ANÁLISE DA RELAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO COM A …
Transcript of ANÁLISE DA RELAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO COM A …
ANÁLISE DA RELAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO COM ALUCRATIVIDADE E A RENTABILIDADE DAS EMPRESAS
INSERIDAS NO NOVO MERCADO DA B3, EM 2020.
Julio Cesar Santos Barbosa (PUC-GO) - [email protected] Regina de Oliveira (PUC GOIÁS) - [email protected] Camilo Santos (PUC Goiás) - [email protected] José Ferreira Neto (PUC Goiás) - [email protected]
Resumo:
A gestão eficiente do capital de giro líquido é relevante para o desempenho dasempresas de capital aberto, em especial em conjuntura de crise econômica. Nessesentido, esta pesquisa objetiva analisar a relação do capital de giro com alucratividade e rentabilidade das empresas inseridas no Novo Mercado (NM),oriundas dos setores de Consumo Cíclico e Não Cíclico da B3, em 2020. Este estudoestá estruturado considerando as seguintes técnicas de pesquisa: quantitativa,descritiva, documental. A amostra está composta por 40 companhias, distribuídasem diversos segmentos da B3, com dados coletados da Plataforma Economática®,nos diversos segmentos dos setores de consumo e tratados por meio de estatísticadescritiva, correlação (Spearman, 5%) e regressão linear simples e múltiplatransformada pela função Box Cox, para análise de associação e dependência.Utilizaram-se como variável dependente o logaritmo do Capital Circulante Líquido(LNCCL) e como variáveis explicativas as Margens: Bruta e Ebitda; o Retorno sobreo Ativo (ROA); e o Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE), com transformaçãoBox Cox (BCROE). Avaliou-se, também, a relação de dependência do BCROE com oLNCCL e o ROA. Apurou-se que o LNCCL tem dependência direta e significativa doBCROE, indicando que o CCL é impactado pelo ROE. E que o BCROE temdependência positiva e significativa do BCROE e do ROA. O estudo realizadocorrobora os estudos correlatos, mesmo em cenário de profunda recessãoeconômica e traz contribuições empíricas para os usuários internos e stakeholders.
Palavras-chave: Setor de Consumo Cíclico; Setor de Consumo Não Cíclico; CriseEconômica COVID-19; Net working capital.
Área temática: Controladoria e Contabilidade Gerencial
Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)
1
ANÁLISE DA RELAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO COM A LUCRATIVIDADE E A
RENTABILIDADE DAS EMPRESAS INSERIDAS NO NOVO MERCADO DA B3,
EM 2020.
Resumo
A gestão eficiente do capital de giro líquido é relevante para o desempenho das empresas de
capital aberto, em especial em conjuntura de crise econômica. Nesse sentido, esta pesquisa
objetiva analisar a relação do capital de giro com a lucratividade e rentabilidade das empresas
inseridas no Novo Mercado (NM), oriundas dos setores de Consumo Cíclico e Não Cíclico da
B3, em 2020. Este estudo está estruturado considerando as seguintes técnicas de pesquisa:
quantitativa, descritiva, documental. A amostra está composta por 40 companhias,
distribuídas em diversos segmentos da B3, com dados coletados da Plataforma
Economática®, nos diversos segmentos dos setores de consumo e tratados por meio de
estatística descritiva, correlação (Spearman, 5%) e regressão linear simples e múltipla
transformada pela função Box Cox, para análise de associação e dependência. Utilizaram-se
como variável dependente o logaritmo do Capital Circulante Líquido (LNCCL) e como
variáveis explicativas as Margens: Bruta e Ebitda; o Retorno sobre o Ativo (ROA); e o
Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE), com transformação Box Cox (BCROE). Avaliou-
se, também, a relação de dependência do BCROE com o LNCCL e o ROA. Apurou-se que o
LNCCL tem dependência direta e significativa do BCROE, indicando que o CCL é impactado
pelo ROE. E que o BCROE tem dependência positiva e significativa do BCROE e do ROA. O
estudo realizado corrobora os estudos correlatos, mesmo em cenário de profunda recessão
econômica e traz contribuições empíricas para os usuários internos e stakeholders.
Palavras-chave: Setor de Consumo Cíclico; Setor de Consumo Não Cíclico; Crise
Econômica COVID-19; Net working capital.
Área temática do evento: Contabilidade Gerencial.
1 INTRODUÇÃO
O capital de giro tem relevância estratégica para financiar a continuidade das atividades
operacionais das empresas. A administração financeira centraliza seu foco em curto prazo à
gestão entre ativos e passivos circulantes, considerando os riscos, com vista à maximização da
rentabilidade e geração de valor de mercado, agregando vantagens competitivas. Em países
emergentes, com mercado de capitais dependente de recursos externos essa gestão se torna
mais desafiadora, em virtudes dos riscos inerentes às suscetibilidades às crises econômicas e
políticas que estão expostas (AL-HOMAIDI et al., 2021; ANTON; NUCU, 2021; ASSAF
NETO, 2020; BASYITH et al., 2021 RECH et al., 2019).
A segunda década do século XXI inicia com a crise sanitária gerada pela COVID-19,
que influenciou em escala planetária o processo de produção e comercialização de bens e
serviços, com profunda recessão econômica com impacto no mercado de capitais, em especial
dos países em desenvolvimento. Inicialmente, investidores externos realocaram seus capitais
transferindo do Brasil para outros países com menor risco, mesmo em detrimento da
rentabilidade (CAMPBELL; FRANSI, 2021; LIRA; ALMEIDA, 2020; UPDAHYAY;
BANERJEE; PANIGRAHI, 2020).
2
No Brasil, alguns setores econômicos foram mais afetados do que outros, dependendo
da essencialidade e das especificidades de produção, como por exemplo, o setor de
agronegócio e o setor de serviços relacionados ao turismo e eventos culturais (DWECK et al.,
2020). O segmento Novo Mercado, com maior nível de governança corporativa, em geral é
constituído por empresas com maior tamanho de ativo e em média com maior valor de
mercado (LIMA et al., 2015). Pela maior transparência, o disclosure dessas companhias é
percebido com maior credibilidade pelos stakeholders, e há expectativa que elas suportem as
flutuações econômicas com maior grau de solvência (SILVA; MARTINS; LIMA, 2018).
Com vista à compreensão da relação do capital de giro e sua relação com os indicadores
econômicos de lucratividade e rentabilidade diversos estudos se desdobram para gerar
informações relevantes aos usuários internos e externos, analisando a relação entre esses
indicadores. No cenário nacional, as estratégias de gestão do capital de giro e os indicadores
econômicos são pesquisados sob diferentes prismas (BATISTA et al., 2019; CANTON,
MULLER, RODRIGUES JUNIOR, 2019; RECH et al., 2019). Enquanto no cenário
internacional Al-Homaidi et al. (2020) trazem percepções úteis e evidências empíricas sobre
os fatores que afetam o capital de giro na Índia, disponibilizando informações relevantes aos
stakeholders.
Pesquisa entre a relação do capital de giro e a rentabilidade das companhias contribui
para reduzir a escassez de evidências empíricas para economias emergentes e a importância
da eficiência do capital de giro na Polônia, conforme exposto por Anton e Nucu (2021).
Basyith et al. (2021), também, pesquisa a relação como a gestão do capital de giro afeta a
rentabilidade das empresas de capital aberto da Indonésia.
Assim, considerando a relevância desse tema para países emergentes, caso do Brasil,
principalmente em cenário econômico conturbado, essa pesquisa investiga: Qual a relação do
capital de giro líquido com a lucratividade e rentabilidade das empresas inseridas no Novo
Mercado (NM), oriundas dos setores de Consumo Cíclico e Não Cíclico da B3? Orientada por
essa questão problema este estudo tem por objetivo analisar a relação do capital de giro com a
Margem Bruta, Margem Ebitda e Rentabilidades sobre o Ativo e sobre o Patrimônio Líquido,
dos Consolidados das companhias do segmento NM, com valores referentes ao ano de 2020.
Ressalta-se a relevância desses dois setores para o mercado de capitais, inclusive para a
formação do índice ICON (BRASIL BOLSA BALCÃO (B3), 2021b). Os Setores de
Consumo Cíclico e Não Cíclico da B3 apresenta relevância estratégica para a economia do
país, pois o primeiro está relacionado com bens duráveis (eletrônicos, veículos, vestuário,
calçados, imóveis, etc.), enquanto o segundo está mais relacionado à produção,
processamento e comercialização de alimentos, bens de higiene pessoal e limpeza, etc.
Ressalta-se que as crises econômicas, em geral, afetam esses dois setores de forma
diferenciada, em função da essencialidade do Setor de Consumo Não Cíclico (PANDINI;
STÜPP; FABRE, 2018).
Este estudo traz contribuição teórica ao evidenciar a relação entre o capital circulante
líquido (CCL) e os índices de lucratividade e rentabilidade em ano atípico para a economia
brasileira. Ao disponibilizar contribuições empíricas, que podem subsidiar a tomada de
decisão dos gestores internos e stakeholders sobre essas relações, também oferece
contribuições práticas. No âmbito acadêmico fomenta reflexões e debates sobre a relevância
da gestão do capital de giro, como instrumento gerencial.
3
2 REFERENCIAL TEÓRICO
A revisão de literatura é composta por três subseções: i) capital de giro e indicadores de
lucratividade e rentabilidade, segundo a abordagem tradicional da administração financeira,
ii) Governança Corporativa e iii) estudos correlatos.
2.1 Capital de giro e indicadores de lucratividade e rentabilidade
O capital circulante, também, denominado de capital de giro pode ser considerado como
os recursos financeiros aplicados às atividades operacionais das entidades, que giram
tradicionalmente em curto prazo. Esses recursos são oriundos de fontes próprias ou por meio
de captação de recursos de terceiros. As atividades operacionais da entidade e o capital de
giro apresentam interações constantes, podendo afetar-se mutuamente. Além disso, é
composto pelas disponibilidades imediatas (caixa, bancos, títulos de negociação imediata,
entre outros); valores a receber em curto prazo; estoques e despesas diferidas, cuja aplicação é
executada em curto prazo. Quanto mais acelerado o fluxo de produção, comercialização e
recebimentos, menores a dependência de capital de giro, para financiamento das atividades
operacionais (ASSAF NETO, 2020; REBOUD; MAZZAROL, 2017).
Segundo Reboud e Mazzarol (2017), o capital de giro está vinculado ao ciclo
operacional financeiro de uma empresa, compreendido como o período entre a estocagem de
materiais de produção e/ou mercadorias para revenda até a cobrança das vendas efetuadas.
Nesse intervalo é introduzido o capital de giro para suportar as contas a pagar até o
recebimento de clientes. Portanto, as estratégias de gestão de capital de giro estão
intrinsicamente relacionadas com a atividade operacional desenvolvida pela empresa e o setor
em que ela está inserida (RECH et al., 2019). A decisão de distribuição de dividendos e o
volume a ser distribuído, também, precisam ser adequadamente avaliados, pois afetam o fluxo
de caixa da entidade, podendo elevar a necessidade de capital de giro (VILELA; ROSA;
PENEDO, 2020).
Assim, a fundamentação do capital de giro está inserida no arcabouço teórico da
administração financeira em curto prazo, tratada nesta pesquisa com a abordagem tradicional.
Essa gestão é essencial para que as entidades cumpram seus compromissos, com vista à
continuidade de suas atividades operacionais. Para que ocorra a sustentabilidade econômico-
financeira é relevante o equilíbrio entre a rentabilidade e o risco, agregando valor à
companhia (VALE; CRUZ; PICCOLI, 2020).
Conforme Assaf Neto (2020), o desempenho das empresas é afetado pelo ambiente
externo em que ela está inserida. E os indicadores de análise econômico-financeira,
evidenciam o desempenho da empresa em uma determinada data, norteando as decisões,
especialmente, dos usuários externos interessados na geração de riqueza da mesma (RIBEIRO
et al., 2014). Os indicadores de lucratividade e rentabilidade compõem a análise do
desempenho econômico da empresa em determinado período, sendo influenciados pelas
estratégias adotadas pela gestão e direcionam a continuidade da organização (FERRAZ;
SOUZA; NOVAES, 2017; GITMAN, 2010).
Nesse contexto, o Quadro 1 apresenta a interpretação do Capital Circulante Líquido, também,
denominado de capital de giro líquido e dos índices de lucratividade e rentabilidade, cuja
relação será analisada na seção de resultados.
4
Quadro 1 - Capital de giro e indicadores econômico-financeiro
Indicador Índice Interpretação
Capital de Giro Capital Circulante Líquido (CCL) (R$)
Indica o excedente entre o Ativo Circulante
e o Passivo Circulante, caso de CCL
positivo, sinalizando solvência da empresa
(ASSAF NETO, 2020).
Lu
crat
ivid
ade Margem Bruta (MB) (%)
Indica o quanto das vendas foram
convertidas em Lucro Bruto (ASSAF
NETO, 2020), sugerindo desempenho de
lucratividade (SILVA, et al. 2019).
Margem Ebitda (ME) (%)
Evidencia a lucratividade operacional,
considerando a razão entre o lucro
operacional (antes do pagamento de juros,
amortizações, impostos e depreciações) e a
receita líquida (ASSAF NETO, 2020).
Ren
tab
ilid
ade
Retorno sobre o ativo (ROA) (%)
Indica o quanto a companhia está obtendo
de retorno do capital próprio investido no
ativo (ASSAF NETO, 2020). Também,
pode ser interpretado como medida de
eficiência da companhia em gerar lucro com
ativos existentes, sendo considerado
indicador de desempenho de mercado
(SILVA et al., 2019).
Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) (%)
Medida de eficiência da companhia em
gerar lucro por meio dos recursos próprios,
evidenciado pela razão entre lucro líquido e
Patrimônio Líquido (ASSAF NETO, 2020),
e indiciando desempenho econômico
(SILVA et al. 2019).
Fonte: Elaborado pelos autores
O capital de giro é constituído principalmente pelo Disponível (caixa e aplicações),
Valores a receber e Estoques. Assim, o CCL pode ser afetado pelo fluxo de caixa, com
recursos oriundos das atividades operacionais, empréstimos e financiamento em longo prazo,
integralização de capital, recebimento de realizável em longo prazo ou ocorrência de prejuízo,
compra de ativos permanentes, amortização de exigibilidades em longo prazo (ASSAF
NETO, 2020).
Embora não seja comum, ocorre CCL negativo quando a soma do Passivo Não
Circulante e Patrimônio Líquido não são suficientes para sustentar os investimentos em longo
prazo, requerendo recursos oriundos do Passivo Circulante (ASSAF NETO, 2020). Isso indica
baixo grau de liquidez, pois sinaliza ocorrência de dívidas em curto prazo financiando
aplicações com prazo de retorno maior. Para Rech et al. (2019), a gestão do capital de giro
está relacionada com as estratégias de gerenciamento do nível de produção, de
comercialização e da estrutura de capital utilizada para financiamento das atividades
operacionais, ressaltando que essas decisões impactam o desempenho econômico-financeiro
da companhia.
2.2 Governança corporativa
A governança corporativa (GC) decorre da lacuna exposta pelo crescimento da firma,
quando o seu proprietário delega a gestão da empresa à diretoria, contratada por ele para
administrá-la em seu nome. Essa questão é tratada pela Teoria da Firma, que evidencia os
5
possíveis conflitos de interesses, nesse novo desenho organizacional, em que o principal
(proprietário) e o agente (gestores) buscam maximizar o seu bem-estar individual, expresso
por funções de utilidades distintas (CORREIA; AMARAL, 2008). A assimetria informacional
entre o principal e o agente exige mecanismos de controle e supervisão para que as diretrizes
traçadas pelo principal (acionistas) sejam cumpridas pelo agente (diretoria), o que acarreta
custos adicionais que se justificam quando há mais benefícios do que custos (JENSEN;
MECKLING, 1976).
Desse modo, a governança corporativa conduz as corporações para minimização desses
conflitos, com vista à obtenção de transparência, acompanhamento e supervisão das diretrizes
emanadas do Conselho de Administração, que representa os interesses dos acionistas. O
Quadro 2 apresenta conceitos de GC, com diferentes perspectivas.
Quadro 2 – Conceitos de governança corporativa.
Fonte Conceito
IBGC (2015, p. 20)
“Governança corporativa é o sistema pelo qual as empresas e demais organizações
são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre os
sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle
demais partes interessadas”.
Gitman (2010, p. 14)
“Governança corporativa é o sistema usado para dirigir e controlar uma empresa.
Define os direitos e responsabilidades dos principais agentes da empresa, estabelece
os procedimentos decisórios e determina como a empresa fixará, atingirá e
monitorará seus objetivos.”
Silveira e Barros (2010,
p. 2; p. 12)
“A governança corporativa pode ser vista como conjunto de mecanismos que visam
a aumentar a probabilidade dos fornecedores de recursos garantirem para si o
retorno sobre seu investimento.”
“Governança corporativa lida com o processo decisório na alta gestão e com os
relacionamentos entre os principais personagens das organizações empresariais,
notadamente executivos, conselheiros e acionistas.”
Fonte: Elaborado pelos autores
Neste sentido, a GC propicia a proximidade entre os interesses dos acionistas e as
decisões estratégicas da direção, reduzindo conflitos e possíveis prejuízos organizacionais e
econômico-financeiros. Os mecanismos internos e externos podem ser exemplificados como
Conselho Administrativo; Conselho Fiscal, estrutura de propriedade e de controle, estrutura
de capital, política de remuneração de diretores, auditorias externas, publicações de relatórios,
entre outros (SILVEIRA; BARROS, 2008). Esses autores observaram que maior
concentração da estrutura de propriedade (acionista com maior poder decorrente de deter a
maioria das ações ordinárias) implica em menor qualidade da GC.
A GC eleva o nível de credibilidade da companhia perante aos stakeholders (acionistas,
instituições financeiras, trabalhadores, governo, fornecedores, entre outros), em função dos
princípios básicos. Esses princípios estão pautados principalmente pela transparência;
responsabilidade corporativa; tratamento de equidade entre os acionistas; prestação de contas;
responsabilidade corporativa, zelar pela visibilidade econômico-financeira, entre outros
(INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA [IBGC], 2015).
Nessa direção, a Brasil Bolsa e Balcão (B3), com a finalidade de elevar o nível de
confiança no mercado de capitais brasileiro, com vista inclusive a atrair novos investidores
criou níveis diferenciados de GC: Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado. O nível 1 estabelece
regras para as empresas implementarem práticas favoráveis ao acesso às informações; o nível
2, além da divulgação de informações as empresas têm direito de manter ações preferenciais,
assim dão direito à votos aos acionistas em situações de risco; e Novo Mercado, direciona as
empresas ao patamar mais elevado de GC (B3, 2020a).
6
2.3 Estudos correlatos
Com objetivo de subsidiar a discussão dos resultados desta pesquisa apresenta-se no
Quadro 3, os estudos similares, avaliados como relevantes.
Quadro 3 – Estudos análogos à pesquisa realizada.
Autor/ano Objetivo Técnicas Resultados
Ferraz; Sousa,
Novaes
(2017)
Identificar a relação entre a
rentabilidade e a liquidez das
empresas listadas na [B]3, no
período (2003 a 2013).
Análise de
regressão
linear
múltipla.
Observou-se relação inversa e
significativa entre rentabilidade e
liquidez.
Rech et al.
(2019)
Analisar as influências das
estratégias de gestão do capital de
giro tem sobre a rentabilidade das
empresas listadas em diversos
setores econômicos da [B]3 (2000 a
2014).
Análise de
regressão
simples e
multivariada.
Há influência positiva e significativa
entre estratégias (investimentos em
Ativos Circulantes e financiamento
dos ativos circulantes) de gestão do
capital de giro e rentabilidade do ativo
total e do patrimônio líquido das
empresas.
Barbosa et al.
(2019)
Investigar se instituições bancárias,
que adotam governança corporativa
(GC), apresenta maior desempenho
em rentabilidade, liquidez e
mercado.
Cálculo dos
indicadores;
Teste de
média t-
Student.
Não houve diferença significativa de
desempenho de liquidez e
rentabilidade entre os bancos que
adotam e os que não adotam GC,
exceto para margem de lucro. Há
diferença significativa entre os dois
grupos para o indicador Ebitda,
indicando maior desempenho
operacional para os bancos que adotam
GC.
Batista et. al.
(2019)
Verificar o impacto do capital de
giro na rentabilidade das empresas
de capital aberto do setor de
construção civil (2007 a 2016).
Regressão
linear
múltipla com
dados em
painel.
Verificou-se que prazo médio de
recebimento das vendas (PMR) e
prazo médio de renovação dos
estoques (PME) apresentam relação
inversa com a rentabilidade, com
exceção do prazo médio de pagamento
ao fornecedor (PMP). Menor prazo
para renovação dos estoques e das
vendas proporciona maior
rentabilidade para empresas do setor
da construção civil. A gestão do
capital de giro da empresa impacta na
rentabilidade das empresas.
Canton,
Muller,
Rodrigues
Junior (2019)
Investigar qual a influência da
gestão do capital de giro e do ciclo
de vida organizacional na
rentabilidade das companhias
listadas na B3 (2014-2017).
Método de
Park e Chen.
Os resultados apontaram que a Gestão
do Capital de Giro influencia a
rentabilidade (ROA) das companhias.
Fonte: Elaborado pelos autores
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS
Esta pesquisa é de natureza aplicada, pois gera informações para os stakeholders, além
dos próprios gestores das empresas do Setor de Consumo, listadas na B3. Trabalhou-se com
as técnicas quantitativa e descritiva, pois se utilizou tratamento estatístico para caracterizar as
7
variáveis: Capital Circulante Líquido (CCL), Margem Bruta (MB), Margem Ebitda (ME),
Rentabilidade sobre o Ativo (ROA) e a Rentabilidade sobre o Patrimônio Líquido (ROE),
bem como a relação entre o CCL e os índices de lucratividade e rentabilidade. Aplicou-se
estratégia de pesquisa documental, pois foram utilizadas as demonstrações contábeis
consolidadas, posicionadas em 31 de dezembro de 2020, das 40 companhias inseridas no
segmento Novo Mercado (NM), que compõem a amostra, com índices disponibilizados pela
plataforma Economática® (MARCONI; LAKATOS, 2017).
A Tabela 1 apresenta os subsetores de consumo cíclico e não cíclico da B3, enquadradas
no segmento de mais alto nível de governança corporativa (NM).
Tabela 1 – Composição da amostra por setor e subsetor da B3(2020)
Setor de Consumo Quantidade de empresas
Não Cíclico 11 Agropecuária 3 Alimentos Processados 6
Produtos de Uso Pessoal e de Limpeza 1 Comércio e Distribuição 1
Cíclico 29
Construção Civil 16 Tecidos, Vestuário e Calçados 4
Automóveis e Motocicletas 2 Diversos 3
Comércio 4
Total Amostra 40
Fonte: Tabela de Classificação Setorial (B3, 2021c). Elaborado pelos autores.
Considerou-se como critério de inclusão na amostra: empresas inseridas no Setor de
Consumo, pertencentes ao segmento NM da B3, com índices disponibilizados na Plataforma
Economática para o ano de 2020, conforme dados obtidos em 11 de abril de 2021, sendo as
demais excluídas. O banco de dados foi organizado considerando planilha Microsoft Excel.
Gerou-se estatísticas descritivas para análise das variáveis por meio dos valores médios,
desvio padrão, valores mínimos e máximos, para então aplicar o teste de normalidade
Shapiro-Wilk, com nível de significância de 5%, com vista a observar a aderência da
distribuição da amostra em relação à função de distribuição normal, com a finalidade de
determinar o teste adequado de correlação, para avaliar a aplicabilidade de regressão linear
simples (FÁVERO, BELFIORE, 2020). O tratamento estatístico dos dados foi realizado por
meio do software Stata 12.0.
Esse estudo não busca um modelo preditivo adequado para estimar o CCL a partir das
variáveis de lucratividade e rentabilidade, e sim para explicar a relação de dependência entre o
CCL e cada uma delas, conforme amostra (HAIR et al., 2009). Observou-se que a distribuição
dos dados não apresentou similaridade com distribuição normal, conforme teste Shapiro-Wilk,
razão pela qual se aplicou o teste de correlação Spearman, com significância de 5%.
A aplicação do teste de correlação sugere associação entre as variáveis, sendo que a
regressão possibilita confirmar se essa associação é compatível teoricamente ou se ocorre ao
acaso (espúria), evidenciando a relação de dependência entre elas (PARANHOS et al., 2014;
HAIR et al., 2009). A variável dependente (CCL) expressa em reais, com valor médio em
milhões, foi transformada por meio de logaritmo natural (LN) para melhor compatibilidade
com as escalas dos demais indicadores de lucratividade e rentabilidade, expressos em taxa
percentual.
8
Ressalta-se que ocorreu na amostra cinco casos de CCL negativo, logo o software não
considerou essas observações, resultando em 35 empresas, com dados de 2020. Assim,
aplicou-se o modelo de regressão linear simples:
LnCCLi = β0 + β1Indicador ji
Sendo LnCCL = logaritmo neperiano do CCL; β0 = coeficiente linear (constante); i =
empresa i (1...35), com taxa referente ao ano de 2020; β1 = coeficiente angular; Indicador j
(variável explicativa, sendo j = MB, ME, ROA e ROE). Assim, analisou-se a relação
individual de cada indicador de lucratividade e rentabilidade sobre o CCL.
Também, propôs-se aplicar regressão com Transformação de Box Cox da variável
dependente ROE (ROEiλ−1
λ), denominada de (BCROE) no modelo, sendo λ é o parâmetro da
transformação de Box-Cox (FÁVERO, BELFIORE, 2020). Essa transformação se fez
necessária com vista a alcançar o pressuposto de normalidade dos resíduos. Considerou-se o
CCL, também, transformado por função logarítmica (LNCCL), por motivo de escala. Essa
proposta de regressão permite observar que o ROE influência o CCL e vice-versa, conforme
exposto por Rech et al. (2019). A regressão com Transformação Box Cox foi expressa por:
BCROEi = β0 + β1Lnccli + β2 MBi + β3MEi + β4 ROAi
Sendo BCROE = a variável dependente ROE transformada pela função Box Cox; β0 =
coeficiente linear (constante); i = empresa i (1...35), com valores referentes ao ano de 2020;
β1 = coeficiente angular (regressão); e as variáveis explicativas: MBi, MEi, ROAi e ROEi)
Assim, analisou-se a relação conjunta dos indicadores de lucratividade, rentabilidade e do
CCL sobre o ROE.
Foram avaliados os pressupostos exigidos para regressão, considerando o método de
mínimos quadrados ordinários (MQO) para determinação da regressão múltipla: normalidade
dos resíduos (Teste de Shapiro-Wilk, 5%); variância constante (teste de homocedasticidade de
Breusch-Pagan/Cook-Weisberg); ausência de multicolinearidade (usando valor VIF –
Variance Inflation Factor) (FÁVERO; BELFIORE, 2020).
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela 2 apresenta as estatísticas descritivas básicas, conforme amostra posicionada
em 2020, considerando as companhias inseridas no segmento Novo Mercado, dos Setores de
Consumo Cíclico e Não Cíclico da B3. Verifica-se elevada variabilidade do desvio padrão em
relação à média (coeficiente de variação – CV), principalmente para o ROA (12.807,93%) e
ME (983,26%). Esses resultados sugerem que essa heterogeneidade no desempenho
econômico financeiro, tornou-se mais acentuada pela crise econômica internacional,
decorrente da pandemia Covid-19, que exigiu entre diversas medidas o isolamento social,
com ocorrências de lockdown, nas principais capitais do país, interrompendo ciclos produtivos
e de comercialização (DWECK et al., 2020).
9
Tabela 2 - Estatísticas descritivas das variáveis relativas aos Setores de Consumo da B3 (2020)
Variável Obs Média Desvio Padrão Mínimo Máximo
LNCCL 35 14,26 1,06 12,40 16,80
CCL(R$mil) 40 2.278.993 3.651.283 -2.204.539 19.702.068
MB(%) 40 30,68 18,09 -31,88 69,23
ME(%) 40 -11,29 99,72 -492,60 71,91
ROA(%) 40 0,10 12,27 -56,03 16,00
ROE (%) 40 12,28 32,39 -43,95 157,60
Fonte: Dados da pesquisa. Fonte: Elaborada pelos autores.
Em geral espera-se menor coeficiente de variação dos indicadores de empresas listadas
na B3, inseridas no segmento Novo Mercado, quando pertencentes ao mesmo setor. Nesse
caso, a diversidade de setores e a sensibilidades do consumidor à variação de preço de seus
respectivos produtos em cada subsetor, pode explicar essa elevada variabilidade em torno da
média, além da crise econômica ter afetado de forma distinta o desempenho das empresas que
compõe seus segmentos (PANDINI; STUPP; FABRE, 2018).
Essa discrepância pode sugerir lucratividade e rentabilidade distintas entre setores e
subsetores, mesmo que todos apresentem o mais elevado nível de governança corporativa.
Embora Barbosa et al. (2019), analisando o setor financeiro, tenham verificado que não houve
diferença significativa entre rentabilidades das instituições que adotam práticas de governança
corporativa com as demais instituições do mesmo setor.
O Setor de Consumo Não Cíclico, menos suscetível às flutuações econômicas,
composto conforme Tabela 1, o Subsetor Agropecuário diferente de diversos outros
Subsetores contribuiu para o crescimento recorde (24,31%) do Produto Interno Bruto (PIB) do
agronegócio, estimulado pela alta desvalorização cambial e aumento da demanda
internacional, principalmente por proteína animal e grãos (CENTRO DE ESTUDOS
AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA [CEPEA], 2021). O valor máximo do CCL
em 2020 foi apresentado pelo consolidado JBS, conforme Tabela 2, coerente com o exposto.
Enquanto a Construção PDG Realt, inserida no Subsetor de Consumo Cíclico apresentou
Capital Circulante Líquido (CCL) negativo, menor da amostra.
A Tabela 3 apresenta o teste de normalidade (Shapiro-Wilk, nível de significância de
5%). Verificou-se que apenas as variáveis transformadas (LNCCL e BCROE) apresentaram
aderência à distribuição normal (valor_p >5%) (LOPES; BRANCO; SOARES, 2013). Por
consequência utilizou-se teste não paramétrico para análise de correlação.
Tabela 3 - Teste de normalidade (Shapiro-Wilk; 5%)
Variável Obs W V z Prob>z
LNCCL 35 0,983 0,619 -1,002 0,8420
BCROE 29 0,935 2.002 1,433 0.0760
MB 40 0,902 3,864 2,844 0,002
ME 40 0,464 21,2 6,427 0,000
ROA 40 0,735 10,47 4,942 0,000
ROE 40 0,717 11,19 5,082 0,000
Fonte: Dados da pesquisa. Fonte: Elaborada pelos autores.
A amostra relativamente pequena, com variabilidade elevada dificulta a ocorrência de
aderência à distribuição normal. Em 2020 verificou-se que o Consolidado Cyrela Realt
(Construção Civil) obteve o valor máximo (16,00%) de ROA e o Consolidado Marfrig
(Alimentos Processados) o valor máximo do ROE (157, 62%), enquanto os mais baixos
desempenhos foram dos Consolidados Viver (Construção Civil) com ROA -56,03% e Cogna
10
(Serviços Educacionais) com ROE -43,95%. Ressalta-se que no Setor de Consumo Não
Cíclico, que compõe a amostra, apenas a Natura (Produtos de Uso Pessoal) e a Terra Santa
(Agropecuária) apresentaram rentabilidades negativas.
Em conformidade com a Tabela 4, verifica-se que houve associação positiva e
significativa entre o LNCCL apenas com o ROE, indicando que o crescimento do ROE
aumenta o capital de giro líquido da empresa, possibilitando elevá-lo por meio de recursos
próprios.
Tabela 4 - Correlação (Spearman, 5%) entre CCL e indicadores de lucratividade e rentabilidade
LNCCL MB ME ROA ROE
LNCCL 1,000
MB -0,046 1,000
ME 0,144 0,401* 1,000
ROA 0,210 0,233 0,821* 1,000
ROE 0,339* 0,066 0,701* 0,856* 1,000
Fonte: dados da pesquisa. Quantidade de Observações: 40
Rech et al. (2018) ao analisarem a influência da estratégia de gestão do capital de giro,
utilizando os índices de investimentos em ativos circulantes (AC/PC) e de financiamento de
ativo circulante (PC/AT) sobre os índices de rentabilidade (ROA e ROE) observou relação
significativamente positiva, sugerindo que a gestão de capital de giro influencia positivamente
as rentabilidades e vice-versa, ratificando os resultados obtidos nesta pesquisa.
A Tabela 5 apresenta os parâmetros da regressão linear simples, confirmando que o
ROE impacta positivamente o CCL.
Tabela 5 - Parâmetros da regressão linear simples
LNCCL Coef.(β) Std.Err. t P>|t| Intervalo de conf. (95%)
ROE (β1) 0,011 0,005 2,05 0,049 0,0001 0,0219
CONS (β0) 14,14 0,182 77,55 0,000 13,77 14,51
Fonte: Dados da pesquisa. Fonte: Elaborada pelos autores.
Conforme esse modelo, aumento da ROE provoca aumento do capital de giro líquido,
segundo a regressão linear simples é expresso por:
LNCCL = 14,14 + 0,0110 x ROE
No entanto, ressalta-se que o ROE apresenta baixo poder preditivo, com variabilidade
dos dados em torno da reta estimada, pois o R2 (11,3%) é baixo, conforme pode ser observado
na Figura 1, indicando omissão de variável relevante para a regressão. Isso, não invalida a
confirmação de que o ROE apresenta relação de dependência com o CCL, porém indica que
somente essa variável não é suficiente para efetuar previsões sobre o capital de giro líquido
(FÁVERO; BELFIORE, 2020).
11
Figura 1 – Estimativa do modelo de regressão linear simples, considerando LNCC e o ROE. Fonte: dados
da pesquisa.
Portanto, verificou-se que dos quatro índices analisados, considerando amostra
composta pelos dois Setores de Consumo da B3, no ano de 2020, apenas o ROE apresentou
relação significativa com o CCL.
Com a finalidade de verificar se a rentabilidade sobre o Patrimônio Líquido está
relacionada com o capital de giro, conforme Rech et al. (2019), aplicou-se a regressão
múltipla considerando o ROE como variável dependente e as demais variáveis explicativas.
Nesse modelo foram utilizadas as variáveis transformadas CCL (LNCC) e ROE (BCROE),
com uso do procedimento stepwise, com nível de significância de 5%, com vista a obter o
melhor modelo, conforme variáveis explicativas. Foram removidas as variáveis relativas à
lucratividade (ME e ML) por não contribuir significativamente para o modelo, conforme
resultados apresentados na Tabela 6.
Tabela 6 - Parâmetros da regressão múltipla com transformação Box Cox
BCROE Coef.(β) Std.Err. t P>|t| Intervalo de conf. (95%)
LNCCL (β1) 0,701 0,254 2,76 0,011 0,1756 1,2261
ROA (β2) 0,244 0,610 4,000 0,001 0,1177 0,3702
CONS (β0) -8,622 3,658 -2,36 0,027 -16,1899 -1,0534
Fonte: Dados da pesquisa. Fonte: Elaborada pelos autores.
As duas variáveis significativas (LNCCL e ROA) para o modelo explicam 52,22% da
variabilidade (R2), diferente dos resultados obtidos por Ferraz, Sousa e Novaes (2017), pois
eles não encontraram relação significativa entre as variáveis ROE e CCL, conforme amostra.
No caso desta pesquisa, as duas variáveis explicativas (LNCCL e ROA) são significativas
para o modelo (valor_p < 5%), evidenciando que o capital de giro líquido e a rentabilidade
12
13
14
15
16
17
-50 0 50 100 150roe
lnccl Fitted values
12
sobre o Ativo contribuem de forma significativa e positivamente para o retorno sobre o
Patrimônio Líquido, conforme expresso por:
BCROE = -8,622 + 0,701 x LNCCL + 0,244 x ROA
Os resíduos se distribuem conforme curva normal (Shapiro-Wilk, com estatística z = -
0,424 e valor_p < 5%), com ausência de multicolinearidade (média VIF = 1,00) e aceita a
hipótese nula de variância constante (valor_p =0,5455 > 5%). Conforme testes aplicados não
houve rejeição das hipóteses nulas de que o modelo foi especificado corretamente em termos
de forma funcional (valor_p = 0,137); e em termos de especificação do modelo (valor_p =
0,3897), indicando que o modelo atende aos pressupostos necessários. Esses resultados estão
em sintonia com as verificações de Batista et al. (2019) e Canton, Muller e Rodrigues Junior
(2019) de que as estratégias de capital de giro, em especial as relativas aos ciclos
operacionais, impactam a rentabilidade.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa objetiva analisar a relação do capital de giro com a rentabilidade (ROA e
ROE) e a lucratividade (MB e ME) das empresas enquadradas no Novo Mercado da B3, todas
oriundas dos Setores de Consumo Cíclico e Não Cíclico, com valores referentes ao ano de
2020. Portanto, os dados estão condicionados à crise econômica COVID-19, verificando-se
que apenas 27,50% das 40 companhias, que compuseram a amostra, apresentaram lucro
líquido positivo.
Observou-se relação positiva e significativa do capital de giro líquido com o ROE
(Spearman; 5%), com dependência confirmada por meio de regressão linear simples,
indicando que aumento do ROE (variável independente) contribui para o crescimento do
capital de giro líquido (variável dependente), oriundo do capital próprio. E ao avaliar o
impacto do conjunto de variáveis explicativas: Capital Circulante Líquido, da Margem Bruta,
Margem Ebitda e Rentabilidade sobre o Ativo sobre o ROE (agora como variável
dependente), por meio de regressão composta, verificou-se que a lucratividade não foi
significativa para o modelo.
Assim, verificou-se que o CCL e o ROA impactam de forma positiva e significativa o
ROE. Logo, quanto maior a Rentabilidade sobre o Patrimônio Líquido, maior a possibilidade
de injeção de capital próprio em capital de giro. Nessa direção, esta pesquisa ratifica os
estudos correlatos apresentados em que as estratégias de gestão do capital de giro afetam a
rentabilidade da empresa, demonstrando que maior volume de recursos aplicados na
realização das atividades operacionais, com estratégias eficientes em relação aos ciclos
operacionais, impacta positivamente a rentabilidade e vice-versa. Portanto, essa relação entre
o CCL e a rentabilidade se manteve para os Setores de Consumo da B3, mesmo em situação
de forte recessão econômica.
No entanto, vale ressaltar que a pesquisa de Anton e Nucu (2021), com amostra mais
ampla (719 empresas) e maior escala temporal (10 anos), identificou relação entre capital de
giro e a rentabilidade na forma funcional de U invertido, evidenciando que existe um limite de
ponto máximo para essa relação, na Polônia. Esses resultados ratificam a relevância das
estratégias de gestão sobre o CCL e o uso de capital próprio oriundo das rentabilidades, para
financiar as atividades operacionais.
Nesta perspectiva, esse estudo proporciona contribuição teórica ao evidenciar que a
relação de dependência direta entre capital de giro líquido e ROE; e a dependência desse
13
último com o capital de giro líquido e o Retorno Sobre o Ativo se mantiveram em 2020, vis-à-
vis à evolução da pandemia de infecções de SARS-CoV-2. E ao disponibilizar contribuições
empíricas, que podem subsidiar a tomada de decisão dos gestores internos e stakeholders
sobre essas relações, também oferece contribuições práticas.
Sob o prisma de contribuição gerencial, evidencia-se a importância de controle dos
recursos e estratégia de gestão do capital de giro das empresas na busca da sustentabilidade
econômico-financeira e operacional. Por conseguinte, sugere-se que novas pesquisas, com uso
de técnica em painel, possibilitando ampliar a escala temporal, subentendendo como limitação
desse estudo a análise com apenas um ano e amostra com número pequeno de empresas.
REFERÊNCIAS
AL-HOMAIDI, E.A. et al. Factors affecting the profitability of Indian listed firms: a panel
data approach. International Journal of Business Excellence, v. 23, n. 1, p. 1-17, 2021.
DOI: 10.1504/IJBEX.2021.111928. Disponível em: https://bit.ly/2QMEOSH. Acesso em: 24
mai. 2021
ANTON, S.G.; NUCU, A. E. A. The Impact of Working Capital Management on Firm
Profitability: Empirical Evidence from the Polish Listed Firms. Journal of Risk and
Financial Management, v. 14, n. 1, p. 9, 2021.DOI: 10.3390/jrfm14010009. Acesso em:
https://bit.ly/3vfy3HS. Acesso em 24 mai. 2021.
ASSAF NETO, A. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômico-financeiro.
12. ed. São Paulo: Atlas, 2020.
BARBOSA, A.L.M.A. et al. The influence of Corporate Governance on the profitability of
Financial Institutions. Research, Society and Development, v. 8, n. 8, p. e09881179-
e09881179, 2019. DOI: 10.33448/rsd-v8i8.1179. Disponível em: https://bit.ly/3d1cnY7.
Acesso em: 23 mar. 2021.
BASYITH, A. et al. Does Working Capital Management Affect Profitability? Empirical
Evidence from Indonesia Listed Firms. Asian Economic and Financial Review, v. 11, n. 3,
p. 236-251, 2021. DOI: 10.18488/journal.aefr.2021.113.236.251. Disponível em:
https://bit.ly/3yBUaKT. Acesso em: 24 mai. 2021.
BATISTA, A. T. N. et al. Impacto da Gestão do Capital de Giro na Rentabilidade das
Empresas do Setor de Construção Civil. RAIMED: Revista de Administração IMED, v. 9,
n. 1, p. 114-131, 2019. DOI: 10.18256/2237-7956.2019.v9i1.2993. Disponível em:
https://bit.ly/2PgH1Vf. Acesso em: 23 mar. 2021.
BRASIL BOLSA BALCÃO [B3]. Governança Corporativa e segmentos de listagem.
Disponível em: https://bit.ly/3bYWbHi. Acesso em: 27 abr. 2021a.
BRASIL BOLSA BALCÃO [B3]. Índice de Consumo (ICON B3). Disponível em:
https://bit.ly/34dQQrg. Acesso em: 10 mai. 2021b.
BRASIL BOLSA BALCÃO [B3]. Tabela de classificação setorial. Disponível em:
https://bit.ly/3oWLSbU. Acesso em: 10 mar. 2021c.
14
CAMPBELL, J. B.; FRANSI, E. C. La dirección comercial en época de pandemia: el impacto
del covid-19 en la gestión de ventas. Información tecnológica, v. 32, n. 1, La Serena, 2021.
DOI: 10.4067/S0718-07642021000100199. Disponível em: https://bit.ly/2SkAZnU. Acesso
em: 23 mai. 2021.
CANTON, C.; MÜLLER, M.; RODRIGUES JUNIOR, M. M. Influência da Gestão do
Capital de Girofle do Ciclo de Vida Organizacional na Rentabilidade. In: Anais do USP
International Conference in Accounting. 2019. Disponível em: https://bit.ly/3d5ze53.
Acesso em 23 mar. 2021.
CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA. Pib do
agronegócio brasileiro. Disponível em: https://bit.ly/2PZLUCN. Acesso em: 07 mai. 2021
CORREIA, L. F.; AMARAL, H. F. Arcabouço teórico para os estudos de governança
corporativa: os pressupostos subjacentes à teoria da agência. Revista de gestão USP, v. 15, n.
3, p. 1-10, 2008. DOI: 10.5700/issn.2177-8736.rege.2008.36642. Disponível em:
https://bit.ly/3dv7FSH. Acesso em: 02 de abr. 2021.
DWECK, E. et al. Impactos macroeconômicos e setoriais da Covid-19 no Brasil. Rio de
Janeiro, May, 2020.Disponível em: https://bit.ly/3oI5vV9. Acesso em: 24 mai. 2021.
FÁVERO, L.P.; BELFIORE, P. Manual de análise de dados. Rio de Janeiro: LTCN, 2020.
FERRAZ, P.S.; SOUSA, E.F.; NOVAES, P.V.G. Relação entre Liquidez e Rentabilidade das
empresas listadas na BMF&BOVESPA. ConTexto, v. 17, n. 35, 2017. Disponível em:
https://bit.ly/3d4JxGe. Acesso em: 23 mar 2021.
GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração financeira. Tradução: Allan Vidigal
Hastings. 12. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.
HAIR et al. Análise multivariada de dados. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009.
IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Código das melhores práticas de
governança corporativa. 5. ed. São Paulo: IBGC, 2015.
JENSEN, M. C.; MECKLING, W. H. The theory of the firm: managerial behavior, agency
costs, and capital structure. Journal of Financial Economics, v. 3, n. 4, p. 305-360, 1976.
DOI:10.1016/0304-405X(76)90026-X. Disponível em: https://bit.ly/3sQDb3U. Acesso em:
27 mai. 2021.
LIMA, S.H.O. et al. Governança corporativa e desempenho econômico: uma análise dos
indicadores de desempenho entre os três níveis do mercado diferenciado da
BM&FBovespa. REGE-Revista de Gestão, v. 22, n. 2, p. 187-204, 2015.DOI:
10.5700/rege558. Disponível em: https://bit.ly/3uf1CIj. Acesso em: 27 mai. 2021.
15
LIRA, M.; ALMEIDA, S.A. A volatilidade no mercado financeiro em tempos da pandemia do
(novo) Coronavírus e da Covid-19: impactos e projeções. Facit Business and Technology
Journal, v. 1, n. 19, 2020. https://bit.ly/3uedYR6. Acesso em: 24 mai. 2021.
LOPES, M. de M.; BRANCO, V. T. F. C.; SOARES, J. B. Utilização dos testes estatísticos de
Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk para verificação da normalidade para materiais de
pavimentação. Revista Transportes, v. 21, n. 1, p. 59–66, 2013. DOI:
10.4237/transportes.v21i1.566. Disponível em: https://bit.ly/337Kl8P. Acesso em: 02 mai.
2021.
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E.M. Metodologia científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2017.
PANDINI, J.; STÜPP, D.R.; FABRE, V.V. Análise do impacto das variáveis
macroeconômicas no desempenho econômico-financeiro das empresas dos setores de
Consumo Cíclico e Não Cíclico da BM&FBovespa. Revista Catarinense da Ciência
Contábil, v. 17, n. 51, 2018. DOI: 10.16930/2237-7662/rccc.v17n51.2606. Disponível em:
https://bit.ly/3hPL2wi. Acesso em: 24 mai. 2021.
PARANHOS, R. et al. Desvendando os mistérios do coeficiente de correlação de Pearson: o
retorno. Leviathan (São Paulo), n. 8, p. 66-95, 2014. DOI: 10.11606/issn.2237-
4485.lev.2014.132346. Disponível em: https://bit.ly/3uusx3Q. Acesso em: 07 mai. 2021.
REBOUD, S.; MAZZAROL, T. Management Theory and Practice, Fourth Edition. Springer
Texts in Business and Economics, 2017.
RECH, I. J. et al. Análise da relação entre rentabilidade e estratégias de gestão do capital de
giro das empresas listadas na B3. Revista Contemporânea de Contabilidade, v. 16, n. 38, p.
150-165, 2019. DOI: 10.5007/2175-8069.2019v16n38p150. Disponível:
https://bit.ly/2NRbCIM. Acesso em: 23 mar. 2021.
RIBEIRO, H.C.M. et al. Produção científica sobre os temas governança corporativa e
stakeholders em periódicos internacionais. Contabilidade, gestão e governança, v. 17, n. 1,
2014. https://bit.ly/3rKUKRP. Acesso em: 02 abr. 2021.
SILVA, A. et al. Análise exploratória de indicadores de desempenho. RACE-Revista de
Administração, Contabilidade e Economia, v. 18, n. 1, p. 157-176, 2019. DOI:
10.18593/race.16209. Disponível em: https://bit.ly/3wlFpe7. Acesso em: 30 mar. 2021.
SILVA, D. M.; MARTINS, V. A.; LIMA, F. G. Escolhas contábeis na demonstração dos
fluxos de caixa em companhias listadas no novo mercado da B3. Revista Contemporânea de
Contabilidade, v. 15, n. 36, p. 143-165, 2018. DOI: 10.5007/2175-8069.2018v15n36p143.
Disponível em: https://bit.ly/3m41yIR. Acesso em: 30 de mar. 2021.
SILVEIRA, A. M.; BARROS, L. A. B. C. Determinantes da qualidade da governança
corporativa das companhias abertas brasileiras. Revista Eletrônica de Administração, Porto
Alegre, ed. 61, v. 14, n. 3, 2008. Disponível em: https://bit.ly/3cNYGNw. Acesso em: 03 de
abr. 2021.
16
UPADHYAY, S.; BANERJEE, A.; PANIGRAHI, P. K. Causal evolution of global crisis in
financial networks. Physica A: Statistical Mechanics and its Applications, v. 554, p.
124690, 2020. DOI: 10.1016/j.physa.2020.124690. Disponível em: https://bit.ly/3fi18x0.
Acesso em: 24 mail. 2021.
VALE, R.R.; CRUZ, J.A.W.; PICCOLI, P.G.R. Análise dinâmica do capital de giro aplicado
ao varejo. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 9, p. 73904-73916, 2020. DOI:
10.34117/bjdv6n9-739. Disponível em: https://bit.ly/2QUYraZ. Acesso em 29 mar. 2021.
VILELA, E.H.P.; ROSA, A.A.S.; PENEDO, A.S.T. Política de distribuição de dividendos e
sua relação com a necessidade de capital de giro das empresas brasileiras listadas na B3.
In: Anais do Congresso Brasileiro de Custos-ABC. 2020. Disponível em:
https://bit.ly/3te6Ynk. Acesso em: 12 de abr. 2021.