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Internacional Si cionista ras. CASA DA 6PALA

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Internacional Si cionista

ras.

CASA DA 6PALA

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C ; . . I.ydgbt©2003 desta edil5.o, Paola Borenstein Jacques e Casa da Palavra.

Copyright©2003 da tradurao. Estela des Santos Abreu.

Copyright©2003 do prefacio, Carlos Roberto Monteiro de Andrade.

Este livre , publicado no ambito do Programa deApoio a Publicacao. contou coma ajuda do Ministerio

Fr,ll1e~sdas RelaccesExteriores, daEmbaixada da Franca no Brasil e da Maison deFrance no RlOde Janeiro.

c ( ; ~ · ( . l ( 1 r a g e , pllblie d an s I e c ad re d u P ro gr am m e d 'A id e. a I a P u bl ic at io n, h en ef id e d u s c u t i e n du Ministere des

A ff ai re s E tr an ge re s; d e I ' Am ha ss ad e d e F r an ce a u B r es il e t d e l a M qi so n d e F ra nc e d e R i o d e J a ne ir o.

. b ~C~r \ -

~~~"()rrt';l/

~ ~ . ~ ' : . . J L o h l ~ \; . " W 5 , ,~ ~ , Ir~'

~;Tiago Rodrigues de Castro

Or g a n iz a ~ ao e a p re s e nt a ~ ii o

Paola Berenstein Jacques

Traduo io

Estela dos Santos Abreu

Pro je to g r a f ico ( b a s e ado no s boletins o r i g i n a i s )

Ca p a

Tiago Rodrigues de Castro e Paola Berenstein Jacques

Prod l l r ii o ed i t o r ia l

Rua Joaquim Silva,98, 40 andar, Lapa- Rio deJaneiro

CEP 20241~110 [email protected]

www.casadapa lavra .com.br

G A. .- ;A o N A F ON TE ( )O S lN D IC AT O ~ jA Cl ON AL D OS E Dl 'f OR ES n n L IV RO S, n r,

-:-10JI±- -ApoIogla a eriva: escritos situacionistas sobre a cidade I Internacional Situacionisra:

PaolaBerenstein Jacques, orgenizacxo: Estela dos Santos Abreu, traducao. - Riode Janei-

ro:Casa da Palavra, 2003.

160 p" il.; 16 x 23 em.

Inclui bibhografia

ISBN 85-87220-60-8

1. Interriaticnale Situationniste. 2.Arquitetura moderna - Europa - Histcria - SeculoXX.

3. Urbanismo ~Europa - Historic - SeculoXX.4.Radicaiismc - Europa - Historia - Seculo

X X. S . Vanguarda (este tica) - Europa - Historia - Seculo XX .

LJacques, Paola Berenstein, 1968-. II,Internationale Sttuationrriste.

CO D 724.91

(111172.036

SUMARIO

Prefacio Carlos R ob er to M o nt ei ro d e A nd ra de 11

Apresentacao P ao la B er en st ei n J ac qu es 13

ln tr cd uc ao a u rn a crltica d a g eo gr af ia u rb an a Guy -Er n e st D eb o rd , 1955 39

R ela l6 rio s obre a c ons tru cs o de s itu ac oes e so br e as c on dico es d e

o rg an iz ar ;a o e d e a ~a o d a I en de nc ia s it ua ci on is la i nl er na ci on al Guy-Ernes t

Debo r d , 1957 43

C on tr ib uic ao p ar a u ma d ef in i~ ao s il ua ci on is la d e j og o IS, 1958 60

Ques t6e s p re lim ina re s a c on st ru ca o d e u m a s it ua ca o IS, 1958 62

Definir;6es IS, 1958 65

Forrnula rio p ar a u m n ov o u rb an is mo G i l le s I v ai n , 1958 [1953J 67

T ese s so bre a revotucao cultural G u y- E rn e st D e b or d, 1958 72

as s it ua ci on is ta s e a au to rn a t iz a c ao Asger J a m , 1958 74

V en ez a v en ce u R alp h R um ne y IS , 1958 78

Esboco de descricao p si co ge og rM ic a d o L es Halles d e P a ri s

A b d el h af id K h a ti b , 1958 79

Ouesticnario 15 ,1958 85

T eo ri a d a d er iv a G u y- E rn e st D e b or d , 1958 [1956J 87

A p ro po sit o d e n os so s m ei os d e a t; ao e p er sp ec tiv as Cons tant, 1958 92

A de c la r a c ao de Arns te rda C on st an t e G u y- Er ne st D e bo rd , 1958 95

C or re co es p ar a a a do ~a o d os o nz e p on te s d e A ms te rd a 15 ,.1959 97

o g ra nd e jo go d o p or vir Cons tant, 1959 98

o u rb an is mo un ita rio n o tim d os an o s 19 50 15 ,1959 100

R ela to rio d e a be rt ur a d e c o nfe rll nc ia d e M un iq ue Cons tan t,1959 106

P r im e ir a p rc c la r na c 0 d, Il~ 0 I ,o l(m d 0 d · l nt er n ac io n al S i fu a ci on is la

A . Ajhcr t~ . I I , P l I 1 r l l l r l r l , ('/IIINWII! II 1 1 m rlllrll'jrm,'/, 1959 109

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Pos i~ 6ess i t ua c io n is t as a r e spe it o do t ra n s it e G u y- Er ne st D eb o rd , 1 95 9

Du t ra c i dade pa ra ou tr a v id a Cons tan t , 1959 11 4

D i eWe l t a l s L a by ri nt h [ 0 m u nd o c omo L a bi ri nt o] I S, 1 96 0 11B

Teo ri a do s momen to s e const ru cao dass l t u ac ce s IS,1960 121

Dasc ri c ao da zona ama re l a Cons tan t , 1960 123

11 2

Manifesto IS,1960 126

A f ronte i ra s i tuac ion is ta IS, 1960 129

C r ft ic a ao u r ban ismo IS, 1961 13 2

P r og ram a e lem en ta r d o b u re a u d e u rb a ni sm o u n it ar io

A tt il a K ot dn yi e R a ou l V an ei ge m , 1961 13 9

Pe r spe c ti v as de r n cd i ti ca coes consc i en l es na v i da co li d i a na G u y- E rn e st D e b or d ,

1961 14 3

Cornen ta rios con t ra 0 urbanismo R a o ul V a ne ig e m , 1961 15 3

S e le ~ ao b ib li og ra fi ca 1 5 9

PREFAclO

Cidadaos de todos os paises, der ivem! Dissolvam as fronteiras e destruam os

muros de todos os tipos, das prisoes e asilos aos condominios residcnciais fe-

chados, dos shopping centers aos conjuntos habitacionais modernosl

Essas sao as palavras de ordem s itus ainda atuais, para aomenos justificar a

publicacao desta antologia de textos situacionistas sobre a cidadc, mas tam-

bern sobre a arquitetura, a vida cotidiana, a pratica coletiva da criacao artistica,

o exercicio de novos modos de fruicao dos espa~os urbanos, visando deforrna-

los (uso aqui um dos sent idos que c re io ser possive l a tribu ir ao termo s itu

" de tournemen t" , alern de desvio, que e sua r.raducao literal).

A Internacional Situacionista (IS) buscava a constituicao de novas

territorialidades que resgatassem as multiplas farmas de nomadismo que as

cidades modemas foram progressivamente esquadrinhando, restringindo, fi-

xando e confinando, com 0 fim de aniquila-las por completo.

"Ancestrais desejos n6mades irrompem", nos lembra Jack London, e os par-

tic ipantes da ISencarnavam tais desejos e proclamavam a deriva como modo

de subversao da cidade, de seus direitos e de suas ideologias, dentre elas0ur-

banismo. Que tambem e pratica etanto molda asformas de sociabilidade quanta

configura a paisagem das cidades, regioes e paises.

Radicalmente contraria ao funcionalismo abstrato da urbanistica da "Carta

deArenas", a ISpretendia novos meios deapropriacao da cidade, conformando 0

territorio atraves da participacao ativa dos seus habitantes. Aolade de suadi -

men sao revolucionaria, as textos da ISsobre a cidade, lidos hoje, nolimiar deurn

novo seculo, sequer nos parecern utopicos, mas sim anunciadores da cidade-

espetaculo. Alem decidade-maquina, como queriam LeCorbusier eseus epigonos,

cidade-midia, cujo controle dos fluxos e cada vez mais determinado pelas redes

eletr6nicas eo territorio urbano transforma-se em pura virtualidade.

A deriva situacionista e tambern uma viagem alucinogena, it maneira da-

quela realizada par ianornamis sorvendo cipos e raizes em plena selvatiqueza,

que nao e euclidiana e tampouco ruskiniana, mas muito mais primeva ... em

busca da terra sem mal, construindo situacoes,

Assim, derivemos por esses textos etambem por nossas cidades. Quem sabe

descubramos e forjemos outros territories, sem a segregacao que conforma os

atuais, sob 0 signo da urbs .

C a rl os R o be rt o M o nt ei ro d e A n dr ad eArqu l t 10 I Ic l6 lo go , d il ut or a m a rq ui te tu ra e u rb an ls mo p el a U nl ve rs ld ad e d e Sao

Pou lo , i 1 " o r O ~ o g r d o I ~ o ol ~ d o E ng on ll or lo d e 5 50 C ar lo d a U nl vo rs ld ad c d o S il o P au lo ,

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1 . 1 : 1 : "0 T AM s ab qu a t i r an ia do consenso car tesi ano chegou a sua ult ima

fnsr.";bf le tambem pels propria localizacao do coloquio de 1949, Bergamo, um a

ldade histor ie s i ta li ana, que inf luenciou na escolha do tema do coloquio se-

guinte, The H ea rt o f t he Ci ty , organizado pelos ingleses em Hoddeson em 1951

(ClAM VIII). 0 oitavo encontro marcou 0 inicio de uma nova fase no CIAM:600

p redomin io da nova geracao dearquit etos modemos no lugar da "ve lha guar-

da", Esse coloquio inovou exatamente pela escolha do tema a ser debatido, 0

entro das cidades, em grande parte destruidos durante a guerra, 0que impos

um quest ionamento sabre a que fazer com 0que restou desses centres histori-

cos, au seja, sobre a questao do patrimonio urbano, das preexis tencias, temas

que as arquitetos modemos nao costumavam discutir. A questao do pedestre

tambern foi levantada, demonstrando um pequeno interesse pelo usuario das

cidades, 0 que tambern nao e ra tema de debates uma vez que a te entao se bus-

cava urn ideal de homem modemo (Modu lo r ) e se menosprezava 0 habitante

real.

Mas foi sono coloquio seguinte, emAix-en-Provence em 1953 (ClAM IX),61

que 0Team X seIorrnou e apareceu de forma mais abertamente cri tica, sobre-

tudo atraves da apresentacao das ideias do casal Ingles Alison e Peter Smithson:

Urban Reidenriiionion. Nesse projeto ernblematico osingleses atacaram a sepa-

racao defuncocs da Car ta deAtenas epropuse ram a sua subst itui cao por uma

hierarquia de associacoes humanas e uma nova reidentificacao urbana. 0 inte-

ressante a notar nesse projeto e que pela primeira vez no ClAMapareceram, de

forma explici ta, fotografias de pessoas reais , no caso habitantes de s l ums (cor-

t icos e favelas) de Londres , fotografados por Nigel Henderson, colega do casal

Smithson do T he I nd ep en de nt G ro up londrino, ligado ao ICAeaos situaciomstas.

Os Smithsons costumavam dizer que na Car ta deAtenas "0que faltava era 0

homem" .

Foi a par ti r desse momenta que 0 Team X surgiu de fato, colocando 0 ho-

mem real no lugar dohomem ideal (Modulor) , de LeCorbusier e da" velha guar-

da ",e asquestoes das diferencas individuais passaram a ser estudadas em prol

do coletivo ideal modemo. 0grupo, heterogeneo e eclet ico mas com a convic-

yao comum de ir contra a Carta de Atenas, era formado por ingleses, holande-

ses e tarnbem por um grupo de arquiteto s que tr abalhou no Marr ocos e na

Argelia, estudando a arquitetura vernacula da Cas bah .

Em seguida, a dominacao da nova gera~ao foi to ta l, e 0 ClAMX, de 1956,

tentou, scm sucesso, redigir uma Carta do Habitat , para subst ituir ou comple-

menta r a Carta de Atenas: "es ta c la ro que 0 conteudo da Carta deAtenas nao

s rvc mais como inst rurnento para 0 desenvolvimento criativo", Le Corbusier,

npCA~ de t r hamado Sill mbros do TeamX de L e s e m m e rd e ur s [Os chatos],

' m c nr rn . ( Hz :" In novn g t 'r r I\ ~ .o l C a u ni a c apa z de s ntir OH prob lemas a t u a i s . ;

eles estao por dentro. Seus predecessores nao; estao por fora".A partir do mo-

mento em que secomecou a tratar de questoes de singularidade e diversidade,

ficou cada vez mais dificil criar novas doutrinas genericas e intemacionalmen-

te operacionais como a Car ta deAtenas e os proprios ClAMs. Assim, na ultima

reuniao dos modemos em Otter loo, em 1959, foi dec re tado 0 fim ofidal do

movimento rnoderno em arquitetura.

Em termos bern ger ais, o s dois grupos - Team Xe Situacion istas - cada

qual it sua maneira, propunham ideias semelhantes: a ideia decolagem, demis-

tura e de diversidade contra 0 excesso de racionalidade e funcionalidade mo-

demas, e contra a separacao de funcoes (zoning) . Contra a general idade, a

impessoalidade, simbolizadas pelo Modu lo r corbusiano e pela ideia de Tabula

Rasa, eles propunham a busca de identidades , da individualidade e da divers i-

dade, sobretudo das pessoas comuns e reais das ruas das cidades existentes.

Cont ra a homogeneidade e s impl ic idade ideai s modemas, el es propunham a

hete rogene idade e a complexidade l igadas a vida cot id iana . Contra a grande

escala e a autoridade doEstado e dos proprios urbanis tas l igadas aspretensoes

modernas, propunham uma volta it pequena escala, it escala humana, e apart i-

cipacao dos habitantes.

Mais do que simples roincidencia ou questao de Zeitgeis t , existiram de fato

contatos e trocas entre os dois grupos, principalmente atraves dos seus mem-

bros holandeses e ingleses. 0 casal Smithson, por exemplo, tarnbern fazia par-

te de um grupo londrino, T he I nd ep en de nt G ro up , grupo de debates na origem

do Pop Art ingles, que tinha liga~oes diretas com 0 IAC, Institute of

Contemporary Arts. 0grupo psicogeogrMico londrino e a propria IStambern

est iveram ligados aoICAdurante a 4· conferencia da ISem Londres , em 1960.

Aldo Van Eyckeo caso mais explici to desse intercambio. Era amigo pessoal

de Constant e ambos, ass im como Asger Jom,52 fizeram parte do grupo Cobra,

urn dos grupos formadores da IS, Van Eycke Constant chegaram a redigir jun-

tos um manifes to em 1952: V a or e e n s pa ti aa l c o lo ri sm e (Por urn colorismo espa-

cial), apelo para uma evolucao conjunta da arquitetura e da pintura. Urn outre

membro holandes doTeam X,Jacob Bakema, passou a ser responsavel em 1959,

junto com Van Eyck, pela nova linha editorial darevista For um ,63 que publicou,

e assim difundiu no campo do urbanismo, textos situacionis tas e,sobretudo,

imagens de maquetes e desenhos da cidade utopica idealizada por Constant:

Nova Babilonia.

N ov a B ah ilt mia n do Ii u m p ro je to d e u rb an is mo . T am be m r uio e u ma o bra

de a rte n o se ntid o trad icio na l d o te rm o, n em u m exe mplo de e stru tu ra

a r q ui 't :e l 'l ln i a . Pode -s e apre ende -la na f or ma a tu al , c om o u m a p ro po st a,

'urnf ' I tl il la il lm t lr ' m ate ria liza r a te or ia d o u rb an is mo Imitdr io , para se

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APRESENTAr;AO

A economia poli t ico , 0 amor e 0 u rb an ism o s iu : o s m ei os q ue se ria p re cis e d om i-

n ar pa ra se re so lver u m pro ble ma q ue Iian te s d e tu do de o rd em e tica . Nada pode

o br ig ar q ue a v id a n ii o se ja a hs olu ta mc nt e a pa ix on an te . N 6s s ab em os c om o [ aze r,'

Qual seria 0 interesse hoje - quase meio seculo" apos a puolicacao dos primei-

ros textos - de se re sga ta r 0pensamento situacionista sobre a cidade? Talvez

simplesmente como provocacao diante deuma triste constatarao: a quase com-

pleta ausencia de ssa pa ixao - proposta e vivida pelos situacionistas - na

vida e no pensamento urbanos conternporaneos. Apesar dos recentes protes-

tos antiglobalizacao que ganharam as ruas degrandes cidades do mundo e po-

deriam nos fazer pensar em urn retorno ao ambiente de inquietacao e

reivindicacao dos anos 1960,30 pensamento urbano difundido neste periodo,

que ficou conhecido como participacionista - pois pregava a partidpacao dos

habitantes - parece estar cada vez rnais "burorratizado" ern prol de uma

"espstacularizacao" urbana generalizada.

AInternacional Situacionista (IS)- grupo deartistas, pensadores e ativistas 13

- lutava contra 0 espetaculo, a cultura espetacular e a espetaculanzacao em

geral, ou seja, contra a nao-participacao, a alienacao e a passividade da socieda-

de. 0principal antidoto contra 0 espetaculo seria 0 seu oposto: a participacao

ativa do s individuos em todos os campos da vida socia l, principalmente no da

cultura. 0 interesse dos situacionistas pelas questoes urbanas foi uma conse-

quencia da importancia dada par estes ao meio urbano como terrene de ac;:ao,

de producao denovas formas de intervencao e de luta contra a monotonia , ou

ausenria de paixao, da vida cotidiana moderna. A critica urbana situacionista

permanece assim, em sua essenda, pertinente.

Em urn momenta a tual de c ri se da propr ia nocao de c idade , que se torna

visivel principalmente atraves das ideias de nao-cidade, seja por congelamento

- c idade -museu epat rimonial iz acao desenfr eada -, sejapor di fusao - c ida-

de gcnerica e urbanizacao generalizada. Essas duas correntes do pensamento

urbane conte rnporaneo - em voga na teoria mas princ ipalmente na pra tica

dourbanismo - apesar deaparentemente antagonicas, tenderiam a urn resul-

t.adosernelhante: a espetacularizacao das cidades rontemporaneas.

A corrente mala conservadora, pos-rnodernista tardia, neoculturalista ,

radicaliza a prCOCLI~l<I~ a p 6 1 l · moderna com as culturas preexistentes, e preco~

u iz a a p Cl rl fi ('( \~ ~n o u ( ) P ,1 H[ I( l n - f lo ('Spf1<;:Ourbane, principalmente de centros

llii< I (>I'ilO H , 1 1 1· ( lV i ll ,Inilll 1 1 1 1 1 1 1 f "1illldflrI1~.I[II' 1 1 . 1 1 rhnonla l iaa rf io prin ip a lmcn t e

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II,

nas idades europeias, e 0 surg imento da cidade-par que-ternattco e da

dl sneyl andizacao urbana em particular nos Estados Unidos, que seriarn exem-

plos tipicos da cidade-espetaculo." A corrente dita progressista, neo-modernis-

ta, retoma alguns principios modemistas - sem a mesrna preocupacao social

ou a utop ia do s p rimeiro s moderno s - prindpalmente a ideia de T a bu l a R a sa ,

e faz a apologia da grande escala (XL)5 e dos espacos urbanos caoticos, geral-

mente perifericos au de cidades da periferia mundial: junkspaces, cidades gene-

ricas , cidades-shoppings au espayos terminais do capital isrno selvagem, que

tern como paradigma as novas c idades asi at icas au afr icanas , e que tarnbern

sao mostradas de uma forma totalmente espetacular."

Essa quase esquizofrenia dos discursos contemporaneos sobre a cidade? -

preservar 0 antigo ou construir 0novo - vern ocorrendo muitas vezes sirnulta-

neamente e em uma mesma cidade, com propostas preservacionistas para oscen-

t ros histor icos , que se tornam receptaculos de tur is ta s, e com a const rucao de

novos bairros ex-nihilo nas areas de expansao perifericas , que se tornam fontes

para a especulacao imobiliaria, Muitas vezes os atores e patrocinadores destas

propostas tambern sao os mesmos, ass im como e semelhante a nao-participacao

da populacao em suas forrnulacoes, e a gentnficacao" das areas como resultado,

demonstrando queas duas correntes antagonicas podem ser faces deuma mesma

moeda, que visaria tao-somente a uma espetacularizacao mercantil das cidades.?

Aironica cri tica urbana situacionis ta pareee ainda tao atual exatamente por

t er a tacado, dentro do contexte europeu dos anos 1950-1960, os primordios

dessa nova espetacularizacao urbana conternporan ea Por urn lado, os

si tuac ioni st as foram urn dos primeiros grupos" a c ri ti ca r de forma radical 0

movimento moderno em arquitetura e urbanismo, principalmente seus maio-

res simbolos, 0 funcionalismo separat is ta da Carta deArenas" e a racionalida-

de cartesiana de seu maior defensor, LeCorbusier."

Os [ un ci on al is ta s i gn or am a [ un du ; p si co l6 gi ca d a a m bi en ci a [ . .. ] a a s pe c-

t o d as c on st ru ~6 es e d os o bj et os q ue n os c er ca m e q ue u ti li za m os p os su em

u m a [ ur ui io i nd ep en d en te d e s eu u sa p rd ti co [ .. .J OS r a c io n o l is t as [ u n ci a -

n ali sta s, p ar c au sa d e s ua h om og en eiz ac do , i ma gin ar am q ue s6 s e p od e

a lc an ca r f or ma s d ef in it iv as , i de ai s, d e d if er en te s o bj et os q ue i nt er es sa m

a o h om em . A e vo lu ci io h oj e m o st ra q ue e st a c on ce pc ii o e st dt ic a e st av a e r-

r ad a. P od e- se c he ga r a u rn a c on ce pc ao d in am ic a d as [ or ma s, p od e- se v er

e ss a v erd ad e: to da fo rm a h um an a es ta e m t ra ns fo rm ac ao c on tin ua . N ao

p od em o s r na is , c om o a s r ac io na li st as , e vi ta r e ss a t ra ns fo rm a ci io . A [ al ha

d os r ac io na li sta s [o i n a o t er c om pr ee nd id o q ue a u nic a m an ei ra d e s e e vi -

t ar a a na rq ui a d a tr an sf or ma di o c on si st e e m e n te nd er a s s ua s l eis in te r-

n o s, e u t il iz a r- se d e la s . 13

E,por outro lado, por meio dessa negacao de uma concepcao estat ica da cida-

de,os situacionistas anteciparam tambern uma critica a museificacao das cidades,

principalmente aopar em duvida atransformacao dessas cidades em espetaculos

urbanos estaticos enao-participativos atraves daideia do urbanismo unitario (UU).

[ 0 u rb an is mo u ni ta no ] o po e- se a o e sp et ac ui o p as si vo , t fp ic o d e n os sa c ul -

t ur a, n a q ua l a o rg an iza ca o d o e sp et ac ulo s e e s te nd e d e f o rm a t an to m ais

e sc an do lo sa v ist o q ue a h om em p od e c ad a v ez m ai s i nte rf eri r d e n ov as m a-

n e ir as . E n qu a nt o h o je a s p r6 pr ia s c id a de s s e o f er e c er n c o m o u m l a me n ta v el

e sp et ac ul o, u m a ne xo d e m u se u p ar a t ur is ta s q ue p as se ia m e m o ni bu s e nv i-

d rac adoe , 0 UU v e 0 m ei o u rb an o c om o t er re no d e u rn j o go d o q ua l s e p a rt i-

c ipa. 0 u rb a ni sm o u ni td ri o n ii o e st d i de ol m en te s ep ar ad o d o a tu al t er re no

d a s c i d ad e s. E [o rm ad o a p ar tir d a e xp er ien da d es se t er re ne e a p ar tir d as

c on st ru ib es e xi st en te s. D ev e t an to e xp lo ra r a s c en d ri os a tu ai s, p el a a fi r-

m aa io d e u rn e sp a~ o u rb an e lu di co t al c om o a d er iv a a r ec on he ce , q ua nt o

c on st ru ir o ut ro s, t ot ol me nt e i ne di to s. E ss a i nt er pr et ac ao (u so d a c id ad e

a tu a l, c o ns tr u ci io d a c id a de [ u tu r a) i m pl ic a 0 man e J o d o d e sv i o a r q u it e to n i -

co . 0u rb an is mo u ni ta ri o n ii o a c ei ta a f ix ar ao d as c id a de s n o temno.r'

o urbanismo unitario - unitario por ser contra a separacao moderna defun-

~6es(base da Carta deAtenas) - nao propos novos modelos ou formas urbanas,

rnais sim experiencias efemeras de apreensao do espa(:o urbano atraves da pro-

posta denovos procedirnentos como a psicogeografia e de novas praticas como a

deriva. Como ospr6prios situacionistas insistiam em dizer: "Primeiro, 0urbanis-

rnounitario nao e uma doutrina de urbanismo, mas uma critica ao urbanismo"."

Aimportancia atual dopensamento situacionis ta sobre a cidade esta exata-

mente na enorme forca c ri ti ca que a inda emana des sas ide ias. Como par te in-

tegrante, importante e central , de uma cri tica situacionis ta bern mais vasta -

art is tica, social, cul tural e,sobretudo, polit ica - esta a problsmatica urbana e,

principalmente, a critica a propria discipl ina que surge da modernizacao das

cidades: 0urbanismo. Asdoutrinas, teorias e fundamentos basicos do urbanis-

rno foram questionados e cri ticados de forma radical pelos situacionis tas des-

de os anos 1950.16 Esse pen samen to cr itico situ acion ista ainda nao fo i

devidamente estudado, e nem mesmo teve sua impor tanc ia c la ramente reco-

nhecida dentro do campo do u rban isr no, embor a 0 resgate dessas ideias

situacionistas possa ser uti! para alimentar 0ainda timido, e nada apaixonante,

debate urbano conternporaneo. Uma cri tica pertinente - hoje claramente au-

sente da grande rnaioria dO H discursos sobre a c idade - se ria t alvez mais ur-

g nte no cenar io a runl do ["III' nov 6 mod los, paradigmas ou mesmo propostas

urh [ . 1 • • s."

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B rev e h is t6 ri co da I nt er n ac io n al S it ua c io n is ta ( IS )

"Doutor em nada"," avesso asinst ituicces , sem ser apenas urn art is ta, urn

intelectual ou urn ativista politico, Guy-Ernest Debord (1931-1994), 0 funda-

do r da IS , e quase inclass ificavel , Muito influenciado pelo movimento Dada e

tarnbern pelo surreal ismo (que depois sera urn dos maiores alvos de suas cri ti -

cas), 0 j ovem Debord encontrou , em 1951, no fes tiva l de c inema de Cannes ,

urn grupo com influencias e interesses parecidos, os letristas de Isidore Isou."

Ja em seu primeiro f ilme em 1952, H urle me nts e n [a ve ur d e S ad e, Debord en-

t rou em confl ito com Isou" e deixou os "ve lhos le tr is ta s" para fundar nes se

mesmo ano, com alguns amigos, a Internacional Letrista (IL). De1952 a 1954

o novo grupo letrista publicou 0 peri6dico I n tema t iona le Lettriste, e de 1954 a1957,29 numeros de Potlatch,"

As quest6es tratadas em Potla tch , inicialmente mais l igadas a arte, a supe-

racao do surreal ismo e principalmente as ideias deir alern da arte, passaram a

tratar da vida cotidiana em geral , da relacao entre arte e vida, e,em particular,

da arquitetura e do urbanismo, sobretudo da cri tica ao funcionalismo moder-

no. Dos textos mai s radical s publi cados em Potla tch contra a a rqui te tura e 0

urbanismo funcionalistas modernos, podem ser citados: C o ns tr uc ti on d e taudis, 22

L e g ra tt e- ci el p ar l a rac ine ." U n e a rc hi te ct ur e d e l a v ie ,2 4 L ar ch it ec tu re et I e j e u2S

e

P ro je t d 'e mb el li ss em e nt s r at io nn el s d e l a v il le d e P ar is ."

Osletristas , reunidos em torno deDebord - entre osmais influentes mem-

bros, editores de Potla tch , estavam Michele Bernstein, Franck Conord, Mohamed

Dahou, Gil Wolman e Jacques Fil ion -, ja anunciavam algumas ideias, prati-

cas eprocedimentos que depoi s formaram a base de todo 0pensamento urba-

no situacionis ta: a psicogeografia, a deriva e, principalmente, a ideia-rhave,

inspiradora doproprio nome do futuro grupo, a ccnstrucao desi tuacoes, Ja no

p rimeiro numero de Potla tch (junho de 1954) ha uma proposta de psico-

geografia, Le j eu p sy ch og eo gr ap hi qu e d e la semaine:

Em [undio d o q ue v oc e p ro cu ra , e sc ol ha u ma r eg ii io , u ma c id ad e d e r az od -

ve l d en sid ad e d em og ra iic a, u ma ru a c om c erta animadio. C on st ru a u m a

m sa . A rr um e a m ob il ia . Capriche na d e c or a ca o e e m t ud o q ue a camp/eta .

E s co lh a a e st ac ii o e a hom . R eun a a s p essoas m ais aptas, os discos e a

b eb id a c on ve ni en te s. A i luminac iio e a c onversa devem ser apropr iadas ,

a ss im c om o 0 q ue e su i e m t or no o u s ua s r ec or da ci ie s. S e n ao h ou ve r [ al ha s

1 ' 1 0 q u e v o ce p re p ar o u, 0 r e su l ta d o s e rd s a ti si a to r io .

V:l.rios I ) (1 :05 J tristas sobre a psicogeografia tambem fOYnI11 publicados na

n 'vl fl l. 1 111 '1 ) ". 1, ( ' . < . ' II\II/'I'.~ nurs" ('nl 1( '1 8S .5 c 1n S f ) ; a eX I) ! '! h ~ ll ( 1 .1 pili! nH,'ogrtif ica

estava diretamente l igada a pratica da deriva, varies textos letristas comenta-

yam e propunham diferentes derivas , entre eles 0 Res ume 1954, assinado por

Debord e Filion (Potla tch n? 14, novembro de 1954):

A s g ra nd es c id ad es s ao [ av or av ei s a d is tr ac ao q ue c ha ma m os d e d er iv a.

A deriva e um a tecnica do andar se m ru mo . E la se m istu m a in f l1 l1~ncia do

c enar io . To da s a s c as as sa o b e/a s. A a rq uite tu ra d eve se tornar apaixo-

n an te . N os n ii o s a be ri am os c on si de ra r t ip os d e c on st ru cd o m en o re s. 0novo

urban ismo Ii i n se p ar a ve l d a s t r ans iormacoe s e co no mi ca s e sccia is [e liz-

m e nt e i ne vi td ve is . 1 3 possive l pensar qu e a s re ivindicacoes revolucio-

n d ri as d e u m a e po ca c or re sp on de m a i de ia q ue e ss a e po c a t em d a f e li ci da de .

A v al or iz ac ao d os l az er es n ii o Iiu ma b rin ca de ira . N os in sistim os e m q ue Iip re c is o i nv en ta r n ov os j og o s.

A ideia de construcao de situacoes tambem surge inicialmente em Potla tch ,

como no texto colet ivo, onde eles citam Charles Pourier.i" U ne id ee rre uve e n

Europe (n" 7, agosto de 1954):

A construtiio de s iiuacoes se ra a re aliza ciio c on tin ua d e u m g ra nd e j og o

d elib era da me nte e sc olh id o: a pa ssa ge m d e u m a out r e d e ss e s c e nd r io s e

desses corflitos e m q ue o s p erso na ge ns d e u ma tragedia m orre m e m vinte

e q u a tr o h o ra s . Ma s 0 te mpo d e vive r niio fa lta rd m ais. U ma aitica do

c ompor tamen to , um urban ismo i nf lu en ci dv el , u m a t ec n ic a d e a m bi en c ia s

d ev em s e u ni r a e ss a s fn te se , d a q ua l c on he ce mo s o s p r im e ir os p ri nc ip io s.

E p re ci so r ei nv en ta r e m p er ma ne nc ia a a trao io s ob er an a q u e C ha rl es F o u-

r ie r c ha m av a d e l iv re j og o da s paixoes .

Os Ietristas, ainda sediados em Paris, passaram a colaborar com alguns gru-

pos de artistas europeus de teridencias semelhantes, como 0 London

Psychogeographical Association (LPA), dirigido por Ralph Rumney, e princi-palmente 0 grupo Cobra (Copenhague, Bruxelas, Amsterda -1948-1951, re-

vista hornonima), animado, entre outros, pelo dinamarques Asger Jorn (Arger

Jorgensen), pelo belga Christian Dotremont epeloholandes Constant (Constant

Nieuwenhuys) , Cons tant e Jorn foram os responsave is , com Debord e Raoul

Vaneigem, pela elaboracao do pensamento urbano situacionis ta. Jorn fundou,

.11J65 a disso l ucao do Cobra, 0 MIBI(Movimento Internacional poruma Bauhaus

lm ag in ista - 1954-1957, revista Eristica): uma cri tica a abertura da nova

lIa u h, u s m U lm - Jll lch .~(hli l" flir ,estaltung- p or M a x B ill" em 1955.

o M 1 11 1or~ \ ,1n iz ;Oll ern A lb n ( II , l la), e m (1I'rt:mbm d 1 9 56 , l im a r eu n ia o de s s c s

p.rlllriPIIIIl fll'lIprJilllliloplllHI ((11(' vlnhnm u ub nl ha nd « u ob r ORn'1f'Sl'no~tall'!nfl d

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forma independente, com a partidpacao de mernbros de oito paises, No ana se-

guinte em Cosio d'Arroscia," Debord fundou, com os integrantes dos outras gru-

pos ta rnbem presentes em Alba, a Internacional S ituacionis ta . A IS passou

rapidamente a ter adeptos em varies paises, entre eles: Italia, Franca, Inglaterra,

Alemanha, Belgica,Holanda, Dinamarca eArgelia , Entre 1958 e1969, 12 nume r o s

darevista ISforam publicados e,senos primeiros seisnumeros (ate 1961) asques-

toes tratavam basicamente da arte passando para uma preocupacso mais centrada

nourbanismo, estas sedeslocaram "naturalmente" em seguida para asesferas pro-

priamente politicas, e sobretudo revolucionarias, cuIminando na determinante e

ativa par tic ipacao situacionista nos eventos de Maio de 1968 em Paris.

Alem dos numeros daIS, dos inumeros panfletos e das acocs publicas reali-

zadas pelos situacionis tas, t res publicacoes de seus membros foram determi-nantes na formacao do espir ito revclucionar io pre -68: 0 folheto coletivo

publicado em 1966 D e la m is er e e n m il ie u e tu di an t, c on sid er ee s ou s s es a sp ec ts

e c on o m iq u e, p o li ti qu e , p sy c ho l og iq u e , s ex u el e t n o ta m m e n t in te l leaue l , e t q u e lq u es

m o ye ns p ou r y remedieri" 0 livro do situacionista Raoul Vaneigem, publicado

em 1967, T r a it e d e s a v oi r -v i vr e a l ' us a g e d e s j e u n e s g e n e ra t i on s ;3 2 e 0 hoje classico

deGuyDebord, tambem publicado em 1967, L a s o ci e te d u s pe c ta c le33 Apesar da

visibilidade conquistada nas diversas a~6es situacionis tas que marcaram os

acontecimentos de Maio de 68, a IS, depoi s de urn for tal ec imento fugaz , en-

t rou em cr is e. 0 seu subito reconhecimento a traiu mui tos novos membros de

varios paises, tornando a organizacao cada vez mais complexa e praticamente

incontrolavel . Assim, a ISse dissolveu em 1972, urn fim que para 0 seu fund a-

dor, Debord, seria 0verdadeiro comeo;:o:

o m ovim en to d as o cu pa cse s [M aio d e 1 968J [o: 0 i ni c io d a r ev o lu ~ ao

s it ua c io ni st a, m a s f oi so 0 c om e ~o , c om o p ra ti ca d a r ev ol uc ao e c o m o c on s-

c ie n da s it ua c io n is ta d a h is io r ia . E so a go ra q ue t od a u m a g er af ao , i nt er -

n a ci cn a lm e n te , c o m e ~o u a s e r s it u ac io n is ta . 34

Os s it ua ci on is ta s e a c id ad e

S ab e-s e q ue n o p rin ci pi o o s si tu ac io nis ta s p re te nd ia m , n o m in im o , c on s-

t ru ir a d ad e s, 0 a m bi en te a pr op ri ad o p ar a 0 d es pe rt ar i li m it ad o d e n ov as

p ai xo es . P or em , c om o is so e vi de nt em en te n ao e ra t ao f ac il, v im o -n os f or -

i adoe a [ az er m ui to m a is.35

Pod -se notar uma sequenc ia clara demudanca deescala depreocupacao e

ri P :\f('[1 e l l ' r t tu r H ; . 0 do p e n s a m e n t o situacionista. Se Inidalm r it e e le s estavam

Jolunl B. d()III'1lI lr .1 11m do ~ padr 'N \ fig r ites da art IlIorl,'ru pa s s ando a

propor uma arte diretamente l igada a vida, uma art e integra l- logo emsegui-

da e les perceberam que esta a rt e total s er ia basicamente urbana e es ta ri a em

re lacao direta com a cidade e com a vida urbana em gera!. '11 a rt e i nt eg ra l, d e q ue

tanto se [ a lo u , s o se p od e ra r ea li za r n o a m bi to d o u rb an is m o" ," : Em urn primeiro

momento, essas investigaross propriamente urbanas se referiam a experiencia

da cidade existente - atraves denovos procedimentos e praticas: psicogeografia

e der iv as - mas tambem a utilizarao dessas experiencias Como base para uma

proposta de cidade situacionista.

A p es ou is a p ei co ge og ra fi ca [ . .. ] a ss um e a ss im s eu d up lo s en ti do d e o bs er -

v a~ ao a ti va d as a gl om e ra fo es u rh a na s d e h oj e, e d e [ or m ul ac ao d e h ip ot e-

s es s ob re a e st ru tu ra d e u m a c id ad e s it ua ci on is ta F

A medida que os situacionis tas afinavam as suas experiencias urbanas, eles

abandonaram a ideia depropor cidades reais epassaram a critica feroz contra 0

urbanismo e 0 planejamento em geral . Seeles se posicionavam cada vez mais

contra 0urbanismo, ficaram sempre a favor das cidades, ou seja, eram contra 0

monopol io urbano dos urbanist as e plane jadores em geral , e a favor de uma

constru~iio realmente coletiva das cidades.

Se 0 p la ne ja do r n ao p od e c on he ce r a s m o ti va co es c om po rt am e nta is

d aq ue le s a q ue m e le v ai p ro po rc io na r m o ra dia n as m e lh or es c on di co es

d e e qu ii ib ri o n er vo so , m a is v al e i nt eg ra r d es de ja a u rh an is mo n o c en tr o d e

p e s qu i sa s c r im i n o l 6g i c as .38

Ossituacionistas perceberam entao que nao seria possivel prop~r uma forma

de cidade pre-definida" pois, segundo suas proprias ideias, esta forma dependia

davontade de cada urn e detodos, e esta niiopoderia ser ditada por urn planeja-

dor, Qualquer construcao dependeria da participacao ativa dos cidadiios, 0 que

so seria possivel por meio de uma verdadeira revolucao da vida cotidiana.

I n ve n ta m o s a a r qu i te tu r a e 0 u rb a ni sm o q ue s ao i rr ea li za ve is s em a r ev o-

luoio d a v id a c o ti di a na , isto e , s e m a a pr op ri aa io d o c o nd ic io na m en to p or

to do s o s h o m en s, p ara q ue m e lh ore m i nd ef in id am e nte e s e re ali ze m. t?

Os situacionis tas chegaram a uma convlccao exatamente contraria ados

arquitetos modernos, Enquanto os modernos acreditaram, num determinado

m em ento , qu n n n J . 1 l l t t u r a eo urbanismo poder iam mudar a sociedade, os

sltua inist' n P It V 11 I1 onvt los d qu e a propria sociedade deveria mudar a

: ) cclu i t :( ' tu r . 1 •o IIrlh\IlIIlIl.l!1 I(ufiu,lul no s modernos chega ra m a a ha r , como I.e

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, rbusier , que a a rqui te tura pcder ia evi ta r a revolucao - "Arquite tura ou re-

volucao. Podemos evi ta r a revolucao"" - , os s ituac ionis ta s, ao contrar io ,

queri am provocar a revolucao e pre tendiam usar a a rqui te tura e 0 ambiente

urbano em geral para induzir a participacao, para contribuir nessa revolucao

do.vida cotidiana contra a alienacao e a passividade da sociedade. Eles passa-

ram diret amente da ide ia da revolucao da vida cot id iana para a questao da re-

volucao pol it ica propr iamente dit a, e a par ti r des se momenta - 1961, apes a

publicacao da IS n06 - os textos s ituacionis ta s abandonaram as ideias sobre a

cidade em particular, para se dedicar a questoes exclusivamente politicas: ideo-

logicas, revolucionarias, anticapitalistas, antialienantes e antiespetaculares (0

que nao deixou de estar relacionado a questao urbana).

20

o u rb a ni sm o n a o e xi st e: n ao p as sa d e u m a "ideologia", n o s e nt id o d e M a r x.

A a rq uit et ur a e xi st e r ea lm en te t an to q ua nt a a C oc a- Co la : e u m a p ro d u-

~ ao e n v ol ta e m i de ol og ia , m a s r ea l, s at is fa ze nd o [ al sa m en te u m a n ec es si -

dade i or jada; ao passo que 0 urban ismo e c om pa ra ve l a o a la rid o

p u bl ic ii a ri o e m t o rn o da Coc a -Co l a , p u r a i d e ol o g ia e s pe t a cu l a r. 0c ap i ta -

l is mo m od er no , o rg an iz ad o d e m o d o a r ed uz ir to da a v id a so ci al a e sp eu i-

c ul o, e i nc ap az d e o fe re ce r u m e sp eta cu lo q ue n ao s ei a 0 d e n o ss a p ro p ri a

alienauio. S eu s on h o d e u rb an is m o e su a ohm-prima,"

Pensamento urbano -s ituacion is t a

Talvez seja exagerado falar deuma verdadeira teoria urbana situacionis ta, a

nao ser que seja considerada a etimologia grega do termo thebrien: observar.

Mas a cri tica urbana situacionis ta teve efetivamente uma base teorica, sobre-

tudo de observacao e experiencia da cidade existente. Pode-se considerar a reu-

niao das ideias, procedimentos e praticas urbanas s ituacionist as como urn

pensamento singular e inovador, que poderia ainda hoje inspirar novas expe-riencias, interessantes e o rigin ais, de apreen sao do espaco u rbano. Mas e

importante repetir: nao exi st iu de fato um modele de espa~o urbano s itua -

cionista, apesar do. tentativa renegada de Constant com a Nova Babil6nia; 0

que exi st iu foi urn usc , ou apropri acao , si tuac ioni st a do espaco urbano. As-

si rn como nao exi st iu uma forma si tuac ioni st a mater ia l de c idade mas sim

uma forma s ituacionist a de viver , ou de exper imenta r, a c idade. Quando os

habitantes passassern de simples espectadores a construtores, t ransforma-

dor s C! "vivcndadores" de seus proprios espa~os, iS50sim irnpediria qualquer

Ilpn de c~pet.lcuhrizflt;i'to urbana,

A construiiio d e s it ua ~ oe s c om e ~a a po « 0 d es mo ro na me nt o m od er no d a

n o et ic d e e sn e ta c ul o . E [a ci! ver a q ue po nto esta lig ad o a . a li en ao io d o

v el h o m u n d o 0 p ri n ci pi o c a ra c te ri st ic o d o e sp e tt ic u lo : a n a o -p a ni ci pa i ao .

A o c on tr ar io , p er ce be -s e c om o a s m el ho re s p es qu is as r ev ol uc io na ri as n a

c ul tu ra t en ta ra m r om pe r a idenuficaoio p si co l og i ca d o espeaador co m 0

h er oi, a t im d e e st im ul ar e ss e e sp ec ta do r a a gi r, i ns ti ga nd o s ua s c ap ac i-

d ad es p ar a m u da r a p ro pr ia v id a. A situactio e fe it a d e m od o a s er v iv id a

p o r s e u s c o n s tr u t or e s. 0p ap el d o "p ub li co ", s e n ao p as si vo p elo m en os d e

m e ro f ig u ra nt e, d ev e ir d im in ui nd o, e no ua nto a um en ta a n um er o d os q ue

ja n iio seriio ch am ad os a to res m as, n um sen tid o n ovo d o term o, viven -

c iadores+'

a pensamento urbano situacionis ta estaria entao baseado na ideia de cons-

trucao de situacoes, Era situacionis ta "0que se refere a teoria ou it atividade

pratica de uma construcao de situacoes. Individuo que se dedica a construir

s ituacces"." Uma situacao construida seria entao urn "memento da vida, con-

creto.e deliberadamente construido pela organizacao coletiva de uma ambiencia

unitaria e de um jogo de acontecimentos",

N o ss a i de ia c en tr al e a c on st ru di o d e s it ua co es , i st o e, a c on st ru ii io c on -

c re ta d e a mb ie nc ia s m om en ta ne as d a v id a, e s ua t ra ns io rm ac ao e m u ma

q u al id a de p as si on a l s up er io r. D ev em o s e la ho ra r urna i n t er l 1e n ~ ii o o r d e -

n ad a s ob re o s f a to re s c om pl ex os d os d ai s g r an de s c om po ne nt es q ue i nt e-

r a g e m c o n t in u am e n te : 0 c en a ri o m a te ri al d a v id a ; e a s c om p or ta m en to s

q ue e le p ro vo ca e q ue 0 al t eram."

A t es e central si tuac ioni st a e ra a de que , par meio da const rucao de s itua-

~6es, se chegaria it t ransforrnacao revolucionaria da vida cotidiana, 0 que se

assemelhava muito a t es e defendida por Henri Lefebvre - nao por acaso mui -

to pr6ximo dos situacionis tas no inicio domovimento" - de uma construcaode momentos, em sua tri logia C r it iq u e d e l a v ie q u ot id i en n e" A situacao cons-

truida se assemelha a ideia demomenta e poderia ser efetivamente vis ta como

urn desenvolvimento do pensamento lefebvriano:

o q u e v oc e c h a m a m o m en to s, n o s c h am a m os s it ua ci e« , m a s e st am o s l ev an -

d o i S5 0 m ai s l an g e q u e v oc e. V oc e a ce it a c om o m o m en ta t ud o q u e o co rr eu n a

h i st o na : a m o r, p o es ia ., p e n sa m e nt o . N 6 s q u er e mo s c r ia r m o m e nt o s novos:"

As diu s i(I'lnN lilllih 'iii llnhn1, l1lir ,n~, 0 dir ta corn a qu st'1I0 d.o cotidiano,

Hille sri, n f ro n lt ,l ll ll )l li I" 1 1 .1 1 .' ,I Ilt!'11 I' o I'MIl end r a m b m pede r seer a

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[ l n r U c i p : > w 0; a s s i m como a lazer seria 0 tempo livre para 0 prazer e nao para a

ali nacao, 0 lazer poderia tornar-se ativo e criat ivo atraves da participacao po-

pular. 0 objet ivo f inal de ambos - apesa r de os s ituacionist as t erem acusado

Lefebvre de fazer uma "fi ccao c ient if ica da revolucao" - e ra uma revolucao

cultural que se daria pela ideia de criacao global da existencia contra a banali-

dade do cotidiano. Essa teoria cri tica que fundamenta a idela central de cons-

trucao de situacoes seria 0 proprio urbanismo unitario (UU) - que , como ja

v imos, nao era uma dou trina ou uma proposta de u rban ismo mas sim uma

critica ao urbanismo, nao e ra urn t ipo deurbani smo mas s im uma teor ia urba-

na critica - , d efinido como : "teo r ia do emprego conjun to de artes e tecnicas

que concorrem para a construcao integral de urn ambiente em liga<;:aodinami-

ca com experiencias de comportamento",

Para ten tar chegar a essa construcao total deurn ambiente, ossituacionistas

criaram urn procedimento oumetodo, apsicogeografia, e uma pratica ou tecni-

ea, a deriva, que estavam diretamente relacionados. A psicogeografia foi defi-

nida como urn "estudo dos efeitos exatos do meio geografico, conscientemente

plane jado au nao, que agem diret amente sobre 0 comportamento afetivo dos

individuos". E a der iva e ra vis ta como urn "modo de cornpor tamento exper i-

mentall igado as condicoes da sociedade urbana: tecnica da passagem rapida

por ambiencias variadas. Diz-se tambem, mais particularmente, para designar

a duracao de urn exercicio continuo dessa experiencia", Ficava claro que a deri-

va era 0 exercicio pratico da psicogeografia e, alern de ser tambern uma nova

forma de apreensao do espaco urbano, ela seguia uma tradicao art is tica desse

t ipo de experiencia." A deriva situacionista nao pretendia ser vis ta como uma

atividade propriamente artistica." mas sim como uma tecnica urbana situa-

cionista para tentar desenvolver na pratica a ideia de ccnstrucao de situacoes

atravcs da psicogeografia. A deriva seria uma apropriacao do espa<;:ourbano

pelo pedestre atraves da a~ao do andar sem rumo. A psicogeografia estudava 0

ambiente urbane, sobretudo os espacos publicos, atraves das derivas e tentava

mapear os diversos comportamentos afetivos diante dessa acao basica do ca-

m inhar na cidade. Aquele "que pesquisa e tr ansmite as realidades psico-

gecgraficas" era considerado urn psicoge6grafo. E psicogeografico seria "0 que

manifesta a acao direta do meio geografico sabre a afetividade".

A b ru sc a m u da nc a de ambie nc ia num a rua , num a dis tanc ia d e p OU LO S

m etro s; a d iv is iio paten te de u ma cidade em zon as d e d im as psiqu ic os

d efin id os ; a lin ha de m aior d ec live - sem relac do c om 0 desnfve l- q ue

de vem . ~e g ui r o s p as se io s a e sm o ; 0 a s p e ci o a t r a en t e o u r ep ul si vo d e c e r io s

l u gar e «; t udo i ss o pa re ce d ei xa do d e l ad o. P elo m en o s , nunca e percebido

como rlcp/ 'f ldenl:e rI a u sa s q u e p o dem s e r e s c la rec i r Ja s pOl' um n arui l ise ma i s

pr of un da , e d as q ua is s e p od e tir ar p ar ti do . A s p esso as sa be m q ue e xis te m

b a ir ro s t ri st es e b a ir ro s a g ra d r. iv ei s. M a s e st ii o e m g e ra l c o nv en c id a s d e q u e

a s r u as e le g an te s diio u m se nt im en to d e s atis fa ~ii o e q ue a s ruas p o br e s s ii o

d ep ri me nt es , s em l ev ar e m conta nenhum outro fa tor .51

A psicogeografia seria entao uma geografia afetiva, subjetiva, que buscava

artografar as diferentes ambisncias psiquicas provocadas basicamente pelas

deambulacoes urbanas que eram as derivas situacionis tas. Algumas dessas de-

r ivas forarn fotogra fadas ~ a lgumas de suas fotocolagens e ram vist as como

mapas, como 0M a p o fV e ni se de Ralph Rumney sobre suas derivas em Veneza

- oufi lmadas, chegando a aparecer em alguns filmes deDebord, sobretudo no

segundo, de 1959: Su r Ie p as sa g e d e q u el qu e s personnes a t ra ve rs u n e assez cour te

u ni te d e t em ps . Cartografias subjetivas, ou mapas afetivos, chegaram a ser efe-

t ivamente realizados, e urn deles ficou quase como urn simbolo situacionis ta:

T he N ak ed C ity, i llu st ra tio n d e Thypotheee d e s p la q ue s t ournante s , assinado por

Debord em 1957.52

T he N ak ed Ci ty talvez se ja a melhor i lust racao do pensamento urbano

situacionis ta, a melhor representacao grMica da psicogeografia e da deriva,

t ambern urn icone da propr ia ide ia de urbanismo uni ta rio. E le e composto

por varios recort es do mapa de Par is empreto e branco, que sao asunidades

de ambienc ia , e se tas vermelhas que indicam as l igacces pos sivei s ent re es-

s as diferentes unidades. Asunidades est ao colocadas no mapa deforma apa-

rentemente aleatoria, pois nao correspondem it sua local izacao no mapa da

c idade rea l, mas demons t ram uma organizacao afet iva des ses espa~os dit a-

ciapela experiencia da der iva. As se tas representam essas poss ib il idades de

deriva e como estava ind icado no verso do mapa: "the spo ntan eou s turns o f

dire ction tak en by a s ub je ct m o vi ng t hr ou gh t he se s ur ro un di ng s in d is re ga rd o f

th e u se fu l c on ne ctio ns t ha t o rd in ary g ove rn h is c on du ct" .5 3 0 t it ulo do mapa,

The N ak ed C ity (cf . p . 4 e 5), t ambern esc ri to em let ras vermelhas , foi t irado

de urn f il m n ai r americana homonimo." 0 subti tulo, i ll us tr at io n d e l ' hvpo the s e

d e s p l aq u e s tournan te s , fazia alusao as placas giratorias ( pl a qu e s t o ur n a nt e s) e

manivelas ferroviarias responsaveis pela rnudanca de direcso dos trens , que

representavam as diferentes opcoes de caminhos a se rem tornados nas der i-

va s .

T he N a ke d City tern nit ida influencia de alguns mapas dolivro dosociologo

urbane Paul-Henry Chombart de Lauwe P a ri s e t l 'a g gl om e ra ti on p ar is ie n ne , de

1952, que tambem foi c it ado nas paginas da IS (cf. p. 78), principalrnente na

Th eo rte d e la der ive. Urn diagrama des se l ivro de Lauwe tambern f igura na IS,

ilustrandc am ntr i r i sobr a dcriva de Rumney em Veneza: urn interessan-

tc m apr d e fJ~rlll ron: 0 I f.l\ndo do redo s t rn j tos r a lisados m um ano per

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uma estudante, que Sf concentrarn no bairro em que ela morava, nos percursos

basicos entre a sua casa, a universidade e0 local de suas aulas de p iano .

Chombart de Lauwe, muito inf luenciado pela EscoIa de Chicago e sobretudo

por Ernest Burgess, fo i da ramente uma re fe renda forte, como Lefebvre, no

pensamento urbano situacionista. Talvez, ao contrario de Lefebvre, a influen-

c ia de Chombart de Lauwe nao tenha s ido propriamente teorica , e s im ma is

ligada as questoes dernetodo - que sao completamente desviados,detournes,

pelos situacionistas - e sobretudo a uma fascinarao comum, mesmo que com

uses totaImente distintos, por mapas e fotografias urbanas aereas.55

Numa das paginas da IS , ilustrando 0 texto I .urbani sme uniiaire Ii la f in d es

annee s 50, estao colocadas, lado a lado, uma C ar te d u p ays du Tendre de 1656

(Mapa do Pais doAfetuoso) e uma foto aerea deArnsterda, com0 titulo "Urna

zona experimental para a deriva. 0 centro de Amsterda, que sera explorado

sistematicamente por equipes situacionistas em abril-maio de 1960" (p. 102 e

103). Esse mapa de Madeleine Scudsry e uma metafora de uma viagem no es-

pa~ogeografico imaginario que tracaria diversas possibilidades dehistorias de

amor e romances variados. Osnomes dos lugares estavam relacionados adifc

rsntes sentimentos e marcavam momentos significativos eemocionantes. Este

foi 0 mapa insp irador do G uid e p syc ho ge og ra ph iq ue d e P ari s, d isc ou rs s ur l cs

p as si on s d e Tamour . .Os mapas situacionistas, psicogeograficos, realizados em

funcao de derivas reais, eram tao imaginaries e subjetivos quanto aC ar te d u

pays du Tend r e ; €les apenas ilustravam uma nova maneira de apreender 0 espa-

courbano atraves da experiencia afetiva desses espacos. Tais rnapas, experimen-

tais e rudimentares, desprezavam os parametres tecnicos habituais pois estes

na o levam em consideracao aspectos sentimentais, psicologicos ou intuitivos, e

que muitas vezes caracterizam muito mais urn determinado espa<;odo que os

simples aspectos meramente fisicos, formais, topograficos ou geograficos.

A c on te cc da d e m a pa s p sic og eo gr afi co s e a te s im ula cse s, c om o a e qu ap 'lo

- m al fu ndada 0 1 . 1 c om pl et am en te a rb it ra ri a - e sta be le cid a e ntr e d ua s

representuiiies t o po g rd ii ca s , p o de m a iu d ar a e sd a rc c er c e rt os d e sl o ca m e n-

t os d e a sp ec to niio g ra tu ito m as to ta /m en te in su bm is so a s s oli ci ta co es

h ab it ua is . A s s ol ic it ac oe s d es sa s er ie c os tu m am s er c at al og ad as s ob 0 ter -

m o d e tu ris mo , d ro ga p op ula r ta o re pu gn an te q ua nt a 0 e sp or te o u a s v e n -

d as a c re di t» . H a p ou co t em p o, u rn a m ig o m e u p er co rr eu a r eg ia o d e H a r tz ,

n a A lem anh a, u sa ndo u rn m apa d a c id ad e d e L on dres e se guin do -Ihe c e-

g am en te t od as a s i n di ca co es. E ss a e sp ec ie d e j og o e u m m era c am ero d ia n-

te do que se ra a constnuiio in te gr al d a a rq ui te tu ra e d o u rb an is mo ,

c on st ru ~l Io c uj o p od er s er a u rn d ia c on te ri do a todOS.56

Ci rcu lac;ao de ideias s it ua ci on is ta s n o c ampo d o u rb an ismo

o u rb an is mo p re te ns am en te m od er no q ue o s s en ho re s p re co niz am , n 6s 0

c o ns id e ra m o s p a ss a ge ir o e retr6grado. 0 unico p a pe l d a a r qu i te tu r a Ii

s er vi r a s p ai xo es d os homen s : "

A critica ironica, marginal e radical dos situacionistas contra a arquitetura

moderna e, principalmente, contra a urbanismo - pa ra os si tuac ion is ta s e ra

no espaco urbano que sedava a repressao socia l e0urbanismo estava a service

dessa rcpressao - ocorreu no mesmo momento em que uma critica aoexcesso

de racionalismo e funcionalismo do urbanismo" comecava a ser esbocada den-

tro dos proprios CLAMs(Congressos Intemacionais de Arquitetura Moderna)

por uma nova geracao dearquitetos modernos que ficou conhecida como0Team

X, organizadores do ClAMX.

Apesar de estarem lutando, em urn mesmo momenta historico, contra urn

"inimigo" comum, as dais grupos - 0Team X e ossituacionistas - mantiveram

umadiferenca depostura fundamental. Enquanto os situacionistas eram margi-

nais, nao faziam parte denenhuma instituicao e nem docampo "oficial"da arqui-

tetura e urbanismo, 0 Team X fazia parte do proprio ClAM, estava dentro da

organizacao moderna por excelencia, e os seus membros faziam projetos e cons-

truiarn obras. Enquanto os situacionistas defendiam uma revolucao, os arquite-

tos doTeamX buscavam, em principio, uma reforma, dedentro doproprio CLAM,

o que re sul tou em uma ruptura interna e levou a dissolucao da organizacao em

1959. E interessante notar que, ao criticar a doutr ina urbana moderna, os dois

grupos discutirarn ideias semelhantes, e essas novas ideias antecipavam parte do

debate posterior, dito "pos-modemo",

Nopas-guerra, com amassificatao daconstrucao de conjuntos habitacionais

modemistas - pois as cidades europeias precisavam ser reconstruidas rapida-

mente e a demanda habi ta ciona l e ra enorme -, a s c rit ic as a e sse modelo co-

mecaram a surgir. Adevastacao provocada pela guerra - a tao sonhada tabula

rasa moderna se tern a efetiva em a lgumas c idades - e a urgenc ia da recons-t rucao das c idades europeias fize ram da Carta de Atenas uma doutrina a ser

seguida em larga escala. No s primeiros CLAMsdo pas-guerra, de Bridgewater

em 1947 (ClAM VI) e de Bergamo em 1949 (ClAM VII), a inda dominados por

LeCorbusier, a tonica dos debates era precisamente reorganizar 0movimento

que, por conta da guerra, f icara desestruturado por uma decada, desde0ulti-

mo coloquio em Paris m 1937, e levar a Carta de Atenas a pratica na recons-

t ru c ao d a s e id a do s !"ltI'OP( in s ,

Embora de form I '1 lmld I, Ult) prlmelrc questicnamento cornecava a surgir,

e m p ar ti cu ln r p ,'l n 1 1 1 ' l i 1 1l11[''1lllilli II hol,.mri . R A Jd o V an Byde, em 1947 , que di -

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1 0

nlngu m, de percebe - no meio das

JAI'as de lixo onde, pela proibicao de

habitat, esta obrigado a viver - 0

quanto const ru ir avida e const ru ir a

morada se confundem no unico pla -

no da verdade que existe: na pratica.

Mas 0exilic ao qual 0 condena nosso

mundo policiado torna sua experien-

c ia t ao ir risor ia e infel iz que a cons-

trutor patenteado encontraria ainda

nisso urn pretexto para se justificar

- supondo-se, hipotese absurda, queo poder deixasse de caucionar sua

existencia.

Parece que a ciasse operaria janao

existe, Grandes contingentes de an-

t igos proletarios podem hoje aceder

ao conforto que era ant igamente re-

se rvado auma minori a - j a seconhe-

ce toda a lenga lenga. Mas nao se ra ,

ao cont ra rio , uma quant idade cres -

cente deconforta que acede a suas ne-

cessidades e lhes da a prurida da

demanda? Demodo que uma certa 0[-

ganiza lIod conforto, ao que parece,

proletariza de forma epidernica todos

as que e la contamina pela forca das

coisas. Ora, a forca das coisas se exer-

cepor meio de dirigentes, sacerdotes

de uma ordem abstrata cujos unicos

privi legios seresumem mais cedo ou

mais tarde em reinar sabre urn centro

adminis trat ivo cercado de guetos. 0

ultimo homem vai morrer de ted io

como a aranha morre de inanicao no

meio da teia.E precise construir depressa, ha

tanta gen te sem moradia, d izem as

humanistas do concreto armado. E

preciso cavartrincheiras sern tardan-

capara salva r a pat ri a, d izem os ge-

nerais. Nao e uma injustica aplaudir

osprimeiros e ridicularizar ossegun-

dos? Naera dos misseis edo condicio-

namento, a brincadeira dos generais

ainda e uma brincadeira deborn gos-

to. Mas construir trincheiras aereas

sob esse mesmo pretexto!. . .

Raou l V ane ig em

I S n " 6 , a g os to d e 1 96 1

SELE< ;AO B IBL IOGRAF ICA

T ex los pub li cados no Brasi l

A prime ir a sel e< ;ao e t raducao de t ex to s s it uaci on is ta s no Brasi l f oi r ea li zada por Car lo s Rober to

Mon te ir o de And rade par a 0 n'' 4 da revista Owlum (PUC-Campmas, edi tada no e po ca p a r A I~ t 1l o

Guerr a) em 1993. Hoj e ja podemos con ta r com a lguns l iv ro s t raduzidos ( em ordem crono logi cn ):

Debord, G u y . A s o ei e da d e d o e s pe t dc u lo . Rio de Janeiro: Contraponto, 1997, Fundam€'1tall'cxl'O

s it uaci on is ta , d e 1967, com traducao cuidadosa de Est el a dos San to s Abr eu .

Jappe, Anselm. Gu y Debord. Petropolis: Vozes, 1999. Ensaio i ta li ano_de ~~95 sob re Debor d C 0

conceito de espet aculo. Jappe int eg ra 0 col et ivo da r ev is ta a lema KnS1S ,

IS. S i tu a c io n is t a, t e or i a e p rd ti ca d a revo lucso . Sa o P au lo : Con ra d, 2 00 2. Col et an ea d e t ex te s

s it uaci on is ta s, epoca do Maio de 68 f rances , ent re e le s 0celebre A m i s er i a d o me w eswdantl l .Debord, Guy, Panegir ico. Sao Pau lo : Con rad, 2002, Tex to t ar di o, aut ob iogr af ico, o ri gi na l de 1989.

V · Raoul A a rt e d e v i ve r p or a a s n o va s gem ,oes . Sao Paulo: Conrad, 20 0 2 , Texto " c l a s s l c o "anelgem, . __

s it uaci on is ta , d e 1967, t ao impor tant e quant a A s oc ie da d e d o espetacu lo ,

T ex tos s ituacian is tas o rigina is . em per i6dicos ( fontes para esta sele~ao )

L e s l e vr e s n u es numeros 1 a 10, 1954-1958.

Potlatch numeros La 30, 1954- 1959 .

I n t emu t i o no le S i t u at i o nn is t e numeros 1 a 12,1958-1969.

O br as d e G u y Debo rd (1931- 1994)

Varies art igos na revista I n t e rna t i o nal e Le t t ri s t e ( 19 52 -1 95 4) r ep ro du zi do s emGe ra rd B rr 'by,

D o c um e n ts r e la t if s ii 10 [ o nd a ti o n d e I 'I n te r n at io n a le S i tu a ti o nm s t e. Pans: All ia, 1985.

v, " . t P t la tc h ( 1954 ·1959) r ep roduzidos em G u y D e b or d p r es e nt e P o t /a l th ,a nas artigos na revis a 0 .

Par is: Editions Gerard Lebovici, 1985.

Varie s a rt igos na r ev is ta L e s l e vr e s nues ( 1955 -1958) r ep roduzidos em L e s l e vr e s 71ues, Potitl:

Plasma, 1978.

G u i de p s yc h o ge o g ra p hi q ue d e P a r is ~ D i sc o u rs s u r l e s p a s s io n s d e 1 ' a m o ur .Copenhague: Le Bauhnu ,

Imaginiste, 1957.

T h e n a k ed c i ty , i 11 u st r at io n d e l 'h y po t he s e d e s p l aq u e s t o u ma n t es e n p s yc h og e o gr a ph i e, 1957, i n A 9 go r

Jam. P o u r I a f o r m e . Paris; Internationale Situationniste, 1958.

F i n d e C o p en h a gu e , com Asger Jor n. Copenhague: Bauhaus Imagini st e, 1957,

R a p po r t s u r l a c o n s tr u ct i on d e s i tu a ti o ns . Paris, 1957.

Var ie s a rt lg cs na r ev is ta I n t er na t i onou : S i t u a ti o nn i st e (1958-1969) r ep roduaidos em ["temnfll/

/ ' 1 1 ' 1 / 0 Sifuiltio"/llsl·~. Paris: Lil rairie Artheme-Fayard, 1997,

M~ / Y I n l r l ' . " r om 1 \1 11 11 "J o r u , C ' I 'l J l 'n h a l lu e : [nternationale S i t l l a l ' i o n n i s t e , 1959 .

/, n .rlll~r~ II" ~I"" r r l l l ~ B\1rl"" ('''rllll ol , 1967 ( inu rnc ras rccdl~O(Ju e LI'adtl~ell nn' vll rton Irl il l

11i'iI)

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1 . 1 : 1 : "0 T AM s ab qu a t i r an ia do consenso car tesi ano chegou a sua ult ima

fnsr.";bf le tambem pels propria localizacao do coloquio de 1949, Bergamo, um a

ldade histor ie s i ta li ana, que inf luenciou na escolha do tema do coloquio se-

guinte, The H ea rt o f t he Ci ty , organizado pelos ingleses em Hoddeson em 1951

(ClAM VIII). 0 oitavo encontro marcou 0 inicio de uma nova fase no CIAM:600

p redomin io da nova geracao dearquit etos modemos no lugar da "ve lha guar-

da", Esse coloquio inovou exatamente pela escolha do tema a ser debatido, 0

entro das cidades, em grande parte destruidos durante a guerra, 0que impos

um quest ionamento sabre a que fazer com 0que restou desses centres histori-

cos, au seja, sobre a questao do patrimonio urbano, das preexis tencias, temas

que as arquitetos modemos nao costumavam discutir. A questao do pedestre

tambern foi levantada, demonstrando um pequeno interesse pelo usuario das

cidades, 0 que tambern nao e ra tema de debates uma vez que a te entao se bus-

cava urn ideal de homem modemo (Modu lo r ) e se menosprezava 0 habitante

real.

Mas foi sono coloquio seguinte, emAix-en-Provence em 1953 (ClAM IX),61

que 0Team X seIorrnou e apareceu de forma mais abertamente cri tica, sobre-

tudo atraves da apresentacao das ideias do casal Ingles Alison e Peter Smithson:

Urban Reidenriiionion. Nesse projeto ernblematico osingleses atacaram a sepa-

racao defuncocs da Car ta deAtenas epropuse ram a sua subst itui cao por uma

hierarquia de associacoes humanas e uma nova reidentificacao urbana. 0 inte-

ressante a notar nesse projeto e que pela primeira vez no ClAMapareceram, de

forma explici ta, fotografias de pessoas reais , no caso habitantes de s l ums (cor-

t icos e favelas) de Londres , fotografados por Nigel Henderson, colega do casal

Smithson do T he I nd ep en de nt G ro up londrino, ligado ao ICAeaos situaciomstas.

Os Smithsons costumavam dizer que na Car ta deAtenas "0que faltava era 0

homem" .

Foi a par ti r desse momenta que 0 Team X surgiu de fato, colocando 0 ho-

mem real no lugar dohomem ideal (Modulor) , de LeCorbusier e da" velha guar-

da ",e asquestoes das diferencas individuais passaram a ser estudadas em prol

do coletivo ideal modemo. 0grupo, heterogeneo e eclet ico mas com a convic-

yao comum de ir contra a Carta de Atenas, era formado por ingleses, holande-

ses e tarnbem por um grupo de arquiteto s que tr abalhou no Marr ocos e na

Argelia, estudando a arquitetura vernacula da Cas bah .

Em seguida, a dominacao da nova gera~ao foi to ta l, e 0 ClAMX, de 1956,

tentou, scm sucesso, redigir uma Carta do Habitat , para subst ituir ou comple-

menta r a Carta de Atenas: "es ta c la ro que 0 conteudo da Carta deAtenas nao

s rvc mais como inst rurnento para 0 desenvolvimento criativo", Le Corbusier,

npCA~ de t r hamado Sill mbros do TeamX de L e s e m m e rd e ur s [Os chatos],

' m c nr rn . ( Hz :" In novn g t 'r r I\ ~ .o l C a u ni a c apa z de s ntir OH prob lemas a t u a i s . ;

eles estao por dentro. Seus predecessores nao; estao por fora".A partir do mo-

mento em que secomecou a tratar de questoes de singularidade e diversidade,

ficou cada vez mais dificil criar novas doutrinas genericas e intemacionalmen-

te operacionais como a Car ta deAtenas e os proprios ClAMs. Assim, na ultima

reuniao dos modemos em Otter loo, em 1959, foi dec re tado 0 fim ofidal do

movimento rnoderno em arquitetura.

Em termos bern ger ais, o s dois grupos - Team Xe Situacion istas - cada

qual it sua maneira, propunham ideias semelhantes: a ideia decolagem, demis-

tura e de diversidade contra 0 excesso de racionalidade e funcionalidade mo-

demas, e contra a separacao de funcoes (zoning) . Contra a general idade, a

impessoalidade, simbolizadas pelo Modu lo r corbusiano e pela ideia de Tabula

Rasa, eles propunham a busca de identidades , da individualidade e da divers i-

dade, sobretudo das pessoas comuns e reais das ruas das cidades existentes.

Cont ra a homogeneidade e s impl ic idade ideai s modemas, el es propunham a

hete rogene idade e a complexidade l igadas a vida cot id iana . Contra a grande

escala e a autoridade doEstado e dos proprios urbanis tas l igadas aspretensoes

modernas, propunham uma volta it pequena escala, it escala humana, e apart i-

cipacao dos habitantes.

Mais do que simples roincidencia ou questao de Zeitgeis t , existiram de fato

contatos e trocas entre os dois grupos, principalmente atraves dos seus mem-

bros holandeses e ingleses. 0 casal Smithson, por exemplo, tarnbern fazia par-

te de um grupo londrino, T he I nd ep en de nt G ro up , grupo de debates na origem

do Pop Art ingles, que tinha liga~oes diretas com 0 IAC, Institute of

Contemporary Arts. 0grupo psicogeogrMico londrino e a propria IStambern

est iveram ligados aoICAdurante a 4· conferencia da ISem Londres , em 1960.

Aldo Van Eyckeo caso mais explici to desse intercambio. Era amigo pessoal

de Constant e ambos, ass im como Asger Jom,52 fizeram parte do grupo Cobra,

urn dos grupos formadores da IS, Van Eycke Constant chegaram a redigir jun-

tos um manifes to em 1952: V a or e e n s pa ti aa l c o lo ri sm e (Por urn colorismo espa-

cial), apelo para uma evolucao conjunta da arquitetura e da pintura. Urn outre

membro holandes doTeam X,Jacob Bakema, passou a ser responsavel em 1959,

junto com Van Eyck, pela nova linha editorial darevista For um ,63 que publicou,

e assim difundiu no campo do urbanismo, textos situacionis tas e,sobretudo,

imagens de maquetes e desenhos da cidade utopica idealizada por Constant:

Nova Babilonia.

N ov a B ah ilt mia n do Ii u m p ro je to d e u rb an is mo . T am be m r uio e u ma o bra

de a rte n o se ntid o trad icio na l d o te rm o, n em u m exe mplo de e stru tu ra

a r q ui 't :e l 'l ln i a . Pode -s e apre ende -la na f or ma a tu al , c om o u m a p ro po st a,

'urnf ' I tl il la il lm t lr ' m ate ria liza r a te or ia d o u rb an is mo Imitdr io , para se

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o u t : c r wt! l o g o native om um ambien ts i m ag in ar io , q ue esta aip a ra s u bs -

tituir 0 a m bi en te i ns ui ic ie nt e, p ou co s at is fa to ri o, d a v id a a tu al . A c id ad e

eeta m a rt a, v it im a d a u ti li da de . N o va B a bi l6 ni a e u m p ro je to d e c i da de o nd e

se p o de v iv e r. E v iv er q ue r d i ze r c r ia r . 6;

Nova Babi lo n i a foi uma tentativa deConstant dematerializar 0pensamento

urbane situacionis ta. 0 que por principio basico ja era contraditorio, uma vez

que esta seria uma forma, urn modele para uma cidade que deveria ser 0 result a-

do aleatoric, impcssivel de ser planejado, de uma construcao colet iva e l ivre.

Esta contradicao - 0motivo maior dabriga entre Debord e Constant que resul-

tou no desl igamento deste da IS- f ica evidente em uma s imples compar ac ao

entre 0discurso de Constant e 0modelo proposto, 0modele acaba congelando,restringindo e aprisionando 0 proprio discurso que pregava a mobil idade, a l i-

berdade total e a c r i ac ao da cidade pelos seus habitantes.

Constant inspirou-se nos acampamentos de c iganos, e Nova Babi lonla

dever ia se r uma c idade nornadc em escala mundial , ou melhor , uma cidade

m6vel para uma populacao nomade sem fronteiras, que seiria construindo de

acordo com os deslocamentos desta p op ul ac ao . E le citava Vaida Voivod III , pre-

s idente da comunidade mundial dos ciganos ern 1963:

2 0

N 6s s om o s 0 simbolo vivo de u m mundo sem [ronteiras, d e u rn mundo de

lib erd ad e, s em a rm as, o nd e c ad a u m po de via ja r se m pro ble ma s d as e ste -

p es d aA si a c en tr al a te 0 l it or al d o o c e an o A tl ii nt ic o, d os planaltos da A f r ica

d o S ui a f lores ta da F i n ltm d ia .

A d e fi n ic a o de Nova Babilonia seria e n ta o : " on d e s e c o ns tr o i sobuma cobertu-

ra, com ajuda de elementos movers, uma casa coletiva; uma habitacao tempera-

ria, constantemente remodelada; um campo de nomades em escala planetaria"."

Os desenhos emaquetes de Nova Bab i l on ia detalhavam essa megaestrutura

que iria se desenvolver quase organicamente sobre as cidades existentes, quese l igar iam entre si a te envolver todo 0 plane ta em uma enorme rede. "Nova

B a bi lo ni a n ao para emlugar algum (ja que a Terra e redonda); ela na o conhece

[ront iras, todos os lugares sao acessiveis a todos". Constant falava ern rede e

cspaco dinamico, termos que os mernbros do TeamX tam bern usavam na mes-

rna epo a - mas para propostas bern reais , formalmente muito semelhantes , e

' . 1 1 1 sc Iabern mais reduz ida - princ ipalmente Web , por Shandrack Woods,

M()bility e Cluster, pelo casal Smithson.

!\. o nt ra rt o d os m em br os do Team X que pensavam ern alternativas con-

r e i nR , I I p r cpo s tr de Constant ra aber tamente ut6pica e s e b as ca va e m uma

nov. . All le d d i' (jll( ' il.'fl.., ormadn 1 ' ( ' 1 0 h omo l u d e n s -« t r mo c rl de p lillizinga

no livro E ss ai su r l a f on cti on so cia le d u j eu - , que substituiria 0 h o mo f ab er . "Ate

agora a principal atividade dohornern foi a exploracao domeio natural . 0 homo

ludens vai transformar, recriar esse meio, segundo suas novas necessidades."

Constant tarnbem desenvolveu em Nova Babilonia a ideia de labirinto, ja pre-

sente desde osletris tas, como no texto A ria ne a u ch o m age, 66criando a ideia de

labirinto dinamico:

E nq ua nt o n a s oc ie da de utiliuuia s e pe rse gu e a o ti miza ~i io d o espaco,

gara ntia de eficdaa e ec onom ia de te mpo , em N ova Bobt ionia s e p r iv i-

le gi a a desorientaciio q ue p ro m ov e a a ve nt ur a, 0 jo go , a mudanca cria-

dora. 0 espaco de Nova Bab ilbn ia tem todas a s carac ter is ticas de um

e s p ac o l a b ir i n ti c o o nd e o s m ovim en to s po de m o co rre r se m im pe dim en -

to s d e o rd em especial ou temporal."

E interessante notar que Aldo Van Eycktarnbem desenvolveu uma ideia de

claridade labirintica em seus escri tos e projetos, inspirada principalmente no

estudo da arquitetura vsmacula dos Dogons.

A semelhanca formal da cidade utopica de Constant com os projetos reais

dos integrantes do Team X,part icularmente Van Eyck e os Smithsons, e niti-

da.68Assim como tambern e clara a influencia dessa proposta, em particular do

ponto de vist a formal, nos var ies grupos utopicos e i ronicos dos anos 1960, e

todos aqueles que passam apropor novas megaestruturas (base da arquitetura

High Tech) e arquiteturas m6veis neste periodo, como GEAM,690 grupo ingles

Archigram e Cedric Price," 0grupo frances Utopie'" e varies outros grupos-

Metabolistas japoneses, Archizoom e Superstudio italianos etc.

Infel izmente, depois do desaparecimento, no campo do urbanismo, dos ul-

t imos grupos utopicos, a questao formal deNova Babilcnia foi a unica que con-

tinuou mais fortemente p resente para as novas gera<;:o es de arquiteto s e

urbanist as - em sua maior ia avidos somente por imagens e formas inovado-

ras - e rn det rimento dopr6prio pensamento urbano s ituac ionis ta , que cons-

t ituiu a sua base te6rica. Nova Babil6nia, antes de urn modelo formal, seria urn

modelo de rcflexao e por isso mesmo ut6pico em seu sentido original, de cri ti -

caao presente atraves da visao futura.

r er u m a v id a s ig ni fi ca cria- la e recria- la sem parar. 0 homem niio pode

ter vida se niio a c riou pa r si m esm o. Q ua ndo a luta pela existencia fo r

a pe na s u rn a l em br an ca , e le p od er a, p el a p ri me ir a v ez n a h is to ri a, d is po r

IiVrl'II/I'IIII' nl ' Indn a d ur ar ii o d e s ua v id a. C on se gu ir a, c om p le na l ib er da -

dl', 1I11l'( / tll 'lI ( / ~tltl ('x iM §n cia a f orm a d e s eu s d es ejo s. E m ve z d e f ie ar p as-

NI II dill/rll'''~ 1 1 1 1 / 1 I 1 1 11 1 r / O qu « l1 ao 0 s a tu i a« , e le val rial ' I m 1 o u i ro , onde

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po de ra s er li vre . P ara po de r c ria r a s ua vid a, pr ec isa c ria r e ss e m un do . E

e ss a c ri ac ao , c om o a o ut ra , s ao p ar te d e u m a m e sm a s uc es si io i ni nt er ru p-

t a d e r ec ru ui ie s. N ov a Babi lonia s o p od er a s er o br a d os s eu s h ab it an te s,

unicamente 0 produ to d e sua cultura . P ara n os, e la s6 Ii urn m od elo d e

r e f/ e xi i o e j o g o . 72

o pensamento urbano situacionis ta, e principalmente sua cri tica ao urba-

nismo enquanto discipl ina, poderia ser vis to hoje, pelo proprio campo do ur-

banismo, como urn convite a reflexao, it auto-cnt ica e ao debate. Urn ape lo

contra a espetacularizacao das cidades e urn manifesto pela participacao efeti-

va- nao apenas para parecer "poli ticamente correto" como vern ocorrendo -,

da populacao nas decisoes urbanas. Ostextos a seguir ainda podem ser vis tos,dentro da inercia teoricoespeculativa atual , como uma proposta para se pen-

sar agora, junto com todos os atores sociais urbanos conternporancos, sobre

o futuro das cidades exist entes e a const rucao das novas c idades do futuro.

Pao la Be rens te i n J a cque sArqui te ta e u rban is ts , dou to ra em h is to ri a da a rt e pel a Unive rs idade de Par is I.

professor. da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia.

NOTAS

Potlatch n" 2, 2 9 dejunho de 1954, texto coletivo dogrupo Internacional Letrista.

Exatos cinqiienta anosda projecao do primeiro filme de GuyDebord H u rl em e nt s e n [ av eu r

d e S a de (30 dejunho de1952).

Os anos 1960 foram marcados mundialmente pel. organizacao dasminorias culturais, pe-

losmovimentos de contracultura au de culturas alternativas au marginais, pelas manifes-

tacoes revolucionarias e pelas reivindicacoes socials e culturais mais diversas, Urndos

maiores simbolos da epoca, a manifestacao estudanti! de maio de 1968 em Paris, reurriu

varies grupos, ditos revolucionarios ou eontraculturais, e, entre eles, aqueles que forma-

ram a base te6riea domovimento: as situacionistas.

Sabre a disneylandizacao urbana norte-americana ver SORKIN, M. (ed.), V a ri a ti on s o n a

t he m e p ar k ; t he n e w a m e r ic a n c it y a n d t he e nd o f p u b li c s p a ce , NovaYork,Hilland Wang, 1992,e sabre a patrirnonializacao das cidades europeias ver JEUDY,H.-P.(org.), P a tr im o in e s e n

fol ie , Paris, Maison des Sciences de I'Homme, 1998 e L a m a c h in e ri e p a tr i m on i a le , Paris,

Sens&Tonka, 2001.

Alusao a "biblia" neo-moderna, 0 livro S,M,L,XL, NovaYork,The Monacelli Press, 1995, de

urndos maiores representantes desta corrente, 0 arquiteto holandes RemKoolhaas.

Urnborn exemplo recente dessa espetacularizacao foia exposicao M u t a ti o n s ( 2 00 0 /2 0 0 1) ,

em Bordeaux; ver catalogo publicado par ACTAReArc en Reve,Barcelona/Bordeaux, 2001.

Que separece muito com asdiscussoes travadas durante a crise urbana dofinal do seculo

XIX,causada pela primeira rnodernizacao dascidadeseuropeias (iniciodo urbanismo como

disciplina), e em particular 0 debate emVienaentre Camillo Sitte e Otto Wagner, com in-

flusncia deAloisRiegl,e queeontinuou, logo em seguida, comAdolfLoos.

Ou elitizacao, expulsao dapopulacao mais pobre deuma area da cidadepara sua "requali-

ficacao",

"0 centro deParisfoiradicalmente rernodelado emfuncao do autom6vel, 0quenao excluia

tendsncia complementar derestaurar, aqui eali,alguns redutas urbanos isolados,transfor-

mados em objetos deespetaculo turistico, simples extensao domuseu tradicional, tendcn-

ciasegundo a qual urnbairro inteiro pode tornar-se monumento", IS n" 9 (1964).

10 Emseguida mostraremos queurngrupo dejovens quefazia parte domovirnento moderno,

dos ClAMs (CongressosInternacionais deArquitetura Moderna), e ficou conheeido como

Team X(organizadores doClAMX),tinha cantata comas situacionistas etambern jaestava

fazendo, de dentro des ClAMs,uma critica it antiga geracao de arquitetos modernos e aCarta deAtenas.

II ACarta deAtenas se refere asdiscuss6es acereada Cidade Funcional travadas durante a

ClAMIVa bordo doPatris II emuma travessia Marselha-Atenas em1933. A Carta s6 foi

publicada dez anos depois, durante a ocupacao alerna de Paris, pelo proprio LeCorbusier

(sem a sua assinatura), Outra versao dos debates e publicada par J.-L. Sert, exilado nos

Estados Unidos; 0 texto referente aoClAMIVe muito semelhante mas 0 livre deSert, Ca n

ou r cities s u r vi v e? , • ilustrado e mostra fotografias dascidades norte-americanas na decada

de 1940, que ja ante lpnmde certa forma asprincipios propostos pela Carta. Vistas hoje,

essas fCltailraflnaPOOf'1l1 nt~ parccer 0 anuncic do esgotamento dasideias urbanas moder-

! lOR a do In!d'J do n ll l 01. pl l lpr in movhncnto (dos ClAMs).Algumasversoes da Carta foram

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recentemente pub licada s em ( o ut r as ) C a r ta s d e A t e na s , c o n te x to s o r ig i na i s, organizado par

Antonio Heliodoro Lima Sampaio, Salvador, Quarteto I PPG-AU I FAUFBA, 2001.

12 Ap ro po st a u rb an a d e LeCorb us ie r, e xp os ta c omo uma d ou tri na n a Car ta d eA te na s, v in ha

sendo massi fi cada rnen te const ru ida na Europa do pas-gue rr a, p ri nc ipalment e sob a f orma

de enorrnes conjuntos habitadonais modernistas. Para os letristas ( futuros situacicnistas),

e ss es c on ju nt os mo no to ne s e r e pe ti ti vo s, e s ob re tu do a s epa ra ca o d e f u nc oe s p ro pos ta p ar

L eCor bu si er, q ue v iro u p on to d e d o ut ri na na Cart a, p ro vo ca vam ap a ss iv ida de e a a li en a-

, ao d a s oc ie da de d ia nt e d a mo no ton ia da v id a c ot id ia na mod er na . D es de o s p rime ir os n u-

mer es de Pot la tch ( in fo rmat ivo da I nt er naci onal Let ri st a) de 1954, LeCorbus ie r passa a ser

urn dos maiores alvos de cri ticas ironicas. Ele e citado como "l e p r o te s ta n t m o d u lo r , Ie Corbus ier -

S ing -S ing" [0 p ro te st an te homem ideal , 0 Corbusi er -a rqui te to da p ri sao] , suas obr as sao

vistas como "Ie s t y le c a s e r n e " [ no est il o qua rt el ], a u rban ismo moder no ser ia " se rnpr e i ns p i-

ra do p or o rd ens p ol ic ia is , q ue , n o f und o, Ha us smann s o a b ri u c s b u le va re s p ara fa ci li ta r a

pa ss ag em d os c an ho es " e qu e "0 a tu al p ad ra o d emora di a i ns pir a- se n o d os p re si di os " Eo s

l et ri st as per gunt avam: "Se ra que 0 S r. Le Corbusi er t er n a lguma ide ia das necessi dades do

homem?" . Ver G u y D e b o rd p r e se n t e P o tl a tc h (1954-1957), Par is , Gallimard, 1996.

Pot la tch n? 1 5, 22 d e d ez ern br o d e 1 95 4, d o t e xto "Un e a rc hi te ctu re d e l a v ie ", a ss in ad o p or

Asger Jorn.

13

" IS n '' 3 , d ez ern br o d e 1 95 9, t ex to c ol eti vo " 0 u rba ni sm o u ni ta ri o n o fim d os a nos 1 95 0"

(p.100).

J.5 Idem.

3 2

E evidente que 0 con texto h is to ri co dessa c ri ti ca s it uaci on is ta deve ser l evado e rn cons i de-

r ac ao , m as a p a rti r do moment a em qu e 0 d iscu rso s it uaci on is ta , sempr e margina l e avesso

a qua lque r c la ss if icacao , e st iv er dev idamen te h is to ri ci zado - mesmo que i sso possa exigi r

o a lt o p re ,o d e p erd a d e a ute nt ic ida de (d o l ado m iti co , e t al ve z d e u rn pa uc o d o p r6 pr io

esp ir it o apa ixonado e r evoluc iona ri o) e cor ra 0 r isco de Sf t orn ar um " ef ei to d emod i', t al -

v ez a te m es rn o " e s pe ta cu la r " ( 0 q ue ja v er n o co rr en do n a Eur opa e no s EUAh a a no s e , e rn

particular, e rnais recentemente, no ca mpo da arquitetura e do urbanisrno) - a critica

situacionista podera de fato servir como base inspiradora para a construcao de uma teoria

cri tica da situacao urbana conternpcranea.

A te mesmo porque 0 p ro pr io s ur gime nto de st es n ov os mode lo s e p ro po st as d ep end s d e

uma desrons tr ucao e fi caz dos modelos e p ropost as ja e xi st en te s, 0 q ue s o p cd er a s er i ni -

d ad o p or uma c ri ti ca consequents do momento presente.

17

18 In DEBORD, G . , P a n eg y ri q ue , Par is , Edi ti on s Ger ar d Lebov ic i, 1989 ( au tobiog ra fi a) .

recenternente traduzido para 0por tugues em Paneg ir ico , Sao Pau lo , Con rad, 2002. Par a u rn

b is t6 ri co mai s compl et o da ISver : MARTOS, J. E, Hi s t o ir e d e I ' I n t e r na t i o n al e S i t u at i o n n is t e ,

Par is, Editions Gerard Lebovici , 1989.

[ sou cos tumava d izer que da mesma forma que Baude la ir e des f ez a poesi a, Ver la ine 0 poe-

r n a , R i r n ba u d 0 verso, e i e, I s ou , re du zi u t ud o a le t r a s , e da i a origem do s letristas.

o filme de Debord - a base da disputa entre velhos e n ovos le tristas - era bas icamente

fo rma do p or s eq ue nc ia s d e t el as b ra nc as e n e gr as , e a ss im e le p re te nd ia d ec la ra r amor te d o

c in em a pr op un ha ir a le rn d o p ri nc ip ia d e p as siv id ad e d o e s pe ct ad or ( 0 q ue c on se gu iu p ai s

npo" vinte rnlnutos de projscao 0pub li co , i nd ignado , dei xou a sal a) .

a iIl'l i rn o n u rn cr o d e Pot la tch , de n030, ja f oi p u bl ic ad o d ep ot s d o f im c ia [I,e n o i nt ci o da IS.

" In I'lltirilch n" : ', r rl ticn IIVille T l n c i ' i C I L ' : C lc L~ Corbusier.

J\I

"

' 1, 1 In Pot la tch n? 5 , c r it ica ao u rban ismo em ger al e aLe Corbusi er e rn par ti cu la r.

1'1 In Pot la tch n '' 15, c ri ti ca aos f uncional is ta s e r ac iona li st as em ger al .

ib In Pot la tch n? 2 0, a po lo gi a d a c id ad e c omo t er re ne p ar a 0 j ogo ; a t eo ria de Hui zi ng a e ma is

uma vez , Le Corbusier, sao citados.

1<1 In Pot la tch n ? 2 3, i de ia s e p ro pos ta s i ron ic as d os l et ri sta s p ar a t ra ns fo rr na r Pa ri s em um

t err en e de j og o, o u c omo e le s d iz iam, o fe re ce r s olu co es p ar a d iv ers os pr ob lema s d e u rb a-

uismo desta cidade.

rt Conside rada " su rr ea li st a" e edi tada per M.Mari en , e ssa r ev is ta pub li cou em 1955 u rn t ex to

de Debor dimpor tant e par a a compr eensac do pensamento u rbane s it uaci on is ta : " In tr cdu-

~ao a uma cri ti ca dageog ra fi a u rbana" (d.p. 39).

,I I Cha r les Fourier (1772-1837), f i lcsofo e economista franc es, fundou a revis ta Le

Pha lans tere: cri tica feroz a s oc ie da de i nd us tri al bu rg ue sa e p ro po st a d e uma n ov a s oc ie -

clade e de uma nova c idade- ed if ic io (Pha lange ou Phnianstere) utopica, socialists e

hedonista. 0 prazer l ibidinoso, as o rg ia s e os costumes libertinos estariarn na base dessa

nova comun idade, Fou ri er descr eve com preci sao 0 novo edi fi ci o, u rn eno rme complexo

arquitetonico. 0 fourierismo i nfl ue nc io u mui to a s surrealistas, principalmente Andre

B re ton , m as t amb er n Marx e Enge ls .

E impor tant e r essa lt ar que 0 e sc ul to r e a rq ui te to s uic o Max B ill f oi a g ra nde a tr ac ao d a

Pr ime ir a B ie na l de S ao Pa ul o em 1 951 e i nfl ue nc iou t oda um a g era ca o d e a rti st as br as il ei -

ros de tendencia concret ista, principalmente 0 grupo paulista,

,I I

Ver 0 t ex to p ronunc iado nes ta ocasi ao : "Re la to ri o sab re a const rucao de s it uacoes e sab re

as condi coes de o rgan iza~ao e de a~50 da t endenc ia s it uaci on is ta i nt er naci onai "( p. 43) .

Pub li cado em por tugues : I S, S i tu a c io n is t a, t e or i a e p r d ti c a d a r e vo l u~ i i. o ,Sao Paulo, Conrad,

2002 .

" VANEIGEM, R., A a rt e d e v iv er p a ra a s n o v as g e ra ~6 e s, Sao Paulo, Conrad, 2002.

, . A s oa ed ad e d o e s pe td cu lo , Rio de Janei ro , Con tr apon to , 1997. Est e l iv re e urn claro desvio

(detournemmen t) de var ie s t ex to s, p ri nc ipalment e deMarx e Hegel , e dea l guns man if es to s,

0[1100 comun is ta . A cri ti ca ao espet aculo, que ja est ava p resent e nos numerus da IS , passa

~se r u rn dos t emas p ri nc ipai s de Debor d; e st a c ri ti ca e ra na ver dade u rn a le rt a i ncessant e it

"Iiena<;ao da sociedade gerada pelo fet ichismo da mercadoria.

1 EBORD, G., "Theses sur l 'I nt emat iona le S it ua ti onni st e e tson t emps". I n: La v e r i ta b l e scission

d a n s I' l n t e rn a t i on o l e S i t u a ti o n n is t e , corn Gianfranco Sanguinet ti , Par is, Champ Libre , 1972.

" DEBORD, G., "De l 'a rchi tect ur e sauvage". I n JORN,A., Le j a r d in d 'A l b is o l a (1974), republicado

em O n t he p as sa ge o f a f ew p eo pl e t hr ou gh a r at he r b ri ef m om e nt i n t i me : t he S it ua ti on is t

uusmotiona), Cambridge Mass. , MIT, 1989.

'h I )EI30RD G., "Re la to ri o sob re a const rucao de s it uacdes e sob re as condi coes de o rgan iza-

\ ,10 e de a ,ao da t endenc ia s it uaci on is ta i nr er naci onal " (p, 43).

Idem.

VANEIGEM, 11 . . , "Cornentarios contra a urbanisrno", IS n? 6 (p.153) .

'" I I, tr lo Con st an t, q ue i ns is ti u na p ro po sta d e uma c id ad e ut op ic a, No va Babi lo nia , p ro du -

v,lndo Inulllcro8 mnpns p maquct es, forll1alizanclo um v e rd a de i ro projeto, a que provocou

um d ' u un l :( ,t 1 rl lm "I ' ll o W i n D ( '\ J or l l ( ' "UU d es ll gn me nt o d a I S em 1960. "C on st an t e nt ro u e rn

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J l , .

ch eque co rn a I Spor que s e p reo cupa va em p rimei ro luga r, e quase exdu si vame nt e, c om a s

qllcst8es de estrutura de cer to s conj un to s d e u rb an ismo unit ari o, ao p as so que out ro s

s it uaci on ist as as si nal av am que, no est ado em que se en cont rav a t al p ro je to , er a p reci se

.nfatizar 0 contsudo (de jogo, de c r ia cao l ivre davida cot id iana ). Logo, a s te se s deCons tant

v al ori za vam mai s a s t ecn ico s d as f or rn as ar qu it et6 nie as do que a bus ca por uma cu lt ura

global." (I S n" 5). Ass im Constant abandonou a IS, foi subst ituido por A tt il a Kotanyi , mas

continuou desenvolvendo 0 p ro jet o d e Nova Bab il 6n ia p ar uma decada. Ver LAMBERT, J

C " N ew B a by lo n - C o ns ta n t, Art et utop ie , Paris , Cercle d'Art, 1997.

,0 VANEUGEM, R,e KOTANYI, A" "Programa elementar do bureau de urbanismo unitario", IS

nO 6 ( c f . p. 139),

. .. LECORBUSIER, Po ruma a rqu i te t u r a , Sao Paulo, Perspectiva , 1989 (orig. Ve r sun e a r c h i te c t u re ,

1923),

, ,. , VANElGEM, R, e KOTANYI , A., "Program. e lemental ' do bureau de urbanismo unitario".

IS n? 6 (cf. p. 139)

" DEBORD, G" "Rel at or io s ob re a const ru ca o de s it ua co es e sobr e a s ccndi co es d e o rg an iza-

,a D e de a ,ao da tendenc ia s itua cionis ta interna cional " ( cf .p , 43) .

' " T od .s as d ef in ico es si tu adon is tas f or am pub li cad as n a IS n? 1 (d.p, 65),

'5 DEBORD, G" "Re la torio sabre a const ru ,ao de s itua coes e sobre a s condicoes de organiz a-

,a D e d e a ,a o d . t sndenda s it uaci on ist a i nt er nadonal " (cf , p , 4 3) ,

>c , 0 c on tat o en tr e os situacionistas e 0 sociologo e fil6sofo Henri Lefebvre (190111991) foi

emum prime iro momenta ext remamente cordial mas depoi s t rouxe var ie s desentendimen-

tos, principalmente com Debord, que nao aceitava as implicacoes institucionais de Lefebvre

( ta nto com a par tido comunis ta quanto com auniver sidade ), e adi ssoc ia cao ent re sua vida

e seu pensamento teodco. Lefebvre, impor tante e conce ituado pensador marxi st a, publi -

cou inurnercs l ivros sobre a que stao urbana, e talve z 0 mai s impor tan te d el es , n o auge de

Maio de 68, L e d r o it a l a v i l le

,I 0prirneiro livro, Introduc t ion a 1a critique de la vie quot idienne , e publicado em 1946; 0 se-

gundo, C r it i qu e d e 1 0 v i e quo t i d i e nn e , em 1963, e a ultimo e m a is conhecido em 1968: La vi e

q u o ti d ie n n e d a n s I,m o n d e m o d e rn e .

'IH "Le febvre on the Situa tionni st s: a nin te rv iew", in October n'' 79, inverno de1997, MIT Pre ss ,

. . Outros t ipos semelhantes de exper ienc ia s au s imples r ef le xces sabre 0 e spa,o urbano pro-

vocavam ou conside ravam a propr ia exper ienda s stet ic a ou a apreensao a fe tiva des se s e s-

pa~os , Podemos ten tar t ra ca r uma hnha dea rt is ta s e teor icos que vir ia des deBaude la ir e, daide ia de [ l imeur ( em 1863, no texto Le p e in t re d e la v i e mode rn e ), passando pelos dadaistas

com as excur soes urbanas por lugares banai s, a s deambulacoe s a le atcr ia s organiz adas por

Aragon, Bre ton, P ic abia e Tza ra , ent re out ros, que continuaram com as sur re al is t a s l idera-

dos per Bre ton, pela exper ienc ia f is ic a da e rr imcia no e spaco rea l urbano que foi aba se dos

manifestos surrealis tas (edos livros L e p ay son d e P a r is de 1926 de Aragon e N ad ja de 1928

e C umou r [ou de 1937 , ambos deB re ton) , q ue desenvo lv em a i de ia d e ha sa rd ob j e c ti f ; depots

disso, Walter Benjamin retomou 0 conre ito de { laneur de Baude la ir e eAragon, e comecou a

t rab al b ar c om a i dei a d e ( l imerie , au seja, de f la nanc ia s urbanas , a tnves tiga cao do e spaco

urbane pclo (lane!.!r ( pr in ci palmen te d e Par is e d e s uas p assa gen s c ober ta s no L e livre de s

/JflNSajlos), A p es nr d e 0{ lane" , se r para os situacionistas 0p ro t6 ti po doburgues e nte di ado e

Ill'lll propcstas. ~ ci, t ntativa dcstes de se distandarem das, SCI\undo eles, promenades

/m/)lli / / i w IIlll ru. i llstn ,nI' ~LtuarilllliHI'"8 onlr lbu i r am p a ra r l on n nv o lv r r {'IIIIII,~"~madeia ao

propor a nocao de der iva urbana, da e rr ancia volunta ri a pelas rua s, Sem duvida houve uma

grande inf luencia dadai st a, por exe rnplo da famosa excur sao dadai st a - s empre propostas

emluga re s e scolhidos pre ci samente par sua banal idade e fa lt a de in te re ss e - a igreja Saint-

Jul ie n- le -Pauvre em Par is , que f icou conhecida como Le r e V i s it e e ocarreu na quinta-feira ,

1 4de ab ri l d e 1921 as 15ho ras , q uando B ret on l eu um man if es to p ar a e p at e r l e s b o u r g eo i s,

Es sas i de ia s se d esenvo lv er ar n t ambem no mei o a rt is ti co ap es o s s it uaci on ist as , Logo em

seguida a grupo neodada is ta Pluxus (Maciunas , Pat te rson, F iJ liou , Ono e tc .) t arnbem pro-

pos exper ienc ia s s emelhantes ; foi a epoca dos happenings no esp a, o pub li co . No Br asi l o s

tropicalistas tambem 'tiveram algumas ideias semelhantes, principalmente 0 Delirio

Ambulatorium de Helie Oitic ica (outros artis tas brasile iros ja tinharn proposto experiencias

no e spal 'o urbano bern antes , c omo, par e x em pl o , I 'l a vi o de Carva lho) . Dentro do contexto

da a rte conte rnporanea, var ie s a rt is ta s t raba lharam no e spaco publico deuma forma c ri ti ca

au com um que st io namen to t eo ri co , e, en tr e v ari os out ro s, p odemos ci tar : K rzys zt of

Wodic zko, Danie l Buren , Gordon Mat ta -C la rk ou Dan Graham, 0 denominador comum en-

t re ess es a rt is ta s e s uas aco es u rb an as ser ia 0 f at o d e e les v er em a c id ad e como campo deinvestigacoes artis ticas e novas possibilidades sensitivas: e les acabavam assirn mostrando

out ra s manei ra s de se ana li sa r e e studar 0 espa,o urbane atraves de suas obras/experien-

cias.

DEBORD, G., " In trodudio a urna c ri ti ca da geograf ia urbana" (cf. p. 39).

Debor d e Jam re al izar am j un to s doi s li vr os i lu st rados , fei to s b asi camen te d e co la gen s e

outros "mapas" F i n d e C o p en h a g ue , Copenhague, MIBI, 1957, e Memo i r e s , Copenhague, IS,

1959, a le rn do mapa G u id e p s yc h og e og r ap hi qu e d e P a r is - D i sc ou r s s u r l e s p a ss io n s de I ' amour

(1956).

'I~ Os desvios de dir ec ao e spontaneos fei tos par a lguem que c ir cula nes se s ambientes , a lheio

as conexoes uteis qu e usualmente direcionam seu caminho.

T he N a ke d C it y, de 1948, d eA lb er t Mal tz e Mal vi n Wadd, e urna his t6ri a de detet ives que

inves tigam casos em Nova York. 0 fi lme se p ass a em Manha tta n, n as ru as enos esp aco s

publiccs dessa parte da cidade. 0 titulo d o filme, por sua vez, foi retirado de um livro de

fotos de c rimes publicado em 1945.

Chornba rt de Lauwe e sc reveu, antes do sel l. c la ss ico sobre Par is , dai s l ivros sobre fotogra -

Has aereas: L a d ec ou v er te a er ie n ne d u m o nd e em 1948 e P h o to g r ap h ie s a e ri e nn e s. L ' et u d e d e

I 'h o mm e s u r t er re em 1949.

' , . ,DEBORD, G" "Introducao a urna critica da geografia urbana" (d. p. 39).

Potlatch n " 23, out ub ro de 1955, do t ex to co le tiv o "Pr ot es tat io n a up res d e l a r ed act io n du

Times"

'" Simbolizados poruma doutr ina, a Car ta deAtenas , par s eu princ ipal defensor, LeCorbusier ,

e pelo icone do pas -gue rr a, c s ronjuntos habit ac iona is moderni st as .

1n MUMFORD, E" Th e Ciam d i sc o u rs e o n u r b an i sm , 1928-1960, Cambridge Mass" MIT, 2000

( toda s a s c it acoe s de origina ls dos ClAMs sao des se l ivro). A ldo Van Eyck fez e studos e tno-

l6gicos, principalmente dos D ogon s e Pueblos , e sempre se in te re ssou pelo que foi chamado

d e a r q u it e tu r a ventacula ou popular.

Pod cmo s divid ir a s do z ClAMs em I'rils f a se s d i st in r as : ClAMs I a I ll , d om in ic da lingua

o le ma ( su lc us c n l, 'r ll , n il , 1 1 1 1 ill do rnovlrnen: ° pr o c u pa c o es s o c ia l s e t e c n ic a s ( r a ci o n a li -

'0 1' o I n r ol1 lol r ill' o): C fI \M ~ IV " V II, rlllllll,'lo da l lngua fran esa (em par ti cu lar , Le

CIlI'hlinir'), . " " ,11 '" \ ' II t i" " ', ,, , ,(11111"110' i li llri lJlI, \i ista e urhnna, Cn,l,1 dl' I\IT."os; r l l lMR

35

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VIII (IX, JOnlfllln rI l tn gu n 1 11 8 1S~ (lngleses c holandes ,), T om X I' d lm' !l ] u, i' lo d o r n o vi -

1 1 1 0 1 1 t o, U m ,n i 1 . 1 1 1 0 co loqu io , fim o f i da 1do m ov im en to , e q u e ja na o u tt ll e v a 0 terrno ClAM,

I ol r cn ll xado em 1959 em Ott er loo, Hol anda .

III A 'festa de s ncerramento deste evento se deu no terraco-jardirn da noviss irna Unite

d 'Hab it at lon de LeCorbus ie r ( conjun to hab it ac iona l- ti po em Mar se lha) e r ep re sentou uma

despedida de LeCorbus ie r, que nao par ti ci pou mai s des coloquios seguint es , ja completa-

m en te do rn in ad os p el a n ova g era ca o mod ern a (T eam X ).

J am apa re nt em ent e s o c ul tiv av a c an ta ta s c om s eu s i nimi go s d e d en tro d os C lAMs. Is so

a pe sa r do pr op ri o J am t er t ra ba lh ad o c om Le Corb us ie r, a ss im c omo s eu a rq ui -i nimi go

Max Bil l, que f az ia par te da a la u lt ra -r ac iona li st a do ClAM.

A revista e f und ad a em 1 946 e , e nt re 1 959 e 1 963 , B ak er na eV a n Eyc k n e la c ol abo ra ram; a

par ti r d ess. dat a Nikol aas Hab raken passou apa rt ie ipar da l i nha edi to ri al . Hab raken t raba -

lh ou c om a q ue st ao d e h a bi ta ca o e p ar tic ip ac ao p op ula r e f un do u a g ru po SAR ( St ic ht in g

Archi tect en Resea rch) , s imbo lo do u rban ismo par ti ci pa ti vo hol andes. 0 a rqui te to membr ado Team X mai s v al ta do p ara q ue st os s p art ic ipa ti va s f ai u rn i ta li an o: G ia nc ar lo d i C arl o,

que pos te ri orment e r ea li zou uma exper ienc ia i nt er essant e em Trevi ( 1970 /1975) .

Constant, N ouve l le Baby l o n e (1960), in Conrads U, P r o g ra m m e s e t m a n i fe s te s d e V a r c h i te c tu r e

duXXeme s i e c l e , Par is, La Vil lette, 1991.

Constant, N e w B a b y lo n , in LAMBERT J.-C, N ew B ab yl on - C on st an t, A rt e t a to p; e, Paris,

Cerele d 'Art , 1997.

G5

4iG In Potlatch n? 9, 1954: "Percebe-se imediatamente 0 o rdenamen to car te si ano do p re tense

l ab iri nt o d o J ar di n d es Pl an te s e rn P ar is e 0 r espect iv a avi so : E PROIBIDO BRINCAR NO

LABIRINTO. E a mai s c la ra s in te se do esp ir it o de t oda uma c iv il izncao . E essa c iv il izacao

que queremos derrubar",

Constant, N e w B a b y lo n , in LAMBERT, J.-C. , N ew B ab yl on - C on sta nt, A rt et uiopie, Paris,

Cerele d 'Art , 1997.

us

Ve r c orn pa ra co es fo rma is d os p ro je to s em: SADLER S ., The S i t u a ti o n ; s t City, Cambridge

Mass. , MIT P ress , 1998.

Groupe d 'Etudes d 'Archi tect ur e Mob il e, coo rdenado par Yona F ri edman.

Que t ambem par ti ci pa ra rn do T h e I n d ep e nd e n t G r o u p e p ropuse ram c idades u topi cas como

W a l k in g C i ty au Instant City.

Po rrn ad o, e nt re ou tr os , p ar J ea n Bau dri ll ard e Hube rt Ton ka , q ue t in ham s ido a nt er ior -

men te ass is tent es de Lef ebvr e

Constant, N e w B a b y lo n , in LAMBERT, J.-c., N ew B ab yl on - C on st an t, A rt e t u to pi e, Paris,

Cercle d 'Art , 1997.

internationale

situationniste

bul le tin centra' edit . por 1tU seetiQl'\s de I'j"ternat~onllie situaticnnilte

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QUE S TOE S P R E L IM IN A R E S A CONSTRUCAO

D E U MA S IT UA CA O

"Ano a const ru~~o de si tuacoes come~a apos 0 desmoronamento moderno da

~ 0 de espe taculo . E fac il ver a que ponto esta ligad 'r .mundo 0principio caracteristico do espetaculo- a nao_paor~a len~~aAodo velhorio b . L1Clpa~ao, 0 contra-

,perce e-se.com~ ~smelhores pesquisas revolucionarias na cultura tenta-

raJ; romper a ldentlfrca~ao psicol6gica do espectador com 0 her6i a f d

estimular esse espectador a agir...A situa~ao e feita de modo a ' .. irn e

s eu s construtores, 0 papel do "pu blico" '. ser vivida par

fig~r an te, deve ir diminuindo, enqu:~t~ :::~~:S;l::~:;O ~:~os de ~e~oserao chamados atores mas num s tid d que ja nao

, en I a novo 0 termo, "vivenciadores".

o 110S50conceito de "situa~ao cons-

trulda," nao selimita a um uso unita-

r io de meios a rt ist icos que formem

u m a a r nb ie n ci a , por maiores que se -

lam a extensao espaciotemporal e 0

dinamismo dessa ambiencia. Asitua-

~~o e, concomitantemente, uma uni-

clade de comportamento temporal.

~ fei ta de gestos contidos no cenario

de urn momenta, Gestos que sao a

produto do cenario e de s i mesmos.

P roduzem out ras formas de cenarin

e outros gestos. Como orientar essas

forcas? Nao e 0 caso de nos conten-

taFmos com ensaio s empiricos de

ambientes dos qua is , par provoca-

~ao maquinal, se esperam surpresas.

A orienta<;:iiorealmente experimental

c ia atividade situacionista consiste

em estabelecer, a partir de desejos

r conhecidos COm maier ou menor

clareza, Urncampo de atividade tern-

poniria favoni.vel. a Esses desejos. S o

R e la t 6r ia s a br e a c o ns tr u ~a o d e s it u ai ;o e s,

o seu estabelecimento pode esclare-

cer os desejos primitivos e 0 apareci-

m~nto confuso de novos desejos cuja

r aiz material sera a n o va r e al id a d e

constituida pelas constru~6es situa-

cionistas.

Logo, e preciso visar a urn tipo de

psicanalise com objetivos situacio-

nistas, e cada participante desta aven-

tura deve encontrar desejos precisos

de ambiencias para r e a l i zd -lo s , ao con-

trario dos objet ivos buscados pelas

correntes freudianas. Cada Urn deve

procurar 0 que arna, a que 0 atrai (e

mais uma vez, ao contrano de certas

tentativas da escrita moderna _

Lei ri s, par exemplo - , 0 que impor-

ta nao ea estrutura individual denos-

so espiriro, nem a explica~ao de sua

forma~ao, mas sua apJica<;:iioossivel

nas situa~6es construidas). Por esse

metodo e possive! fazer 0 levanta-

mento dos elementos constitutivos

das situacoes a construir: proje tos

para 0 m o v im e n to d e ss e s e le m en t os ,

Tal pesquisa s6 tern sentido para

individuos que trabalhem pratica-

mente no intui to de construir s itua-

~6es. Todos eles sao, de modo

espontaneo ou consciente e organi-

zado, pre-s ituac ionis tas , isto e, indivi-

duos que perceberam a necessidade

objet iva dessa construcao atraves de

uma mesma sensacao de carencia da

cultura e das mesrnas express6es dasensibilidade experimental imediata-

men te anterior, Estao lig ados por

uma especializacsc e por pertence-

rem a uma vanguarda his t6rica dessa

especializacao. Logo, e provavel que

em todos haja muitos temas comuns

do desejo situacionista, que se diver-

sificarao quando passarem a fase de

atividade real.

A situacao constr uida, p ar sua

preparacao e seu desenrolar, e force-

samente colet iva. Pode porem ocor-

rer que, pelo menos no periodo das

experiencias iniciais, um individuo

exerca, em dada situacao, uma certa

pre dom inanci a, far a 0 papel de

roteirista. A par ti r deurn proje to de

situacao, elaborado por uma equipede pesquisadores, que marque, por

exemplo, uma r e u ni i io e m o c io n a n t e de

algumas pessoas , sera necessario fa-

zer uma dis tincao entre 0 diretor ou

rotei ri sta - encarregado de coorde-

nar os elementos previos de constru-

~ao do cenario, bern como de preyer

algumas irlterVlm~oes nos aconteci-

m entos (s t u lt im o pro c dim nto

p de 8 'r r l 'p u r 'l l do p e r v. r los ~I [lPOI)-

saveis mais oumenos dentes dos pla-

nos de intervencao dos outros) - e

agentes diretos que vivam a situacao,

depois de ter participado da criacao

do projeto eolet ivo e trabalhado para

a composicao pratica da ambiencia,

bern como de alguns espectadores

pass ivos, est ranhos ao trabalho de

construcao, que deverao ser r eduz idos

a aciio .

Naturalmente a rel acao ent re 0

diretor e os "vivenciadores" da situa-

~aonao sera uma relacao entre espe-

cialistas, E apenas uma subordinacao

momentanea da equipe de situacio-

nistas ao rcsponsavcl de uma expe-

riencia isolada. Essas perspectivas,

ou seu vocabular ro provi sorio , nao

devem levar a crer que se trata de

uma extensao do teatro, Pirandello e

Brech t mostraram a destruicao do

espetaculo teatral, e algumas reivin-

dicacocs que van mais alern. E pos-

sivel dizer que a coristrucao de

situacoes so substituira 0 teat ro no

mesmo sentido em que a construcao

real da vida subst ituiu cada vez mais

a religiao. Visivelmente 0 principal

dominio que vamos subst itui r e rea-

lizar e a poesia, que se consumiu navanguarda denosso tempo e desapa-

receu completarnente.

A realjzacao comple ta do indi-

v iduo, ass im como na exper ienc ia

artistica que os situacionistas desco-

brem, passa forcosamente pela domi-

nacao colet iva domundo; antes dela,

ainda na o ha indiv iduos, e sim fan-

t asmas assornbrando as coi sas que

lhcs Hi' lO confusam I1t of r cldas pe r

63

II

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outros, Encontramos, em situacoes

ssporadicas, individuos isolados que

s guern ao acaso. Suas emocoes diver-

gentes se neutral izam e man tern 0

solido ambiente enfadonho que os

cerca. Destruiremos essas condicoes

,,\.0 faze r surgir em alguns pontos 0

sinal incendiario de urn j o go s up e ri o r .

Em nossa epoca 0 funcionalismo,

que e uma expressao necessar ia do

avanco tecnico, procura e liminar

completamente 0 jogo, e os adeptos

do i nd u st ri al d es ig n queixam-se da

deterioracio de sua a~aopela tenden-

ia aojogo demonstrada pelo homem.

Bssa tendencia, baixamente explora-

da pelo cornercio industrial, logo poe

m xeque os result ados mais ute is,

cxigindo sempre novas apresenta-

coes, Estamos cer to s de que nao e

preciso estimular a continua renova-

~ao artistica das geladeiras. Mas 0

funcionalismo moralizador nao con-

segue mudar essa s ituacao. A unica

saida progressiva e liberar noutro ni-

vel ,e demodo mais amplo, a tenden-

ciapara 0jogo. Sem iS50,as ingenuas

invectivas da teoria pura do desenho

industrial nao modificarao 0 grave

fato de, por exemplo , 0 autom6vel

ind ividual ser sobretudo urn jogo

idiota e,acessoriamente, urn meio de

t ranspor te. Cont ra todas as formas

regressivas do jogo, que sao 0 sell.re-

t rocesso a estagios infant is - sem-

pre Iigados as polit icas de reacao -,

e preciso apoiar as formas experimen-

tais de urn jogo revolucionario.

InternacionalSituacionista

IS n" 1. ju nh o d e 1 95 8

s i tua< ;ao cons trufda

situacionista

situacionismo

psicogeografia

ps icoqeoqrafico

psicoge6grafo

deriva

urbanismo unitario

DEFIN I< ;OES

Momento davida, concreta e deliberadamente cons-

truido pela organizacao coletiva de uma ambiencia

unitaria e de urn jogo de acontecimentos.

o que se refere a teor ia ou a atividade p ratica de

uma construcao de situacoes. Individuo que se de-

dica a construir situacoes. Membra da Internacio-

nal Situacionista.

Vocabulo sem sentido, abusivamente forjado por

derivacao do termo anterior. Nao existe s ituacio-

nismo, 0 que significaria uma doutrina deinterpre-

tacao dos fatos existentes.A nocao de situacionismo

foi evidentemente elaborada por anti-si tuacio-

nistas.

Estudo dos e fe itos exa tos do meio geograf ico,

conscientemente planejado ou nao, que agem di -

retamente sobre 0 comportamento afetivo dos in-

dividuos.

Relativo a psicogeografia. 0 que manifest a a acao

direta do meio geografico sobre a afetividade.

Individuo que pesquisa e transmite as realidades

psicogeograficas.

Modo de comportamento experimenta ll igado as

condicoes da sociedade urbana: ternica da passa-

gem rapida por ambiencias variadas. Diz-se tam-

bern, mais particularmente, para designar a duracao

de urn exercicio continuo dessa experiencia.

Teoria do emprego conjunto deartes e tecnicas que

conco r rem para a co n st r uc a o i nt egra l de urn am-

blonte '!D l ig~(, 0 di l 1 i1mka om experiencias de

f1l1l1j10 1 , . 1 T I ( · I 1 I " ( J .

65

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desvio

cultura

decompos ic ;ao

Abreviacao da expressao: desvio de elementos este-

ticos pre-Iabricados. Integracao de produ~6es artis-

ticas, atuais ou passadas, em uma construcao

superior do ambiente . Neste sentido , nao pode ha-

ver pin tura au rnusica si tuac ioni st a, mas urn usa

situacionis ta desses recursos. Num primeiro senti-

do, a desvio no interior das antigas esferas culturais

e urn metoda de propaganda, que comprova a des -

gaste e a perda de irnportsnria dessas esferas.

Reflexo e prefigura~ao, em cada momento histori-

co, das possibi lidades de organizacdo da vida coti-diana; complexo da estet ica, dos sentimentos e dos

costumes, pelo qual uma colet ividade reage sobre a

vida que lhe e objetivamente dada pela economia.

(Definimos esse termo apenas na perspectiva da cria-

~ao de valores , e nao na do seu ensino.)

Processo pelo qual as formas culturais tradicionais

se autodestruiram, sob 0 efeito do aparecimento de

meios superiores de dorninio da natureza, permitin-

do e exigindo construroe , culturais superiores. Faz-

sea distincao entre uma fase ativa da decomposicao,

dernol icao efetiva das velhas superestruturas - que

cessa par vo lta de 1930 - e uma fase de r epeticao ,

que prevalece desde entao, 0atraso na passagem da

decornposicao para as construcoss novas esta ligado

ao atraso existente na hquidacao revolucionaria do

capitalismo.

Internacional Situacionista

ISn° 1. j unho de 1958

FORMULARIO PARA UM NOVO URBANISMO

Majestade, sou do outro pais.

Andar pela cidade nao tern gra~a, ja nao existe templo do sol . Por entre asper-

nas das passantes, os dadai st as queri am encontrar uma chave inglesa, e os

surreal is tas uma taca decris tal. Nao deu certo. Sabemos ler nos rostos todas as

promessas, derradeiro estagio da morfologia. A poesia dos cartazes durou vin-

te anos. Andar pela cidade nao tern gra~a, e preciso fazer urn tremendo esforco

para ainda encontrar algo demisterioso nas tabuletas de rua, ult ima expressao

do humor e da poesia:B a in s- D ou c he s d e s P a tr ia rc h es [Banhos-Duchas dos Patriarcas]

Mach in e s a trencher l e s v i an d e s [Maquinas de cortar carries]

Zo o N o tr e -D a me [Zool6gico Nossa Senhora]

P ha rm a ci e d es S po rt s [Farmacia dos Esportes]

A li me nt at io n d es M a rt yr s [Mercearia dos Martires]

B e t on t ra n s lu c i de [Cimento translucido]

S c i e r i e M a i n -d ' or [Serraria Mao-de-Ouro]

C e nt re d e r ec u pe ra ti on [ on c ti on n el le [Centro de recuperacao funcional]

A m b ul an c e S a in te -A n ne [Ambulancia Santa Ana]

C in qu ie me A ve nu e C are [Cafe Quinta Aven id a ]

R u e d e s V o lo n ta ir es Prolongee [Rua dos Voluntaries Ampliada]

P en sio n d e fa mi /le d an s I e jardin [Pensao de familia no quintal]

HOtel de s Strangers [Hotel dos Estrangeirosl

R u e S a uv ag e [Rua Selvagem]

E a piscina da Rua das Mocinhas. Ea delegacia de policia da Rua do Encon-

tro. A clinica medico-cirurgica e a agenda de emprego do Quai des Orfevres, As

flores art ificiais da Rua doSol. 0Hotel dos Poroes do Castelo, 0 Bar do Oceanoe 0Cafe do Vai-e-vem. 0 Hotel da Epoca.

E a estranha estatua do Dr. Philippe Pinel , benfeitor dos debeis mentais,

nas derradeiras noites de verao, Explorar Paris .

Etu, esquecida, tuas lernbrancas destruidas por todos oslamentos domapa-

mundi, abandonada no Caves Rouges de Pali-Kao, sem musica e sem geografia,

ja nao par tindo para a h ac ie nd a o nd e a s r ai ze s p en sa m n a c ria nc a e o nd e 0 vinho

t er m in a e m f db u la .~ e le c a l en d ar to . Agora, acabou. Nao veras rnaisa hacienda. Ela

nao existe .

.E p re I s o C(lI'W r ut r n hadllllt/(lo

67

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VE NE ZA VE NCE U R ALPH R UMN EY

7 !J

o situ acionista b ritanico Ralph

Rumney, que desde a primavera de

1957 efetuava reconhecimentos

psicogeogr<iflcos em Veneza, decidiu

ulteriormente explorar de modo sis-

tematico essa aglomeracao e preten-

dia apresentarum relatorio exaustivo

a esse respeito emjunho de 1958 (cf.

urn anl lll cio do n" 29 de Potlatch). 0

trabalho cornecou bern. Rumney, que

conseguira estabelecer os primeiros

elementos para urn mapa de Veneza

cuja t ecnica de notacao era nit ida-

mente superior a toda a cartografia

psicogeogr<ifica anterior, comunicava

suas descobertas aos colegas, passa-

va-lhes as primeiras condusoes e ex-

p ctativas. Em janeiro de 1958, as

not ic ia s comecaram a piora r, Rum-

ney, diante de inumeras dificuldades,

cada vez mais enleado pelo meio que

ele tentara atravessar, teve de aban-

donar uma a uma suas l inhas depes -

qu isa e, afinal, como dizia em sua

comovente mensagem de 20 de mar-

co, ficou reduzido a imobilidade.

Os exploradores antigos sofreram

muitas perdas a custa das quais che-

gou-se ao conhecimento de uma geo-

grafia objet iva. Nao e de estranhar

que tam bern haja v iti mas entre o snovos pesquisadores, exploradores

do espaco social e das maneiras como

ele e usado.

As armadilhas sao out ras, mas 0

objetivo tarnbem e de outra nature-

za: procura-se chegar a urn usa

apaixonante da vida. E compreensi-

vel que se esbarre nas defesas do

mundo do tedio. 0fato e que Rumney

acaba de desaparecer, e seu pai ainda

nao foiprocura-ln, A selva de Veneza

foi mais f orte e se fechou sobr e urn

jovem promissor e cheio devida, que

se perde , que se dissolve , ent re nos -

sas multipias lembran~as.

InternacionalSituacionista

IS n° 1, j unho de 1958

Levantamenlo delodos astrajetos efe-

tuados durante um ana par uma estu-dante que mora noX V I ' m .

arrondissemont do Paris. Publicado par

Chombart d 1IIIW m Paris et

( 'a gg l m f , l ion I " '" It I lll •

E SBOC ;O DE DE SC R IC ;AO P SIC O GEOGRA F IC A

DO LES HA LLES' DE PA RIS

"De fato, para obter uma infima melhora nas relacoes sociais e preciso mo-

bil izar tanta energia colet iva que, sea grandeza real dessa desproporcao apare-

cesse inteiramente a consciencia publica, constituiria urn fator de desestimulo ...

o que minimiza, para a consciencia humana, essa horrivel desproporcao e a

ampliacao artificial e mitologica dos resultados esperados, levada a proporcoes

que correspondem mais a soma dos esforcos empregados e dos quais nao sepode

esconder a importancia, jaque ela e diretamente sentida. Essas deformacoes que,observadas de fora, tern urn aspecto fantasista, sao produzidas pelas ideologias

que, por tal motivo, constituem a condicao indispensavel do progresso social."

Leszek Kolakowski i R es po n so h tt iu : e t H i st oi re ).

o mundo em que vivemos pare-

ce, sobretudo sob 0aspecto material,

cada dia mai s est re ito. Chega a nos

abafar. Sofrernos profundamente sua

influencia; reagimos-lhe de acordo

com nossos inst in tos em vez de rea -

gir de acordo com nossas aspiracoes.

Em suma, esse mundo comanda nos-

so modo deser e ,par i sso , nos esma-

gaoSe ele nao for rearrumado - ou

melhor, estilhacado - nao havera

possibilidade de organizar, num nivel

superior, 0modo de vida.Os situacionistas sentem-se capa-

zes , gra~as a seus metodos atuais eao

que neles ainda vai ser desenvolvido,

nao so de rearrumar 0meio urbano,

mas tarnbem de modifica-lo substan-

cialmente. A te 0 momento a fal ta de

recur so s - a p recaria ajuda que nos

deram pessoas que se dizem interes-

sadas por tudo 0 que se refere aour -

banismo, a cul tura e seu impac to

sobre a vida - s6 nos perrnitiu p ro-

ceder a uma reduzida experimenta-

~ao, que permanece no ambito da

a~ao pessoal. Mas 0 que desejamos e

uma intervencao direta, efetiva, que

leve, apos os indispensaveis estudospreliminares - e nesse ponto a

psicogeografia sera de grande impor-

t ancia - , a inst aurar novas ambien-

.Le sHa lles , a mercado centr al de Par is , c ornpunha -s e de imponentes pavilhoes de fe rro evidro

construidos em 1851 por Vi ct or B al tard . S it uado em p leno c en tro d a ci dad e, ess e mercado,

alern de concentrar 0 aba stec imento de viveres par a ta cado, confe rt a ao bai rro, que ado tau 0

mesmo nome, uma grande e fe rvescenc ia corne rc ia l e tur is ti ca . Nos anos 1960, apos for te r es is -

tenda nao 56 dos moradores, a rnercado fai t ra ns fe rido para Rungis, na per if er ia par is ie nse, e

o s p av il he es d cm cl ld oa , N o " Rp n~ o '1Lle ficou, conhecido como 0 " t ro t ! d e s Ha i le s " ( 0 b ur ac o d as

H o li es ], f nl ron l l l rn 1d " i' ~ " \ 'I ' II I r O I 1 1 ~ r lnl Forum d es Halle s e u rn a es ta ,Ao de metrO e 1 1 rm ,

' O c i O I ' 9f.b , '1 1 1 1 ' , 1 " "1 1 1 1 1 1 11 ) \ \ " Nil I I l I u u , 1 1 0 , os p l \ v i lM c ~ do mnrrnrlo ( I r a n ' e m C O Il iO LeI! rl.dh",

( 1 1 1 1 1 1 1 1 1 I I I {I I l l l l \ > i I I , r l h r J , l l i l l JI I I r 1 ' J" I j ' . 1 1 I1 I I I i J l l l n u ( 0 !'t·~1I~lhlfl).IN'I'1

79

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Mapan' 1- A unidade dearnbiencia do

Les HaIles.

das, situacionistas, cujas caracteris-

t icas essenciais sao a curta duracao e

a mudanca constante.

A psicogeografia - estudo das

leis e efeitos exatos do meio gcogra

nco, conscientemente planejado ou

nao, que agem diret amente sabre 0

comportamento afetivo dos indivi-

duos - ap resenta-se, segundo a de-

f tn icao deAsger Jam, como a f iccao

ientifica do urbanismo.

as recursos da psicogeografia sao

nurnerosos e variados. 0 primei ro e

mais solido e a deriva experimental.

A deriva e urn modo de comporta-

m nto experimental numa sociedade

urbana. Alern de modo de acao , e urn

m io de conhecimento, especialmen-

re no que se refere a psicogeografia e

tt t eori a do urbanismo uni ta rio , Os

outros meios, como aleitura de fotos

nc r eSC d mapas, 0 es tudo de esta-

Irlltlrn~, c1 " grMi os u de resultados

d l ' 1 1 ( 'I J ( ll dNI lI I no loll l li r: lf I, B ~ I Oi 1 -

cos e nao possuern esse lado ativo e

direto que pertence a deriva experi-

mental. No entanto, e gracas a e les

que podemos ter uma p rimeira re-

presentacao do meio a estudar. E 0

resul tado desse estudo pode, e rn re-

torno, modificar essas representa-

coes cartograficas e intelectuais no

sentido de uma maier complexidade,

de urn enriquecimento.

Escolhemos como assunto de estu-do psicogeografico 0bairro parisiense

Les Hallesque, aocontrario das outras

zonas que foram ate entao objeto de

certas descricoes psicogeograficas

(Continent Contrescarpe, zona das

Miss6es Estrangeiras), e muitissimo

an imado e conhecido, tan to pelos

parisienses quanto pelos estrangeiros

que passam a l g u m tempo na Franca,

Primeiro, vamos dar os!imites do

bairro tal como 0concebemos; as di-

visiies caracterizadas do ponto de vis-

t a das ambienc ias; as dire~ ii es que

somos levados a tomar dentro e fora

desse terreno. Depois, faremos algu-

mas propostas eonstrutivas.

o bairro Les Hailes, em termos de

divisao administrativa, e 0 segundobairro do primeiro arrondissement.

Situado no centro de Paris , tern con-

tato com zonas bern diferentes entre

s i. Sob 0 ponto de vist a da unidade

de ambiencia, 0 bairro pouco difere

de seus !imites oficiais e praticamen-

te se confunde, ao no rte, com 0 se-

gundo arrond issemen t . Consideramos

como frontetrns: n ·It·/llc, .1 ru a Saint-

Den is; ao 1 101 'I ', II I 11 1,1 ~1 S.1int-

SnllvI 1111'. , 1 1 , , 1 1 , , 1 1 , ( 110 ) 111"11 . , , ,1/1 run.

Herold e d 'Argou t; a oeste, a r ua da

Croix-des-Petits-Champs; e, ao suI, a

rua de R ivol i, que e preciso atraves-

sar, a partir da rua deArbre-Sec, pela

rua SaintHonore (ve r mapa n? 1).

Aarquit etura das ruas e 0 cenario

moven te que as complica du rante a

noi te podem dar a impressao de que

o LesHalles e urnbairro diffdl de per-correr, E ve rdade que, nas ho ras de

atividade noturna, 0 engarrafamen-

to de caminhoes, 0 amon toado de

engradados, 0 vaivern dos feirantes

com seus car rinhos motor izados ou

manuais impedem 0 fluxo do transi-

toe obr igam ospedes tres amudar de

percurso (0 que e muito tavoravel a

antideriva circular). Mas, a despeito

das aparencias, 0 bairro Les HaIles,

gra~as asvias de acesso que 0 circun-

dam ou cortam em todas as direcoes,

e urn dos mais faceis de explorar.

Quatro grandes vias atravessam 0

Les HaIles deponta a ponta e favore-

cer n sua distribu icao em zonas de

ambienc ia dis tint as , mas que se co-

municam: a mais importante das qua-

tro, no sentido leste-oeste, e a rua

Rambuteau que, por diversos prolon-

gamentos chega a regiao do Banque

de France ; a rua Berger, t ambern no

sent ido les te -oes te , a a travessa na

par te sul ; a rua do Louvre, no senti -

do norte-suI; a rua Les HaIles, no

sentido sul-leste-norte-oeste.

Existem muitas outras vias secunda-

rias de penetracao, como, por exem-

plo, asruas do Pont-N suf/Bal tard, em

on ta to om n mr"W'1 I l l'IIr]H('tdn do

S en , a trav s 101 '11111Ni l l I l ." 10111 tli

versos setores do nor te a traves das

ruas Montmartre, de Montorgueil e,

urn pouco menos, pela rua de Turbi -

go. Esta via deve ser considerada se-

cundari a par causa dos dois cor tes

relativos representados pela travessia

da rua de Rivoli e dos grandes predi-

os de Les Halles centrais.

A caracterist ica essencial do ur-

banismo do Les Hanes e 0 aspecto

ins tave l do tracado das l inhas de co-

municacao, decorrente das diversas

barreiras e das construcoes eferneras

que interferem de hora em hora na

via publica. Aszonas de ambiencia se-

paradas, que sao muito paree idas ,

acabam interferindo no mesmo lugar:

no complexo dapra~a dosDeux-Ecus /

Bourse du Commerce (rua deViarme).

Aprimeira zona, aleste, esta com-

preendida entre as ruas Saint-Denis,

de Turbigo, P ie rre-Lescot e a pra~a

Sainte-Opportune. E a zona depros -

tituicao, com uma infinidade debare-

zinhos. No fim de semana uma

multidao masculina muito pobre, vin-

da de outros bairros, procura-a como

lugar de laze r. Aoredor dapra~a dos

Innocents as mendigos fazem ponto.

o aspecto geral dessa zona e depri-mente (...).

Arua Saint-Denis marea urn corte

bern nit ido ent re essa zona e osba ir -

ros , a les te, de Saint-Merri /Saint-

Avoye, corte esse que permanece ate

a a rnbiencia do Les Hai les. Como 0

corte setorna mais pronunciado com

o bulevar de Sebastopol, 0 Plateau

S ni nt -M c rr i r e eb c m nos influ l1ei,

do r. N r [11111'11,1'lllp(Jr 1fill., IHfl II Ipn(.lll

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l1J atlvidade economica do bairro (es-

In ionamento de caminhoes) pareca

ur n fator de integracao.

A segunda zona, ao su l, estende-

se entre as mas de Rivo l i / Arbre-Sec-

Saint-Honors e a rua Berger. Pelo

contato, diurno, com a efervescencia

comercial da r ua de Rivoli e com 0

mercado das flo res situado em Les

Hailes centrais, essa zona e, a noite,

animada e alegre. Nela se encontra amaioria dos restaurantes ebares fre-

quentados pelos t raba lhadores do

bairro.

A t erce ira zona, que f ica a les te

(entre a rua do Louvre e a rua da

Croix-des-Petits-Champs), e calma

tan to de dia quan to de no ite. Tudo

denota ordem, e a ativ idade de Les

Hai les vai diminuindo, ass im como a

ambiencia, de leste a oeste, para ees-

sa r tot almente diante do Banque de

France e na pra<;:ade Valois. Esta li-

nha fronteirica ja anuncia a proximi-

dade dos bairros ricos (Palais-Royal,

Opera). Aimpressao e deseestar num

bai rro residenc ia l qua lquer, e nao

num t recho do Les HaI les. Embora

passagens como a Galerie Vero -Doda tou a Cour des Fermes ap resentem a

ambiencia rnoven te e deem a essa

zona urn aspec to est ranho e indef i-

nido (...).

Arua da Croix-des-Petits-Champs

e um a tangente a unidade de

ambienda do Les Hailes. Seu interes-

s sta na s possibilidades de contato

( J1W o~-Y'c .s ob r tu do nas rmed iacoes

do rllzllrn n to d , p .ra ~a d os D eu x-

f ! rl lH ( (J I ll / 1 ru n til' Vlnmic. u anto ~

p r ac a das Victoires, onde ela desem-

boca ao norte, e um ponto fronteirico,

estranho ao Les Halles e que desen-

coraja 0acesso aomercado. A pra~a das

Vietoires e urn baluarte dos bairros

burgueses (no mesmo espirito da luta

de classes transposta para 0 urbanis-

r n o, c o nv e m citar 0 opressivo Palacio

de . Just ica de Bruxe l a s , limitrofe com

os bairros pobres),

Com a quarta zona, que constituio nor te do Les HaI les, chegamos it

parte mais extensa e sobretudo mais

celebre desse vasto eomplexo urbano.

Vejamos seus l imites . Primeiro a rua

Rambuteau, prolongada a oeste da

igreja Saint-Eustache pela rua

Coquil l iere , constitui a principal fa-

chada (0lado oposto dessa rua e 0ali-

nhamento dos pavilhoes de Les

HaIles centrals). A fronteira leste se-

gue a rua Pierre-Lescot, a rua de

Turbigo e vai ate a rua Saint-Denis. A

oeste, a zona acaba nas mas Herold-

d'Argout. Na parte setentrional,

alem da rua Etienne-Marcel, ha uma

linha fronteirica onde a influencia de

LesHalles, que diminui a medida que

se avanca para 0 norte, aparece atra-

ves das vias secundarias , em geral no

sentido sul-oeste-norte-leste,

como as mas Rousseau- Tiquetonne,

a rua do Jour con tinuada pela pas-

s agem da Reine de Hongr ie , a s ruas

Mauconseit-Erancaise. Esta zona

compreende ao mesmo tempo uma

regiao residencial paupe r r ima e os

restaurantes 1 1 ) , 1 ' 1 1 1(lIIIIIN" , a t r a c a o

do tur ism ! " I I I I I III 1 , 1 1 " 1 1 1 1 1 . "n : ur n in-

t(JI1DO ( 1 1 1 1 1 1 1 1 , 1 Vlillll.lt Ii" IIIIm 11-

Mapan" 2 - Fluxos internos e cornunicacoes externas doLes Hailes.

tos e uma impor tante i rnplantacao

administrativa (Hotel des Postes, Cen-

tro da EDF,rua Mauconseil, varias es-

colas). Taiselementos provocam uma

consideravel diferenciacao entre as

ambiencias diurna e noturna. Duran-

te a noite, e a zona que concent ra

quase todas as caracterist icas de di-

vertimento do Les Hanes, no sentido

burguss e tradicional do termo (.. .) .

A zona de interferencia central, a

plaque tournantc' das diversas dire-

yoes de ambienc ias do Les Hanes , e ,como ja indicamos, 0 complexo

Bourse du Commerce/Praca dos

Deux-Ems. Essa zona se encontra na

extremidade oeste do bloco constitui-

do pela justaposicao dos grandes pa-

vilhoes de Les Hanes centrai s. Mas

essas edificacoes nao agem como li -

ga~ao e sim como corte; a rua Careme

que as atravessa no sentido longitu-

dinal nao participa dessa relacao,

As diversas dlrecoes que se c ru-

zam nessa plaque tournante afetam

muito 0 itinerarlo que urn individuo

au gmpo deseje efetuar, com aparen-

te espontaneidade, dentro oufora do

Les Hanes (ver mapa n? 2).

Segundo a teori a das zonas con-

centricas urbanas, 0 Les HaIles faz

parte da zona de transicao de Paris

(degradacao social, aculturacao, rnis-tura depopulacoes , que Eo 0meio pro-

pieio a s trocas culturais). Sabe-se que,

no caso de Paris, essa divisao eon-

centrica se complica com a oposicao

leste-oeste entre asbairros mais po-

pulares e os bair ros burgueses, co-

merciais au residenciais. A l inha de

. A exp r G il u r,nn, I' n dU ll ll ll in u m mecanisme q u p er mit e d esviar a ro ta de um trem [lela

mudnneu QlI tllwl I' d "N I . Ilholi. p or n ll ft lo g in , ( 0 1 na o en d" p o lo s s it u nc lo ni st nu c om o f cr r III ·"I·n

VI'I~.,~11~ r l . V f t l i , I N ' I ' 1

83

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ruptura esta , no sul do Sena, no

bu l var Sain t-Michel, No norte do

Sena, ela se desvia l igeiramente para

oeste e passa pela rua da Croix-des-

Pe t it s-Champs, rua N o t re - Dame-

des-Victoires e seus prolongamentos.

No limite oeste do Les Hailes, 0

Ministers des F inances, a Bourse e a

Bourse du Commerce formam astres

pontas do triangulo do qual 0Barique

de France e 0 centro. As instituicoes

concentradas nesse espa~o restrito

fazem dele, pratica e simbolicamen-

te, urn perimetro defensive dos mag-

nificos bairros capitalistas. 0 projeto

CJ lLe visa a deslocar 0 mercado Les

Hailes para fora da cidade e mais uma

p rd a do setor popular de Par is que ,

hu cern anos, urn movimento conti-

I1U t en ta expul sa r para a periferia.

Ao contrario, urn novo espirito

social imp6e que esse espa~o seja con-

servado no centro de Paris para as

rnanifestacces de uma vida colet iva

liberta. Em lugar do comercio degerie-

ro s alimenticios, deveriam ser desen-

volvidas em larga escala tendencias

para 0jogo deconstrucao epara 0urba-

nismo movente, surgidas "das aguas

glaciais do calcu lo egoista". A primeira

medida arquitet6nica seria a subst i-

tuicao dos pavilhoes atuais por series

aut6nomas de pequenos complexos

arquitet6nicos situacionistas. Por

ent re essas novas a rqui te turas e em

seu entorno, correspondente as qua-

tro zonas que aqui descrevemos, de-

veriam ser construidos labirintos em

perpe tuo movimento com a a juda de

objetos mais apropriados que os en-

gradados de frutas e legumes que

constituem as {micas barricadas de

hoje.

Levado em conta 0 embruteci-

mento que 0 radio, a televisao, 0 ci-

nema e 0 resto man tern atualmente,

a expansao dos lazeres sob out ro reo

gime ha de suscitar iniciat ivas mais

ousadas. Se Les Halles subsistirern

ate 0 momento em que Esses proble-

mas forem evocados por todos , con-

vern propor que esse mercado se

torne urn parque de divers5es para a

educacao ludica dos trabalhadores.

Abdelhafid Khatib

I S n°2 . dezembro de 1958

E st e e st udo e sl a i na ca ba do e m va ri es po nt es f un da men ta is . e pr in ci pa ir ne nt e n o q ue

sa refere a caracterizacao das arnbiencias nas zonas sumar iamente def in idas. 1550

p or que no sso col ab or ad or fo i a ti ng id o p el os d ec re tos po li ci ai s q ue . d esde o me s d e

set ern br o. pr oi be m a os no rt e-a fr ican os a p er rn an sn ci a n as r uss a pe s a s 2 L30 h_

a essencia l do t rab al ho d e A. Khatib releria-se. e cla r e . a a rn bi en c ia n o tu r na do Les

Ho li es . D ep ol s d e t e r s ide d et id o e e nvi ad o d ua s vezes p ara " Ce ntr os d e ' Ir ia qer n", e le

v lu-se obr igado a dasisti r da exper iencia_ Par isso, tanto 0 pr nt quanto 0 futuro

politico nao podem ser abstraldos das con id r /I ro plio d pr6pria

J I ogoogrof lg.

QUEST IONAR IO

Voce tern algum conhecimento te6rico em ecologia humana? E em

psicogeografia? Quais sao esses conhecimentos?

2

Fez alguma experiencia de deriva? 0que pensa a respeito disso?

3

Qual e a natureza exata de seu conhecimento do bairro Les Halles (visi tas rapi-

das, frequencia assidua, residencia permanente)?

4

Concorda com oslimites da unidade de ambiencia tal como aparecem emnos-

so mapa? Que correcoes the devem ser fei tas?

5

A divis ao do Les Hal les em zonas dis tin tas parece- lhe deacordo com a sua ex-

psriencia no terreno? Que outras divisoes the parecem mais proximas dareal i-

dade?

6

Admite a existencia de p l a q ue s t o u rn a n t es psieogeograficas no meio urbano em

geral? E no Les Halles , em particular? Neste caso, onde as colocaria?

7

Consegue atribuir urn centro a unidade de ambiencia estudada? Emque pon-

to?

8

Como costuma entrar no Les Halles? E sair? (Desenhe eixos de progressao do-

minantes, exduindo 0 uso de quaisquer meios de transporte mecanicosl

9

Que direcoes costuma tomar quando anda dentro do Les Hail es?

10

Que s ntimrnt(), 0 ! .c:sHalles provoca em voce (setor por setor)? Por que?

85

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11

Que rnudancas na ambiencia notou voce em funcao ciahora?

12

Que t ipo de encontros teve no Le s Halles? E em outros lugares?

1 3

Que rnudancas arquitet6nicas the parecem necessarias no Les Halles? Para que

zona e em que direcoes, ve voce uma extensao dessa unidade de ambiencia?

Ou , ao contrario, a destruicao?

14

Sea atividade econ6mica do Les Halles for transferida para outro lugar, que

destino acha voce deveria ser dado a este bairro?

1 5

Tern voce as qualidades exigidas para ser psicogeografo?

II"

16

Se voce na o e situacionista, diga sucintamente 0 que 0 impede de se-lo,

Env ia r as respostas para A. Khatib, 32 , rua da Montagne-Sainte-Genevieve,P a r i s, s , m , ar rond i s s emen t .

InternacionalSituacionista

ISn °2 . d ez embro d e 1 95 8

T EO R IA D A D E RIV A

entre os diversos procedimentos si-

ruacionis tas, a deriva se apresenta

como uma tecnica depassagem rapi-

dapor ambiencias variadas. 0 concei-

to de deriva esta indissoluvelmente

l igado ao reconhecimento de efeitos

denatureza psicogeografica e a afir-

macae de urn comportamen to

ludico-construtivo,o que 0 torna ab-

solutamente oposto as tradicionais

nocoes de viagem e de passeio.

Uma ou var ias pessoas que sede-

diquem a deriva estao rejeitando, por

urn periodo mais ou menos longo, os

motivos dese deslocar e agir que C05-

t umam ter com osamigos, no t raba-

lho e no lazer, para entregar-se as

solicitacoes do terre no e das pessoas

que nele venham a encontrar. A parte

a leat6ri a nao e tao determinante

quanto seimagina: na perspectiva da

deriva, existe urn relevo psicogeo-

grafico das cidades, com correntes

constantes, pontos fixos e turbilhoes

que tornam muito in6spitas a entra-

da ou a sa ida de cer tas zonas .

Mas, em sua unidade, a deriva

contern ao rnesmo tempo esse dei-

xar-se levar e sua ccntradicao neces-

saria: 0 dorninio das var iacue s

psicogeograficas exercido por meio

do conhecimento e do ca l cu lo de

suas possibilidades. Sob este ultimo

aspec to , as dados res sa lt ados pela

ecologia - po r m ais l imitado que

seja a priori 0 lSlm~o social que esta

ci@nciaprct(J(ltil1 Iltll udnr 8,0 urn

apoio para 0 pensamento psicogeo-

graf ico,

A analise ecol6gica do carater ab-

so lu to ou relativ e dos recortes do

tecido urbano, do papel dos mic ro-

dimas, das unidades elementares in-

te iramente diferentes dos bai rros

ofi cia is, e sobretudo da acao domi-

nante de centres de atracao, deve ser

uti lizada e completada pelo metodo

psicogeografico. 0 terreno passional

objet ivo onde se move a deriva deve

ser def in ido de acordo com seu pro-

prio dete rminismo e com suas rel a-

c;:6escom a morfologia social.

Chombart de Lauwe em seu es-

tudo sobre P ar is e t l'agglomeration

par i s i e nne (Paris: PUF, 1952, col.

Bibliotheque de Sociologie Contem-

poraine) observa que "urn bairro ur-

bano nao e determinado apenas

pelos fatores geograficos e econ6mi-

cos mas pela representacao que seus

maradores e os de OUtIOSbai rros

tern dele"; e apresenta no mesmo li-

vro - para most ra r "aestreiteza da

Paris real onde vive cada individuo ...

geograficamente num perimetro de

ambito muito exiguo" - 0 tracado

de todos ospercursos e fe tuados em

urn ana por uma aluna do XV]em,

ar rond i s s emen t ; Esses percursos for-

mam urn t riangulo de dimensao re-

duzida, sem altemancias , cujos tres

apices sao a Ecole des Sciences

Politiques, 0 d or ni ci li o d a jovem e a

c as a d e sell professor de piano [ v er

87

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110

p.78, "Veneza veneeu Ralph Rum-

n y"],

Sem duvida tais esquemas -

exemplos de uma poesia moderna

apaz de produzir vivas reacoes afe-

t ivas (no caso, a indignacao de cons-

tatar que alguem pode viver desse

modo) , ou mesmo a teoria, proposta

por Burgess a respeito deChicago, da

divisao das atividades sociais em zo-

nas concentricas definidas - nao

contribuem para 0 progres so da de-

riva.

o acaso ainda tern importante

pape l na der iva porque a observacao

p si co ge og ra fi ca n ao e st a detodo con-

solidada. Mas a acao doacaso e natu-

ralmente conservadora e tende, num

novo contexto, a reduzir tudo a alter-

nancia de urn numero limitado de

varian tes e ao habito. Como a pro -

gresso consist ira, pela criacao de no-

vas cond icoe s mais favoraveis a nosso

d s lgnio, na ruptura deurn dos cam-

pos onde ocorre a acaso , e possivel

a fi rmar que os aeasos da der iva sao

fundamentalmente diferentes dos do

passe io , e que os primeiros atrativos

psic geograficos descobertos correm

o risco de fixar 0 suje ito ou a grupo

derivan te em tomo de novos eixos

habituai s, para osquai s tudo os leva

eonstan temente.

Por pouco desconfi ar do aeaso e

d ' se u uso ideologico sempre r e ac io -

n r ir l o, f r a ca s s ou a celebre de a r nbu -

ln lNo t ntada em 19 23 por quatro

surrc lisms a p, rti de uma c idade

qUI' 1'1( , 80r l( ', 1 ~ .111: ram inhar P r

IIIII! ,1Wp,lIloll Ill'lII d l W l d l l c1llpl'l

mente, e as possiveis intervencoss do

acaso , em tai s circunstancias, sao

rar is simas. Mas a fal ta de ref lexao e

levada bern mais longe em Med ium

(maio de 1954) , por urn certo Pierre

Vendryes que acha possivel comparar

esse episodic - porque tudo Faria

parte de uma mesma liher tacao

ant ideterminist a - com algumas ex-

periencias probabilistas , por exem-

plo, a reparticao aleatoria de girinos

de ra num cristalizador circular, a que

ele acrescenta a e s d ru x u la e x p li c a ca o :

"e precise, evidentemente, que esta

populacao nao receba de fora nenhu-

rna influencia diretriz", Em tais con-

dicoes, a vitoria sera dos girinos que

tern a vantagem de ser "inteiramente

desprovidos de intel igencia , de so-

ciabilidade e de sexualidade" e, por

conseguinte, "verdadeiramente inde-

pendentes uns dos outros".

No polo oposto a tais aberracoes,

o carate r princ ipalmente urbano da

deriva, no con tato com centr os de

possibilidades e de signiflcacoss que

sao asgrandes cidades transformadas

pela industria, procura responder a

frase de Marx: "O s homens n ao v ee mnada em tome de si que nao seja 0

pr6pr io r osto , tudo Ihes fala deles

mesmos. Ate a paisagem e algo vivo."

Pode - s e derivar sozinho, mastudo

indica quea distribuicao mais provei-

to sa ser a a que consiste em vario s

grup inhos de duas ou tres pessoas

com identi co ntvel de onsciencia,

c uj as o bs er va r < '!s r 0 onfron.t:adas

e lcvar , o t on! lUll "/1 ObJ('I'iv~.~, P .

d('~I'j v" l q\ll' .1 1 11 11 1110!I I 111 dl'1181'S

grupos mude de um a deriva para ou -

t ra . Acima de qu a t r o ou cinco parti-

cipantes, 0 cunho especificoda deriva

decai rapidamente e,se 0 grupo che-

gar adez ou mais, aderiva sefradona

em varias derivas efetuadas simulta-

neamente. Alias, a pratica deste ulti-

mo movirnento ede grande interesse,

mas as dificuldades que acarreta nao

permi ti ram ate agora que seja orga-

nizado na dimensao desejavel,

A duracso media deuma der iva e

a jornada, considerada como 0 inter-

valo de tempo compreendido ent re

doi s per iodos desono. Ospontos de

par tid a e de chegada, no tempo, em

relacao ao dia solar, sao indiferentes,

mas convern lernbrar que ashoras da

madrugada sao em geral improprias

a deriva.E s sa d u ra c ao media da deriva tern

valor apenas estatistico. Primeiro, eia

nao ocorre tao integralmente, pois os

interessados acabam destinando, no

in icio au no fim da jo rnada, uma ou

duas horas a o c u pa c o es banais; no fi m

de jomada, 0cansaco e a maior causa

desse abandono. Mas a deriva costu-

rna desenrolar-se em algumas horasdel iberadamente marcadas, ou a te

fortuitamente por breves instantes,

ou ainda durante varios dias sem in-

terrupcao. Apesar (las paradas impos-

tas pela necessidade de dormir, certas

derivas deintensidade suficiente pro-

longaram-se par d .o is ou t res dias, e

at mais. E verdad. e que , no caso de

uma s qu ncia d dle:rivasdurante urn

longo lw r(o rlo , ' _I'HW(, lmpossivel

c ll'II 'r t!lifl , nrn P I'I'! II. f1 () (1)011 ' ) '11-

to em que 0 estado de espirito ade-

quado a determinada deriva e subs-

tituido pm out ro . Uma sequenc ia de

derivas foi efetuada sem interrupcao

notoria por cerca de dois meses, 0que

nao deixou de trazer novas condicoes

objetivas de comportamento que pro-

vocaram 0 desaparecimento de mui-

tas das precedentes.

Embora real, a influencia devaria-

~oesdimaticas na deriva soe determi-

nante no caso de chuvas prolongadas,

que a tornam quase impossivel. Mas

astrovoadas ou outros t ipos defeno-

mcnos podem ate ser-Ihe propicios.

Ocampo espadal daderiva e mais

exa to ou vago de acordo com 0 obje-

t ivo dessa atividade, au seja,o estu-

do do terreno au resultados afetivos

desnorteantes. Nao convem esquecer

que Esses dais aspectos da deriv a

apresentam multiplas interferencias

e que e impossivel isolar urn deles

per fe it amente . Mas , a usa de taxis ,

por exemplo, oferece uma linha divi-

soria bern clara: sedurante uma deri-

va torna-se urn taxi, seja para urn

destino certo, sejapara urn trajeto de

vinte minutos na direcao oeste, e si-

n al de que a busca e de uma desam-

bientacao pessoaL Se 0 que importa

e a sxploracao direta de urn terreno,

aciona-se a pesquisa de urbanismo

psicogeografico.

Em qualquer caso, 0 campo espa-

cial e antes de tudo funcao das bases

de par tida const ituidas, para os su-

jei tos isolados, por seu domicil io, e,

para os gnlpos, p los pontes dereu-

n i, ( ) a c o lh td o s . A !X I ('118,,0 l i 1 6 . x i r n n

B 9

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'10

Ii. UI 1 1 11 11 " I' I),l( l.rl uflo ultrapassa

II IIIIIJIIIIIII t i l ' ur n grande cidade e

. ' H ( r 1 Nl lhu~bj ( )B .Sua extensao minima

IlIldl' f ( 11 ' llmirada a uma pequena uni-

rind· de arnbiencia: urn unico bairro,

eu urn unico quarteirao se valer a

pena (no limite extremo, a deriva-es-

t at ica deuma iornada sem sai r daes-

ta~ao parisiense de Saint-Lazare).

A ex pl o ra c a o de urn campo espa-

cial marcado sup6e portanto0

esta-belecimento de bases, e 0 calcu lo das

direcoes de penetracao, Aqui intervem

o estudo dos mapas, sejam oficiais,

sejam ecol6gicos ou psicogeograficos,

e a o r r e c ao e melhoria desses mapas.

Sera necessario dizer quea nao-fami-

liaridade com 0 bairro desconhecido,

iamais percorrido, nao interfere em

nada? Este aspec to do problema,

al m de insignificante, e totalmente

subjet ivo e na o persists por muito

tempo.

A parte de exploracao e minima,

s comparada a par te do comporta

mente inopinado, no "encontro pos-

sfvel", 0 individuo e solicitado a se

apresentar sozinho em determinada

hora e lugar que the sao marcados. Eleesta liberado doonus desagradavel do

.ncontro corriqueiro, ja que nao tern

c I. esperar por ninguem. No entanto,

como este "encontro possivel" 0 leva

inesperadamente a urn lugar que ele

conhece ou nao, ele observa as

ad j acenc ia s do entomo. Pode ocorrer

que t en ham marcado no mesmo lu -

g ar u rn o utr e "e nc on tr o p os si ve l" a al-

~u '1 '\1 u iaid ntidade ele nE W pode

pr v r , ' I' n lvoz . 11 W lr m C J L ICcl In u n .

tenha visto, 0que 0 leva a sedirigir a

varios passantes. Pode nao encontrar

ninguem, ou encontrar por aeaso

aquele que marcou 0 "encontro possi-

vel" . Seja como for, se 0 lugar e a hora

foram bern escolhidos, 0 tempo que 0

sujei to ai passar tera urn desenrolar

imprevisto. Pode ate pedir por telefo-

ne urn outro "encontro possivel" a al-

guem que ignore onde 0primeiro 0fez

chegar. Percebem-se os recursos qua-se infinitos deste passatempo.

Ass im , 0modo devida poueo coe-

rente, e ate certas brincadeiras con-

s ideradas duvidosas, que sempre

foram muito aprec iadas por nosso

grupo - como, por exemplo , ent ra r

de noi te em predios em dcmol lcao ,

zanzar decaron apor Pari s em dia de

greve dos transportes , pedindo para

i ra urn ponto qualquer no intui to de

aumentar a contusao, perambular

pelos subterraneos das catacumbas

cuja entrada e proibida ao publico -

sao decorrentes de urn sentimento

mais geral que cor responde exa ta -

mente aosentimento da deriva. 0 que

e possivel par por escri to sao apenas

algumas senhas desse grande jogo.As licoes c1.aderiva permitem es-

tabelecer os primeiros levantamen-

tos das articulacoes psicogeograficas

de uma eidade moderna. Alern do

reconhecimento de unidades de am-

bienda, de seus componentes funda-

mentais e de sua localizacao espacial,

percebem-se os princ ipal s e ixos de

passagem, as saidas e d f sas, Che-

ga-se a hipotcse ( ' 1 ' 111 rnl d(' plaques

t Ol Ar m m t m ; plli( IIH,'olli tlIIHI. MI'ci un

"_ Quem devoanunciar aosenhor duque?

_ 0 jovem que,certa noi te .a provocou no

Pont-Neuf. defronle a LaSamaritaine.

_ Estranha recomenda~ao!

_ Veraqueelavai ter s fa lto."

A. Dumas (OsIres mosqueteiros)

se as dis tancias que separam de fatoduas regi5es de uma cidade, dis tan-

cias bern diferentes da visao aproxi-

mativa que urn mapa pode oferecer.

E possivel estabelecer - com a ajuda

develhos mapas, fotos aereas e deri-

vas experimentais - uma cartografia

influencial quefalta ate 0mom ento, e

cujaincerteza atual, inevitavel ate que

se efetue urn imenso trabalho, nao e

pior que ados primeiros portulanos,

e com uma diferenca : nao se t ra ta de

delimitar exatamente continentes du-

ravel s, mas demudar a a rqui te tura e

o urbanismo.

As diferentes unidades de atmos-

fera e de moracl.ianao sao hoje muito

nitidas, e s im cercadas de margens

fronteiri~as mais ou menos extensas.A mudanca mais geral , que a der iva

leva apropor, e a diminuicao eonstan-

te dessas margens fronteiricas, ate

sua completa supressao.

Ate na arquitetura, 0 gosto pela

deriva leva a preconizar todo 0 tipo

de novas formas dolabir in to , que as

modernas possibilidades de constru-

~ao favorecem. Assim, a imprensa

assinalava ern marco de 1955 a cons-

trucao em Nova York de urn im6ve l

onde se podem no tar os p rimeiro s

sinais de uma oportunidade de deri-

va dentro de urn apartamento:

"Os apartamentos dacasa helicoi-

dal terao a forma de uma fatia de

bolo, Poderao ser aumentados ou di-

minuidos a vontade pelo deslocamen-

to de divis6rias moveis. A grada~ao

por meio-andar evita que se l imite 0

nurnero de aposentos: 0 morador

pode escolher 0uso da fatia seguinte

em nive! superior ou inferior. Tal sis-

t ema permite que se transforme ern

seishoras tres apartamentos de qua-

t ro eomodos ern urn apart amento de

doze comodos ou mais."

91

(Continua.)

Guy-Ernest Debord

IS n°2. dezembro de 1958 [1956]

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A PR OPOSITO DE N OSSOS ME IOS DE A C;AO E

PERSPECT IVAS

Ost res documentos que se seguem sao anotacoes do debate proposto por

Constant na Internacional Situacionis ta, no mes desetembro de 1958. 0 pon-

to 2 t raz a respos ta da posicao do comit s de redacao desta revis ta , apos uma

discussao com Asger Jorn.

"

Aoreler os textos de Jom ("Cont ra 0 funcionalismo", "Estrutura e mudanca"etc.) , parece-me evidente que algumas de suas ideias precisam ser rebatidas

d ir etamen te. Tais id eias, ber n como a ativid ade pictural, pare cern -me

indefensaveis diante da nocao do que pode ser 0 urbanismo unitario. Quanto

a historia da arte moderna, Jorn subestima a importancia pos it iva do dadaismo

C superestima 0 papel dos rornanticos (Klee) na antiga Bauhaus. Sua aborda-

gem da cultura industrial e ingenua e,segundo ele, a imagina~ao pertence ao

individuo isolado.

Nao aprecio 0primitivismo individualista na pintura como tarnbem nao

gos to da abs tracao e da arquit etura chamadas f ri as , embora se ja cos tume

ass inalar ent re essas duas tendenc ias uma controversia , que e fal sa e a rt i-

ficial.

A cultura industrial e maquinal e urn fato incontestavel e os procedimen-

tOB artesanais, inclusive a pintura das duas tendencias (anocao de arte "livre"

e um errol, estao condenados.

Arnaquina e urn mal indispensavsl para todo 0mundo, ate para os artistas,

e a industria e 0 unico meio de prover as necessidades, mesmo estet icas , da

humanidade na escala do mundo atual .

Ja nao sao "problemas" para os art is tas, e a realidade que eles nao podemig:norar impunemente.

Tanto os que desconf iam da maquina como os que a endeusam demons-

tram a mesma incapacidade de utiliza-la,

o trabalho maquinal e a producao em serie oferecern possibilidades inedi-

"as de cri acao , e quem souber colocar essas poss ib il idades a service de uma

imagina~ao ousada sera 0 criador de arnanha.

Os art ist as t ern a tarefa de inventa r novas tecnicas e de uti li zar a luz , 0

sorn, 0 rnovi rnento , e todas as invencoes em geral que possam inf lu ir nas

nmbi ncias.

.)"111 iS80, a integracao da arte na construcao do hAbil 'n,I 'humane ontinua

1111(1' l im , qutrncrn, om o [IS propos tas d. Gilles T V . 1 1 ) l ,

Dez anos se pas sa ram desde Cobra, e a hist6r ia da a rte chamada exper i-

mental mostra-nos osequivocos desse grupo.

Quando percebi i sso ha seis anos, abandonei a pin tura e Iance i-me numa

sxperienda mais eficaz, l igada a ideia do habitat unitario.

Acho que as dis cuss6es devern dir ig ir -se para esse ponto , que me parece

decisivo para 0 desenvolvimento da IS.

2

Nenhuma pintura e defensave l do ponto de vis ta s ituac ioni st a. Esse t ipo de

roblema j ii nao ent ra em pauta . No maximo pode-se dizer qu e determinada

pintura e aplicavel a tal construcao, Devemos bus car bern alem das express6esdivididas , alem mesmo de qualquer espetaculo (por mais complexo que este se

possa tornar). .

E c la ro que , so podendo agi r a par ti r da cul tura a tual , cor remos 0 risco de

confundir, compactuar e errar. Sea atualidade art is tica conseguisse impor al-

guns de s eu s valores a IS, asverdadeiras oxperiencias culturais da epoca seriam

tentadas noutro lugar.

Toda arte qu e se apega a uma liberdade artesanal ultrapassada ja esta veri-

c ida (Jorn assina lou esse aspec to reacionar io na Bauhaus) . No futuro, a a rt e

livre sera a que dominar e utilizar todas as novas tecnicas de condicionamento.

Fora des sa perspec tiva , 56 existe a escravidao do passado art ificialmente

reavivado, e a do comercio.

Estamos todos aparentemente de acordo quanta ao papel posi tivo da in-

dustria. E 0desenvolvimento material da ep o ca que criou a crise geral da cultu-

ra, e a possibi lidade detransforma-la na construcao unitaria davida pratica,

Aprovamos a formulacao: " tanto as que desconf iam da maquina como os

que a endeusam demonstram a mesma incapacidade de uti liza-la", mas acres-

centamos: "ede transforma-la". Nao sepode esquecer que setrata deuma rela-

~ao dialetica, Aconstrucao dos ambientes nao e apenas a apli,ca~.aoa ~xisten~iacotidiana de urn nivel art is tico permitido pelo progresso tecmco. E tambem

uma mudanca qua li ta tiva da vida, suscet ivel de t raze r uma reconversao per -

manente dos meios tecnicos.

Aspropostas de Gil lesIvain nao seop6em em nenhum ponto a essas co.nsi-

deracoes sobre a producao industrial moderna. Ao contrario, sao estabeleCldas

sabre essa base hist6rica. Sesao quimericas, e porque ainda nao dispomos con-

c re tamente dos meios tecnicos de hoje (ou se ja , na medida em que nenhuma

forca d organizacao social e capaz de fazer urn uso experimental "artist ico"

desses 1 l 1 t " I O I l ): ( ' n~o porque Esses meios nao existam ou porque os desconheca-

mos . Nil ", (lilj till, (r,'''n 8 n valor revolu inario d .sas reivindica. ,oes par

cnqlhl),11 II lilliI'" ,IN

93

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'Eraasso do movimento Cobra, assim como sua aceitacao postuma por urn

rt publico, se explicam pela expressao "arte chamada experimental". Cobra

pellsava que bastava ter boas intencoes, 0 s logan deuma arte experimental. Mas,

defate, e na hora em que seencontra esse s logan que as dificuldades comecam: 0

que pode ser, e como realizar, a arte experimental denossa epoca?

Asexperimentacoes mais eficazes tendem para urn habitat unitario, nao iso-

Jado e estatico, mas ern Iigacao corn unidades transitorias de comportamento.

A D EC L A RA < ;A O D E AM ST E R DA

Os onze pon to s abaixo, que propoem uma definicao min im~ da acao

situacionista, precisam ser discutidos como preparao;:aopara a tercelra confe-

rencia da Internacional Situacionista.

3

o ponto culminante denossa discussao parece-me situar-se no uso que propo-

mos da cultura presente.

Por minha par te , creio que 0 carater chocante exigido pela construcao de

arnbiencias exc lu i as ar te s t radicionai s como a pintura e a l it eratura, muito

desgastadas e incapazes detrazer alguma nova revelacao. Essas artes l igadas a

urna atitude mistica e individualista sao para nos inutilizaveis,

Logo, devemos inventarnovas tecnicas em todos os dominies, visuais, orais,

psico16gicos, para reuni-las mais tarde na atividade complexa que dara origem

ao urbanismo unitario,

A ide ia desubs ti tu ir asa r te s t radic iona is por uma a tiv idade mais ampla e

livre marcou todos osmovimentos art is ticos deste seculo, Desde os r ea d y m a d e

de Duchamp (apar ti r de 1913) , uma seri e de obje tos gra tu itos, cuja c ri acao

stava int imamente l igada a urn cornportamento experimental, entrecortou

a histor ia das escolas ar ti st icas . 0 dadai srno , 0 surreal ismo, De Sti j l , 0

construtivismo, Cobra, a Internacional Letrista procuraram tecnicas que su-

p rem a obra de arte . Para a lem das aparentes oposicoes dos diversos movi-

mentes deste secu lo, e isso que eles tern ern comum. E esse 0 verdadeiro

desenvolvimento da cultura atual , abafada pelo ruldo das quase vitorias nos

dorntnios da pintura e da literatura, que arrastarn sua agonia ate nossos dias.

Por interesses comerciais, a his t6ria da arte moderna foi incrivelmente de-

turpada, .J anao sepode se r tolerante . Quanto a cultura atua l, mesmo que te-

nha de ser rejeitada no conjunto, convem distinguir com severidade 0verdadeiro

do falso, 0 que e uti lizavel no momenta do que e comprometedor.

Acho que aspesquisas puramente formais , setransformadas deacordo com

nossos objetivos, serao muito uteis,

Deixemos aos coveiros oficiais a triste tarefa de enterrar as cadaveres da

xpressao pictural el i teraria. Adesvalonzacao doque janao nos serve nao e de

n ssa cornpetencia: deixemos que outros a facam.

Os situacionis tas devem opor-se em qualquer circunstancia asideologias e as

forcas ret r6gradas , na cul tura e em toda a par te onde se dis cute a questao do

sentido da vida.

2

Ninguem deve considerar sua adesao a Internacional Situaci~~ista como urn

simples acordo de principio: isso implica que 0 essencial da atividade de tod~s

os participantes deve corresponder asperspectivas elaboradas em,comum, as

necessidades deuma a<;:aoisciplinada, tanto doponto devista da pratica quanta

das tomadas de posicao publicas.

3

Apossibil idade de uma criacao unitaria e colet iva ja e anunciada pela decem-

posicao das artes individuais.

A IS nao pode apolar nenhuma tentativa de renova<;:iiodessas artes.

9 5

4

o programa minima da IS e a experiencia de cenarios completos , extensivel a

urn urbanismo unitario, e a busca denovos comportamentos condizentes corn

esses cenarios.

5o urbanismo unitario sedefine na atividade cornplexa epermanente que, cons-

cientemente, recria 0meio ambiente dohomem, segundo asnocoes mais evo-

luidas em todos os dominios.

6

A solucao dos problemas de moradia, detransi te, de divertimento s6pode ser

pensada ern correlacao com perspectivas sociais, psico16gicas e artfsticas con-

vergindo para uma mesma sintese, no ambito do est ilo de vida.

Constant

IS n O 2, rt 'I m bro (( 1958

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DUT RA C IDA DE PA RA DUTR A V IDA

Acrise dourbanismo se agrava. A

construcao debairros, antigos e mo-

demos, esta em evidente desacordo

com osmodos decomportamento es-

tabelecidos e,mais ainda, corn os no-

vos modos de vida que buscamos. 0

resultado e a a rnbiencia morna e es-

teril que nos cerea.Nosbairros antigos, asruas trans-

for rnaram-se em auto-es tradas, os

lazeres sao comercializados e dctur-

pados pelo turismo. 0relacionamen-

to social torna-se impossive !. Os

bairros recem-construidos apresen-

tam dois temas dominantes: 0 tran-

s ito decarros e 0conforto residencial.

Sao a minguada expressao da fel id-

dade burguesa, esvaziada de qualquer

preocupacao ludica,

Diante da necessidade de construir

rapidamente cidades inteiras, erguem-

se cerni te ri cs de c imento armado

cnde grande par te da popu l ac ao esta

condenada alevaruma vida muito en-

fadonha. Ora, para que servem as in-

criveis invencoes tecnicas do mundoatual se fal tam condicoes para delas

tirar proveito, senao conduzem aola-

zer, se ha carencia de imaginacao?

Desejamos a aventura. Como e

dificil encontra-la na Terra, ha quem

a procure na Lua . Apostamos antes

detudo esempre numa mudanca aqui

na Terra. Nossa proposta e de nela

eriar situacoes, situacoes novas. Que-

remos derrubar leis que impedem 0

desenvolvimento de atividades efica-zes para a vida e a cul tura . Estamos

no ! imia r de uma nova era , e e impe-

rativo ssborar ja a imagem de uma

vida mais fel iz e de urn urbanismo

unitario; urbanismo fei to para dar

prazer.

Nosso campo de acao e portanto

a rede urbana, expressao natural da

eriatividade coletiva, capaz de corn-

preender as forcas c ri adoras que se

l ibertam com 0declinio de uma cul-

tura baseada no individualismo.

Julgamos que as artes tradicionais

nao terao vez na criacao da nova

ambiencia em que queremos vivcr.

Estamos inventando tecniras no-

vas; examinamos as possibilidades

que as cidades existentes oferecern;fazemos maquetes e mapas para as

cidades futuras. Estamos conseientes

da necessidade de aproveitar todas as

Bairro deuma cidadetradicional.

Espaco quase social: a rua. As ruas.

formadas de modo IODleDpara 0 lransi-

to. sa o uti lized m'Jru1f1im nt como

lug r d on onlrn

invencoes tecnicas e sabemos que as

construcoes futuras que desejamos

precisarao ser suficientemente rna-

leaveis para corresponder a uma no-

~ aodinamica da vida, criando nosso

ambiente em relacao direta com mo-

dos de comportamento em constan-

te mudanca,

Nosso conceito de urbanismo e

portanto socia!. Opomo-nos a con-

cepcao de uma cidade verde, ondearranha-ceus isolados devem neces-

sariamente reduzir 0 relacionamen-

todi re to ea ac ao comum doshomens.

Para que exista uma relacao estreita

ent re ambiente e comportamento , a

aglomerac;:ao e indispensavel, Quem

pensa que a rapidez de nossos deslo-

camentos e as poss ib il idades de te -

lecornunicacao VaG dissolver a vida

em comum das aglomeracces conhe-

ce mal as verdadeiras necessidades

humanas. Contra a ideia de uma ci -

dade verde, que a maioria dos arqui-

t etos modernos adotou, l ancamos a

imagem da cidade coberta, onde 0

t racado urbano das vias expressas e

dos predios separados foi subst itui-

do por uma const rucao espadal con-t inua , a lt eada do solo , que conte ra

nao 56 grupos de habitacoes, como

tambern espacos publicos (perrnitin-

do modif icacoes de uso segundo as

necess idades do momento). Como

todo transite, no sentido funcional ,

passara por baixo ou pel .os terraces

superiores, a run r suprlruirla. Os inu-

m eres spa( n , 1 11 . lV l l/ 1 1 ~V I 'I I I C I ' IP C O l l 1 -

p5ell ' l n c lr il 1c il ' I tl ll ll ,1 1I 1 1 11 11 ( "l pn I' D

;:od,,1 ol1\plllll,l1l1 v"rl!l N,III 1 '11 ,1

J J t ~J1:[i':~--

Cidadeverde.

Unidades habitacionais isoladas. Espa-

~osocial minimo. os encontros s6 ccor-rem par acaso e individualmente, nos

corredores ou nojardim. 0 transite

domina tudo.

Princfpia de uma cidade coberta.

"Mapa" e s pa ci al , H a bi ta c ao c ol et iv a

suspense. estende-se sobre todaa

cidade e e separada da transite. que

passa abaixo e acima.

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11 6

ta de urn retorno a natureza nem da

i de ia d e viver num jardim, como fa-

ziam outrora osaristocratas solitaries:

vernos nessas imensas construcoes a

possibi lidade de veneer a natureza e

de sujeitar a nossa vontade 0 clima, a

i luminacao, os ruidos, nesses diver-

50S espa<;:os.

Se ri a tudo i sso urn novo funcio-

nalismo, que val destacar ainda mais

a vida uti li ta ri a ideal izada? Nao se

pode esquecer que, uma vez estabe-

lecidas as funcoes, elas sao seguidas

pelo jogo. Ha muito tempo a arquite-

tura tor nou -sc urn jogo do espaco e

da ambiencia. A cidade verde faltam

ambiencias, Nosso desejo e usa-las de

manei ra mai s consc iente, para que

cor respondam a todas as nossas ne-

e ssidades,

As c idades que desejamos no fu-

turo devern oferecer uma variabilida-

deinedita de sensacoes nesse sentido,

ejogos imprevistos tornar-se-ao pos-

siveispelo uso inventive de condicoes

materiais como 0 ar condicionado, a

sonorizacao e a iluminacao, . Iaha ur-

banistas que estudam as possibilida-

de s de harmoniza r a cacofonia que

impera nas cidades atuais. Em breve

se ra a iencont rada uma nova area de

cri acao , bem como para mui tos ou-

tros problemas que surgirem. Asvia-

gens espaciais , previsiveis , podem

influenciar esse desenvolvimento,

porque asbases a serern estabelecidas

em outros planetas logo despertarao

a pr blema dec idades- redomas, que

1.11 v 1. s > j C lf fi 0 tipo de nossos estudos

e l f ' u rbr n hr m 'n o f utu ro,

Antes de tudo, porern, a diminui-

~ao do trabalho necessaria a produ-

<;:ao,ela automatizacao ampliada, vai

c ri ar uma necess idade de lazeres ,

uma diversidade de comportamentos

e uma rnudanca de natureza des ses

comportamentos que levarao forco-

samente a uma nova nocao dehabitat

coletivo com 0maximo espaco social,

o oposto deuma cidade verde onde 0

espac;:osocial e reduzido ao minimo.

A cidade futura deve ser concebida

como uma construcao continua sobre

pilares, ou como urnsistema extenso

de construcoes diferentes, nas quais

sao suspensos locais de habitacao,

lazer etc., e locals destin ados a pro-

du<;:aoe a distribulcao, deixando 0

solo livre para 0transite e as reunioes

publicae. A aplicacao de materials

u lt ra leves e i so lantes , como os que

surgem atualmente, pcssibil itara

uma const rucao leve com suportes

bern espacados. De tal modo que se

poder a constitu ir uma cidade com

varias camadas: subsolo, terreo, an-

dares , t er races, cuja extensao pode

variar da equ ivalente a urn bairro

atual ate a de uma metr 6po le. Con-

vern no tar que numa cidade desse

t ipo a superf ic ie cons truida sera de

100% e a superficie l ivre de 200% (0

chao e os ter races) , ao passo que nas

cidades tradicionais esses valores sao

daordem de 80 % e 20%; e,na cidade

verde, essa relacao pode, no maximo,

ser invertida. Osterraces formam urn

ter reno ao ar l ivreque seest ende so-

bre toda a superficie da cidade epode

ser t r ansfo rrnn r l o 1'111 quadra s de es-

porte, campos de aterrissagem para

avi6es e hel ic6pte ros, e em espaco

para a vegetac;:ao.Serao de facil aces-

so por meio de escadas e elevadores.

Os diferentes andares serao divididos

em espacos que se comunicam, com

sistema de climatizacao, oferecendo

a possibilidade de criar uma variacao

infinita de ambiencias, facil itando a

deriva dos moradores e seus frequen-

t es encontros nao programados. As

ambienctas serao regular e deliberada-

mente mudadas, com aajuda detodos

os dispositivos tecnicos, por equipes

de criadores espedalizados, que serao

situacionistas profissionais.

Urn estudo profundo dos meios

de criacao de arnbiencias eda influen-

cia psico16gica dessas arnbiencias e

uma de nossas t arefas a tuais . Estu-

dos referentes irealizacao tecnica

das estru turas de sustentacao e de

sua estetica e a tarefa especifica dos

artistas plast icos e dosengenheiros.

A contribui<,:ao sobretudo destes ul -

timos e de urgente necessidade para

Corte transversal da cidade coberta.

As paries alias da cidade.

o progresso do trabalho preparat6-

rio.

Mesmo que 0 projeto que ac aba -

mos de tracar em grandes Iinhas seja

tachado de sonho irrealista, insis ti -

mos no fato de ser ele exequ ivel do

ponto de vis ta t ecnico , dese jave l do

ponto de vis ta humano, indispensa-

vel do ponto de vis ta social . A cres-

cente insat isfacao que domina toda a

humanidade chegara a urn ponto em

que se remos todos obr igados a exe-

cutar osprojetos para os quais dispo-

mos demeios de acao : e que poderao

contribuir para a realizar, :aode uma

vida mais rica e mais completa.

11 7

Constant

IS n° 3 . d e ze mb ro d e 1 95 9

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I ' "

A microderi va or ganiz ada ness e

labi rin to concen tr ado, devia corre s-

ponder a operacao de deriva atravss

de Amsterda. Dois grupos, cada um

formado por dois situacionistas, de-rivariam durante tres dias, ape ou de

barco (dormindo nos hoteis do per -

curs 0), sem deixar 0 centr o de Ams -

terda. Esses grupos, por meio de

walk i es- t a l k i es , manter-se-iam em

cornunicacao entre si, se possiveI, e

om 0 caminhao-radio da equips

car tograf ica, de onde 0 di re t or da de-

rlva - no caso, Constant -, deslo-

ando-so de modo a nao perder 0

contato, anotaria suas trajet6rias e

enviaria eventuais ins tru\=oes (cabe-

ria tarnbem ao diretor da deriva ter

preparado a experimenta\=ao de al-

guns l ocais e acont ec imen tos s ec re -

tamente dispostos).

Ess a ope ra \=ao de deriva, se fo ss e

acompanhada de levantamentos dote rreno a s er em in te rpr et ados post e-

r io rmen te nas sessoes de tr abalho de

urbanismo uni ta rio, e se alcanrasss

urn certo aspecto teatral com efeito

sobre a publico, tinha como principal

in tui to r ea li zar ur n jogo novo . E a IS

jl\ c o rn ec a ra p o r chocar a rot ina f inan-

Mapa dasestruturas dolabirinto naopreparado.

ceira ao inscrever no orcamento da

manifes ta<; :ao um salar io individual

de 50 florins por dia de deriva.

S6 a juncao das duas opera<;:oes

consegue evidenciar Sua natureza ino-

vadora . Portanto , a IS nao julgava que,

isolada, a deriva a ser efetuada em

Amsterda t ivesse bastante s igni fica-

do . As sim como nao convern edi fi ca r

o labir into no museu de determinada

cidade alema impr6pria para a deri-

va, Alias, 0propr io fa to de ut il iz ar um

museu comportava u rn t ransto rno es -

pec if ico, e a fa chada oest e do l ab ir in -

to de Amsterda era um muro

construido para nele ser aberta uma

brecha a guis a de entr ada: es se bura -

co no muro tinha sido exigencia de

nos sa s ecao a le rna, como ga rantia de

nao-submissao a optica dos museus.

Ass im , a IS ado tou em abril ur n proje-

to de Wyckaer t modif icando profun-

damente 0 usa do labir into estudado

para Amste rda , Esse labirinto nao

deve ser edif ic ado numa outra cons -

tru~ao mas, com mais flexibilidade e

em fuw;:ao direta das realidades urba-

nas, num te rr eno vago, ber n si tuado ,

da cidade escolhida, a fi m de ser 0

pont o de pa rt ida de de ri vas .

Internacion iStu, clonista

I 11 " Ii. unhn II 1960

T EOR IA DO S MO ME NT OS E C ON ST RUC;A o

DAS S IT U AC; OE S

"Esta in te rvencao se tr aduzi ri a, no ambit o da v ida cotid iana, poruma me lhor divi-

s ao de seus el ementos e de s eus in stant es nos 'mementos', de forma a intensificar

o rendimento vital da cot idianidade, sua capacidade de comunicacao, de infor rna-

cao , bern como e sobretudo de f ruicao da vida natural e sociaL A teoria dos mo -

mentos nao se situa portanto fora da cotidianidade, mas se articula corn ela, ao

juntarse com a cri ti ca , para nela int roduzi r 0 que t he fa lta . Sua tendenc ia s er ia de

superar, no cotidiano, numa nova forma de fruicao particular unida ao todo, as

velhas oposicoes entre leveza e falta de gra<;:a,entre seriedade e falta de seriedade."

Na idciaprograma aqui exposta

por Henri Lefebvre, os problemas da

cr ia cao da vi da cot id iana sao d ire ta -

mente considerados pela teoria dos

momen tos, que def ine como "modal i-

dades de presenca" uma "plural idade

de momentos relativamente privile-

giados", Que rela<;:oesexistem entre es -

ses "mementos" e as situacoes que a

IS se propos definir e construir? Que

uso e possivel fazer das relacoes ent re

Esses conceit os para realizar as reivin-

dicacoes comuns que surgem agora?

A situacao, como momenta criado,

organizado (Lefebvre expressa este de-

sejo: "0 ate l ivre se def ine pela capaci-

dade . ., de mudar de 'memento', numa

me tamorf os e, e ta lvez de cr ia- lo"), in-

c1ui ins tantes pereciveis - efemeros,

unicos, Ela e uma o rgan iz ac ao de con-

junto que dirige (favorece) tais instan-

tes casua i s , A situae! 0 construida esta

portanto n p tAprcl lvn, do momento

1 f b v ri r n o , ({1I1'"1II I)II.IIII!!. ma s

1 1 \ 1 1 1 1 , I ' 1 f v l l i I l Il r ll 1 / / ,' ,1 1 1 1 1 1 0 1 1 1 11 1 I ' 1 1 1 1 1 1 an t

Henri Lefebvre (L a S om m e e t l e R es te )

e "memento". Assim, embora possa ser

r epeti da em ce rt a med ida ( como d ire -

~ao, "sentido"), nao pode ern si me rna

ser repet ida como 0 "memento".

A situacao, como 0momento, "pode

estender-se no tempo ou condensar-

se". Mas ela quer fundamentar-se na

objet ividade de uma producao art is ti -

c a. Tal pr oducao ar tis ti ca r ompe r ad i-

calmente com as obras duraveis. E

in sepa ravel de seu consumo imediato,

como valor de uso essencialmente aves-

so a conse rvacao sob a f orma de mer-

cadoria.

A di f icu ldade , para Henri Lefebvre,

e de estabelecer uma lista de seus mo-

mentes (por que citar dez, e n ao q ui n-

ze , ou vi nt e e c inco e tc . 7) A dificuldade

quanto ao "memento situacionista" e ,ao contrario, marcar exatamente 0seu

fim, sua t r ansfo rmacao em UIl1 t e rmo

diferente de uma seriede si.tl.lat;:Os-

ta l s er ie pode COI1StitUir um dOB !TIO-

mentes lcfebvrtanos 011 r n 1 ( 'l 'I 1po

m rto,

12 1

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Com efeito, 0 "memento" conside-

r ad o c omo c at ego ri a ge ra l r ee ncon-

travel impl ica afinal 0estabelecimento

deuma lis ta cada vez mais completa. A

s ituacao, mais ind iferenciada, p resta-

se a infinitas comb inacoe s . De modo

que nao e possivel definir exatamente

um a s ituacao nem sua fmnte ira. 0 que

vai caracterizar a situacao e sua praxis,

sua formacao deliberada.

Por exernplo , Lefebvre fa la do "rno-

mento do am or". Do ponto de vi sta da

criacao dos mementos, na 6pt ic a

situacionista, e preciso considerar 0

momento de determinado amor, do

amor d e d et ermina da pe ss oa . Quer di -

zer: d e d et ermina da pe ss oa em deter -

minadas circunstancias ,

o maximo do "momento constru i-

do" e a s er ie d e s it u ac b es ligada a urn

mes rno tema - este a r no r de deter-

m in ad a pe ss oa - (urn " tcma s it ua cio-

nista" e urn desejo realizado) . Isso e

particu la rizado , e irrepet ivel , s e com-

parado ao momento de Henri

Lefebvre. Mas muito extenso e relati-

vamente du r ave l se comparado ao ins -

tante unico-efemero.

Lefebvre, ao analisar 0 "momento" ,mos trou varia s condicoes fundamen-

t al s d o novo ter re no d e ac ao on d e a pa -

reee agora uma cultura revolucionaria.

Por exempl o, quando obser va que 0

momento tende ao absol uto, e dele se

clesfaz. 0moment o, como a s i t u ac ao ,

e a o m e s mo t em p o p roc l amacao do ab-

soluto e c on sc ie nc ia d a passagem. Esta

de fa to no sent ido da juncao do estru-

tural com 0con juntural ; e 0p ro je to d e

uma s ituacao constru ida pode tambem

ser defin ido como uma ten ta tiva estru-

tural na conjuntura.

o "memento" e sobretudo tempo-

ral , f az p ar te de uma zona de t emp o ra -

lidade, nao pura mas dominan te . A

situacao, e st rei tamente ar ti cul ad a no

lugar, e toda espaciotemporal (d. A.

Jam, sobre 0 espaco-t cmpo de uma

vida; A. Frank in , sobre a planif icacao da

existencia ind iv idua l) . Os momentos

constru idos em "si tuacoes" poderiam

ser conside rados como osmornen tos de

ruptura, de aceleracao, a s r e vo l u oi e s n a

v i da c o t id i a na i n d iv i du a l. Num n iv el es -

pacial rnais ampl o - mais social - ur n

urba ni smo que co rr esp onde be rn exa-

t ament e aos momentos de Lef ebvr e, e

it su a ide ia de o s e sc olhe r e de o s d eixa r

it vontade, se acha proposto com os

bairros "estados-de-espirito" (d. "For-

rnu la rio para urn novo urban ismo", de

G. lvain, IS n? 1), urn objetivo de

desal ienacao sendo buscado explicita-

mente no arran jo do "Ba irro Sin is tro" .

Enfim, 0 prob lema do encontro da

t eor ia do s momen to s com uma formu -

l aca o ope ra cion al d a c on st ru ca o de si -

t uac ce s s us ci ta a se gu in te p ergunta:

Qua l combinacao, qua is interacoes de-

v ern oc or rer en tr e 0 de se nrol ar ( e as

res surgencias ) do "memento natura!",

no sen tido de Henri Lefebvre, e c e r to s

elementos artificialmente cons truidos

- l ogo, i nt roduzi dos nesse desenro-

lar - e que 0 alteram quantitativa-

mente e ,s ob re tuelo, qualitativament ?

Inl III lei n l S i luac loni t,

I', n" . < \ , J l l I l h o d '960

D ES CR IC AO D A ZO NA A MA R EL A

vern notar , ali as, que em varies luga-

res passa-se b ru sc amente p ara 0 ar

livre.

Pode-se chegar a essa parte da ci-

dade po r vi a a erea , p oi s 0terrace ofe-

r ece c ampos d e a t er ri ss ag em; ou, p elo

nivel do solo, de carro; ou ainda por

trem subterraneo - de acordo com

as distancias a percorrer. 0 n iv el d o

solo, atravessado em todas as dire-

<;:5espor auto-estradas, nao t ern ne -

nhum predio, com axce ca o dos

pil ar es, que sust entam a ronstr ucao,

e de ur n edi ficio redondo, de seis an-

dares (A), que suporta a parte sus-

pensa do terrace. Ess es su por tes , e rn

tomo dos qua is foram prev is tas ar ea s

para 0 estacionamento dos meios de

transporte, rontem os e levadores que

levam aos andares da ci dade ou a sen

subsolo. 0 edif icio (A) , o nde fi cam os

services tecnicos, e se pa ra do do res -

to do quarteirao e so e acess ivel pelo

terrace ou pelo andar terreo Tuclo

12 3

Esse quarteirao, situado a mar-

gem da cida de , de ve s eu nome a cor

de gr ande part e do solo, sobretudo no

segundo andar a lcste. Essa particu-

laridade soma-se it a tmos fe ra a legre

que predisp6e 0 quar teirao a sua

adaptacao como zona de jogos. Os

diferentes niveis - tres a l est e, do is

a oeste - sao sustentados por uma

construcao metalica, a lteada do solo.

Para a sustentacao dos andar es e dos

predios internos utilizou-se 0titanic;

para 0 calcament o e 0 revestimento

das d iv isoria s e paredes , 0 nailon, A

leve za da construcao explica nao so0

emprego minimo de suportes, mas

t arnb ern uma g ra nd e f lex ib il ida de no

manejo das diferentes partes e a to-

tal supressao dos volumes . A constru-

~ao metalica pode ser conside rada

como base para urn arranjo d e e le -

mentos tipicos, mobeis, intercam-

b iave is , dssmontavcis, que favorecem

a variacao permanente do cenario

A dascricao que v ern a s egui r l im it a-

se ao quadr o geral do ar ranjo. A for-rnacao em niveis superpostos implica

que a maior parte da superfide deve

ser i luminada e d imatizada a rt if ic ia l-

mente. Mas nao quer isso dizer que

se t en ha t en ta do imi ta r as cond ic oe s

naturais, e sim tirade proveito dessa

circuns tancia, criando coudicces

c l ima t o lcg i c as o r n o da l id a de s de i lu-

m in c ao, Isse fn~ pl1tl(' iJ1\'('gt'ante

do a jol'lW til' IH l dJ I /I · l .i l ll l r l qU I ' 1 1 ,lJ um n

dntl'llrn 1'1 dl ~'IIIII 1111,1<,111, '1111

M a pa g er al d a z on a a m ar ela .

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C R fT IC A A D U R BA N IS MD

1 2

Os situacionistas sempre disse-

ram que "0 urbanisrno unitario nao elima doutrina dourbanismo mas uma

c ri ti ca aou rbanismo" (ISn? 3 ). 0 pro-

jeto de urn urbanismo mais moder-

110, mais progressista, cor icebido

como uma correcao da especializacao

urbanista atual e tao falso quanto, porexemplo, no projeto revolucionario,

essa supervalorizacao do momento

da tomada depoder, que e uma ideia

de e spec ia li sta que impl ica logo °e squecimento, e a te a repre ssac , de

todas as tarefas rcvolucionarias pro-

vocadas, a todo momenta , pelo con-

junto das atividades humanas

inseparaveis, Antes de sua fusao com

uma praxis rcvolucionaria generaliza-

da, 0 urbanismo e Iorcosamente a

primeiro inimigo detodas as possibi-

1idades davida urbana emn os sa e po -

ca. E ur n desses fragmentos do poder

socia l que pretendem representar

um a totalidade coerente e tendem a

irnpor-se como explicacao e organiza-

~ao totais, a s qua is ocul tam desse

modo a total idade soc ia l re al que os

produziu e que eles conservam.

Quem aceitar essa especializacao

do urbanismo coloca-se a service da

rnentira urbanists e social existente,

do Estado, para realizar urn dos mul-

ttplos urbanisrnos "praticos" possi-

veis: mas 0 unico urbanisrno pratico

pClI'G 1 1 6 8 , a qu ele q ue c ha ma mos de

u rbnniamo uni t a r io , e de ixado de

l ade, p! r~,'10 r lr o xir ,r " ~d< ,0 de

condicoes de vida muito diferentes.

Ha seis au oi to meses, ha uma

movimentacao, sobretudo de arqui-

tetos e capitalistas daAlernanha Oci-

dental, para lancar urn "urbanisrno

unitario" deimediato e ,aomenos, no

Ruhr. Comerdantes mal informados

e entusiasrnados por realizacces ra-

p ida s anunc ia ra rn, em feve re iro, a

abertura iminente de urn laborat6rio

de UU em Essen (como transforma-

cao dagaleriade arte Van deLoa). Foi

a con tragos to que publ ic ar am urn

desmentido, sob a nossa arneaca de

trazer a publico a fraude. 0 ex-

situacionista Constant, cujos colabo-

radores holandeses haviam sido

exduidos da IS por terem aceito a

construcao deuma igreja, propoe de

mesrno agora m a o ue te s d e [ d br ic a s em

seu catalogo editado em mar):o pelo

Museu Municipal de Bochum. Esse

habil individuo, entre dais au tres ph-

gios de ideias situacionistas mal com-

preendidas, oferece-se abertamente

como relacoes-pubilcas para integrar

as massas na civilizacao tecnica capi-

tal is ta e recrimina a IS como tendo

abandonado seu programa de trans-

formacao do meio urbano, do qual ele

permanece 0 unico defensor. Se for

nessas condicoes, e simiAlias, convemlembrar que foi essemesmo grupo de

ex-membros da s e c ao holandesa da IS

que, em abril de 19 .59 , AC op l5s t enaz-

mente a qlle (~:rSnd 1 11l1flfll' 11m "Apelo

~o s in t l ( l r t \ lnl~ IIIIIIN 11 . 1 ' 1 11lurl Y t · v o l u -

cicnarios", afirmando: "Essas pers-

pectivas nao dependem, para nos, de

uma derrubada revolucionaria da so-

ciedade atual cujas condirnes estao

auscntcs" (d. sabre esse debate IS

n? 3). Eles seguiram portanto logica-

mente a seu caminho. 0 mais curio-

sa e que a inda estejam tentando

atrair alguns situacionistas para in-

clui-los nesse tipo de tarefa. Pensam

e le s que nos de ixa remos leva r pe logosto da fama au pe lo engodo do lu-

era? A uma carta do diretor desse

museu de Bochum que propunha

uma colaboracao com a bur e au de ur-

banismo unitario de Bruxelas, Attila

Kotanyi r espondeu, em 15 de abr il :

"Pensamos que, se a senhor tern a l-

gum conhecimento do original, nao

pode confundir nossa optica critica

com a 6ptica apologetica que se es-

conde sob a copia da mesma etique-

ta" . E rejeitou qualquerpossibilidade

de discussao ..

Ate a mero fato deconhecer aver-

sao original das teses situacionistas

sobre a UU nao e facil. Nossos com-

panheiros alcrnaes publicaram, em

junho, urn n.imcro e special de suarevista ( S p u r n" 5) reunindo trechos

dedicados ao UU durante anos na IS

au na corrente que preparou sua for-

macae, sendo muitos desses textos

ineditos ou publicados em docu-

mentos hoje inace ss ive is ~ e todos

inedi tos em l ingua a le rna. Logo se

coristataram pressces sabre os

situadonis: MIl~Alcn i. inha, para im-

pcdtr 0 , p(\j('d IlIl"I! II 1'\tlllII!'fl lextoR

ou, , 1 ' , HIiIlI!ltl, 1 " 1 1 1 \ u l l l n i ; 1 1 1 I I , 1 11 'm

cao : de sde a bloque io de toda a t ira -

gem na grafica durante tres semanas,

ate ameacas extravagantes de pro-

cesso por imoralidade, pornografia,

blasfernia e incitacao a revolta. Ossi-tuacionistas alemaes nao cederam a

essas tentativas de intirnidacao, e

hoje a s ge rentes do urbanismo uni-

tario born-moco do Ruhr se devem

indagar se essa etiqueta e adequada

para lancar sua operacao,A contestacao da sociedade atual

no seu conjunto e 0 unico criteria de

uma iibertacao autentica, seja no

ambito das cidades, seja em qualquer

outro aspecto das atividades huma-

nas. Seassim nao for, a "melhora", "0

progresso", sera sempre destinado a

azeitar a sistema, a aperfeicoar a con-

dic ionamento que necessita ser de r -

rubado no urbanismo e em toda a

parte. Henr i Le febvre , no n" 3 da

R ev ue f ra n ~a is e d e s oc io lo gi e (jul-set.

1961) critica as falhas do proje to da

equipe dearquitetos e sociologos que

acaba depublicar em Zurique Di e n e u . e

Stadt, e in e S t ud i e fu r d a s P u r t ta l . Mas

essa critica nao nos parece suficiente

porque nao questiona com clareza 0proprio pape! dessa equipe de espe -

cialistas num contexto social doqual

elaaceita as irnposicoes absurdas, D e

modo que a artigo de Lefebvre ainda

da muito valor a trabalhos que podem

terutilidade emeritos, mas cujapers-

pectiva e ra dic a lm ente in im iga d a

nossa. 0 t itulo doartigo "Utopia ex

p er im en ta l: p er u rn novo urbani smo"

jl'l mOBI rn rodo 0 l'qulVrl o. P tl lo ( )

In~1'0([(1 tin lit ( J i l i n O)IIWlll1ll'I1[.d, I)n IIi

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Representacao em retevo da fun<;ao modularelfptica.

.1 "

cor responder de fato a seu proje to ,

deve eviden temente acambar car a

total idade, i sto e, sua execucao nao

cleve levar a urn "novo urbanismo",

mas a urn novo uso da vida, a uma

nova praxis revolucionaria. E a falta

de Iigacao entre 0 projeto de uma

transforrnacao passional da arquite-

tura e as out ras formas do condicio-

namento , e de sua recusa, na escala

detoda a sociedade, que faz a fraque-

za das teses de Feuerstein, publicadasno mesmo numero da revista da se-

~ao alema da IS, apesar do interesse

de varies pontos, particularmente a

110~aode bloco erratico, "represents-

c ;: aodo acaso e tambern a menor or-

garuzacso de objetos que engloba urn

acoritecimento ". As idei as de

Feuers te in que estao na l inha da IS,

s bre uma "arquitetura acidental", 56

pod ITl ser compreendidas ern todas

n ~ s ua s conseq tll~ncias e realizadas

por uma superacao do problema iso-

l ado da arqui te tura , e das solucoes

que the forem dadas abstratamente .

Tanto mais que, a partir deagora,

a crise do urbanismo e uma crise con-

cretamente social e polit ica, mesmo

que hoje nenhuma forca oriunda da

politica tradicional possa nela inter-

ferir. As banalidades medico-sociolo-

gicas sobre a "patologia dos conjuntos

habitacionais", 0 isolamento afetivo

das pessoas que nell's v ivern, ou 0desenvolvimento de certas reacoes

extremadas de rejeicao, principal-

mente entre osjovens, traduzem sirn-

plesmente 0fato deque 0capitalismo

moderno, a sociedade burocratica de

consumo, c om eca a m ode ler em tod a a

p ar te s eu p ro pr io c en ar io . Essa socie-

dade constroi, com as novas cidades,

o terreno que a representa exatamen-

te, que reune as condicoes mais apro-

priadas a seu horn fun ion, III nto; Do

mesmo tempo, ela traduz no espaco,

na lingua gem clara da organizac;:aoda

vida cotididana, seu principio funda-

mental de alienacao e de imposicao.

E tambern ai que se VaG manifestar

corn mais nitidez os novos aspectos

de sua crise.

ErnParis, em abril, uma exposicao

de urbanismo intitulada D em ain P a-

ris [Pa ri s amanha] apresentava na

rea lidade a defesa dos conjuntos

habitacionais ja construidos ou pro-

jetados para a periferia afastada. 0

futuro de Paris seria todo extrapari-

siense. Urn percurso didatico visava,

na primeira parte, a convencer as

pessoas (pr incipa lmente os traba-

lhadores) que Paris , como estat is ti -

cas perempt6rias provavam, era

mais nociva e inabitavel que qual-

quer outra capital conhecida. Devi-

am portanto mudar-se para outro

lugar, e a solu~ao feliz era apresenta-

dalogo a seguir, 56deixando dereve-

lar qual 0 pre~o efetivo a pagar agora

pela const ru~ao des sa zonas de rea -

grupamenta: por exemplo, quantos

anos de intensa escravidao econ6mi-

carepresenta acompra deurn aparta-

mento nesses conjuntos; e que

reclusao urbana perpetua representa,

depois, essa propriedade adquirida.

No entanto a pr6pr ia neces sida -

de dessa propaganda enganosa, a ne-

cessidade deapresentar tal explicacao

aos interessados depois de as instan-

cias oficiais terem dado urn veredicto

soberano, revela uma primeira resis-

tencia das massas. Essa resis tencia

devera ser' mantida I' esclarecida por

uma organiza~ao revolucionaria real-

mente decidida a conhecer todas as

13

A cidade de Mourenx.

S ao 12 mi t h ab it ant es , o sca sa do s re si de m n os b lo eo s h or izon tai s. o s sol te ir os . n as

torres. A di rei ta da toto. f ica 0 p equ en o b ai rro d os e )( ecut ivo s de n ive l me di c. com-

posto de casas ident icas. s imetr icamente div id ldas ent re duas lamfl ias. Mais adiante.

no bai rro dos executives de mais a ltos salar ios. hi! um Dutro tipo de casa destinada a

u m u ni co ocup an te. Os a lt os d iri ge nt es d o tr ab al ho e fet ua do em L acq mo ra m e m

Pau. Toulouse e Par is .

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II~

c ond i s d o c apita lis mo moderno e

a combate-Ias. As pesquisas sociolo-

gicas, cujo defeito mais redibit6rio ede 56 apresentar cpcoss entre as

rnfseras variantes doja existente, in-

dicam que 75% dos habit antes dos

conjuntos habitacionais desejam ter

casa com jardim.

Essa imagem mit if icada da pro-

priedade , no sentido ant igo, e que

havia levado, por exernplo, os opera-

rios da Renault a comprar ascasinhas

que desabaram sobre suas cabec,:as ,em junho, num bairro inteiro de

Clamart. Nao e pelo retrocesso a essa

ideologia arcaica de um estagio ultra-

pas sado do capit al ismo, que as con-

dicoes de habit at de uma soc iedade

que se torna agora toral it ar ia pode-

rao ser subst ituidas de fato, mas pela

Iibertacao de urn instinto de constru-

(:aoatualmente reprimido em todo 0

mundo: liberta~ao que, sem conquis-

tar o s outro s aspecto s de uma vida

autentica, nao leva a nada.

As dismss6es nas pesquisas pro-

gressis tas dehoje, referentes tanto a

poiit ica quanta a arte ou ao urbanis-

mo, est ao mui to a trasadas em rela-

c,:aoa realid ade que se instala em

todos os paises industrializados: istoe , a organizac,:aoconcentracionaria da

vida.

o grau de condicionamento exer-

cido sobre ostrabalhadores numa pe-

riferia como Sarcelles, ou rnais

expli ci tamente numa c idade como

Mourenx (fundada sobre 0 monoem-

pr ego da popu la~ao no complexo

petroquimico de Lacq) , prefigura as

condi~ es a partir da s quais, por t oda

a parte, 0 movimento revolucionarin

tera de lutar se souber reconstituir-se

no nivel das verdade iras c ri ses, das

verdadeiras reivindica~6es de nosso

tempo. Em Brasilia, aarquitetura fun-

cional revela 0 p l eno desenvolvimen-

to da arquitetura para funcionarios, 0

instrumento e 0 microcosmo da

Wel tan s chauung burocratica. Pode-se

constatar que, onde 0capitalismo bu-

rocratico e planificador ja construiu

seu cenario, 0 condicionamento e tao

aperfei~oado, a margem de escolha dos

individuos tao reduzida, queuma pra-

tica tao essencial para ele como e apu-

blicidade, que co rrespondeu a um

estagio mais anarquiro da concorren-

cia,tende a desaparecer na maioria de

suas formas e suportes. E possivel que

o urbanismo seja capaz defundir to-

das as antigas publicidades nurna uni -

ca publicidade do urbanismo. 0 resto

sera obtido por acrescimo, E tambem

provavel que, nessas condi~6es, a pro-

paganda pol it ica que foi tao for te na

primeira metade do seculo XX desapa-

reca quase totalmente e seja subst i-

tuida por urn ref lexo de rejeicao a

qualquer questao politica. Assim como

o rnovimento revolucionario devedes-

locar 0 problema para bern longe do

que era 0 antigo campo politico des-

prezado por todo 0mundo, 0poder es-

tabelecido coritara mais com a simples

organiza~ao do espetaculo de objetos

de consumo, que s6 terao valor

consumfvel ilusoriamente na med ida

e m q ue ti ve re m si do p ri me ir o o bje to s d e

espetdculc, Em Sa rcel l es ou em

Mourenx, as salas d espetaculo des-

s e novo mundo ja existem. Atomi-

zadas ao ex tr ema em torno de cada

aparelho de televisao, mas ao mesmo

tempo estendidas it dimensao exata

das cidades.

Se 0 urbanismo unitario designa,

como e nosso desejo, uma hip6tese de

emprego dos recursos da humanida-

de a tual para const ru ir l ivremente

sua vida, a comecar pelo ambiente

urbano, e perfeitamente inutil acei-

tar a discussao com quem nos per -

gun ta a que ponto el e e realizavel,

concreto, pratico ou possivel no con-

c re to a rrnado, pela simples razao de

nao exi st ir , em nenhum out ro lugar,

nenhuma teori a nem nenhuma p ra -

t ica referente a criacao das cidades,

ou dos comportamentos que the es-

tao ligados. Ninguern faz "urbanis-

mo", no sentido da construcao do

meio reivindicada por essa doutrina.

So existe um conjunto de tecnicas de

o consumo e sua encenacao.

"No contexte atual da propaganda de

consumo. a mistificacao fundamental

da publici dade e associar ideias de

felicidade a objelos (televisao, rnoveis

dejardim. autornovel etc.),rompendo

alias 0 vinculo natural queesses obje-

los possam ler com outros. parafaze-

los consl iluir antes demais nada um

meio material de 'alta cateqoria', Essa

imagem imposta dafelicidade constitui

o carater diretamenle lerrorista da

publicidade."

Notas editoriais daIS n°5.

integracao das p ssoas (te ni as qu .

resolvem e fe ti va r ne n te c o nf li to 0

criar novos confl itos , atualmente

menos conhecidos mas mais graves).

Essas t ecnicas sao manejadas ino-

centemente por imbec is au delibe -

radamente por policiais. E todos os

discursos sobre 0 urbanismo sao

mentiras tao evidentes quanta 0 es-

pa~o organizado pelo urbanismo e 0

pr6prio espaco da mentira social e da

exploracao reforcada. Os que falam

sobre os poderes do urbanismo ten-

tam fazer esquecer que eles s6 fazem

ourbanismo dopoder. Osurbanistas,

que se apresentam como educadores

dapopulacao, tiveram tarnbern de ser

educados - por esse mundo da alie-

nacao que eles reproduzem e aperfei-

coam ao maximo.

A nocao de centro dea t racao, na

arenga dos urbanistas, e 0 contra rio

da realidade, exatamente como tam-

bern 0 e a nocao sociologies de parti-

5/6/2018 Apologia+Da+Deriva - slidepdf.com

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PR OG RA MA E LE ME NTA R DO BUR EA U DE

U R BA N IS MO U N IT A R IO

1. 0 vazio do urban ism o e 0 v az io d o e sp e ta cu L o.

o urbanismo nao existe: nao passa deuma "ideologia", no sentido definido por

Marx. Aarquitetura existe realmente tanto quanta a Coca-Cola: e uma produ-

<;aoenvolta em ideologia, mas real, satisfazendo falsamente uma necessidade

forjada; ao passo que 0urbanismo e comparavel ao alarido publicitario em tor-

no da Coca-Cola, pura ideologia espetacular. 0 capitalismo moderno, orgam-zado de modo a reduzir toda a v ida social a sspetaculo, e incapaz de oferecer

urn espetaculo que nao seja 0 de nossa pr6pria alienacao. 0seu sonho de urba-

nismo e sua obra-prima.

o csnario e seu usa.

Quatrahlstoriadores e centenas de milh5es dedolares. dizern. !oram empregados

este ana para recanstruir parte dacidade deAlexandria num descampado da Ingla-

terra. Masera para que Elizabeth Taylorai representasse Cleopatra. Como a atriz

ficou doente. nac puderam filmar nem aproveitar 0 terrena para outra coisa. Final-

mente Alexandria loi entregue a s chamas.

l J U

ipacao. Porque essas duas disciplinas

aceitam uma sociedade onde a parti-

dpacao s6pode ser dirigida para "a lgo

de que e impossivel participar" (pon-

to 2do P r o g ra ma E l eme n ta r ); socieda-

de que deve impor a necess idade de

ob jeto s pouco atraentes e que nao

saberia tolerar aatracao autentica sob

nenhuma de suas formas. Para com-

preender 0 que a sociologia nunca

compreende, basta considerar em ter-

mos de agressividade 0 que para a

. ociologia e neutro.

As "bases" preparadas para uma

v ida experimental d e que tr ata 0

programa de urbanismo unitario da

IS sao aomesrno tempo os locais, os

plant6es, do novo tipo de organi-

zacao revolucionaria que acredi-

tamos estar na ordem do dia do

periodo historico em que entramos.

Essas bases, quando existirem, terao

de ser subversivas . E a organiza~ao

revolucioriaria do futuro tera de

apoia r-se em inst rumentos menos

completos.

2 . 0 p La neja me nto u rb an o c om o c on dic io na me nto e fa Ls a

par t ic ipacao .1 3 9

Internacional Situacionista

IS n° 6, a go st o d e 1 9 61

o desenvolvimento do meio urbane e a educacao capital is ta do espaco. Ele re-

presenta a escolha deuma certa materializa~ao do possivel, com a exclusa.o.de

out ras. Tal qua l a este ti ca , da qua l vai s egui r 0 movimento de decomposicao,

ele pode ser considerado como urn ramo bastante descurado da criminologia.

Entretanto,o que 0caracteriza no ambito do"urbanismo" com referenda a seu

escopo simplesmente arquitet6nico e exigir 0 consentimento da populacao, a

integras:ao individual no desencadear dessa producao burocratica do condicio-

namento.Tudo isso e imposto por meio de uma chantagem, em nome da uti lidade .

Orult a-se que a impor tanc ia completa des sa uti lidade e posta a ser vice da

reedifica~ao. 0 capital ismo moderno levaa desistir de toda critica pelo simples

argumento de que e preciso ter u rn teto, assim como a telev isao passa sob 0

pre texto de que e precise receber inforrnacao e divertimento. E consegue apa-

gar a evidi 'ncia: essa informacao, esse divertimento e esse modo dehabitat nao

sao fei tos para aspessoas mas sao fei tos sem elas, contra elas.

Todo 0 planejamento urbano se compreende apenas como campo da publi-

cidade-propaganda de uma sociedade, isto e, a organizacao da participacao em

algo de que e impossivel participar.

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3 ,0 t ra ns it o. estagio s up rem o d o p la ne jam en to u rb an o. separados da sociedade. Nenhuma zona espaciotemporal e cornpletamente se-

para vel.De fato, a sociedade global sempre exerce uma pressao sobre suas atuais

"reservas" deferias. A pressao tera urn sentido inverse nas bases situacionistas,

que farao 0papel de cabecas-de-ponte para invadir toda a.vida.cotidiana, 0 ur-

banismo unitario e 0 oposto da atividade especializada; e reconhecer urn domi-

nio urbanistico separado ja e reconhecer toda a mentira urbanistica ea mentira

na vida em geral.

ourbanismo promete a felicidade. Elesera julgado por essa promessa.A COOf-

denacao entre osmeios artisticos dedenuncia e osmeios cientff icos dedenun-

cia deve levar a completa denuncia do condicionamento existente.

o tr~l1sito e a organiza~ao do isolamento de tcdos. Constitui 0problema pre-

ponderants das cidades modemas. E 0 avesso do encontro: urn sugador das

energias disponiveis para eventuais encontros oupara qualquer esperie depar-

tictpacao. Tornada impossiveI, a participacao e compensada sob forma de espe-

taculo. 0 espetarulo semanifesta no habitat enos deslocamentos (alto padrao

de moradia e de car ros pessoa is ). Porque, de fa to, nao semora nurn bai rro da

cidade, mas no poder . Mora-se em determinado grau da hierarquia. No topo

dessa hierarquia, a escala pode ser medida pela intensidade do transito. 0 po-

der se mater ia liza na obrigacao de estar presente cotidianamente em lugares

cada vez ma is numerosos (jantar es de negocios) e ma is d istan te s ent re s i.0alto dirigente moderno e identifica.do como0homem que num rnesmo dia pas-

sa por tres capita is diferentes.

6. 0 desembarque.

4. 0 d is ta n ci amen to em relacao ao espetaculo urbano.

Todo 0 espaco ja esta ocupado pelo inimigo, que domesticou a seu uso ate re-

gras elementares desse espa~o (alern da jurisdicao: a geornetria). 0 momenta

de surgimento do urbanismo autentico sera0de criar, emcertas zonas, 0vazio

dessa ocupacao, 0 que chamamos de construcao comeca ai. Pede ser entendida

com a ajuda do conceito de "buraco positive" forjado pela fisica moderna ..Ma-

ter ia lizar a liberdade 12,primeiro, tirar de urn planeta domesticado algumas

parcelas de sua superficie.

' 1 1 0 0Atotalidade do cspetaculo que tende a integrar a populacao semanifesta como

planejamento das cidades e como rede permanente de informa~6es. E urn en-

quadramento solido para. manter as condicoes existentes de vida. Nosso pri-

meif0 trabalho e dar a s pessoas a possibilidade de nao se identif icarem corn0

meio ambiente e com as condutas-modelo. Isso e inseparavel da possibilidade

de reconhecerem-se livremente em algumas zonas iniciais delimitadas para a

atividade humana. Durante ainda muito tempo as pessoas terao de aceitar 0

psncdo reificado das cidades. Mas a atitude corna qual elas0 aceitem pode ser

mudada desde ja, Convern prop alar a desconfianca para com osjardins da infan-

cia arejados e color idos que constituem, a Leste como a Oeste, novas cidades-

dorrnitorio. S60despertar das consciencias charnara a baila a questao de uma

construcao consciente do meio urbano.

7 . A lu z do desv io .

o exercicio elementar da teoria do urbanismo unitario sera a transcricao de

toda a mentira teorica dourbanismo, desviado no intuito dedesalienar : a cada

instante temos de nos defender da epopeia dos trovadores do condicionarnen-

to, temos de inverter-lhes os ritmos.

5. Uma I ib e rd ade i nd iv is fv e l.8 , C o n di co e s do dia loqo.

o principal exito doatual planejamento das cidades e fazer esquecer a possibi-

lidade do que chamamos urbanismo unitario, isto e , a critica viva, alimentada

pelas tensoes de toda a vida cotidiana, dessa manipulacao das cidades e deseus

habil 'a l1l 'e.~,Crit ica viva quer dizer 0 estabelecimento de bas s pn rn um a vida

experimental: r cu n ia o d e g en te que cr ia sua p rop r ia vidl1('In 1 1 ' 1 1 1 ' 1 1 1 1 1 1 p r rpa ra -

dOli p , 1 r n nt[nl\il' ess objctivo. 'lais bases 1 1 1 . 1 0 podr.n111(,r !I'N111V i l i l 1/1II, "1.1~.i'I'CS"

FuncionaI e 0 que e pratico. E 56 e pratica a solucao de nosso problema fun-

damental: a realizacao de nos mesmos (afastarrno-nos do sistema de isolamen-

to) . Isso eo util eo utili tario, Nada mais. Todo0 resto s o representa derivacces

minimas do pratico, sua mistificacao,

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9. Materia-prima e transforrnacao.P E RS PE C TIV AS D E M O DIF IC A C;O E S C O NS CIE N T ES

N A V ID A C OT ID IA N Adestruicao s,ituacionista do condicionamento atual jii redunda na constru~ao

d situacoes. Ea liberacao das energias inesgotaveis contidas na vida cotidiana

petrificada. 0 atual planejamento das cidades, que se apresenta como uma

geologia da menti ra , dara lugar , com a urbanismo unit ar io , a uma tecnica de

defesa das condicces sempre arneacadas da liberdade, no momento em que os

indiv iduos - que como ta l ainda nao existern - construirem livremente sua

pr6pria hist6ria.

Estudar avida cotidiana seria uma

ta re fa r id icula, e condenada a nada

apreender de seu obje to , se t al pro-

posta nao fosse expli ci tamente a de

estudar a vida cotidiana para trans-

forma-laoA c or if er en ci a - e xp os ic ao de cer-

tas consideracoes intelectuais a urn

audit6rio, como forma banal das re -

lacoes humanas num amplo se tor da

sociedade - tamb ern faz parte da

critica da vida cotidiana.

Os sociclogos, par exemplo, tern

a costume de ret irar da vida cotidia-

na e rejeitar para esferas separadas-

chamadas superiores - a que lhes

acontece a cada momenta. E 0habito

sob todas as formas, a comecar pelo

habito do manejo de a lguns conce i-

tos p ro fi ss io na is - produzidos por-

t anto pela div isao dot raba lho - , que

mascara a realidade sob convencces

preexistentes.

E por is so dese jave l que se mos -

tre, por uma Ieve d istorcao das ex-

press6es correntes, que a vida

cotidiana e mesmo esta aqui. E claro

quea transmissao destas palavras por

meio deurn gravador nao vai i lustrar

a integracao dos recurs os tecnicos na

vida cot id iana margina l ao tecni-

cismo, e sirn aproveitar uma ocasiao

para romper co rn as aparencias de

pscndocolaboracao do dialogo artifi-

,1, iI , ' I " " I l ca r n i n st i tu i d a s entr 0

10. F im da pre-historla do cond ic ionamento.

Nao preconizamos que se deva voltar a urn estagio anterior ao condicionamen-

to, e sim que seva alern dele. Inventamos a arqui te tura e 0urbanismo que sao

irrealizaveis sem a rcvolurao da vida cotidiana; isto e, s em a apropri acao do

condicionamento por todos oshomens, para que melhorem indefinidamente ese realizem.

Att il a Kotanyi e Raoul Vaneigem

15 n' 6. a90510 d e 1 96 1

pnr" qualquer in fo rma~ao referents ao u . u .

B UREAU DE U RB AN ISM O U NITAR IO

1 0, "V~11I10 e l ,· I 'O , · ,I e , I I r u x ' 1 l~1 l - T · I · fe)ne : 49 .26 .57

-

conferencista "presents pessoalmen-

te" e seus espectado res. Essa leve

rup tu ra de uma comodidade pode

t ransformar em quest ionamento da

vida cotidiana (questionamento que,

de outro modo, sera totalmente abs-trato) a propria conferencia, como

out ras t antas disposicces do uso do

tempo, ou dos objetos , disposicoes

que sao consideradas "norrnais", que

nem percebemos, mas que no fundo

nos condicionam. A respei to de urn

pormenor como esse, como a respei-

to do conjun to da vida cotidiana, a

modificacao e sempre a condicao ne-

cessaria e suficiente para fazer surgir

experimentalmente 0 objeto de n08-

so estudo, que sem isso perrnanece-

ria duvidoso; objeto quenao e 56para

estudar, e s im para modificar . .

Acabei de dizer que a realidade de

urn conjunto obse rvavel que ser ia

designado pela expressao "vida co"

tidiana" corre 0risco de continuarhi-

poteti ca para muit a gente . De fato,

desde que este grupo de pesquisa se

constituiu, 0mais surpreendente nao

e que a inda nao tenha encontraclo

nada, mas que a contestacao dapro-

pri a exi st encia da vida cotidi ana s

tenha manifestado desde 0primeiro

instante; e,a cada encontro, con t i l l I(!

a se conf irmar , A m aio ria da s fa la s

que ou vim os nes sa d is usaao 'H ! : 'I on

de pe8~(),ul que n~() 'Sl~(I n n d n 1011

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v midas deque avida cotidiana exis-

ta, por nao a terem encontrado em

l u ga r algum. Urn grupo de pesquisa

sabre a vida cotidiana guiado por tal

ich~iae comparavel a uma expedicao

que parte em busca do "abominavel

homern das neves" e chega a conclu-

sao de que se tr ata de uma pilheria

folclorica.

Todoa mundo esta porern deacor-

do em que cer tos ges tos repet idos a

cada dia, como abrir aporta au encher

urn capo, s ao per fe it amente rea is ;

mas esses gestos estao num plano tao

trivial da realidade que se contesta,

com razao, quepossam justificar uma

nova especialiaacao da pesquisa so-

c io logica. E var ios sociologos parecem

pouco inclinados a imaginar outros

aspectos davida cotidiana, a partir da

definicao de Henri Lefebvre, isto e, "a

qu e rest a quando se ret iram do vivi-

do todas as atividades especializa-

das", Descobre-se entao que a maioria

do s sOciologos - e todos nos sabe-

mas como eles gostarn das atividades

special izadas e nelas acreditam ce-

garnent s! - reconhece at iv idades

especializadas em tudo, e a vida coti-

diana em lugar nenhum. A vida co-

t idiana esta sempre mais alern. Esta

com as out ros. Em todo 0 caso, nas

das es na o sociologicas da popu l ac ao .

Alguem disse que seria interessante

estudar os operarios , como cobaias

prov velmente inoculadas com a vi-

rus da vida cot id iana , poi s el es , par

nao rcrem acesso a s atividades espe-

I a l tzadas , s6 t 11 1 a vida cotidiana

l I [ 1 r . 1 vJ","'r. 1 \ 8 . ' 1 ( ' modo de se d ebrucar

sobre a povo, em busca de um len

gin quo primitivismo do cotidiano; e

sobretudo esse contentamento es-

cancarado, essa arrcgancia ingenua

depart icipar de urna cultura da qual

ninguem consegue disfarcar a indis-

cutivel talencia, a radical incapacida-

de de compreender a mundo que a

produz, tudo isso e assombroso,

Existe uma vontade manifesta de

proteger -se par t ras de uma forma-

<;:aodo pensamenro que se baseou na

segmenta~ao de dominios artificiais,

a fim de rejeitar 0conceito inutil, vul-

gar e inc6modo de "vida cotidiana".

Tal conceito abrange urn residuo da

realidade catalogada e classificada, re -

siduo com 0 qual alguns nao gostarn

de se confrontar, porque e ao mesmo

tempo 0 ponto de vis ta da total ida-

de; implica a necessidade de um jui-

zo global , de uma poli ti ca. Certos

intelectuais parecem vangloriar-se de

sua participacao pessoal no setor do-

min ante da sociedade, par possuirem

uma au varias especializacoes cultu-

rai s; i sso porern as coioca no lugar

ideal para perceberem que toda a cul-

tura dominante esta nit idamente rei-

da pelas t racas, Mas, s eja qua l for a

opiniao que se tenha sobre a coeren-

cia dessa cultura ou sobre seu interes-

s e, em detalhe , a al iena~ao que e la

irnpos aos ditos intelectuais e defazer

com que eles sejulguem, do C eu dos

sociologos, como totalmente alheias it

vida cotidiana das populacoss comuns

ou situados no tapa d a e sc a la do po-

der humano, como R r. rlt'H 1 Mc.lb(-Illoiio

foss In u n s p o lmw I l l l ld i l~ ,

E verdade que as atividades espe-

cializadas existern: tern ate, em certa

epoca, urn uso geral que sempre con-

ver n reconhecer de modo desmi-

tificado. A vida cotidiana nao e tudo,

embora esteja em osmose com asati-

v idades espec ia lizadas a ponto de,

sob cer to aspecto, nunca ninguern

estar fora da vida cotidiana. E, se re-

corrermos a conhecida representacao

espacial das atividades, a vida coti-

d iana tera de ser colocada no centro

detude, Nela seinicia cada projeto, e

cada realizacao a ela retorna em bus-

ca de uma verdadeira s ignif icacao, A

vida cotidiana e a medida de tudo: da

realizacao - au rnclhor, da nao-rea-

l izacao ~ das rel acoes humanas : da

utilizacao dotempo vivido; dapesqui-

sa na arte; da politica revolucionaria,

Convern relembrar que 0 velho

estereotipo cientifico do observador

desinteressado Eo urn ardil . Nocaso, a

observarao desinteressada Eo ainda

menos possivel que em qualquer ou-

tra situacao. 0 que torna dificil 0 re-

conhecimento de urn terreno da vida

cotidiana nao e apenas 0 fato de e le

ja s er 0ponto deencontro deuma so-

ciologia empirica com a elaboracao

conceptual, mas tambern de ser nes-

te momento 0 desafio de toda a r e-

novacao revolucionaria da cultura e

da politica,

A vida cotidiana nao criticada sig-

nifica a prolongamento das forrnas

atuais, profundamente deterioradas,

da cultura e da pol it ica , formas cuja

gmvlssima crise, sobretudo nos pa i -

I 'll Ilililnmorlernos, B e t ra d u z p la

despolitizacao epelo neo-analfabetis-

rna generalizados. Em compensacao,

a cr itica radical, e par atos, da vida

cotidiana existente pode levar a uma

superacao da cultura e da polit ica no

sentido tradicional, isto e , a urn nivel

superior de participacao na vida.

Mas, pode alguem perguntar, por

que essavida cotidiana, que a meu ver

e a unica rea l, e t ao completa e ime-

diatamente depreciada por pessoas

que, a fina l, nao tern nenhum inte-

resse dire to nis so e sao, na maioria,

favoraveis a uma renovacao do rnovi-

menta revolucionario?

Julgo que e por esta r a vida coti -

diana organizada dentro de parame-

tros de uma pobreza escandalosa. E

sobretudo porque essa pob reza da

vida cotidiana nada tern deacidental:

Eo uma pobr eza imposta a todo mo-

menta p e la c o ac a o epela violencia de

uma sociedade dividida em classes;

pobreza organizada historicamente

deacordo com asnecessidades da his-

toria da exploracao,

o usa davida cotidiana, no senti-

do deurn consumo do tempo vivido,

e comandado pela predorninancia da

rar idade: rar idade do tempo livre e

raridade dos possiveis modes de uti-

Iizar esse tempo livre.

Assirn om a hist ri. <1CL'lurnt1[1

d ' nO~~ : 1 (lplIe I I I " hlill Orl.l <In nn im u

5/6/2018 Apologia+Da+Deriva - slidepdf.com

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1M

la~il.oe da industrializacao, 0 atraso

davida cot id iana e sua tendencia ao

imobilismo sao 0 produto das leis e

dos interesses que comandaram essa

industrializar ao. A vida cotidiana

apresenta de fato , a te 0 momento,

uma res ist encia ao que e hist6rico.

Isso ju lg a a nte s d e tu do 0 h is to r ico ,

comoheranca eprojeto deuma socie-

dade de exploracao,

Aenorme pobreza da organizacao

ccnsciente, a falta de criatividade das

pessoas na vida cotidiana express am

a necessidade fundamental de in-

consciencia e de mistificacao numa

sociedade exploradora, numa socie-

dade da alienacao.

Henri Lefebvre apli cou uma ex-

tensao da ideia de desenvolvimento

desigual para earacterizar a vida co-

tidiana, d escompassada mas nao

cor tada da his tori cidade , como urn

setor atrasado. Acho que se pode

qualificar esse nivel da vida coti-

diana como setor colonizado. Todos

sabem que , na escala da economia

mundial, 0 subdesenvolvimento e a

colonizacao sao fatores que intera-

gem . Tudo leva a cr er que 0mesmo

acontece na escala da formacao eco-

nomico-social da praxis.

A vida cotidiana, mistificada par

to do s o s meios e controlada pol icial -

mente, e uma especie dereserva para

osbons selvagens que fazem funcio-

n a r , s e tn c o r np r e en d e -l a , a sociedade

rncderna com 0 rapido erescimento

d S L!S poderes tecnicos e a expan-

H l l o f or ca da d 's u 1 1 1 rc a d o, A h i st o -

1 ' 1 1 1 h it II l, n I r n n ~f ol '1 n ll< ; , n do r e a l

- nao e utilizavel atualmente na vida

cotidiana porque 0 homern do cot i-

diano e 0produto deuma hist6ria que

ele nao controla, E ele quem faz essa

hist6ria, mas na o livremente.

A sociedade moderna se constitui

de fragmentos especializados, pratica-

mente intransmissiveis, e a vida coti-

diana, na qual quase todas asquestoes

surgem demodo unitario, torna-se na-

turalmente a reino da ignorancia.

Essa sociedade, atraves de sua

producao industrial, esvaziou 0 sen-

tido dos gestos do trabalho, E ne-

nhum modele que esses gestos

humanos ja tiveram pe rdu r a em nos-

so cotidiano.

Tal sociedade ter n tendencia a

atomizar os homens em consumido-

res isolados, a proibir a comunicacao.

A vida cotidiana torna-se assim vida

privada, dominic da separacao e do

cspetaculo.

Detal forma que a vida cotidiana

e tambem 0 terreno do qual os espe-

cialistas abdicam. E nela que, por

exemplo, urn dos raros individuos

capazes de compreender a mai s re-

cente imagem cientifica do universo

torna-se estupido e considera atenta-

mente as t eori as a rti st icas de Ala in

Robbe-Grillet , ou envia peticces ao

Presidente da Republica a fim de in-

fluir em sua polit ica. E a esfera da

ausencia de reacao, da confis sao da

incapacidade de viver.

N ao se deve portanto caracterizar

o subdesenvolvirncnro da vida coti-

diana apenas po n u n r t- lu tl vn inca-

pacidad r\, l IlllI 'fllll1 I Illl.ll1rl. ERSO

aspecto e urn produto importante, mas

ainda parcial, do conjunto da alienacao

dia ri a, que pode ser def in ida como a

incapacidade de inventar uma tecni-

ca de libertacao do cotidiano.

E e verdade que muitas tecnicas

modif icarn com maior ou menor ni-

tidez certos aspectos da vida cotidia-

na: o s eletro domestico s, como ja

dissemos, e tambem 0 telefone, a te-

levisao, agravacao musical em discos,

as viagens aereas mais acessiveis etc.

Esses elementos intervem desorde-

nadamente , ao acaso, sem que nin-

guern tenha previsto suas conexoes e

conscquencias. Mas e cer to que , no

conjunto, esse movimento de introdu-

.;:aodas tecnicas no cotidiano, sendo

finalmente enquadrado pela raciona-

lidade do capitalismo moderno buro-

cr atizado , atu a mais no sen tido de

uma reducao da independenc ia e da

criatividade das pessoas. Assim as ci-

dades novas de hoje ret ra tam c1ara -

mente a tcndencia tot.alitaria da

organizacao da vida pelo capitalismo

moderno: os individuos isolados (ge-

ralmente isolados no ambito da celu-

la familiar ) veem, nesse genero de

cidade, sua vida reduzida a pura tri-

vialidade da repeticao, junto com a

assimilacao obrigat6ria de urn espe-

taculo igualmente repetitivo.

Pareceportanto que a censura que

as pessoas exercem sobre a questao

de sua pr6pria vida cotidiana se ex-

plica pela consciencia de sua insus-

tentavel miser ia, b ern como pela

s en sa ca o, ta lv ez ln con fes sa da m as

icv l 1'llvc!m M e e xp er im e nt n d i 1 " d('

que todas as verdadeiras possibilida-

des , todos os dese jos que foram irn-

pedidos pelo funcionamento da vida

social, estavam nela, e nao nas ativi-

dades ou distracoes especializadas.

Isto e , 0 conhecimento da riqueza

profunda, da energia perdida na vida

cotidiana, e inseparavel do conheci-

mento da miseria da organizacao do-

minante des sa vida: so a exi st encia

perceptivel dessa riqueza inexplora-

da leva a def in ir por contras te a vida

cotidiana como miser ia e como pri -

sao; depois, no mesmo impulso, leva

a negar 0 problema.

Emtais condiroes , oeultar a ques-

tao polit ica susci tada pela miseria da

vida cotidiana equivale a ocu ltar a

profundidade das reivindicacoes re-

lativas it r iqueza pos sive l de nos sa

vida; reivindicacoes que levariam for-

cosamente a reinventar a revolucao,

Neste aspecto, a fuga it polit ica nao e

contradit6ria com 0 fato de ser mili-

tante do Partido Socialista Unificado,

por exemplo , ou de le r com confian-

ca 0 jornal L'Humanite.

Tudo depende efetivamen te do

nivel em que seousa formular 0 pro-

blema: como vivemos? Como ficamos

satisfeitos? Insat isfeitos? Isso sem

nos deixarmos nunca int imidar pelas

diversas formas de publici dade que

visam apersuadir que 0homem pode

ser feliz por causa da existencia de

Deus, ou do dentifricio Colgate, ou do

CNRS [Centro Nac iona l da Pesqu i s a

Cient if i <1 , d a F r an c a] .

P nr cc e- me q u a e xp re ss (! "ali i

C I dr v i t l ,1 WI1ili,ll\d" 1)llclrl'ln. t' tltll/('

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14 8

ria, tambcm harmonizar-se com essa

inv rsao: e ria a c rit ica que a vida co-

tidiana exerceria, soberanamente,

sobre tudo 0 que Ihe e inuti lmente

exterior.

A questao do uso dos meios tec-

nicos , na vida cotidiana e alhures , e

mera questao polit ica (e, entre todos

os meios tecnicos existentes, os que

sao uti lizados sao de fato seleciona-

dos de acordo com os objetivos de

manu tencao da p redominancia deuma c lasse) . Quando se conside ra a

h ip6 tese de urn fu turo , tal como e

pensado pela literatura de f iccao cien-

tlfica, no qual aventuras interstelares

coexi st em com uma vida cot id iana

r nan tid a nesta terra com a mesma

indigcncia material e 0 mesmo

moralismo arcaico, isso significa, exa-

tamente, que ainda haveria uma clas-

se de dir igentes espec ia lizados ,

mantendo a seu service as mass as

proletanas das fabricas e dos eserit6-

rios: e que as aventuras interstelares

seriam apenas a empresa escolhida

por esses dir igentes, a manei ra que

teriam achado para desenvolver sua

eeonomia irracional, 0cumulo da ati-

v id ad e especializada.

Ja foi perguntado: "Avida priva-

da esta privada de que?" Davida, que

" . . . . . .

dela esta cruelmente ausente. Aspes-

soas tambern estao privadas ao ma-

ximo de c om u ni ca ca o; e de r e a l i z ac ao

pes soa! . Caber ia dizer : nao podem

fazer, pessoalmente, sua pr6pria his-

toria. Ashipoteses para responder de

modo posit ive a essa q.ies tao sobre a

natureza da privacao so podem ser

enunc iadas sob a forma de proje tos

de enriquecimento: projetos deoutro

est ilo devida; au seja, de urn est ilo. . .

Ou en tao, se considerarmos que avida cot id iana esta na f rontei ra en-

tre 0 seto r dominado e 0 setor nao

dominado davida, ou seja, 0 lugar do

aleatoric. sera preciso substituir 0

pr esen te gueto por uma fronteira

sempre desiocavel : t rabalhar sem es-

morecer para organizar novas opor-

tunidades.

A questao da intensidade do vivi-

do apareee hoje, por exemplo, com 0

uso da droga, nos mesmos termos

com quea soeiedade da alienacao con-

segue formular qualquer questao: isto

e, em termos de falso reconhecimen-

to de urn projeto falsificado, em ter-

mos de f ixacao e de apego. Conve rn

notar tambern a que ponto a imagem

do amor, elaborada e divulgada nes-

ta sociedade, e parecida com a da

droga . Ne la , a pa ix ao e primeiro re-

conhecida como recusa de todas as

outras pa ixoe s : depois, e impedida e,

afinal, so se encontra nas compensa-

~oes do esp etaculo reinante. La

Rochefoucauld escreveu: "Quase sern-

pre 0 que nos impede de entregarmo-

nos a u rn v ieio e 0 fato de termos

varies". E is urna constatacao muito

posit iva se, deixando delade ospres-

supos tos moral is ta s, a pusermos de

pe, como base de urn programa de

realizacao das capacidades humanas.

Todos esses problemas estao na

ordern do dia porque, vis ivelmente,

nosso tempo e dominado pelo surgi-

men to do pro jeto , def end ido pela

classe operaria, deabolir toda a socie-

dade de classes e de comecar a his to-

ria humana; projeto domina do

por tanto, como corolar io , por uma

resis tencia encarnicada, bern como

pelos desvios e f racassos que a te 0

momenta enfrentou.

A a tual c ri se da vida cot id iana se

inscreve nas novas formas decrise do

capital ismo, formas que passam des-

percebidas a quem sopensa em co rn -

putar a chegada das pr6ximas cri ses

dclicas da economia.

o desaparecimento, no eapitalis-

mo desenvolvido, de todos as antigos

valo res, de todas as ref erencias da

antiga cornunicacao, bern como a im-

possibilidade de substitui-los por ou-

tros, sejam cles quais forem, antes de

terem dominado rac iona lmente , na

vida cotidiana e alhures, asnovas for-

ca s industriais que nos escapam cada

vez mais, sao fatos queproduzem nao

apenas a insatisfacao quase oficial de

nossa epoca, insatisfacao muitissimo

aguda ent re os jovens, mas tambem

omovimento deautonegacao daarte.

A a tividade art ist ica sempre fora a

unica a expli ca r os problemas c lan-

destinos da vida cotidiana, embora de

f or m a v el ad a , deformada, parcial-

11H111( t lu l1 6 rl .. D i nn re des olh 8,1'1"-

mos 0 testemunho da dcstruic' 0 de

toda a expressao art ls tica: e arte

moderna.

Seconsiderarmos a crise da socie-

dade conter npo ranea em tcda a sua

ex tensao, nao creio que ainda seja

possivel olhar os lazeres como um a

nega~ao do cotidiano. Admitimcs que

era preciso "estudar 0 tempo perdi-

do" . Mas vejamos a evolucao des sa

ideia de tempo perdido. Para ° capi-talismo classico, 0 tempo perdido eaquele que e exterior a producao, a

acumulacao, a poupanca. Amoral lei-

ga, ensinada nas escolas da burgue-

sia, implantou essa regra devida. Mas

acontece que 0 capitalismo moderno,

por uma manobra inesperada, pred-

sa aumentar 0 consumo, "elevar 0 ni-

vel de vida" (nao esquecer que essa

expressao e inteiramente destituida

de sentido). Como, ao mesmo tempo,

as condicoes da producao, parcelar e

cronometrada aoextremo, tornaram-

seindefensaveis, a moral que jaexis-

te na publici dade, na propaganda e

em todas as for rnas do cspetaculo

dominante admite, ao contrario, que

° tempo perdido e 0 do trabalho, ago-

ra jus ti fi cado apenas pelos var iesgraus do que se ganha e que permi t

comprar descanso, consumo, lazer-

isto e, uma passividade cotidiana fa -

bricada e controlada pelo cap i t a l i smo .

Agora, se considerarmos a facti-

cidade dos imperat ivos do consume

criados e estimulados pela industr!n

m od er na - s e re co nhe ce rrn os 0 vn

zio d es laxcrcs a lrnp s si blli dn d d e

d s ansa ,aIWYI',IIIlI,\podl'/I'rrlll

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lU)

mulada de modo mais realista: 0 que

nao e tempo perdido? Ou seja: 0 de-

senvolvimento de uma soeiedade da

abundancia deve chegar a abundan-cia de que?

Isto pode se rvir de c ri te rio para

muita coisa. Quando, por exernplo,

num dos jor nais onde se exibe a in-

consistencia dos chamados inteiec-

tuais de esquerda - refire-me a

P ra nc e- Ob se rv at cu r - ve - s e urn titu-

loque anuncia algo como "0 carro de

passeio ataca 0socialismo", diante de

LIm art igo explicando que os fUSSOS

ja buscam individualmente, a exem-

p lo d o s americanos, urn consumo par-

ticular dos bens e que come~am

naturalmente pelo car ro , eo caso de

se pensar que nem era necessario tcr

ass imilado, depoi s de Hegel , toda a

obra de Marx para perceber que urn

socialismo que se enfraquece porque

o carro de passeio invadiu 0mercado

nada tern a ver com 0socialismo pelo

qual 0movimento operario lutou. De

modo que nao e a urn estagio da tati-

ca ou do dogmatismo dos dirigentes

burocraticos da Russia que nos dcve-

rnos opor, mas a base, aquilo que faz

com que a vida das pessoas nao mude

efet ivamente de sentido. E na o se t ra-

ta d a fatal idade obscura da vida cob-

d iana , or id ena da a per m anecer

r '. i on ar ia . E Lima fa ta li d ad e im p s-

ta exteriorrnente avida cotidiana, em

todos os aspectos, pela esfera reacio-

naria dos dirigentes especializados,

seja qual for a etiqueta sob a qual eles

planifieam a mise r i a ,

A atual despoli tizacao de muitos

ex-militantes de esquerda, 0 afastar-

sede uma certa alienacao para atirar-

s enoutra, a davida privada , nao tern

tanto 0 sent ido deurn retorno a pri -

vatizacao como refugio contra as "res-

ponsabilidades da historicidads", mas

o de urn afastamento do setor polit i-

coespecializado, e sempre manipula-

do po r ou tros: setor em que a unica

responsabi1idade verdadeiramente

assumida foi a de deixar todas asres-

ponsabilidades nas maos de chefes

sem controle: onde 0 projeto eomu-

nis ta foi enganado e desiludido. As-

s im como nao sepode opor como urn

todo a vida privada a vida publica,

s em perguntar : qua l v ida privada?

qual vida publica? (porque a vida pri-

vada contem os fatores de sua nega-

~ao e desua superacao tanto como a

acao coletiva revolucionaria pode ali-

mentar os fatores de sua dege-

nerescencia) , tarnbem nao se pode

fazer 0 balance de uma alienacao dos

individuos na politica revolucionaria

po r se tratar da a l i enacao da propria

politica revolucionaria. E jus to con-

siderar demodo dialetico 0 problema

da alienacao. assinalar aspossibilida-

des dealienacao sempre renovadas na

propria luta travada contra a aliena-

cao, mas convern enfat izar que tudo

i sso deve ser apl irndo 11 0 mais al to

n t vs l ( b P,'1fj l liNIl (pI It I'KI"llplo, n f i le-

sofia da alienacao no seu todo), e nao

no mvel do estalinismo, cuja explica-

~ao e infelizmente mais grosseira.

A civilizacao capitalista ainda nao

fo i super ada em nenhum lugar mas

continua a produzir inimigos. Apro-

xima tentat iva do movimento revo-

lucionario, radicalizado pelas licoes

dos anteriores fracassos , e eujo pro-

grama reivindica torio devera enr i-

quecer-se na proporcao dos poderes

praticos da sociedade moderna -

poderes que desde jaconsti tuem vir-

tualmente a base material que fal ta-

vaas correntes chamadas ut6picas do

socialismo -, essa proxima tentati-

va de total contestacao do capital is-

mo sabera inventar e prop or urn

out ro usa davida cot id iana , e logo se

apoiara em novas praticas cotidianas,

em novos tipos de relacoes humanas

(nao ignorando que 0 que se conser-

yay, no inter ior do movimento revo-

lucionario, das relacoes dominantes

na sociedade existente levara insen-

sivelmente a reconstituir, com diver-

sas variantes, essa mesma sociedade).

Assim como outrora a burguesia,

em sua faseaseendente, teve deliqui-

dar de modo impiedoso tudo 0 que

ult rapassava a vida ter rena (0 Ceu, a

eternidade), assim tambern 0 prole-

t ar iado rsvoluc ionario - que nunea

podera admitir , sem deixar de exist ir

como tal , urn passado ou modelos -

t era derenunc ia r a tudo 0 que ultra-

passa a vida cot id iana . Ou que pre -

tende ultrapassa-la: 0 espetaculo, °g stc (litIIpnlnvra "historiccs", a

·' l ' l . lI id( '~. , ," . l '11" hl l\ (' 11 1 ' ~, 0 mister!«

das especializacoes , a "irn rt l id . d e "

da arte e sua impor tanc ia exter ior avida. 0 que significa: renunciar a to-

dos ossubprodutos daeternidade que

sobreviveram como armas no mun -

do dos dirigentes.

A revolucao na vida cot id iana ,

quebrando sua a tual res ist encia ao

his t6ri co (ea todo t ipo de mudanca) ,

c ri ara condicoes tai s que 0 presente

c on si ga dom i na r 0pa s s ado , eque apar-

t e da e ri at iv idade ganhe da repet i-

tividade. E de se esperar que a lad

davida cotidiana expresso pelos con-

ceitos da ambiguid ade - malen-

tendido, comprometimento, abuse

- perea a impor tanc ia , e rn prove ito

de seu oposto, a eseolha consciente

au 0 desafio.

o atual questionamento artistico

dalinguagem, contemporaneo dame-

tal inguagem das rnaquinas , que e a

linguagem burocratizada da buro-

cracia no poder, sera entao superado

por formas superiores de comunica-

~ao. A presente nocao de texto social

lUI

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1 2

de ifnlve] levera chegar a novos pro-

essos de esc ri ta des se texto soc ia l,

na direcao daquilo que bus cam atual-

mente meus camaradas s ituacio-

nis tas com 0urbanismo unitario e 0

esboco de urn comportamento expe-

r imenta l. A producao central de urn

trabalho industrial inteiramente re-

convertido provocara 0 a rranjo de

novas configuracocs da vida cotidia-

na, a criacao livre deacontecimentos,

A cri tica e a perpetua recriacao detoda a vida cotidiana, antes deserem

feitas naturalmente por todos osho-

mens, devem se t empreendidas nas

ccndicoes da presente cpressao, a fim

de derrubar essas condicoes.

Nao e urn movimento cultural de

vanguarda, mesmo corn prctensoss

revolucionarias, que pode realizar

isso, Tampouco urn partido revolu-

cionario de modelo tradicionaI, mes-

rno que conceda arenrao a critica da

COMENTARIOS CONTRA 0 URBANISMOultura (entendendo por esse termo

o conjunto dos instrumentos art is ti -

cos ou conceptua is pelos qua is uma

sociedade explica a simesma ese ofe-

reee objet ivos de vida), Tal cultura

como tal politica estao desgastadas,

e nao e sem motivo que a maioria das

pessoas perdeu 0 interesse por elas,

A transforrnar ao revolucionaria da

vida cotidiana n ao e st a reservada a

urn vago futuro: apresenta -ss a n6s

como urgente, diante do desenvolvi-

mento do capitalismo e suas insupor-

taveis exigencias; a alternativa seria

o reforco da esc ravidao moderns.

Essa transforma~ao revolucionaria

marcara 0 f im de toda expressao ar-

tistica unilateral, armazenada sob a

forma de mercadoria, s imultaneo ao

fim de toda politica espeeializada.

Sera essa a prirneira tarefa da or-

ganiza~ao revolucicnaria deurn novo

tipo.

o pareeer de urn espec ia li st a -

Chombart de Lauwe - constata,

ap6s exper ienc ias preci sas, que os

program as propostos pelos planeja-

dores urbanos criam ern certos casos

embaracos e revoltas que seriarn evi-

taveis se houvesse urn conhecimento

mais profundo dos comportamentos

rea is, e sobretudo das mot ivacoes

desses comportamentos.

Grandeza e servidao do urbanismo.

Quando perscrutamos 0 planejador

urbano com insistente desccnfianca,

o f izemos discret amente , ern nome

das boas maneiras, Nao setrata dein-

criminar 0veredicto popular, 0povo

ja se pronunciara com a mesma in -

congruencia: "jeitao de arquiteto!"

sempre foi , na Bc lgica, urn xinga-

mento expli ci to . Mas, ja que hoje 0

referido especialista segue a opiniao

do vulgo e se poe a perscrutar 0 pla-

nejador, estamos salvos! Assim, 0

urbanista e oficialmente acusado de

suscit ar cmbaraco e revol ta , a sus-

cita-los "ouase" como urn provocador

primario. E preciso que os poderes

publi r os rea jam rapido: e impen-

savel que focos de revolta sejam

mantidos abertamente por quem

tern a missao de dissolve-los, Hanis-

so urn crime contra a paz social , que

so urn conselho de guerra pode re-

solve r. Sera que a jus ti ca vai a taea r

um dos seus? A menos que 0 espe-

inllnl.1 soja, no fundo, urn urbanista

1"111 '110.

Guy-Ernest Debord

ISn° 6,agosto de 1961

sta palestra foi lei la, por meio deum gravador, em 17demllio tlo 1961.no Groupe

do R ch rches ur laviequotidienne [grupo depesqulsa oiJrl l oJ Vl! !l Qtldl nn] reu-

nldopar H,Lefebvre nocentr d' ludo, I IIhll llUlql l' dnCNRS,

Se 0 planejador nao pode conhe-

cer as motivacoes comportamentais

daqueles a quem vai proporcionar

moradia nas melhores condicoes de

equilibrio nervoso, mais vale integrar

desde ja 0 urbanismo no cen tro de

pesquisas crimi nol ogicas ( si tuar os

provocadores epermit ir que cada urn

fique tranquilo na escala hierarquica);

seelepode, entao a ciencia da repres-

sao criminal perde sua razao de ser e

muda de razao socia l: 0 urbanismo

basta para manter a ordem estabele-

cida sem recorrer a indelicadeza das

metralhadoras. 0 homem assimilado

ao concreto a rmado, que sonho all

que feliz pesadelo para os tecno -

cratas, t ivessem eles de nisso perder

o que Ihes resta deAtividade Nerve-

sa Superior, e permanecer sob 0 po-

1 3

Um eu to r lme t ro ,

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I ri e a dur eza do concreto armada!

Se os nazis tas t ivessern conheci-

do as urbanistas contemporarieos,

t er iam transfor rnado as campos de

ccncentracao em conjuntos habita-

cionais. Mas e s sa s ol u ca o parece mui -

to bruta l para Chombart de Lauwe .

o urbanism a ideal deve aliciar cada

individuo, sem embaraco nem revel-

ta, para a solucao final do problema

humano.

o u rbanismo e a mais cornpl eta

realizacao concreta do pesadelo. Pe-

sadelo, segundo a dicioriario Lit tre:

"estado que terrnina num despertar

emsobressalto ap6s uma sensacao de

extrema ansiedade", Mas sobressal-

to contra quem? Quem nos fartou ate

levar a sonolencia? Seria tao estupi-

doexecutar Eichmann como enforcar

os urbanistas. E como acert ar os al -

vas quando se esta num estande de

tiro I

Planejamento e a palavra da

moda, a palavrao, d izern a lguns. Os

especialistas falam de planejamento

econornico, e de urbanismo planeja-

do, depois da o uma piscadela corn ar

conivente e, contanto que haja reci-

procidade no jogo , todo 0 mundo

aplaude. 0 supra-sumo do espetacu-

10 e 0 planejamento da felicidade. Ja

o defensor dos numeros faz sua son-

dagem; experiencias exatas cstabcle-

cern a nivel televis ivo de audiencia:

trata-se de preparar 0 terri t6rio ern

torno do telespectador, de construir

para ele, sem d i st ra i -l o d a s preocupa-

~1 \e s 0 1 1 1 qLle e al lmentado pelos

e lhos l' uv idos , Trata-se d a ss ~\ll

rar a todos uma vida serena e urn

equilibrio, (om a previsao cautelosa

demonstrada pelos piratas de his to-

rias em quadrinhos na frase: "Os

mortos nao falam". 0urbanism a e a

inforrnacao sao complementares nas

soc iedades capit ali st a e "anticapi-

talista", ambos organizam 0 silentio.

Habitar e 0 "Beba Coca-Cola" do

urbanismo. Substitui-se a necessida-

de de beber pela debeber Coca-Cola.

Habitar e sentir-se, em qualquer lu-

gar, em casa, diz Kiesler, mas tal ver-

dade profetica nao agarra ninguem

pelo pesco\o, ela e um cachecol con-

tra 0 frio intenso, mesmo quelembre

urn l ace de forea. N6s estamos habi-

tados, e desse ponto que se deve par-

tir.

Relacoes-publicas, 0 urbanismo

ideal e a projecao, no espas:o, da hie-

rarquia social sem conflitos. Estradas,

gramados, flares naturais e florestas

artificiais lubrificam as engrenagens

da sujeicao e a tornam amave l , Num

romance de f iccao cientffica de Yves

Touraine, 0Estado ofereee aos traba-

Ihadores aposentados ate urn

masturbador clctronico: a economia

e a felicidade Hearn assim satisfeitas,

Ur n certo urbanismo de prestigio

e necessaric, pretende Chombart de

Lauwe. 0 espetaculo que ele propoe

torna 0barao Haussmann folcl6rico,

e le que nao sabia l idar com 0 presti-

gio fora deurn estande detiro. Desta

vez trata-se de organizar teatral-

mer i t 0 espetaculo sobre a vida co -

tldlnnn, i l ( ' dcixar vive r cad a Lim no

{!lIlII'xlll 'Iln {'~;r>ol'ldCnl no papcl

que a sociedade capitalista Ihe impoe,

de i so la -lo a inda mais ao cduca-Io

como cego, para se reconhecer iluso-

riamente numa marerializacao de sua

pr6pria alienacao,

A educacao capitalista do espa<;:o

nada rna is e que a educacao num es-

pas:oonde 0individuo perde sua scm-

br a, onde ele se acaba perdendo de

tanto seprocurar naqui lo que nao e

ele. Que bela exemplo de tenaeidade

para todos os professores e out ros

organizadores patenteados da i gno -

rancia!

o tr acado de uma cidade, suas

ruas, muralhas e bairros representam

sinais de urn estranho condicicna-

menta. Que sinal se pode ai reco-

nhecer que seja nos so? Algumas

pichacoes , palavras de protesto au

gestos proibidos, rabiscados apressa-

damente, eujo interesse 56 convence

os eruditos se est iverem nos muros

de Pornpeia, numa cidade fossil. Mas

as cidades de hoje est ao ainda mais

fossilizadas. Queremos morar em ter-

ra conhecida, entre sinais vivos como

amigos de cada dia. A r e v ol u c a o sera

tambem a perpetua criacao de sinais

que pertencem a todos.

H a u rn peso incrivel em tudo 0que

se r ef er e ao urbanismo. A palav ra

construir vai apique, na frota em que

as outras palavras possiveis flutuam.

Por toda a parte onde a civ ilizacao

burocratica se estendeu, a anarquia

da construcao individual foi ccnsa-

grada oficialmente e assumida pelos

organismos competentes do poder,

de tal modo que 0 ins tinto de cons- I~

Superficies rnaxirnas e normais detrabalho no plano horizontal.

Superffcie maxima de trabalho

M o vi me n to s 4 a categoria

Dedos . punhos. antebraccs , braces

S u pe rf ic ie n o rm a l d e trabatho

M ov im en to 5 3 .: 1ca teqo r i a

Dedas. punhos, antebraccs

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I 6

tru~~ foi xtirpad como urn vicio e

sobrevive apenas nas c ri ancas, nos

primitives (irresponsavais, segundo

a terminologia administrativa). E em

todos os que , j aque nao podem rnu-

dar de vida, passam 0 tempo a demo-

lir e a reconstruir seu barraco.

o urbanis rno procura exercer a

a rte de t ranqiii li za r sob sua forma

mais pura: e a ult ima cor tesi a deum

poder que esta prest es a assumir 0

total controle das mentes,

Deus e a C idade: nenhuma forca

abstrata e inexistente conseguiria,

rnais que 0urbanismo, reivindicar a

sucessao de Deus para 0cargo depor-

t ei ro , que f icou vago pela mor te que

se sabe. Com sua ub iquidadc, sua

imensa bondade e, talvez urn dia, seu

poder soberano, 0urbanism a (ou seu

proje to) t er ia a pos sibi lidade de as-

sustar a Igreja, sehouvesse a minima

duvida quanta a ortodoxia do pcder,

Mas nao e nada disso porque a Igreja

era "urbanisrno" bern antes do poder;

que poderia ela temer de urn santo

Agostinho leigo?

Hi a lgo deadmir ivel emfazer co-

existir na palavra "habitar" milhares

de seres a quem foi ret irada a te a es-

peran~a dojuizo final. Nesse sentido,

o admiravsl coroa a desumano.

Indust ri al izar a vida privada:

"Faca de sua vida urnnegocio", sed, 0

novo s logan . Propo r a cada u rn que

organize seu meio vital como uma

peq uena fabr ica que tern de ser

gcrida, como uma microempresa com

seus subst itut es de rnaquinas , sua

prndut ; . 0 de qua lid ade , u capita l

eonstituido deparedes emoveis , nao

sera a melhor mane ira de tornar per-

fei tamente compreensiveis as preo-

cupaco es desses senhores que

possuem uma fahrica, uma de verda-

de, das grandes , e que tambem deve

prcduzir?

Uniformizar a horizonte: os mu-

ros e os recantos ajardinados confe-

rem ao sonho eao pensamento novos

limites pois, afinal, e poetizar 0 de-

serto 0 fato desaber onde e le acaba.

As cidades novas chegarao a apa-

gar asmarcas das lu tas que van opar

as c idades t radicionai s aos hom ens

que elas quiseram oprirnir, Extirpar

da memoria de todos a verdade de

quecada vida cotidiana tern a sua his-

toria e,no mite da participa~ao, con-

testar 0 carater irredutivel do vivido

- e nesses termos que os urbanistas

expressariam os objetivos que perse-

guem, se consent iss em em afastar

por urn inst ante a irieia de seriedade

que obstrui seu pensamento, Quan-

do a ideia de seriedade desaparece, 0

ceu c la re ia , tudo se torna mais nit i-

do, ou quase; ass im, e os humoris tas

sabem disso, destruir 0 adversario a

golpes de bomb as de hidrogenio e

condenar-se a morrer com maior so-

frimen to.Sera necessario ironizar por

mui to tempo os urbanist as para que

eles percebam, no atentado que pre-

meditam, a esboco de seu suicidio?

Oscemiterios sao aszonas verdes

mais naturais que existem, as unicas

que se integram harmoniosamente

no ambito das cidades futuras , como

os ultirnos pnrilfsos perdidos,

Osprecos de custo devem deixar

de ser urn obstaculo para 0 desejo de

construir, reivindica 0 construtor de

esquerda . Que de descanso em paz,

ass im sera em breve, quando 0 dese-

jo de construir tiver desaparecido.

Na Franca desenvolveram-se pro-

cedirnentos quefazem da construcao

umjogo de armar (I-E, Havel), Sob 0

aspecto mais f avcravel, ur n se lf-

service nao passa de urn lugar onde a

gente se serve, no sentido em que 0

garfo serve para comer.

Misturando a maquiavelismo com

o concreto armada, 0 urbanismo tern

a consciencia tranquila, Entramos no

reino da delicadeza policial. Sujeitar

com dignidade.

Construir com confianca: mesmo

arealidade das fachadas envidracadas

nao disfarca a cornunicacao ficticia,

mesmo a arnbiencia dos lugares pu-

blicos denuncia a desespero e 0isola-

mento das consc ienc ias privadas,

mesmo 0 preenchimento febri l do

espa~o semede pelos tempos mortos.

Projeto para urn urbanismo rea -

l is ta : subst itui r as escadas de P ira-

nes i por e levadores, transformar os

tumulos em edificios , ladear osesgo-

tos com platanos, preparar viveiros

nas latas delixo, empilhar os casebres

e const ru ir t cdas as c idades em for-

ma demuseu; t irar par tido de tudo, e

ate do nada.

A alienacao ao alcance da mao: 0

urbanismo toma a alienacao t:angivel.

o proletariado faminto v iv ia a a li c-

n" om sofrim nto c l l ' nlliJl1.1is.

VIV(I:r('JlH)l110~()rri,l,, ('I'II" te),!) d,IM

coisas, Sentir-se outre as apalpndela ..

Osurbanistas honestos e esclar

cidos tern a coragem dos estilitas. Fa -

remos de nossa vida urn deserto para

tamar legitimas suas aspiracces?

Osguardiaes da fefi los6fica des-

cobriram hi uns vinte anos a existsn-

c ia da c lasse opera ri a, Na epoca em

que os sociologos sepoem de acordo

para deeretar que a c1asseoperaria ja

nao existe, o s u rbanistas - sem es-

perar pelos f ilosofos nem pelos so-

c io logos ~ inventam 0 habitante,

Ternos de render- lhes a honra de te-

rem sido os primeiros a discemir as

novas dimens6es do proletariado.

Definicac mais exata emenos abstra-

ta por t erem eles sabido, com rneto-

dos de adestramento mais flexiveis ,

leva r quase toda a soc iedade a 'l ima

prole ta ri zacao menos bruta l e mai s

radical.

Aviso aos construtores de ruinas:

depoi s dos urbanis ta s virao as ult i-

mos trogloditas de favelas e cortices.

Esses saberao construir. Os privils-

giados das cidades-dormitorio s6po-

der ao destru ir. Deve-se esperar

muito desse encontro: ele defin a

rcvolucao,

Ao se desvalorizar, a sag rado

tornou-se misterio: 0 urbanismo e aultima decadencia do Grande Ar-

quiteto.

Por tras dapresuncao teenol gica

se dis simula uma verdade rev lad , c

como tal indiscutivel: e preciso "hn

b it ar ". Q u a n te it natureza d tal v r-

dade, 11 1 ndigo sa b ib III do (jIll' S('

Ir~I~, 0 1 1 1 1 1 1 1 "1 1 ' 11 , 1 1, 1 l1 (' lh c li d o qlll '

1 '1

5/6/2018 Apologia+Da+Deriva - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/apologiadaderiva 48/48

 

A ccnstrucao de;situacees ccmeca ap6s 0 desmoronamento rnoderno da nocao de

espetaculo, E fadl ver a que ponto esta ligado a aliena<;ao do velho mundo 0

prtnoipio caracterrstico do espetaculo: a nao-

participacao. A situacao € feita de modo a ser

vivida por seus construtores. a papel do "pu-blico", senao passive pelt') menos de mere figu-

rante, deve ir diminumdo; enquamto aumenta a

numero dos que ja nao se,rao chamados atores mas,

num sentido novo do termo, vivenciadores.

.'.

A ideia de padronizacao e urn es&on;:opara reduzir e simplificar, demodo mais eqiiitativo, 0 maior nume ro de necessidades humanas.

Compete-nos fazer com que a padrcnizacae abra dominies de experiencia

mais interessantes que as que ela fecha. Conforms 0 rssulaado, pode-se

chegar ao total embrutecimento da vida humana ou a desccberta perma-

nent de novos desejos, Mas, no contexte opressivo do mundo atual, esses

novos desejos nao se manifestarao esporitaneamente. E indispensavel uma acae

comurn para os detectar, manifestar e realizar.

A crise do urbanismo se agrava. A construcao de bairros, antigos e modernos,

esta em evidente desacerdo corn os modes de comportamento estabelecidos e,

mais alndai com os flOVDS modes de vida que buscames. 0 resultado e a am-

IDi€uda merna s esteril que nos cerca. Diante da necessidade de construir rapida-

mente cidades inteiras, erguem-se cemiterios de concreto armada onde grande

parte da populacao ssta condenada a levar uma vida muito enfadonha. Ora,

para que servem as incrfveis invencoes tecnicas do mundo atual se faltam

condicoes para delas tirar provsito, se nao conduzem ao lazer, se ha

carencia de imaginacao?

Se 0 planejador nao pode conhecer as motivaeoes eomportamentais

daqueles a quem vai proporcionar moradia nas melhores condicoes de

equilibria nervoso, mais vale integral' desde ja 0 urbanismo no centro de