Análise do comportamento eleitoral e identidade ideológica do povo brasileiro
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Aluno: Jean Michel Gallo Soldatelli
Prova final – FLP0425 – Teorias do Comportamento Eleitoral e Identidade Ideológica
Prof. André Singer – período noturno
Utilizando a bibliografia obrigatória do curso, exponha qual é, em sua visão, a lógica do eleitorado brasileiro. Procure exemplificar seu ponto de vista com os casos estudados.
Apesar da jovem democracia, a formação do pensamento do eleitorado
brasileiro vem se constituindo há tempos, antes mesmo de quando o mesmo
tinha poder de voto. Passando do populismo de Getúlio Vargas às Diretas, a
criação de um pensamento político estruturado na sociedade brasileira sempre
foi um desafio. Historicamente, eleitores se moldam de acordo com a situação
atual do país, deles próprios, ou de sua classe.
Iniciando as análises pelo populismo, que surgiu quando havia uma brecha de
comando após a queda da burguesia agrária, percebemos que Getúlio Vargas
se uniu a burguesia para um governo que através de uma série de direitos
coletivos cai nos braços do povo. Com essa idéia, percebemos que o proletário
faz um salto individual, e desta forma tem um pensamento individualista onde o
salto social tem uma menor importância.
O populismo não é de classe, é da massa. Afinal, a classe é organizada e
organiza o poder, prova disso são, por exemplo, as centrais sindicais que
posteriormente seriam um dos berços de um dos maiores partidos do país
atualmente. Já a massa é desorganizada, logo precisa de alguém para
organizá-la. Desta forma, podemos perceber que a sociedade via o governo
como uma necessidade, é o meio para que as melhorias possam acontecer.
Esta necessidade de um governo forte tem raízes ainda no coronelismo, onde
o coronel centralizava as necessidades e os benefícios em troca do controle
político. E hoje, revivemos um novo tipo de populismo, onde através do
enriquecimento do país uma série de medidas taxativas tornaram possíveis um
conjunto de benefícios as classes mais baixas da sociedade, voltando a lógica
do salto social.
Desta primeira análise podemos tirar uma hipótese interessante: uma grande
parte da população é massa, que vota de acordo com os benefícios adquiridos.
Portanto, a população tem como um padrão de voto baseado nas melhorias
econômicas: se a economia vai bem, a situação provavelmente fica no poder,
do contrário a oposição ganha. E como a grande maioria do eleitorado não
possuí um voto ideológico, se as coisas estiverem ruins a oposição irá ganhar,
independente de qual seja essa oposição.
Um dos pontos mais interessantes para analisarmos a lógica do eleitorado
brasileiro são as conexões que fazem na hora de compor o raciocínio e, com
isso, como se enquadram nos diferentes tipos grupos de votos. O problema é
que estas conexões demandam um alto nível de conhecimento não apenas
sobre política, mas econômicas, sociais, psicológicas, entre outras. E o povo
brasileiro, em sua grande parte, não possuí estes conhecimentos e muitas
vezes nem o interessa tê-los. Isso acontece por inúmeros motivos, que vão
desde fatores familiares (eu gosto de certo candidato pois minha família gosta)
até pela própria descrença no sistema de governo, o que torna o eleitor
acomodado e menos propenso a sequer estipular suas próprias opiniões.
Visto isso, podemos analisar o eleitorado brasileiro é usando como base a
separação nos grupos de votos: ideológico, quase-ideológicos, interesses de
grupo, nature of times e sem centralidade. A porcentagem dos grupos
considerados ideológico ou quase-ideológicos (aqueles que fazem todas ou
quase todas as conexões de idéias) não é suficiente para a eleição ou não de
alguém ou algum partido. Portanto, as decisões ficam nas mãos de três grupos:
aqueles que possuem interesses de grupo, e aí podemos incluir tanto raças,
religiões, níveis sociais, entre outros; aqueles que votam com um critério
comparativo, chamados de “nature of times”, ou seja, votam no Alckmin pois
acham que na época do FHC era melhor; e por último, e mais definitivo, os
“sem centralidade”, que decidem seus votos de acordo com critérios como
simpatia, e portanto são os mais atingidos pela propaganda política. Com isso,
podemos chegar em outra hipótese: o eleitorado brasileiro tem dificuldades ou
desinteresse em realizar conexões lógicas e não entende as ideologias como
um todo, e assim as decisões são moldadas de acordo com interesses
individuais ou propagandas políticas. Desta forma a coerência passa
despercebida, o que explica o alto número de promessas contraditórias feitas
apenas para angariar a maior fatia do eleitorado possível, como por exemplo o
aumento do bolsa família e a diminuição dos impostos.
Outro ponto que define a lógica do eleitorado brasileiro são os objetos de voto,
ou seja, os partidos. Nossos governantes são eleitos por votos majoritários, e
as eleições majoritárias tendem ao bipartidarismo. Porém, o caso brasileiro não
é tão maniqueísta como o americano pela presença de outros partidos que
forçam uma maior dispersão na linha do posicionamento político. Por exemplo,
a presença do PFL, partido visto como bem mais extremista do que o PSDB na
direita, acaba forçando este a tender mais para o centro. No outro lado isso não
é diferente, já que o PSOL por exemplo é bem mais extremista que o PT. A
diferença fica por conta do PMDB, que pelo menos nas décadas de 80/90
representavam os interesses do centro. A queda de popularidade do PMDB por
conta da falta de identificação sociológica com o povo acabou o empurrando
para a direita, apesar disso a herança do coronelismo preserva suas forças o
que o torna indispensável para o governo. Este deslocamento do PMDB abriu
espaço para dois movimentos: a abertura do espaço dominado pelo PT na
centro-esquerda e a tentativa de novos partidos (mas velhas figuras) de
abocanharem esta brecha de posicionamento, como acontece agora com o
PSD.
Assim temos um conjunto de partidos que se moldam ao perfil do consumidor e
que apesar de se posicionarem como de esquerda, centro, ou direita, abraçam
algumas mesmas causas em busca de popularidade. Isto reforça a menor
importância da ideologia frente o partido. Ou seja, a identificação partidária é
muito mais forte do que a identificação ideológica. Continuando o raciocínio, a
identificação com o candidato é por vezes maior que a identificação partidária,
pois se identificar com uma pessoa é muito mais fácil do que se identificar com
crenças e objetivos. Isso ajuda a explicar, por exemplo, a popularidade de Lula
mesmo no período onde seu partido sofreu com as acusações de corrupção,
ele usou a identificação pessoal e os benefícios propostos e se afastou da
característica partidária para ser eleito. Por outro lado, em cargos com menor
envolvimento pessoal, como deputados e vereadores, as decisões são
tomadas com grande influência partidária, o que indica a forte ligação partidária
frente a ideológica.
Portanto, na minha visão, podemos analisar o eleitorado brasileiro como um
eleitorado que ainda precisa amadurecer, ainda é bastante influenciado por
suas raízes históricas e possuí uma alta desinformação e descrença em
ideologias, o que o torna mais manipulável pelos partidos e candidatos.
Com tudo isso, podemos construir algumas hipóteses sobre a lógica do
eleitorado brasileiro.
A primeira é a de que as raízes da formação do pensamento do eleitor
brasileiro estão mais fortes na história do que nos fatos ou na ideologia dos
partidos.
Outra hipótese que podemos considerar é que o voto partidário é muito mais
forte do que o voto ideológico no Brasil.
Por último a fragilidade da conexões lógicas e da ideologia no eleitorado
brasileiro.
Por fim, a principal tese que consideraria é que o processo de decisão e a
conexão das idéias da maioria dos brasileiros é simples.
Voto retrospectivo, onde o eleitor está preocupado com os resultados e os
governantes são os meios, desta forma ele coloca a racionalidade no passado,
ou seja, ele não sabe como resolver mas sabe quem resolveu.
Voto prospectivo, ideológico, ou seja, pautado na equiparação de valores e na
busca de informações para que se faça uma conexão lógica que defina os
candidatos e partidos que mais se assemelham ao seu pensamento.