Anais - Secomunica 2016
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2016
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Mestrado em C omunicação
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Ficha elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da Universidade Católica de Brasília (SIBI/UCB)
S445d Secomunica (15. : 2016 : Brasília, DF)
XV Secomunica : comunicadores e mutações : cenários e oportunidades : [anais] / [organização, Curso de Comunicação Social]. – Brasília, DF : Universidade Católica de Brasília, 2016.
118 p. ; 21 cm.
1. Comunicação social. 2. Jornalismo. 3. Publicidade. 4. Redes sociais. 5. Empreendedorismo. I. Universidade Católica de Brasília. Curso de Comunicação Social. II. Semana da Comunicação. III. Título.
CDU 316.77
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Promoção Universidade Católica de BrasíliaCursos de Jornalismo e de Comunicação Social - Publicidade e Propaganda
Patrocínio Fundação de Apóio a Pesquisa - FAP - DF
Comissão Organizadora da Secomunica 2016Dra. Sheila da Costa Oliveira, Dr. Robson Borges Dias, MSc. Alberto Marques Silva, Dra. Florence Dravet
Comitê Técnico-Científico: Dr. Joadir Antonio Foresti, Dra. Rafiza Varão Ribeiro Carvalho, Dra. Florence Dravet
Equipe de Produção
Anais Sheila da Costa Oliveira, Cynthia Rosa, Fernando Esteban
Avaliação Cecilia Martinez, Estudantes da Disciplina Opinião e Pesquisa de Mercado
Certificação e Controle de Frequência Gerson Scheidweiler, Agência Matriz e voluntários
Cerimonial e Credenciamento Anelise Molina, Centro Acadêmico e voluntários
Cobertura Fotográfica Bernadete Brasiliense, Agência Experimental Bagagem, Agência Júnior Olfato
Cobertura Jornalística e Divulgação Eliane Muniz, Angélica Córdova Agência Júnior Olfato e voluntários
Cobertura e Transmissão Audiovisual Web Clarissa Trein de Almeida, Alex Vidigal, Alexandre Kielling, CRTV, Católica Virtual, alunos da disciplina de Produção, Edição em TV, Telejornalismo e voluntários
Cobertura e Transmissão Radiofônica: Eliane Muniz, Angélica Córdova e Rener Lopes, Agência Júnior Olfato, Agência Bagagem e voluntários
Comunicação e Recepção de Convidados Raquel Cantarelli, Ane Molina e voluntários
ficha técnica
Contratação e Prestação de Contas FAPDFRobson Dias, Joadir Foresti
Coquetel de Encerramento Cleonice Damasceno, Marcos Pinheiro, Lorrane de Assis, Degvania Pereira
II Seminário Interprogramas Florence Dravet, Victor Laus
Infraestrutura e Mobilidade Lorrane de Assis, Clarissa Trein, Cleonice Damasceno
Iniciação CientificaRafiza Varão, Lorrane de Assis
Marcação de Passagens, Traslados e Hospedagens Raquel Cantarelli, Anelise Molina
Prêmio Reconhecimento Rafiza Varão, Joadir Foresti
Programação Cultural Leandro Bessa, Fernando Esteban, Valescwa Lobo
Produção Gráfica Lorrane de Assis, Cynthia Rosa, Fernando Esteban, Leandro Bessa
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A Organização da XV Secomunica faz um agradecimento especial a todos os estudantes dos cursos de Comunicação e de Jornalismo que se apresentaram para colaborar na realização do evento com seu trabalho voluntário,mas como foram tantos em tantos momentos diferentes, se alguém não foi citado, por favor disulpe!
AGRADECIMENTOS
Adriana Gonçalves Botelho Alef Calado Santana Aline de Brito Cardoso Amanda da Silva Oliveira Amanda OlivieriaAmanda Santiago de MedeirosAmanda SantosAna Clara de Rezende Arantes Ana Luiza da Silva Santos Andressa CostaBárbara Machado da Silva Brito Bene da Silva Leite Brenda Mikaelle Pereira de Abreu Breno Esaki Borges Bruna da Silva Fernandes Bruna Neres da Silva Bruno Nunes Barbosa Caio Eduardo Almeida Celina Hikari Cinthia Freires Marinho Cintia Rocha Siqueira Cristiano R. Reis Daniel ZacariottiDiana Bispo de Jesus Emanuelly Fernandes de Souza Felipe CaianFernanda Soraggi Silva Fernanda Gabriella Marques Bueno Fiama Geovana Tonhá da CunhaFilipe Cunha B. Gomes Franca Flavia Silva Brito Flávia Silva de Brito Gabriel de Lima Boitrago Gabriela de Jesus Silva Gabriela Ribeiro Gabriele Luiza Barros Gabrielle do E.S. de Oliveira Gilvanete Costa Vieira Giovana VieiraGiovana VieiraGláucia de Rocha Cardoso Glayde Diana R. Brito Isabela Moreno dos Santos Isabela Raglio Garcia Jalil Saleh Ali Karajeh
Jéssica SáJuliana BenderJuliana Dracz Machado Renno Kesley Pereira da Silva Larissa Alves Lago Larissa FernandaLarissa NogueiraLarissa Passos da Cunha Leticia Macêdo M da Fonseca Lidia Maria Pires Brandão Liliane Mayumi Tanima Maciel Lucas Antônio Braga Luciana Brito de OliveiraLuciana Oliveira Luisa Sales Mendes Luygella França de Brito Marcus Vinícius Castro de Souza Maria Caroline Sousa SilvaMaria Giullia Bifano Gonçalves Maria Isabel Felix de Matos Mariana Pereira Alves Mariana Silva da Nóbrega Matheus N de Sousa Mirelle Gonçalves Bernardino Omara Maria Soares da Silva Patricia Nadir Rodrigues Paula MeloPaulla Christina Damasceno Perla RodriguesPoliana Tais de Sousa Fontenele Rafaela Carvalho Gonçalves Raissa da S. Queiroz Raul Vinicius FernandesRayane de Oliveira France Renata Nagashima de Lima Ribamar Martins Rodrigo de Jesus Santiago Sara Cristina Sane Reis Stefanni DiasTalyane Magalhães Silva Thais Rodrigues de SouzaTuanny de OliveiraVitor Hugo Stoianoff Yulli Moraes de Assunção
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Universidade Católica de Brasília
Cursos de Jornalismo e Comunicação Social - Publicidade e Propaganda
XV SECOMUNICA 2016Semana da Comunicação
COMUNICADORES E MUTAÇões: CENÁRIOS E OPORTUNIDADES
Brasília,2016
Comunicadores e Mutações: cenários e oportunidades
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Assessoria de Curso Dra. Rafiza Luziani Varão Ribeiro CarvalhoMSc. Raquel Cantarelli Vieira da Cunha
EstágiosMSc. Leandro Bessa Oliveira
Agência Experimental Bagagem MSc. Raquel Cantarelli Vieira da Cunha
Agência Junior OlfatoMSc. Eliane Muniz Lacerda
Reitor Dr. Gilberto Gonçalves Garcia
Pró-Reitor Acadêmico Dr. Daniel Rey de Carvalho
Pró-Reitor de AdministraçãoProf. Fernando de Oliveira Sousa
Chefe de Gabinete da Reitoria Dr. Dilnei Lorenzi
Diretora da Escola de Educação, Tecnologia e Comunicação Dra. Christine Maria Soares de Carvalho
Coordenadora do Mestrado em Comunicação Dra. Florence Dravet
Coordenador dos Cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda Dr. Joadir Foresti
Agência Junior Matriz MSc. Gerson Luiz Scheidweiler Ferreira
Portal Pulsátil MSc. Cynthia da Silva Rosa
Centro de Rádio e Televisão (CRTV) Clarisa Trein de Almeida
Estúdio de Fotografia MSc. Maria Bernadete Brasiliense
Universidade Catolica de Brasília
Cursos de Jornalismo e de Comunicação Social - Publicidade e Propaganda
composição
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Apresentação................................................................................................11
Programação................................................................................................14
Palestra - Comunicadores e mutações: cenários e oportunidadesPalestrante - João Canavilhas.....................................................................22
Palestra - O Primeiro Emprego: E aí?Palestrante - Alberto Villas............................................................................36
Workshop - Negocie sem medo: Aprenda como a Programação Neurolinguística pode ajudar a fechar negócios Convidado - Darlan Ferreira.........................................................................49
Mesa de Debate - Possibilidades do mercado audiovisual em Brasília Convidados - Mariane Cunha e Rafael Lobo............................................75
Palestra - Youtuber: Uma profissão?Palestrante - Daniel Zukko............................................................................82
sumário
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Palestra - Bastidores da Produção de EventosPalestrante - Ygor Brito..................................................................................89
Mesa de Debates - Empreendedorismo em comunicação: casos de sucesso e enfrentamento de riscoConvidados - Rodrigo Cunha e Luzinete Marques.................................110
Palestra - Comunicação em Tempo RealDaniele Rodrigues.......................................................................................133
Palestra – Multidisciplinaridade para empreender em comunicação Palestrante: Alana Vizentin , Aroa Suleiman e Lisiane de Assis..........147
Painel - A arte e Conhecimento Acessível Convidados - Fernando Esteban Reynoso Acosta, Alan Rios, Iago Kieling...........................................................................................................155
Palestra - 1966 LW3 Canal 10 Universidad Nacional de Tucumán. Repercusiones y Secuelas de un contexto de crisis, en la gestación de la TV EducativaPalestrante - Silvia Leonor Agüero..............................................................160
Palestra - Conexões entre Universidade e TV abertaPalestrante - Claudio Magalhães..............................................................173
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apresentação
Os cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Universidade Católica de Brasília têm a honra de apresentar nesta publicação um panorama síntese do que aconteceu durante a XV Semana de Comunicação – Secomunica, que aconteceu de 19 a 23 de setembro nos auditórios dos blocos K e G do campus 1 da Universidade, além de outros espaços, como salas de aula, hall e laboratórios. O tema deste ano foi “Comunicadores e Mutações: Cenários e Oportunidades”. Nesta edição, realizada pela Universidade Católica de Brasília, com patrocínio do Fundo de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF). Ainda comemorou os 20 anos de criação do curso e os 15 da própria Semana de Comunicação, configurando um momento especial e festivo para todas as pessoas ligadas ao curso, ao qual estiveram presentes, pela primeira vez, convidados internacionais de Portugal e Argentina para os momentos de abertura e encerramento.
O evento mantém seu compromisso de contar com a participação de profissionais renomados em diferentes áreas de Comunicação, proporcionando aos participantes uma rica troca de experiências e reflexões, por meio de palestras, mesas de debate, seminários, oficinas, workshops, cines debate, exposições artísticas e lançamentos de livros.De um lado, com ações de cunho profissionalizante para oferecer experiências e aproximações com o mercado de trabalho no campo da comunicação, em suas diversas áreas; e, de outro, momentos de reflexão e crítica, propiciando renovar a compreensão que se tem da comunicação como espaço de realização e produção de sentido, que envolve e impacta toda a sociedade.
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Na edição de 2016, a empregabilidade do comunicador social no cenário contemporâneo foi o eixo do evento, que trouxe dois convidados internacionais para abrilhantar a ocasião: o professor doutor João Canavilhas, da Universidade da Beira Interior, Portugal, que fez a abertura da XV Secomunica; e a professora doutora Silvia Leonor Aguero, da Universidade de Tucumán, Argentina, que encerrou o evento ao lado de Cláudio Magalhães, representante da Associação Brasileira de Televisões Universitádorias (ABTU). Esta convidada, em especial, foi também responsável pela curadoria da Exposição Artística de Xilogravuras de Roberto Koch, aberta durante toda a semana, e pela assinatura de um acordo de cooperação internacional entre a UCB e a Universidade de Tucumán. Algumas novidades importantes nesta XV Secomunica dizem em respeito: (i) à participação intensiva dos estudantes na cobertura do evento através de novos recursos. Assim, os eventos principais do matutino e do noturno foram transmitidos via WEB; (ii) Além disso, uma grande rede de cobertura, coordenada pela Olfato, Agência Júnior de Jornalismo, com a colaboração de turmas de várias disciplinas do curso, foi encarregada de noticiar o andamento de toda a programação do evento, dia a dia, turno a turno. O resultado foi um grande exercício de colaboração, no qual estiveram também envolvidos estudantes da Matriz, Agência Júnior de Publicidade e Propaganda, e do Espaço Bagagem Agência Experimental de Jornalismo e Publicidade. A participação do Cactos, Centro Acadêmico do curso, arrematou a participação dinâmica e comprometida dos estudantes; (iii) A brinquedoteca da UCB e a Escola Pública Caic do Areal também foram envolvidas nas atividades da Secomunica. As crianças visitaram a exposição, receberam material relativo a ela e participaram de oficina de xilogravura, cujo conteúdo foi enviado ao artista Roberto Koch. (iv)
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Frequência de estudantes de outros cursos e instituições afins ao evento da UCB.
Outra inovação foi a criação do Prêmio José Salomão Davi Amorim, que tem como objetivo o reconhecimento de professores e alunos que colaboraram de maneira destacada na história dos cursos, além de constituir instrumento de consolidação de sua memória. A premiação é decorrente de uma série de reflexões promovida pela coordenação nos últimos dois anos e envolveu vários professores, notadamente aqueles ligados ao NDE – Núcleo Docente Estruturante. A ideia é que o prêmio permaneça nas próximas edições da Secomunica. O nome do prêmio é uma homenagem ao professor José Salomão, primeiro coordenador do curso e um de seus principais idealizadores. Ele recebeu o primeiro troféu da noite, seguido do professor Dr. João José Curvello, também ex-coordenador do curso e fundador do Mestrado de Comunicação da UCB. Duas estudantes também foram premiadas por terem os maiores índice-vida do ano: Mariane Cunha, do curso de Jornalismo, e Beatriz de Lima Santos, de Publicidade e Propaganda.
Dessa forma, a XV Secomunica confirmou sua tradição, consolidada ao longo dos anos, de realizar um evento voltado exatamente para uma integração entre estudantes, professores, mercado de trabalho e academia, visando à compreensão dos elementos que constituem o campo da comunicação, mesmo em cenários mutantes, como nos anos atuais.
Neste volume, o leitor encontrará a descrição da programação, bem como os textos das palestras e mesas, obtidos pela técnica de degravação, o que justifica e explica o tom mas informal do discurso, e que era necessário para a boa comunicação respeito do tema da empregabilidade. Boa leitura a todos!
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programação
7h30 - 8h30 CredenciamentoAbertura da exposição de banners de pesquisa em comunicação
Hall - K
8h30 AberturaBanda Sinco
Auditório - K
9h - 11h30 João CanavilhasComunicadores e Mutações
Auditório - K
14h - 18h Oficinas e minicursosSer professor também e uma opção;Marketing Digital: Studio On Line
Estratégias de monitoramento em redes sociais: Ana Célia Costa
Luz, Câmera, Inclusão: realização de vídeo acessível. (Parte I)Cynthia Rosa, Iago Kielling e Larissa Nogueira
Salasdiversas
19h - 19h30 Credenciamento Hall - K
19h Batalha de Rap Auditório - K
20h - 22h Alberto VillasPrimeiro Emprego: e aí?
Auditório - K
SEGUNDA-FEIRA 19/09
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8h - 8h30 Estande de Estágio e Exposição/venda de livros do Mestrado em Comunicação
Hall - K
8h30 Fernando EstebanLançamento do Catálogo da Expo-siçãoDe Dommus e Outras Evocações - do artista argentino Roberto Koch
Auditório - K
9h - 11h30 Mesa DebateEmpreendedorismo em Comunica-ção(Time 1)Andrea e Jacqueline Azevedo, Ygor Brito
Auditório - K
13h - 14h Estande de Estágio e Exposição/venda de livros do Mestrado em Comunicação/
Hall - K
14h - 18h CINE DEBATE - Um senhor estagiário (competências relacionais e éticas no ambiente profisional)
Auditório - G
19h - 19h30 Estande de Estágio e Exposição/venda de livros do Mestrado em Comunicação
Hall - K
19h30 - 22h Assessoria de Imprensa e mídias sociais Negocie sem medoBastidores de um telejornal
Salasdiversas
TERÇA-FEIRA 20/09
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QUARTA-FEIRA 21/09
8h - 8h30 Estande de Estágio e Exposição/venda de livros do Mestrado em Comunicação
Hall - K
8H30 - 11h30 Daniel Zukko e Daniel ToysYoutuber: Uma Profissão?/Grafiti e Publicidade
Auditório - K
14h - 18h Criação Publicitária: Studio On Line
Linguagem Fotográfica em Tempos Digitais: Ane Molina
Luz, Câmera, Inclusão: realização de vídeo acessível. (PARTE II)Cynthia Rosa, Iago Kielling e Larissa Nogueira
Salasdiversas
19h - 19h30 Estande de Estágio e Exposição/venda de livros do Mestrado em Comunicação
Hall - K
19h30 - 22h Rafael Lobo e Mariane CunhaPossibilidades do mercado Audiovisual em Brasília
Auditório - K
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8h - 8h30 Bernardo MoreiraLançamento do livro fotográfico: Menina Mulher
Hall - K
9h - 11h30 Ygor BritoBastidores da Produção de Eventos
Aditório - K
14h - 18h Estande de Estágio e Exposição/venda de livros do Mestrado em Comunicação
Hall - K
8hs - 18hs II SEMINÁRIO INTERPROGRAMASSECOMUNICA - Equipe do Mestrado em Comunicação, convidados externos e bolsistas de IC
Salas
19h - 19h30 Cine Debate - Quem se importa?(Empreendedorismo social e comunicação)
Auditório - G
20h - 22h Mesa de debatesEmpreendedorismo em Comunicação (Time 2) Luzinete Marques e Rodrigo Cunha
Auditório - K
QUINTA-FEIRA 22/09
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8h - 11h30 Daniele Rodrigues e Equipe Redato-riaComunicação em Tempo Real e Multidisciplinaridade para empreender em comunicação
Auditório - K
14h - 18h Luz, Câmera, Inclusão: realização de vídeo acessível-Parte III - Cynthia Rosa, Iago Kielling e Larissa Nogueira
Lamb: Um resgate estético e profisional: Raissa Miah
Design de interfaces para aplicativos de notícias
Você e seu dinheiro: essa relação afeta seu sucesso: Sônia Braga
Salasdiversas
8h - 18h II SEMINÁRIO INTERPROGRAMAS SECOMUNICA - Equipe do Mestrado em Comunicação, convidados externos e bolsistas de IC
Salas diversas
19h - 19h30 Fernando Esteban, Alan Rios e Iago KielingArte e Conhecimento Acesssível:um olhar sobre o mundo
Auditório - K
20h 21h30 Silvia Aguero e Cláudio MagalhãesConexões entre Universidade e TV aberta
Aditório - K
SEXTA-FEIRA 23/09
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XV SECOMUNICA 2016Semana da Comunicação
COMUNICADORES E MUTAÇões: CENÁRIOS E OPORTUNIDADES
Comunicadores e Mutações: cenários e oportunidades
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Palestra – Comunicadores e mutações: cenários e oportunidades1
Palestrante: João Canavilhas2
Resumo: A mutação social surgida com as tecnologias digitais abarca os mais diversos aspectos do campo da Comunicação, qualquer que seja a profissão, como jornalistas, publicitários e outros. Em sua explanação, o pesquisador português João Canavilhas delimita o que considera os principais marcos do cenário contemporâneo para a atuação dos comunicadores e aponta duas tendências centrais, a mobilidade e o consumo social online. Também elenca as características profissionais necessárias a quem quer conquistar sempre novas e melhores oportunidades, inclusive num sentido empreendedor.
Palavras-chave: Mobilidade. Consumo social. Linguagem.
Antes de começar, tenho que fazer duas notas. A primeira coisa é que esta não é a primeira vez que estou em Brasília, nem a primeira vez que falo para estudantes da Católica de Brasília. Mas é a primeira vez que estou efetivamente na Universidade. A segunda tem a ver com a cara que vocês já estão fazendo com o meu sotaque; por isso, vou tentar falar devagarinho para ver se nós conseguimos nos entender. Nós, em Portugal, temos esta terrível mania
de comer as vogais; então, quando estamos falando normalmente
falamos desta maneira [aumentando a velocidade da fala] que estou
a falar agora e vocês não entendem nada do que eu estou a dizer.
Então eu vou tentar falar mesmo muito devagarinho. Se por acaso eu
ultrapassar o tempo previsto, é porque eu estou falando devagarinho e
1 Transcrição: Cynthia Rosa, com colaboração de Mariana Nóbrega.2 Professor doutor na Universidade da Beira Interior, Portugal. Jornalista. Membro do Conselho Geral e Diretor do Mestrado de Jornalismo da UBI.
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não porque estou falando muito (risos).
Muito bem, então. A ideia hoje é falarmos um pouquinho
sobre comunicação. Aliás, o título vocês têm ali atrás, não tão
enfocado apenas em jornalismo, mas tocando também um pouco na
comunicação no seu total, uma vez que temos aqui estudantes não
só de Jornalismo, como também de Publicidade e Propaganda. Há
determinadas situações em que os caminhos se cruzam, obviamente,
pela parte teórica e muito também pelo atual cenário tecnológico.
A imagem que vocês têm atrás de mim é uma que eu utilizo muitas
vezes, porque é muito significativa daquilo que é o ecossistema atual
da comunicação e do ambiente em que vocês vão trabalhar. Uma foi
recolhida exatamente no mesmo local, em 2005 e a outra em 2013, no
momento em que foi anunciado o novo papa. Se vocês repararem,
a grande diferença que existe é a quantidade de celulares que
aparecem na segunda imagem. Enquanto no primeiro caso há duas
ou três pessoas com um celular, no segundo caso, percebe-se que
quase todos o têm. Essa, digamos, é uma marca da situação atual:
poderíamos não ter mais nada em comum, todos nós que estamos
nessa sala, temos celular. Eu arrisco dizer que dou R$ 200,00 a quem
estiver aqui e não tiver um celular. Como podem ver, uns estão de saia,
outros de calça, uns tem cabelo cumprido, outros curtos, uns tem bolsa,
outros tem IPad, uns tem bolsa, outros têm sacola. Não interessam as
diferenças, pois há uma coisa que todos temos em comum: pelo menos
um celular no bolso. Hoje há mais celulares do que população, como
vamos ver a seguir.
Veremos dois slides com alguns números em termos de
ecossistema midiático e para uma população de 7,3 bilhões de
pessoas. Reparem na taxa de penetração daquilo que são os meios
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de comunicação tradicionais. O rádio, com 56,3%, ou seja, a cada dois
lares há um rádio, a televisão 23.1% e a imprensa 6,5%. Este é o cenário
atual que nós temos em termos de ecossistema midiático dentro
dos meios tradicionais. Mas, se olharmos para o cenário colocando
os novos meios, reparem que, em termos de utilizadores de internet,
estamos praticamente atingindo 50% de utilizadores. Em termos de
celulares, temos 3,7 bilhões, debutilizadores únicos de celular, porque,
na realidade, o número de cartões com o número de celular já é
superior à população mundial. Muitas pessoas portam os celulares
pessoais e os celulares da empresa. Além disso, as pessoas têm duas,
três operadoras. Temos ainda dados dos utilizadores das redes sociais,
que são 2,2 bilhões. Estes números podem ter algumas pequenas
variações em relação a outras fontes que vocês poderão encontrar.
Mas o que interessa nesse caso é a tendência. Sendo assim, entramos
na primeira nota desta conferência, que são as tendências.
Eu identifico quatro grandes tendências, embora, neste
momento, sejam duas as mais importantes. Por um lado, a questão da
mobilidade, e ,por outro lado, a questão do consumo social online. É
em torno desses dois vetores que vamos falar ao longo dos próximos
minutos.
Penso que não temos dúvidas a respeito de que todos aqui
nessa sala têm um celular e utilizam alguma rede social, não interessa
qual. E percebi, nesse momento histórico, que há algumas mutações
em termos de utilização das redes sociais. Não conheço a realidade
brasileira, confesso, mas não deve ser muito diferente daquilo que está
acontecendo neste momento na Europa. O Facebook era uma rede
que, de certa forma, dominava completamente o mercado e continua
a ser a rede com mais utilizadores. Mas o que eu tenho observado ao
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nível das gerações, não tanto a de vocês, mas as duas gerações que
estão atrás de vocês, é que o Facebook começa a ser menos utilizado
na vertente do compartilhar mensagens.
Mas vamos esquecer momentaneamente a questão social e
vamos começar pela questão da mobilidade. A grande mudança que
acontece nesses últimos anos é a emergência dos dispositivos móveis,
algo que há relativamente pouco tempo não existia; aliás é muito
provável que vocês não consigam imaginar as suas vidas sem ter um
celular.
Para ilustrar isso, vou contar uma história que acontece na
Europa. É muito comum no verão pessoas da idade de vocês, os
portugueses da idade de vocês, irem trabalhar pelo centro da
Europa para ganhar algum dinheiro e depois irem aos festivais de
verão, os festivais de música. Antes da era do celular, as pessoas iam
até a fronteira, apanhavam uma carona e tentavam chegar a um
determinado local onde geralmente iam trabalhar nas vindimas, ou
na colheita da maçã. Vocês conseguem imaginar, hoje, como três ou
quatro pessoas, por exemplo, conseguem se encontrar se não tiverem
celulares?
Porque isso acontecia: parava um caminhão, o qual dava
carona a uma pessoa; se era um grupo de três, as outras duas pessoas
ficavam para trás. Mas depois tinham que se encontrar na cidade para
onde iam. Como as pessoas conseguiam se encontrar em uma cidade
onde nunca tinham ido sem ter celular? É uma coisa que para vocês
provavelmente gera confusão. Naquela altura, uma maneira de se
encontrar em uma cidade onde nenhum deles jamais havia ido era
marcando o endereço do primeiro restaurante da lista telefônica, o
restaurante cujo nome começasse por “A”. O primeiro a chegar ficava
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os dias necessários até chegar o segundo, até chegar o terceiro.
E finalmente, quando estavam todos juntos, iam então para o seu
destino.
Hoje em dia, na sociedade atual, se colocássemos jovens da
mesma idade para fazer a mesma coisa e tirássemos seus celulares,
provavelmente iriam todos para essa cidade e se passariam semanas até
que todos se encontrassem, porque sem o celular é difícil concebermos
a nossa vida. O uso massivo e constante desse artefato introduz essas
variáveis de mentalidade e comportamento. Digamos que, em 1979,
a função fundamental era a recepção/envio de voz e mensagens;
depois disso, sofre evoluções e vai ganhando novas funções. Em 1998,
passa a ser algo que nos interessa, que tem a ver com o consumo
midiático. Em 1999, passa a ser também uma forma de pagamento,
que nós utilizamos muito hoje em dia. Depois passa a ser também uma
plataforma de publicidade. Portanto, aqui se entronca a outra parte
dos alunos que estão dentro desta sala; e, portanto, consumo midiático
tem a ver com produção e consumo de jornalismo e publicidade, o que
hoje em dia, na avaliação de alguns, se transformou num problema.
É a parte da criatividade que tem a ver também com a
câmera de fotografar ou filmar, que hoje em dia vocês tem no telefone
móvel. Para terem uma noção, há cinco anos já havia mais câmeras
fotográficas em celulares do que o número de câmeras fotográficas que
foram fabricadas em toda a história da fotografia. Vejam a diferença
que se fez com a introdução deste pequeno dispositivo, pois não há
nada que passe despercebido, qualquer pessoa tem uma câmera no
bolso, qualquer pessoa faz uma fotografia, faz um vídeo. Isso, embora
seja agregado à criatividade, pode ser agregado também a todas as
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profissões. Em 2003, temos a introdução das comunidades virtuais, e, a
partir daí, a moda é algo que faz influenciar muito a troca de celular.
A maioria das pessoas trocam de celular sem ter ao menos explorado
15% das potencialidades que ele tem; simplesmente porque saiu um
novo modelo, vai comprar. Se for um Apple, melhor ainda, porque dá
pra ficar na fila e ser notícia no jornal. Reparem que as próprias marcas
começaram a fazer dispositivos porque, como dizem aqui no Brasil,
existe uma certa grife. Em 2007, os celulares começam a funcionar como
controle remoto para alguns dispositivos; hoje em dia, vocês podem
comandar grande parte dos dispositivos que têm em casa, máquinas,
televisões, tudo isso se consegue fazer a partir do controle remoto, um
dos aplicativos possíveis de ter em um celular.
O celular é também uma máquina de contexto e isso é muito
importante para o Jornalismo. Hoje é fundamental pensar no jornalismo
em termos de contexto, não interessa tanto o que a pessoa pensa ou
o que a pessoa quer. Interessa mais saber o local em que a pessoa
está a cada momento. Enfim, hoje em dia, temos contato com diversos
elementos, e esse contato é feito através destes dispositivos: vocês
podem regar as plantas, podem ligar a luz do aquário, comandar a
casa de vocês a distância. E, além de tudo isso, o celular transformou-
se também numa plataforma de emprego. Nesses dispositivos móveis,
aquilo que vocês fazem e as próprias redes sociais são um local onde
muitos de vocês vão ser encontrados por empresas.
Seja no LinkedIn ou em outras redes sociais, as grandes empresas
têm duas equipes, uma de ataque e uma de defesa, como no futebol:
o grupo de ataque está sempre à espera de novos valores; e o de
defesa faz o monitoramento de seus próprios funcionários, não só para
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controlar o que fazem, mas para perceber quando eles têm oferta de
alguma outra empresa, ou seja, estão “de olho” na mobilidade, tônica
do nosso mundo atual.
Um segundo mundo também importante é a sociedade online.
Estamos nos dispositivos móveis e também nas redes sociais; estamos
nas redes sociais com os dispositivos móveis, e o número de utilizadores
cresce muito rapidamente. Os mais novos descobriram que os pais e
os avós também estão nas redes sociais e então deixaram de escrever
aquilo que faziam com os amigos e com as amigas, porque, de repente,
o pai e a mãe já sabem. Para resolver essa questão, o jeito é não
publicar, porque têm sido discutidos muitas vezes os perigos das redes
sociais.
Na realidade, o único diferencial que as redes sociais
acrescentam a nossa vida normal é a parte tecnológica, pois o que
fazemos nas redes sociais é o que nós fazemos na vida real. Ninguém
se lembra mais de ir para a varanda da casa e de repente começar a
contar sua vida toda; ninguém agarra um megafone e diz: “Esta manhã
fiz não sei o que, ontem fiz não sei o que”. Ninguém se lembra mais de
fazer isso e, no entanto, nas redes sociais o fazem. Portanto, na questão
das redes sociais, o único elemento que acrescenta é o tamanho do
universo: falando da varanda, ouvem os vizinhos; no Facebook, ouvem
todos os amigos, que podem ser 400 ou 4.000, tanto faz; aí alguém
compartilha e aquilo se transforma em uma coisa incontrolável.
Se olharmos para a situação política no Brasil, quando se tentou,
relativamente há pouco tempo, parar a circulação de algum tipo de
mensagem, bloqueou-se o WhatsApp; ninguém se preocupou com
mais nada, porque sabiam que estavam bloqueando um sinal aberto,
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um determinado tipo de mensagens que acabavam por circular e sem
qualquer controle. De repente, parece que voltamos a antigamente. E
essa é a nossa realidade atual: muita mobilidade, muita gente com o
seu próprio contato no bolso, querendo compartilhar pessoalmente o
que está ao nível das redes sociais.
E o que isso provoca em termos de mudança no consumidor?
Que tipo de consumidor temos nós hoje em dia? Isso que nos interessa.
Primeiro: temos um consumidor always on. É uma coisa que não era
habitual, pois nós não estávamos permanentemente abertos a receber
mensagens. Hoje em dia, vocês estão permanentemente ligados;
eventualmente, porque estão numa conferência, desligaram qualquer
coisa no celular de vocês, ou colocaram no modo avião. Aposto que
ninguém pôs, só puseram no silencioso e por uma razão muito simples:
querem estar permanentemente ligados. E se, de repente, acontecer
alguma coisa nesse país? Tenho certeza absoluta de que todos aqui
saberão; por qualquer caminho que seja, todos vão pegar essa
informação. Nós todos hoje temos uma sociedade muito mais esperta
para aquilo que está acontecendo, sabemos que as coisas vão chegar
até nós praticamente em tempo real.
Uma segunda tendência, que é também uma oportunidade, é
o fato de o consumo ser individual e social. Nós, hoje em dia, temos um
canal pessoal que é o celular. Se eu quiser mandar uma mensagem
pra apenas um de vocês, e o seu número estiver na minha agenda,
eu consigo enviar essa mensagem. Há uma porta aberta para cada
um de vocês; e isso é a diferença do consumo de massa para o que
temos agora. Por outro lado, temos um consumo social e isso provoca
grandes alterações em termos daquilo que é a própria interpretação
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da mensagem midiática.
Já viram imagens da primeira guerra mundial? Na época, o
consumo do jornal começou a ser um consumo em grupo; nos clubes
de leitura, havia pessoas que iam fazer a leitura para quem não sabia
ler. O rádio passou pelo mesmo processo; as pessoas se juntavam em
volta de um rádio. Se vocês virem imagens da primeira guerra, verão
que isso aconteceu. E aconteceu o mesmo com a televisão, que
ocupou o lugar central na sala e o consumo era feito em grupo. E
qual era a vantagem deste tipo de consumo, nos primeiros momentos
desses meios? É que havia uma interpretação. Quando havia qualquer
coisa, ao lado estava o pai, um irmão mais velho, um tio, alguém que
explicava o que era aquilo que estava na televisão.
Atualmente, isso deixou de acontecer porque o consumo é
individual; e a própria televisão está no quarto, está em todo lado,
mas falta essa parte da interpretação dos acontecimentos. Porque, ao
ver um conjunto de gentes a fugir, ou um conjunto de gentes a gritar,
pode ser qualquer coisa, pode ser a torcida de um clube, pode ser uma
manifestação pró ou contra governo. E pelas cores também não vamos
lá. Se olharmos o passado recente do Brasil, quem vestia vermelho tinha
uma posição, quem vestia de verde e amarelo tinha outra posição;
portanto, tanto podiam ser torcedores da seleção brasileira, como ser
outra coisa qualquer. Sem a interpretação, tudo se torna mais difícil. E
daí que o jornalismo tenha hoje um papel cada vez mais importante
na sociedade. Esse consumo está a mudar, e o jornalismo tem que
acompanhar essa mudança.
Uma terceira tendência tem a ver com a recepção. A recepção
passa a ser móvel, vocês têm um celular. E não deve demorar muito
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tempo que venham a nos colocar um chip nos braços, e tudo se
torna mais simples: temos aqui um receptor, que é carregado com
nosso próprio movimento de pernas, que gera energia e, portanto,
não temos que ligá-lo a nada. Como ele funciona por Wi-Fi ou por
Bluetooth, acaba por estar permanentemente em ligação; então,
olhamos para o braço e temos a informação aqui. Já não é um relógio
que se tira, mas algo que foi incorporado e que se vai adaptando ao
nosso corpo. A tendência é essa.
Uma quarta tendência é o interesse das pessoas em participar.
Não é possível continuarmos a falar sozinhos. O jornalismo, que durante
anos falou sozinho, tem que deixar de fazê-lo. Durante anos, o jornalista
fechava-se numa torre de marfim e basicamente dizia “eu sei tudo e
vocês não sabem nada”. O que acontece hoje em dia é que o público
sabe mais do que o jornalista. Não porque o jornalista não saiba muito,
mas por causa daquilo que podemos chamar de conhecimento coletivo.
É uma questão meramente estatística: mil pessoas têm que saber mais
que uma; um milhão sabe mais que uma e assim sucessivamente.
Portanto, entre as pessoas que estão a nos ler, há um ou outro que vai
fazer um comentário e que vai enriquecer aquilo que estamos a fazer.
Até aqui, o que acontecia é que a maioria dos comentários colocados
nas notícias – e vocês podem percorrer os jornais de qualquer país –
não era aproveitado para atualizar a notícia; e isso é uma coisa com
que o jornalismo precisa aprender a trabalhar.
Então, aqui começamos a segunda parte do nosso conteúdo de
hoje: quais são as possibilidades para o jornalismo e para a publicidade.
Em primeiro lugar, quer os jornalistas, quer os publicitários, todas as
pessoas que trabalham no campo da comunicação têm que aprender
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maneiras novas de explorar esses novos canais, considerando que o
jornal, a marca, têm que estar onde está o consumidor, e muitos já
perceberam isso. Por exemplo, em jogos da Fifa, a publicidade está nos
campos de futebol. Se está o público interessado naquele produto, é ali
que as marcas têm que estar. O jornalismo é exatamente igual, tem que
estar onde estão as pessoas. Não adianta continuar fazendo jornalismo
pra dentro; o jornalismo tem um papel social.
Se publicarmos uma notícia e ninguém ler, isso é o mesmo que
não ser publicada. Portanto, é preciso estar nos canais certos, saber
explorá-los. Se as pessoas estão nos celulares, estão nas redes sociais, é
para aí que temos que ir. Isto não tem nada a ver com a natureza do
jornalismo; não estou a falar que faremos jornalismo nas redes sociais. O
que estou dizendo é que o jornalismo tem que estar nas redes sociais, o
que implica necessariamente uma adaptação da linguagem.
Uma segunda linha de raciocínio a respeito desse tema da
oportunidade passa por constatar que o vídeo, as animações, são
provavelmente dois dos conteúdos mais consumidos. Então, por que
não tornar a linguagem mais gráfica? Temos que trabalhar jornalística e
publicitariamente isso. Não significa que vamos abandonar o texto; mas
vamos condensar o texto, acoplando-o a outras linguagens.
Embora pareça que estou fazendo apologia ao audiovisual, é
preciso lembrar que na base do audiovisual está o domínio da língua.
Não vale a pena alguém acreditar que, por saber editar muito bem
um vídeo e dominar perfeitamente os menus, vai ser um profissional de
audiovisual extraordinário. Pode ser um bom técnico, mas um péssimo
comunicador. Aprender os softwares é a coisa mais fácil e são todos
iguais. Um botão pode estar mais à direita, ou à esquerda, em softwares.
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Mas as funcionalidades são absolutamente iguais, a pessoa aprende
com os manuais.
Além de dominar a língua, é importante dominar os conceitos
básicos. Vamos dar o exemplo do vídeo: se manejarem bem uma
câmera e souberem editar, mas não souberem o que é um recorte, não
vão avançar. Tecnologia é importante, mas é preciso saber dominá-la
para adaptá-la. Quem sabe fazer o difícil, sabe fazer o fácil; mas quem
só sabe fazer o fácil, não sabe fazer o difícil.
Uma terceira linha é: tudo isso que estamos a falar é um enorme
grupo de oportunidades profissionais. Necessariamente, vamos ter
que esquecer aquelas profissões tradicionais. Comecem a pensar nas
novas profissões que estão a emergir e que são muito importantes.
Recentemente, fizemos um trabalho sobre emergência de novas figuras
nas redações. O que queríamos entender é quem é que funciona;
antigamente era o jornalista e ponto. Hoje em dia há um informático,
um designer; e o que conseguimos perceber é que toda essa gente tem
um papel importante hoje em termos de notícia. Em primeiro lugar, num
site já não é publicado aquilo que o jornalista acha mais importante;
muitas vezes é aquilo que o público acha mais importante. Assim, a
pauta é alterada por causa do público, não por causa do jornalista.
Da mesma forma, uma notícia chata, que interessa a poucos, quando
é transformada num modelo gráfico passa a ter interesse. Isso é uma
mudança provocada pela emergência dessas novas modalidades de
linguagem.
Para terminar: que tipo de profissionais vocês deverão ser
para conseguir trabalhar nesse novo mercado? Em primeiro nível,
um profissional multitarefa e que domine ferramentas tecnológicas e
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linguísticas, como a língua portuguesa e as teorias de comunicação,
bem como as ferramentas, não em termos do menu, de manual, mas
como elas funcionam para atingir o objetivo.
O segundo nível tem a ver com as plataformas e, aqui,
necessariamente, vocês têm que dominar novas linguagens. É
necessário aprender a contar uma história de diferentes formas. Como
eu disse antes, contar uma história em Snapchat em 15 ou 30 segundos,
ou contar uma história no Twitter é muito diferente de contar uma
história em papel, é muito diferente de contar no online, muito diferente
de contar numa rede social.
Em terceiro lugar e também muito importante é a questão do
empreendedorismo. É cada vez mais importante vocês interiorizarem
a ideia de não têm que ir trabalhar pra ninguém, Globo, Record, nem
de empresa nenhuma. Comecem a pensar em seus próprios projetos.
Provavelmente, vocês têm um potencial enorme, que no meio de
uma redação é desperdiçado. Vocês conhecem isso das teorias da
comunicação: colocados numa redação ou numa agência, começam
a absorver a cultura daquele meio e, provavelmente, a criatividade
começa a se perder. Com isso, o jornalismo e a publicidade não
evoluem, porque vocês são poucos quando entram e encontram um
grupo grande, que os vai aculturar. Então, comecem a pensar em ter
seu próprio projeto: blog, uma presença na web, um público específico.
Hoje em dia é melhor satisfazer bem aos nichos, que satisfazer mal às
massas. Vocês podem gostar de algo que lhes pareça mínimo e pensar
que mais ninguém se interessa por aquilo. Mas, certamente, no mundo
inteiro, há milhares de pessoas que gostam disso, se sentem tão sozinhos
quanto vocês e que estão dispostos a pagar para falar com alguém e
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para ler notícias sobre essa particularidade.
Em resumo, minha recomendação é esta: a base é o
conhecimento que já temos no campo da comunicação. Não interessa
se estão no jornalismo ou na publicidade, dominem as ferramentas e as
plataformas. Não precisam ser super homens nem super mulheres; mas
precisam ser bons em uma ou duas coisas e compreender algo do resto,
o suficiente para falar com o editor de áudio e vídeo e o editor gráfico
ou de web. A esse respeito, o jornal Zero Hora tem um manual muito
interessante, que explica ao jornalista qual tipo de notícia vai bem com
infografia, vídeo, som, numa importante tentativa de construir pontes
entre o jornalismo e a parte gráfica.
Por fim, se vocês têm uma ideia, tentem colocá-la em prática;
não a abandonem, pois correm o risco de mais tarde haver alguém
que aproveite a sua ideia, enriqueça-a, e vocês ficarem frustrados
porque têm aquele emprego normal, quando podiam ter a sua própria
empresa e estar a trabalhar numa ideia vossa.
Deixo aqui uma imagem do laboratório ao qual eu pertenço,
o labcom.ifp, que tem três projetos: a revista online; o bocc; e os
livros, tudo para download gratuito em PDF, pronto para consumir. Há
cerca de 2.500 papers e 300 livros disponibilizados, porque achamos
que o conhecimento só faz sentido quando é compartilhado. Façam
download, enviem-nos propostas, colaborem, vão passar um semestre
conosco, seja nos programas de intercâmbio, seja no mestrado ou no
doutorado. Na Universidade da Beira do Interior, no Labcom, se tiverem
uma ideia, um projeto, contem conosco, estamos lá para ajudar.
Somos uma pequena universidade, de apenas 6.500 estudantes; em
Comunicação, talvez uns 500. Mas, como vêem, trabalha-se muito. E o
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Palestra - O primeiro emprego, e ai?1
Palestrante: Alberto Villas2
Resumo: Ao rememorar sua trajetória inusitada no jornalismo, Alberto Villas traça um paralelo do jornalismo no século 20 frente ao jornalismo atualmente, no século 21. Esse resgate privilegia a memória do primeiro emprego, mas fala também de pró-atividade, criação de projetos, redação, edição, produção. Experiências vividas em impressos e na televisão.
Palavras-chave: Primeiro emprego. Projeto editorial. Impressos. Televisão.
Eu gostei muito quando me convidaram para falar sobre o meu primeiro emprego, porque tenho duas histórias sobre primeiro emprego. Vocês vão sentir como é curiosa a vida do jornalista, sempre com umas pedras no caminho. Você chuta as pedras, e adiante as coisas acabam dando certo. Antes de começar realmente, vou fazer algumas correções ao texto de apresentação. Na verdade, eu não me formei pela UFMG, embora tenha feito o vestibular e estudado lá três anos e meio de jornalismo. Quando estava no último semestre, eu tinha uma participação muito ativa no DCE e era a época da ditadura no Brasil. Essa época era muito tenebrosa, medonha; as pessoas eram abordadas pelo simples fato de estarem conversando em grupo nas ruas. Apesar de eu nunca ter sido militante de organização guerrilheira ou terrorista, fui abordado no centro de Belo Horizonte por dois carros da polícia. Os caras me confundiram com um terrorista que se chamava
1 Transcrição: Cristiane Pereira Nunes Reynoso.2 Jornalista. Repórter da Carta Capital. Colaborador das Editoras Trip e Abril.
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Alemão, e desceram atrás de mim com arma na mão. Eu era muito louro, e então, até eu provar que não era a tal pessoa... foi uma coisa muito complicada pra minha cabeça. E não tinha nada a ver eu ser preso, porque eu não era um guerrilheiro. Naquele dia, eu resolvi ir embora do Brasil.
Em três meses, eu me casei e, na semana seguinte após meu casamento, fui embora pra França, achando que eu ia continuar o curso lá. Cheguei a Paris sem falar nenhuma palavra em francês, e tive que ficar um ano estudando na Aliança Francesa, de manhã e de tarde. De repente, caí na real, eu sabia falar, mas não sabia escrever. Como você entra na universidade com um francês meio precário? Depois de um ano, eu entrei no Instituto Francês de Imprensa e fiz um curso de três anos.
E em mais um ano eu fiz a minha tese, sobre 10 anos de Censura no Brasil a partir do Jornal Opinião, um jornal semanal que havia no Brasil. Ele publicava quatro páginas, e a edição se chamava edição brasileira do Le Monde. Uma curiosidade a esse respeito eram os cortes da censura. Como eu conhecia os originais, sabia exatamente o que tinha sido cortado. O curso é muito diferente daqui, pois é muito teórico, tratava muito das diferentes imprensas: da China, da União Soviética, dos Países do Leste Europeu. Isso despertou em mim uma paixão enorme por revistas, jornais, pelo jornalismo todo. Adoro chegar num país e lembrar o que eu estudei, sei a linha dele, a tradição de cada um deles.
Nos anos 1970, passei oito anos sem vir ao Brasil, uma coisa interessante, pois, naquela época, a gente se desligava de tudo do país, diferente de hoje em dia, em que você pode acompanhar os jornais, falar com a família pelo Skype. A gente se comunicava por carta, porque o telefone era caríssimo; uma carta demorava 10 dias pra chegar, se a pessoa respondesse, eu recebia dez dias depois. Quem hoje tem a paciência de esperar vinte dias pra receber uma resposta?
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A partir de 1976 começaram a aparecer muitos jornais alternativos, além do Opinião, de que falei na minha tese: Movimento, Em Tempo, De Fatos, Versos, Co-Jornal, este último lá no sul. Na Paris daquele tempo moravam 10.000 brasileiros exilados. Era um prato cheio pra quem estava lá fazer matérias pra esses jornais alternativos. Eu comecei a colaborar com esses jornais de maneira completamente artesanal, pois não conhecia ninguém e a maioria deles era feita em São Paulo. As pessoas me mandavam os jornais e revistas toda semana, por navio, pois a via aérea era muito cara, e eu lia esses jornais no expediente. Eu entrevistava muitas pessoas: Brizola, Arrais, Luís Carlos Prestes, e enviava as fotos e as entrevistas pelo correio. Pra minha surpresa, como o assunto interessava a eles, as minhas matérias começaram a sair assim: matérias de capa; entrevista exclusiva. Eles começaram a gostar e me pediam mais matérias. Como a comunicação era muito precária, sem telefone, eu passei a colaborar muito, por escrito, com esses jornais. Curiosamente, passei a aparecer em expedientes de vários jornais que eu nem sabia que existiam, com os quais nunca colaborei. Eles pegavam de outro jornal e colocavam “Correspondente em Paris”, e punham lá o meu nome. Era outro mundo. Nesse trabalho de jornalista, eu não ganhava quase nada; as assinaturas do exterior me pagavam algum dinheiro, mas eu precisava trabalhar na cozinha, construía autoestrada, lavava louças. Quando veio a Anistia, eu resolvi voltar, porque estava todo mundo voltando. Eu sempre fui muito ligado ao Brasil e não tinha interesse de morar na França, nem de ser um cidadão francês. Em 1980, quando eu cheguei a BH, não fiquei satisfeito, pois eu queria ir pra uma cidade maior. Depois de uma semana peguei um ônibus e fui pra São Paulo, ver um grande amigo que morava lá, o jornalista Humberto Werneck. Ele falou que eu podia ficar na casa dele, e eu queria conhecer os jornais alternativos, que, por causa da anistia, estavam quase todos fechando. As pessoas editavam e tinham
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esses jornais, mas normalmente trabalhavam em outros grandes, como Estadão, Folha. Na primeira manhã em São Paulo e já na casa do Weneck, fui ao Estadão conhecer um amigo com quem eu me correspondia. Era o Marcos Ferman, editor do jornal Versos, e fui bater na redação do Estadão pra conhecer o Ferman pessoalmente.
Eu nunca tinha trabalhado numa redação e fiquei espantado quando vi aquilo: era um lugar enorme, uma fumaçada, pois podia fumar na redação, e um barulho infernal de pessoas batendo na máquina de escrever. Era um lugar completamente diferente do que é hoje uma redação. Chegando lá, o Ferman me convidou para um café. Era uma época tão glamorosa, que o café no Estadão era uma lojinha no corredor, tinha um garçom de gravata borboleta que servia café para os jornalistas em xícara de porcelana.
Lá no cafezinho chegou o editor internacional, José Maria Mairin, um jornalista que eu não conhecia. O Ferman me apresentou, e conversando falei que estava procurando alguma coisa para trabalhar. Ele vira pra mim e pergunta se não queria começar a trabalhar no outro dia, pois uma redatora tinha acabado de pedir demissão. Levei um susto e topei na hora. Imagina, eu nunca tinha pisado numa redação, e no outro dia eu estaria ali, trabalhando. Fui trabalhar no Estadão sem passar pelo RH, sem ninguém me pedir documento, nada. Eu entrava às cinco horas da tarde e separava os telex, que era como as notícias chegavam na redação. Eu separava o que era da América do Sul, na época a guerra das Malvinas estava no auge, e distribuía na editoria. Fulano cobre a América Latina, fulano cobre a Europa, Guerra no Oriente Médio. Quando dava nove horas, nove e meia, as pessoas iam embora e eu ficava por conta da primeira página, se acontecesse alguma coisa. Confesso pra vocês que eu rezava pra não acontecer nada; ficava imaginando se dez horas da noite chegasse a notícia de que mataram o presidente dos EUA, claro que eu não iria fazer sozinho, mas já estava tudo fechado. Eu ia embora pra casa assustado, mas
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torcia pra não ver na capa do jornal concorrente a matéria de capa, que mataram o presidente dos EUA. O que acho legal nessa coisa do primeiro emprego é que eu entrei numa coisa assustadora, entrei num jornal enorme, numa redação enorme. Quando eu falo enorme é porque era enorme mesmo, o jornal tinha caderno de esporte, de ciências, de literatura, um jornal imenso, coisa gigantesca. Não me senti intimidado de perguntar o que eu precisava fazer; tinha que separar telex, eu ia lá e separava; e comecei a me interessar. Logo no primeiro dia os redatores começaram a me perguntar: o Gorayeb já chegou, o Lapugi já chegou, o Morabito já chegou? Eu nem sabia o que era isso, mas eram os nomes dos correspondentes, pois tinha correspondente na Itália, no Líbano. Eu tive que fazer um curso intensivo de jornalismo em horas e aprender quem era o correspondente na Itália, em Paris. Aí, eu tive a ideia de fazer o jornal dos correspondentes. Na época não tinha internet. À noite, eu escrevia pra eles e colocava qual era a manchete do Globo, da Manchete, qual era o destaque pra isso, que time ganhou, perdeu, e mandava pra eles toda noite. Eles ficavam empolgados, pois estavam longe, eram notícias que eles não recebiam lá. Nesse clima, uma das redatoras saiu e me chamaram para redigir; então, deixei os telex de lado e passei a trabalhar de tarde na redação. O Estadão era um jornal que não tinha um caderno de artes e espetáculos, e eu sempre gostei muito de literatura de música. Eu ficava incomodado que a Folha era um sucesso com a Ilustrada, o Globo com o Segundo Caderno, mas o Estadão não tinha um caderno de variedades. Aí tive a ideia de propor um caderno de variedades pro Estadão. Uma pesquisa de preferência de leitura tinha sido feita e o resultado era curioso: primeiro lugar o primeiro caderno, depois política e esporte. Variedades estava em 19º lugar; até o obituário estava na frente do variedades. Fui conversar com uma amiga, a Patrícia Mesquita, que é uma
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das herdeiras dos Mesquitas. Como ela era bem jovem, gostava de música. Conversamos primeiro para ver o que ela achava da ideia de fazer um caderno de variedades e começarmos a trabalhar. Daí montamos um projeto pequeno e fomos conversar com o Júlio Mesquita, tio dela. Ele achou que eu podia trabalhar nele, aí eu sai da Editoria Internacional e passei seis meses fazendo o projeto desse caderno de variedades. Era um caderno completo, que ia falar de música, teatro, literatura. Trabalhamos o tempo inteiro nesses seis meses, e a gente contratou um cara para fazer o projeto gráfico, todo ele feito em cima do logotipo, e o caderno foi chamado Etc. Chegamos a imprimir vários números zero, experimentais, e o que ficou mais legal de todos, acho que uma exposição do Picasso em São Paulo na capa, a gente levou pro Júlio Mesquita aprovar.
Eu achei engraçada, e não esqueço nunca, uma frase que ele falou pra gente na sala: “No meu jornal nunca vai ter uma foto colorida”. Isso era em 1986; hoje você pega os jornais, todos coloridos. Pra ele o jornal seria em preto e branco; e ainda bem que o nosso número zero era preto e branco; se fosse colorido, ele iria descartar na hora. Apresentamos o projeto pra ele, que passou página por página, olhou, terminou, fechou e disse: “Está ótimo! Mas faz assim, vai chamar Caderno Dois”. Foi um balde de agua fria, toda a ideia do caderno estava centrada na ideia do Etc, um nome em que a gente apostava. Apesar de estarmos frustrados, a gente nem questionou, saímos de lá correndo e o designer ficou maluco, desfazendo tudo pra sair o tal caderno. E em abril de 86 finalmente o Caderno Dois saiu.
Meu primeiro emprego começou, então, separando telex, depois fui pra redação, aí veio a ideia de ter o segundo caderno. Eu acho que isso foi uma coisa que eu sempre tive, de não ser passivo, algo que era pra fazer eu fazia e pronto. Assim, embora eu não me considere um workaholic, sempre fui muito entusiasmado com o jornalismo. Fiquei um ano no Caderno Dois, editando.
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Depois veio um convite da TV Bandeirante pra fazer um jornal novo que iam lançar, um Jornal de Vanguarda, apresentado pela Doris Giesse, bem moderno, não existia nada assim na época. Eu sou de uma geração que não era contra a TV, Bandeirantes ou Globo, éramos contra o aparelho de televisão, pois achávamos que era uma máquina de fazer loucos, uma máquina de alienação. Em princípio, quando pensei em fazer televisão, fui conversar com o Fernando Mitre. E me senti de novo como no meu primeiro emprego, porque fiquei tão entusiasmado de ir trabalhar com Fernando Gabeira, Paulo Leminski e tanta gente mais, apesar de no Caderno Dois eu trabalhar com pessoas muito bacanas, como o Caio Fernando Abreu. Resolvi depois trabalhar na televisão. Isso era uma sexta-feira, e pensei que eu ia passar seis meses fazendo o projeto do Jornal de Vanguarda. Fui até o Fernando Mitre pra perguntar quando ia estrear o Jornal: a previsão era na segunda-feira seguinte, 11:30 da noite. Quando subiram os créditos com meu nome, editor-chefe, eu nunca tinha entrado numa ilha de edição, eu não tinha a menor ideia do que era fazer televisão, porque ela é bem diferente da imprensa escrita. E pela segunda vez eu me senti no primeiro emprego. Porque era meu primeiro emprego na televisão, e eu estava jogado numa fogueira, me perguntando como é que a pessoa topa ser editor-chefe de uma coisa que nunca fez. A televisão é complicada, não é simplesmente fazer um texto; e depois, quando está no ar, tem edição, tem sonorização, tem o tempo. Eu achava uma loucura: faz o programa com 35 minutos; pergunto se podia ter 37; não podia ter 1 segundo a mais. Eu achava aquilo uma loucura. Mas eu tive sorte de ter uma pessoa que ficou do meu lado ali os dez primeiros dias. É nessas horas que você se sente apertado e que começa a prestar atenção, aprendendo bem rápido. Sem brincadeira, eu aprendi em 15 dias a fazer televisão. Fiquei na Bandeirantes durante um ano e depois fui pro SBT, onde implantei o Jornal do SBT com a Lilian Witte Fibe. Foi uma das
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experiências mais bacanas que eu tive na vida, porque tínhamos uma liberdade total e absoluta, não tinha nada que a gente não pudesse fazer. A Lilian Wite Fibe vinha da Globo e ficou assustadíssima, porque ela era uma comentarista de economia e propuseram a ela fazer um jornal que tinha esporte, música, comportamento, tudo. Ela ficava perdida, e isso fez com que ela desse asas pra gente. Nós fazíamos e ela apresentava o jornal; a gente fez coisas históricas no Jornal do SBT, quando ele entrava junto do jornal da Globo. Como nós tínhamos o minuto a minuto no Ibope, íamos acompanhando; era uma coisa sensacional: a Globo estava com 30 pontos da novela e entrava o jornal da Globo, aí caia pra 18, pra 15. A gente que estava com 5 pontos, passava pra 7, pra 9, até passar da Globo. Era uma festa na redação. As matérias que fazíamos eram até um pouco irresponsáveis pra alguns. Me lembro de que na época, em São Paulo, houve uma matéria com os anões do orçamento, e um dia estourou uma bomba nesse escândalo de corrupção. Fizemos uma matéria inteira, com o off absolutamente perfeito, sem nenhum erro de gravação, e as imagens eram todas dos Sete Anões da Branca de Neve. Por isso a gente passava o Jornal da Globo, porque quem estava assistindo o Jornal da Globo, todo sério, quando ia pra o SBT via aquela descontração toda, não humorístico, mas diferente. Me lembro do dia de um jogo entre Palmeiras e Vasco; não sei por que motivo o Vasco não apareceu pra jogar, acho que era um protesto contra a arbitragem, e o Palmeiras entrou em campo, ficou lá um tempo esperando, a televisão mostrando e tal. Daqui a pouco, os jogadores foram saindo e entrando no vestiário. Aí a gente punha na escalada, assim: o Vasco dá uma de Tim Maia e não aparece pro jogo. A música de fundo era: Me dê motivo.
O jornal era muito legal, realmente ele fez história. A Globo ficou tão incomodada que chamou toda a equipe pra fazer o Jornal da Globo. Em princípio a gente não topou, pensamos que não iríamos poder fazer esse tipo de jornalismo na Globo. Por fim foram seis pessoas,
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pra fazer um novo jornal da Globo, com a Sandra Annenberg. E nunca mais o jornal do SBT bateu o Jornal da Globo, porque o SBT contratou uma equipe normal, e a audiência da Globo é sempre maior do que a do SBT. Fui pra Globo, fiz o Jornal da Globo, depois o Jornal Hoje, e passei uma temporada de quatro meses no Jornal Nacional, substituindo o editor-chefe, que ia sair de licença. E como eu gostava de música e variedade, eles me passaram pro Fantástico, que eu fui fazer numa situação engraçada. Nunca imaginei que pra ser jornalista precisava viajar tanto de avião. Eu era editor-chefe em São Paulo e precisava ir pro Rio de Janeiro três vezes por semana. Passei 10 anos fazendo isso, sem fim de semana. Só por curiosidade fui contar os tíquetes de embarque daquele ano e deram 152; eu não estava aguentando mais. Então, depois disso resolvi trabalhar por conta própria e saí da Globo. Durante o tempo do Fantástico,preciso falar de uma coisa interessante com relação ao primeiro emprego, porque a Globo tem um projeto de trainee. Pra entrar é um vestibular, mas todo ano tem uma equipe nova de trainees, e eles passam por todos os telejornais da Globo. Todo dia primeiro chegavam dois novos estagiários lá no Fantástico. Eram pessoas muito novas, mas aqueles que se destacavam eram contratados, tem uns quatro que estão trabalhando lá até hoje. O tempo de experiência era de dois meses. Eu argumentava com eles que pra mim bastava dois dias pra avaliar, não pra uma avaliação definitiva, mas para saber se o estagiário tinha ou não perfil de jornalista. A experiência que tive com os trainees era engraçada, porque eu chegava pra eles no dia e falava que precisávamos localizar o Antônio Fagundes pra dar uma entrevista. Tinha uns que chegavam no final do dia, oito horas da noite e falavam que tinham deixado um recado na secretária eletrônica; tinha outros que em cinco minutos chegavam e falavam que não o encontraram. Vi uma diferença muito grande entre as iniciativas e, claro, quando você chega no primeiro
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emprego é normal ser muito tímido, mas logo se percebe a pessoa que tem iniciativa pra tentar resolver as coisas e que essa pessoa é jornalista.
Acho que hoje as coisas estão muito mudadas, nas redações vejo as pessoas meio intimidadas, não sei se pela situação política ou do próprio emprego, medo de ficar criando caso e ser demitido, mas eu acho que as pessoas eram mais ousadas, tinham mais coragem. Confesso que eu nunca tive problema na Globo, com relação aos assuntos publicados, nunca fui censurado, mas sinto que a coisa mudou demais porque eu fazia o espelho do Jornal Hoje, do Jornal da Globo, do Fantástico, a gente passava com o diretor de jornalismo, o espelho pronto do Jornal Hoje e do Jornal da Globo, e eu jamais submetia o espelho a eles, fazia o jornal como eu achava correto, punha no ar e nunca tive problema.
Aliás, no Fantástico, tive um problema com aquelas notícias de domingo. Numa matéria de um abraço à Lagoa Rodrigo de Freitas, tinha uma imagem muito forte de um militante do Partido Verde, e os políticos desse partido queriam o contato do editor do Partido Verde que trabalhava no Fantástico, pra valorizar a imagem do partido, fazer propaganda. Confesso pra vocês que 90% das pessoas que eu conheço que trabalham hoje na Globo, que trabalharam comigo são meus amigos, mas eles não confessam em quem votam, ninguém quer chamar a atenção, ficam receosos de se pronunciar, não sei se por causa do mercado trabalho muito restrito, ou se por medo de perder o emprego.
O primeiro emprego, hoje em dia, está no meio de uma grande revolução. No meu tempo, era tudo tão sólido, os jornais empregavam, não havia notícias de cortes, não escutávamos notícias de que estariam demitindo todo mundo, de que estaríamos em crise. Porque as crises sempre existiram, a gente vivia uma inflação de 500% ao mês. Mas os jornais eram muito sólidos, a televisão era muito sólida, sempre houve verba pra fazer tudo, não tinha miserê. Ninguém falava que não iria
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viajar por gastar muito dinheiro, bem diferente do que é hoje. Penso que hoje a pessoa que entra no primeiro ano de Jornalismo tem um dilema pela frente. A gente sabia que ia trabalhar em jornal, em televisão, que ia trabalhar em edição. Mas hoje eu não sei se daqui a cinco anos a pessoa que está pensando em trabalhar em jornal, sabe se o jornal de papel ainda vai existir. A tendência não é catastrófica, a notícia não vai acabar, ai estão os sites, os blogs; mas eu acho que vocês estão no meio da confusão, não tem nada definido. Daqui a cinco anos vão estar consolidado os sites, vai estar consolidada a web. Eu tenho um grande amigo que trabalha em São Paulo e foi passar uma semana na revista Time de Nova York. Ele falou que a revista de papel é 1% da preocupação da Time, que é talvez a revista semanal mais importante de informação, pois eles não pensam mais na revista impressa, el só estão imprimindo a revista por uma questão de praxe. Mas não tem importância nenhuma pra eles, se vendeu, qual tiragem; eles só estão focados na Web, tudo só funciona digitalmente. Aqui no Brasil, não sei o que está acontecendo claramente, mas, se a Folha de São Paulo e o Estadão estão acreditando que não vão acabar, pra mim eles estão com a morte anunciada. Quando eu vejo que os jornais estão encolhendo, me pergunto que dia vão voltar a crescer ou que dia eles vão ganhar leitor com esse encolhimento. Não consigo imaginar como estarão esses jornais daqui a cinco anos. Fico imaginando quem entra no jornalismo agora, em que quer trabalhar, mesmo quem quer focar na web, trabalhar com digital, não está muito formatado ainda, não está muito consolidado, porque naquela época quem tinha um trabalho na Folha, no Estadão ou na Globo, pagava todas as contas. Hoje, se você vai trabalhar na web, corre o risco do seu salário ser menor do que a mensalidade do seu filho, não é uma profissão mais tão rentável. Outro dia eu fui à Rádio Bandeirantes, dar uma entrevista do meu último livro e, quando a gente foi ao estacionamento, tinha vários carrões zero, todos carros de estagiários, porque o pai deu
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o carro, o pai paga a gasolina, o pai paga o IPVA, os carros são dos estagiários que ganham oitocentos reais por mês. Agora, os jornalistas mesmo tinham os piores carros, (falou em tom de brincadeira) e é por isso que as pessoas aceitam trabalhar por esse valor: moram com os pais e não têm preocupações, Na minha época, a gente trabalhava pra viver.
Hoje, o conselho que eu dou para o primeiro emprego é: ousadia. E o segundo é criatividade. A pessoa não pode contar que tudo está na internet, no Google, tem que ter paixão pelo jornalismo. Como exemplo eu posso citar uma entrevista que dei pra revista da Gol, da editora Trip, que me convidou pra fazer o perfil do Ziraldo. Essa tarefa consiste em passar uma tarde com a pessoa e depois falar sobre ela, contando um pouco da sua história. Antes da entrevista, eu passei dois dias e duas noites preocupado com ela, procurei em vários lugares, peguei os livros dele que eu tinha em casa, dei uma olhada de novo, anotei 50 mil coisas. Na realidade eu não precisava fazer nada daquilo, podia simplesmente ir conversar com ele, tanto é que, quando cheguei no estúdio dele no Rio, ele perguntou pelo gravador. Quando eu disse que não tinha levado, ele quase não quis dar a entrevista, porque falou que, mesmo gravando, os jornalistas distorciam o que ele falava. Eu o tranquilizei, dizendo que podia ter certeza de que isso não iria acontecer; e ele começou a falar, viu que eu ia dialogando com ele sobre os assuntos, foi ficando entusiasmado, e eu fiz um perfil muito legal. No fim, ele fez uma carta pra Gol agradecendo a entrevista e eu emoldurei a carta e pus no meu escritório.
Percebo muito que as pessoas vão às entrevistas sem ao menos ler ou escutar algo previamente do entrevistado. Se eu vou entrevistar o Caetano, eu tenho que no mínimo conhecer as músicas dele; mas a pessoa vai sem ao menos ter a curiosidade de escutar o disco novo dele, e mesmo assim tem coragem de ir lá entrevistar. Eu fico muito impressionado com isso porque, se você tem essas informações
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previamente, sua entrevista vai ficar muito boa. Os estudantes de jornalismo têm que pensar muito nisso: pra que lado que eu vou com esse assunto? Esses dias eu recebi um trabalho de uma revista sobre a Nestlé, que vai fazer 150 anos. Bem que eu poderia contar a história da marca, que chegou ao Brasil há 90 anos, há 150 na Suíça, mas preferi dar várias ideias para fazer um quiz, um jogo, fazer uma página reproduzindo as imagens das figurinhas dos chocolates Surpresa, que foi um sucesso no Brasil, e assim você põe a imaginação pra funcionar: a sua e a do receptor. Hoje em dia, a revista que eu mais gosto de ler é a Piauí, eles fizeram um perfil sobre o João Dória, prefeito de São Paulo. O cara é o retrato daquele “cara coxinha”: levaram ele na periferia e ao entrar no escritório ele viu a garrafa térmica e perguntou o que era aquilo. O cara está acostumado ao Nespresso, o jornalista sacou que ele estava acostumado a outro tipo de café, e aproveitou a deixa pra conduzir a entrevista. Tem que por a imaginação pra funcionar. Eu sempre lutei por essa paixão, desde os títulos, que coleciono numa pasta, vou recortando, e alguns são bem interessantes, como um que li na revista Piauí, sobre um roubo de falsificações de obras de arte, que o título poderia ser de várias formas tradicionais, mas o editor colocou: Cuidado, tinta fresca! O cara teve uma ideia inteligente, maravilhosa. É isso que eu acho que tem que acontecer. Boa noite e muito obrigado!
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Workshop - Negocie sem medo: aprenda como a programação
neurolinguística pode ajudar a fechar negócios1
Convidado: Darlan Ferreira2
Resumo: Darlan Ferreira traz uma apresentação sobre a influência
da programação neurolínguística em diversas áreas da vida social
e profissional. Resgata memória de sua trajetória como pessoa de
publicidade interessada em compreender processos facilitadores das
relações interpessoais, pela qual chegou à pesquisa e experiência em
técnicas da programação neurolinguistica. Apresenta essas técnicas
com descrições, casos e interações com a plateia.
Palavras-chave: Publicidade. Programação neurolinguistica. Vendas.
Como já me apresentaram, eu sou publicitário, estou no mercado
já há alguns anos, e minha inserção no mercado foi muito engraçada.
Como o tema Cenários e Oportunidades, o que aconteceu comigo foi
uma grande oportunidade. Eu tive o privilégio de iniciar a minha carreira
como publicitário um semestre antes de iniciar na faculdade. Como
assim? Parece loucura, mas eu costumo dizer que foi um golpe de sorte
que a vida me proporcionou. Um amigo, junto com o meu irmão, foram
fundar uma agência. Esse amigo do meu irmão já tinha uma gráfica
e chamou o meu irmão, que também é publicitário, para abrir essa
agência. Então eles fizeram isso e me convidaram, pois sabiam que
1 Transcrição: Maria Giullia Gonçalves2 Publicitário. Coordenador de marketing promocional da Jovem Pan Brasília e practtionner em Hipnose.
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eu iria fazer faculdade de publicidade e à época eu trabalhava na
procuradoria jurídica do Incra, meio período.
Eles me chamaram e falaram: “A gente está montando uma
agência, a gente quer que você faça parte dela, só que tem um
detalhe: nós não podemos te pagar absolutamente nada.” Eu falei:
“Poxa vida, estava ficando bom e já começou a ficar ruim?” Mas eu
visualizei a oportunidade, fui trabalhar lá e lembro, como se fosse hoje,
do meu primeiro job na agência: servir o café durante uma reunião,
como estagiário. Depois, como a agência tinha sócios donos de gráfica,
fui organizar o almoxarifado da gráfica; esse foi meu segundo job e foi
assim que eu iniciei numa agência. Só que eu sempre soube que um dia
eu trabalharia na área de comunicação. Não necessariamente com
publicidade, apesar de achar que todos nós nascemos publicitários.
Quem aqui é do curso de Publicidade, só para ter uma ideia? E
jornalismo? Alguém de outra área? Qual curso? Economia... uma certeza
que eu tive é que eu jamais seria de exatas. Porque eu sempre sentava
no fundão da sala, e era sempre eu que apresentava os trabalhos na
minha turma, ou seja, eu nunca fazia, mas sempre apresentava. Alguém
aí é assim também? Eu espero que não, gente. E assim eu fui entrando...
E por que eu digo que todo mundo nasce publicitário? Uma das
principais funções do publicitário é anunciar, seja ideias, produtos ou
serviços. E quando a gente nasce a primeira coisa que a gente faz é
chorar, anunciando que está vivo. Se você não chorar, o médico vai
achar que alguma coisa está errada dentro desse processo. Durante
o percorrer da vida, nós desejamos ter profissões diferentes. E aí eu fui
iniciando a minha trajetória dentro da agência, e tive a oportunidade
de passar por todos os departamentos. Na época não existia marketing
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digital, ainda era um sonho distante. Para vocês terem uma ideia, a
principal rede social da época era o Orkut. Não se pensava em usá-lo
na época como uma ferramenta de comunicação de massa, mas hoje
a gente pode entender as redes sociais como tais. Então eu passei por
criação, atendimento, planejamento, produção e mídia.
Na época, existia uma área nas agências que era chamada
de Tráfego, que não existe mais, responsável por fazer a interligação
entre todos os departamentos. E fui indo, até o dia em que precisei
visitar um cliente e fazer um atendimento. Primeiro me deu um
cagaço, com perdão da palavra. Mas fui, encarei, fiz o atendimento,
e, para a minha surpresa, o cliente deu um feedback positivo para a
agência. Frente a isso, os donos me chamaram, perguntaram quanto
eu ganhava no Incra, e pensei: “Ah, vou ser contratado”. E respondi:
“Ganhava quatrocentos e vinte e quatro reais, mais o vale transporte e
o ticket.” “Vamos aumentar o seu salário, queremos você aqui todo o
dia”, responderam. “O cliente ligou, gostou e a gente quer você aqui
full time.” Eu estava indo para o segundo semestre de publicidade e
pensei “Caramba, futuro Washington Olivetto... Quanto vocês vão me
pagar?” “Seiscentos reais.” Poxa, só isso para trabalhar praticamente
de domingo a domingo? Quem já está no mercado sabe que você não
para, a rotina é vinte e quatro horas por dia. Mas falei: “Vamos lá”.
E a gente criou um novo departamento dentro da agência,
que só tinha eu, e era correria. Eu fazia alguns trabalhos da área de
publicidade, e todas as outras coisas que não tinham nada a ver com
publicidade, tipo ser motoboy. Mas fui. Encarei a oportunidade. Através
dessa oportunidade, fui atender a prefeitura municipal de Águas Lindas,
uma conta que a agência tinha acabado de conquistar. O tempo foi
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passando, e também atendi em Santo Antônio do Descoberto. Vocês
viram que eu gosto do entorno, Cidade Ocidental, Novo Gama...
Outro lugar onde eu gostei de trabalhar foi com a Rádio Jovem
Pan. Como consegui um bom relacionamento com a equipe da rádio,
acabei recebendo um convite para trabalhar lá, e não pensei duas
vezes: “Vou trabalhar na Rede Globo das rádios, vou ganhar dez mil
reais.” Mas não. Eu ganhei menos do que eu ganhava na agência, mas
pra mim foi uma experiência extremamente valiosa e eu pude vivenciar
coisas em uma área na qual não tinha experiência ainda: o marketing
profissional. Eu coordenava as “Patrulhas da Pan”, os carrinhos da Pan
que ficam nas concessionárias, na rua, com aquelas modelos bonitas,
e aqueles caras que não são tão bonitos assim, tipo eu. Uma dessas
ações que a gente fez foi aqui na Católica – se não me engano, no ano
de 2012 – o “Vai Lá e Faz”. Veio uma parte da estrutura para cá, veio o
pessoal do Mundo Canibal, enfim, pude aprender várias coisas.
Uma das coisas que eu mais gosto de falar é desse concurso que
eu ganhei quando tinha 14 anos de idade, na cidade de Porto Alegre.
Alguém já imaginou que existe uma cidade que não é no Rio Grande
do Sul que se chama Porto Alegre? E se eu falar que existe uma cidade
com esse mesmo nome em Portugal? Vou explicar brevemente essa
história, que é a seguinte: essa cidade Porto Alegre fica no interior do Rio
Grande do Norte, no meio do sertão nordestino; é uma cidade serrana,
cerca de 780 metros de altitude, e como eles dizem lá é um “achado no
meio do sertão”. Tem cachoeiras, sítios arqueológicos, pinturas rupestres;
é sensacional. Meu pai é de lá. E ele falou: “Vamos para a casa do seu
avô”. Fui passear e acabei morando um tempo lá.
Como a cidade tem um potencial turístico muito grande,
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a prefeitura resolveu fazer um concurso para escolher o slogan da
cidade. Eu não fazia a menor ideia de que um dia eu iria trabalhar com
publicidade, mas resolvi participar do concurso. E foram vários slogans,
alguns bizarros. Como a cidade ficava a uns 1800 metros da praia, tinha
um assim: “Sol e luar, brisa do mar”. E aí eu falei “Poxa vida, nós moramos
numa serra, todo mundo que vem aqui fala que é um paraíso”. Apesar
de ser muito simples, o slogan encantou toda a cidade. Hoje a cidade é:
“Porto Alegre, paraíso serrano”. E eu ganhei uma grana por conta desse
slogan. Na época, 100 reais. Vejam que eu ganho bem em tudo que eu
participo. Na época, 100 reais davam para comprar muita coisa. Dava
para comprar dois tênis naquela época. E assim, eu fui entrando na
publicidade.
Fiz uma formação em hipnose, de hipnotizar, de dormir “bem
dormido, bem dormido, bem dormido”, aquilo lá mesmo. A hipnose
tem vários conceitos, e um deles aplico em negociação, com a
fundamentação da programação neurolinguistica.
Mas, afinal, o que vem a ser programação neurolinguística?
Em primeiro instante, vocês podem achar que é algo surreal, algo que
envolva computação, psicanálise, um monte de maluquices por ter um
nome muito grande, então chamamos de PNL.
E como é que surgiu essa que é tida por muitos como uma
ciência? Nos anos 1970, através de dois pesquisadores, John Grinder
e Richard Blander. Um era formado em computação, e o outro era
professor de linguística. Estavam fazendo um experimento, observando
alguns psicoterapeutas da época (Fritsch Spells, Regina Satin e Milton
Ericsson - que é considerado o pai da hipnose) que tinham resultados
muito acelerados em seus processos de terapia. Então, Blander e
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Grinder começaram a observar o que eles faziam para alcançar
resultados positivos com tanta rapidez. E chegaram a um dos conceitos
da PNL, que é a modelagem. Ou seja, se você copiar o modelo de
alguém que faz algo com perfeição, se você copiar esse método, sua
chance de fazer isso acontecer e ter resultados positivos também são
altas. Então Blander e Grinder não só tiveram os mesmos resultados
como conseguiram aperfeiçoar as técnicas. A partir daí, eles poderiam
observar várias coisas; e por isso chegaram no nome de programação
neurolinguistica, que envolve a nossa neurologia, nosso sistema nervoso,
a maneira como a gente pensa e a maneira como o nosso corpo
transmite toda essa gama de informações.
Dentre outras coisas, a PNL aborda seu comportamento não
verbal, que é muito importante nos negócios e no dia a dia. Como
assim? Muitas vezes o seu corpo está dizendo uma coisa totalmente
diferente do que aquilo que você está falando.
Quem lembra do Chaves, que falava: “Está tudo bem? Está.
Vamos? Vamos”. Mas é claro que o seu corpo não manda sinais tão
óbvios, e sim os mais sutis, que nem todo mundo consegue perceber. Por
isso que é importante quando estamos num processo de comunicação,
em negociação, que o nosso corpo diga a mesma mensagem que a
gente está expressando verbalmente. Tem que haver uma congruência
entre o verbal e o não verbal. E, dentro de uma infinidade de coisas, a
PNL vai te passar algumas estratégias para que a gente consiga puxar
esses sinais que as pessoas transmitem e, mais do que isso, passar sinais
para essa pessoa, para que o inconsciente dela consiga entender o
que a gente quer dizer.
Quando a gente fala de neuromarketing, as pesquisas mostram
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que mais de 95% dos processos de intenção de compra são totalmente
inconscientes. Você compra. Mulher tem muito disso: vai em todas as
lojas, não foi para comprar nada, mas compra um monte de coisa e tudo
isso de maneira inconsciente. Não estou dizendo que o homem não faz
isso; faz, sim, principalmente quando quer colocar algo no carro, quer
trocar a roda, o som... Todos nós passamos por esse processo, todos nós
realizamos compras de maneira inconsciente. E como posso falar com
tanta certeza? Vou falar de uma marca de refrigerante que tem um
sabor muito bom. Que mata a sua sede. Que refresca. Que delícia tem
esse copo de... [Aluno na plateia responde Coca-cola]. Mas como ele
falou Coca-cola, se temos o Dolly, o Mineirinho? No tempo em que eu
era moleque tinha o Jaó, o Baré. Mas porque o Lucas falou Coca-cola?
Porque é a marca que mais está presente em nosso inconsciente. É uma
das marcas que mais investem em publicidade.
Mas como vocês, igualmente a mim, que não temos toda a
grana da Coca-cola para investir em publicidade, podemos fazer para
que a nossa marca fique latente ali, nas pessoas? Hoje vocês vão saber.
Para exemplificar a questão da modelagem, eu gosto muito desse vídeo.
Nele vamos ter dois personagens, Kobe Bryant e Michael Jordan, dois dos
maiores nomes do basquete mundial. Jordan, disparado em primeiro
lugar, tido como Pelé do basquete, e o Kobe é como um Maradona,
um Messi, que também têm resultados extraordinários. Queria que vocês
observassem a semelhança dos movimentos e jogadas desses dois
atletas. Vale lembrar que o Kobe é de uma geração um pouco após
o Jordan. Observem os gestos que Kobe Bryant modelou de Michael
Jordan. Será coincidência uma maneira de jogar tão semelhante? Isso
é um pouco do processo de modelagem. Mas como a gente aplica isso
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ao nosso processo cotidiano?
Vou fazer um questionamento para vocês, que sempre faço em
minhas palestras. Como eu disse no começo, o objetivo aqui não é que
vocês saiam experts em negociação, não apenas isso. Eu quero que
hoje vocês possam sair daqui com o pensamento mudado, pois esse é
o objetivo da programação neurolinguística: mudar a nossa maneira de
pensar. E estou falando isso por um simples fator: se você não mudar
sua maneira de pensar, posso vir aqui passar técnicas extraordinárias,
os maiores milionários podem vir aqui ensinar estratégias, e não vai
mudar absolutamente nada. É mais uma questão de atitude, porque
fizeram vários estudos e observaram o comportamento dos milionários
norte-americanos. O que perceberam é que todos tinham as mesmas
características, a mesma rotina. Existem vários livros e artigos ensinando
como se tornar milionário e todos vão falar a mesma coisa, vão dar os
mesmos hábitos dos milionários.
Existia um escritor chamado Napoleão Hill. Ele estudou durante
anos a vida dos milionários norte-americanos, a fundo. Começou a
modelar todos esses milionários e percebeu que todos tinham os mesmos
hábitos, como levantar cedo e praticar uma atividade física. Manter
hábitos é um dos princípios. Se você começar a copiar os hábitos das
pessoas de sucesso, fatalmente você terá sucesso. Bill Gates, Stevie
Jobs, toda essa galera tem mais ou menos os mesmos hábitos. Os ceos
das grandes empresas acordam cedo, fazem uma atividade física,
tomam café da manhã, planejam o dia, o que não executam jogam
para o outro dia. Eles têm um controle muito firme do que fazem e, além
de tudo, acreditam em si mesmos e no produto que estão vendendo.
Hoje, a gente não está passando técnica para você vender um
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produto, vamos passar a técnica para você se vender, vender o seu
produto, que é você mesmo. Mas porque eu digo tudo isso? Porque
um dos principais pilares disso tudo é a confiança. E entro em mais um
questionamento: “Qual é o seu sonho?”. Provavelmente, quem já está
pertinho de terminar a faculdade, no 7º ou 8º período, quer chegar
ao final do curso e falar: “Vou sair do mesmo jeito que entrei, só um
pouco mais estressado, morrendo de raiva daquele professor que não
me ajuda em nada...”? Ou você quer sair daqui assim: “Vou montar
meu negócio, vou abrir minha empresa”. Qual é o seu sonho, o que te
move? Se é para sonhar, vamos sonhar grande, sabe por quê? Porque
a gente tem a tendência de olhar sempre o copo meio vazio. E sem
confiança no seu sonho, sem confiança em você, ninguém vai querer
comprar o seu produto, ninguém vai querer comprar você.
Vou passar outro vídeo que expressa o que é confiança, porque,
sem confiança, não se vai a lugar nenhum. Esse mesmo Napoleão Hill,
que fez os estudos sobre os milionários, começou a observar as pessoas
que não chegaram lá, as pessoas que não conseguiram ter êxito. E uma
característica inerente a todos os fracassados é andar cabisbaixo, pois
as coisas não estão dando certo. Enquanto as pessoas que chegaram
ao sucesso sempre andam de forma confiante, mesmo sem ter chegado
ainda ao sucesso. Isso mandava mensagem ao inconsciente para que
ele ficasse mais animado, mais motivado e acreditasse diariamente
nos seus sonhos; diferente do fracassado, que caía a primeira vez e
falava “não vai dar certo, vou desistir”. Se você for analisar os grandes
empresários, eles caíram e se levantaram várias vezes. Pouquíssimas
pessoas chegaram até o final, do início ao fim, sem nenhuma quedinha.
Sempre eles vão para cima, para baixo... Aquele que é mais resiliente é
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o que chega no final.
Mas o que isso tem a haver com o que a gente veio ver aqui hoje?
Tudo. Confiança e sonhos têm tudo a ver. E aqui mais especificamente a
gente entra nas técnicas de PNL. Sabe aquela pessoa que todo mundo
gosta dela de primeira? “Gostei desse cara, gostei dessa menina, gostei
desse professor”. Sempre não tem um professor de quem a gente gosta
mais? Não tem sempre um professor que a gente odeia muito? Por que
que isso acontece? Existe uma coisa que a gente chama de empatia.
Então, como você pode vender algo para alguém, ou convencer
alguém de uma ideia em um primeiro instante? Tendo essa empatia,
entendendo que empatia é algo que se adquire com o tempo. Para
gostar de uma pessoa leva um tempo; mas você sentir: “Nossa, gostei
dessa pessoa”, isso pode acontecer de maneira instantânea. Isso a
gente chama de rapport.
Rapport é uma palavra de origem francesa que não tem
tradução, como saudade, que só existe aqui no Brasil. Rapport é esta
empatia, é esse estabelecimento de confiança de primeira. “Mas
Darlan, pelo amor de Deus, como eu posso fazer isso?” Simples. Agora,
vou ensinar uma técnica para vocês utilizada por muitos políticos, por
vários homens de negócios, por hipnotistas, psicólogos, psicoterapeutas,
por todas aquelas pessoas que necessitam gerar confiança, de gerar o
que a gente chama de “rapport instantâneo”. Mas, para isso, eu preciso
de uma pessoa para vir aqui na frente. Fiquem tranquilos que não vou
hipnotizar ninguém.
[Aluno sobe ao palco, palestrante o cumprimenta]. Primeiro eu
vou fazer a técnica e depois vou explicar todas as coisas que eu fiz na
abordagem, ok? Qual o seu nome? [Aluno responde: Eliezer]. Nunca vi
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Eliezer na minha vida, ele é um cliente que ligou e quer ver meus produtos.
Só para explicar o que aconteceu aqui, alguém conseguiu reparar em
alguma coisa? O nome disso é empatia, olho no olho. Agora vamos para
um tutorial. No primeiro momento que eu cumprimentei ele aqui, eu me
importei com ele, me interessei pelos interesses dele. Digamos que eu
sou a agência que vai cuidar da publicidade da cachacinha artesanal
que ele produz lá na fazenda; aí eu descobro que ele gosta de montar
a cavalo e interajo com isso. Por um instante, ele vai esquecer que eu
estou ali para vender o produto para ele. Eu crio uma afinidade com
o Eliezer, eu passo a ser integrante do mesmo pensamento dele. Teve
uma outra técnica que eu utilizei, que a gente vai falar um pouquinho à
frente, que também faz parte desse processo.
Agora vamos às explicações. Primeiro, eu não cheguei falando:
“Olá meu nome é Darlan, tenho uma agência tal.” Primeiro você
precisa saber da pessoa, precisa se importar genuinamente com ela,
não precisa ser falso. Quem vai muito na balada aqui? A afinidade
que você tem na balada com seus amigos tem que ser a mesma que
você tem com seu possível cliente, com a possível pessoa que vai te
contratar. É obvio que você não vai chegar se abrindo para a pessoa,
sendo invasivo. Você tem que ter cuidado para saber o que perguntar,
para não ser intrometido demais, gerar uma primeira conversa. Depois
vocês entram propriamente na história de vender o produto. O cliente
fala: “Estou aqui para vender uma cachaça artesanal”. Então você
responde: “Cachaça se fabrica em fazenda; você é fazendeiro?”.
“Não,meu pai é fazendeiro”. “Legal. Você gosta de montar a cavalo?”.
E o cara já esqueceu de vender. Mas e se a pessoa não me deu papo,
o que foi que eu fiz? Elogie. Além do sorriso; pois claro que você não vai
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vender nada assim: “E aí, vai querer comprar ou não? Se não, pode ir
embora para eu ganhar tempo”. E está cheio de vendedores assim.
Gente, foi feita uma pesquisa em que se descobriu que, no
Brasil, nós temos os piores vendedores, mas isso é paradoxal, pois nós
somos o povo mais feliz desse mundo. Como assim? Vender é algo
complicado, nem todo mundo tem o tino para essa questão da venda.
Tem gente que vende por obrigação, não faz do seu trabalho algo
prazeroso. Vamos supor você entrou no escritório do cara e já viu que
ele é carrancudo. Então, observa o que tem no escritório dele: Tem um
quadro? Um enfeite na mesa? Tem foto dos filhos? Já dê uma quebrada
depois desse primeiro contato; fale: “São seus filhos? ” Crie vínculos com
essa pessoa para você poder conversar com ela, trocar uma ideia
bacana, e aí ela sentir essa empatia por você, gostar do papo. Aquele
cara que vai pra balada e a primeira coisa que ele faz é elogiar o
cabelo da menina: “ Seu cabelo é bonito, combina com seus olhos, seu
brinco”. E a menina fala: “nossa, ninguém reparou no meu brinco!!!”. É
surpreender. No processo de negociação você tem que surpreender
de maneira positiva. Criou o elo? Então agora vou mostrar para vocês
algo bem interessante.
Alguém reconhece esse sujeito? [Imagem]. Ele é o ex-ministro
Joaquim Barbosa; tipo, o Batman brasileiro, tido como uma das pessoas
mais sérias do país, Nem o pessoal do Pânico quando entrevistou ele
conseguiu fazer com que ele desse essa gargalhada aí. Eu consegui
essa façanha num evento em que eu estava trabalhando em Aracajú,
e ele estava palestrando. Agora, repare nesse quadro aqui todo o meu
processo de abordagem com ele. Vale lembrar que ele tinha dado uma
hora de palestra, tinha acabado de dar uma entrevista para a TV da
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universidade onde estava acontecendo a palestra. Era proibido entrar
para tirar foto com ele e entrou um monte de gente. Era um evento
organizado pelos deputados estaduais que estavam tentando tirar foto
com ele, e estava meio impaciente quando cheguei para fazer a mesma
coisa. Olhem meu primeiro contato com ele aqui: ele me olhando com
a cara de quem ia me prender igual ao cara do mensalão. Continua
querendo me prender. Mas, detalhe, olha minha mão direita na mão
dele, e minha mão esquerda no ombro dele. Antes disso eu já tinha
dado aquele toquinho no cotovelo dele. É, rápido você não vai chegar
na pessoa assim: “E aí, vamos negociar? ”. É inconsciente, a pessoa
nem percebe. Não vai para bater na pessoa. E aí pensei: “Meu Deus, é
uma das pessoas mais importantes do mundo, o que que eu vou falar
para esse cidadão? Não posso elogiar o cabelo, por que ele não tem.
Vou falar dos óculos dele?” Às vezes o cara odeia usar óculos. Aí eu fui
sincero com ele.
O elogio, gente, tem que ser sincero. O homem sabe, e a mulher
também sabe, quando um dos dois está mentindo para o outro ao
elogiar. E todo mundo sabe quando dá aquele elogio falso: “Está bonita,
hein, amor?” Mas acha que ela está parecendo um boi. A mulher sabe.
Parecendo um boi ficou na mente dele, e a mulher sente: “Ah disse que
eu estou gorda”. E aí o que acontece? Voltando ao Joaquim Barbosa,
cheguei para ele e falei: “Ministro, sou seu fã. Você mudou a história do
nosso país. Você teve coragem de fazer o que ninguém teve.” Aí ele:
“Ah, é mesmo?” E eu falei: “É, quando o senhor estava presidindo o STF,
eu assistia várias sessões através da TV Justiça. Vibrei no mensalão e
estou ligado que” – falei desse jeito mesmo – “estou ligado que o senhor
tem dor na coluna, então já vou sair daqui, pois o senhor pode estar
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com as costas doendo”. E aí ele: “Não, fica tranquilo”. Um monte de
deputados querendo tirar foto com ele e eu trocando ideia. Falei: “O
senhor deveria estar aí para organizar este país, vamos ser presidente”.
E ele: “Não, meu querido. Ser presidente não é para mim, não...”
Falei: “sou seu fã mesmo, obrigado pela atenção”. E aí ele perguntou:
“você faz faculdade de direito?” Eu falei: “Não, eu fiz faculdade de
publicidade” Então ele: “Está na hora de mudar, rapaz”. Aí eu falei:
“não vou mudar não, vamos tirar uma foto aqui comigo. Gente, alguém
tira uma foto aqui?” Aí pronto, ele ficou rindo, ria demais.
Todos os jornalistas que estavam lá tentando entrevistar, pois ele
não dá entrevista, ficaram perguntando para mim: “o que você disse
para ele?” Falei: “é segredo, sou brother dele das antigas, ele não dá
essas afinidades assim para todo mundo”. Não disse nada de mais, só
elogiei o cara, falei “sou seu fã”. Quantas pessoas já falaram isso para
ele? Acho que todo mundo que trabalhava com ele falava: “Batman,
sou teu fã moleque”. Isso é a comprovação daquilo que a gente
acabou de fazer aqui.
Agora, por que esse toque aqui no cotovelo? Quem tem filho?
Tem alguém aqui que é pai, mãe? É menino ou menina o seu filho?
Menino, qual a idade dele? 10 anos. Quando ele começou a andar,
que ele ia cair, você estava do ladinho dele, quando ele ia cair,
aonde você segurava? No cotovelo. Você já segurou no cotovelo do
seu filho alguma vez? Quando a pessoa toca aqui no seu cotovelo,
inconscientemente você lembra da sua mãe e do seu pai, daquela
pessoa que te passava segurança. É o que na PNL a gente chama de
toque não-sexual, um toque sutil. Então isso vai para o seu inconsciente,
e a sua mente entende “posso confiar nessa pessoa”. Quem tem
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contato com muitos políticos sabe disso, e o bom político nasce com
isso nele. Chamo outra pessoa da plateia para a gente fazer esse toque
do político aqui. Alguém pode vir aqui? [sobe um rapaz] “Seu nome?”
“Raul”. Uma salva de palmas para o Raul, por favor.
Oitenta por cento dos políticos cumprimentam o eleitor assim e
muitos deles nascem com isso instintivamente; outros, aprendem isso. Eu
já dei cursos para vários políticos, de como eles devem cumprimentar
as pessoas. Do que eles devem falar para as pessoas. Algumas palavras
mudam totalmente o sentido da frase. Algumas palavras levam você
a fazer um questionamento inconsciente. Imagine só você estar aqui
nessa palestra sobre técnicas de negociação com programação
neurolinguistica, pensando, em “como posso utilizar isso na minha
vida?”. Já falei quatro técnicas desde que comecei a falar com vocês.
Uma das técnicas que eu usei com o Eliezer é esse frangir das
sobrancelhas aqui. Ele é chamado de eyebrow flash. Como os cientistas
descobriram isso? Eles observaram o comportamento dos primatas, dos
orangotangos, e perceberam que quando uma galera de orangotangos
se encontrava com outra galera no meio da floresta, os orangotangos
faziam assim um para o outro para se identificar. Os pesquisadores
começaram a estudar e a analisar todos registros cinematográficos que
existem no planeta e perceberam que nós, seres humanos, também
fazemos isso quando encontramos uma pessoa que tinha tempo não
víamos ou quando a gente conhece alguém. Já percebeu que quando
alguém te cumprimenta e você não faz a mínima ideia de quem é, você
faz cara de: “quem é esse cara?” Agora, se a pessoa que você não
conhece olhar para você e fizer assim [imagem ] e você pensar: “Quem
é essa pessoa? opa, acho que eu conheço ela de algum lugar...”. Aí
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você olha para o lugar onde a pessoa está e pensa: depois eu vou lá”,
você já vai ter na pessoa a reação de: “Quem é essa pessoa? acho
que eu conheço ela de algum lugar...”. A gente ativa na pessoa o que
a gente tem chamado de canal visual.
Já percebeu que, quando você quer lembrar de alguma coisa,
você faz isso aqui: [imagem]. “Hum, não sei, talvez...” Quando você
levanta isso aqui é para tentar puxar na memória alguma lembrança
daquela pessoa. Então, quando a pessoa chega para você e faz isso
[imagem] não é para ser invasivo: “ele tem que saber quem sou eu, tem
que lembrar de mim! ” Não, não é isso, é sutil. Não é aquela piscadela
assim [imagem]. Está na balada? Dá uma piscadinha para aquela gata
ali. Ele não dá uma piscadela assim [imagem], só uma, e vira o rosto
para a menina, que vai estar fazendo assim com o cabelo [imagem].
Então esse eyebrow flash tem que ser sutil.
Quando eu cumprimentei o Eliezer, eu “opa! ”. E levantei as
sobrancelhas. Quando você faz isso e começa a conversar com a
pessoa, o inconsciente dela percebe: “Quem é essa criatura? Eu
conheço de algum lugar, mas não faço a mínima ideia da onde seja”.
Aí você conversa, fala da cachaça, fala do cavalo, fala da fazenda, e
quando ela vai embora, você fica: “De onde eu conheço ela?” E ativa
seu inconsciente. Esse é o eyebrow flash que faz parte daqueles três
toques. Entramos em um outro conceito.
Vale lembrar: nós funcionamos através de canais de
comunicação. Esses canais de comunicação são visual, auditivo e
sinestésico e são canais inespecíficos. Quando você está falando com
alguém, percebe que há pessoas visuais. “O que é isso?”. Uma pessoa
visual é daquelas que tudo que ela fala, já está imaginando. Pessoas
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auditivas são as que é mais fácil você se comunicar com ela através
de sensações sonoras. Pessoas sinestésicas têm um gosto especial
por emoções e tudo aquilo que esteja relacionado com coisas físicas
e manuais, se ligam mais pelo sentimento. Claro que a gente tem de
tudo um pouco. Então, quando você consegue estar no mesmo canal
de comunicação, ou seja, na mesma sintonia, há uma conectividade
entre vocês, esse rapport aumenta.
Exemplo: você vai falar com uma pessoa que está no canal
visual. Como é que você observa que ela está no canal visual? Tudo
o que você fala, ela fica olhando para cima com aquele ar de “hum,
pode ser”. A pessoa que é mais auditiva tende a inclinar mais o ouvido
para você. A pessoa que é mais sinestésica tende a se proteger ou ficar
tocando no próprio corpo; está aqui conversando com você e está de
braço cruzado, de perna cruzada. E isso é curioso, porque todo mundo
mexe as pernas e os braços. Acho legal essa parte, observar uma pessoa
porque ela está ali tocando o queixo de alguma maneira. “Mas como
identificar isso, Darlan?” Observação. É aí que você começa a se importar
com a pessoa, e ela percebe isso, que você está na mesma sintonia que
ela.
Então aqui tem algumas dicas, algumas palavras, de como você
pode se conectar com as pessoas nos vários níveis de comunicação. E
qual é o ideal? Você trazê-la para o canal que você domina mais. Se
você é uma pessoa sinestésica, tende a falar mais palavras como tocar,
relaxar; então, você tende a ser sensível. Por exemplo: A pessoa está lá,
no visual. Você está conversando com ela, e ela está imaginando coisas.
Você percebe que ela está olhando para cima, que ela está “viajando”.
E aí você fala: “Fulano, você já sentiu alguma coisa assim? ”. Pronto,
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agora você já entrou no mesmo canal que ela. Você “Ah, já senti e tal,
não é estressante? ”.
Quem usa muito essa técnica são vendedoras de carro. O
vendedor de carro, quando você vai comprar um, aborda você, faz um
monte de pergunta que você acha que não tem nada a ver: “O carro
é para você? Você gosta de viajar? Sua mulher vai andar no carro? Sua
mulher gosta de carro? Sua mulher gosta de que cor de carro? ” Para
tentar fazer uma leitura de como você é. Por que o bom vendedor, se
ele identifica que você é um cara visual, uma pessoa visual, ele não deve
falar: “entra nesse carro aí, sente esse banco te abraçar”. Se ele percebe
que você é visual, ele deve dizer: “Senta no carro, senta aí, pega no
volante. Agora imagina você viajando com esse carro. Você é solteiro?”
“Sou.” “Imagina as gatinhas te dando mole com você nesse carro.”.
Imaginar, olhar, pense, perceba. O perceba entra aqui no inespecífico,
que você não identificou em qual canal a pessoa está. Você vai jogando
as palavras até descobrir onde ele está.
Mas o corpo fala. Por quê? A pessoa pode estar conversando
com você ali e aparentemente estar dando ideia de que se interessa
pelo que você está falando. Mas, no fritar dos ovos, ela está sem se
importar.
Mais uma pessoa da plateia para ajudar nesse exemplo. [sobe uma
moça] Tália. Prazer, salva de palmas para Tália. Tália está conversando
comigo na balada, e eu estou conversando com ela assim [imagem]:
o meu corpo está todo para cá, doido para meter o pé. Agora, se eu
estou aqui [imagem], toda a minha atenção está voltada para ela. Pode
acontecer isso aqui [imagem], fingir que está mais ou menos. Perfeito?
Então o seu corpo vai mandando sinais e o inconsciente da gente lê isso.
67
Obrigado, Tália.
A pessoa mais treinada percebe isso e tenta mudar esse
estado. E ela vai emitindo sinais. Aqui, a principal técnica de rapport,
a cereja do bolo quando você está numa negociação, que se chama
espelhamento. Quem já assistiu um filme chamado Golpe Duplo, com
Rodrigo Santoro e Will Smith? Durante o filme, Will Smith utiliza várias
técnicas de programação neurolinguística. A principal delas é o
espelhamento. Quando eu estava falando com Eliezer, ele estava com
um movimento nas mãos; quem lembra? E eu estava fazendo o mesmo
gesto que ele. O espelhamento consiste em você copiar, literalmente,
o que a outra pessoa está fazendo.
Esse espelhamento pode ser no comportamento da pessoa;
quando você está na negociação com uma pessoa sentada, ela vai
lá e fica batendo a caneta. Você não vai ficar batendo caneta com
ele para virar um batuque, para não virar um olodum. Sutilmente você
pega a caneta e fica com ela na mão. Finge que está rabiscando
alguma coisa no papel.
Mas não necessariamente você precisa espelhar apenas o
gesto da pessoa. Você pode espelhar a maneira com que ela fala.
Tem pessoa que fala mais acelerado, e vai falando, falando, falando, e
você fica até cansando de tanto que ela fala rápido. E aí você vai falar
com ela e pensa: “o que vou falar agora?” Aí você entra na mesma
vibe dela. Igual mulher quando está brigando [imagem]: “Por que você
curtiu aquela foto lá?” Aí o cara fala: “que foto? ” [imagem]. Eles não
estão na mesma sintonia. Então se a pessoa está falando acelerado, o
que você faz? Se você identifica isso, pode igualar a respiração com
a pessoa. Se a pessoa gosta mais de falar na manhã, vai falando com
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ela assim também, que você vai estar na mesma sintonia que ela. Ah,
mas se ela gosta de falar alto? Aí meu amigo, você vai ter que usar o
jogo de cintura, fala baixinho, sem que ela perceba que você está. O
espelhamento tem que ser sutil. A pessoa não pode perceber [imagem];
preferencialmente você espelha a pessoa enquanto ela estiver
falando. Tira a mão um pouquinho, disfarça quando a outra pessoa
começar a falar. Vocês podem fazer isso, gente. Faça isso hoje quando
chegar em casa, comece a conversar com alguém e deixa a pessoa
falar. Sutilmente, comece a espelhá-la. Depois comece a falar com ela
normal e faça um gesto. Ela tende a fazer a mesma coisa com você.
Ela tende a espelhar você. Como eu faço esse espelhamento? Por que
você deve fazer esse espelhamento? Quando a pessoa está falando,
pois quando ela está falando, ela está concentrada em formular as
frases, em buscar palavras. Então ela começa a perceber menos o que
você está fazendo.
Agora, se você a estiver espelhando enquanto você fala, ela vai
perceber na hora, porque ela está concentrada em você, concentrada
em seus gestos e ela vai perceber que você está fazendo os mesmos
gestos do que ela. Então a pessoa está falando com você; se ela cruzou
uma perna, você pode cruzar um braço; você pode espelhar as palavras
que ela fala. Você pode identificar alguma coisa no vocabulário dela
que ela fala com frequência. Se a pessoa gosta de falar “veja bem”, ela
fala: “veja bem, eu tenho uma cachaça artesanal”. Quando o diálogo
vier para mim, eu posso falar: “Eliezer, veja bem, se a gente fizer assim”.
Aí, se cria de novo esse rapport, essa conexão com a pessoa.
Recapitulando, você pode espelhar os gestos da pessoa, a
respiração, as palavras e os comportamentos, perfeito? Nisso tudo,
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vocês devem estar pensando que é muita coisa, como vão lembrar disso
tudo? Com o tempo, isso passa a ser algo natural. Vai ser instantâneo,
vai ficar dentro da sua persona, vai fazer parte de você. Lucas [do
cerimonial], quando eu cheguei, você lembra a primeira coisa que
eu fiz com você? Aí, o Lucas me cumprimentou, e isso já virou normal
para mim. Treinei as primeiras vezes e hoje já está no automático. Vai
fazendo parte da sua personalidade. E eu peguei manias com isso. Está
todo mundo conversando, e eu fico olhando para ver se a pessoa está
concentrada de fato no que eu estou falando. Quando vejo que não
está, tento trazer a pessoa para o que eu estou falando, ou eu já meto
o pé, já saio, já encerro a conversa.
Dar palestra, falar em público, é uma das coisas mais difíceis do
mundo. Falar em público é o segundo maior medo das pessoas. Só fica
atrás do medo da morte. Uma pesquisa identificou que medo maior no
mundo é de morrer. Quem gosta de falar em público levanta a mão.
Pronto, TCC. Quando eu falei para vocês, lá no início da palestra, que
eu queria que vocês saíssem daqui com algo transformador e eu falei
de sonhos, e falei de confiança, não é só para você negociar, não é só
para você montar seu startup, não é só para você tentar uma entrevista
de emprego, mas é para a vida.
Imagina você entrando para apresentar seu TCC depois de
quatro anos de jornada. Como você vai para o TCC, depois de quatro
anos? Você pensa: “É hoje, se eu não passar aqui nesse negócio, vai
dar ruim!”
Realizaram outra pesquisa e analisaram o índice de assimilação
de conteúdo de diversos palestrantes. Já viram palestrantes e instrutores
que entram para dar um curso de cabeça baixa? Quem já entrou para
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fazer um trabalho assim? Lá no ensino médio mesmo? Grupo tal, e você
vai lá para a frente bem assim: “eita ferro”. O que a pesquisa identificou
é que as pessoas que iam dar curso assim tinham 30% a menos da
retenção do público. Ou seja, no dia do seu TCC, entra fazendo um: “e
aí professor? Está preparado para a melhor apresentação da sua vida?”
Lógico que você não vai entrar nessa algazarra toda; comedido, porém
de cabeça erguida. No meu TCC, estudei o terceiro setor, foi um TCC
para uma ONG. Na faculdade onde estudei, você pode fazer como se
fosse uma agência, você faz em grupo e monta uma agência (Uma boa
ideia aí, se os professores estiverem ouvindo: é uma boa ideia, a turma
interage). Foi extremamente difícil, meu grupo estava extremamente
desesperado. Mas tinha a opção também de você fazer sozinho. Só
que, fazendo em grupo, as chances de você fazer um bom trabalho é
muito maior. Você é cobrado a mais.
E quando estava no dia de apresentar o TCC, meu grupo estava
desesperado. Primeiro, porque só eu gostava de falar, como vocês
podem ver. As outras pessoas tinham aversão, mas eram obrigadas, se
não, tinham nota reduzida; e por ser TCC eles estavam se cagando
mesmo. Comecei a falar: “gente, vai dar tudo certo, vai ser bom, a gente
vai fazer o melhor TCC. Caramba, olha o tanto que vocês estudaram”.
Dei um gás na galera e eles entraram falando, e a professora até
estranhou: “Nossa!”. Então, no dia do seu TCC, entra com confiança,
mesmo se o seu trabalho estiver ruim. Mas gente, não vá com trabalho
ruim pro TCC, pelo amor de Deus!
Por que eu bato tanto nessa tecla da confiança? Porque as
coisas não são tão fáceis assim. E quando você está num processo de
vendas, você receber o sim é muito difícil. Um ditado popular diz que
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“O não a gente já tem”. Mas eu vou falar para vocês que existe uma
técnica para isso. Vamos contextualizar como se fosse uma entrevista
de emprego. O que é de praxe nessa situação? Você fala sobre você,
a pessoa fala sobre a empresa e depois fala “gostei do seu perfil, vamos
te ligar depois”.
Já pensou em ser ousado? Ser agressivo? Você faz a entrevista,
a pessoa pergunta tudo sobre você e fala: “gostei de você”; e você
fala: “poxa, não seria interessante eu fazer parte da sua equipe? Eu
aprendendo com vocês? Eu desenvolvendo a minha capacidade
aqui?”. Você acha que a probabilidade de esse cara falar não é alta?
Não. Se você falar assim, “não seria interessante eu fazer parte da
equipe de vocês?”, ele vai falar “talvez”, ele não vai dizer o “não”. Ele
te disse um sim inconscientemente. É o que a gente chama de padrão .
Imaginou você saindo com o seu marido para jantar com esse sapato?
“Sim” “Então, vamos levar?” Ela diz: “Sim! ” e pensa “opa! Já foi”. Por
que os 3 sim? Porque a nossa mente funciona por padrão. Você vai
jogando perguntas em que as respostas serão “sim” e automaticamente
a pessoa vai dizer um sim. “Gostou desse sapato?” “Sim” . “Vermelho é a
sua cor preferida?” “Sim” .“Você gosta de sair com esse sapato?” “Sim”
“Não seria legal você ir para a festa hoje com esse sapato?” “Sim” “E
aí, vamos comprar?” “Sim, vou estourar o limite do cartão de crédito”.
É mais ou menos isso. São 3 perguntas em que você tenha certeza do
sim. Depois de toda a conversa que você teve com a pessoa, você vai
recapitular tudo aquilo, a primeira abordagem, você vai conhecer ela,
vai ver se ela gostou ou não gostou, vai identificar, vai criar empatia, e
só aí você chega no sim.
Agora, qual o momento certo para fazer o fechamento dessa
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negociação? Se no momento da negociação a pessoa estiver de
braços cruzados, desista de fechar essa negociação. Enrole mais
um pouquinho. Converse mais um pouquinho. Isso aqui é um sinal de
defesa. Já viu quando você vai comprar um produto e você acha
ele caro? A primeira coisa que você faz é “ai”. Existe uma explicação
científica para isso. O preço alto é equivalente a uma beliscada;
seu inconsciente entende como a dor de um beliscão. Tem um livro
chamado “101 maneiras de influenciar a mente de um consumidor”
que fala sobre isso. Então quando você vai comprar alguma coisa e o
cara fala “299” e você “está caro hein, nossa, doeu aqui”. Doeu onde?
No bolso. O bolso não tem sentimento. Mas o inconsciente tem, e você
entende que aquilo ali vai ser doloroso para você pagar. Às vezes, vem
o vendedor e pergunta: “e aí, esse sapato, você gostou? Está barato!”
Se você percebeu que a pessoa está “armada” de braços cruzados,
está fechada, você precisa fazer com que ela solte isso.
Corretor de imóveis é craque em fazer isso. Ele vai lá, mostra
um apartamento de 300 mil reais para o cara, que às vezes não tem
nem onde cair morto, mas está olhando apartamento, e o corretor
sempre chamando a pessoa pelo nome. Essa é outra dica: sempre
chame a pessoa pelo nome enquanto você estiver conversando com
ela, pois ela se sente valorizada. “Seu Fulano, imagina sua casa aqui
com seus filhos...” Um corretor bem treinado, antes de passar o preço
de 300 mil reais, entrega alguma coisa, uma caneta, um prospecto do
prédio onde você quer comprar o apartamento, para que você faça
isso aqui [imagem]. Um bom vendedor sempre vai te entregar alguma
coisa, para você se desarmar se você estiver armado, se estiver se
defendendo. Você está olhando um sapato e ele viu que você está na
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defensiva, ele traz um outro modelo que não tem nada a ver para você
se desarmar.
Tem outra técnica, que a gente chama de ancoragem. Às vezes
ele vai te jogar alguma coisa que você não está nem um pouco a fim,
só para, depois, jogar uma coisa que você quer levar. Já percebeu?
Você quer levar um sapato, você gostou daquele sapato, mas você
está em dúvida. Aí ele traz um sapato que você não gosta, para o seu
inconsciente fazer uma ancoragem com o sapato que você deseja.
Aí você fala “não, vou levar esse aqui mesmo. Muito mais bonito”. Se
você vai com uma amiga e fala “Amiga, esse é muito mais bonito que o
outro”, você tem uma comparação. Então no processo de negociação,
quando o cara falar assim “sua proposta está inferior à do outro. Na do
outro tem isso e isso e sua não tem”. Então você vê o que pode ser feito
para melhorar, e tenta fazer com que a sua fique melhor. E se você tiver
feito todo esse processo, tiver criado toda essa empatia com ele, as
coisas vão dar muito mais certo.
Por que que eu falo isso? Porque depois que eu passei pela
programação neurolinguística, a minha mente mudou muito. A maneira
como eu vejo as situações hoje é totalmente diferente. Eu estava vindo
para cá hoje, e o engarrafamento dos demônios, para onde quer que
eu me virasse. Poderia ter ficado bravo? Interiormente, eu estava muito,
estava me mordendo de raiva. Mas eu não externalizei isso, porque se
eu chegasse aqui com uma carga de stress alta, todos vocês ficariam
com a carga de stress alta. Todos vocês não se importariam para o que
eu estou falando. Só teriam preenchido o nome ali e teriam ido embora.
Porque o que a gente pensa, a maneira com que a gente vê o mundo,
é a maneira pela qual as pessoas veem o mundo na gente.
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Se você é uma pessoa chata, transtornada, negativa, as pessoas
sentem isso, e ninguém gosta de estar perto de pessoas negativas.
Eu mesmo odeio estar próximo de pessoas que só me colocam pra
baixo. Lembra quando eu falei lá no começo “Vamos mudar a nossa
mente”? Para mudar sua maneira de pensar, mudar sua maneira de
agir, é dia após dia. Em toda palestra que eu dou, vocês podem ter
nem se importado para o que eu falei, podem até esquecer do toque
no cotovelo, ou na mão, ou esquecer qualquer uma das técnicas que
eu passei aqui hoje. Mas se eu conseguir fazer com que vocês saiam
daqui sonhando, para mim já valeu muito. Se eu conseguir de alguma
maneira impactar a vida de vocês, para que daqui a seis, quatro, oito
anos, vocês se lembrem: “Caramba, aquela palestra mudou a minha
maneira de ver o mundo”, para mim já vai ter valido a pena.
A mensagem que eu quero passar é a seguinte: Sonhar não
custa absolutamente nada. É algo que vem de você. Então, não espere
ninguém para sonhar para você. Não espere que sua mãe viva seu
sonho. Não espere que seu pai viva seu sonho. Porque se eu fosse viver o
sonho da minha mãe, hoje eu estaria estudando para ser um promotor
de justiça. Minha mãe sempre falou isso, “estuda para ser doutor”, e eu
entendi “para ser vendedor”. Viva o seu sonho. Acredito que dificilmente
você não sonha nada. Pelo menos o sonho de sair bem da faculdade
você tem. A mensagem que eu quero que você leve hoje para casa,
além de fazer bons negócios no futuro, é ter um sonho. Ter um sonho
que te leve adiante. Ter um sonho que te motive a viver todos os dias.
Ter um sonho que faça com que você saia da cama e batalhe. Para
quando chegar no dia da realização dos seus sonhos, você olhe para
você mesmo e fale: “Eu consegui. Meu sonho valeu a pena”.
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Palestra – Possibilidades do mercado audiovisual em Brasília1
Palestrantes: Mariane Cunha2 e Rafael Lobo3
Resumo: O desafio de construir uma carreira no universo do audiovisual
é o tema da palestra. Através de suas respectivas formações e
experiências, os dois palestrantes traçam o percurso que vêm realizando.
Partem da reconstrução de sua fase inicial, marcada pela ação
amadora, e avançam à fase atual, na qual o profissionalismo é a meta
e se constitui em realidades como captação financeira, formação de
equipes, parcerias, locações, entre outros.
Palavras-chave: Audiovisual. Mercado. Produção. Captação de
recursos.
Rafael Lobo - Desde que me graduei, entrei no mercado como
profissional, mas também atuei em estágios no período em que estava
fazendo minha graduação, muito mais na área de cinema que na
de publicidade; trabalhei também como continuísta. Essas foram
oportunidades que tive de conhecer vários diretores atuantes da
cidade, porque temos realmente poucas pessoas que se encaminham
para essa área de cinema. Hoje, é a primeira vez que sou convidado
para falar numa palestra sobre o mercado audiovisual, talvez no caso
1 Transcrição: Gabriel Nunes Reynoso2 Graduanda de Jornalismo pela UCB. Assistente de produção na produtora Olho de Gato3 Graduado em audiovisual. Mestre em comunicação. Diretor, roteirista e editor
freelancer.
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mais brasiliense que brasileiro. Por isso acredito que a proposta desta
noite seja estabelecer um debate sobre o tema. E eu posso falar um
pouco sobre meu trabalho pessoal com curta-metragem.
Acredito haver uma multiplicidade de oportunidades no país.
Não sou um estudioso da área, só mais um trabalhador. Acredito que
exista uma diferença entre os trabalhos pessoais e aqueles que tangem
ao mercado de trabalho. No mercado de audiovisual em Brasília, acaba
sendo muito difícil viver de cinema, sendo mais comum produções
de publicidade ou política, nas quais eu também acumulei algumas
experiências. Hoje, sou mais atuante como editor montado, mas
também trabalho como diretor. Acredito que essa multifuncionalidade
seja uma perspectiva que devamos ter nos dias de hoje, ainda mais
com o acesso à tecnologia. É preciso pensar linhas de trabalho em que
se faz de tudo, desde o roteiro à filmagem. Acredito que cada vez mais
estejamos nos abrindo a essa multiplicidade de habilidades em vez de
cargos específicos. Pensar essas possibilidades há dez anos não era
comum. Mas desde aquela época eu percebia muitas mudanças no
mercado, por mais que eu não estivesse pensando diretamente nisso.
Acredito ser esta noite uma oportunidade para isso.
Meu primeiro curta-metragem foi o que fiz para meu TCC no
curso de audiovisual, na UnB. Era uma ficção de 21 minutos chamada
Confinado, e foi realizado com uma verba que eu já tinha reservado
pra isso com a ajuda da minha família. Foi um projeto mais voltado para
minha realização pessoal, como os outros dois curtas seguintes. São
trabalhos que eu não pensei para o mercado audiovisual. O objetivo
tendia muito mais para a realização de um trabalho de portfólio do que
para uma forma de viabilização comercial.
77
O curta ainda sofre muito disso, de ser um tipo de trabalho para
você surgir em festivais e mostrar seu talento, e não um meio rentável de
ganhar a vida.
Na época do Confinado, meus investimentos foram
aproximadamente de cinco mil reais, o que é bastante para um trabalho
que atendia muito mais a uma realização pessoal. Em contrapartida, os
equipamentos que nós tínhamos à disposição não eram muito bons,
então precisávamos de mais luz, equipamentos de maquinaria, entre
outras coisas. Se considerarmos que o FAC – Fundo de Apoio à Cultura,
oferece um valor de 120 mil reais para realização de curtas-metragens,
meus investimentos foram bem modestos. Porém, acredito que hoje eu
poderia realizar o mesmo projeto com um investimento ainda menor.
Depois disso, comecei a atuar em algumas produtoras como
freelancer, trabalhando com edição, montagem e continuidade. Fiquei
um tempo parado, numa época em que eu não estava conseguindo
emplacar nenhum projeto pelo FAC. Até que começou um sistema de
crowdfunding, isto é, sistema de financiamento colaborativo, chamado
Catarse, no qual a gente estabelecia uma meta e recebia investimentos
de várias pessoas em troca de contrapartidas, que poderiam ser dvd’s
do curta, camisas, entre outras coisas.
Na época, eu já tinha fundado um grupo com outros sete
artistas da cidade. O grupo se chamava Espaço Laje e nele tínhamos
várias áreas de atuação. Não funcionávamos como uma empresa,
mas alugamos um espaço de trabalho, que se assemelhava mais a um
ateliê. A experiência que adquiri nessa época, pela oportunidade que
tive de me entrelaçar muito com artistas plásticos, reflete muito no meu
trabalho atual, que está migrando para uma relação maior com as artes
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plásticas. Principalmente agora que conclui o mestrado, posso dizer
que estou num processo de reinvenção, porque o cinema é processo
muito lento, ao ponto de levar dois ou três anos para realizar um curta.
Eu senti a necessidade de encontrar outros meios de produção, meios
que não embarquem essa temporalidade tão lenta do cinema.
Com o Espaço Laje fiz o meu segundo curta, chamado Palhaços
Tristes. Esse é um produto inspirado numa história em quadrinhos do
Gabriel Mesquita, um dos artistas do grupo. Esse curta foi financiado
pelo Catarse e reuniu o trabalho de artistas em várias áreas, como
pintura, som e outros. Nós fazíamos a divulgação por meio de um blog,
no qual apresentávamos o projeto. Assim, enquanto trabalhávamos
na pré-produção, as pessoas podiam conhecer o projeto pelo blog e
contribuir através das compras das contrapartidas.
No entanto – só para pensarmos mais profundamente – por
mais que exista esse sistema de financiamento colaborativo, realizar
um trabalho de cinema ainda é muito difícil. Foi muito trabalhoso
realizar as contrapartidas, pois havia mais de cem pessoas envolvidas
na colaboração, e nós nunca tínhamos pensado nesse trabalho de
realizar as contrapartidas: montar os envelopes, fazer a propaganda,
todos os sábados divulgar alguma coisa nova, o que era extremamente
cansativo. Então, apesar de termos conseguido o dinheiro, foi um
trabalho excessivo para a realização de um curta-metragem.
O terceiro curta, chamado Bartleby, foi o primeiro projeto que eu
consegui realizar com financiamento do FAC. Ele, diferente do Palhaços
Tristes, que foi feito em várias locações, se passa em um escritório, que
nós construímos dentro de um estúdio. O filme é uma adaptação de um
livro de Herman Melville, uma história que se passa no século XIX em Wall
79
Street, trazida para a realidade de Brasília.
Como eu trabalhei com a mesma equipe nos três curtas, sendo
que nos dois primeiros a equipe toda trabalhou filantropicamente pelo
projeto, aconteceu que toda a equipe chegou ao limite, principalmente
no Palhaços Tristes. Também devido ao fato de que todos já tinham
se formado, e alguns já atuavam profissionalmente, alguns eram
funcionários públicos, Bartleby foi feito em dez dias alternados, isto é,
durante três fins de semana. Então, chegou um ponto em que ninguém
mais queria se dispor a trabalhar em um projeto como esse, se não
houvesse condições melhores de trabalho.
E, afinal, o Bartleby foi esse projeto no qual nós conseguimos
pagar bem a equipe e ter as boas condições de trabalho que o grupo
tanto precisava. No entanto, para mim, enquanto realizador do projeto,
não foi uma forma de ganhar dinheiro, porque o dinheiro que era
destinado à minha função eu acabava investindo de volta no projeto.
Então, cabe também a reflexão de pensar num projeto como esse,
financiado pelo FAC, o quanto se quer investir no projeto em detrimento
do quanto se quer receber por ele.
Mariane Cunha – O Bartleby foi o meu primeiro trabalho de
grande porte e com recursos, o que desta muito da realidade da
faculdade, onde se faz um vídeo ou outro com financiamento próprio.
E a diferença é muito grande, pois quando se trabalha vídeo com
outras pessoas na faculdade, não se ganha nada e se realiza o possível.
Já quando se tem uma verba grande, tem-se mais possibilidades. O
Bartleby me deu a oportunidade de trabalhar com materiais com os
quais eu não costumava trabalhar, pois normalmente não se alugam
certos tipos de equipamentos, não se pensa numa demanda tão
80
grande de itens de produção, nem mesmo na alimentação para uma
equipe tão grande.
Quando não se tem recursos e se está numa equipe menor,
trabalha-se mais rearranjando as coisas. A diferença se dá nas
possibilidades, no tamanho do seu trabalho e no retorno que o diretor
espera, pois em produções menores não se tem um retorno tão grande
de equipamentos, de itens de produção e não se lida com uma equipe
tão grande. Talvez o mais positivo disso seja ter a oportunidade de
trabalhar com coisas que não são comuns no dia-a-dia, como em um
projeto financiado pelo FAC.
Eu outro como assistente de produção executiva numa
empresa independente que vive praticamente de editais, que
funcionam da seguinte forma: em 2006 foi criado um fundo setorial de
audiovisual, que recebe uma verba de impostos vindos de empresas de
telecomunicação, publicidade, vinculação de televisão e outras. Esse
fundo, que é gerido pela Ancine, despacha a verba em nível nacional.
Existem várias formas de se solicitar um incentivo. Pela Ancine, tem-se
incentivo direto. O incentivo indireto seriam as leis de isenção fiscal, às
quais se tem acesso o ano todo através de editais abertos para áreas
específicas, a maioria para longas-metragens, por uma questão de
relação com grandes empresas. Os curtas não têm tanta visibilidade
e servem mais para festivais. No caso de você ser uma pessoa muito
vista, se tiver notas de registro acumuladas pelos produtos realizados ou
prêmios ganhos, pode acabar ganhando o investimento para fazer um
longa futuramente. Os curtas são mais comuns em secretarias ou órgãos
locais. No caso de Brasília, é o FAC que proporciona investimentos para
curtas, médias e longas-metragens também, sendo mais comum, no
81
entanto, para curtas e médias.
Rafael Lobo – É interessante percebermos como é pantanoso
levar um longa-metragem para frente. Por exemplo, em 2010, eu ganhei
um incentivo do FAC para realizar um roteiro para um longa-metragem.
O roteiro ficou pronto em 2011, estamos em 2016, e ainda estou
tentando levar esse projeto pra frente. Isso é só para termos ciência
de que produzir um longa-metragem com financiamento do governo
é um processo lento e burocrático. O conselho que fica é: se alguém
for alavancar um projeto com fundos do governo, garanta antes de
esquematizar bem com as produtoras e organizar bem o processo.
Nesse período, muitas coisas podem acontecer; então pensem bem
antes de se filiar a alguma produtora, pensem em se resguardar, pois
nem todas as empresas são confiáveis.
Mariane Cunha – Hoje, estou experimentando uma mudança de
área radical, tentando trabalhar com direção. Percebi uma diferença
muito grande com a produção executiva, que era o que eu estava
acostumada a fazer. Posso dizer que não pensava na possibilidade de
fazer outra coisa, apesar de ter feito outros cursos. Mas é muito diferente
escrever um roteiro para o curso e escrever seu próprio projeto para
produzir. Criar seu próprio projeto, ter uma expectativa sobre ele, ter
que bancar o projeto, querer fazer um produto de qualidade, ter uma
equipe trabalhando com você, uma equipe que às vezes não está
recebendo nada para trabalhar com você. Ou seja, o projeto depende
completamente de você, e é necessário pensar nas imagens, nos
quadros, numa narrativa que seja convincente. Então, dirigir está sendo
uma experiência muito diferente da área de produção. Mas é uma
experiência e tanto. E as possibilidades são muitas.
82
Palestra – Youtuber: Uma profissão?1
Palestrante: Daniel Zukko2
Resumo: O palestrante fundamenta sua argumentação sobre uma
premissa curiosa: o Youtube vai acabar. Daí, evolui para resgatar a
história de alguns recursos digitais que já existiram com grande sucesso
de usuários e, de repente, deixam de existir ou, pelo menos, perdem
significativa fatia de público. Ressalta que o fundamental é estar
preparado e buscando se profissionalizar. Para isso recomenda ao
comunicador construir e atualizar incansavelmente as suas referências.
Palavras-chave: Youtube. Youtuber. Referências. Sucesso.
Bom dia! Sou Daniel Zukko e faço programas, verdade. Alguém
me conhece, já assistiu, teve a oportunidade de assistir um trechinho
do “Minha Brasília” no Youtube? Alguém já teve a oportunidade de
ouvir o programa na rádio Transamérica? Passa ao meio-dia, mais ou
menos na hora em que estão saindo daqui. Sou jornalista, dono de uma
agência de comunicação e publicidade e, em além do jornalismo,
tenho formação em turismo e artes cênicas.
Já ouviram do McLuhan, que há quase 60 anos previu
exatamente o que estamos vivendo hoje, que o meio é a mensagem?
Ou seja, o meio por onde você fala é tão importante quanto o que
você fala. E isso acaba sendo, para mim, um aprendizado no dia-a-
dia por causa das novas mídias, que estão modificando de verdade
1 Transcrição: Danilo Lopes Gonçalves2 Jornalista. Produtor de vídeo e youtuber. Criador do Minha Brasília
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a forma como a comunicação tem acontecido. E quem somos nós, os
comunicadores, se o mundo é por onde você fala? Nós somos os atores
deste mundo, os contadores de história. E são muitos meios. Vamos aqui
falar do Youtube.
Quem faz vídeo para o Youtube é um youtuber. E isso, youtuber,
é uma profissão? Penso que não, porque um dia o Youtube vai acabar,
como o Orkut acabou e o Facebook vai acabar; o Snapchat não durou
um ano e já está acabando. O Pokémon Go vai acabar, foi o grande
boom de 2016 e perdeu em duas semanas 200 milhões de usuários.
Então, entender que o meio é a mensagem é importante. Porém, os
atores são mais importantes que o meio.
Alguns pensam: “eu quero ter um canal no youtube”. Para
quê? Por quê? O mais importante para o comunicador é o seguinte:
não deve esquecer por que está falando isso, e é importante saber
quem está disposto a ouvir. Se não vai ser como olhar para o umbigo,
repetindo algo que acredita. Mas está se comunicando com quem? A
comunicação só se faz quando alguém ouve, quando alguém entende
o que o comunicador fala. Falar por falar não comunica.
A primeira reflexão que proponho quando alguém me fala “ Ah,
Daniel, você tem um canal de sucesso no Youtube” (o que assusta) é a
seguinte: o que é um canal de sucesso? Precisamos pensar sobre isso.
A mídia tradicional já vivenciou momentos em que conseguia
falar para todo mundo. Ao falar de televisão, por exemplo, a novela
global “Avenida Brasil” talvez tenha sido a última grande audiência,
porque fez parar o país inteiro para assistir o último capítulo. Nas décadas
de 1980 e 1990, a cada semestre, a população parava para assistir ao
último capítulo de qualquer novela. Nesse período, quando não se tinha
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internet nem tv a cabo, imagine como era só ter para assistir os canais
liberados na televisão, isto é, Globo, SBT, Cultura, entre outros. Não tinha
canais de streaming, o que fazia que todos se concentrassem em um só
lugar, praticamente.
Hoje é diferente, e os veículos estão precisando aprender a
segmentar os públicos. Para quem eu falo? Pois já não consigo falar
mais para 100 milhões de pessoas numa única transmissão. Mas eu
posso falar com 10 mil, e estes 10 mil são meu público de fato. Assim, nos
canais do Youtube cada um tem seu público próprio, então, direciona
a fala para estes. É como as revistas, que direcionam seus conteúdos
para seu público alvo. Também como a televisão faz, de certo modo,
porque tem divergentes abordagens entre alguns canais.
A galera de publicidade sabe bem disso no momento de
anunciar: que produto anunciar em qual veículo. A rádio Transamérica
tem um público, a Jovem Pan tem outro público. Então temos este
direcionamento próprio de público, muito especifico. Cabe aos
comunicadores ouvir, entender e aprender quem é o público. Porque se
não, mais uma vez o exercício da comunicação – que é, principalmente,
alguém ouvir e entender – não se faz em quem ouve, se faz em quem
fala, e isso não é bom. Se não houver audiência, a comunicação não
existe.
Quando pensamos no que é um youtuber, a primeira imagem é
alguém falando sozinho no seu quarto, aparentemente para ninguém.
Isso é o que mais ocorre nos canais de Youtube. Antigamente, falava-
se assim: “Você fala bem, você irá estudar jornalismo, você será uma
Fatima Bernardes”. Hoje as pessoas não querem mais ser a Fátima
Bernades, tem muita gente hoje querendo ser a Kefera ou o Felipe
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Neto. Quem são estas pessoas? Quando pergunto quem são estas
pessoas, a resposta será: a Kefera é uma youtuber que tem milhões de
visualizações. Não, isso é o que ela faz. Pergunto outra vez: quem é
a Kefera? Quem é, qual a formação que esta pessoa tem, quando o
youtuber acabar, o que ela vai ser?
Porque isso é o futuro, o Youtube vai acabar, em cinco ou quatro
anos, não sei. O que sei é que a sobrevida não é tão grande, é normal.
Alguém teve Orkut? Quando tínhamos Orkut, imaginávamos que ele
seria a derrota que acabou sendo? Quem hoje se orgulha de ter tido
Orkut? E quantas pessoas têm cometido facebookcídio, internetcídio?
Abandonamos isso ou aquilo quando entendemos que deu o que tinha
que dar. Por isso é que sempre digo que nós, os atores do processo
comunicativo, somos além disso, muito além disso. E precisamos saber
nos sustentar no que somos.
Se sou um comunicador, sou um comunicador que precisa
saber contar uma história. Este é o papel da comunicação, contar
uma história. Vou contar minha história? Como? No caso dos jornalistas,
pode contar a história no texto de uma matéria, pode contar a história
com uma fotografia. Muitos repórteres ficam revoltados porque a foto
da capa do jornal é mais importante do que o texto, que às vezes ele
demorou duas semanas apurando e escrevendo. Porém o jornalista não
pode ignorar isso: “Uma imagem vale mesmo mais que mil palavras”.
Uma imagem em movimento, um segundo de filme, são 24 imagens.
Então, podemos dizer que um segundo de filme vale mais do que 24 mil
palavras. Também tem o som. A pausa é música, se não tivesse a pausa,
a música não teria o peso que tem, ela não teria a dramaticidade que
tem; pausa é música, silêncio comunica e comunica muito.
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Publicitário usa isso muito bem. Muitas campanhas são feitas nos
silêncios; a comunicação mais comum que tem nos hospitais, o cartaz
da enfermeira pedindo silêncio, tem na biblioteca. A imagem consegue
informar com silêncio, e isso é muito importante. Precisamos entender
que somos quem está contando a história. Conto a história em todas
as possibilidades, mas eu não sou o meu veículo, eu não sou o Daniel
Zukko; mesmo ganhando o meu sobrenome, aquele é o personagem.
As pessoas perguntam: “Quem é você? ”. “Eu sou Daniel Zukko, do
Minha Brasília, mais conhecido como o cara da Brasília”. Percebem? A
pessoa perde sua identidade. Vocês podem me perguntar se um dia o
Minha Brasília pode acabar. Eu espero que não. Quando fomos registrar
o programa, coloquei que o meu objetivo era manter este carro, até
pelo menos o dia 21 de abril de 2060. É o meu objetivo, ter aquele carro,
de preferência andando, de preferência eu trabalhando com ele, pelo
menos até 21 de abril de 2060. Por quê? É quando Brasília fará 100 anos,
espero que ela seja a única Brasília do país até lá, e que esteja em
atividade. Mas também o carro pode acabar. Quando minha Brasília
acabar, caso ele venha a acabar, eu serei como um ex-BBB. E aí o que
farei da vida? Importante é ter o que informar.
Uma coisa que eu percebo e que é um problemaço para
nós, comunicadores, é que as gerações atuais são extremamente
imediatistas. Mas sempre que vamos informar sobre alguma coisa
precisamos contextualizar o que veio antes, compreender o que
formou aquilo, entender qual a referência que gerou aquilo. Muitas
pessoas chegam em mim e dizem: “Nossa, que ideia genial o Minha
Brasília, hein, uma entrevista dentro de um carro!”, Aí respondo: “Velho,
nunca viu o Taxi do Gugu? Era um sucesso em 1994”. O Gugu, do SBT, se
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fantasiava como taxista e entrevistava pessoas no meio da rua. Então
entrevista dentro de carro não é novidade para ninguém, e na internet
vocês têm vários com esse formato.
A entrevista em carro não é novidade, mas se o comunicador
não souber disso, estará se enganando, acreditando no raso da história,
porque é muito raso ver somente o que se está enxergando. Precisamos
ter referências. Por exemplo, quando comecei a tocar, comecei a ouvir
Beatles e sou fanático por Beatles, que eu sempre achei geniais. Mas
para eles serem geniais, eles ouviram muita coisa. Eu fui atrás do que
o Paul McCartney ouvia no quarto dele e descobri que ele ouvia Elvis
Presley, entre outros. O que eu fiz? Fui comprar os discos do Elvis e dos
outros artistas, então referência para o Paul.
Eu criei o Minha Brasília em 2012, e o programa foi ao ar pela
primeira vez no dia 19 de setembro de 2013; portanto, agora são três
anos completos no ar. Eu já tinha experiência em tevê, com cobertura
internacional, grandes eventos, programas, já botando a cara no ar. A
história já existia, eu já tinha know-how. Mas se chega uma pessoa na
média de idade de 20 anos e fala assim: “Cara, eu terei um canal de
sucesso no Youtube”. E o que essa pessoa faz? Simplesmente, começa
a gravar vídeos e posta no Youtube. Mano, pode dar certo? Claro que
pode! A prova é que temos vários exemplos assim que deram certo.
No entanto, destes vários que são publicados, alguém já fez parecido;
alguns deram certo, outros não. Então, como é que em geral a galera
faz? Monta um cenário bacana no próprio quarto, coloca uns símbolos,
que pode ser de cultura pop ou outras coisas que tenham a ver com o
assunto do canal, compra uma câmera bacana e dá sua opinião sobre
o que está mostrando. Eu vi uns cem fazendo isso. Mas, sério, você tem
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que se perguntar o que é isso que você vai fazer. Principalmente se
já tem uma galera fazendo isso, e, detalhe, uma galera fazendo bem,
ganhando dinheiro fazendo isso. Será que é isso mesmo que você vai
fazer? Em todo o caso, o sucesso não vem antes da construção. Isso
para nós, comunicadores, é arriscado. Quem tem blog? E quem já teve
blog? É grande o grupo de ex-blogueiros, né?
O mais importante, como eu disse, é conseguir enxergar o
que veio antes, para contextualizar o que acontece agora e para
nos prevenirmos do que pode acontecer depois. É necessário fazer
isso. Os publicitários geralmente têm esse olhar lá na frente, querendo
entender reações, entender possibilidades, um cuidado que tem que
ser a constante do dia a dia. Já os jornalistas, para não serem tomados
por trouxas, especialmente para quem pretende trabalhar com política
(porque os políticos são treinados para fazer a gente de trouxa), é
preciso ter referências. Se não tiver estudado história, se não souber o
que Ulysses Guimarães fez, se não souber o que aconteceu no Brasil nos
anos 70, 60, 50, 40, 30, enfim, se não tivermos referências, talvez nós não
sejamos mais do que uma peça de troca no mercado de trabalho; e
acho que ninguém topa ser peça de reposição, não é mesmo? Tenho
certeza de que, no pensamento de todo mundo aqui, é um eterno
“não vou ser trouxa”.
Quando começamos uma faculdade queremos ter sucesso.
Mas não devemos confundir sucesso com fama. Sucesso é conseguir
fazer o que você se propôs fazer e fazer bem. Fama é outra coisa. Muitos
BBB têm fama enquanto estão no ar, mas só alguns fazem sucesso; a
maioria, não. O importante são as referências para, assim, conseguir
enxergar muito além do que os meios nos mostram.
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Palestra - Bastidores da Produção de Eventos1
Palestrante: Ygor Brito2
Resumo: Ygor Brito traz uma explanação acerca de evento e como
produzir um. Aborda aspectos diversos da produção, desde o
planejamento até checklist, de equipe até atrações, de localidade
até documentação, entre outros. Ilustra essa explanação com casos,
tanto de sucesso como de insucesso. Faz relatos de sua experiência em
segmentos diversos do negócio.
Palavras-chave: Evento. Produção. Parceria.
Vamos pular a teoria, vamos deixando a teoria para os nossos
professores na sala de aula e falar um pouquinho das experiências aqui.
Meu nome é Ygor Brito, comecei a trabalhar com eventos tem uns 15
anos e vou contar a história para vocês, um pouquinho de como eu
comecei produzindo eventos. De repente é um incentivo para alguém
que se identifica com essa atividade. Eu comecei quando eu tinha uns
13, 14 anos e existia em Brasília uma festa teen que se chamava Sub
17, uma matinê. Eu acho que a essa Sub 17 ninguém aqui foi. Sim? A
Sub 17 a que vocês foram acho que já é outra. Quantos anos você
tem [perguntando para plateia]. 23? E onde era a que você ia? Você
lembra do local? Gilberto Salomão? É, já não era essa, essa já era minha,
era eu que fazia. Então, a que eu ía era no Liberty Mall, numa boate que
1 Transcrição: Maria Giullia Gonçalves2 Publicitário. Proprietário do evento SUPER17, fundador da Agência Trêsvírgula14 e agente local de inovação do projeto ALI SEBRAE DF/CNPQ.
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chamava Fashion e tinha essa matinê.
Eu cresci numa quadra na Asa Norte, na 203, onde moravam
vários produtores. E eu gostava, sempre ficava ali enchendo o saco,
“deixa eu participar”. Tinha um produtor que se chamava Bruno Marra
e ele chegou um dia e disse: “Igor, vou te dar 10 ingressos; se você
vender os 10, eu te dou uma cortesia para você ir para a festa”. Falei
que tudo bem, peguei os 10 ingressos e vendi rapidinho, vendi para uns
amigos, todo mundo ia, era no sábado; ganhei uma cortesia e fui.
Na próxima semana, eu falei “Bruno, mas eu queria ganhar
alguma coisa”. Aí ele disse: “Vou te dar 20 ingressos”. Eu vendia 20
ingressos, ganhava minha cortesia, ganhava duas cortesias, com uma
eu entrava a outra eu vendia e ganhava 20 reais. E 20 reais era dinheiro,
viu? Com 20 reais dava para passar a semana. E assim foi. Dali a pouco
eu estava pegando 50 ingressos, 100 ingressos, 200 ingressos. Como
eu fazia: eu pegava 10 comissários, repassava esses ingressos, e se a
pessoa vendia 10, eu dava uma cortesia para ela. Uma vendeu 5 e a
outra vendeu 5, não ganhava cortesia, mas eu já ganhava uma. E além
disso eu ganhava 1 real por ingresso. Então foi ficando melhor ,né? De
20 reais já estava ganhando 200, já estava legal. E aí comecei a me
envolver.
Na mesma época, esses produtores começaram a produzir
evento à noite. Comecei a panfletar, comecei a trabalhar na hora
dos eventos, a cuidar das saídas de emergência, coordenar portaria;
a gente foi evoluindo. Esses sócios brigaram, eram o Bruno e o Paulo.
E o Paulo me convidou: “Igor, você quer ser meu sócio? Quer fazer a
matinê comigo?” Eu falei: “Cara, eu quero, mas não sei”. Aí ele falou:
“Vamos, eu te dou 10% da matinê; eu fico com 90% e você com 10%”.
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“Poxa, isso tudo? Eu quero”. E aí topei e comecei a fazer a matinê. Eu
tinha uns 15 anos de idade e tinha 10% da festa.
A gente mexia muito com o funk e trouxe um dos primeiros; na
verdade, a gente que introduziu o funk em Brasília, um dos primeiros
shows de funk a gente que fez. Teve uma época, 2002 ou 2004, que
a gente tinha exclusividade com todos os shows de funk em Brasília. E
tinha muito, estava estourado e todo mundo passava na nossa mão.
E dali a pouco o meu trabalho estava fazendo um diferencial para o
evento. Isso é importante. Eu era sócio, mas eu trabalhava. Acordava
6 da manhã, panfletava na escola, aí 11:30 eu panfletava na saída,
contratava comissário, divulgava no Orkut, corria bastante. Aí eu falei:
“10% não dá mais, quero 30%”. Chegou a situação em que ele não
conseguia fazer o evento sem a minha presença, porque eu já tinha
contato com todo mundo. E aí, no fim da história, fiquei com 50% desse
evento.
Uns cinco anos atrás, esse meu sócio resolveu parar e me vendeu
a parte dele. Então hoje eu tenho 100% desse evento. E comecei lá,
vendendo 10 ingressos. Esse evento a gente fez durante 15 anos, até ano
passado, quando a gente fez uma festa de encerramento do projeto
Sub 17. Quem já foi em matinê aqui em Brasília levanta a mão. Quem
lembra os locais? Píer 21 já era eu que fazia, Gilberto, acho que já era...
qual era a boate? Era a Trend? É então já era eu também. É, aqui em
Taguatinga, não. Alguém mais lembra um lugar diferente? Então, eu
fiquei muitos anos no mercado, só eu que fazia matinê em Brasília. E
fiquei acomodado muitos anos também, pois não tinha concorrente.
Hoje a gente tem um grande concorrente. A gente encerrou a Sub 17
e foi também muito bom para a concorrência, porque eles cresceram
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e hoje dominam o mercado. A nossa produtora hoje é outra e chama
Super 17. A dele chama Super Clube, eu acho, é um evento bem
bacana e eles estão bem no mercado.
Então foi assim que eu iniciei. Nesse evento aqui só vou
contextualizar o nosso último e o nosso próximo evento. Nosso último
evento foi no dia 24 de julho, no Parque da Cidade. É um conceito
de festival que a gente está trazendo pra Brasília agora, que ainda
não tem: são os festivais segmentados de gastronomia. O festival que
aconteceu no Parque foi o festival de pizza. A gente teve um público de
15 mil pessoas, num evento que foi de 10 até 23 horas. Então, no giro, a
gente teve 15 mil pessoas, o tempo todo assim lotado, muito bacana.
Nosso próximo evento vai ser o festival do brigadeiro. Então,
sempre segmentado assim. Esse festival – vou até deixar o convite para
todos – vai ser domingo, no Eixão Norte. São 30 estandes de doce, 10
restaurantes, música ao vivo, concurso de quem come mais doce. É
uma festa bem bacana, com a eleição do público do melhor doce do
festival. A entrada é franca, você paga só para consumir. São eventos
diferentes.
A matinê é um evento com que vocês se identificam, porque
vocês já participaram, mas é um evento de bilheteria. Esses festivais
gastronômicos, ao contrário, são abertos ao público, sem bilheteria.
Como a gente consegue recurso? Através de patrocínios e vendas
de estandes. A gente tem 40 expositores de doce. Eles pagam para
participar, mas têm retorno. No nosso evento de pizza, cada pizzaria
vendeu mais ou menos 10 mil reais. Gente, eu vou falar valores aqui
para vocês terem noção, porque se não fica muito vago. Isso para eles
é muito bom, isso é um final de semana de uma pizzaria cheia. Então
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o nosso objetivo aqui não é só vender o espaço, é fazer com que o
expositor venda. Se ninguém vender ou se alguém tomar prejuízo, para
a gente foi um fracasso. O evento girou em torno dos 300 mil reais. Foi
uma sementinha que a gente plantou.
A nossa produtora praticamente não teve lucro nesse evento.
Aí você pensa “você gira 300 mil reais, 400 mil reais mais e não ganha
nada?” Mas é um conceito novo que a gente está trazendo e foi bom.
É um investimento inicial. Agora a gente está começando a colher disso
aí. A gente tem um programa, dentro da Invento, a nossa produtora, que
é um programa de voluntariado. A gente solta umas inscrições e recebe
vários currículos. Normalmente a gente pega pessoas sem experiência,
e a pessoa só pode participar uma vez desse voluntariado. É assim: se
ele participou do festival da pizza, ele não trabalha em outro evento e
ganha um certificado de 20 horas. A gente tem um bate-papo antes do
evento, uma reunião de alinhamento, e depois eles trabalham no dia
do evento. É uma experiência muito bacana. Quem quiser depois saber
mais, quiser participar dos próximos, é uma oportunidade bem legal.
Vamos falar do perfil do profissional, só vou dar uma passada
rápida. De que precisa o profissional de evento? Domínio das técnicas
de planejamento, domínio das técnicas de comunicação, visão
de mercado dos eventos e dos negócios, visão e compreensão das
tipologias do evento, criatividade, organização, espírito de liderança,
boa comunicação oral e escrita e boas relações interpessoais. Essas
são realmente habilidades importantes para quase tudo na vida, mas
para eventos é fundamental. Imagem pessoal é muito importante se
você está na liderança de um evento. Por exemplo, eu estava em um
evento pra 15 mil pessoas; eu coordenava toda a equipe e o evento
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inteiro. Que imagem eu quero passar? Tanto a minha quanto da minha
produtora? Pro público, para as pessoas, para os fornecedores? Não
é porque é evento, é festa, que gente pode deixar de ser profissional.
Liderança significa que estou sempre trabalhando em grupo, é muito
importante, é responsabilidade.
Alguns casos de sucesso e de insucesso. Eu subir aqui e falar que
fiz o evento, que vendi tanto, é muito bonito, mas não é a realidade. A
gente passa vários fracassos também durante a nossa trajetória. Então
vou falar um pouquinho sobre responsabilidade. Vou contar um caso
para vocês.
Todo mundo conhece a operadora Nextel? Tem alguém que
trabalha na Nextel, tem algum parente que trabalha na Nextel? Tem
não, não é? Porque, quanto tem, eu não conto. Eu pulo essa parte.
Isso foi em 2010, eu estava procurando uma forma melhor de eu
divulgar meus eventos. Nessa época não tinha WhatsApp, parece
que o WhatsApp está na nossa vida há 50 anos, mas não tem nem 2, 3
anos. “Como vou divulgar?” Eu pensei em fazer uma mala direta pelo
correio, mandar uma carta falando para todos os meus clientes sobre
o evento, mas isso ia me custar muito caro. Eu pensei:“Já sei, vou enviar
mensagem de celular para todo mundo.” Fui até a Nextel, vi que tinha
um plano de R$ 99,90 no qual eu podia mandar mensagens ilimitadas,
para quantas pessoas eu quisesse. “Ah, que bacana, vou pegar esse
plano”. Peguei o plano, fiz um trabalho em todas as faculdades de
Brasília e uma mala direta de 15 mil números de universitários, que era
o meu foco de eventos na época. Enviei uma mensagem para todo
mundo. Comprei um celular e mandei para todo mundo. Naquela
época a gente trabalhava muito com lista, a pessoa enviava o nome
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de volta e o e-mail para ir ao evento. E eu tive um retorno muito bom.
Enviei assim e recebi coisa de 500 e-mails. E e-mail normalmente vem
com 5, 10 nomes. Isso foi muito bom para o evento.
E aí eu comentei com um amigo: “Cara, eu enviei mensagem
de celular e foi muito bacana.” Ele falou: “envia para o meu evento?”
Mas eu pensei: “Não, não vou enviar não, essa aqui é uma ferramenta
só minha, eu que criei, não vou passar para ninguém, não”. Um dia, o
evento dele estava fraco, ele me ligou e falou “Igor, por favor, me ajuda,
manda uma mensagem, eu te dou 200 reais.” Eu falei: “Ah, beleza, 200
reais, aí já dá para mandar.” Mandei mensagem para os 15 mil números.
Ele teve um retorno muito bom. E aí as pessoas ficaram sabendo e
começaram a me procurar. As boates, as casas, os produtores. “Igor,
manda uma mensagem, eu te dou 200 reais” “Ah, 200 reais, eu mando”.
Eu decidi que ia mandar duas mensagens por dia, e ia cobrar 200 reais .
Então eu mandava duas mensagens por dia, para não “encher
o saco”. Imagina você receber duas mensagens por dia no seu celular,
de quem você não conhece, falando: “Vai ter uma festa”; “enche o
saco” das pessoas. E aí mandava duas por dia, ou seja, numa lista de
15 mil, somava 30 mil. Então eu mandava 30 mil mensagens por dia;
30 mil vezes 3, 90 mil mensagens por dia. Assim, eu mandava 900 mil
mensagens por mês. Eu mandava quase um milhão de mensagens.
E isso derrubava a plataforma da Nextel de sms, e eu não sabia que
era eu. Às vezes caía, e eu ligava lá: “Eu trabalho com celular, libera”,
falava isso de uma forma sem nenhuma responsabilidade. Um dia,
cheguei em casa do meu treino, abri a conta da Nextel: 70.970,29
centavos. Eu ri. “Nextel está me sacaneando”, e liguei lá. “Deixa eu te
falar, chegou uma conta aqui, acho que era 70 e vocês colocaram
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uns zeros a mais.” “Não, senhor Igor, essa cobrança é devida.” “Como
assim devida?” “Não, o senhor enviou um milhão de mensagens esse
mês” “Mas eu pago 99 reais” “Não, por favor leia o contrato.” Contrato?
Nem contrato eu tinha. Peguei, achei e tinha lá “esse plano não pode
ser usado para fins comerciais”; exatamente isso. Ou seja, uma bobeira,
irresponsabilidade total. Uma coisa deu resultado e fui indo, sem olhar,
sem ver contrato, sem regularizar, achando que ia me dar bem. E essa
cobrança foi devida. Foi parar na primeira vara cível e eu perdi. Quem
quiser saber como eu resolvi, eu conto depois.
Tipos de evento. Vamos lá. Eventos empresariais, institucionais,
promocionais, políticos, sociais, esportivos, culturais, estudantis. Essa
classificação é muito ampla. Um evento pode ser esportivo, cultural.
Por exemplo, eu sou capoeirista e professor de capoeira também.
Eu vou fazer um evento de capoeira, então eu pego muito recurso,
normalmente do FAC, Fundo de Amparo à Cultura. Capoeira se encaixa
em esporte, evento social, cultural, estudantil, dependendo do ponto,
é muito amplo como oportunidade de mercado. É muito importante,
quando eu vou realizar um evento pensar em que data vou fechar: É
feriado nessa data? As pessoas vão estar em Brasília? Vão viajar? E se
eu fizer um evento fora de Brasília, é uma data comemorativa? Às vezes,
vou fazer em um feriado religioso, e de repente meu público não vai. É
importante analisar tudo isso.
Costumes regionais. Às vezes, é uma data em que na cidade
ninguém sai de casa. Eventos nacionais, mundiais, copa do mundo
e outras coisas. Quando a gente vai falar de evento mundial, a
gente só lembra de copa do mundo. Vamos lá. Essa tabela feia aí é
muito importante: pontos de reflexão, conceito. Pontos de reflexão
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e regras básicas. Conceito; pense em um conceito novo de evento.
Isso é importante, isso é o que a produtora fez aqui com os festivais
gastronômicos. Vamos fazer um evento...todo mundo conhece esses
eventos gastronômicos de rua? Chefe nos eixos, piquenique. Vamos
fazer um evento, mas vamos fazer mais do mesmo? Então, fomos
pesquisar e chegamos nesse ponto de fazer um evento diferenciado, aí
a gente veio com o festival.
Eu ainda não tenho nenhum conhecimento de festival do
tamanho que a gente faz. Nossos eventos são para no mínimo 5 mil
pessoas aqui em Brasília. Eu sei que daqui a pouco vão surgir vários. Aí
a gente fez o da pizza, fez o do brigadeiro. Evento é assim, gente, as
pessoas fazem. Daqui a pouco tem o festival da pizza dupla; aí o cara
fala: “Não é só outro; o meu é da pizza dupla, o seu é da pizza”. Então,
as pessoas fazem. A história da matinê, o cara lá fez a Super Club.
Visão, mude sua visão de evento, crie novas visões. Objetivo,
formule novos objetivos. Forma, pense em novas formas para o seu
evento. A gente pode se inspirar em eventos, em pessoas em negócios,
mas saia da caixinha. Busque fazer uma coisa que não existe. Vou
fazer um evento que nunca vi na vida, nunca vi em Brasília, vou fazer.
Possibilidades de realização: defina novas possibilidades de realização
do seu evento. Meu evento precisa ser dentro de uma casa, de uma
casa de eventos, dentro de uma boate, ou pode ser ao ar livre, no
Eixão, no parque, numa passarela? Na Asa Norte tem um pessoal que
faz um evento que é na passarela, é o “Forró na Passarela”, e “bomba”,
enche de gente; não sei como eles ganham dinheiro ali, mas “bomba”.
Planejamento e organização. Vou dar uma dica que me ajuda
muito quando vou fazer o planejamento dos meus eventos. A gente
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aprende desde o primário a fazer aquele planejamento de uma forma
vertical, aquele planejamento bem metódico, primeiro, segundo,
terceiro, quarto, quinto. Só que tem um detalhe, o nosso cérebro não
funciona de forma linear, de cima para baixo, de baixo para cima. Isso
depende de cada um, na verdade, mas os criativos – que acho que é
todo mundo aqui da comunicação, povo criativo – se identifica com
esse modelo.
Todo mundo já ouviu falar desse camarada aqui [imagem]?
Esse camarada aqui inventou uma metodologia que a gente usa e nem
sabe. É uma metodologia chamada mapa mental. Quem já trabalhou
com mapa mental levanta a mão aí. Pois é, mapa mental é uma
metodologia muito antiga e muitas vezes muita gente não conhece,
nunca ouviu falar. O mapa mental é uma forma de planejar que não
é metódica. Por exemplo, eu vou fazer um planejamento para encher
essa garrafa de água. Eu sei que vou pegar a garrafa de água, vou
sair daqui, vou encher no bebedouro e voltar. Enquanto eu peguei a
garrafa de água, no meio do caminho lembro que preciso de uma
tampa. Beleza, volto, pego a tampa e volto para o meu planejamento.
Aí, lá no meio do caminho, eu lembro que o bebedouro que tem ali é
muito pequeno e que não dá para encher. Então, tento buscar uma
solução e lembro que tem outro filtro lá fora... Assim o planejamento
é dinâmico, vai mudando sempre. E o mapa mental é isso. Eu faço o
planejamento de uma forma mais criativa e uso algumas imagens para
fazer associações e lembrar o que eu preciso lembrar.
Em todos os meus eventos eu faço o mapa mental, começo a
rabiscar. Coloco o objetivo e começo a “linkar” tudo o que eu quero,
vou “linkando”, vou fazendo e depois eu organizo. Mais ou menos
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assim [imagem], esse está muito bonitinho. Exemplo de um conceito:
“Combater o aquecimento global fazendo algo”. O que eu posso fazer?
Ah, posso fazer alguma coisa em casa: não secar roupa na máquina e
usar o varal; comer menos carne. Aí você puxa o link, e vai “linkando”
e vai montando o seu planejamento. Isso é muito bacana. Quer fazer
um trabalho, uma apresentação? Coloca lá o tema e vai jogando tudo
o que você tem na cabeça. Vamos voltar para o evento. Você diz:
“Quero montar um evento”. Então, você coloca lá: chamar segurança,
divulgar o evento, como divulgar; aí já abre outro link: panfletagem,
postagem no facebook, televisão, rádio. Beleza. Daqui a pouco você
lembra que, para rádio, tem que criar um spot então coloca outro link:
“criar spot”. E vai planejando. É dessa forma que eu gosto de planejar
meus eventos.
Vamos focar agora na Sub17. É importante a gente definir: o
público; no meu caso, eram jovens de 12 a 17 anos, classe A e B; a
música: era funk e música eletrônica; o horário: era matinê; local de
divulgação: no meu caso, o foco era Guará, Plano Piloto e Núcleo
Bandeirante. Isso é importante estar definido, porque na hora da
loucura, da correria, você fala: “Eu vou divulgar em Taguatinga”, mas
as vezes não é o seu público, não é o que você quer. Local do evento é
muito importante. Meu público aprova, tem credibilidade, passa algum
conceito? É de fácil acesso? Tem capacidade para o meu público?
É seguro? Meu público vai como? Vai com os pais, vai de carro, de
ônibus? Tem acesso? Não adianta fazer uma festa numa chácara linda,
mas onde é muito difícil chegar, porque as pessoas não vão.
Tipos de linguagem. No meu caso, uma linguagem jovem,
descolada, moderna; eu podia usar gírias, meu público permite isso,
100
gírias, dialetos, abreviações. Por exemplo, se a gente soltava lá: “Issa,
está ligado na sub17? Tô, o que rola? Mc Saede, partiu? Caraca, que
é isso, novinha, que é isso, novinha. Esse é louco. Então partiu, dia tal,
em tal lugar”. Se eu desse isso para outra pessoa ler, ela falaria: “O que?
Está tudo errado aqui! ” Mas para o meu público faz sentido. “Quando
bate o sinal do intervalo dá vontade de gritar: ah, leleque leque leque”.
Mas o que é isso? Pro meu público faz sentido.
Estão aqui o festival de pizza e o festival de brigadeiro. O festival
de pizza tive um pouco mais de dificuldade para conseguir fazer, pois
foi, como eu falei, a sementinha, a construção. No festival do brigadeiro
a facilidade foi maior, pois eu já tinha credibilidade, já tinha um portfólio.
Eu chegava já: “Você tem interesse no festival do brigadeiro? ” “ Tenho;
Não sei se eu tenho” “Ah, a gente fez o festival de pizza” “Ah, vocês que
são do festival de pizza? Poxa que bacana, eu quero, vocês são legais”.
Isso é importante também: a gente sempre se associar à marca
dos parceiros. A gente no festival de pizza quis associar a nossa marca
ao IFly e fechar uma parceria com eles, que tinham tudo a ver com o
nosso público. Todo mundo conhece o IFly? É um tubo de vento que
tem do lado do Píer 21, que faz simulação de voo. Tem um conceito
superbacana e casou muito com o nosso evento. Uma pizzaria também,
que é super conceituada no nosso público, a Pedacinho; eles inclusive
ganharam a melhor pizza do festival. E a gente usou essa marca não à
toa, foi para agregar valor.
Mídias. É importante sempre analisar isso aí, mídia online, mídia
off-line, o que eu vou usar. Nesse meu evento do festival do brigadeiro
não tive nenhuma mídia impressa. A gente não gastou nenhum papel.
Só mídia online. Eu já tinha esse negócio com panfleto, já cresci na
101
minha vida profissional com esse negócio de panfleto, já era assim,
automático: eu ia fazer um evento, rodava 10 mil panfletos. Sabia nem
para quê. “Evento tem que ter panfleto”. Por que tem que ter panfleto?
Posso pegar esse dinheiro e investir em uma mídia online, que vai ter um
alcance muito maior. Então, é importante fazer esse paralelo, não ficar
no automático. “Ah, o evento lá fez outdoor, tenho que fazer outdoor”.
Não, o evento lá é o evento lá. Igual mãe fala: “Você não é todo
mundo”, “Mas todo mundo vai”, “Mas você não é todo mundo”.
Onde eu encontro meu público? No meu caso, em escolas,
cursinho, internet, festas e lanchonetes. Então, aqui eu tinha que ter
panfleto, como é que eu ia divulgar dentro de uma escola sem panfleto?
Ora, na página do facebook! Gente, facebook hoje é uma ferramenta
espetacular para evento. Quem nunca trabalhou, nunca investiu
dinheiro no facebook? Eu faço orientação empresarial pelo Sebrae
e às vezes chego numa empresa para dar orientação empresarial e
o cliente diz: “Página de facebook não adianta não; eu tenho minha
página lá e todo dia eu posto uma foto e não adianta nada”, “Mas
você investe alguma coisa, você paga para o facebook? Pagar vai
te dar um retorno”. E vale a pena, não tenham medo de investir no
facebook. “Ah será que isso vai dar resultado?” Claro que tem que ser
uma campanha bem armada, mas dá resultado. Em evento eu garanto
que é uma ótima ferramenta, a principal hoje em dia.
Ações promocionais. No festival, a gente fazia algumas:
entregava garrafinha squeeze, boné, promoção de carro, o cara queria
chegar na festa e ele ganhou uma corrida numa limusine, enfim.
Projeto de viabilidade. Importantíssimo: Quanto vai custar meu
evento? Como eu vou pagar isso? De onde virá esse dinheiro: Captação
102
de recurso? Venda de estandes? De ingresso? Patrocínio? Pagamento
antecipado? Essas são as famosas perguntas que eu escuto muito.
Respondo: “Depende”, “Ah, mas um evento assim, de 20 mil, de quanto
eu preciso?”, “E de 50 mil, preciso de quanto?” Na nossa produtora, que
já tem um conceito no mercado, já tem uma rede de fornecedores, a
gente tira muito pouco do bolso. Mas eu tenho que estar preparado
pra assumir o risco. No festival de pizza, nosso custo estava em 100 mil.
Eu tirei antecipado do bolso uns 3 mil. Aí, vai entrando receita, a gente
vai pagando o que tem que pagar, e normalmente, a gente paga a
maioria depois.
Mas eu tenho que estar preparado. Se antecipado, eu vendi
só 50 mil, de onde vou tirar os outros 50? Planilha de custo. Aqui, o
exemplo de uma planilha bem simplesinha, de um evento bem simples.
Era uma casa noturna, onde a gente tinha uma porcentagem de 50%
do lucro da portaria. A gente fez um evento que arrecadou um total
de 18 mil; para produzir o evento a gente gastou 13, então sobrou 5 mil
e pouco. Assim, a produtora ganhou 2 mil e quinhentos e a casa 2 mil
e quinhentos nessa parceria. Existe essa parceria nas casas noturnas.
Esse aqui [imagem] é outro evento específico de parceria, foi o primeiro
show da banda Hori, que era do Fiuk. A estrutura foi bem maior, e se
juntaram cinco produtoras para fazer esse evento.
Projeto de apoio e patrocínio. Esse aqui, na verdade, é o modelo
de apoio de empresas privadas. E acontece pessoal, a gente vende o
espaço, a imagem da empresa; e isso é bacana, é uma forma legal de
captar recursos.
Alvará, taxas e impostos. Outra coisa em que as pessoas têm
muita dificuldade. Então, para fazer um evento, tem que ter o alvará
103
da administração regional, que pode ser fixo ou eventual; por exemplo,
numa boate tem um alvará fixo, e se eu vou fazer um evento exclusivo,
o alvará é eventual. São vários tipos, dependendo do evento: alvará
da infância e da juventude; praticamente todos os eventos têm que ter
do bombeiro, polícia civil; se tiver alimento, precisa alvará da vigilância
sanitária.
Os contratos. Eu preciso ter contrato de locação do local
para conseguir tirar alvará. Eu tenho que ter contrato da empresa de
segurança, não posso colocar meu amigo para trabalhar.
Também tem o Ecad. Todo mundo sabe o que é Ecad? O Ecad
é a ordem dos músicos, por onde eles cobram uma taxa pelas músicas
que serão tocadas, eles cobram o direito autoral dessa música. Nesse
festival do brigadeiro, o Ecad me cobrou 4 mil reais. E aí a gente mudou
o projeto. A gente vai fazer, a gente vai colocar 4 ou 5 bandas, todas
vão tocar músicas autorais; e aí tem um documento do Ecade, que
as bandas abrem mão do direito autoral. Fala lá: “vou tocar a minha
música e eu não quero receber”. Só que o cara não pode tocar outra
música. Se tiver um fiscal lá, eu tomo uma multa. Isso existe também,
é um macete para você não pagar tanto no Ecad. No festival de
pizza, outro macete que a gente fez também. Me cobraram quase 7
mil reais de Ecad. “Eu não vou pagar 7 mil reais, muito caro, não tem
tem como eu pagar quase 10% da minha planilha só para Ecad”. Eles
fazem um cálculo por espaço ou por bilheteria. Quando é bilheteria,
o Ecade pega de 10 a 15%, depende do estilo musical. Aí falaram: “a
gente fez uma conta aqui e deu quase 7 mil reais”; falei: “Então, meu
evento vai ter bilheteria”; “E quanto vai ser o ingresso?”; “1 real”. Isso
é porque em festa junina, festa de igreja, todo mundo paga Ecad, e
104
eu cobrei 1 real de entrada. “Ah vou fazer as contas aqui em cima de
1000 pessoas, vai dar 100 reais, com a margem de desconto de 20%,
deu 80 reais o meu ecade”; então eu paguei 80 reais. A gente tentou
montar uma bilheteria voluntária, a pessoa chegava, dava 1 real se
quisesse, e quem não quisesse não dava. Aí o fiscal do Ecad foi lá, e
falou: “Igor, a sua bilheteria não está organizada, está entrando o que
quer”, “Mas eu tentei montar a bilheteria, não deu certo” “Então, vou
ter que te autuar”. E me autuou com uma multa de 1700 reais. Foi um
aprendizado. Na próxima vou colocar uma bilheteria, e só vai entrar
quem pagar um real, por exemplo. São saídas que a lei permite, então
são maneiras em que você pode formatar seu evento da maneira que
quiser.
Um dia eu cheguei no escritório e me ligaram: “Igor, abre
o R7, o site da Record, urgente”. E tinha essa matéria lá: “Festa para
adolescentes apresenta mulheres com pouca roupa e danças
sensuais”. Falei: “Cara, que imbecil! Mas a minha festa vai sair na
Record, pelo menos.” Quem achou alguma coisa de mais, pode falar.
Beleza, acharam de mais, eu também achei. Mas isso aí tem todo dia na
novela das 8, mulher dançando funk com shortinho. A gente estava na
lei, foi legal, não cometi nenhum crime, mas de repente não foi moral.
Eu poderia ter olhado outra atração, devia ter tirado, apesar de que a
gente toma o maior cuidado com isso. E lá falou que não tinha alvará,
um erro que também aconteceu. A gente fazia outra festa na Moena e
tirou o alvará como matinê da Moena, que era o nome da boate. Só que
a nossa festa se chama Sub17; por isso, a reportagem falou que a Sub17
não tem alvará. Foi aí que a gente recebeu uma orientação: “Coloque
exatamente o nome do seu evento no alvará”. E a gente tinha o alvará
105
de funcionamento, da casa, a gente pegou esse documento e mandou.
Na verdade, no Píer 21 nenhuma loja tem alvará, vocês sabem
disso? Que nem o Píer 21 tem alvará? Ali é uma área que eles não
poderiam ter construído o shopping. Eles funcionam com liminar, que
permite que eles funcionem ali. E aí quando está acabando a liminar,
chega lá outro juiz e tira outra liminar. E o Píer já tem quantos anos já? 15
10 anos? Então, tem lugar que é assim, vive de liminar, isso é normal no
mercado. A gente teve uma reunião com o promotor, que falou: “Tira o
alvará assim da próxima vez, pega leve com as dançarinas”. E a gente
parou de pôr dançarina.
Contrato de locação, que eu falei que era importante ter. Esse
aqui é o contrato de uma festa na Ascade, que a gente fez. Está lá,
cheque caução de 12 mil reais, que a gente tem que deixar. Tudo envolve
muita responsabilidade. O bendito Ecad, aqui a taxa dele. Antes de fazer
um contrato com artista, é importante a gente pesquisar na cidade se
aquele artista já veio aqui, se ele tem exclusividade com alguém, quanto
a pessoa pagou. É importante fazer esse contato, fazer essas parcerias.
Já teve show que eu estava fechando o artista por 10 mil reais, aí meu
concorrente vai e liga para o artista querendo fazer o show dele. Aí o
artista me liga e fala: “Agora é 15 mil”; “Como assim agora é 15 mil? Era
10”. “A gente não assinou contrato, estão pedindo muito pra Brasília”;
“Pedindo muito? Quem pediu?”; Aí eu descobri que o meu concorrente
ligou querendo fazer o show da nossa produtora. Isso não é legal. Tem
que ter parceria, tem que jogar limpo, ligar, ver como parceria, não como
concorrente.
Deveres do contratante. São todos. Você trouxe um artista, você
tem todas as responsabilidades. O que ele vai comer, como ele vai se
106
transportar, onde ele vai ficar. Se ele pegar uma gripe, você tem que
ir lá na farmácia e comprar o remedinho para ele; se ele estiver triste,
você tem que ir lá conversar com ele, se não ele não vai cantar. Eu já
tive caso de artista chegar em Brasília, pisar no aeroporto e falar: “eu vou
para casa”; “como você vai para casa? tem 3 shows para a gente fazer
agora!”; “eu vou para casa, estou bem não, estou cansando”. Artista é
artista. Percentual da portaria, isso existe também. Eu trago um artista e
falo: “Eu vou garantir o mínimo de 5 mil reais, se não vier ninguém eu te
dou 5 mil reais; e se for bom eu te dou metade da minha bilheteria”; isso
existe também, essas parcerias.
Contrato. Esse aqui é um contrato do Mr. Catra que a gente fez dia
21 de julho. É assim: muitas frutas, água de coco, suco sabor light/comum,
barra de cereal comum, barra de chocolate meio amargo, água termal
La Roche não sei de onde, trident sem açúcar, red bull 3 sem açúcar, 6
normais, cerveja, incenso de canela... é assim. Se você não fizer, o cara
não vai cantar no seu show. Então trate o artista bem. Se não, ele vai
chegar lá: “Poxa, como vou cantar sem meu incenso de canela?” Tem
esses detalhezinhos. Eu tirei esse trecho do contrato dele: “O cumprimento
dos itens solicitados, tanto para equipamentos, segurança, e camarim, são
partes integrantes do contrato e o show pode ser cancelado, podendo
ainda realizar o cancelamento do contrato”. Então, se eu não puser lá o
incenso de canela, pelo contrato ele pode até cancelar o show. Vou falar
a mesma coisa lá da Nextel, leia o contrato.
Depoimento de artista. Eu peguei o depoimento das pessoas
mais famosas que eu conhecia só para representar. O artista é sempre a
prioridade. todo mundo conhece esses artistas aí [imagem]? Sabe quem
são? Mc Marcinho, Mc Sapão, Dj Tubarão.
Vamos lá, estrutura de eventos. Quando eu vou fazer meu evento
107
em um local público, um local que não tem estrutura, eu tenho que me
preocupar com tudo. É um local acessível? É um local a que um cadeirante
pode ir? Tem banheiro? É um local que eu tenho que fechar? É aberto,
vai chover, não vai? Isso é importante. Isso aqui é no Parque da Cidade,
o festival da pizza: projeto inicial da metragem que a gente ia usar; aqui
já é o mapa com as medidas. No nosso primeiro croqui tem uma tenda
10 por 10 e outra 10 por 3. Esse espaço aqui é o que a pessoa tem para
passar. Quando a gente foi ver, o espaço era muito pequeno para um
fluxo grande, de cerca de 15 mil pessoas rodando. Então a gente teve
que refazer o croqui e aumentar o espaço. Aqui o mapa final, da forma
que foi, que a gente entrega na hora de pagar a taxa de área.
A taxa de área pública é barata, não é cara não; você paga 60
centavos o metro quadrado. Para montagem do evento, você paga 8
centavos pelo metro quadrado e mais 8 centavos para desmontagem.
No caso do parque, tem a administração do parque; a gente vai lá, pede
o espaço, tem alguns locais que eles não deixam. Aí, se o parque me
dá a liberação, eu levo para a administração de Brasília. Tem locais que
eles limitam. Hoje em dia está bem flexível para fazer evento e ocupar o
espaço público.
Controle de público. Isso aqui é importante: como eu vou fazer
o controle de minha receita? Ingresso, pulseira? A gente tem essa
maquininha, é tudo online: se a pessoa imprimiu o ingresso, aparece no
meu sistema que ela imprimiu; quanto vendeu, onde vendeu; tenho um
controle todo online, bem bacana. Eu passo mais ou menos de 2 a 5%
da minha receita para eles. É bem mais caro que o papel, mas tem um
controle. Situações adversas. Vai chover, é época de chuva? O Festival
do brigadeiro a gente acelerou para não entrar em outubro, e perigando
108
dar uma chuvinha. Vai ser no domingo, e estão todos convidados a
participar do evento. Inclusive se quiserem passar lá e ver a montagem,
vou deixar meu contato; as portas do evento estão abertas para vocês.
RH – recursos humanos. Sempre trabalhar com pessoas qualificadas, nada
de “Ah, tem uma prima, vou colocar ela no caixa”, “Eu tenho um amigo
e vou colocar ele l na bilheteria”, “não tem alguém para coordenar o
palco, então eu vou coordenar o palco”. Gente, não cai nessa, é furada.
Eu pago mais caro para o pessoal que trabalha comigo, mas eu pego
equipes que já estão no mercado, já sabem trabalhar. Porque não é fácil,
esse evento são 8 horas, então em 8 horas acontece muita coisa. E o
tempo passa; se você não fizer ali o que tem que ser feito, passou, já era.
São 8 horas para o evento estar limpo, para você vender sua expectativa
que são, digamos, 300 mil reais. Então, você tem que estar ligado o tempo
todo; os meninos que trabalharam lá sabem disso.
Pesquisa de satisfação: como é que está o evento? O pessoal está
reclamando ou elogiando? Tinha alguém monitorando o facebook direto
ali do evento e eu falei: “Olha, alguém reclamou, me passa na hora”.
Foi uma pessoa, duas, muitas? “Estão reclamando ali”; “Então muda”. A
gente tem que vender, e isso é importante.
Checklist. Normalmente eu faço checklist na minha planilha.
Você abre isso aqui, uma coisa já foi, já fiz, sempre falta outra: “tem que
comprar uma fita zebrada, um laço azul para amarrar no negócio que a
gente falou que ia ter”; então, checklist.
Etapas do evento: pré, durante e pós o evento. Durante o evento
é sempre o mais bacana, mas o que a gente trabalha mais é o pré evento.
E eu tenho um mês de divulgação. Então a mesma coisa, é um mês que
vai passar, não tenho tempo, não posso: “Ah, hoje eu vou dormir” e passar
para depois. É um mês se dedicando total. E pós-evento, fechamento de
109
evento, pagamento de todo mundo, feedback para saber se foi bom, se
foi ruim, o que a gente pode melhorar.
Para fechar, vou passar um vídeo para vocês. Eu tinha deixado uma
frase que eu sempre falo: para fazer evento, a gente precisa ter coragem,
como eu falei. A gente fez o evento mês passado e eu tirei 3 mil reais do
bolso; dinheiro, gente, é de menos. Dinheiro você arruma, dinheiro você
pede para um amigo, você pede para sua tia, você pede para o seu pai,
você arruma um sócio que quer investir. Quem quer corre atrás, quem quer,
dá um jeito. Não faça nada sem ter como arcar. Arrume parceiros. Quer
realizar um evento? Faz, que vai dar certo.
Agora, você tem que ter coragem, porque o tempo todo vai vir
uma coisinha, o tempo todo. Por exemplo: eu tenho um espaço infantil
no festival do brigadeiro, e o cara me ligou essa semana, dizendo: “Igor,
eu não tive muita inscrição ainda e, se eu for, vou perder 200 reais; e eu
não posso perder esses 200 reais, cara. Então, eu não vou mais, não.” “O
que? Como assim não vai?” Aí teve um erro: a gente não fez contrato com
o cara, a gente achou que era uma empresa, mas não era; o cara não
era profissional, e a gente se deu mal. Eu estou hoje tentando fechar outro
espaço kids; então é o tempo todo.
Vou passar um videozinho para vocês, bem rapidinho. Muito
obrigado pela recepção de vocês e fico à disposição para quem quiser
trocar uma ideia, entrar em contato. Gente, esse vídeo eu vi a primeira vez
junto com o meu sócio, e até hoje a gente brinca, a gente fala: “Aí, você
quer ser lamborguini ou quer ser fusca?” E até hoje quando a gente se liga
porque tem um problema difícil para resolver, e um fala: “Ah, não vou não,
isso vai ser difícil”, o outro fala assim: “E aí, quer andar de lamborguini ou
quer andar de fusca?” Então esse é um trocadilho que a gente sempre faz,
sempre brinca.
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Mesa de Debates – Empreendedorismo em comunicação: casos de sucesso, enfrentamento de riscos1
Convidados: Luzinete Marques2 e Rodrigo Cunha3
Resumo: Neste debate, se coloca uma interessante polaridade sobre
a noção de empreendedorismo em comunicação. De um lado, uma
abordagem mais tradicionalista, segundo a experiência e formação
da empresária em assessoria de comunicação, Luzinete Marques. De
outro, a abertura para as novas experiências do jornalismo segundo a
perspectiva do jornalismo empreendedor, no qual um dos pontos altos
é a configuração dos novos perfis profissionais que se fazem necessários
para a produção de conteúdos hipermidiáticos. Chama atenção a
preocupação, em ambas as vertentes, com o público.
Palavras-chave: Jornalismo. Empreendedorismo. Design. Assessoria de
imprensa.
Luzinete Marques: Boa noite a todos os alunos, ao professor e
ao meu colega de bancada. Eu tenho dado algumas palestras em
faculdade, e visualizo muito isso que o apresentador falou. Quer dizer,
quando você sai da universidade hoje, quais são as expectativas
que você têm em relação à profissão? Às vezes bem baixas, porque
a profissão hoje já passou por “não tem diploma, tem diploma”. Tanta
1 Transcrição: Maria Giullia Gonçalves2 Jornalista. Diretora de Atendimento da Infinito Comunicação e membro do grupo Mulheres de Sucesso, Mulheres Empreendedoras do Brasil, G15, Grupo N..3 Doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas. Professor adjunto do Departamento de Comunicação Social da UFPE.
111
gente querendo fazer a mesma coisa que a gente e, por outro lado,
também a comunicação mudou. Eu vi o currículo do pesquisador da
Universidade de Pernambuco com uma expertise bem grande e bastante
estudo na área de novas mídias. Então, hoje a comunicação mudou
tanto que, praticamente, todo mundo hoje é um produtor de conteúdo,
todo mundo que tem um celular na mão, que tem um computador, que
tem uma internet hoje é um produtor de conteúdo. E isso obriga a nossa
profissão, e nós como profissionais, a mudar. Tudo está em mutação, na
verdade, na nossa profissão. Não sei como começar, mas eu pensei em
começar contando um pouquinho a minha trajetória profissional e posso
dizer um pouquinho de como o mercado hoje está se direcionando,
como a nossa profissão está se direcionando, quais as carreiras que têm
surgido, quais as oportunidades, quais as possibilidades.
Rodrigo Cunha: Boa noite a todos. Conforme a Luzinete explicou,
sou professor da Universidade Federal de Pernambuco há um ano e
um mês. Ms há cinco anos já trabalho com a pesquisa em jornalismo
e dispositivos móveis, sendo que minha tendência de pesquisa está
mais voltada ao design e ao desenvolvimento de interfaces para esses
produtos. Então, durante desse período da tourada, por exemplo, passei
um período na Espanha, na Universidade de Málaga. Pude também
vivenciar um pouco outra realidade que também é muito semelhante à
do Brasil. Nós temos problemas de redações que estão demitindo muitas
pessoas, havendo um enxugamento de muitos profissionais. Muitos
desses estão há muitos anos no mercado e isso acaba trazendo todo
aquele discurso de crise do jornalismo, toda a preocupação de quem
está saindo da faculdade agora e o problema da expectativa que se
tem de poder conseguir um espaço dentro do mercado de trabalho.
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O que aconteceu é que muita gente realmente abraçou o mercado
digital e criou seu próprio produto. Tem a minha apresentação, depois eu
posso mostrar alguns exemplos, alguns problemas e alguns riscos. Muitos
estudantes recém saídos da faculdade passaram por essa experiência
e, até mesmo dentro de redações mais tradicionais, algumas iniciativas
de empreendedorismo, algumas inovações, por assim dizer, em termos
de formato, em termos de criar novos produtos para esse mercado
digital. Esse mercado se abriu, apesar de termos ainda esse problema
com relação aos meios mais tradicionais. O mercado digital abriu novas
possibilidades, tanto para linguagem, quanto para formatos, novos
desafios a serem explorados por jornalistas, por publicitários, por diversos
profissionais que estão envolvidos nessa área da comunicação.
Luzinete Marques: Eu comecei no jornalismo quando fui fazer
faculdade, como vocês hoje estão aqui na faculdade. Eu não tinha
exatamente uma ideia do que eu queria fazer. A forma como eu entrei
na faculdade foi bem engraçada. Eu fazia magistério, escola normal,
e tinha um grupo de teatro. Na época não tinha PAS, não tinha ENEM,
não tinha nada disso, pois faz bastante tempo. E fomos lá testar como
era a prova. E a gente resolveu fazer para o curso mais concorrido em
cada faculdade, porque achávamos que não íamos passar mesmo. E aí
nos inscrevemos na UnB para medicina; no CEUB, em Comunicação, na
época o mais concorrido; na UDF, Direito; e por aí vai. Acabei passando
para Direito na UDF e para Jornalismo no CEUB.
Enfim, eu fiz Jornalismo, me apaixonei, adorei tudo, me identifiquei
muito. Eu gostava de ler, gostava de escrever, já falava muito; então,
me identifiquei bastante com o Jornalismo. Minha carreira no jornalismo
comecei fazendo estágio na Radiobrás, hoje EBC, caminho que eu acho
113
que todo mundo começa, todo mundo trilha. Eu recomento a EBC, é
uma grande escola. Quem puder fazer estágio na EBC, faça, é outra
faculdade, porque você põe a mão na massa. Aliás, qualquer estágio.
Sempre que eu vou dar palestra em faculdade, recomendo fazer
estágios em locais diferentes, em áreas diferentes, é bem enriquecedor.
Na Radiobrás, eu fiz em um programa de rádio que chamava Viva
Maria; a apresentadora era a Mara Régia, minha amiga até hoje. Mas aí
eu descobri que no programa que eu ia trabalhar não parava nenhum
estagiário porque a apresentadora era louca. Louca do bem, tá gente,
porque ela exigia muito, porque sempre queria coisas muito criativas.
Nenhum estagiário parava lá e por isso eu fui contratada. Consegui durar
os seis meses e sou amiga dela até hoje, uma pessoa extraordinária, que
eu admiro horrores.
Pouco depois eu me formei em jornalismo. Na época, eu já
trabalhava como professora da Secretaria de Educação, quando surgiu
a oportunidade de trabalhar no núcleo de vídeo do órgão. Esse núcleo
depois se transformou numa TV educativa, criada durante o Governo
Cristovam. Foi uma experiência extraordinária porque eu consegui
montar toda a TV, participar desde a pesquisa, comprar equipamentos,
montar a programação, fazer tudo, experimentar tudo. Eu fiz tudo
o que podia lá: apresentei, editei, fui repórter, criei programas, fiz
documentários, criei uma série de cursos na área de cinema. A gente fez
cursos de tudo, roteiro, direção, produção etc. Foi uma super escola e
eu conclui esse processo na TV educativa como editora-chefe e diretora
da programação toda. Mas num determinado momento eu achei que
já tinha aprendido, crescido, experimentado, feito muitas coisas e tive
vontade de experimentar outras coisas.
114
Fui para a Rádio Cultura. O diretor da rádio na época me
chamou para assumir a coordenação da Assessoria de Comunicação
da Secretaria de Cultura. Para mim foi um choque, eu fiquei um pouco
assustada; entusiasmada, mas assustada, porque eu nunca tinha feito
assessoria. Na faculdade a gente não tinha essa matéria, não tinha
nada de assessoria na época. Então foi ali a minha primeira experiência.
Eu resisti um pouquinho, porque nunca tinha trabalhado com isso, e a
equipe que estava lá era super competente e experiente. Mas ele falou:
“Você tem um trabalho que já faz de coordenar equipe, e é disso que
eu preciso”. Aí, pronto, fui para a Secretaria de Cultura coordenar a
assessoria de comunicação.
E realmente foi ali que eu me encontrei, me apaixonei por
assessoria, me apaixonei pelo trabalho e nunca mais saí de uma
assessoria, até hoje. Passei por várias assessorias depois da Secretaria
de Cultura: fui chamada para o gabinete do governador; lá tinha uma
agência de notícias, que existe até hoje. Foi uma experiência fantástica,
incrível. Terminou o governo, a gente virou persona non grata dentro do
novo governo. Então, fui para o Governo Federal, Ministério da Cultura,
coordenar comunicação; depois para o Ministério da Educação, quando
o Cristovam foi ser ministro da Educação; depois para o Ministério do
Turismo, Embratur, Casa Civil, Presidência da República. Por fim, saí em
2010 para abrir a Infinito Comunicação.
Essa coisa de como empreender na comunicação é interessante,
não só na área de comunicação. Os empregos estão escassos ou, pelo
menos, eles mudaram um pouquinho. Não existe mais aquele emprego
formal, perfil, como nossos pais, pelo menos os meus pais, da minha
geração, sonhavam que eu tivesse. Esse emprego hoje não existe mais,
115
ou pelo menos está, na minha avaliação, deixando de existir. A questão
de empreender vem um pouco nessa linha, mas também um pouquinho
por causa do meu perfil mesmo. Acho que sempre tive essa coisa de
gostar de empreender, gostar de criar, fazer coisas novas e me reinventar,
fazer coisas diferentes. Hoje eu participo de vários fóruns em que a gente
trata sobre empreendedorismo, discute empreendedorismo, faço N
cursos sobre isso.
Empreender não é só você abrir um negócio. Empreender é um
perfil, uma postura, uma atitude. Você empreende em qualquer área da
vida: sendo um empregado, um funcionário público, empreende como
aluno. É um perfil. Eu acredito que é a disposição de você criar coisas
novas, de fazer coisas novas e fazer acontecer. Eu brinco que sempre
tive o bichinho do empreendedorismo me cutucando; já fiz tanta coisa
que vocês nem acreditariam. Por exemplo, tive um café na 411 Norte,
que se chamava Café Galeria; era uma galeria de arte pequenininha,
bem charmosa, com café. Também tive uma clínica de estética. Em
determinado momento da minha carreira, eu decidi que queria mesmo
ter o meu negócio. E eu finalmente me encontrei no meu caminho.
Então, em 2010, eu saí da Casa Civil da Presidência da República e abri
a Infinito Comunicação, onde estou até agora.
Empreender não é fácil mesmo. Mas, na minha avaliação, é
extremamente desafiante, entusiasmador. Eu adoro o que eu faço, sou
apaixonada pelo que faço. Adoro ir ao cliente, entender a necessidade
do cliente, entender do que ele precisa e traçar estratégias para que ele
obtenha um bom resultado no trabalho dele. A Infinito cresceu nesses
cinco anos em função disso, de a gente estar olhando para o cliente,
vendo o que ele precisa, vendo a necessidade dele, sem ditar regras,
116
mas ouvindo dele mesmo o que ele precisa. Às vezes, o que ele acha
que precisa não é exatamente aquilo de que ele realmente precisa,
embora ele ache que sim. Então eu preciso ouvi-lo, até para argumentar
e mostrar que talvez haja outros caminhos, alternativas para chegar ao
resultado que ele quer.
Hoje a Infinito Comunicação tem clientes de várias áreas, como
educação, empresas de treinamento, associações; a gastronomia é uma
área muito forte, até porque é uma área pela qual eu sou apaixonada
e conheço na prática. Na Infinito, a gente não tem nicho preferencial,
como algumas assessorias; a gente atende cliente de todas as áreas e
se mantém nesse foco: vender o que o cliente precisa. “Lu, eu preciso ter
mais clientes, mais faturamento”; “eu preciso reforçar a minha marca,
quero que ela cresça, apareça”; “quero fazer a transição de um perfil
da empresa para outro perfil”. A gente trabalha em cima disso, da
necessidade do cliente para obter bons resultados. É um pouco isso a
minha trajetória.
Rodrigo Cunha: Vou contar um pouco de como aconteceu essa
questão das pesquisas relacionadas às mídias digitais. Eu sou jornalista
por formação, sou do Amapá e acabo sendo o primeiro amapaense de
muita gente, que é um estado que pouca gente conhece, um estado
muito pequeno e que tem um mercado muito pequeno. Então, acabei
tendo um pouco de experiência como jornalista por lá, trabalhando em
televisão, em jornal, como estagiário também. E como eram empresas
muito pequenas, você acaba fazendo um pouco de tudo, desde
repórter, editor de caderno, motorista de carro de reportagem, fotógrafo,
diagramador, enfim, tudo num veículo de comunicação. Isso acabou
me trazendo uma experiência; de certa forma, foi enriquecedor.
117
Ao longo do curso, me aconteceu justamente de ter um interesse
relacionado ao design editorial. Eu gostava muito de revistas, já tinha
um pouco da revista no próprio DNA, por conta dessa exploração no
visual, com a fotografia e tipografia. Acabei me apaixonando por isso
e acabei levando isso como uma questão profissional. De certa forma,
acabei saindo do Amapá porque eu tinha a necessidade de crescer,
de conhecer mais o campo, de me aprofundar mais na área. Fui morar
em Fortaleza e lá eu fiz uma pós-graduação em design. Depois passei
num mestrado na Universidade Federal da Bahia e foi lá que acabei
desenvolvendo a minha pesquisa com comunicação e design, porém
relacionado a novas mídias, até porque lá havia uma linha de pesquisa
relacionada à cibercultura.
A cibercultura acabou aparecendo para mim nessa pesquisa
em design e comunicação, e acabou envolvendo os dispositivos móveis.
Isso foi no ano de 2010, mesmo ano em que chegou o iPad, lançado em
janeiro pela Apple pelo próprio Steve Jobs, em abril. Então, eu acabei
me aproximando mais do dispositivo para tentar entender de que forma
as empresas de comunicação estavam sendo inseridas nessa nova
plataforma.
Durante o mestrado e posteriormente no doutorado, acompanhei
um pouco desse fenômeno principalmente porque o iPad nasceu com a
possibilidade de ser uma tábua de salvação do jornalismo, que estava em
crise, em queda de circulação. Nós tínhamos, então, mais um dispositivo
fechado que poderia vender publicações. Eu estava acompanhando
de que forma as empresas no mercado experimentavam essa
plataforma, tateando algo que era muito incerto e que não sabiam
de que forma poderiam comunicar, ou de que forma poderiam criar
118
um produto e como seria a imagem desse produto. Não era a mesma
coisa de épocas atrás, quando o jornal e a revista se pareciam com livro
porque era o formato mais próximo que se tinha, mas depois acabaram
ganhando formatos próprios e criando uma linguagem para revista e
uma linguagem para o jornal, diferentes do livro. No caso do tablet, o
que tínhamos eram cópias de revistas impressas e também exemplares
que mais pareciam sites web. Nós fazíamos várias experimentações,
algumas até bastante distintas, e que poderíamos dizer que, sim, era
uma ferramenta apropriada especificamente para o tablet.
Essa fala eu vou dividir em pelo menos duas partes. Uma está
relacionada aos produtos específicos para o dispositivo móvel, que foram
criadas como produtos inovadores, quase sempre por gente muito jovem
e recém saída da universidade; e a outra sobre as pigmentações dos
veículos tradicionais, que decidiram também abraçar esse dispositivo e
criar um novo produto.
Na minha pesquisa de tese, eu explorei um pouco as
características desse dispositivo, considerando tanto o smartphone,
como também os tablets. E uma das características bem interessantes e
essenciais dos dispositivos móveis são os sensores. Cada aparelho, sejam
smartphones ou tablets, são dotados de diversos sensores, como GPS,
Wi-Fi, Bluetooth, câmera, touchscreen, acelerômetro, giroscópio, enfim,
diversos. O microfone é outro sensor. Então, os produtos jornalísticos
criados para esses dispositivos acabaram explorando esses sensores.
Por exemplo, a localibilidade; um jornal da Espanha pode ter
editorias para cada comunidade autônoma, ou seja, para Astúrias, País
Basco ou Andaluzia. À medida que você acessa o celular, ele identifica
o GPS e vai trazer notícias do local onde você está. Assim como o Google
119
faz muito bem, o Yahoo de certa forma, nos seus respectivos aplicativos.
A câmera também, e existem diversas possibilidades de
se trabalhar com ela: acelerômetro e giroscópio, relacionadas ao
movimento que se faz com esses dispositivos, ou seja, mexendo ou
chacoalhando o aparelho. Tem a possibilidade de se navegar utilizando
a ponta dos dedos, algo inerente a dispositivos com tela sensível ao
toque. Se você não tocar na tela, não vai acontecer nada.
A partir disso, eu comecei a explorar de que forma se utilizam as
ferramentas e inovações dos dispositivos móveis. Parte de minha pesquisa
é com publicações espanholas, do tempo que passei na Espanha.
Pesquisei tentando entender o mecanismo desses dispositivos em relação
a revistas. Muitas dessas revistas são praticamente criadas por alunos
recém saídos da faculdade e que não encontravam oportunidade
no mercado da Espanha, mesma situação do Brasil, com redações
“enxugando” a quantidade de profissionais. Então, os estudantes tinham
exatamente essa ansiedade: “Como é que vou encarar esse mercado,
que não me é muito amigável, que não está sendo muito favorável em
uma expectativa de emprego?” Eles abraçaram os dispositivos móveis e
criaram suas próprias revistas.
São revistas que até hoje existem, podem ser baixadas
gratuitamente no tablet e em smartphones e exploram todas as
potencialidades do dispositivo. São muito interativas por não terem essas
amarras de publicidade ou amarras editoriais. Têm potencialidade de
exploração muito grande, brincam com o leitor, fazem quiz, entrevistas,
mostram muitos vídeos, muitas interações. E também grande potencial
de experimentação, uma linguagem muito mais jovem, muito mais
aberta e brincalhona. Uma dessas revistas foi um produto tão interessante,
120
tão inovador nesse sentido, que acabou sendo comprada por uma
empresa do jornalismo tradicional, a Marca, a maior revista de esportes
da Espanha. A revista virou a Marca Plus, com publicação quinzenal
voltada para tablets e uma versão para o site. Aqui no Brasil nós também
temos alguns exemplos.
A questão da tactilidade é uma forma diferente de navegação,
em que a pessoa que quer navegar tenta decorar alguns gestos para
poder conseguir ter essa interação com a revista. E aí é que está o
desafio: como conseguir fazer o leitor navegar sem ter ruídos, sem ter
problemas e acabar desistindo de ler a revista? Esse foi um dos primeiros
riscos que esse mercado teve que encarar: Como fazer com que o leitor
tenha uma experiência a mais aprazível possível na navegação dessa
nova forma de se fazer revista?
Trago agora a revista Vis-à-Vis para mostrar alguns exemplos de
interface de navegação que têm uma base muito grande do design.
Essa é uma matéria “Salvajes y Corruptos” [imagem], voltada a alguns
artistas e pessoas famosas que foram presas. Aí o leitor tinha justamente
uma brincadeira de colocar as grades. Porém, ele só poderia ler a
reportagem se abrisse a grade, então ele tinha que ter indicações. O
próprio design de informações possibilita isso, para que a pessoa abra a
grade e consiga ler o restante da matéria.
Mostrando outro exemplo de navegação, a ficha de Frank
Sinatra, uma das pessoas que foram presas aí também. Você puxa a
ficha dele justamente como uma ferramenta de navegação; você puxa
e vê porque ele foi preso, em que época, enfim, toda a explicação do
acontecimento. A interação nesse tipo de publicação é o que permite
ao publicador experimentar e brincar um pouco mais com o leitor,
121
conversar mais com ele. Todas essas são potencialidades que o próprio
tablet trouxe para as publicações.
Eu falo também das publicações criadas pelos meios mais
tradicionais. Nós temos veículos que já têm muitos anos de história, como
O Globo, Estado de S. Paulo, Diário do Nordeste de Fortaleza. Cada um
decidiu abraçar e criar também sua publicação específica para tablet.
O Globo A+ é o único que não existe mais, fechou no ano passado, mas
foi um dos grandes exemplos. Os veículos deslocaram um determinado
número de reportagens para produzir só para esse produto, só para essa
plataforma. O Estadão Noite existe até hoje; é uma publicação que sai
todos os dias, de segunda a sexta, às 20h. E o Diário Nordeste Plus, que
também ainda existe, tem a função de ser um aplicativo de atuação
vespertina com o resumo das principais notícias que aconteceram ao
longo do dia, para uma leitura mais relaxada. A pessoa que chega do
trabalho, deita no sofá ou na cama, pega o tablet e faz uma leitura
muito mais descansada. Muitas pesquisas dizem que pessoas leem mais
tablets no final do dia, a partir da noite, é quando há a maior incidência
de navegação.
Em relação a isso, eu gostaria de mostrar exemplos de algumas
inovações não só com relação aos tablets, mas também em relação
a web sites. Nós já temos um determinado histórico de publicações
na web, desde de 94-95. Temos a web comercial e todas as gerações
do jornalismo online. E de repente vemos possiblidade de inovação
também no jornalismo para a web. De 2012, um grande exemplo é o
Snow Fall, lançado pelo New York Time e um grande marco, que ganhou
inclusive o Pulitzer de Jornalismo. Ele conta a história de uma avalanche
que aconteceu no túnel Creek, uma cadeia de montanhas que existe
122
no estado de Washington, nos Estados Unidos, limite com o Canadá,
envolvendo vários esquiadores. Esse é um exemplo do jornalismo de
dados: para que se constituísse essa matéria, praticamente não houve
repórter no local, não tinha registo de fotografia e foram as testemunhas
que ajudaram na reconstituição da reportagem. A matéria foi toda
construída a partir de dados.
Uma das tendências que vejo de inovação, de despigmentação
é o empreendedorismo no jornalismo, é a utilização de dados para você
construir uma tese. Uma parte dessa reportagem é a reconstituição do
caso e foi feita a partir de dados: dados meteorológicos, de topografia,
velocidade, relatos de pessoas, tudo para o leitor construir e reconstruir
a história. Esse gráfico [imagem] mostra essa cadeia de montanhas. A
constituição de altitude, localização dos esquiadores, como caiu essa
avalanche. Na matéria, todos os dados não tiveram nenhum repórter
como fonte dessa história. A matéria utiliza tanto o som, que identifica
para o leitor a velocidade que está caindo essa avalanche, quanto
outros dados que vão complementando essa informação, todo o
detalhamento de como a avalanche aconteceu.
É uma das matérias que apenas um repórter escreveu, porém
com uma equipe de 15 pessoas, entre editores de vídeo, editores de
imagem, infografistas, repórteres visuais e outros. Na verdade, o que se
tem aqui é o empreendedorismo no jornalismo envolvido com vários
profissionais para poder produzir uma matéria. O que a gente tem de
diferente e de inovador na nova geração do jornalismo é justamente
isso: é o jornalista que está aliado com designers, com programadores,
com outros profissionais que ele tem que lidar.
Existem muitos artigos que dizem da possibilidade do jornalista
123
programador, do jornalista designer, do jornalista isso e aquilo. Eu não
acredito muito; não é saudável você dizer que um jornalista tem que
assumir multitarefas. Alguns pesquisadores falam do mobile jounalist; é
aquele jornalista que carrega mochila cheia de ferramentas, que vai e
filma, fotografa, traz áudio, vídeo, joga na internet. É um jornalismo que
acaba tendo que lidar com muitas coisas e acaba não fazendo bem
diversos papeis. Então acho que o jornalista hoje vai ter que ser aberto
a essas várias linguagens de programação HTML5, CSS3. Entender um
pouco que existe isso e conversar mais abertamente com esses diversos
profissionais.
Antigamente, anos 40, 50, você tinha as redações assim, a
redação de jornalista em cima, a oficina lá embaixo. O jornalista
mandava a matéria para a oficina, que tinha que se virar e fazer caber
aquela informação. Uma matéria começava na capa e continuava na
página 14. Começava na página 13 e terminava na página 15. Essa falta
de planejamento era falta de conversação dos profissionais. Agora não,
você já tem um designer, o programador que está desde a reunião de
pauta ali, planejando com você; então ele já está participando desse
planejamento. Inclusive há designers que podem derrubar uma pauta,
já acontece isso em algumas redações.
Um outro exemplo de inovação que eu vou mostrar é o New
York voltado ao jornalismo de dados. O News York Times criou um
departamento de inovação e um departamento de design dentro do
jornal. Com esse jornalismo, o jornal conta os 12 anos de administração
de Michael Bloomberg como prefeito de Nova York. Ele conta isso a
partir dessa visualização, desse infográfico; então você, leitor, viaja pela
cidade, viaja por cada zona de Manhattan e de outras regiões de Nova
124
York, e vê o que se modificou ou não. É uma mescla de interações, de
fotografias, de diversos elementos que vão compor essa reportagem e
que vão ajudar você a tentar entender a história. Você vê o crescimento,
mostrando os novos prédios que começam a surgir na ilha de Manhattan;
depois você tem comparações com fotografias antes da administração
e depois da administração dele. O passeio continua por essa imagem
3D da cidade de Nova York. Novamente uma comparação de fotos; e
aí você vai passeando e mostrando algumas outras mudanças, como,
por exemplo, a construção de novas ciclovias ou a importância que se
deu às ciclovias na cidade, assim como aconteceu em São Paulo.
Então nós temos aí uma comparação da Times Square antes e a
Times Square hoje, com essas vias de bicicletas e mais gente circulando
pela cidade onde antes só havia carros. Então, a reportagem é toda
construída dessa maneira. Não vou mostrar só exemplos internacionais
com esses departamentos de inovação nas grandes redações, pois
isso também aconteceu em casos brasileiros. A própria Folha decidiu
inovar na questão de narrativa. Por exemplo, para contar sobre Belo
Monte, mandou repórteres para o interior do Pará, para contar um
pouco sobre a realidade ribeirinha, de índios, os conflitos de terra, que
já são característicos dessa região do interior da Amazônia; as próprias
características da cidade, fotos das usinas. A matéria é toda feita de
uma forma vertical; você vai fazendo scroll, assim como você navega
no Snow Fall, e aí, junto com essas reportagens, você tem infográficos,
você tem vídeos, você tem até a própria “folhacoptero”, um helicóptero
que vai navegando para mostrar para você uma visualização da região
onde foi construída a usina de Belo Monte. É um material mais simples
do que o do Snow Fall em termos de visualização, porém um exemplo
125
interessante que temos aqui no Brasil.
Aí existe também o G1 que mostrou o Bye Bye Brasil, o filme do
Cacá Diegues e 30 anos depois mostrou cenas do filme comparando
com a realidade hoje. Eles fizeram exatamente o mesmo caminho
da Caravana Holiday. Pra quem assistiu o filme e sabe da história da
caravana circense circulando pelos arredores do Nordeste, interior do
Pará e, depois, contando como é que está hoje, é fácil comparar como
era antes e hoje, e fazendo uma perspectiva mais social dessas regiões
no interior do Nordeste e no interior da Amazônia. Tanto que eles pegam
vários frames de imagens de vídeos do filme, comparando com as
mesmas tomadas, os mesmos takes das imagens hoje feitas pelo G1.
Outras matérias que já têm outra perspectiva: por exemplo, essa
reportagem produzida pelo O Globo, que é dos 100 anos de Dorival
Caymmi; é mais interativa, pegou vários vídeos cantados e interpretados
por diversas pessoas. São leitores d’O Globo que gravaram vídeos
e mandaram pela internet; a partir do momento que você toca essa
música, ela sincroniza nesses artistas. Então um canta um pedaço, o
outro toca flauta em outro momento, outro toca no palitinho, numa
caixa de fósforo, outro tocando violino. E aí você pode fazer esse jogo,
pode trocar o artista que você gostaria de sincronizar.
São exemplos de experimentação do jornalismo na web em que
você acaba fazendo narrativas mais interessantes e envolvendo mais
o leitor, que é o mais importante. Você pode utilizar essas plataformas,
essas linguagens, essas coisas todas, para incentivar e para favorecer,
principalmente, o leitor, que é a principal pessoa para qual você está se
comunicando. Então eu creio que, hoje, temos algumas possibilidades
que chegaram aí, no jornalismo.
126
Aqui [imagem], só para mostrar uma reportagem do SND,
uma instituição sobre design de notícias. Eles sempre têm atualização,
sempre congregam diversos designers de jornais, de revistas, de sites do
mundo todo e têm uma premiação, que todos os anos contempla essas
iniciativas de criação de narrativa, de experimentação, de publicações
que surgem, tanto criados por profissionais jovens, quanto os que já
estão estabelecidos no mercado. E aí só para mostrar, por exemplo, esse
jornal Times Of Oman, país do Oriente Médio, que criou uma infografia,
uma forma de visualização que permitia brincar com o leitor. Dentro
dessas páginas, ele tinha que recortar uma bola, nesse caso uma bola
de futebol, porque era época da Copa do Mundo. A cada edição do
jornal, vinha um pedaço da bola, que você podia recortar e fazer a
montagem do material. Era o infográfico em 3D. Então, são coisas do
tipo que eu acho interessante de você inovar e criar essas linguagens
dentro do Jornalismo. Esse aqui é só um exemplo do Los Angeles Times,
que também mostra o que hoje a gente está encarando dentro do
jornalismo.
Nós temos uma mudança considerada de plataforma, em que
você está trabalhando muito com ferramenta em três dimensões e
códigos. Você praticamente está contando uma reportagem a partir
de códigos, de visualização. Hoje é esse meu interesse de pesquisa, meu
foco de pesquisa está mais voltado à infografia e à visualização de dados.
Estou muito interessado em entender como essa juventude, como esses
jovens que estão envolvidos, tanto com programação, quanto com
jornalismo, estão unindo essas duas coisas e empreendendo, criando
aplicativos, criando formas de visualização, criando novos produtos
jornalísticos. Enfim, coisas que diferenciam mais do que a gente está
acostumado a ver com o jornalismo tradicional.
127
Eu penso muito atualmente. Meu foco é justamente acreditar
que o designer, a ciência da informação e a ciência da computação
estão, juntos, fazendo a inovação do jornalismo. Eu estou encarando
muito isso e estou vendo, com cada vez mais entusiasmo, exemplos disso.
Exemplos não vindos da redação tradicional somente, mas também
desses jovens que estão saindo da faculdade e estão querendo criar
seus próprios produtos, criar seus próprios blogs, suas próprias aplicações
e trazendo essas inovações para o leitor a partir dessas reportagens.
Então, é isso que eu gostaria de mostrar mais para vocês e é isso que
eu gostaria de deixar de mensagem para a gente tentar pensar nessas
novas possibilidades dentro da comunicação.
Luzinete Marques: Eu acredito que o momento é bem propício
para quem quer inovar. Acho que cada dia mais, a gente tem mais
possibilidades e mais oportunidades. O Rodrigo falando, eu fiquei
embasbacada. Você fica assustada com o universo e com a quantidade
de coisas que acontece o tempo todo e ao mesmo tempo; muito
entusiasmada, porque a gente tem isso aqui. Ele estava falando, e eu
pensando; nossos dois perfis aqui, bem distintos. Eu trabalho com uma
área ainda muito tradicional da comunicação, e ele trabalha com uma
área completamente nova da comunicação. Ele está pesquisando o
que há de mais novo, o que há de mais inovador na comunicação. Ao
mesmo tempo, o que ele faz não prescinde do que são as ferramentas
tradicionais. Ele necessita de um bom texto, necessita de um profissional
com um olhar; quem trabalha com design precisa ter um olhar
diferenciado.
O novo não prescinde da tradição, das ferramentas que hoje
a gente tem, com as quais a gente trabalha e com as quais a gente
128
trabalhou no passado, que é mais tradicional, e todo dia eu me
questiono até quando a assessoria de imprensa vai existir, até quando os
veículos vão existir, se ainda daqui a cinco anos a gente vai ter veículos
de comunicação como eles existem hoje. Eu me questiono. Vocês que
estão aí na faculdade, que estão começando a vida de vocês, estão
tendo acesso a muitas coisas novas. Todos os dias eu penso: será que
daqui a cinco anos o Correio Braziliense vai existir como ele é hoje? Será
que daqui a cinco anos a TV Globo vai existir? Será que daqui a cinco
anos os sites vão existir como eles são hoje?
As vezes o cliente fala assim “eu queria sair na Globo”, “eu
queria sair no Correio”, legal sair no Correio, muito bacana mesmo, 60
mil pessoas vão ler ali e amanhã esse jornal não existe mais, então ele
vai ler ali no portal e beleza, só que no digital influente, por exemplo,
uma pessoa que tem o perfil bacana no Instagram, ou que tenha um
Snapchat bacana, etc, e influencia também, tem lá 60 mil seguidores.
O que eu observo hoje e que eu vi muito na fala do Rodrigo é isso, que
a gente tem um leque. Às vezes, quando a gente acha que o mercado
está se restringindo, porque os veículos estão encolhendo, os jornais
estão demitindo, ao mesmo tempo, tem um mercado em expansão,
com infinitas possibilidades. A gente tem aí o marketing digital, que está
crescendo e é uma área que não existia há um tempo atrás. Então eu
falo que hoje na comunicação você tem N áreas para trabalhar que não
só rádio, TV, jornal, site, etc. Você tem um leque infinito de possibilidades
para trabalhar. O que vocês precisam fazer é só descobrir, ter curiosidade
de pesquisar, de experimentar, de tentar achar a vocação de vocês, as
habilidades que vocês têm, descobrir o que o mercado está pedindo,
está necessitando.
129
Rodrigo Cunha: Muito da sua fala eu também concordo. Apesar
de a gente ter muitas ferramentas, essas novas ferramentas que eu
apresentei aqui, a base do jornalismo ainda é a mesma; nós precisamos,
com certeza, de um bom texto. O profissional ainda precisa ler de tudo,
desde bula de remédio até o jornal de hoje, a pessoa tem que ser
curiosa. Uma das características de ser curiosa é querer conhecer de
tudo, querer investigar e pesquisar sobre tudo. E, a partir da curiosidade,
você acaba aprendendo muita coisa, você acaba aumentando muito
o seu repertório, acaba conhecendo novas ferramentas.
Luzinete Marques: Como eu falei antes, tenho um núcleo forte
de gastronomia na Infinito Comunicação. Aí, tinha uma jornalista que
trabalhava comigo e essa jornalista foi contratada para trabalhar nesse
núcleo, para atender alguns clientes nessa área. Então o mínimo que
eu espero é que você tenha a curiosidade. Você não é obrigado a
entender de todas as áreas, mas que você vá atrás, que você pesquise,
que você leia. Então, se vou atender o cliente de gastronomia, tenho
que ler tudo sobre gastronomia, me aprofundar o máximo nisso. Eu
vou atender um cliente na área de saúde, vou precisar entender um
pouquinho do mercado de saúde. Você faz assessoria na Secretária da
Mulher, tem que entender de mulher, tem que estudar as questões de
gênero. Então, é o mínimo que você espera. Então hoje, com o Google,
com internet, o mínimo que eu posso fazer é pesquisar. Quando eu
vou para um cliente, quando eu vou a uma empresa conversar com o
cliente, o mínimo que tenho a obrigação de fazer é pesquisar antes de
começar a fazer isso..
Rodrigo Cunha: Mas é claro! Evidentemente isso é muito
importante para o perfil profissional, seja se eu for trabalhar com assessoria
130
de imprensa, seja se eu for criar um aplicativo para dispositivo móvel.
Eu acho que é um desafio muito grande que a gente tem, tanto no
mercado, quanto na academia, justamente você acabar colocando
isso para as pessoas, para os alunos. A gente vê muito na história do
jornalismo uma falta de diálogo, como eu falei, entre o profissional de
design e o jornalista. Para muitos jornalistas e até alunos hoje: “Ah, para
quê designer? Eu só quero escrever meu texto e pronto. Não quero
me interessar por fotografia, não sei para que serve infográfico, não
sei para que isso”. Então esse é um problema que eu encontro muitas
vezes e tento debater, tento instigar a importância disso. É algo que que
se disseminou muito no mercado, acabou chegando à academia, ou
vice-versa, e cada vez mais a gente tenta integrar. Eu vejo que hoje o
jornalista está muito cercado dessas outras áreas profissionais. Eu mesmo
estou tentando criar um grupo de pesquisa na disciplina na qual eu
trabalho, não só com comunicação, mas tentando chamar gente de
design, de ciência da informação e outras para a gente discutir junto
essas funçõres de design, infografia e visualização de dados.
Essa coisa das novas mídias, você contou muito bem que está
se transformando muito mais rapidamente, coisas que iniciam e morrem
muito mais rápido, de uma forma assustadora, inclusive há muito risco
para o mercado hoje, e eu digo até mesmo quanto aos tablets. Eu
mesmo pesquisei tablets e hoje se vê uma queda muito grande disso, a
própria Apple diminuiu o lançamento dos dispositivos e outras empresas
desistiram de lançar novos modelos. E aí será que vai ter futuro isso?
Isso em que todo mundo jogou, apostou e de repente você vê decair
tão rapidamente. Então são riscos que a gente enfrenta mesmo com
essas novas ferramentas. O que eu acredito é que esse jornalismo
131
tradicional vai continuar, mas vai ter que se transformar e continuar
se transformando. O próprio jornalista não vai ter que olhar para o
próprio umbigo, mas saber e conhecer essas ferramentas e conversar
cada vez mais com esses novos profissionais como consequência da
chegada das novas mídias.
Como consideração final, acho muito importante as palavras
da Luzinete sobre essas expectativas, principalmente essas ansiedades
de quem está saindo, de quem está querendo encarar o mercado
e de que forma vai poder trabalhar, se inserir; achei muito valiosas
as palavras. É justamente isso, você pegar algo que você gosta e
explorar isso, saber de que forma você vai poder juntar as duas coisas:
jornalismo e música, ou moda, ou culinária, da forma que você vai
gostar, vai querer explorar. E com certeza, você fazendo o que gosta,
escreve sobre algo que você realmente tem essa paixão, você só vai
fazer o melhor trabalho possível. Acho muito importante essa coisa de
você fazer realmente algo que te dá interesse, que te dá essa paixão
e trabalhar em cima disso.
O design, por exemplo, é a minha paixão, então gosto muito
de falar disso, gosto muito de pesquisar e foi acontecendo, de repente
aconteceu. Quem tiver curiosidade, quem quiser conversar mais sobre
isso, quem quiser falar mais sobre design, estou lá na UFPE, presente
digitalmente nas redes sociais. Tem o site rodrigocunha.info que é o
meu blog, onde eu atualizo coisas sobre jornalismo, design, a pesquisa
e qualquer outro assunto. Vocês podem conversar comigo e vou
estar sempre à disposição. Obrigado pela oportunidade, obrigado à
organização da Secomunica, por ter gerado essa oportunidade de
poder conversar com vocês.
132
Luzinete Marques: Também quero agradecer à organização por
ter me convidado, aprendi muito hoje; fiquei encantada com a fala do
Rodrigo, aprendi muito mesmo. Para concluir, só quero incentivar vocês
a lerem. Leiam bastante, estudem bastante, sejam os melhores no que
vocês façam, não importa o que. Sejam os melhores no que vocês
fizerem. Tenham muita paixão pelo que vocês fizerem, façam com muita
paixão tudo o que fizerem e onde você estiverem, pois, em qualquer área
há oportunidade para vocês fazerem um trabalho bacana para inovar,
para empreender, seja no serviço público, seja como funcionário, seja
em um veículo, seja em uma empresa pequena, seja em uma empresa
grande, há sempre uma oportunidade para você fazer diferente. Eu
brinco que eu me reinvento sempre, todos os dias, mas de tempos e
tempos de uma forma mais impactante. Acho que daqui há cinco anos,
se vocês me convidarem de novo para a Secomunica, eu vou estar
fazendo outras coisas e falando de outras coisas, com certeza. Também
como o Rodrigo, me coloco à disposição de vocês. A Infinito também
está à disposição de vocês para ir lá conhecer, passar um dia, uma
manhã, uma tarde, para conhecer um pouquinho o trabalho. Aprendi
muito, foi maravilhoso estar aqui com vocês hoje, foi incrível. Obrigada.
133
Palestra – Comunicação em Tempo Real1
Palestrante: Daniele Rodrigues2
Resumo: A cada ano que passa, alguns parâmetros novos vão se configurando no universo da comunicação, forjando novos perfis profissionais, bem como processos produtivos. Nesta palestra, as sócias fundadoras da Redatoria discorrem sobre empreendedorismo e multidisciplinaridade, oferecendo um panorama do mercado no Brasil, assim como relatando seu próprio processo de constituição como empreendedoras. Falam de equipe, relacionamento com cliente, estrutura, conhecimento gestor, novas tecnologias e empreendedorismo feminino, entre outros aspectos significativos.
Palavras-chave: Real time. Narrativa. Redes sociais.
Daniele Rodrigues: Obrigada pelo convite, gosto muito de Brasília, já vim algumas vezes para cá, para cursos, enfim, gosto bastante daqui. Basicamente ,eu trabalho com planejamento e real time já há uns 5, 6 anos, e hoje eu estou na Coca-Cola fazendo justamente isso. Então as campanhas de Coca que vocês veem na rua hoje, era eu estava trabalhando no real time disso.
Hoje, quando a gente fala em real time, existe uma confusão, pois elas entendem real time como ficar falando a todo instante nas redes sociais. Então pego um jogo de futebol, num canal como o ESPN, por exemplo e começo a narrar minuto a minuto. Isso não é necessariamente real time. Pense o seguinte, hoje vocês estão aqui, acabaram de falar sobre um projeto superbacana, e vocês ao mesmo tempo estão no WhatsApp, vocês estão no Instagram, vocês estão em tendo uma outra vida, estão tendo uma série de influências que extrapolam o ambiente físico, vocês vivem vários momentos ao mesmo tempo.
1 Transcrição: Maria Giullia Gonçalves2 Jornalista, redatora, publicitária e Planner
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Então quando a gente fala no real time, essa é uma frase do google “a gente não entra na internet, mas a gente está sempre conectado”, então a nossa vida é conectada. Se eu entendo isso, que a gente está sempre conectada, o que a gente precisa entender é: como que eu vou conseguir, como marca, como empresa, me conectar com vocês, a ponto de vocês prestarem atenção no meu conteúdo, e não no conteúdo do meu concorrente, e não no conteúdo que nem é concorrente, mas é sobre um assunto aleatório? Na hora em que a gente vai fazer uma narrativa, trabalhar o conceito de real time, eu penso sempre em três pilares. Primeiro que a gente está na época da cultura da conexão, e se um conteúdo não é espalhável, se ele não tem aderência, ele não existe, ele já nasce morto. Então quando uma marca faz uma comunicação que não ecoa, ela já não tem significado, ela já não faz parte dessa cultura da conexão. Outra coisa bem bacana é o conceito de Grans Well, que é o seguinte: hoje, quem aqui, quando vai comprar um telefone, vai escolher uma operadora, vai falar com a Tim? Ou com a Vivo? Você não vai mais na fonte oficial. Você vai num fórum de tecnologia, você vai no Reclame Aqui, no Facebook, você vai pedir informações de outras pessoas que não têm nada a ver com o canal oficial, porque você não confia mais nas fontes oficiais, esse é o conceito de Grans Well, quando eu uso a tecnologia para resolver minha vida, sem depender, digamos assim, de pessoas com opinião condicionada. E por fim, o conceito mais importante que eu gostaria de falar com vocês, é sobre Micro Momentos. O que é micro momentos? É o conceito que o Google trabalha com bastante densidade, que ao longo do nosso dia, da nossa vida, a gente tem 150 micros momentos. Então por exemplo, vocês acordaram, vocês tomaram banho, vocês tomaram café, vocês pegaram um transporte para chegar até aqui, vocês estão ouvindo essa palestra, vocês estão respondendo um e-mail, vocês vão almoçar, vocês vão comprar alguma coisa, são 150 micros momentos. O que importa para as marcas, o que a marcas precisam entender para comunicar em tempo real? Eu preciso dentro desses 150,
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entender quais desses 150 são estratégicos por exemplo para a Coca-Cola. Porque que a Coca-Cola vai falar com vocês às 10 da manhã, no momento que vocês estão tomando café em algum lugar? Ou lendo alguma coisa? Ou escolhendo o show a que vocês vão no final de semana?
Então eu preciso identificar quais são os micros momentos que têm afinidade com a minha marca, que vocês estão com intenção de consumir a minha mensagem. Eu não posso mais ser intrusiva. Eu preciso prestar um serviço. Então, a partir de um momento em que você quer uma informação, vou pegar um exemplo que fica mais tangível. Você está com sede, 40 graus aqui em Brasília, vocês estão em um domingo, fazendo alguma atividade outdoor e vocês recebem uma notificação no facebook de vocês, de que na esquina tem um Mcdonalds com 10% de desconto para comprar uma Coca-Cola. Eu dei um serviço para você. Eu não interrompi seu domingo de lazer para falar “tome Coca-Cola”, não, eu falei “estou de dando 10% de desconto para você tomar uma Coca-Cola” isso é você entender exatamente o que a pessoa quer no momento em que ela precisa daquilo. Então não é mais quando a Coca quer falar e quando você quer ouvir. Eu falo que o consumidor é o meu chefe hoje em dia, e não o contrário, o que deixa as coisas bem mais legais.
Eu pontuei alguns fatos que foram mais relevantes nos últimos 15 dias. O final da paralimpíada, na qual a gente tem o nosso mascotinho maravilhoso, que causou, que dançou, que ganhou mídia internacional, que foi um sucesso da nossa Gisele e o Tom também que fizeram um super sucesso, estava todo mundo comentando sobre isso, brincando com isso. Temos o Gregório que foi fazer uma carta para a ex dele, que na verdade era o lançamento do filme, e aí teve vários desdobramentos, pessoas que criticaram, pessoas que acharam fofo, que querem ter um amor assim na vida. Teve o Rafinha, que foi lá questionar o que é amor de verdade ou não. Aí a gente também teve Lady Gaga, que lança uma música e Molejo dispara, quem ganhou com o lançamento da Lady Gaga foi o Molejo, pois, por uma brincadeira no refrão, ela usa
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exatamente uma frase da música do Molejo. Então um lançamento internacional que não tinha nada a ver com o Brasil, digamos assim, virou pauta do Brasil, virou Trending Topics mundial. Estava todo mundo associando Lady Gaga e Molejo, a ponto da Lady Gaga perguntar quem é Molejo no Twitter. Essa comunicação transcende todas as esferas que a gente pode imaginar. Teve também a história do Milk Shake e do Milk Fake, do Burger King pegando carona de uma forma superbacana. O Giraffas para mim que foi o mais incrível, “estou aqui só acompanhando a treta de vocês, e eu tenho um portfólio lindo”. Teve também casal perfeito que separou, e todos os memes com Jennifer Aniston, mas também tem uma parte séria, poxa, ele agrediu ou não o filho, o que está envolvido. O que isso importa? “Dani, revista de fofocas agora? ”. É o seguinte, a comunicação real time acontece na intersecção entre o que está acontecendo na sua vida, que a gente chama de jornada do consumidor, o que está acontecendo no mundo, e o que é interessante para a marca. Quando eu entendo onde esse mundo está colidindo, como ele faz sentido para a minha marca, eu consigo fazer a comunicação assertiva, que vai conectar com vocês, que vai ecoar quando vocês ouvirem, vocês vão fazer alguma coisa com esse conteúdo, ele não vai morrer. Por exemplo: faz sentido a Coca-Cola brincar com a história do Molejo? Faz, pois Coca é sobre felicidade, a gente não vende refrigerante, a gente vende felicidade. Então faz sentido Coca brincar com Molejo. Então a gente começa a entender, considerando a jornada do meu consumidor, considerando o que está acontecendo, quais são os interesses da marca, e aí a gente vai acertar a nossa comunicação, a gente vai pensar no que a gente vai falar. É muito mais sobre relevância do que conteúdo. Em termos práticos o que muda? A nossa história era contada assim, chegava, tinha um broadcast, falava com vocês, passava uma mensagem, e a gente podia comentar com o pai e com a mãe, era uma comunicação mais travada, unidirecional, e agora a gente tem
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uma história contada de uma maneira bem diferente. Eu tenho um cara, apresentador de telejornal de maior audiência
no Brasil, ele vem, faz um vídeo no Twitter para explicar o por que ele vai apresentar o jornal sozinho nos próximos 15 dias. Não é mais só sobre a notícia, as redes sociais do Jornal Nacional não divulgam só notícia. Eles divulgam detalhes de produção. Detalhes que antes, não era um conteúdo “peraí, quem vai estar na bancada ou não? ” Por que o público tem que saber disso? Não, agora tem que prestar contas. Por que se ele não explicar o que aconteceu, já vão ter rumores de “que vão trocar o apresentador, o que está acontecendo? ” Então, eles usam até produção, detalhes técnicos, como insumo, como conteúdo para conectar com vocês. Aí vocês já chegam para assistir telejornal sabendo que a fulana vai estar direto do parque olímpico, sabendo que vai ter uma reportagem especial, vocês participam do conteúdo do jornal nacional de uma forma genuína, já com uma antecedência grande. Chega ao limite de ele vir contar “Olha, eu errei gente, errei mesmo, olhei para a câmera errada várias vezes essa semana.” Chega ao absurdo de ele falar: “Gente, então, estou me separando”. O cara vem prestar contas no Twitter de que ele vai se separar. Ah, é exagero? É porque ele virou show man? Não, agora, faz parte do job dele.
A partir do momento em que ele usa a rede social dele para alavancar audiência para o Jornal Nacional, ele passa sim a prestar contas da vida pessoal dele para o público, porque você não pode só dar “olha eu sou íntimo de vocês só até certo ponto.” Não, se você está usando redes sociais, se você se intitula Tio, você quer gente te dando audiência e gente falando do Jornal Nacional, então você vai ter que falar tudo. Você realmente vai ser meu amigo. Você não pode ter um discurso pela metade.
Para mim esse é um outro exemplo muito clássico. A gente ainda continua tendo o papa fazendo seus sermões para multidões, mas além disso, muito além dessa cena, que é muito mais simbólica para você fazer foto, eu tenho um cara que entendeu que, ou eu venho falar em um canal onde as pessoas estão, com a linguagem que as pessoas
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têm, sobre o tema que elas querem, ou eu perco minha audiência. E a Igreja já perdeu sua audiência faz um bom tempo, “vamos nos reinventar” e agora está, brilhantemente, conseguindo audiência, onseguindo conversar com as pessoas, conseguindo coisas muito legais. Ele entendeu as redes, e ele trabalha dessa forma superpositiva, um grande exemplo de comunicação apropriada é o que esse papa faz, de uma forma muito consciente. Então, o que a gente muda, nessa história de micro momentos, de real time? A gente tira a marca do centro e coloca nele o consumidor. Os católicos querem estar mais próximos do papa, então “vamos para o Twitter conversar com as pessoas”. As pessoas querem entender por que o Jornal Nacional fez tal coisa, “Vamos colocar o Boner para falar com as pessoas”, vamos colocar o bastidor da notícia, vamos parar de fazer tanto, é menos sobre encenação e mais sobre vida real. É menos sobre o que a Coca-Cola quer falar e mais sobre o que vocês querem ouvir. Jogos olímpicos. Vocês queriam saber sobre tocha, revezamento? Não. Mas aí eu coloco influenciadores contando os bastidores, e para mostrar quanta gente trabalhou no tour da tocha, como é legal, como é ouvir o dia a dia dos atletas, aí eu coloco o urso, que é um elemento de que vocês gostam, com que vocês têm identificação desde criança, e aí Olimpíadas virou um tema relevante para vocês. Por que a gente não contou “a Coca é incrível, a Coca bancou os jogos” “e aí? Estou nem aí que vocês estão bancando os jogos”. A Coca fez entretenimento, a Coca levou o urso, Coca brincou e contou uma história bacana. Então aí fez sentido. O que mudou nessa história toda? A gente tem o protagonista como centro da nossa história, e a gente tem que pensar quais são os temas e causas relevantes para ele. Está todo mundo falando de feminismo, vamos lá a Coca-Cola falar também. Peraí, Coca, você falou alguma vez sobre isso? Você faz alguma coisa para ajudar? Então não, você não pode falar. “Ah C&A, (desculpa sou muito sincera) vamos fazer uma coleção, uma propaganda bonita sem gênero”... porque você entra na loja e ainda tem feminino e masculino? É hipocrisia. “Ah
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L’Oréal, vamos usar uma trans para fazer o dia das mulheres, a primeira foto, a primeira identidade da trans.”... você tem produto para trans? Porque a pele é diferente. Por conta da reposição hormonal, a pele da trans é completamente diferente de muita mulher e de homem. Quer usar, não quer ser picareta, não quer ser oportunista, desenvolva uma linha para trans. Então é sobre isso que o público está cobrando. Eu não posso mais ter um discurso fake. Eu tenho que realmente ter uma causa, e ter uma causa que faça sentido para a minha marca, faça sentido por um todo. Quem já viu esse vídeo aqui?
O cachorro do vídeo, bem que ele tenta, mas nunca vai ser uma ambulância. Ele está tentando, bravamente. É sobre isso: não adianta a marca tentar ser uma coisa que ela não é. Ela não vai ter. E o cachorro não pode ser uma ambulância, mas ele pode ser um bailarino, tudo bem, aí cabe. Então é um pouco sobre isso, o que a marca consegue ser? Então qual é a nossa vocação, como a gente pode contribuir para a sociedade e a gente consegue ser efetivo? Eu amo essa frase: Ttwitter, Facebook nasceram com o propósito, mas quem definiu como vai funcionar, qual o futuro de cadaum, foi a gente. É o consumidor que pauta. Então, a mesma coisa, a Coca-Cola pode querer contar a história que ela quiser, se vocês não comprarem a nossa história, ela vai ser mudada no dia seguinte. Então vocês determinam o rumo disso, o consumidor determina.
Eu gosto muito de Netflix, essa não é uma palestra patrocinada, eu juro, mas para mim, eu trago a Netflix como case, porque ela, como modelo de negócios, é um modelo de comunicação. Para mim, hoje tem Beyoncé, Obama e Netflix. São os três que melhor trabalham real time disparado no mundo inteiro. Quem assiste Netflix aqui? Vou passar várias séries aqui, se nosso micro momentos fossem séries, como seria? Quem assiste essa? Essa é uma série que basicamente fala de preconceitos, o menino quer ser ator, mas ele é ridicularizado porque ele é indiano, e ele não pega mulher, e tem uma série de coisas que tudo é em torno de preconceito.
Se a gente traz isso para a comunicação, imagina um consumidor
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que precisa se afirmar, que está sofrendo esse tipo de pressão, esse tipo de situação. Como a nossa comunicação deveria ser, que tipo de elemento a marca deveria trazer na sua comunicação para essa pessoa que está nesse mood? No momento, é preciso tentar argumentar e descontruir estereótipos. É nesse sentido que a comunicação deveria ir. Se a gente está falando sobre essa outra série, que é sobre chefes que trabalham a gastronomia de forma criativa, é uma série bem interessante, como deveria ressoar isso em comunicação, eu deveria instigar. A função da marca seria instigar. Essa é meio tensa, mas, enfim, qual que é a essência dessa série? Ela quer apresentar a verdade, então isso eu comparo por exemplo com um portal de notícias, quando eu estou olhando para ESPN, quando eu estou olhando para Folha, o que eu espero? Que ela me informe, e não que ela brinque, não que ela faça meme, por exemplo, o gif do cachorro não é pra Folha usar. Não é o território da Folha. É sobre isso, vamos entender em que momento da jornada do consumidor cada marca, cada player faça sentido para que a gente possa definir nosso mood. Essa outra série fala sobre resignificar relações, os maridos delas separam delas e ficam juntos, formam um casal, então elas estão ressiginificando a vida delas. O que eu como marca deveria estar trabalhando para esse público? Trazer perspectiva, apresentar novos caminhos. Sense8 para mim é um exercício de empatia total, pois são 8 pessoas cujas vidas se confundem, e o que em comunicação se deveria trabalhar em real time? Colocar referências, mostrar as conexões, como a cultura é uma coisa construída com muitas variantes, e real time pode ajudar nisso. Narcos, não vamos entrar no lado ilícito, mas, para mim, ele é um grande empreendedor, talvez o empreendedor do século seja esse cara. Ele inventou um segmento, ilícito ou não, não vou entrar no mérito, é uma série que fala de empreendedorismo. E aí no mood de comunicação eu tenho que ser útil, tenho que expandir as possibilidades das pessoas.
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Se eu sou o Google, se eu sou o Evernote, é esse tipo de approach que eu tenho que estar fazendo. House of Cards, ainda mais em Brasília não é gente, é sobre poder, e aí, qual é a metáfora de comunicação aí, tem que dar background para você entender as situações. Trazendo isso diretamente para um plano de comunicação, é exatamente isso aqui, quando eu pego a jornada de um adolescente, em uma pesquisa que eu fiz, eu tenho vários micros momentos. Aí eu tenho que entender aonde cabe, pois cada comunicação, cada plataforma, cada canal, tem influenciador ou não tem, tem mídia ou não tem, e eu tenho uma série de decisões para tomar, justamente com base nesses micros momentos aí.
Para exemplificar, imagine o seguinte. Eu, marca, preciso entender as regras do jogo que vocês criaram, preciso entender o cenário todo. Masterchef faz isso para mim de uma maneira muito brilhante, pois tem a minha mãe, a dona Irene, de 65 anos, que não sabe nem ligar o computador, e tem medo de atender o telefone, sério, não falo com minha mãe por 2 meses por isso, se eu não conseguir ligar para o meu irmão, ela não vai me atender, ela tem medo de telefone, tem medo de tudo. Ela não liga o computador. A minha mãe vê masterchef pela televisão, eu mal vejo televisão, na verdade eu tenho preguiça de reality, se eu assistir vai ser pelo Twitter. Eles têm dois públicos e entenderam isso, que podem ganhar com os dois públicos, e eu posso comunicar com os dois públicos.
Minha mãe está acostumada a ter um break para que seja comunicado o resultado do reality, esse é um padrão que minha mãe há décadas está acostumada a assistir na TV. Então Ana Paula fala: " a gente, depois do intervalo, vai revelar o resultado". Minha mãe fica lá sentadinha esperando sair. Eu, Dani Rodrigues jamais, mas para quem está curioso vai no Twitter que o resultado já está lá. Eles conseguiram criar uma narrativa que serve para minha mãe e que serve para mim. Isso é entender as especificidades do público as demandas de cada um e usar as plataformas que mais fazem sentido. Quem fala comigo é o Twitter, quem fala com a minha mãe é a televisão; e eles ganharam
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dinheiro dos dois lados ,tanto de inserção na televisão quanto no Twitter com esse tweet pago pela TIM, e não foi pouco. Outro jeito de você entender a regra do jogo e ganhar com isso seria olhar o caso do nosso labrador humano, o Guga, maravilhoso.Quando fizeram essa brincadeira chamando-o de labrador humano, lembra aquele vídeo do Galvão “vai ganhar, vai perder, vai ganhar, vai perder” que foi para o Phelps. Quando isso aconteceu, a Globo não usou para nada, virou meme, e até teve “o cala a boca Galvão”, frase pela qual ele processou o site Não Salvo, e aí eles falaram que “teria que processar a internet inteira, vamos lá baixa a bola que não vai funcionar” e ele retirou o processar. Esse ano aconteceu isso, imagina o Guga processando por que chamaram ele de cachorro? Não. Ele entendeu, aí a Globo finalmente entendeu não é sobre brigar com a internet, se eu virei meme, virei um sucesso, sinônimo de uma campanha de sucesso é você virar meme , pois você entrou na cultura popular. O Guga entrou na cultura popular e o que a Globo fez: o Guga ia comentar até jogo de golfe, mas não ia como técnico. Tênis ele comentava de modo técnico, mas quando ele foi para o jogo de golfe que tinha audiência – 5, ele ia como torcedor, brincava e aí ele levantou a audiência. O Guga é seguro para audiência da SporTV, ele fez toda a diferença pois ele entendeu a regra do jogo e entrou na comunicação de forma super assertiva. Essa frase resume um pouco isso então “a cultura destrói, engole nossa estratégia todos os dias” a Globo tinha uma estratégia, os técnicos, então “eu tenho lá o cara para falar de vôlei, o Guga para falar de tênis” aí vem a cultura da internet que fala assim “o Guga é muito mais legal que qualquer pessoa, a gente quer o Guga para tudo, mesmo que ele não saiba comentar sobre futebol, eu quero Guga comentando no estádio comigo” e aí eles mudaram cobertura de técnico para mais para um humor, por conta do carisma do cara. Eu gosto de construir minhas narrativas de real-time pensando desta forma: eu tenho um problema, eu penso em que mensagem eu
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vou fazer e como vou trabalhar isso estrategicamente. A Beyoncé para mim é um exemplo máximo, pois entrou
décadas atrasadas na causa negra. Ela tem uma super influência mundial e propriedade para falar dessa causa. Ela resolveu assumir isso e conseguiu, em 48 horas, virar referência nesse assunto. Em 48 horas, para ver o quanto essa mulher é genial e sabe usar real-time, ela vaza o clipe 24 horas antes do superbawll e o clipe dela é polêmico, é incrível, uma superprodução, ela ficou no trending topics mundial por 48 horas, desde sábado até segunda-feira útil. Ela gerou audiência quando entrou no superbawl, pois, no domingo, ela era a atração secundária, abrindo o show do Coldplay.
Quem ouviu falar de Coldplay? Ninguém. O Coldplay tinha quatro vezes mais tempo que a Beyoncé e ele estava muito bem vindo de uma turnê incrível, aqui no Brasil foi maravilhosa, estavam super em alta, mas a Beyoncé conseguiu roubar a cena. Estava todo mundo esperando ela entrar no Super Ball depois daquele clipe. E ela vem com uma apresentação primorosa que, com um quarto do tempo do Coldplay, conseguiu roubar toda a audiência. Quando ela lança o álbum dela, é um sucesso absoluto. Eu não vou passar aqui, mas vale vocês procurarem esse vídeo da brincadeira do dia em que o mundo descobriu que a Beyoncé era negra. Incrível esse vídeo, uma paródia muito boa. Um programa de TV que dá cerca de 4 minutos para fazer um comercial falando sobre o novo posicionamento da Beyoncé. É isso. Quanto vale? Isso é de graça. Quanto vale isso é um sucesso de uma campanha, e ela virou referência no movimento, puxando a bandeira contra o racismo.
Isso é Real Time, é sobre investimento, pois ela conseguiu gerar mais missão, mais repercussão do que qualquer outra pessoa nessa área. então, é muito mais sobre estratégia do que você falar loucamente, que você usar milhões de plataformas, porque ela usou o Twitter para levantar a audiência dela, tão simples quanto isso.
E aí, para fechar antes que vocês me expulsem do palco, vou falar rapidinho de Netflix porque o tenho como um grande exemplo,
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de uma combinação muito inteligente. Todas as séries de Netflix que são roteiros-proprietários são construídas a partir de base de dados. Então ela sabe o programa de que vocês gostam, os atores de que vocês gostam, em que momento, em que segundo do episódio vocês abandonam, e de cada país. Então ela sabe que Sense8 não faz sucesso no mundo inteiro. mas eles escolhem mercados. Em House of Cards, as falas são construídas tirando trechos de redes sociais, tirando trechos de discursos de políticos. Então, quando eles lançam, eles sabem que vai funcionar, eles conseguem prever, para vocês terem uma ideia, a média de pessoas que vão assistir aqueles episódios. Esse é o grau de precisão do Netflix. Eles têm um portfólio 100% casado à inteligência do banco de dados, já começou bem. Idem com a comunicação e eles têm um combo muito interessante de valores, então eles compram algumas brigas, algumas causas, mas realmente encantam isso e transformam isso em negócio. Esse aqui é o que eu falei para vocês que eles usam em algoritmos para ler o que vocês tanto falam, para fazer séries para vocês, pois eles tem uma interação muito inteligente, muito sagaz, eles ativam influenciadores, por exemplo Inês Brasil. Eles entenderam que a base da Inês Brasil era gigante, que faria sentido ter ela na campanha, sabiam que iam apanhar, mas eles viram que o grupo que ia bater na Inês Brasil era menor do que o grupo que ia apoiar, então eles escolheram correr esse risco. Hoje eles têm números maiores que o SBT. Essa é importância de Netflix, e olha o tempo que eles têm e eu estou falando de Netflix versus Silvio Santos, que é um gigante da comunicação. Você pode até rir, mas tem uma massa fiel do Silvio Santos, muito fiel. Outra coisa em que eles usam o Real Time é a lógica do e-commerce do remarketing: o que é adicionado recentemente. “Peraí, você viu essa série? Você também vai gostar desta aqui, acabamos adicionar, tem coisa nova no nosso portfólio, e é parecido com o que já viu antes.”. Aqui é quando você abandona o carrinho “você abandonou carrinho volta aqui, assiste sense8, porque você parou?
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Volta para cá” e “Você e assistiu Friends, então você vai gostar de assistir tal coisa. Eles levam a lógica do e-comerce até para plataformas de navegação de portfólio deles.
O Netflix foi para a parada LGBT em São Paulo, e de onde resolveram fazer isso? Primeiro, 50% do portfólio deles fala sobre essa temática, então eles têm legitimidade. Eles podem falar, esse é o assunto que mais gera menção hoje nas redes sociais, faz sentido. Emplacar uma hashtag com marca é quase impossível. Eles conseguiram, porque tinha legitimidade, número de influenciadores que puxam essa bandeira e que iriam de graça Federico Devito, Luba TV, Não Salvo, o número de pessoas que falaria de graça sobre o assunto, e usariam nome de Netflix era expressivo. Resolveram fazer essa ativação.
Para essa ativação eles fizeram um único post, um vídeo que eles colocam no Facebook e fala “domingo a gente tá indo para a parada, a gente apoia, vem com a gente”. Só isso. É o único investimento deles. Convidaram 20 influenciadores que cobram na média R$ 100.000,000 o tweet. Essa é o preço de mercado. Então eles convidaram 20 influenciadores “vocês querem ir no trio? Não vou pagar nada, mas, se você quiser, as atrizes de Orange estão lá em cima do trio, se você quiser apoiar a causa, vocês estão convidados”. Esse cara, o Dumble Voleto, é um autor de três livros, e ele cobra Tweet, Facebook, ele postou mais de 40 vezes sem cobrar em R$ 1,00. Quando a gente soma tudo que foi postado pelos influenciadores de mídia espontânea, passou os 10 milhões de reais. Espontâneo. Netflix só colocou o trio na rua, só. Não pagou R$ 1,00 para ninguém. Teve mais de 10 milhões de mídia espontânea. Isso é você entender Real Time. Isso é você entrar na causa perfeita, na hora perfeita, com a mensagem perfeita. E aí virou trending topics mundial numa série de resultados. Isso é de 2015. E hoje Netflix vale mais que a GM.
Esse número deve estar bem maior do que era ano passado. Então é muito mais sobre “Eu tenho que ser consistente”. Esse ano eles foram de novo. Fizeram algo parecido e deu um bom retorno. E aí quando eu falo de ter valor, de não ser de fachada, o cara
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vem e faz o comentário machista “Qual a sua heroína preferida?” “Nenhuma, mulher não dá certo como protagonista”. Aí Netflix vem na lata: “desculpa você comentou no século errado” É isso. É valor, é posicionamento, é “eu sei o que estou fazendo aqui”. Vocês devem ter visto isso sobre esse vídeo que eles falam de spoiler. As pessoas batendo “Poxa, Netflix, você dá spoiler na página” Aí o cara vem tão simples quanto, de novo postura gente “você está em 2016. O nosso modelo de negócio é soltar a série inteira. Se você em 3 anos não viu House of Cards ainda, desculpa, pois saber que o cara é presidente não é spoiler, é você que é atrasado”. Eles falam isso, e o público bate palma, por que é isso é o novo modelo de negócio. “Eu não tô fazendo nada errado”. “Esse é o meu posicionamento de marca”. Essa é a regra do jogo Quem sai reclamando é porque não está nesse jogo.
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Palestra – Multidisciplinaridade para empreender em comunicação1
Palestrante: Alana Vizentin2 , Aroa Suleiman3 e Lisiane de Assis4
Resumo: A cada ano que passa, alguns parâmetros novos vão se configurando no universo da comunicação, forjando novos perfis profissionais, bem como processos produtivos. Nesta palestra, as sócias fundadoras da Redatoria discorrem sobre empreendedorismo e multidisciplinaridade, oferecendo um panorama do mercado no Brasil, assim como relatando seu próprio processo de constituição como empreendedoras. Falam de equipe, relacionamento com cliente, estrutura, conhecimento gestor, novas tecnologias e empreendedorismo feminino, entre outros aspectos significativos.
Palavras-chave: Empreendedorismo. Multidisciplinaridade. Conteúdo. Linguagem.
Aroa Suleiman: Bom dia pessoal, tudo bem? Estou muito feliz por estar aqui hoje e quero começar agradecendo à UCB pela iniciativa de propor esse diálogo para falar das possibilidades do mercado e pensar a comunicação de uma forma diferente. Meu nome é Aroa, um nome um pouquinho diferente porque meu pai é árabe. Sou formada em comunicação com habilitação em Publicidade e me especializei na área de redação publicitária. Vou falar sobre empreendedorismo, sobre conteúdo, sobre a Redatoria, como construímos a empresa e como a multidisciplinaridade se encaixa nisso tudo. A Redatoria é formada por três áreas de conhecimento: literatura, publicidade e jornalismo. Além de nós três que estamos aqui hoje, temos na equipe o Klaus e o Jonas, um é designer e o outro é analista de mídias. Então, a gente tem uma equipe bem completa, no sentido de que o conteúdo, a estratégia e a imagem
1 Transcrição: Cynthia Rosa.2 Mestre em Teoria Literária. Graduada em Letras pela PUCRS. Professora mestre em Teoria Literária3 Graduada em Comunicação Social. Especialista em Redação Publicitária
(ESPM – Sul).4 Jornalista. Foi jornalista responsável da Revista Elève
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caminham juntos. A Redatoria é uma empresa especializada em produção de conteúdo, gerenciamento de redes sociais e marketing digital, que é o nosso forte. Antes da Redatoria, trabalhei em várias áreas: no marketing, em web design, em planejamento. Mas a área em que mais fiquei foi a de redação e, em segundo, a de social media. Durante esses anos eu conheci bastante a comunicação de um modo geral, para depois identificar uma oportunidade de mercado mesmo. Alguém aqui já empreende ou tem o sonho de empreender? Vejo que temos algumas pessoas já pensando nisso, o que é bem interessante, porque não veem a comunicação só como aquela coisa de trabalhar na tevê, no rádio, ou numa agência de publicidade. Também é possível pensar num negócio ou ter sua própria forma de empreender dentro de uma empresa também. Eu trouxe alguns dados sobre empreendedorismo para a gente pensar como isso está mudando. No ano passado, 52 milhões de brasileiros adultos estiveram envolvidos na criação ou na manutenção de um negócio. É um número bem expressivo e que vem aumentando. Neste ano de 2016, só no primeiro trimestre, tivemos a criação de 538 mil empresas, a maior parte como microempreendedor. O MEI [Micro Empreendedor Individual] é uma facilidade para quem está começando, vale a pena dentro das possibilidades de menos burocracia. Digamos que, com o Mei, se consegue abrir um negócio em uma semana, pagando uma taxa de inscrição, se não me engano, de 45 reais. E aí a pessoa pode trabalhar como autônomo na prestação de serviços até o negócio ganhar corpo. Um dos principais motivos para a pessoa empreender é a insatisfação com o mercado de trabalho, seja devido às rotinas, relação com gestores. Outro é a realização de um sonho de ter um trabalho próprio, um gosto por algo que é um talento nato; pode até ser uma visão romântica, mas a pessoa pode ter a determinação de abrir seu próprio negócio. Outros desejam mudar de profissão; percebem, mesmo após a faculdade, que podem seguir um outro caminho. Um outro é a qualidade de vida; eu não indico muito para quem quer abrir empresa por esse motivo. Mas a qualidade de vida pode, sim, acontecer a partir do momento que o empreendedor se organiza e consegue definir o que é prioridade. Em todo o caso, em geral o empreendedor tem mais liberdade e, digamos
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assim, um incentivo financeiro maior, outros motivos que levam a pessoa a empreender.
E como a Redatoria surgiu? Tivemos a ideia a partir do mercado de trabalho mesmo. Estavam todas empregadas e vimos que o jornalismo e a publicidade, do jeito que estava rolando, não atendiam nossas expectativas. Para nós, não é só fazer uma chamadinha criativa. É pensar: onde está o consumidor? O que ele quer? O que é útil para ele? O que o encanta? Isso é mais do que fazer uma comunicação horizontal, como era antigamente. É envolver a comunicação de um jeito diferente.
Uma primeira dica para quem está pensando em empreender: escolham as parcerias certas. Não é necessariamente quem pensa igual a você; de preferência aquela que pensa diferente. Não é o amigo, embora possa ser – nós somos amigas; é aquela pessoa que tem uma qualidade profissional bacana, com quem se possa contar nos piores momentos, porque esses vão acontecer. E é difícil separar o pessoal do profissional; as coisas às vezes se misturam. A relação fica cada vez mais rica e a gente consegue perceber a qualquer momento quando uma coisa não está certa.
Qual o papel da publicidade hoje? Eu trouxe aqui uma frase: “A boa publicidade não é só circular informação; é penetrar desejos e crenças na mente do público”. O conteúdo, então, é muito dinâmico, é muito do contexto: o que é útil, o que é interessante, o que é engraçado, o que é relevante. Não é mais a chamada: “o melhor da região”; tem que ser mais do que isso. Então, na Redatoria, nosso diferencial é ser mais do que isso. Obrigada.
Lisiane de Assis: Bom dia gente, prazer estar com vocês. Sou jornalista e, para vocês me conhecerem um pouquinho, vou falar das minhas experiências. Antes da Redatoria, trabalhei em revista e cheguei a ser a jornalista responsável da revista Elève, de Porto Alegre, durante quase quatro anos. Tive a oportunidade de trabalhar bastante com a área cultural, que sempre me interessou, onde entrevistei muitos artistas. Também trabalhei com assessoria de imprensa, que hoje é grande parte do mercado de trabalho do jornalista. Depois, trabalhei em agência, onde eu conheci a Aroa já trabalhando com redação e marketing digital. Vou falar pra vocês um pouco do que eu penso que o jornalismo acrescenta à Redatoria.
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Como a Aroa falou, a multidisciplinaridade é muito importante no nosso negócio hoje em dia. E eu separei uma frase do Mário Quintana, que diz: “A resposta certa não importa nada; o essencial é que as perguntas sejam certas”. Meus amigos costumam brincar que eu não converso, eu entrevisto. Ou seja, a técnica de entrevistar permeia todo conteúdo que a gente vai produzir. Então, é superimportante, quando se vai conhecer uma empresa e escrever sobre ela, usar as técnicas de entrevista que a gente aprende para desenvolver o conteúdo, porque a gente se torna porta-voz da empresa. Temos que conhecer tanto quanto o dono da empresa ou, pelo menos, o máximo possível. Outra característica que ajuda no jornalismo é a curiosidade, que eu acho essencial. Isso ajuda inclusive para ir encontrando outras formas de abordar o conteúdo. Não gosto de dar as más notícias – a Aroa falou antes da evolução do empreendedorismo – mas o fato é que uma média de 25% das empresas fecha já no segundo ano de atividade; e 50% fecha no quinto. Isso se deve principalmente pela falta de preparo nas áreas relacionadas com a gestão. Ou seja, não adianta se formar, ser um ótimo jornalista, um ótimo publicitário, se o empreendedor não dominar as questões administrativas, as questões financeiras. É preciso se envolver realmente com isso, estar disposto a ampliar o leque de conhecimento nesse sentido também. Outra questão é a falta de políticas públicas pensadas para o microempreendedor. A Aroa comentou do Mei, que é uma porta de entrada, até para experimentar e ver se dá certo. Mas, a partir do momento que a empresa começa a crescer um pouquinho, o salto na tributação é muito grande e isso acaba dificultando a continuidade das empresas. A falta de estímulo às características empreendedoras desde cedo é outro aspecto a se pensar. Até quero parabenizar a Universidade por trazer a questão do empreendedorismo para debate, já para mostrar que existe esse caminho também e não só o de ser funcionário. Uma questão muito importante é a experiência do mercado. Mesmo se você tem a ideia de empreender, é muito importante desde agora, na faculdade, procurar estágio, procurar variar bastante as áreas de atuação, porque isso vai dar amadurecimento profissional, vai aprimorar a competência do trabalho em equipe, a abordagem com o cliente. Nem que seja para servir como exemplo negativo, ou seja, aprender como
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não fazer alguma coisa. Nós, na Redatoria, também temos os exemplos negativos de trabalhos com empresas por onde a gente passou e soube o que não é legal. E a partir daí, vamos moldando nossa própria forma de trabalhar.
É importante dar um passo de cada vez. Bem no início, a gente não largou tudo. Começamos com o pé no chão, fazendo jornada dupla, cada uma seguindo nos seus empregos e se dedicando à Redatoria nos horários de folga, à noite, nos finais de semana. Tem que ter jogo de cintura para adaptar o horário de contato com o cliente; marcávamos reuniões no almoço, ou happy reunião, como costumávamos falar, um momento de descontração, mas também de trabalho. Trabalhamos também em sistema de home office, uma alternativa que para serviços é bem válida e evita que se tenha um custo a mais no início.
Essa fase do início em um empreendimento é uma fase de muita experimentação. É para ir testando mesmo, para ver se dá certo, se é o que se quer, testar modos de trabalho, maneiras de abordagem ao cliente, maneiras de prospecção.
E uma dica que eu deixo para vocês, não só para quem quer empreender, é uma dica para a vida: fazer networking sempre. Claro, não é sair distribuindo cartão fora de contexto. Mas tendo oportunidade, fale sobre seus trabalhos, seus desejos, compartilhe com o maior número de pessoas possível. Isso vai gerando uma rede de contatos. Quando fazer e como fazer? Não tem muita regra; é mesmo em qualquer lugar, qualquer hora. Para vocês terem uma ideia, o lugar mais estranho em que recebemos uma indicação de cliente foi num velório.
E a rede não é uma forma só de conseguir clientes. Ela vai trazer conexões para parcerias de trabalho; por exemplo, quando se quer um freela, fornecedor, muitas coisas. Obrigada pela atenção.
Alana Vizentin: Primeiramente, quero dizer que agora entendo perfeitamente o que o Renato Russo quis dizer, quando falou: “Meu Deus, mas que cidade linda!” Eu estou encantada; já no avião, olhei lá de cima e vi tudo tão quadradinho, tudo tão lindo, tudo tão limpo. Pelo menos, por onde eu passei. E sabe que aconteceu uma coisa curiosa? Na quarta-feira antes de eu vir pra Brasília eu comprei um livro de contos da Clarice [Lispector], todos os contos. Aí fui no índice e encontrei um conto chamado
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Brasília; fica até aí uma dica de leitura. Mas o conto são umas 15 páginas e ela falando de Brasília. E ela diz assim – eu trouxe até pra mim: Brasília dá vontade nas pessoas de ficar mais bonito. Eu acho também, dá vontade de ficar mais bonita aqui. Gostei. Bem, vocês devem estar se perguntando como é que eu caí na Redatoria. Sou da literatura, e quando a Aroa me procurou três anos atrás, eu estava terminando meu mestrado em Teoria da Literatura, e ela me mostrou a ideia de abrir uma empresa voltada para as redes sociais, marketing digital e o segmento das mídias. E eu fiquei pensando o que ela queria comigo; porque a gente se conhece há muito tempo, mas eu sou uma pessoa da teoria, sou professora. Com o tempo, eu comecei a entender como eu poderia contribuir e vi que isso era a minha cara. E no que eu contribuí? Na questão do conteúdo. Se pensarmos na questão da marca de ter um engajamento, de ter uma coisa mais profunda do que uma chamada, do que uma casca por fora que não convence, que não vende, a ideia de que o conhecimento literário, ou, mais do que isso, o conhecimento da linguagem seria um grande suporte para a empresa que estávamos abrindo, me convenceu. Então, a empresa nasce multidisciplinar e permanece multidisciplinar. Acho que a literatura vem agregar, porque traz um valor muito grande para a Redatoria no que diz respeito à criação criativa, ou criação com criatividade. Ou seja, usar a linguagem e usar como conteúdo. Como sou da literatura, de novo eu trago a Clarice, numa frase que eu levo para vida e gosto de compartilhar com meus alunos: “A palavra é meu domínio sobre o mundo”. E isso é parte da comunicação: é a palavra que vende, é a palavra que argumenta, é a palavra que comunica, é a palavra que convence; ou é a palavra que estraga tudo. A palavra é o domínio da linguagem, é o domínio do conteúdo que vai fazer com que o produto de vocês venda. Não adianta ter uma casquinha se o conteúdo não for verdadeiro. A Redatoria surge como uma empresa de produção de conteúdo justamente com essa ideia de que, mais do que a chamada publicitária ou o link que aparece no Facebook, a gente precisa produzir conteúdo com uma linguagem criativa. Então, a Lissiane ajuda muito com esse suporte de um jornalismo quase investigativo, porque ela vai para a empresa e
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pergunta, quer saber, questiona. Quando a gente arruma um novo cliente, faz pesquisa, fica semanas até achar a linguagem perfeita pra ele poder dizer o que quer comunicar. Então, não caí aí tão de paraquedas assim; a literatura entra com essa possibilidade.
Para quem aí está pensando em ser empreendedor – ou nem estava pensando, como é o meu caso, mas virei – eu tenho bons números. No Brasil, hoje o investimento em publicidade online, no marketing digital e na comunicação nas redes cresce consideravelmente: soma-se 9,3 bilhões de reais, com possibilidades de dobrar esse valor já no final deste ano de 2016. É uma boa notícia, porque o mercado de vocês está crescendo. Tem uma possibilidade de mercado que surge muito forte, veio com o marketing digital e as mídias sociais em todos os sentidos.
E essa é a tendência das empresas. Por quê? Porque é mais barato investir em marketing digital, tem um alcance maior, tem mobilidade maior, tem uma facilidade muito maior. De modo que sete em cada dez empresas já investem no mercado online. Se eu colocar um outdoor lá fora, isso vai ter um alcance limitado. Na rede eu consigo selecionar para onde vai o meu anúncio, quem o meu anúncio vai atingir e utilizar um a linguagem que vá direto para o público do meu cliente, utilizando um conteúdo que é do interesse dele. Mais do que isso, o marketing digital não se resume só ao Facebook, ou Twitter, Instagram, essas mídias mais dinâmicas. Mas chega por blogs, portais e sites, num alcance mais orgânico para as empresas. Então hoje, 28% das verbas são direcionadas para marketing de conteúdo nas mídias digitais, nas redes, o que é animador para vocês, que estão daqui a pouco saindo para o mercado de trabalho.
Aliado a isso, tem uma coisa que para nós que é muito importante: o crescimento do empreendedorismo feminino. E isso nos ajudou muito. Passado o primeiro momento de implantação da empresa, nós começamos a procurar redes ligadas ao empreendedorismo feminino. Começamos a participar de grupos, segmentos, encontros destinados para as mulheres empreendedoras e nesse mercado começar a fazer nosso nome. Em geral, eram palestras aonde iam mulheres que tinham empresas e queriam conhecer outras mulheres que tinham empresa. Eram encontros de networking mais voltados para o mercado de mulheres. E isso é muito legal, porque as mulheres ocupam uma fatia muito grande do mercado,
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principalmente do mercado do empreendedorismo feminino. Coloquei aí “Alçando Voos Maiores” porque a gente começou pequeninha, com Mei, home office, trabalhando em horários alternativos, até que tudo mudou. A primeira a sair do emprego foi a Lissi, que ficou só com a Redatoria. No ano seguinte a empresa cresceu e a gente conseguiu puxar a Aroa também. Eu sou a única que estou em regime de escravidão; dou aula em duas escolas e trabalho na Redatoria ainda home office, sem horário certo. Mas eu vou sair, embora tenha paixão pela sala de aula.Quando as meninas saíram para ficar só com a Redatoria, a gente sentiu necessidade de ter uma sala, ter um lugar; e criamos nosso escritório em Porto Alegre. A partir disso, a gente passou a crescer mais; temos parceiros que trabalham com a gente, com o Klaus, o Jonas. Com todas essas conexões, a empresa cresce cada vez mais. A ideia que fica e que eu gostaria de dizer pra vocês é: sim, dá para montar uma empresa; tem mercado, tem possibilidade para isso. Mas não à moda do louco: não larguem tudo para fazer isso. O que é importante é ter experiência. Quando decidimos, estávamos qualificadas para entrar na empresa, estávamos preparadas para aquele momento acontecer. A empresa começou com um investimento praticamente zero, com zero de trabalho, porque ainda não tínhamos clientes, e hoje já está empregando. Isso é muito legal. E é a ideia que a gente queria trazer para vocês, para quando estiverem saindo da universidade. Há espaço no mercado para o marketing digital, para as mídias social e para uma outra série de coisas que vão surgir. Algumas coisas vão ficar obsoletas, mas sempre surgirão novas oportunidades de mercado e de negócios. É um clichê, mas eu vou dizer o que Confúcio disse: Se você gosta do que você faz, você não vai precisar trabalhar nenhum dia de sua vida. É um clichê, mas é real. Ninguém aguenta uma jornada de doze, treze horas de trabalho se não gostar do que faz. Isso é fundamental, se vocês gostam do que estão fazendo, sai energia não sei de onde para as coisas acontecerem. Encontrei o meu caminho. Nunca me imaginei na área da comunicação de uma maneira assim tão forte. A gente realmente vibra na Redatoria quando o cliente diz: “deu super certo”, porque o nosso interesse é que a marca dele cresça e ganhe presença. Bem, era isso o que a gente queria dizer pra vocês. Vocês são lindos e a
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Painel – Arte e Conhecimento Acessível1
Palestrante: Fernando Esteban2 , Alan Rios3 , Iago Kieling4
Resumo: A equipe, que integra a pesquisa Acessibilidade e
Educomunicação, faz um relato da experiência nas escolas da rede
onde estão desenvolvendo seus estudos. Falam também dos produtos
de comunicação que a pesquisa tem gerado e os que estão em
processo de criação.
Palavras-chave: Multidisciplinaridade. Educomunicação. Inclusão.
Pessoa com deficiência. Parceria.
Fernando Esteban – Nós somos parte do grupo de pesquisa do
curso de comunicação denominado Acessibilidade e Educomunicação.
Neste núcleo, estamos investigando a educomunicação e a relação
com a pessoa deficiente, principalmente o autista, e um de nossos
focos práticas é a criação audiovisual, mas não só. É um trabalho de
caráter multidisciplinar. Pelo fato de eu ser pai de uma criança especial,
as pessoas geralmente me procuram para tirar dúvidas. Mas os meninos
aqui, o Alan e o Iago, também participam da pesquisa, que realiza
alguns eventos.
E aí [imagem] temos um dos eventos no Centro de Ensino
Fundamental 5, de Taguatinga, o lugar onde a gente faz a experiência
piloto completa. Aí vemos vários momentos da palestra. A diretora
da escola dividiu os estudantes da escola em dois grupos, para que
pudéssemos atingir toda a escola. Aí você tem os meninos, nossos
1 Transcrição: Maria Giullia Gonçalves2 Doutorando em História das Artes. Professor e pesquisador UCB3 Graduando de jornalismo. Bolsista de Iniciação Científica4 Graduando de jornalismo. Bolsista de Iniciação Científica
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estudantes, mostrando seu trabalho.
Uns dias depois desse evento, voltamos à escola para fazer a
pesquisa de opinião entre os professores. O que queríamos saber era o
que mudou, queríamos saber do antes e do depois da palestra.
Num terceiro momento, aparece o Espaço Bagagem. Alguém
sabe o que é o Bagagem? É uma agência experimental do curso
de comunicação social, onde os alunos transitam pelas diferentes
áreas de uma agência. Já são alguns clientes; um deles é o Espaço
ComVivências. E é nessa parceria que se definiram alguns dos nossos
produtos aqui apresentados.
Está sendo desenvolvido um livro, com a experiência de
Soraia, a professora de corpo e expressão do Espaço ComVivências.
Outro produto é um levantamento do progresso dos alunos em
vídeo; os alunos ingressam e vão sendo acompanhados. De tempo
em tempo, fazem uma avaliação de como eles foram evoluindo.
No mês de dezembro, o ComVivência produz um espetáculo que já
é tradição, sempre com um tema diferente. Este ano, nosso grupo
vai realizar um vídeo desse espetáculo, que será produzido com
imagens capturadas durante a apresentação.
Aqui [imagem] temos o espaço Bagagem. São muitos
momentos lindos, com um grupo muito bom de alunos extraordinários.
E temos um quarto momento previsto, com a projeção desse trabalho
em vídeo que está sendo desenvolvido. Graças a essa experiência,
as portas de 63 escolas da rede pública de Taguatinga se abriram
à proposta do projeto de pesquisa. Também na perspectiva
de produção em linguagem audiovisual, está se preparando o
desenvolvimento de um documentário da realidade das pessoas
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com deficiência nas escolas da rede pública.
Um outro produto fruto da pesquisa e que nos acompanha nas
apresentações com as escolas parceiras é o kit de conscientização.
E para isso, “tcham, tcham”! Conhecem esses meninos? Alguém
sabe quem são? Com vocês, Alan Rios e Iago Kieling. Eles vão
descrever para vocês qual é o projeto de cada um e como eles irão
desenvolver a partir do que foi feito até agora.
Alan Rios – Então gente, como o professor Fernando
bem falou, a gente está fazendo um trabalho muito grande de
multidisciplinaridade aqui. Esse trabalho está se estendendo para
outras escolas, como as escolas parceiras de nosso projeto. Eu
queria contar um pouco sobre as nossas visitas, por que nós fomos
na Escola Classe 5 de Taguatinga e levamos esse projeto até lá. Nós
levamos todo esse conhecimento científico que a gente estuda
aqui a crianças e adolescentes. E fazemos isso em uma linguagem
acessível para conseguir passar a nossa mensagem para eles, para
tornar claro àquela escola que ela pode ser um pouco mais inclusiva,
um pouco mais tolerante para com os alunos que têm necessidades
especiais ou deficiências, sejam físicas ou intelectuais. Depois nós
aplicamos o questionário, como o professor falou.
Com os dados do questionário consolidados, nós descobrimos
que obtemos sucesso com a visita que fazemos às escolas, isso
é, os alunos que lá estavam passaram a compreender mais e a
respeitar os outros alunos com deficiência depois da nossa palestra.
Eles conheceram mais sobre as deficiências, tanto as intelectuais
como as físicas, e passaram a respeitar e a integrar mais os alunos
deficientes que frequentam essa escola. Então, a gente passou por
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esse projeto com uma experiência muito boa. A gente teve uma
experiência de sensibilização muito forte e por causa de todos esses
projetos, a gente está pensando em produzir um documentário, que
relate essa experiência e várias outras que nós temos no projeto.
Agora o Iago vai falar um pouco sobre esse documentário que está
em produção.
Iago Kieling – Bom dia, meu nome é Iago. Sobre o documen-
tário, a gente foi vendo essas visitas de campo que a gente fazia na
pesquisa e pensou: por que não captar essas imagens e levar para
todo mundo de uma forma mais acessível, revelando o que a gente
vem tendo com essa experiência, coisas bem legais. Nesse dia [ima-
gem], foi quando a gente fez uma reunião geral lá na regional de
ensino especial de Taguatinga, que é onde eles organizam todas as
escolas de ensino especial. Lá é meio que uma diretriz para todos
os casos de deficiência. E são muitos tipos. E aí a gente fez uma fez
uma reunião lá sobre o projeto, sobre o documentário, para ver se
a gente conseguia a parceria deles, e que nos dessem essa aber-
tura para a gente gravar e nos dar todo o apoio. Na apresentação
de ontem que a gente fez, a apresentação da iniciação científica,
apresentamos de novo a questão do plano de trabalho, do docu-
mentário, das peças que a gente vem desenvolvendo.
Aqui uma imagem do FRET, festival recreativo especial de
Taguatinga, em que eles meio que fazem gincanas e olimpíadas,
uma simulação de paralimpíadas na escola, onde eles dividem os
alunos pelos setores que já existem. Eles fazem uma semana inteira
simulando diversos esportes, e os alunos têm essa interação, de
diversas deficiências, de diversas formas na escola deles. Foi bem
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legal, a gente fez uma reportagem e conseguiu parceria também
com a vice-diretora da escola para o documentário, para podermos
incluir também a escola, ela está bem preparada para recepção
dos deficientes, pois é o que a gente acaba escutando, quais
escolas estão preparadas, que escolas que não estão tanto assim.
Quando a gente vai mensurar também, a gente vê muito que
as escolas públicas estão bem mais preparadas do que as escolas
particulares, muitas vezes, e as pessoas acabam achando que não
é assim, que vai colocar o filho deficiente em uma escola particular
e por isso vai ter professores bem preparados, e na verdade a
realidade é outra. As escolas públicas têm profissionais muito bem
qualificados e a gente tem visto isso muito, principalmente nessa
escola de Taguatinga que realiza o FRET. Para o documentário, a
gente visa captar isso e trazer todo esse conhecimento e toda essa
experiência que a gente tem tido na pesquisa.
Fernando Esteban – Então, eu somente quero agradecer
muito, não somente à instituição na qual estamos agora inseridos,
a Universidade Católica de Brasília, assim como ao total apoio do
professor Joadir, e a colaboração tão empenhada desses meninos.
Tudo que foi conseguido nesse projeto foi graças aos trabalhos em
equipe. Há uma iniciativa sim, particular, mas há um trabalho em
equipe realmente extraordinário. Se alguém que está de parabéns
aqui é a equipe que vem trabalhando até agora. Muito obrigado a
todos vocês.
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Palestra - 1966 LW3 Canal 10 Universidad Nacional de Tucumán. Repercusiones y Secuelas de un contexto de crisis, en la gestación de la TV Educativa
Palestrante: Dra. Silvia Leonor Agüero1
Resumo: En el año 1946, la Universidad Nacional de Tucumán inicia
con la creación del Instituto Cine-fotográfico (ICUNT) una interesante
experiencia a nivel audiovisual, la primera en Argentina dentro de un
ámbito universitario y una de las pioneras en Sudamérica. Este será el
germen de la Televisora Educativa Universitaria de Tucumán denominada
LW3 Canal 10 de Tucumán que nace veinte años más tarde en el marco
de una crisis política y social que signo en gran medida el destino de la
provincia. El proyecto utópico de la TV Educativa no pudo resistir ante
la llegada de la publicidad, las exigencias del mercado y los intereses
políticos que terminaron haciendo del Canal de televisión universitario
un medio funcional a los distintos gobiernos provinciales debido a su
dependencia política y económica.
Palavras chave: Tucumán, televisión, universidad, educación.
Buenas tardes a todos los presentes, he asistido a parte de este
encuentro y quisiera felicitar a los organizadores por el evento y la
calidad de las presentaciones. Deseo agradecer especialmente a
las autoridades de la Universidad Católica de Brasilia la invitación que
me hicieran para participar de este encuentro y quiero decirles que
me siento honrada por ello. También agradecer al Lic. Fernando Reynoso
1 Doutora em Historia das Artes. Pesquisadora do CONICET. Vice Decana da Facultad de Artes ltad de Artes de la Universidad Nacional de Tucumán.
161
Acosta haber sugerido mi nombre, seguramente lo hizo motivado por
una nostalgia de sus años universitarios en Tucumán.
Provengo de la Provincia más pequeña de Argentina ubicada al
norte del país, que actualmente posee 1.687.305 habitantes. Supongo
que a un Brasilero cuyo país tiene una dimensión continental y enorme
población, esta cifra no parece relevante, para nosotros significa solo el
3,61% de la población total de un país también de grandes dimensiones
que tiene casi 43 Millones de Habitantes. (42. 980.026 habitantes).
El Dr. Juan B. Teran fundador de la Universidad Nacional de
Tucumán de donde provengo, al referirse al origen del nombre de la
provincia decía: "Tucumán fue el nombre que cubría en la época de
la conquista las más extensa porción de la tierra argentina […] Hoy es
el nombre de la más pequeña de las provincias argentinas."Y es que
Tucumán fue el último territorio del Imperio Inca del Perú.
Este es un año especial para todos los Argentinos, ya que
estamos festejando los 200 años de la Declaración de la Independencia
del Virreinato del Rio de la Plata a la corona de España y ello ocurrió un
9 de Julio de 1816 precisamente en Tucumán. También se conmemora
este 2016, 50 años del cierre de los ingenios azucareros, industria que fue
por años el principal motor de la economía de la provincia, hoy sigue
siendo el primer productor nacional. En su momento esto significó una
crisis de tal magnitud que aun hoy Tucumán vive esas secuelas.
Tucumán tiene muy buena relación con Brasil ya que en cuanto
al comercio internacional, vuestro país es el principal comprador de la
producción tucumana.
También la Televisión Universitaria LW3 Canal 10 televisora de la
UNT ha cumplido recientemente 50 años y es del contexto y su surgimiento
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de lo que hoy vengo a hablarles. No precisamente como especialista
en comunicación, sino como tucumana, como universitaria, como
receptora y fundamentalmente como integrante de una comunidad
que ha tenido sus luces y sus sombras.
Para que podamos contextualizar el tema a abordar es
necesario decir que la provincia pequeña de la que provengo lidera
en los aspectos económicos, y culturales lo que se denomina el Norte
Grande del País (9 Prov.). Posee dos teatros liricos importantes numerosos
museos provinciales y nacionales, centros culturales, cuerpos artísticos
estatales, diversas orquestas, grupos independientes de artistas de
distintas disciplinas, en síntesis, una escena dinámica, un movimiento
cultural que pocas provincias del país pueden ostentar. Cuenta en la
actualidad con alto nivel de alfabetismo (98,3 % de la población) Posee
dos universidades Nacionales, La Universidad Nacional de Tucumán, La
Universidad Tecnológica Nacional posee una Facultad Regional Tucumán
(FRT). Tiene dos U. privadas, una religiosa y otra laica. La Universidad del
Norte Santo Tomás de Aquino, La Universidad San Pablo-T. Tiene también
un centro de investigación científica bilógica dependiente de la UNT
llamado Instituto Miguel Lillo. La UNT fue creada en el año 1914 o sea ya
ha cumplido 100 años, implica el cuatro presupuesto universitario del país
y es una de las más reconocidas de Argentina y Latinoamérica, recibe
numerosos estudiantes extranjeros principalmente de Latinoamérica.
Antecedentes
Cabe remarcar que la historia y nacimiento de nuestro canal
universitario no será demasiado diferente al de otros canales de
Latinoamérica surgidos en torno a los mismos años y que forman parte
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de lo que se conoce como Televisión Pública. Bajo esta denominación,
se encuadra a una variedad de televisoras con distinto grado o formas
de financiamiento estatal. Ya sea total o parcial será determinante en
la autonomía de los mismos variando también el grado mayor o menor
de dependencia con los gobiernos
Ya en el año 1946, la UNT inicia una interesante experiencia a nivel
audiovisual, la primera en el país dentro de un ámbito universitario y una
de las pioneras en Sudamérica. Me refiero a la formación del Instituto
Cine-fotográfico (ICUNT) creado mediante decreto del Presidente de la
Nación. Este sería el germen de la Televisora Universitaria de Tucumán
que nace veinte años más tarde en el marco de una crisis política y
social que signo en gran medida su destino. La misión del ICUNT según
lo expresaban los informes de la época consistía en divulgar todo lo
argentino: “la contribución a la enseñanza primaria, secundaria y
universitaria, por medio de producciones cinematográficas, informativos
científicos y didácticos y que aportaría al desarrollo del arte y el cine
nacional”.
En sus primeros tiempos con insuficiencia de materiales y mínima
infraestructura para el desarrollo de los procesos, el ICUNT realizo sin
embargo importantes trabajos referidos a Tucumán, sus raíces históricas,
su arte y cultura. Dejo registrado el desarrollo científico y tecnológico
poniendo al alcance de sectores medios, el conocimiento de una
provincia que se veía a sí misma con enorme potencial y en pleno
crecimiento. Pero que pasaba en el país con respecto a la televisión?
La televisión argentina inicia sus transmisiones en el año 1951 por canal 7
de Buenos Aires dependiente de LR3 Radio Belgrano, dirigido por Jaime
Yankelevich. Lo hace un día 17 de octubre, emitiendo desde Plaza
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de Mayo los discursos del Día de la Lealtad. Hasta el año 1960 en que
surgen tres canales privados en Buenos Aires, uno en Mar del Plata y otro
en Mendoza, el canal 7 fue el único canal estatal que tuvo el país.
La TV llega tarde a Argentina
Habrá que tener en cuenta que no solo EEUU o Inglaterra
contaban con televisión hacía más de una década, en América Latina;
México, Cuba y Brasil se habían adelantado a Argentina por lo que
existía una especie de trauma en el país respecto a ese retraso.
La Argentina fue, de este modo, el cuarto país del continente
americano en comenzar con las transmisiones de televisión, y el octavo
a nivel mundial luego de Alemania, Inglaterra y Estados Unidos-. En ese
momento, se estimaba que no había más de 30 receptores en toda
la Ciudad de Buenos Aires. La misma sensación se vivió en Tucumán
cuando llego la TV con cierto retardo. Ya que esta se consideraba una
ciudad avanzada social y culturalmente respecto de otras provincias
del país.
Durante la primera presidencia de Juan D. Perón la UNT ya se
había evaluado la posibilidad de poner al aire un canal de televisión.
Pensemos en la valoración de los medios de difusión en la época y
la naciente conciencia del efecto que producía sobre las masas
particularmente a partir de la Segunda Guerra Mundial.
Pero las numerosas conquistas sociales del gobierno peronista y
el espacio que ocuparon los trabajadores en la vida social y política del
país se modificaron a partir del Golpe de estado del año 1955. En ese
sentido los medios de difusión cobraron un rol central.
Las universidades estatales mayormente peronistas debían
reordenarse después de las cesantías, despidos, reincorporaciones
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e intervenciones. En un contexto de prohibiciones y controles que
exigían cambios en el sistema de medios de comunicación, la UNT dio
continuidad a las políticas audiovisuales y de comunicación que había
iniciado hacia una década.
Habrá que señalar que al momento de producirse el golpe
de Estado de 1955, las tres cadenas nacionales de radio y el único
canal de televisión se encontraban en manos de personas o empresas
estrechamente vinculadas al peronismo. Por este motivo en 1958, la
Comisión Administradora de Radios comerciales y TV de la Nación
avanzara con el desmembramiento de las cadenas nacionales, para
luego delegar emisoras radiales en algunas universidades. Es en ese
momento que Tucumán recibe la dirección de la emisora LW3, que
había sido parte de la cadena Radio Splendid.
Recién en 1961 y luego de insistentes gestiones del Rector de la
UNT, E. F. Virla, el Consejo Nacional de Radiodifusión llama a licitación
para canales de televisión del interior del país y asigna a Tucumán un
canal experimental y un canal comercial.
Sin embargo siempre por razones ideológicas y políticas habrá
que esperar hasta el año 1964 en el que bajo un nuevo gobierno
democrático, el del Dr. Arturo U. Illia se otorgue a la UNT una licencia
que solo admitirá un canal cultural - experimental.
En Tucumán, el nuevo gobernador que asumía sus funciones
pertenecía al mismo signo político que el presidente de la nación y
mantenía estrechos vínculos con la UNT.
A partir de ese momento se inician acciones diversas para comprar
equipos, preparar la infraestructura técnica, edilicia y de personal
especializado para realizar las primeras transmisiones.
A diferencia de otros países latinoamericanos en los que los
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canales televisivos habían nacido de iniciativas de empresarios de
medios gráficos o radiales, en Argentina inicialmente los canales
nacen de la inversión estatal. Eso explica los rasgos que tendrán las
programaciones en sus primeros tiempos. Esa será la característica del
Canal 10 Universitario de su programación y funcionamiento cultural en
sus primeros años.
Objetivos de la Televisión Educativa
El objetivo común a muchos canales de la época se inspiró en
la idea de programas que contribuyeran a la escolarización formal por
TV. Esta fue una utopía que pretendía una TV para todo tipo de público,
cuyos contenidos generales buscaban la homogeneización de la
comunidad. Desde esa perspectiva pedagógica y de algún modo
cultural, el nuevo medio de comunicación pondrá al aire programas
referidos a temas vinculados la familia, la infancia, la salud. Esta fue la
característica de la televisión “cultural” de los años 50 y 60, y Canal 10
emerge de esa concepción.
Sus Estatutos, aprobados en 1966, sostenian que la televisora
debía centrar sus objetivos “en la educación del hombre en sentido
amplio…la formación integral de la personalidad en sus aspectos
moral, intelectual y físico, mediante el desarrollo de la capacidad de
juicio sobre lo estético, lo ético, lo afectivo y lo social” De algún modo
podemos observar que sus postulados conservan las mismas aspiraciones
del ICUNT. En virtud de ello afirmaban sus objetivos, “como órgano
de información y educación, sus programas promoverán la difusión y la
enseñanza de las ciencias, las letras y las artes, así como el reflejo veraz
y ponderado de la realidad social, económica y política”
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Ese mismo año, 1966, casi en paralelo a los primeros pasos que
daba la televisión en la provincia, el país vivía horas intensas. Un nuevo
golpe de estado militar, desplaza al presidente constitucional e inaugura
una etapa de abierta represión al movimiento popular que no había
cesado su resistencia desde 1955, especialmente en las universidades
nacionales que fueron intervenidas imponiéndose la violencia, la
persecución a docentes y estudiantes, despidos y desalojos
Queda en el recuerdo de muchos argentinos La noche de los
bastones largos, nombre que proviene de los bastones largos usados
por efectivos policiales para golpear a las autoridades universitarias,
estudiantes, profesores y graduados, cuando los hicieron pasar por una
doble fila al salir de los edificios universitarios de Buenos Aires, luego de
ser detenidas 400 personas, destruir sus laboratorios y bibliotecas.
De allí que muchos Profesores despedidos abandonaron el país
ocasionando una grave pérdida para la nación.
Por otro lado, Tucumán poseía una fuerte organización gremial
que también será desmantelada por la autodenominada Revolución
Argentina. Por orden del Gobierno nacional entre 1966 y 1968 se cierran
once fábricas azucareras, perdiendo más de 50.000 puestos de trabajo
y provocando el éxodo forzoso de más de 200.000 tucumanos, quienes
emigraron en procura de otro horizonte laboral conformando los
cinturones de pobreza de las grandes ciudades industriales. La secuela
de desocupación y pobreza se extenderá por décadas.
Ese año 1966 fue de inflexión en la historia tucumana, y quedo
reflejado de algún modo en las primeras imágenes que puso al aire
la pantalla de Canal 10. Tucumanazo, huelgas obreras, estudiantiles
caracterizaron al periodo.
168
Pero continuemos relatando los pasos que debió atravesar
nuestra Televisora Universitaria hasta llegar a su primera transmisión, y
recordemos que ya había adquirido su licencia de canal educativo -
experimental. Como no se contaba con un edificio propio se utilizaron los
jardines del predio donde funcionaba el ICUNT. Allí se previó un proyecto
arquitectónico que no pudo terminarse por razones presupuestarias
dada la situación por la que el país ya venía atravesando.
Al anunciarse la visita del nuevo presidente de facto para los
festejos del Día de la Independencia, se consideró que ese era un
momento oportuno para inaugurar el nuevo canal televisivo, por tal
motivo se trasladó uno de los Quonsets del Cerro San Javier donde
estaba prevista la construcción de la Ciudad Universitaria que quedó
inconclusa tras la caída del peronismo.
De este modo se improvisó un precario estudio y el 9 de Julio de
1966 ante la presencia del Ongania se realizó la primera transmisión.
“Los quonsets eran un conjunto de galpones metálicos prefabricados
provenientes de la Segunda Guerra Mundial que la UNT había comprado
para su proyecto de ciudad universitaria en el cerro San Javier. Tras
la paralización de aquel proyecto, los quonsets fueron trasladados a
distintas dependencias universitarias, entre ellas, Canal 10”
“En su primera salida al aire, la TV universitaria llevó a la pantalla al
Coro Universitario que interpretó el Himno Nacional. Posteriormente el
conjunto hizo escuchar, siempre bajo la dirección del maestro Mario
Cognato, “Gaudeamus”, canción universitaria y composiciones de dos
autores argentinos: Felipe Boero y Aurelio Rodríguez […]
Concluidos los discursos de las autoridades presentes, se divulgó
el programa de la TV y se transmitió el primer telenoticioso, filmado por el
camarógrafo Gerardo Vallejo, sobre los actos del Sesquicentenario que
169
culminaron con la visita presidencial
Como fueron esas primeras transmisiones? Esas primeras
transmisiones como ocurrió en otros tantos países de Latinoamérica,
demandaron mucho esfuerzo e ingenio y se hacían en vivo. Si bien la
precariedad fue el rasgo inicial, el trabajo se resolvía con gran calidez.
Unos técnicos provenían del ICUNT y otros se formaron para la ocasión,
incluso el material de Servicio Informativo se revelaba en los viejos
laboratorios del Instituto. Los marcos escenográficos de los programas
provenían del mundo del teatro y el ballet, de allí que sus técnicos,
tramollistas, iluminadores, maquilladores también provenían de ese
ambiente. También el cine y la radio fueron sus primeros modelos.
Anécdotas varias…
Estaba todo por hacerse, había que descubrir códigos
propios, crear modalidades de trabajo e imponer patrones estéticos
completamente inéditos.
La programación diaria eminentemente cultural que en sus inicios solo
duraba dos horas, en pocos años se amplió a 14 hs.
Entre programas más destacados y recordados por la
teleaudiencia local figuran La Santa Misa (en el aire en forma
ininterrumpida desde 1966), Teleprensa, que luego paso a llamarse
Canal Diez, La Caja Nº 10, (fines de la década de 1960 y principio de
la década de 1970), exitoso ciclo musical y artístico de gran nivel, con
orquestas, cantantes y otros espectáculos; Aquí En Casa, (comienzos de
la década de 1970) programa de consejos para el ama de casa, salud,
moda, cocina, bricolaje, etc., con conducción femenina, invitados y en
directo, Testimonios de Tucumán ciclo de cortometrajes documentales
realizados por el cineasta tucumano Gerardo Vallejo.
170
Sin embargo, Veronica A. Ovejero comenta que a fines de 1966,
la revista Última Línea señalaba que la televisión parecía no haber
entusiasmado mucho a los tucumanos, y que ello quedaba reflejado
en el fracaso de las ventas de aparatos de TV. Sostenía también que
ello se debía en gran parte al carácter educativo de la televisión y a los
defectos técnicos que presentaba. Asimismo, acusaba a la UNT por la
falta de recursos y denunciaba la “mediocridad” de los programas.
Por decreto de 1969, se autoriza a los canales Nacionales, provinciales
municipales y universitarios a incluir publicidad comercial. Esto colaboro
a hacer frente a los costos operativos que pronto Canal Diez comenzó
a percibir ya que el canal se sostenía con los fondos de la Universidad.
Pero una vez que Canal 10 se abrió a la publicidad en 1972 se
hizo cada vez más difícil diferenciarse de todo el espectro de televisiones
comerciales, entrando en crisis el modelo educativo. Por otro lado el
canal universitario había comenzado a transmitir toda la programación
del canal Estatal y con ella los programas extranjeros.
Los constantes cambios de directorio, la falta de presupuesto y
de planificación desembocaron en una seguidilla de críticas internas
y externas a la UNT en las que se ponía de manifiesto las profundas
tensiones entre la idea de TV cultural y la idea de TV comercial que la
Universidad no había podido superar.
La llegada de la Dictadura en 1976 la más profunda de la historia
argentina, significo un nuevo golpe al Canal Educativo Universitario.
Mediante Ley nacional se obligó a las emisoras que comercializaban
espacios de publicidad, se constituyeran en Sociedades Anónimas con
Participación Estatal Mayoritaria. En una forma de expropiación en 1977
se conformó la Sociedad Anónima Televisora de Tucumán S.A., a la que
171
se sumó el Gobierno Provincial, con el 30% de las acciones, quedando
expuesto el predominio mercantil impulsado con el Gobierno Militar, el
coartamiento de las libertades y el control del Estado. La historia de la TV
y la dictadura es un tema que merece un examen muy profundo y no es
el tema de esta conferencia.
Si me interesa remarcar para finalizar, que la situación de
dependencia económica estatal del Canal Universitario impone hasta
la actualidad profundos intereses políticos que nada tienen que ver ya
con aquella utopía de los años sesenta de una televisión exclusivamente
educativa que en poco tiempo se mostró inviable ante la real situación
económica y socio-política de la región.
También pone en evidencia este breve repaso, la pérdida de
autonomía que fueron sufriendo las universidades nacionales a partir
de los años sesentas y setentas. Por otra parte, la dependencia de
los gobiernos del momento-democráticos o no, fueron marcando
una dirección cambiante, lo que volvió su historia marcada por la
inestabilidad.
En los últimos años el Canal 10 de la UNT vio afectada su
credibilidad a causa de las evidentes funciones de persuasión
política orientadas hacia las opciones gubernamentales. En estos
momentos instancias jurídicas intentan resolver el desproporcionado
uso propagandístico del canal hacia un partido político en las últimas
elecciones.
Sin embargo también es justo reconocer que hoy, aunque
lejos de las razones que le dieron origen, el Canal sigue esforzándose
en mantener entre sus propuestas, una programación informativa,
educativa y cultural, pero no puede competir con otras programaciones
172
similares de grandes producciones.
Esos años 60, y los 50 años del nacimiento de Canal 10, sirven
para celebrar los anhelos pioneros de una televisión educativa
como así también reflexionar sobre el impacto que tuvo la televisión
sobre la vida y la cultura de los tucumanos en nuestro caso y de los
argentinos: Sus usos, su interpretación, su papel fundamental en los
acontecimientos ocurridos. Pero también su futuro, donde se vislumbra
no tanto una desaparición, sino un cambio radical en la manera en la
que la percibimos y nos relacionamos con ella.
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Palestra – Conexões entre Universidade, televisão e internet1
Palestrante: Cláudio Magalhães2
Resumo: O lugar da televisão no mundo contemporâneo é o eixo
estruturante da argumentação do palestrante. Para isso, ele aborda
desde a situação das tevês universitárias até as interfaces da produção
audiovisual com a tevê tradicional e internet. Fala de tevê aberta, a
cabo, netflix e outros sistemas de transmissão. Também delimita a
diferenciação entre jornalismo e audiovisual, segundo sua compreensão
dos processos produtivos.
Palavras-chave: Televisão. Jornalismo. Audiovisual. Tevê universitária.
Eu sou da Associação Brasileira de Televisão Universitária, da qual
fui fundador, presidente e vice-presidente, e hoje sou editor da revista da
ABTU. Na realidade, a tevê universitária é antes de mais nada uma luta
pela televisão pública do país. A nossa televisão educativa vai fazer seus
50 anos no ano que vem. Nossa primeira televisão universitária, fundada
em 1967, é a TV Universitária de Recife, em Pernambuco. Ela também
surgiu nas mesmas condições que a tevê argentina, como apresentado
pela professora Sílvia. Achei engraçado porque a primeira transmissão
de vocês foi do presidente e da primeira dama, e a nossa aqui foi novela.
Então, a gente já esclarece aí muito bem qual a diferença entre uma
emissora e outra.
1 Transcrição: Cynthia Rosa2 Jornalista. Editor da revista ABTU. Sócio da Educar – Acompanhamento Educacional.
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A televisão surgiu aqui sem nenhuma pretensão de ser do Estado. Ela
era um negócio, como continua sendo. O Estado vai entrar quando
quer fazer televisão do mesmo tipo que a professora falou, formativa
para que as pessoas pudessem ter uma instrução, com o Mobral
e coisas assim. A tevê educativa no Brasil surge para isso. Graças a
Deus isso nunca aconteceu. Primeiro, porque foi colocado para uma
universidade, e essa universidade, mesmo sendo uma federal, conseguiu
dar um jeitinho de sair contra a legislação que era a da ocasião e fazer
uma televisão que fosse realmente educativa.
Então, nossa televisão universitária tem 50 anos. É uma história
comprida, mas que, na realidade, vai se dividir a partir dos anos 90
com a criação dessa sigla mesmo, de TV Universitária. Através de uma
luta das televisões públicas, do pessoal da comunicação pública, nós
enfiamos na legislação da televisão a cabo a obrigatoriedade de existir
uma televisão universitária em cada lugar que tivesse cabo. Com isso, já
começou a ideia de uma televisão universitária e, a partir daí, tivemos
um crescimento muito grande de universidades que fizeram televisão.
Até esse momento, a gente não chegava a ter 20 televisões universitárias
no país, desde 67 até os anos 90. Depois disso, segundo um mapa das
tevês universitárias feito em 2006, eram 150 televisões universitárias, sendo
que nesse período ainda não tinha ocorrido o boom da internet. Hoje, a
gente calcula que existam muitas mais que isso.
No país existem 250 televisões educativas, o que é um número
extremamente significativo também. Dessas, algumas são universitárias.
Então, temos aí uma história bastante longa. Lá na ABTU, gostamos de
dizer que universidade rima com diversidade. Nós temos televisão de todo
jeito que se possa imaginar. Nós temos inclusive televisão universitária
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comercial, que tem o sinal comercial, mas faz televisão universitária
sem veicular comercial. Temos nossa tevê universitária de Recife, onde
eu participei de um evento semana passada, que tem menos ilhas de
edição que vocês. Ou seja, a primeira televisão universitária do país
tem menos ilhas digitais que os laboratórios de vocês na Católica, e ela
cobre o estado de Pernambuco inteiro. Digo isso para mostrar a vocês
a precariedade do que é a televisão pública e educativa no Brasil, mas
também para elogiar o excelente laboratório que vocês têm, o que
mostra que vocês estão bem nesse sentido. Essa diversidade é também
em termos de produção, de veiculação.
Agora, uma coisa legal que tem acontecido é que, justamente
por causa dessa ideia de diversidade, a gente não se prende a nada.
Quem não tem nada, pode conquistar qualquer coisa. Então, também
temos uma enorme diversidade de tipo de transmissão e produção:
tem sinal aberto, tem sinal fechado, tem sinal a cabo, tem na web, tem
circuito fechado. Isso é uma coisa boa que a universidade acrescentou
na ideia de televisão e antecipou essa discussão de hoje, que é de falar
o seguinte: nós não temos que nos prender a nada, a nenhum tipo de
produção.
Na nossa época de fazer eventos, a gente tinha uma
reclamação, uma revolta com nossos estudantes, porque a gente
colocava os estudantes na tevê, mas eles estavam lá para fazer book
para apresentar pra Globo. E a gente ficava possesso com isso, porque o
lugar de experimentação é aqui. Se você quer fazer uma coisa diferente,
faça aqui. Porque essa coisa do igualzinho, todo mundo faz. A gente
ficava preocupado porque existia muito pouca ousadia dos alunos, e
a gente era pilhado para eles fazerem coisas diferentes. E esse é um
176
pouco o espírito da universidade, de estar instigando. Fazer cabeça,
lead, off, passagem, off de novo, gente, desculpa, mas isso é fácil fazer,
pelos menos tecnicamente. Fazer diferente disso é que é o legal. E a
gente se propunha a fazer essa história.
Mas eu estou vendo na carinha de alguns de vocês algo assim:
“Tio, fala sério, televisão? Quem que assiste televisão hoje, ainda mais
tevê aberta?” Vamos ver uma coisa: quem aqui assiste televisão de sinal
aberto? Vejam, muito poucos. Mas só que eu tenho duas notícias para
vocês, uma boa e uma má.
A má, gente, é que 50% da população desse país não tem banda
larga, um dado de três ou quatro anos atrás. Quando a gente diz que o
Brasil é um país conectado, que está todo mundo na internet, isso é uma
“conversa fiada”. Então, se 50% da população não tem banda larga em
casa, como que vai assistir essa produção democrática que a internet
está trazendo? Por que essa situação? A gente sabe os motivos: uma
que é caro, outra porque as empresas não estão querendo levar para
os lugares em que não rende muito. Então, as pessoas vão ficar com
tevê aberta mesmo, com a novela, o telejornal. Essa é uma ilusão, que
a internet ajuda a integrar a comunicação. Ajuda nos nossos centros
urbanos, nas nossas universidades. Mas a maioria das pessoas ainda
estão sem internet. E a previsão é que ela não vai aumentar mais que
isso, porque isso também é uma estratégia de exclusão social. Existia
um plano maravilhoso, o Plano Nacional de Banda Larga, que está
enterrado em algum lugar. Mais uma vez a tecnologia está sendo usada
para fazer exclusão social; não pensem que com a banda larga vai ser
diferente.
Agora, eu vou dar a boa notícia: a internet foi a melhor coisa que
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aconteceu para a tevê e para o jornalismo. Para a publicidade eu não
preciso nem falar, porque vocês já sabem disso. Mas no jornalismo e na
tevê se dizia: acabou a televisão com a internet; o jornalismo acabou,
porque agora todo mundo dá notícia na internet. Pra gente do jornalismo
e da tevê, a internet é ótima. Quantos aqui assistem Netflix, HBO? Olha
a diferença da tevê aberta. E entre os que gostam de futebol, quem
vê os gols do seu time na internet? O gol que você assiste no Twitter é
diferente do que passa na televisão? Não, é o mesmo. Do mesmo jeito,
as reportagens. Portanto, a gente continua assistindo a mesma televisão,
não tem diferença. Alguém pode dizer: mas eu assisto na hora que eu
quero. É verdade.
Hoje temos até um fenômeno nomeado binge watching, e já
tem gente estudando isso: é quando o telespectador, ao invés de assistir
um episódio por semana de uma série, como se fazia antigamente,
senta um dia e, pela internet ou netflix, assiste tudo de uma vez, ou pelo
menos uma temporada de uma vez. Mas o que mudou de verdade?
A transmissão continua sendo linear, eu fico ali paradinho, sentado,
assistindo as coisas passando na minha frente. Portanto, olha que beleza
a internet trouxe para a tevê: libertou ela da caixinha, do aparelho, do
televisor. Assim como o cinema se libertou da sala escura, com a criação
da televisão. Assim como a notícia se libertou do rádio, quando surgiu a
tevê. Cada meio ajuda o anterior a se libertar.
Eu vejo televisão hoje em qualquer tela. Há diferenças entre essa
televisão tradicional e essa nova, via internet, mas também tem em
comum, principalmente na estética. O mais importante é a migração
de um meio para o outro. Então, tem programa que nasceu na internet
e foi pra televisão, com a linguagem tradicional da televisão. Mas a
178
diferença mais importante é o papel da audiência. Na televisão, é como
quem está na varanda, vendo o mundo passar. Na internet, é como um
buraco de fechadura, e eu é que tenho que escolher qual fechadura eu
quero abrir. Se na tevê eu sou um espectador, na internet sou um voyeur,
eu procuro minhas coisas lá. Internet não vai abrir o programa que você
quer ver. Essa diferença mostra que a televisão está mais viva do que
nunca.
Em relação ao jornalismo especificamente, liberou de uma coisa
que já me angustiava há muitos anos: liberou a gente do opressor que
se chama “furo” e do opressor que se chama “factual”. Nossos cursos
de comunicação e jornalismo passaram anos ensinando os jornalistas a
achar furo de notícia, achar a notícia com a qual iria sobrepor o outro
jornal, só para mostrar como o veículo é antenado. O que fez a internet?
Tirou isso do jornalismo; não existe mais a possibilidade de se dar o furo.
Isso fez a gente voltar a fazer jornalismo de verdade. E o que é jornalismo
de verdade? É apuração, é investigação, é pesquisa. Passamos muitos
anos achando que o papel do jornalista é dar notícia; quem dá notícia
é o fofoqueiro da esquina. O que o jornalista dá é credibilidade.
Agora, temos que aprender a valorizar um sujeito que nas
redações era super desvalorizado: o pauteiro, ou apurador. Todo mundo
quando sai da escola quer ser repórter; mas se não tiver uma boa pauta
investigada, já era. Essa novidade é ótima, porque as pessoas estão
querendo notícias com credibilidade; as pessoas continuam querendo
saber o que é verdade ou não.
O Facebook está em plena decadência porque as pessoas não
confiam mais nele. Quem vai assinar embaixo? O que dá credibilidade
é a marca da instituição que informa, a marca que assina a matéria. O
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resto é pipoca, é para ler, degustar e passou.
Eu quero terminar minha palestra dizendo ainda que audiovisual
e jornalismo são duas coisas bem distintas, embora às vezes se mostrem
bem misturadas. Um filósofo disse certa vez: a diferença da ficção para
a realidade é que a realidade é muito mais surpreendente. E aí quem
dá conta dessa realidade? Quem dá conta dessa realidade não é o
audiovisual, nem o documentário, porque este tem começo, meio e
fim. Quem dá conta dessa realidade é o jornalismo, quem dá conta
dessa realidade é a publicidade inclusive, porque tem um papel social
importantíssimo. Isso não significa que o audiovisual não é importante;
pelo contrário, o audiovisual é fundamental para contar histórias. Sem
a ficção e o documentário, a gente enlouqueceria. E o audiovisual é
importante para isso, pois ele ajuda a ordenar e reordenar o mundo.
Enfim, gente, não abra mão de nada; nem de tevê aberta,
nem de celular, nem de Twitter, nem de circuito interno. Bota um vídeo
desse na internet e vocês vão ver quanta gente vai lá clicar para ver.
Se eu tiver 10 pessoas que assistiram essa palestra pela internet, são 10
pessoas que não assistiriam se não tivesse a internet. Essa capilarização
é fundamental, porque a menor audiência é tão importante quanto
a maior. Por isso, não abram mão de nada, porque vocês são uma
geração privilegiada, são uma geração que farão com que isso seja
comum e farão com que a comunicação social efetivamente seja uma
coisa importante para todos nós. Muito obrigado!
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