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^^o roA NH CAirrii Ano1 -N?4 das Associações de Moradores de São João de Meriti Edição Especial ABM decreta: estado de calamidade pública em São João de Meriti r EDITORIAL SAOJOÃODE MERITI ESTA ARRASADO. A CALAMIDADE RONDA AS RUAS, CASAS EA VIDA DE TODOS OS MORADORES. MUITOS PERDERAM CASAS, MOVEIS E ROUPAS, ENQUANTO OUTROS MORRERAM OU VIRAM SEUS PARENTES SEREM TRAGADOS PELA ÁGUA. AS FORTES CHUVAS DE FEVEREIRO ATINGIRAM TODO O ESTADO DO RIO DE JANEIRO, MAS FOI SOBRE OS BAIRROS POPULARES, FAVELAS E CIDADES POBRES- ESPECIALMENTE A BAIXADA FLUMINENSE -QUE A CALAMIDADE FEZ MAIS VITIMAS. POR QUE? ACREDITAMOS QUE DEUS NAO É O RESPONSÁVEL POR TUDO ISSO ESIM OS HOMENS, O PODER PÚBLICO, EA MANEIRA COMO ELE SE RELACIONA COM A NATUREZA E ORGANIZA AS CIDADES ATRAVÉS DA POLiTlCA URBANA. O MOVIMENTO POPULAR HA MUITO TEMPO VEM DENUNCIANDO ESSA SITUAÇÃO E LUTANDO PELO SANEAMENTO BÁSICO, PELO DIREITO A UMA VIDA COM DIGNIDADE-COM OFERTA DE TODOS OS SERVIÇOS ESSENCIAIS - PELO RESPEITO A PARTICIPAÇÃO ATIVA DA POPULAÇÃO NAS DECISÕES. É A LUTA PELA CIDADANIA DO POVO. "A ABM DENUNCIA A FORMA IRRESPONSÁVEL COMO O PODER PÚBLICO RESPONDEU AS REIVINDICAÇÕES. POR SUA VEZ, NAO TEM CUMPRIDO SEU PAPEL COM EFICIÊNCIA E RESPONSABILIDADE: O ATENDIMENTO IMEDIATO DA POPULAÇÃO ATINGIDA PELAS ENCHENTES. O VAZIO ADMINISTRATIVO SE INSTALOU EM MERITI, QUE ESTA JOGADO AS TRAÇAS. DIANTE DO CAOS, A ABM DECRETA ESTADO DE CALAMIDADE PUBLICA MUNICIPAL E CHAMA A TODOS PARA SE ORGANIZAREM NAS ASSOCIAÇÕES DE MORADORESE LUTAREM COM ESPERANÇA E CORAGEM POR UM NOVO SAO JOÃO DE MERITI. AUNIAO É NOSSA ARMA. Os números da tragédia Pág. 2 A drenagem e canalização do Rio Sarapuí é a reivindicação mais urgente do Movimento Popular da Baixada Fluminense. Ele nasce no Gericinó, atravessa Nilõpolis, Caxias, Nova Iguaçu e Meriti. Se o Governo do Estado cumprisse suas promessas, o Sarapuí não teria causado tantos transtornos. Depois da tempestade, a reconstrução Baixada exige. Saneamento Já!

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^^o roA

NH CAirrii Ano1 -N?4 das Associações de Moradores de São João de Meriti Edição Especial

ABM decreta: estado de calamidade pública em São João de Meriti r

EDITORIAL

SAOJOÃODE MERITI ESTA ARRASADO. A CALAMIDADE RONDA AS RUAS, CASAS EA VIDA DE TODOS OS MORADORES. MUITOS PERDERAM CASAS, MOVEIS E ROUPAS, ENQUANTO OUTROS MORRERAM OU VIRAM SEUS PARENTES SEREM TRAGADOS PELA ÁGUA.

AS FORTES CHUVAS DE FEVEREIRO ATINGIRAM TODO O ESTADO DO RIO DE JANEIRO, MAS FOI SOBRE OS BAIRROS POPULARES, FAVELAS E CIDADES POBRES- ESPECIALMENTE A BAIXADA FLUMINENSE -QUE A CALAMIDADE FEZ MAIS VITIMAS. POR QUE? ACREDITAMOS QUE

DEUS NAO É O RESPONSÁVEL POR TUDO ISSO ESIM OS HOMENS, O PODER PÚBLICO, EA MANEIRA COMO ELE SE RELACIONA COM A NATUREZA E ORGANIZA AS CIDADES ATRAVÉS DA POLiTlCA URBANA.

O MOVIMENTO POPULAR HA MUITO TEMPO VEM DENUNCIANDO ESSA SITUAÇÃO E LUTANDO PELO SANEAMENTO BÁSICO, PELO DIREITO A UMA VIDA COM DIGNIDADE-COM OFERTA DE TODOS OS SERVIÇOS ESSENCIAIS - PELO RESPEITO A PARTICIPAÇÃO ATIVA DA POPULAÇÃO NAS DECISÕES. É A LUTA PELA CIDADANIA DO POVO. "A ABM DENUNCIA

A FORMA IRRESPONSÁVEL COMO O PODER

PÚBLICO RESPONDEU AS REIVINDICAÇÕES. POR SUA VEZ, NAO TEM CUMPRIDO SEU PAPEL COM EFICIÊNCIA E RESPONSABILIDADE: O ATENDIMENTO IMEDIATO DA POPULAÇÃO ATINGIDA PELAS ENCHENTES. O VAZIO ADMINISTRATIVO SE INSTALOU EM MERITI, QUE ESTA JOGADO AS TRAÇAS.

DIANTE DO CAOS, A ABM DECRETA ESTADO DE CALAMIDADE PUBLICA MUNICIPAL E CHAMA A TODOS PARA SE ORGANIZAREM NAS ASSOCIAÇÕES DE MORADORESE LUTAREM COM ESPERANÇA E CORAGEM POR UM NOVO SAO JOÃO DE MERITI. AUNIAO É NOSSA ARMA.

Os números da tragédia

Pág. 2

A drenagem e canalização do Rio Sarapuí é a reivindicação mais urgente do Movimento Popular da Baixada Fluminense. Ele nasce no Gericinó, atravessa Nilõpolis, Caxias, Nova Iguaçu e Meriti. Se o Governo do Estado cumprisse suas promessas, o Sarapuí não teria causado tantos transtornos.

Depois da tempestade,

a reconstrução

Baixada exige. Saneamento Já!

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PAG. 2 ABM NOS BAIRROS

A cidade abandonada Os números da tragédia São João de Meriti, com apenas 34km2/ foi bastante

atingido pelas enchentes, ao contrário do que a popula- ção pode pensar, devido à ausência de noticiários e infor- mações sobre o município. Melhor do que ninguém, os números falam desta triste realidade. O jornal ABM NOS BAIRROS mostra um primeiro balanço das conse- qüências da enchente. Entretanto, a estimativa pode ser acrescida de áreas e casas ainda não cadastradas. LOCAL COISiTATO FAMÍLIAS

CADASTRADAS

Vila União Adelaide 164

Jardim Metrópole Cota 500

Jardim Sumaré Penha 38 Vila Rosali Sérgio 41 Guarany Marly 71 Praça da Bandeira Balbina 104

Trio de Ouro Parque Independência

José Francisco

Iraci

99

173

Santa Clara Ana 61 Parque Juriti Severino 454

Jardim Noia Messias 642

Jardim Paraíso Santana 508

Vila São João Augusto 77

Parque Analándia Antônio 316

Vila Norma Lourdes 184

N.S. Fátima Washington 123

S. João Batista Leonel 86 Fav. Villas Boas Manoel 276

Comunidade S. Cecflia Otto 38

Bairros atingidos: 32 Famílias cadastradas: 4175- Desabamentos: 55 Desabrigados: 356 famílias Mortes: 13

Fonte: Comissão Solidariedade Meriti Dados coletados até 24/2/88

Quem são os Responsáveis? O povo simples, pobre, tra-

balhador, sem condições de moradia digna, não tem infor- mações. Por isso, não pode ser responsabilizado por construir casas .em locais impróprios, nem por jogar lixo nos rios ou na rua. O poder público, res- ponsável pela administração da cidade, tem a obrigação de re- colher o lixo, planejar mora- dias, informar a população e fazer as obras de saneamento básico e infra-estrutura das ci- dades.

O governo agiu com irres- ponsabilidade diante das rei- vindicações do movimento po-

pular, ao deixar de atender a necessidade de saneamento bá- sico em Meriti. Ao mesmo tempo, teve uma ação precá- ria porque não conseguiu con- trolar a situação. A adminis- tração municipal é o pequeno elo no molho de chaves da po- lítica discriminatória que pri- vilegia os bairros ricos, as gran- des empresas e o lucro de uma minoria, a responsável pela ausência de uma política urba- na que atenda os interesses de toda a população. O poder público, nas' esferas munici- pal, estadual e federal, é o cul- pado por essa política discri- minatória e assassina.

WÊÊÊÊÊÊÊÊÈÊà

Lama, lixo e esgoto: o dia-a-dia dos bairros

E agora, José? Vivemos um momento gra-

ve, com problemas de difrcil solução a curto prazo. No entanto, as saídas existem e vem acompanhadas da união, organização e luta. De ime- diato, a comissão integrada por várias entidades organiza os fla- gelados, com a distribuição de alimentos, roupas, colchonetes e abrigos. Porém, estas ações não respondem a pergunta. Nas primeiras reuniões e dis- cussões visando uma solução a médio/ longo prazo, surgiram as seguintes propostas:

Alimentação - a questão

do abastecimento alimentar precisa ser discutida e o acesso aos alimentos da cesta básica, garantido através da criação de um centro de abastecimento popular.

Moradia - Os próximos re- cursos adquiridos devem ser destinados á reconstrução e re- forma das casas destruídas pe- las enchentes.

Participação — a participa- ção do movimento popular nas decisões do poder públi- co é a forma de democratizar as cidades

A Prefeitura pode de- sapropriar terrenos para a cons- trução de casas, transferindo os desabrigados para locais mais seguros.

Saneamento Básico - Deve- mos continuar a luta pelo sa- neamento básico e por uma política urbana que solucione definitivamente o problema da moradia

Organização - todos de- vem manter-se organizados nas associações de moradores, mes- mo após o fim das chuvas. A uniSo e organização são nossa maior arma.

Qual a causa da tragédia? Muitas são. as opiniões sobre

as causas da tragédia. O objetivo é justamente confundir o povo e mantê-lo desinformado sobre a verdade. Vejamos um por um os principais motivos apon- tados pela opinião pública, e o que têm de verdadeiro.

A chuva é a causadora de tu- do? Não. A chuva é um fenô- meno da natureza que sempre conviverá com a humanidade. Os homens, ao construírem suas casas e cidades, devem sa- ber proteger-se, criando condi- ções dignas de vida e moradia.

Muitas cidades brasileiras não sofrem nada, ou muito pouco, com os temporais. Mesmo ao enfrentar enchentes, a socieda- de deve estar preparada para o atendimento imediato da popu- lação prejudicada e para o repa- ro dos danos. Isto é responsa- bilidade de todos e dever do po- der público, que representa e administra a cidade.

São Pedro, São Sebastião ou Deus são responsáveis pela tra- gédia? Não. Deus só deseja o bem da humanidade, que na sua liberdade escolhe o capii- nho, faz sua história. É fácil

responsabilizar santos ou qual- quer divindade para esconder erros e irresponsabilidades dos homens.

A falta de saneamento básico é um dos problemas? Sim. Se nossos bairros tivessem sanea- mento básico os rios estariam limpos, canalizados; os esgotos não estariam entupidos, a água da chuva iria correr livremente pelas tubulações; o lixo seria recolhido e a cidade, urbanizada. Enfrentaríamos outra situação e não teríamos problemas ou, ao menos, eles seriam bem meno- res e mais fáceis de se resolver.

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ABM NOS BAIRROS PAG. 3

AGARRA DIANTE DA

CATÁSTROFE

t» •

Uma das reuniões do Comitê de Solidariedade

Morte e doenças seguem a correnteza Com as enchentes surgiram,

além dos problemas de alimen- tação e moradia, as doenças. A Secretaria Municipal de Saúde de São JoSo de Meriti teve par- ticipação ativa no comitê de So- lidariedade. A coordenação foi da médica Assunción Sole, que contou com equipe da Prefei- tura, médicos do Estado, tnamps e voluntários que atenderam des- de casos de diarréia até leptos- pirose e hipertensão arterial.

O médico llson Peixoto, da equipe da Secretaria Municipal, informou dados que ilustram o trabalho da equipe médica. Fo- ram atendidas 519 pessoas até o dia 24, com 18 casos de leptos- pirose (doença transmitida pela urina do rato) e uma morte. No Estado registrou-se 223 casos (morreram 10 pessoas).

Para atender melhor a popu- lação, a equipe resolveu divi- dir-se em sub-equipes que estão trabalhando em nove postos avançados nos bairros mais atin- gidos. Junto com o Estado, ela realizou um trabalho de vigilância epidemiolõgica para os casos de lepitospirose, com

acompanhamento, internação das pessoas contaminadas, comu- nicação permanente com o Go- verno Estadual e transferência dos casos graves para hospitais bem equipados.

As doenças mais freqüentes são diarréia, doenças de pele, hipertensão arterial e problemas psicossomáticos (nervosismo, etc). Os médicos fazem as se- guintes recomendações: toda água deve ser fervida antes de beber; em caso de sintomas como dores no corpo, no mús- culo, cabeça ou febre intensa, procure um médico. Outras informações com a médica Assunción, no Ciep ao lado do 21? Batalhão.

Os nove postos avançados funcionam nos bairros Jardim Nóia (brizolinha),-Jardim Pa- raíso (Colégio Municipal Jere- mias Fontes) e Jardim Metró- pole (Ciep), Parque Juriti (Co- légio da Associação de Mora- dores!, Éden (Ciep) e Parque Independência (Centro Espíri- ta Caboclo Serra Negra), Co- munidade São Marcos, Parque Analândia e Ciep 135 Lima Barreto (Posto Central).

Roupas e mantimentos chegam de várias partes do estado e são separados por voluntários

Movimento Popular se organiza e enfrenta a realidade Diante da calamidade, o po-

der público municipal teve uma atuação que não correspondeu à gravidade do momento. Sem controle e organização, a Prefei- tura municipal foi incapaz de dar uma resposta ao problema dos flagelados. Somente com a or- ganização das AM e das comu- nidades católicas as soluções sur- giram, permitindo a organização do movimento.

A partir daí", criou-se a co- missão de solidariedade, que de- pois passou a contar também com a prefeitura. O comitê organizou o auxilio às vítimas, fazendo o cadastramento, con- tatos com instituições e distri- buição de alimentos. Com o agravamento da situação depois de 11 de fevereiro, a comissão passou a reunir-se diariamente com os representantes dos bair- ros afetados.

Durante o carnaval, presen- ciou-se um completo distancia- mento do poder público aos problemas municipais. Por sua vez, os noticiários da imprensa discriminavam a Baixada. A po-

pulação ainda não conhece a real dimensão dos problemas causados pelas enchentes. Os jornais privilegiaram primeiro Petrópolis, depois o Rio. Pou- cos ficaram sabendo que o sa- neamento feito aqui atende somente ao esgotamento sani- tário, insuficiente pois não re- solve o problema da água de chuva, da limpeza de rios e da urbanização. E no fim, trouxe mais dificuldades porque está entupido nos bairros onde as obras começaram.

A ABM teve papel funda- mental em todo o processo, com a participação em tempo integral do presidente Sérgio Bonato e do vice, Ury Gomes Machado, que coordenaram a campanha. O Comitê Político de Saneamento da Baixada con- tribuiu decisivamente para que a solidariedade aos flagelados se transformasse num movimento reivindicatório por melhores condições de vida. Personalida- des como Frei Atílio, Padre Miguel e o deputado Ernani

Caxias e Nova Iguaçu: retratos do caos

Os alimentos sSo Insuficientes para atender as necessidades

A Baixada Fluminense vive os mesmos problemas e partilha a mesma realidade. As enchentes em Caxias e Nova Iguaçu foram tão dramáticas quanto em São João de Meriti. Lá, o movi- mento popular é também o su- jeito de toda organização e luta dos flagelados. Em Nova Iguaçu, são mais de 15 mil desabrigados, em dezenas de bairros. Para citar os mais conhecidos: Lote 15, Heliópolis, Mesquita, Bom Pastor, que foram duramente

atingidos. São dezenas de mor- tos. A frente de toda organiza- ção estiveram o MAB, a Igreja, o Corpo de Bombeiros, a LBA e a Secretaria de Bairros.

No município de Duque de Caxias, os desabrigados chegam a 10 mil e 500 famílias perde- ram sua casa e seus pertencentes. Trinta e cinco bairros sofreram mais as conseqüências da chuva, como Imbariê e Gramacho e pi- lar, entre outros.

Coelho, único deputado de Me- riti presente na luta, tiveram participação marcante, sem con- tar moradores e líderes de vá- rios bairros.

Algumas pessoas ligadas ao Governo Municipal têm contri- buído bastante e a Secretaria Municipal de Saúde, com o médico Carlos Alberto e sua equipe.

As contribuições como bolsas de alimentos, roupas e dinheiro chegam de vários locais:

Estádio de Remo da Lagoa (donativos de todo o Estado) 16 toneladas

Igreja Católica de SJ. Meriti— 9 toneladas

Prefeitura - 13 toneladas FASE - 30 toneladas (ga-

rantidas)

Expediente: ABM Nos Bairros — Federação de Associações de Moradores de São João de Meriti. Fevereiro/88. Especial: enchentes Presidente: Sérgio Luiz Bonato. Fotos: Éscio Muniz Redação: Maria Bernadete Travassos e Orlando Júnior. Diagramação: José Gomes. Impresso na TRIBUNA DA IMPRENSA

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PAG. 4 ABM NOS BAIRROS

Baixada exige. Saneamento Já! "O poder público não levou

em consideração as reivindica- ções do Comite-Polftico de Sa- neamento da Baixada Fluminen- se, senão a tragédia da Baixada teria sido bem menor". A acu- saçSo foi do diretor da Fase e membro do Comitê, Jorge Flo- rêncio. A revolta da população chegou a tal ponto que dia 17 de fevereiro, quarta-feira de cin- zas, mil pessoas participaram de uma manifestação emGramacho, Duque de Caxias. Os morado- res jogaram no Rio SarapuC as cinzas de José Sarney e Moreira Franco.

O Comitê se reúne mensal- mente com o Secretário de De- senvolvimento Urbano, Haroldo de Matos e, nestes encontros, reivindica a unificação dos es- forços do Governo Estadual com os municCpios para tentar solu- cionar os problemas de sanea- mento. As reivindicações do movimento popular são esgota- mento sanitário, rede de águas pluviais, urbanização, tratamen- to de esgoto, manutenção, lim- peza e barragem de rios e afluen- tes que cortam a Baixada.

A história da luta pelo sanea- mento básico confunde-se com a trajetória da ABM. Pode-se

abrir o livro no dia 11 de no- vembro de 1984, quando 2 mil pessoas participaram de uma passeata de Vilar dos Teles ao centro de São JoSo, O próxi- mo episódio aconteceu sete dias depois, em Nova Iguaçu. Cinco mil pessoas se reuniram para, coordenados pelo MAB (N. Iguaçu), MUB (Caxias), ABM e Famerj, discutirem com o Go- vernador o saneamento global da Baixada.

Como o Governador não apa- receu, os moradores foram até ele dia 23 de novembro, emo- cionando o centro da cidade numa passeata da Central do Brasil até o Palácio Guanabara, que juntou 2 mil pessoas num só grito: A Baixada exige Sa- neamento Já! Deu resultado. Dia 7 de junho de 1985 o Go- verno do Estado assinou um convênio com o BNH entitu- lado "Plano Global de Sanea- mento da Baixada e São Gon- çalo".

O Governo Moreira Franco prosseguiu com as obras, porém de forma insatisfatória, porque não está se preocupando com a colocação de redes pluviais, tratamento do esgoto, manu- tenção e a limpeza dos rios.

Dois momentos do Sarapuí: mato cobrindo o canal auxiliar e construções na beira

Esgotamento Sanitário O esgotamento sanitário é a deve ser acompanhado de ralo

rede que, no sistema separador «nfonado, caixa de passagem absoluto, recolhe apenas o es- goto para o sistema de trata- e respiradouro. Estas normas mento. Dentro de cada lote técnicas não são cumpridas.

Tratamento O esgoto deve ser tratado

(eliminação de bactérias), para que antes de chegar à Ba (a de Guanabara tenha 90% das bactérias destruídas.

Microdrenagem ou Rede de Águas Pluviais Sistema que deve ser paralelo ao sistema

de esgoto para recolher a água da chuva e jogar no rio.

Manutenção Paralela à implantação do

sistema, uma equipe de manu- tenção deve estar pronta a re- solver os problemas da rede.

como entupimentos e danifi-

caç3o, e realizar um trabalho

de educação do morador.

Urbanização Asfalto, calçamento e

meio-feio. A urbanização é necessária para que o sistema não seja danificado através da erosão, peso, etc.

Limpeza e canalização dos rios. Os rios da Baixada preci-

sam ser limpos e canalizados, com manutençSo permanen- te, principalmente o Sarapuf, o Pavuna-Meriti e o Botas (N. Iguaçu). Existem pro- postas para solucionar os pro- blemas do SarapuT: constru-

ção de barragens e compor- tas na nascente do rio, loca-

lizada no Gericinó,que iriam controlar o fluxo da água,

abertura dos afunilamentos que estão sob as linhas fér-

reas em Gramacho, Caxias.

Um Governo que entope o esgoto

A história começou há qua- tro anos, com o infcio da luta pelo saneamento básico na Bai- xada, especialmente em Meriti. A moradora Zefinha, que de- pois veio a tornar-se presidente da Associação de Moradores do Parque Alian, exigia junto com os vizinhos o fim das valas abertas. O tempo foi passan- do, passeatas e reuniões acon- tecendo. Até que chegou o dia tão esperado, a Cedae entrou no bairro para realizar as obras.

Doce ilusão de Zefinha. A empreiteira abriu as ruas, colo- cou as manilhas para recolher o esgoto condominial e de- pois não aplanou as ruas es-

buracadas. Com a enchente de fevereiro, ela descobriu que o problema era bem maior: a firma não colocou caixa de passagem e ralo nas casas, por isso, o esgoto voltou para o vaso. Ilhados em suas casas, os moradores do Parque Alian começaram a destruir o siste- ma.

Hoje Zefinha tem ao lado de sua casa, na frente da barra- ca de seu Sebastião, o resulta- do da irresponsabilidade da Cedae. Assim como seu bairro, moradores da Praça da Bandei- ra, Parque Independência, Ma- tadouro, Jardim Meriti, Coelho da Rocha, Vila Norma e Éden vivem o mesmo drama. As crianças brincam perto do esgoto que estourou na rua Domalina, Parque Alian

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OS BAIRROS

X Ano 3-N.0 7 MARÇO/ABRIL 1989

A SAÚDE EM MERITI PG. 2 —| EDITORIAL I

?ASSAVA AS ELEIÇÕES

Iniciamos um novo ano com o Plano Verão do Governo enfiando em nós au- mento de preços maiores do que os au- mentos de salários, estamos sendo mais massacrados do que nunca.

As organizações de bairros de São João de Meriti, vem reivindicando da ABM um estudo sobre o que está acon- tecendo com nosso País, dizendo que não basta só lutar pelo bairro, na habi- tação, água, saneamento, saúde e etc, é preciso que as lideranças das Associa- ções de Moradores esclareçam a popu- lação por que estas coisas estão aconte- cendo. O que significa claramente que a fome está sendo o maior dos problemas e que é preciso buscar alternativas para a construção da cidadania.

Neste sentido: O que fazer para en- frentar o problema da fome e sair disso em São João de Meriti? Como as Asso- ciações de Moradores vão ajudar o povo não organizado a entender o empobre- cimento que estamos vivendo? De quem é a culpa disso que está acontecendo? por quê?

Estas perguntas se bem refletidas aju- darão a fazer a ligação das lutas especí- ficas com a questão geral do País, isso tem que ser feito hoje de qualquer jei- to, principalmente pelo fato que tere-

mos neste ano uma eleição presidencial, que irá sem dúvida levantar as grandes questões nacionais e se as organizações populares não se previnirem poderemos eleger 1 presidente mentiroso que pre- cisará do atraso da população para ele- ger-se como o salvador de nosso País. E isso é mentira.

Outra questão importante é a nova administração Municipal. É preciso mui- to cuidado com as promessas, denunciar como sempre fizemos tudo aquilo que vai contra a organização do povo exi- gindo do novo prefeito e vereadores que cumpram seu papel de lutar e realizar mudanças em nossa sofrida cidade, res- peitando a organização das Associações de Moradores. Acreditamos que mesmo com um quadro dos mais violentos e de calamidade que estamos vivendo, nun- ca podemos perder a esperança e a con- vicção que se estivermos organizados vamos mudar as coisas por mais difí- cil que seja a crise.

Neste sentido participamos da gre- ve geral e lutamos para criar em São João uma aliança das organizações que querem caminhar e combater a política atrasada, individualista para construir uma alternativa comum, e isso é urgen- te que aconteça hoje.

NESTE N.0 ENCARTE ESPECIAL SOBRE O

PROJETO RECONSTRUÇÃO

SANEAMENTO ■ A BRIGA CONTINUA E A ABM ESTA NA LUTA

PREFEITURA RECONHECE A FORC A DA ABM

IV. CONGRESSO DA FAMERJ

PG. 4

PG. 3

PG. 18

Os moradores em mutirão mostram que é possível mudar a cidade. Na foto, o engenheiro Abenza no Bairro Jardim Paraíso.

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Página 2 ABM nos Bairros

A SAÚDE EM SÃO JOÃO DE MERITI Falar de saúde em Meriti signifi-

ca que necessariamente se deverá bus- car a história da intervenção do po- vo que há alguns anos retomou o pro- cesso de organização e cidadania.

A história, como é contada nos livros escolares, costuma enfocar os fatos sob o ângulo daqueles que do- minam nosso país; é, por muito tem- po ainda, os poderosos vão tentar en- ganar o povo contando que as melho- rias nas condições de vida são favo- res que rievem ser agradecidos. Po- rém, e^tve uma outra "história" que os livros não contam. A história de como é que a população quando se une e vai á luta, conquista os seus sempre negados direitos de cidadania.

Assim sendo, travando lutas em diversas frentes, mas priorizando sa- neamento e saúde, foi que em S. J. de Meriti a ABM, juntamente com outros setores organizados da popu- lação, colocou uma cunha nos ve- lhos discursos das autoridades e con- quistou efetivas melhorias nas con- dições de vida de todos os Meritien- ses.

Quem não se recorda da nossa

luta pela reativação das obras do es- queleto? Foi em função das pressões do movimento que essas obras foram retomadas para a construção do PAM-PU em Vi lar dos Teles. E es- tamos atentos, pois há um (01) mês elas foram novamente paralisadas!

Foi a ABM quem solicitou da UFRJ o 1? diagnóstico de saúde de São João de Meriti, para a partir de dados concretos avançarmos na luta pela saúde pública.

Conquistamos, com nossas pres- sões, do povo organizado de São João, juntamente com Caxias, Nova Iguaçu e Nilópolis, o PESB (Progra- ♦ ma Especial de Saúde da Baixada). E af já estão funcionando as unidades mistas da Vila São João e Edem e em breve serão inauguradas as da Estra- da das Pedrinhas e Vila União.

Lembrando um trecho de um dis- curso recente do vice-presidente da ABM, Ury Gomes Machado: "Fo- mos nós, companheiros, o povo de Meriti, que conseguimos que o Hos- pital de São João assinasse o con- vênio com as AIS (Ações Integra- das de Saúde) para atender gratuita- mente a população, a partir de 1987;

que conquistamos as quatro unida- des mistas e que também consegui- mos, e que ninguém se atreva a dizer o contrário pois estará mentindo, o hospital público para São João que será construído em breve. Portanto, companheiros, não se iludam com a falácia oficial, ao povo é que se deve creditar os méritos destas vitórias..."

Aliás, é Imprescindível registrar, que de acordo com o 1.° diagnóstico de saúde de São João de Meriti, o setor municipal que mais cresceu no sentido da assistência à população, nos últimos anos foi a Saúde, e para surpresa de todos foi atingido em cheio pelas demissões do atual pre- feito, que resultaram em uma drás- tica redução do nível de atendimento à população. Por isso, a ABM exige que se concretizem as promessas do prefeito José Amorim, que em reu- nião com comissão de diretoria do movimento em 23 de janeiro deste ano, chegou a afirmar que sua secre- tária de saúde naquele exato mo- mento estava na Fundação Escola de Serviço Público (FEESP) tratando da realização de concurso público para a saúde.

A ABM na luta para que a saúde seja um direito

do cidadão e um dever do Estado

ALFABETIZAÇÃO Foi realizada no Jardim de Infân-

cia PIPA, através do CAC, um curso sobre Alfabetização baseado na teo- ria de Emilia Ferreiro.

Participaram 20 pessoas, em sua mjioria professores militantes do mo- vimento popular e sindical.

A avaliação da atividade foi boa e ficou a proposta do CAC ampliar a discussão à um número maior de educadores.

EXPEDIENTE

ABM NOS BAIRROS - Órgão oficial da Fe- deração das Associações de Moradores de São João de Meriti. Rua Luís Alves Caval- cante, 25, Vilar dos Teles, São João de Meri- ti, RJ-25500

I

Diretoria: Presidente: Sérgio Luiz Bonato Vice-Presidente: Ury Gomes Machado Secretária: Lúcia Helena Pereira Vice-Socretário: Décio França Tesoureira: Maria Adelaide da Silva Vice-Tesoureira: Adelar Pedro de David Oiretor-SMWwiMnto: Francisco Silva Rosemar Dias Diretor-Traraporta: Raimundo Soares Luiz Aguiar Dlretor-Saúda: Angelina Galizi Januário Figueiredo Diretor-Edueafi*: Maria da Conceição Carvalho (Nalu) Geni de Oliveira Formação: Joáb Boaeo Alberto Luiz da SüM Feminino: Maria de Fitima Ctuintiliano Zeelãnda Cândido imprensa: maria Barnadete Travassos Cultura: Edvaldo Ramos Abaatecimento: Joet Francisco de Almeida CoanHio Fiscal: efetivos - Vaníldo Moretti, Edson Mesquita. Heleno Macedo. Suplami: Jorge Luiz Santos, Murilo Furtado, Vatdavino Costa.;

Colaboradores

Sérgio Bonato Adelar de David Maria da Conceição Nalu Luiz Zanetti Eduardo Marques

Ano 3 - N? 7 - Março/Abril 89 Redação a Fotografia: Equipe da ABM Assessoria: Jorge Florêncio e Júnior (FASE) Diagramação: Argemiro Zager Impresso: Tribuna da Imprensa Tiragem: 5.000 Ex.

EDUCAÇÃO TEM QUE TER QUALIDADE

Ir- Agora no Centro Comunitário Já funciona um pré-escolar

O Centro de Atividades Comunitárias de São João de Meriti (CAC), inaugurou um Pré- Escolar que atenderá a 2 turnos de 15 crianças nas faixas etárias de 4 a 6 anos.

O Pré-Escolar tem o objetivo de ser um es- paço de pesquisa, além dos professores e co- ordenadores, haverá um grupo de estudos, for- mado por especialistas em educação que acom- panhará a evolução do trabalho. O planejamen- to das atividades está sendo baseado na pesqui- sa sobre a Pslcogênese da Leitura e Escrita, rea- lizada pela Psicopedagogia Argentlna-Emília Ferreiro.

O CAC está organizando também um Cen- tro de Estudos sobre Educação, que além de acompanhar a experiência da Pré-Escola, tem po objetivo organizar grupos de estudos, se- minários, cursos, debates, encontros, buscando a qualificação do professorado das classes po- pulares, através de uma formação alternativa e de qualidade que hoje não é dada pelos Cursos de Formação de Professores, principalmente os localizados na Baixada Fluminense.

A idéia í fornecer subsídios que auxiliam o Movimento Popular na construção de sua pro- posta para Educação.

A Comissão responsável pelo Projeto de Educação do CAC é a seguinte: Maria da Con- ceição de Carvalho Rosa (Nalu), Maria Luiza Bode, Iclea Lages de Melo, João Bosco e Sér- gio Luiz Bonato.

NÃO HÁ VAGAS Nossas crianças são superdotadas! Como em

um quadro de total ineficiência ainda conse- guem, sozinhas aprender alguma coisa?

A situação de nossas escolas públicas está cada vez pior.

Não é preciso ser professor para perceber que é Impossível desenvolver um processo de boas situações de aprendizagem, em um am- biente, onde o prédio está ainda aos peda- ços, onde não há cadeira para sentar-se, onde não existe material pedagógico, nem mesmo uma simples folha de papel. Quando chove, a água Invade, no calor é sufocante, no frio não há vidros nas janelas. Que condições são dadas

ao professor para atender as diferenças indivi- duais em uma classe com um número absurdo de quarenta ou mais alunos.

Dentro deste quadro nos deparamos com uma agravante: muitas escolas não estão aten- dendo as crianças que deveriam atender, pela falta de professores.

E um absurdo, hoje escolas estarem va- zias e crianças estarem nas ruas em pleno ano le- tivo e o poder público não tomar nenhuma pro- vidência. Para exemplificar, só na Escola Esta- dual Praça da Bandeira faltam 11 professores e 15 turmas de crianças estão em casa. No ano le- tivo de 88 ela atendia aos alunos em sistema de

rodízio somente duas horas por dia e os pro- fessores num mesmo turno atendiam à mais de uma turma. Além desta situação a maioria não consegue vaga para participar do desastre que é a Educação em nosso país.

Hoje o número de escolas públicas que te- mos em São João de Meriti Insuficiente.

é para ONTEM a construção de mais unida- des de ensino.

E para ONTEM um conselho público para professores.

é para ONTEM uma remuneração justa para os professores.

E para ONTEM a qualidade de ensino. Estão condenando nossos filhos ao fracasso.

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Projeto econstrucâo

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o João de Meriti Encarte Especial do Jornal ABM nos Bairros n? 7 «Projeto Reconstrução * São João de Meriti * Abril 1989

Calamidade de Meriti faz povo se unir em mutirão 0 projeto Reconstrução surgiu a

partir do estado de calamidade em São João de Meriti após as fortes chuvas e enchentes de fevereiro e março de 1988. Os registros feitos pelo próprio movimento foram de pelo menos 4.150 famílias atingidas em 32 bairros, aproximadamente 18 mil pessoas tendo suas casas danificadas, 61 desabamentos regis- trados oficialmente e 18 mortes. Há ainda cerca de 4.000 famílias morando em áreas de risco extre- mo, sujeitas a perder suas moradias em vista de próximas chuvas.

Na verdade as causas de tudo isto são problemas que a população vive no seu dia a dia, no seu cotidiano: a falta de saneamento básico e as péssimas condições de habitação.

Desde 1983, quando a Federação ABM foi fundada, a prioridade do

movimento é a luta pelo saneamen- to básico, entendido como um conjunto de ações integradas com- preendendo a drenagem dos rios, esgotamento sanitário, drenagem pluvial, recolhimento e tratamento do lixo, tratamento do esgoto, água e manutenção do sistema. Ao lado dessa luta, o movimento exige uma política habitacional compatível para os trabalhadores.

Foi para dar uma pequena res- posta a estes problemas e para fortalecer a luta por saneamento e habitação que a Federação ABM e a FASE, com apoio da Diocese de Duque de Caxias e São João de Meriti elaboram o Projeto Recons- trução e Benfeitorias Coletivas.

Os principais objetivos do proje- to são:

• Fortalecer a Organização Popu-

lar — fazendo uma experiência de ação comunitária a partir do movi- mento, através de Federação ABM. Fortalecendo a participação demo- crática dos moradores e o exercí- cio da cidadania.

• Recuperação da vida comunitá- ria através da reforma de 1115 mo- radias e a construção de pequenas benfeitorias coletivas, alterando a qualidade de vida da população que foi agravada pelas enchentes, fa- zendo retornar à antiga situação. O projeto tem clareza que as refor- mas não alteram o quadro de quali- dade da vida na cidade, e da impos- sibilidade do movimento solucionar o conjunto dos problemas sociais da cidade, e de que este papel é do Es- tado. O objetivo é fortalecer a luta para que o poder público assuma a sua responsabilidade.

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As entidades responsáveis pelo projeto

Para o surgimento do Projeto Reconstrução e para o seu desenvolvimento várias entidades tiveram o seu papel e a sua importância.

Na elaboração do projeto, a Federação ABM é a grande responsável. A FASE assumiu junto com a ABM sua ela- boração, que também contou com a participação da Igre- ja Católica na fase de discussão do projeto.

As entidades no exteriorequefinanciam o projeto. São companheiros preocupados com a vida e que ajudam os povos do terceiro mundo a se organizarem e lutarem por uma nova sociedade mais justa e fraterna. São entidades quef assumem um importante compromisso da solidarie- dade internacional.

As associações de moradores, que representam o esfor- ço da população de se organizar e lutar por uma nova so- ciedade, dentro do projeto tem o papel de organizar os mu- tirões.

Dentro do projeto fala-se muito sobre a ABMy Igre- ja Católica e a FASE, mas o que são estas entidades?É ho- ra de conhecer mais um pouco.

O QUE E ABM A ABM é uma organização que reúne as associações de

moradores de São João de Meriti. Atualmente existem cer- ca de 90 associações de moradores filiadas a ABM. A ABM já existe desde 1979 quando apenas 5 associações de mora- dores existiam.

Em 1983 foi fundada a Federação ABM, sendo'hoje re- presentativa do movimento popular de São João de Meriti. A ABM é uma organização de luta pelos direitos de cidada- nia. A ABM luta pela democracia na cidade, onde o movi- mento popular possa discutir e participar das decisões

O QUE É FASE A FASE é uma entidade de educação popular que tem

por objetivo contribuir com o movimento popular, sindi- cai e rural. A FASE não é uma instituição do governo. Ela é uma entidade civil, sem fins lucrativos. Aqui em São João de Meriti a FASE assessora a Federação ABM, contribuin- do com a sua organização e com a sua luta. FASE signifi- ca Federação de Órgãos para Assistência Social e Educa- cional.

O que é Diocese de Duque de Caxias e São João de Me- riti.

Diocese é a organização da Igreja Católica compreen- dendo uma determinada região. São João de Meriti junta- mente com Caxias formam uma Diocese. A sede da Dioce- se fica em Caxias, na Catedral de Santo Antônio, dirigida pelo bispo D. Mauro Morelli. O Conselho Regional de São João de Meriti representa a Diocese aqui na cidade. A Igreja também se organiza a partir das paróquias, comu- nidades de base, nos bairros, contribuindo também para luta pela justiça social e para o exercício da cidadania.

EM CADA BAIRRO A LUTA POR UMA VIDA MELHOR

EXPEDIENTE

Encarte especial do jornal ABM nos Bairros n? 7 - Projeto Reconstrução de São João de Meriti - março/abril de 1989

Encarte produzido sob a responsabilidade da coordenação do projeto. Sérgio Bonato e Ury Gomes Machado - Fede- ração ABM Jorge Florêncio e Orlando Júnior - FASE Pe. Adelar De David e Frei Atílio - Conselho Re- gional da Diocese de Duque de Caxias e São João de Meriti.

Equipe Técnica: Engenheiro Carlos Abenza e Eduardo Mar- ques, Fátima Valéria, Darcy Félix, Marinete Va- lentim, Maria José dos Santos (Lia), Teresa de Je- sus Santos.

Colaboradores: José Francisco, José Santana e Maria dos Santos (Cota)

Fotos: Equipe Técnica Diagramação: Argemiro Zager Impressão: Tribuna da Imprensa Tiragem: 5 mil exemplares

Todas as obras e reformas do Projeto Reconstrução estão sendo feitas com recursos da solidarie- dade internacional e com o esfor- ço da união dos moradores em mutirão. Nenhuma verba pública foi aplicada nestas obras.

O nosso dinheiro entregue ao go- verno em forma de impostos de- veria voltar em forma de benefí- cio para a população, afinal é esse o objetivo.

No guarani o mutirão

tenta resolver um velho

problema: a falta d'água. Na foto a _ construção

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da mina. Uma casa na Vila São João. O estado das casas é péssimo: São os resultados das enchentes.

No Trio de Ouro já foram reformadas 30 casas. O povo tem direito a uma moradia de qualidade

Enquanto povo organizado, que- remos mostrar às autoridades que: - Lutamos pelo direito à saúde, saneamento, educação, transpor- te, cultura, lazer... - Lutamos pelo direito aos servi- ços públicos. - Lutamos pela nossa cidadania. - Lutamos pelo direito a uma vida melhor.

0 Mutirão do Jardim Metrópole

No Rodo, a i

foto mostra uma parte Na Vila da rede de São João esgotos e até as pluvial feita mulheres em regime participam de mutirão ativamente pelos da reforma moradores. das casas. No Jardim íris o mutirão na Rua Leblon constrói a rede de esgotos e de águas pluviais

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O projeto na luta pela cidadania Dentro dos principais

obvjetivos do projeto Re- construção e Benfeitorias Coletivas, está o estímulo a organização popular e o desenvolvimento da cons- ciência de cidadania.

Neste sentido, o projeto desenvolve uma metodolo- gia «te intervenção de educa- ção popular, trabalhando com os diferentes níveis de organização da população e seus graus de entendimento.

A nível das Associações de Moradores, o projeto de- senvolveu encontros para discutir a situação do sanea- mento básico, da habita- ção e da importância da organização popular. Além disto todo trabalho do pro- jeto foi desenvolvido em conjunto com as associações de moradores, sendo neces- sárias várias reuniões de pla- nejamento, organização do mutirão e avaliações per- manentes. Neste processo, o objetivo foi fortalecer a organização popular e a ca- pacitação das lideranças.

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A nível da Federação ABM, o projeto tem por objetivo acompanhar priori- tariamente, as lutas de saneamento e habitação, vi- sando a instrumentalização técnica do movimento e o desenvolvimento de propos- tas alternativas populares.

A contratação dos enge- nheiros pelo projeto possi- bilitou um grande avanço para o movimento, no en- tendimento das questões técnicas ligadas ao sanea- mento e habitação.

Ao mesmo tempo o pro- jeto contribuiu para a de- mocratização de informa- ções através da elaboração de jornais, encartes e pan- fletos, qualificando o ní- vel de intervenção pelo conjunto do movimento.

No processo do mutirão, o acompanhamento da equi- pe do projeto possibilitou o surgimento de lideranças nos bairros, que se tornaram referência para os beneficia- dos do projeto. Estas lide- ranças sofreram um p/oces- so de acompanhamento e de formação, a partir da discus- são da própria prática do mutirão e de sua progressi- va incorporação na associa- ção de moradores.

Assim, em cada bairro, surgem no- vas lideranças. O projeto de- senvolveu reuniões mensais na sede da Federação AÈM, junto com todos os bairros do projeto, promovendo a troca de experiências, a for-

No Jardim íris a faixa do mutirão mostra a importância de participar da associação

mação educativa e avalia- ções permanentes pelo con- junto do movimento.

Neste trabalho educativo, o projeto conta com o a- poio e a participação ativa das comunidades de base da Igreja, que estimulam e for- talecem a organização popu- lar e desenvolvem um tra- balho de conscientização.

O processo educativo no projeto possibilita o desen- volvimento da consciência de cidadania e a qualifica- ção da relação entre mora- dor e poder público, rom- pendo com práticas cliente- listas, e tornando uma re- lação de conquista, de direi- tos e justiça social.

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Quanto foi gasto em cada bairro

O Projeto até o momento já reformou uma média de 100 casas e estão em andamento mais 240. A meta é chegar a 1115 casas até o final do ano.

4 Benfeitorias coletivas estão em andamento: Rodo (rede de esgotamento sanitário e rede de águas pluviais na Rua Porto Alegre), Jardim íris (rede de esgotamento sanitário e rede de águas pluviais no Beco da Rua Leblon), Vila Tiradentes (rede de esgotamento sanitário e rede de esgota- mento pluviais) e Guarani (construção da mina d'água)

O Projeto publica o balanço do quanto foi gasto até o momento em cada bairro:

Cenas como esta do Trio de Ouro não podem mais existir Temos direito a uma cidade meJhor

REFORMA DE CASAS JANE 1 RO/89 TOTAL

Parque Independência (30 casas) 8.055,65 Trio de Ouro (30 casas) 11.784,04 Jardim Metrópole (11 casas) 2.029,50 Vilar dos Teles (05 casas) 2.495,57 Jardim Paraíso (05 casas) 1.901,64 Vila São João (10 casas) 5.074,03 StP Ant? de Éden (10 casas) 1.286,65

TOTAL 32.627,11

Total de casas prontas. . . 100 casas Em andamento . 240 casas

BENFEITORIAS COLETIVAS

BAIRROS

Guarani (Mina d'água) Jardim íris (rede pluvial/esgoto) Rodo (rede pluviai/esgoto)

TOTAL

429,09 3.434,58

12.558,73

TOTAL 16.422.40

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ABM nos Bairros Página 3

PREFEITURA RECONHECE A FORÇA DA ABM No último dia 11 de março, tivemos um en-

contro com o Prefeito José Amorim na sede da ABM, estiveram presentes 71 associações de moradores e 130 lideranças expressivas das or- ganizações de bairro da nossa cidade.

A ABM colocou claramente as reivindica- ções já conhecidas ao prefeito que admitiu pu- blicamente erros cometidos no início de seu go- verno, tal como a demissão de médicos que pre- judicou todo o sistema de saúde da cidade. Ou- tro ponto colocado pela ABM foi a necessida- de da Prefeitura se fazer representar no Comitê de Saneamento da Baixada, o Prefeito nomeou publicamente o Vice-Prefeito para assumir tal função assim como fazer parte do mutirão ha- bitacional, função que era uma reivindicação da ABM desde as enchentes passadas e que agora passa a ter um representante oficial da Prefeitu- ra, tornando possível a construção das habita- ções para os desabrigados com os recursos da LBA e CEHAB (Companhia Estadual de Habiu- ção).

Apesar de não ter sido possível ainda fazer- mos uma avaliação mais criteriosa, o encontro

como prefeito foi um fato muito positivo para a ABM, já que o prefeito José Amorim se recusou a comparecer no debate com os outros candi- datos em outubro passado, dizendo que só assu- miria compromisso com as associações que se comprometessem com ele. Ficou claro no en- tanto, neste 1? encontro que o prefeito reco- nhece a força de nosso movimento e que as associações de moradores conquistaram um es- paço para propor e exigir o cumprimento de seus direitos. Hoje São João de Meriti não é mais a mesma coisa que quando o atual prefeito governou a cidade no passado. O autoritarismo está sepultado, há uma população organizada em mais de 80 bairros de Meriti, e que irá dar muito trabalho aos eleitos, fiscalizando rigoro- samente sua administração, assim como exigin- do participação e discussão dos programas de Governo e do orçamento municipal. Isto re- presenta uma conquista de mais de 6 anos de luta do povo e que agora começam a aparecer resultados concretos. Nunca mais um governo municipal poderá ignorar a ABM seja ele de partidos conservadores ou progressistas. Cabe

a todos nós doravante, continuar nossa orga- nização, levantar propostas possíveis de mudan- ça de nossa cidade, mostrar que o povo é com- petente para construir sua cidade e tomá-la em suas mãos. Esta é a única maneira possível, para que hajam mudanças profundas, pois não acreditamos que governo algum fará milagres e se for autoritário, desprezando a sabedoria do povo organizado, mais inviabilizado ainda será seu governo. Rejeitaremos sempre qualquer tipo de autoritarismo, por ser coisa do passa- do. Queremos o diálogo'para mostrar que o povo organizado é capaz de gerir sua cidade de forma séria e com competência como tem feito até aqui. No entanto estaremos prontos para de- nunciar, pressionar e enfrentar como sempre fi- zemos, qualquer governo, para cumprir seu pa- pel e toda vez que os mesmos tentarem dificul- tar ou impedir a população, por mais miserá- vel que ela seja, ao acesso de seus direitos bá- sicos de cidadãos.

A Direção

0 MUTIRÃO DA HABITAÇÃO

As atípicas chuvas do início de 1988 que as- solaram nossa cidade, deixaram milhares de fa- mílias com suas casas semi ou totalmente des- truídas. Este fato, apesar do seu lado contrista- dor, principalmente para aqueles que o sofre- ram diretamente, teve o seu lado positivo, pois desencadeou na população um processo de dis- cussão de uma questão até então não levanta- da pelas organizações populares de São João de Meriti: a questão da habitação.

No princípio a questão era o que fazer para atenuar a situação de extrema necessidade em que ficaram centenas de famílias. As organiza- ções populares e as Igrejas se mobilizaram e de- ram grande contribuição no atendimento de si- tuações emergenciais. Da parte do poder públi- co muitas promessas foram feitas, mas no final se limitaram a permitir que as famílias que per- deram tudo e não tinham a quem recorrer, pu- dessem ficar — em improvisados e indignos — alojamentos nas escolas; fornecer alimentação — insuficiente e irregular — e distribuir a cada fa- mília — com critérios no mínimo discutais — NCz$ 80,00 em duas parcelas, cinicamente doa- dos para "poder recomeçar a vida".

A ABM teve até que recorrer a entidades de solidariedade internacional para que, efetiva- mente, as famílias pudessem recuperar um mí- nimo de dignidade. Com os recursos consegui- dos serão reformados cerca de 1.200 casas e implementadas benfeitorias coletivas em 12 áreas críticas.

A questão que está colocada para as organi- zações populares hoje é como, através de atos de solidariedade concreta, pode ser aprofunda- da a discussão sobre a qualidade de vida da nos- sa cidade.

A ABM está avançando neste sentido. Além do projeto reconstrução foi criado o Mutirão da Habitação e formada na ABM a Comissão da Habitação.

MUTIRÃO DA HABITAÇÃO

O Mutirão da Habitação foi criado a partii de discussões feitas com as famílias que tive- ram suas casas totalmente destruídas e que fi- caram alojadas nas escolas.

Para a obtenção de recursos dos órgãos pú- blicos para a construção de novas casas foi ne- cessário a criação de uma entidade.

Assim, em assembléia realizada com essas famílias no dia 21 de setembro de 1988, foi fundado o Mutirão da Habitação de São João de Meriti, "sociedade civil, de direito priva- do, sem fins lucrativos, para atuar artlculada- mente com os poderes públicos em todos os níveis, na busca e encaminhamentos de solu- ções e alternativas para o problema habitacional da população carente e de baixa renda do mu- nicípio de São João de Meriti".

Os participantes da sociedade constituíram uma Diretoria composta de 2 mutirantes, 2 re-

presentantes da ABM e 2 representantes da Igre- ja Católica, com mandato temporário, podendo ser substituído mediante nova indicação de quem os tenha escolhido. A Diretoria se reúne semanalmente para dar os encaminhamentos ne- cessários e a assembléia geral se realiza de 2 em 2 meses. O Mutirão já está registrado em cartó- rio e também já possui o CGC.

Através de pressão sobre a Prefeitura muni- cipal e com a intermediação da SEAF — Secre- taria Extraordinária de Assuntos Fundiários do Estado do Rio de Janeiro, o Mutirão conquis- tou a desapropriação de um terreno localiza- do na Vila São João onde podem ser construí- das cerca de 30 casas. Há também a possibili- dade de se conseguir outro terreno, localizado no Jardim Bonifácio, mas depende de requisi- ção do Secretário de Desenvolvimento Urba- no, envio de mensagem do Prefeito à Câmara Municipal e a aprovação desta, pois se trata de um terreno público municipal. Já existe tam- bém um convênio assinado com a LBA — Le- gião Brasileira de Assistência — para o repas- se de NCz$ 20.000,00 - verba prometida des- de julho de 1988 e que até agora não foi libe- rada.

COMISSÃO DA HABITAÇÃO DA ABM Formada recentemente, a Comissão da Ha-

bitação visa articular as frentes de atuação na luta pela moradia em São João de Meriti, par- ticipar de outros fóruns de discussão sobre a questão e dar o encaminhamento pojítico so- mado às outras lutas da ABM.

A luta pela moradia veio para ficar. Será necessário que tenhamos cada vez mais infor- mações sobre a questão, acompanhar as dis- cussões que estão sendo colocadas pelo mo- vimento popular no Brasil inteiro: a forma de organização dos mutirões; luta pela reforma ur- bana; a cobrança de uma política habitacional para o país etc... e, principalmente, um inter- câmbio de experiências já acumuladas.

7.° ENCONTRO DE CEB'S E 0 MOVIMENTO

POPULAR Nos dias 10 a 14 de julho prósimo realizar-

se-á em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, o 7°. Encontro Nacional das Comunidades Ecle- siais de Base. Mais de dois mil participantes, lideranças das comunidades de base engajadas nos movimentos populares, juntamente com Bispos e outros agentes de Pastoral, de todos os recantos do Brasil estarão aqui para trocar ex- periências, aprofundar questões importantes pa- ra o futuro da Igreja e da Sociedade. Partiicipa- rão também delegações de diversos países da América Latina, igualmente da África, de países de outros continentes e também representantes de Igrejas Evangélicas, além de convidados, ob- servadores e assessores.

Será um grande encontro de partilha e cele- bração das lutas do povo, da fé comprometida com a libertação integral do homem na América Latina. Será um momento forte de animação da esperança frente aos desafios que o sofri- mento do povo coloca para todos na busca de uma sociedade justa e solidária.

O 7o. encontro é fruto de uma longa cami- nhada das CEBS. No Brasil e América Latina esse encontro está sendo intensamente pre- parado e organizado pelas bases tanto aqui na Diocese de Caxias e São João, como pelas co- munidades e Igrejas no Brasil e pela Améri- ca Latina, desde agosto de 88.

O encontro tem como tema central: Povo de Deus na América Latina a caminho da Li- bertação. Como podemos perceber esse tema tem três questões básicas: 1° Igreja - como se- rá a Igreja na realidade de hoje. 2°. América La- tina — como desenvolver a solidariedade entre os povos Latinos Americanos. 3° A Militáncia

Cristã — como articular fé e política no engaja- mento pelas transformações sociais.

Temos consciência que esse encontro dá- se num momento importante da caminhada tan- to para a Igreja como para a sociedade. A so- ciedade passa por uma crise profunda de suas instituições, uma crise ético-política. No Bra- sil, estamos num ano eleitoral.

Com relação á Igreja é importante que a caminhada das CEBS avance firme e se fortsle- ça com um novo jeito de ser Igreja: uma Igreja comprometida e a serviço dos empobrecidos que lutam por vida, e pela dignidade de filhos deDeus. Uma Igreja em movimento, dinâmico e não fechada para si, fora da história dos po- vos.

Nesse sentido as questões do relacionamen- to das CEBs com o Movimento Popular, o en- gajamento dos cristãos nas organizações popu- lares e a contribuição mútua na mesma luta de libertação serão calorosamente discutidas e aprofu ndadas.

Na Baixada Fluminense, as CEBs assim co- mo o Movimento Popular tem uma rica expe- riência de luta em comum nos enfrentamentos da mesma realidade, conseqüência da estrutura social vigente. Queremos por isso acolher os participantes do 79 Encontro Internacional das CEBs e contribuir para que dessa Baixada do Brasil se levante mais um conto delibertação total para todos os povos da América Latina.

Pe. Atílio e pe. Adelar, dois padres que partici- pam da preparação do encontro e contribuem no fortalecimento do movimento popular

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Página4 ABM nos Bairros

SANEAMENTO: À BRIGA CONTINUA E A ABM ESTÁ NA LUTA

A CEDAE já se retirou de muitos bairros de São João. Isto porque o Programa de Esgota- mento da Baixada (de onde sai o dinheiro das obras) está chegando ao fim. Foram aplicados 2,2 milhões de OTN em toda a Baixada e 1,7 milhões de OTN em São João. Ainda serão apli- caoas 870 mil OTN em bairros como o Jardim Paraíso e Metrópole, entre outros. A ABM está acompanhando as obras e lutando para que, por exemplo, não fiquemos sem o tratamento do esgoto coletado.

Com relação aos rios e valões, temos algu- mas novidades. O Banco Mundial liberou verba no valor de 175 milhões de dólares para a exe- cução de obras de dragagem e canalização em rios, valões e canais do Estado do Rio de Janei- ro. Com relação a São João, os dois rios que inundam o Município — o Pavuna e o Sarapuí, tem obras previstas. Estão previstas no Sarapuí, canalizações e dragagens no rio principal, e nos afluentes e a construção de uma barragem no Gericinó (ainda no Município do Rio de Ja- neiro). Esta barragem tem por objetivo retar- dar a chegada das águas daquele trecho do rio, esperando até que as do trecho final (São João incluído) tenham escoado. Para o Rio Pavuna, estão previstas canalizações e dragagens no rio principal e nas principais afluentes. O início das obras depende apenas da liberação da contra- partida da Caixa Econômica Federal (dinheiro que o governo brasileiro tem de dar junto com o empréstimo). No caso, a contrapartida é de 180 milhões de dólares.

AMPA AS5 l&tmAc /tfsis

Foram muitas as manifestações, as passeatas e a luta pelo saneamento na Baixada.Queremos saneamento já!

O IV. CONGRESSO DA FAMERJ Em maio próximo teremos mais um Con-

gresso da FAMERJ, que é nossa Federação Es- tadual.

É preciso ressaltar a importância que este congresso tem para a ABM e as Associações de Moradores do Estado.

As organizações Populares de Bairros no Es- tado do Rio estão tendo a falta de um espaço para a discussão e articulação de suas lutas, principalmente pelo esvaziamento que esta'pas- sando a FAMERJ, graças a falta de clareza da realidade daqueles que dirigem nossa Federação, que não tem conseguido dar direção aos apelos das bases organizadas e suas lutas do dia-a-dia.

Outra questão que certamente devem ser levantadas é a estrutura da FAMERJ que n.ao responde mais aos apelos das organizações, isto é, hoje a FAMERJ assume 2 papéis a de Federa-

ção Municipal do Rio e das Associações do Rio de Janeiro. Neste sentido parece ser consenso para nós da ABM que o Município do Rio tenha sua Federação Municipal de AMs e a FAMERJ se assuma Federação das AMs do Estado como sempre deveria ter sido e que sua função seja, a de articular as lutas Estaduais vindas dos pro- blemas básicos de cada região, tal qual é o Sa- neamento na Baixada, a luta ecológica Flu- minense etc.

A realização de seminários de formação pe- la FAMERJ será imprescindível e as plenárias terão que acontecer de forma permanente e or- ganizadas pelo conselho intermediário que terá um papel fundamental na execução e delibera- ção da instituição, cabendo então a executiva arrumar recursos e meios para realizar aquilo que é papel de nosso movimento, fortalecer as

AMs e a Federação e não estruturas paralelas para que tenhamos mais competência, apoio e mais força para exigirmos os nossos direitos.

A falta destes elementos dificultou e esva- ziou a FAMERJ, sendo assim, convocamos to- das as AMs de Meriti para participarem do pró- ximo Congresso da FAMERJ e assumirmos jun- tos este desafio de constituir uma Federação forte, respeitada e competente que seja capaz de construir na prática uma alternativa socia- lista com a participação de todos e não de gru- pos conservadores que se auto consideram por- tadores da verdade única e absoluta.

O Congresso da FAMERJ será nos dias 2, e 4 de junho. Até lá vamos nos preparar para que ele seja realmente a expressão e a voz de todos, aqueles que acreditam neste movimento.