ANÁLISE DA ESTRUTURA E TRANSPORTE DO ZOOPLÂNCTON ...
Transcript of ANÁLISE DA ESTRUTURA E TRANSPORTE DO ZOOPLÂNCTON ...
-
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCINCIAS
DEPARTAMENTO DE OCEANOGRAFIA E LIMNOLOGIA PROGRAMA DE PS GRADUAO EM BIOECOLOGIA
AQUTICA
ANLISE DA ESTRUTURA E TRANSPORTE DO
ZOOPLNCTON NO ESTURIO DO RIO
CARAVELAS (BAHIA-BRASIL) ATRAVS DO
USO DO ZOOSCAN
CAMILA RODRIGUES CABRAL
NATAL, RN
2009
-
CAMILA RODRIGUES CABRAL
______________________________________________________
ANLISE DA ESTRUTURA E TRANSPORTE DO
ZOOPLNCTON NO ESTURIO NO RIO
CARAVELAS (BAHIA-BRASIL) ATRAVS DO
USO DO ZOOSCAN
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-
Graduao em Bioecologia Aqutica da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
como um dos requisitos para obteno do ttulo de
mestre.
Orientadora: Profa. Dra. Eneida Eskinazi SantAnna
Co-Orientador: Prof. Dr. Rubens Mendes Lopes
NATAL, RN
2009
-
ANLISE DA ESTRUTURA E TRANSPORTE DO
ZOOPLNCTON NO ESTURIO DO RIO CARAVELAS (BAHIA-
BRASIL) ATRAVS DO USO DO ZOOSCAN
Camila Rodrigues Cabral
Folha de Aprovao Comisso Julgadora
Profa. Dra. Eneida Eskinazi SantAnna (Orientadora Presidente)
(Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN)
Prof. Dr. Ralf Schwamborn (Titular Externo)
(Universidade Federal de Pernambuco UFPE)
Prof. Dr. Jos Luiz de Attayde (Titular Interno)
(Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN)
-
Agradecimentos
Em 2007 foi dado incio a mais uma etapa em minha jornada acadmica: o mestrado.
Desde ento, os anos seguintes foram repletos de boas novas experincias, amigos
que vieram, velhas amizades que se fortaleceram, e uma pesquisa por demais
prazerosa que me abriu os olhos para o fascinante ecossistema dos esturios.
Atravs dos prximos pargrafos, tento agradecer de forma singela todos aqueles que
de alguma forma cooperaram no s na execuo deste trabalho, como tambm
contriburam nos bastidores em meu bem estar.
Inicialmente, agradeo ao bom Deus Pai e nosso irmo Jesus Cristo, por estar
sempre ao meu lado guiando meus passos, me iluminando nas dificuldades e vibrando
comigo a cada vitria alcanada. Me ensinando sempre que existir mais que ser,
prisioneiro do saber, fazer e sentir, amar e servir. Muitssimo obrigada.
mainha e painho, Edilza e Jos Cabral, pelo amor, carinho e compreenso. Por
sempre terem apoiado e respeitado minhas escolhas, por mostrarem-me que uma
famlia como a nossa o maior presente que Deus poderia ter me dado. E no h
nada pra comparar, pra poder explicar, como grande o meu amor por vocs!. Serei
eternamente grata, vocs sero sempre os meus melhores amigos.
minha grande famlia. Em especial s minhas avs Ivone e Roselita, que mostraram
a bravura e a doura que as grandes guerreiras possuem. minha segunda me, Tia
Stela, pela amizade e companheirismo, por desde cedo me ensinar o quo linda e
fascinante a profisso de professor. Frente vida destas incrveis mulheres, s levo
a certeza de que muito pouco eu sei, eu nada sei. meu tio Cabral Neto, por ser um
exemplo acadmico to prximo a mim, espero um dia poder alcanar parte do
sucesso de sua brilhante carreira. Muito obrigada a todos.
s minhas amigas Cynthia, Renata, Lorena, Marina e Mnica, e minha prima-irm
Giselle, pelos anos de sincera amizade. Com certeza amigas para sempre o que ns
iremos ser. Em especial Cynthia, minha amiga, confidente e exemplo exmio de
carter. muito bom t-las comigo, muito obrigada.
Ao meu companheiro Rodrigo, por esses anos ter me acompanhado, apoiado minhas
escolhas e ter estado ao meu lado mesmo quando estive longe. Voc mais do que
sei, mais que pensei, mais que esperava baby. Obrigada por todo o amor e afeto.
s especial, muito obrigada.
Ao Programa de Ps-Graduao em Bioecologia Aqutica (UFRN) pela oportunidade
e incentivo. Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior
CAPES pela concesso da bolsa. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
Cientfico e Tecnolgico CNPq pelo financiamento da pesquisa. Obrigada.
minha querida professora Eneida, pela orientao acadmica, pelos conselhos de
amiga, por ter confiado em mim. Por ter se mostrado uma professora BBB (boa aula,
boa pesquisadora, boa gente! Completssima!). Um exemplo de profissional e pessoa.
Muito obrigada.
-
Ao meu co-orientador Rubens, um verdadeiro anjo que cruzou o meu caminho. Por ter
aceito essa retirante nordestina que queria vencer na cidade grande. Pelo convite para
trabalhar no belssimo Projeto Pr-Abrolhos. Por ter me aberto s maiores e melhores
portas na academia. Muito obrigada professor, serei sempre muito grata.
Ao professores Andr Megali e Guilherme Fulgncio, por terem me recebido em seus
laboratrios na volta Natal. Obrigada.
Aos amigos de pesquisa e coleta no Pr-Abrolhos. Martinha que me iniciou na vida
de coletas de plncton, por ter sido uma grande companheira e amiga, dentro e fora
dos barcos. toda equipe da Oceanografia Fsica, ao prof. Miranda por pacientemente
ter elucidado os processos da fsica estuarina, ao prof. Guto, timo companheiro de
coleta e conversas, e juntamente ao prof. Eduardo, pela concesso dos dados fsicos.
Obrigada.
Aos colegas de mestrado da turma We are the Champions!. Muito obrigada pela
companhia. Loli, companheira de estudos e amiga pra todas as horas. Paula e
Luciana pelas resenhas e ajuda nas minhas tpicas correrias de prvia. Ao boy
Eudriano, pelas risadas e fundamental ajuda com a estatstica. Dani e ao grande
Garcia por incentivar e compartilhar os mesmos ideais acadmicos. My friends
seremos sempre campees, em tudo! Podem acreditar! Cada um de ns compe a
sua histria, cada ser em si carrega o dom de ser capaz, de ser feliz!. Obrigada.
Aos amigos do LAPS/IOUSP. Como passei um ano sozinha no laboratrio em Natal,
poder conviver com tanta gente foi fascinante. Obrigada por terem me recebido com
tanto carinho. Em especial Lilian, minha grande amiga, pela simplicidade, doura e
prestatividade. Ao meu companheiro de aventuras pernambucano Toddym, vulgo
Mauro, pela personalidade incrvel, pela ajuda acadmica e acima de tudo pela
amizade. L Sartori pela participao na banca de qualificao, amizade e
comidinhas deliciosas. Nairuta, Thssya, Danddi, Dri, L (s), Tati, Gabi, Da, Jana,
Isa, Si, Lourdes, Cssia, Denise, amigas e companheiras puro glamour! todos os
meninos do lab e rep69, pelas risadas e ajuda na taxonomia do zooplncton. Mari
companheira de conversas e apartamento. Ao Walter por estar sempre disposto a
resolver os pitis dos computadores. Muito obrigada da Camis, camis to my life.
Aos animais. Naninha (In Memoriam), minha grande e fiel companheira por 12 anos.
Serena (DOL), Lillo (SP), Maillow (USP). Sempre dispostos a dar e receber um
carinho. Obrigada.
Muito obrigada de corao todos. Que os caminhos da vida me levem para um
Doutorado to feliz e gratificante quanto foi o Mestrado.
Minha vida andar por esse pas
Pra ver se um dia descanso feliz
Guardando as recordaes
Das terras onde passei,Andando pelos sertes
E dos amigos que l deixei
Chuva e sol, Poeira e carvo
Longe de casa
Sigo o roteiro, mais uma estao
E alegria no corao
-
O que darei eu ao Senhor por todos os benefcios que me tem feito?
Salmo 116:12
-
Se, na verdade, no estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transform-lo; se no possvel mud-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade
que tenha para no apenas falar de minha utopia, mas participar de prticas com ela coerentes.
Paulo Freire
Dedico meus pais, por terem me
ensinado que as dificuldades fazem parte
dos caminhos, e que sem objetivos bem
definidos somente por acaso chegamos a
algum lugar.
E difcil quer dizer sem jeito? Sem jeito! Sem jeito por qu? Vocs so uns pamonhas, qualquer coisinha esto arriando. No v que tiveram tudo na terra? Se tivessem tido que agentar o rojo de Joo Grilo, passando fome e comendo macambira na seca, garanto que tinham mais coragem.
Quer ver eu dar um jeito nisso, Padre Joo?
Fala de Joo Grilo ao Padre, em O Auto da Compadecida
Ariano Suassuna
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
1
SUMRIO
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ........................................................................ 3
LISTA DE FIGURAS ..................................................................................................... 4
LISTA DE TABELAS ..................................................................................................... 7
RESUMO .................................................................................................................... 10
ABSTRACT ................................................................................................................ 11
1. INTRODUO .................................................................................................... 12
1.1. Esturios Definio e Importncia ..................................................................... 12
1.2. Zooplncton Estuarino ......................................................................................... 13
2. REA DE ESTUDO ............................................................................................. 18
3. OBJETIVOS ........................................................................................................ 21
4. MATERIAL E MTODOS .................................................................................... 23
4.1. Dados Abiticos ................................................................................................... 23
4.2. Estratgia Amostral e Coleta do Zooplncton ...................................................... 24
4.3. Processamento dos Dados Biolgicos Zooplncton .......................................... 26
4.3.1. O Equipamento ZooScan ............................................................................. 27
4.3.1.1. Aquisio de Imagens ............................................................................. 28
4.3.1.2. Construo da Base de Treinamento ...................................................... 30
4.3.1.3. Anlise Semi-Automtica das Amostras .................................................. 36
4.3.2. Anlise Numrica e Estatstica ...................................................................... 38
4.3.2.1. Frequncia de Ocorrncia (Fo) ............................................................... 38
4.3.2.2. Abundncia Relativa dos Organismos (Ar) .............................................. 38
4.3.2.3. Densidade dos Organismos (Do) ............................................................ 39
4.3.2.4. Transporte Instantneo dos Organismos (Ti) .......................................... 39
4.3.2.5. Anlise Estatstica ................................................................................... 39
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
2
5. RESULTADOS .................................................................................................... 41
5.1. Parmetros Abiticos ........................................................................................... 41
5.2.1. Perodo Seco ............................................................................................ 41
5.2.2. Perodo Chuvoso ...................................................................................... 42
5.2. Escolha da Base de Treinamento ....................................................................... 47
5.3. Descrio e Estrutura da Comunidade Zooplanctnica ........................................ 53
5.3.1. Perodo Seco ............................................................................................ 54
5.3.2. Perodo Chuvoso ...................................................................................... 56
5.4. Densidade do Zooplncton .................................................................................. 64
5.4.1. Perodo Seco ............................................................................................ 66
5.4.2. Perodo Chuvoso ...................................................................................... 68
5.5. Migrao Vertical ................................................................................................. 72
5.5.1. Perodo Seco ............................................................................................ 72
5.5.2. Perodo Chuvoso ...................................................................................... 75
5.6. Transporte Instantneo do Zooplncton .............................................................. 80
5.6.1. Perodo Seco ................................................................................................. 82
5.3.2. Perodo Chuvoso ........................................................................................... 86
6. DISCUSSO ....................................................................................................... 93
6.1. Avaliao do Uso do ZooScan em Ambientes Estuarinos .................................... 93
6.2. Estrutura da Comunidade Zooplanctnica ........................................................... 98
6.3. Dinmica do Transporte e Migrao do Zooplncton ......................................... 105
6.3.1. Transporte do Zooplncton ..................................................................... 105
6.3.2. Migrao Vertical dos Organismos .......................................................... 108
6.3.3. Importao e Exportao do Zooplncton A Relao entre o Esturio do
Rio Caravelas e o Arquiplago dos Abrolhos ........................................................ 112
7. CONCLUSES ................................................................................................. 115
8. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................. 117
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
3
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
m - Micrmetro
Ar - Abundncia relativa dos organismos (%)
C - Graus Celsius
CTD - Conductivity, Temperature and Depth
Do - Densidade dos organismos (org.m-3)
Fo - Freqncia de ocorrncia dos organismos (%)
km - Quilmetro
m.s-1 - Metro por segundo
mm - Milmetro
org.m-2.s-1 - Organismos por metro quadrado por segundo
org.s-1 - Organismos por segundo
psu - Practical salinity unit
Ti - Transporte instantneo dos organismos (org.m-2.s-1)
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
4
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Mapa de localizao dos recifes de corais de Abrolhos em relao ao
municpio e esturio de Caravelas (Fonte: Leo, 1999) .................................................... 18
Figura 2. Vista area do ponto de amostragem A1 no esturio do rio Caravelas
(Bahia, Brasil) (Fonte: Google Earth) .................................................................................... 24
Figura 3. Armao de ferro utilizada para apoiar as trs redes de plncton ................. 25
Figura 4. Equipamento ZooScan, ao lado computador com o software ZooProcess.
Este equipamento funciona como um escner de imagens, e foi desenvolvido todo um
aparato logstico que permite a introduo de gua sobre sua estrutura (Benfield et al.,
2007). ......................................................................................................................................... 28
Figura 5. Separao manual do zooplncton sobre a clula do escner....................... 29
Figura 6. Exemplo de imagens selecionadas na formao da base de treinamento
para a espcie Euterpina acutifrons. ..................................................................................... 31
Figura 7. Exemplo de imagens selecionadas na formao da base de treinamento
para o grupo Brachyura. .......................................................................................................... 32
Figura 8. Montagem da Base de treinamento a partir do programa Plankton Identifier,
aps a seleo das imagens (Fonte: Oliveira, 2009). ........................................................ 33
Figura 9. Processo de validao cruzada (repetido cinco vezes) e a mdia de erro das
cinco validaes. ...................................................................................................................... 34
Figura 10. Resultado da anlise para cada grupo existente na base de treinamento. A
coluna Recall representa o nvel de reconhecimento e a coluna 1-precision a
contaminao sofrida em cada pasta. .................................................................................. 35
Figura 11. Matriz de Confuso utilizada como ferramenta no diagnstico da eficincia
de classificao da base de treinamento. ............................................................................ 36
Figura 12. Processo de escolha da base de treinamento desejada (select learnig file) e
da amostra a ser analisada (select sample file). ................................................................. 37
Figura 13. Variao da salinidade (A e B) e velocidade das correntes (C e D) em
diferentes profundidades, durante as mars de quadratura (22/08/2007) e sizgia
(28/08/2007) do perodo seco, no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil) (Depth, Z =
profundidade; Salinity = salinidade; u-Component = velocidade das correntes). .......... 45
Figura 14. Variao da salinidade (A e B) e velocidade das correntes (C e D) em
diferentes profundidades, durante as mars de quadratura (17/01/2008) e sizgia
(23/01/2008) do perodo chuvoso, no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil) (Depth,
Z = profundidade; Salinity = salinidade; u-Component = velocidade das correntes). ... 46
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
5
Figura 15. Exemplo de imagem gerada de 2400 dpi aps escaneamento com
equipamento ZooScan. ........................................................................................................... 47
Figura 16. Exemplo de imagens selecionadas na formao da Base de Teinamento
18. A) Appendicularia, B) Corpo_Appendicularia, C) Calanoida_G, D) Calanoida_open,
E) Calanoida_P, F) Euterpina acutifrons, G) Oithona spp., H) Temora_G, I) Temora_P,
J) Malacostraca e L) Chaetognatha. ..................................................................................... 50
Figura 17. Exemplos de imagens utilizadas na formao da Base de Treinamento 18
para os seguintes grupos: A) Detritos_esfricos, B) Detritos_lineares, C)
Detritos_mltiplos, D) Fibras e E) Diatomceas.................................................................. 51
Figura 18. Exemplos de imagens utilizadas na formao dos grupos includos durante
a classificao manual: A) Bivalvia, B) Briozoa, C) Gastropoda, D) Nauplius
(Copepoda + Decapoda), E) Cirripedia, F) Polychaeta, G) Poecylostomatoida
(Copepoda), H) Cnidaria, I) Hemicyclops thalassius (Copepoda), J) Ictioplancton, L)
Amphipoda, M) Cladocera e N) Salpidae. ............................................................................ 52
Figura 19. Freqncia de ocorrncia do zooplncton no esturio do rio Caravelas
(Bahia, Brasil), durante as mars de quadratura (22/08/2007) e sizgia (28/08/2007) da
campanha seca (inverno) (n=84). .......................................................................................... 60
Figura 20. Freqncia de ocorrncia do zooplncton no esturio do rio Caravelas
(Bahia, Brasil), durante as mars de quadratura (17/01/2008) e sizgia (23/01/2008) da
campanha chuvosa (vero) (n=84). ....................................................................................... 61
Figura 21. Abundncia relativa do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia,
Brasil), durante as fases de mar enchente (22 e 28/08/2008) e vazante (17 e
23/01/2008), nas campanhas seca (agosto/2007) e chuvosa (janeiro/2008) (n=168). . 62
Figura 22. Abundncia relativa do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia,
Brasil), durante as mars de quadratura (22/08/07 e 17/01/2008) e sizgia (28/08/2008
e 23/01/2008), nas campanhas seca (agosto/2007) e chuvosa (janeiro/2008) (n=168).
..................................................................................................................................................... 62
Figura 23. Abundncia relativa do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia,
Brasil), durante as mars de quadratura (22/08/2007) e sizgia (28/08/2007) e suas
respectivas mars enchente e vazante. Campanha realizada no perodo seco (inverno)
(n=42). ........................................................................................................................................ 63
Figura 24. Abundncia relativa do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia,
Brasil), durante as mars de quadratura (17/01/2008) e sizgia (23/01/2008) e suas
respectivas mars enchente e vazante. Campanha realizada no perodo chuvoso
(vero) (n=42). .......................................................................................................................... 63
Figura 25. Distribuio vertical do zooplncton total durante as mars enchente e
vazante da campanha de quadratura (perodo seco, 22/08/07), no esturio do rio
Caravelas (Bahia, Brasil) (n=42). ........................................................................................... 73
file:///C:/Users/reparo/Desktop/DISSERTAO%20VERSO%20FINAL/parte%20escrita%20com%20sumrio.doc%23_Toc246082724file:///C:/Users/reparo/Desktop/DISSERTAO%20VERSO%20FINAL/parte%20escrita%20com%20sumrio.doc%23_Toc246082724file:///C:/Users/reparo/Desktop/DISSERTAO%20VERSO%20FINAL/parte%20escrita%20com%20sumrio.doc%23_Toc246082724file:///C:/Users/reparo/Desktop/DISSERTAO%20VERSO%20FINAL/parte%20escrita%20com%20sumrio.doc%23_Toc246082724file:///C:/Users/reparo/Desktop/DISSERTAO%20VERSO%20FINAL/parte%20escrita%20com%20sumrio.doc%23_Toc246082724
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
6
Figura 26. Distribuio vertical do zooplncton total durante as mars enchente e
vazante da campanha de sizgia (perodo seco, 28/08/07), no esturio do rio Caravelas
(Bahia, Brasil) (n=42). .............................................................................................................. 73
Figura 27. Distribuio vertical do zooplncton durante as mars de enchente e
vazante da campanha de quadratura (16/01/08), no esturio do rio Caravelas (Bahia,
Brasil) (n=42). ............................................................................................................................ 77
Figura 28. Distribuio vertical do zooplncton durante as mars de enchente e
vazante da campanha de sizgia (23/01/08), no esturio do rio Caravelas (Bahia,
Brasil) (n=42). ............................................................................................................................ 77
Figura 29. Variao do transporte instantneo do zooplncton total (org.m-2.s-1)
durante as mars de quadratura (22/08/2007) e sizgia (28/08/2007) para o perodo
seco, nos trs estratos de profundidade (superfcie, meio e fundo) (n = 84 amostras).
Os valores positivos referem-se mar enchente, e os negativos mar vazante. .... 91
Figura 30. Variao do transporte instantneo do zooplncton total (org.m-2.s-1)
durante as mars de quadratura (17/01/2008) e sizgia (23/01/2008) para o perodo
chuvoso, nos trs estratos de profundidade (superfcie, meio e fundo) (n = 84
amostras). Os valores positivos referem-se mar enchente, e os negativos mar
vazante. ...................................................................................................................................... 92
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
7
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Teste de Mann-Whitney do tipo e fase da mar, e da profundidade sobre a
velocidade das correntes (m.s-1), temperatura (oC) e salinidade (ups) no esturio do rio
Caravelas (Bahia, Brasil), durante o perodo seco (22 e 28/08/2007) (n=42 amostras)
(Siz = sizgia; Qua = quadratura; Enc = enchente; Vaz = vazante; S = superfcie; M =
meio; F= fundo; ns = no significativo). ................................................................................ 44
Tabela 2. Teste de Mann-Whitney do tipo e fase da mar, e da profundidade sobre a
velocidade das correntes (m.s-1), temperatura (oC) e salinidade (ups) no esturio do rio
Caravelas (Bahia, Brasil), durante o perodo chuvoso (17 e 23/01/2008) (n=42
amostras) (Siz = sizgia; Qua = quadratura; Enc = enchente; Vaz = vazante; S =
superfcie; M = meio; F= fundo; ns = no significativo). ..................................................... 44
Tabela 3. Composio taxonmica do zooplncton no esturio do rio Caravelas
(Bahia, Brasil) atravs de anlise em lupa (agosto/2008 e janeiro/2009) (n=20). ......... 58
Tabela 4. Composio taxonmica do zooplncton no esturio do rio Caravelas
(Bahia, Brasil) atravs de anlise das vinhetas obtidas no ZooScan (agosto/2008 e
janeiro/2009) (n=164). Os grupos com * no fizeram parte da formao dos grupos
na classificao automtica e semi-automtica. ................................................................. 59
Tabela 5. Teste de Mann-Whitney do efeito do perodo de coleta (campanha seca e
chuvosa), da mar (sizgia e quadratura), fase da mar (enchente e vazante) sobre a
densidade mdia do zooplncton total no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)
durante o perodo seco (22 e 28/08/2007) e chuvoso (17 e 23/01/2008) (n = 168
amostras) (ns = no significativo; Siz = Sizgia; Quad = Quadratura; Chu = Campanha
chuvosa; Sec = Campanha Seca). ........................................................................................ 65
Tabela 6. Teste de Mann-Whitney do efeito do perodo de coleta (campanha seca e
chuvosa), sobre a densidade mdia dos grupos zooplanctnicos com maior freqncia
de ocorrncia no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil) durante o perodo seco (22 e
28/08/2007) e chuvoso (17 e 23/01/2008) (n = 168 amostras) (ns = no significativo;
Chu = Campanha chuvosa; Sec = Campanha Seca). ........................................................ 66
Tabela 7. Teste de Mann-Whitney do efeito da mar (S = sizgia; Q = quadratura), fase
da mar (ENC = enchente; VAZ = vazante) e profundidade (Sup = superfcie; Mei =
meio; Fun = fundo) da coleta sobre a densidade do zooplncton total e dos grupos
zooplanctnicos com maior freqncia de ocorrncia do esturio do rio Caravelas
(Bahia, Brasil) durante o perodo seco (22 e 28/08/2007) (n = 84 amostras) ................. 67
Tabela 8. Densidade mdia do zooplncton (org.m-3) do esturio do rio Caravelas
(Bahia, Brasil), durante as mars de quadratura (22/08/2007) e sizgia (28/08/2007)
para o perodo seco (n = 84 amostras). ................................................................................ 68
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
8
Tabela 9. Teste de Mann-Whitney do efeito da mar (S = sizgia; Q = quadratura), fase
da mar (ENC = enchente; VAZ = vazante) e profundidade (Sup = superfcie; Mei =
meio; Fun = fundo) da coleta sobre a densidade mdia do zooplncton total e dos
grupos planctnicos com maior freqncia de ocorrncia do esturio do rio Caravelas
(Bahia, Brasil) durante o perodo chuvoso (17 e 23/01/2008) (n = 84 amostras) (S =
sizgia; Q = quadratura; ENC = enchente; VAZ = vazante; Sup = superfcie; Mei =
meio; Fun = fundo). .................................................................................................................. 70
Tabela 10. Densidade mdia do zooplncton (org.m-2.s-1) do esturio do rio Caravelas
(Bahia, Brasil), durante as mars de quadratura (17/01/2008) e sizgia (23/01/2008)
para o perodo chuvoso (n = 84 amostras). ......................................................................... 71
Tabela 11. Teste de Mann-Whitney da distribuio do zooplncton total e dos grupos
com maior freqncia de ocorrncia nos distintos estratos de profundidade (Sup =
superfcie; Mei = meio e Fun = fundo) nas fases de mar enchente e vazante durante a
mar de quadratura do perodo seco (22/08/07), no esturio do rio Caravelas (Bahia,
Brasil) (ns = diferena no significativa) (n=42). ................................................................. 74
Tabela 12. Teste de Mann-Whitney da distribuio do zooplncton total e dos grupos
com maior freqncia de ocorrncia nos distintos estratos de profundidade (Sup =
superfcie; Mei = meio e Fun = fundo) nas fases de mar enchente e vazante durante a
mar de sizgia do perodo seco (28/08/07), no esturio do rio Caravelas (Bahia,
Brasil) (ns = diferena no significativa) (n=42). ................................................................. 75
Tabela 13. Teste de Mann-Whitney da distribuio do zooplncton total e dos grupos
com maior freqncia de ocorrncia nos distintos estratos de profundidade (Sup =
superfcie; Mei = meio e Fun = fundo) nas fases de mar enchente e vazante durante a
mar de quadratura (17/01/08), no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil) (ns =
diferena no significativa) (n=42). ........................................................................................ 78
Tabela 14. Teste de Mann-Whitney da distribuio do zooplncton total e dos grupos
com maior freqncia de ocorrncia nos distintos estratos de profundidade (Sup =
superfcie; Mei = meio e Fun = fundo) nas fases de mar enchente e vazante durante a
mar de quadratura (23/01/08), no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil) (ns =
diferena no significativa) (n=42). ........................................................................................ 79
Tabela 15. Teste de Mann-Whitney do efeito do perodo de coleta (campanha seca e
chuvosa), da mar (sizgia e quadratura), fase da mar (enchente e vazante) sobre o
transporte instantneo do zooplncton total no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)
durante o perodo seco (22 e 28/08/2007) e chuvoso (17 e 23/01/2008) (n = 168
amostras) (ns = diferena no significativa; sec = campanha seca; chu = campanha
chuvosa). ................................................................................................................................... 81
Tabela 16. Teste de Mann-Whitney do efeito do perodo de coleta (campanha seca e
chuvosa), sobre o transporte instantneo do zooplncton total e dos grupos
zooplanctnicos com maior freqncia de ocorrncia no esturio do rio Caravelas
(Bahia, Brasil) durante o perodo seco (22 e 28/08/2007) e chuvoso (17 e 23/01/2008)
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
9
(n = 168 amostras) (ns = diferena no significativa; sec = campanha seca; chu =
campanha chuvosa). ................................................................................................................ 82
Tabela 17. Teste de Mann-Whitney do efeito da mar (S = sizgia; Q = quadratura),
fase da mar (ENC = enchente; VAZ = vazante) e profundidade (Sup = superfcie; Mei
= meio; Fun = fundo) da coleta sobre o transporte instantneo do zooplncton total e
dos grupos planctnicos com maior freqncia de ocorrncia do esturio do rio
Caravelas (Bahia, Brasil) durante o perodo seco (22 e 28/08/2007) (n = 84 amostras)
(ns = no significativo). ............................................................................................................ 84
Tabela 18. Transporte instantneo mdio do zooplncton (org.m-2.s-1) do esturio do
rio Caravelas (Bahia, Brasil), durante as mars de quadratura (22/08/2007) e sizgia
(28/08/2007) para o perodo seco (n = 84 amostras). ........................................................ 85
Tabela 19. Mdias do total (org.m-2.s-1) exportado e importado, balano lquido (por
grupo e total) e freqncia de ocorrncia (%) do zooplncton do esturio do rio
Caravelas (Bahia, Brasil) durante o perodo seco (22 e 28/08/2007) (n = 84 amostras).
..................................................................................................................................................... 86
Tabela 20. Teste de Mann-Whitney do efeito da mar (S = sizgia; Q = quadratura),
fase da mar (ENC = enchente; VAZ = vazante) e profundidade (Sup = superfcie; Mei
= meio; Fun = fundo) da coleta sobre o transporte instantneo do zooplncton total e
dos grupos planctnicos com maior freqncia de ocorrncia do esturio do rio
Caravelas (Bahia, Brasil) durante o perodo chuvoso (17 e 23/01/2008) (n = 84
amostras) (ns = no significativo). ......................................................................................... 88
Tabela 21. Transporte instantneo mdio do zooplncton (org.m-2.s-1) do esturio do
rio Caravelas (Bahia, Brasil), durante as mars de quadratura (17/01/2008) e sizgia
(23/01/2008) para o perodo chuvoso (n = 84 amostras)................................................... 89
Tabela 22. Mdias do total (org.m-2.s-1) exportado e importado, balano lquido (por
grupo e total) e freqncia de ocorrncia (%) do zooplncton do esturio do rio
Caravelas (Bahia, Brasil) durante o perodo chuvoso (17 e 23/08/2008) (n = 84
amostras). .................................................................................................................................. 90
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
10
RESUMO
Dinmica espacial e temporal do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil). A pesquisa foi realizada no intuito de descrever a comunidade zooplanctnica do esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil), alm de quantificar e relacionar os padres de transporte horizontal e vertical com os tipos de mar (quadratura e sizgia) e fases de mar (enchente e vazante). As amostras do zooplncton foram coletadas com auxlio de bomba de suco (300L), filtradas em redes de plncton (300m) e fixadas em soluo salina de formol a 4%. As coletas foram realizadas em um ponto fixo (A1), prximo a desembocadura do esturio, com amostras obtidas nas mars de quadratura e sizgia durante os perodos seco e chuvoso. As amostragens foram feitas durante 13 horas, em intervalos de 1 hora, em 3 nveis de profundidade: superfcie, meio e fundo. Simultnea coleta biolgica, foram medidos a velocidade das correntes, temperatura e salinidade da gua, atravs de CTD. Em laboratrio, amostras foram selecionadas para anlise em lupa, sendo 25 grupos identificados, com Copepoda obtendo o maior nmero de espcie. As 168 amostras provindas das coletas temporais foram subamostradas e processadas no equipamento ZooScan, com auxlio do software ZooProcess, ao final foram geradas 458.997 vinhetas. Foram identificados 8 txons automaticamente, com mais 16 classificados de forma semi-automtica. O grupo Copepoda, apesar do refinamento taxonmico limitado do ZooScan, obteve 2 gneros e 1 espcie identificada de maneira automtica. Entre as campanhas seca e chuvosa os grupos Brachyura (zoea), Chaetognatha, alm dos coppodes Calanoida (outros), Temora spp., Oithona spp. e Euterpina acutifrons foram os que tiveram maior freqncia de ocorrncia, aparecendo em mais de 70% das amostras. O grupo Copepoda foi o que apresentou os maiores percentuais de abundncia relativa em ambas as campanhas. No houve variao sazonal do zooplncton total, com densidade mdia de 78264219 org.m-3 no perodo seco, e 79593675 org.m-3 no chuvoso, nem entre os tipos e fases das mars, contudo diferenas sazonais significativas foram registradas para os principais grupos zooplanctnicos. Foi vista estratificao vertical para os principais grupos zooplanctnicos (Brachyura, Chaetognatha, Calanoida (outros), Oithona spp, Temora spp. e Euterpina acutifrons). A amplitude desta estratificao variou com o tipo (quadratura ou sizgia) ou fase de mar (enchente ou vazante). O transporte instantneo foi mais influenciado pela velocidade das correntes, com maiores valores observados nas mars de sizgia para o zooplncton total, entretanto, houve variao deste padro dependendo do grupo zooplanctnico. De acordo com os dados de importao e exportao do zooplncton total, o fluxo de sada de organismos do esturio foi superior entrada. Os resultados sugerem que a regio estuarina de Caravelas pode exercer influncia na dinmica de matria para a rea costeira adjacente, com possveis reflexos no Parque Nacional Marinho dos Abrolhos. Palavras-chave: zooplncton, transporte, esturio, identificao automtica.
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
11
ABSTRACT
Spatial-temporal dynamics of zooplankton in the Caravelas river estuary (Bahia, Brazil). The survey was conducted in order to describe the zooplankton community of the estuary Caravelas (Bahia, Brazil), to quantify and relate the patterns of horizontal and vertical transport with the type of tide (neap and spring) and tidal phase (flood and ebb). Zooplankton samples were collected with the aid of a suction pump (300L), filtered in plankton nets (300m) and fixed in saline formalin 4%. Samples were collected at a fixed point (A1), near the mouth of the estuary, with samples taken at neap tides and spring tides during the dry and rainy seasons. Samples were collected for 13 hours, at intervals of 1 hour in 3 depths: surface, middle and bottom. Simultaneous collection of biological, we measured the current velocity, temperature and salinity of the water through CTD. In the laboratory, samples were selected for analysis in estereomicroscope, with 25 groups identified, with Copepoda getting the highest number of species. The 168 samples obtained from temporal samples were subsampled and processed on equipment ZooScan, with the aid of software ZooProcess at the end were generated 458.997 vingnettes. 8 taxa were identified automatically, with 16 classified as a semi-automatic. The group Copepoda, despite the limited taxonomic refinement ZooScan, obtained 2 genera and 1 species identified automatically. Among the seasons dry and wet groups Brachyura (zoea), Chaetognatha, and the Calanoid copepods (others), Temora spp., Oithona spp. and Euterpina acutifrons were those who had higher frequency of occurrence, appearing in more than 70% of the samples. Copepoda group showed the largest percentage of relative abundance in both seasons. There was no seasonal variation of total zooplankton, with an average density of 78264219 org.m-3 in the dry season, and 79593675 org.m-3 in the rainy season, neither between the types and phases of the tides, but seasonal differences were significant recorded for the main zooplankton groups. Vertical stratification was seen for the major zooplankton groups (Brachyura, Chaetognatha, Calanoida (other), Oithona spp, Temora spp. e Euterpina acutifrons). The scale of this stratification varied with the type (square or tide) and tidal phase (flood or ebb). The instantaneous transport was more influenced by current velocity, with higher values observed in spring tides to the total zooplankton, however, there was a variation of this pattern depending on the zooplankton group. According to the data import and export of total zooplankton, the outflow of organisms of the estuary was higher than the input. The results suggest that the estuary of Caravelas may influence the dynamics of organic matter to the adjacent coast, with possible consequences in National Marine Park of Abrolhos.
Keywords: zooplankton, transport, estuary, automatic identification.
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
12
1. INTRODUO
1.1. Esturios Definio e Importncia
Dentre os mais importantes ambientes das zonas costeiras esto os
esturios, os quais so reas de transio ou ectonos, entre a terra e o mar,
onde a gua doce provinda da drenagem terrestre mistura-se com a gua
marinha, criando umas das reas mais produtivas sobre a Terra (Day et al.,
1989; Kennish, 2002; Wilson, 2002). A produtividade observada envolve
conservao, reteno e eficiente reciclagem de nutrientes entre os habitats
bentnicos, pelgicos e a vegetao adjacente (Lam-Hoai et al., 2006).
Estes ecossistemas aquticos so caracterizados por uma variedade de
componentes biticos e abiticos inter-relacionados com processos fsicos,
qumicos e biolgicos (Telesh, 2004) e influenciados por amplas variaes
ambientais, onde ocorrem mudanas abruptas na salinidade, temperatura,
oxignio e turbidez devido influncia das mars e a mistura de gua marinha
com a gua doce (Ramos et al, 2006).
De um modo geral, as variaes sazonais que ocorrem esto
relacionadas a fatores climatolgicos, como precipitao e radiao solar e
tambm a movimentos sazonais da gua, determinados pela circulao local e
influenciados pelas correntes costeiras e fluviais, alm da ao elica. A
salinidade geralmente mais baixa que a registrada para ambientes ocenicos
e costeiros e a temperatura varia principalmente ao longo do dia (Tundisi,
1970).
A composio qumica das guas estuarinas determinada pela diluio
das guas costeiras e pelo fluxo da descarga fluvial. O resultado dessa mistura,
e sua persistncia dentro do esturio, influenciam profundamente os diversos
ciclos hidrodinmicos, que possuem distintas e independentes periodicidades.
Enquanto os ciclos de mar so fatores previsveis, as contribuies fluviais
so variveis, j que sofrem mudanas de acordo com a estao do ano, como
tambm dependem do regime de precipitao local, que conseqentemente
varia com as flutuaes climticas da regio (Lam-Hoai et al., 2006).
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
13
Particularmente no Nordeste brasileiro, esta variabilidade no fluxo fluvial tem
sido profundamente alterada em funo do represamento de rios ainda em sua
poro continental, o que afeta a vazo fluvial nas plancies costeiras.
Os esturios funcionam como grandes berrios naturais, tanto para
espcies caractersticas desses ambientes como para aquelas que migram
para as reas costeiras pelo menos uma vez em seus ciclos de vida. So
ecossistemas extremamente importantes para os estgios larvais e juvenis dos
organismos, j que promovem proteo contra predadores e uma rica fonte de
alimentos, proporcionando uma baixa taxa de mortalidade e um crescimento
rpido (Barletta-Bergan et al., 2002) que maximiza a probabilidade de
sobrevivncia (Lazzari, 2001).
1.2. Zooplncton Estuarino
Do ponto de vista biolgico, a fauna dos esturios tem sua origem nos
ambientes terrestre, marinho e de gua doce, permanecendo nesses
ecossistemas toda sua vida como residentes ou apenas parte dela, na
condio de semi-residentes, visitantes regulares ou oportunistas. Seja qual for
a condio, esses animais esto sempre intimamente associados e
dependentes desses ecossistemas (Schaeffer-Novelli, 2008).
Em reas estuarinas, o zooplncton grupo no qual podem ser
reconhecidos organismos pertencentes grande maioria dos filos do reino
animal (R, 2000) tem papel fundamental na dinmica do ecossistema,
servindo como elo entre o fitoplncton e muitos carnvoros, incluindo vrios
animais de interesse comercial (Paranagu et al., 2000; Melo Jr, 2005). O
zooplncton dos esturios ocupa uma posio chave na cadeia alimentar
pelgica, especialmente na ciclagem de nutrientes e no fluxo de energia (Vieira
et al., 2003; Lo et al., 2004; Belgrano et al., 2005; Cavalcanti et al., 2008).
Harris et al. (2000) citam que este grupo de organismos participa na
transferncia da energia provinda da produo orgnica das algas unicelulares
para nveis trficos mais altos, tais como estoques de peixes pelgicos
explorados pelo homem.
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
14
O zooplncton estuarino constitudo por formas holo e
meroplanctnicas. O holoplncton formado por organismos que passam toda
sua vida no plncton, enquanto o meroplncton congrega as fases larvais e/ou
juvenis de organismos bentnicos e nectnicos. Em regies estuarinas o
meroplncton geralmente muito mais diverso que o holoplncton, devido ao
grande nmero de organismos pelgicos que apresentam larvas e/ou juvenis
no plncton (Day Jr. et al, 1989).
A abundncia do zooplncton estuarino geralmente limitada por dois
fatores principais. Em primeiro lugar, a turbidez funciona como um fator
limitante da produo fitoplanctnica e conseqentemente da produo
secundria. Em segundo lugar, em muitos sistemas estuarinos as correntes
prevalecentes tendem a transportar o zooplncton para o domnio marinho.
Muitos organismos estuarinos exibem estratgias prprias de reteno no
interior do esturio, utilizando as correntes de entrada e de sada de gua nos
esturios parcialmente ou altamente estratificados (R, 1984).
Apesar de, aparentemente, o zooplncton se deslocar ao sabor das
correntes, este grupo de organismos capaz de realizar migraes em
pequena escala de espao e tempo, principalmente influenciados pelos ciclos
de mar (Gibson, 2003) e vrios representantes deste grupo assumem
movimentos migratrios verticais e/ou horizontais em sincronia com as
correntes. Outros utilizam as correntes de mar seletivamente, propiciando seu
deslocamento a novos habitats. Tais movimentos podem variar de poucos
metros at vrios quilmetros e podem ser modulados pelo ciclo dirio de
intensidade luminosa (Gibson, 2003; Melo Jr., 2005).
As flutuaes nas mars parece ser o fator mais importante a controlar a
abundncia das populaes em regies estuarinas (Grindley, 1984), enquanto
os padres de distribuio ao longo do esturio so mais influenciados pela
salinidade, e, pelo aporte de gua doce provindo da drenagem terrestre
(Rodriguez, 1975). Contudo, em esturios que no esto localizados em reas
com fortes regimes de variao pluviomtrica, a flutuao das mars constitui
principal fator abitico a influenciar a estrutura e a densidade das comunidades
zooplanctnicas presentes nestes ambientes (Robertson, 1988).
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
15
Guimares & Marone (1996) j relataram algumas diferenas fsicas
entre as mars de quadratura e sizgia, entretanto, Melo Jr. (2005) cita que
poucas so as pesquisas no Brasil que abordam a estrutura do zooplncton
estuarino sob este enfoque. Quanto variao sazonal, vrios autores citam
que o mximo da abundncia do zooplncton atingido durante os perodos
chuvosos (Sankarankutty et al., 1995; McKinnon & Klumpp, 1998; Cavalcanti et
al, 2008). Wooldridge (1977) escreve que este padro observado devido ao
aumento da quantidade de detritos que ocorre com um influxo de gua doce, e
sugere que o zooplncton em esturios com florestas de manguezais no est
to diretamente ligado produo fitoplanctnica, mas que a cadeia detritvora
est intimamente relacionada produo das comunidades zooplanctnicas.
O estudo da variabilidade espacial e temporal das comunidades
zooplanctnicas estuarinas uma importante ferramenta para uma
compreenso mais aprofundada do funcionamento dos ecossistemas costeiros
(Siokou-Frangou, 1996). Este conhecimento (variabilidade da comunidade
zooplanctnica e suas preferncias ambientais) pode ajudar a prever os efeitos
de possveis mudanas no meio, induzidas pelo homem ou no (Soetaert &
Rijswijk, 1993).
O zooplncton estuarino participa intensamente das teias alimentares
costeiras, j que parte da biomassa destes organismos est presente nos
processos de troca, exportao e importao, entre estes ambientes (Dame &
Allen, 1996; Schwamborn, 1997; Gibson, 2003). Atualmente existe bastante
informao disponvel a respeito do zooplncton marinho e estuarino do
nordeste brasileiro (Schwamborn, 1997; Eskinazi-SantAnna, 2000; Porto Neto
et al., 2000; Silva et al., 2003; Cunha, 2004; Schwamborn et al., 2008), contudo
ainda so incipientes os estudos sobre os mecanismos de transporte
zooplanctnico entre os sistemas estuarinos e a rea costeira adjacente (Melo
Jr. et al., 2007).
Entender a dinmica, interaes e juno entre processos
oceanogrficos estocsticos e cclicos e o comportamento e biologia das
comunidades zooplanctnicas representa uma base conceitual fundamental na
incorporao em futuros modelos de gesto da regio, j que nas regies Norte
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
16
e Nordeste do Brasil, segundo Schaeffer-Novelli (1989), primam o empirismo e
o imediatismo sobre os seguintes produtos: derrubada de rvores de mangue
para lenha; madeira para construo e extrao de tanino; pesca predatria
incidindo sobre moluscos, crustceos e peixes (inclusive utilizando explosivos);
atividades salineiras, alm da instalao de viveiros e tanques para aqicultura.
Informaes sobre as complexas interaes entre diversos processos
biticos e abiticos so essenciais conservao de habitats estuarinos e
sade das espcies em face da expanso das populaes humanas ao longo
da zona costeira.
Trabalhos pioneiros de transporte do zooplncton em esturios
brasileiros foram realizados por Schwamborn (1993) e Schwamborn &
Bonecker (1996), abordando a utilizao de substratos flutuantes como meio
de transporte e alimentao de diversos grupos do zooplncton do rio Mucuri,
Bahia. Wehrenberg (1996) observou no canal de Santa Cruz, Pernambuco, que
muitos Decapoda planctnicos so mais abundantes nas mars vazantes, do
que nas enchentes, indicando que h maior exportao que importao de
organismos a partir deste ecossistema.
Alm destes, Freire (1998) estudou na baa de Paranagu, Paran, a
disperso larval da espcie de caranguejo Ucides cordatus e observou um
comportamento migratrio em sincronia com as mars vazante e enchente.
Melo Jr. (2005) constatou que a barra do Catuama, Pernambuco, representa
um verdadeiro corredor de troca de biomassa sestnica e zooplncton entre o
canal de Santa Cruz e a plataforma costeira adjacente. Silva (2007) estudando
o microzooplncton da mesma regio, observou que os dados de densidade e
biomassa destes organismos foram significativamente maiores durante a mar
de sizgia, e sugeriu que em determinadas pocas do ano os valores de
importao entre o esturio e a rea costeira adjacente possuem maior
magnitude do que a exportao.
Como pouco se sabe sobre os processos de fluxo de organismos em
esturios brasileiros, pesquisas de padres dinmicos de transporte e migrao
do zooplncton so de suma importncia uma vez que se pode estimar o
quanto exportado e importado a partir do esturio, e como esses
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
17
ecossistemas enriquecem as reas costeiras ou afetam a composio das teias
trficas pelgicas. Esforos neste sentido representam uma importante
ferramenta na compreenso das interaes esturio-costa de regies tropicais
(Eskinazi-SantAnna, 1993; Melo Jr., 2005).
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
18
2. REA DE ESTUDO
O esturio de Caravelas encontra-se numa plancie costeira no extremo
sul do estado da Bahia (Brasil 1700S 3930W), em um ambiente de
transio complexo, com manguezais e restingas remanescentes da Mata
Atlntica. O esturio sofre influncia tanto do regime das mars, quanto da
descarga fluvial. Ambos os fatores so responsveis pelo balano de energia,
circulao-estratificao e processos de mistura. Devido modulao
quinzenal de mar, sazonalidade da descarga fluvial, dos ventos e da regio
costeira adjacente, tal variabilidade provavelmente exerce influncia sobre as
comunidades biolgicas da regio
O esturio abriga uma grande biodiversidade e desempenha papel
importante para o Arquiplago dos Abrolhos, j que o Parque Nacional Marinho
dos Abrolhos encontra-se 70 km frente da linha de costa da rea na qual a
cidade de Caravelas est localizada. (Andrade & Dominguez, 2002).
Figura 1. Mapa de localizao dos recifes de corais de Abrolhos em relao ao municpio e esturio de Caravelas (Fonte: Leo, 1999)
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
19
O Banco de Abrolhos representa um dos mais importantes ecossistemas
marinhos do Brasil, abrigando a maior biodiversidade do Atlntico Sul (Werner
et al., 2000; Leo et al., 2003), incluindo diversas espcies de mamferos,
tartarugas, peixes e invertebrados marinhos ameaados de extino (Hilton-
Taylor, 2000). Tais ecossistemas, excepcionalmente ricos e produtivos,
exercem profunda influncia na dinmica econmica e social da costa leste
brasileira, especialmente na pesca, uma das principais atividades produtivas da
regio (Paiva & Fonteles-Filho, 1997; Costa et al., 2003).
Alm de fornecer nutrientes e sedimentos provindos da drenagem
terrestre, o esturio de Caravelas serve tambm de berrio e habitat para
diversas espcies de organismos do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos
que passam os estgios iniciais de vida, se alimentam e se reproduzem na
regio e que posteriormente migram de volta para oceano. Ademais, o esturio
considerado vital para as espcies que residem permanentemente na rea
estuarina, alm de desempenhar um papel fundamental na estruturao
biolgica e processos fsicos-qumicos para a regio dos Abrolhos, atuando
como filtro devido assimilao de substncias antrpicas lanadas em seu
interior, alm de constituir-se num fator condicionante da produtividade
pesqueira da regio (International Conservation, 2007).
Quanto aos impactos antropognicos, os mais comuns nesta regio do
estado da Bahia esto relacionados ao desenvolvimento costeiro, turismo,
pesca predatria, instalao de projetos industriais e explorao de
combustveis fsseis. Entre os problemas relacionados ao desenvolvimento
costeiro, a produo de lixo e de esgotos in natura pode causar alteraes na
composio das comunidades recifais, por exemplo, atravs de um
favorecimento ao crescimento de algas em detrimento dos corais (Leo, 1996).
Segundo o Ministrio do Meio Ambiente MMA (MMA, 1996), a rea
costeira fronteira ao Banco dos Abrolhos apresenta potencial de risco
ambiental devido presena de equipamento produtivo do setor de papel e
celulose e explorao de derivados do petrleo. Nestes casos, os efluentes
industriais, caso no controlados, podem causar srios danos rea atravs
da poluio.
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
20
Portanto, como se pode observar, a regio estuarina de Caravelas,
apesar de ser considerada conservada, classificada pelo mapa de reas da
Zona Costeira e Marinha, no documento de reas Prioritrias para a
Conservao da Biodiversidade (MMA, 2009), como uma rea de
extremamente alta importncia biolgica (MC 791). Detm um grande
potencial biolgico, econmico e social, que desperta interesse de vrios
setores produtivos e industriais. Para ajudar em sua conservao, quanto mais
conhecimento se obtiver dos processos qumicos, fsicos e biolgicos que
atuam na rea, melhor o embasamento cientfico disponvel aos gestores da
regio, auxiliando decises futuras.
O esturio de Caravelas influencia criticamente a conservao da
biodiversidade e a produtividade pesqueira no s na regio estuarina, como
tambm na rea costeira adjacente. Com seus recursos, este ecossistema
garante a sobrevivncia de pescadores e extrativistas, e por tratar-se de uma
rea de grande beleza cnica, a regio tambm convida ao lazer e
contemplao (International Conservation, 2007).
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
21
3. OBJETIVOS
A pesquisa Anlise da Estrutura e Transporte do Zooplncton no
Esturio do Rio Caravelas (Bahia-Brasil) atravs do uso do ZooScan um
sub-projeto vinculado ao projeto intitulado Produtividade, Sustentabilidade e
Utilizao do Banco de Abrolhos, o qual pretende realizar o diagnstico da
sustentabilidade dos recifes e das perturbaes atuais e potenciais no
ambiente costeiro, que demandam a caracterizao prvia dos ecossistemas
marinhos, em seus vrios compartimentos e processos.
Os estudos propostos fornecero subsdios e dados para a anlise de
custo-benefcio da explorao dos ecossistemas, incluindo a modelagem da
integridade dos mesmos, fundamentais para o manejo das unidades de
conservao, para o ordenamento da atividade turstica (ecoturismo, turismo
subaqutico), para a explorao de recursos biotecnolgicos e minerais, para o
controle da poluio de origem terrestre e para o estabelecimento de atividades
sustentveis de pesca e maricultura.
Em funo de sua importncia estratgica para o sistema costeiro
adjacente, e no intuito de ampliar os dados ainda escassos sobre como
funcionam os processos de transporte do zooplncton em ambientes
estuarinos tropicais, particularmente no esturio do rio Caravelas, a presente
pesquisa tem como objetivo central determinar a composio e aspectos
quantitativos do zooplncton do esturio de Caravelas e descrever o processo
de migrao vertical e transporte do esturio para a regio costeira adjacente.
As hipteses centrais que regem este estudo predizem que o esturio
funciona como um ecossistema exportador de biomassa zooplanctnica para a
regio costeira adjacente, e que este transporte profundamente influenciado
por eventos temporais curtos (mars) e de longo prazo (sazonais). Para
estudar a veracidade destas hipteses, foram elaborados os seguintes
objetivos especficos, a saber:
Identificar os componentes da fauna zooplanctnica;
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
22
Caracterizar os padres quantitativos do zooplncton
quanto freqncia de ocorrncia, abundncia relativa e
densidade;
Correlacionar a migrao vertical do zooplncton
com os fluxos de mar;
Determinar o transporte instantneo dos organismos
estuarinos para a rea costeira adjacente considerando diferentes
fases de mars (sizgia e quadratura) ;
Quantificar os organismos planctnicos participantes
das trocas entre o rio Caravelas e a plataforma costeira
adjacente;
Desenvolver ferramentas para a realizao da
anlise e classificao semi-automtica dos grupos
zooplanctnicos utilizando um equipamento de identificao semi-
automtica dos organismos.
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
23
4. MATERIAL E MTODOS
4.1. Dados Abiticos
A coleta de amostras biticas e dados abiticos foi realizada em dois
perodos, primeiramente em agosto de 2007 e em seguida em janeiro de 2008,
meses caractersticos das estaes de inverno (seca) e vero (chuvosa),
respectivamente, da regio. O ponto fixo de amostragem foi denominado A1,
prximo desembocadura do esturio (Figura 2), e as coletas realizadas nas
mars de quadratura e sizgia. A posio exata da estao (S 174512 W
391352) foi obtida com auxlio de um Global Positioning System (GPS).
Foram realizadas, portanto, um total de quatro campanhas de coleta de dados,
duas durante o perodo seco (mar de quadratura e sizgia) e duas no perodo
chuvoso (mar de quadratura e sizgia).
Apesar de no terem sido coletados dados pluviomtricos, as estaes
seca e chuvosa foram delimitadas seguindo o padro de pluviosidade sazonal
da regio. Sobrinho (2008) realizou a classificao climatolgica da cidade de
Caravelas com dados obtidos dos anos de 1969 a 2006 provindos do Instituto
Nacional de Meteorologia (INMET), e em relao ao ndice pluviomtrico
constatou que o trimestre com a maior concentrao de chuvas ocorre
sistematicamente nos meses de outubro a dezembro, sendo o ms de
novembro o mais chuvoso. O trimestre menos chuvoso em Caravelas de
julho setembro. O ms de agosto o mais seco do ano, embora a mdia
pluviomtrica no seja baixa, inferior a 50 mm.
Em conjunto com a coleta dos dados biolgicos, foram realizadas
medies sinticas de temperatura, salinidade e velocidade das correntes, com
perfilagens a cada 30 minutos, durante 13 horas seguidas (ciclo de mar),
atravs do correntmetro/CTD Valeport, modelo MkIII. Estes dados foram
coletados nas mars de quadratura e sizgia de ambas as campanhas (seca e
chuvosa).
Para o estudo das caractersticas hidrogrficas e correntogrficas foi
utilizado um conjunto de rotinas codificadas em linguagem computacional
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
24
Matlab, especialmente desenvolvida para estudos em esturios por Brgamo et
al. (2002). A partir destas rotinas os dados foram tratados e processados, e
deram origem aos dados e grficos de perfis verticais de velocidade das
correntes (m.s-1), salinidade (psu) e temperatura (oC).
Os dados abiticos foram processados pelos Laboratrio de Dinmica
Costeira (LDC) e Laboratrio de Dinmica Ocenica (LaDO) do Instituto
Oceanogrfico da Universidade de So Paulo (IOUSP).
Figura 2. Vista area do ponto de amostragem A1 no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil) (Fonte: Google Earth).
4.2. Estratgia Amostral e Coleta do Zooplncton
Foi adotada a seguinte estratgia amostral na coleta do zooplncton do
esturio do rio Caravelas: coletas temporais com durao de 13 horas durante
o fotoperodo claro no ponto fixo A1, realizadas nas mars de quadratura e
sizgia. As amostragens foram realizadas a cada hora, em trs estratos de
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
25
profundidades distintos: superfcie , meio e fundo, com auxlio de uma bomba
de suco fixada numa embarcao a motor. Foram filtrados 300 litros de gua
provindas do esturio em redes de plncton de 200m de abertura de malha.
Logo aps a filtragem do material biolgico, todas as amostras foram fixadas
em soluo salina com formaldedo 4% e acondicionadas em frascos de
polietileno com volume de 250mL.
Para auxiliar as coletas descritas acima, uma estrutura mvel de ferro foi
montada nas embarcaes. Tal estrutura fixava as trs redes de plncton
simultaneamente e, alm de facilitar o procedimento amostral, tambm
mantinham as redes parcialmente submersas, diminuindo possveis danos no
material biolgico coletado atravs da fora da gua bombeada contra as
malhas das redes (Figura 3).
As coletas de inverno (perodo seco) foram realizadas no ano de 2007,
nos dias 22 e 28 de agosto, j as de vero (perodo chuvoso) nos dias 17 e 23
de janeiro de 2008. Foram obtidas 42 amostras (horas de coleta x 3 estratos de
profundidade) nas mars de quadratura e mais 42 nas mars de sizgia tanto
do perodo seco, quanto do chuvoso, ou seja, tanto para a estao de inverno,
quanto a de vero foram obtidas 84 amostras, totalizando 168 amostras de
zooplncton estuarino.
Figura 3. Armao de ferro utilizada para apoiar as trs redes de plncton.
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
26
4.3. Processamento dos Dados Biolgicos Zooplncton
Apesar de toda importncia envolvida no estudo das comunidades
zooplanctnicas, as pesquisas podem tornar-se rduas em parte devido s
dificuldades de coleta e, principalmente, anlise das amostras sob
microscpio que, geralmente, demanda bastante tempo nos processos de
subamostragem, contagem, triagem e classificao taxonmica (Oliveira,
2009). A maioria das pesquisas gera um grande nmero de amostras
coletadas, que para terem resultados consistentes, devem essencialmente,
contar com uma equipe de taxonomistas especializada (Bell & Hopcroft, 2008).
Anlises envolvendo a medio de diferentes atributos morfolgicos dos
organismos e um sistema semi-automtico de classificao podem ser vistos
como uma possvel alternativa tradicional anlise manual (Jefferies et al.,
1984; Rolke & Lenz, 1984; Gorsky et al., 1989; Tang et al., 1998; Oliveira,
2009). Para auxiliar no tratamento do grande nmero de amostras e elevado
volume de plncton, o presente estudo utiliza um sistema semi-automtico de
aquisio e identificao de imagens do zooplncton.
O recente desenvolvimento de novas tcnicas para a digitalizao de
imagens, assim como os progressos nos softwares de aprendizagem, tem
possibilitado a obteno de resultados satisfatrios para o tratamento de
amostras de plncton. Esses avanos tecnolgicos permitem que mesmo
escneres comerciais se tornem capazes de produzir imagens ntidas do
plncton e as imagens digitalizadas oferecem a grande vantagem de um
permanente registro das amostras (Benfield et al., 2007; Oliveira, 2009).
Inicialmente, as amostras coletadas no esturio do rio Caravelas foram
fracionadas segundo o mtodo de Motoda (Omori & Ikeda, 1984), a fim de
identificar e quantificar os organismos em espcies quando possvel ou
grandes grupos do zooplncton. Devido ao nmero de organismos presente
nas amostras, as fraes variaram entre 1/2 e 1/32 da amostra total. As
subamostras foram processadas atravs do software Zooprocess
(http://www.obs-
http://www.obs-vlfr.fr/LOV/ZooPart/ZooScan/rubrique.php3?id_rubrique=49?lang=en
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
27
vlfr.fr/LOV/ZooPart/ZooScan/rubrique.php3?id_rubrique=49?lang=en), plugin do
equipamento ZooScan (ver: http://www.zooscan.com).
Alm de serem analisadas no ZooScan, 20 subamostras tambm foram
analisadas na lupa para que fosse obtida a composio taxonmica mais
acurada das espcies encontradas no esturio do rio Caravelas, j que esta
ferramenta melhor empregada para este fim do que o ZooScan.
Todas as amostras do zooplncton da presente pesquisa foram
processadas no Instituto Oceanogrfico da Universidade de So Paulo
(IOUSP), no Laboratrio de Sistemas Planctnicos (LAPS).
4.3.1. O Equipamento ZooScan
O zooplncton amostrado foi identificado, em sua maior parte, em nvel
de grandes grupos com auxlio do software ZooProcess juntamente ao
equipamento ZooScan (Figura 4), o qual permitiu uma anlise rpida e de uma
parcela representativa do volume do zooplncton amostrado, alm de ter
fornecido um banco de dados digital, o qual possibilita a recuperao de
informaes (imagens) obtidas nas anlises das amostras (Grosjean at al.,
2004). Este equipamento de processamento de imagens alm de facilitar a
identificao, pode auxiliar tambm nos clculos de contagem e biomassa.
http://www.zooscan.com/
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
28
Figura 4. Equipamento ZooScan, ao lado computador com o software ZooProcess. O ZooScan funciona como um escner de imagens, e foi desenvolvido todo um aparato logstico que permite a introduo de gua sobre sua estrutura (Benfield et al., 2007).
4.3.1.1. Aquisio de Imagens
Aps subamostragem prvia (Omori & Ikeda, 1984), as amostras tiveram
todo seu formaldedo retirado, e os organismos foram ento colocados em
gua destilada. Posta a amostra sobre a clula do ZooScan, o zooplncton foi
manualmente separado (Figura 5), para que o mximo de organismos possvel
estivesse espacialmente independente, procedimento que facilita o
reconhecimento individual dos organismos, principalmente, tratando-se de
amostras ricas em material em suspenso como as coletadas em esturios,
devido ao grande nmero de detritos ou com bastante animais gelatinosos,
que acabam unindo ao seu corpo outros indivduos. A digitalizao da imagem
prtica e rpida, demandando um pouco mais de tempo apenas na
separao manual dos organismos.
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
29
Figura 5. Separao manual do zooplncton sobre a clula do escner.
As imagens resultantes possuem uma resoluo de 2400-dpi, com
tamanho de 17500 x 7000 pixels. Este nvel de qualidade de imagem permite a
retirada de dados morfomtricos capazes de identificar os organismos, que
segundo Grosjean et al.(2004) pode chegar em nveis taxonmicos de famlia,
gnero e at espcie. Devido resoluo atualmente disponvel, indica-se o
uso deste equipamento para pesquisas com organismos do mesozooplncton,
ou seja, de 200 m a 2 mm (Omori & Ikeda, 1984).
Estando a imagem j digitalizada, o seu processamento deu-se atravs
do programa ZooProcess, que executado como um plugin do programa
ImageJ (Image Process and Analysis in Java - http://rsbweb.nih.gov/ij/). Nesta
etapa, os objetos identificados so numerados e as informaes sobre as
caractersticas das imagens (organismos e outras partculas eventualmente
presentes na amostra) so extradas e armazenadas em um arquivo de
extenso .pid, similar a uma planilha do Excel. Cada linha dessa planilha
representa um objeto, e para cada um deles so capturadas 67 variveis, como
medidas lineares principais, rea e contraste (Romagnan, 2006).
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
30
Aps o processamento das imagens, imagens individuais (vinhetas) so
formadas de cada partcula presente na imagem original (completa), de
organismos, fibras, detritos, sedimentos, ou seja, tudo que tenha sido
reconhecido pelo programa e formado uma imagem.
4.3.1.2. Construo da Base de Treinamento
Estando com as imagens processadas, elas so ento extradas para o
programa de identificao semi-automtica de imagens Plankton Identifier
(http://www.obs-vlfr.fr/~gaspari/Plankton_Identifier/index.php). Contudo, como
os algoritmos de aprendizagem necessrios para a formao completa dos
dados no se encontram no Plankton Identifier, estes esto disponveis no
software Tanagra (http://eric.univ-lyon2.fr/~ricco/tanagra/en/tanagra.html), que
precisa ser instalado juntamente com o Plankton Identifier. O Tanagra
utilizado no modo batch ou .bat, que um conjunto de comandos que so
rodados de modo seqencial, utilizado para preparar o sistema operacional
para rodar outros programas.
A base de treinamento (Figuras 6 e 7), trata-se do que o ensinamento
que se d ao software do reconhecimento das vinhetas obtidas na extrao das
imagens, para que ele possa atravs deste aprendizado distinguir um
Calanoida de um Cyclopoida, por exemplo. Portanto, a base de treinamento
escolhida ser aquela que tiver o melhor reconhecimento, e conseqentemente
a menor nvel de erro dos grupos taxonmicos.
Para construo da base de treinamento inicialmente foi feita uma
anlise visual (na lupa e com as imagens geradas no computador) dos txons
zooplanctnicos existentes nas amostras, com o intuito de estabelecer os
grupos a serem utilizados na formao da base. Alguns testes foram
elaborados, com diversas amostras digitalizadas e diferentes organizaes dos
grupos taxonmicos, para que fosse montada uma base de treinamento com
boa preciso de reconhecimento.
Vale salientar que uma boa base de treinamento necessita atender
certos pr-requisitos, como por exemplo: a) conter um nmero considervel de
http://www.obs-vlfr.fr/~gaspari/Plankton_Identifier/index.phphttp://eric.univ-lyon2.fr/~ricco/tanagra/en/tanagra.html
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
31
imagens, que abranja diferentes posies que os organismos possam assumir
ao serem colocados sobre a clula do escner; b) incluir categorias que
considerem partculas que no sejam organismos (p. ex. detritos e fibras), j
que estas se faro presentes nas amostras e que o programa ter de distingui-
las das demais; c) as vinhetas escolhidas tm de ser representativas da
variabilidade total das amostras da pesquisa em questo, abrangendo toda
rea amostral (p.ex. superfcie, meio e fundo), alm de distintos perodos da
coleta (p.ex. inverno e vero).
Figura 6. Exemplo de imagens selecionadas na formao da base de treinamento para a espcie Euterpina acutifrons.
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
32
Figura 7. Exemplo de imagens selecionadas na formao da base de treinamento para o grupo Brachyura.
Feita a anlise visual prvia dos grupos existentes na rea amostrada,
as imagens individuais (vinhetas) so enviadas manualmente, atravs do
cursor do computador, para suas devidas pastas, ou seja, para os grupos
especficos que o pesquisador definiu (Figura 8).
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
33
Figura 8. Montagem da Base de treinamento a partir do programa Plankton Identifier, aps a seleo das imagens (Fonte: Oliveira, 2009).
Para a avaliao da base de treinamento com os grupos escolhidos
utilizou-se um dos recursos do programa Plankton Identifier (conforme
orientao presente no manual do programa) aplicando a anlise de validao
cruzada (cross-validation 4 - RndTree) que, a partir do arquivo da base de
treinamento, avalia a preciso de um a sete algoritmos usando a tcnica de re-
amostragem. As pastas presentes na base de treinamento so fracionadas em
duas partes de mesmo tamanho, onde uma parte usada como a base de
treinamento para a construo do modelo e a outra parte utilizada como
amostra a ser classificada, ou seja, as partes so usadas uma vez como base
e outra como amostra. Os dois resultados das amostras testadas so ento
avaliados para produzir uma estimativa do desempenho do modelo.
O processo de validao cruzada repetido cinco vezes e a mdia de
erro das cinco validaes apresentada na matriz de confuso gerada pelo
programa (Figura 9). Esse resultado apresenta tambm uma anlise para cada
grupo existente na base de treinamento; a coluna Recall representa o nvel de
reconhecimento e a coluna 1-precision a contaminao sofrida em cada pasta
(Figura 10), ou seja, as imagens que o software classificou erroneamente
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
34
(Oliveira, 2009). Segundo Grosjean et al. (2004), as bases de treinamento
detalhadas (compostas por diversos grupos) devem apresentar nvel de
reconhecimento igual ou superior a 75%.
Figura 9. Processo de validao cruzada (repetido cinco vezes) e a mdia de erro das cinco validaes.
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
35
Figura 10. Resultado da anlise para cada grupo existente na base de treinamento. A coluna Recall representa o nvel de reconhecimento e a coluna 1-precision a contaminao sofrida em cada pasta.
A matriz de confuso utilizada como ferramenta no diagnstico da
eficincia de classificao da base de treinamento, pois compara todos os
grupos da classificao manual com os grupos do reconhecimento automtico
(Figura 11). A diagonal (do topo da esquerda para a parte inferior direita)
corresponde as clulas cuja identificao foi correta, ou seja, equivale ao
acerto do programa. Enquanto que, todas as clulas fora da diagonal,
correspondem s contaminaes, representando o erro no processo de
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
36
identificao. A ltima linha e a ltima coluna, equivalem soma dos
organismos identificados automaticamente e ao nmero total de organismos
presentes em cada grupo da base de treinamento, respectivamente.
Figura 11. Matriz de Confuso utilizada como ferramenta no diagnstico da eficincia de classificao da base de treinamento.
4.3.1.3. Anlise Semi-Automtica das Amostras
As anlises semi-automticas foram realizadas com o software Plankton
Identifier, que permite a escolha da base de treinamento desejada e da
amostra a ser analisada (Figura 12). O programa disponibiliza sete diferentes
mtodos para serem aplicados na anlise, e segundo Grosjean et al. (2004), o
Random Forest apresenta melhor eficincia em anlises de organismos
zooplanctnicos. Este mtodo tem como princpio utilizar as caractersticas de
cada partcula da imagem e compar-las de forma randmica para a criao de
uma rvore de classificao (Oliveira, 2009).
O Plankton Identifier permite a escolha das variveis a serem
analisadas. Na presente pesquisa, conforme sugesto de E. Santos Filho1
(comunicao oral), as variveis X, Y, XM, YM, BX, BY e Tag, no
foram selecionadas, pois esto relacionadas com o posicionamento da
1 Esmeraldo dos Santos Filho, Laboratoire dOceanographie de Villefranche, Villefranche Sur Mer,
France.
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
37
partcula analisada em relao ao campo (imagem total da vinheta) que
encontra-se localizada.
Figura 12. Processo de escolha da base de treinamento desejada (select learnig file) e da amostra a ser analisada (select sample file).
O ZooProcess permite a visualizao das imagens processadas
automaticamente. As vinhetas so extradas para cada pasta criada dos grupos
taxonmicos previamente estipulados durante criao da base de treinamento.
Pode-se, ento, ter acesso a todas as vinhetas classificadas de forma
automtica, inclusive, corrigir aquelas que foram classificadas de maneira
incorreta, contudo seu uso opcional, vai dependendo do objetivo de cada
pesquisa.
Alm desta ferramenta, possvel tambm, nesta etapa da anlise,
acrescentar grupos (txons) que por algum motivo no estavam presentes na
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
38
base de treinamento. Txons com poucos indivduos por amostra ou ento que
sejam raros entre todas as amostras, geralmente so excludos das bases de
treinamento, pois se presentes, aumentam os percentuais mdios de erro. O
uso da correo manual permite que os txons menos abundantes e/ou raros
possam ser contabilizados no resultado final, portanto apesar de demandar
mais tempo, o resultado torna-se mais preciso e com um maior nvel de
refinamento taxonmico. Todas as amostras na presente pesquisa passaram
por esta fase de correo manual.
Para finalizar o processo de identificao semi-automtica, solicitado
ao programa ZooProcess que refaa a anlise desse arquivo, gerando duas
colunas de identificao ao final de cada planilha .pid, uma classificada pelo
programa e outra corrigida manualmente. Essa ferramenta possibilita avaliar de
maneira rpida o nvel de acerto e erro do programa e visualizar quais imagens
foram classificadas incorretamente.
4.3.2. Anlise Numrica e Estatstica
4.3.2.1. Frequncia de Ocorrncia (Fo)
A freqncia de ocorrncia foi calculada pela frmula:
Fo = Ta * 100 * TA-1
Onde,
Ta = nmero de amostras que o txon ocorre
TA = total de amostras
Os resultados esto apresentados em percentagem (%). Com a seguinte
escala de interpretao para os resultados de freqncia de ocorrncia: > 70%
muito freqente; 70% l- 40% freqente; 40% l- 10% pouco freqente; < 10%
espordica
4.3.2.2. Abundncia Relativa dos Organismos (Ar)
A abundncia relativa foi calculada pela frmula:
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
39
Ar = N * 100 * Na-1
Onde,
N = densidade total de organismos de cada txon nas amostras
Na = densidade total de organismos nas amostras
Os resultados esto expressos em percentagem (%)
4.3.2.3. Densidade dos Organismos (Do)
A densidade de organismos por unidade de volume foi obtido pela
frmula:
Do = Nt * Vt-1
Onde,
Nt = nmero total de organismos de cada txon nas amostras
Vt = volume total de gua filtrado
Os resultados esto expressos em org.m-3
4.3.2.4. Transporte Instantneo dos Organismos (Ti)
O transporte instantneo dos organismos foi obtido pela frmula:
Ti = Do * Vcm
Onde,
Do = densidade de organismos nas amostras (org.m-3)
Vcm = velocidade mdia da corrente no momento da coleta dos
organismos (m.s-1)
Os resultados esto expressos em org.m-2.s-1. Os dados de
velocidade das correntes foram cedidos pelos Laboratrio de Dinmica
Costeira (LDC) e Laboratrio de Dinmica Ocenica (LaDO) do Instituto
Oceanogrfico da Universidade de So Paulo.
4.3.2.5. Anlise Estatstica
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
40
As anlises estatsticas foram selecionadas seguindo algumas
premissas bsicas. Inicialmente as amostras foram testadas quanto
normalidade, verificando sua distribuio e sua varincia, para tal, foram
aplicados os testes de Kolmogorov-Sminorv e Levene (Zar, 1999). As amostras
que mostraram normalidade, quanto a sua natureza paramtrica, foram
testadas utilizando-se um conjunto de testes paramtricos (Teste t), do
contrrio, foram atribudos testes no paramtricos (Mann-Whitney).
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
41
5. RESULTADOS
5.1. Parmetros Abiticos
Os parmetros ambientais: temperatura (oC) e salinidade (ups) da gua
variaram entre o perodo seco (inverno) e o perodo chuvoso (vero). Os
valores de temperatura registrados no perodo chuvoso foram
significativamente maiores (p=
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
42
25.1 25.2 oC. O maior valor registrado foi de 25.9 oC s 15:30 no estrato fundo
de profundidade, durante a mar de sizgia.
Em relao salinidade, os valores obtidos durante a mar de
quadratura (35.520.93 ups) foram significativamente maiores (p=0.004) do
que os de sizgia (34.970.95 ups). Tambm foi observada diferena entre as
fases de mar, sendo os valores da mar vazante (35.520.78 ups) maiores
(p=0.028) que na mar enchente (34.961.09 ups). Quanto aos estratos de
profundidade, a salinidade no meio (p=0.001) e no fundo (p=
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
43
sizgia (25.20.4 oC). No houve diferena entre as fases de mar enchente e
vazante. Quanto temperatura nos estratos de profundidade, os valores
registrados na superfcie (p=
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil)...
44
Tabela 1. Teste de Mann-Whitney do tipo e fase da mar, e da profundidade sobre a velocidade das correntes (m.s-1), temperatura (oC) e salinidade (ups) no esturio do rio Caravelas (Bahia, Brasil), durante o perodo seco (22 e 28/08/2007) (n=42 amostras) (Siz = sizgia; Qua = quadratura; Enc = enchente; Vaz = vazante; S = superfcie; M = meio; F= fundo; ns = no significativo).
Parmetro Abitico Quadratura x
Sizgia Enchente x Vazante S x M S x F F X M
Velocidade das Correntes Siz > Qua ns ns ns ns
(p= Qua ns M > S F > S ns
(p= Siz) Vaz > Enc M > S F > S ns
p=0.004 (p=0.028) (p=0.001) (p= Qua ns ns ns ns
(p= Siz ns ns S > F M > F
(p= Vaz ns F > S ns
(p=0.009) (p=0.002)
(p=0.006)
-
CABRAL, C.R. Anlise da estrutura e transporte do zooplncton no estur