APLICAÇÃO DA MULTIFUNCIONALIDADE DA MORINGA OLEIFERA
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APLICAÇÃO DA MULTIFUNCIONALIDADE DA MORINGA OLEIFERA NA GESTÃO INTEGRADA DOS RECURSOS NATURAIS
CDS-Recursos Naturais1
Pedro Castigo E-mail: [email protected]
RESUMO
O presente trabalho tem em vista contribuir para a promoção do desenvolvimento
sócioeconomico e ambiental através da utilização da Moringa. Para a sua realização, fez-se
revisão bibliográfica, visitas à famílias de algumas comunidades, individualidades e instituições
com experências de uso da Moringa Oleifera. Nas visitas realizadas, privilegiou-se a técnica de
entrevistas não estruturadas e semi-estruturadas e a observação directa. Posteriormente fez-
se testagem de algumas formas de processamento e utilização da Moringa.
A Moringa oleifera LAM é uma planta, perene, da família Moringaceae, originária do Norte da
Índia. Hoje é amplamente cultivada na Ásia, África e América latina. Adapta-se muito bem às
zonas tropicais e subtropicais, propagando-se facilmente através da semente e estacas.
A sua múltipla função fez com que ao longo de milhares de anos fosse levada para vários
países. Utiliza-se essencialmente para fins alimentícios e nutricionais, medicinais, produção de
óleo e para a purificação de água. Também é matéria prima para a produção de sabão e de
biocombustíveis.
Com a sua multifuncionalidade, ela pode contribuir significativamente para a melhoria das
condições de vida das famílias. O fomento desta planta ainda pode constituir fonte de emprego
e de obtenção de receitas. Promovendo o plantio da Moringa em programas integrados de
desevolvimento, incluíndo acções de gestão ambiental pode resultar em muitos sucessos.
Poderá contribuir para a prevenção de problemas tais como de queimadas descontroladas,
desflorestamento, erosão dos solos, desertificação e mudanças climáticas.
Com isso, a promoção de programas integrados de gestão dos recursos naturais, onde dá-se
ênfase a multifuncionalidade da Moringa, incluíndo os mecanismos de seu processamento e
utilização, são de tamanha importância sob ponto de vista ambiental e sócioeconomico.
1 CDS-Recursos Naturais é um Centro de Desenvolvimento Sustentável Para os Recursos Naturais, de âmbito nacional, com Sede em Chimoio, província de Manica, no Centro de Moçambique. Dentre as suas principais actividades, faz pesquisas sobre boas práticas de gestão dos recursos naturais, divulga-as e capacita diversos intervenientes em matérias de gestão dos recursos naturais.
1
1. Introdução
A Moringa oleifera LAM é um arbusto ou
árvore de pequeno porte, perene, da
família Moringaceae, composta apenas de
um gênero (Moringa) e catorze espécies
conhecidas. Designa-se de Moringa oleifera
porque ela produz muito óleo (Fahey,
2005; Fuflie, 1999). No jornal Tree For Life,
Fashey (2005) refere que esta planta é
geralmente conhecida por Horseradish tree,
Drumstick tree, Never Die tree e West
Indian Ben tree. Fuglie (1999) refere que é
também conhecida como baqueta e
referida como uma planta milagrosa ou
planta da vida pela sua multifuncionalidade.
PIO CORREA (1984), citado por Silva, et al
(sd), Schuarz (200) e Foild et al (2001)
referem que é uma planta com casca de cor
clara, de crescimento rápido que chega a
atingir cerca de 10 à 12m de altura. A copa
é aberta, em forma de sombrinha. as folhas
são pecioladas, tripinadas, possuindo 30 à
60 cm de comprimento, com 3 a 9 folíolos
obovais na última pínula, onde cada folíolo
apresenta 1,3 à 2,0 cm de comprimento
por 0,3 a 0,6 cm de largura (fig. 1).
Fig. 1: Obervação da M. Oleifera
As flores são amarelo-pálidas com estames
amarelos, grandes de 2,5 cm de diâmetro
(fig. 2). O fruto é do tipo capsular (fig. 3),
seco, de secção triangular, apresentando
30 à 120cm de comprimento por 1,8 cm de
largura, abrindo-se em três valvas e abriga
cerca de 12 a 35 sementes de cor marrom
escura, onde cada uma delas possui 3 asas
(Schuarz, 2000; Foild et al, 2001).
Fig. 2: Flores da M. Oleifera
Fig. 3: Vagens secas da M. Oleifera
2
Nativa do Norte da Índia, ela é conhecida
há milhares de anos. Hoje, é amplamente
cultivada na Índia, Egipto, Filipinas, Ceilão,
Tailândia, Malásia, Burma, Paquistão,
Singapura, Jamaica e Nigéria. Cresce muito
bem às zona tropical e sub-tropical (Fahey,
2005; Foild et al, 2001).
O seu valor alimentar (folhas, frutos
verdes, flores e sementes torradas);
forrageiro (folhas, frutos e sementes);
medicinal (todas as partes da planta);
condimentar (principalmente as raízes),
culinário e na indústria de cosméticos (óleo
extraído das sementes), melífero (flores);
combustível (madeira e óleo) e no
tratamento de água para o consumo
humano (cotilédones e tegumento das
sementes) fez com que ao longo dos
milhares de anos fosse levada para vários
países (Fahey, 2005). Para além destes
usos, a Moringa também utiliza-se para a
criação de cercas, quebra-ventos e
desempenha um papel fundamental de
ponto de vista ambiental.
Em Moçambique, embora muitas famílias
não a conheçam e nem saíbam da sua
utilidade, já encontra-se um pouco por
todas regiões do país. É muito utilizada
como caril e algumas pessoas utilizam-na
para fins medicinais. No entanto, ao nível
nacional, já existem vários projectos que
promovem a propagação e utilização da
Moringa para vários fins (nutricionais,
medicinais, alimentícios, forageiros,
purificação de água, etc)2.
2 As Caritas Messica, a ADPP (Ajuda para o Desenvolvimento de Povo para Povo) e o Governo Provincial de Gaza são algumas delas.
Pelas suas múltiplas funções, o plantio da
Moringa e, sobretudo, ao nível familiar,
deve ser amplamente promovido. Irá
melhorar a produção agropecuária, a
saúde, as fontes de receita e a gestão
ambiental. E por ela conter o fósforo, o seu
consumo seria recomendável aos
estudantes para o melhoramento do
rendimento escolar. Com isso, a Moringa
enquadra-se perfeitamente nas abordagens
integradas de gestão dos recursos naturais
e desenvolvimento socioeconómico.
Nesta óptica, de uma forma geral, com este
trabalho pretende-se contribuir para a
promoção do bem estar das famílias e do
desenvolvimento socioeconómico e
ambiental nacional. Especificamente,
pretende-se divulgar a multifuncionalidade
da M. Oleifera, incluíndo as suas formas de
processamento e consumo; Descrever o
mecanismo de sua utilização na gestão
ambiental e propor algumas acções - piloto
de gestão integrada dos recursos naturais.
Para a realização deste trabalho, fez-se
revisão bibliográfica, visitas à famílias de
algumas comunidades, individualidades e
instituições com experências de uso da
Moringa Oleifera. Foram promovidos alguns
debates nas comunidades, onde
participaram pessoas influentes e técnicos
de ambiente. Para as visitas realizadas,
privilegiou-se a técnica de entrevistas não
estruturadas e semi-estruturadas e a
observação directa. Posteriormente fez-se
testagem de algumas formas de
processamento e utilização da Moringa.
3
2. Propagação e maneio da M. Oleifera
O conhecimento das condições ideais para
a sua propagação, bem como dos cuidados
necessários é de grande importância.
Garante a melhor propagação da planta e,
consequentemente, melhores colheitas e
utilização.
2.1. Condições agroedáficas e
ecológicas
A M. Oleifera cresce rapidamente da
semente e de estacas, mesmo em solos
pobres. Não necessita muitos cuidados e
pode sobreviver longos períodos de seca.
Num espaço de um ano, após o plantio,
pode atingir até 4 metros de altura, com
flores e frutos (Palada & Chang, 2003).
A Moringa cresce melhor em solos neutros
à ligeramente ácidos (5-9 pH), bem
drenados. Ela adapta-se à áreas semi-
áridas e arenosas (Palada & Chang, 2003).
Cresce melhor com a insolação direta, à
altitudes inferiores à 600m, podendo ser
plantada até aos 1200m na zona tropical.
As temperaturas óptimas são de 25 à 35°C,
mas tolera até 48°C à sombra e pode
sobreviver à uma geada leve. A
precipitação anual mínima necessária
estima-se em 250mm e a máxima em
1.500mm, mas não se adequa à solos
alagados. Porém, em áreas com chuvas
intensas, ela pode ser plantada em
pequenas colinas para facultar o
escoamento das águas (Palada & Chang,
2003; HDRA, sd).
2.2. A Preparação do solo e métodos
de plantio
Para o plantio da Moringa pode-se fazer
alguma preparação do solo em canteiros
(fig. 4) ou covacos (fig. 5 e 6). Os canteiros
são geralmente feitos em áreas mal
drenadas para facultar o escoamento das
águas. Neste caso, a base do canteiro pode
ter uma altura de 30 cm (Palada & Chang,
2003).
Fig. 4: Canteiro de M. Oleifera
Fig. 5: sementeira directa
4
Fig. 6: Plantio directo da estaca
Depois de escolher o local ideal, com solo
leve ou arenoso, não argiloso e nem
alagado, se pretende plantar em uma
grande parcela, convém primeiro lavrar a
terra. Antes de plantar a Moringa,
preparam-se as covas, com diâmentros e
profundidades de 20cm e depois, pode-se
preencher a cova de terra misturada com
composto (2 Kg por cova) para permitir
que as plantas se desenvolvam mais
rapidamente (Palada & Chang, 2003).
A Moringa propaga-se tanto da semente,
propagação sexuada (fig. 5) como das
estacas, propagação vegetativa, ainda
chamada por estaquia (fig. 6).
Tanto na propagação sexuada como
vegetativa, a Moringa põe-se directamente
no campo, plantio directo (fig. 5 e 6) ou
em vasos (fig. 7). As sementes ainda
podem ser postas em canteiros, mas, o
transplante requer trabalho extra.
O espaçamento depende dos objectivos. Se
for só para colheita de folhas aperta-se.
Caso contrário, alarga-se um pouco mais.
Se pretende colher folhas, as distâncias
ideais são de 50 cm entre as plantas e 100
cm entre as linhas. Em produção intensiva,
as plantas podem ser postas de 10-20cm.
Assim as plantas não produzem vagens e
requerem alguns cuidados como rega,
fertilização e controle de pragas (Palada &
Chang, 2003;Doerr e Camenorn , 2005).
Para a obtenção de folhas, vagens e
sementes, as plantas são postas à
distancias de 3 à 5m. Em agrosilvicultura,
as árvores põe-se de 10-10 m entre as
linhas e 2-3 m entre as plantas (Palada &
Chang, 2003).
Fig. 7: Sementeira em vasos
2.
5
2.2.1. Propagação sexuada
A germinação da semente não precisa de
luz e nem de quebra de dormência (Fuglie,
2008). Segundo a HDRA, para estimular a
germinação, pode-se embeber a semente
em água durante a noite antes do plantio e
remover as cascas da semente (fig. 8).
Fig. 8: Sementes de Moringa embebidas na água para
uma rápida germinação
Depois de embebida e descascada, a
semente é posta à 2cm de profundidade
(Sousa, 2007). O tempo médio de
germinação da Moringa pode ser de cerca
de uma semana.
Se pretende semear em canteito para um
posterior transplante, as sementes devem
ser equidistanciadas por cerca 5cm. Deve-
se fazer uma tarimba de capim para
germinarem à meia sombra (fig. 4). O
canteiro é mantido com alguma humidade
e não alagado. A Rega deve ser feita
levemente. Desta maneira, assegura-se o
transplante das mudas após duas semanas
de germinação, quando a plântula atinge
10 à 15cm (Palada & Chang, 2003).
Porém, um dia antes do transplante,
assegure que o solo esteja já preparado.
Também deve ter água suficiente para uma
rega regular, caso contrário prepare os
canteiros muito próximo do período
chuvoso.
2.2.2. propagação vegetativa
Em comparação com as árvores plantadas
a partir de sementes, árvores de estacas
crescem mais rapidamente, mas
desenvolvem raízes rasas que tornam a
planta suscetível a stress hídrico e ao vento
(Palada & Chang, 2003).
Use estacas duras de uma planta que seja
pelo menos um ano de idade. As estacas
podem ser de 45-150cm de comprimento
com diâmetros de 4-16cm. Elas não podem
ser deixadas por mais de três dias antes do
plantio no viveiro ou no campo (Palada &
Chang, 2003).
2.3. Maneio da Moringa
Após o plantio, a Moringa precisa de ser
irrigada por um período de mais ou menos
um mês. Em climas secos e áridos, irrigar
regularmente durante os primeiros 2
meses. Uma vez estabelecida, raramente a
Moringa necessitará de rega. A árvore bem
enraizada tolera seca e só há necessidades
de irrigação somente quando houver
murchamento.
6
Para reduzir o desenvolvimento de ervas
de ninha e o número de regas, a cobertura
morta é recomendável. A cobertura morta
geralmente é constituida de uma
diversidade de ervas e algumas delas
repelem as pragas, evitando deste modo
doenças (fig. 9). Mas, a Moringa, só por si,
é muito resistente à pragas e doenças.
Fig. 9: cobertura morta conserva humidade e
previne ervas da ninha e pragas
Quando as plantas crescerem à uma altura
de 60 cm no campo principal, deve cortar a
parte terminal, por cerca de 10 cm. Isto
permite a ramificação da planta (fig. 10).
Quando os novos ramos atingem um
comprimento de 20 cm, corte-os também
cerca de 10cm da sua parte terminal. Os
ramos terciários serão igualmente podados.
Este processo de poda faz-se 4 vezes
antes que as flores apareçam (quando a
árvore é cerca de três meses de idade), o
que incentiva que a árvore torne-se
espessa e produza muitos frutos de fácil
acesso.
Fig. 10: A poda permite a ramificação à altura que
colhem-se os produtos e cria uma copa frondosa
3. Processamento e uso da M. Oleifeira
As vagens (fig. 11), flores, folhas, casca e a
raíz da Moringa são utilizadas e
processadas de diversas formas. A colheita
e o processamento da Moringa é simples.
Fig. 11: Vagem seca da Moringa
7
As vagens frescas, pela sua procura no
mercado Europeu e Americano, são
enlatadas. Neste caso necessita-se de
pequenas agroindústrias e treinamentos.
As sementes maduras são utilizadas para
vários fins fins (sementeira, purificação de
água, extracção de óleo, produção de
biodísel, etc). Para a sua conservação,
colhem-se as vagens secas antes de se
abrirem e das sementes cairem no chão. As
sementes podem ser armazenadas em
sacos ou frascos, em locais secos, bem
arejados e frescos e não por mais de dois
anos.
A raíz, pode ser usada fresca ou seca.
Quando seca, pode ser moida e conservada
em frascos ou saquetas plásticas.
As folhas também são utilizadas frescas e
secas. As tenras usam-se para fazer caril
(fig. 12, 13, 14 e 15). O sabor é
semelhante ao do espinafre.
Fig. 12: Preparação de folhas tenras de Moringa para
a confecção de caril
Fig. 13: Confecção de caril de Moringa com
amendoim, tomate, cebola, sal e água.
Fig. 14: Funcionários do CDS-RN saboreando o caril da
Moringa
Fig. 15: Funcionários do CDS-RN saboreando o caril da
Moringa
8
As folhas mais velhas, rijas, são muito boas
para fazer o pó. Depois de colher as folhas
rijas, põem-se a secar à sombra (fig. 16).
Pilam-se e sefam-se. Daí o pó conserva-se
em repecientes limpos e bem cobertos (fig.
17 e 18).
Fig. 16: Folhas secas da Moringa
Fig. 17: Processamento caseiro do pó da Moringa
Fig. 18: Pó de folhas secas da Moringa
3.1. Uso alimentício
Nos continentes Asiático e Africano, a
utilização da M. Oleifera como alimento é
bastante antiga. Na América Central
também há uma certa tradição. As receitas
são inúmeras.
Para o consumo, geralmente utilizam-se as
flores, as vagens e as folhas. Estes
produtos são utilizados em sopas, saladas,
molhos e outras ementas. As raízes de
plantas jovens são utilizadas em achar
(ECHO, 1996).
Após cerca de 8 meses do plantio, a árvore
começa a florir e continua durante todo o
ano. As flores são usadas como caril
cozidas, fritas ou em infusão feita em cerca
de 10 à 15 mn de fervura (fig. 19). Podem
ser misturadas com as folhas da Moringa
ou com um outro tipo de caril (Price, 1985;
HDRA, st).
As vagens frescas são cosmestíveis e
possuem vitaminas, proteinas e minerais.
Cozem-se como qualquer outro tipo de
feijão. Devido a sua procura e valor
comercial, para além do mercado local, a
Índia, Sri Lanka e o Quénia exportam para
países asiáticos, europeus e América (Price,
1985).
Fig.19: As flores da Moringa também comem-se
9
De todas partes da Moringa, as folhas são
as mais utilizadas. Elas fazem várias
ementas e de todas formas que o espinafre
é usado3 (fig. 20). Segundo algumas
pessoas entrevistadas, e na sua maioria
provenientes de Tete e Norte de Sofala, no
Centro de Moçambique, onde a Moringa é
já muito conhecida, quando feito com
amendoim, é muito bom (fig. 21).
Fig.20: As folhas da planta do milagre
Fig. 21: Confecção de caril de Moringa
3http://www.echonet.org/pub&stores/atozhtml
As folhas frescas podem ser consumidas
com qualquer outro tipo de caril. Leva-se
pelo menos uma mão cheia de folhinhas
frescas que são postas nas verduras, no
peixe, carne, etc, nos últimos 2mn, quando
o caril já estiver a cozer. Não se deve
deixar ferver por muito tempo porque as
vitaminas podem se degradar.
3.2. Uso nutricional.
Moringa é uma das plantas mais nutritivas
do mundo. Para o efeito consomem-se as
flores, folhas e as vagens. Segundo Price
(1985), Fahey (2005) e Mathur (2006) a
planta contém minerais importantes e são
uma boa fonte de proteinas, vitaminas,
beta-caroteno, aminoácidos e vários
compostos fenolicos (Tabela 1).
As flores possuem boas quantidades de
cálcio e potássio. As vagens e vitaminas e
proteinas. Porém, no início, é melhor deixar
as frutas produzirem sementes, para que
haja disseminação (Price, 1985).
As folhas são uma excelente fonte de
vitaminas A, B, C e E, proteinas (27%) e
minerais. Possuem carboidratos e um
pouco de gordura. Com isso, as folhas são
um dos melhores alimentos vegetais que
podem ser encontrados (Price, 1985;
Fahey, 2005).
De acordo com uma série de comparações
feitas, as folhas da Moringa contêm quatro
vezes mais vitamina A da cenoura, quatro
vezes o cálcio do leite, três vezes o
potássio das bananas e duas vezes a
10
proteína do iogurte e mais ferro que o
espinafre ( Fahey, 2005).
Um dos grandes aspectos que a Moringa
tem é que ela, por ser perene, sempre tem
folhas que podem ser colhidas em qualquer
estação do ano. Quando outros vegetais
são difíceis de obter, as folhas da Moringa
constituem uma grande alternativa. Com
isso, recomenda-se o consumo regular da
Moringa com vista a obtenção de proteinas,
vitaminas e minerais essenciais para a
nossa saúde e nutrição.
Tabela 1. Comparação do valor nutricional das
folhas , vagens e o pó (por 100g da porção comestível)
Folhas Vagens Pό das Folhas
Humidade (%) 75 86.9 7.5 Calorias 92 26 205 Proteinas (g) 6.7 2.5 27.1 Gordura(g) 1.7 0.1 2.3 Carbohidratos (g) 13.4 3.7 38.2 Calcio(mg) 440 30 2003 Ferro(mg) 7 5.3 28.2 Zinco - - - Fósforo (mg) 70 110 204 Potássio 259 259 1324 Cobre (μg/g) 1.1 3.1 0.57 Iodine (μg/kg) 51 18 Fibra (g) 0.9 4.8 Oxalic acid(%) 101 0.01 1.6% Nicotinic acid (mg)
0.8 0.2
Vitamina A –B carotene (mg)
6.8 0.11 16.3
Vitamina B –coline (mg)
423 423 -
Vitamina B 1–fhiamic (mg)
0.21 0.05 2.64
Vitamina B 2–riboflavin(mg)
0.05 0.07 20.5
Vitamina B 3–nicotinic acid (mg)
0.8 0.2 8.2
Vitamina C –acido ascórbico (mg)
220 120 17.3
Vitamina E-topopherol acetane (mg)
- - 113
Fonte: Price, 1985,
Para a obtenção dos nutrientes da Moringa
o pó feito de folhas secas é muito utilizado.
Leva-se uma colherinha de chá com pó da
Moringa e adiciona-se à qualquer caril nos
últimos 2 mn, quando já estiver para cozer,
como se fossem um tempero. Algumas
pessoas utilizam o pó em saladas, sopas,
omoletes, chás, etc.
3.3. Uso Medicinal
Apesar de que, até hoje, poucas são as
propriedades conhecidas cientificamente,
todas as partes da Moringa são usadas na
medicina verde. Sabe-se que as folhas e as
sementes (fig. 22) possuem propriedades
antibacterianas e que a vitamina associada
à outras combate os radicais livres,
moléculas derivadas do metabolismo, que
prejudicam as células provocando o
envelhecimento. Os usos mais citados da
Moringa são para as doenças da pele,
sistema digestivo e doenças relacionadas
com articulações4.
As flores são usadas como tónico, diurético
e abortivo. Servem também para curar
inflamações, doenças musculares, tumores,
alargamento do baço e constipações (Price,
1985). O chá das flores de Moringa cura
constipação (Price, 1985). Usam-se ainda
para aliviar problemas de garganta e de
catarro. O sumo das flores melhora a
qualidade e a quantidade de leite nas mães
que estão a amementar. Ainda estimula a
necessidade de urinar (HDRA, sd) .
O óleo feito da semente da Moringa pode
ser aplicado externamente para a cura de 4 http://www.echonet.org/pub&stores/atozhtml
11
infecções de pele (Moroyi, 2006). Quando
torrado, triturado e, em seguida,
adicionado um pouco de óleo de coco cura
artrites, inchaços, reumatismo e infecções
de ITSs aplicando directamente no local
com problemas (HDRA, sd,). A semente
ainda é usada para a cura de problemas de
histeria, escorbuto, próstata e tumores
abdominais.
A semente cura dores de cabeça, de
barriga, constipação e queimaduras. Para o
efeito, as sementes secas são embebidas
em água para molecer a casca que depois
será descascada e a semente triturada.
Adiciona-se um pouco de sal e amassa-se a
mistura com um pouco de água numa
pedra limpa. Em seguida, com a palma da
mão, extrai-se o óleo para um copo. Daí
aplica-se externamente. Mas, para as dores
intestinais e constipação será internamente
(Gazanfar, 1994).
Fig. 22: Sementes da Moringa
O feijão fresco da Moringa quando comido
fresco, cura problemas de fígado e de dores
nas articulações. Por ter muitas proteinas e
fibras, também cura malnutrição e diarreias
(HDRA, sd).
Acredita-se que o sumo das folhas ajuda a
reduzir a pressão arterial. O sumo das
folhas ainda aumenta a necessidade de
urinar e cura gonorreia. Quando misturado
com mel trata diarreias e desenteria
(Moroyi, 2006).
A infusão das folhas regula o açúcar no
sangue e cura gastrite, úlcera e diarreias
(Moroyi, 2006; HDRA, sd). O consumo de
folhas frescas e o pό da Moringa
recomenda-se aos doentes de tuberculose
porque a vitamina A incrementa a
imunidade. O consumo de folhas frescas
também é recomendável para as senhoras
grávidas, pois, com o ferro que tem, elas
não apanham anemia e os seus bebés
nascem com bons Quilos. Para as mães que
estão a amamentar, ajuda a produzir muito
leite (Moroyi, 2006).
Em casos de um corte suave no corpo, a
massa húmida de folhas frecas da Moringa
pode ser aplicada no corte para evitar o
derrame de sangue. Pode-se ainda aplicar
em feridas ou picadas de inséctos para
evitar bactérias e inflamação. Para o
tratamento de infecção da pele, esfrega-se
por todo o corpo (HDRA, Sd; Moroyi,
2006).
Para a cura da malnultrição, o consumo de
qualquer produto da Moringa é
recomendável. Ela possui muitas proteinas
e fibras.
A casca do caule da Moringa (fig. 23),
depois de triturada e amassada com um
pouco de água faz uma pasta que cura
12
inchaços (Moroyi, 2006). A Infusão da
casca ainda pode ser usada para a cura de
dores de dente e ITSs - Infecções
Transmisíveis sexualmente.
Fig. 23: Casca extraída para fins medicinais
O pó das raízes é conhecido como
afrodisíaco. Porém, a casca da raíz é tóxica,
por isso deve-se remover. Dentre outras
doenças, o pó trata problemas de rins e,
em casos de problemas intestinais, utiliza-
se para a expulsão de gases. Como rapé
utiliza-se para aliviar dores de ouvido e de
dente. Quando misturado com leite, cura
asma, reumatismo e problemas de fígado
(Moroyi, 2006). A asma e os problemas de
figado podem ser curados com a infusão da
raiz5. A pasta da raíz fresca de uma
Moringa jovem, quando aplicada
externamente por todo o corpo trata
febres. Segundo algumas entrevistadas
(fig. 24) e Moroyi (2006), a casca das
raízes, triturada e amassada com um pouco
5 www.asiangreenfields.com/moringa-products.htm
de água faz uma pasta que aplica-se
externamente em mordeduras de cobras,
escorpiões para aliviar dores.
Fig. 24: Algumas avos entrevistadas, em Chimoio
3.4. Tratamento de água
Em muitas regiões do mundo e, sobretudo,
em vias de desenvolvimento, hoje
ressente-se da falta de água potável para o
consumo. Mas, junto da povoação pode
haver rios, charcos ou lagoas com água que
contém impurezas como sedimentos,
bacterias e outros microorganismos,
particularmente na estação chuvosa.
Algumas destas impurezas podem
transmitir doenças (Folkard & Sutherland,
94).
É muito importante que se remova o
máximo possível das impurezas antes de
consumir a água. Grandes centros de
tratamento de água recorrem à
coagulantes químicos que, quando
13
adicionados a água, juntam-se às
impurezas e afundam. Porém, os químicos
são caros e nem sempre podem se
encontrar nas comunidades rurais. A
alternativa é o uso de coagulante natural
(Folkard & Sutherland, 94).
As sementes da Moringa já são utilizadas
para o efeito (fig. 25). O processo é muito
simples e é rápido.
Fig. 25: Da esquerda à direita, apresentam-se frascos
de água não tratada e tratada com Moringa
(fonte: www.moringatrees.org)
As sementes são trituradas e postas na
água turva para coagular as impurezas (fig.
26). Uma semente triturada pode purificar
um litro de água. Geralmente, para
purificar 20 litros de água, usam-se 2
gramas de semente triturada (duas
colherinhas de chá). Para além do processo
ser simples e barato é ambientalmente
amigável (Folkard & Sutherland, 94).
Fig. 26: Demonstração do tratamento de água
A quantidade necessária de sementes para
o tratamento de água turva depende da
quantidade de impureza que a água
contém. Para tratar um litro de água, por
exemplo, se normalmente usava uma
semente, com muita turbidez pode-se usar
duas ous três.
Segundo Folkard & Sutherland (1994),
detalhadamente, a purificação da água
funciona da seguinte maneira:
• Tritura-se uma determinada quantidade
de semente, de acordo com a água
disponínivel,
• põe-se a semente triturada numa
garrafa vazia – uma garrafa de
refrigerante é ideal (fig. 27),
14
Fig. 27: Utensílios usados na purificação de água
• adiciona-se uma xícara (200 ml) de
água limpa e agita-se esta mistura por
5 mn. Esta acção activa as substâncias
químicas nas sementes trituradas,
• filtra-se a mistura com um pano branco
de algodão6, colocando a água dentro
do recepiente com água suja. O
conteúdo deve então ser misturado
rapidamente por 3mn e depois
misturado vagarosamente por 15mn.
Enquanto se mistura o conteúdo
lentamente, as partículas das sementes
da Moringa se juntam, coagulam com
as bactérias e formam partículas
maiores, as quais decantam no fundo
do balde e lá permanecem e
• deixa-se a mistura por 1 hora, sem
mexê-la. Daí, a água limpa fica acima e
pode ser retirada cuidadosamente,
deixando a água com as impurezas no
fundo. Quanto maior tempo de repouso,
melhor será o tratamento da água.
6 Nesta experência usou-se coador. Mas, o pano é melhor porque tem poros muito finos.
Este processo remove 90–99.9% das
bactérias na água. Portanto, alguns
microorganismos prejudiciais que ainda
permanecem na água podem não ser
removidos, particularmente quando a água
estiver muito poluída. Para desifectar
complentamente a água, recomenda-se o
uso de outros métodos complementares de
purificação, como a fervura, filtros simples
de areia e exposição dos flascos de água
aos raios solares (Folkard & Sutherland,
94).
Até ao momento, nenhuma evidência de
que estas sementes possam causar algum
efeito nos seres humanos foi encontrada,
especialmente com as doses necessárias
para o tratamento de água (Schwarz, 2000
apud Embrapa, 2006). Dessa forma, pode-
se afirmar que o tratamento com Moringa
não apresenta nenhum risco a saude ainda
que essas sementes possuem inúmeros
usos na alimentação humana. Segundo
Amaral et al (2006), o outro aspecto a
considerar neste processo é que o pH e o
gosto da água não mudam.
Para o tratamento à grandes escalas, há
informações de que em Malawi foi realizado
um trabalho experimental em Thyolo, no
sul do Malawi. Lá construi-se um tanque
modelo de tratamento de água.
Os testes feitos tiveram bons resultados,
semelhantes aos que se obtém com os
químicos comerciais. Para além de serem
processos simples, os custos são baixos,
podendo ser acessíveis às comunidades
(Folkard & Sutherland, 1994).
15
3.5. Produção de óleo
O interesse pelo óleo extraído da M.
Oleifera, conhecido como azeite Ben ou
Behen vem já há muitos seculos. Em 1817,
uma petição, contendo as informações
relativas ao óleo de M.oleifera foi
apresentada à Assembleia Jamaicana. A
petição descreveu o óleo como sendo útil
para saladas e fins culinários e podia ser
usado como petróleo, sem nenhuma
fumaça. O óleo da Moringa é de alta
qualidade, alto valor comercial, podendo
servir de uma boa fonte de receita para as
famílias. Serve ainda para a produção de
sabão (Price, 1985; Folkard & Sutherland,
1994; Moroyi, 2006).
A semente de M. Oleifera contém 35 a 40%
de óleo. Ela é bastante macia, o que
permite a extracção manual do óleo em
prensa de rosca, também conhecida por
prensa de fuso. Primeiro tritura-se a
semente, adiciona-se 10% de água e, em
seguida, aquece-se levemente em lume
brando durante 10 à 15mn. Num teste,
foram produzidos 2,6 litros de óleo a partir
de 11 Kg de sementes (Fokard &
Sutherland, 1994).
Métodos tradicionais de extracção de óleo
também podem ser usados, mas são lentos
e não muito eficientes. Eles envolvem a
extracção de óleo triturando as sementes e,
em seguda, cozendo-as durante 15 minutos
em água. Depois de cozerem, o material
será exprimido num pano e o líquido passa
para um recepiente limpo. Deixa-se a
mistura por um dia, para que o óleo se
separe da água. O rejeito das sementes
pode ser utilizado como fertilizante e
purificação de água (Folkard & Sutherland,
1994).
3.6. O uso da M. Oleifera como fertilizante
O sumo de folhas da M. Oleifera fresca
pode ser utilizado para a produção de uma
hormona de crescimento de plantas,
aumentado os rendimentos em 25 à 30%
para qualquer cultura (cebola, pimenta,
soja, milho, cafe, sorgo, cha, etc). Uma das
substâncias activas é Zeatina: uma
hormona vegetal do grupo citocininas. Para
o efeito, faz-se uma pulverização foliar
complementar à outros fertilizantes
(Funglie, 2008).
Para a produção do sumo, usam-se folhas
de Moringa de menos de 40 dias. O que
faz-se é esmagar as folhas novinhas e, por
cada 10KG de desta massa põe-se 1 litro
de água. Em seguida, coa-se todo o
material sólido, ficado apenas a água com
os nutrientes da Moringa. Para a
puriverização, ainda adiciona-se água: uma
parte da mistura com 32 partes de água
(1:32). Depois de preparado, deve utilizar
dentro de 5 horas e use 25 ml por cada
planta. Porém, a puriverização foliar faz-se
10 dias após à germinação da planta; em
seguida, por volta dos 30 dias, antes da
planta florir; daí, quando as sementes
surgem e, depois, quando os frutos já
começam a amadurecer. O rejeito das
folhas ainda pode ser utilizado para a
alimentação do gado pois ainda contém
cerca de 12 a 14% de proteinas. (Funglie,
2008).
16
A Moringa ainda pode ser utilizada como
fertilizante verde. Neste processo, a terra é
primeiro cultivada e, em seguida, semeia-
se a moringa de 10 à10 cm. Após 25 dias
da germinação, o solo é removido à uma
profundidade de 15 cm, com as plântulas.
Deste modo, a machamba está pronta para
a sementeira de qualquer outra cultura
(Funglie, 2008).
Da moringa aproveita-se ainda o rejeito
resultante da purificação de água e da
extracção de óleo como fertlizante (Folkard
& Sutherland, 1994). Uma das melhores
formas de sua utilização é através da
compostagem. As folhas, sempre verdes e
muito moles, também são muito boas para
a produção de compostos, pois fixam o
Nitrogénio e decompõem-se muito
rapidamente.
A Moringa, tal como outras leguminosas, é
uma planta muito recomendável para a
produção agroflorestal. Ela fixa Nitrogênio
no solo e pode servir como cobertura viva7.
3.7. Maneio Integrado de pragas e
doenças nas culturas com M. Oleifera
O sumo das folhas, quando puriverizado
nas folhas de plantas, serve de repelente
às pragas. Uma (1) parte de sumo de
Moringa é dissolvida em trinta e duas (32)
e em cada planta põe-se 25 ml da mistura
(fig. 28 e 29).
7 À cobertura viva refere-se às plantas, geralmente leguminosas, que para alem de fixarem Nitrogenio, reduzem a radiaçao solar no solo, conservando assim a humidade. Tambem melhoram a estrutura do solo e conservam-no da erosão.
Desta forma, as culturas resistem à pragas
e doenças. As folhas, o caule e as raízes
das plantas tornam-se duras. A planta dá
muitas frutas, grandes e saudáveis.
Fig. 28: Puriverização de plantas através de sumo da
Moringa (or Marthur, 2006: www.treforlife.org)
Fig. 29: Puriverização de canavial através de sumo da
Moringa (or Marthur, 2006: www.treeforlife.org)
3.8. Foragem
As folhas da Moringa servem de foragem
para o gado (cabrino, bovino e suino) e
também para coelhos. Os ramos, por vezes
são empedaçados para alimentar o boi e os
cabritos. Para as áreas com problemas de
17
pasto a Moringa pode ser uma grande
alternativa (Moroyi, 2006; Funglie, 2008).
Estudos feitos em Nicaragua mostram que
complementando a foragem do gado com
folhas da Moringa, a produçao de leite
aumenta em 43-63 % e o peso do gado
aumenta diariamente em 32% (Mathur,
2006)
As folhas ainda podem servir para a
alimentação de galinhas, peixes e outras
aves. Geralmente as galinhas não
consomem voluntariamente as folhas da
Moringa e nem o pó das suas folhas. No
entanto, cerca de metade dos nutrientes da
Moringa pode ser extraída das folhas sob a
forma de um concentrado que depois pode
ser adicionado à ração. Para obter o
concentrado, misture as folhas com água e,
em seguida, depois de moer, aquece-se
essa mistura a 70ºc por 10 mn. A proteína
vai se aglutinar e afundar. Depois de
despejar o líquido, pode ser seca e
misturada à ração (Funglie, 2008).
Quando a Moringa for utilizada como
fertilidade verde, por remover o solo com
as plântulas da Morinda, as suas folhas
funcionam como biopestecidas no solo.
Assim as culturas não são facilmente
atacadas por doenças (HDRA, sd).
3.9. A utilidade social e comercial da
M. Oleifera
A M. Oleifera é vista como planta da vida,
planta de milagres, benção de Deus ou
ainda de planta do futuro por ter muitos
beneficios sociais e económicos. Porém, em
muitos países, a planta ainda não é muito
conhecida.
Da Moringa, as vagens e as sementes, as
folhas e as raízes, são as partes que são
mais exploradas comercialmente. As
vagens são comercializáveis. Na Índia,
quando verdes, são cortadas em secções,
enlatadas e exportadas para a outros
paises asiaticos, Europa e Estados Unidos
da América. As sementes, pelas suas
potencialidades para a produçao de óleo,
sabão e biocombustíveis, abre
oportunidades de criação de investimentos
agroindustriais.
A existência de pequenas e médias
agroindústrias pode incentivar o fomento
da Moringa ao nível familiar, constituíndo
deste modo um mercado dos seus
produtos. Tal como as folhas, as raízes
podem ser processadas e comercializadas
para fins nutricionais e/ou medicinais. O
fomento da Moringa ainda pode incentivar
a criação de viveiros e a venda de mudas,
criando-se outra fonte de receita às
famílias (fig. 30).
Fig. 30: Viveiro de Moringa
18
É de salientar que, na composição quimica
da Moringa, constata-se a existência de
fósforo. Com isso, à semelhança de
algumas escolas do Brasil, ao nivel das
nossas escolas, e sobretudo rurais, pode-se
promover campanhas de plantação,
processamento e consumo da Moringa,
aumentando deste modo o rendimento
escolar. Estas actividades podem ainda
enquadrar-se no conteúdo de
aprendizagem das ciências naturais, no
âmbito dos 20% do currículo reservado à
aspectos ambientais e na iniciativa
presidencial, um aluno uma planta.
Portanto, com a concepção de projectos
relacionados com a produção,
processamento e utilizaçao da Moringa,
desenvolvem-se várias áreas
sócioeconomicas. Aumentam-se os
rendimentos agropecuários, a nutrição e
saúde humana, os rendimentos escolares,
criam-se novos postos de emprego e fontes
de receita. Consequentemente, cria-se o
bem estar nas familias e o desenvolvimento
comunitário.
3.10. Outros usos
A árvore é ornamental, florescendo quase o
ano todo. Em alguns lugares são usadas
como árvore de sombra e para a vedação
viva (fig. 31). As flores da Moringa também
podem ser usadas para decoração e são
muito procuradas pelas abelhas para a
produção do mel (Moroyi, 2006).
Fig. 31: A copa da Moringa faz uma boa sombra
Em Umguza, no Zimbabwe e outras áreas
áridas, devido a escassez de lenha, a
população recorre a Moringa para a
obtenção do combustivel lenhoso. O melhor
que tem é que a ela é perene, podendo
obter lenha durante o ano todo. As
longalinas da Moringa ainda sao usadas
para pequenas construçoes. Elas nao sao
resistentes aos termites, a chuvas e a
humidade, por isso nao convem para a
construçao de casas (Moroyi, 2006).
O Sr. Daniel, um camponês do distrito de
Manica, tem experiência de uso de Moringa
para vários fins. Segundo ele a Moringa
podem ser utilizada para a conservação de
alimentos:
"O sumo das folhas, se for aplicado em
alimentos como peixe e carne, retarda a
sua a putrefação. O que acontece é que
a seiva contém produtos que funcionam
como repelente às moscas e outros
microganismos e, assim, os alimentos
resistem uns dias, num local fresco,
sem necessitar de algum congelador".
19
Portanto, com a divulgação da Moringa,
enquanto uns despertam o interesse de
pesquisar mais sobre as suas utilidades,
outros desenvolvem diferentes experiências
piloto e demosntações práticas no campo.
Assim, vai-se sabendo mais sobre Moringa,
desenvolvem-se variedades de Moringa,
analizam-se os rendimentos agropecuários
e escolares, a situação de saude, etc, etc.
Com isso, a Moringa tem um papel
fundamental de ponto de vista de
desenvolvimento de pesquisas.
A Moringa ainda serve para limpar
utensílios domésticos. As folhas são
esmagadas e utilizadas como detergente
(HDRA, sd).
O tronco da Moringa serve para fazer
papel. Produz ainda uma resina viscosa
usada na indústria têxtil. A casca serve
para fazer corda ou esteiras (HDRA, sd).
4. Como a Moringa pode ser
ambientalmente muito útil?
Do ponto de vista ambiental, a Moringa já é
usada para vários fins. Ela serve de
quebra-vento, utiliza-se como fertilizante e
biopestecida. Ela constitui uma fonte
importante de néctar, permitindo a
polinização das plantas.
O seu papel ambiental, associado ao uso
alimentar, nutricional e medicinal e ao
rápido crescimento, mesmo em áreas com
solos pobres, torna a Moringa uma planta
potencial para o florestamento/arborização.
O aspecto mais interessante nisso é que as
famílias vem muitos benefícios que podem
obter à curto prazo. Com isso,
facilcilmente poderão aceitar o
reflorestamento e sua aplicação para outros
fins ambientais.
Deste modo, o seu plantio em programas
integrados de gestão dos recursos naturais
pode jogar um papel fundamental na
prevenção da erosão dos solos, da
desertificação e das queimadas
descontroladas e na redução do
desflorestamento. Consequentemente,
pode contribuir na prevenção das
mudanças climáticas.
A erosão pode ser prevenida através da
utilização da Moringa e das suas folhas
como coberturas viva e morta8
respectivamente. Com a plantanção da
Moringa em sistemas agroflorestais e como
quebra-vento, reduz-se a erosão eólica.
Portanto, com o uso destas boas práticas,
melhoram-se os solos e as famílias
permaneceram na mesma parcela por
muito tempo. Isto, pode ser aproveitado
para a facilitação da agricultura
sustentável.
Consequentemente, previne-se a
degradação da terra. As queimadas
descontroladas, os índices de
desflorestamento e a degradação da
8 A cobertura morta refere-se ao material seco de plantas ou ervas da ninha que quando espalhado dentre as culturas tem varias funcoes. Reduz a radiçao solar no solo, conservado humidade; conserva o solo da erosao e melhora a sua estrutura. Por se misturar com outros tipos de ervas, no seu todo podem repelir as pragas e evitar doenças nas culturas.
20
biodiversidade baixam. Assim, previne-se a
desertificação.
A prevenção das mudanças climáticas seria
resultado da manutenção das manchas
verdes e do reflorestamento. Pois, com
isso, sequestra-se o carbono que iria
aumentar o efeito de estufa.
O uso da Moringa como fertilizante e
biopestecida também é de grande
importância ambiental. Reduz-se o uso de
químicos, que são tóxicos e causam
doenças e degradação da biodiversidade.
5. Proposta de um programa integrado de
gestão dos recursos naturais.
Neste trabalho propõe-se a realização de
várias actividades. Dentre elas mencionam-
se as seguintes:
• a agricultura sustentável. A ideia é de
promover a produção integrada onde
incluem-se as actividades agrícola,
piscícola, hortícola e apícola. Neste
programa não serão aplicados adubos
quimicos nem pestecidas e herbicidas.
Serão utilizadas técnicas de
conservação e melhoramento do solo,
fertilizantes orgânicos e biopestecidas;
• actividades nutricionais;
• medicina verde;
• purificação de água para o consumo
familiar;
• testagem de mecanismos de prevenção
das queimadas descontroladas e do
desflorestamento;
• uso de fogões poupa lenha;
• educação ambiental nas escolas e nas
comunidades e
• a produção de material de educação
ambiental.
Cada uma das actividades propostas deve
estar correlacionada com outras e, em
todas elas, a Moringa será utilizada.
Portanto, a criação de um lote de Moringa
será indispensável, dela garantem-se os
produtos que serão utilizando em diversas
áreas.
5.1. Enquadramento da gestão
integrada dos recursos naturais
A nível mundial, várias são as abordagens
de gestão dos recursos naturais que se tem
adoptado, umas bem sucedidas que outras,
de acordo com a realidade e especifidade
de cada país. Em Moçambique, até a
década de 90, a abordagem era
centralizada. Com a revisão da legislação
ambiental nacional a partir da a década de
90, nos últimos anos dá-se maior ênfase à
participação activa dos principais
intervenientes e, concretamente, no
maneio comunitário dos recursos naturais.
Porém, algumas iniciativas locais tem
falhado por vários motivos. Dentre eles, a
falta de incentivos ou de benéficio directos
e imediatos constitui uma das principais
causas. Com isso, a abordagem integrada
dos recursos naturais, onde cada parceiro
resposabiliza-se pela sua área parece ser
mais viável, pois traz alguma mudança no
bem estar das famílias (melhores
rendimentos agrícolas e segurança
alimentar, saude e nutrição, educação e
alfabetização de adultos, habitação e
21
saneamento do meio, rendimentos
complentares à agricultura, liderança e
gestão, etc) e uma boa gestão ambiental.
A Gestão Integrada dos Recursos Naturais
e do meio ambiente (GIRMA) é uma
abordagem que trata da gestão de todos os
aspectos da natureza de uma forma
abrangente. Envolve todos aspectos fisico-
naturais, administrativos, socioeconómicos
e culturais, respeitando a relação e a
dinâmica que se estabelece entre todos
eles, as especificidades de cada área e,
utiliza uma combinação de instrumentos e
técnicas, incluindo o planeamento
participativo. Deste modo, promove a
gestão e o desenvolvimento sustentáveis9.
5.1.1. A metodologia da gestão integrada dos recursos naturais.
São quatro fases essenciais que podemos
seguir para a gestão integrada dos recursos
naturais. A seguir descreve-se cada uma
delas.
Fase 1: Preparação
Esta fase seria praticamente a que
procuram-se os mecanismos de
envolvimento de todos os intervenientes do
processo. Tal como Tesser (2007) e
Policarpo & Dos Santos (2008), o primeiro
passo é a identificação, comunicação e
mobilização de todos os indivíduos, grupos
ou instituições envolvidas na gestão dos 9 O conceito de desenvolvimento sustentável reconhece que o bem-estar económico, a justiça social e os objectivos ambientais não podem ser dissociados e são interdependentes.
recursos naturais e no desenvolvimento
sócioeconomico e cultural local. Incluem-se
as comunidades locais, as ONG´s, as
instituições financiadoras e bancárias,
académicos, o sector privado e as
instituições governamentais. Portanto, é
importante que estes actores estejam
envolvidos desde a concepção da iniciativa,
de modo a definirem as actividades ou
acções que serão por si realizadas e que as
suas expectativas sejam satisfeitas.
Porém, de acordo com as especificidades
de cada actor, alguns estão directamente
envolvidas na implementação e outras
indirectamente. Segundo Brown et al
(2002), citado por Policarpo & Santos
(2008), também podem surgir interesses
divergentes entre os actores, criando
conflitos entre eles. Portanto, todos estes
aspectos merecem alguma análise com
vista a encontrarem-se melhores
alternativas de gestão integrada.
Ha várias formas de envolver os
intervenientes como: (1) contactos directos
e inquéritos separados, (2) encontros
abertos, (3) apresentações públicas, etc.
Cada uma delas será usada de acordo com
as especificidades de cada fase e de acordo
com o nível de participação de cada actor.
Nesta fase, segundo o sistema adoptado
por Tesser (2007), pode-se criar uma
Comissão Preparatória, que será
responsável pela definição de mecanismos
sobre os quais todo o processo deverá ser
desenvolvido, incluíndo aspectos dos
recursos humanos e financeiros
necessários. Para a criação dessa comissão,
é necessária a articulação entre todos os
22
actores envolvidos. Dentre os elementos da
comissão preparatória, podem se subdividir
em grupos para as áreas de comunicação,
mobilização, diagnóstico e propostas.
A Fase II, de diagnóstico,
Esta fase vai desde o inventário da situação
actual dos aspectos considerados
relevantes e acções já em
desenvolvimento, até a definição de
estratégias de acção para a gestão dos
recursos naturais da area proposta, como
resultado de encontros com os
intervenientes, incluíndo as comunidades
envolvidas.
É aquela na qual são estruturadas as
acções de maior participação pública e de
maior interação entre os diversos
instrumentos, valores e as preferências
locais serão inseridos no processo de
gestão, dando amplitude multidisciplinar à
questão e respeitando as peculiaridades
sociais e ambientais da área geográfica.
Nesta fase integram-se informações
ambientais, sócioeconomicas e culturais. A
tomada de qualquer decisão requer alguma
informação. Por isso, é importante que haja
informação de todas as áreas sectoriais,
incluíndo a legislacao existente para
garantir a tomada de melhores decisoes.
Contudo, a informação é apenas uma
condição necessária e não suficiente, pois a
qualidade das decisões depende ainda de
outros aspectos como a igualdade de
direitos no genero, posição social;
eficiência; eficácia; a legitimidade e a
confiança entre os actores (Policarpo & dos
Santos, 2008).
Fase 3: Estruturação de propostas
Esta fase será da estruturação das
propostas, incluíndo a definição de
indicadores, fontes de financiamento e
outras informações relevantes para a sua
implementação e acompanhamento.
Após a definição dos objetivos de longo
prazo sobre os quais serão estruturados os
programas, os projetos e as acções a
serem desenvolvidos por cada
interveniente, é fundamental que sejam
definidos os instrumentos necessários para
colocá-los em prática.
Segundo Tesser (2007), a primeira etapa
dessa fase diz respeito à definição das
perspectivas a serem utilizadas. A
perspectiva ambiental envolve elementos
relacionados ao meio ambiente,
preservação de áreas de preservação
permanente, à preservação da
biodiversidade, à poluição e a outros que
digam respeito à qualidade ambiental. A
perspectiva económica está relacionada a
questões que tratam de aspectos da
economia local, como renda da população,
nível de emprego e crescimento económico.
Após serem selecionadas as propostas a
serem levadas adiante, é necessário criar
uma série de indicadores de desempenho
para a avaliação dos resultados do projeto,
programa ou ação a ser desenvolvida. A
elaboração desses indicadores também
ficará sob a responsabilidade da comissão
23
de diagnóstico e propostas (Tesser, 2007).
Espera-se, dessa forma, obter indicadores
padronizados e uniformes possibilitando a
avaliação e o monitoramento.
Fase 4: Monitoramento e avaliação Nesta fase, o grupo executor deverá
regularmente fazer o acompanhamento dos
indicadores desenvolvidos nas etapas
anteriores, verificando a evolução deles em
relação aos resultados esperados. Este
processo facultará a realização das devidas
correcções ao longo da execução (Tesser,
2007). O grupo executor ainda irá definir um
período em que os intervenientes irão avaliar
o desenvolvimento da iniciativa. Dessa
forma, verifica-se a efetividade das propostas
colocadas em prática.
5.2. Proposta de acções - piloto
No âmbito das actividades de gestão
integrada dos recursos naturais propostas,
podem ser definidas várias acções. Neste
trabalho avancam-se apenas algumas,
relacionadas com a demonstração da
multifuncionalidade da Moringa, uma ligada
à outra.
5.2.1. Planeamento do uso de Terra.
O primeiro passo deve ser de planeamento do
uso do espaço. Enquanto que ao nível da
comunidade pode ser necessário que antes se
faça delimitação comunitária, ao nivel
familiar começa-se logo com o zoneamento
da parcela.
As condições fisico-geograficas, aspectos
sόcioeconomicos e culturais locais e
pespectivas de desenvolvimento são dos
principais aspectos que são postos em conta
no zoneamento comunitário. Ao nível
familiar, interessa mais saber qual seria a área
óptima para a fixação da residência; área com
bons solos para a produção agrícola ou
hortícola, a área para a floresta familiar, para
o pasto, curais, capoeiras, tanques de água e
pomar. Em função disso, produz-se algum
mapa que irá orientar a utilização do espaço.
Como exemplo de planeamento do espaço
familiar, em anexo apresenta-se o mapa feito
por uma família, em Chimoio, para a
implementação da pemacultura, um modelo
de agricultura sustentável que nas páginas
seguintes explica-se um pouco.
5.2.2. Mecanismo de prevenção às queimadas descontroladas.
Em relação às queimadas descontroladas
pode-se testar o uso de Moringa como
quebra-fogo. Imaginando nas plantações
da Moringa em cultivo intensivo, com um
espaçamento apertado e sempre verdes
(fig. 32 e 33), acredita-se que esta
experiência possa resultar.
24
Fig. 32 : Plantação de Moringa (por Marthur, 2006:
www. Treeforlife. Org)
Fig. 33 : Plantação de Moringa (por Marthur, 2006:
www.treforlife.org)
Nesta óptica, simplesmente faz-se o plantio
intensivo da Moringa, podendo combinar
com quaisquer plantas restejantes.
Planta-se a Moringa com um espaçamento
de 10 cm entre as plantas em pelo menos
duas faixas de 3m de largura junto das
principais entradas do fogo ou à volta da
machamba. As duas faixas podem estar
separadas por um corredor de apenas por
1m, para facultar o maneio das plantas.
Para a criação de uma copa mais frondosa,
as plantas seriam podadas a partir de 60cm
de altura.
O uso múltiplo da Moringa (alimentício,
nutricinal, medicinal, obtenção do néctar
para a apicultura, agropecuário, quebra-
vento, cerca, etc) seria o grande incentivo
que as famílias teriam para aderir a
iniciativa. Porém, no início seria necessário
um trabalho de sensibilização.
Espera-se que, com esta ideia,
experimente-se a iniciativa numa parcela
qualquer ou numa escola rural. A
documentação de todos passos permitirá o
acompanhamento das acções e avaliação
da iniciativa10.
5.2.3. Desenvolvimento da apicultura
Esta actividade tem benefícios
sócioeconomicos e ambientais, pois serve
para a alimentação /nutrição, comércio,
medicina, polinização de certas culturas e
pode jogar um papel fundamental na
prevenção às queimadas descontroladas.
Plantando Moringa, associadas à plantas
melíferas indigênas que possam existir na
floresta familiar proposta no planeamento
do uso do espaço (anexo 1), hortícolas, a
água que dispõe nos tanques propostos no
anexo 1, as condições necessárias para o
fluxo de abelhas e a instalação de um
apiário estão criadas. Então escolhe–se um
local ideal para o efeito. O melhor seria
distante da habitação e das principais vias.
As colmeias podem ser feitas de material
simples como capim trançado ou esteiras
cobertas de plástico preto e capim por cima
10 Para mais informações, troca de experiências, etc, escreva para [email protected]
25
para melhor abrigar as abelhas das chuvas
e evitar pragas. A colmeia terá um
esqueleto feito de ramos de plantas em
forma cilíndrica. Evite o uso de cascas de
árvores para fazer colmeias porque pode
matar as plantas e contribuir para o
desflorestamento. Mas, os troncos secos
podem ser utilizados para fazer cortiços e
podem levar muitos anos.
A grande correlação que se estabelece
nesta actividade é que, enquanto o mel
constituir uma fonte complementar de
rendimento e um alimento muito
importante para a saude e nutrição, as
famílias sempre procurarão proteger a área
à volta do fogo e assim evitam as
queimadas descontroladas. Se plantando
Moringa atratem-se muitas abelhas e evita-
se o fogo, aqui esta mais uma razão para
uma possível aderência à experiência do
uso da Moringa como quebra-fogo. Porém,
serão necessárias algumas acções de
sensibilização e capacitação para a adopção
de boas práticas de produção e extracção
do mel, para assegurar a sua qualidade e
comercialização.
5.2.4. Fertilização verde de parcelas
Para a experimentação desta prática, divida
a sua área de cultivo em duas. Numa parte
continue a cultivar normalmente como
antes e, noutra, faça o seguinte:
• quando cairem as primeiras chuvas,
semeie a Moringa com um espaçamento
de 10 por 10 cm;
• a partir do dia que germinar, conte até
ao 25º dia;
• daí remova o solo com as plântula e
• a seguir, semeie normalmente a sua
cultura.
Os cuidados que vai prestar deverão ser os
mesmos paras as duas áreas. Depois da
colheita, faça uma avaliação e veja a
produção que teve em cada uma das áreas.
5.2.5. Conservação de água e seu
tratamento para o consumo.
Em muitas áreas áridas há grandes
problemas de água. Mas, das poucas
chuvas que tem caído, pode-se conservar
alguma água em cisternas ou tanques.
O que faz-se é construir cisternas ligadas
às caleiras das casas, de modo a captar as
águas dos tectos. Porém, passado algum
tempo, elas podem tornar-se impróprias
para o consumo e, sobretudo, quando a
cisterna estiver mal conservada.
Para assegurar a obtenção de água potável,
podemos utilizar várias formas de
purificação da água. Dentre os sistemas
mais simples há o do filtro de brita com
areia e através da semente da Moringa.
Neste ultimo processo, as bactérias são
desifectadas em cerca de 90 à 99%, o que
significa que deve ser complementado com
um outro. A exposição da água purificada
aos raios solares durante 6 horas pode ser
uma alternativa. Ela não tem custos e é
muito simples.
Põe-se a água num frasco transparente até
enchê-lo completamente e fecha-se. Daí
26
expõe-se aos raios solares durante 6 horas.
Recomenda-se que a superfície onde
pomos o frasco seja de cor preta para
acumular muito calor.
5.2.6. Produção integrada de peixe,
aves, hortícolas e outras culturas
Para a implentação desta ideia, deverá
escolher uma área onde vai criar um
tanque usado para a criação de peixes,
produção de fertlizante líquido, irrigação e
natação de patos l (fig. 34). O tanque deve
ser circular, com um raio de pelo menos
3m. A profundindidade vai ser variada da
superfície ao fundo. Abre-se de forma
côncava até atingir 2m ao centro do círculo.
À volta do tanque, faça mais um círculo de
3m de raio. Neste círculo construa algumas
capoeiras elevadas, cujos compartimentos
prologam-se acima do tanque. Este
prolongamento permite que o escremento
das aves caia no tanque e sirva de alimento
para os peixes. Os patos por vezes estarão
na água e lá vão deitar o seu escremento.
Fig 34: Tanque usado para piscicultura, adubo líquido
e irrigação da horta (de Marcos, 2005)
O escremento, para alem de alimentar o
peixe, enriquece a água com nutrientes
essenciais para a fertilização das hortas.
Portanto, a água, para além de servir aos
peixes, será utilizada para a irrigação.
A água que irá utilizar no tanque de peixe
pode obter de um poço, furo, rio, cisterna
ou traz de qualquer outro lugar. Se na sua
parcela pode facilmente fazer um poço,
procure por bombas simples de corda (rope
pump) e faça um tanque de água junto do
círculo inicial para a conservação de água.
As hortícolas estarão noutros três círculos,
construídos à volta do círculo das capoeiras
em forma de escadaria. O primeiro circulo,
junto do tanque de peixe, fica mais elevado
e os outros subsequente, decaído um após
outro. Isto faculta a irrigação das hortícolas
e outras culturas por gravidade e via
subterrânea. E para evitar que as galinhas
comam as hortícolas, o primeiro círculo
veda-se dos outros através de uma rede.
Para complementar a alimentação do peixe
ainda pode dar térmites, composto, farelo,
matapa e resto de comida, etc.
Experimente ainda misturar a ração com
proteinas da Moringa.
Durante a noite os peixes ainda podem se
alimentar de inséctos atraídos por uma luz.
Para isso põe-se barotes em forma cónica
(fi. 34), cujo topo fica bem no centro do
tanque há uma altura de mais ou menos 2-
3m e põe-se uma luz, um candieiro bem
protegido ou uma lanterna. À medida que
os inséctos forem caindo, servem-se aos
peixes.
27
Depois dos três círculos de hortícolas,
fazem-se ainda outros três, com as
mesmas dimensões, para a produção de
outras culturas como os cereais. Estas
culturas podem ser postas com algumas
plantas bem dispersas (sistema
agrosilvicultural) e, a Moringa, fruteiras,
plantas usadas como biopestecidas ou
hervas medicinais seriam as ideiais.
Porém, tanto nos círculos das hortas como
noutros a seguir, identificam-se áreas e
espécies de plantas medicinais que podem
ser cultivadas em canteiros ou em
consociação com as outras culturas.
Dos círculos dos cererais fazem-se ainda
dois últimos para a protecção do sistema.
Aquí plantam-se árvores que servirão de
quebra-vento, quebra-fogo ou impedem a
entrada de pragas, etc, etc.
Este sistema proposto chama-se Mandala.
Foi desenvolvido por um pesquisador
chamado Willy de paraíbas, no Brasil que o
chamou de Mandala. Mandala, em sânscrito,
antiga língua da Índia, significa círculo. Hoje é
muito desenvolvido no Brasil e está
melhorando muito os rendimentos
familiares. A concepção deste sistema
inspirou-se no modelo de desenvolvimento
integrado designado Permacultura e no
sistema solar, onde o sol é o centro
(www.agenciamandalla.org.br).
A permacultura é um modelo sustentável
de desenvolvimento ambiental, económico
e culturalmente viável (Marcos, 2005). É
ambientalmente viável por integrar boas
praticas de gestão dos recursos naturais.
Economicamente viável por ter em vista o
bem estar das famílias. E, por conciliar o
conhecimento e hábitos locais é
culturalmente viável.
Difere-se da agricultura de conservação
pelo planeamento e colocação de todos
os elementos do espaço de forma a
que entre eles se correlacionem tal como
de um ecossistema se tratasse. Isto
significa que os seres vivos (homens,
animais, as plantas, microganismos), o
solo, as rochas, o clima, a topografia, a
água e todas fontes de energia são todos
parte de um todo.
Neste programa, tentou-se simplificar os
passos para a implementação da
permacultura. Dentre os principais aspectos
que devem ser salientados, deixando de
lado as éticas e os princípios da
permacultura, são:
• uso de técnicas de conservação e
melhoramento dos solos (coberturas
vivas e morta, abubos liquidos,
compostagem11, terraçamento, uso de
capim vertiver, construção de valas e
barreiras de pedras, etc);
• a não aplicação de químicos (utilizam-
se fertilizantes orgânicos e
biopestecidas) e
• o uso de processos de conservação de
sementes e de cereais.
11 Compostagem é técnica de produção de mistura decomposta de resíduos vegetais e animais biodegradáveis, com areia em condições que, com humidade e ar, microorganismos, o material se decompoe em humus que aplica-se no melhoramento da fertilidade dos solos.
28
5.2.7. Criação de um lote de Moringa
para a exploração múltipla
Para a obtenção de folhas (caril,
compostagem, foragem, remédios e fins
nutricionais), sumo das folhas da moringa
(para o seu como fertilizante e
biopestecida), vagens (alimentação),
sementes (para sementeira, alimentação,
produção de óleo e fins medicinais) e
desenvolvimento da apicultura (obtenção
de néctar), faz-se um lote de Moringa com
diversas faixas. Umas com espaçamento
apertado e outras não.
Às faixas reservadas para a produção de
folhas usa-se espaçamento de 10cmx10cm
em faixas de 3m de largura. Para a
plantação use estacas de 50cm de altura.
Esta faixa devera estar junto do limite para
servir de quebra fogo.
As faixas que poderao produzir vagens
serao ainda feitas com base em estacas de
50 cm. O espaçamento será de 5m /5m
entre as plantas. A largura tambem pode
ser de 3m.
O uso de sementes seria reservado apenas
para a faixa de produção de biopestecida e
fertilizante. Isto deve-se ao facto de requer
o uso de plantas com apenas 40 dias. Aqui
tambem faz-se um cultivo intensivo.com
espaçamento de 10cm/10cm.
5.2.8. Produção de material de
Educação Ambiental
À medida que testa-se cada uma das
actividades, é importante documentá-las.
Todas experiências e boas práticas são de
extrema importância histórico-cultural,
científico e educacional. Elas permitem a
compreensão das acções de divulgação,
investigação e das mudanças dos hábitos
de produção e alimentação. Também
constitui uma base essencial para a
educação ambiental.
Numa primeira fase, procurar-se-á
produzir folhetos, brochuras e videos para
as comunidades o ensino primário.
Dentre o material a produzir, deverá
procurar fazer a interligação do uso da
Moringa com acçoes ambientais. Para além
das acções propostas, os intervenientes
podem incluir outras actividades de
divulgação ambiental e desenvolvimento
sócioeconomico local.
Assim, a medida que o material for saíndo,
é importante que seja difundido e utilizado.
Por ser ser feito numa perspectiva de
desenvolvimento integrado, pode ser
utilizado por diversos intervenientes como
da saúde, educação, ambiente, ONG e
financiadores ligados às àreas de
desenvolvimento sócioeconomico, cultural e
ambiental.
1
6. Referência bibliográfica
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FOILD, N; Makkar, H.P.S & Becker, K: The Potential Of Moringa Oleifera For Agricultural
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MARCOS, Valeria de: Construíndo Alternativas, a Produção Agroecológica através da
Mandala, Artigo apresentado ao III Simpósio Nacional de Geografia Agrária e II Simpósio
Internacional de Geografia Agrária, 2005
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29
1
POLICARPO, Mariana Aquilante & DOS SANTOS, Claudina Regina: Proposta Metodologica de
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Páginas consultadas:
http://www.asiangreenfields.com/moringa-products.htm
http://www.echonet.org/pub&stores/atozhtml
www.agenciamandalla.org.br www.treeforlife.org
30
2
Cerca de moringueiras
viveiro
Floresta familiar
Pasto
Cultivo
Horta
Casas
T. peixe Capoeira
Tanquess de peixe
Jardim/ com Moringa
Anexo 1: Exemplo de planeamento de uma quinta
Cural
Pomar
Tanque de agua
Tanque de agua
31