APLICAÇÃO DA MULTIFUNCIONALIDADE DA MORINGA OLEIFERA

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APLICAÇÃO DA MULTIFUNCIONALIDADE DA MORINGA OLEIFERA NA GESTÃO INTEGRADA DOS RECURSOS NATURAIS CDS-Recursos Naturais 1 Pedro Castigo E-mail: [email protected] RESUMO O presente trabalho tem em vista contribuir para a promoção do desenvolvimento sócioeconomico e ambiental através da utilização da Moringa. Para a sua realização, fez-se revisão bibliográfica, visitas à famílias de algumas comunidades, individualidades e instituições com experências de uso da Moringa Oleifera. Nas visitas realizadas, privilegiou-se a técnica de entrevistas não estruturadas e semi-estruturadas e a observação directa. Posteriormente fez- se testagem de algumas formas de processamento e utilização da Moringa. A Moringa oleifera LAM é uma planta, perene, da família Moringaceae, originária do Norte da Índia. Hoje é amplamente cultivada na Ásia, África e América latina. Adapta-se muito bem às zonas tropicais e subtropicais, propagando-se facilmente através da semente e estacas. A sua múltipla função fez com que ao longo de milhares de anos fosse levada para vários países. Utiliza-se essencialmente para fins alimentícios e nutricionais, medicinais, produção de óleo e para a purificação de água. Também é matéria prima para a produção de sabão e de biocombustíveis. Com a sua multifuncionalidade, ela pode contribuir significativamente para a melhoria das condições de vida das famílias. O fomento desta planta ainda pode constituir fonte de emprego e de obtenção de receitas. Promovendo o plantio da Moringa em programas integrados de desevolvimento, incluíndo acções de gestão ambiental pode resultar em muitos sucessos. Poderá contribuir para a prevenção de problemas tais como de queimadas descontroladas, desflorestamento, erosão dos solos, desertificação e mudanças climáticas. Com isso, a promoção de programas integrados de gestão dos recursos naturais, onde dá-se ênfase a multifuncionalidade da Moringa, incluíndo os mecanismos de seu processamento e utilização, são de tamanha importância sob ponto de vista ambiental e sócioeconomico. 1 CDS-Recursos Naturais é um Centro de Desenvolvimento Sustentável Para os Recursos Naturais, de âmbito nacional, com Sede em Chimoio, província de Manica, no Centro de Moçambique. Dentre as suas principais actividades, faz pesquisas sobre boas práticas de gestão dos recursos naturais, divulga-as e capacita diversos intervenientes em matérias de gestão dos recursos naturais.

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APLICAÇÃO DA MULTIFUNCIONALIDADE DA MORINGA OLEIFERA NAGESTÃO INTEGRADA DOS RECURSOS NATURAIS

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APLICAÇÃO DA MULTIFUNCIONALIDADE DA MORINGA OLEIFERA NA GESTÃO INTEGRADA DOS RECURSOS NATURAIS

CDS-Recursos Naturais1

Pedro Castigo E-mail: [email protected]

RESUMO

O presente trabalho tem em vista contribuir para a promoção do desenvolvimento

sócioeconomico e ambiental através da utilização da Moringa. Para a sua realização, fez-se

revisão bibliográfica, visitas à famílias de algumas comunidades, individualidades e instituições

com experências de uso da Moringa Oleifera. Nas visitas realizadas, privilegiou-se a técnica de

entrevistas não estruturadas e semi-estruturadas e a observação directa. Posteriormente fez-

se testagem de algumas formas de processamento e utilização da Moringa.

A Moringa oleifera LAM é uma planta, perene, da família Moringaceae, originária do Norte da

Índia. Hoje é amplamente cultivada na Ásia, África e América latina. Adapta-se muito bem às

zonas tropicais e subtropicais, propagando-se facilmente através da semente e estacas.

A sua múltipla função fez com que ao longo de milhares de anos fosse levada para vários

países. Utiliza-se essencialmente para fins alimentícios e nutricionais, medicinais, produção de

óleo e para a purificação de água. Também é matéria prima para a produção de sabão e de

biocombustíveis.

Com a sua multifuncionalidade, ela pode contribuir significativamente para a melhoria das

condições de vida das famílias. O fomento desta planta ainda pode constituir fonte de emprego

e de obtenção de receitas. Promovendo o plantio da Moringa em programas integrados de

desevolvimento, incluíndo acções de gestão ambiental pode resultar em muitos sucessos.

Poderá contribuir para a prevenção de problemas tais como de queimadas descontroladas,

desflorestamento, erosão dos solos, desertificação e mudanças climáticas.

Com isso, a promoção de programas integrados de gestão dos recursos naturais, onde dá-se

ênfase a multifuncionalidade da Moringa, incluíndo os mecanismos de seu processamento e

utilização, são de tamanha importância sob ponto de vista ambiental e sócioeconomico.

1 CDS-Recursos Naturais é um Centro de Desenvolvimento Sustentável Para os Recursos Naturais, de âmbito nacional, com Sede em Chimoio, província de Manica, no Centro de Moçambique. Dentre as suas principais actividades, faz pesquisas sobre boas práticas de gestão dos recursos naturais, divulga-as e capacita diversos intervenientes em matérias de gestão dos recursos naturais.

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1. Introdução

A Moringa oleifera LAM é um arbusto ou

árvore de pequeno porte, perene, da

família Moringaceae, composta apenas de

um gênero (Moringa) e catorze espécies

conhecidas. Designa-se de Moringa oleifera

porque ela produz muito óleo (Fahey,

2005; Fuflie, 1999). No jornal Tree For Life,

Fashey (2005) refere que esta planta é

geralmente conhecida por Horseradish tree,

Drumstick tree, Never Die tree e West

Indian Ben tree. Fuglie (1999) refere que é

também conhecida como baqueta e

referida como uma planta milagrosa ou

planta da vida pela sua multifuncionalidade.

PIO CORREA (1984), citado por Silva, et al

(sd), Schuarz (200) e Foild et al (2001)

referem que é uma planta com casca de cor

clara, de crescimento rápido que chega a

atingir cerca de 10 à 12m de altura. A copa

é aberta, em forma de sombrinha. as folhas

são pecioladas, tripinadas, possuindo 30 à

60 cm de comprimento, com 3 a 9 folíolos

obovais na última pínula, onde cada folíolo

apresenta 1,3 à 2,0 cm de comprimento

por 0,3 a 0,6 cm de largura (fig. 1).

Fig. 1: Obervação da M. Oleifera

As flores são amarelo-pálidas com estames

amarelos, grandes de 2,5 cm de diâmetro

(fig. 2). O fruto é do tipo capsular (fig. 3),

seco, de secção triangular, apresentando

30 à 120cm de comprimento por 1,8 cm de

largura, abrindo-se em três valvas e abriga

cerca de 12 a 35 sementes de cor marrom

escura, onde cada uma delas possui 3 asas

(Schuarz, 2000; Foild et al, 2001).

Fig. 2: Flores da M. Oleifera

Fig. 3: Vagens secas da M. Oleifera

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Nativa do Norte da Índia, ela é conhecida

há milhares de anos. Hoje, é amplamente

cultivada na Índia, Egipto, Filipinas, Ceilão,

Tailândia, Malásia, Burma, Paquistão,

Singapura, Jamaica e Nigéria. Cresce muito

bem às zona tropical e sub-tropical (Fahey,

2005; Foild et al, 2001).

O seu valor alimentar (folhas, frutos

verdes, flores e sementes torradas);

forrageiro (folhas, frutos e sementes);

medicinal (todas as partes da planta);

condimentar (principalmente as raízes),

culinário e na indústria de cosméticos (óleo

extraído das sementes), melífero (flores);

combustível (madeira e óleo) e no

tratamento de água para o consumo

humano (cotilédones e tegumento das

sementes) fez com que ao longo dos

milhares de anos fosse levada para vários

países (Fahey, 2005). Para além destes

usos, a Moringa também utiliza-se para a

criação de cercas, quebra-ventos e

desempenha um papel fundamental de

ponto de vista ambiental.

Em Moçambique, embora muitas famílias

não a conheçam e nem saíbam da sua

utilidade, já encontra-se um pouco por

todas regiões do país. É muito utilizada

como caril e algumas pessoas utilizam-na

para fins medicinais. No entanto, ao nível

nacional, já existem vários projectos que

promovem a propagação e utilização da

Moringa para vários fins (nutricionais,

medicinais, alimentícios, forageiros,

purificação de água, etc)2.

2 As Caritas Messica, a ADPP (Ajuda para o Desenvolvimento de Povo para Povo) e o Governo Provincial de Gaza são algumas delas.

Pelas suas múltiplas funções, o plantio da

Moringa e, sobretudo, ao nível familiar,

deve ser amplamente promovido. Irá

melhorar a produção agropecuária, a

saúde, as fontes de receita e a gestão

ambiental. E por ela conter o fósforo, o seu

consumo seria recomendável aos

estudantes para o melhoramento do

rendimento escolar. Com isso, a Moringa

enquadra-se perfeitamente nas abordagens

integradas de gestão dos recursos naturais

e desenvolvimento socioeconómico.

Nesta óptica, de uma forma geral, com este

trabalho pretende-se contribuir para a

promoção do bem estar das famílias e do

desenvolvimento socioeconómico e

ambiental nacional. Especificamente,

pretende-se divulgar a multifuncionalidade

da M. Oleifera, incluíndo as suas formas de

processamento e consumo; Descrever o

mecanismo de sua utilização na gestão

ambiental e propor algumas acções - piloto

de gestão integrada dos recursos naturais.

Para a realização deste trabalho, fez-se

revisão bibliográfica, visitas à famílias de

algumas comunidades, individualidades e

instituições com experências de uso da

Moringa Oleifera. Foram promovidos alguns

debates nas comunidades, onde

participaram pessoas influentes e técnicos

de ambiente. Para as visitas realizadas,

privilegiou-se a técnica de entrevistas não

estruturadas e semi-estruturadas e a

observação directa. Posteriormente fez-se

testagem de algumas formas de

processamento e utilização da Moringa.

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2. Propagação e maneio da M. Oleifera

O conhecimento das condições ideais para

a sua propagação, bem como dos cuidados

necessários é de grande importância.

Garante a melhor propagação da planta e,

consequentemente, melhores colheitas e

utilização.

2.1. Condições agroedáficas e

ecológicas

A M. Oleifera cresce rapidamente da

semente e de estacas, mesmo em solos

pobres. Não necessita muitos cuidados e

pode sobreviver longos períodos de seca.

Num espaço de um ano, após o plantio,

pode atingir até 4 metros de altura, com

flores e frutos (Palada & Chang, 2003).

A Moringa cresce melhor em solos neutros

à ligeramente ácidos (5-9 pH), bem

drenados. Ela adapta-se à áreas semi-

áridas e arenosas (Palada & Chang, 2003).

Cresce melhor com a insolação direta, à

altitudes inferiores à 600m, podendo ser

plantada até aos 1200m na zona tropical.

As temperaturas óptimas são de 25 à 35°C,

mas tolera até 48°C à sombra e pode

sobreviver à uma geada leve. A

precipitação anual mínima necessária

estima-se em 250mm e a máxima em

1.500mm, mas não se adequa à solos

alagados. Porém, em áreas com chuvas

intensas, ela pode ser plantada em

pequenas colinas para facultar o

escoamento das águas (Palada & Chang,

2003; HDRA, sd).

2.2. A Preparação do solo e métodos

de plantio

Para o plantio da Moringa pode-se fazer

alguma preparação do solo em canteiros

(fig. 4) ou covacos (fig. 5 e 6). Os canteiros

são geralmente feitos em áreas mal

drenadas para facultar o escoamento das

águas. Neste caso, a base do canteiro pode

ter uma altura de 30 cm (Palada & Chang,

2003).

Fig. 4: Canteiro de M. Oleifera

Fig. 5: sementeira directa

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Fig. 6: Plantio directo da estaca

Depois de escolher o local ideal, com solo

leve ou arenoso, não argiloso e nem

alagado, se pretende plantar em uma

grande parcela, convém primeiro lavrar a

terra. Antes de plantar a Moringa,

preparam-se as covas, com diâmentros e

profundidades de 20cm e depois, pode-se

preencher a cova de terra misturada com

composto (2 Kg por cova) para permitir

que as plantas se desenvolvam mais

rapidamente (Palada & Chang, 2003).

A Moringa propaga-se tanto da semente,

propagação sexuada (fig. 5) como das

estacas, propagação vegetativa, ainda

chamada por estaquia (fig. 6).

Tanto na propagação sexuada como

vegetativa, a Moringa põe-se directamente

no campo, plantio directo (fig. 5 e 6) ou

em vasos (fig. 7). As sementes ainda

podem ser postas em canteiros, mas, o

transplante requer trabalho extra.

O espaçamento depende dos objectivos. Se

for só para colheita de folhas aperta-se.

Caso contrário, alarga-se um pouco mais.

Se pretende colher folhas, as distâncias

ideais são de 50 cm entre as plantas e 100

cm entre as linhas. Em produção intensiva,

as plantas podem ser postas de 10-20cm.

Assim as plantas não produzem vagens e

requerem alguns cuidados como rega,

fertilização e controle de pragas (Palada &

Chang, 2003;Doerr e Camenorn , 2005).

Para a obtenção de folhas, vagens e

sementes, as plantas são postas à

distancias de 3 à 5m. Em agrosilvicultura,

as árvores põe-se de 10-10 m entre as

linhas e 2-3 m entre as plantas (Palada &

Chang, 2003).

Fig. 7: Sementeira em vasos

2.

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2.2.1. Propagação sexuada

A germinação da semente não precisa de

luz e nem de quebra de dormência (Fuglie,

2008). Segundo a HDRA, para estimular a

germinação, pode-se embeber a semente

em água durante a noite antes do plantio e

remover as cascas da semente (fig. 8).

Fig. 8: Sementes de Moringa embebidas na água para

uma rápida germinação

Depois de embebida e descascada, a

semente é posta à 2cm de profundidade

(Sousa, 2007). O tempo médio de

germinação da Moringa pode ser de cerca

de uma semana.

Se pretende semear em canteito para um

posterior transplante, as sementes devem

ser equidistanciadas por cerca 5cm. Deve-

se fazer uma tarimba de capim para

germinarem à meia sombra (fig. 4). O

canteiro é mantido com alguma humidade

e não alagado. A Rega deve ser feita

levemente. Desta maneira, assegura-se o

transplante das mudas após duas semanas

de germinação, quando a plântula atinge

10 à 15cm (Palada & Chang, 2003).

Porém, um dia antes do transplante,

assegure que o solo esteja já preparado.

Também deve ter água suficiente para uma

rega regular, caso contrário prepare os

canteiros muito próximo do período

chuvoso.

2.2.2. propagação vegetativa

Em comparação com as árvores plantadas

a partir de sementes, árvores de estacas

crescem mais rapidamente, mas

desenvolvem raízes rasas que tornam a

planta suscetível a stress hídrico e ao vento

(Palada & Chang, 2003).

Use estacas duras de uma planta que seja

pelo menos um ano de idade. As estacas

podem ser de 45-150cm de comprimento

com diâmetros de 4-16cm. Elas não podem

ser deixadas por mais de três dias antes do

plantio no viveiro ou no campo (Palada &

Chang, 2003).

2.3. Maneio da Moringa

Após o plantio, a Moringa precisa de ser

irrigada por um período de mais ou menos

um mês. Em climas secos e áridos, irrigar

regularmente durante os primeiros 2

meses. Uma vez estabelecida, raramente a

Moringa necessitará de rega. A árvore bem

enraizada tolera seca e só há necessidades

de irrigação somente quando houver

murchamento.

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Para reduzir o desenvolvimento de ervas

de ninha e o número de regas, a cobertura

morta é recomendável. A cobertura morta

geralmente é constituida de uma

diversidade de ervas e algumas delas

repelem as pragas, evitando deste modo

doenças (fig. 9). Mas, a Moringa, só por si,

é muito resistente à pragas e doenças.

Fig. 9: cobertura morta conserva humidade e

previne ervas da ninha e pragas

Quando as plantas crescerem à uma altura

de 60 cm no campo principal, deve cortar a

parte terminal, por cerca de 10 cm. Isto

permite a ramificação da planta (fig. 10).

Quando os novos ramos atingem um

comprimento de 20 cm, corte-os também

cerca de 10cm da sua parte terminal. Os

ramos terciários serão igualmente podados.

Este processo de poda faz-se 4 vezes

antes que as flores apareçam (quando a

árvore é cerca de três meses de idade), o

que incentiva que a árvore torne-se

espessa e produza muitos frutos de fácil

acesso.

Fig. 10: A poda permite a ramificação à altura que

colhem-se os produtos e cria uma copa frondosa

3. Processamento e uso da M. Oleifeira

As vagens (fig. 11), flores, folhas, casca e a

raíz da Moringa são utilizadas e

processadas de diversas formas. A colheita

e o processamento da Moringa é simples.

Fig. 11: Vagem seca da Moringa

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As vagens frescas, pela sua procura no

mercado Europeu e Americano, são

enlatadas. Neste caso necessita-se de

pequenas agroindústrias e treinamentos.

As sementes maduras são utilizadas para

vários fins fins (sementeira, purificação de

água, extracção de óleo, produção de

biodísel, etc). Para a sua conservação,

colhem-se as vagens secas antes de se

abrirem e das sementes cairem no chão. As

sementes podem ser armazenadas em

sacos ou frascos, em locais secos, bem

arejados e frescos e não por mais de dois

anos.

A raíz, pode ser usada fresca ou seca.

Quando seca, pode ser moida e conservada

em frascos ou saquetas plásticas.

As folhas também são utilizadas frescas e

secas. As tenras usam-se para fazer caril

(fig. 12, 13, 14 e 15). O sabor é

semelhante ao do espinafre.

Fig. 12: Preparação de folhas tenras de Moringa para

a confecção de caril

Fig. 13: Confecção de caril de Moringa com

amendoim, tomate, cebola, sal e água.

Fig. 14: Funcionários do CDS-RN saboreando o caril da

Moringa

Fig. 15: Funcionários do CDS-RN saboreando o caril da

Moringa

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8

As folhas mais velhas, rijas, são muito boas

para fazer o pó. Depois de colher as folhas

rijas, põem-se a secar à sombra (fig. 16).

Pilam-se e sefam-se. Daí o pó conserva-se

em repecientes limpos e bem cobertos (fig.

17 e 18).

Fig. 16: Folhas secas da Moringa

Fig. 17: Processamento caseiro do pó da Moringa

Fig. 18: Pó de folhas secas da Moringa

3.1. Uso alimentício

Nos continentes Asiático e Africano, a

utilização da M. Oleifera como alimento é

bastante antiga. Na América Central

também há uma certa tradição. As receitas

são inúmeras.

Para o consumo, geralmente utilizam-se as

flores, as vagens e as folhas. Estes

produtos são utilizados em sopas, saladas,

molhos e outras ementas. As raízes de

plantas jovens são utilizadas em achar

(ECHO, 1996).

Após cerca de 8 meses do plantio, a árvore

começa a florir e continua durante todo o

ano. As flores são usadas como caril

cozidas, fritas ou em infusão feita em cerca

de 10 à 15 mn de fervura (fig. 19). Podem

ser misturadas com as folhas da Moringa

ou com um outro tipo de caril (Price, 1985;

HDRA, st).

As vagens frescas são cosmestíveis e

possuem vitaminas, proteinas e minerais.

Cozem-se como qualquer outro tipo de

feijão. Devido a sua procura e valor

comercial, para além do mercado local, a

Índia, Sri Lanka e o Quénia exportam para

países asiáticos, europeus e América (Price,

1985).

Fig.19: As flores da Moringa também comem-se

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De todas partes da Moringa, as folhas são

as mais utilizadas. Elas fazem várias

ementas e de todas formas que o espinafre

é usado3 (fig. 20). Segundo algumas

pessoas entrevistadas, e na sua maioria

provenientes de Tete e Norte de Sofala, no

Centro de Moçambique, onde a Moringa é

já muito conhecida, quando feito com

amendoim, é muito bom (fig. 21).

Fig.20: As folhas da planta do milagre

Fig. 21: Confecção de caril de Moringa

3http://www.echonet.org/pub&stores/atozhtml

As folhas frescas podem ser consumidas

com qualquer outro tipo de caril. Leva-se

pelo menos uma mão cheia de folhinhas

frescas que são postas nas verduras, no

peixe, carne, etc, nos últimos 2mn, quando

o caril já estiver a cozer. Não se deve

deixar ferver por muito tempo porque as

vitaminas podem se degradar.

3.2. Uso nutricional.

Moringa é uma das plantas mais nutritivas

do mundo. Para o efeito consomem-se as

flores, folhas e as vagens. Segundo Price

(1985), Fahey (2005) e Mathur (2006) a

planta contém minerais importantes e são

uma boa fonte de proteinas, vitaminas,

beta-caroteno, aminoácidos e vários

compostos fenolicos (Tabela 1).

As flores possuem boas quantidades de

cálcio e potássio. As vagens e vitaminas e

proteinas. Porém, no início, é melhor deixar

as frutas produzirem sementes, para que

haja disseminação (Price, 1985).

As folhas são uma excelente fonte de

vitaminas A, B, C e E, proteinas (27%) e

minerais. Possuem carboidratos e um

pouco de gordura. Com isso, as folhas são

um dos melhores alimentos vegetais que

podem ser encontrados (Price, 1985;

Fahey, 2005).

De acordo com uma série de comparações

feitas, as folhas da Moringa contêm quatro

vezes mais vitamina A da cenoura, quatro

vezes o cálcio do leite, três vezes o

potássio das bananas e duas vezes a

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10

proteína do iogurte e mais ferro que o

espinafre ( Fahey, 2005).

Um dos grandes aspectos que a Moringa

tem é que ela, por ser perene, sempre tem

folhas que podem ser colhidas em qualquer

estação do ano. Quando outros vegetais

são difíceis de obter, as folhas da Moringa

constituem uma grande alternativa. Com

isso, recomenda-se o consumo regular da

Moringa com vista a obtenção de proteinas,

vitaminas e minerais essenciais para a

nossa saúde e nutrição.

Tabela 1. Comparação do valor nutricional das

folhas , vagens e o pó (por 100g da porção comestível)

Folhas Vagens Pό das Folhas

Humidade (%) 75 86.9 7.5 Calorias 92 26 205 Proteinas (g) 6.7 2.5 27.1 Gordura(g) 1.7 0.1 2.3 Carbohidratos (g) 13.4 3.7 38.2 Calcio(mg) 440 30 2003 Ferro(mg) 7 5.3 28.2 Zinco - - - Fósforo (mg) 70 110 204 Potássio 259 259 1324 Cobre (μg/g) 1.1 3.1 0.57 Iodine (μg/kg) 51 18 Fibra (g) 0.9 4.8 Oxalic acid(%) 101 0.01 1.6% Nicotinic acid (mg)

0.8 0.2

Vitamina A –B carotene (mg)

6.8 0.11 16.3

Vitamina B –coline (mg)

423 423 -

Vitamina B 1–fhiamic (mg)

0.21 0.05 2.64

Vitamina B 2–riboflavin(mg)

0.05 0.07 20.5

Vitamina B 3–nicotinic acid (mg)

0.8 0.2 8.2

Vitamina C –acido ascórbico (mg)

220 120 17.3

Vitamina E-topopherol acetane (mg)

- - 113

Fonte: Price, 1985,

Para a obtenção dos nutrientes da Moringa

o pó feito de folhas secas é muito utilizado.

Leva-se uma colherinha de chá com pó da

Moringa e adiciona-se à qualquer caril nos

últimos 2 mn, quando já estiver para cozer,

como se fossem um tempero. Algumas

pessoas utilizam o pó em saladas, sopas,

omoletes, chás, etc.

3.3. Uso Medicinal

Apesar de que, até hoje, poucas são as

propriedades conhecidas cientificamente,

todas as partes da Moringa são usadas na

medicina verde. Sabe-se que as folhas e as

sementes (fig. 22) possuem propriedades

antibacterianas e que a vitamina associada

à outras combate os radicais livres,

moléculas derivadas do metabolismo, que

prejudicam as células provocando o

envelhecimento. Os usos mais citados da

Moringa são para as doenças da pele,

sistema digestivo e doenças relacionadas

com articulações4.

As flores são usadas como tónico, diurético

e abortivo. Servem também para curar

inflamações, doenças musculares, tumores,

alargamento do baço e constipações (Price,

1985). O chá das flores de Moringa cura

constipação (Price, 1985). Usam-se ainda

para aliviar problemas de garganta e de

catarro. O sumo das flores melhora a

qualidade e a quantidade de leite nas mães

que estão a amementar. Ainda estimula a

necessidade de urinar (HDRA, sd) .

O óleo feito da semente da Moringa pode

ser aplicado externamente para a cura de 4 http://www.echonet.org/pub&stores/atozhtml

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infecções de pele (Moroyi, 2006). Quando

torrado, triturado e, em seguida,

adicionado um pouco de óleo de coco cura

artrites, inchaços, reumatismo e infecções

de ITSs aplicando directamente no local

com problemas (HDRA, sd,). A semente

ainda é usada para a cura de problemas de

histeria, escorbuto, próstata e tumores

abdominais.

A semente cura dores de cabeça, de

barriga, constipação e queimaduras. Para o

efeito, as sementes secas são embebidas

em água para molecer a casca que depois

será descascada e a semente triturada.

Adiciona-se um pouco de sal e amassa-se a

mistura com um pouco de água numa

pedra limpa. Em seguida, com a palma da

mão, extrai-se o óleo para um copo. Daí

aplica-se externamente. Mas, para as dores

intestinais e constipação será internamente

(Gazanfar, 1994).

Fig. 22: Sementes da Moringa

O feijão fresco da Moringa quando comido

fresco, cura problemas de fígado e de dores

nas articulações. Por ter muitas proteinas e

fibras, também cura malnutrição e diarreias

(HDRA, sd).

Acredita-se que o sumo das folhas ajuda a

reduzir a pressão arterial. O sumo das

folhas ainda aumenta a necessidade de

urinar e cura gonorreia. Quando misturado

com mel trata diarreias e desenteria

(Moroyi, 2006).

A infusão das folhas regula o açúcar no

sangue e cura gastrite, úlcera e diarreias

(Moroyi, 2006; HDRA, sd). O consumo de

folhas frescas e o pό da Moringa

recomenda-se aos doentes de tuberculose

porque a vitamina A incrementa a

imunidade. O consumo de folhas frescas

também é recomendável para as senhoras

grávidas, pois, com o ferro que tem, elas

não apanham anemia e os seus bebés

nascem com bons Quilos. Para as mães que

estão a amamentar, ajuda a produzir muito

leite (Moroyi, 2006).

Em casos de um corte suave no corpo, a

massa húmida de folhas frecas da Moringa

pode ser aplicada no corte para evitar o

derrame de sangue. Pode-se ainda aplicar

em feridas ou picadas de inséctos para

evitar bactérias e inflamação. Para o

tratamento de infecção da pele, esfrega-se

por todo o corpo (HDRA, Sd; Moroyi,

2006).

Para a cura da malnultrição, o consumo de

qualquer produto da Moringa é

recomendável. Ela possui muitas proteinas

e fibras.

A casca do caule da Moringa (fig. 23),

depois de triturada e amassada com um

pouco de água faz uma pasta que cura

Page 13: APLICAÇÃO DA MULTIFUNCIONALIDADE DA MORINGA OLEIFERA

12

inchaços (Moroyi, 2006). A Infusão da

casca ainda pode ser usada para a cura de

dores de dente e ITSs - Infecções

Transmisíveis sexualmente.

Fig. 23: Casca extraída para fins medicinais

O pó das raízes é conhecido como

afrodisíaco. Porém, a casca da raíz é tóxica,

por isso deve-se remover. Dentre outras

doenças, o pó trata problemas de rins e,

em casos de problemas intestinais, utiliza-

se para a expulsão de gases. Como rapé

utiliza-se para aliviar dores de ouvido e de

dente. Quando misturado com leite, cura

asma, reumatismo e problemas de fígado

(Moroyi, 2006). A asma e os problemas de

figado podem ser curados com a infusão da

raiz5. A pasta da raíz fresca de uma

Moringa jovem, quando aplicada

externamente por todo o corpo trata

febres. Segundo algumas entrevistadas

(fig. 24) e Moroyi (2006), a casca das

raízes, triturada e amassada com um pouco

5 www.asiangreenfields.com/moringa-products.htm

de água faz uma pasta que aplica-se

externamente em mordeduras de cobras,

escorpiões para aliviar dores.

Fig. 24: Algumas avos entrevistadas, em Chimoio

3.4. Tratamento de água

Em muitas regiões do mundo e, sobretudo,

em vias de desenvolvimento, hoje

ressente-se da falta de água potável para o

consumo. Mas, junto da povoação pode

haver rios, charcos ou lagoas com água que

contém impurezas como sedimentos,

bacterias e outros microorganismos,

particularmente na estação chuvosa.

Algumas destas impurezas podem

transmitir doenças (Folkard & Sutherland,

94).

É muito importante que se remova o

máximo possível das impurezas antes de

consumir a água. Grandes centros de

tratamento de água recorrem à

coagulantes químicos que, quando

Page 14: APLICAÇÃO DA MULTIFUNCIONALIDADE DA MORINGA OLEIFERA

13

adicionados a água, juntam-se às

impurezas e afundam. Porém, os químicos

são caros e nem sempre podem se

encontrar nas comunidades rurais. A

alternativa é o uso de coagulante natural

(Folkard & Sutherland, 94).

As sementes da Moringa já são utilizadas

para o efeito (fig. 25). O processo é muito

simples e é rápido.

Fig. 25: Da esquerda à direita, apresentam-se frascos

de água não tratada e tratada com Moringa

(fonte: www.moringatrees.org)

As sementes são trituradas e postas na

água turva para coagular as impurezas (fig.

26). Uma semente triturada pode purificar

um litro de água. Geralmente, para

purificar 20 litros de água, usam-se 2

gramas de semente triturada (duas

colherinhas de chá). Para além do processo

ser simples e barato é ambientalmente

amigável (Folkard & Sutherland, 94).

Fig. 26: Demonstração do tratamento de água

A quantidade necessária de sementes para

o tratamento de água turva depende da

quantidade de impureza que a água

contém. Para tratar um litro de água, por

exemplo, se normalmente usava uma

semente, com muita turbidez pode-se usar

duas ous três.

Segundo Folkard & Sutherland (1994),

detalhadamente, a purificação da água

funciona da seguinte maneira:

• Tritura-se uma determinada quantidade

de semente, de acordo com a água

disponínivel,

• põe-se a semente triturada numa

garrafa vazia – uma garrafa de

refrigerante é ideal (fig. 27),

Page 15: APLICAÇÃO DA MULTIFUNCIONALIDADE DA MORINGA OLEIFERA

14

Fig. 27: Utensílios usados na purificação de água

• adiciona-se uma xícara (200 ml) de

água limpa e agita-se esta mistura por

5 mn. Esta acção activa as substâncias

químicas nas sementes trituradas,

• filtra-se a mistura com um pano branco

de algodão6, colocando a água dentro

do recepiente com água suja. O

conteúdo deve então ser misturado

rapidamente por 3mn e depois

misturado vagarosamente por 15mn.

Enquanto se mistura o conteúdo

lentamente, as partículas das sementes

da Moringa se juntam, coagulam com

as bactérias e formam partículas

maiores, as quais decantam no fundo

do balde e lá permanecem e

• deixa-se a mistura por 1 hora, sem

mexê-la. Daí, a água limpa fica acima e

pode ser retirada cuidadosamente,

deixando a água com as impurezas no

fundo. Quanto maior tempo de repouso,

melhor será o tratamento da água.

6 Nesta experência usou-se coador. Mas, o pano é melhor porque tem poros muito finos.

Este processo remove 90–99.9% das

bactérias na água. Portanto, alguns

microorganismos prejudiciais que ainda

permanecem na água podem não ser

removidos, particularmente quando a água

estiver muito poluída. Para desifectar

complentamente a água, recomenda-se o

uso de outros métodos complementares de

purificação, como a fervura, filtros simples

de areia e exposição dos flascos de água

aos raios solares (Folkard & Sutherland,

94).

Até ao momento, nenhuma evidência de

que estas sementes possam causar algum

efeito nos seres humanos foi encontrada,

especialmente com as doses necessárias

para o tratamento de água (Schwarz, 2000

apud Embrapa, 2006). Dessa forma, pode-

se afirmar que o tratamento com Moringa

não apresenta nenhum risco a saude ainda

que essas sementes possuem inúmeros

usos na alimentação humana. Segundo

Amaral et al (2006), o outro aspecto a

considerar neste processo é que o pH e o

gosto da água não mudam.

Para o tratamento à grandes escalas, há

informações de que em Malawi foi realizado

um trabalho experimental em Thyolo, no

sul do Malawi. Lá construi-se um tanque

modelo de tratamento de água.

Os testes feitos tiveram bons resultados,

semelhantes aos que se obtém com os

químicos comerciais. Para além de serem

processos simples, os custos são baixos,

podendo ser acessíveis às comunidades

(Folkard & Sutherland, 1994).

Page 16: APLICAÇÃO DA MULTIFUNCIONALIDADE DA MORINGA OLEIFERA

15

3.5. Produção de óleo

O interesse pelo óleo extraído da M.

Oleifera, conhecido como azeite Ben ou

Behen vem já há muitos seculos. Em 1817,

uma petição, contendo as informações

relativas ao óleo de M.oleifera foi

apresentada à Assembleia Jamaicana. A

petição descreveu o óleo como sendo útil

para saladas e fins culinários e podia ser

usado como petróleo, sem nenhuma

fumaça. O óleo da Moringa é de alta

qualidade, alto valor comercial, podendo

servir de uma boa fonte de receita para as

famílias. Serve ainda para a produção de

sabão (Price, 1985; Folkard & Sutherland,

1994; Moroyi, 2006).

A semente de M. Oleifera contém 35 a 40%

de óleo. Ela é bastante macia, o que

permite a extracção manual do óleo em

prensa de rosca, também conhecida por

prensa de fuso. Primeiro tritura-se a

semente, adiciona-se 10% de água e, em

seguida, aquece-se levemente em lume

brando durante 10 à 15mn. Num teste,

foram produzidos 2,6 litros de óleo a partir

de 11 Kg de sementes (Fokard &

Sutherland, 1994).

Métodos tradicionais de extracção de óleo

também podem ser usados, mas são lentos

e não muito eficientes. Eles envolvem a

extracção de óleo triturando as sementes e,

em seguda, cozendo-as durante 15 minutos

em água. Depois de cozerem, o material

será exprimido num pano e o líquido passa

para um recepiente limpo. Deixa-se a

mistura por um dia, para que o óleo se

separe da água. O rejeito das sementes

pode ser utilizado como fertilizante e

purificação de água (Folkard & Sutherland,

1994).

3.6. O uso da M. Oleifera como fertilizante

O sumo de folhas da M. Oleifera fresca

pode ser utilizado para a produção de uma

hormona de crescimento de plantas,

aumentado os rendimentos em 25 à 30%

para qualquer cultura (cebola, pimenta,

soja, milho, cafe, sorgo, cha, etc). Uma das

substâncias activas é Zeatina: uma

hormona vegetal do grupo citocininas. Para

o efeito, faz-se uma pulverização foliar

complementar à outros fertilizantes

(Funglie, 2008).

Para a produção do sumo, usam-se folhas

de Moringa de menos de 40 dias. O que

faz-se é esmagar as folhas novinhas e, por

cada 10KG de desta massa põe-se 1 litro

de água. Em seguida, coa-se todo o

material sólido, ficado apenas a água com

os nutrientes da Moringa. Para a

puriverização, ainda adiciona-se água: uma

parte da mistura com 32 partes de água

(1:32). Depois de preparado, deve utilizar

dentro de 5 horas e use 25 ml por cada

planta. Porém, a puriverização foliar faz-se

10 dias após à germinação da planta; em

seguida, por volta dos 30 dias, antes da

planta florir; daí, quando as sementes

surgem e, depois, quando os frutos já

começam a amadurecer. O rejeito das

folhas ainda pode ser utilizado para a

alimentação do gado pois ainda contém

cerca de 12 a 14% de proteinas. (Funglie,

2008).

Page 17: APLICAÇÃO DA MULTIFUNCIONALIDADE DA MORINGA OLEIFERA

16

A Moringa ainda pode ser utilizada como

fertilizante verde. Neste processo, a terra é

primeiro cultivada e, em seguida, semeia-

se a moringa de 10 à10 cm. Após 25 dias

da germinação, o solo é removido à uma

profundidade de 15 cm, com as plântulas.

Deste modo, a machamba está pronta para

a sementeira de qualquer outra cultura

(Funglie, 2008).

Da moringa aproveita-se ainda o rejeito

resultante da purificação de água e da

extracção de óleo como fertlizante (Folkard

& Sutherland, 1994). Uma das melhores

formas de sua utilização é através da

compostagem. As folhas, sempre verdes e

muito moles, também são muito boas para

a produção de compostos, pois fixam o

Nitrogénio e decompõem-se muito

rapidamente.

A Moringa, tal como outras leguminosas, é

uma planta muito recomendável para a

produção agroflorestal. Ela fixa Nitrogênio

no solo e pode servir como cobertura viva7.

3.7. Maneio Integrado de pragas e

doenças nas culturas com M. Oleifera

O sumo das folhas, quando puriverizado

nas folhas de plantas, serve de repelente

às pragas. Uma (1) parte de sumo de

Moringa é dissolvida em trinta e duas (32)

e em cada planta põe-se 25 ml da mistura

(fig. 28 e 29).

7 À cobertura viva refere-se às plantas, geralmente leguminosas, que para alem de fixarem Nitrogenio, reduzem a radiaçao solar no solo, conservando assim a humidade. Tambem melhoram a estrutura do solo e conservam-no da erosão.

Desta forma, as culturas resistem à pragas

e doenças. As folhas, o caule e as raízes

das plantas tornam-se duras. A planta dá

muitas frutas, grandes e saudáveis.

Fig. 28: Puriverização de plantas através de sumo da

Moringa (or Marthur, 2006: www.treforlife.org)

Fig. 29: Puriverização de canavial através de sumo da

Moringa (or Marthur, 2006: www.treeforlife.org)

3.8. Foragem

As folhas da Moringa servem de foragem

para o gado (cabrino, bovino e suino) e

também para coelhos. Os ramos, por vezes

são empedaçados para alimentar o boi e os

cabritos. Para as áreas com problemas de

Page 18: APLICAÇÃO DA MULTIFUNCIONALIDADE DA MORINGA OLEIFERA

17

pasto a Moringa pode ser uma grande

alternativa (Moroyi, 2006; Funglie, 2008).

Estudos feitos em Nicaragua mostram que

complementando a foragem do gado com

folhas da Moringa, a produçao de leite

aumenta em 43-63 % e o peso do gado

aumenta diariamente em 32% (Mathur,

2006)

As folhas ainda podem servir para a

alimentação de galinhas, peixes e outras

aves. Geralmente as galinhas não

consomem voluntariamente as folhas da

Moringa e nem o pó das suas folhas. No

entanto, cerca de metade dos nutrientes da

Moringa pode ser extraída das folhas sob a

forma de um concentrado que depois pode

ser adicionado à ração. Para obter o

concentrado, misture as folhas com água e,

em seguida, depois de moer, aquece-se

essa mistura a 70ºc por 10 mn. A proteína

vai se aglutinar e afundar. Depois de

despejar o líquido, pode ser seca e

misturada à ração (Funglie, 2008).

Quando a Moringa for utilizada como

fertilidade verde, por remover o solo com

as plântulas da Morinda, as suas folhas

funcionam como biopestecidas no solo.

Assim as culturas não são facilmente

atacadas por doenças (HDRA, sd).

3.9. A utilidade social e comercial da

M. Oleifera

A M. Oleifera é vista como planta da vida,

planta de milagres, benção de Deus ou

ainda de planta do futuro por ter muitos

beneficios sociais e económicos. Porém, em

muitos países, a planta ainda não é muito

conhecida.

Da Moringa, as vagens e as sementes, as

folhas e as raízes, são as partes que são

mais exploradas comercialmente. As

vagens são comercializáveis. Na Índia,

quando verdes, são cortadas em secções,

enlatadas e exportadas para a outros

paises asiaticos, Europa e Estados Unidos

da América. As sementes, pelas suas

potencialidades para a produçao de óleo,

sabão e biocombustíveis, abre

oportunidades de criação de investimentos

agroindustriais.

A existência de pequenas e médias

agroindústrias pode incentivar o fomento

da Moringa ao nível familiar, constituíndo

deste modo um mercado dos seus

produtos. Tal como as folhas, as raízes

podem ser processadas e comercializadas

para fins nutricionais e/ou medicinais. O

fomento da Moringa ainda pode incentivar

a criação de viveiros e a venda de mudas,

criando-se outra fonte de receita às

famílias (fig. 30).

Fig. 30: Viveiro de Moringa

Page 19: APLICAÇÃO DA MULTIFUNCIONALIDADE DA MORINGA OLEIFERA

18

É de salientar que, na composição quimica

da Moringa, constata-se a existência de

fósforo. Com isso, à semelhança de

algumas escolas do Brasil, ao nivel das

nossas escolas, e sobretudo rurais, pode-se

promover campanhas de plantação,

processamento e consumo da Moringa,

aumentando deste modo o rendimento

escolar. Estas actividades podem ainda

enquadrar-se no conteúdo de

aprendizagem das ciências naturais, no

âmbito dos 20% do currículo reservado à

aspectos ambientais e na iniciativa

presidencial, um aluno uma planta.

Portanto, com a concepção de projectos

relacionados com a produção,

processamento e utilizaçao da Moringa,

desenvolvem-se várias áreas

sócioeconomicas. Aumentam-se os

rendimentos agropecuários, a nutrição e

saúde humana, os rendimentos escolares,

criam-se novos postos de emprego e fontes

de receita. Consequentemente, cria-se o

bem estar nas familias e o desenvolvimento

comunitário.

3.10. Outros usos

A árvore é ornamental, florescendo quase o

ano todo. Em alguns lugares são usadas

como árvore de sombra e para a vedação

viva (fig. 31). As flores da Moringa também

podem ser usadas para decoração e são

muito procuradas pelas abelhas para a

produção do mel (Moroyi, 2006).

Fig. 31: A copa da Moringa faz uma boa sombra

Em Umguza, no Zimbabwe e outras áreas

áridas, devido a escassez de lenha, a

população recorre a Moringa para a

obtenção do combustivel lenhoso. O melhor

que tem é que a ela é perene, podendo

obter lenha durante o ano todo. As

longalinas da Moringa ainda sao usadas

para pequenas construçoes. Elas nao sao

resistentes aos termites, a chuvas e a

humidade, por isso nao convem para a

construçao de casas (Moroyi, 2006).

O Sr. Daniel, um camponês do distrito de

Manica, tem experiência de uso de Moringa

para vários fins. Segundo ele a Moringa

podem ser utilizada para a conservação de

alimentos:

"O sumo das folhas, se for aplicado em

alimentos como peixe e carne, retarda a

sua a putrefação. O que acontece é que

a seiva contém produtos que funcionam

como repelente às moscas e outros

microganismos e, assim, os alimentos

resistem uns dias, num local fresco,

sem necessitar de algum congelador".

Page 20: APLICAÇÃO DA MULTIFUNCIONALIDADE DA MORINGA OLEIFERA

19

Portanto, com a divulgação da Moringa,

enquanto uns despertam o interesse de

pesquisar mais sobre as suas utilidades,

outros desenvolvem diferentes experiências

piloto e demosntações práticas no campo.

Assim, vai-se sabendo mais sobre Moringa,

desenvolvem-se variedades de Moringa,

analizam-se os rendimentos agropecuários

e escolares, a situação de saude, etc, etc.

Com isso, a Moringa tem um papel

fundamental de ponto de vista de

desenvolvimento de pesquisas.

A Moringa ainda serve para limpar

utensílios domésticos. As folhas são

esmagadas e utilizadas como detergente

(HDRA, sd).

O tronco da Moringa serve para fazer

papel. Produz ainda uma resina viscosa

usada na indústria têxtil. A casca serve

para fazer corda ou esteiras (HDRA, sd).

4. Como a Moringa pode ser

ambientalmente muito útil?

Do ponto de vista ambiental, a Moringa já é

usada para vários fins. Ela serve de

quebra-vento, utiliza-se como fertilizante e

biopestecida. Ela constitui uma fonte

importante de néctar, permitindo a

polinização das plantas.

O seu papel ambiental, associado ao uso

alimentar, nutricional e medicinal e ao

rápido crescimento, mesmo em áreas com

solos pobres, torna a Moringa uma planta

potencial para o florestamento/arborização.

O aspecto mais interessante nisso é que as

famílias vem muitos benefícios que podem

obter à curto prazo. Com isso,

facilcilmente poderão aceitar o

reflorestamento e sua aplicação para outros

fins ambientais.

Deste modo, o seu plantio em programas

integrados de gestão dos recursos naturais

pode jogar um papel fundamental na

prevenção da erosão dos solos, da

desertificação e das queimadas

descontroladas e na redução do

desflorestamento. Consequentemente,

pode contribuir na prevenção das

mudanças climáticas.

A erosão pode ser prevenida através da

utilização da Moringa e das suas folhas

como coberturas viva e morta8

respectivamente. Com a plantanção da

Moringa em sistemas agroflorestais e como

quebra-vento, reduz-se a erosão eólica.

Portanto, com o uso destas boas práticas,

melhoram-se os solos e as famílias

permaneceram na mesma parcela por

muito tempo. Isto, pode ser aproveitado

para a facilitação da agricultura

sustentável.

Consequentemente, previne-se a

degradação da terra. As queimadas

descontroladas, os índices de

desflorestamento e a degradação da

8 A cobertura morta refere-se ao material seco de plantas ou ervas da ninha que quando espalhado dentre as culturas tem varias funcoes. Reduz a radiçao solar no solo, conservado humidade; conserva o solo da erosao e melhora a sua estrutura. Por se misturar com outros tipos de ervas, no seu todo podem repelir as pragas e evitar doenças nas culturas.

Page 21: APLICAÇÃO DA MULTIFUNCIONALIDADE DA MORINGA OLEIFERA

20

biodiversidade baixam. Assim, previne-se a

desertificação.

A prevenção das mudanças climáticas seria

resultado da manutenção das manchas

verdes e do reflorestamento. Pois, com

isso, sequestra-se o carbono que iria

aumentar o efeito de estufa.

O uso da Moringa como fertilizante e

biopestecida também é de grande

importância ambiental. Reduz-se o uso de

químicos, que são tóxicos e causam

doenças e degradação da biodiversidade.

5. Proposta de um programa integrado de

gestão dos recursos naturais.

Neste trabalho propõe-se a realização de

várias actividades. Dentre elas mencionam-

se as seguintes:

• a agricultura sustentável. A ideia é de

promover a produção integrada onde

incluem-se as actividades agrícola,

piscícola, hortícola e apícola. Neste

programa não serão aplicados adubos

quimicos nem pestecidas e herbicidas.

Serão utilizadas técnicas de

conservação e melhoramento do solo,

fertilizantes orgânicos e biopestecidas;

• actividades nutricionais;

• medicina verde;

• purificação de água para o consumo

familiar;

• testagem de mecanismos de prevenção

das queimadas descontroladas e do

desflorestamento;

• uso de fogões poupa lenha;

• educação ambiental nas escolas e nas

comunidades e

• a produção de material de educação

ambiental.

Cada uma das actividades propostas deve

estar correlacionada com outras e, em

todas elas, a Moringa será utilizada.

Portanto, a criação de um lote de Moringa

será indispensável, dela garantem-se os

produtos que serão utilizando em diversas

áreas.

5.1. Enquadramento da gestão

integrada dos recursos naturais

A nível mundial, várias são as abordagens

de gestão dos recursos naturais que se tem

adoptado, umas bem sucedidas que outras,

de acordo com a realidade e especifidade

de cada país. Em Moçambique, até a

década de 90, a abordagem era

centralizada. Com a revisão da legislação

ambiental nacional a partir da a década de

90, nos últimos anos dá-se maior ênfase à

participação activa dos principais

intervenientes e, concretamente, no

maneio comunitário dos recursos naturais.

Porém, algumas iniciativas locais tem

falhado por vários motivos. Dentre eles, a

falta de incentivos ou de benéficio directos

e imediatos constitui uma das principais

causas. Com isso, a abordagem integrada

dos recursos naturais, onde cada parceiro

resposabiliza-se pela sua área parece ser

mais viável, pois traz alguma mudança no

bem estar das famílias (melhores

rendimentos agrícolas e segurança

alimentar, saude e nutrição, educação e

alfabetização de adultos, habitação e

Page 22: APLICAÇÃO DA MULTIFUNCIONALIDADE DA MORINGA OLEIFERA

21

saneamento do meio, rendimentos

complentares à agricultura, liderança e

gestão, etc) e uma boa gestão ambiental.

A Gestão Integrada dos Recursos Naturais

e do meio ambiente (GIRMA) é uma

abordagem que trata da gestão de todos os

aspectos da natureza de uma forma

abrangente. Envolve todos aspectos fisico-

naturais, administrativos, socioeconómicos

e culturais, respeitando a relação e a

dinâmica que se estabelece entre todos

eles, as especificidades de cada área e,

utiliza uma combinação de instrumentos e

técnicas, incluindo o planeamento

participativo. Deste modo, promove a

gestão e o desenvolvimento sustentáveis9.

5.1.1. A metodologia da gestão integrada dos recursos naturais.

São quatro fases essenciais que podemos

seguir para a gestão integrada dos recursos

naturais. A seguir descreve-se cada uma

delas.

Fase 1: Preparação

Esta fase seria praticamente a que

procuram-se os mecanismos de

envolvimento de todos os intervenientes do

processo. Tal como Tesser (2007) e

Policarpo & Dos Santos (2008), o primeiro

passo é a identificação, comunicação e

mobilização de todos os indivíduos, grupos

ou instituições envolvidas na gestão dos 9 O conceito de desenvolvimento sustentável reconhece que o bem-estar económico, a justiça social e os objectivos ambientais não podem ser dissociados e são interdependentes.

recursos naturais e no desenvolvimento

sócioeconomico e cultural local. Incluem-se

as comunidades locais, as ONG´s, as

instituições financiadoras e bancárias,

académicos, o sector privado e as

instituições governamentais. Portanto, é

importante que estes actores estejam

envolvidos desde a concepção da iniciativa,

de modo a definirem as actividades ou

acções que serão por si realizadas e que as

suas expectativas sejam satisfeitas.

Porém, de acordo com as especificidades

de cada actor, alguns estão directamente

envolvidas na implementação e outras

indirectamente. Segundo Brown et al

(2002), citado por Policarpo & Santos

(2008), também podem surgir interesses

divergentes entre os actores, criando

conflitos entre eles. Portanto, todos estes

aspectos merecem alguma análise com

vista a encontrarem-se melhores

alternativas de gestão integrada.

Ha várias formas de envolver os

intervenientes como: (1) contactos directos

e inquéritos separados, (2) encontros

abertos, (3) apresentações públicas, etc.

Cada uma delas será usada de acordo com

as especificidades de cada fase e de acordo

com o nível de participação de cada actor.

Nesta fase, segundo o sistema adoptado

por Tesser (2007), pode-se criar uma

Comissão Preparatória, que será

responsável pela definição de mecanismos

sobre os quais todo o processo deverá ser

desenvolvido, incluíndo aspectos dos

recursos humanos e financeiros

necessários. Para a criação dessa comissão,

é necessária a articulação entre todos os

Page 23: APLICAÇÃO DA MULTIFUNCIONALIDADE DA MORINGA OLEIFERA

22

actores envolvidos. Dentre os elementos da

comissão preparatória, podem se subdividir

em grupos para as áreas de comunicação,

mobilização, diagnóstico e propostas.

A Fase II, de diagnóstico,

Esta fase vai desde o inventário da situação

actual dos aspectos considerados

relevantes e acções já em

desenvolvimento, até a definição de

estratégias de acção para a gestão dos

recursos naturais da area proposta, como

resultado de encontros com os

intervenientes, incluíndo as comunidades

envolvidas.

É aquela na qual são estruturadas as

acções de maior participação pública e de

maior interação entre os diversos

instrumentos, valores e as preferências

locais serão inseridos no processo de

gestão, dando amplitude multidisciplinar à

questão e respeitando as peculiaridades

sociais e ambientais da área geográfica.

Nesta fase integram-se informações

ambientais, sócioeconomicas e culturais. A

tomada de qualquer decisão requer alguma

informação. Por isso, é importante que haja

informação de todas as áreas sectoriais,

incluíndo a legislacao existente para

garantir a tomada de melhores decisoes.

Contudo, a informação é apenas uma

condição necessária e não suficiente, pois a

qualidade das decisões depende ainda de

outros aspectos como a igualdade de

direitos no genero, posição social;

eficiência; eficácia; a legitimidade e a

confiança entre os actores (Policarpo & dos

Santos, 2008).

Fase 3: Estruturação de propostas

Esta fase será da estruturação das

propostas, incluíndo a definição de

indicadores, fontes de financiamento e

outras informações relevantes para a sua

implementação e acompanhamento.

Após a definição dos objetivos de longo

prazo sobre os quais serão estruturados os

programas, os projetos e as acções a

serem desenvolvidos por cada

interveniente, é fundamental que sejam

definidos os instrumentos necessários para

colocá-los em prática.

Segundo Tesser (2007), a primeira etapa

dessa fase diz respeito à definição das

perspectivas a serem utilizadas. A

perspectiva ambiental envolve elementos

relacionados ao meio ambiente,

preservação de áreas de preservação

permanente, à preservação da

biodiversidade, à poluição e a outros que

digam respeito à qualidade ambiental. A

perspectiva económica está relacionada a

questões que tratam de aspectos da

economia local, como renda da população,

nível de emprego e crescimento económico.

Após serem selecionadas as propostas a

serem levadas adiante, é necessário criar

uma série de indicadores de desempenho

para a avaliação dos resultados do projeto,

programa ou ação a ser desenvolvida. A

elaboração desses indicadores também

ficará sob a responsabilidade da comissão

Page 24: APLICAÇÃO DA MULTIFUNCIONALIDADE DA MORINGA OLEIFERA

23

de diagnóstico e propostas (Tesser, 2007).

Espera-se, dessa forma, obter indicadores

padronizados e uniformes possibilitando a

avaliação e o monitoramento.

Fase 4: Monitoramento e avaliação Nesta fase, o grupo executor deverá

regularmente fazer o acompanhamento dos

indicadores desenvolvidos nas etapas

anteriores, verificando a evolução deles em

relação aos resultados esperados. Este

processo facultará a realização das devidas

correcções ao longo da execução (Tesser,

2007). O grupo executor ainda irá definir um

período em que os intervenientes irão avaliar

o desenvolvimento da iniciativa. Dessa

forma, verifica-se a efetividade das propostas

colocadas em prática.

5.2. Proposta de acções - piloto

No âmbito das actividades de gestão

integrada dos recursos naturais propostas,

podem ser definidas várias acções. Neste

trabalho avancam-se apenas algumas,

relacionadas com a demonstração da

multifuncionalidade da Moringa, uma ligada

à outra.

5.2.1. Planeamento do uso de Terra.

O primeiro passo deve ser de planeamento do

uso do espaço. Enquanto que ao nível da

comunidade pode ser necessário que antes se

faça delimitação comunitária, ao nivel

familiar começa-se logo com o zoneamento

da parcela.

As condições fisico-geograficas, aspectos

sόcioeconomicos e culturais locais e

pespectivas de desenvolvimento são dos

principais aspectos que são postos em conta

no zoneamento comunitário. Ao nível

familiar, interessa mais saber qual seria a área

óptima para a fixação da residência; área com

bons solos para a produção agrícola ou

hortícola, a área para a floresta familiar, para

o pasto, curais, capoeiras, tanques de água e

pomar. Em função disso, produz-se algum

mapa que irá orientar a utilização do espaço.

Como exemplo de planeamento do espaço

familiar, em anexo apresenta-se o mapa feito

por uma família, em Chimoio, para a

implementação da pemacultura, um modelo

de agricultura sustentável que nas páginas

seguintes explica-se um pouco.

5.2.2. Mecanismo de prevenção às queimadas descontroladas.

Em relação às queimadas descontroladas

pode-se testar o uso de Moringa como

quebra-fogo. Imaginando nas plantações

da Moringa em cultivo intensivo, com um

espaçamento apertado e sempre verdes

(fig. 32 e 33), acredita-se que esta

experiência possa resultar.

Page 25: APLICAÇÃO DA MULTIFUNCIONALIDADE DA MORINGA OLEIFERA

24

Fig. 32 : Plantação de Moringa (por Marthur, 2006:

www. Treeforlife. Org)

Fig. 33 : Plantação de Moringa (por Marthur, 2006:

www.treforlife.org)

Nesta óptica, simplesmente faz-se o plantio

intensivo da Moringa, podendo combinar

com quaisquer plantas restejantes.

Planta-se a Moringa com um espaçamento

de 10 cm entre as plantas em pelo menos

duas faixas de 3m de largura junto das

principais entradas do fogo ou à volta da

machamba. As duas faixas podem estar

separadas por um corredor de apenas por

1m, para facultar o maneio das plantas.

Para a criação de uma copa mais frondosa,

as plantas seriam podadas a partir de 60cm

de altura.

O uso múltiplo da Moringa (alimentício,

nutricinal, medicinal, obtenção do néctar

para a apicultura, agropecuário, quebra-

vento, cerca, etc) seria o grande incentivo

que as famílias teriam para aderir a

iniciativa. Porém, no início seria necessário

um trabalho de sensibilização.

Espera-se que, com esta ideia,

experimente-se a iniciativa numa parcela

qualquer ou numa escola rural. A

documentação de todos passos permitirá o

acompanhamento das acções e avaliação

da iniciativa10.

5.2.3. Desenvolvimento da apicultura

Esta actividade tem benefícios

sócioeconomicos e ambientais, pois serve

para a alimentação /nutrição, comércio,

medicina, polinização de certas culturas e

pode jogar um papel fundamental na

prevenção às queimadas descontroladas.

Plantando Moringa, associadas à plantas

melíferas indigênas que possam existir na

floresta familiar proposta no planeamento

do uso do espaço (anexo 1), hortícolas, a

água que dispõe nos tanques propostos no

anexo 1, as condições necessárias para o

fluxo de abelhas e a instalação de um

apiário estão criadas. Então escolhe–se um

local ideal para o efeito. O melhor seria

distante da habitação e das principais vias.

As colmeias podem ser feitas de material

simples como capim trançado ou esteiras

cobertas de plástico preto e capim por cima

10 Para mais informações, troca de experiências, etc, escreva para [email protected]

Page 26: APLICAÇÃO DA MULTIFUNCIONALIDADE DA MORINGA OLEIFERA

25

para melhor abrigar as abelhas das chuvas

e evitar pragas. A colmeia terá um

esqueleto feito de ramos de plantas em

forma cilíndrica. Evite o uso de cascas de

árvores para fazer colmeias porque pode

matar as plantas e contribuir para o

desflorestamento. Mas, os troncos secos

podem ser utilizados para fazer cortiços e

podem levar muitos anos.

A grande correlação que se estabelece

nesta actividade é que, enquanto o mel

constituir uma fonte complementar de

rendimento e um alimento muito

importante para a saude e nutrição, as

famílias sempre procurarão proteger a área

à volta do fogo e assim evitam as

queimadas descontroladas. Se plantando

Moringa atratem-se muitas abelhas e evita-

se o fogo, aqui esta mais uma razão para

uma possível aderência à experiência do

uso da Moringa como quebra-fogo. Porém,

serão necessárias algumas acções de

sensibilização e capacitação para a adopção

de boas práticas de produção e extracção

do mel, para assegurar a sua qualidade e

comercialização.

5.2.4. Fertilização verde de parcelas

Para a experimentação desta prática, divida

a sua área de cultivo em duas. Numa parte

continue a cultivar normalmente como

antes e, noutra, faça o seguinte:

• quando cairem as primeiras chuvas,

semeie a Moringa com um espaçamento

de 10 por 10 cm;

• a partir do dia que germinar, conte até

ao 25º dia;

• daí remova o solo com as plântula e

• a seguir, semeie normalmente a sua

cultura.

Os cuidados que vai prestar deverão ser os

mesmos paras as duas áreas. Depois da

colheita, faça uma avaliação e veja a

produção que teve em cada uma das áreas.

5.2.5. Conservação de água e seu

tratamento para o consumo.

Em muitas áreas áridas há grandes

problemas de água. Mas, das poucas

chuvas que tem caído, pode-se conservar

alguma água em cisternas ou tanques.

O que faz-se é construir cisternas ligadas

às caleiras das casas, de modo a captar as

águas dos tectos. Porém, passado algum

tempo, elas podem tornar-se impróprias

para o consumo e, sobretudo, quando a

cisterna estiver mal conservada.

Para assegurar a obtenção de água potável,

podemos utilizar várias formas de

purificação da água. Dentre os sistemas

mais simples há o do filtro de brita com

areia e através da semente da Moringa.

Neste ultimo processo, as bactérias são

desifectadas em cerca de 90 à 99%, o que

significa que deve ser complementado com

um outro. A exposição da água purificada

aos raios solares durante 6 horas pode ser

uma alternativa. Ela não tem custos e é

muito simples.

Põe-se a água num frasco transparente até

enchê-lo completamente e fecha-se. Daí

Page 27: APLICAÇÃO DA MULTIFUNCIONALIDADE DA MORINGA OLEIFERA

26

expõe-se aos raios solares durante 6 horas.

Recomenda-se que a superfície onde

pomos o frasco seja de cor preta para

acumular muito calor.

5.2.6. Produção integrada de peixe,

aves, hortícolas e outras culturas

Para a implentação desta ideia, deverá

escolher uma área onde vai criar um

tanque usado para a criação de peixes,

produção de fertlizante líquido, irrigação e

natação de patos l (fig. 34). O tanque deve

ser circular, com um raio de pelo menos

3m. A profundindidade vai ser variada da

superfície ao fundo. Abre-se de forma

côncava até atingir 2m ao centro do círculo.

À volta do tanque, faça mais um círculo de

3m de raio. Neste círculo construa algumas

capoeiras elevadas, cujos compartimentos

prologam-se acima do tanque. Este

prolongamento permite que o escremento

das aves caia no tanque e sirva de alimento

para os peixes. Os patos por vezes estarão

na água e lá vão deitar o seu escremento.

Fig 34: Tanque usado para piscicultura, adubo líquido

e irrigação da horta (de Marcos, 2005)

O escremento, para alem de alimentar o

peixe, enriquece a água com nutrientes

essenciais para a fertilização das hortas.

Portanto, a água, para além de servir aos

peixes, será utilizada para a irrigação.

A água que irá utilizar no tanque de peixe

pode obter de um poço, furo, rio, cisterna

ou traz de qualquer outro lugar. Se na sua

parcela pode facilmente fazer um poço,

procure por bombas simples de corda (rope

pump) e faça um tanque de água junto do

círculo inicial para a conservação de água.

As hortícolas estarão noutros três círculos,

construídos à volta do círculo das capoeiras

em forma de escadaria. O primeiro circulo,

junto do tanque de peixe, fica mais elevado

e os outros subsequente, decaído um após

outro. Isto faculta a irrigação das hortícolas

e outras culturas por gravidade e via

subterrânea. E para evitar que as galinhas

comam as hortícolas, o primeiro círculo

veda-se dos outros através de uma rede.

Para complementar a alimentação do peixe

ainda pode dar térmites, composto, farelo,

matapa e resto de comida, etc.

Experimente ainda misturar a ração com

proteinas da Moringa.

Durante a noite os peixes ainda podem se

alimentar de inséctos atraídos por uma luz.

Para isso põe-se barotes em forma cónica

(fi. 34), cujo topo fica bem no centro do

tanque há uma altura de mais ou menos 2-

3m e põe-se uma luz, um candieiro bem

protegido ou uma lanterna. À medida que

os inséctos forem caindo, servem-se aos

peixes.

Page 28: APLICAÇÃO DA MULTIFUNCIONALIDADE DA MORINGA OLEIFERA

27

Depois dos três círculos de hortícolas,

fazem-se ainda outros três, com as

mesmas dimensões, para a produção de

outras culturas como os cereais. Estas

culturas podem ser postas com algumas

plantas bem dispersas (sistema

agrosilvicultural) e, a Moringa, fruteiras,

plantas usadas como biopestecidas ou

hervas medicinais seriam as ideiais.

Porém, tanto nos círculos das hortas como

noutros a seguir, identificam-se áreas e

espécies de plantas medicinais que podem

ser cultivadas em canteiros ou em

consociação com as outras culturas.

Dos círculos dos cererais fazem-se ainda

dois últimos para a protecção do sistema.

Aquí plantam-se árvores que servirão de

quebra-vento, quebra-fogo ou impedem a

entrada de pragas, etc, etc.

Este sistema proposto chama-se Mandala.

Foi desenvolvido por um pesquisador

chamado Willy de paraíbas, no Brasil que o

chamou de Mandala. Mandala, em sânscrito,

antiga língua da Índia, significa círculo. Hoje é

muito desenvolvido no Brasil e está

melhorando muito os rendimentos

familiares. A concepção deste sistema

inspirou-se no modelo de desenvolvimento

integrado designado Permacultura e no

sistema solar, onde o sol é o centro

(www.agenciamandalla.org.br).

A permacultura é um modelo sustentável

de desenvolvimento ambiental, económico

e culturalmente viável (Marcos, 2005). É

ambientalmente viável por integrar boas

praticas de gestão dos recursos naturais.

Economicamente viável por ter em vista o

bem estar das famílias. E, por conciliar o

conhecimento e hábitos locais é

culturalmente viável.

Difere-se da agricultura de conservação

pelo planeamento e colocação de todos

os elementos do espaço de forma a

que entre eles se correlacionem tal como

de um ecossistema se tratasse. Isto

significa que os seres vivos (homens,

animais, as plantas, microganismos), o

solo, as rochas, o clima, a topografia, a

água e todas fontes de energia são todos

parte de um todo.

Neste programa, tentou-se simplificar os

passos para a implementação da

permacultura. Dentre os principais aspectos

que devem ser salientados, deixando de

lado as éticas e os princípios da

permacultura, são:

• uso de técnicas de conservação e

melhoramento dos solos (coberturas

vivas e morta, abubos liquidos,

compostagem11, terraçamento, uso de

capim vertiver, construção de valas e

barreiras de pedras, etc);

• a não aplicação de químicos (utilizam-

se fertilizantes orgânicos e

biopestecidas) e

• o uso de processos de conservação de

sementes e de cereais.

11 Compostagem é técnica de produção de mistura decomposta de resíduos vegetais e animais biodegradáveis, com areia em condições que, com humidade e ar, microorganismos, o material se decompoe em humus que aplica-se no melhoramento da fertilidade dos solos.

Page 29: APLICAÇÃO DA MULTIFUNCIONALIDADE DA MORINGA OLEIFERA

28

5.2.7. Criação de um lote de Moringa

para a exploração múltipla

Para a obtenção de folhas (caril,

compostagem, foragem, remédios e fins

nutricionais), sumo das folhas da moringa

(para o seu como fertilizante e

biopestecida), vagens (alimentação),

sementes (para sementeira, alimentação,

produção de óleo e fins medicinais) e

desenvolvimento da apicultura (obtenção

de néctar), faz-se um lote de Moringa com

diversas faixas. Umas com espaçamento

apertado e outras não.

Às faixas reservadas para a produção de

folhas usa-se espaçamento de 10cmx10cm

em faixas de 3m de largura. Para a

plantação use estacas de 50cm de altura.

Esta faixa devera estar junto do limite para

servir de quebra fogo.

As faixas que poderao produzir vagens

serao ainda feitas com base em estacas de

50 cm. O espaçamento será de 5m /5m

entre as plantas. A largura tambem pode

ser de 3m.

O uso de sementes seria reservado apenas

para a faixa de produção de biopestecida e

fertilizante. Isto deve-se ao facto de requer

o uso de plantas com apenas 40 dias. Aqui

tambem faz-se um cultivo intensivo.com

espaçamento de 10cm/10cm.

5.2.8. Produção de material de

Educação Ambiental

À medida que testa-se cada uma das

actividades, é importante documentá-las.

Todas experiências e boas práticas são de

extrema importância histórico-cultural,

científico e educacional. Elas permitem a

compreensão das acções de divulgação,

investigação e das mudanças dos hábitos

de produção e alimentação. Também

constitui uma base essencial para a

educação ambiental.

Numa primeira fase, procurar-se-á

produzir folhetos, brochuras e videos para

as comunidades o ensino primário.

Dentre o material a produzir, deverá

procurar fazer a interligação do uso da

Moringa com acçoes ambientais. Para além

das acções propostas, os intervenientes

podem incluir outras actividades de

divulgação ambiental e desenvolvimento

sócioeconomico local.

Assim, a medida que o material for saíndo,

é importante que seja difundido e utilizado.

Por ser ser feito numa perspectiva de

desenvolvimento integrado, pode ser

utilizado por diversos intervenientes como

da saúde, educação, ambiente, ONG e

financiadores ligados às àreas de

desenvolvimento sócioeconomico, cultural e

ambiental.

Page 30: APLICAÇÃO DA MULTIFUNCIONALIDADE DA MORINGA OLEIFERA

1

6. Referência bibliográfica

AMARAL, L.A. et al: Tratamento Alternativo da Agua Utilizando Extratos de Semente de Moringa Oleifera e Radiacção Solar, Sao Paulo, 2006 DOERR, Beth & CAMERON, Lindsay: Moringa Leaf Powper, ECHO Technical Notes, 2005, ECHO: Moringa Recipes, ECHO Technical Notes, 1996

FAHEY, Jed W.: Moringa Oleifera, A review of the Medical Evidence for its Nutritional ,

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And Industrial, 2001

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Internacional de Geografia Agrária, 2005

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MOROYI, Alfred: The Utilization Of Moringa In Zimbabwe, 2006

PALADA, M. C. and CHANG, L.C.: International Cooperators Guide, AVRDC, pub # 03-545,

March, 2005

29

Page 31: APLICAÇÃO DA MULTIFUNCIONALIDADE DA MORINGA OLEIFERA

1

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uma gestao Integrada e participatica dos Recursos naturais de uso Comum, a

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Catarina, 2007

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http://www.asiangreenfields.com/moringa-products.htm

http://www.echonet.org/pub&stores/atozhtml

www.agenciamandalla.org.br www.treeforlife.org

30

Page 32: APLICAÇÃO DA MULTIFUNCIONALIDADE DA MORINGA OLEIFERA

2

Cerca de moringueiras

viveiro

Floresta familiar

Pasto

Cultivo

Horta

Casas

T. peixe Capoeira

Tanquess de peixe

Jardim/ com Moringa

Anexo 1: Exemplo de planeamento de uma quinta

Cural

Pomar

Tanque de agua

Tanque de agua

31