionais e intuitivas. a busca do
autoconhecimento em processo de aprendizado permanente, em atitude de abertura para
novas experincias e novos paradigmas.
A teoria relacionada ao empreendedorismo considerada mais importante a do
economista austraco Schumpeter, que associa o empreendedor ao desenvolvimento
econmico, a inovao e ao aproveitamento de oportunidades em negcios. Os estudos
sobre o comportamento do empreendedor versam pela hiptese de que o sucesso do novo
empreendimento depende essencialmente disto. O empreendedor o agente do processo
de destruio criativa. o impulso fundamental que aciona e mantm em marcha o motor
capitalista, constantemente criando novos produtos, novos mercados e, implacavelmente,
sobrepondo-se aos antigos mtodos menos eficientes e mais caros (SCHUMPETER, 1934).
Para Schumpeter (1934), o empreendedorismo constitui-se na busca de inovaes
como um diferencial competitivo, a partir da percepo e identificao de oportunidades de
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 16
negcio, no desejo de concretizar e tornar um sucesso novo ou novos empreendimentos,
mas tambm de gerar inovao em processos e utilizar recursos de formas variadas visando
resultados positivos. Neste foco, o autor define o empreendedor como o agente do
processo de destruio criativa, um indivduo que tem como competncia a criao de
novidades de forma que estas possam contribuir para o desenvolvimento de um pas, o
motor do capitalismo que gera riquezas e cria produtos, processos e mercados sustentveis.
Say (1983), representante da escola clssica francesa - que estuda o empreendedor
e o lucro, define o empreendedor como aquele que remunerado pelo lucro. Para o autor,
o empreendedor responsvel por reunir todos os fatores de produo e descobrir, no
valor dos produtos, a reorganizao de todo capital empregado, o valor dos salrios, os
juros, o aluguel, bem como os lucros que lhe pertencem, ou seja, uma definio de
empreendedorismo centrada nos negcios.
Para McClelland (1961) no existe uma relao condicionante entre
empreendedorismo e a abertura de negcios, mas o que contribui para essa associao a
necessidade de realizao do indivduo, que o ponto chave para o desenvolvimento de
suas demais caractersticas que o tornam empreendedor.
Comportamento Empreendedor
Os indivduos considerados como empreendedores tm um comportamento
diferenciado, conforme se observa nas definies de empreendedorismo. Neste contexto,
so analisados e discutidos seus comportamentos para facilitar o entendimento das
variveis do empreendedorismo, como um conjunto de caractersticas psicolgicas e sociais
relativamente estveis que influenciam a maneira pela qual o indivduo interage com seu
ambiente (LEZANA; TONELLI, 1998)
Para Gerber (1996), a personalidade empreendedora transforma uma condio
qualquer em oportunidade, como por exemplo, mudanas no ambiente fsico, uma chuva,
pode representar uma oportunidade para um indivduo de vender guarda-chuva, enquanto
que a grande maioria dos indivduos ir reclamar pelo incmodo.
Um dos primeiros trabalhos realizados sobre as caractersticas comportamentais dos
empreendedores foi desenvolvido por David McClelland, na Universidade de Harvard, em
1961, uma teoria sobre a motivao psicolgica, baseada na crena de que o estudo da
motivao contribui significativamente para o entendimento do empreendedor. Segundo
sua teoria, os indivduos so motivados por trs grupos de necessidades:
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 17
1. Necessidade de realizao
2. Necessidade de poder
3. Necessidade de afiliao
Um estudo mais direcionado para a formao do empreendedor foi elaborado a
partir da teoria de McClelland, resultando num curso realizado pelas Organizaes das
Naes Unidas - ONU para a formao de empreendedores que pudessem criar negcios de
sucesso. Este curso foi trazido para Brasil na dcada de 80, sendo denominado Empretec
pelo Sebrae, com uma metodologia que testa os comportamentos empreendedores. Estes
comportamentos foram divididos em quatro grupos de caractersticas: necessidades,
conhecimentos, habilidades e valores, gerando quarenta caractersticas empreendedoras,
conforme Quadro 1 (NANNI et al., 2006).
GRUPO DAS NECESSIDADES GRUPO DOS CONHECIMENTOS
1. Aprovao/Reconhecimento 9. Aspectos tcnicos relacionados com o
negcio
2. Independncia/Autonomia 10. Experincia na rea comercial
3. Desenvolvimento pessoal 11. Escolaridade
4. Segurana 12. Experincia em empresas
5. Auto-realizao 13. Formao complementar
6. Qualidade e eficincia 14. Vivncia com situaes novas
7. Poder/Status
8. Inovao/iniciativa
GRUPO DAS HABILIDADES GRUPO DOS VALORES
15. Identificao de novas oportunidades-
visionrias
28. Existenciais
16. Valorao de oportunidades 29. Estticos
17. Criatividade 30. Intelectuais
18. Comunicao persuasiva 31. Morais
19. Negociao 32. ticos
20. Aquisio de Informaes 33. Religiosos
21. Resoluo de problemas 34. Autoconfiana
22. Alcanar metas 35. Autenticidade
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 18
23. Motivao e deciso 36. Lealdade
24. Organizao 37. Ambio
25. Flexibilidade 38. Disposio ao risco
26. Controle racional dos impulsos 39. Perseverana persistncia
27. Resilincia 40. Familiares
De acordo com McClelland (1961), a necessidade de realizao a que o indivduo
tem de testar seus limites, de executar um bom trabalho. a necessidade relativa s
realizaes pessoais. Indivduos com alta necessidade de realizao geram mudanas em
suas vidas, estabelecem metas realistas e realizveis e buscam situaes competitivas. O
estudo comprovou que a necessidade de realizao a primeira identificada entre os
empreendedores bem sucedidos. A segunda a necessidade de realizao que impulsiona
as pessoas a criar um empreendimento. A necessidade de afiliao existe apenas quando h
alguma preocupao em estabelecer, manter ou recuperar relaes emocionais positivas
com outros indivduos. A necessidade de poder caracterizada principalmente pela forte
preocupao em exercer poder sobre outros indivduos.
McClelland (1972) relaciona o comportamento dos empreendedores necessidade
de sucesso, de reconhecimento, e ao desejo de poder e de controle, pela vontade do
indivduo de se superar e evoluir, o que relaciona caractersticas psicolgicas e atitudinais
tais como tendncia ao risco, iniciativa e desejo de reconhecimento.
Outro enfoque sobre o comportamento dos empreendedores a pesquisa de
Abraham Zaleznik e Manfred Kets de Vries (KETS DE VRIES, 1997), que caracterizaram os
empreendedores como pessoas profundamente influenciadas por uma infncia turbulenta e
conflitante, cujas vidas eram sofridas com temas reais ou imaginrios de pobreza,
depravao, morte significativa e solido. Deste modo, acreditam que o empreendedor
motivado por sentimentos persistentes de insatisfao, rejeio e impotncia, derivados de
conflitos relacionados com os pais. Esta situao geraria uma ao psicolgica que
necessitaria de compensao para aliviar estes conflitos dolorosos, os quais poderiam
induzir a uma ao auto-destrutiva, impulsionando-o esforos criativos e inovativos. Estes
ltimos se associam com o desenvolvimento de esforos relacionados com a criao e
desenvolvimento de empreendimentos.
Os autores tambm consideram o empreendedor como um ator em um teatro
empresarial, que inclui necessidade de aplauso, e defesas psicolgicas, tais como projeo e
ruptura. Assim estabeleceram seis elementos constituintes da personalidade
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 19
empreendedora: meio ambiente turbulento; esquiva em relao as normas autoritrias dos
pais; sentimento de rejeio; sentimentos dolorosos de raiva, hostilidade e culpa;
identidade confusa (identificao com a personalidade causadora de dor); adota modelos
reativos para sentimentos dolorosos (culpa, rebelio e impulsividade).
A partir dos seis elementos, acreditam que o sucesso do negcio afetado pela
personalidade do empreendedor, que precisa se identificar fortemente com o
empreendimento e depende disto para manter sua auto-estima e sua necessidade de
controle (MANTOVANI; BORGES, 2006).
Outro estudioso sobre comportamento empreendedor Thimmons (1994), que
junto com seus colaboradores, pesquisou os atributos de personalidade dos
empreendedores. Seu estudo representa uma sntese de mais de 50 pesquisas compiladas
da literatura acerca de atributos e comportamentos dos empreendedores bem sucedidos.
Verifica-se a seguir uma sntese de suas constataes:
1. Comprometimento, determinao e perseverana;
2. Guiados pela auto-realizao e crescimento;
3. Senso de oportunidade e orientao por metas;
4. Tomam iniciativas por responsabilidades pessoais;
5. Persistncia na resoluo de problemas;
6. Conscientizao e senso de humor;
7. Buscam obter feedback;
8. Controle racional dos impulsos;
9. Tolerncia ao stress, ambigidade e incerteza;
10. Procuram correr riscos moderados;
11. Pouca necessidade de status e poder;
12. ntegros e confiveis;
13. Decididos, urgentes e pacientes;
14. Lidam bem com o fracasso;
15. Formador de equipes.
Dornelas (2001) resume as caractersticas dos empreendedores no Brasil:
1. Busca de oportunidades e iniciativas;
2. Persistncia;
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 20
3. Correr riscos calculados;
4. Exigncia de qualidade e eficincia;
5. Comprometimento;
6. Busca de informaes;
7. Estabelecimento de metas;
8. Planejamento e monitoramento sistemtico;
9. Persuaso e rede de contatos;
10. Independncia e Autoconfiana.
Segundo Bastos (1998), o comportamento empreendedor parte de um mecanismo
que indivduos utilizam para dar resposta a um determinado evento na busca de satisfazer
um conjunto de necessidades relativas ao sucesso nos negcios. Assim, o processo
comportamental do empreendedorismo tem incio a partir da identificao de uma
oportunidade com a necessidade de assumir riscos e estruturar o negcio, pelo
conhecimento e ao.
Uma breve anlise histrica de Irineu Evangelista de Sousa
Para retratar a realidade histrica e de que forma este evoluiu no Brasil no mbito
do empreendedorismo, faz um retrocesso por volta dos anos de 1680 e 1777, onde os
limites do Sul do Brasil eram disputados entre Espanhis e Portugueses, e as diferenas
eram resolvidas na guerra, ficando a divisa no lugar determinado pelo ltimo combate, at
que uma nova investida ou tratado de paz negociado na Europa modificasse a situao.
Nesta poca, os Portugueses se instalaram s margens do Prata bem em frente a Buenos
Aires, os Espanhis chegaram a tomar a ilha de Santa Catarina, mas nenhum dos dois lados
conseguia sacramentar suas vitrias, e a fronteira alterava-se a cada investida bem-sucedida
do adversrio.
Desde o incio, estas terras tinham se mostrado como excelentes criadouros natural
de gado, com milhares de cavalos e bois se multiplicando soltos e sem donos, atrativo para
aventureiros a busca de riqueza e brigas constantes. A coroa portuguesa, interessada na
ocupao do territrio, distribua generosamente ttulos de terra na zona de litgio (apesar
de que a assinatura do Rei naquela regio no dizia muita coisa), a maioria dos portugueses
eram da regio de Aores (super-povoada na poca). Em meio a este contexto, em 1792,
chegou o av materno de Irineu Evangelista de Sousa, Jos Batista de Carvalho, que
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 21
estabeleceu um rancho numa sesmaria de 4 mil hectares entre o arroios Grande e
Chasqueiro a 500km de Montevidu, logo depois o av paterno, Manuel Jernimo.
Em 1810, o pai de Irineu Evangelista, Joo Evangelista de vila e Sousa casou-se com
Mariana Batista de Carvalho, e em 1813 nasceu Irineu. Para manter o crescimento de seus
negcios, Joo Evangelista de vila e Sousa, em 1819, saiu em uma excurso ao territrio
uruguaio para a busca de mais gado e foi morto por um tiro (verses pouco claras chegaram
para os familiares), ficando sua me viva pela primeira vez com 24 anos. Tentou tocar os
negcios e preferiu ensinar Irineu a ler e escrever a ter que fazer os servios da fazenda, e
este aproveitou o conhecimento oferecido pela me e logo dominou as letras e mostrou
uma predileo pela matemtica.
Trs anos aps a morte do pai, sua me casa pela segunda vez com Joo Jesus e
Silva, que no aceitava crianas de um outro pai. A soluo foi casar sua irm Guilhermina,
com menos de doze anos com Jos Machado da Silva e mandar Irineu para o Rio de Janeiro
para trabalhar no comrcio com um tio seu (por parte de me) que tinha o mesmo nome de
seu av.
Nesse contexto iniciou a histria do empreendedor, que chegou no Rio com nove
anos de idade e foi instalar-se na casa de n155 da Rua Direita, que era o armazm e a sede
dos negcios de Joo Rodrigues Pereira de Almeida, onde aprendeu todas as funes do
armazm, sendo ensinado pelos mais velhos de casa que estranhavam a origem do menino,
pois na poca raros nativos do Brasil trabalhavam no comrcio, sendo esta profisso
exercida por mo-de-obra vinda direta da Metrpole, fato este manipulado pela Coroa, pois
evitava que habitantes da colnia controlassem a atividade comercial.
Logo vislumbrou a possibilidade de ser o caixeiro de escritrio, tendo que dominar a
contabilidade e passar por um exame da Real Junta de Comrcio e Navegao, para ser
reconhecido pelo patro, que era de famlia importante do Sul e Pereira de Almeida
negociava charque com ela, seu tio era homem de grande prestgio e respeito por comandar
uma Nau de Pereira de Almeida e este ltimo tomava conta de seu armazm bem de perto
e conhecia seus funcionrios e rendimentos. A empresa era bem prestigiada e estava
envolvida em uma srie de atividades complexas, negociando simultaneamente com
centenas de pessoas nos trs continentes. Pereira de Almeida era ao mesmo tempo
comerciante, banqueiro, industrial, armador, alm de corteso e manipulador poltico,
trabalhar em uma empresa como esta na poca era o objetivo de qualquer caixeiro que
quisesse vencer na vida. Com uma frota registrada em seu nome de treze navios, a base de
todo o comrcio de Pereira de Almeida era o trfego de escravos.
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 22
Com menos de cinco anos de experincia e com quatorze anos de idade, Irineu j
assumia a complexa rede de negcios do patro. Por volta de 1828, houve um revs e as
coisas mudaram para Pereira de Almeida, pois o trfico de escravos estava acabando e a
guerra com a Argentina, tornando a provncia Cisplatina no Uruguai, levaram o Banco do
Brasil a ser um alvo para as perdas governamentais, fazendo com que o comerciante
perdesse tudo que tinha, para consolar o Imperador que distribua ttulos de nobreza
criados a granel, concedeu-lhe o ttulo de Baro de Ub, onde foi morrer (1830) em sua
fazendo defendida por Irineu junto ao credor escocs Richard Carruthers. Assim, Irineu
comeou a trabalhar em 1829, Carruthers & CO, uma das maiores empresas de Carruthers,
que o incentivou a aprender ingls e contabilidade da forma inglesa (em libras), e teve
contatos com a maonaria. Logo se destacou dos demais, aprendendo as mincias do ofcio
e pela orientao de Carruthers. Leu muitos livros, dentre eles Adam Smith A Riqueza das
Naes - o original em Ingls que aproveitava para discutir com seu patro.
Aps completar 22 anos, Irineu recebeu uma participao no capital da empresa e
uma procurao de Carruthers, que lhe deu todos os poderes para administrar os negcios
como se a firma fosse apenas dele. Em 25 de Outubro de 1837, Irineu comprou sua primeira
casa.
O cenrio Nacional continuava complicado e vrias revoltas eclodiam nas provncias
(Cabanagem/PA, Balaiada/MA, Sabinada/BA, Carneiradas/PE, Farroupilhas/RS) sempre se
repetindo a histria: liberais contra conservadores republicanos. Irineu se envolveu em uma
destas revoltas fornecendo roupas e dinheiro a revoltosos (na fortaleza de Santa Cruz/RJ) e
isto lhe causou problemas em 1839, indo assim visitar seu amigo e scio Carruthers na
Inglaterra a fim de acalmar os problemas. Em sua viagem Inglaterra, apresentou grande
entusiasmo por novidades. Teve como anfitrio um amigo de juventude (Joo Henrique
Reynell de Castro), que contribuiu para abrir o seu caminho da fortuna. Assistiu a
inaugurao da ferrovia em 1830, entre Liverpool e Manchester, viu que os ingleses
produziam fbricas com rapidez, mecanizando assim o desenvolvimento. Tambm notou
que a ferrovia trazia consigo outros negcios (ferros e mquinas), sendo foco dos
banqueiros ingleses. Menos de 20 anos depois da inaugurao do trecho entre Liverpool e
Manchester, havia 10 mil quilmetros de ferrovias na Inglaterra, com um investimento
aproximado de 250 milhes de libras esterlinas.
Percorreu fbricas de tecidos, estaleiros, fundies, estradas de ferro e bancos, se
mostrava muito interessado em novos conhecimentos empricos, perguntava sobre tudo e
estudava manuais de funcionamento e catlogos, manteve tambm vrios contatos
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 23
econmicos, estudando os movimentos da poca na Grande Potncia Inglaterra. Em sua
percepo, vislumbrava o desenvolvimento do Brasil e na volta de sua viagem da Inglaterra,
abriu a empresa que deveria captar dinheiro na Inglaterra para ser investido no Brasil,
visando a modernidade. Apesar da viagem para a Europa, os nimos dos comerciantes do
partido Conservador continuavam os mesmos perante a posio de Irineu e estes
publicaram uma carta em 21 de Outubro de 1842, no Jornal do Comrcio, com a notcia de
que no tinha conexes com os rebeldes do Rio Grande do Sul, que eram os nicos homens
em armas que o governo central precisava derrotar para consolidar seu poder. O efeito de
tal carta foi devastador perante os amigos, pois a fama de traidor da causa logo se
instaurou. Apesar disto, Irineu foi tido como traidor pelos amigos e era mal visto pelos
governantes da poca.
Em 11 de Agosto de 1846, adquiriu o estabelecimento de fundio e estaleiros da
Ponta de Areia em Niteri/RJ. Pensava em transformar a mesma em um estabelecimento de
ponta, a moda inglesa, para tanto, teve que trazer a preo de ouro (propriamente dito)
trabalhadores ingleses, pois no existia mo de obra qualificada na poca, alm de ter a
regra de que uma pessoa de tez branca, no carregava nada e tinha que sempre ter um
escravo que o fizesse. A falta de matria-prima tambm o fez pensar fora da caixa, fazendo
uma logstica (hoje banal), mas que para a poca saltava aos olhos, e passou a trazer
minrio de ferro de Minas Gerais no lombo de burros, importao de carvo, e peas para
os defeitos nas mquinas.Firmou um contrato com o ministrio do Imprio para canalizar o
rio Maracan com tubos de ferro, e como de praxe, o governo no pagava e teve que
diversificar a produo fazendo pregos, sinos para igrejas, mquinas de serrar, peas para
engenhos de acar, guindastes, etc. Passou a aceitar servios de reparos em navios e
montou uma empresa no Rio Grande do Sul para operar um vapor que havia sido construdo
por ele.
De forma inovadora na poca, comeou a administrar os funcionrios de forma
igualitria e distribua lucros, incentivando que os mesmos abrissem seus prprios negcios
ou aumentar o leque de opes (assumia prejuzos). Da mesma fbrica, saram engenhos de
acar completos (movidos a vapor), pontes de ferro, canhes de bronze para navios de
guerra, navios a vapor completos, fornos siderrgicos e bombas de suco.
Em 1849, o Uruguai se viu em srios problemas, pois nenhum dos pases que o
subsidiavam queriam continuar a faz-lo, tendo neste momento o crescimento do temor de
invaso Argentina na figura do ditador na poca (Juan Manuel de Rosas). O embaixador do
Uruguai no Brasil na poca (Andrs Lamas) pediu ajuda e o governo viu na figura de Irineu a
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 24
forma de ajudar sem ser notado. Com isto, Irineu emprestou dinheiro para financiar a
guerra contra a Argentina. Em Fevereiro de 1852 o exrcito de Rosas foi derrotado sem um
nico tiro, pois acertos monetrios foram feitos nos bastidores com comandantes
desertores argentinos. Este fato fez com que o governo Uruguaio reconhecesse uma dvida
pblica junto a Irineu e a partir de 15 de Maio de 1852, ele tornou-se o maior credor do
governo Uruguaio e com direito sobre a aduana. Com isto, a navegao do Rio Prata foi
aberta, fluindo o comrcio local.
Aproveitando a situao do fechamento do trfico de escravos e notando um grande
valor monetrio na praa sem um destino certo, Irineu em 1851, abriu o Banco Commercial,
vislumbrando as aplicaes em um futuro promissor de progressos interminveis (fbricas,
telgrafos, estradas de ferro). Comeou a comprar a moeda nacional (ris) fazendo um
cmbio favorvel a quem vendia e trocava por libras esterlinas (moeda forte). A corrida ao
banco foi muito grande, em pouco tempo estava quase que com toda moeda nacional em
seus cofres ao troco da libra. Comeou a faltar (ris) para negcios nacionais e ele mais que
depressa comeou a vender (ris) e comprar (libras), dando primeiro golpe no cmbio.
Nessa poca, chegou no Brasil informes de que os americanos queriam abrir o Amazonas
para livre explorao e navegao, tal fato alarmou as defesas brasileiras e o governo
convocou mais uma vez Irineu, propondo que o mesmo abrisse na regio norte uma
empresa de explorao / navegao do rio Amazonas, explorando assim o comrcio dos
povoados ribeirinhos muito dispersos, desafio este aceito por ele.
Em 1852, Irineu ganhou a concorrncia entre trs empresas para fornecer a
Iluminao a gs das ruas da cidade do Rio de Janeiro e fundou a empresa Imperial
Companhia de navegao a vapor e Estrada de Ferro de Petrpolis. Ainda neste ano, quatro
meses antes do prazo prometido para o governo, comeou a funcionar a Companhia de
Navegao e Comrcio do Amazonas. Em 1853, o dia da queda do gabinete de Itabora,
Irineu levou um grupo de jornalistas e embaixadores para fazerem uma pequena viagem
inaugural, sendo esta a primeira viagem de trem a ser noticiada na histria do Brasil.
Foi assim que foi agraciado com o primeiro ttulo de Nobreza Baro de Mau, em
30 de Abril de 1854, em cerimnia pomposa com a presena da famlia Real, quando
inaugurou a Companhia de Navegao a Vapor e Estrada de Ferro de Petrpolis.
Em 31 de Julho de 1854, trs meses aps a inaugurao da estrada de ferro, o Baro
de Mau inaugurou uma nova forma de Banco, o Banco Internacional a Mau Mac Gregor &
CIA, com a proposta de auxiliar todas as operaes na Europa e tambm fornecer crdito
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 25
para operaes locais, onde iria competir com os financiadores tradicionais (os bancos
europeus), criando assim a primeira agncia de Cmbio a funcionar em mbito nacional.
No mesmo ano da inaugurao do Banco Internacional Mau, comprou uma fbrica
de velas e sabo de um francs com problemas financeiros. Adquiriu a Companhia
Fluminense de Transportes (34 carroas de burro, mais de 100 mulas). Entrou com um
aporte tcnico em uma concesso para explorar ouro no Maranho. Tambm montou uma
fbrica de diques flutuantes, sugerido por um de seus funcionrios de Ponta de Areia. Em
Agosto de 1855, o Baro de Mau assumiu uma posio de deputado (como suplente) pelo
partido Liberal. Nunca compactuou com o discurso amoral que dominava a poca (interesse
pblico), colocando-se abertamente como empresrio, colecionando derrotas atrs de
derrotas nesta rea. Com viso de negcios, estabeleceu para seus engenheiros a tarefa de
estudarem os caminhos para nova estrada de ferro ligando o porto de Santos ao interior
Paulista, possibilitando assim o escoamento da produo. Em 1856, recebeu a concesso da
construo da estrada de ferro. Decorridos 06 anos aps o final da guerra no Uruguai, Mau
resolveu transformar seu escritrio de representao em Montevidu numa mistura de
empresa comercial e casa bancria.
Em 1857, algumas de suas aquisies no se mostravam lucrativas, entre elas a
Companhia Fluminense de Transporte, a Mineradora do Maranho, a Santos-Jundia e a
Companhia de diques flutuantes. Alm disso, grande incndio (narrado pela famlia como
criminoso a mando dos ingleses) devastou a fbrica de Ponta de Areia, destruindo moldes
da construo de navios. Em 1858 inaugurou mais um Banco, em Buenos Aires, na
Argentina, expandindo os negcios do Uruguai. Em 1865 depois de vrios percalos, vendeu
a Companhia de Iluminao a Gs do Rio de Janeiro e passou por srias dificuldades. Em
1867, criou a Mau & CIA, uma empresa comercial como nas origens de sua formao,
tendo como base a desativao de seu imprio para saldar dvidas e problemas sofridos.
Juntou seu numerrio e mesmo com a derrocada, possua no conjunto da obra a quantia de
115 mil contos de ris, equivalente a 12 milhes de libras esterlinas e 60 milhes de dlares.
Em 1874, recebeu uma carta tornando-o o Visconde de Mau, devido a seu
empenho na instalao dos cabos submarinos de telgrafo que ligou o Brasil Europa. Em
1875, fechou o Banco do Uruguai e foi perseguido pelo povo, perdendo tudo, porm
liquidou todos os seus negcios e saldou todas suas dividas, vendendo seus pertences
pessoais. Afastou-se da vida pblica e morreu completamente esquecido pela sociedade em
21 de outubro de 1889, sendo levado de Petrpolis para ser enterrado no cemitrio da
Ordem Terceira dos Mnimos de So Francisco, em Catumbi, no Rio de Janeiro, sendo o
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 26
fretro deslocado de trem atravs dos trilhos da estrada de ferro de sal fundao, The Rio
de Janeiro & Northern Railway.
Anlise do comportamento do Baro de Mau a partir das teorias sobre empreendedorismo
O exemplo do Baro de Mau retrata sua trajetria como o primeiro grande
empreendedor brasileiro numa poca adversa, o Brasil no Sculo XIX. Analisando o contexto
histrico do pas, observa-se que muito de seu desenvolvimento deve-se a inovao criada
por Irineu Evangelista, que aproveitou as oportunidades que teve para trazer ao Brasil
conhecimentos e desenvolvimento do capitalismo.
Para Lira (2005), nos dias atuais, a administrao possui a disposio uma infinidade
de tcnicas que visam diminuir ao mximo os riscos de insucesso de um novo negcio.
Porm, no sculo XIX e incio do sculo XX, os nicos meios possveis de analisar um negcio
eram alguns clculos financeiros e o bom senso. Esta situao fazia com que os riscos,
principalmente nos negcios pioneiros, fossem difceis de mensurar por se tratar de um
caminho ainda no percorrido e, portanto, sem parmetros de comparao.
Embora as pesquisas na rea de empreendedorismo constatem diferenas entre
aspectos considerados cruciais pelo fato de que as caractersticas empreendedoras variam
em funo da atividade que o empreendedor desenvolve em uma dada poca ou de acordo
com a fase de crescimento da empresa, a anlise histrica mostra Mau como um cone da
inovao e seu comportamento embasado pelas teorias do empreendedorismo, sendo seu
comportamento distinto a outros empreendedores, que em alguns estudos, so observados
como indivduos que no eram receptivos ao conhecimento. Segundo Caldeira (1990, p.35):
Em 38 anos de trabalho duro, tinha enfrentado muitas crises, e
nelas venceu muito mais que perdeu. Sentia-se jovem o
suficiente para ousar na hora das dificuldades, aproveitar os
momentos complicados para triturar adversrios mais fracos.
Sempre sonhara grande, grande demais para que o conselho
tornasse mais prudente seu estilo arrojado.
Mau possui algumas caractersticas identificadas como comportamento
empreendedor nas teorias estudadas.
Ainda segundo Caldeira (1990, p.17-18):
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 27
Administrar sozinho tal volume de negcios e dinheiro era
tanto uma obrigao imposta por seus mtodos de trabalho
quanto um prazer ao menos em dias como aquele. Nas noites
solitrias em seu escritrio, Mau sentia a grandeza dos
criadores de mundo. Ningum no Brasil havia chegado aonde
chegou. Tinha todo o direito de agir como um verdadeiro
imperador, pois no devia nada a ningum. Enquanto a noite
avanava, Mau instigava os corajosos, punia os medrosos,
ordenava batalhas de negcios sem nunca ser contestado.
Esse comportamento impositivo era para ele da natureza das
coisas. Para quem comeara rigorosamente do nada e lutara
sempre sozinho, no era estranho o habito de contar apenas
consigo mesmo.
Para Caldeira (1990), Mau tinha dedicao ao conhecimento, estudando para
conseguir obter o dinheiro e antes de passar para a prtica, ele precisava da certeza de que
suas impresses suportavam o crivo dos nmeros. Enquanto o mercado corria atrs de
opinies, ele foi buscar o domnio do conhecimento e evidenciou suas caractersticas
empreendedoras para alavancar o desenvolvimento do Brasil. Segundo Lira (2005, p.15):
... na biografia de Mau notamos um foco no progresso com
um direcionamento maior para o desenvolvimento industrial,
logstico e estrutural do pas. Com a criao das primeiras
indstrias, primeira estrada de ferro e criao do primeiro
banco a financiar novos empreendimentos, Mau refora sua
condio de personalidade referncia na histria brasileira e
com perfil voltado para o empreendedorismo.
A partir da anlise sobre as caractersticas de Mau com a literatura abordada, foi
feito um quadro consolidado com a porcentagem de caractersticas empreendedoras
apresentadas no seu exemplo, conforme comparativo adiante:
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 28
Caractersticas empreendedoras
encontradas na literatura
Caractersticas empreendedoras
encontradas na Biografia por Caldeira resultado % atendido
McClelland
3 3 100%
Zaleznik & Vries
6 3 50%
Thimmons
15 15 100%
Dornellas
10 10 100%
Empretec necessidades
8 8 100%
Empretec conhecimento
5 5 100%
Empretec habilidade
9 9 100%
Empretec valores
7 7 100%
Autores
63 60 95%
Tomando como base o quadro 3 pela comparao percentual entre itens ressaltados
perante quesitos dos autores, presentes ao longo da pesquisa, entendemos que Irineu
Evangelista de Sousa atende quase que na plenitude aos quesitos estipulados pelos autores
estudados na personalidade empreendedora.
Assim, mostra-se que dentre os comportamentos evidenciados ao longo da
pesquisa, o Baro de Mau apresentava 95%, sendo considerado um exemplo potencial
para o estudo do empreendedorismo no Brasil, sendo que seus traos apontavam para o
desenvolvimento em larga escala, no sendo limitado a um tipo de negcio ou empresa,
mas contribuindo com a administrao de um pas.
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 29
Consideraes Finais
Este artigo mostrou o contexto de um empreendedor como forma de exemplificar
como o empreendedorismo influencia a realidade dos negcios no Brasil. O comportamento
empreendedor abordado sob a tica dos indivduos e da cultura onde se inserem, sendo a
inovao, iniciativa e a resilincia traos que definem o sucesso dos negcios.
O contexto analisado nos tempos contemporneos mostra que a herana cultural
deixada pelos pioneiros que alavancaram os negcios no Brasil a de que o
empreendedorismo um tema de nossa cultura, que traduz a necessidade de procurar
oportunidades pela diversidade que possumos.
A administrao de negcios nesse ambiente precisa de caractersticas e
comportamentos de indivduos que conseguem lidar com adversidades e identificar
oportunidades mesmo com a turbulncia do mercado. O centro do poder associa-se com a
poltica, gerando burocracias difceis de serem colocadas em prtica ao mesmo tempo em
que se alcana o sucesso nos negcios, mas os empreendedores tm encontrado formas de
conciliar tal cenrio, a partir do prprio conhecimento, gerando inovaes que podem
mudar o rumo da histria
A anlise sobre o Baro de Mau permite observar que ele foi um dos homens mais
ricos em sua poca no continente sul-americano, com a competncia para identificar
oportunidades e gerar inovao, alavancando a economia do Brasil a partir de
conhecimentos obtidos em diferentes setores e colocando em prtica tudo o que sabia em
seus empreendimentos.
Embora tenha terminado sua vida sem nada, a grande herana que deixou foi a
inovao criada pelo conhecimento, que constitui um dos meios que consolida o
comportamento empreendedor, a busca incessante por oportunidades e por concretizar
negcios. Mau apresentou formas de inovao que atualmente ainda geram dvidas
quanto a sua execuo, tamanha inovao apresentada em seus empreendimentos, cujos
resultados ainda podemos nos beneficiar.
Ao dos Discentes no Estudo de Caso
Os alunos devero responder ao solicitado, de forma fundamentada pela matria.
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 30
1) Quais caractersticas empreendedoras, na sua opinio, faltaram ao Baro de Mau ?
Justifique.
2) Voc concorda com todas atribuies positivas realizadas no artigo ao Baro de Mau ?
Justifique.
3) Se tivssemos uma parcela maior da populao com caractersticas empreendedoras, o
que mudaria em nosso pas ?
4) Comente as caractersticas do Baro de Mau, considerando as qualidades do
empreendedor apresentadas junto ao Tema 02 da Apostila (Pgina 03 Caractersticas do
Empreendedor).
Tema 06 Pesquisa Complementar 10
Artigo: Delmiro Gouveia Heri Esquecido 11
1) Pesquise e demonstre qualidades empreendedoras junto outro personagem histrico
no empreendedorismo brasileiro, chamado Delmiro Gouveia. Observao: Esta comparao
mais complexa, pois este personagem possui menor expresso do que o anterior (Baro
de Mau), alm de uma passagem mais polmica. O objetivo do trabalho enriquecer o
conhecimento pessoal e provocar o discente a uma reflexo sobre alguns pontos
polmicos na histria brasileira.
Texto 12
Delmiro Gouveia foi o maior de todos os grandes empreendedores brasileiros.
10 Autor: Oswaldo Pacetta. Publicado aos 05/07/2010. 11 Fontes do Autor:
Delmiro Gouveia e o sonho de industrializao do semi-rido - AUTOR: JOSE ROMERO DE ARAUJO CARDOSO.
Delmiro Gouveia O perfil do empreendedor AUTORA: TELMA DE BARROS CORREIA.
CULTURA historia (14/07/2007) Gloria e tragdia de Delmiro Gouveia. AUTOR: J.C. ALENCAR ARARIPE Especial para Cultura, escritor e jornalista.
Ousadia no Nordeste a saga empreendedora de Delmiro Gouveia AUTOR: DAVI ROBERTO BANDEIRA DA SILVA.
12 Os fatos e opinies expressados pelo autor so de responsabilidade exclusiva do mesmo, o presente artigo encontra-se apenso para estudo das atitudes empreendedoras, no sendo nossa inteno fomentar o debate sobre ideologias polticas.
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 31
Suas prodigiosas realizaes empresariais ocorreram no fim do sculo 19 e inicio do
sculo 20, no nordeste, totalmente dominado pelos famigerados coroneizinhos da poltica
local, numa poca em que dominavam o trabalho escravo, a ignorncia, o atraso, a misria
da populao e onde, at a energia eltrica necessria a uma de suas empresas, teve que
produzi-la com seus prprios recursos. Essa sua indstria no foi seu maior
empreendimento, mas foi a menina de seus olhos e a causa principal de suas desavenas.
Nasceu em junho de 1863, em Ipu, Cear. Ao longo de sua laboriosa caminhada,
dadas as condies e ambiente em que realizou sua obra, tornou-se o mais admirvel
protagonista da historia do empreendedorismo brasileiro. No poupou esforos, coragem e
ousadia em sua luta para criar no nordeste um plo de desenvolvimento econmico, com
justia social e com a obstinada determinao de livrar a economia da regio, primria e
primitiva, da mentalidade, costumes e prticas arcaicas.
Foi, na sua juventude, bilheteiro de estao de trem, da Pernambuco Railway,
servidor da Alfndega e tambm se dedicou mecnica primria, o famoso conserta tudo,
profisso que exerceu, como meio de sobrevivncia.
Iniciou-se, como empresrio, no comrcio de peles, vencendo nesse ramo que, na
poca, era dificlimo. Intensificou as exportaes de peles (de bodes e cabras) para os
Estados Unidos a tal ponto que precisou criar uma vasta rede de agentes, por todo o
nordeste para aquisio da matria prima de seu negocio. Quando estabeleceu seu prprio
abatedouro, toda a carne dos animais abatidos era distribuda gratuitamente aos seus
trabalhadores e populao carente circundante.
Destacou-se tambm pelo grande sucesso de sua usina aucareira, graas adoo
de inovaes tecnolgicas dignas dos pases mais industrializados de ento. Na usina
Beltro, alm de refinar o acar, o vendia em tabletes, coisa muito chique no Brasil desse
tempo.
A criao do Mercado do Derby em Recife, j seria suficiente para defini-lo, em tudo
e por tudo, como um empreendedor do sculo 21 nascido no sculo 19.
Mediante acordo com o governador de Pernambuco, recebeu grande rea pblica,
completamente abandonada, para dot-la de todas as melhorias que o poder constitudo
havia se esquecido de providenciar e, depois de fazer aterros, sanear o mangue e abrir ruas,
criar esse empreendimento com tudo o que o caracterizava como uma variao, adaptada
poca, claro, do que seria, hoje, um misto de Supermercado, Shopping Center, Centro de
Convenes e dos parques de diverso mais incrementados. O exploraria por 25 anos e,
cumprido esse prazo, o entregaria para o Estado de Pernambuco. Esse parque de diverso
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 32
permanente, como ento, era chamado, dispunha de hotel, mercado, chafarizes, gua
tratada encanada, sistema de esgotos, rea livre ajardinada, de 400 metros, para o
veldromo, em frente a fachada principal do edifcio. Em prdio a parte, instalaes para
jogos, caf, teatro, carrossis, barraquinhas, tudo permanentemente animado por retretas e
iluminado pela luz eltrica, pela primeira vez introduzida na cidade do Recife.
Alm dos atrativos para hospedagem e entretenimento, o Mercado do Derby,
comprando em grandes quantidades, diretamente das fontes produtoras, evitando os
atravessadores que encarecem os produtos e mercadorias, vendia a preos bem inferiores
aos da concorrncia.
Os concorrentes cartelizados, sem ter conscincia do que fosse um cartel, mas
cientes de suas vantagens em - atravs de acordo de preo nico entre os produtores ou
distribuidores - eliminar a livre concorrncia, um dos fundamentos do capitalismo
democrtico, no gostaram nada desse modernoso cabra da peste. No sabiam o que era
nem morriam de amores por capitalismo democrtico ou selvagem, mas se enfureceram
com a idia de reduzir suas margens de lucro abusivas, por causa desse tal Delmiro. Estavam
criados os primeiros atritos graves entre o empresrio frente de seu tempo e os
coroneizinhos retrgrados de ento.
Informado de uma conspirao para mat-lo, viajou para o Rio de Janeiro onde
tentou em vo, a interferncia do Vice-Presidente da Republica. Este era chefe situacionista
de Pernambuco e comandava, entre outros, o prefeito de Recife.
Delmiro no aceitou o descaso do Vice-Presidente que, em vez de agir com a
dignidade do cargo, agiu como chefe da jagunada.
Num encontro casual entre ambos, em plena Rua do Ouvidor, aproximou-se dele e o
responsabilizou pelo que lhe viesse acontecer de mal. Destratado pelo Vice-Presidente,
agrediu-o a golpes de bengala. Caiu na armadilha do coronelato de Pernambuco. Por essa
reao impensada deu pretexto a que fosse considerado um criminoso e passou a condio
de procurado pela policia, para alegria de seus inimigos invejosos e venais. Resumindo,
Delmiro chegou a ser preso. A priso se deu com escandaloso aparato: um comandante e 50
praas da policia. Enquanto estava na priso, o Mercado do Derby, jia preciosa tanto como
projeto arquitetnico quanto como empreendimento sem igual no Brasil de ento, foi
criminosamente incendiado, na madrugada de 1 de janeiro de 1900
Valendo-se da liberdade concedida, trs dias aps o incndio, atravs de habeas
corpus, Delmiro Gouveia embarca para a Europa de onde volta no ano seguinte e se
refugia em um vilarejo, no interior de Alagoas, onde pretendia continuar no comercio de
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 33
peles. Esse vilarejo por nome Vila da Pedra, distante 280 km de Macei e 20 Km da
cachoeira de Paulo Afonso era formada por meia dzia de casebres em torno de um terminal
ferrovirio, a estao de trem que ligava Jatob a Piranhas e ficava na confluncia de trs
Estados: Pernambuco, Alagoas e Bahia.
Por essa poca (1901/1902), Delmiro conheceu a filha da amasia do governador
pernambucano, S. Gonalves. Apaixonaram-se, p! Na poca, casar-se com um homem
separado da esposa anterior, era inadmissvel. A anterior no foi visit-lo quando esteve
preso, razo porque nunca mais voltou para seu lar. Em face da total resistncia da famlia
da moa e com a concordncia da mesma, claro, fugiram e foram morar na Usina Beltro,
fabrica de acar de Tacarauna, no bairro de Santo Amaro. Outra vez, o intrpido
empresrio alimenta a ira torpe de seus inimigos.
Acusaram-no de rapto e seduo: mobilizaram a policia e a Justia para enquadr-lo,
nos termos da lei e o levarem pra cadeia. O casal no teve alternativa seno fugir. Foram
para Vila da Pedra, Alagoas, que ficava prxima ao rio So Francisco, no serto alagoano
onde pretendia continuar suas atividades empresariais.
Em Pedra, no deu outra: o seu empreendimento teve tal sucesso que o levou a criar,
em 1904, a firma IONA & CIA. para organizar e incrementar suas exportaes de peles de
bode e de cabra, couros de boi, mamona em bagas e caroo de algodo.
Para essa vila eram enviadas peles e couros vindos do Cear. Rio Grande do Norte,
Pernambuco, Paraba, Sergipe, Alagoas e Bahia. Eram tratadas e enfardadas. Seguiam de
trem at Piranhas. Desciam o So Francisco at Penedo e, por mar, seguiam at Macei de
onde eram embarcadas para os Estados Unidos.
Delmiro tinha um sonho: a industrializao do semi-rido alagoano e, em 1909,
iniciou estudos para a utilizao econmica da cachoeira de Paulo Afonso. Quatro anos
aps, janeiro de 1913 coroava de xito mais um de seus audaciosos empreendimentos:
captava energia da usina hidroeltrica, na queda de Angicos e iniciava o abastecimento da
Vila com gua da cachoeira, Em junho de l913 a Vila passa a ser iluminada com a energia
eltrica da usina. Em 1914 inaugura em Vila da Pedra a fabrica de linha de coser da marca
Estrela, que iria vencer, na concorrncia de mercado, a linha Corrente, produzida pela
multinacional inglesa Cotton Machine. Rtimo alucinante mesmo para nossos dias.
Ele, que j enfrentava a prepotncia das oligarquias estaduais e a violncia dos
coronis, passou a enfrentar a fria da multinacional poderosa. A linha de coser Estrela
comeou a dominar o mercado no s no Brasil como tambm na Argentina, Equador e
Peru. Chegou a exportar para colnias inglesas.
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 34
No s para atender as necessidades de sua nova e prospera indstria, mas tambm
na sua crena de que faria de Pedra, um plo de industrializao do nordeste, abriu as
primeiras estradas no interior nordestino, ao todo, 520 km pelas quais rodaram tambm os
primeiros automveis vistos na regio, com os quais equipou seus vendedores-viajantes.
Eram cinco importados, que, para a poca, foram motivo de alvoroo e festas por onde
passavam. As estradas que construiu eram de to boa qualidade que sua frota podia
desenvolver a espantosa velocidade de 60 km por hora!, dinamizando, assim, o trabalho de
venda de sua produo.
Mesmo empenhado na consolidao de sua fabrica de linhas, Delmiro no descuidou
de outras reas como a agricultura, a difuso da pratica de irrigao das terras secas, a
pecuria e a propagao da cultura da palma forrageira como alimento para os rebanhos.
Agiu tambm nas reas de desenvolvimento e saneamento urbanos, educao,
sade e projetos sociais.
Dotou Pedra de gua encanada, luz eltrica, vilas de casas para seus trabalhadores,
mdico, escolas, cinemas, parques de patinao e banda de musica.
A par dessas iniciativas, atacou duramente os costumes retrgrados, indo s raias do
pitoresco nessa sua obstinao: em Pedra fez do banho uma obrigao diria; no se
fumava em cachimbos de barro, no se podia cuspir no cho, no se entrava numa casa com
chapu na cabea, no se tomava cachaa e no se explorava a prostituio. Homens e
mulheres tinham que andar limpos e calados. claro que dava a seus empregados salrios
e condies para cumprirem a risca esse cdigo de conduta.
necessrio atentar para a poca, inicio do sculo passado e para o ambiente, o
interior de uma regio dominada pelo atraso, pela ignorncia e pela misria extrema, para
entender que esse cdigo no exprimia autoritarismo, mas preocupao em acelerar o
desenvolvimento integrado do rido alagoano, como ponto de partida para o
desenvolvimento integrado do nordeste.
Na catastrfica seca de 1915, grande numero de flagelados chegava a Vila da Pedra,
em busca de socorro. Delmiro Gouveia mandou montar tendas ao redor da vila e deu aos
retirantes toda a acolhida e tratamento de que tanto careciam, sem descuidar de enquadr-
los no cdigo de conduta j referido.
O coronel Jos Rodrigues de Lima, de Piranhas, chefe poltico, fazendeiro,
pecuarista e latifundirio, no se sentia bem com a vizinhana de Delmiro, industrial,
atuando no seu criatrio e comercializando, em Vila da Pedra, produtos agrcolas a preos
inferiores aos seus. Era o prottipo dos avs dos coronis do PFL, hoje conhecido como
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 35
DEMO. O coronzinho Jos Rodrigues era o prprio DEMNIO. Foi um dos articuladores
de ciladas, armadilhas e emboscadas contra Delmiro Gouveia.
Delmiro Gouveia, nas varias viagens que fez aos Estados Unidos e Europa, verificou a
nova revoluo industrial decorrente do uso da energia eltrica.
Quando conheceu a cachoeira de Paulo Afonso, no rio So Francisco, do qual Vila das
Pedras ficava prxima, teve a viso audaciosa que s os grandes empreendedores acolhem
com f e buscam tenazmente sua realizao: construir ali uma usina hidreltrica.
Com o apoio dos irmos Rossbach, da L. H. Rossbach Brothers, de Nova Iorque, que
era a grande importadora dos produtos agrcolas e mercadorias produzidas pelas empresas
de Delmiro, organizou a Cia. Agro-Fabril Mercantil atravs da qual concretizou a construo
da hidreltrica no salto de Angicos, da Cachoeira de Paulo Afonso, no lado alagoano que,
quatro anos aps sua concepo, passou a gerar energia eltrica em janeiro de 1913.
Na Inglaterra pesquisou e escolheu as mais modernas mquinas da indstria Dobson
& Barlow, que importaria para sua fbrica de linha de coser de alta qualidade e resistncia,
alm de fios e cordes de algodo cru em novelos, fios encerados e fitas gomadas para
embrulhos. Inaugurada em 1914, foi mais um empreendimento de grande sucesso desse
empresrio do sculo 21 nascido no sculo 19.
Essa fbrica, a Cia Agro-Fabril passou a vencer a concorrncia e quebrar o monoplio
dos ingleses no setor. Os ingleses, nessa poca, eram os americanos do ps-guerra
(1939/1945): donos ou pretensos donos do mundo, que impunham seu jugo aos pases
satlites ou atravs de dispendiosas operaes militares ou atravs dos lacaios e traras
remunerados que eles tinham o hbito de entronizar nos seus domnios.
Com a produo de mais de 20.000 carretis/dia, as linhas Estrela ganharam
rapidamente o mercado nacional alm do de alguns pases vizinhos. A Cotton Machine,
produtora das linhas de coser Corrente, afamadas at hoje, partiu para a concorrncia
desleal. Por exemplo, aproveitando um vacilo do Delmiro, registrou a marca Estrela na
Argentina e no Chile, causando alguns problemas e custos adicionais Agro-Fabril que se viu
obrigada a re-embalar com novo rotulo seus produtos j nas lojas desse dois vizinhos.
A pouca eficincia dessa e outras rasteiras para derrubar o concorrente brasileiro
levou a Cotton Machine a investir alto na tentativa obstinada de comprar o parque
empresarial de Vila da Pedra, em pleno serto de Alagoas. Delmiro Gouveia recusou todas
as propostas apresentadas e informou aos gringos que no venderia sua fabrica por dinheiro
nenhum.
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 36
A 10 de outubro de 1917, trs anos aps a inaugurao do parque industrial de
Pedra, na calada da noite, no terrao de sua casa, o empresrio do sculo 21 nascido no
sculo 19 era assassinado com trs balaos disparados por pistoleiros de aluguel. O crime
foi desvendado, 66 anos depois, quando todos os envolvidos j eram falecidos. No
faltaram inocentes tomados como bodes expiatrios, que passaram longos anos na priso,
sem nada deverem.
Finalmente, usando seus mtodos preferenciais, os liberais de ento que ainda no
eram Neo, mas j agiam por meio de marginais contratados, usando matadores de ofcio,
conseguiram deter o inigualado empreendedor brasileiro e iniciar o desmantelamento da
mais notvel experincia de industrializao que o nordeste havia conhecido at os anos 70
do sculo passado.
Como se v, no de hoje que a ALIANA de interesses estrangeiros escusos, com
traidores regiamente remunerados e partidos da entrega e da traio fartamente
financiados, atua contra os interesses nacionais.
Depois de sua morte, a Cotton Machine colocou em prtica um indecoroso e
prolongado dumping nos mercados de linhas de coser, vendendo suas mercadorias da marca
Corrente a preos 50% inferiores ao seu custo de fabricao, com o objetivo de quebrar a
concorrente e compr-la a preo de banana podre em fim de feira. H que se reconhecer que
no se tratou de Privataria j que a Cia Agro-Fabril no era estatal. Foi apenas uma grande
patifaria. No precisavam mais enfrentar o destemido Delmiro Gouveia que os derrotaria
outra vez. Ele tinha sido misteriosamente abatido.
Com a anuncia do Presidente Washington Luiz, o complexo fabril de Vila da Pedra
foi vendido, em 1930, para a Cotton Machine, transao realizada em sua sede ou matriz,
em Paisley, Esccia.
Vale lembrar que a industrializao no Estado de So Paulo se iniciou nos anos 30,
com o governo Vargas e se consolidou nos anos 60/70 do sculo passado e no na dinastia
tucana como alguns querem nos fazer crer.
Concretizada a transao, a empresa inglesa contratou, ainda em 1930, uma firma
especializada em demolio, para por abaixo, a marretadas, o parque empresarial de Vila da
Pedra. As mquinas modernssimas foram embarcadas para a Esccia. Os destroos do que
restou foram levados em carros puxados por juntas de boi, numa viagem de 20 kilometros,
at as barrancas do So Francisco, onde foram lanados.
Num ato demagogo, pra acalmar a populao local revoltada, o Presidente fantoche
e submisso, convenceu os ingleses a no levar adiante seu intento de dinamitar a usina
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 37
hidreltrica de Angicos, encravada nos penhascos do Rio So Francisco, onde pode ser vista e
visitada, at hoje.
Washington Luiz, representante fiel dos aristocratas rurais de S. Paulo dessa poca,
verses estilizadas dos coronis do nordeste, foi o Presidente deposto e exilado pela
revoluo de 1930, comandada por Getulio Vargas.
Em 1932 tais aristocratas, com o apoio dos ingleses, que estavam perdendo seu
mando e desmandos no Brasil, tentaram uma contra-revoluo para depor Getulio. Foram
derrotados, para o bem do Brasil e dos brasileiros, que puderam ser retirados da Senzala
assim que os mandarins da Casa Grande foram contidos ... Mas essa outra historia.
Parte 02 Formao Social de Empreendedores
Nesta parte estaremos estudando o processo social de criao e formao de
empreendedores, ou seja, j conhecemos suas caractersticas e relevncia coletiva, agora
vamos aprender como a sociedade gera e fomenta esta classe de pessoas.
Ainda, faremos uma anlise do perfil educacional brasileiro frente a este desafio e
trabalharemos na formulao de propostas.
Trabalhando no processo de enriquecimento do perfil profissional dos discentes,
faremos uma abordagem do comportamento de sucesso baseado na proposta do Prof.
Gretz, chamada As 20 Atitudes da guia.
Tema 07 - Perfil Empreendedor
Considere a frase:
O empreendedor no faz o que gosta e sim o que precisa ser feito
Ainda, vide um famoso provrbio chins:
H trs coisas que nunca voltam atrs:
A flecha lanada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida.
Um empreendedor no apenas conhece, mas VIVE estes pensamentos.
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 38
Veremos mais sobre as qualidades empreendedoras (aprofundando o Tema 02) no
estudo de caso.
Estilos de Deciso Empreendedor
O empreendedor torna-se latente pelo seu estilo de deciso, notadamente agressivo
quando necessrio, mas com dificuldade de identificar, por vezes, momentos de necessrio
retraimento e conservadorismo. Assim, o esprito empreendedor pode por vezes suplantar a
cautela, tornando-se perigoso se no domesticado. Devemos lembrar que embora o
empreendedor esteja associado diversas qualificaes positivas, no vincula-se
perfeio.
Segundo Cohen 13 existem oito estilos de deciso, todas aplicveis ao
empreendedor:
Intuitivo: tenta projetar o futuro;
Planejador: situa-se onde est e para onde quer ir;
Perspicaz: afirma que alm da percepo necessita de conhecimento;
Objetivo: sabe qual o problema a ser resolvido;
Cobrador: tem certeza do que quer e deseja medir os resultados;
Mo-na-Massa: envolve-se de forma pessoal nas aes;
Meticuloso: agrega diversas opinies para tomada de deciso;
Estrategista: decide sempre por aes que acompanham a estratgia geral.
No existe uma definio para o melhor ou pior tipo de deciso, cada situao cria
condies para sua aplicao ou no. Entretanto, devemos citar inicialmente como mais
favorveis s empresas modernas os estilos estrategista e meticuloso.
Isto porque estas atitudes conduzem a deciso tomada em consonncia s regras
gerais definidas na alta administrao, mantendo a coerncia dos departamentos frente ao
cliente, alm de agregar opinies dos membros da equipe, favorecendo o grupo.
Isto pode significar, no caso da deciso estrategista, que a deciso tomada pode
mesmo no vir a ser a melhor para um departamento de forma isolada, mas que beneficie a
empresa como um todo.
13 Allan R. Cohen vice-presidente acadmico do Babson College, obteve o graduao na Harvard Business School e autor de vrios best-sellers.
-
Empreendedorismo
Prof. Esp. Ivan Jacomassi Junior - Pg. 39
Sndrome do Empregado e Anti-Empreendedorismo
Para sabermos melhor o que ser um empreendedor, devemos tambm estudar o
que NO ser um.
Esta terminologia surgiu com o personagem Seu Andr, do livro O Segredo de
Luisa, autor Fernando Dolabela.
O livro: O Segredo de Lusa, escrito por Fernando Dolabela,
publicado em 1999, trata da realizao do sonho de abrir uma
empresa. um romance que envolve a vida sentimental da
personagem principal Lusa, junto com a concretizao da sua
idia de ter o seu prprio negcio. O autor relata desde a
concepo da idia de Lusa at a realizao da abertura da
empresa. No decorrer da narrao, envolve outros
personagens, que so essenciais na vida de Lusa. O livro expe
parte da vida da personagem principal, Lusa uma moa
muito inteligente - no s no lado profissional, mas tambm os
seus sentimentos de amor, alegria, medo, solido, tristeza e
tantos outros que fazem part