Um Protocolo de Disseminação de Dados Adaptativo para Redes Veiculares
ANÁLISE DE DESEMPENHO DE UM MOTOR DIESEL ...comum durante as horas de pico, que no Brasil, ocorrem...
Transcript of ANÁLISE DE DESEMPENHO DE UM MOTOR DIESEL ...comum durante as horas de pico, que no Brasil, ocorrem...
Universidade Federal da Paraíba
Centro de Tecnologia
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica
- Mestrado - Doutorado-
ANÁLISE DE DESEMPENHO DE UM MOTOR DIESEL
TURBOALIMENTADO OTTOLIZADO PARA GÁS NATURAL
por
Fagner Barbosa Ferraz
Tese de Doutorado apresentada à Universidade Federal da Paraíba para a
obtenção do grau de Doutor em Engenharia Mecânica
João Pessoa – Paraíba junho, 2014
FAGNER BARBOSA FERRAZ
ANÁLISE DE DESEMPENHO DE UM MOTOR DIESEL
TURBOALIMENTADO OTTOLIZADO PARA GÁS NATURAL
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da
Universidade Federal da Paraíba - UFPB, em
cumprimento às exigências para a obtenção de
Grau de Doutor em Engenharia Mecânica.
Orientador: Prof. Dr. Emerson Freitas Jaguaribe
João Pessoa – Paraíba 2014
F381a Ferraz, Fagner Barbosa.
Análise de desempenho de um motor diesel turboalimentado
ottolizado para gás natural / Fagner Barbosa Ferraz.-- João
Pessoa, 2014.
121f. : il.
Orientador: Emerson Freitas Jaguaribe
Tese (Doutorado) – UFPB/CT
1. Engenharia mecânica. 2. Motor diesel turboalimentado.
3.Ottolização. 4. Gás natural - desempenho. 5. Balanço de energia.
UFPB/BC CDU: 621(043)
DEDICATÓRIA
Este trabalho é dedicado, à minha mãe, Maria Salete, ao meu pai, Francisco, à minha
esposa Renata, aos meus irmãos, Sandra, Fábio e Sabrina, aos meus amigos, aos meus
familiares e principalmente a Deus pelo dom da vida.
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Professor Emerson Freitas Jaguaribe, que através dos seus
conhecimentos e do seu apoio tornou esse trabalho possível;
Ao CNPq, pelo incentivo ao desenvolvimento científico do país e pela bolsa
concedida;
A todos os examinadores que participaram do exame de qualificação e da avaliação da
tese de doutorado, me honrando com suas contribuições;
À Coordenação de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica, pela atenção e apoio;
Aos amigos dos Laboratórios de Inovação e de Carvão Ativado, por toda a ajuda no
decorrer destes anos;
À PBGÁS pelo incentivo ao trabalho;
Ao IFBA pelo apoio indispensável para a conclusão desse trabalho.
A todas as pessoas que contribuíram, de maneira direta ou indireta, para a finalização
deste trabalho.
ANÁLISE DE DESEMPENHO DE UM MOTOR DIESEL
TURBOALIMENTADO OTTOLIZADO PARA GÁS NATURAL
RESUMO
Um grande número de empresas nacionais faz uso de grupos geradores a diesel como
opção à eletricidade fornecida pela concessionária local. O emprego de grupos geradores é
comum durante as horas de pico, que no Brasil, ocorrem entre as 17 e 22 h. Tais aparatos,
juntamente com os motores veiculares a diesel têm contribuído para o grande aumento da
poluição ambiental, uma vez que a queima deste combustível se faz com grande emissão de
particulados, de NOx e de SOx. O gás natural é considerado uma alternativa ao uso do diesel
por possuir um alto poder calorífico, queima limpa, e adequada octanagem para o ciclo Otto.
O presente trabalho trata da análise de desempenho de um motor Perkins turboalimentado, a
diesel, modelo 1104C-44TA, convertido para funcionar apenas com gás natural, identificando
ainda, os fatores limitadores de potência nestes tipos de motores. Considerando a importância
da taxa de compressão no processo de ottolização, o motor convertido foi avaliado sob a
influência de três diferentes taxas: 7,6:1; 8,7:1 e 12,3:1. Para tanto, foram selecionados
avanços de ignição que ao interagir com a mistura próxima da estequiométrica garantisse ao
funcionamento do motor as melhores condições de desempenho, para cada taxa de
compressão escolhida. Os ensaios foram feitos com o auxílio de um dinamômetro hidráulico e
os resultados obtidos evidenciaram que, na prática, tais parâmetros não são suficientes para se
assegurar os melhores desempenhos em um motor diesel ottolizado. Foi observado um
aumento consubstancial na temperatura dos gases de exaustão e na turbina, em virtude da
ampliação do volume dos gases de escapamento com relação àquele observado no motor
original, com prejuízos para a eficiência e a própria vida útil do motor. Verificou-se, através
das análises energéticas, que a taxa de compressão de 8,7:1 permitiu ao motor seu melhor
desempenho, com relação à outras experimentadas. Como esperado, o motor operando na taxa
de 7,6:1 produziu as mais elevadas temperaturas dos gases de exaustão. Com respeito às
emissões gasosas, o motor convertido com taxa de compressão de 12,3:1 emitiu o maior nível
de NOx e o menor nível de hidrocarbonetos não queimados.
Palavras-chave: Motor Diesel Turboalimentado. Ottolização. Gás natural. Desempenho.
Balanço de Energia.
PERFORMANCE ANALYSIS OF A TURBOCHARGED DIESEL
ENGINE CONVERTED INTO AN OTTO CYCLE ENGINE TO RUN ON
NATURAL GAS
ABSTRACT
A large number of national companies has been using diesel gensets as an alternative
to the electricity supplied by the local utility. Therefore, generators are used as an emergency
power system or during peak hours. Peak hour in Brazil is between 5 to 10 p. m. As we know
diesel engines contribute to the large increase in environmental pollution, since the diesel
exhaust may contain fine particles associated with negative health effect, toxic air
contaminants, as NOx and SOx. On the other hand, Natural gas is considered as a suitable
choice rather than the use of diesel, because it possesses high calorific power, clean burning,
and proper octane level for Otto cycle engine. The present work deals with the performance
analysis of a Perkins engine turbocharged, diesel, model 1104C-44TA, converted into an Otto
cycle engine to run on natural gas, also identifying the limiting factors of power in these types
of engines. Giving the importance of the compression rate on the Diesel to Otto cycle
conversion, the evaluation of the Perkins processed engine happened under the influence of
three different rates: 7.6:1; 8.7:1 and 12.3:1. For each compressed rate, and stoichiometric
mixture, the task was to choose the spark advance to guarantee best performances to the
engine. All tests were performed with a hydraulic dynamometer. The results showed that, the
best combination of those parameters are not sufficient to ensure the highest performance of a
diesel converted engine. There was a consubstantial rise in temperature of the exhaust gases
and on the turbine walls, due to the increase in the exhaust gases volume, compared to that of
the burnt gases withdrawn from the original engine, impairing the efficiency and lifespan of
the engine components. It was found, by energetic analysis, the compression ratio of 8.7:1,
was the most efficient, among the other two, assuring the engine its best performance. As
expected, at the compression rate of 7.6:1 the exhaust gases presented the highest
temperatures. At compression ratio of 12.3:1 the gas emissions of the converted engine
delivered highest NOx level and the lowest level of unburned hydrocarbons at the exhaust.
Keywords: Diesel Turbocharged Engine. Diesel to Otto Cycle Conversion Process. Natural
Gas. Performance. Energy Balance.
SUMÁRIO
CAPITULO I ....................................................................................................................... 18
INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 18
CAPITULO II ...................................................................................................................... 21
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................. 21
2.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 21
2.2 O ESTUDO DA OTTOLIZAÇÃO EM MOTORES DIESEL ......................................... 21
2.3 A ANÁLISE ENERGÉTICA APLICADA À MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA
............................................................................................................................................ 24
CAPÍTULO III .................................................................................................................... 28
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................................ 28
3.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 28
3.2 PARÂMETROS E CONCEITOS BÁSICOS RELACIONADOS AOS MOTORES DE
COMBUSTÃO INTERNA .................................................................................................. 28
3.2.1 Ciclo padrão a ar Diesel .............................................................................................. 29
3.2.2 Ciclo padrão ar Otto .................................................................................................... 32
3.2.3 Motores turboalimentados do ciclo Otto ...................................................................... 34
3.2.4 Taxa ou razão de compressão....................................................................................... 36
3.2.5 Fator lambda (λ) .......................................................................................................... 37
3.2.6 Poder calorífico de um combustível ............................................................................. 40
3.2.7 Avanço de ignição ....................................................................................................... 41
3.2.8 Eficiência volumétrica ................................................................................................. 42
3.2.9 Eficiência térmica ........................................................................................................ 43
3.3 ANÁLISE ENERGÉTICA EM UM VOLUME DE CONTROLE ................................... 45
3.3.1 Lei da Conservação de Massa ou da Continuidade para um volume de controle........... 45
3.3.2 Lei da Conservação da Energia ou Primeira Lei da Termodinâmica ............................. 46
3.3.3 Balanço de energia em um motor de combustão interna ............................................... 48
3.3.4 Combustão em um MCI .............................................................................................. 49
CAPÍTULO IV .................................................................................................................... 51
ANÁLISE ENERGÉTICA REALIZADA NO MOTOR PERKINS OTTOLIZADO ............ 51
4.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 51
4.2 DESCRIÇÃO DO BALANÇO DE ENERGIA ............................................................... 51
CAPÍTULO V ...................................................................................................................... 59
A OTTOLIZAÇÃO .............................................................................................................. 59
5.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 59
5.2 PARTICULARIDADES DO PROCESSO DE OTTOLIZAÇÃO EM MOTORES
TURBOALIMENTADOS .................................................................................................... 60
5.3 COMPONENTES NECESSÁRIOS AO FUNCIONAMENTO DO MOTOR PERKINS
OTTOLIZADO .................................................................................................................... 61
5.3.1 Componentes do sistema de ignição estática ................................................................ 61
5.3.2 O Governador Eletrônico............................................................................................. 62
5.3.3 Sistema de alimentação e controle eletrônico de gás natural ........................................ 63
CAPÍTULO VI .................................................................................................................... 65
APARATO E DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL ................................................... 65
6.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 65
6.2 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS NOS TESTES DO MOTOR OTTOLIZADO ........... 65
6.2.1 Bancada Dinamométrica.............................................................................................. 65
6.2.2 Medidor de vazão do ar de admissão ........................................................................... 68
6.2.3 Sistema de medição de vazão de GN ........................................................................... 69
6.2.4 Analisador de gases de combustão ............................................................................... 69
6.2.5 Medidor de vazão de água de arrefecimento do motor ................................................. 70
6.2.6 Sistema de resfriamento da turbina .............................................................................. 71
6.2.7 Sistema de medição de temperatura e de pressão da bancada de testes ......................... 71
6.2.7.1 Medição de temperatura da mistura ar/GN a montante do aftercooler ....................... 71
6.2.7.2 Medição de temperatura da mistura ar/GN a jusante do aftercooler ........................... 72
6.2.7.3 Medição da temperatura dos gases de escape e da parede da turbina ......................... 73
6.2.7.4 Medição de temperatura e de pressão do coletor de admissão ................................... 73
6.2.7.5 Medição da temperatura do óleo do motor ................................................................ 74
6.2.7.6 Medição da temperatura da água de arrefecimento do motor ..................................... 75
6.3 METODOLOGIA EXPERIMENTAL ............................................................................ 75
6.3.1 Calibração do dinamômetro ......................................................................................... 75
6.3.2 Medição da vazão da água do sistema de arrefecimento do motor ................................ 76
6.3.3 Testes realizados no motor convertido ......................................................................... 76
6.3.3.1 Testes realizados com o motor operando na taxa de compressão de 7,6:1 .................. 77
6.3.3.2 Ensaios realizados com as taxas de compressão de 7,6:1; 8,7:1 e de 12,3:1 ............... 78
CAPÍTULO VII ................................................................................................................... 79
RESULTADOS E ANÁLISES ............................................................................................. 79
7.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 79
7.2 ENSAIOS REALIZADOS COM O MOTOR OPERANDO COM A TAXA DE
COMPRESSÃO DE 7,6:1 .................................................................................................... 79
7.2.1 Influência do avanço de ignição na emissão de NOx e na temperatura dos gases de
escape .................................................................................................................................. 79
7.2.2 Resultados de desempenho do motor sob a influência de duas formas distintas de
refrigeração da turbina ......................................................................................................... 81
7.3 RESULTADOS DOS TESTES PARA O MOTOR CONVERTIDO SOB A INFLUÊNCIA
DAS TRÊS TAXAS DE COMPRESSÃO ............................................................................ 83
7.3.1 Avanços de ignição mais funcionais ao motor ottolizado.............................................. 83
7.3.2 Desempenho do motor funcionando com três diferentes taxas de compressão .............. 84
7.3.3 Análise energética realizada no motor convertido ........................................................ 89
CAPÍTULO VIII .................................................................................................................. 96
CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 96
SUGESTÕES PARA OS PRÓXIMOS TRABALHOS ......................................................... 99
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 100
ANEXO A – Massas molares dos constituintes do GN e dos produtos formados em sua
combustão .......................................................................................................................... 104
ANEXO B – Equacionamentos para a obtenção dos calores específicos dos produtos gerados
na combustão do GN .......................................................................................................... 105
APÊNDICE A – Dados dos Testes realizados com motor Perkins operando nas taxas de
compressão de 7,6:1; 8,7:1 e 12,3:1 .................................................................................... 106
APÊNDICE B – Programa elaborado no Mathcad para os cálculos dos balanços energéticos
.......................................................................................................................................... 107
APÊNDICE C – Programa elaborado no Mathcad para os cálculos da taxa de compressão 118
APÊNDICE D – Resultado dos testes de seleção do avanço de ignição (Motor Perkins
operando nas taxas de compressão de 7,6:1; 8,7:1 e 12,3:1)................................................ 121
LISTA DE FIGURAS
Figura 3.1 – Gráfico P-v do ciclo padrão a ar Diesel. Fonte: Moran e Shapiro (2002). .......... 30
Figura 3.2 – Digrama comparativo entre os diagramas P-v do ciclo Diesel ideal e real. Fonte:
Giacosa (1986). .................................................................................................................... 31
Figura 3.3 – Gráfico P-v do Ciclo ideal Otto. Fonte: Moran e Shapiro (2002)....................... 32
Figura 3.4 – Digrama comparativo entre os diagramas P-v do ciclo Otto ideal e real. Fonte
Giacosa (1986). .................................................................................................................... 33
Figura 3.5 – Desenho esquemático da turboalimentação em um motor de combustão interna.
Fonte: Adaptado de Pulkrabek (2003). ................................................................................. 35
Figura 3.6 – Comparação entre gráficos P-v, em um cilindro de um motor do ciclo Otto real,
sob diferentes condições de pressão de admissão. Fonte: Adaptado de Pulkrabek (2003). ..... 35
Figura 3.7 – Desenho esquemático de um conjunto cilindro-pistão. Fonte: Martins (2006). .. 37
Figura 3.8 – Gráfico de emissão de poluentes em função da relação ar/combustível. Fonte:
Martins (2006). .................................................................................................................... 39
Figura 3.9 – Gráfico de emissão de NO e de NO2 no escape de um motor a gasolina, em
função da relação de mistura ar/combustível. Fonte: Martins (2006). ................................... 40
Figura 3.10 – Gráfico P- θ para os ciclos com: (a) combustão normal, (b) detonação leve e (c)
detonação forte. Fonte: Adaptado de Heywood (1988). ........................................................ 42
Figura 3.11 – Gráfico de eficiência térmica em função da taxa de compressão. Fonte:
Heywood (1988). ................................................................................................................. 44
Figura 3.12 – Desenho esquemático de um volume de controle envolvendo um equipamento e
os fluxos mássicos que o cruzam através da superfície de controle. ...................................... 45
Figura 3.13 – Volume de controle envolvendo um equipamento e os fluxos de energia
associados com os fluxos mássicos e as interações de calor e trabalho com o meio............... 47
Figura 3.14 – Volume de Controle para um motor de combustão interna. Fonte: (MORAN e
SHAPIRO, 2002). ................................................................................................................ 48
Figura 4.1 – Desenho esquemático da bancada de testes tomando o motor Perkins como
Volume de Controle. ............................................................................................................ 52
Figura 5.1 – Foto do Motor Diesel Perkins 1104C-44TAG2. ................................................ 59
Figura 5.2 – Foto das bobinas de ignição estática e dos cabos de vela. .................................. 61
Figura 5.3 – Foto do sistema de controle de ignição: (a) Unidade Controle Eletrônico de
Dados, (b) Conjunto roda fônica/sensor de rotação. .............................................................. 62
Figura 5.4 – Foto dos componentes do governador eletrônico: (a) Pick-up magnético, (b)
Central de controle, (c) Corpo de borboleta com atuador. ..................................................... 63
Figura 5.5 – Sistema de alimentação e controle de GN. ........................................................ 63
Figura 5.6 – Sonda lambda inserida no escape. ..................................................................... 64
Figura 5.7 – Interface do sistema de alimentação eletrônico de GN. ..................................... 64
Figura 6.1 – Motor conectado ao dinamômetro hidráulico. ................................................... 66
Figura 6.2 – Bancada de simulação de carga......................................................................... 66
Figura 6.3 – Sistema de arrefecimento da água do motor (a) Trocador de Calor e acessórios,
(b) Reservatório de água fria. ............................................................................................... 67
Figura 6.4 – Sistema de arrefecimento da mistura ar/GN. ..................................................... 68
Figura 6.5 – Anemômetro digital .......................................................................................... 68
Figura 6.6 – Sistema de medição de vazão volumétrica de GN ............................................. 69
Figura 6.7 – Analisador de gases da Alfatest. ........................................................................ 70
Figura 6.8 – Medidor de vazão ultrassônico PT878: (a) Central de aquisição de dados, (b)
Transdutores ultrassônicos acoplados ao tubo de passagem de água. .................................... 70
Figura 6.9 – Sistema de resfriamento da turbina: (a) Aparato de refrigeração por água, (b)
Aparato de refrigeração por eletroventilador com direcionamento de fluxo. ......................... 71
Figura 6.10 – Medição da temperatura a montante do aftercooler: (a) Sistema de captação de
dados, (b) Módulo de aquisição e registro de dados de temperatura. ..................................... 72
Figura 6.11 – Medição da temperatura a jusante do aftercooler. ............................................ 72
Figura 6.12 – Medição da temperatura dos gases de escape e da turbina do motor. ............... 73
Figura 6.13 – Medição da temperatura e da pressão da mistura ar/GN admitida.................... 74
Figura 6.14 – Medição da temperatura do óleo do motor. ..................................................... 74
Figura 6.15 – Medição da temperatura da água de arrefecimento do motor: (a) Ponto de
captação da temperatura da água de saída do motor, (b) Ponto de captação da temperatura da
água de entrada do motor. .................................................................................................... 75
Figura 6.16 – Calibração do dinamômetro: (a) Fixação da massa para a calibração, (b)
Software de calibração. ........................................................................................................ 76
Figura 6.17 – Espaçadores utilizados para as mudanças da taxa de compressão do motor. .... 77
Figura 7.1 – Emissão de NOx, em função da potência gerada, para vários avanços de ignição.
............................................................................................................................................ 80
Figura 7.2 – Temperatura dos gases de escape, em função da potência, para avanços distintos.
............................................................................................................................................ 80
Figura 7.3 – Incandescência nas superfícies da turbina e do coletor de escape ocorrida em
altas potências. ..................................................................................................................... 81
Figura 7.4 – Eficiência do motor, em função da potência, operando sem o resfriamento da
turbina e com refrigeração a ar e a água. .............................................................................. 82
Figura 7.5 - Temperatura da carcaça da turbina, em função da potência, com a turbina sem
resfriamento e refrigerada por ar e por água. ........................................................................ 83
Figura 7.6 – Gráfico de avanço de ignição ótimo, em função da potência, para as taxas de
compressão de 7,6:1; 8,7:1 e 12,3:1. ..................................................................................... 84
Figura 7.7 – Eficiência térmica do motor, em função da potência, com o motor operando nas
taxas de 7,6:1; 8,7:1 e 12,3:1. (Cada ponto exposto nas curvas de eficiência está associado ao
avanço de ignição utilizado em cada ensaio) ........................................................................ 85
Figura 7.8 - Custos com combustível, em função da potência, com o motor operando nas taxas
de 7,6:1; 8,7:1 e 12,3:1. ........................................................................................................ 86
Figura 7.9 – Pressão no coletor de admissão, em função da potência. ................................... 86
Figura 7.10 – Temperatura dos Gases de Exaustão, em função da potência, obtidas a partir do
motor operando com diferentes taxas de compressão. ........................................................... 87
Figura 7.11 – Emissão de NOx, em função da potência, para as diferentes taxas de compressão
utilizadas. ............................................................................................................................. 88
Figura 7.12 – Emissão gasosa de Hidrocarbonetos (HC) no escapamento do motor, em função
da potência, para as diferentes taxas de compressão. ............................................................ 89
Figura 7.13 - Balanço energético para o sistema operando com taxa de compressão de 12,3:1
(Potência máxima de 85 cv) ................................................................................................. 90
Figura 7.14 - Balanço energético para o sistema operando com taxa de compressão de 8,7:1
(Potência máxima de 120 cv) ............................................................................................... 91
Figura 7.15 - Balanço energético para o motor operando com taxa de compressão de 7,6:1
(Potência máxima de 90 cv) ................................................................................................. 92
Figura 7.16 - Curvas de Eficiência e de Pressão Média Efetiva, PME, em função da relação:
diâmetro do coletor de escape/diâmetro do cilindro. Fonte: Adaptado de Kesgin (2004). ...... 94
LISTA DE TABELAS
Tabela 3.1 – PCI e PCS dos elementos constituintes do GN.................................................. 41
Tabela 3.2 – Composição do ar atmosférico. ........................................................................ 50
Tabela 4.1 - Descrição dos pontos de medição de pressão e de temperatura utilizados nos
testes. ................................................................................................................................... 52
Tabela 4.2 – Composição do GN utilizados nos testes do motor Perkins ottolizado............... 53
Tabela 7.1 – Dados de desempenho do motor, com taxa de 7,6:1 e potência de 90 cv, em
função do λ. ......................................................................................................................... 93
Tabela A.1 – Massa molar dos reagentes e dos produtos da combustão do GN. .................. 104
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
GLP Gás Liquefeito de Petróleo
GN Gás Natural
ICE Ignição por Centelha
ICO Ignição por Compressão
IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas
LI Laboratório de Inovação
LTE Laboratório de Termoenergética
MCI Motor de Combustão Interna
PBGÁS Companhia Paraibana de Gás
PCI Poder Calorífico Inferior
PCS Poder Calorífico Superior
PID Proporcional Integrativo Derivativo
PME Pressão Média Efetiva
PMI Ponto Morto Inferior
PMS Ponto Morto Superior
UCE Unidade de Controle Eletrônico
UFPB Universidade Federal da Paraíba
TGE Temperatura dos Gases de Exaustão
LISTA DE SIMBOLOS
C Curso total do pistão (mm)
D Diâmetro do pistão (mm)
R Raio de manivelas em motores cilindrados (mm)
L Comprimento da biela (mm)
Ângulo de manivelas em motores cilindrados (º)
Razão ou taxa de compressão
Vd Volume deslocado pelo pistão na etapa de admissão (mm3)
Vcc Volume comprimido pelo pistão na câmara de combustão (mm3)
P0 Pressão do ar na entrada do filtro (bar)
P1 Pressão da mistura ar/GN no coletor de admissão (bar)
T0 Temperatura do ar na entrada do filtro (ºC)
T1 Temperatura da mistura ar/GN na entrada do aftercooler (ºC)
T2 Temperatura da mistura ar/GN na saída do aftercooler (ºC)
T3 Temperatura da mistura ar/GN no coletor de admissão (ºC)
T4 Temperatura da parede de turbina (ºC)
T5 Temperatura dos gases de exaustão (ºC)
T6 Temperatura da água de arrefecimento na entrada do bloco do motor (ºC)
T7 Temperatura da água de arrefecimento na saída do bloco do motor (ºC)
CP Calor Específico à Pressão Constante (kJ/kg.K)
k Coeficiente de expansão adiabática
λ Fator Lambda
φ Umidade relativa do ar (%)
Eficiência volumétrica (%)
Eficiência térmica (%)
ṁ Vazão mássica de ar ou de mistura ar/combustível (kg/s)
ṁc Vazão mássica de combustível (kg/s)
ṁgases Vazão mássica dos gases de exaustão (kg/s)
ṁar Vazão mássica de ar admitido no cilindro (kg/s)
ṁGN Vazão mássica de gás natural admitido no cilindro (kg/s)
ρ Massa específica do ar ou da mistura ar/combustível (kg/m3)
s Entropia (kJ/kg.K)
Ẇ Potência de eixo do motor (W)
Taxa de calor perdida no arrefecimento do motor (W)
Taxa de calor perdida no aftercooler (W)
Taxa de calor perdida nos gases de escape do motor (W)
Taxa de calor perdida por radiação e convecção (W)
Taxa de energia cedida pelo gás natural (W)
18
CAPITULO I
INTRODUÇÃO
Um grande número de grupos geradores, tipicamente acionados por motores
estacionários a diesel, está instalado em diversas áreas de atividade produtiva nacional. O
interesse pelo uso desses equipamentos para a produção de energia elétrica, por parte de
empresas brasileiras (indústrias, hotéis, shopping centers, hospitais, etc.), se dá principalmente
pela existência dos horários de pico. No Brasil, este horário está definido, em geral, como as
três horas diárias compreendidas entre as 17 e 22 h e o custo da energia elétrica fornecida pela
concessionária, para esses setores, pode chegar até dez vezes o da tarifa básica, dependendo
da demanda contratada (PERFECTUM, 2014).
O motor a diesel, devido a sua robustez, é geralmente utilizado para a geração de
energia mecânica, em veículos pesados, e de energia elétrica, em grupos geradores. Esses
motores, contudo, contaminam o meio ambiente devido, principalmente, à emissão de grandes
quantidades de material particulado e de compostos de enxofre em seus gases de exaustão.
Tais emissões, além de serem cancerígenas, contribuem para o aparecimento de doenças
cardiovasculares e respiratórias, podendo ainda colaborar para o aumento da acidificação de
águas, dos solos e de plantas (SANTANA, 2012).
A partir da crise do petróleo, ocorrida em meados de 1970, o governo brasileiro tem
intensificado a busca por fontes alternativas de energia. Neste sentido, o Gás Natural (GN)
por oferecer uma queima limpa, praticamente, livre de particulados e de enxofre, vem obtendo
destaque como combustível de recorrência e estudos para o seu emprego em motores Diesel,
de forma parcial (sistema dual) ou de forma total, vêm se intensificando (MMA, 2014). É
notório que o uso do sistema dual ainda traz prejuízos ao meio ambiente, pois nos motores
com essa característica, continua-se usando o diesel como combustível piloto para
proporcionar a ignição e iniciar a combustão do gás natural (MOUTELLA, 2009).
19
Com o objetivo de se eliminar todos os inconvenientes que o uso do diesel traz ao
meio ambiente e de se reduzir os custos das empresas com energia elétrica nos horário de
pico, várias pesquisas em conversão de motores Diesel para utilizar combustíveis mais
adequados ao meio ambiente vêm sendo realizadas. Os Laboratórios de Termoenergética
(LTE) e de Inovação (LI) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) se tornaram exemplos
da realização de tais estudos. Ali, grupos de pesquisadores têm desenvolvido técnicas de
conversão de motores do ciclo Diesel para o ciclo Otto (Ottolização), através de
procedimentos simples, de baixo custo e com a possibilidade de reversão para o diesel,
necessária em certas ocasiões. Como resultado, as características originais de um motor de
Ignição por Compressão, ICO, passam a ser as de um motor de Ignição por Centelha, ICE.
Inicialmente, estas equipes de conversão voltaram seus interesses para motores, naturalmente
aspirados, comprovando a viabilidade econômica da ottolização quando o diesel era
substituído por GN, etanol, ou pelo Gás Liquefeito de Petróleo, GLP (JAGUARIBE et al.,
2007; QUEIROGA, 2009; FERRAZ, 2010).
O surgimento dos turbocompressores nos Motores de Combustão Interna (MCI)
permitiu a redução da razão peso/potência, tendo conquistado o mercado como um todo. A
turboalimentação aproveita a energia dos gases de exaustão para promover o aumento da
pressão de admissão e da massa de ar/combustível admitida nos cilindros, proporcionando
assim, um consequente aumento de potência do motor (MARTINS, 2006). Visando o
aproveitamento das vantagens da turboalimentação, o setor empresarial brasileiro possui, em
sua grande maioria, motores Diesel com essa característica, empregados na geração de
energia elétrica. Esses fatores fizeram com que os estudiosos da ottolização dirigissem suas
atenções para esta classe de motor.
Um parâmetro que merece a atenção em qualquer processo de ottolização é a
octanagem do combustível. De fato, quanto maior o seu valor, melhor será a resistência do
combustível as altas pressões no interior dos cilindros, sem sofrer o indesejado fenômeno da
detonação. Este parâmetro é determinante tanto para a obtenção da taxa de compressão, como
para os avanços de ignição, mais adequados ao funcionamento de um motor do ciclo Otto.
A determinação da taxa de compressão em motores naturalmente aspirados é, de certa
forma, mais simples, por existirem pressões fixas na admissão com valores próximos da
atmosférica. Já com os motores turboalimentados existe uma maior complexidade devido a
natural elevação das pressões de admissão, promovida pela ação do turbocompressor.
Dando continuidade aos avanços já realizados no domínio da conversão de motores a
diesel, este estudo busca identificar os fatores limitantes das potências nos motores
20
turboalimentados ottolizados para GN, para estes funcionando em condições de operações
consideradas favoráveis aos maiores desempenhos. Na adequação das condições de trabalho
fez-se escolha pelos seguintes parâmetros: taxa de compressão, ângulos de avanço de ignição,
níveis de temperatura de exaustão e de pressão de admissão, tendo-se escolhido como
combustível de flexibilização o gás natural e para os testes o motor a diesel Perkins, modelo
1104C-44TAG2, turboalimentado, com aftercooler e potência (standby) de 112,4 kW (a 1800
rpm). Um dinamômetro com freio hidráulico de até 500 cv, um analisador de gases e um
medidor de vazão volumétrica de GN, constituíram os principais aparatos necessários ao
levantamento de dados. Este trabalho foi, ainda, consubstanciado por uma análise energética
global, através da qual se evidenciou o aproveitamento da energia do combustível para a
realização de trabalho e as perdas do processo.
A estrutura desta tese foi dividida em capítulos para apresentação do seu conteúdo.
Além do Capítulo I em que se expõe a Introdução e os objetivos deste trabalho, encontra-se
na sequência o Capítulo II, apresentando uma revisão bibliográfica relacionada à ottolização
de motores e aos estudos feitos em motores através de análises energéticas. Já o Capítulo III
trata da fundamentação teórica, onde são discutidos os principais parâmetros e características
dos motores de combustão interna, bem como, os conceitos termodinâmicos essenciais à
análise energética proposta. No Capítulo IV são descritos as considerações termodinâmicas e
os equacionamentos utilizados para os cálculos do balanço energético do motor Perkins
ottolizado. No Capítulo V, é demonstrada a técnica de ottolização do motor Perkins para GN.
No Capítulo VI é apresentado o aparato experimental, bem como a metodologia adotada nos
ensaios realizados no motor convertido para GN. No Capítulo VII são apresentados e
discutidos os resultados dos experimentos feitos no motor Perkins e, por fim, o Capítulo VIII,
expõe as conclusões gerais obtidas ao longo da realização deste trabalho.
21
CAPITULO II
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 INTRODUÇÃO
Neste Capítulo são feitas referências às principais publicações técnicas pertinentes à
ottolização de motores Diesel e à análise energética realizada em motores de combustão
interna nos últimos 14 anos.
2.2 O ESTUDO DA OTTOLIZAÇÃO EM MOTORES DIESEL
Com a crescente preocupação dos impactos que a utilização de motores a diesel
acarreta ao meio ambiente, vários esforços vêm sendo realizados por engenheiros e estudiosos
do assunto, ao longo das últimas décadas, para promoverem a substituição total, ou parcial
desse combustível.
Dasappa (2001) discutiu os principais fatores que influenciam a produção de energia a
partir de um motor a gás para prever a potência e a eficiência térmica em um motor a diesel
convertido para funcionar com diversos combustíveis gasosos. Os principais fatores tratados
foram o poder calorífico do gás e a taxa de compressão do motor, levando em consideração
algumas relações empíricas disponíveis a partir da literatura. Foram realizados estudos de
caso para diferentes combustíveis gasosos com objetivo de se verificar esta influência na
eficiência e na potência de saída do motor convertido. O autor verificou que a redução da taxa
de compressão no processo de conversão do motor leva a uma consequente queda em sua
eficiência térmica. Especificamente, para um motor turboalimentado, a diesel, fabricado pela
Greaves, modelo TB232, o autor averiguou que existe uma perda na potência máxima após
sua conversão para funcionar com GN, biogás ou gás produzido por gaseificação, chegando a
8,1 %, 50,5 % e 54,3 % respectivamente.
22
Dasappa et al. (2003) ottolizaram um motor RB-33 a diesel para operar com gás
produzido por gaseificação de bioresíduos. Através dos resultados dos testes, verificou-se que
o motor convertido operando com taxa de compressão de 17:1 entrega uma potência de 20
kW com uma eficiência de 30,7 %, enquanto que o motor original a diesel alcança 24 kW de
potência com 33 % de eficiência. Constataram, ainda, que a potência de saída e a eficiência
diminuem com a redução da taxa de compressão, chegando-se a uma potência máxima de
17,6 kW com uma eficiência de 27,5 % ao se trabalhar com uma taxa de 11,5:1.
Conceição (2006) estudou a viabilidade técnica, econômica e ambiental da inserção do
gás natural veicular em frotas do transporte coletivo urbano originalmente a diesel. Neste
estudo um motor de um ônibus urbano fabricado pela Mercedes Benz, modelo OM 366 LA, a
diesel, foi convertido para operar com gás natural na cidade de Porto Alegre. A ottolização foi
promovida pela empresa Tomassetto Achile da Argentina. Os resultados sinalizaram
benefícios ambientais e econômicos, como: a redução dos gastos com combustível e a
diminuição do ruído interno do veículo, com benefício para os ocupantes.
Semin et al. (2009) propuseram a otimização da eficiência térmica de um motor Diesel
convertido para trabalhar com gás natural, através de modificações no seu sistema de
alimentação. Foi avaliado um sistema multiponto de alimentação por bicos injetores de gás e
verificou-se que os bicos que possuíam multifuros ofereciam maior uniformização da mistura
ar/gás do que aqueles com um único furo, gerando assim, ganhos de potência e de eficiência
térmica ao motor. Avaliaram, também, que a posição da vela de ignição e a geometria dos
pistões influenciam diretamente na eficiência térmica dos motores que utilizam este sistema
de alimentação.
Gutiérrez (2011) realizou um estudo teórico-experimental de desempenho de um
motor Diesel, Scania, de 6 cilindros, ottolizado para trabalhar com gás natural. Foi
desenvolvido um modelo termodinâmico para um ciclo fechado, baseado na Primeira Lei,
objetivando o estudo do desempenho do motor convertido. Para representar o comportamento
da mistura de gases no interior do cilindro foram usadas duas abordagens: A Equação dos
Gases Ideais e a Equação dos Gases Reais de Van Der Waals. O modelo computacional
desenvolvido foi validado através de ensaios experimentais.
Com o objetivo de diminuir os custos da ottolização em motores a diesel, utilizando
mão de obra e peças nacionais, pesquisadores do LTE e do LI vêm promovendo diversos
estudos com resultados significativos, como os de:
23
Rumão (2008) realizou a conversão de um motor MWM D229-4, naturalmente
aspirado, para funcionar apenas com gás natural. Em seus testes, simulou-se uma situação
industrial de um grupo gerador funcionando em um chão de fábrica (motor com rotação fixa
de 1800 rpm acoplado a um gerador elétrico). No estudo foi concluído que a substituição do
diesel pelo GN permite uma economia, em termos de custos com combustível, que varia de
36% a 52%, a depender da carga solicitada ao gerador. Foi observado, também, que a
ottolização proporciona ao motor ganho de potência, redução dos níveis de ruído e de emissão
de poluentes.
Queiroga (2009) converteu um motor MWM D229-6, naturalmente aspirado, para
operar com etanol. Os resultados foram obtidos com o motor ottolizado acoplado a um
gerador elétrico e funcionando com rotação de 1800 rpm. O autor verificou que houve
redução da potência máxima em 27 %, com relação ao motor original. Foi verificada também,
uma economia com a troca de diesel pelo etanol, de 9,51 %, para o motor funcionando a 73%
da sua potência máxima original. Com relação aos níveis de ruído, a configuração ottolizada
promoveu uma redução de até 1,2 dB em relação ao motor original.
Oliveira (2009) converteu o mesmo motor MWM D229-4, para que operasse com
GLP. Todos os testes foram realizados em condições semelhantes aos de Rumão (2008), e os
resultados demostraram que este tipo de conversão proporciona, ao motor, ganhos de potência
em torno de 14 %. Foi constatada, ainda, a possibilidade de se ter uma economia, em custo
com combustível, de até 15 %, e uma redução de 8 dB na intensidade do ruído, em relação ao
motor Diesel original.
Ferraz (2010), objetivando ampliar as perspectivas de ottolização em motores Diesel,
converteu um motor naturalmente aspirado, com a particularidade de possuir bicos internos à
tampa do cabeçote. O objeto do estudo foi um motor Mercedes OM-366 que após ter sido
convertido e exposto a alguns ensaios, permitiu um aumento de potência de,
aproximadamente, 13 % em relação à configuração original a diesel. O motor convertido
apresentou vantagem econômica, com gastos em combustível, em comparação com o original,
quando operou com cargas acima de 53 kW (80% da potência máxima).
Ampliando a aplicação do processo de ottolização, Oliveira (2012) converteu um
motor Diesel turboalimentado da Perkins para operar apenas com GLP. Após a conversão, o
motor foi testado com três sistemas de alimentação distintos: 1. Sistema com injeção
eletrônica multiponto; 2. Sistema com misturador e controle mecânico; 3. Sistema com
misturador e controle eletrônico PID. Em cada sistema foram analisados os consumos, as
potências, as emissões dos gases de escape e as temperaturas e pressões nos sistemas
24
auxiliares do motor. Através de balanços energéticos e exergéticos verificou-se que os dois
sistemas com misturador apresentaram desempenhos semelhantes e superiores ao injetado.
Considerando-se a necessidade dos produtores de cana-de-açúcar de utilizarem
motores robustos, Queiroga (2012) ottolizou um motor Diesel turboalimentado fabricado pela
Perkins, para funcionar com etanol hidratado. O estudo levou em conta a necessidade de se
obter valores de taxa de compressão e de avanço de ignição adequados aos motores
turboalimentados movidos a etanol, uma vez que as correspondências usuais desses
parâmetros diferem daquelas dos motores naturalmente aspirados. O autor elaborou um
modelo matemático a partir de correlações existentes na literatura especializada e através de
ensaios realizados com o motor convertido na taxa de compressão de 9,3:1, mostrou que o
modelo proposto conseguiu reproduzir de forma satisfatória os dados reais de potência e de
rendimento indicados.
Com o objetivo de estudar a geração de eletricidade usando um sistema composto por
um gaseificador de biomassa e um grupo gerador, Rumão (2013) ottolizou um motor a diesel
da MWM D229-4, taxa de compressão de 17:1, para funcionar com gás pobre. A alimentação
do motor foi realizada através de um gaseificador de biomassa que forneceu o gás pobre (com
dois diferentes tipos de rejeitos de madeira) para o seu funcionamento. O motor foi testado
com diferentes ângulos de avanço de ignição. A potência elétrica produzida com a biomassa
residual chegou a 26 kWe com consumo específico de 0,838 kg/kWe.h. Em termos
comparativos, um sistema semelhante funcionado com um motor dual (diesel/gás pobre) no
IPT de São Paulo, chegou a potência máxima de 20 kWe com um consumo de biomassa igual
a 0,900 kg/kWe.h. Foi concluído que o uso da energia da biomassa através do gás pobre em
motores ottolizados é uma opção energética viável para geração de energia elétrica, sendo
viável, principalmente se a biomassa advém de rejeitos.
2.3 A ANÁLISE ENERGÉTICA APLICADA À MOTORES DE COMBUSTÃO
INTERNA
Ajav et al. (2000) realizaram um estudo de aproveitamento energético de um motor a
diesel de 10 hp, monocilíndrico, operando de forma dual com etanol. Os testes foram
realizados com o motor funcionando com diesel puro e com a adição de etanol variando entre
5% e 20%. O motor foi acoplado a um dinamômetro hidráulico, operando com rotação fixa de
1500 rpm. Com o auxílio de sensores de temperatura e de medidores de fluxos de ar, de
combustível e de água de arrefecimento, foi mensurada a quantidade de energia utilizada para
25
o fornecimento de trabalho de eixo, bem como as energias perdidas na água de arrefecimento,
nos gases de escape e através da radiação. Os autores verificaram que a potência útil do motor
aumenta com a adição de etanol ao diesel. Este resultado é uma consequência do
arrefecimento da mistura, ar/combustível, provocado pelo etanol e pelo fato de sua combustão
ser mais eficiente do que a do diesel. Observou-se, também, que a temperatura dos gases de
escape e a temperatura do óleo de lubrificação foram menores quando da adição do etanol.
Yüksel et al. (2003), através de análises energéticas, investigaram os efeitos da adição
de hidrogênio na admissão de um motor de quatro cilindros operando com gasolina. Foram
verificadas: a eficiência do motor, as perdas de calor através dos gases de escape e da água de
arrefecimento. Os ensaios foram realizados com o motor funcionando de 1000 rpm a 4500
rpm, com gasolina pura e com a adição de três valores diferentes de fluxo mássico de
hidrogênio: 0,129 kg/h; 0,168 kg/h e 0,208 kg/h. Durante os ensaios, cargas foram impostas
ao motor por um dinamômetro hidráulico e os resultados mostraram que a introdução de
hidrogênio no motor a gasolina diminui as perdas de calor para a água de arrefecimento. Esta
suplementação faz o consumo específico de combustível diminuir, aumentando o rendimento
térmico do motor, contudo, a sua potência máxima é reduzida.
Taymaz (2005) realizou um balanço de energia, em um motor Diesel turboalimentado,
para a análise da influência de um isolamento cerâmico, feito na face dos pistões e das
válvulas, no desempenho deste motor. O isolamento teve por objetivo a redução do calor
rejeitado no processo de combustão para água de arrefecimento. Para que essa quantificação
fosse realizada, dados de temperatura e de fluxos mássicos de ar e de combustível foram
coletados. Para a realização dos testes o motor, acoplado a um dinamômetro hidráulico,
operou com diferentes condições de cargas e de velocidades e os resultados indicaram que o
aumento da temperatura de combustão provocado pela aplicação da camada isolante pode
aumentar a potência útil em 32% a 34 % (em 50 % da carga total) e em 37% a 38 % (em 80 %
da carga total). Com a utilização do isolamento, verificou-se também, uma redução na energia
dissipada pela água de arrefecimento e um aumento na energia perdida nos gases de exaustão.
Özcan et al. (2006) realizaram um estudo da influência da injeção de água em um
motor movido a GLP. Com o auxílio de um dinamômetro hidráulico, o motor foi testado em
diversas condições de velocidade e de nível de injeção de água na mistura ar/gás. Através dos
dados captados por medidores de fluxo e por sensores de pressão e de temperatura inseridos
em pontos específicos do motor, pôde-se realizar um balanço térmico global do motor. O
balanço térmico levou em consideração as principais transformações da energia química do
combustível em um motor de combustão interna, como: Potência útil gerada, energia perdida
26
na água de arrefecimento e energia perdida nos gases de exaustão. Os resultados mostraram
que a potência útil e a eficiência do motor crescem na medida em que se aumenta o nível de
injeção de água na admissão. O autor verificou, ainda, que tanto a temperatura dos gases de
exaustão como a temperatura interna dos cilindros diminuem com a adição de água.
Com o objetivo de se reduzir o uso do diesel em motores, Wallace (2007) converteu
um motor fabricado pela Cummins, a diesel, para operar com biodiesel B100. Fazendo uso da
análise energética, pôde comparar o desempenho deste motor a diesel operando com seu
combustível original e com biodiesel. Nos testes experimentais foram captados os dados de
transformação da energia do combustível em potência do motor e em energia perdida na
refrigeração do motor, na saída dos gases de escape, por radiação e pelo óleo de lubrificação
do motor. Foi constatado que a energia de entrada de biodiesel obteve a seguinte distribuição:
37,4 %; 31,1 % e 29,6 % para o arrefecimento do motor, para os gases de escape e para a
potência, respectivamente. Para o motor operando com diesel, o balanço energético se
desenvolveu da seguinte forma: 37,5 %; 31,4 % e 29,2 % para as áreas de arrefecimento, de
exaustão e de potência, respectivamente. As perdas por radiação e para o óleo ficaram em
torno de 2 %, em ambos os casos.
Ciniviz (2010) realizou uma investigação, através de análises energéticas, do efeito de
um revestimento cerâmico na superfície das válvulas e dos pistões de um motor Mercedes
Benz a diesel, turboalimentado, funcionando em duas condições distintas: com 100 % de óleo
diesel e com uma mistura de 90% de diesel e 10% de etanol. Através dos testes realizados
pôde-se constatar que o isolante provoca redução na transferência de calor para o fluido de
arrefecimento do motor de 15%, utilizando-se o diesel, e de 22% quando se utiliza a mistura
diesel/etanol. O autor verificou, ainda, que a elevação na temperatura dos gases de escape na
entrada da turbina, proporcionada pelo isolamento, gera um aumento 2 % na potência máxima
do motor funcionando com o diesel. Já para motor operando com a mistura diesel/etanol, o
uso do isolante proporcionou uma redução na potência do motor de 22,5 %, estando este fato
relacionado com o baixo poder calorífico do etanol.
Sorathia et al. (2012) verificaram, através de análises energéticas, o comportamento de
um motor Diesel, monocilíndrico, naturalmente aspirado, funcionando com óleo diesel e com
uma mistura diesel/biogás. O motor foi acoplado a um gerador elétrico e ensaiado com
rotação fixa. Foram realizadas medições de temperatura e dos fluxos de ar e de combustível
para cada carga imposta. Desta forma, os saldos de energia foram determinados para a
apreciação do desempenho do motor operando com óleo diesel e com diesel/biogás. Os
estudos apontaram que a eficiência térmica do motor diminuía com o aumento da proporção
27
de biogás, chegando a 27,50 %. Já o motor operando com diesel obteve eficiência de 28,25 %.
Foi observado, também, que o motor operando na forma dual (Diesel/biogás) emitiu menos
monóxido de carbono e hidrocarbonetos não queimados, no sistema de escape, tendo este fato
sido atribuído a uma melhor queima com o uso do biogás na câmara de combustão.
Sabendo-se que os resultados obtidos com as pesquisas de motores Diesel ottolizados,
no LTE e no LI, demonstraram ser promissores e que existe pouca literatura relacionada à
ottolização de motores turboalimentados, uma das contribuições do trabalho proposto foi a de
avaliar os principais parâmetros que afetam o aumento de potência nestes tipos de motores,
operando com GN. Neste contexto, foram examinadas, através de análises energéticas, as perdas
de energia ocorridas no sistema e que poderão ser minimizadas através de possíveis
intervenções e modificações estruturais.
28
CAPÍTULO III
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1. INTRODUÇÃO
Neste Capítulo são descritos, inicialmente, os elementos conceituais necessários ao
entendimento da conversão de um motor Diesel para GN, levando em consideração os
parâmetros e as características de funcionamento dos motores dos ciclos Diesel e Otto, sendo
finalizado com os conceitos termodinâmicos pertinentes ao estudo proposto.
3.2 PARÂMETROS E CONCEITOS BÁSICOS RELACIONADOS AOS MOTORES
DE COMBUSTÃO INTERNA
Segundo Martins (2006), define-se máquinas térmicas como aquelas que transformam
energia térmica em energia mecânica útil. A energia térmica provém da combustão de uma
mistura combustível/comburente, liberando-se deste modo, a energia química do combustível.
Do ponto de vista termodinâmico, Van Wylen et al. (2010), definem motor térmico
como um sistema que opera segundo um ciclo, realizando trabalho líquido positivo e trocando
calor líquido positivo. Ou seja, uma máquina térmica pode ser definida como um dispositivo
que, operando sob um ciclo termodinâmico, realiza trabalho líquido positivo a custa de
transferência de calor de um corpo em temperatura elevada para um corpo em temperatura
baixa. Frequentemente a denominação máquina térmica é usada num sentido mais amplo para
designar todos os dispositivos que produzem trabalho através da troca de calor ou combustão,
mesmo que o dispositivo não opere segundo um ciclo termodinâmico. O MCI é um exemplo
desse tipo de dispositivo e a denominação de motores térmicos é aceitável nestes casos.
Nos motores de combustão interna o combustível e o ar necessários à combustão, se
misturam, efetuando a queima dentro do cilindro do motor. Após a queima, a liberação da
29
energia faz elevar a temperatura da mistura provocando a expansão dos gases e, assim,
realizando trabalho.
Apesar do MCI operar segundo um ciclo aberto (admissão, compressão,
combustão/expansão e exaustão), nas análises destes motores é vantajoso concebê-los
operando em ciclos fechados que se aproximem dos ciclos abertos. Uma das aproximações é
o ciclo padrão de ar. Como exemplos de ciclos padrões de ar têm-se: ciclo padrão Diesel e o
ciclo padrão Otto. Os motores alternativos são classificados, ainda, de acordo com seu tipo de
ignição e podem ser por compressão (ICO) ou por centelha (ICE). Devido às propriedades
químicas do diesel, nos motores que utilizam este combustível a ignição se dá por
compressão, ou seja, o pistão comprime apenas o ar e com a injeção do diesel a alta pressão e
temperatura acontece a autoignição do combustível (MORAN, SHAPIRO, 2008).
Nos motores do ciclo Otto (a gasolina, a gás, etc.) o pistão admite e comprime uma
mistura ar/combustível que necessita de uma energia extra para provocar uma temperatura
suficientemente alta para o início da combustão. Assim, a ignição dessa mistura se dá por uma
centelha elétrica advinda de uma vela de ignição (PENIDO F., 1991).
3.2.1 Ciclo padrão a ar Diesel
Para a análise do ciclo padrão a ar Diesel são feitas considerações para as
transformações termodinâmicas do fluido de trabalho, onde todos os processos são ideais. A
representação gráfica desse ciclo, em motores naturalmente aspirados, pode ser observada
através do seu gráfico P-v (Pressão x volume), ver Fig. (3.1).
30
Figura 3.1 – Gráfico P-v do ciclo padrão a ar Diesel. Fonte: Moran e Shapiro (2002).
As transformações termodinâmicas da Fig. (3.1) são:
Processo 1-2, compressão isoentrópica ou com entropia constante (s = c), onde o ar é
comprimido de forma adiabática e reversível;
Processo 2-3, fornecimento de calor a pressão constante (isobárica).
Processo 3-4, expansão adiabática e reversível (isoentrópica). Os gases de combustão
se expandem realizando trabalho (tempo motor).
Processo 4-1, rejeição de calor a volume constante, substitui a descarga dos produtos
de combustão para a atmosfera e nova admissão da mistura ar.
Sabe-se que, na prática, os processos de compressão e de expansão em um motor a
diesel não ocorrem isoentropicamente, nem o fornecimento e a rejeição de calor a pressão
constante, portanto o ciclo diesel próximo do real, levando-se em consideração as perdas de
calor e de trabalho por atrito, passa a ter uma forma diferente daquela típica do ciclo ideal, ver
Fig. (3.2).
31
Figura 3.2 – Digrama comparativo entre os diagramas P-v do ciclo Diesel ideal e real. Fonte:
Giacosa (1986).
Verificam-se, na Fig. (3.2), as regiões inerentes às perdas em um ciclo Diesel real,
onde a região D está representando as perdas de pressão, nos processos de admissão e
exaustão, na B, as do processo de ignição, relacionadas com a combustão não instantânea e à
dissociação do combustível no processo de combustão. Na região A, as perdas acontecem na
expansão e são provocadas pela troca de calor do fluido de trabalho com a parede dos
cilindros devido à ação do sistema de arrefecimento do motor, enquanto as ocorridas em razão
da abertura antecipada da válvula de exaustão são demonstradas na região C.
Observando-se a Fig. (3.2) percebe-se como se dá o funcionamento de um motor
Diesel real, naturalmente aspirado, que corresponde à seguinte descrição:
Com a válvula de admissão aberta, inicia-se o processo de admissão do ar com o
movimento descendente do pistão até o Ponto Morto Inferior (PMI), onde tal fluido se
encontra à pressão próxima da atmosférica. Na sequência, o pistão inicia o movimento
ascendente ao Ponto Morto Superior (PMS) e a válvula de admissão fecha-se. O ar admitido é
comprimido pelo pistão até a posição correspondente ao momento de injeção de diesel, que
ocorre um pouco antes do pistão atingir o PMS. O processo de combustão é iniciado,
acompanhado da compressão da mistura, a qual se compõe de gases, parcialmente, queimados
32
e outros prestes a entrarem em combustão. Após o pistão atingir o PMS, ele inicia seu retorno
ao PMI (O processo de combustão é finalizado em uma posição logo após o PMS). Este
adiantamento da injeção de diesel se dá para que o pico máximo de pressão ocorra quando o
pistão estiver em seu movimento descendente e o mais próximo do PMS. Com a combustão,
os gases são expandidos impulsionando o pistão em direção ao PMI, realizando o trabalho útil
do motor. A válvula de escape abre-se antes do pistão atingir o PMI, iniciando-se, assim, o
processo de exaustão dos gases de combustão, que é finalizado com o movimento ascendente
do pistão até o fechamento da válvula de escape, caracterizando o início de um novo ciclo.
3.2.2 Ciclo padrão ar Otto
Segundo Van Wylen et al. (2010), o ciclo padrão a ar Otto é um ciclo ideal que se
aproxima de um motor ICE. A análise desse ciclo, em motores naturalmente aspirados, pode
ser feita observando-se a Fig. (3.3).
Figura 3.3 – Gráfico P-v do Ciclo ideal Otto. Fonte: Moran e Shapiro (2002).
As transformações termodinâmicas observadas na Fig. (3.3) são:
Processo 1-2, compressão reversível e adiabática (isoentrópica); modela e substitui a
compressão da mistura ar/combustível;
33
Processo 2-3, adição de calor a volume constante; substitui e modela a combustão da
mistura ar/combustível;
Processo 3-4, expansão reversível e adiabática (isoentrópica), substitui e modela o
processo de expansão dos produtos de combustão com realização de trabalho;
Processo 4-1, rejeição de calor a volume constante, substitui e modela a exaustão dos
produtos de combustão para a atmosfera e nova admissão da mistura ar/combustível.
Na prática, os processos em um motor de ciclo Otto não são ideais, ou seja, não
ocorrem isoentropicamente e a volume constante. Portanto, o ciclo Otto, próximo do real,
possui uma forma diferente daquela apresentada pelo ciclo ideal e essas diferenças se
assemelham, em alguns pontos, daquelas observadas entre o ciclo real e o teórico Diesel, ver
Fig. (3.4).
Figura 3.4 – Digrama comparativo entre os diagramas P-v do ciclo Otto ideal e real. Fonte
Giacosa (1986).
Verificando-se a Fig. (3.4) fica notório o efeito de algumas perdas existentes em um
ciclo Otto real, diferenciando-o, assim, do ciclo ideal. Na região D estão demonstradas as
perdas de pressão que acontecem nas etapas de admissão e de descarga, no ciclo real. Já na
34
região B estão representadas as perdas, no processo de ignição, relacionadas com a combustão
não instantânea e com a dissociação do combustível em elementos como CO, O, CO2 e H2. As
perdas ocorridas devido à troca de calor do fluido de trabalho com as paredes do cilindro
correspondem à região A e a C congrega as perdas, que ocorrem devido à abertura antecipada
da válvula de descarga, pois, no ciclo teórico a abertura dessa válvula é considerada
instantânea e no ciclo real ela se abre antes do pistão atingir o PMI.
O funcionamento de um motor Otto real, naturalmente aspirado, assemelha-se, em
alguns pontos com o de um motor Diesel:
O tempo de admissão é semelhante ao dos motores Diesel, diferindo apenas no que diz
respeito à aspiração, neste caso, aspira-se uma mistura ar/combustível. No tempo de
compressão, comprime-se a mistura e a combustão é provocada por uma centelha elétrica
através de uma vela de ignição, antes do pistão atingir o PMS. Com a ocorrência da centelha a
combustão da mistura acontece, provocando a expansão dos gases e a exaustão dos gases se
dá do mesmo modo do que a dos motores Diesel.
3.2.3 Motores turboalimentados do ciclo Otto
Segundo Martins (2006), uma das formas de se elevar a potência de um motor é pelo
aumento da quantidade de ar/combustível admitido em cada ciclo. Esse aumento pode ser
conseguido elevando-se a pressão na admissão do motor. A energia empregada neste
procedimento advém, muito das vezes, da entalpia dos gases de escape, empregando-se um
turbocompressor.
O turbocompressor possui um par de rotores axiais, fixado em um único eixo, que
opera, de um lado, como turbina e do outro como compressor. Os gases de escape ao
passarem entre a seção de entrada e a de saída da turbina giram tanto o rotor da turbina como
o do compressor. A mistura ar/combustível ao ser admitida na entrada do compressor é
comprimida a pressões acima da atmosférica, fazendo com que seja possível adicionar mais
massa de mistura ao volume do cilindro, aumentando a potência do motor. Através da Fig.
(3.5) é possível visualizar um esquema geral de turboalimentação em motores de combustão
interna do ciclo Otto.
35
Figura 3.5 – Desenho esquemático da turboalimentação em um motor de combustão interna.
Fonte: Adaptado de Pulkrabek (2003).
Pulkrabek (2003) expõe e discute um teste realizado em um motor do ciclo Otto
fabricado pela empresa General Motors. Ali foram levantadas algumas curvas, evidenciando
os efeitos que a turboalimentação provoca na pressão interna do cilindro, ver Fig. (3.6).
Figura 3.6 – Comparação entre gráficos P-v, em um cilindro de um motor do ciclo Otto real,
sob diferentes condições de pressão de admissão. Fonte: Adaptado de Pulkrabek (2003).
36
Através das curvas expostas na Fig. (3.6), Pulkrabek (2003) observou que ao se
aumentar a pressão de admissão de 50, 2 kPa para 75,0 kPa, por ação de um turbocompressor,
provoca-se a elevação do pico de pressão no cilindro, com o consequente ganho de potência.
Por outro lado, há que se levar em consideração que a elevação da pressão da mistura
ar/combustível a ser admitida eleva, também, a sua temperatura podendo causar a sua ignição
espontânea, ou seja, uma ignição antes da ocorrência da centelha da vela. De uma forma geral,
para melhorar os efeitos da turboalimentação nos motores, adiciona-se após o
turbocompressor um equipamento de arrefecimento da mistura, denominado de aftercooler.
Este trocador de calor, além de minimizar a possibilidade de ignição espontânea da mistura,
através da redução da temperatura, contribui para adensar a sua massa no interior dos
cilindros, aumentando-se a quantidade admitida e, consequentemente, a energia introduzida
na etapa de admissão do motor. Na maioria dos casos, este trocador de calor fica junto ao
radiador e recebe a ventilação do ar proveniente da hélice do eixo motor para a refrigeração
da mistura ar/combustível. Todavia, visando-se aumentar a eficiência de refrigeração da
mistura, alguns motores utilizam aftercoolers com resfriamento por água.
3.2.4 Taxa ou razão de compressão
Como discutido em seções anteriores, pode-se destacar nos motores ICO, a
autoignição como sendo um processo natural na combustão do diesel. Em contrapartida, nos
motores ICE, a combustão é iniciada pela centelha de uma vela de ignição. Por outro lado,
deve-se observar que a possibilidade do aparecimento da autoignição nos motores ICE,
muitas vezes gerada pela presença de “pontos quentes” ou de pressões superiores àquelas
consideradas ideais para o combustível utilizado, pode ser prejudicial ao rendimento deste
tipo de motor (TAYLOR, 1998). O entendimento de que a escolha de um combustível está
associada a uma pressão de trabalho, com valores máximos, bem determinados, de
compressão da mistura ar/combustível, no caso do motor ICE, ou do ar, no ICO, leva a
definição da taxa de compressão. Assim, a partir destas considerações define-se taxa, ou
razão, de compressão como sendo a relação entre o volume deslocado (Vd) pelo pistão na
etapa de admissão (partindo do PMS ao PMI) e o volume comprimido na câmara de
combustão (Vcc), ver Fig. (3.7). O cálculo deste parâmetro é mostrado pela Eq. (3.1).
37
Figura 3.7 – Desenho esquemático de um conjunto cilindro-pistão. Fonte: Martins (2006).
Na Figura 3.7, o parâmetro geométrico “C” representa o curso total do pistão e o “D"
indica o seu diâmetro, que nas análises de motores, geralmente, é considerado como sendo o
mesmo diâmetro do cilindro. Já o “” e o “R” representam o ângulo e o raio de manivelas em
motores cilindrados, respectivamente, e o parâmetro “L” se refere ao comprimento da biela.
(
) (3.1)
Onde:
(
) (3.2)
3.2.5 Fator lambda (λ)
Em um processo de combustão eficiente, a energia do combustível liberada no
processo de combustão deve ter o máximo aproveitamento, e isto ocorre quando a razão
ar/combustível é bem estabelecida. Para se avaliar a eficiência da queima, pode-se fazer uso
38
de um parâmetro denominado de fator λ, definido como sendo a razão entre a relação
ar/combustível real e a estequiométrica1 (teórica), ver Eq. (3.3) (OBERT, 1971).
(
ar
)
(ar
)
(3.3)
Através deste fator pode-se apreciar a condição da mistura em um motor de combustão
interna como sendo: i) = 1, a mistura é considerada ideal, ou seja, o seu valor é igual ao da
estequiométrica; ii) < 1, diz-se que a mistura é rica, ou seja, há excesso de combustível no
processo de combustão; iii) > 1, tem-se uma mistura pobre, isto é, existe excesso de
oxigênio na combustão.
A mistura rica, por gerar uma queima incompleta do combustível, promoverá um
aumento de consumo, no motor, além de formar depósitos de carbono na câmara, nos anéis,
nas válvulas e nos eletrodos das velas de ignição. Já em uma mistura pobre, devido ao excesso
de oxigênio, a temperatura da chama gerada será muito alta e poderá provocar um
superaquecimento nos componentes do motor, principalmente nas válvulas de descarga,
podendo provocar a sua queima (PENIDO, 1991).
A Figura 3.8 mostra a influência da relação de mistura na emissão de alguns poluentes
emitidos por um motor do ciclo Otto movido à gasolina.
1 Para que ocorra a combustão completa dos elementos que constituem o combustível necessita-se de uma
quantidade mínima de ar para que estes elementos se oxidem, a qual é denominada de “ar teórico”.
39
Figura 3.8 – Gráfico de emissão de poluentes em função da relação ar/combustível. Fonte:
Martins (2006).
Pode-se observar na Fig. (3.8) que o enriquecimento da mistura eleva os níveis de
emissão de monóxido de carbono, CO, e dos hidrocarbonetos, HC, não queimados na
combustão. Percebe-se, também, que a emissão de óxidos de nitrogênio, NOx (NO2 + NO)
diminui para misturas pobres e ricas, tendo o seu valor máximo para uma região um pouco
acima da estequiométrica, ou seja, com um baixo nível de pobreza da mistura.
Um fator a ser levado em consideração é que nos motores do ciclo Otto o quociente
NO2 / NO é muito baixo, sendo o NO2 geralmente desprezado nos cálculos de balanço térmico
(MARTINS, 2006). A Figura 3.9 mostra as curvas de NO e de NO2, em função da relação de
mistura ar/combustível de um motor a gasolina, expondo, ainda, o grau de concentração
destes elementos.
40
Figura 3.9 – Gráfico de emissão de NO e de NO2 no escape de um motor a gasolina, em
função da relação de mistura ar/combustível. Fonte: Martins (2006).
3.2.6 Poder calorífico de um combustível
O poder calorífico de um combustível define o seu poder energético, ou seja, é a
quantidade de energia interna que o combustível possui e pode ser transferido em forma de
calor durante o processo de combustão. A sua determinação é feita através de ensaios
normalizados, onde uma massa conhecida de combustível é totalmente queimada com ar e o
calor liberado no processo de combustão é captado por um calorímetro, sendo ainda, todos os
produtos gerados na combustão, resfriados até a temperatura inicial dos reagentes. Através
destes ensaios e sabendo-se que, de uma forma geral, a queima de combustíveis gera água em
seus produtos, chega-se a classificação do poder calorífico em: Poder Calorífico Superior
(PCS) e Poder Calorífico Inferior (PCI). O PCS é a quantidade de calor liberado durante a
combustão de uma unidade combustível com a correspondente quantidade de ar
estequiométrico, onde a água gerada se encontra no estado líquido. O PCI difere-se do
anterior, pelo fato da água gerada na combustão se encontrar em forma de vapor
(HEYWOOD, 1988). A Tabela 3.1 exibe os valores de poder calorífico superior e inferior de
as substâncias que compõe o gás natural.
41
Tabela 3.1 – PCI e PCS dos elementos constituintes do GN.
Elemento Fórmula PCS (kJ/kg) PCI (kJ/kg)
Metano CH4 55510 50020
Etano C2H6 51870 47480
Propano C3H8 50350 46360
Dióxido de Carbono CO2 - -
Nitrogênio N2 - -
Fonte: Moran e Shapiro (2002).
3.2.7 Avanço de ignição
Segundo Martins (2006), o princípio da combustão deve acontecer com certo avanço
(antes do PMS) para que se obtenha o máximo torque no eixo de manivelas do motor e,
consequentemente, uma maior potência. Nos motores do ciclo Otto, este início é promovido
pela centelha de uma vela de ignição e este momento deve ser escolhido de maneira que se
obtenha o valor máximo de pressão logo após o PMS, proporcionando uma maior eficiência
ao motor. Desta forma, ao se avançar o instante da ignição, o trabalho realizado pelo pistão no
seu movimento de ascensão (antes de PMS) vai sendo maior. Contudo, a partir de certo ponto,
aumentar o avanço de ignição resulta em uma redução do torque no eixo de manivelas do
motor, pois, haverá um aumento excessivo da pressão durante a subida do pistão, reduzindo,
assim, a sua componente útil. Avanços excessivos podem gerar, também, o indesejado efeito
da detonação do combustível (knock) que é fator prejudicial ao rendimento e aos componentes
do motor. A Figura 3.10 mostra as curvas de pressão, em função do ângulo de manivela, θ,
em um motor do ciclo Otto, monocilíndrico apresentadas por Heywood (1988).
42
(a) (b) (c)
Figura 3.10 – Gráfico P- θ para os ciclos com: (a) combustão normal, (b) detonação leve e (c)
detonação forte. Fonte: Adaptado de Heywood (1988).
As curvas dos ensaios apresentados por Heywood (1988) e observadas nas Fig. (3.10a)
e (3.10b), foram geradas para as mesmas condições avanço de ignição (28º). No início dos
ensaios, no motor monocilíndrico, não houve o surgimento da detonação de combustível, com
registros normais nas pressões internas ao cilindro, ver Fig. (3.10a). Após alguns ciclos de
funcionamento houve o aparecimento do efeito da detonação, demonstrado pela amplitude das
flutuações de pressão, ver Fig. (3.10b). Com o aumento do ângulo de avanço de ignição para
32º houve um acréscimo na amplitude das oscilações de pressão e estas flutuações começaram
a produzir um ruído metálico agudo chamado de "batida de pino", ver Fig. (3.10c).
3.2.8 Eficiência volumétrica
Durante a fase de admissão, o pistão ao se deslocar do PMS ao PMI aspira certa
quantidade de ar ou de mistura ar/combustível. Se esta aspiração fosse perfeita, todo o espaço
liberado pelo pistão seria imediatamente ocupado pelo fluido de trabalho. Contudo, isto não
ocorre devido a alguns fatores como: tempo de abertura das válvulas, temperatura do fluido,
rotação do motor, inércia da mistura, etc. Define-se eficiência volumétrica como sendo a
relação entre a quantidade de ar ou de mistura ar/combustível que entra no cilindro do motor
em seu ciclo de admissão e o máximo valor teórico que caberia em seu interior (PENIDO,
1991). A eficiência volumétrica pode ser expressa pela Eq. (3.4).
43
(3.4)
Onde:
ṁ é a vazão mássica do ar ou da mistura ar/combustível por unidade de tempo (kg/s);
ρ é a massa específica, do ar ou da mistura ar/combustível na admissão do motor
(kg/m3).
De uma forma geral, os motores naturalmente aspirados possuem eficiência
volumétrica com valores entre 75 % e 90 %. Por outro lado, a introdução de
turbocompressores nos motores de combustão interna é uma das formas de se aumentar a sua
eficiência volumétrica, elevando também, a Pressão Média Efetiva, PME2, e
consequentemente a sua potência. Com o uso deste artifício são obtidas eficiências
volumétricas com valores superiores a 100 % (PULKRABEK, 2003).
3.2.9 Eficiência térmica
Para motores de combustão interna operando em um ciclo real, a eficiência térmica é
definida como a relação entre o trabalho real produzido e o valor da energia fornecida pelo
combustível no processo de combustão (ÇENGEL e BOLES, 2006; HEYWOOD, 1988),
sendo expressa através da Eq. (3.5).
(3.5)
Onde:
ṁc é a vazão mássica de combustível;
PCI é o poder calorífico inferior do combustível;
Ẇ é a potência de eixo do motor.
2 Pressão Média Efetiva, PME, é definida como a pressão hipotética constante que seria necessária no interior do
cilindro, durante o curso de expansão, para desenvolver uma potência igual à de eixo.
44
Existem vários fatores que afetam a eficiência térmica nos motores de combustão
interna, tais como: a relação de mistura ar/combustível, o avanço de ignição, o grau de
turbulência da mistura, a eficiência volumétrica, a taxa de compressão, etc.
Com relação à taxa de compressão, pode-se verificar a sua influência na eficiência
térmica de um MCI do ciclo Otto através da Eq. (3.6) e da Fig. (3.11).
(
) (3.6)
Onde:
rc é a razão, ou taxa de compressão;
é o fator relacionado com o coeficiente de expansão adiabática (k): = k - 1.
Figura 3.11 – Gráfico de eficiência térmica em função da taxa de compressão. Fonte: Heywood
(1988).
Pode-se inferir, através da Eq. (3.6) e da Fig. (3.11), que o aumento da taxa de
compressão em um MCI ocasiona a elevação de sua eficiência térmica. Neste contexto,
conclui-se, também, que as menores taxas de compressão praticadas nos motores do ciclo
Otto para que se evite o fenômeno da detonação do combustível, implica em menores
eficiências quando comparadas às dos motores a diesel. Segundo Martins (2006), as
45
eficiências térmicas verificadas nos motores naturalmente aspirados, em condições de plena
carga, são de 25% a 35% para os motores do ciclo Otto e de 30% a 45% para os motores
Diesel.
Por outro lado, há que se observar que a eficiência térmica dos motores
turboalimentados são maiores que aquelas observadas nos motores naturalmente aspirados de
mesma potência. Este fator tem relação com aumento da eficiência volumétrica proporcionada
pelo turbocompressor que permite que o motor desenvolva uma mesma potência que um
naturalmente aspirado de maior tamanho e, sendo o sistema mais leve e/ou menor, reduz-se o
atrito entre os componentes, as perdas por bombeamento da mistura ar/combustível e o seu
consumo específico (BASSHUYSEN e SHÄFER 2004; BAÊTA, 2006).
3.3 ANÁLISE ENERGÉTICA EM UM VOLUME DE CONTROLE
3.3.1 Lei da Conservação de Massa ou da Continuidade para um volume de controle
A maioria dos processos térmicos de interesse envolvem fluxos mássicos para dentro
ou para fora de um equipamento ou instalação como, por exemplo, fluxos de ar e água através
de uma torre de resfriamento, ou fluxos de ar e de combustível através de máquinas térmicas
(turbinas e motores). Considerando um volume de controle em torno do equipamento, ver Fig.
(3.12), deve-se estabelecer um procedimento de análise para considerar e contabilizar tais
fluxos.
Figura 3.12 – Desenho esquemático de um volume de controle envolvendo um equipamento e
os fluxos mássicos que o cruzam através da superfície de controle.
46
A expressão do balanço de massa pode ser escrita para um dado instante de tempo, t, e
para uma dada substância ou espécie química através da Eq. (3.7).
∑ ∑ (3.7)
Onde:
é a variação instantânea da massa dentro do volume de controle;
∑ é o somatório dos fluxos mássicos instantâneos que entram no volume de
controle;
∑ é o somatório dos fluxos mássicos instantâneos que abandonam o volume de
controle.
Uma simplificação pode ser realizada quando a massa contida no volume de controle
permanece inalterada com o tempo. Quando isto acontece, diz-se que o processo se encontra
em regime permanente e com esta hipótese a Eq. (3.8) se reduz a:
∑ ∑ (3.8)
3.3.2 Lei da Conservação da Energia ou Primeira Lei da Termodinâmica
A Lei da Conservação da Energia se preocupa em contabilizar o balanço de energia
sem levar em conta as irreversibilidades do(s) processo(s). Ela estabelece que a energia não
pode ser criada, nem destruída, mas permanece constante. A representação de um volume de
controle envolvendo um equipamento pode ser vista através da Fig. (3.13).
47
Figura 3.13 – Volume de controle envolvendo um equipamento e os fluxos de energia
associados com os fluxos mássicos e as interações de calor e trabalho com o meio.
Utilizando um esquema de balanço semelhante ao de massa, a Lei da Conservação da
Energia, para o volume de controle da Fig. (3.13), pode ser escrita através da Eq. (3.9).
∑
∑
(3.9)
Onde:
é a taxa de variação de energia no tempo, do volume de controle;
é a taxa líquida de transferência de calor que cruza o volume de controle;
é a taxa líquida de energia em forma de trabalho que cruza o volume;
∑
é a taxa de escoamento total da energia para dentro da
superfície de controle pelo fluxo de massa;
∑
é a taxa de escoamento total da energia para fora da superfície
de controle por deslocamento de massa.
Para processos em regime permanente, o termo da derivada temporal da energia total é
nulo e, portanto, a Eq. (3.9) fica:
48
∑
∑
(3.10)
3.3.3 Balanço de energia em um motor de combustão interna
Um balanço térmico, em um MCI, deve envolver as diferentes parcelas de energia
convertida nos processos, necessárias à produção do trabalho, inclusive, a própria energia do
combustível. Em princípio, portanto, o volume de controle neste caso deverá englobar todo o
motor, como mostra a Fig. (3.14).
Figura 3.14 – Volume de Controle para um motor de combustão interna. Fonte: (MORAN e
SHAPIRO, 2002).
A análise de um balanço térmico poderá permitir que sejam identificadas as regiões
críticas de perdas no sistema. Consequentemente, outros estudos devem ser feitos para que se
antevejam as possibilidades de se reduzir a perda de energia, bem como a viabilidade
econômica que a introdução de melhorias acarretará. Tal análise começa pela identificação
dos termos relacionados no balanço, entendendo que a energia fornecida pelo combustível
para a realização de trabalho é calculada a partir dos dados de vazão mássica do combustível e
do seu poder calorífico inferior. No caso, a energia fornecida gera as seguintes parcelas:
Potência, Ẇ, através do eixo motor, medida com um dinamômetro;
Taxa de calor perdida no arrefecimento, arref, através do circuito de refrigeração do
motor, usando água, calculável através da vazão do fluido, da sua capacidade
calorífica específica e da sua elevação de temperatura;
49
Taxa de calor perdida nos gases de escape, gases, que transportam energia sob a forma
sensível e sob a forma de produtos não queimados resultantes da combustão
incompleta;
Outras taxas de calor perdidas, outros, que compreende a energia de arrefecimento do
óleo (havendo radiador de óleo) e a convecção e radiação da superfície externa ao
motor.
Segundo Martins (2006), valores frequentes de dissipação de energia do combustível
para condições de plena carga em motores ICE, naturalmente aspirados, encontram-se
dispostos como:
i) Ẇ: 25% a 35 %;
ii) arref: 20% a 35 %;
iii) gases: 25% a 45 %;
iv) outros: 2% a 6 %.
Desta forma, para efeitos de análise da taxa de calor transferido para o ambiente se
resumiria nas parcelas de energia perdida: através da água, no arrefecimento do motor e pelos
gases de escape.
3.3.4 Combustão em um MCI
Define-se combustão como sendo a reação química na qual um combustível é oxidado,
geralmente, com o oxigênio do ar atmosférico. Esta reação promove a liberação de certa
quantidade de energia. Dessa forma, ao se analisar sistemas com reações químicas é
necessário considerar a energia química envolvida no processo, que está associada com a
destruição ou formação de ligações químicas entre átomos (MORAN e SHAPIRO, 2002). O
ar atmosférico é uma mistura de inúmeros componentes, mas normalmente considera-se a
mistura indicada na Tab. (3.2).
50
Tabela 3.2 – Composição do ar atmosférico.
Elemento Fórmula Volume (%)
Massa Molar
(%)
Oxigênio O2 20,95 20,95
Nitrogênio N2 78,09 79,05
Argônio Ar 0,93 -
Dióxido de Carbono CO2 0,03 -
Fonte: Martins (2006)
Segundo Martins (2006), nos cálculos relacionados aos balanços químicos da
combustão, de uma forma geral, considera-se que o ar é composto por 21% de oxigênio e por
79% de nitrogênio. Dessa forma, calcula-se que para cada mol de oxigênio haverá 3,76 moles
de nitrogênio. Na combustão completa de um hidrocarboneto com a quantidade de ar teórico,
os produtos de tal reação consistem, apenas, em água (H2O), dióxido de enxofre (CO2) e
nitrogênio (N2). Particularmente, o balanço químico da combustão teórica de 1 kmol de
metano (CH4) com ar pode ser observada através da Eq. (3.11).
(3.11)
Os termos “a”, “b”, “c” e “d” da Eq. (3.11) representam o número de moles de cada
componente da expressão.
Na maioria dos casos, a quantidade de ar usada na combustão é maior ou menor do que a
quantidade teórica, gerando assim, outros produtos. Os produtos que podem aparecer em uma
combustão real são: dióxido de carbono (CO2), água (H2O), monóxido de carbono (CO),
hidrogênio (H2), nitrogênio (N2), hidrocarbonetos não queimados (HC), etc. (MARTINS,
2006).
51
CAPÍTULO IV
ANÁLISE ENERGÉTICA REALIZADA NO MOTOR PERKINS
OTTOLIZADO
4.1 INTRODUÇÃO
Neste Capítulo estão expostos os equacionamentos pertinentes à realização das
análises de eficiência e das perdas térmicas ocorridas no motor Perkins (objeto de estudo)
movido a gás natural, bem como, as restrições associadas a estas análises.
4.2 DESCRIÇÃO DO BALANÇO DE ENERGIA
Para os cálculos do balanço energético realizado no motor Perkins ottolizado, foram
utilizados todos os conceitos termodinâmicos apresentados no Capítulo III e as condições de
temperatura e de pressão, em pontos estratégicos do motor, serviram de parâmetro para uma
melhor avaliação do desempenho do motor, vindo a auxiliar também, no próprio balanço
térmico.
A Figura 4.1 exibe um desenho esquemático da bancada de testes do motor, mostrando
os pontos de medição de temperatura e de pressão utilizados, inclusive, para a realização do
balanço de energia.
52
Figura 4.1 – Desenho esquemático da bancada de testes tomando o motor Perkins como
Volume de Controle.
Para auxiliar a identificação dos pontos de medição de pressão e de temperatura descritos
na Fig. (4.1), a Tab. (4.1) apresenta as suas denominações.
Tabela 4.1 - Descrição dos pontos de medição de pressão e de temperatura utilizados nos
testes.
T0. Temperatura do ar na entrada do filtro. T5. Temperatura dos gases de exaustão.
T1. Temperatura da mistura ar/GN na entrada
do aftercooler.
T6. Temperatura da água de arrefecimento na
entrada do bloco do motor.
T2. Temperatura da mistura ar/GN na saída
do aftercooler.
T7. Temperatura da água de arrefecimento na
saída do bloco do motor.
T3. Temperatura da mistura ar/GN no coletor
de admissão. P0. Pressão do ar na entrada do filtro.
T4. Temperatura da turbina. P1. Pressão da mistura ar/GN no coletor de
admissão.
53
Para a análise energética do motor Perkins ottolizado para operar com GN, considera-
se o esquema representado na Fig. (4.1), onde o combustível entra no motor com uma vazão
mássica de combustível, ṁGN que se junta a uma vazão de ar, ṁar. Consideram-se, as
variações de energia cinética e potencial do ar e do combustível desprezíveis. O combustível e
o ar entram no motor à temperatura T0 e à pressão P0. Os produtos da combustão deixam o
motor à temperatura T5 e à pressão P0 com o fluxo de massa ṁgases. O motor desenvolve uma
potência Ẇ (medida pelo dinamômetro) e transfere uma taxa de energia para o ambiente
através do arrefecimento do motor, do resfriamento da mistura no aftercooler e devido à
outros fatores como: radiação e convecção.
O GN utilizado nos ensaios do motor convertido foi fornecido pela Companhia
Paraibana de Gás (PBGÁS) e sua composição está descrita na Tab. (4.2).
Tabela 4.2 – Composição do GN utilizados nos testes do motor Perkins ottolizado.
Elemento Fórmula Fração Molar (%)
Metano CH4 90,09
Etano C2H6 6,84
Propano C3H8 0,36
Dióxido de Carbono CO2 1,56
Nitrogênio N2 1,35
Fonte: PBGÁS (2014).
Os cálculos se iniciam com a realização de um balanço químico entre os reagentes e os
produtos da combustão do gás natural com o ar atmosférico. A Equação 4.1 exprime a
modelagem da combustão do gás natural para uma condição de mistura estequiométrica,
onde, através desta, determina-se o valor da relação ar/combustível do GN, bem como a
quantidade de moles de O2, CO2 e de N2 ( , , e ):
(4.1)
54
Os termos c1, c2, c3, c4 e c5 representam as frações molares de cada elemento que
compõe o GN e estão apresentadas na Tab. (4.2).
Para o caso real, a relação ar/combustível é diferente da estequiométrica e a combustão
dá origem a outros produtos, além do CO2, do H2O e do N2. A Equação 4.2 representa o
balanço químico entre os reagentes e os produtos gerados na combustão real do GN.
(4.2)
As frações molares dos produtos de combustão do GN ( , , , e )
são obtidas em base seca3 por um analisador de gases. Contudo, uma vez que a fração molar
do N2 ( ) não é captada pelo equipamento utilizado, esta foi computada através da Eq.
(4.3).
∑ (4.3)
Onde é fração molar de cada produto de combustão captado pelo analisador de
gases.
Há que se analisar ainda, que a solução da Eq. (4.2) depende da determinação da
quantidade de moles de água produzida na combustão do GN. Segundo Van Wylen et al.
(2010), para se transformar a Eq. (4.2) da base seca para a base úmida, todos os termos
desta equação devem ser recalculados, balanceando-os com a nova condição de formação
de água nos produtos de combustão.
Buscando-se facilitar o emprego da Eq. (4.2), foi considerado como NOx apenas o
elemento NO, coerentemente com a teoria apresentada na seção 3.2.5. Já para os
hidrocarbonetos não queimados, HC, apenas o Metano foi levado em conta, devendo-se este
fato ao seu alto percentual na composição do GN (90,09 %). Nas Equações (4.1) e (4.2) foi
considerado, ainda, a admissão de ar seco, ou seja, sem umidade.
3 Base onde os dados dos produtos de combustão são expressos, desconsiderando a formação de água durante a
reação.
55
Com a obtenção das frações molares de todos os elementos (em base úmida) da
equação real, do valor da relação ar/GN estequiométrica, pode-se dar prosseguimento aos
cálculos de balanço de energia para o motor Perkins funcionando a gás natural, onde os
termos da Eq. (3.10), para o caso particular, são impetrados seguindo as seguintes etapas.
i) A parcela da energia de escoamento que entra no volume de controle, ∑
, é referente à energia do gás natural e do ar admitido. Como a energia do ar na
temperatura de entrada é a do ambiente, esta pode ser desprezada. Com esta consideração e
realizando-se algumas manipulações matemáticas, a taxa de energia que entra no motor pode
ser expressa como:
(4.4)
Onde:
ṁGN é a vazão mássica de gás natural (kg/s);
PCIGN é o poder calorífico inferior do gás natural (kJ/kg.K).
Na Equação (4.4), o valor do poder calorífico inferior do gás natural é obtido através
da ponderação feita com os valores descritos na Tab. (3.1) e na Tab. (4.2), bem como da
massa específica dos elementos que compõem o GN, ver Anexo A. Já a vazão mássica do gás
natural, ṁGN, é determinada usando-se um medidor computadorizado de fluxo de GN, ver
Capítulo VI.
ii) A parcela da taxa de energia perdida através do sistema de arrefecimento do motor
pode ser calculada através da Eq. (4.5).
(4.5)
Onde:
ṁágua é a vazão mássica da água (kg/s);
56
CPágua é o calor específico da água (kJ/kg.K);
Tágua é a variação de temperatura da água de arrefecimento medida entre a entrada e a
saída do bloco do motor.
iii) Como o motor Perkins operou com a utilização de um aftercooler, para o
resfriamento da mistura ar/GN, a energia perdida neste processo foi calculada através de Eq.
(4.6).
(4.6)
Onde:
ṁar/GN é a vazão mássica da mistura (kg/s);
CPar/GN é o calor específico da mistura (kJ/kg.K);
Tar/GN é a variação de temperatura da mistura medida entre a saída do compressor e a
saída do aftercooler.
Como a proporção ar/GN para a condição estequiométrica é elevada (em torno de
16/1), nos cálculos da Eq. (4.6), o valor do calor específico da mistura foi substituído pelo do
calor específico do ar, CPar. A expressão resultante fica sendo:
(4.7)
Para a resolução da Eq. (4.7), a vazão mássica da mistura ar/combustível é
determinada pelo somatório das vazões de combustível e de ar verdadeiramente admitido.
(4.8)
57
Onde:
ṁar é a vazão mássica do ar que foi realmente admitido (kg/s);
ṁGN é a vazão mássica de combustível (kg/s).
A vazão mássica de ar é obtida com o conhecimento da vazão mássica de combustível,
da relação de mistura estequiométrica e do fator λ real (medido com o analisador de gases), e
é dada por:
(4.9)
Onde:
Relesteq é a relação da mistura ar/GN estequiométrica, ou ideal;
λ é o fator de indicação de qualidade da mistura.
iv) A taxa de energia que sai do volume de controle carreada pelo fluxo de massa,
∑
, é parcela perdida nos gases de exaustão do motor e pode ser calculada
através da Eq. (4.10).
∫
(4.10)
Onde:
ṁgases é a vazão mássica dos gases de escape (kg/s);
CPi é o calor específico (à pressão constante) de todos os elementos que compõem os
gases de exaustão (kJ/kg.K);
Tamb é a temperatura ambiente (K);
Tgases é a temperatura dos gases na saída do sistema de escapamento do motor (K).
58
Como o calor específico dos elementos produzidos na combustão do gás natural (O2,
CO2, CH4, N2, NO, CO, H2O) variam com a temperatura, a integral da Eq. (4.10) foi calculada
a partir das constantes e dos equacionamentos para a obtenção de CP, considerando-se os
gases de exaustão como gases ideais, ver Anexo B.
A vazão mássica dos gases de escape é obtida a partir da Eq. (3.8) e do conhecimento
das vazões mássicas de ar e de combustível:
(4.11)
v) A última parcela a ser computada é a Potência, verificada na saída no eixo do
motor, , e medida com o auxílio de um dinamômetro hidráulico.
As perdas de energia ocasionadas por outros fatores (radiação, convecção, através do
óleo de lubrificação, etc.) não foram apreciadas no estudo proposto, sendo o total desta
energia computada por diferenciação entre o valor da energia do combustível e os termos de
energia de saída que foram calculados.
Considerando a Lei da Conservação da Energia expressa na Eq. (3.10), Substituindo
os seus termos pelas Equações (4.4), (4.5), (4.7) e (4.10), levando-se, ainda, em consideração
os termos de energia não computada, , se obtém o seguinte equacionamento para o
balanço de energia do motor Perkins.
(4.12)
Todos os cálculos utilizados para a obtenção do balanço de energia do motor Perkins
foram feitos com o auxílio do software Mathcad e estão apresentados no Apêndice B.
59
CAPÍTULO V
A OTTOLIZAÇÃO
5.1 INTRODUÇÃO
Neste capítulo são descritos as particularidades e os componentes necessários ao
processo de conversão, para gás natural, do motor Diesel Perkins 1104C-44TAG2 de 4
cilindros, potência (standby) de 112,4 kW (a 1800 rpm), turboalimentado e com taxa de
compressão original de 18,2:1, ver Fig. (5.1).
Figura 5.1 – Foto do Motor Diesel Perkins 1104C-44TAG2.
60
5.2 PARTICULARIDADES DO PROCESSO DE OTTOLIZAÇÃO EM MOTORES
TURBOALIMENTADOS
Em todo processo de ottolização existe a necessidade da realização de procedimentos
básicos como a remoção de todos os componentes relacionados ao uso do diesel (dutos de
abastecimento de óleo diesel, bomba de combustível, bicos injetores, etc.). Contudo, existem
algumas particularidades que devem ser observadas quando este processo de conversão é
realizado em um motor Diesel turboalimentado.
Naturalmente, o processo de ottolização já promove o aumento da temperatura dos
gases de exaustão do motor. De fato, esta afirmação se dá pela concepção de que as
temperaturas de combustão em um motor do ciclo Otto são mais elevadas do que as de um
motor a diesel (MARTINS, 2003). Esta característica se torna, ainda, mais expressiva quando
se trata de motores turboalimentados, pois, nestes motores, a ação do turbocompressor
promove um aumento na quantidade de mistura ar/combustível admitida em cada ciclo,
implicando em acréscimos na energia envolvida no processo de combustão, o que eleva a
pressão e a temperatura da combustão.
Por outro lado, devido à octanagem dos combustíveis utilizados nos motores do ciclo
Otto, estes devem operar com menores taxas do que os motores a diesel, evitando-se assim, o
indesejado fenômeno da detonação de combustível. Na ottolização de motores
turboalimentados é necessário reduzir-se, ainda mais, a taxa de compressão, do que nos
motores aspirados, o que se reflete em aumento da quantidade de mistura ar/combustível
admitida. Com esta elevação do volume de mistura, poderá haver dificuldades na eliminação
dos gases de exaustão, se mantidas as mesmas condições de saída no sistema de escape do
motor. De fato, esta condição pode ocasionar restrições à saída dos gases formados na
combustão, provocando o aumento da temperatura de todos os componentes do sistema de
escape, e em especial, o da turbina.
Diante do exposto, ao se ottolizar um motor Diesel turboalimentado, deve ser dada
uma maior atenção a alguns parâmetros limitantes de potência como: a taxa de compressão,
os ângulos de avanço de ignição e a temperatura dos gases de exaustão, verificando a
influência destes no desempenho do motor.
Em particular, o motor Perkins, utilizado no estudo proposto, operou com um
dispositivo de refrigeração da turbina após a sua ottolização. Este teve por finalidade a
redução da temperatura de trabalho da turbina, bem como, a do óleo de lubrificação do motor.
61
Os limites máximos de temperatura estabelecidos por seus fabricantes são de 110 ºC, para
óleo lubrificante (SAE 40) e de 620 ºC para a turbina4.
No que se refere à redução da taxa de compressão, esta foi feita através de alterações
no cabeçote do motor, seguindo as técnicas utilizadas nos Laboratórios de Termoenergética e
de Inovação da UFPB (RUMÃO, 2008). Tendo em vista que neste processo não se faz
qualquer intervenção na parte de força do motor (pistões, bielas, etc.), este se torna rápido e
prático, podendo ser executado, em poucas horas, no próprio chão de fábrica.
5.3 COMPONENTES NECESSÁRIOS AO FUNCIONAMENTO DO MOTOR
PERKINS OTTOLIZADO
5.3.1 Componentes do sistema de ignição estática
No processo de ottolização realizado no Laboratório de Inovação da UFPB
suplementa-se o motor com um conjunto de velas internas ao cabeçote, cabos de vela e
bobinas de ignição estática, ver Fig. (5.2).
Figura 5.2 – Foto das bobinas de ignição estática e dos cabos de vela.
Instala-se, também, um sistema de controle de ignição composto de uma Unidade
Controle Eletrônico (UCE) de dados, ver Fig. (5.3a), que utiliza para a captação de dados de
4 Segundo os dados do fabricante, o limite de trabalho turbina Perkins é estabelecido pela Temperatura dos
Gases de Exaustão, TGE.
Bobinas
Cabos de Vela
62
rotação e PMS, um sensor indutivo. O mencionado sensor opera em conjunto com uma roda
fônica, instalada na polia motriz do motor convertido, ver Fig. (5.3b).
(a) (b)
Figura 5.3 – Foto do sistema de controle de ignição: (a) Unidade Controle Eletrônico de
Dados, (b) Conjunto roda fônica/sensor de rotação.
5.3.2 O Governador Eletrônico
Para que se tenha garantida uma rotação constante, ao se solicitar diferentes cargas ao
motor, faz-se uso de um governador eletrônico. Este equipamento possui um sensor de
velocidade angular (pick-up magnético), que é posicionado perpendicularmente à cremalheira
do motor. O pick-up magnético é sensibilizado pela rotação motora, e transmite, com
precisão, o estado da velocidade instantânea do virabrequim a uma central de controle, que
por sua vez, emite um sinal para um atuador (motor elétrico) que posiciona a borboleta
instalada no sistema de admissão do motor, ver Fig. (5.4a), (5.4b) e (5.4c), para manter a
rotação constante do motor.
Roda Fônica
Sensor Indutivo
63
(a) (b) (c)
Figura 5.4 – Foto dos componentes do governador eletrônico: (a) Pick-up magnético, (b)
Central de controle, (c) Corpo de borboleta com atuador.
5.3.3 Sistema de alimentação e controle eletrônico de gás natural
Como ocorre com todo motor que funciona a gás, ao se converter o motor diesel para
GN, foi necessária a introdução de um sistema de controle de combustível, formado por
redutor de pressão de dois estágios, regulador de pressão e controlador eletrônico de vazão de
gás, acoplado a um corpo de borboleta que de acordo com a demanda do motor envia a
quantidade adequada de combustível para que a mistura admitida pelo motor esteja de acordo
com um valor pré-estabelecido, ver Fig. (5.5). O redutor de pressão faz com que a pressão da
linha de alimentação caia de 2 bar para a pressão de trabalho (60 mbar).
Figura 5.5 – Sistema de alimentação e controle de GN.
Redutor de
Pressão
Controlador de
fluxo de gás
Regulador
de Pressão
Linha de
alimentação
de GN
64
A abertura e o fechamento do corpo de borboleta acontecem de acordo com o sinal
vindo de uma sonda lambda, onde esta capta a quantidade de oxigênio presente nos gases de
escape e envia o sinal para o sistema, ver Fig. (5.6). Para uma mistura estequiométrica de GN,
um sinal de tensão de referência, fornecido pela sonda, de 650 mV, fará com que se chegue ao
misturador ar/gás a quantidade de GN preestabelecida.
Figura 5.6 – Sonda lambda inserida no escape.
Para o ajuste e controle em tempo real utilizou-se uma interface de programação em
malha fechada com controlador PID, ver Fig. (5.7). Para uma mistura ar/GN próxima da
estequiométrica, um sinal de tensão de referência, fornecido pela sonda, de 650 mV permite
que chegue ao misturador, de ar/gás, a quantidade de GN necessária.
Figura 5.7 – Interface do sistema de alimentação eletrônico de GN.
Misturador
ar/gás
Sonda
Lambda
Entrada de GN Entrada
de ar
65
CAPÍTULO VI
APARATO E DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL
6.1 INTRODUÇÃO
São descritos, neste capítulo, todo o material utilizado no desenvolvimento
experimental, bem como, a metodologia aplicada nos ensaios do motor Perkins ottolizado.
6.2 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS NOS TESTES DO MOTOR OTTOLIZADO
6.2.1 Bancada Dinamométrica
Foi acoplado ao motor Perkins ottolizado, um dinamômetro a freio hidráulico, modelo
Dynotech 820.D, com capacidade de 500 cv, ver Fig. (6.1).
66
Figura 6.1 – Motor conectado ao dinamômetro hidráulico.
A unidade dinamométrica possui uma bancada de controle que em conjunto com uma
interface de monitoramento permite a imposição de cargas ao motor. A visualização dos
dados de potência, de torque e de rotação do motor é feita em tempo real e a modificação
destes parâmetros é realizada manualmente, ver Fig. (6.2).
Figura 6.2 – Bancada de simulação de carga.
Dinamômetro
Hidráulico Motor Perkins Ottolizado
Sistema de
monitoramento
Bancada de
controle
Célula de carga
67
O controle da temperatura da água de arrefecimento do motor é realizado por um
sistema de refrigeração água-água, próprio do dinamômetro, em substituição ao sistema
original do motor. Este sistema conta com um trocador de calor dotado de um sensor de
temperatura que funciona em conjunto com uma válvula solenoide e com uma central de
controle. Quando a temperatura do motor ultrapassa o limite pré-estabelecido, um sinal é
enviado à central de controle que, por sua vez, o retransmite a uma solenoide que ao se abrir
permite que a água fria, de um reservatório externo, sob a ação de uma bomba centrífuga, vá
resfriar o motor até que se atinja o valor programado, ver Fig. (6.3).
(a) (b)
Figura 6.3 – Sistema de arrefecimento da água do motor (a) Trocador de Calor e
acessórios, (b) Reservatório de água fria.
Para que haja o resfriamento da mistura ar/GN após a sua passagem pelo
turbocompressor, foi instalado ao motor um trocador de calor gás/água (aftercooler), da
Dynotech. A água de resfriamento é proveniente da rede que abastece o LI, ver Fig. (6.4).
Central de
Controle
Solenóide
Bomba
Trocador de Calor
68
Figura 6.4 – Sistema de arrefecimento da mistura ar/GN.
6.2.2 Medidor de vazão do ar de admissão
Um anemômetro digital, modelo NA-4870, foi utilizado na entrada do filtro de ar para
a captação dos dados de umidade relativa do ar, de temperaturas de bulbo seco e de bulbo
úmido, bem como da vazão volumétrica de ar, admitido no cilindro do motor, servindo de
parâmetro comparativo para os cálculos realizados através da Eq. (4.9), ver Fig. (6.5).
Figura 6.5 – Anemômetro digital
Aftercooler
Entrada de água
Saída
de água
Saída ar/GN
Entrada ar/GN
Filtro de ar
69
6.2.3 Sistema de medição de vazão de GN
Um medidor de vazão da Delta, modelo G16, foi instalado pela empresa PBGÁS, para
a medição da vazão volumétrica de gás natural no motor convertido, ver Fig. (6.6). Este
dispositivo permite, ainda, a correção da leitura dos valores de volume de GN, em função da
pressão e da temperatura ambiente.
Figura 6.6 – Sistema de medição de vazão volumétrica de GN
6.2.4 Analisador de gases de combustão
O equipamento usado na verificação da emissão gasosa pelo escapamento do motor foi
o analisador Discovery G4, da Alfatest, ver Fig. (6.7). Através de sua sonda, este equipamento
capta os componentes gasosos essenciais à análise dos gases de combustão, tais como: O2,
CO, CO2, COcorrigido, HC, NOx e o fator λ.
70
Figura 6.7 – Analisador de gases da Alfatest.
6.2.5 Medidor de vazão de água de arrefecimento do motor
A captação dos dados de vazão da água do sistema de arrefecimento do motor foi
realizada com o auxílio de um medidor de vazão ultrassônico por tempo de trânsito da
Transport, modelo PT 878. O seu funcionamento baseia-se na emissão e na recepção de sinais
ultrassônicos realizado por um par de transdutores fixados na tubulação de passagem do
fluido. Os sinais são captados por uma central de aquisição de dados e o valor da vazão é
visualizado em tempo real através de um display, ver Fig. (6.8).
(a) (b)
Figura 6.8 – Medidor de vazão ultrassônico PT878: (a) Central de aquisição de dados, (b)
Transdutores ultrassônicos acoplados ao tubo de passagem de água.
Sonda
Transdutores
71
6.2.6 Sistema de resfriamento da turbina
Com o objetivo de se alcançar maiores potências sem que ocorra o risco de
superaquecimento nos componentes do motor, foram testados dois tipos de resfriamento da
turbina: 1. a água corrente; 2. a ar propelido por um eletroventilador, com direcionamento de
fluxo. Ver Fig. (6.9).
(a) (b)
Figura 6.9 – Sistema de resfriamento da turbina: (a) Aparato de refrigeração por água, (b)
Aparato de refrigeração por eletroventilador com direcionamento de fluxo.
6.2.7 Sistema de medição de temperatura e de pressão da bancada de testes
6.2.7.1 Medição de temperatura da mistura ar/GN a montante do aftercooler
A temperatura da mistura ar/combustível, entre a saída do compressor e a entrada do
aftercooler, foi medida com o auxílio de um sensor de temperatura do tipo PT 100, ver Fig.
(6.10a). Os dados captados são enviados ao registrador Field Logger da Novus, ver Fig.
(6.10b).
Saída de água
Coletor de água
Eletroventilador
Turbina
Turbina
72
(a) (b)
Figura 6.10 – Medição da temperatura a montante do aftercooler: (a) Sistema de captação de
dados, (b) Módulo de aquisição e registro de dados de temperatura.
6.2.7.2 Medição de temperatura da mistura ar/GN a jusante do aftercooler
A captação dos dados de temperatura da mistura ar/GN, na saída do aftercooler,
também, foi realizada por um sensor de temperatura do tipo PT 100, ver Fig. (6.11). Para o
registro dos dados de temperatura foi utilizado o mesmo sistema descrito na Fig. (6.10b).
Figura 6.11 – Medição da temperatura a jusante do aftercooler.
Sensor
PT 100
Sensor
PT 100
Saída do
aftercooler
Compressor
Registrador
73
6.2.7.3 Medição da temperatura dos gases de escape e da parede da turbina
As informações concernentes à temperatura dos gases de escape do motor e à carcaça
da turbina foram identificadas por termopares tipo K, ver Fig. (6.12). O módulo de aquisição
de dados, descrito na Fig. (6.10b), também foi utilizado para o registro da temperatura dos
gases de exaustão e da turbina.
Figura 6.12 – Medição da temperatura dos gases de escape e da turbina do motor.
6.2.7.4 Medição de temperatura e de pressão do coletor de admissão
Para a captação dos dados de pressão e de temperatura da mistura ar/combustível
admitida pelo motor, foram instalados no coletor de admissão: um sensor de temperatura e
uma tomada de pressão, ver Fig. (6.13). As informações captadas eram enviadas para a UCE
descrita na Fig. (5.3a).
Termopares
74
Figura 6.13 – Medição da temperatura e da pressão da mistura ar/GN admitida
6.2.7.5 Medição da temperatura do óleo do motor
A temperatura do óleo lubrificante do motor foi obtida com a utilização de um sistema
de aquisição de dados da Alfatest. Este sistema possui um sensor de temperatura e uma
central de aquisição de dados, ver Fig. (6.14).
Figura 6.14 – Medição da temperatura do óleo do motor.
Sensor de
Temperatura
Tomada de
pressão
Sensor de
Temperatura
Central de
aquisição de dados
75
6.2.7.6 Medição da temperatura da água de arrefecimento do motor
Os dados de temperatura da água de arrefecimento do motor foram coletados com o
auxílio de sensores de temperatura instalados no cabeçote do motor, ver Fig. (6.16a), e no
trocador de calor, ver Fig. (6.15b). As informações captadas eram enviadas para a UCE
descrita na Fig. (5.3a) e para a central de controle mostrada na Fig. (6.3a), respectivamente.
(a) (b)
Figura 6.15 – Medição da temperatura da água de arrefecimento do motor: (a) Ponto de
captação da temperatura da água de saída do motor, (b) Ponto de captação da temperatura da
água de entrada do motor.
6.3 METODOLOGIA EXPERIMENTAL
6.3.1 Calibração do dinamômetro
Para que se tivesse certeza sobre a exatidão das medidas de torque e de potência
determinadas pelo dinamômetro, procedeu-se, antes do início dos testes uma calibração em
sua célula de carga. Este procedimento consistiu em se fixar uma massa de valor conhecido
(59,46 kg) no braço de alavanca do dinamômetro, para em seguida corrigir o desvio
constatado no painel do dinamômetro, ver Fig. (6.16).
Sensor de
Temperatura
Cabeçote
Sensor de
Temperatura
76
(a) (b)
Figura 6.16 – Calibração do dinamômetro: (a) Fixação da massa para a calibração, (b)
Software de calibração.
6.3.2 Medição da vazão da água do sistema de arrefecimento do motor
Inicialmente foram inseridos, na central de aquisição de dados do medidor de vazão
ultrassônico, os dados referentes ao tipo de material, o diâmetro e à espessura da parede da
tubulação, sendo informado ainda, o tipo de fluido utilizado nos testes, bem como, a sua
temperatura. Em seguida, foram posicionados os transdutores ultrassônicos na tubulação e
após o ajuste de todo o aparato utilizado, foi dado início aos testes de vazão. Durante os
ensaios o motor operou com rotação de 1800 rpm e esperou-se que este entrasse em regime de
trabalho (temperatura de 80 ºC). Na sequência foram aplicadas cargas ao motor, a partir de 10 cv
até 60 cv, e como esperado, a vazão da água de arrefecimento manteve-se constante durante os
testes.
6.3.3 Testes realizados no motor convertido
Ao se dar partida no motor, esperava-se que suas condições de funcionamento entrassem
em regime (temperatura de 80 ºC), na sequência adicionavam-se as cargas, utilizando-se o freio
hidráulico do dinamômetro, partindo-se da mínima até a máxima atingida (pouco antes do
aparecimento da batida de pino). Concomitantemente, eram registrados todos os dados
pertinentes à avaliação de desempenho do motor. O tempo de avaliação, em cada carga, era
de, aproximadamente, 5 minutos com rotação do motor fixada em 1800 rpm, a fim de simular
a operação estacionária de um grupo gerador. Na maioria dos ensaios, o motor operou com
mistura ar/GN estequiométrica (λ = 1).
Massa para calibração
77
Os testes foram realizados, primeiramente, com a taxa de compressão do motor
estabelecida em 7,6:1 (mínima permitida sem a alteração dos pistões). Posteriormente, com o
auxílio de espaçadores pôde-se submeter o motor a novos ensaios semelhantes, com as taxas
de compressão fixadas em 8,7:1 e 12,3:1, ver Fig. (6.17). Todos os cálculos das mencionadas
taxas de compressão foram feitos com o auxílio do Software Mathcad, ver Apêndice C.
Figura 6.17 – Espaçadores utilizados para as mudanças da taxa de compressão do motor.
6.3.3.1 Testes realizados com o motor operando na taxa de compressão de 7,6:1
Com o objetivo de avaliar o comportamento do motor em função do avanço de
ignição, em um primeiro momento, os testes foram realizados com a taxa de 7,6:1, captando-
se os dados de temperatura dos gases de exaustão e de emissões de NOx, em função dos
seguintes ângulos: 25º, 32º, 38º, 40º e 45º. Estas avaliações foram feitas com cargas de 10 cv
até a máxima possível com esta configuração. Em cada potência, variava-se o avanço de
ignição e coletavam-se todos os dados pertinentes.
Observada a importância prática da refrigeração da turbina para o motor, todos os
ensaios que se seguiram foram feitos com o auxílio dos sistemas de resfriamento descritos na
subseção 6.2.6, tendo-se o avanço de ignição fixado em 38º. Foi possível, desta maneira, se
registrar os dados de eficiência térmica, de emissão de NOx e de temperatura dos gases de
escape e da carcaça da turbina do motor, tendo-se avaliado, também, o sistema de refrigeração
mais adequado. A vazão da água de resfriamento da turbina foi determinada com um
Espaçadores
Bloco do Motor
78
cronômetro e uma proveta graduada, enquanto que a vazão do ar foi obtida com a utilização
do anemômetro digital.
6.3.3.2 Ensaios realizados com as taxas de compressão de 7,6:1; 8,7:1 e de 12,3:1
Para o estudo da influência da taxa de compressão no desempenho do motor
convertido, foram realizados ensaios com o motor trabalhando com as taxas de 7,6:1, 8,7:1 e
12,3:1, com mistura ar/GN estequiométrica e com sua turbina sendo refrigerada a ar. Antes de
coletar todos os dados pertinentes, foi estabelecido o avanço de ignição mais adequado ao
motor, em função da potência. Nesse contexto, levou-se em consideração que, em
conformidade com a teoria apresentada na subseção 3.2.7, o melhor avanço de ignição é o que
proporciona a maior eficiência ao motor (As informações destes testes estão compiladas no
Apêndice D). Nas condições de máximas potências, levou-se em consideração, também, o
efeito da detonação do combustível, todavia, nestes ensaios, na taxa de 7,6:1 não se
presenciou este efeito, embora não se tenha conseguido que o motor ultrapassasse a barreira
dos 90 cv, mesmo quando se fez opção pela mistura rica, isto é, trabalhando-se com < 1.
Fixados os parâmetros de mistura ar/combustível e de ângulos de ignição mais
funcionais ao motor, procederam-se os ensaios, variando-se as cargas impostas de 30 cv até a
máxima atingida para cada taxa de compressão, onde puderam ser captados todos os dados
pertinentes ao estudo proposto.
Com o objetivo de quantificar o aproveitamento da energia do combustível que, de
fato, é convertido em trabalho, bem como para se ter uma noção teórica das perdas no
processo, foram realizados os balanços energéticos para o motor operando, com as taxas de
compressão de 12,3:1; de 8,7:1 e de 7,6:1, com base nos equacionamentos e conceitos
apresentados nos Capítulos III e IV. As análises foram feitas tomando-se como referência os
valores das potências mais elevadas, alcançadas em cada configuração.
79
CAPÍTULO VII
RESULTADOS E ANÁLISES
7.1 INTRODUÇÃO
Neste capítulo estão expostos os resultados dos experimentos feitos no motor Perkins
ottolizado para gás natural, bem como, é apresentada uma discussão detalhada de todos os
pontos relevantes deste estudo. Faz-se, ainda, uma abordagem sobre o aproveitamento da
energia do combustível para a realização de trabalho, ao tempo em que são evidenciadas as
perdas no processo.
7.2 ENSAIOS REALIZADOS COM O MOTOR OPERANDO COM A TAXA DE
COMPRESSÃO DE 7,6:1
7.2.1 Influência do avanço de ignição na emissão de NOx e na temperatura dos gases de
escape
A Figura 7.1 apresenta as curvas de emissão de NOx, em função da potência, para
vários avanços de ignição.
80
Figura 7.1 – Emissão de NOx, em função da potência gerada, para vários avanços de ignição.
Pode-se observar, através da Fig. (7.1), que o motor emite mais NOx em sua
combustão com o avanço da ignição. Verifica-se, também, que o aumento da potência do
motor eleva a produção deste supramencionado elemento.
A Figura 7.2 expõe as curvas de Temperatura dos Gases de Exaustão (TGE) em
função da potência do motor convertido, para os diferentes avanços de ignição, em testes
realizados, sem resfriamento da turbina.
Figura 7.2 – Temperatura dos gases de escape, em função da potência, para avanços distintos.
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
2000
0 20 40 60
Emis
sã o
de
NO
X (p
pm
)
Potência (cv)
25 graus
32 graus
38 graus
40 graus
45 graus
500
520
540
560
580
600
620
640
0 20 40 60
Tem
per
atu
ra d
os
Gas
es d
e Es
cap
e (
°C)
Potência (cv)
25 graus
32 graus
38 graus
40 graus
45 graus
81
Constata-se, através da Fig. (7.2), que a redução do avanço de ignição propicia um
aumento na temperatura dos gases de exaustão. Percebe-se, da mesma figura, que o aumento
da potência do motor, também, promove uma elevação na temperatura dos gases de exaustão.
Observa-se, ainda, que em todos os ângulos avaliados, as temperaturas ficaram próximas do
valor de 620 ºC (limite superior assinalado pelo fabricante), na potência de 60 cv.
Um fator evidenciado através da Fig. (7.2) e que ratifica as discussões realizadas no
Capítulo V, diz respeito à limitação da potência do motor convertido em 60 cv, tendo em vista
o superaquecimento da turbina. Outra consequência deste superaquecimento foi a elevação da
temperatura do óleo lubrificante até 118 ºC, excedendo os níveis estabelecidos por seu
fabricante.
A Figura 7.3 ilustra os efeitos visualizados nas superfícies da turbina e do coletor de
escape, sem que se use o sistema de resfriamento, ao se trabalhar em potências próximas da
máxima atingida.
Figura 7.3 – Incandescência nas superfícies da turbina e do coletor de escape ocorrida em
altas potências.
7.2.2 Resultados de desempenho do motor sob a influência de duas formas distintas de
refrigeração da turbina
82
A Figura 7.4, mostra o comportamento da eficiência térmica, em função da potência,
para o motor operando sem o resfriamento da turbina e esta sendo refrigerada a ar e a água.
Figura 7.4 – Eficiência do motor, em função da potência, operando sem o resfriamento da
turbina e com refrigeração a ar e a água.
Da Figura 7.4, constata-se que o motor operou de maneira mais eficiente quando não
houve o resfriamento da turbina, mas sem poder atingir as potências mais elevadas. A curva
referente à utilização da água para refrigeração da turbina foi a que apresentou os menores
valores de eficiência em todos os ensaios realizados.
A Figura 7.5 apresenta as curvas de temperatura da parede externa da turbina, em
função da potência gerada, para o motor operando sem o resfriamento da turbina e com as
duas formas de refrigeração (a ar e a água).
0
5
10
15
20
25
30
35
40
0 20 40 60 80 100
Efic
iên
ca (%
)
Potência (cv)
Sem resfriamento
Resfriamento Ar
Resfriamento Água
83
Figura 7.5 - Temperatura da carcaça da turbina, em função da potência, com a turbina sem
resfriamento e refrigerada por ar e por água.
Verifica-se, ao analisar a Fig. (7.5), que há uma redução significativa na temperatura
da carcaça da turbina quando é promovido o seu resfriamento, permitindo assim, que o motor
aumente a sua potência máxima de 60 cv para 90 cv, sem comprometer os seus componentes.
Percebe-se, também, que em toda a faixa de potências avaliada, a curva de temperatura da
turbina com resfriamento a água registra os menores valores do que as demais. Em
contrapartida, o uso do eletroventilador com direcionamento de fluxo, também, proporcionou
uma refrigeração eficiente, com a vantagem de ser mais simples de ser instalado, e sem que se
tenha que se preocupar com o fluido refrigerante.
7.3 RESULTADOS DOS TESTES PARA O MOTOR CONVERTIDO SOB A
INFLUÊNCIA DAS TRÊS TAXAS DE COMPRESSÃO
7.3.1 Avanços de ignição mais funcionais ao motor ottolizado
A Figura 7.6 apresenta as curvas referentes aos avanços de ignição que permitiram ao
motor alcançar as eficiências térmicas mais elevadas, para as diferentes cargas.
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
0 20 40 60 80 100
Tem
per
atu
ra d
a tu
rbin
a (
°C)
Potência (cv)
Sem resfriamento
Resfriamento Ar
Resfriamento Água
84
Figura 7.6 – Gráfico de avanço de ignição ótimo, em função da potência, para as taxas de
compressão de 7,6:1; 8,7:1 e 12,3:1.
Pode-se observar na Fig. (7.6) que, o avanço de ignição diminui com o aumento da
potência, independente da taxa de compressão. Nota-se também, que, em toda a faixa de
potências avaliada, ao se reduzir a taxa de compressão o avanço de ignição se eleva, para que
ocorra a conservação da eficiência máxima, no motor convertido.
7.3.2 Desempenho do motor funcionando com três diferentes taxas de compressão
A Figura 7.7 expõe as curvas de eficiência térmica obtidas com o motor convertido
operando com as taxas de compressão de 7,6:1; 8,7:1 e de 12,3:1.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130
Ava
nço
de
Ign
ição
Óti
mo
(gr
aus)
Potência (cv)
Taxa 12,3:1
Taxa 8,7:1
Taxa 7,6:1
85
Figura 7.7 – Eficiência térmica do motor, em função da potência, com o motor operando nas
taxas de 7,6:1; 8,7:1 e 12,3:1. (Cada ponto exposto nas curvas de eficiência está associado ao
avanço de ignição utilizado em cada ensaio)
Nota-se, através das curvas da Fig. (7.7), que existe um aumento da eficiência térmica
do motor com a elevação da potência. Nas taxas de 8,7:1 e 12,3:1 observa-se, ainda, um
decaimento da eficiência para valores próximos da potência máxima, estando este fato
relacionado com os baixos ângulos de avanço utilizados para que se impedisse o fenômeno da
detonação do combustível. Fica evidente, ainda, que para potências iguais, a taxa de 12,3:1
conduz a uma eficiência maior do que qualquer outra taxa. (As notações dos ângulos de
avanço de ignição, observados na Fig. (7.7), servirão para as demais figuras deste trabalho).
A Figura 7.8 apresenta as curvas de custo de combustível em função da potência
aplicada, para o motor convertido funcionando com as três diferentes taxas de compressão.
Para a construção dessas curvas levou-se em consideração o preço do gás natural, ofertado às
indústrias do Estado da Paraíba, em maio de 2014, quando o m3 do GN tinha um custo médio
de R$ 1,48, a depender da demanda contratada (PBGÁS, 2014).
20
22
24
26
28
30
32
34
36
38
0 20 40 60 80 100 120
Efic
iên
cia
(%)
Potência (cv)
Taxa 12,3:1
Taxa 8,7:1
Taxa 7,6:1
86
Figura 7.8 - Custos com combustível, em função da potência, com o motor operando nas taxas
de 7,6:1; 8,7:1 e 12,3:1.
Analisando-se a Fig. (7.8), em toda a faixa de potência, a taxa de compressão de
12,3:1 propicia menor gasto com GN do que as outras taxas. Como era esperado, observa-se
que os custos com o consumo de combustível se elevam com o aumento da potência.
Estão representadas, na Fig. (7.9), as curvas referentes às pressões absolutas que
ocorrem no coletor de admissão do motor convertido, em termos da potência.
Figura 7.9 – Pressão no coletor de admissão, em função da potência.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
0 20 40 60 80 100 120
Cu
sto
s c
om
co
mb
ust
ível
(R$/
h)
Potência (cv)
Taxa 12,3:1
Taxa 8,7:1
Taxa 7,6:1
0
0,4
0,8
1,2
1,6
2
0 20 40 60 80 100 120
Pre
ssão
de
adm
issã
ol (
bar
)
Potência (cv)
Taxa 12,3:1
Taxa 8,7:1
Taxa 7,6:1
87
Como era esperado, observa-se através da Fig. (7.9) que a pressão da mistura ar/GN,
no coletor de admissão, se eleva na medida em que a potência é aumentada. Observa-se,
ainda, que a diminuição da taxa de compressão proporciona uma elevação nas pressões de
admissão, para cada potência avaliada.
A Figura 7.10 exibe o comportamento da temperatura dos gases de escape em função
da potência do motor convertido.
Figura 7.10 – Temperatura dos Gases de Exaustão, em função da potência, obtidas a partir do
motor operando com diferentes taxas de compressão.
Uma vez que o aumento de potência implica no uso maior de energia do combustível,
verifica-se, a partir da Fig. (7.10), que a elevação da potência do motor promove o aumento
da temperatura dos gases de escape. Deve ser considerado que mesmo tendo-se ultrapassado,
em alguns ensaios, o limite de temperatura estabelecido pelo fabricante da turbina (TGE =
620 ° C), a refrigeração a ar impediu o superaquecimento da carcaça da turbina e do óleo de
lubrificação, onde o último teve a máxima de 108 °C em todos os ensaios.
A Figura 7.11 ilustra os valores de emissão de NOx produzidos na combustão do gás
natural, em função da potência do motor convertido.
450
470
490
510
530
550
570
590
610
630
650
0 20 40 60 80 100 120
Tem
per
atu
ra d
os
Gas
es d
e Es
cap
e ( °C
)
Potência (cv)
Taxa 12,3:1
Taxa 8,7:1
Taxa 7,6:1
88
Figura 7.11 – Emissão de NOx, em função da potência, para as diferentes taxas de compressão
utilizadas.
Percebe-se na Fig. (7.11), que o motor trabalhando com a taxa de compressão de
12,3:1 emitiu mais NOx na faixa inicial de potência, ou seja, entre 30 e 70 cv. Nota-se,
também, que nesta mesma taxa, há uma queda brusca na curva de emissão de NOx, para
valores de potência entre 71 e 85 cv. Este fato está relacionado ao baixo ângulo de avanço de
ignição utilizado para a obtenção da potência máxima.
Na Figura 7.12 podem ser vistos os valores de emissão de hidrocarbonetos não
queimados nos gases de escape, em função da potência do motor convertido.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
0 20 40 60 80 100 120
Emis
são
de
NO
x (p
pm
)
Potência (cv)
Taxa 12,3:1
Taxa 8,7:1
Taxa 7,6:1
89
Figura 7.12 – Emissão gasosa de Hidrocarbonetos (HC) no escapamento do motor, em função
da potência, para as diferentes taxas de compressão.
Verifica-se, ao analisar a Fig. (7.12), que o motor operando na taxa de 7,6:1, em toda a
faixa de potências avaliada, emite mais hidrocarbonetos não queimados em seus gases de
exaustão do que nas taxas de 8,7:1 e de 12,3:1.
7.3.3 Análise energética realizada no motor convertido
A Figura 7.13 apresenta o balanço energético do motor operando com taxa de 12,3:1 e
potência máxima de 85 cv.
100
120
140
160
180
200
220
240
260
280
300
320
0 20 40 60 80 100 120
Em
issã
o d
e H
C (
pp
m)
Potência (cv)
Taxa 12,3:1
Taxa 8,7:1
Taxa 7,6:1
90
Figura 7.13 - Balanço energético para o sistema operando com taxa de compressão de 12,3:1
(Potência máxima de 85 cv)
Nota-se da Fig. (7.13), que houve o aproveitamento de 35,8 % da energia do
combustível para o motor desenvolver uma potência de 85 cv. Pode ser visto da mesma
figura, que 27,7 % da energia do combustível foi eliminada nos gases de escape, 18,1 % foi
cedida para o arrefecimento do motor e 2,6 % foi eliminada através do aftercooler. Os 15,8 %
restantes não foram discriminados, estando geralmente atrelados às perdas por radiação, por
convecção, no óleo, etc.
A Figura 7.14 apresenta o balanço energético realizado com o motor funcionando com
a taxa de compressão de 8,7:1 e potência máxima de 120 cv.
27,7%
18,1%
2,6%
35,8%
15,8%
Gases de Escape (%)
Arrefecimento (%)
Aftercooler (%)
Potência (%)
Outros (%)
91
Figura 7.14 - Balanço energético para o sistema operando com taxa de compressão de 8,7:1
(Potência máxima de 120 cv)
Da Figura 7.14, verifica-se que, durante o funcionamento do motor com a taxa de
8,7:1, 36,4 % da energia fornecida pelo GN foi destinada à sustentação da potência de 120 cv.
Em relação às perdas ocorridas nesta configuração, 27,4 % estão solidárias aos gases de
escape, 15,9 % foram ocasionadas durante o arrefecimento do motor e 3,7 % das perdas se
deram no resfriamento ocorrido no aftercooler. Constata-se também, que 16,6 % das perdas
não foram apreciadas.
A Figura 7.15 expõe o balanço energético para o motor convertido operando com taxa
de compressão de 7,6:1 e com 85 cv de potência máxima.
27,4%
15,9%
3,7%
36,4%
16,6%
Gases de Escape (%)
Arrefecimento (%)
Aftercooler (%)
Potência (%)
Outros (%)
92
Figura 7.15 - Balanço energético para o motor operando com taxa de compressão de 7,6:1
(Potência máxima de 90 cv)
Da Figura 7.15, constata-se que o balanço feito para o motor operando com taxa de
7,6:1, 33,1 % da energia do combustível foi convertida em potência (90 cv), 30,5 % foi
eliminada nos gases de escape, 18,4 % no sistema de arrefecimento do motor e 2,9 % foi
retirada através do aftercooler. Nesta configuração, não houve a discriminação de 15,1 % das
perdas do sistema.
Um fator relevante, observado em todos os testes realizados com a taxa de 7,6:1, está
na limitação da potência do motor que, ao contrário das outras taxas utilizadas, aconteceu sem
a detonação do combustível. Há que se observar, ainda, que a redução da taxa de compressão
deveria proporcionar o aumento da potência máxima do motor. De fato, alguns estudos
teóricos, realizados em motores turboalimentados, demonstraram que esta tendência deve-se,
basicamente, à redução da possibilidade da detonação do combustível e à existência de
energia disponível para a realização de trabalho (QUEIROGA, 2012).
Com o intuito de avaliar os motivos da limitação de potência, na taxa de 7,6:1, foram
realizados ensaios com o motor trabalhando com mistura ar/GN enriquecida (λ < 1).
Constatou-se que, mesmo com a redução do fator lambda, não houve alteração da potência
30,5%
18,4%
2,9%
33,1%
15,1%
Gases de Escape (%)
Arrefecimento (%)
Aftercooler (%)
Potência (%)
Outros (%)
93
máxima do motor, mantendo-se em 90 cv. A tabela 7.1 mostra dados comparativos para
diferentes valores de λ com a supramencionada condição.
Tabela 7.1 – Dados de desempenho do motor, com taxa de 7,6:1 e potência de 90 cv, em
função do λ.
Fator λ Eficiência TGE HC
0,998 32,16 611 325
0,95 28,34 570 370
0,85 22,87 566 534
Como pode ser observado através da Tab. (7.1), há uma redução da eficiência térmica
e da TGE do motor com o enriquecimento da mistura. Com relação aos hidrocarbonetos não
queimados, HC, verifica-se um aumento deste elemento, nos gases de exaustão, com a
redução do fator λ.
Como discutido no Capítulo V, ao se reduzir a taxa de compressão de motores
turboalimentados ocorre um aumento na quantidade de mistura ar/combustível admitida,
exigindo do sistema de escapamento resposta mais rápida para a evacuação dos produtos da
combustão, para evitar aumento de pressão interna e sobreaquecimento de todo o coletor de
escapamento e vizinhanças. Uma vez que não foi feita no motor Perkins qualquer adaptação
neste sentido, os efeitos negativos supracitados tornaram-se visíveis, principalmente na taxa
de 7,6:1. É óbvio que uma análise mais detalhada sobre a influência do projeto do coletor de
escape original no desempenho do motor convertido poderia dar mais condições de
juntamente com a análise energética estipular os benefícios que tais modificações poderiam
trazer, inclusive, para o próprio desempenho e rendimento do motor. Considerando, todavia,
que estes aspectos demandariam esforços até maiores do que foram aqui envidados na
elaboração deste trabalho, nos limitamos aqui a comentar resultados de alguns autores que
reforçam a importância em se modificar os coletores de escape para se obter melhores
resultados nos motores ottolizados.
Hiereth e Prenninger (2003) constataram que, existe um aumento da contra pressão no
sistema de escape (back pressure) com a elevação da massa admitida em motores
turboalimentados, gerando uma consequente perda de potência e um aumento na temperatura
94
no sistema de exaustão. Os autores verificaram que esse efeito teve relação direta com o
coletor de escape e, através de simulações computacionais e de estudos da dinâmica dos
fluidos, foi proposta à otimização da disposição geométrica dos coletores de escape para
proporcionar uma maior fluidez na saída dos gases de exaustão.
Kesgin (2004) analisou, através de um modelo zero dimensional, os efeitos gerados
pela alteração do dimensionamento do sistema de escape para uma família de motores a gás,
turboalimentados. Um dos elementos avaliados neste estudo foi o coletor de escape, e que
melhorias de desempenho advieram com alterações no diâmetro deste componente. Na Figura
7.16 é apresentado um dos resultados deste estudo, onde é observado o comportamento da
Pressão Média Efetiva, PME, e da eficiência em um motor V20, em função da seguinte
relação: diâmetro do coletor de escape/diâmetro do cilindro.
Figura 7.16 - Curvas de Eficiência e de Pressão Média Efetiva, PME, em função da relação:
diâmetro do coletor de escape/diâmetro do cilindro. Fonte: Adaptado de Kesgin (2004).
Através da Fig. (7.16), o autor constatou que o aumento do diâmetro do coletor de
escape proporciona uma elevação da eficiência térmica do motor e da PME, resultando em
aumento de potência. Este aumento está ligado ao menor esforço exercido pelos pistões para
impulsionar os gases de exaustão para fora do cilindro.
95
Segundo Mollenhauer e Tschoeke (2010), o dimensionamento do coletor de escape é
de fundamental importância para o desempenho do motor. Este deve ser projetado de tal
forma que a energia dos gases de escape seja transportada a partir do cilindro até a turbina
com perdas mínimas e que esta energia (fornecida para a turbina) seja convertida em trabalho
com o máximo de eficiência.
96
CAPÍTULO VIII
CONCLUSÃO
Considerando os resultados experimentais, obtidos nos ensaios com o motor Perkins
convertido para operar com gás natural, pode-se concluir que:
i) Em conformidade com a teoria, o aumento do avanço de ignição promove a
elevação dos níveis de emissão de NOx na exaustão do motor, ver Fig. (7.1). De fato, quanto
maior o avanço de ignição, mais elevado será o pico de pressão e de temperatura durante o
processo de combustão, aumentando-se assim, a produção deste poluente. Por outro lado, em
elevadas temperaturas de queima se dá o processo de dissociação, ocorrendo à formação de
outros elementos através da absorção de parte do calor liberado na combustão. Dessa forma,
adiantando-se a ignição haverá, também, um decréscimo nas temperaturas dos gases de
escape, ver Fig. (7.2).
ii) O motor funcionando com a turbina refrigerada (através do ar ou da água) terá
prejuízos em sua eficiência térmica, ver Fig. (7.4), devido principalmente, à redução da
energia dos gases de exaustão, utilizada pela turbina, para a geração de trabalho. Contudo,
este artifício permite que o motor alcance maiores potências, operando em condições
apropriadas de trabalho, ver Fig. (7.5).
iii) Os avanços de ignição, que propiciam a maior eficiência ao motor, diminuem com
o aumento da potência, ver Fig. (7.6). De fato, quanto maior a potência do motor, maiores
serão as pressões internas ao cilindro, sendo necessária, então, a redução do avanço de ignição
para que o pico de pressão máxima não ocorra durante a subida do pistão ao PMS (etapa de
compressão).
iv) Ratificando a teoria, é notória a existência da relação entre a taxa de compressão e
a eficiência térmica do motor convertido: Quanto maior a taxa de compressão, maior será a
97
eficiência que o motor apresentará em cada carga aplicada e, consequentemente, menores
serão os custos com combustível durante a sua operação, ver a Fig. (7.7) e a Fig. (7.8).
v) A redução da taxa de compressão no motor ocasiona o aumento das pressões de
admissão, ver Fig. (7.9). Este fato diz respeito ao aumento da massa de mistura ar/gás
proporcionado pelo compressor, tendo em vista a ampliação do volume da câmara de
combustão, para manter o nível de pressão suficiente à sustentação da potência desejada.
vi) A diminuição da taxa de compressão incorre na necessidade do adiantamento do
avanço da ignição, ver Fig. (7.6). Com o aumento da quantidade de mistura admitida pelo
motor, tal avanço se torna imprescindível para que a mistura seja queimada adequadamente, o
que eleva a eficiência da combustão, até certo ponto.
vii) A emissão de NOx, na tubulação de escape, se eleva na medida em que se aumenta
a taxa de compressão do motor, sendo esta característica motivada principalmente, pelo
aumento das pressões e das temperaturas de combustão para esta supracitada condição, ver
Fig. (7.11). Em contrapartida, à emissão de hidrocarbonetos não queimados, HC, se eleva
com a redução da taxa de compressão, ver Fig. (7.12), pois o aumento da câmara de
combustão reduz as pressões e temperaturas de queima, contribuindo para a formação deste
elemento.
viii) A apreciação dos cálculos de balanço térmico, para o motor operando na condição
de potência máxima, teve por objeto, principalmente, expor e comparar os resultados de
eficiência térmica em cada taxa de compressão experimentada, destacando também, os pontos
de perdas de energia no sistema que poderão ser minimizados através de possíveis
intervenções e modificações estruturais, ver a Fig. (7.13), (7.14) e a (7.15). Nesta análise foi
possível inferir que, o motor operando com taxa de 8,7:1 desenvolveu potência de 120 cv
(80% da potência do motor a diesel), onde 36,4 % da energia do combustível foi aproveitada
para esta finalidade. Verificou-se ainda que, mesmo com a relação já comprovada entre taxa
de compressão e eficiência térmica, o motor operando com taxa de 12,3:1 utilizou 35,8 % da
energia do combustível para desenvolver potência máxima de apenas 85 cv. Já com a taxa de
7,6:1, o motor obteve o seu menor aproveitamento, utilizando 33,1 % da energia do
combustível para o desenvolvimento de uma potência máxima de 90 cv, sendo o restante
desperdiçada em forma de calor. De uma forma geral, conclui-se que, nas condições
existentes de trabalho, o motor funcionando com taxa de compressão de 8,7:1 obteve o seu
melhor desempenho, em comparação com as outras taxas experimentadas.
ix) Através do ensaio de enriquecimento de mistura realizado na taxa de 7,6:1
(potência de 90 cv), observando-se ainda, os dados de hidrocarbonetos não queimados, HC,
98
da Tab. (7.1), é possível se inferir que existe energia sendo desperdiçada e não convertida em
aumento de potência. Este fato tem relação com o aumento nas temperaturas dos gases de
exaustão quando a taxa de compressão é reduzida, ver Fig. (7.10). Este aumento na
temperatura se dá, ainda, pela dificuldade natural que os gases têm para deixar o sistema de
escape, cujo projeto original não foi concebido para o excessivo aumento de fluxo dos gases
de exaustão, que passa a haver com a conversão do motor para operar com GN. Os trabalhos
de Hiereth e Prenninger (2003), de Kesgin (2005) e de Mollenhauer e Tschoeke (2010) dão
suporte a esta hipótese, fazendo com que se tenha que dar mais atenção, nos processos de
ottolização de motores turboalimentados a diesel, aos sistemas de exaustão, promovendo-se
adaptações em seus coletores de escape.
99
SUGESTÕES PARA OS PRÓXIMOS TRABALHOS
Considerando todas as observações e constatações realizadas ao longo deste estudo e
buscando aumentar a eficiência dos motores turboalimentados ottolizados sugere-se como
proposta para novos trabalhos:
O estudo de motores servidos por um sistema de controle e de alimentação de GN que
promova um controle mais preciso do fator λ, para permitir uma análise mais
detalhada dos efeitos que a relação de mistura proporciona ao motor convertido;
A utilização de um sensor de detonação para apreciar, de maneira mais eficiente, o
efeito da detonação do combustível, obtendo-se assim, melhores condições para a
análise das taxas de compressão e dos ângulos de avanço de ignição;
Alterações no projeto do coletor de escape e instalação de sensores de pressão e de
temperatura neste componente, a fim de se estudar as implicações da contrapressão no
sistema de exaustão do motor;
O estudo dos dados de desempenho do motor Perkins ottolizado para GN, para este
operando em uma configuração veicular.
100
REFERÊNCIAS
AJAV, E. A.; SINGH, B.; BHATTACHARYA, T. K. “Thermal balance of a single cylinder
diesel engine operating on alternative fuels”, 2000, Energy Conversion & Management vol.
41, pp. 1533-1541.
BAÊTA, J. G. C. Metodologia experimental para a maximização do desempenho de um
motor multicombustível turboalimentado sem prejuízo à eficiência energética global.
217 f. Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação de Engenharia
Mecânica da UFMG, Belo Horizonte. 2006.
BASSHUYSEN, R., SCHÄFER, F. Internal combustion engine handbook: basics,
components, systems, and perspectives. 1. ed. Warrendale, PA: SAE International, INC.,
2004.
ÇENGEL Y.A., BOLES M. A. Termodinâmica. 5ª ed., MC Graw Hill, 2006.
CINIVIZ, M. “Performance and energy balance of a low heat ejection diesel engine operated
with diesel fuel and ethanol blend”, 2010, Transactions of the Canadian Society for
Mechanical Engineering, vol. 34, pp. 93-104.
CONCEIÇÃO, A. Viabilidade Técnica, Econômica E Ambiental Da Inserção Do Gás
Natural Veicular Em Frotas Do Transporte Coletivo Urbano De Passageiros. 56 f.
Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação de Engenharia da UFRJ,
Rio de Janeiro, 2006.
DASAPPA, S. “On the estimation of power from a diesel engine converted for gas operation
– a simple analysis”, 2001, Seventeenth National Conference on I.C. Engines and
Combustion, Suratkal, 18-20, December.
DASAPPA, S., MUKUNDA, H. S., PAUL, P. J. et al., 2003, Biomass to Energy : The
Science and Technology of the IISc Bio-energy systems. 1ed. Índia, ABETS.
FAIRES, M. V. Thermodynamics. 4ª Ed. New York, The MacMillan Company, 1962.
FERRAZ, F. B. Conversão de um motor diesel com bico injetor no interior da tampa de
tuchos para gás liquefeito de petróleo. 56 f. Dissertação de mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação de Engenharia Mecânica da UFPB, João Pessoa. 2010.
GIACOSA, D. Motores endotérmicos. 3ª Ed, Editorial Dossat, Madrid, 1986.
GUTIÉRREZ, R. H. Estudo de desempenho de um motor diesel ottolizado funcionando
com gás natural através de simulação termodinâmica e análise experimental. 134 f.
101
Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação de Engenharia Oceânica
da UFRJ, Rio de Janeiro. 2011.
HEISLER, H. Advanced engine technology, 1ª Ed, SAE, London, 1995.
HEYWOOD, J. B. Internal Combustion Engine Fundamentals. McGraw-Hill Publishing
Co., 1988.
HIERETH H.; PRENNINGER P. Charging the Internal Combustion Engine. New York,
Springer-Verlag, 2003.
JAGUARIBE, E. F.; RUMAO, A. S.; QUEIROGA, B. L. C.; NASCIMENTO, E. T.;
FERRAZ, F. B.; MARIA FILHO, R. Desempenho de um grupo gerador operando com
motor diesel convertido para funcionar apenas com gás natural. In: congresso
iberoamericano de engenharia mecânica, 8˚, 2007, Cusco, Peru.
KESGIN, U. “Study on the design of inlet and exhaust system of a stationary internal
combustion engine”, 2004, Energy Conversion and Management. Vol. 46, pp. 2258-2287.
MARTINELLI Jr, L.C. Máquinas Térmicas I: motores de combustão interna. Apostila
utilizada no Curso de Engenharia Mecânica da Universidade Regional do Noroeste do Estado
do Rio Grande do Sul, Campus Panambi, RS, 2002.
MARTINS, J., Motores de combustão interna. 2ª Ed. Publindústria Edições Técnicas,
Portugal, 2006.
MMA - MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/clima/energia/fontes-convencionais-de-energia/gas-natural>.
Acesso em 22/02/2014.
MOLLENHAUER K., TSCHOEKE H. Handbook of Diesel Engines. Berlin, Springer-
Verlag, 2010.
MOUTELLA, F. L.C., Simulação Numérica de Motores Bicombustível Diesel – Gás
Natural. 71 f. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação de
Engenharia Mecânica da PUC-Rio, Rio de Janeiro. 2009.
MORAN, M. J., SHAPIRO, H. N. Princípios de Termodinâmica para Engenharia, 4ª ed.
Rio de Janeiro, LTC, 2002.
OBERT. Edward F. Motores de Combustão Interna. 1ª ed Porto Alegre: Editora Globo
S.A., 1971.
ÖZCAN, H.; SÖYLEMEZ, M. S. “Thermal balance of a LPG fuelled, four stroke SI engine
with water addition”, 2006, Energy Conversion and Management, vol. 47, pp. 570-581.
OLIVEIRA, B. L. N. Conversão de um motor a diesel para operar apenas com Gás
Liquefeito de Petróleo. 55 f. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-
Graduação de Engenharia Mecânica da UFPB, João Pessoa. 2009.
OLIVEIRA, B. L. N. Análises energética e exergética de um motor Diesel com
turbocompressor ottolizado para GLP sob a influência de sistemas de alimentação. 105
102
f. Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação de Engenharia Mecânica da
UFPB, João Pessoa. 2012.
PBGÁS, CONPANHIA PARAIBANA DE GÁS. Disponível em:
<http://www.pbgas.com.br/?page_id=1477>. Acesso em 28/05/2014.
PENIDO FILHO, P. Os Motores a Combustão Interna. 2ª ed. Belo Horizonte: Lemi S.A.,
1991.
PERFECTUM SERVIÇOS DE ENGENHARIA. Tarifa Horo-Sazonal. Rio de Janeiro.
Disponível em: <http://www.perfectum.eng.br/tarifa_horo.html>. Acesso em: 05/02/2014.
PULKRABEK, W. W. Engineering Fundamentals of the Internal Combustion. New
Jersey: Engine. Prentice Hall; 2ª ed. 2003.
QUEIROGA, B. L.C de. Conversão de um motor a diesel para álcool com sistema
multiponto de alimentação e de injeção e ignição eletrônica. 61 f. Dissertação de mestrado
apresentada ao Programa de Pós-Graduação de Engenharia Mecânica da UFPB, João Pessoa.
2009.
QUEIROGA, B. L.C de. Conversão de um motor a diesel turboalimentado para etanol
hidratado: considerações técnicas e comparações de custo. 127 f. Tese de doutorado
apresentada ao Programa de Pós-Graduação de Engenharia Mecânica da UFPB, João Pessoa.
2012.
RUMÃO, A. S. Desempenho de um motor diesel estacionário convertido para gás
natural em função de sua taxa de compressão. 67 f. Dissertação de mestrado apresentada
ao Programa de Pós-Graduação de Engenharia Mecânica da UFPB, João Pessoa. 2008
RUMÃO, A. S. Geração de potência e energia elétrica a partir da gaseificação de rejeitos
de biomassa. 130 f. Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação de
Engenharia Mecânica da UFPB, João Pessoa. 2013.
SANTANA, I. Emissão de gases poluentes por descarga de veículos do ciclo diesel
provocadores de deterioramento do meio ambiente: busca de soluções para amenizar ou
controlar o problema. 2012. Monografia (Especialização). FEAMIG – Belo Horizonte –
MG.
SEMIN et al., “Diesel Engine Convert to Port Injection CNG Engine Using Gaseous Injector
Nozzle Multi Holes Geometries Improvement: A Review”, 2009, American J. of Engineering
and Applied Sciences vol. 2 pp. 268-278.
SORATHIA, H. J.; YADAV, H. J. “Energy analyses to a ci-engine using diesel and Bio-gas
dual fuel- a review study”, 2012, International Journal of Advanced Engineering Research
and Studies, vol. I, pp. 212-217.
VAN WYLEN, G.J., BORGNAKKE, C. E SONNTAG, R.E., Fundamentos de
termodinâmica Clássica, Ed. Edgard Blucher Ltda., 7a ed., 2010.
TAYLOR, C. F.Análise dos Motores de Combustão Interna. São Paulo: Edgard Blücher
Ltda, 1988.
103
TAYMAZ, I. “An experimental study of energy balance in low heat rejection diesel engine”,
2005, Published by Elsevier Ltd, pp. 1-8.
WALLACE, S. J. Diesel engine energy balance study operating on diesel and biodiesel
fuels. 149 f. Master Thesis, Department of Mechanical Engineering and the Russ College of
Engineering and Technology, Ohio University , Ohio, USA, 2007.
YǛKSEL, F.; CEVIZ, M. A. “Thermal balance of a four stroke SI engine operating on
hydrogen as a supplementary fuel”, 2003, Elsevier Science Ltd, vol. 28, pp. 1069–1080.
104
ANEXO A – Massas molares dos constituintes do GN e dos produtos
formados em sua combustão
As massas molares (pressão de referência de 100 kPa) dos reagentes e dos produtos formados
na combustão do gás natural são apresentadas na Tabela A1.
Tabela A.1 – Massa molar dos reagentes e dos produtos da combustão do GN.
Elemento Fórmula Massa Molar (kg/kmol)
Dióxido de Carbono CO2 44,001
Monóxido de Carbono CO 28,01
Oxigênio O2 31,999
Vapor de Água H2O 18,015
Óxido de Nitrogênio NO 30,006
Nitrogênio N2 28,013
Propano C3H8 44,097
Etano C2H6 30,07
Metano CH4 16
Fonte: Çengel e Boles (2006)
105
ANEXO B – Equacionamentos para a obtenção dos calores específicos dos
produtos gerados na combustão do GN
Constantes e equações para o cálculo do calor específico a pressão constante ( ) para
a determinação de vários gases perfeitos em função da temperatura5.
N2 :
O2 :
CO :
H2O
CO2 :
C3H8 :
C2H6 :
CH4 :
NO :
onde,
– é o calor específico à pressão constante (kJ/kmol.K);
– é a temperatura do elemento (K).
5 Temperaturas válidas para o equacionamento são de 273 K a 1500 K, para os hidrocarbonetos e de 273 K a
1800 K para os demais elementos.
106
APÊNDICE A – Dados dos Testes realizados com motor Perkins operando
nas taxas de compressão de 7,6:1; 8,7:1 e 12,3:1
DADO
S CO
LETA
DOS
PARA
O M
OTO
R O
PERA
NDO
CO
M A
TU
RBIN
A RE
FRIG
ERAD
A AT
RAVÉ
S DO
ELE
TRO
VEN
TILA
DOR
C/ D
IREC
ION
AMEN
TO D
E FL
UXO
Pot.
(cv)
Ângu
lo (°
)VG
N(m
3/h)
Cust
o (R
$/h)
η (%
)φ
do
Ar
T Ó
leo
TGE
T. A
ntes
Aft
erT.
Pós
Aft
erT.
Col
. Adm
.P. C
ol. A
dm.
CO (%
) C
O2
(%)
HC(
ppm
)O
2 (%
)λ
NO
x (p
pm)
COco
rr.(%
)
TAXA
DE
12,3
:1
3022
8,29
12,2
728
,49
4990
484
50,2
33,2
500,
530,
311
,614
90,
821,
0319
840,
38
5018
11,7
817
,44
33,4
148
,696
530
64,7
35,1
500,
770,
3911
,713
40,
751,
0224
670,
48
7016
15,3
922
,78
35,8
148
,710
155
585
,736
,852
1,05
0,35
11,6
127
0,61
1,02
2685
0,44
858
18,7
027
,68
35,7
846
,510
259
810
9,1
38,8
531,
270,
3111
,717
10,
691,
0218
670,
39
TAXA
DE
8,7:
1
3035
9,08
13,4
426
,00
54,1
9151
651
33,8
500,
600,
3411
,617
60,
811,
0315
170,
43
5034
12,8
519
,01
30,6
553
,494
556
69,4
35,6
510,
880,
3911
,619
70,
751,
0222
220,
49
7030
16,7
624
,80
32,8
954
,296
585
9238
,355
1,14
0,46
11,7
189
0,67
1,01
2284
0,57
9030
20,5
330
,38
34,5
252
,499
602
113,
240
,856
1,42
0,52
11,8
167
0,55
1,01
2580
0,63
110
2823
,43
34,6
836
,96
50,1
102
608
122,
241
,957
1,66
0,35
11,9
880,
261,
0029
240,
43
120
2025
,83
38,2
236
,36
49,6
104
625
144,
543
,357
1,85
0,43
11,8
128
0,37
1,00
2456
0,53
TAXA
DE
7,6:
1
3040
9,79
14,4
924
,12
56,7
9853
353
,233
,149
0,70
0,23
11,3
294
1,37
1,06
1167
0,3
5038
13,5
720
,09
29,0
155
,810
056
476
,534
500,
940,
3411
,428
61,
161,
0417
870,
43
7038
17,7
026
,19
31,1
550
,410
359
599
,739
531,
260,
4311
,424
80,
941,
0324
220,
55
9032
21,4
031
,67
33,1
257
,710
762
211
7,7
41,1
551,
530,
4711
,327
20,
921,
0221
640,
6
VGN
- va
zão
volu
mét
rica
de g
ás n
atur
al
φ d
o Ar
- um
idad
e re
lativ
a do
ar (
%)
η - E
ficiê
ncia
Tér
mic
a do
mot
or
T. A
ntes
Aft
er -
Tem
pera
tura
da
mis
tura
ant
es d
o af
tero
oler
T. P
ós A
fter
- Te
mpe
ratu
ra d
a m
istu
ra d
epoi
s de
pass
ar p
elo
afte
rool
er
T. C
ol. A
dm -
Tem
pera
tura
da
mis
tura
no
cole
tor d
e ad
mis
são
P. C
ol. A
dm -
Pres
são
da m
istu
ra n
o co
leto
r de
adm
issã
o (b
ar)
(°C)
em
toda
s as t
empe
ratu
ras*
107
APÊNDICE B – Programa elaborado no Mathcad para os cálculos dos
balanços energéticos
DADOS DE ENTRADA
As linhas das matrizes representam as seguintes condições: 1ª. Taxa de 7,6:1 (90 cv); 2ª. Taxa de
8,7:1 (120 cv); 3ª. Taxa de 12,3:1 (85 cv).
Vazão de GN (kg/s) Lambda Medido Analisador
Rel.ar/GN Ideal Vazão de Ar (kg/s)
Potência (cv) Potência (kW)
TEMPERATURAS.
Temp. Escape
Temp. saída do Aftercooler Temp. saída Compressor
Mart 16mc
0.00427919
0.00519526
0.00374045
1.023
1
1.02
mar
0 0
mc0 0
Mart
1 0
mc1 0
Mart
2 0
mc2 0
Mart
POTcv
90
120
85
POTkW
POTcv0
0.7355
POTcv1
0.7355
POTcv2
0.7355
POTkW
66.195
88.26
62.518
TE
622 273.15
625 273.15
598 273.15
TCP
117.7 273.15
144.5 273.15
109 273.15
TAF
41.1 273.15
43.3 273.15
38.8 273.15
108
Temp. Água Saída. Temp. Água Ent.
Percentual em volume dos constituintes dos gases em base seca (Analisador de Gases)
CO2 CO O2 NO CH4 N2
Percentual em volume dos constituintes dos gases em base úmida (Balanceamento
Químico)
CO2 CO O2 NO CH4 N2 H2O
CÁLCULO DO BALANÇO DE MASSA DA COMBUSTÃO:
Fração Molar dos Gases de Exaustão em Base úmida:
TAS
93 273.15
93 273.15
89 273.15
TAE
72 273.15
71 273.15
71 273.15
PES
11.3
11.8
11.7
0.6
0.53
0.39
0.92
0.37
0.69
0.2164
0.2456
0.1867
0.0272
0.0128
0.0171
86.936
87.04
87
PEU
10.08
9.56
9.52
0.5
0.43
0.32
0.826
0.3
0.56
0.1945
0.1989
0.1516
0.0245
0.0104
0.0139
78.3
70.53
70.81
20.15
18.95
18.67
XCO2
PEU0 0
102
PEU1 0
102
PEU2 0
102
XCO
PEU0 1
102
PEU1 1
102
PEU2 1
102
XO2
PEU0 2
102
PEU1 2
102
PEU2 2
102
109
Dados do Ar
Fração Molar:
Massa Molar:
Massa Específica:
Vazão dos Gases de Escape (kg/s)
DADOS DO SISTEMA
Sistema de Arrefecimento do motor:
(kJ/kg.K)
(m3/s)
(kg/s)
XNO
PEU0 3
102
PEU1 3
102
PEU2 3
102
XHC
PEU0 4
102
PEU1 4
102
PEU2 4
102
XN2
PEU0 5
102
PEU1 5
102
PEU2 5
102
XH2O
PEU0 6
102
PEU1 6
102
PEU2 6
102
yO2 0.21 yN2 0.79
MAr 28.97
Ar 1.2
mp mc mar mp
0.074
0.088
0.065
CpH2O 4.18
VH2O 4.2104
H20 1000
mH2O VH2OH20
mH2O 0.42
110
Temperatura de Referência
(Temperatura ambiente absoluta)
Massa molar (kg/kmol) dos elementos à pressão de referencia de 100 kPa
CO2
CO
O2
NO
CH4
N2
H2O
C3H8
C2H6
PCI dos elementos que compõe o GN (kJ/kg)
CH4
C2H6
CO2
N2
C3H8
CH4
C2H6 (% em volume dos constituintes do GN)
CO2
N2
C3H8
(% Volume Total de GN)
Tamb 28.1 273.15( )
Mp
44.010
28.01
31.999
30.006
16
28.013
18.015
44.097
30.07
PCI
50050
47520
0
0
46340
VolGN
90.09
6.84
1.56
1.35
0.16
VolT VolGN0
VolGN1
VolGN2
VolGN3
VolGN4
111
Frações molares dos elementos que compõe o GN:
Massa molar do GN (kg/kmol):
(Massa molar do GN/PBGÁS)
(PCI ponderado GN PBGÁS)
YCH4
VolGN0
VolT
YC2H6
VolGN1
VolT
YCO2
VolGN2
VolT
YN2
VolGN3
VolT
YC3H8
VolGN4
VolT
MpGN YCH4Mp4
YC2H6Mp8
YCO2Mp0
YN2 Mp5
YC3H8Mp7
MpGN 17.606
PCIGNF
YCH4Mp4
MpGN
PCI0
YC2H6Mp8
MpGN
PCI1
YCO2Mp0
MpGN
PCI2
YN2 Mp5
MpGN
PCI3
YC3H8Mp7
MpGN
PCI4
PCIGNF 4.671 104
112
Constantes para o Cáculo do Cp a temperatura que não a padrão:
CO2
CO
O2
NO
CH4
N2
H2O
CÁLCULO DO ENTALPIA (kJ/kg) A DADA TEMPERATURA
CO2
CO
O2
NO
CH4
Massa molar dos gases N2
H2O
C3H8
C2H6
Mp
44.010
28.01
31.999
30.006
16
28.013
18.015
44.097
30.07
C
22.26
28.16
25.48
29.34
19.89
28.9
32.24
5.981102
0.1675102
1.520102
0.09385 102
5.024102
0.1571 102
0.1923102
3.501 105
0.5372105
0.7155 105
0.9747105
1.269105
0.8081105
1.055105
7.469109
2.222 109
1.312109
4.187 109
11.01 109
2.873 109
3.595 109
113
Cálculo da Entalpia dos gases de escape através do calor específico, para a Taxa de 7,6:1 (90 cv)
dhTX7.6
XCO20 0
Mp0 Tamb
TE0
TC0 0
C0 1
T C0 2
T( )2
C0 3
T( )3
d
XCO0 0
Mp1 Tamb
TE0
TC1 0
C1 1
T C1 2
T( )2
C1 3
T( )3
d
XO20 0
Mp2 Tamb
TE0
TC2 0
C2 1
T C2 2
T( )2
C2 3
T( )3
d
XNO0 0
Mp3 Tamb
TE0
TC3 0
C3 1
T C3 2
T( )2
C3 3
T( )3
d
XHC0 0
Mp4 Tamb
TE0
TC4 0
C4 1
T C4 2
T( )2
C4 3
T( )3
d
XN20 0
Mp5 Tamb
TE0
TC5 0
C5 1
T C5 2
T( )2
C5 3
T( )3
d
XH2O0 0
Mp6 Tamb
TE0
TC6 0
C6 1
T C6 2
T( )2
C6 3
T( )3
d
114
Cálculo da Entalpia dos gases de escape através do calor específico para a Taxa de 8,7:1 (120 cv)
dhTX8.7
XCO21 0
Mp0 Tamb
TE1
TC0 0
C0 1
T C0 2
T( )2
C0 3
T( )3
d
XCO1 0
Mp1 Tamb
TE1
TC1 0
C1 1
T C1 2
T( )2
C1 3
T( )3
d
XO21 0
Mp2 Tamb
TE1
TC2 0
C2 1
T C2 2
T( )2
C2 3
T( )3
d
XNO1 0
Mp3 Tamb
TE1
TC3 0
C3 1
T C3 2
T( )2
C3 3
T( )3
d
XHC1 0
Mp4 Tamb
TE1
TC4 0
C4 1
T C4 2
T( )2
C4 3
T( )3
d
XN21 0
Mp5 Tamb
TE1
TC5 0
C5 1
T C5 2
T( )2
C5 3
T( )3
d
XH2O1 0
Mp6 Tamb
TE1
TC6 0
C6 1
T C6 2
T( )2
C6 3
T( )3
d
115
Cálculo da Entalpia dos gases de escape através do calor específico para a Taxa de 12,3:1 (85 cv)
dhTX12.3
XCO22 0
Mp0 Tamb
TE2
TC0 0
C0 1
T C0 2
T( )2
C0 3
T( )3
d
XCO2 0
Mp1 Tamb
TE2
TC1 0
C1 1
T C1 2
T( )2
C1 3
T( )3
d
XO22 0
Mp2 Tamb
TE2
TC2 0
C2 1
T C2 2
T( )2
C2 3
T( )3
d
XNO2 0
Mp3 Tamb
TE2
TC3 0
C3 1
T C3 2
T( )2
C3 3
T( )3
d
XHC2 0
Mp4 Tamb
TE2
TC4 0
C4 1
T C4 2
T( )2
C4 3
T( )3
d
XN21 0
Mp5 Tamb
TE1
TC5 0
C5 1
T C5 2
T( )2
C5 3
T( )3
d
XH2O1 0
Mp6 Tamb
TE1
TC6 0
C6 1
T C6 2
T( )2
C6 3
T( )3
d
dh
dhTX7.6
dhTX8.7
dhTX12.3
116
BALANÇO ENERGÉTICO DO MOTOR
Energia Cedida pelo Combustível (kW):
Energia Perdida nos Gases de Exaustão (kW):
Energia Perdida no Sistema de Arrefecimento (kW):
Energia Perdida no Aftercooler (kW):
Qcomb mcPCIGNF
QExaustão
mp0
dh0
mp1
dh1
mp2
dh2
QArref mH2OCpH2O TAS TAE( )
QAfter
mp0
TAF0
TCP0
T1.05 0.365T
1000 0.85
T
1000
2
0.39T
1000
3
d
mp1
TAF1
TCP1
T1.05 0.365T
1000 0.85
T
1000
2
0.39T
1000
3
d
mp2
TAF2
TCP2
T1.05 0.365T
1000 0.85
T
1000
2
0.39T
1000
3
d
117
RESULTADO DO BALANÇO ENERGÉTICO
RESULTADO EM kW:
RESULTADO EM %:
QNcomput Qcomb QExaustão QArref QAfter POTkW
Qcomb
199.893
242.685
174.727
QExaustão
60.87
66.378
48.492
QArref
36.868
38.623
31.601
QAfter
5.75
9.042
4.591
POTkW
66.195
88.26
62.518
QNcomput
30.21
40.382
27.525
%QExaustão
QExaustão
Qcomb
100 %QArref
QArref
Qcomb
100 %QAfter
QAfter
Qcomb
100
%QPOT
POTkW
Qcomb
100%QOutros
QNcomput
Qcomb
100
%QExaustão
30.451
27.352
27.753
%QArref
18.444
15.915
18.086
%QAfter
2.877
3.726
2.628
%QPOT
33.115
36.368
35.78
%QOutros
15.113
16.64
15.753
118
APÊNDICE C – Programa elaborado no Mathcad para os cálculos da taxa
de compressão
DADOS DO CILINDRO (mm)
(Diâmetro do Cilindro)
(Curso do Cilindro)
DADOS DAS JUNTAS (mm)
(Diâmetro da Junta Original)
(Espessura da Junta Original)
(Diâmetro da Junta Adicionada Cobreada)
(Espessura da Junta Adicionada Cobreada)
(Espessura da segunda Junta Adicionada Cobreada)
DADOS DA CÂMARA DO PISTÃO (mm3)
(Volume da Câmara do Pistão)
DADOS DA CÂMARA DO CABEÇOTE (mm)
(Profundidade da Câmara do cabeçote)
DADOS DA VÁLVULA DE ESCAPE (mm)
(Diâmetro da Câmara do Cabeçote)
DC 104.95
CC 126.65
DJO 107.9
EJO 1.2
DJA 107.9
EJA 3.8
EJA2 1.3
VCP 47600
DCC 106
PCC 3.8
DVE 41.7
EVE 2.1
119
DVA 46.35
EVA 2.1
VVE DVE
2
4EVE
DADOS DA VÁLVULA DE ADMISSÃO (mm)
VOLUME DO CILINDRO (VC) EM mm3
VOLUME DA JUNTA ORIGINAL EM mm3
VOLUME DA JUNTA ADICIONADA EM mm3
VOLUME DA JUNTA ADICIONADA 2 EM mm3
VOLUME DA VÁLVULA DE ESCAPE EM mm3
VC DC
2
4CC
VC 1.096 106
VJO DJO
2
4EJO
VJO 1.097 104
VJA DJA
2
4EJA
VJA 3.475 104
VJA2 DJA
2
4EJA2
VJA2 1.189 104
120
VVE 2.868 103
VOLUME DA VÁLVULA DE ADMISSÃO EM mm3
VOLUME DA CÂMARA DO CABEÇOTE EM mm3
TAXA DE COMPRESSÃO
VVA DVA
2
4EVA
VVA 3.543 103
VCC DCC
2
4PCC
VCC 3.353 104
TXVC
VJO VJA VJA2 VCP VCC VVA VVE( )[ ]1
121
APÊNDICE D – Resultado dos testes de seleção do avanço de ignição
(Motor Perkins operando nas taxas de compressão de 7,6:1; 8,7:1 e 12,3:1)
TAXA DE 7,6:1
Potência (cv) Ângulo de Avanço de Ignição / Eficiência
30 35° / 23,53 % 38° / 23,98 % 40° / 24,12 % 43° / 23,89 %
50 35° / 28,28 % 38° / 29,00 % 40° / 28,21 % 43° / 27,63%
70 32° / 30,68 % 35° / 30,98 % 38° / 31,14 % 40° / 30,87%
90 30° / 32,46 % 32° / 33,12 % 35° / 32,17 % 38° / 32,63 %
TAXA DE 8,7:1
Potência (cv) Ângulo de Avanço de Ignição / Eficiência
30 30° / 25,47 % 32° / 25,99 % 35° / 26,00 % 37° / 25,32 %
50 30° / 30,31 % 32° / 30,56 % 34° / 30,65 % 37° / 30, 49 %
70 26° / 32,79 % 30° / 32,89 % 34° / 32,88 % 37° *
90 26° / 34,37 % 30° / 34,52 % 32° * 37° *
110 28° / 36,96 % 30° * 32° * 37° *
120 20° / 36,36 % 26° * 32° * 37° *
TAXA DE 12,3:1
Potência (cv) Ângulo de Avanço de Ignição / Eficiência
30 20° / 27,72 % 22° / 28,49 % 24° / 28,32 % 26° / 27,66 %
50 16° / 32,52 % 18° / 33,41 % 20° / 33, 15% 22° / 32,99 %
70 14° / 35,38 % 16° / 35,81 % 20° * 22° *
85 8° / 35,78 % 16° * 20° * 22° *
OBS: Os melhores ângulos de avanço/ eficiência térmica (em negrito).
* Detonação de combustível (Batida de pino).