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    VII CONGRESSO INTERNACIONAL EM CINCIAS DA RELIGIO: A RELIGIO ENTRE O ESPETCULO E A INTIMIDADEPROGRAMADE PS-GRADUAO EM CINCIAS DA RELIGIO, PUC Gois, Goinia, de 08 a 11 de abril de 2014 ISSN 2177-3963

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    Orgs.:ALBERTO DA SILVA MOREIRACAROLINA TELES LEMOSEDUARDO GUSMO DE QUADROSROSNGELA DA SILVA GOMES

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    GT16: BUDISMO E FILOSOFIA NA CONTEMPORANEIDADECoordenadoresDr. Deyve Redyson (DCR-UFPB)[email protected]. Clodomir de Andrade (DECRE/PPCIR)[email protected]

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    BUDA COMO PRECUSSOR DE UMA TICA AMBIENTALRoberto Pereira VerasUFPB ([email protected] )

    ResumoEste trabalho intenta explicitar como os ensinamentos do

    prncipe Siddhartha Gautama, (Buda Shakyamuni) supostamente fundamentaramumapropedutica tica ambiental, sobretudo nos aspectos; alimentares, culturais eutilitaristas compreendidos na atualidade. Para tanto, iremos confrontar algunsensinamentos oriundos da Tripitaka com o pensamento filosfico contemporneo dePeter Singer, em sua obratica Prticade 1979.

    Qual seria o verdadeiro sentido da vida? Essa pergunta metafsica, surge nomundo clssico e tenciona os pensadores que admitem um ponto inicial para edificaoconcreta da origem dos seres vivos. Essa questo muito complexa, e aqui queremossumariamente mostrar como o valor da vida tem profundos significados no mbito ticoe moral da sociedade at os dias atuais. Assim procedendo, iremos compreender que o

    sentido da vida era uma questo discutida a princpio no oriente com os ensinamentos,aqui, especificamente, apresentados no budismo. Por outro lado, partimos por uma

    perspectiva autntica, no qual o filsofo Peter Singer prope um pensamento que podeser vivenciado de maneira explicita cotidianamente.

    As questes ticas ambientais surgem de fato na dcada de 70com o aumentoda populao, bem como as problemticas relacionadas aos atos deliberativos dosagentes morais reflexivos. Os filsofos produziram a partir dessa poca vrios tratados,artigos e antologias discutindo as questes mais subsistentes na atualidade sobre a

    preservao ambiental. Existem quatro peridicos profissionais que desenvolvempesquisas e debatem temas relacionados realidade ambiental constantemente1. Masafinal o que seria a tica ambiental? Poderamos afirmar que esse tipo de tica

    proporciona um alargamento sistemtico acerca das relaes humanas com seu prprioambiente de vivncia. Em outros termos mais especficos, o sujeito atravs daautonomia reflexiva estabelece no somente o bem-estar e os valores morais para o serhumano, mas tambm para a natureza e tudo aquilo que participa efetivamente doconjunto de espcies de plantas, animais e ecossistemas oriundos de sua prprianecessidade de convvio.

    Assim, atravs da reflexo das aes estabelecidas por ele mesmo, o homemprope a preservao, bem como a preocupao da qualidade ambiental das mltiplasformas de vida que o planeta dispe. Com isso, a tica prtica, promove uma

    perspectiva plenamente atuante, uma vez que, no obstante, se faz necessrio tanto a

    parte ideolgica como uma atividade metodolgica para conseguir respostas e aesconcretas na defesa da natureza. Em maior profundidade, porm, a tica ambiental mais radical na tica aplicada (como muitos defendem) fora do setor dos interesseshumanos. (BUNNIN; TSUI-JAMES, 2002, p. 558)

    1Cf. A Sociedade Internacional para tica Ambiental (International Society for EnvironmentalEthics - ISEE) possui 400 membros em 20 pases. Um congresso mundial de filosofia (1998)que dedicou quatro sees filosofia ambiental, com vrios peridicos. O referencial terico naInternet do ISEE com 8 mil artigos referindo-se as questes ambientais. (BUNNIN, TSUI-JAMES, 2002, p. 557-558)

    mailto:[email protected]://pt.wikipedia.org/wiki/Siddhartha_Gautamahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Siddhartha_Gautamahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Siddhartha_Gautamamailto:[email protected]
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    A tica atual, torna-se mais flexvel ao ponto de englobar: pobres, ricos,mulheres, homens e geraes atuais e posteriores. Com isso, podemos perceber queapesar do modelo tico grego clssico tratar de questes do ethos, isto , costumesda vida em conjunto, a problemtica no cotidiano aborda assuntos com os animais,terras e valores atribudos natureza em geral. Isso porque so recursos que sustentam a

    prpria conservao e subsistncia do homem. Os humanos precisam conservar oambiente, no qual est incluso. Na medida em que isso acontece, a qualidade de vidaconsegue ser edificada constantemente.

    O aumento da populao, o aquecimento global e a forte industrializaojuntamente com a tecnologia proporcionam uma ruptura brusca com os elementos danatureza, causando um desequilbrio natural da capacidade de subsistncia harmoniosana terra. Temos como exemplo, os grandes produtores de alimentos industrializados,que atravs de produo em massa de animais no reflexivos conseguem gerar edistribuir lucro juntamente com sofrimento para os seus fornecedores at a mesa de cadacidado. A tica ambiental, nessa viso, baseia-se no que podemos chamar de umdireito humano natureza. (BUNNIN; TSUI-JAMES, 2002, p. 560)

    Dessa forma, podemos caracterizar uma necessidade de que todos os seresvivos possuem o direito de participar de um meio ambiente digno, cuja sua vida estejafidedigna para um bem-estar contnuo. Assim, no somente o ser humano, mas todos osseres vivos precisam de liberdade e interesses ticos ambientais para o auxlio dodesenvolvimento do bem-estar saudvel.

    Os animais no humanos, ou seja, aqueles que no exercem um tipo deraciocnio concatenado lgico-sistemtico ante essas sries de mudanas reflexivaseram tido como subespcies que no tinham direito algum sobre uma boa qualidade devida. Porm, com os altos questionamentos envolvendo mltiplos seres vivos, osanimais tambm adquirem espao nesse contexto tico social, como seres que valorizama vida e os elementos do mundo, no qual se encontra inserido. Um animal valoriza suavida pelo que em si, sem uma referncia adicional, embora claro, habite umecossistema do qual depende a sustentao de sua vida. Os animais so capazes devalores, capazes de valorizar as coisas em seu mundo [...] (BUNNIN; TSUI -JAMES,2002, p. 560) sabido que mesmo os animais no humanos tendem a valorizar seu

    prprio ambiente, uma vez que dele que tiram a comida, bebida e moradia. No habitatnatural, qualquer espcie consegue se reproduzir, assim no gerando a extino.

    Podemos afirmar que os animais possuem valores reais a respeito daconsiderao entre o ambiente e o ecossistema que esto situados. Os filsofos tem

    pensado a natureza por milnios, desde a Grcia at a sia. Eles tm a tica implcita namaneira de verem o mundo, mas no era desenvolvida evidentemente uma tica

    ambiental. Aps o iluminismo, com as revolues cientficas, a natureza e a filosofiaocidental chegaram a ser considerado um reino sem valor, governado por fora causal,apenas por critrios secundrios. (BAKER; RICHARDSON, 1999, p. 409 [nossatraduo])

    A natureza foi se tornando tema de reflexo na medida em que os problemasforam surgindo como aquecimento global, extino de vrias espcies e a escassez dealimentao e gua para algumas regies. Dessa forma, o problema foi sendorepercutido com mais nfase servindo como alerta de conscientizao da populaomundial. A necessidade de alimentar-se cotidianamente com carne foi algo que tambm

    pode ser encarado como problema ambiental. Isso porque notrio que as mesmassubstncias que existem na carne podem ser encontradas em outros alimentos, e assim

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    no precisando matar animais para alimentao. A tica ambiental concedida atravsda relao moral entre humanos e o mundo natural. A tica o princpio que governa edetermina as relaes, os deveres, as obrigaes e responsabilidades que regem omundo natural, ambiental e as plantas (TAYLON, 2011, p.03 [nossa traduo])

    Dessa maneira, o homem na medida em que toma conscincia de si mesmo

    diante do mundo repleto de outras unidades de vida consegue por meio da reflexopartir de um ponto de vista subjetivo para proporcionar benefcios para si e para outro.Por outro lado, os critrios financeiros, bem como os investimentos abusivos natecnologia e na indstria promovem um consumismo exacerbado de produtos oriundosda natureza. Essa prtica comum na atualidade estabelece um desgaste constante dosolo, ar, gua, sobretudo os animais que so reproduzidos em grande escala.

    Uma das alternativas mais interessantes que podemos apresentar aos homens algum tipo de orientao sobre os problemas e as possveis solues que envolvem omeio ambiente, a saber: uma reciclagem e educao sobre a natureza. Assim,conseguimos preparar as novas geraes para uma boa conduta tica e moral das aeshumanas no ecossistema. Segundo Rai e Shama, (2011, p.37 [nossa traduo]) [...] A

    incluso ambiental pode ser uma forma de educao ambiental nos nveis escolares,ainda que um pouco de necessidades inovadoras de abordagens no currculo e suaavaliao.

    As questes sobre o ambiente no somente pode ser tema discutido em aulas epalestras, como est sendo fundamental nos diversos campos de aprendizagem. Ohomem precisa respeitar a natureza, pois sem os elementos bsicos para o exerccio davida, sua existncia ser ceifada instantaneamente por sim mesmo. Doravante,tentaremos laconicamente inserir os debates sobre a tica ambiental numa perspectiva

    budista primitiva e posteriormente o mesmo tema sobre uma tica completamentecontempornea e utilitarista.

    Dessa maneira, iremos prosseguir nossa exposio mostrando que as questessobre o homem e a natureza sempre fora colocadas a partir do mundo clssico oriental,aqui neste trabalho vamos recortar somente a religio budista que por si mesmo,

    bastante abrangente e merece ser legitimamente explicitada. Isso porque, no sculo VIantes de Cristo, o Buda Shakyamuni aparece com seus ensinamentos para uma difusode sabedoria. Nesse sentido, o praticante do budismo, em termos gerais, seria aquelesujeito que estaria em harmonia e perfeita condio mental para no causar sofrimento

    para si e para o outro. O budismo uma religio no-testa, isto , no h um deus quedirige o universo e est configurado numa srie de convenes e ensinamentos baseadosna mensagem de Siddharta Gautama, o Buda que nasceu por volta de 622 a.C em

    Kapilavastu [...] (REDYSON, 2012, p.91) Em outras palavras, o budismo prope umalibertao do estado de conscincia para uma condio de possibilidade de acesso aoNirvana. Podemos exibir o Nirvana literalmente como uma palavra mgica, quesignifica apagare extinguir. um estado de perfeita tranquilidade, onde se chega pormeio da meditao e da sabedoria correta. Esse estado caracterizado por extinguircompletamente as corrupes e desejos mundanos, no qual o homem aprisionado econdenado a sofrer. Aqueles que conseguem atingir esse estado so chamados de Budas.O prncipe Siddhartha Gautama, conseguiu chegar ao estado de iluminao com 35 anosde idade. Mas, acredita-se que ele tenha atingido o estado do Nirvanasomente aps amorte fsica, isso porque mesmo com a mente focada na pura meditao ainda existem

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    resqucios de humanizao atravs do corpo fsico. Mas afinal o que Buda? Qual seufundamento e porque ele se apresenta nesse mundo?

    Raramente, um Buda aparece no mundo. Quando isso aconteceele atinge a Iluminao, ministra o Dharma, rompe as malhas da

    dvida, elimina, em sua raiz, os engodos dos desejos, obstrui afonte do mal; e, completamente livre, caminha vontade nestemundo. Nada h de mais grandioso do que reverenciar Buda.Buda surge neste mundo de sofrimento, porque Ele no podeabandonar os homens que sofrem; Seu nico propsito disseminar entre eles o Dharma e protege-los com sua Verdade.(KYKAI, 1998, p. 29)

    Buda, amigo de todos os seres nesse mundo. Isso porque, no budismo existeuma ligao interpessoal para que todos tenham uma vida sem sofrimentos. Podemosafirmar que, a figura de Buda no material, uma vez que esse termo surge para aquele

    que consegue uma elevao da mente por meio da meditao. Assim, o estado bdico perfeitamente conhecido por no abandonar a verdade e a perfeita paz interior. Oshomens que seguem as leis do Dharma, esto propriamente seguindo Buda, noobstante, encontraro o caminho para sanar o sofrimento de si e do outro.

    Nesse sentido, a busca da verdade uma condiosine qua nonna caminhadardua para o praticante do budismo. A relao entre conscincia desagregando-se domundo, proporciona uma real possibilidade de extinguir o sofrimento que inerente navida de todos os seres. Para que essa atividade meditativa seja feita, preciso termosconhecimento de como feito, bem como foi proposto por Buda, em suas prprias

    palavras para um melhor esclarecimento do caminho a seguir.ODharma a palavras de Buda. o meio, no qual o praticante do budismo se

    relaciona com os escritos antigos que versam sobre os principais elementos bdicos queo prncipe Siddhartha Gautama proferiu em sua caminhada at a iluminao. Em termosmais originais, conseguimos definir o Dharma como uma forma primordial tica doscaminhos budistas. A trs tipos de cnones que so mencionados no budismo, so eles:Sutras (o principal Dharma ensinado pelo Buda), os Vinayas (que descrevem adisciplina dos monges), eAbhidharmas(so comentrios e discusses sobre os Sutras eos Vinayas discutidos e comentados pelos sbios de pocas posteriores). Assim, essestrs cnones constituem aquilo que podemos chamar de Tripitaka. Dharma uma dasTrs joias do budismo. (KYKAI, 1998 [grifo nosso]).

    Dessa forma, o budismo apresenta as Quatro Nobres Verdadespara o caminho

    meditativo correto, no qual possvel alcanar paz interior e ausncia de sofrimento. ATripitakamostra que a verdade possvel de ser compreendida, na medida em que seacredita em verdades que o prprio Buda apresentou. O caminho dasNobres VerdadeseoNobre Caminho ctuplo. O primeiro caminho de Nobres Verdades, trata da condioque o homem se insere no mbito das Quatro Verdades absolutas que o Buda proferiu.

    Aqueles que buscam a Iluminao devem entender as QuatroNobres Verdades. Se no as entender, perambularointerminavelmente no desconcertante labirinto das iluses davida. Todos aqueles que conhecem as Quatro Nobres Verdadesso chamados de pessoas que adquiriram os olhos da

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    Iluminao. Por essa razo, aqueles que quiserem seguir osensinamentos de Buda devero concentrar suas mentes nestasQuatro Nobres Verdades e procurar entend-las claramente. Emtodas as pocas, um santo, se verdadeiramente um santo, aquele que as conhece e as ensina aos outros. Quando um

    homem conhece claramente as Quatro Nobres Verdades, oNobre Caminho afastar de toda cobia. Uma vez livre dacobia, ele no lutar com o mundo, no matar, no roubar,no cometer adultrio, no trapacear, no abusar, noinvejar, no irritar, no se esquecer da transitoriedade da vidanem ser injusto. Seguir o Nobre Caminho como entrar numquarto escuro com uma luz na mo: a escurido se dissipar e oquarto se encher de luz. Aqueles que compreendem osignificado das Nobres Verdades, que aprenderam a percorrer o

    Nobre Caminho, esto de posse da luz da sabedoria quedissipar e o quarto se encher de luz. (KYKAI, 1998, p. 39 -

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    A primeira nobre verdade que existe o sofrimento (dukkha). Em termos maisespecficos, podemos afirmar que no budismo, o primeiro fator que deve serconsiderado que o mundo sofrimento. Para que isso possa ser revertido, devemos

    praticar outro caminho, isto , buscar as nobres verdades que auxiliam o homem prtica de outras atividades que no prejudiquem a si, e ao outro. Segundo opensamento de Dalai Lama (2010, p.37 apud REDYSON, 2012, p. 107) A primeiranobre verdade a verdade do sofrimento, o fato de que nossa felicidade estaconstantemente acabando. Tudo que ns temos est sujeito impermanncia. Nadadentro do que comumente acreditamos ser real permanente. Tudo que temos apego,ira e ignorncia geram algum tipo de sofrimento.

    A segunda nobre verdade de como entender o sofrimento (samudaya). Emoutras palavras, o desejo a origem de todo o sofrimento, e por isso devemoscompreender e buscar outro caminho. Nesse sentido, devemos aceitar o sofrimentointrnseco ao mundo. Dessa forma, precisamos aceitar as condies em que vivemos eabraar o sofrimento, uma vez que tentaremos posteriormente reagir contra o mesmoconstantemente. A Segunda Nobre Verdade, diz-nos que existe uma origem para osofrimento e que essa origem se encontra nos trs tipos de desejo: o desejo de prazeressensoriais (kama tanha), o desejo de ser (bhava tanha) e o desejo de no ser (vibhavatanha). Esta uma declarao sobre a Segunda Nobre Verdade, ou seja, o que

    podemos afirmar que a origem do sofrimento se encontra no apego aos desejos e ascoisas materiais, o de ser e no ser. (SUMEDHO, 2007, p.28-29)Esse primeiro tipo de desejo notvel de ser percebido em simples atos do

    cotidiano, na medida em que como uma fruta ou bebo algum tipo de bebida que sejaagradvel ao paladar, pode na maioria das vezes despertarmos um desejo de mais um

    pouco. um desejo que j no mais tem objetivo de satisfazer a fome, algo mais, isto umaKama Tanha, que corresponde ao desejo do querer. A segunda forma de desejo, voltada para as questes que envolvem o querer humano de ser alguma coisa. Isto ,quando temos o desejo de abandonar o mundo e tentarmos seguir outro caminho demeditao, nesse caso, so as aspiraes ambiciosas que no podem mais surgir. Isso um Bhava Tanha! A Vinhava Tanha constituda de uma realidade na vida espiritual

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    daquele que a conhece, isso porque, o homem que pratica essa verdade pode se libertare aniquilar as contaminaes da mente, e assim livrando-se dos desejos inconvenientes emaus vibraes que originam dor e sofrimento. Podemos afirmar que convm ter emmente que estas trs categorias de kama tanha, bhava tanha e vibhava tanha, elas soapenas convenientes mtodos para contemplarmos o desejo daquilo que podemos

    escolher. Elas no so formas de desejo totalmente diferentes, mas sim em diferentesaspectos do mesmo. (SUMEDHO, 2007, p.30)A terceira Nobre verdade o desaparecimento do sofrimento (Nirodha). Sua

    forma inicial busca contemplar um horizonte de negao dos desejos. Primeiramente,conseguimos identificar que existem desejos, em seguida percebemos o apego aosdesejos que geram sofrimento, e por ltimo reconhecemos que conseguimos se libertare expulsar todos os tipos de desejos que so oriundos da mente humana por meio dameditao. Por isso essa revelao alcanada somente pela mentalidade. A nobreverdade acerca da cesso do sofrimento. (dukkha-nirodham ariya-sacam) Justamente acompleta impassividade , e a cessao dessa sede, a renncia a ela e seu abandono, alibertao e a independncia dela. (REDYSON, 2012, p.108)

    A quarta Nobre verdade do caminho que conduz a cessao do sofrimento(Magga). Aqui podemos afirmar que existe uma forma de sair do sofrimento por meioda prtica do Caminho ctuplo(atthangika magga)que surge como sada do sofrer.Esse caminho foi o qual Buddha deixou para que aquele que tivesse rigor e disciplinatanto na vida prtica como na meditao pudesse conseguir o estgio de tranquilidadeda alma, bem como a cessao do sofrimento, em que qualquer pessoa poder seadaptar. [...] Justamente este nobre Caminho ctuplo, a saber: viso correta, propsito(ou inteno) correto, fala correta, ao correta, meio de vida correto, esforo correto,

    plena meta-ao correta e concentrao correta. (REDYSON, 2012, p. 108)

    No Nobre Caminho ctuplo, podemos apresentar o caminho mais reto a serseguido. Isso porque, esse caminho est ligado diretamente com a Quarta NobreVerdade que, no obstante, a abertura para a libertao do sofrimento. Os oitocaminhos surgem de uma s verdade que apresentada em trs grupos, a saber:sabedoria, moralidade e mentalidade. Segundo Redyson, em sua obra Schopenhauer e o

    Budismo (2012, p. 109-110) conseguimos identificar os caminhos tripartites esubdivididos em oito categorias, so eles:

    1)Viso correta (adhipann-sikkha)ver a realidade como ela ,no apenas como parece ser, isto , entender as quatro nobresverdades;

    2)Propsito correto (samm-sankappa)propsito de abnegao,de rencia a liberdade e a inocuidade, no ter m vontade e estarlivre da crueldade; sila (adhisila-sikkha) a moralidadesuperior, a absteno de atos novios;

    3)Fala correta (samm-vc) Absteno da fala mentirosa epreservao da fala no ofensiva, abandono da calnia;

    4)Ao correta (samm- kammanta) agir de maneira noprejudicial, absteno de agredir ser vivo, roubar e m condutasexual;

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    5)Meio de vida (samm-jiva)obter a subsitncia por meio queno sejam prejudiciais aos seres vivos; samadhi (adhicitta-sikkha)mentalidade superior, meditao;

    6)Esforo correto (samm-vyma)evitar maus estados mentaise super-los, fazer esforo sempre para melhorar;

    7)Plena mentao correta (samm-sati)contemplao do corpo,sentimento, mente e objetos mentais;8)Concentrao correta (samm-samdhi)concentrao sob um

    nico objeto de maneira a induzir a certos estados especiais deconscincia em meditao aprofundada.

    A Viso correta, inicia a forma pela qual Buddha apresentou o caminho corretoa ser seguido. Ela base das verdades, pois atravs da viso que podemos abranger eassimilar tudo que est diante de nossos olhos. A viso responsvel pela compreensodas Quatro nobres verdades. uma maneira de meditao vinculada prpriahumanidade, que, por sua vez estabelece uma auto reflexo de quem somos e como

    somos na existncia.O Propsito correto, mostra uma forma de liberdade e desapego as coisas que

    no fazem bem para si e para outros. Em outras palavras, a forma pela qualconseguimos o desprendimento das unidades pormenores que causam problemasrelativos a convergncias dos mltiplos pensamentos que a mentalidade humana podedirecionar. Esses pensamentos nocivos podem se tornar atos desastrosos que nofavorecem o caminho do homem para a iluminao.

    A Fala correta a condio bsica de comunicao com os outros. Atravs dacontemplao da verdade possvel subtrair os vcios que a m linguagem proporciona

    para o homem. Essa verdade est ligada diretamente com o Entendimento correto e aviso correta. Nesse sentido, comeamos a entender que devemos ter cuidado nascoisas que falamos e nas mentiras, que por mais que sejam pequenas elas podem

    prejudicar algum.A Ao correta uma forma, pela qual o sujeito no prejudique a vida do

    outro ser vivo. Isto , a no perturbao de outro. Geralmente os praticantes do budismoesto preocupados com a conduta tica e moral de no prejudicar ningum. Essa forma sugerida para todos os seres vivos, como insetos, plantas e animais no humanos. Oadultrio sexual, no uma forma correta de agir, pois far o sofrimento docompanheiro (a).

    O meio de vida aqui para o nosso trabalho muito importante assim como oltimo caminho mencionado, pois sobre no prejudicar os seres vivos para poder

    subsistir. Em outras palavras, no budismo no correto matar um animal para se fazeruso de seu corpo em favor da alimentao. Nesse aspecto, podemos determinar umgrande fator que iremos destacar mais adiante que ser o fio condutor de nossasinvestigaes acerca do pensamento budista com a atual tica ambiental.

    O esforo correto notadamente fundamental para a sustentao da busca pelareta do agir. Ela necessria no sentido de expor uma parte mais interna, isto , mental.A concentrao parte dessas trs ltimas formas que servem para o caminho daverdade segundo os elementos bdicos.

    A plena meditao correta, traz a lume um ponto arquimediano em relao aohomem enquanto conscincia, isso porque, na medida em que a meditao estacontecendo mente e o corpo se transformam em uma estrutura homognea sem que

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    perceba-se qualquer alterao das estruturas fsicas. Apenas a fora da mente capaz dedesprender a realidade emprica dos efeitos subjetivos da mente.

    Por fim, a concentrao correta o fundamento mximo na concatenao deum indivduo que pretende seguir as aberturas do Buddha. Uma vez que a forma demeditao est sendo praticada corretamente, o sujeito consegue imergir na

    concentrao pura daquele estado de conscincia plena. No ser fcil atingir esses oitoestgios, porm no necessariamente precisa ser somente em uma nica vida.

    Neste ctuplo Caminho os oito elementos so como oito pernasa suportar-te. No como: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 numa escalalinear; mais como, um trabalho em grupo. No que primeirodesenvolvaspaa e s depois, quando tenspaa, desenvolvaso teu sila; e uma vez que o teu sila esteja desenvolvido, aiadquires osamadhi. assim que pensamos, no ? 'Tens de terum, depois dois e depois trs.' Como realizao propriamentedita, desenvolver o ctuplo Caminho uma experincia num

    momento. Todas as partes esto a trabalhar como um fortedesenvolvimento; no um processo linear, podemos pensar queassim porque s podemos ter um pensamento de cada vez.Tudo o que disse acerca do ctuplo Caminho e das Quatro

    Nobres Verdades somente uma reflexo. O que verdadeiramente importante que tu percebas mesmo o queestou a fazer quando reflicto em vez de te apegares s coisas queestou a dizer. um processo de trazer o ctuplo Caminho tuamente, usando-o como ensinamento reflectivo para que possasconsiderar o que realmente significa. No penses que ocompreendes somente porque sabes explicar, 'Samma ditthisignifica Entendimento Correcto. Samma sankappa significaPensamento Correcto.' Isto entendimento intelectual. Algum

    pode dizer, 'No, eu penso quesamma sankappa significa...' e turespondes, 'No, no livro diz Pensamento Correcto. Tu estserrado.' Isso no reflexo. (SUMEDHO, 2007, p.60-61)

    Para todos os efeitos, o budismo proporciona essa abertura de que a vida no seresume somente nessa atual, pois devemos saber que no budismo temos outrasoportunidades para fazer o caminho certo para a iluminao. Todos esses ensinamentose caminhos que percorremos de forma bastante abrangente, surgem na tica budista

    como a verdades que Buddha percorreu, assim podemos ter uma noo maior dadisciplina que necessria para atingir a iluminao.

    Neste terceiro momento, iremos centralizar nossa problemtica que foi lanadaanteriormente com a seguinte questo: A preocupao com os seres sencientes j notadamente apresentado nos elementos bdicos? A relao entre esse problema resgatado na contemporaneidade? Como o homem percebe que a relao com a vida

    pode ser mais proveitosa? A vida tem sentido nos dias atuais??Essas questes so apresentadas no decorrer de nossa existncia, e so

    precisamente indagaes que sero confrontadas para uma melhor compreenso do temaproposto. Isso porque na contemporaneidade a filosofia prtica de Peter Singer (1946)

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    apresenta uma srie de discusses acerca do valor da vida em geral. Para ele, oposicionamento do homem destrudo a natureza, isto , os seres sencientes estocausando danos irreversveis para a humanidade, bem como para o ecossistema. Aforma pela qual o homem subtrai da natureza seus alimentos est cotidianamentedestruindo a fundamentao tica e moral das sociedades, racionais ou no.

    Sabemos que as questes que envolvem o homem e os animais no racionaiscontinuam sendo polmicas, e que pouco avano ocorreu durante a histria dahumanidade. Dessa forma, Peter Singer em sua obra tica Prtica de 1979 apresentauma compilao de artigos que o filsofo australiano apresentou durante grande parte desuas conferncias. Uma de suas teorias bsicas para o entendimento de seu pensamento o princpio de igual considerao de interesses. Em outras palavras, podemosafirmar que por meio desse princpio conseguimos entender as mltiplas diversidades eigualdades que os casos de tica prtica podem se deparar no decorrer da vida. Aessncia do princpio da igual considerao significa que, nossas deliberaes morais,atribumos o mesmo peso aos interesses semelhantes de todos os que so atingidos pornossos atos. (SINGER, 2002, p.30)

    Esse princpio funciona como uma balana que pensa necessariamente nosinteresses. Assim, podemos converter esses tipos de interesses no maior nmero de

    pessoas possveis, sem que ocorra nenhuma complicao tica para o grupo. A grandedificuldade da tica prtica a pluralidade de casos em que os resultados podem serdiferentes, porm a prioridade pelo igualitarismo sempre presente. Podemos ilustrar osacidentados de um tsunami em que Asofreu pequenos ferimentos e Best com a pernaesmagada. Somente est disponvel duas doses de morfina para o alvio da dor. Segundoo princpio de Igual considerao de interesses, necessrio aplicar as duas doses demorfina em A pois os resultados iriam ficar mais igualitrios pois Airia sentir a mesmador deB, e assim atravs da balana esse caso seria resolvido.

    O princpio diz, ento, que a razo moral fundamental para oalvio da dor simplesmente a indesejabilidade da dor enquantotal, e no a indesejabilidade da dor de X, que pode ser diferenteda indesejabilidade da dor de Y. claro que a dor de X poderiaser mais indesejvel que a dor de Y, pelo fato de ser mais forte,e ento o princpio de igual considerao atribuda um pesomaior ao alvio da dor de X. De novo, onde as dores so iguais,outros fatores podem ser relevantes, sobretudo se outros foremafetados. Se houvesse um terremoto, talvez dssemos prioridadeao alvio da dor de um mdico, de modo que ele pudesse cuidar

    de outras vtimas. Mas, em si, a dor do mdico s conta umavez, e sem ter um peso maior. O princpio de igual consideraode igual considerao de interesses atua como uma balana,

    pesando imparcialmente os interesses. As verdadeiras balanasfavorecem o lado em que o interesse mais forte, ou em quevrios interesses se combinam para exceder em peso um menornmero de interesses semelhantes; mas no levam emconsiderao quais interesses esto pensando. (SINGER, 1994,30-31)

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    Assim, podemos afirmar que esse princpio fundamental para a compreensodo captulo que Peter Singer destina para a igualdade dos animais. Esse princpio temcomo objetivo o benefcio para o maior numero de seres possveis. Essa tese singeriana a condio necessria para que todos os seres vivos sencientes almejem um bem-estar.Como possvel um autor tentar tratar da igualdade entre os animais, se o mesmo no

    ocorre entre os seres humanos?Essa pergunta fundamental para exprimirmos o pensamento acerca do bem-estar animal. Isso porque todos os seres vivos esto interessados em no sofrer dor. Paraos especistas, somente pelo fato de serem humanos, eles afirmam que a vida do homem mais significativa do que os animais no racionais. Eles caracterizam que a dor dohomem muito mais forte dolorosa do que um porco ou rato. [...] as comparaes dosofrimento entre membros de espcies diferentes no podem ser feitas com exatido; aesse respeito, tambm no se pode ser feita com exatido qualquer comparao entre osofrimento de diferentes seres humanos. (SINGER, 1994, p. 71) O sofrimento algoque nenhum ser quer possuir, inegavelmente algo que ocorre sem o desejo de outrem,

    por outro lado, incabvel sabermos o valor da vida. Nem mesmo os seres humanos

    dotados de racionalidade estabelecem essa linha, que para muitos no existe. Portanto,a vida deveria ser mais preservada independentemente de que espcie seja. A vidaanimal no racional sempre mais desfavorecida, uma vez que as defesas especistasassumem um papel de superioridade diante do todo.

    Com isso, a vida animal teria algum sentido? A carne animal e luxo ounecessidade? Eles so importantes por si mesmo?

    Sabemos que a grande maioria da populao que vive nas sociedades hodiernase urbanizadas, tem como principal meio de contato com os animais na hora dasrefeies. A utilizao de animais na refeio uma prtica antiga, mas sabemos queisso no mais necessrio hoje. Isso porque, atualmente os cidados da sociedade no

    precisam mais dos nutrientes que esto contidos na carne e que os mdicos admitemuma problemtica na sade a respeito do consumo da carne.

    A criao de animais com a utilizao de gros no so prejudiciais a sade, eque em vrios alimentos consegue-se provar cientificamente a no necessidade daalimentao animal. Portanto, A sua carne um luxo, e s consumida porque as

    pessoas apreciam-lhe o sabor. (SINGER, 1994, p.73)Segundo Peter Singer, o princpio de igual considerao de interesses afirma

    que no correto o sacrifcio de seres menores em benefcio de seres maiores. A vida nica, todos precisam de bem-estar. A alimentao do homem feita ao puro prazer dogosto da carne. Essas afirmaes esto consolidadas aos animais que so produzidosabruptamente sob uma formao plenamente industrializada, no qual o benefcio

    lucrativo e prioritrio ante as mltiplas vidas que so extinguidas a cada dia.

    CONCLUSO

    Nesse artigo, conseguimos apresentar de maneira sinttica as questes queenvolvem o mundo clssico oriental e o contemporneo. Primeiramente, conseguimosnortear o problema ambiental que surge nos dias atuais que preocupa todas as pessoasno contexto mundial. A falta de conscientizao da maioria da populao faz com que anatureza sofra grandes impactos e, consequentemente ns mesmos estamos inseridos econtribuindo com a destruio dos seres no humanos, bem como nosso prprio habitatnatural.

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    A partir dessa premissa, conseguimos concatenar e detectar a ideia de ticaambiental presente nos elementos bdicos. Isso porque atravs dos grandesensinamentos de Buddha a relao entre Os caminhos para as Nobres Verdades, bemcomo os ctuplos caminhos designam uma propedutica que feita corretamente preservaa natureza e todos os seres vivos existentes.

    Nesse sentido, essas mesmas questes utilitaristas da atualidade esto emevidncia no cenrio problemtico em que vivemos, surge tambm no budismo. Arelao entre homem e natureza um problema que podero durar vrias geraes. Isso

    porque o homem enquanto ser dotado de racionalidade conseguiu sobressair-se ante osoutros seres e assim ele consegue dominar a natureza. Essa prtica comea a serindustrializada e consequentemente capitalista. Nesse mbito, a produo animal no

    parece ter sofrimento algum. Os animais so tratados de maneira avassaladora, pois avida desses animais, segundo a classe especistas no tem valor algum. A alimentao decarne para os cientistas no mais necessria, pois o homem desenvolveu protenasnecessrias para o abandono deste consumo. A produo em massa de aves e bois estdescontrolada e vrios tipos de hormnios aparecem nesses alimentos. Ser que a

    prtica vegetariana seria uma soluo? At onde a prtica do sofrimento a favor de umaluxuria vai ser permitida?

    Em suma, aqui nessa pesquisa desenvolvemos uma considerao acerca dopensamento budista em relao ao no sofrimento e a possvel tentativa de no obtersustentao alimentar sob a vida de outro ser. Isso possvel, na medida em que osefeitos do mercantilismo no mais sobressaem diante da vida de um ser quenecessariamente precisa de um bem-estar. Esse tipo de paz interior est muito distantede surgir, pois as grandes indstrias e o prprio homem no se sensibilizam para uma

    boa conservao do prprio planeta. Para tanto, seria interessante se conscientizar econhecer um pouco da cultura oriental, sobretudo os aspectos budistas que

    proporcionam uma tica bastante respeitosa para os seres vivos.O homem, no mbito geral, est preocupado em problemas financeiros ou

    questes pouco importantes para seu futuro. A tica ambiental surge como mecanismode reflexo para as aes humanas visando tanto o bem-estar da sociedade quanto o nosofrimento dos animais no racionais. A perspectiva da vida precisa ser respeitada seisso for de contra partidapodemos est destruindo as futuras geraes.

    REFERNCIAS

    BAKER, E; RICHARDSON, M. Ethics and the Environment. Ethics Applied, NewYork, Edition 2, 407-437, 1999.

    BUNNIN, N; TSUI-JAMES, E. Compndio de Filosofia. Traduo de Luiz PauloRouanet, So Paulo: Loyola, 2002.KYKAI, B. A doutrina de Buda. So Paulo: RR donnelley, 1998.RAI, A; SHARMA, R. Environmental Ethics Education: A Necessity to initiateEnvironment Oriented Action. SPIJE, New Delhi, Vol 1, 33-37, January 2011.REDYSON, D. Schopenhauer e o budismo: a impermanncia, a insatisfatoriedade e asubstancialidade da existncia. Joo Pessoa: Editora Universitria, 2012.SINGER, P. tica Prtica. Traduo de Jefferson Luiz Camargo. So Paulo: MartinsFontes, 1994.

    ______. tica Prtica. Traduo de Jefferson Luiz Camargo. So Paulo: MartinsFontes, 2002.

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    SUMEDHO, A. As quatro nobres verdades. Traduo de Kncano Bhikkhu.Inglaterra: Amaravati, 2007.TAYLON, P. Respect for Nature: a theory of environmental ethics. Princeton:University Press, 2011.

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    BUDISMO EM WAGNER: O PRLOGO DE O ANEL DO NIBELUNGO E OSOFRIMENTO HUMANOAlexandre Freitas Ceistutis ([email protected] )

    Resumo

    Algumas poucas dissertaes apontam a relao Wagner/Religio, em uma profundainfluncia da religio budista: Urs App, Richard Wagner and Buddhism, afirmandoser Wagner o primeiro de foco propriamente oriental em suas Operas; Bryan Magge em"The Tristan Chord: Wagner and Philosophy procura analisar as influnciasfilosficas, apontando e dando pistas sobre os enfoques pessimistas e orientais na obrade Wagner; Carl Suneson, em sua magistral Richard Wagner und die indischeGeisteswelt desvenda as origens, buscando em meio a dirios autobiogrficos , doautor, o que envolvia a vida do autor e sua relao com o Budismo; Deryck Cookedesmembra os mitos nrdicos se deparando com vertentes bem tpicas de religiesorientais. A comunicao se atm ao foco de estudo a um recorte temporal e espacial detal universo, restrito, pois, a primeira parte de nome O Ouro do Reno, de 1848, e

    ainda de anlise e investigao minuciosa apenas do prlogo, chave encadeadora dasdemais cenas, possuindo elementos budistas de relevncia. A presente comunicao

    pretende abordar: Que caractersticas do budismo, ou ao menos a leitura que Richard

    Wagner fizera sobre este, aparecem ao longo do Prlogo do Anel doNibelungo;

    Como essas caractersticas apareceriam em uma mdia de propagaomundial desde o sculo XIX e, na msica, que influenciaria o mundo noSc. XX, tanto em aspecto cnico-musical, quanto socialmente.

    APRESENTAOCom esta frase emblemtica tornei-me budista sem querer2, um dos maiorescompositores da msica romntica do sec. XIX, Richard Wagner, deixa para a

    posterioridade traos e marcas de uma profunda influncia para sua vida e tambm emsuas obras. Este momento muito especial, meados de 1859, alm de uma fase de crisefinanceira, o que mudaria ao menos os rumos de escrita de suas Operas e viso poltica,ainda daria gnese de uma de suas maiores obras a Tetralogia de o Anel dos

    Nibelungos.A partir da, dessa fase conturbada da vida do compositor, vrias foram s

    influncias de escritos e pensamentos voltados a uma moral e credo religioso, em maiorparte e concentrao ainda ao orientalismo, com defesa de pontos de vista que o

    ligariam ao budismo. Autores como Nietzsche e Schopenhauer, alm de manuscritostraduzidos fariam parte do cotidiano deste autor, o que daria uma imerso numuniverso totalmente novo, musicalmente falando.

    Vrios so os escritos sobre Richard Wagner, mas a maioria de dissertaes eteses sobre ele e sua obra cercam o entorno musical, nuances particulares de umaconstruo mais mtrica, comparaes literrias, ou de que maneira o autor lidaria com

    2

    SUNESON, 1989, p. 36.

    mailto:[email protected]:[email protected]
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    os textos originais, as lendas e mitos nrdicos, alterando-os para a construo doAnel, sem se ater muito sobre o foco religio.3

    Como vimos nenhum deles dita ou menciona especificamente partes ecaractersticas de quais maneiras o universo musical criado por Wagner no Anel seassemelha com o budismo, sendo a maioria da informao mais genrica, ou seja, quais

    escritos budistas e em quais pocas Wagner os lera ou mencionara o pessimismofilosfico do sc. XIX, que bebera em tal fonte.Para a cincia da religio, que ao longo das ltimas dcadas vem se

    aproximando cada vez mais em tentar entender seus objetos alm dos textos sagrados enoes experimentais sociais, busca incluir em sua pesquisa expresses humanas atento no consideradas relevantes, como a relao do binmio msica/religio4.

    A esttica e a sociologia da religio desta forma vm tentando quebrar essestabus, diz-se isso, pois, h pouco interesse em se demonstrar o quanto a msica, eescritos opersticos so mais do que uma expresso artstica, mas sim grande foco deintencionalidade religiosa. A busca por se entender smbolos, de composio social emtorno da msica vem crescendo constantemente como uma disciplina mais autnoma e

    interdependente, podendo assim entender este vasto caminho que a mdia vem tomandoa cada dia.

    Acredita-se que uma das primeiras formas de um indivduo iniciar o processo desocializao, mesmo ainda em famlia seja por palavras arcaicas, sonidos querepresentam um estado de ser, de estar e de querer de cada um de ns. Esses sonidosmais lembram msica e, acredita-se tambm que esta Arte seja uma das primeirasformas de aprender, de focar e se mirar em uma sociedade, proporcionando at uma boaconstruo em personalidade5.

    Nesse entendimento lgico, a msica, o mito e a sociedade formariam umatrade indissocivel. Diria Lvi-Strauss, que com o passar do tempo mito transformar-se-ia em sinnimo de mentira, com a crescente de uma pensamento tipicamente eexclusivamente cientfico negatrio, mas de que uma nica vertente traria para si aresponsabilidade de manter a gnese de nossas histrias: a Msica6.

    Por si s, a anlise ento de um texto narrativo como oprlogo do Anel e suainvestigao mais apurada, de quais maneiras o budismo aparece neste, j seria uma boagarantia de estudo ao campo das Cincias da Religio.

    Grande autor de temas mticos, Richard Wagner ainda considerado parte destadinastia de autores non gratos, quer seja por sua inconsistncia musicalmenteincompreendida no sculo XIX ou ainda pela ligao,post mortemdo mesmo como umdos cones da poltica nazista.

    Sua msica, independentemente das cismas da academia criaria um vis

    normativo explcito e intencional (para muitos a msica de Wagner renderia a gruposuma linguagem de determinar ao e modos de agir), aos poucos se tornando umarealidade do fim do Sculo XIX, com maior margem ao incio do XX, mais do quesimplesmente um compositor erudito, um referencial em escrita musical e um visionriode uma nova forma de pensar esta arte.

    3 Nota do autor: em consulta do dia 4/3/2014, como palavra-chave Richard Wagner, socomputadas apenas uma tese e trs dissertaes com temas correlatos no sitehttp://bancodeteses.capes.gov.br/.4HOCK, 2002, p. 191.

    5BERNSTEIN, Leonard. 1976.6

    LEVI-STRAUSS, 2007, pp. 43-44.

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    Buscando em antigas lendas nrdicas, celtas, linguagem minuciosa de nuancesoriental, como temas hindus e budistas, Wagner criaria uma bricolagem7 de temas,reflexo da sociedade europeia, como uma sntese de povos, para alinhavar suas obras. Amaior e mais titnica seria O Anel dos Nibelungos, pera divida em quatro partes,que evidencia esses temas e, que moldaria formas de pensar e agir em uma sociedade

    nascente do sculo XX.A obra o Anel dos Nibelungos, principal e notria construtiva de RichardWagner, desde seu libreto at a construo cnica primordial, fora um megaprojeto,iniciado em meados dos anos de 1848 e, encerrado em 1874, portanto 26 anos da vidadele foram ligados a esta obra.

    A obra est inserida em um panorama social sem precedentes, em que o autoralm de ter acesso a textos diversos vindos de todas as partes do mundo, graas aascendente ideia de tericos interessados na religio oriental, como Max Mller, detraduzir os originais. 1848 a 1874 marcariam profundas transformaes na Europa e nomundo: a escrita de Manifesto do Partido comunista; processo de libertao decolnias nas Amricas e a Primavera dos Povos.

    uma Gran-pera, isto , Opera composta por quatro partes interligadas poruma mesma histria, que determinada com o prlogo e que se estende at os ltimosacordes, com diversas nuancem. Entretanto, ele no se dedicou exclusivamente a issodurante esse perodo. As peras que compem o ciclo do anel so em ordemcronolgica do enredo:Das Rheingold (O Ouro do Reno), Die Walkre (A Valquria),Siegfried e Gtterdmmerung (O Crepsculo dos Deuses). Apesar de elas seremapresentadas como obras individuais, a inteno de Wagner era apresent-las em srie.

    A primeira apresentao de todo o ciclo aconteceu emBayreuth,13 deagostode1876.Das Rheingoldj havia estreado em Munique em 1869, a contragostodo autor.8

    O presente projeto se atm ao foco de estudo a um recorte temporal e espacial detal universo, restrito, pois, a primeira parte de nome O Ouro do Reno, de 1848, eainda de anlise e investigao minuciosa apenas do prlogo, chave encadeadora dasdemais cenas.

    O prlogo se comporta como chave para o entendimento central para aTetralogia do Anel e, possui por si s diversos elementos de nuances budistas derelevncia, para se poder comparar a obra a esta religio.

    A grande Opera Anel dos Nibelungos, projeto este que levaria dcadas a sercompletado, seria um trabalho influenciado tanto pela viso pessoal do autor, quanto deum panorama mais complexo, de relao com contexto social da Europa do sc. XIX.

    Para tal, analisar o contedo simblico ou mesmo filosfico que cerca a obra, em

    busca das notaes da religio oriental (o budismo) nos faz refletir um pouco a respeitode quais parmetros contribuiriam para a escrita desta obra.Como a msica de Wagner e a linguagem religiosa oriental budista se

    relacionam? Que elementos desta religio seriam apropriados pelo autor para criar suaprpria concepo sobre mito e linguagem religiosa em torno de O Anel?

    7 Termo este utilizado como a vertente de Lvi-Strauss a define, como a composio deinmeros elementos, de diversas culturas que acabam por criar um novo cenrio cultural,produto da miscigenao de outras.8

    GREGOR-DELLIN, 1980, p.55.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Bayreuthhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Bayreuthhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Bayreuthhttp://pt.wikipedia.org/wiki/13_de_agostohttp://pt.wikipedia.org/wiki/13_de_agostohttp://pt.wikipedia.org/wiki/13_de_agostohttp://pt.wikipedia.org/wiki/13_de_agostohttp://pt.wikipedia.org/wiki/1876http://pt.wikipedia.org/wiki/1876http://pt.wikipedia.org/wiki/1876http://pt.wikipedia.org/wiki/1876http://pt.wikipedia.org/wiki/13_de_agostohttp://pt.wikipedia.org/wiki/13_de_agostohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Bayreuth
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    Por fim, se a obra de Wagner foi um fenmeno social e, sabe-se que a intenodo autor era de propagar seus pensamentos para todo o mundo, quais desdobramentoshistricos e culturais de relevncia a obra tomaria principalmente no sc. XX?

    1. O Anel dos Nibelungos: Sntese Motivacional

    Em 22 de Maio de 1813, nasce e registrado pelo nome de Wilhelm RichardWagner, batizado na igreja de So Tom ao fim de Agosto. Histria, fico de suasobras e sua vida mesclar-se-o com o passar dos anos.

    visvel o quanto, ao longo dos relatos de Wagner em sua biografia (emcitaes My Life), o amor e bagagem cultural que seu tio lhe daria em muito talvezutilizado fosse utilizado em meio construo da grandiosa Tetralogia do Anel, focomaior deste estudo, em que construes mticas so justificadas por nuances musicais eat mesmo psicolgicas, adiantadas pelo prprio Wagner.

    Pelas prprias palavras do autor, a vida dele seria a intensa busca por umamanifestao da totalidade, isto , sua arte , ao mesmo tempo, a maneira que v omundo e como este pode ser apresentado por suas obras.9 A magia que o teatroexerceria sobre o autor, as fantasias, a montagem do cenrio, e toda a famlia com certaformao musical e o fascnio dele pelos temas da mitologia10 fariam de sua vida uma

    busca pela chamada Arte Total.Segundo a literatura mais cronolgica sobre Wagner, h uma conveno prtica

    de diviso das composies do autor por fases, estas de mais ou menosamadurecimento, isto , de encontro a um eu mais presente, mais de personamusical, sendo, pois:11

    Uma fase de formao, indo de 1832 a 1840, em que suas primeirasobras ainda refletem muito as influncias de outros autores, bem comodo anseio de qualquer autor por vend-las no mercador musical. Estasincluem ainda: As fadas (1834), A Proibio de amar (1836) eRienzi (1840);12

    Uma fase mais de transio, muito ligada poca de crise financeira e

    poltico-religiosa do autor, entre os anos de 1839 a 1848, indo da peraO Navio Fantasma (1841), Tannhuser e Mestres Cantores deNuremberg (ambas em 1845) e Lohengrin (1848);

    E sua maturidade compositiva, indo da escrita de o Anel (em 1848) atParsifal (1882), em que o autor sairia de um esboo de Arte Total,chegando ao que consideraria seu grande auge.

    9GREY, T S. Wagner. 2008, p. 5.10WAGNER, R. p. 10.11COELHO, Lauro M. 2000, p. 22512 Nota do autor: esta fase de formao a nica retirada com afirmativa ao pensamento de

    Lauro M. Coelho, pois, as demais fases h divergncias de incio e trmino das mesmas.

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    O homem o aperfeioamento de Deus; Os deuses eternos so oselementos que formam os homens13.

    [...] no seria Deus produto dos homens, a imagem acabada de umaindividualidade? E o Amor de Deus no seria no fundo somente o

    infinito amor humano, que se encontra na sua suprema confirmao noseu sofrimento? 14

    Para Wagner, sua grande religio seria a arte, ou como costumava se referir prpria arte. A cada passo para as novas produes ele se manteria mais prximo deuma linguagem determinista, crente de que o produto histrico de nossa atualidade seriaa soma dos nossos desejos, somente sendo possvel a Arte de outrora, a msica a grandeherdeira em um processo de libertao e de redeno. Seria esta, o veculo modificadorda nova era de um ciclo j bem desgastado de guerras.

    J em meados do ano de 1848, ao longo da leitura de mitologia alem e nrdicae, em 04 de Outubro, aps ajuda de seu fiel escudeiro, o maestro Hans Guido Freiherr

    von Blow (1830 1894), da leitura da Cano dos Nibelungos e, da releitura de oMito dos Nibelungos, todos contos e lendas de autoria desconhecida, terminara seuesboo para o Anel dos Nibelungos, previamente chamado de A Fbula do Anel.

    [...] o tom do ensaio sobre os Nibelungos soara como umamescla de Fourier, Proudhon, C. G. Jung, Borges e Lernt-Holenia. Mas no era seno as razes do que se tornaria O Aneldo Nibelungo [...]15

    Sua grandiosa obra tem de ser atribuda a vrios nomes, mesmo por Wagner, quea considerava uma mescla de vrias leituras de mundo, desde os originais esboados ata era revolucionria de Proudhon, Hegel entre outros. O esprito renovado de Wagnernesta nova fase, de mais maturidade, daria sntese pessimista, contida ainda nainfluncia de Arthur Schopenhauer (1788- 1860), uma nova moldagem. Para o autor, avida humana , na realidade, a escala do sofrimento, descrita no decorrer do Anel,matria esta trgica por excelncia.

    [...] a histria universal um processo que na verdade no chegaa ser possvel sem um sujeito ativo, socialmente identificadocom uma causa, que poderia dominar e guiar este processo; mas

    para cada poca e para cada povo tem-se suas prprias

    particularidades [...]

    16

    Descobri uma semelhana com o objeto central nos mitos doNibelungo e Siegfried, exercendo uma poderosa atrao paramim [...]17

    13GREGOR-DELLIN, M. Cf. p. 19.14Ibidem. p. 207.15GREGOR-DELLIN, M. Cf. p. 246.16HEGEL, F. In. GREGOR-DELLIN, M. Cf. p. 251.17

    WAGNER, R. Cf. p. 660.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/1788http://pt.wikipedia.org/wiki/1788http://pt.wikipedia.org/wiki/1788http://pt.wikipedia.org/wiki/1860http://pt.wikipedia.org/wiki/1860http://pt.wikipedia.org/wiki/1860http://pt.wikipedia.org/wiki/1788
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    Nos estudos mticos, tanto do Anel tendo influncia oriental, como base dosofrimento e desdobramentos, o ideal pela perfeio presente na mitologia grega superado, uma vez que este conduziria a uma sociedade estratificada e destruda, comoa capitalista, a de classes, segundo a viso wagneriana18.

    A histria criada por Wagner em O Anel do Nibelungo na realidade um

    desdobramento de seu Prlogo, isto , todas as aes e fatos posteriores decorrentes daao inicial, que em sntese contam a histria do Anel, a saga de quem seria odetentor deste objeto mgico que daria ao seu dono poder sobre todas as coisas.

    O foco principal a questo do anel, feito por um ano de nome Alberich, oprotagonista segundo o ttulo, que roubaria este ouro nas proximidades do Reno, quandosuas protetoras, as ninfas, estavam distradas. Vrios brigariam pela posse do anel,mesmo Wotan, o deus dos deuses.

    2. O Prlogo Do Anel Dos Nibelungos

    O Prlogo, segundo o prprio autor, o fio condutor de toda a obra e, por isso

    como o grande Leitmotiv e sentido total, o selecionado para posterior anlise. Eleapresenta um nico cenrio com diversas interaes, resumidamente descritas porCooke, em oito elementos: o Reno; as damas do Reno; Alberich; o insucesso do anoem conquistar as Damas; o ouro do Reno; o segredo do poder em confeccionar um anela partir deste, renunciando o amor; e o roubo do anel por Alberich.19

    A cena do prlogo descrita neste como as damas, ou filhas do Reno estobrincando, quando so surpreendidas por um ano, Alberich, da raa dos Nibelungos.Ele tenta a todo custo chegar at elas, mas no o consegue. Por fim, cansadas com esta

    perseguio, as ninfas revelam-no o segredo que guardam: do ouro do Reno, se fossefeito um anel, seu possuidor teria poderes ilimitados. Uma tranquiliza a outra,advertindo de que ningum se atreveria e tampouco teria vontade de roubar o ouro.Alberich ouve tudo e escala uma pequena encosta, onde se v o bloco do ouro,roubando-o e prometendo negar o amor em nome deste poder absoluto!

    Por este mesma poca, muito influenciado por escritores do niilismo, da filosofiaromntica do sec. XIX Wagner moldaria de certa forma os textos originais, de suafundamentao, para tratar das problemticas mais atuais da sociedade. O mundo comovontade e representao (1819), de Schopenhauer, mexeria com o autor em suasentranhas filosficas, diria at ser este um dos maiores autores, daqueles que conseguemtratar de temas fundamentais desde seu princpio e parecer solucion-los20. Suasconcluses e sistemtica, to logo seriam defendidas por Wagner. A ideia de sofrimentoe perda casaria com o Prlogo.21

    Muito absorvidos pelos relatos e escritos provenientes das naes do extremooriente, principalmente do domnio ingls, francs e alemo sobre estas noneocolonialismo22, certamente os autores teriam acesso. Escritos estes dos mais

    18GREGOR-DELLIN, M. Cf. p. 331.19COOKE, Deryck. 2002, p. 134.20Ibidem, p. 875.21MILLINGTON, Barry In. GREY, Thomas (Org). 2008, p.80.22

    KINDERSLEY, Dorling. History Atlas. 2 Edition. London: DK, 2005, p. 94-95.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Schopenhauerhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Schopenhauerhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Schopenhauer
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    variados possveis, como as primeiras vistas dos Vedas do hindusmo, do pensamentoTheravada, Mahayana e Hinayana budistas.23

    Em meio a este caldeamento cultural e mais a base nos textos originais, deautoria indefinida, nos poemas medievais de a cano do nibelungo, de 1200, a sagados nibelungos e os antigos eddas24, Richard Wagner mold-los-ia para a construo

    de uma nova mitologia, podendo ser elevado a um padro mitolgico para ahumanidade da contemporaneidade, desde seu libreto, at o empreendedorismo de umteatro e vestimentas para essa pea. De certa maneira, O Anel o espelho com o qualWagner enxergaria a humanidade, ou ao menos tentaria prop-la uma alternativa

    positiva.25Em 1855, em meio escrita de trs materiais distintos: Os vencedores,

    Tristo e Isolda e O ouro do Reno, Wagner se aproximaria em definitivo dalinguagem budista e proferira: ...a vida de sofrimento de um heri ou de uma heronano passado ligada imediatamente ao presente. Vejo que esta reminiscente existnciana msica pode ser descrita perfeitamente nas emoes, coisa esta que manterei notexto, como uma misso bem agradvel. Manterei essas sugestes nos meus dois

    projetos atuais, alm do gigantesco projeto dos nibelungos26

    CONCLUSO

    E ali onde pensvamos encontrar uma abominao,encontraremos uma divindade; onde pensvamos matar algum,mataremos a ns mesmos; onde pensvamos viajar para o exterior,atingiremos o centro de nossa prpria existncia; e onde pensvamosestar sozinhos, estaremos com o mundo inteiro.27Joseph Campbell

    E assim um bravo maestro conduziria a sua jornada, como realmente a de umheri, vilo at mesmo para outros. Wagner nunca fora uma unanimidade: desde suas

    primeiras composies, criticado de inicio por ser um plagiador de estilos; quando deseu primeiro alar voo de uma nova esttica musical foi considerado ummegalomanaco e autor de uma super-arte para poucos; ao fim de sua vida, por muitosum mito do luxo e da ostentao, bem como de ser um traidor de seus prprios ideaisrevolucionrios, como afirmaria Nietzsche, ao ver Bayreuth como um antro de

    burgueses mesquinhos e sem essncia, e ao resgatar os mitos cristos em Parsifal.Uma verdade deve ser dita, Richard Wagner revolucionou o mundo musical e

    at mesmo literrio com sua nova viso por composio. Por meio de sua arte total ede seus temas musicais, parte integrante e indissocivel das prximas composiesaos sculos XIX e XX, o romantismo teria seu grande expoente na Alemanha.

    Alm, da questo do sofrimento, implcita e estruturante ao budismo, outrosconceitos se veem presentes do prlogo e seguintes ao Anel: as quatro nobresverdades so listadas no terceiro captulo visivelmente implicitamente; a ideia de karma,

    23DUMOULIN, Heinrich. Buddhism and Nineteenth-Century German Philosophy. University ofPennsylvania Press: Journal of the History of Ideas, Vol. 42, No. 3 (Jul. - Sep., 1981), pp. 457-470, Accessed: 25/02/2009 14:33, p. 458.24COOKE, Deryck. 2002, p. 85-90.25MILLINGTON, Barry In. GREY, Thomas (Org). Wagner. 2008, p.82.26WAGNER, Richard. My Life. Volume 1, p. 908.27CAMPBELL, Joseph. 1992, p. 31-32.

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    reproduzida como decorrente da ao do personagem Alberich, para toda a conduo,como fio temtico no decorrer da Tetralogia; a linguagem musical wagneriana e amitosfera criada por excelncia normativa e tica e, se assemelhando a propostareligiosa do budismo, para muitos at no vista como uma religio, mas uma filosofiatica religiosa; e, a futura apresentao de um constructo na jornada do heri, para

    Wagner em Brnnhilde, que se comportaria como um Boddhisatwa, aspirante iluminao.Sua influencia, sua semente essencial se veria frente aos trabalhos posteriores de

    Anton Bruckner (1824-1896), Csar Franck (1822-1890), Jules Massenet (1842-1912),Gustav Mahler (1860-1911) e Arnold Schoenberg, (1874-1951) em se tratando demsica; criaria e moldaria os estilos de regncia e estilizao orquestral com Hans vonBlow (1830-1894), Arthur Nikisch (1855-1922), Wilhelm Furtwngler (1886-1954) eHerbert von Karajan (1908-1989); e moldaria por fim a esttica cinematogrfica e decomposio na atualidade.

    tambm certo que sua msica e suas obras no possuiriam totalmente osdogmas das religies orientais, mas, pelo levantamento feito neste trabalho, vimos que,

    ao menos superficialmente, o autor beberia desta fonte, como base estrutural, porcerto em O Anel dos Nibelungos, tendo em vista a vida como sofrimento, a questodo uso de Leitmotiv como nuances, que nos lembram do fio krmico acionrio dos serese a busca por uma extino, uma libertao deste estado de esprito, desta condio.

    O trabalho tambm mostrou uma significncia notao, alm de atributossimblicos dos mais variados e possveis de se extrair dos elementos centrais em meioao prlogo: caractersticas essas que nos lembram de que a obra poderia ser vista comoum metabolismo humano, e que cada constituinte da pera um arqutipo em

    potencial, como sugerem alguns autores levantados. Cada um ao assistir este ciclo,presente na vontade do autor no teatro, no santurio por ele vislumbrado e construdo,teria poderes suficientes para renovar o mundo e transmitir esta mensagem ao mundo,sendo assim um catalisador vivo da revoluo.

    BIBLIOGRAFIA

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    UMA JANELA PARA O ORIENTE: INCIDNCIAS DO ZEN-BUDISMO NOCATOLICISMO BRASILEIROElenilson Delmiro dos SantosUFPB ([email protected] )

    ResumoAtualmente, temos assistido o despertar de um Budismo que se faz cada vez mais

    presente no universo religioso ocidental. Inserido, pois, em um campo religioso, atento predominantemente catlico, no entanto, profundamente transformado, onde se

    percebe que as diferentes formas de expresso religiosa que tem se instaurado em seuprprio seio tem feito com que esta, numa tentativa de se manter em sua condiohegemnica no mundo religioso ocidental, se veja obrigada a lidar com questes que atento fugiam da sua aceitabilidade institucional e teolgica. Neste caso, a busca porDeus e pela prpria libertao, seja individual ou coletiva, tem passado por experinciasmsticas que geralmente incorpora valores de outras tradies espirituais, de modo

    particular o Zen-Budismo. Ou seja, abri-se dentro do catolicismo uma janela para oOriente. Deste modo, o pretenso artigo tem por premissa problematizar esta dinmicareligiosa na qual a Mstica Zen, mesmo que de uma forma s vezes subliminar, tem seencontrado cada vez mais presente na cultura e nas prticas religiosas dos fiiscatlicos. Por se tratar de uma breve anlise do dilogo existente entre duas religiesmilenares detentoras de textos sagrados, bem como de uma ampla literaturacontempornea permeada por construes filosficas, o mtodo hermenutico se faressencial para esta pesquisa.

    1. Introduo

    A literatura acadmica especializada no trato das religies tem privilegiado, nosltimos anos, os conflitos e os dilogos existentes entre as tradies religiosas e porqueno dizer, hoje, os conflitos e os dilogos existentes dentro da prpria Religio. Nessesentido, Catolicismo e protestantismo tm se mostrado um campo frtil. Porm, nessa

    perspectiva o Budismo tem ganhado fora, e se tornado, mesmo que de uma formaainda modesta, cada vez mais comum a presena de pesquisas que apontem para aexistncia de budismos fora de seu campo cultural Oriental.

    No Ocidente, Albuquerque vai dizer que existem duas linhas mestras queorganizam a compreenso histrica do budismo no Brasil. Numa, esto os Budismosdos imigrantes japoneses e na outra, a descoberta dos intelectuais do Budismo genrico

    e, tambm, os encontros de muitos desses intelectuais com os imigrantes e seusensinamentos (ALBUQUERQUE, 2011, p.05). A influncia cultural e intelectual setornou inevitvel.

    No quesito religiosidade, os imigrantes japoneses sofreram uma forte influnciada tradio crist. Entretanto, com o passar dos anos a ruptura com o monoplioreligioso catlico fez surgir um fenmeno conhecido como pluralismo religioso,

    permitindo, que a partir de ento houvesse uma redefinio de papis entre queminfluencia e quem influenciado.

    De modo gradativo, seja pela via do processo migratrio, seja pelo campo

    intelectual, destaca-se o Zen-Budismo. Por ser esta uma religio que valoriza a paz, o

    mailto:[email protected]:[email protected]
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    respeito e principalmente o dilogo no ser difcil para a mesma uma aproximao coma nossa sociedade. Sem querer reduzir o Zen a simples preceitos morais, fato que estetem conseguido estabelecer uma forte conexo com as fontes culturais do nosso pas,em especial, no que diz respeito ao campo religioso, e particularmente, com o campocatlico.

    Sendo assim, este breve texto no pretende discutir amplamente o Zen-Budismoe sua insero no universo Catlico, pelo contrrio, o mesmo se apresenta como umconvite para iniciarmos um dilogo a respeito dessa questo.

    2. Uma Religio que no estar nas palavras

    Entrar no mundo do Zen-budismo como atravessar o espelho de Alice. Apessoa se encontra num pas das maravilhas de pernas para o ar, onde tudo parece loucoencantadoramente louco na maior parte, mas de todo mundo louco (SMITH, 2002,

    p.132). Talvez seja esta a sensao de quem se aventura pela primeira vez no mundoZen. um mundo de Dilogos desconcertantes, paradoxos, concluses irracionais,

    porm da provm o mais importante, tudo isso conduzido da forma mais alegrepossvel e revestida de grande sabedoria.

    Embora no seja nossa pretenso criar qualquer perspectiva, podemos dizer queO Zen no tem nada a ver com letras, palavras, ou sutras (SUZUKI, 1988, p.67). As

    palavras, quando mal utilizadas, podem, no pior dos casos, construir um mundo no qualos verdadeiros valores podem ser camuflados, reduzindo assim as pessoas a merosesteretipos. exatamente nesse ponto que o Zen se coloca, com a preocupao centralde quebrar as ambiguidades que podem estar nas palavras. Segundo o Zen, tal premissa

    provm do prprio Buda, que de acordo com a tradio, foi quem primeiro enfatizoueste preceito por meio do Sermo da Flor28, no qual no se utilizou de qualquerexpresso verbal para transmitir seus ensinamentos.

    Desse modo, podemos dizer que o Zen se afasta muito mais de ns quandotentamos explic-lo com papel e tinta, prendendo-o numa armadilha verbal e lgica(SUZUKI, 1988, p.67). Na verdade, para o Zen, a riqueza da vida no pode se limitar aformas escritas como livros ou teorias, existem exemplos at de mestres que mandamrasgar suas prprias escrituras em milhares de pedaos numa tentativa de evitar palavrascomo Buda ou nirvana como se elas fossem indecorosas.

    O Zen-budismo no est interessado em teorias sobre a iluminao; ele quer aprpria iluminao. Por isso grita, esbofeteia e repreende, sem o menor vestgio de mvontade. Tudo o que ele quer fazer forar o estudante a romper a barreira das

    palavras (SMITH, 2002, p.134). Pode parecer uma percepo exagerada, mas o Zenencontra sua verdade no lado prtico da vida. Sua lgica e sua descrio s fazemsentido a partir de uma experincia que se torne perceptvel nos caminhos que

    percorremos no dia a dia.

    28Sentado no alto de uma montanha com os discpulos a sua volta, Buda no recorreu spalavras. Simplesmente levantou nas mos um ltus dourado. Ningum compreendeu osignificado desse gesto eloquente, exceto Mahakasyapa, cujo leve sorriso, indicando

    compreenso fez Buda design-lo seu sucessor.

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    3. Um encontro entre culturas, e tambm entre Religies

    Ao prefaciar o livro introduo ao Zen-budismo de D. T. Suzuki, Jung vai dizerque O Zen e sua tcnica podem somente surgir com base na cultura budista que ele

    pressupe a todo instante (SUZUKI, 1988 p.28). Nesse caso, considerando que noOcidente, conforme lembra Usarski j possvel falarmos, por via de trs classes defenmenos29, de um Budismo Ocidental (USARSKI, 2009, p.55). Isso demonstra queo Budismo no Ocidente j se mostra como uma experincia religiosa consolidada. Norestam dvidas de que a atmosfera espiritual Zen tem encontrado um campo frtil noOcidente, em especial no Brasil.

    No campo da literatura, as descobertas iniciais do Budismo assinalam ummomento que alguns pesquisadores descrevem como sendo o de um Proto-Budismo.Assim como na Alemanha, Schopenhauer foi quem primeiro comeou a difundir os

    primeiros sinais do Budismo naquele pas, no Brasil Machado de Assis (1839-1908);Augusto dos Anjos (1884-1914); Olavo Bilac (1865-1918) fizeram em suas obrasliterrias referncias a termos do Budismo. Nenhum deles foi praticante do Budismo,

    porm, foram responsveis, mesmo que de uma forma marginal, pelos primeiros sinaisdo Budismo no Brasil e no os filsofos ou os acadmicos.

    Assim, por distintas vias de acesso, o Zen-Budismo adentrou na culturabrasileira. Entre estas, podemos citar o Haikai, como exemplo. Trata-se de um pequenotrecho potico cuja origem remonta ao Japo, geralmente formado por um paralelo detrs linhas e poucos caracteres. Pode ser considerado como uma rota de encontro entre a

    poesia japonesa e a cultura brasileira. forte a influncia que esta forma de expressopotica, geralmente associada ao Zen, provocou nos literatos brasileiros. A dimenso eo gosto pelo haikaipode ser vista numa antologia reunindo um elenco de 100 autores,na maioria brasileira natos, de idades, formaes e gostos variados (ALBUQUERQUE,2011, P.08). A associao entre o haikai e o Zen-Budismo passa a ser uma ideiaamplamente difundida.

    Ainda em termos de difuso, a dcada de 60 corresponde a um perodo chavepara a implementao do Zen-Budismo no Brasil. neste perodo que se deram asprimeiras tradues de textos e livros referentes ao Zen-Budismo para o nosso idioma.Da mesma forma, temos registros das primeiras construes de templos budistas,especialmente em So Paulo, e so estes que vo promover em definitivo a vinda, node imigrantes, como aconteceu anteriormente no ps-guerra, mas de monges budistas.

    Considerando, pois, que o contexto cultural no Brasil, neste referido perodo,passava por um momento de impacto e transformaes tanto no mbito poltico comono religioso, a abertura para novas reordenaes, sejam elas institucionais ou no,

    29Primeiro, o Budismo Ocidental existe em complementao ao Budismo asitico; Segundo, oBudismo Ocidental predominantemente representado por conversos, isto , pessoas que nonasceram budistas, mas seguem o Budismo devido a uma opo deliberada a favor de umareligio no prevista pela tradio familiar; Terceiro, o Budismo Ocidental no idntico amovimentos que surgiram em diversos pases asiticos como alternativas a interpretaoconvencional dos veculos clssicos do Budismo sob rtulos como modernismo budista ou

    Budismo protestante.

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    parece ter sido uma constante. No campo da Religio, a busca por novas experinciasreligiosas, fora do catolicismo predominante, vai ser reforada pelo prprio ConclioVaticano II (1962 1965) que tornou pblico e oficial que a Igreja catlica estavaaberta ao dilogo para com o mundo moderno, assim como, igualmente aberta ao

    prprio dilogo inter-religioso.

    Nesse horizonte, encontram-se os pressupostos para o dilogo inter-religioso. Eno quesito Dilogo poucas Religies desfrutam de uma imagem e de uma capacidadeto natural para o Dilogo quanto o Budismo, e assim se iniciou o intercmbioespiritual entre o Cristianismo e o Zen-Budismo (TOKUDA, 1985, p.01). No entanto,antes mesmo de qualquer ato institucional, podemos perceber a partir de leituras comoas de So Joo da Cruz, Meister Eckhart e Thomas Merton uma aproximao com aexperincia mstica Zen. No por menos que os dois primeiros foram condenados pelaIgreja, afinal como diz Boff a instituio no gosta de msticos. Ela gosta das pessoasque falam em nome do papa, do bispo, da doutrina... (BOFF, 2010, p.85).

    Da mesma forma, Padres e telogos contemporneos, como o caso deLeonardo Boff e Frei Betto, tem demonstrado em algumas de suas publicaes, comofaz sugerir o livro Mstica e Espiritualidade, escrito por ambos, uma teologia cheia deinspiraes holsticas, uma visvel expresso desse Dilogo. Em face deste indicador, olivro escrito avaliado pelos conservadores da Igreja como tendo um p nosincretismo e relativismo religioso (CAMURA, 1998, p.95).

    Portanto, talvez as propostas dos Zen-Catlicos, seja tosomente, vislumbrarpor outras experincias religiosas ou at mesmo filosficas, novos horizontes para avida, para o amor de si mesmo, e no abdicar de suas concepes prontamenteestabelecidas, mas ampliar seu campo de viso para novos caminhos.

    4. A mstica Zen-Budista na obra Crist de Mestre Eckhart e Thomas Merton

    Quase seis sculos separam Meister Eckhart (12601328) de Thomas Merton(1915-1968) No entanto, a mstica Zen os torna bem prximos. A experincia espiritualrefletida na obra desses dois baluartes da mstica crist os torna mais do que prximosdo Zen. Na verdade, a leitura de ambos nos leva a incurses que nos aproxima com umadas ideias bsicas do Zen que entrar em contato com os trabalhos ntimos do nossoser da maneira mais direta possvel, sem necessitar de alguma coisa externasuperimposta (SUZUKI, 1988, p.65).

    Eckhart nos faz pensar que o tema central da vida do homem estar nodesprendimento ou na liberdade que o homem pode ter de si mesmo e de todas ascoisas (SOUZA, 2012, p.114). Tomemos esta expresso no em seu sentidoexistencial. O referido mstico prope uma verdadeira ascese at Deus, e no final maisdo que chegar a Deus descobrir ele dentro de si mesmo.

    Este tipo de intimidade com Deus exige passar por certas purificaes, trata-sede um caminho que como diz Tokuda, tem que ter aquela experincia mstica do Zenou do Cristianismo, ou seja, tem que passar por aquela unio com Deus (TOKUDA,

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    1985, p.02). Encontra-se, nesse ponto, o verdadeiro significado do desprendimento emEckhart. No caso, uma participao em Deus.

    O que define o sentido do desprendimento eckhartiano , numaltima instncia, o fato de que ela no qualifica somente umanegao pura e simples da realidade exterior, porque o que elavisa negar a oposio entre Deus e criatura, entre unidade emultiplicidade o que pode ser caracterizado como umaabertura para alm do prprio Deus, conquanto este aindadeterminado pela criatura. (SOUZA, 2012, p.115).

    Com sua vivncia mstica, Eckhart vai se aproximar e muito do que propostopelo Zen chegando, inclusive, ao ponto de criar um paralelo entre a mstica crist e a

    mstica Zen. Suzuki certa vez afirmou A experincia de Meister Eckhart est bemprxima do Zen, ele teve a experincia Zen (SUZUKI apud TOKUDA, 1985, p.01).

    Em tempos mais recentes, a sintonia Zen-Budista com o Catolicismo vai ocorrerpor intermdio da mstica de Thomas Merton. O prosseguir deste Dilogo acontece emum perodo em que a sociedade assolada por transformaes e transgresses de ordens

    polticas e civis. Naquele contexto, o Zen-Budismo pregava o desapego compaixo e iluminao, em outros termos, pregava a libertao do homem.

    Embora seja pouco comentado, existiram casos de catlicos, alm de ThomasMerton, que se deixaram vislumbrar pelo Zen, a exemplo de Enomiya-Lassale (1898-

    1990), jesuta alemo que chegou ao Japo em 1929 para se tornar vigrio numa Igrejaem Hiroshima. Outro jesuta que enveredou pelos caminhos do Oriente foi HeinrichDumoulin (1905-1995).

    Voltando a Merton, o que o torna interessante que, enquanto monge catlico,em nenhum momento ele se viu preocupado com os avanos do Zen Budismo. Aocontrrio, ele viu no Zen a possibilidade que lhe fazia bastante sugestiva em prol doCristianismo, ou seja, fazer com que o catolicismo voltasse a reencontrar aquilo que ele

    perdeu ao longo da sua histria. No caso, a capacidade de contemplar e compreender ascoisas mais simples e interiores do ser humano, de acordo com sua prpria natureza.

    Merton se fez aberto ao Dilogo na medida em que conseguiu perceber oselementos que tornam estas religies semelhantes, no que isso agrade aoconservadorismo catlico, mais ainda assim, procurou expor que estas doutrinastransmitem a mesma mensagem, s que por meios e linguagens diferentes.

    Veremos como o Kerigma sobrenatural e a intuio metafsicados fundamentos do ser esto longe de ser incompatveis. Pode-se dizer que um prepara o terreno para o outro. Bem podemcompletar-se mutuamente e, por essa razo, o Zen

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    perfeitamente compatvel com a f crist e, mesmo com omisticismo cristo (MERTON, 1993, p.71).

    O Zen, portanto, encontrou os ambientes favorveis para sua aceitao. Assim, anatureza, a tcnica e a prtica Zen conseguiram se firmar em um ambiente que at entolhe parecia completamente contrrio, no se tornando submissa ao catolicismo, mas, seimpondo sem causar danos e ocupando seu espao sem tirar o espao de outras.

    4. Consideraes Finais

    Para o Zen Budismo, a iluminao ocorre no agora, no instante, e se d de formasimples, muitas vezes atravs de aes. Talvez seja esse ideal, livre da ideologia docontrole e das determinaes reguladoras de uma instituio religiosa como ocatolicismo que tem feito com que muitos de seus adeptos comecem a vislumbrar noZen-Budismo algo que almejam, porm, se tornam incapazes ou impedidos de

    conseguir no ambiente institucional catlico.

    Em funo disso, o caminho Oriental, o caminho do Zen tem se apresentadocomo uma opo complementar, no oposta. Eles nosajudam a descobrir a riqueza danossa dimenso espiritual (BETTO, 2010, p.242). Com isso no queremos virarorientais no mundo Ocidental, complicando assim nossas prprias tradies. Mas, assimcomo Meister Eckhart e Thomas Merton conseguiram criar uma sintonia com ocaminho do Zen, da mesma forma, muitos catlicos tem enxergado o Zen por uma nova

    janela.

    Referncias

    ALBUQUERQUE, Eduardo Basto de. Os intelectuais e o budismo japons no Brasil.Disponvel em: www.abhr.org.br/plura/ojs/index.php/plura/articlevie336pdf14Acesso em: 28 fev 2014.

    BETTO, Frei; BOFF, Leonardo. Mstica e Espiritualidade. Petrpolis, RJ: Vozes, 2010.

    CAMURA, Marcelo Ayres. Sombras na Catedral: A influncia New Age na IgrejaCatlica e o Holismo da Teologia de Leonardo Boff e Frei Betto. In: Numen: revista deestudos e pesquisa da religio. Juiz de Fora, MG: UFJF, 1998. v. 1, n.1 p. 85-125.

    MERTON, Thomas. Zen e as aves de rapina. So Paulo: Cultrix, 1993.

    SMITH, Huston. As religies do mundo: Nossas Grandes Tradies de Sabedoria. SoPaulo: Cultrix, 2002.

    SOUZA, Adriana Andrade de. O exterior mais interior que o mais ntimo: Eckhart e aexcelncia de Marta. In: TEIXEIRA, Faustino. (Org.). Caminhos da mstica. So Paulo:Paulinas, 2012.

    SUZUKI, D. T. Introduo ao Zen-Budismo. So Paulo: Pensamento, 1988.

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    VII CONGRESSO INTERNACIONAL EM CINCIAS DA RELIGIO: A RELIGIO ENTRE O ESPETCULO E A INTIMIDADEPROGRAMADE PS-GRADUAO EM CINCIAS DA RELIGIO, PUC Gois, Goinia, de 08 a 11 de abril de 2014 ISSN 2177-3963

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    TOKUDA, Ryotan. Mstica Crist e Zen: Porque Deus se fez homem? A Rosa!Disponvel em: http://www.sotozencuritiba.org/deus_e_a_rosa.php Acesso em: 4 fev2014.

    USARSKI, Frank. O budismo e as outras: encontros e desencontros entre as grandes

    religies mundiais. Aparecida, SP: Ideias e letras, 2009.

    http://www.sotozencuritiba.org/deus_e_a_rosa.phphttp://www.sotozencuritiba.org/deus_e_a_rosa.phphttp://www.sotozencuritiba.org/deus_e_a_rosa.php
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    VII CONGRESSO INTERNACIONAL EM CINCIAS DA RELIGIO: A RELIGIO ENTRE O ESPETCULO E A INTIMIDADEPROGRAMADE PS-GRADUAO EM CINCIAS DA RELIGIO, PUC Gois, Goinia, de 08 a 11 de abril de 2014 ISSN 2177-3963

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    A PEDAGOGIA DO OLHAR NA TRADIO THERAVADINDr. Clodomir B. de Andrade - DECRE/PPCIR//UFJF ([email protected] )

    ResumoDada a centralidade da dimenso visual na cultura do espetculo da sociedade global

    contempornea e a intimidade da experincia espiritual, o presente texto pretendeexplorar um dos plos fundamentais desta tenso: o olhar, a mirada humana, tanto emseu aspecto individual (o modo como cada qual enxerga a realidade), como em seucontexto budista (i.e., como a tradio compreende e idealiza aquele olhar individualotimizado para a prxis do despertar). Ora, tradicionalmente, ao se abordar o fenmenodo olhar nas diversas tradies budistas, somos imediatamente referidos ao primeiro e,supostamente, um dos mais importantes membros do nobre ctuplo caminho: a visocorreta (samma ditti/samyak drsti). Tal referncia se consubstancia na compreenso deque a viso correta seria uma modalizao fundamental e incontornvel da prxissoteriolgica budista, sendo aquela viso correta recorrentemente explicitada atravsdas trs caractersticas (tilakkhana/trayalaksana) de todos os seres condicionados: anitya

    (impermanncia), anatman (insubstancialidade) e duhkha (sofrimento); vale dizer, todae qualquer explicao acerca da viso correta deve necessariamente contemplar aquelasverdades budistas acerca da natureza dos seres. Ora, sem divergir da importncia do

    balizamento conceitual tradicional, objetivamos aqui, nesta proposta de apresentao,valorizar a referida viso correta a partir de uma abordagem mais prtica do queconceitual. Para tanto, pretendemos responder seguinte questo: o que representa, emtermos prticos, aquela viso correta?, utilizando dois textos da tradio Theravadin:Udana I, 10 e Visuddhimaggo I, 52-8; 100. Nestes textos, o tratamento dado questodo olhar se diferencia, e muito, da abordagem conceitual tradicional que contempla asreferidas trs caractersticas. Ora, sabemos da enorme importncia dada pela tradio sestratgias meditativas que objetivem a superao da dor oriunda de uma m conduode nossa sensibilidade. Neste sentido, nossa proposta busca ampliar a discusso damoderao da sensibilidade no ambiente budista com a importncia de uma pedagogiado olhar. Portanto, para desarmar o potencial de sofrimento implcito em cadaexperincia humana (Samyukta Nikaya XXXVI.11iv, 213: yani kici vedayitam tamdukkhasmin), se faz necessria uma prxis meditativa que des-substancialize o nama-rupa fenomnico no s partir da constante reflexo acerca daquelas trscaractersticas de todos os seres condicionados, como tambm, e principalmente,orie