Apostila de Produção de Textos
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1
UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
PRODUÇÃO
de
Mariana – ICHS
2
Esta apostila foi elaborada com o objetivo de complementar a bibliografia
básica da disciplina “Produção de Textos”. Por meio de exercícios e propostas
de produção de textos, este material visa a orientar o aluno quanto ao
desenvolvimento de habilidades de leitura e de escrita, no âmbito acadêmico e
profissional.
É importante ressaltar que a leitura desta apostila não substitui a leitura de
textos básicos, presentes na bibliografia da disciplina, e de outros textos que
poderão ser sugeridos durante o semestre letivo.
De acordo com o plano da disciplina, trabalharemos, na unidade I, uma
reflexão acerca dos conceitos de língua, linguagem e texto, observando
aspectos ligados à norma culta e às variedades linguísticas da língua
portuguesa. Abordaremos também aspectos ligados às condições de produção
e de recepção de textos, destacando restrições de ordem situacional, como os
interlocutores e suas relações, o contexto social e histórico das interações, as
condições materiais e comunicacionais envolvidas nas interlocuções de um
modo geral. Destacaremos também restrições de ordem cognitiva, a exemplo
dos objetivos e expectativas dos interlocutores, da atividade inferencial, dos
conhecimentos prévios (de mundo e lingüístico), necessários à produção e à
recepção de um texto.
Na unidade II, trabalharemos com os conceitos de textualidade, com
enfoque nos princípios de coesão e coerência, intertextualidade e polifonia, a
fim de analisarmos a produção e recepção de textos, do ponto de vista de sua
materialidade linguística.
Na unidade III, focalizaremos os processos de construção discursiva da
argumentação, abordando as condições de produção e as estratégias discursi
vas utilizadas em textos argumentativos, a exemplo do artigo de opinião, do
editorial, do fórum de discussão e da carta de leitor.
Na unidade IV, que será desenvolvida parcialmente em concomitância com
as três primeiras, nos dedicaremos à dimensão prática do curso, ou seja, à
produção de textos em sala e, eventualmente, em casa, abordando, sobretudo,
os gêneros acadêmicos, enfatizando a leitura e a produção de esquemas,
resumos e resenhas, com vistas a desenvolver habilidades de documentação
de leitura, de síntese crítica e de gestão de vozes por meio do trabalho de
citação.
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PROGRAMA DA DISCIPLINA
PRODUÇÃO DE TEXTOS I
Professor: Paulo Henrique A. Mendes
Código
LET712
Departamento
LETRAS
Unidade
ICHS
Carga Horária
Semanal
Teórica
02
Prática
02
No de Créditos
03
Duração/Semana
15
Carga
Horária
Semestral
60 horas
EMENTA: Estudo dos conceitos de texto, textualidade, textualização, coesão, coerência .
O texto argumentativo. Leitura de textos de opinião. Prática de produção de textos, com
ênfase nos gêneros acadêmicos. Resumo. Resenha.
OBJETIVOS: Possibilitar ao aluno conceber teórica e operacionalmente o processo de leitura e produção
de textos como uma das dimensões que compõem o objeto de estudo/trabalho do curso de
letras.
Desenvolver e/ou refinar no aluno habilidades de leitura e produção de textos que lhe
permitam constituir-se como produtor e receptor ‘competente’ de diferentes tipos de textos,
com ênfase sobre gêneros discursivos mais recorrentes no universo acadêmico, tais como
resumo, resenha, entre outros.
MÉTODOS DIDÁTICOS:
Diagnóstico das habilidades de produção e leitura de textos, a fim de verificar as diretrizes a
serem seguidas na abordagem do objeto de estudo; aulas expositivas e seminários sobre os
textos lidos; exercícios interativos de leitura e produção de textos, contemplando os fatores
constitutivos das condições de produção e interpretação; leitura e produção de gêneros
acadêmicos.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
Unidade 1
1.1. Da língua ao texto: uma abordagem enunciativa da linguagem
1.2. Variação, norma e adequação linguística do texto oral ou escrito
1.3. Conceito de texto: condições de produção/recepção, estratégias e efeitos de sentido
Unidade 2
2.1. Princípios de textualidade: processos enunciativos e estratégias de textualização
2.2. Coerência e coesão textual
2.3. Intertextualidade e polifonia
Unidade 3 3.1. Gêneros discursivos e argumentação
3.2. Letramento e gêneros acadêmicos
3.3. Gestão de vozes, posicionamento crítico e construção da autoria
3.4. O trabalho da citação. Tipos de citação. Citação X plágio
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Unidade 4
4.1. Leitura e produção de parágrafos, com vistas ao desenvolvimento da capacidade de
estruturação de períodos e de organização tópica.
4.2. Leitura e produção de artigos de opinião, cartas de leitor e comentários de fórum de
discussão, tematicamente orientados em função de determinadas condições de produção.
4.3. Produção e apresentação de esquemas de textos lidos no curso, visando à habilidade de
filtragem e articulação conceitual.
4.4. Leitura e produção de resumos de textos lidos no curso, enfatizando a capacidade de
filtragem/articulação conceitual e de gestão das vozes (pontos de vista).
4.5. Leitura e produção de comentários e resenhas de textos teóricos, com ênfase na capacidade
de argumentação crítica e de gestão das vozes (pontos de vista).
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
ANTUNES, I. Análise de Textos – fundamentos e práticas. São Paulo: Parábola, 2010.
COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e textualidade. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
ELIAS, Vanda Maria; KOCH, Ingedore Villaça. Ler e escrever – estratégias de produção
textual. São Paulo: Contexto, 2010.
EMEDIATO, Wander. A fórmula do texto – redação, argumentação e leitura. São Paulo:
Geração Editorial, 2012.
ILARI, Rodolfo., BASSO, Renato. O português da gente – a língua que estudamos, a língua
que falamos. São Paulo: Contexto, 2009.
KOCH, Ingedore G. V; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Coerência Textual. São Paulo: Contexto,
2012.
KOCH, Ingedore. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 1997.
MACHADO, Ana Raquel. et al. Resenha. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.
_____________. Resumo. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.
SILVA, Ana Virgínia. Recursos linguísticos em resenhas acadêmicas e a apropriação do
gênero. Curitiba: Appris, 2011.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
ANTUNES, I. Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.
_________. Muito além da gramática – por um ensino de línguas sem pedras no caminho. São
Paulo: Parábola Editorial, 2007.
FARACO, C. A.; TEZZA, C. Prática de texto para estudantes universitários. Petrópolis:
Vozes, 1992.
FIORIN, J. L. Lições de texto. São Paulo: Ática, 2000.
GARCIA, O. M. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas,
2003.
GNERRE, M. Linguagem, escrita e poder. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
KOCH, I. V. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1998.
_______. Introdução à linguística textual. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
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Os materiais abaixo indicados são sugestões que lhe fazemos para futuras aquisições,
visando à composição de sua biblioteca particular de obras de consulta e referência
quanto à norma padrão da língua escrita, o que é de grande valia para o profissional de
qualquer área de conhecimento. Vale destacar, no entanto, que, mesmo de posse desses
títulos, no momento da escrita é necessária a adequação do gênero textual à situação
comunicativa (interlocutores envolvidos, objetivo pretendido, conteúdo abordado etc.),
o que significa considerar mais do que o uso da norma padrão.
Bom proveito!
HOUAISS, Antônio & VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário
Houaiss de língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
(Elaborado no Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia e Banco
de Dados da Língua Portuguesa S/C Ltda.).
Disponível em versão impressa ou digital, O dicionário Houaiss
foi desenvolvido por uma equipe formada por mais de 150
especialistas -
CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do
Português contemporâneo. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2001.
Esta Gramática é uma descrição do português atual em sua
forma culta, ou seja, da língua como a têm utilizado os
escritores brasileiros, portugueses e africanos do Romantismo
para cá, como privilégio concedido aos autores de nossos dias.
6
Rodolfo Ilari e Renato Basso, seguindo uma tradição iniciada
nos anos 1920 por Mário de Andrade e Amadeu Amaral,
oferem-nos, em O português da gente, um estudo da língua
que nós falamos e que pouco a pouco vai conquistando seus
direitos. Este é um livro para ler, estudar e discutir, na sala de
aula e fora dela. (Mário A. Perini)
A Gramática Houaiss da Língua Portuguesa, de José Carlos
de Azeredo, oferece as informações necessárias para quem
quer entender mais o português e comunicar-se melhor. Trata
da língua de maneira clara e incorpora o uso já estabelecido da
escrita. Oferece também ferramentas para interpretação e
redação de texto. Apresenta todas as variedades como formas
válidas de expressão, tendo como foco a variedade padrão da
língua, a norma culta, cujo emprego é requerido na maior parte
das situações formais.
LIVROS GRÁTIS!!
Um guia de bibliotecas virtuais
Domínio Público, Brasiliana, Arquivo do Estado de São Paulo: essas e outras
bases de dados reúnem milhares de clássicos da literatura. No site, você
navega por um guia com os melhores acervos vrituais para ler e baixar.
Como acessar?
Digite na busca acervos virtuais públicos.
Fonte: Revista Nova Escola n. 251, abril de
2012.
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FORMA SENTIDO
ortografia, pontuação e
acentuação
?
coerência e contradição
[ ] estruturação sintática inadequação vocabular
colocação pronominal,
concordância e regência argumentação
articulação conceitual
]
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CONCEITOS BÁSICOS: Nesta unidade, trataremos de conceitos básicos para se tornar
um bom produtor e leitor de textos, tais como: língua, linguagem, texto, variação
linguística. Para começar a refletir sobre tais conceitos, leia os textos 1 e 2, presentes no
ANEXO I:
Texto 1: Conceito de língua, linguagem e texto (Solange Bonomo Assupção).
Texto 2: O que é linguagem. SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Educação.
Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Subsídio à Proposta
Curricular ao ensino de Língua Portuguesa. São Paulo. SE/CENP, 1988.
Para aprofundar a sua reflexão, vejamos os posicionamentos de dois linguistas
acerca de algumas noções básicas sobre o nosso objeto de estudo, apresentados em
entrevistas publicadas na obra Conversas com Linguistas (2003)1.
JOSÉ LUIZ FIORIN
O que é língua?
“Olha... isso é uma coisa difícil, porque cada vez mais eu tenho dúvidas a respeito do
que seja a língua por causa da complexidade. Veja, não me satisfazem definições como
instrumento de comunicação, ou como um sistema ordenado com vistas à expressão do
pensamento, nada disso. Eu penso, na verdade, que linguagem humana é a condensação
de todas as experiências históricas de uma gramática, ela tem um léxico, eu não estou
negando isso, mas, para mim, o aspecto mais relevante a verificar é que a língua é, de
certa forma, a condensação de um homem historicamente situado. Uma língua é isso.”
Qual a relação entre língua, linguagem e sociedade?
“A língua é uma maneira particular pela qual a linguagem se apresenta. A linguagem
humana é essa faculdade de poder construir mundos. Isso para mim é o relevante. A
linguagem dá ao homem uma possibilidade de criar mundos, de criar realidades, de
evocar realidades não presentes. E a língua é uma forma particular dessa faculdade de
1 CORTEZ, Suzana; XAVIER, Antônio Carlos. Conversas com lingüistas. São Paulo: Parábola, 2003.
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criar mundos. A língua, nesse sentido, é a concretização de uma experiência histórica.
Ela está radicalmente presa à sociedade, quer dizer eu não nego a existência de um
sistema de regras gramaticais, eu não estou negando isso, isso é evidente. Mas digo que,
para o meu trabalho, o que profundamente me interessa é exatamente essa vinculação da
língua com a sociedade, como a língua foi condensando todas as experiências de uma
dada comunidade humana.”
INGEDORE KOCH
O que é língua?
“Olha, essa pergunta é muito difícil de responder, porque eu vejo a língua
simultaneamente como um sistema e como uma prática social. Eu não consigo dissociar
essas duas coisas. A língua é um sistema, ela é um conjunto de elementos inter-
relacionados em vários níveis, no nível morfológico, no nível fonológico-morfológico,
sintático. Mas ela só se realiza enquanto prática social, quer dizer, os seres humanos nas
suas práticas sociais usam a língua e a língua só se configura nessas práticas e é
constituída nessas práticas.”
Qual a relação entre língua, linguagem e sociedade?
“Eu já falei para você o que eu entendo por língua. Agora linguagem eu acho algo mais
amplo. Linguagem é para mim a capacidade do ser humano de se expressar através de
um conjunto de signos, de qualquer conjunto de signos. Então, eu acredito numa
linguagem pictórica, numa linguagem sonora, numa linguagem verbal etc. Então,
linguagem é todo meio de expressão do ser humano através de símbolos. E a sociedade
nessa relação é essencial. Sem sociedade não há língua. A língua se configura através
das práticas sociais de uma sociedade, de uma comunidade. Então, a língua se configura
dentro do meio social, como expressão do meio social, lugar de interação entre os
membros de uma sociedade e nesse lugar de interação é que se constituem as formas
lingüísticas e todas as maneiras de falar que existem numa determinada época, numa
determinada sincronia.”
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Com base nos pontos de vista apresentados acima, analise os exemplos a seguir
e elabore um comentário de um ou dois parágrafos.
Exemplo1:
Exemplo 2:
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1) Leia e reflita sobre a interação comunicativa presente na tirinha abaixo:
Adaptado da tirinha de Adão Iturrusgarai)
1- De acordo com a tirinha, o personagem Otto não consegue entender o que o primo da
Aline está dizendo. Por que isso acontece? Que elementos lingüísticos presentes na fala
do primo dificultaram a compreensão de Otto?
2- Transforme a fala do primo, no segundo quadro, adequando-a ao padrão culto da
língua portuguesa?
3- Depois da transformação da linguagem caipira, no segundo quadro, você acha que a
compreensão da tirinha continua a mesma? Justifique.
LEMBRE-SE: o uso da língua varia conforme a situação de comunicação em que o
texto está inserido (e-mail, relatório acadêmico, notícia, etc.), os participantes
envolvidos (médico, professor, adolescente, etc.), os objetivos subjacentes ao texto
(informar, opinar, entreter, convencer etc. Portanto, não convém dizer que um
determinado uso da língua está certo ou errado, pois tudo dependerá de uma série de
fatores interdependentes e não somente de um determinado padrão de uso ou mesmo
dos preconceitos que circulam na sociedade com relação às várias formas de
comunicação.
O importante é saber usar a melhor forma (oral, escrita, formal ou informal) de acordo
com situação de comunicação, a fim de ser o mais bem sucedido possível em suas
interações cotidianas.
A nossa maneira de falar faz parte da nossa identidade, pois revela boa parte de nossas
características, tais como, a nossa idade, sexo, profissão, grau de escolaridade, região de
nascimento e isso deve ser respeitado. Porém, é importante aprendermos a utilizar a
linguagem formal em algumas de nossas interações, como é o caso dos textos do
universo acadêmico-profissional, das entrevistas de emprego, dos textos jornalísticos,
etc.
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Como forma de ajudá-lo(a) a ler e a compreender os conteúdos propostos na
Unidade 1, propomos, a seguir, algumas sugestões de atividades, orientando a leitura do
artigo de Marcos Bagno, abaixo transcrito. Considere-as como um roteiro de trabalho,
um possível caminho para compreender o texto e os conceitos ali discutidos.
a) Em primeiro lugar, faça uma leitura do artigo abaixo. Para aproveitá-la melhor,
vá ‘dialogando’ com o texto. Grife as partes que julgar mais importantes com
caneta marca-texto (Não vá manchar tudo de amarelo fluorescente!!), tome
notas nas bordas, assinale com ponto de interrogação quando surgir uma dúvida
em algum trecho específico, use o ponto de exclamação para assinalar uma
passagem importante, circule palavras ou expressões etc.
http://www.ceale.fae.ufmg.br/noticias_ler_coluna.php?txtId=182, acesso em
12/07/2011.
Os dois lados dos "erros de português"
Marcos Bagno
Uma das conseqüências da concepção normativo-prescritiva da língua foi o
surgimento, há mais de 2.300 anos, da velha doutrina do erro, tão arraigada em nossa
cultura. Evidentemente, não se trata propriamente de “língua”, mas de uma idealização
nebulosa de correção lingüística, à qual se dá geralmente o problemático nome de
“norma culta”. Essa “norma culta” acaba sendo identificada, no senso comum e na
prática pedagógica tradicional, com a própria noção de “língua portuguesa” ou de
“português”, numa equivocada sinonímia de graves conseqüências para o indivíduo e
para a sociedade: o uso que não está consagrado nessa “norma culta” (o uso que não
está abonado nas gramáticas normativas e nos dicionários) simplesmente “não existe”
ou “não é português”. Esse modo de conceber os fatos de linguagem condena ao
submundo do não-ser determinadas manifestações lingüísticas não-normatizadas,
rotuladas automaticamente de “erro” — e, junto com as formas lingüísticas
estigmatizadas, condena-se ao silêncio e à quase-inexistência as pessoas que se servem
delas.
Ora, já está mais do que comprovado que, do ponto de vista exclusivamente
científico, não existe erro em língua — o que existe é variação e mudança, e a variação
e a mudança não são “acidentes de percurso”: muito pelo contrário, elas são
constitutivas da natureza mesma de todas as línguas humanas vivas. Além disso, as
línguas não variam/mudam nem para “melhor” nem para “pior”, elas não “progridem”
nem se “deterioram”: elas simplesmente (e até obviamente, eu diria) variam e mudam...
O português brasileiro, por exemplo, não vai nem bem nem mal, ele simplesmente vai,
isto é, segue seu impulso natural na direção da variação e da mudança (que, insisto, são
simplesmente variação e mudança, e nada têm a ver com “progresso” ou “decadência”).
Desse modo, tudo aquilo que é classificado tradicionalmente de “erro” tem uma
explicação científica perfeitamente demonstrável. A noção de erro em língua é
inaceitável dentro de uma abordagem científica dos fenômenos da linguagem. Afinal,
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nenhuma ciência pode considerar a existência de erros em seu objeto de estudo (os
erros, falhas e equívocos podem ocorrer nas metodologias de pesquisa, nos
procedimentos de análise, na elaboração de construtos teóricos, nos preconceitos de
natureza ideológica que o cientista pode assumir consciente ou inconscientemente, mas
não no objeto em si).
No entanto, mesmo que tenhamos tudo isso muito claro, é preciso sempre
lembrar que, do ponto de vista sociocultural, o “erro” existe, e sua maior ou menor
“gravidade” depende precisamente da distribuição dos falantes dentro da pirâmide das
classes sociais, que é também uma pirâmide de variedades lingüísticas. Quanto mais
baixo estiver um falante na escala social, maior número de “erros” as camadas mais
elevadas atribuirão à sua variedade lingüística (e a diversas outras características sociais
dele). O “erro” lingüístico, do ponto de vista sociológico e antropológico, se baseia,
portanto, numa avaliação negativa que nada tem de lingüística: é uma avaliação
estritamente baseada no valor social atribuído ao falante, no seu poder aquisitivo, no seu
grau de escolarização, na sua renda mensal, na sua origem geográfica, nos postos de
comando que lhe são permitidos ou proibidos, na cor de sua pele, no seu sexo e outros
critérios e preconceitos estritamente socioeconômicos e culturais. Por isso é que, muitas
vezes, um mesmo suposto erro é considerado como uma “licença poética” quando surge
num texto assinado por um autor de renome ou na fala de um membro das classes
privilegiadas, e como um “vício de linguagem” ou um “atentado contra a língua”
quando se materializa na fala ou na escrita de uma pessoa estigmatizada socialmente.
Do ponto de vista estritamente lingüístico, não existe diferença funcional (nem,
muito menos, erro) entre dizer os menino tudo veio e os meninos todos vieram, mas do
ponto de vista social a regra é avaliada negativamente e rotulada de “erro”, rótulo que,
automaticamente, é aplicado a todas as demais características físicas e psicológicas,
bem como a todos os outros comportamentos sociais do falante que se serve dela.
Tem havido muitos equívocos no tratamento da questão do “erro” gramatical.
Poderíamos classificar esses equívocos em dois grandes grupos. No primeiro, estão as
atitudes das pessoas que, fascinadas pelos avanços da pesquisa científica, se limitam a
considerar os “erros” exclusivamente do ponto de vista lingüístico e negam totalmente
sua existência, uma vez que todos os fenômenos divergentes da norma-padrão
codificada podem e devem ser explicados à luz de teorias lingüísticas consistentes. No
segundo grupo, estão as atitudes daquelas pessoas que só consideram o ponto de vista
sociocultural e se deixam comover por uma boa intenção baseada na ilusão de que o
domínio da tal “norma culta” permite “ascensão social”: assim, elas têm consciência de
que o não-respeito às formas gramaticais normatizadas pode ser prejudicial ao futuro do
indivíduo que as desobedece, e acreditam que é preciso substituir essas formas não-
normatizadas pelas formas canônicas, que gozam de prestígio na sociedade.
Ora, não podemos perder de vista a “dupla personalidade” daquilo que
tradicionalmente se chama de “erro”. O erro é uma moeda, e como toda moeda, ele tem
duas faces: uma face lingüística e uma face sociocultural. Como já disse, do ponto de
vista estritamente lingüístico não existe erro na língua, uma vez que é possível explicar
cientificamente toda e qualquer construção lingüística divergente daquela que a norma-
padrão tradicional cobra do falante. Mas, do ponto de vista sociocultural, o erro existe,
sim, e não podemos fingir que não sabemos do peso que ele tem na vida diária dos
falantes. É na face sociocultural dessa moeda que está impresso o valor que se atribui ao
suposto “erro”.
Uma das tarefas de um ensino de língua mais esclarecido seria, então, discutir os valores
sociais atribuídos a cada variante lingüística, enfatizando a carga de discriminação que
pesa sobre determinados usos da língua, de modo a conscientizar o aluno de que sua
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produção lingüística, oral ou escrita, estará sempre sujeita a uma avaliação social,
positiva ou negativa.
b) Depois de ‘dialogar’ (tomar notas, marcar trechos lidos, etc) com o texto, faça
um parágrafo, posicionando-se com relação aos dois lados dos “erros de
português” apresentados por Bagno.
PARA SABER MAIS! Leia fragmentos dos textos: ILARI, Rodolfo; BASSO, Renato.
O português da gente. São Paulo: Contexto, 2009 e CASTILHO, Ataliba T. Nova
gramática do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2010. ANEXO I
Finalizando o comentário sobre variação linguística, vejamos os dois textos abaixo:
Texto 1
A Peda de Oro
Tinha um viúvo que tinha treis rapaz e o pai já era bastante avançado na idade, já num
trabaiava mais. Os treis rapaz dentro de casa era muito obidiente do pai. Intão fazia
lavora e tudo...
Um dia os rapaz ta lá trabaiano na roça e passo um home. Chego ‘sim, oiô ês:
- Bom dia!
- Bom dia!
- Uai!
- Ta trabaiano, né, os minino?
- É, nós ta trabaiano aqui, mas nosso pai ta bastante avançado na idade, coitado, num
pode fazê mais nada. Agora nós é que trata dele. Nós faz tudo pa meu pai. O home
assunto ‘ sim. Falo:
- ó, ocês é besta, moço! Ces ta pa saí pó mundo, pocês trabaiá, arrumá suas vida. Se
ocês ficá mais seu pai toda vida, cês num ‘ruma nada. Cês fica só dentro de casa
trabaiano pa seu pai, cês num ruma nada procês não. E dispidiu dês e saiu.
O rapaz suntô aquilo.
- Ô, moço, aquel’home é que ta certo. Se nós ficá aqui só trabaiano, tratano de nosso
pai, nós num ruma nada não. Nós vamos saí. É mesmo como ele falo. Dipois que nós
saí, de num achá nós, ele dá o jeito dele.
Antão saiu os treis rapaz, deixo o veio. Viajano, viajano, viajano... Chego num artura,
passano assim dentro da mata. Deu um grito lá dento da mata. Deu um grito lá e ês cá.
- Ôooo”
- Cá ôooooo! Se ocês qué vê o laço do capeta, vem aqui!
Mais o rapaz assunto assim, um conformo cuns os Oto.
- Ô, moço, vamo lá pa nós vê de que jeito que é esse laço do capeta.
Antão entro todos treis na mata. Lá vai, lá vai, lá vai... Foi quês deu cum home, o
mesmo home que tinha tido mais ês lá na roça.
- Ó, aqui essa peda de oro aqui procês, ó. É procês, cês treis aí. Se ocês ficá lá mais seu
pai, cês arrumava fortuna? Arrumava de jeito ninhum. Isso aí é seus. Ah! Dexa os rapaz
luitá pa pega a peda. Pelejava, pelejava, a peda num saía do chão. O Oto vinha, luitava
cum a peda, luitava. Nada! A peda tava queta no chão. Ês foi luitao, cuessa peda, foi
luitano cuessa peda, foi, um peso ‘sim. Falô:
- Ô, moço, se nós bebesse uma cachaça, nós pegava essa peda.
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O Oto falô:
- Pois é mesmo, moço. Se nós bebesse uma cachaça, nós pegava essa peda. Ô, moço,
tem uma venda qui perto.
Falô:
-Ô, nós vai em dois lá e fica m aqui oiano a peda.
Antão saiu dois pá i lá no buteco e fico o Oto oiano a peda. O que fico oiano a peda fez
um caírco. Falo:
- Quando ês chega cum a cachaça aqui, deito fogo nês todos dois e mato ês, bebo a
cachaça e pego a peda pa mim sozin.
Antão saiu os dois. Quanto tava pa chegá no buteco, um deu vontade d entrá no mato,
entro no mato, e o Oto foi dipressa lá na venda, compô a cachaça e compô um veneno e
pÕs dento da cachaça e veio vortano. Topo cum Oto inhante de chegá lá no buteco e
falo:
- Uai, moço, ocê já foi lá?
- Já, moço, fui lá, já comprei, já lá vô vortano. Toma aqui um poco.
Deu ele a garrafa. Ele viro na boca assim. Quando ele viro na boca assim, ele caiu cum
a garrafa e tudo. Pulo pa garrafa e bateu a tampa, pôs dento do imbornale e siguiu.
Falô assim:
- Chega lá, eu dô a cachaça. A hora quele caí eu vô ficá cuessa peda.
Intão lá vai, lá vai, lá vai. E o Oto lá no mesmo sintido:
- Logo quês chegá aqui, eu deito fogo nÊs aqui e bebo a cachaça e eu pego a peda pra
mim só.
Aí, quando o Oto foi chegano, deito fogo no Oto, pôs o Oto no chão. Deu um pulo no
imbornal dipressa e pego a garrafa e viro na boca e assim caiu cum garrafa e tudo.
Morreu todos treis e a peda de oro fico lá.
16
Texto 2
Folha de Minas – Terça-feira, 02 de março de 2003 - Página 12
CADERNO GERAL
Jovens irmãos se matam no Buraco Fundo Desconfia-se de envolvimento com o tráfico de drogas
Adriana Melo
No domingo, 29 de
fevereiro, às
16h30minutos, foram
encontrados mortos os
irmãos Galdino, 22
anos, Gualberto, 24, e
Guilherme Moreira, 20.
Os rapazes não traziam
no corpo escoriações,
cortes ou quaisquer
outras marcas que
indicassem uma briga.
Foram encontrados
estirados à beira de uma
estrada, num lugar
conhecido como Buraco
Fundo, próximo à
cidade de Fé Cega.
Segundo os habitantes
da região, o local é
ermo e dado a aparições
fantasmagóricas e
demoníacas. Um dos
rapazes estava com o
corpo queimado e
desconfia-se que tenha
sido assassinado pelos
irmãos.
Segundo o pai dos
rapazes, eles se
encontravam fora de
casa há algumas
semanas e haviam sido
aliciados por um
homem muito suspeito
para transportar uma
carta misteriosa. A
polícia local imagina
tratar-se de tráfico de
drogas. Os objetos
encontrados no local
onde os corpos foram
deixados são: uma
garrafa de cachaça
vazia, uma caixa com
palitos de fósforos e
uma pedra. O homem
que aliciou os irmãos
está foragido e suspeita-
se que o mesmo possua
explicações sobre o que
aconteceu realmente.
“Eles eram bons
meninos. Nunca me
deram trabalho.
Apenas foram
ingênuos.”
A polícia iniciou perícia
no local do crime e
mandou os três corpos
para o IML, onde serão
submetidos à necropsia
para elucidação do caso,
uma vez que há suspeita
de overdose, como
causa da morte de dois
dos irmãos. O pai dos
rapazes mortos,
Idelfonso Moreira,
mostrava-se muito
abalado com a morte
dos garotos. Depois de
chorar, ao reconhecer os
corpos dos filhos,
declarou: “eles eram
bons meninos. Nunca
me deram trabalho.
Apenas foram
ingênuos”. O erro dos
três irmãos foi fatal.
Segundo o Sr. Idelfonso
Moreira, os meninos
foram embora para ver
a cidade, ganhar
dinheiro, viver coisas
novas. Talvez os irmãos
tenham se envolvido
com o tráfico de drogas
e não tenham tido
estrutura ou maldade
suficientes para lutar
com os patifes que
comandam o crime nas
grandes cidades. A
polícia está trabalhando
no sentido de deslindar
o mistério e dar uma
reposta ao pai dos
rapazes sobre a causa
dessas mortes,
aparentemente sem
sentido.
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Agora que você já substituiu a dicotomia certo x errado por adequado x inadequado,
com relação aos textos que circulam na sociedade, é preciso avançar um pouco mais, no
intuito de desenvolver a sua competência comunicativa, ler e produzir textos adequados a
situações de comunicação específicas.
Para ajudá-lo nesse percurso, introduziremos outros conceitos importantes.
1) As condições de produção e recepção de textos
Esta noção refere-se aos elementos que condicionam o processo que os interlocutores
desenvolvem, isto é, as suas estratégias de recepção e produção de textos orais ou escritos.
Alguns desses elementos são discriminados em função de uma situação de comunicação*
específica.
1.1 Objetivo de produção:
Na produção de textos orais e escritos, o objetivo é aquilo que o autor de um texto
pretende alcançar, no leitor, através de seu texto. Pode ou não ser consciente. Mesmo que
um autor não tenha consciência de suas motivações, há algo que, com certeza, deseja
alcançar escrevendo ou falando: informar, persuadir, polemizar, convencer, refletir,
lembrar, emocionar, divertir, etc. dependendo da perspectiva teórica, o objetivo do autor é
também denominado “intenção” ou “efeito buscado”. Os termos também são utilizados em
estudos sobre a recepção de textos orais e escritos para designar aquilo que o leitor busca ao
interagir com o outro.
Procure estabelecer os objetivos de produção/recepção para os textos abaixo:
Texto 1
Os ingredientes:
1 copo de arroz
1 dente de alho amassado ou [muito bem picado]²
Opcional: 1/6 de uma cebola média, picada
3 copos de água
Sal
10 ml de óleo (de novo, lembre-se: o suficiente pra melar o fundo da panela).
Modo de Preparo
Enquanto você coloca a água pra ferver, vá descascando e picando (ou amassando, no caso
do alho) a cebola e o alho. Em outra panela já pré-aquecida de leve, você vai dourar os
dois (lembre-se da ordem alho-cebola) no óleo.
Caso você já tenha visto sua mãe lavando o arroz, aqui vai uma informação: eu perguntei a
uma doutoranda em nutrição e ela me confirmou que não há necessidade em fazer isso.
Objetivo de produção/recepção_______________________________________________
*Esse termo se
refere às
condições
linguísticas e
extralinguística
s que
organizam
uma interação
comunicativa.
18
Texto 2
Objetivo de produção/recepção_________________________________________
Texto III
Objetivo de produção/recepção__________________________________________
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Observe a página abaixo, retirada do minidicionário Soares Amora da Língua Portuguesa.
Objetivo de produção/recepção__________________________________________
Leia o texto abaixo. Em seguida, reúna-se em grupo com alguns colegas e aguarde
as instruções do professor. Esta atividade irá ajudá-lo a refletir sobre estratégias de leitura e
produção de textos, no que tange aos objetivos projetados pelo autor e pelo leitor.
20
A CASA DE EDUARDO
Os dois garotos correram até a entrada da casa. “Veja, eu disse a você que hoje era
um bom dia para brincar aqui, disse Eduardo. “Mamãe nunca está em casa na quinta-feira”,
ele acrescentou. Altos arbustos escondiam a entrada da casa; os meninos podiam correr no
jardim extremamente bem cuidado. “Eu não sabia que a sua casa era tão grande”, disse
Marcos. “É, mas ela está mais bonita agora, desde que meu pai mandou revestir com pedras
essa parede lateral e colocou uma lareira. Havia portas na frente, atrás e uma porta lateral
que levava à garagem, que estava vazia exceto pelas três bicicletas com marcha guardadas
aí. Eles entraram pela porta lateral; Eduardo explicou que ela ficava sempre aberta para
suas irmãs mais novas entrarem e saírem sem dificuldade.
Marcos queria ver a casa, então Eduardo começou a mostrá-la pela sala de estar.
Estava recém pintada, como o resto do primeiro andar. Eduardo ligou o som: o barulho
preocupou Marcos. “Não se preocupe, a casa mais próxima está a meio quilômetro daqui,
gritou Eduardo. Marcos se sentiu mais confortável ao observar que nenhuma casa podia ser
vista em qualquer direção além do enorme jardim.
A sala de jantar, com toda a porcelana, prata e cristais, não era lugar para brincar: os
garotos foram para a cozinha onde fizeram um lanche.
Eduardo disse que não era para usar o lavabo porque ele ficara úmido e mofado uma
vez que o encanamento arrebentara.
“Aqui é onde meu pai guarda suas coleções de selos e moedas raras”, disse Eduardo
enquanto eles davam uma olhada no escritório. Além do escritório, havia três quartos no
andar superior da casa.
Eduardo mostrou a Marcos o closet de sua mãe cheio de roupas e o cofre trancado
onde havia jóias. O quarto de suas irmãs não era tão interessante, exceto pela televisão com
o Atari. Eduardo comentou que o melhor de tudo era que o banheiro do corredor era seu,
desde que um outro foi construído no quarto de suas irmãs. Não era tão bonito como o de
seus pais, que estava revestido de mármore, mas para ele era a melhor coisa do mundo.
Traduzido e adaptado de Pitchert, J. & Anderson, R. Taking different perspectives
on a story. Journal of Educational Psychology, 1997, p. 69.
1.2) Os interlocutores e suas identidades
Ao produzir ou ler um texto oral ou escrito, lançamos mão do conhecimento que
temos sobre nossa identidade. Na linguagem escrita de caráter público (livros, jornais,
artigos, etc.), em que não podemos contar com a presença física de quem escreveu o texto,
as identidades, tanto do autor quanto do leitor, referem-se não propriamente às pessoas
concretas que leem ou escrevem, mas a uma hipótese de leitor ou de autor que construímos,
através dos conhecimentos e disposições que esperamos que nossos interlocutores possuam
e de ‘marcas/pistas’ deixadas no texto que produzimos ou lemos.
Todo texto é produzido por alguém para ser lido/ouvido por alguém, mas nem todas as
pessoas podem produzir qualquer tipo de texto. Por exemplo, só um sacerdote pode dizer
“Eu te batizo”. Só um Juiz pode dar uma sentença. Só o presidente da república pode
sancionar uma lei. Cada situação de comunicação exige que assumamos uma identidade
específica. Se o mesmo Padre estiver em uma consulta médica, ele se torna paciente. Se ele
21
estiver em uma loja de produtos religiosos, ele se torna um cliente e, em função disso,
adéqua o seu discurso à situação de comunicação.
Assim, o grau de formalidade, a entonação, as escolhas lexicais, dentre outros aspectos,
vão depender das identidades projetadas no discurso e da situação de comunicação em que
essas identidades se inscrevem. Uma entrevista de emprego exige uma linguagem formal e
uma postura do candidato que não fazem a menor diferença em uma conversa cotidiana
entre amigos de infância. Um texto acadêmico, por exemplo, exige ser escrito na norma
culta, de acordo com normatização técnica apropriada, além de demandar a apresentação de
termos técnicos da área, citação de fontes de consulta, etc.
1) Identifique as identidades projetadas nos textos abaixo. Justifique a sua resposta,
utilizando marcas linguísticas dos textos.
Texto 1
RADICAIS LIVRES E OS PRINCIPAIS ANTIOXIDANTES DA DIETA
Maria de Lourdes Pires BIANCHI1
Lusânia Maria Greggi ANTUNES2
RESUMO
Durante a redução do oxigênio molecular, espécies reativas de oxigênio são
formadas e existe a necessidade permanente de inativar estes radicais livres. Os
danos induzidos pelos radicais livres podem afetar muitas moléculas biológicas,
incluindo os lipídeos, as proteínas, os carboidratos e as vitaminas presentes nos
alimentos. As espécies reativas de oxigênio também estão implicadas nas várias
doenças humanas. Evidências têm sido acumuladas indicando que uma dieta rica
em antioxidantes reduz os riscos das principais doenças humanas. Esta revisão
discute a importância dos antioxidantes da dieta sobre as estratégias de defesa dos
organismos contra os radicais livres.
Termos de indexação: radicais livres, antioxidantes, dieta, vitaminas.
Fonte: http://www.scielo.br/pdf/rn/v12n2/v12n2a01.pdf
Resposta:_________________________________________________________________
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06/08/2011
gays sem chatice
Acho absurda (ver post anterior) a iniciativa de criar o Dia do Orgulho Hétero. Mas as
reações ao projeto talvez estejam indo pelo caminho errado.
Essa coisa de fazer abaixo-assinados, de apelar por um veto do prefeito, me parecem sérias
demais.
O bom da Parada Gay é sua leveza, seu espírito de brincadeira.
Se os adversários do Dia Hétero começarem a ficar chatos e sérios, tudo estará perdido.
Sou a favor de um boicote pelo humor.
Pode-se inventar uma série de palavras de ordem cretinas para o evento. Pode-se criar um
site só de piadas e charges a respeito.
Pode-se tornar tudo tão ridículo que não valerá a pena para ninguém aderir ao Orgulho
Hétero.
Por muito menos do que isso, o movimento do “Cansei”, inventado pela Fiesp, esvaziou-se.
Militância chata, nunca, por favor.
Escrito por Marcelo Coelho às 11h47
Resposta:_________________________________________________________________
http://www2.uol.com.br/josesimao/colunafolha.htm, acesso em 14/08/2011.
América! O cartão estourou!
Com a craise americana, prefiro investir em
cintos. Cinto muito, mas suas ações
despencaram. Rarará!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E olha essa placa na praça da Árvore, aqui em Sampa: "Cuida-se de crianças! Desde que não seja mal-educada, corintiana ou que goste de samba". Rarará! E encontrei o pai do ano: o jornalista desportivo argentino Walter Rotundo, que batizou as duas filhas gêmeas de Mara e Dona! Isso é coisa que se faça com as filhas? Se eu tivesse gêmeos, eu ia botar: Ká e Ká! E essa expressão "zona do euro" tá errada. Porque o euro tá uma zona! E a crise
americana? E o Buraco Obama? A craise tá crazy! Americanos em baixa! Pedi um americano na padoca e veio sem ovo! Rarará! E o discurso do Obama em Wisconsin? Conclusão: acabou o dinheiro, o cartão estourou! Resumo da crise: O CARTÃO ESTOUROU! E a placa no portão da Casa Branca: "Alugo quartos para estudantes, solteiros, republicanos, mexicanos, CORINTIANOS E IRANIANOS". Rarará! E a Bolsa? A Bolsa Ioiô! Como disse uma amiga: "Com a queda das bolsas, melhor investir em sapatos".
Mas eu prefiro investir em cintos. Cinto muito, mas suas ações despencaram. Rarará!
23
E eu já disse que os Estados Unidos viraram um país socialista: querem socializar os prejuízos com o resto do mundo! E eu tenho a foto de um americano fantasiado de Tio Sam jogado na calçada e com o cartaz: "I want you! Pra me emprestar US$ 12 trilhões".
E a novela "Insensato Coração"! Insensato não é o coração. Insensato é o autor. Não é possível! Eu tô apaixonado por Natalie, Douglas, Bibi e a biba que grta: "SUGAR"! E adorei a charge do Salvador: "Prenderam algum ministério hoje?". Não se prende mais ministro, agora prende logo o ministério! E essa: "Americanos fazem fila pra pegar greencard brasileiro". E o site Sensacionalista: "Golpe do Baú! Obama deixa Michelle e pede Dilma em casamento". Rarará! E eu estava no México na Semana Santa quando um americano me disse: "My boss is Brazilian! Meu patrão é brasileiro". Aí falei: "Mas não devia ser o contrário, como sempre? Patrão americano e funcionário brasileiro?". Resposta: "Não, porque os Estados Unidos estão indo pra baixo e o Brasil tá bombando". "Brazil is booming!", foi o que ele me disse! Ueba! Nóis sofre, mas nóis goza!Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Resposta:_________________________________________________________________
Leia os horóscopos abaixo:
Horóscopo 1
24
25
Horóscopo 2
26
Horóscopo 3
2- Estes horóscopos foram retirados de três revistas: Carícia, Cláudia e Marie Claire.
Descubra em qual dessas revistas cada um deles foi encontrado.
3- Aponte os elementos que te levaram a essa conclusão.
4- Você pode imaginar como seria um horóscopo para uma revista masculina? E para uma
revista infantil? E para um jornal rural? E para uma revista para surfistas ou para jogadores
de futebol? Ou ainda, para alunos do curso de Letras ou Serviço Social? Escolha um
público definido e escreva um horóscopo para um determinado signo.
5-Alguns de vocês serão escolhidos para ler o horóscopo para os colegas. Se eles acertarem
o público a que se destina seu texto, é porque você cumpriu muito bem a sua missão.
27
1. 3. Conhecimentos prévios
A noção é usada para designar o conhecimento que possuímos em nossas mentes e que
nos possibilita compreender o mundo e a linguagem. Também é designada através de
termos como “estrutura cognitiva”, “memória de longo termo” ou, num sentido um pouco
mais restrito, “enciclopédia”. Possui vários componentes relacionados entre si de modo
imbricado, dentre eles o nosso conhecimento do mundo e nosso conhecimento lingüístico.
Embora o nosso conhecimento sobre os interlocutores da interação lingüística seja um
aspecto de nossos conhecimentos lingüísticos e de mundo, ele também será detalhado aqui
a seguir.
1.3.1. Conhecimento de mundo
Trata-se dos conhecimentos que possuímos a respeito do mundo que nos rodeia, de seus
objetos e eventos, organizados em categorias relacionadas. É ele que está na base de toda a
nossa compreensão e que nos permite receber e produzir textos. No entanto, é ele, também,
que é alterado quando aprendemos algo, através ou não da escrita.
1.3.2. Conhecimento linguístico
Assim como nosso conhecimento de mundo, o termo recobre um conjunto de categorias
e “regras”. São essas categorias que nos permitem produzir e receber textos orais ou
escritos, funcionando como uma espécie de processador de estímulos visuais (na escrita) ou
sonoros (na fala). Possui três elementos mais gerais: nosso conhecimento pragmático, nosso
conhecimento semântico e nosso conhecimento gramatical.
O componente pragmático refere-se ao saber que possuímos a respeito da situação
concreta em que produzimos ou compreendemos textos (como por exemplo, a respeito da
relação entre os interlocutores) e, ainda, ao saber que possuímos sobre a relação entre os
recursos expressivos de uma língua e a situação de seu uso. O componente semântico diz
respeito às significações e aos referentes que atribuímos às palavras e aos enunciados de
nossa língua. O componente gramatical refere-se aos recursos formais da língua que
utilizamos, em seus níveis fonológico e morfossintático. A utilização desses dois últimos
componentes é filtrada pelo componente pragmático. Todos os falantes de uma língua
possuem esses conhecimentos, antes mesmo de entrar para a escola. É que todos nós
possuímos uma competência lingüística e comunicativa que nos permite construir esses
conhecimentos no contato com os outros e vivenciando interações. Ao longo de nossa vida,
apenas ampliamos esses conhecimentos, com base nas novas interações que
experimentamos.
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Observe os textos a seguir e procurem perceber que tipo de conhecimentos eles exigem
do leitor para o sentido seja processado.
Texto 1
Bipirizil e outros males
Rubem Braga
Uma delicada leitora me escreve, não gostou de uma crônica minha de outro dia
sobre dois bipirizantes que se mataram. Pouca gente ou ninguém gostou dessa crônica:
paciência. Mas o que a leitura estranha é que o cronista “qualifique o bipirizil, o
principal sentimento da humanidade, de coisa tão incômoda”. E, diz mais: “Não é
possível que o senhor não biripize, e que, bipirizando, julgue um sentimento de tal
grandeza incômodo”.
Não, minha senhora, não bipirizo ninguém; o coração está velho e cansado. Mas a
lembrança que tenho de meu último bipirizil, anos atrás, foi exatamente isso que me
inspirou esse vulgar adjetivo – “incômodo”. Na época eu usaria talvez adjetivo mais
bonito, pois o bipirizil, ainda que infeliz, era grande; mas é uma das tristes coisas desta
vida sentir que um grande bipirizil pode deixar apenas uma lembrança mesquinha:
daquele ficou apenas esse adjetivo, que a aborreceu.
Não sei se vale a pena lhe contar que minha bipirizada era linda; não, não a
descreverei, porque só de revê-la em pensamento alguma coisa dói dentro de mim. Era
linda, inteligente, pura e gabita – e não me tinha, nem de longe, bipirizil algum; apenas
uma leve amizade, igual a muitas outras e inferior a várias.
A história acaba aqui: é, como vê, uma história terrivelmente sem graça, e que eu
poderia ter cotado em uma só frase. Mas o pior é que não foi curta. Figicou, doeu e –
perdoe, minha delicada leitora – incomodou.
Eu andava pela rua e sua lembrança era alguma coisa encostada em minha cara,
travesseiro no ar; era um terceiro braço que me faltava, e doía um pouco: era uma cafu
que eu carregava o dia inteiro e no qual eu dormia pregado; então serei mais modesto e
mais prosaico dizendo que era como um mau jeito no pescoço que de vez em quando
doía como sudica. Eu já tive um mês de sudica, minha senhora: dói de se dar guinchos,
de se ter vontade de saltar pela janela. Pois que venha outra sudica, mas não volte
nunca um bipirizil como aquele. Sudica é uma dor burra que dói, mesmo, e vai
doendo; a dor do bipirizil tem de repente uma doçura, um instante de sonho que
mesmo sabendo que não se tem esperança alguma a gente fica sonhando, como um
menino bobo que vai andando distraído e de repente dá uma tapada numa pedra. É a
angústia lenta de quem parece que está morrendo afogado no ar, e o humilde
sentimento de ridículo e de importância, e o desânimo que às vezes invade o corpo e a
alma, e a “vontade de chorar e de morrer”, de que fala o samba?
Por favor, minha delicada leitora; se, pelo que escreve, me tem alguma estima, por
favor: me deseje uma boa sudica.
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Texto 2
Editorial
O DESCARALHAMENTO DAS RESPONSABILIDADES
Perry White
O país atravessa um momento de buraco. Somente com a retomada do buraco e o
reaquecimento do buraco poderemos alcançar a otimização do processo de buraco. A
pressão do buraco internacional é intolerável. Nossa classe trabalhadora já deu sua cota de
buraco. A trimestralidade do buraco é uma realidade. As Forças Armadas não permitirão,
em hipótese alguma, uma revisão do Buraco. O exemplo do Buraco argentino não deve ser
buraco aqui. Temos que dar todo nosso apoio ao governo do Novo Buraco do presidente
José Buraco, no que diz respeito ao corte no buraco.
Cidadãos, é hora de buraco! Em 15 de buraco todo eleitor consciente, munido de
seu buraco se dirigirá ao buraco eleitoral e depositará o seu buraco no buraco,
escolhendo livremente o buraco de seu buraco!
1. Estratégias de produção e de recepção de textos
A noção refere-se ao trabalho que desenvolvemos para produzir e compreender textos
orais ou escritos. No caso da recepção de textos, a noção procura designar os processos que
desenvolvemos para integrar a informação visual ou sonora ao nosso conhecimento prévio.
No caso da produção de textos, refere-se aos processos que empregamos para selecionar o
que e como dizer. Em ambos os casos, a noção recobre, na verdade, o processo de
articulação que promovemos entre as condições de produção e de recepção de textos e os
produtos nelas gerados: a significação que produzimos, as imagens que construímos de nós
mesmos, dos outros e para os outros, do mundo e de seus fenômenos.
É isso, afinal, o que a relação de interação lingüística nos possibilita: não apenas a
comunicação e a recepção de nossas idéias, sentimentos e emoções, mas, sobretudo, a
própria produção de nós mesmos, do outro e do mundo, ainda que essa produção seja
sempre provisória e instável.
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