Análise de discurso francesa
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ANÁLISE DE DISCURSO FRANCESA: NA CONTEMPORANEIDADE
Leandro Palcha - Doutorando do PPGE/UFPR Setembro/2013
ENSINO
ESCOLA
CULTURA
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁPROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO - PPGE
SEMINÁRIO DE PESQUISA AVANÇADA EM CULTURA, ESCOLA E ENSINO
MICHEL PÊCHEUX(FR, 1938 – 1983)
MICHEL FOUCAULT(FR, 1926 – 1984)
ENI ORLANDI(BR, 1942 – 20...)
PRINCIPAIS ARTICULADORES:
O CENÁRIO POLÍTICO FRANCÊS
(1960 -1968)
• Crise do estruturalismo como ciência régia;
• Invasão da Análise de Conteúdo nas ciências humanas;
• Críticas à leitura hermenêutica e ao objetivismo
quantitativo;
• Crise do comunismo e multiplicação das “esquerdas”;
• Althusser deslanchava no cenário das ciências sociais.
A CONJUNTURA BRASILEIRA: 1960 - 1968
• Plena ditadura militar: esquerda x ditatura;
• Golpe de 64: censura, exílio e expatriação dos intelectuais;
• 1968: Eni Orlandi (USP) vai para França, contato com as
esquerdas francesas;
• 1969: “Análise Automática do Discurso” (Pêcheux);
• 1970: Eni discute a politica, por meio do autoritarismo do
discurso pedagógico e do religioso;
• Era preciso acenar que o sentido podia/pode ser outro.
“Ouvir e ler incessantemente ‘ame-o ou deixe-o’, ler os recados
do Esquadrão da Morte, ou do chamado Comando Caça
Comunistas; ver as ‘procissões’ do grupo ‘Deus, Pátria, Família’;
dos desfiles da ‘Tradição, Família e Propriedade”, ver expostos
cartazes com fotos de amigos próximos, professores ou alunos,
onde se lia ‘Procura-se’ e embaixo ‘terrorista’, demandava um
enorme esforço em não reagir só emocionalmente e, ao mesmo
tempo, encontrar um modo de dizer o que não podia ser
dito: o político” (ORLANDI, 2012, p. 18, grifos meus).
BRASIL: 1960 - 1968
APONTAMENTOS TEÓRICOS
• Contradição do AI5: proporcionar a democracia;
• Discursividade dos golpes e as da resistência;
• O silêncio faz enorme pressão sobre os dizeres.
• Formalismo e o funcionalismo da linguística
instalados no Brasil: há dicotomia língua –fala.• Língua e discurso: aspecto social e o histórico
são indissociáveis, para perspectiva discursiva;
• LINGUÍSTICA: “a língua não é transparente; ela tem sua ordem marcada por uma materialidade que lhe é própria”;
• MARXISMO: “a história tem sua materialidade, o homem faz a história, mas ela não lhe é transparente”;
• PSICANÁLISE: “o sujeito que se coloca como tendo sua opacidade: ele não é transparente nem para si mesmo”(ORLANDI, 2006a, p.13).
RUPTURAS/FILIAÇÕES TEÓRICAS :
O DISCURSO
• Crítica ao esquema elementar da comunicação: emissor » mensagem » receptor.
• PARA M. PÊCHEUX (1969), DISCURSO É EFEITO DE SENTIDOS ENTRE LOCUTORES!
• Em outras palavras, há efeitos que resultam da relação de sujeitos simbólicos que participam do discurso, afetados pelas suas memórias.
O DISCURSO: ELEIÇÃO EM UM CAMPO UNIVERSITÁRIO (ORLANDI, 2003)
VOTE COM CORAGEM!
VOTE SEM MEDO!
“A entrada no simbólico é irremediável e permanente: estamos comprometidos com os sentidos e o político. Não
temos como não interpretar. Isso, que é contribuição da analise de discurso francesa, nos coloca em estado de
reflexão e, sem cairmos na ilusão de sermos conscientes de tudo, permite-nos ao menos sermos capazes de uma relação
menos ingênua com a linguagem.” (ORLANDI, 2003, p.9, grifos meus).
O POLÍTICO
O político “está presente em todo discurso. Não há sujeito, nem sentido, que não seja dividido, não há forma de estar no discurso sem constituir-se em uma posição-sujeito e, portanto, inscrever-se em uma ou outra formação discursiva que, por sua vez, é a projeção da ideologia do dizer. As relações de poder são simbolizadas e isso é o político. A Análise de discurso trabalha sobre relações de poder simbolizadas em uma sociedade dividida” (ORLANDI, 2012, p. 55)
A IDEOLOGIA
• Interpela o indivíduo em sujeito de um discurso. Este, se submete a lingua significando e se significando pelo simbólico na história.
• Não há nem sentido nem sujeito senão houver assujeitamento à lingua.
• Produz a evidência do sentido que dão aos sujeitos a realidade como sistema de siginificações percebidas, experimentadas (ORLANDI, 2003).
NORMAL x NATURALIZADO
O SUJEITO
“O sujeito moderno é ao mesmo tempo livre e submisso, determinado pela exterioridade e determinador do que diz: essa é a condição de sua responsabilidade (sujeito a direitos e deveres) e de sua coerência (não contradição) o que lhe garantem, em conjunto, sua impressão de unidade e controle de sua vontade, não só dos outros mas até de si mesmo, bastando par isso ter poder ou consciência. Essa é sua ilusão” (ORLANDI, 2006a, p. 20, grifos meus).
O SUJEITO
“A raiz deste debate (...) é na realidade encontrada nas formas históricas de
assujeitamento do individuo, que se desenvolve com o próprio capitalismo,
tomando de empreitada gerir de uma maneira nova os corpos e as práticas.
É então necessário fazer história e interrogar as práticas contraditórias que
se desenvolveram no coração do desenvolvimento capitalista. Isso supõe,
como sabemos, que o sujeito não seja considerado como eu-consciência
mestre de sentido e seja reconhecido como assujeitado ao discurso: da
noção da subjetividade ou intersubjetividade passamos assim a de
assujeitamento”. (ORLANDI, 2012, p. 47)
MEMÓRIA DISCURSIVA E O INTERDISCURSO
“algo fala antes, em outro lugar e independentemente”
“Podemos pensar em dois eixos: o da constituição do dizer, que é representado como eixo vertical. E o eixo da formulação, que é representado como eixo horizontal. Esses eixos se cruzam, de maneira que todo dizer se dá no cruzamento do que chamamos constituição e formulação. Sendo que a constituição do dizer determina a sua formulação”
“Exemplos de formulações já feitas e esquecidas para palavra família”. (ORLANDI, 2006a, p. 21)
CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO (ORLANDI, 2003)
• CONTEXTO (Imediato + Histórico-Social)
• SUJEITOS (posições projetadas no discurso)
• RELAÇÕES (de Força + Sentido + de Antecipação)
• FORMAÇÕES IMAGINÁRIAS
FORMAÇÕES IMAGINÁRIAS NO DISCURSO PEDAGÓGICO (ORLANDI, 2006b)
Imagem do Professor (a)
Imagem do Aluno (b)
Imagem do referente (r)
Ia(a)Ia(b)Ia (r)
Ib(b) Ib(a) Ib(r)
Imagem do aluno (b)
Imagem do professor (a)
Imagem do referente (r)
FORMAÇÕES DISCURSIVAS
“A formação discursiva se define como aquilo que numa formação ideológica dada – ou seja, a partir de uma posição dada em uma conjuntura sócio-histórica dada – determina o que pode e deve ser dito” (ORLANDI, 2003, p.43)
“Palavras iguais podem significar diferentemente porque se inscrevem em formações discursivas diferentes. Por exemplo, a palavra ‘terra’ não significa o mesmo para um índio, para um agricultor sem terra e para um grande proprietário rural” (ORLANDI, 2003, p.44, grifos meus).
GESTOS DE INTERPRETAÇÃO (ORLANDI, 2003)
• PARÁFRASE x POLISSEMIA
• ESQUECIMENTOS 1 e 2 X INTERDISCURSO
• TEXTUALIDADE E DISCURSIVIDADE
• TIPOLOGIAS DE DISCURSO
(discurso autoritário, polêmico e lúdico)
COMO EXPLICAR?????????
MODOS DE LEITURA/INTERPRETAÇÃO (ORLANDI, 2012b)
• RELAÇÃO DO TEXTO COM O AUTOR: o que o autor quis dizer?
• RELAÇÃO DO TEXTO COM OUTROS TEXTOS: em que este texto difere de tal texto?
• RELAÇÃO DO TEXTO COM SEU REFERENTE: o que o texto diz de X?
• RELAÇÃO DO TEXTO COM O LEITOR: o que você entendeu?
• RELAÇÃO DO TEXTO COM O PARA QUEM SE LÊ: o que é mais significativo neste texto para o professor Z? O que significa X para o professor Z?
DISPOSITIVOS DE INTERPRETAÇÃO (ORLANDI, 2003)
I - MATERIALIDADE DO TEXTOAnálise da textualidade: relação do texto consigo mesmo e com a exterioridade.
II - DISPOSITIVO TEÓRICO Arcabouço para analise das noções e conceitos que constutuem a AD: discurso, ideologia, sujeito, interdiscurso, imagens etc.
III - DISPOSITIVO ANALÍTICO:
Dispositivo que cada analista constroi para uma análise específica, determinado pelo dispositivo teórico. Depende das questões do analista; natureza do material analisado, região teórica que inscreve o analista (linguistica, história, educação).
Sem a teoria, todo sujeito interpreta a partir de um dispositivo ideológico.
ANÁLISE: DISPOSITIVO E PROCEDIMENTOS (ORLANDI, 2003, p.77)
1ª ETAPA: Passagem da SUPERFICIE LINGUÍSTICA para o TEXTO
(para o) (discurso)
2ª ETAPA: Passagem do OBJETO DISCURSIVO FORMAÇÃO DISCURSIVA
(para o)
3ª ETAPA: PROCESSO DISCURSIVO FORMAÇÃO IDEOLÓGICA
ANÁLISE: RECONHECIMENTOS DAFORMA-SUJEITO(ORLANDI, 2012b, p. 115)
INTELIGÍVEL: a que se atribui sentido atomizadamente (codificação)
INTERPRETÁVEL: a que se atribui sentido levando em conta o contexto linguístico (coesão)
COMPREENSÍVEL: atribui sentido considerando o processo de significação no contexto da situação, colocando a relação enunciado/enunciação.
In Palcha, L. Leitura e Ensino: a relação entre interpretação e compreensão do saber na formação acadêmica de professores
de ciências. ENPEC- 2013
“Para chegar a compreensão “não basta interpretar, é preciso ir ao contexto da situação (imediato e histórico). Ao fazê-lo, pode-se apreciar o lugar em que o leitor se constitui como tal e cumpre sua função social. Pode-se melhor apreciar a relação entre pontos de entrada e pontos de fuga” (ORLANDI, 2012b, p. 157). Mais ainda, na compreensão o sujeito intervém nas condições de leitura ao contextualizar o âmbito do texto para a sua realidade cotidiana, faz ter sentido o que o texto diz, mobiliza e se apropria do que o texto quer significar. Em suma, tem-se que “o sujeito que produz uma leitura a partir de sua posição, interpreta. O sujeito-leitor que relaciona criticamente com sua posição, que a problematiza, explicitando as condições de produção de sua leitura, compreende. Sem teoria não há compreensão” (ORLANDI, 2012b, p. 157).
EFEITO METAFÓRICO
A metafora (transferência) é constitutiva do processo de produção de sentido e da constituição do sujeito (ORLANDI, 2003).
a - b – c - d
e - b – c - d
e - f – c - d
e - f – g - d
METÁFORAS: ALGUNS EXEMPLOS DE FALHAS (ORLANDI,
2012, p. 78-79)
“ vou discurtir com meus alunos se a qualificação deve ser feita...”
“ vou discutir com meus alunos se a qualificação deve ser feita...”
“e já vou penando em algumas leituras”
“e já vou pensando em algumas leituras”
“O silêncio em cena” – “O silêncio em cana”
“cego amanhã no congresso” – “chego amanhã no congresso”
ANÁLISES NA ERA DILMA(ORLANDI, 2012, p. 129 – 142)
“País rico é país sem pobreza”
“País rico é país sem pobres”
“País rico é país rico”
“País educado é país sem pobreza”
“País educado é país rico”
“País educado é país sem analfabetos”
A CONJUNTURA ATUAL DA AD
(ORLANDI, 2012)
• Antes 60/70: contexto da Guerra Fria, relação entre
esquerda e direita etc.
• No século XXI: Questões sobre o discurso mundialização
(neoliberal e dominante) e seus efeitos nas políticas dos
Estados Nacionais; Questões sobre a noção de consenso
que é base da mistificação democrática.
DISCURSO DA MUNDIALIZAÇÃO
(ORLANDI, 2012)
• Dimensão financeira: com uma economia virtual
desconectada dos sistema produtivo internacionalmente.
• Presente em outros discursos, como o político,
pedagógico, o jurídico, o da violência, o do
ambientalismo, o científico etc.
• A contradição estruturante entre o Um (o mundo) e as
diferenças;
REFLEXOS NO BRASIL
Tangem outros discursos como “o discurso do respeito às
diferenças, o assistencialismo, a crença nas tecnologias, a
mistificação do conhecimento, o consumismo, a corrupção e a
impunidade. É também desse modo que funciona o
conhecimento pelas redes, pela informação imediata, pelo
consumismo, pela quantidade, pela desconexão com o sistema
produtivo” (ORLANDI, 2012, p. 25)
MUNDIALIZAÇÃO E A NOÇÃO DE CONSENSO
“Contradição entre o real da divisão e o imaginário da difusão e da rapidez
da informação, origem ao que tenho chamado ‘o intelectual da internet’, o
conceito vira senso-comum, o pesquisador vira usuário. Descompromete-
se com a história, apaga a ideologia, enquanto esta se articula a própria
língua. Pensa-se a ideologia como um adendo, ou como ocultação.
Desconecta-se do sistema produtivo intelectual. Reorganiza o trabalho da
interpretação (...) Este é um efeito da ideologia capitalista na conjuntura
da mundialização com suas possibilidades oferecidas ao consumidor. O
conhecimento, tornando informação, torna-se parte do consumo”
(ORLANDI, 2012, p. 25, grifos da autora).
MUNDIALIZAÇÃO E A (RE)PRODUÇÃO
DO CONHECIMENTO
“A mundialização produz as condições para hegemonia do Texto e sua
circulação. Isso oferece condições ideais para as indistinções das teorias.
Apagando-se as filiações teóricas, aí se fala em ‘heranças’ (...) e se usam os
conceitos como se fossem palavras do senso comum, despidas de
historicidade. Se não se distinguirem teorias, também não há necessidade
de se distinguirem (citarem) autores. São textos desarticulados de suas
múltiplas perspectivas teóricas (desliga-se do sistema produtivo). Repete-
se. Instala-se um modo de produção da ciência generalizando, elidindo a
história e a ideologia. Silenciando o político” (ORLANDI, 2012, p. 25).
CONFISCO TEÓRICO E O REVISIONISMO NA AD:
• Polissemia da palavra discurso (indistinção e diluição da teoria);
• Processo discurso fragmentado, sem corpo teórico consistente;
• Narrativa das filiações. Processo de “fabulação”, reescrever a
história para apagar os autores/conceitos que ali já estavam;
• Funcionamento dentro de uma mesma formação discursiva:
diz-se qualquer coisa para que possa passar por novo. Formas de
pilhagem. (ORLANDI, 2012 p. 27- 33)
“E é exatamente isso que alguns tentam fazer com a análise de discurso...
falar do politico, apagando-se o politico. Fim do Politico, fim da
democracia, fim da história, democracia consensual e vontade de
também produzir o fim da analise de discurso pela sua multiplicação
descaracterizante. Mas esta resiste porque não fala apenas do politico,
ela o trabalha na discursividade. Não substitui ideologia por cultura, nem
usa o materialismo só como adjetivo. Toma a materialidade simbólica e a
materialidade da historia, o seu real, como constitutivo da possibilidade
mesma da analise.” (ORLANDI, 2012 p. 27- 33)
CONFISCO TEÓRICO E O REVISIONISMO NA AD:
REFERÊNCIAS ORLANDI, Eni. Discurso em Análise: sujeito, sentido e ideologia. Caminas: Pontes, 2012.
_________________. Discurso e leitura. 9ª ed. São Paulo: Cortez, 2012b.
_________________.Introdução às ciências da linguagem - Discurso e Textualidade. Campinas: Pontes, 2006.a
_________________.A Linguagem e seu Funcionamento: As Formas do Discurso, 4ªed. Campinas: Pontes, 2006b.
_________________. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. 5 ed. Campinas: Pontes, 2003.
_________________. Discurso e Texto: formação e circulação dos sentidos. Campinas: Pontes, 2001.
_________________. Língua e instrumentos linguísticos. Campinas: Pontes: 1998.
_________________. Interpretação: Autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico. Petrópolis: Vozes, 1996.
PÊCHEUX, M. Análise de Discurso. 3ed. Campinas: Pontes 2012a
_______________. O discurso: estrutura ou acontecimento. 6ed. Campinas: Pontes, 2012b
_______________. Semântica e Discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. 4ª ed. Campinas: Editora da UNICAMP, 2009.
_______________. Analyse automatique du discours. Paris: Dunod, 1969.