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ANDRÉIA CRISTINA DA SILVA KOBELINSKI
O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO SOB O OLHAR DA SUSTENTABILIDADE:
O CASO DE SANTA CRUZ DO TIMBÓ – PORTO UNIÃO –SC
Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI Centro de Educação da UNIVALI
Balneário Camboriú 2005
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ANDRÉIA CRISTINA DA SILVA KOBELINSKI
O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO SOB O OLHAR DA SUSTENTABILIDADE:
O CASO DE SANTA CRUZ DO TIMBÓ – PORTO UNIÃO –SC
Defesa de dissertação de Mestrado,
apresentada no Programa de Pós-
Graduação em Turismo e Hotelaria da
Universidade do Vale do Itajaí, para a
obtenção do Título de Mestre sob a
orientação do Professor Dr. Paulo dos
Santos Pires.
Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI Centro de Educação da UNIVALI
Balneário Camboriú 2005
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BANCA EXAMINADORA:
_____________________________________________ Professor Dr. Paulo dos Santos Pires
(Orientador)
______________________________________________ Professor Dra. Doris van de Meene
Ruschmann (Examinadora-titular)
______________________________________________ Professor Dr. Marcos Aurélio Tarlombani da Silveira
(Examinador-titular)
______________________________________________
Professor Dr. Marcus Pollete (Examinador-suplente)
______________________________________________
Professora Dra. Elaine Ferreira (Examinadora-suplente)
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a Deus, ser supremo da criação, que, em todos os momentos foi, e sempre será, refúgio e alegria em meus dias. Ao meu esposo Michel Kobelinski, pela paciência, dedicação, críticas e compreensão dessa dedicação à pesquisa e redação deste trabalho. E como isto foi gratificante! Como você já disse, que a nossa vitória seja compensadora!. Aos familiares um agradecimento especial: José Correia da Silva e Maria Zita da Silva que me deram a vida e, mesmo a distância, sempre estiveram projetando e torcendo por mais esta vitória. Eu também não poderia esquecer da amiga de “viagem”, companheira das idas e vindas a Balneário Camboriú. Nádia, você é uma pessoa especial que Deus colocou no meu caminho. Foi a minha companheira das horas felizes e dos momentos decisivos. Apesar da distância de nossos lares, a enorme amizade se mostrou mais forte. Amiga, obrigada por tudo. Deus a ilumine sempre.
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AGRADECIMENTOS
Agradecer é ato de humildade e grandeza do ser no mundo e diante dele. O nascer e o pôr-do-sol, os seres vivos, as pessoas a nossa volta, enfim, todas as coisas compõem algo que considero sagradas e necessárias às nossas conquistas e empreendimentos. Agradeço profundamente às pessoas que participaram desta etapa de minha vida, reconhecendo o seu grande valor.
Ao Professor Dr. Paulo dos Santos Pires, por seu conhecimento e dedicação durante os nossos encontros, mesmo com as suas atribulações corriqueiras. Obrigada pelas horas proveitosas nas quais concretizamos um ideal que agora vem a público, esforço este sem o qual não seria possível o direcionamento e a construção deste trabalho. Aos Professores do Curso Stricto Sensu em Turismo e Hotelaria da Univali, pelo empenho e dedicação nas discussões em sala de aula, no despertar do senso crítico nos acadêmicos, apoio e encaminhamento dos trabalhos. Aos professores, Dra. Doris de van Meene Ruschmann, Dr. Marcus Polette (Dra. Roselys Izabel Correa dos Santos), Dr. Paulo dos Santos Pires o reconhecimento. Durante a qualificação seus comentários e críticas foram relevantes ao redimensionamento do trabalho apresentado. Às secretárias do curso de mestrado, que sempre nos atenderam prontamente: Norma, Márcia, Cristina e Rita. Aos amigos da turma de 2003, que souberam cultivar a amizade, carinho, alegria. A troca de conhecimento e a amizade, dentro e fora da sala-de-aula serão lembranças que sempre guardarei comigo. Que essa amizade, nosso bem comum, seja perpétua em nossos corações. À direção da UnC – Universidade do Contestado – Campus Canoinhas, pelo apoio concedido ao desenvolvimento da pesquisa. À direção da Faculdade Municipal da Cidade de União da Vitória – FACE/ UNIUV, pelo apoio concedido e incentivo financeiro para participação em eventos que contribuiram para este trabalho e conhecimento profissional, sem medir esforços. À Profa. Fahena Horbatiuk, pela correção e atenção a este trabalho. Aos atores sociais entrevistados - poder público, sociedade civil organizada, comunidade local, iniciativa privada - que prontamente se colocaram à disposição para atender nossas solicitações. Por fim, a todos que torceram, apoiaram e auxiliaram de alguma forma, para que este trabalho fosse realizado com pleno sucesso. Muito obrigada.
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“A missão do ser humano não é estar sobre as
coisas, dominando-as, mas ficar ao seu lado,
cuidando delas, pois ele é parte responsável da
imensa comunidade terrenal e cósmica.”
Leonardo Boff, 2004.
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SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS LISTA DE TABELAS LISTA DE SIGLAS LISTA DE ANEXOS LISTA DE APÊNDICES RESUMO ABSTRACT 1 INTRODUÇÃO 2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO...................................................... 22 2.1 Localização geográfica................................................................................................ 24 2.2 Aspectos biofisicos..................................................................................................... 25 2.3 Infra-estrutura básica e turística.................................................................................. 32 2.4 Aspectos históricos..................................................................................................... 49 2.5 A criação do município de Porto União...................................................................... 53 3 REFERENCIAL TEÓRICO....................................................................................... 58 3.1 Desenvolvimento e sustentabilidade........................................................................... 58 3.2 Sustentabilidade do turismo........................................................................................ 62 3.3 Turismo no espaço rural.............................................................................................. 69 3.4 Planejamento e gestão do turismo............................................................................... 72 4 METODOLOGIA ....................................................................................................... 80 4.1 População e amostragem............................................................................................. 82 4.2 Técnicas de pesquisa e instrumentos para coleta de dados......................................... 83 4.3 Processamento e análise dos dados............................................................................. 85 5 RESULTADOS ............................................................................................................ 86
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5.1 Poder Público.............................................................................................................. 86 5.2 Sociedade Civil Organizada........................................................................................ 92 5.3 Iniciativa Privada........................................................................................................ 97 5.4 Comunidade Local...................................................................................................... 102 5.5 Discussão integrada dos resultados............................................................................. 106 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 112 6.1 Recomendações........................................................................................................... 113 7 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 117
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LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – Rio Timbó em São Pedro do Timbó......................................................................23
Figura 02 – Localização do município de Porto União e distrito de Santa Cruz do Timbó.....24
Figura 03 – Plantação de álamo nas proximidades do Rio Timbó..........................................30
Figura 04 – Igreja na Sede Santa Cruz do Timbó.....................................................................31
Figura 05 – Acesso ao distrito de Santa Cruz do Timbó..........................................................32
Figura 06 - Trevo de acesso na BR 280....................................................................................33
Figura 07 – Sinalização na entrada do distrito de Santa Cruz do Timbó..................................33
Figura 08 – Vista da entrada do distrito de Santa Cruz do Timbó............................................34
Figura 09 – Vista da Pousada Morro Alto................................................................................37
Figura 10 - Vista da Pousada Morro Alto – lado esquerdo da estrada......................................37
Figura 11 – Pousada Dona Maria..............................................................................................38
Figura 12 – Vista do Rio Timbó próximo da Pousada Dona Maria.........................................38
Figura 13 – Vista da Pousada Schreiner...................................................................................39
Figura 14 – Vista da Pousada São Pedro..................................................................................40
Figura 15 – Rio Timbó – BR 280 visto da ponte .....................................................................43
Figura 16 – Cachoeira de São Pedro.........................................................................................44
Figura 17 – Cachoeira do Rio Bonito.......................................................................................45
Figura 18 – Cachoeira do Rio dos Pardos.................................................................................46
Figura 19 - Festa no Pavilhão da Igreja em Santa Cruz do Timbó...........................................48
Figura 20 - Festa no Pavilhão da Igreja em Santa Cruz do Timbó – Grupo 3ª. Idade..............48
Figura 21 – Vista aérea dos municípios de Porto União e União da Vitória............................54
Figura 22 – Vista de Propriedade com gado leiteiro.................................................................55
Figura 23 – Cultivo de Soja......................................................................................................56
Figura 24 – Rio Timbó - no distrito de Santa Cruz do Timbó..................................................57
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Figura 25 – Rio Timbó - no distrito de Santa Cruz do Timbó..................................................57
Figura 26 – Pilares da Sustentabilidade....................................................................................65
Figura 27 – Ciclo de Vida das Destinações Turísticas..............................................................81
Figura 28 – Fluxograma do Processo de desenvolvimento da metodologia.............................85
Figura 29 - Visão dos atores sociais do poder público com relação ao envolvimento dos diversos segmentos no desenvolvimento do Turismo na região pesquisada............................91 Figura 30 – Visão dos atores sociais da sociedade civil organizada com relação ao envolvimento dos diversos segmentos no desenvolvimento do Turismo na região pesquisada................................................................................................................................96 Figura 31 – Visão dos do atores sociais da iniciativa privada com relação ao envolvimento dos diversos segmentos no desenvolvimento do Turismo na região pesquisada...............................................................................................................................101 Figura 32 – Visão dos do atores sociais da comunidade local com relação ao envolvimento dos diversos segmentos no desenvolvimento do Turismo na região pesquisada...............................................................................................................................106
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LISTA DE TABELAS
Tabela 01 – Opinião do Poder Público em relação aos benefícios do turismo na região.........86
Tabela 02 - Opinião do Poder Público em relação aos malefícios do turismo na região.........87
Tabela 03 - Opinião da Sociedade Civil Organizada em relação aos benefícios do turismo na
região.........................................................................................................................................92
Tabela 04 - Opinião da Sociedade Civil Organizada em relação aos malefícios do turismo na
região.........................................................................................................................................93
Tabela 05 – Opinião da Iniciativa Privada em relação aos benefícios do turismo na
região........................................................................................................................................97
Tabela 06 - Opinião da Iniciativa Privada em relação aos malefícios do turismo na
região........................................................................................................................................98
Tabela 07 - Opinião da Comunidade Local em relação aos benefícios do turismo na
região.......................................................................................................................................102
Tabela 08 - Opinião da Comunidade Local em relação aos malefícios do turismo na
região.......................................................................................................................................103
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LISTA DE SIGLAS
AMURC - Associação dos Municípios da Região do Contestado
ADR-PLAN - Agência de Desenvolvimento Regional Integrado do Planalto Norte
Catarinense.
BESC – Banco do Estado de Santa Catarina
CASAN - Companhia Catarinense de Águas e Saneamento
CERH -Conselho Estadual de Recursos Hídricos
CELESC – Centrais Elétricas de Santa Catarina SA
CONTUR – Conselho de Turismo e Meio Ambiente de Porto União
COPEL – Companhia Paranaense de Energia Elétrica
EMBRATUR - Instituto Brasileiro de Turismo
EPAGRI – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina
ECOIGUAÇU – Organização não governamental de proteção ao ecossistema do rio Iguaçu
ECOVALE – Empresa de Saneamento do Vale do Iguaçu
FACE – Faculdade Municipal da Cidade de União da Vitória-PR
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
OMT - Organização Mundial do Turismo
PND - Plano Nacional de Desenvolvimento
PNT – Plano Nacional de Turismo
PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
SDS - Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (Santa Catarina)
UNEP - Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas
WWF - Fundo Mundial para a Vida Selvagem
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LISTA DE ANEXOS
Anexo 1 – Folder Promocional de Porto União....................................................................127
Anexo 2 - Termo de consentimento livre...............................................................................128
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LISTA DE APÊNDICES
Apêndice A – Roteiro de Entrevistas.....................................................................................123
Apêndice B – Roteiro de Observação....................................................................................126
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RESUMO
O objetivo deste trabalho foi analisar o atual desenvolvimento do turismo no distrito de Santa Cruz do Timbó – Porto União/SC, sob a perspectiva da sustentabilidade. Para esse fim foram realizadas entrevistas com representantes do Poder Público, Sociedade Civil Organizada, Iniciativa Privada e Comunidade local. O instrumento de pesquisa foi constituído de forma a buscar uma visão desses segmentos sociais a respeito do paradigma da sustentabilidade. A ênfase do trabalho partiu das dimensões social, cultural, econômica e ecológica/ambiental propostas pela OMT – Organização Mundial do Turismo. Além disso, procurou-se conhecer as ações desses atores sociais no desenvolvimento do turismo e seu conhecimento acerca do turista que visita a região. Para a área objeto de estudo, a modalidade de turismo praticada foi identificada como turismo no espaço rural, destacando-se o turismo de pesca, e de forma discreta, o ecoturismo. O suporte e atendimento a esses “visitantes” é realizado por proprietários de pousadas que garantem uma infra-estrutura simples. As cachoeiras e grutas são atrativos potenciais que também estão sendo buscados pelos turistas. As principais dificuldades para o desenvolvimento do turismo apontadas pelos entrevistados foram: falta de planejamento turístico, falta de infra-estrutura pública e turística; falta de investimentos; divulgação; maior apoio do Poder Público; mão-de-obra qualificada, integração entre aos segmentos envolvidos com a atividade. O intuito do trabalho foi contribuir com um instrumento de mensuração para o Planejamento do Turismo Municipal, uma vez que tais princípios da sustentabilidade e de articulação entre os setores sociais envolvidos não são satisfatórios, sendo necessárias ações concretas e responsáveis, para que o desenvolvimento do turismo na região pesquisada seja uma realidade.
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ABSTRACT
The objective of this work was to analyze the current development of the tourism in the district of Santa Cruz Timbó-Porto União/SC, under the perspective of the sustainability. For that end interviews were accomplished with representatives of the Public Power, Organized Civil association, Private initiative and local Community. The research instrument was constituted from way to look for a vision of those social segments regarding the paradigm of the sustainability. The emphasis of the work left of the dimensions social, cultural, economical and ecológica/ambiental proposed by OMT- World Organization Tourism. Besides, he/she tried to know those social actors' actions in the development of the tourism and his knowledge concerning the tourist that visits the area. For the area study object, the modality of tourism practiced was identified as tourism in the rural space, standing out the fishing tourism, and in discreet way, the ecotourism. The support and service the those “visitors” it is accomplished by proprietors of lodgings that guarantee a simple infrastructure. The waterfalls and grottos are attractive potential that are also being looked for by the tourists. The main difficulties for the development of the tourism appeared by the interviewees were: lack of tourist planning, lack of public and tourist infrastructure; lack of investments; popularization; larger support of the Public Power; skilled labor, integration enters to the segments involved with the activity. The intention of the work was to contribute with a mensuration instrument for the Planning of the Municipal Tourism, once such beginnings of the sustainability and of articulation among the involved social sections are not satisfactory, being necessary concrete and responsible actions, so that the development of the tourism in the researched area is a reality.
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INTRODUÇÃO
As mudanças globais e suas implicações no cotidiano dos indivíduos são uma
constante fonte de reflexão social. A busca pelas belezas naturais, pela cultura, por
conhecimento de lugares e pessoas de diferentes sociedades, tornou-se um desejo de
consumo na sociedade pós-moderna, que procura por meio do lazer e do turismo, uma forma
de canalizar o stress do cotidiano e alcançar momentos de plena satisfação. Ruschmann
(2001, p.9) faz referência a essa questão, principalmente em relação aos ambientes naturais:
[...] a “busca do verde” e a “fuga” dos tumultos dos grandes conglomerados urbanos pelas
pessoas que tentam recuperar o equilíbrio psicofísico em contato com ambientes naturais
durante o seu tempo de lazer”.
Atualmente o turismo é um dos setores da economia que mais tem-se destacado
mundialmente. Segundo dados da OMT, apresentados no Plano Nacional de Turismo (2003-
2007), o turismo é responsável por um a cada nove empregos gerados em todo o mundo. Ora,
isso propicia uma reflexão sobre a relação turismo e desenvolvimento, ou seja, como o
turismo pode ser um desencadeador do desenvolvimento de um país, região ou uma
localidade? Ou, por outro lado, como ele pode ser exatamente o contrário, traduzindo-se em
transtornos sociais irreversíveis, principalmente em países em desenvolvimento?
Nesse contexto, muito se tem discutido acerca das políticas públicas e das
possibilidades que norteiam e balizam o crescimento e desenvolvimento do turismo, para que
tome caminhos em que a gestão seja adequada a cada realidade, sejam elas nacionais,
regionais ou locais (RODRIGUES, 2002; CRUZ, 2002, SILVEIRA, 2002).
No Brasil a preocupação com o direcionamento do turismo passa a ter uma maior
importância após 1966, em que a primeira política referente ao setor se efetivou com o
Decreto lei nº 55, referendando a criação do Sistema Nacional de Turismo, composto na
época pela Embratur, CNTUR e também com ligação ao Ministério das Relações Exteriores.
Esse primeiro esforço organizacional do setor do turístico foi válido, embora naquele
momento o direcionamento tenha privilegiado a atividade hoteleira. Contudo, a partir de
1990, tomaram-se outros rumos, com ações mais efetivas, observando a importância do
surgimento do PNT (Plano Nacional de Turismo), no sentido de reorganizar a Política de
Turismo Nacional.
Atualmente o Turismo faz parte das prioridades do Governo Brasileiro, que busca
gerar oito bilhões de dólares em divisas mediante diretrizes expostas no atual Plano Nacional
de Turismo (2003-2007). Essa preocupação “organizacional” é mais bem entendida com a
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criação do Ministério do Turismo. No entanto, mesmo com tais ações por parte do Governo
Federal, há muito a se fazer nos planos regionais e municipais no que diz respeito à
implementação das atividades turísticas e suas interações com as diversidades ambientais e
culturais.
Diante desse contexto, a ênfase deste trabalho voltou-se para o estudo do turismo em
uma localidade situada no interior do estado de Santa Catarina, levantando questões em um
contexto local. Isso permitiu analisar o “atual” cenário turístico e propiciar reflexões acerca
do desenvolvimento do turismo, concatenando, em sua essência, proposições e contribuições
ao desenvolvimento de políticas públicas locais e para regiões com características similares à
área objeto de estudo.
O município de Porto União – SC - localiza-se no extremo Norte do Planalto
Catarinense, região dotada de recursos naturais parcialmente preservados, que atraem um
público que busca contato com a natureza, com atividades ligadas aos rios, quedas d’água e à
paisagem “natural”. Porto União também é conhecida como a Capital Nacional do
Steinhaeger, devido a bebida ser produzida e engarrafada no município, e possuir
propriedades muito particulares de aroma e sabor.
O objeto de pesquisa refere-se ao distrito de Santa Cruz do Timbó e comunidade de
São Pedro do Timbó, localidades rurais do município de Porto União, que chamam a atenção
de toda a comunidade pelo movimento recente de pessoas e pela atividade turística praticada
atualmente.
As pousadas às margens do Rio Timbó oferecem lazer a quem chega à localidade em
busca de atividades ligadas à pesca e, indiretamente, procura uma gastronomia típica da
região. A atividade turística é recente, desenvolve-se a partir do ano de 2000, quando ganha
maior expressão e se consolida com a promoção de torneios de pesca. Esses “eventos”
tiveram o apoio do poder público, do Instituto Eco Iguaçu, empresas locais e pessoas da
comunidade. Tais atividades trouxeram ao público em geral afeto à atividade de pesca
esportiva amadora e, motivaram a vinda de visitantes e turistas, muitos deles oriundos da
capital paranaense. 1
Por outro lado, as políticas públicas para o desenvolvimento de turismo local ainda são
incipientes e desordenadas. A atividade turística vem ocorrendo, no entanto, o município é
1 Nos campeonatos que aconteceram anualmente até 2002, não foi efetuada a contabilização da demanda. No entanto, por meio de informações oficiais, obtidas junto aos responsáveis pelos eventos, durante as entrevistas e também em conversas informais, estima-se que cada evento recebeu cerca de duas mil pessoas. Ressalta-se que o torneio de pesca esportiva não se realizou em 2003, em razão das condições climáticas desfavoráveis na data prevista.
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desprovido de um plano para o turismo municipal. Isso pode ocasionar um futuro não muito
promissor para a atividade. Em outros termos, se não houver planejamento e envolvimento
dos atores sociais, o desenvolvimento do turismo local não será sustentável. Portanto, o ponto
chave neste trabalho é o da sustentabilidade, entendendo-a como um ponto problemático a ser
refletido no contexto das ações, práticas e interações que envolvem os atores envolvidos.
No entanto, deve-se observar que as propostas e questões ligadas ao desenvolvimento
sustentável do turismo vão além da dimensão ecológica, pois compreendem também a
melhoria das condições econômicas e sociais das populações locais (SILVEIRA, 1997).
Analisar a forma como vem ocorrendo o turismo, em Santa Cruz do Timbó,
comunidade de São Pedro do Timbó, e o estado atual de seu desenvolvimento, caracteriza o
estudo desta pesquisa. Sua finalidade é proporcionar subsídios que poderão contribuir para um
futuro planejamento do turismo local, e para diretrizes de políticas de desenvolvimento,
baseadas nas premissas da sustentabilidade da atividade turística referenciadas pela OMT –
Organização Mundial do Turismo.
O Objetivo Geral deste trabalho consistiu em analisar o desenvolvimento do turismo
no distrito de Santa Cruz do Timbó e comunidade de São Pedro do Timbó (Porto União –
SC), na perspectiva da sustentabilidade. Procurou-se avaliar o atual estágio do turismo nas
áreas objeto de estudo e, ao mesmo tempo, analisar a sustentabilidade do turismo pela visão
dos atores sociais envolvidos com a atividade. Além disso, elaborou-se um conjunto de
informações imprescindíveis para um futuro Plano de Desenvolvimento do Turismo do
município de Porto União/SC, orientado para a sustentabilidade do Turismo.
Nessa discussão temática, o presente trabalho é um estudo que poderá contribuir para
os segmentos envolvidos com o turismo local, buscando abarcar questões que são de extrema
importância na academia, bem como na execução de ações públicas e particulares que possam
agregar valor para atividade em âmbito local e, principalmente, servir como elemento de
avaliação para outros estudos, sem a pretensão de esgotar o assunto.
Nesse contexto, justifica-se a preocupação de realizar este estudo, em função de a
pesquisadora residir no município há três anos, conhecer a localidade elegida, além da
predileção pelo turismo praticado na natureza e a preocupação, como docente, em pesquisar a
área em que está inserida, no intuito de contribuir, de alguma maneira, para o turismo local,
bem como para outros estudos em municípios que apresentem realidade similar, ou seja,
turismo com base local.
No que concerne a um plano de desenvolvimento voltado para o turismo local, o
município não possui um direcionamento específico, apesar de recentemente a Prefeitura
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Municipal ter formado um Conselho de Turismo e Meio Ambiente - CONTUR, composto por
pessoas da iniciativa privada, poder público e sociedade civil e já ter confeccionado folder
promocional (Anexo 1).
Nesse sentido, o relevante envolvimento do poder público, da iniciativa privada e da
própria comunidade, por meio do conselho é um primeiro passo para definir ações que
beneficiem os diversos segmentos envolvidos com a atividade turística. Entretanto, o conselho
não tem o poder de executar ações, mas de analisar variáveis e sugerir formas que se julguem
adequadas para o desenvolvimento do turismo em uma localidade, e que nem sempre é o que
acontece.
Contudo, as ações que refletem o planejamento para o turismo local, no município de
Porto União, neste momento, apresentam-se incipientes. Isso não quer dizer que algumas
discussões sejam levantadas no CONTUR, e que algumas ações sejam levadas junto ao poder
público para análise. Acontece que há uma diferença enorme entre o que se “discute” e o que
se coloca em prática e realmente se transforma em algo útil e valorável para a comunidade e
“turistas”.
Apesar disso, o turismo vem ocorrendo em algumas localidades do interior do
município, principalmente em Santa Cruz do Timbó e comunidade de São Pedro do Timbó,
independentemente dessas ações. O surgimento de novos empreendimentos turísticos ligados
à hospedagem e à pesca esportiva que poderá ser, ao olhar da pesquisadora, uma opção de
emprego e renda para as pessoas da comunidade e, empreendedores, mas ainda é uma
realidade que não é percebida integralmente por todos os atores sociais. O que se faz são
“tentativas” de acompanhar tal quadro de desenvolvimento turístico, de modo que o
planejamento é sempre algo que vem depois.
Em função dessa “nova” opção, há diversas questões de ordem econômica, social,
cultural e ambiental, que abarcam a sustentabilidade do turismo, seja ele nacional, regional,
estadual e municipal, trazendo um arcabouço de possibilidades que devem ser avaliadas e
analisadas. A reflexão sobre as questões em torno do paradigma da sustentabilidade se faz
presente, em razão do atual desenvolvimento do turismo, observando que sem um
planejamento para ordenação e gerenciamento, o turismo pode resultar em diversos problemas
que afetarão não só a comunidade local e sua cultura, mas também todo o entorno ambiental.
Diante desse contexto, pode-se afirmar que o turismo deve representar formas e
possibilidades que possam intermediar os preceitos da sustentabilidade da atividade, buscando
minimizar os aspectos negativos e maximizar os benefícios para as atuais e próximas
gerações. Sendo assim, verifica-se que o planejamento efetivo deve buscar a análise dos
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diversos aspectos de uma localidade, bem como, o estágio de desenvolvimento da atividade o
que é de extrema importância e se faz presente como problemática deste trabalho.
A partir das questões levantadas, buscou-se o embasamento teórico, com a
finalidade de suprir e sustentar a abordagem proposta. Foram essenciais ao desenvolvimento
destas reflexões, estudos relacionados ao Turismo em Espaço Rural, Sustentabilidade do
Turismo, Planejamento e Gestão do Turismo.
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2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
O distrito de Santa Cruz do Timbó e comunidade de São Pedro do Timbó pertence à
zona rural do Município de Porto União-SC, sendo uma região “movida” pela produção
agrícola e pelo extrativismo vegetal. No entanto, começa a despontar com outra atividade
socioeconômica de extrema importância: o turismo.
Essa atividade foi estimulada nessas localidades, em função das características
naturais, isto é, vegetação parcialmente preservada, além da proximidade e facilidade de
acesso aos afluentes do rio Iguaçu - com destaque para o Rio Timbó - pelos recursos
pesqueiros e hídricos que são consideráveis pelo fato de apresentar um índice mínimo de
poluição2 (fig.1).
Outro motivo que deve ser levado em consideração refere-se aos empreendimentos
turísticos que se estabeleceram nas referidas localidades, pelo fluxo regular de pessoas nesse
espaço, principalmente nos finais de semana, despertando a atenção de alguns moradores para
investir em pequenos empreendimentos.
Inicialmente os meios de hospedagem para a pesca e o lazer restringia-se a algumas
famílias que alojavam em suas residências, amigos e parentes que vinham passar algum
período no interior, além de viajantes que se deslocavam até a localidade, a fim de realizar
atividades comerciais.
A primeira iniciativa de acomodar pessoas que visitavam Santa Cruz do Timbó e São
Pedro para a prática das atividades ligadas ao lazer e à pesca resultou na inauguração da
pensão Pousada São Pedro.3 A Pousada da Dona Maria, a princípio, hospedava somente
vendedores viajantes. Foi o primeiro meio de hospedagem local e hoje também disponibiliza
suas instalações para o público que procura o lazer e o entretenimento.
2 Informações técnicas sobre o Rio Timbó foram levantadas na reunião extraordinária do comitê do Rio Timbó para discussão da minuta dos termos de referência, para elaboração do Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Timbó, promovido pela SDS – Secretaria de Desenvolvimento Regional do Estado de Santa Catarina, nos dias 28 e 29 de janeiro de 2004, no auditório da UNC – Universidade do Contestado – Núcleo de Porto União. O índice de piscosidade do Rio não foi referendado, mas será levantado no referido plano. 3 Depoimentos obtidos junto aos proprietários das pousadas durante o processo de entrevistas.
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Figura 01: Rio Timbó – Margens na Pousada São Pedro (São Pedro do Timbó) Fonte: Arquivo da autora – Março de 2004
Contudo, o fator propulsor para que a atividade turística se estabelecesse na região
interiorana de Porto União/SC foram as promoções de campeonatos de pesca do lambari,
trutas e saicangas que se realizaram a partir do ano de 2000.4
Estima-se que o fato de a região ter sido promovida em função desses campeonatos de
pesca tenha originado a fidelidade do público que visita a região, principalmente nas épocas
de temporada de verão (novembro a março), finais de semana e feriados prolongados.
Segundo relatos dos proprietários dos empreendimentos de hospedagem, apesar de não
serem dados oficializados mediante arquivo ou banco de dados, a taxa de ocupação na
temporada é excelente, chegando a 100%, principalmente nos dias que antecedem aos
feriados. Isso vem-se repetindo a cada ano, pois o público que freqüenta a localidade acaba
trazendo outras pessoas adeptas da atividade pesqueira, para conhecer e desfrutar a
tranqüilidade da área rural, por meio da famosa propaganda “boca a boca”.5
4 A estimativa da Prefeitura Municipal de Porto União para a demanda de visitantes nos períodos de campeonato, é de aproximadamente 2000 a 2500 pessoas por campeonato. 5 Relatos obtidos em entrevistas informais com os atores sociais ligados ao turismo e discussão em sala de aula com acadêmicos do Curso de Turismo da FACE – Fundação Faculdade Municipal da Cidade de União da Vitória.
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2.1 Localização Geográfica
O Município de Porto União/SC está situado geograficamente no 3° Planalto na
microregião do Médio Iguaçu, localizado no extremo norte do Estado de Santa Catarina,
divisa com a cidade de União da Vitória, Estado do Paraná. Possui uma população de 31.858
habitantes, sendo 26.579 na zona urbana e 5.279 na zona rural, com um alto índice de
alfabetização: 95,4% (IBGE,2000) 6. Possui as seguintes coordenadas: Latitude 26º 14’ 17” e
Longitude 51º 04’42”, conforme EMBRAPA (2004).
Aproximadamente 2.000 indivíduos estão residindo dentro da área do objeto de
pesquisa (distrito de Santa Cruz do Timbó e comunidades adjacentes) – zona rural.7 (fig.2).
Figura 02: Mapa Ilustrativo. Localização da área objeto de estudo – Distrito de Santa Cruz do Timbó – Porto União /SC. Fonte: Adaptado pela autora de http://www.guianet.com.br e http://www.mapainterativo.ciasc.gov.br/
6 Disponível em www.ibge.gov.br . Consulta realizada em 12 de janeiro de 2004. 7 Segundo Informações da Coordenação de Indústria,Comércio e Turismo da Prefeitura de Porto União.
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2.2 Aspectos biofísicos
O Município de Porto União possui uma área de 851, 24 km² e a sua altitude média é
de 755 metros acima do nível do mar (IBGE, 2000) 8. O município limita-se, ao norte com
municípios de União da Vitória e Paula Freitas, ao sul com os Municípios de Matos Costa e
Arroio do Meio, a leste, com o Município de Irineópolis e, a oeste, com os Municípios de
Porto Vitória e General Carneiro, esses dois últimos no Estado do Paraná.
Porto União possui uma paisagem edificada, diferenciada de sua fisiografia original.
Isso decorreu em função da ação antrópica9, provocada em diversos períodos, desde a sua
fundação, que se deu com o povoamento da região por volta de 1863. 10
O marco da mudança da paisagem natural foi a extração madeireira, impulsionada
pelo advento da construção da estrada de ferro que ligava São Paulo ao Rio Grande do Sul,
que hoje se encontra desativada em vários trechos, inclusive no de União da Vitória/PR e
Porto União /SC.
A mata nativa, composta de espécies nobres e de alto valor econômico como o
pinheiro-araucária (Araucária angustifólia), a imbuia (Ocotea porosa) e a canela (Ocotea
puberula) 11, foram extraídas em grande quantidade dada à farta mão-de-obra e a facilidade de
transporte, através dos vapores no rio Iguaçu e a estrada de ferro, fatores decisivos para região
tornar-se um importante centro exportador de madeira (REITZ, 1979).12
2.2.1 Hidrografia
A Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente de Santa
Catarina, pelos princípios da Política Estadual de Recursos Hídricos expressos na lei n.º
10.949, de 9 de novembro de 1998, criou 10 Regiões Hidrográficas (RH). A Bacia do Rio
8 Disponível em www.ibge.gov.br . Consulta realizada em 12 de janeiro de 2004. 9 Referente à ação humana. 10 A localidade anteriormente era denominada por Entreposto de Nossa Senhora das Vitórias, antes da divisão de limites entre Paraná e Santa Catarina em 1916 (Guerra do Contestado). 11 Sobre as particularidades, freqüência, quantidade e emprego ver REITZ (1979, p. 135, 191, 243). 12 REITZ, em sua obra “madeiras do Brasil”. Ed. Lunardelli, 1979 (p. 11), refere que “desde os primórdios de sua ocupação pelo elemento europeu, viu-se o estado de Santa Catarina como um crescente centro de exploração e exportação de madeiras, graças à sua rica e vasta área, originariamente coberta por densas e vigorosas florestas, no seio das quais vicejavam árvores fornecedoras de preciosas madeiras, que desde logo, chamaram a atenção dos colonizadores. Além de afirmar que de 1950 a 1970 a devastação das florestas em Santa Catarina se tornou alarmante, e 1960 é notório a diminuição gradativa e a escassez da mata nativa no Planalto Catarinense”.
-
26
Timbó faz parte da RH 5, denominada Planalto de Canoinhas - e tem 11.058 Km².13 O
Planalto de Canoinhas também é composto pelas bacias do Rio Negro, Rio Canoinhas e Rio
Iguaçu, possuindo uma abrangência de cinco, seis e quatro municípios respectivamente.
A bacia do Rio Iguaçu apresenta área de drenagem total de aproximadamente 63 mil
km², e dessa 16,7% está localizada em território catarinense e os 83,3% restantes, no Estado
do Paraná.
Nessa região hidrográfica, os Rios Timbó e Jangada têm como função drenar a região,
sendo importantes tributários do Iguaçu, em uma área de drenagem na ordem de 980 km². O
Rio Timbó está diretamente ligado ao objeto de pesquisa, visto que a localidade elegida
encontra-se em partes à sua margem esquerda dentro dos limites do município.
A área de abrangência da Bacia Hidrográfica do Rio Timbó corresponde à totalidade
da área de drenagem do Rio Timbó, descrita pela SDS - Secretaria de Estado do
Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente e pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos
(CERH), incluindo todas as sub-bacias de seus formadores e afluentes, desde sua nascente no
Planalto dos Campos Gerais, a aproximadamente 1250m de altitude, até sua foz no Rio
Iguaçu, perfazendo-se uma extensão de 129 km e abrangendo uma área de 2.760 Km². 14
Os principais afluentes pela margem direita são: Rio Tamanduá, Rio Timbozinho e
Rio Madalena, e pela margem esquerda: Rio Caçador Grande, Rio Cachoeira, Rio Bonito e
Rio dos Pardos.
Nos registros do Posto Fluviométrico de Santa Cruz do Timbó, a cerca de 20 km de
sua foz, o Rio Timbó apresentou uma vazão média mensal de 92,2 m³/s, no período entre
1974 e 1998. Já no período de 1998 até 2001, a vazão média mensal foi de 89.25 m³/s. A
vazão mais baixa registrada foi de 16.45 m³/s para o mês de maio de 2000, e a maior foi de
487m³/s, para o mês de outubro de 1998. 15
Quanto ao relevo, a bacia apresenta um perfil fortemente ondulado em 55% de seu
percurso; 30% são representados por uma topografia ondulada e montanhosa e, os 15%
restantes, um relevo plano e suavemente ondulado. 16
Apesar da considerável rede hidrográfica existente, a região apresenta algumas
evidências de escassez de água em determinadas sub-bacias, quando confrontados aos dados
13 Termos de Referência n°00/03 - Plano de Gestão Integrada de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do
Rio Timbó. 14 Termos de Referência n°00/03 - Plano de Gestão Integrada de Recursos Hídricos da bacia hidrográfica do Rio
Timbó. 15 Ibidem 16 Ibidem
-
27
de vazões de estiagens com diferentes usos. É o caso da bacia do Rio Timbó, na confluência
com o Rio Iguaçu, onde a situação na época de estiagem é preocupante.
Considerando a qualidade da água, a situação se apresenta relativamente boa, quando
comparada às demais bacias hidrográficas do estado. Mesmo assim, devem-se observar os
seguintes focos de degradação dos recursos hídricos da região: esgotos domésticos, efluentes
industriais, poluição por resíduos de agrotóxicos, de maneira especial, por lavouras,
reflorestamentos e suinocultura. 17
2.2.2 Clima
O clima de Porto União é caracterizado como subtropical mesotérmico úmido, com
verões frescos, e invernos com freqüentes geadas, época em que os termômetros chegam a
três graus negativos (-3°C), com possibilidade de até quinze graus negativos (-15°C). A
temperatura média anual é de 17,2°C graus, com precipitação média anual de 1.478 mm, e
umidade relativa média anual de 80,42%. 18
Não existe estação seca, caracterizando-se o mês de outubro como o mais chuvoso e o
mês de abril como o mais seco. 19 No entanto evidencia-se que em alguns períodos
caracterizados pelas chuvas estão ocorrendo os chamados períodos de “estiagem”,
proporcionando alguns problemas para a agricultura e para a atividade pesqueira na região, o
que possibilita reflexos negativos no que permeia o turismo local, em determinadas épocas,
dependente em grande parte dos recursos hídricos da região.
2.2.3 Relevo
O relevo do município de Porto União apresenta como unidades mais importantes
planícies e planalto, tendo em grande parte um relevo acidentado, com montanhas, morros e
elevações, formando uma paisagem singular.20
Considerou-se para o exposto a Região RH 5 denominada como Planalto de
Canoinhas. O relevo apresenta-se, em 55% da região, terrenos ondulado e forte-ondulado,
15% do relevo plano e suave ondulado (próximo aos rios) e 29% fortemente ondulado e
17 Discussão levantada na reunião do Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Timbó, realizada em 28 de janeiro de 2004 no Auditório da Universidade do Contestado – Núcleo de Porto União. 18 Fontes: IBGE. Recursos naturais e meio ambiente: uma visão do Brasil,1993. Atlas Escolar de Santa Catarina,1991. 19 Fonte: Dnaee e Climerh, in Diagnóstico Geral de Bacias Hidrográficas de Santa Catarina, 1997.
-
28
montanhoso. 21 Conforme o Atlas Escolar de Santa Catarina (1991, p. 94) a “ Microrregião,
em sua grande maioria apresenta a unidade de relevo do Patamar de Mafra, com colinas
baixas, em superfície regular e quase plana. No oeste, aparece o Planalto Dissecado
Rio/Iguaçu/Rio Uruguai. Nos vales dos Rio Iguaçu e Negro, surgem as Planícies Fluviais.”
Essas características ressaltam as “belezas” da região, compostas por quedas-d’águas e
a presença do Rio Timbó (afluente do Rio Iguaçu), apresentando um potencial turístico
dotado de aspectos que tornam a localidade diferenciada e atraente para as atividades turismo
e lazer. Conforme afirma Pires (2001, p.128) em relação à qualidade visual da paisagem e a
sua diversidade, como é o caso, onde:
[...] se constitui num atributo de qualidade paisagística com forte impacto na percepção estética visual enriquecida pela presença simultânea, de uma variedade de componentes diferenciados entre si dada a sua natureza (relevo, água, vegetação, atividades humanas), e em razão de sua expressão estética (forma, cor, textura, linha, escala, espaço) e, ao mesmo tempo, integrados compondo um cenário visualmente variado e, por isso, atraente.
2.2.4 Cobertura vegetal
Na região do Planalto de Canoinhas - RH 5, apresenta-se parte da vegetação primária,
composta principalmente pela Floresta Ombrófila Mista. Este tipo de floresta é limitada às
áreas de Planalto e partes elevadas de serras, se caracterizado pela presença de algumas
espécies específicas, destacando-se o Pinheiro do Paraná (Araucária angustifólia), entre
outras. (MONTEIRO, 1967; REITZ, 1979). 22
Além dessa formação, a cobertura vegetal original também era constituída pela
Floresta Ombrófila Densa e por Savana (campos do planalto meridional).23 No caso da
Floresta Ombrófila Mista, parte dessa formação foi extraída pelo corte da madeira de lei ou
devastada para ceder lugar à agricultura ou às pastagens (REITZ, 1979).
20 Atlas Escolar de Santa Catarina, 1991-p. 19 21 Diagnóstico Geral de Bacias Hidrográficas de Santa Catarina, 1997 – p. 50. 22 Monteiro (1967) se refere a este tipo de cobertura vegetal afirmando que a mata de araucárias é a formação mais original da região, ocupando extensão considerável do planalto, associando-se aos campos, com os quais apresenta grande variedade de arranjos, predominando o pinheiro do Paraná, a imbúia e a erva-mate, que proporcionou intensa exploração comercial, principalmente em relação à exploração do pinho. Pág. 94 23 Esta caracterização da cobertura vegetal foi citada com base nas descrições de Raul M. Klein, constantes do mapa Fitogeográfico de Santa Catarina (1978), bem como as informações constantes no Atlas de Santa Catarina (1986) e no estudo de cobertura vegetal do estado de Santa Catarina, elaborado pela Fundação do Meio Ambiente FATMA, in Diagnóstico Geral de Bacias Hidrográficas de Santa Catarina,1997 – pág. 52.
-
29
Em função de esse tipo de floresta se encontrar em terreno bastante acidentado e de
difícil acesso, ainda são encontrados alguns remanescentes da floresta original.
Na divisa entre os municípios de Porto União e Irineópolis, encontram-se áreas de
Formações Pioneiras, isto é, vegetação constituída de espécies colonizadoras de ambientes
instáveis, que correspondem às herbáceas fluviais. Nessa região, as arbustivas e as herbáceas
desenvolvem-se sobre planícies aluviais e fluvio-lacustres, com ou sem agrupamentos de
algumas espécies de palmeiras. Geralmente essas vegetações recebem os nomes de ciperáceas
e gramíneas altas. 24
Precisamente na área objeto de pesquisa, pode-se constatar a presença de
remanescentes da floresta original em alguns trechos, associados a campos agricultáveis, bem
como, trechos esparsos de mata ciliar (Rio Timbó) na extensão que margeia o distrito de
Santa Cruz do Timbó e comunidade São Pedro do Timbó.
Observa-se a presença de reflorestamento de Pinus sp em algumas áreas, além do
cultivo de 400 hectares da espécie exótica denominada Álamo (Populus alba)25, que se
localiza muito próximo à mata ciliar (fig. 3). Segundo moradores da região, a pulverização de
produtos químicos para o controle fito-sanitário da plantação de Álamo está sendo efetuada
por pequenos bimotores e, em função disso, surge a preocupação da própria população de
uma possível contaminação do Rio Timbó.
24 Termos de Referência n°00/03 - Plano de Gestão Integrada de Recursos Hídricos da bacia hidrográfica do Rio Timbó. 25 Disponível em http://www.ceha-madeira.net/elucidario/a/ala4.html
-
30
Figura 03 - Cultivo de Álamo e mata ciliar (fundo) – distrito de Santa Cruz do Timbó Fonte: Arquivo da autora – março de 2004
2.2.5 Uso e ocupação do território
Porto União sofreu modificações, como quase todo o espaço habitado pelo homem,
principalmente, no que se refere à área rural. Esse ambiente modificado ainda apresenta
resquícios de uma flora composta por formação de Floresta Ombrófila Mista.
Hoje parte da área rural desenvolve atividades agrícolas ligadas às culturas de milho,
soja, mandioca, arroz, cevada, feijão, batata, cebola, alho, fumo, maçã, amendoim e melancia.
Em outras propriedades, desenvolve-se a pecuária (gado de corte, gado leiteiro), suinocultura
e avicultura. 26
Existem no interior do Município de pequenas indústrias produtoras de fumo,
moveleiras, de papel e celulose. Além disso, de forma isolada, há o extrativismo mineral, com
um porto de extração de areia, cujo acesso se dá pela estrada que liga a BR 280 ao distrito de
Santa Cruz do Timbó e à comunidade de São Pedro do Timbó.
A paisagem também reflete uma mudança recente, em função do surgimento do
turismo nas áreas ribeirinhas. Onde predominava somente a agricultura, agora se interpõem
26 Dados fornecidos pela Secretaria de Indústria e Comércio e Turismo de Porto União e apresentada no guia Porto União: Caminho das Águas, 2001.
-
31
pousadas-pesqueiros, que buscam oferecer momentos de lazer aos turistas que apreciam a
pesca esportiva e o contato com o campo. Dessa forma, a paisagem, a partir das ações
antrópicas condicionadas à construção de estruturas de apoio, está-se modificando
gradativamente.
O Município possui uma arquitetura rica e variada, apresentando residências que
datam do início do século XX, retratando as inspirações européias, que os imigrantes de
origem alemã, italiana, ucraniana, polonesa e árabe trouxeram, proporcionando uma
diversidade no que diz respeito à arquitetura. É importante salientar que muitas dessas
residências estão em precário estado de conservação, de forma que é vital, em um futuro
planejamento para o turismo, que seja contemplada a parte arquitetônica (patrimônio
material), pois é um elemento que pode apresentar um rico potencial para o turismo histórico-
cultural. Na área rural, podem-se observar ainda instalações simples, alguns casarões, e
também igrejas que trazem a beleza da arquitetura do início do século XX (fig.4).
Figura 04: Igreja na sede do distrito de Santa Cruz do Timbó- Porto União Fonte: Arquivo da autora – Setembro de 2004
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32
Figura 05: Acesso ao distrito de Santa Cruz do Timbó- Porto União, a partir da BR 280 Fonte: Arquivo da autora – Setembro de 2004
2.3 Infra-Estrutura Básica e Turística
2.3.1 Sistema viário
O Município de Porto União está localizado no extremo norte do Estado de Santa
Catarina, distante a 483 km da capital, Florianópolis, ligada pela rodovia BR 280 até Joinville
e, depois pela BR 101. Possui rodoviária intermunicipal e interestadual.
Da sede do Município de Porto União até o acesso para o distrito de Santa Cruz do Timbó e,
São Pedro do Timbó, percorre-se cerca de 30 quilômetros pela BR 280, no sentido Porto
União - Joinville (fig. 6). A partir do trevo de acesso a estrada não é pavimentada; a distância
desse ponto até Santa Cruz do Timbó (distrito) é de 12 quilômetros e, aproximadamente de 8
quilômetros por outra estrada não pavimentada até São Pedro do Timbó (fig. 7 e 8).
Atualmente as estradas apresentam boas condições de uso para veículos de passeio e são
cascalhadas. 27
27 A prefeitura municipal de Porto União está periodicamente mantendo a Infra-estrutura de acesso às localidades.
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33
Figura 06: BR 280: Trevo de acesso para o Distrito de Santa Cruz do Timbó - Porto União. Destaque para a sinalização. Fonte: Arquivo da autora – Setembro de 2004
Figura 07: Sinalização na entrada do Distrito de Santa Cruz do Timbó - Porto União Fonte: Arquivo da autora – Setembro de 2004
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34
Figura 08: Vista da Entrada do Distrito de Santa Cruz do Timbó (do lado direito – ginásio de esportes) Fonte: Arquivo da autora – Setembro de 2004.
O transporte rodoviário de Porto União a Santa Cruz e São Pedro do Timbó é
realizado pela empresa Autoviação São Pedro, que disponibiliza três horários durante a
semana (segunda a sábado) e um horário aos domingos – ida e volta.
2.3.2 Sistema de saneamento
O sistema de saneamento no Distrito de Santa Cruz do Timbó e São Pedro, no que diz
respeito ao abastecimento de água é atendido pela CASAN - Companhia Catarinense de
Águas e Saneamento, mediante um poço artesiano localizado na sede do distrito. No entanto,
parte das residências ainda se utilizam de fontes naturais que estão presentes em suas
propriedades, e inclusive nas pousadas.
Os resíduos provenientes de esgotos domésticos são armazenados em fossas sépticas e
filtros.28 Sendo este um fator ou indicador para a sustentabilidade da atividade, percebe-se já
uma falha, pois o fato de não haver esgoto tratado pode influenciar na poluição do rio. O
distrito ainda não tem uma estação de tratamento de resíduos e drenagem pluvial. O sistema
de coleta de lixo é realizado pela empresa ECOVALE – que recolhe duas vezes por mês o lixo
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35
reciclável (plásticos, metal, vidro, papel). Esse sistema de coleta de lixo acontece apenas no
Distrito de Santa Cruz do Timbó. Na comunidade de São Pedro do Timbó, todo o lixo
produzido pelas pousadas e demais propriedades é queimado e enterrado na própria
propriedade, levado até a Santa Cruz do Timbó ou é levado para a sede do Município de Porto
União, cujo destino é o aterro sanitário. O lixo orgânico geralmente é enterrado nas
propriedades com a finalidade de se obter o adubo orgânico. 29
2.3.3 Sistema energético
O sistema de energia elétrica é fornecido pela CELESC – Centrais Elétricas de Santa
Catarina SA, atende 517 propriedades rurais, 300 residenciais (na sede do distrito), 22
industriais e 51 pontos comerciais, e a energia é proveniente da subestação da COPEL –
Companhia Paranaense de Energia, em União da Vitória-PR, repassando para a subestação da
CELESC que trabalha com 23 kv.30
2.3.4 Sistema de telecomunicações
O sistema de telecomunicações é atendido pela Brasil Telecom para telefones
residenciais fixos e atendido pela cobertura das empresas TIM e VIVO para telefones móveis,
nas imediações do distrito de Santa Cruz do Timbó. No entanto, em São Pedro não há sinal
disponível.
O Distrito possui telefones públicos, sendo oito orelhões em Santa Cruz do Timbó e
uma linha central comunitária que atende São Pedro do Timbó, ligada a sete ramais
residenciais e comerciais.
Santa Cruz do Timbó possui 200 telefones residenciais/comerciais e um posto de
atendimento na sede do Distrito, junto à agência de Correios e Telégrafos. 31 As redes de
comunicações televisivas são captadas pelos sistemas de parabólicas e as estações de rádio
AM e FM da região são captadas pelos sinais de ondas médias e curtas.
28 Segundo informações do Engenheiro responsável do setor de Planejamento da Prefeitura de Porto União. 29 Estas informações foram obtidas junto à administração da ECOVALE e visitas in loco. 30 Dados fornecidos por Paulo Fernando Lusa, eletricista da CELESC, Porto União/SC. 31 Dados fornecidos pela atendente do posto da Telepar/Correios de Santa Cruz do Timbó, Srta. Michele Luciane Ridzmann.
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36
2.3.5 Serviços de apoio
Os serviços de apoio são de extrema importância na atividade turística. Dessa forma,
pode-se destacar, na localidade, a presença de serviços bancários (Banco do Estado de Santa
Catarina - BESC), serviços de comunicação (posto de correios e telefônico), serviço de apoio
ao transporte (posto de combustível), serviços de saúde (posto de saúde e farmácia), além de
três minimercados e lojas de artigos diversos (confecções, calçados e armarinhos).
Segundo informações da Administração Municipal de Porto União, pretende-se
construir um pequeno hospital e um Centro de Eventos para atender o segmento de turismo de
negócios.
2.3.6 Equipamentos e serviços turísticos
Os equipamentos turísticos são as instalações básicas utilizadas na atividade turística
e compreendem os setores de alojamento e/ou hospedagem, alimentos e bebidas, transportes
turísticos, animação turística e informações turísticas (RUSCHMANN, 2002, p.135). Na
localidade estudada podemos citar os seguintes equipamentos e serviços turísticos:
2.3.6.1 Alojamento/Hospedagem
Os equipamentos de alojamento/hospedagem, como afirma Ruschmann (2002,
p.135), [...] requerem instalações como hotéis, motéis, pousadas, acampamentos, albergues,
residências secundárias, quartos em casas de família e pensões [...]. A seguir são destacados
os seguintes equipamentos presentes na região eleita para a pesquisa:
Pousada Morro Alto
Localizada no distrito de Santa Cruz do Timbó, distante 9 km da BR-280,
disponibiliza serviços de hospedagem, alimentação (pensão completa), lazer (trapiches para
pesca e churrasqueiras) e espaço para festas. Possui quinze unidades habitacionais com
acomodações simples, e apenas oito delas oferecem banheiro privativo (fig. 9 e 10). A
pousada ainda oferece aos turistas a possibilidade de saborear os pescados, ou então efetuar a
limpeza e o congelamento deles, para que sejam levados, quando do retorno do turista. Esse
procedimento também é efetuado pelas demais pousadas.
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37
Figura 09: Vista da Pousada Morro Alto Fonte: Arquivo da autora – Setembro de 2004
Figura 10: Vista da Pousada Morro Alto do lado esquerdo da estrada Fonte: Arquivo da autora – Setembro de 2004
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38
Pousada Dona Maria
Localizada na sede do distrito de Santa Cruz do Timbó, a 13 km da BR-280, foi a
primeira pousada em Santa Cruz do Timbó a hospedar representantes comerciais. Hoje ela
atende turistas que desejam ficar na sede do Distrito, oferecendo pensão completa. Possui um
restaurante anexo à pousada, servindo comida caseira, no almoço e jantar (fig. 11 e 12).
Figuras 11 e 12: Pousada Dona Maria e vista do Rio Timbó, próximo à pousada. Fonte: Lúcio Colombo – 2004 Pousada Schreiner
Localizada no Distrito de São Pedro do Timbó, a 18 km da BR-280, está em
funcionamento desde abril de 2002. A estrutura da pousada era um Moinho de Cereais, possui
uma arquitetura rústica, que lembra sua antiga funcionalidade. Atualmente disponibiliza oito
unidades habitacionais e a intenção é a ampliação em função da demanda, principalmente na
temporada de verão. Disponibiliza o serviço de alimentação (pensão completa), salão de
festas, mesa de sinuca, trapiches, botes para pesca, churrasqueira, pasto com a presença de
ovinos, além do serviço de limpeza de peixes (fig.13).
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Figura 13: Vista da Pousada Schreiner Fonte: Arquivo da autora – Setembro de 2004
Pousada São Pedro
Localizada na sede do Distrito de São Pedro do Timbó, a 20 km da BR-280, essa
pousada foi a pioneira na atividade turística, conforme afirma Benassi (2003, p.30): “[...] Em
1989 existia uma pensão (casa de comércio) que abrigava os viajantes que passavam pela
região. Esses viajantes foram quem descobriram a grande quantidade de peixes que existia no
Rio Timbó. Logo a fama do lugar se espalhou e começaram as procuras por turistas[...].”
A idéia de construir algo direcionado ao turismo partiu de amigos dos proprietários
da pousada; inicialmente eram três unidades habitacionais, hoje se somam treze, com previsão
para ampliação, devido ao aumento da demanda, principalmente por famílias acompanhadas
de crianças. A pousada fornece pensão completa e serviço de limpeza de peixes. Para o lazer
são disponibilizados trapiche e botes para pesca, e planeja-se a construção de uma piscina,
como mais uma alternativa de lazer para as famílias, principalmente para o público infantil.
Além da área própria à pesca, a pousada possui um acordo com o proprietário de outra área,
distante três quilômetros do local, nas margens do Rio Timbó, para que os hóspedes possam
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40
utilizá-la como alternativa. O gerente da pousada ainda acompanha os grupos que desejam
conhecer as grutas e cachoeiras da região, mas ainda não possui um roteiro formatado (fig.
14).
Figura 14: Vista da Pousada São Pedro Fonte: Lúcio Colombo - 2004
Camping Rio Bonito
O Camping Rio Bonito no momento não está disponibilizando seu espaço para o lazer,
por razões desconhecidas. A área é ampla e contém um estacionamento considerável, espaço
para festas e área de camping, sendo localizado praticamente ao lado da Cachoeira do Rio
Bonito (200 metros).
Camping e Pesqueiro Bela Vista
Localizado a oito quilômetros do acesso pela BR 280, sentido Santa Cruz do Timbó,
possui restaurante com opções da culinária local, ampla área de camping, situado às margens
do Rio Timbó, proporcionando a atividade de pesca esportiva.
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41
2.3.7 Recursos turísticos
Os recursos turísticos abrangem elementos naturais, atividades humanas ou qualquer
outro produto gerado pelo homem, que possa motivar o deslocamento de pessoas, cuja
motivação seja curiosidade ou a possibilidade de efetuar alguma atividade física ou
intelectual. (DIAS, 2003, p.57). Ainda se pode ressaltar que esses recursos são classificados
em naturais (geomorfológicos e biogeográficos) e culturais. (DIAS, 2003).
Com este trabalho não se pretende inventariar os atrativos turísticos municipais, mas
apenas destacar aqueles recursos mais relevantes em função do objeto e do tema de estudo.
2.3.7.1 Recursos naturais
Os recursos naturais de ordem geomorfológica e hidrológica são formados pela ação
da natureza e, por outro lado, os de ordem biogeográfica compreendem as manifestações de
vida animal e vegetal. (DIAS, 2003). Segundo Barretto (1991, p.47), os recursos naturais são
recursos turísticos “[...] que já existiam na natureza antes da intervenção do homem”. Nesse
sentido eles são representados pelos elementos de natureza geomorfológica e hidrológica
(PIRES, 2003), e também pelas informações sucintas relacionadas às condições de acesso a
eles. O conjunto das informações desses atrativos turísticos foi obtido em visitas in loco,
pesquisa documental, e dados da Coordenação da Indústria, Comércio e Turismo de Porto
União.
2.3.7.1.1 Elementos de natureza geomorfológica
Cavernas ou Grutas de São Pedro
Nas proximidades da pousada São Pedro, pode-se contemplar três grutas. Segundo
moradores da região, foi refúgio de pessoas durante a Guerra do Contestado (1916). Lá os
turistas podem observar a formação e a entrada das grutas, mas não podem entrar, pois há
acomodação das rochas e constantes desabamentos. Ao lado da entrada das grutas, foi
construída uma capelinha, onde os turistas podem fazer orações durante a visitação.
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42
Grutas da Barra Grande
Entre as quatro grutas de Barra Grande, a maior delas possui uma extensão de
aproximadamente 74 metros de profundidade, segundo informações de moradores locais.
Nesses relatos os moradores informam sobre os artefatos líticos encontrados em seu interior,
como pedras polidas, pontas de lança e alguma peças de utensílios de povos indígenas32.
2.3.7.1.2 Elementos de natureza hidrológica
Rio Timbó
O Rio Timbó nasce nas proximidades do Município de Santa Cecília (Campos Gerais),
interior do Estado de Santa Catarina e é um dos principais afluentes do Rio Iguaçu. Possui
129 quilômetros de extensão e abrange uma área de 2.760 km². Os principais afluentes pela
margem direita são: Rio Tamanduá, Rio Timbozinho e Rio Madalena, e pela margem
esquerda: Rio Caçador Grande, Rio Cachoeira, Rio Bonito e Rio dos Pardos.
O distrito de Santa Cruz do Timbó e a comunidade de São Pedro compreendem cerca
de 30 quilômetros de extensão das margens esquerda do Rio Timbó, ou seja, o rio margeia
essas localidades, sendo uma referência para o distrito.
O Rio Timbó oferece tanto à população local, como aos visitantes, a possibilidade de
usufruir a pesca amadora, sendo o motivo principal da atividade turística na região, e a
espécie de peixe que se apresenta em maior abundância é o lambari (fig.15).
32Sobre populações indígenas mais recentes Seben (1992), relata que no século XVIII várias expedições fluviais buscavam os campos de Guarapuava, e todas essas expedições passaram por Porto União, que em relatos de viagem, eram descritos com a presença de índios botocudos e caigangues nesta região.
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43
Figura 15: Rio Timbó – visto da Ponte na BR 280 Fonte: Lúcio Colombo – 2004
Cachoeira São Pedro ou Barra do Rio Bonito
A cachoeira São Pedro ou Barra do Rio Bonito localiza-se na propriedade do Senhor
Irineu Reisdörfer. O acesso é pela BR-280 até São Pedro do Timbó; na estrada antiga para o
Despraiado, percorre-se cerca de dois quilômetros em estrada não pavimentada. Possui difícil
acesso, chega-se até a queda caminhando cerca de um quilômetro pela margem do rio, a
dificuldade de acesso é compensada pelo cenário natural (fig. 16).
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44
Figura 16: Cachoeira São Pedro Fonte: Lúcio Colombo – 2004
Cachoeira do Alonso
O acesso à Cachoeira do Alonso se dá pela BR 280 até São Pedro do Timbó, na
estrada antiga para localidade denominada Despraiado, percorrendo-se três quilômetros em
estrada não pavimentada. Essa cachoeira localiza-se na propriedade do Sr. Laurindo
Reisdörfer. A trilha de acesso à cachoeira tem cerca de 1,5 quilômetro e não apresenta
grandes obstáculos. Possui uma queda de cerca de 30 metros de altura.
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Cachoeira do Despraiado
Com cerca de 70 metros de altura, destaca-se pela paisagem singular, composta por
um paredão de pedras adentrando um vale. Pelo leito do Rio Timbó chega-se próximo à queda
d’água. O acesso a esse local é pela comunidade de São Pedro do Timbó, pela estrada nova
até a localidade do despraiado, em fazenda com o mesmo nome, percorrendo cerca de quinze
quilômetros em estrada não pavimentada. Observa-se que não existe caminho demarcado para
o acesso, podendo ocorrer por dentro da fazenda, ou por fora, pelas margens do rio.
Cachoeira do Rio Bonito
Possui uma queda de aproximadamente 30 metros de altura. O acesso é via São Pedro
do Timbó até a localidade de Rio Bonito, percorrendo cerca de 5,5 quilômetros. O acesso se
dá por meio de duas trilhas. O local possui em suas proximidades um Camping, cujo
funcionamento não está ocorrendo no momento, por motivo desconhecido (fig. 17).
Figura 17: Cachoeira do Rio Bonito Fonte: Lúcio Colombo – 2004
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Cachoeira do Rio dos Pardos
A cachoeira do Rio dos Pardos possui uma beleza singular, seu acesso se dá a partir da
sede do Distrito de Santa Cruz do Timbó, pela estrada para Barra Grande – Lajeado das Antas
e Rio dos Pardos. Fica a dezessete quilômetros de Santa Cruz do Timbó. Pode-se salientar que
o acesso a essa cachoeira é considerado difícil. Existe uma trilha de cerca de um quilômetro
até o afluente Rio Perau, dando acesso até a cachoeira com mesmo nome. Do lado oposto,
tem-se uma visão privilegiada do Salto do Rio dos Pardos, que se destaca pela exuberância da
vegetação do entorno e pelos seus 72 metros de altura. A cachoeira é também limítrofe dos
Municípios de Porto União e Matos Costa (fig. 18).
Figura 18: Cachoeira do Rio dos Pardos Fonte: Lúcio Colombo – 2004
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Existem diversas cachoeiras e corredeiras no interior do Município, totalizando cerca
de 130, segundo informações da Secretaria de Indústria, Comércio e Turismo de Porto União.
Citaremos apenas algumas Cachoeiras mais conhecidas: Cachoeira do Quati, Cachoeira do
km 13, Cachoeira do Rio Pintado, Cachoeira do Rio Bugio, Cachoeira São Martinho de
Baixo, Cachoeira São Martinho de Cima, Cachoeira do Legru, Cachoeira do Campestre, entre
outras, que deverão ser avaliadas num futuro inventário turístico.
2.3.7.2 Recursos culturais
Os recursos culturais dividem-se em imateriais e materiais, os de ordem imaterial, [...]
são elementos que sofrem ou sofreram intervenção da ação humana, ou foram estabelecidos
por motivos culturais ou comerciais [...] (DIAS, 2003, p.59). O autor ainda enfatiza que esses
recursos podem se dividir em recursos culturais históricos, ou seja, aqueles que foram
deixados por civilizações, e mesmo aqueles lugares históricos, que tiveram significado sócio-
político. Recursos culturais contemporâneos não comerciais, como, por exemplo, as
bibliotecas e museus e os recursos culturais contemporâneos comerciais, que são as
manifestações promovidas por organizações públicas e privadas que oferecem entretenimento,
como parques de diversões e espetáculos culturais. Para o levantamento dos recursos
culturais, os procedimentos de pesquisa seguiram os mesmos princípios de seleção dos
recursos naturais.
Festas
As festas religiosas são realizadas nas paróquias com o apoio da comunidade e
acontecem nos meses de maio e junho, em homenagem a Santa Cruz e ao Padroeiro São
Pedro, além de comemorações do aniversário do Distrito. Nessas festas são apresentados
grupos de danças folclóricas das etnias presentes na região a exemplo do grupo alemão da 3ª.
Idade (fig. 19 e 20).
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Figura 19: Festa no Pavilhão da Igreja de Santa Cruz do Timbó Fonte: Arquivo da autora – 05 de setembro de 2004.
Figura 20: Festa no Pavilhão da Igreja de Santa Cruz do Timbó - Grupo da 3ª. Idade – danças alemãs Fonte: Arquivo da autora – 05 de setembro de 2004.
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Gastronomia Devido à influência germânica, italiana, ucraniana, polonesa, e árabe, é muito comum
encontrarmos pratos típicos referentes a esses grupos humanos. Na região do objeto de
pesquisa, o “lambari frito” tornou-se um prato típico da localidade, geralmente servido com
arroz branco, saladas diversas, mandioca e outros acompanhamentos, sendo considerada a
famosa “comida caseira”.
Em relação aos recursos culturais materiais (edificações), a Prefeitura Municipal de
Porto União não possui inventário do Patrimônio Histórico Cultural. No entanto há diversos
casarões em estilos arquitetônicos europeus, provenientes das etnias que se fixaram na
localidade, além de pequenas igrejas de beleza peculiar, que guardam em seus interiores
gravuras e pinturas retratando as raízes culturais dessas etnias.
2.4 Aspectos Históricos
A história da cidade de Porto União coaduna com a de sua “irmã gêmea” “União da
Vitória”. As duas cidades constituem um só núcleo urbano dividido por questões político-
administrativas (Guerra do Contestado).
O marco histórico de “Porto União da Vitória” ocorreu no período colonial, em
meados do século XVIII, período em que nove expedições exploraram e ocuparam o interior
da então Capitania de São Paulo e, “descobriram”os Campos de Guarapuava.
Com a finalidade de chegar às missões espanholas do rio Uruguai, em 1769, o então
Capitão Antonio da Silveira Peixoto, por ordem do Governador Capitão General, Dom Luiz
Antonio de Souza Botelho Mourão, empreende bandeira exploradora na zona meridional da
Capitania. Partindo dos Campos de Corityba, seu destino era explorar a região Sul, hoje
Estado do Paraná, e na época era a 5a. Comarca de São Paulo. Saindo do porto de Caiacanga –
município de Porto Amazonas, percorre o Rio Iguaçu e funda a localidade de Porto da Vitória
(entreposto Nossa Senhora das Vitórias), onde a maior parte da expedição permaneceu
edificando as primeiras construções da localidade que, embora rústicas, serviram de base para
as futuras cidades.
Em 1770, a expedição do Tenente Cândido Xavier de Almeida e Souza, tendo
atravessado o rio Iguaçu, descobriu os Campos de Guarapuava. Todas as expedições que
passaram pela região, na época habitada por índios botocudos e caingangues, faziam as
paradas nessa localidade. Logo após, em 1772, o entreposto de Nossa Senhora das Vitórias,
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passa a ser comandado pelo sargento-mor Francisco José Monteiro, enviado pelo governo
paulista. Tornou-se dessa forma, referência obrigatória, paraquantos que quisessem navegar
no Rio Iguaçu, e o ponto de partida para a exploração, no meridiano da Capitania.
A necessidade de encontrar um caminho que diminuísse a distância entre os Campos
de Palmas e Palmeira, fez com que Pedro Siqueira Cortes, em 12 de abril de 1842, descobrisse
a passagem do Vau no Rio Iguaçu, por onde as tropas podiam embarcar e desembarcar,
utilizando também o transporte fluvial (SEBEN, 1992). 33
A denominação do entreposto de Nossa Senhora das Vitórias foi alterada para Porto
União da Vitória em 1855, e para Freguesia de União da Vitória em 1877. Em 1881 tem início
a navegação a vapor por toda a extensão no Rio Iguaçu, com o transporte de carga e de
passageiros. 34
A partir de 1886, chegam os primeiros colonos de origem européia (quinze famílias),
de origem alemã, trazidas de São Francisco do Sul/SC pelo Coronel Amazonas. Essas famílias
trabalhavam em atividades agropastoris e começaram a criar o núcleo de ocupação nessa
região e, em seguida, aportam colonos de outras etnias como poloneses, ucranianos,
austríacos e russos. No início do século XX chegam os libaneses (MONTEIRO 1953;
CARDOSO & WESTPHALEN, 1986; SEBEN, 1992; FAGUNDES, 2002).35
Pelo Decreto n° 54, de 27 de março de 1890, a freguesia foi elevada à categoria de vila
e pelo Decreto n°55, do mesmo dia, mês e ano, foi criado o Município de Porto União da
Vitória, com território desmembrado do município de Palmas. 36
33 Passagem do Vau é conhecido como o local onde os tropeiros faziam sua passagem e parada durante suas viagens, localizado às margens do Rio Iguaçu. Esse local era de fácil acesso, e o gado podia passar pelo leito do rio. Hoje há um monumento que serve de marco divisório entre os Estados de Santa Catarina e Paraná e as cidades de Porto União e União da Vitória. 34 O Rio Iguaçu tornou-se a forma mais fácil para o transporte da população ribeirinha e das cargas de erva-mate e madeira, além do sal vindo de Paranaguá, que se destinava aos campos de Palmas. Desde o primeiro momento da história de Porto União da Vitória, o rio exerce grande influência sobre a vida de seus moradores e no desenvolvimento da economia (SEBEN, 1992). 35 Monteiro (1953) faz referência à questão do povoamento do Brasil Meridional e às formas primitivas de ocupação. Com relação à ocupação da área centro-sul do Paraná, o povoamento colonial europeu difere sensivelmente dos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Logo após a guerra franco-prussiana (1870), diminui a corrente imigratória de alemães, a implantação colonial se fez presente pelos contingentes eslavos, principalmente por poloneses e ucranianos. No entanto, muitas colônias foram estabelecidas em áreas mistas de mata e Campo, No caso de União da Vitória essas colônias se estabeleceram em função da estrada-de-ferro. Cardoso & Westphalen (1986), confirmam que o período de 1860 a 1880 foi grandemente movimentado pelo estabelecimento de colônias em todo o território do Paraná, referendando que na década de 1870, o programa oficial de colonização foi dinamizado, na administração do Presidente Adolpho Lamenha Lins. Seben enfatiza que com a chegada dos eslavos nessa região, foram provocadas diversas transformações no aspecto cultural. Na agricultura foi introduzido plantio de novas espécies, como o trigo, o centeio, a cevada e o linho e também equipamento próprios para a moagem de grãos. 36 Ver em Ferreira (1996), uma analogia geral sobre a construção e origem do município de União da Vitória e de outros municípios do Estado do Paraná.
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Outro fato importante é a construção de uma linha ferroviária, que tinha por finalidade
principal, a interligação das Províncias do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato
Grosso e São Paulo, alcançando as fronteiras da Argentina e Paraguai. Esse foi um dos
acontecimentos mais importantes para a região Sul do Brasil e teve aspecto relevante para
economia de Porto União da Vitória, à medida que favoreceu o fluxo de produtos e
intensificou a exploração madeireira e ervateira (SEBEN, 1992).
A partir disso o Município começa a desenvolver-se, passando de uma localidade onde
as atividades eram ligadas à agropecuária, para atividades comerciais, com a chegada dos
trilhos da empresa Brazil Railway Company, holding do grupo Farquhar, que construiu o
trecho da linha ferroviária São Paulo/ Rio Grande, no trecho Porto União/Rio Uruguai.37
2.4.1 A Guerra do Contestado
Em 1912, inicia-se a Guerra do Contestado, que se prolonga até 1916, quando as
tropas de Forças do Regimento de Segurança do Paraná partiram de Porto União da Vitória
(local de concentração militar), para as proximidades do Município de Irani, com a finalidade
de acabar com grupos de revoltosos liderados por um monge (João Maria).
Essa guerra tinha por motivo questões políticas, sociais e culturais, além de questões
limítrofes territoriais mal resolvidas, que vinham desde o século XVII, entre Paraná e Santa
Catarina.
O Supremo Tribunal Federal oficializou o ganho da causa, em 1916, da região
contestada para Santa Catarina, ocasionando revolta entre os paranaenses desta região, que, na
ocasião, não aceitaram a jurisdição catarinense (FAGUNDES, 2002, WAIBEL, 1953). 38
Para Tonon (2002, p.11), esse movimento ocorrido no início do século XX, nas
regiões serranas de Santa Catarina e Sul do Paraná, foi denominado “Contestado” em “[...]
decorrência da dubiedade na disputa de limites entre os dois Estados, durante um longo
período. A vasta área disputada compreendia cinqüenta mil quilômetros quadrados; região
rica em erva-mate, araucárias e pastos nativos. Viviam em território disputado cerca de 20 mil
sertanejos [...]”.
37 Seben (1992) aponta que a inauguração alterou o panorama sociocultural do Município, provocando, nessa época, a criação de hotéis, centro comercial e a praça, em função da nova classe de trabalhadores ferroviários, que desempenharam um importante papel na sociedade local. 38 Waibel faz referência à região que foi outrora por muito tempo, palco de muitas brigas “contestações”, primeiro entre Argentina e Brasil e depois entre os Estados do Paraná e Santa Catarina.
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Foi criada a expectativa separatista, depois de diversas reuniões, e o deputado José
Cleto da Silva decidiu pela concepção de um Estado Federado Independente, cujo nome seria
“Missões”. A junta governativa seria composta por Coronel Amazonas Marcondes e
Francisco Cleve, e a Capital Estadual seria União da Vitória. Em função do estabelecimento
da linha denominada Wenceslau Braz, que determinou o Acordo de Limites entre os dois
estados, no ano de 1916, a maioria da junta Governativa Provisória do Estado das Missões
acabou aceitando os termos de acordo, apesar de algumas resistências.
Na ocasião da Guerra do Contestado, houve o primeiro acidente aéreo brasileiro,
vitimando o famoso Capitão Ricardo João Kirk, mais conhecido como Capitão Kirk, na
cidade vizinha de General Carneiro e foi velado em União da Vitória (SEBEN, 1992).
Uma passagem interessante é a exploração documentada pelo Capitão Kirk da região
banhada pelo rio Timbó (área do objeto de pesquisa), onde foram feitas aplicações militares,
durante um vôo de estréia:
Porto União, 19 de janeiro de 1915. Ao Sr. Coronel Eduardo Sócrates – Parte sobre o serviço de exploração. Levamos a vosso conhecimento que, segundo as instruções que nos destes, partimos hoje, às 11 horas e cinqüenta minutos, no aeroporto bi-place “General Setembrino”, em viagem de exploração sobre os rios Iguaçu e Timbó, durante vôo de ida e regresso, uma hora de tempo. Subindo o rio Timbó, rumo Norte, encontramos um grupo de casinhas, destacando-se três de pintura branca;; esse grupo, supomos, ser Vila Nova de Timbó; antes vimos também próximo a Vila Nova, alguns casebres ou ranchos inteiramente desertos, observamos que nada denuncia em Vila Nova, existirem habitantes. Subindo o Timbó. Ainda vimos uma casa branca e algumas casinhas amontoadas de coisas informes, como madeira empilhada; nesse lugar passa um pequeno rio que supomos ser o Timbózinho. Ainda aí, não vimos ninguém, Continuando Timbó acima, um outro pequeno rio afluente da margem esquerda supomos ser o Cachoeira; na confluência do rio Cachoeira com o Timbó, não vimos casas, fumaça, nada que denunciasse a presença de pessoas, e mes