Anais - Secomunica 2016

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Mestrado em C omunicação

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Ficha elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da Universidade Católica de Brasília (SIBI/UCB)

S445d Secomunica (15. : 2016 : Brasília, DF)

XV Secomunica : comunicadores e mutações : cenários e oportunidades : [anais] / [organização, Curso de Comunicação Social]. – Brasília, DF : Universidade Católica de Brasília, 2016.

118 p. ; 21 cm.

1. Comunicação social. 2. Jornalismo. 3. Publicidade. 4. Redes sociais. 5. Empreendedorismo. I. Universidade Católica de Brasília. Curso de Comunicação Social. II. Semana da Comunicação. III. Título.

CDU 316.77

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Promoção Universidade Católica de BrasíliaCursos de Jornalismo e de Comunicação Social - Publicidade e Propaganda

Patrocínio Fundação de Apóio a Pesquisa - FAP - DF

Comissão Organizadora da Secomunica 2016Dra. Sheila da Costa Oliveira, Dr. Robson Borges Dias, MSc. Alberto Marques Silva, Dra. Florence Dravet

Comitê Técnico-Científico: Dr. Joadir Antonio Foresti, Dra. Rafiza Varão Ribeiro Carvalho, Dra. Florence Dravet

Equipe de Produção

Anais Sheila da Costa Oliveira, Cynthia Rosa, Fernando Esteban

Avaliação Cecilia Martinez, Estudantes da Disciplina Opinião e Pesquisa de Mercado

Certificação e Controle de Frequência Gerson Scheidweiler, Agência Matriz e voluntários

Cerimonial e Credenciamento Anelise Molina, Centro Acadêmico e voluntários

Cobertura Fotográfica Bernadete Brasiliense, Agência Experimental Bagagem, Agência Júnior Olfato

Cobertura Jornalística e Divulgação Eliane Muniz, Angélica Córdova Agência Júnior Olfato e voluntários

Cobertura e Transmissão Audiovisual Web Clarissa Trein de Almeida, Alex Vidigal, Alexandre Kielling, CRTV, Católica Virtual, alunos da disciplina de Produção, Edição em TV, Telejornalismo e voluntários

Cobertura e Transmissão Radiofônica: Eliane Muniz, Angélica Córdova e Rener Lopes, Agência Júnior Olfato, Agência Bagagem e voluntários

Comunicação e Recepção de Convidados Raquel Cantarelli, Ane Molina e voluntários

ficha técnica

Contratação e Prestação de Contas FAPDFRobson Dias, Joadir Foresti

Coquetel de Encerramento Cleonice Damasceno, Marcos Pinheiro, Lorrane de Assis, Degvania Pereira

II Seminário Interprogramas Florence Dravet, Victor Laus

Infraestrutura e Mobilidade Lorrane de Assis, Clarissa Trein, Cleonice Damasceno

Iniciação CientificaRafiza Varão, Lorrane de Assis

Marcação de Passagens, Traslados e Hospedagens Raquel Cantarelli, Anelise Molina

Prêmio Reconhecimento Rafiza Varão, Joadir Foresti

Programação Cultural Leandro Bessa, Fernando Esteban, Valescwa Lobo

Produção Gráfica Lorrane de Assis, Cynthia Rosa, Fernando Esteban, Leandro Bessa

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A Organização da XV Secomunica faz um agradecimento especial a todos os estudantes dos cursos de Comunicação e de Jornalismo que se apresentaram para colaborar na realização do evento com seu trabalho voluntário,mas como foram tantos em tantos momentos diferentes, se alguém não foi citado, por favor disulpe!

AGRADECIMENTOS

Adriana Gonçalves Botelho Alef Calado Santana Aline de Brito Cardoso Amanda da Silva Oliveira Amanda OlivieriaAmanda Santiago de MedeirosAmanda SantosAna Clara de Rezende Arantes Ana Luiza da Silva Santos Andressa CostaBárbara Machado da Silva Brito Bene da Silva Leite Brenda Mikaelle Pereira de Abreu Breno Esaki Borges Bruna da Silva Fernandes Bruna Neres da Silva Bruno Nunes Barbosa Caio Eduardo Almeida Celina Hikari Cinthia Freires Marinho Cintia Rocha Siqueira Cristiano R. Reis Daniel ZacariottiDiana Bispo de Jesus Emanuelly Fernandes de Souza Felipe CaianFernanda Soraggi Silva Fernanda Gabriella Marques Bueno Fiama Geovana Tonhá da CunhaFilipe Cunha B. Gomes Franca Flavia Silva Brito Flávia Silva de Brito Gabriel de Lima Boitrago Gabriela de Jesus Silva Gabriela Ribeiro Gabriele Luiza Barros Gabrielle do E.S. de Oliveira Gilvanete Costa Vieira Giovana VieiraGiovana VieiraGláucia de Rocha Cardoso Glayde Diana R. Brito Isabela Moreno dos Santos Isabela Raglio Garcia Jalil Saleh Ali Karajeh

Jéssica SáJuliana BenderJuliana Dracz Machado Renno Kesley Pereira da Silva Larissa Alves Lago Larissa FernandaLarissa NogueiraLarissa Passos da Cunha Leticia Macêdo M da Fonseca Lidia Maria Pires Brandão Liliane Mayumi Tanima Maciel Lucas Antônio Braga Luciana Brito de OliveiraLuciana Oliveira Luisa Sales Mendes Luygella França de Brito Marcus Vinícius Castro de Souza Maria Caroline Sousa SilvaMaria Giullia Bifano Gonçalves Maria Isabel Felix de Matos Mariana Pereira Alves Mariana Silva da Nóbrega Matheus N de Sousa Mirelle Gonçalves Bernardino Omara Maria Soares da Silva Patricia Nadir Rodrigues Paula MeloPaulla Christina Damasceno Perla RodriguesPoliana Tais de Sousa Fontenele Rafaela Carvalho Gonçalves Raissa da S. Queiroz Raul Vinicius FernandesRayane de Oliveira France Renata Nagashima de Lima Ribamar Martins Rodrigo de Jesus Santiago Sara Cristina Sane Reis Stefanni DiasTalyane Magalhães Silva Thais Rodrigues de SouzaTuanny de OliveiraVitor Hugo Stoianoff Yulli Moraes de Assunção

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Universidade Católica de Brasília

Cursos de Jornalismo e Comunicação Social - Publicidade e Propaganda

XV SECOMUNICA 2016Semana da Comunicação

COMUNICADORES E MUTAÇões: CENÁRIOS E OPORTUNIDADES

Brasília,2016

Comunicadores e Mutações: cenários e oportunidades

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Assessoria de Curso Dra. Rafiza Luziani Varão Ribeiro CarvalhoMSc. Raquel Cantarelli Vieira da Cunha

EstágiosMSc. Leandro Bessa Oliveira

Agência Experimental Bagagem MSc. Raquel Cantarelli Vieira da Cunha

Agência Junior OlfatoMSc. Eliane Muniz Lacerda

Reitor Dr. Gilberto Gonçalves Garcia

Pró-Reitor Acadêmico Dr. Daniel Rey de Carvalho

Pró-Reitor de AdministraçãoProf. Fernando de Oliveira Sousa

Chefe de Gabinete da Reitoria Dr. Dilnei Lorenzi

Diretora da Escola de Educação, Tecnologia e Comunicação Dra. Christine Maria Soares de Carvalho

Coordenadora do Mestrado em Comunicação Dra. Florence Dravet

Coordenador dos Cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda Dr. Joadir Foresti

Agência Junior Matriz MSc. Gerson Luiz Scheidweiler Ferreira

Portal Pulsátil MSc. Cynthia da Silva Rosa

Centro de Rádio e Televisão (CRTV) Clarisa Trein de Almeida

Estúdio de Fotografia MSc. Maria Bernadete Brasiliense

Universidade Catolica de Brasília

Cursos de Jornalismo e de Comunicação Social - Publicidade e Propaganda

composição

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Apresentação................................................................................................11

Programação................................................................................................14

Palestra - Comunicadores e mutações: cenários e oportunidadesPalestrante - João Canavilhas.....................................................................22

Palestra - O Primeiro Emprego: E aí?Palestrante - Alberto Villas............................................................................36

Workshop - Negocie sem medo: Aprenda como a Programação Neurolinguística pode ajudar a fechar negócios Convidado - Darlan Ferreira.........................................................................49

Mesa de Debate - Possibilidades do mercado audiovisual em Brasília Convidados - Mariane Cunha e Rafael Lobo............................................75

Palestra - Youtuber: Uma profissão?Palestrante - Daniel Zukko............................................................................82

sumário

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Palestra - Bastidores da Produção de EventosPalestrante - Ygor Brito..................................................................................89

Mesa de Debates - Empreendedorismo em comunicação: casos de sucesso e enfrentamento de riscoConvidados - Rodrigo Cunha e Luzinete Marques.................................110

Palestra - Comunicação em Tempo RealDaniele Rodrigues.......................................................................................133

Palestra – Multidisciplinaridade para empreender em comunicação Palestrante: Alana Vizentin , Aroa Suleiman e Lisiane de Assis..........147

Painel - A arte e Conhecimento Acessível Convidados - Fernando Esteban Reynoso Acosta, Alan Rios, Iago Kieling...........................................................................................................155

Palestra - 1966 LW3 Canal 10 Universidad Nacional de Tucumán. Repercusiones y Secuelas de un contexto de crisis, en la gestación de la TV EducativaPalestrante - Silvia Leonor Agüero..............................................................160

Palestra - Conexões entre Universidade e TV abertaPalestrante - Claudio Magalhães..............................................................173

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apresentação

Os cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Universidade Católica de Brasília têm a honra de apresentar nesta publicação um panorama síntese do que aconteceu durante a XV Semana de Comunicação – Secomunica, que aconteceu de 19 a 23 de setembro nos auditórios dos blocos K e G do campus 1 da Universidade, além de outros espaços, como salas de aula, hall e laboratórios. O tema deste ano foi “Comunicadores e Mutações: Cenários e Oportunidades”. Nesta edição, realizada pela Universidade Católica de Brasília, com patrocínio do Fundo de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF). Ainda comemorou os 20 anos de criação do curso e os 15 da própria Semana de Comunicação, configurando um momento especial e festivo para todas as pessoas ligadas ao curso, ao qual estiveram presentes, pela primeira vez, convidados internacionais de Portugal e Argentina para os momentos de abertura e encerramento.

O evento mantém seu compromisso de contar com a participação de profissionais renomados em diferentes áreas de Comunicação, proporcionando aos participantes uma rica troca de experiências e reflexões, por meio de palestras, mesas de debate, seminários, oficinas, workshops, cines debate, exposições artísticas e lançamentos de livros.De um lado, com ações de cunho profissionalizante para oferecer experiências e aproximações com o mercado de trabalho no campo da comunicação, em suas diversas áreas; e, de outro, momentos de reflexão e crítica, propiciando renovar a compreensão que se tem da comunicação como espaço de realização e produção de sentido, que envolve e impacta toda a sociedade.

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Na edição de 2016, a empregabilidade do comunicador social no cenário contemporâneo foi o eixo do evento, que trouxe dois convidados internacionais para abrilhantar a ocasião: o professor doutor João Canavilhas, da Universidade da Beira Interior, Portugal, que fez a abertura da XV Secomunica; e a professora doutora Silvia Leonor Aguero, da Universidade de Tucumán, Argentina, que encerrou o evento ao lado de Cláudio Magalhães, representante da Associação Brasileira de Televisões Universitádorias (ABTU). Esta convidada, em especial, foi também responsável pela curadoria da Exposição Artística de Xilogravuras de Roberto Koch, aberta durante toda a semana, e pela assinatura de um acordo de cooperação internacional entre a UCB e a Universidade de Tucumán. Algumas novidades importantes nesta XV Secomunica dizem em respeito: (i) à participação intensiva dos estudantes na cobertura do evento através de novos recursos. Assim, os eventos principais do matutino e do noturno foram transmitidos via WEB; (ii) Além disso, uma grande rede de cobertura, coordenada pela Olfato, Agência Júnior de Jornalismo, com a colaboração de turmas de várias disciplinas do curso, foi encarregada de noticiar o andamento de toda a programação do evento, dia a dia, turno a turno. O resultado foi um grande exercício de colaboração, no qual estiveram também envolvidos estudantes da Matriz, Agência Júnior de Publicidade e Propaganda, e do Espaço Bagagem Agência Experimental de Jornalismo e Publicidade. A participação do Cactos, Centro Acadêmico do curso, arrematou a participação dinâmica e comprometida dos estudantes; (iii) A brinquedoteca da UCB e a Escola Pública Caic do Areal também foram envolvidas nas atividades da Secomunica. As crianças visitaram a exposição, receberam material relativo a ela e participaram de oficina de xilogravura, cujo conteúdo foi enviado ao artista Roberto Koch. (iv)

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Frequência de estudantes de outros cursos e instituições afins ao evento da UCB.

Outra inovação foi a criação do Prêmio José Salomão Davi Amorim, que tem como objetivo o reconhecimento de professores e alunos que colaboraram de maneira destacada na história dos cursos, além de constituir instrumento de consolidação de sua memória. A premiação é decorrente de uma série de reflexões promovida pela coordenação nos últimos dois anos e envolveu vários professores, notadamente aqueles ligados ao NDE – Núcleo Docente Estruturante. A ideia é que o prêmio permaneça nas próximas edições da Secomunica. O nome do prêmio é uma homenagem ao professor José Salomão, primeiro coordenador do curso e um de seus principais idealizadores. Ele recebeu o primeiro troféu da noite, seguido do professor Dr. João José Curvello, também ex-coordenador do curso e fundador do Mestrado de Comunicação da UCB. Duas estudantes também foram premiadas por terem os maiores índice-vida do ano: Mariane Cunha, do curso de Jornalismo, e Beatriz de Lima Santos, de Publicidade e Propaganda.

Dessa forma, a XV Secomunica confirmou sua tradição, consolidada ao longo dos anos, de realizar um evento voltado exatamente para uma integração entre estudantes, professores, mercado de trabalho e academia, visando à compreensão dos elementos que constituem o campo da comunicação, mesmo em cenários mutantes, como nos anos atuais.

Neste volume, o leitor encontrará a descrição da programação, bem como os textos das palestras e mesas, obtidos pela técnica de degravação, o que justifica e explica o tom mas informal do discurso, e que era necessário para a boa comunicação respeito do tema da empregabilidade. Boa leitura a todos!

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programação

7h30 - 8h30 CredenciamentoAbertura da exposição de banners de pesquisa em comunicação

Hall - K

8h30 AberturaBanda Sinco

Auditório - K

9h - 11h30 João CanavilhasComunicadores e Mutações

Auditório - K

14h - 18h Oficinas e minicursosSer professor também e uma opção;Marketing Digital: Studio On Line

Estratégias de monitoramento em redes sociais: Ana Célia Costa

Luz, Câmera, Inclusão: realização de vídeo acessível. (Parte I)Cynthia Rosa, Iago Kielling e Larissa Nogueira

Salasdiversas

19h - 19h30 Credenciamento Hall - K

19h Batalha de Rap Auditório - K

20h - 22h Alberto VillasPrimeiro Emprego: e aí?

Auditório - K

SEGUNDA-FEIRA 19/09

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8h - 8h30 Estande de Estágio e Exposição/venda de livros do Mestrado em Comunicação

Hall - K

8h30 Fernando EstebanLançamento do Catálogo da Expo-siçãoDe Dommus e Outras Evocações - do artista argentino Roberto Koch

Auditório - K

9h - 11h30 Mesa DebateEmpreendedorismo em Comunica-ção(Time 1)Andrea e Jacqueline Azevedo, Ygor Brito

Auditório - K

13h - 14h Estande de Estágio e Exposição/venda de livros do Mestrado em Comunicação/

Hall - K

14h - 18h CINE DEBATE - Um senhor estagiário (competências relacionais e éticas no ambiente profisional)

Auditório - G

19h - 19h30 Estande de Estágio e Exposição/venda de livros do Mestrado em Comunicação

Hall - K

19h30 - 22h Assessoria de Imprensa e mídias sociais Negocie sem medoBastidores de um telejornal

Salasdiversas

TERÇA-FEIRA 20/09

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QUARTA-FEIRA 21/09

8h - 8h30 Estande de Estágio e Exposição/venda de livros do Mestrado em Comunicação

Hall - K

8H30 - 11h30 Daniel Zukko e Daniel ToysYoutuber: Uma Profissão?/Grafiti e Publicidade

Auditório - K

14h - 18h Criação Publicitária: Studio On Line

Linguagem Fotográfica em Tempos Digitais: Ane Molina

Luz, Câmera, Inclusão: realização de vídeo acessível. (PARTE II)Cynthia Rosa, Iago Kielling e Larissa Nogueira

Salasdiversas

19h - 19h30 Estande de Estágio e Exposição/venda de livros do Mestrado em Comunicação

Hall - K

19h30 - 22h Rafael Lobo e Mariane CunhaPossibilidades do mercado Audiovisual em Brasília

Auditório - K

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8h - 8h30 Bernardo MoreiraLançamento do livro fotográfico: Menina Mulher

Hall - K

9h - 11h30 Ygor BritoBastidores da Produção de Eventos

Aditório - K

14h - 18h Estande de Estágio e Exposição/venda de livros do Mestrado em Comunicação

Hall - K

8hs - 18hs II SEMINÁRIO INTERPROGRAMASSECOMUNICA - Equipe do Mestrado em Comunicação, convidados externos e bolsistas de IC

Salas

19h - 19h30 Cine Debate - Quem se importa?(Empreendedorismo social e comunicação)

Auditório - G

20h - 22h Mesa de debatesEmpreendedorismo em Comunicação (Time 2) Luzinete Marques e Rodrigo Cunha

Auditório - K

QUINTA-FEIRA 22/09

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8h - 11h30 Daniele Rodrigues e Equipe Redato-riaComunicação em Tempo Real e Multidisciplinaridade para empreender em comunicação

Auditório - K

14h - 18h Luz, Câmera, Inclusão: realização de vídeo acessível-Parte III - Cynthia Rosa, Iago Kielling e Larissa Nogueira

Lamb: Um resgate estético e profisional: Raissa Miah

Design de interfaces para aplicativos de notícias

Você e seu dinheiro: essa relação afeta seu sucesso: Sônia Braga

Salasdiversas

8h - 18h II SEMINÁRIO INTERPROGRAMAS SECOMUNICA - Equipe do Mestrado em Comunicação, convidados externos e bolsistas de IC

Salas diversas

19h - 19h30 Fernando Esteban, Alan Rios e Iago KielingArte e Conhecimento Acesssível:um olhar sobre o mundo

Auditório - K

20h 21h30 Silvia Aguero e Cláudio MagalhãesConexões entre Universidade e TV aberta

Aditório - K

SEXTA-FEIRA 23/09

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XV SECOMUNICA 2016Semana da Comunicação

COMUNICADORES E MUTAÇões: CENÁRIOS E OPORTUNIDADES

Comunicadores e Mutações: cenários e oportunidades

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Palestra – Comunicadores e mutações: cenários e oportunidades1

Palestrante: João Canavilhas2

Resumo: A mutação social surgida com as tecnologias digitais abarca os mais diversos aspectos do campo da Comunicação, qualquer que seja a profissão, como jornalistas, publicitários e outros. Em sua explanação, o pesquisador português João Canavilhas delimita o que considera os principais marcos do cenário contemporâneo para a atuação dos comunicadores e aponta duas tendências centrais, a mobilidade e o consumo social online. Também elenca as características profissionais necessárias a quem quer conquistar sempre novas e melhores oportunidades, inclusive num sentido empreendedor.

Palavras-chave: Mobilidade. Consumo social. Linguagem.

Antes de começar, tenho que fazer duas notas. A primeira coisa é que esta não é a primeira vez que estou em Brasília, nem a primeira vez que falo para estudantes da Católica de Brasília. Mas é a primeira vez que estou efetivamente na Universidade. A segunda tem a ver com a cara que vocês já estão fazendo com o meu sotaque; por isso, vou tentar falar devagarinho para ver se nós conseguimos nos entender. Nós, em Portugal, temos esta terrível mania

de comer as vogais; então, quando estamos falando normalmente

falamos desta maneira [aumentando a velocidade da fala] que estou

a falar agora e vocês não entendem nada do que eu estou a dizer.

Então eu vou tentar falar mesmo muito devagarinho. Se por acaso eu

ultrapassar o tempo previsto, é porque eu estou falando devagarinho e

1 Transcrição: Cynthia Rosa, com colaboração de Mariana Nóbrega.2 Professor doutor na Universidade da Beira Interior, Portugal. Jornalista. Membro do Conselho Geral e Diretor do Mestrado de Jornalismo da UBI.

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não porque estou falando muito (risos).

Muito bem, então. A ideia hoje é falarmos um pouquinho

sobre comunicação. Aliás, o título vocês têm ali atrás, não tão

enfocado apenas em jornalismo, mas tocando também um pouco na

comunicação no seu total, uma vez que temos aqui estudantes não

só de Jornalismo, como também de Publicidade e Propaganda. Há

determinadas situações em que os caminhos se cruzam, obviamente,

pela parte teórica e muito também pelo atual cenário tecnológico.

A imagem que vocês têm atrás de mim é uma que eu utilizo muitas

vezes, porque é muito significativa daquilo que é o ecossistema atual

da comunicação e do ambiente em que vocês vão trabalhar. Uma foi

recolhida exatamente no mesmo local, em 2005 e a outra em 2013, no

momento em que foi anunciado o novo papa. Se vocês repararem,

a grande diferença que existe é a quantidade de celulares que

aparecem na segunda imagem. Enquanto no primeiro caso há duas

ou três pessoas com um celular, no segundo caso, percebe-se que

quase todos o têm. Essa, digamos, é uma marca da situação atual:

poderíamos não ter mais nada em comum, todos nós que estamos

nessa sala, temos celular. Eu arrisco dizer que dou R$ 200,00 a quem

estiver aqui e não tiver um celular. Como podem ver, uns estão de saia,

outros de calça, uns tem cabelo cumprido, outros curtos, uns tem bolsa,

outros tem IPad, uns tem bolsa, outros têm sacola. Não interessam as

diferenças, pois há uma coisa que todos temos em comum: pelo menos

um celular no bolso. Hoje há mais celulares do que população, como

vamos ver a seguir.

Veremos dois slides com alguns números em termos de

ecossistema midiático e para uma população de 7,3 bilhões de

pessoas. Reparem na taxa de penetração daquilo que são os meios

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de comunicação tradicionais. O rádio, com 56,3%, ou seja, a cada dois

lares há um rádio, a televisão 23.1% e a imprensa 6,5%. Este é o cenário

atual que nós temos em termos de ecossistema midiático dentro

dos meios tradicionais. Mas, se olharmos para o cenário colocando

os novos meios, reparem que, em termos de utilizadores de internet,

estamos praticamente atingindo 50% de utilizadores. Em termos de

celulares, temos 3,7 bilhões, debutilizadores únicos de celular, porque,

na realidade, o número de cartões com o número de celular já é

superior à população mundial. Muitas pessoas portam os celulares

pessoais e os celulares da empresa. Além disso, as pessoas têm duas,

três operadoras. Temos ainda dados dos utilizadores das redes sociais,

que são 2,2 bilhões. Estes números podem ter algumas pequenas

variações em relação a outras fontes que vocês poderão encontrar.

Mas o que interessa nesse caso é a tendência. Sendo assim, entramos

na primeira nota desta conferência, que são as tendências.

Eu identifico quatro grandes tendências, embora, neste

momento, sejam duas as mais importantes. Por um lado, a questão da

mobilidade, e ,por outro lado, a questão do consumo social online. É

em torno desses dois vetores que vamos falar ao longo dos próximos

minutos.

Penso que não temos dúvidas a respeito de que todos aqui

nessa sala têm um celular e utilizam alguma rede social, não interessa

qual. E percebi, nesse momento histórico, que há algumas mutações

em termos de utilização das redes sociais. Não conheço a realidade

brasileira, confesso, mas não deve ser muito diferente daquilo que está

acontecendo neste momento na Europa. O Facebook era uma rede

que, de certa forma, dominava completamente o mercado e continua

a ser a rede com mais utilizadores. Mas o que eu tenho observado ao

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nível das gerações, não tanto a de vocês, mas as duas gerações que

estão atrás de vocês, é que o Facebook começa a ser menos utilizado

na vertente do compartilhar mensagens.

Mas vamos esquecer momentaneamente a questão social e

vamos começar pela questão da mobilidade. A grande mudança que

acontece nesses últimos anos é a emergência dos dispositivos móveis,

algo que há relativamente pouco tempo não existia; aliás é muito

provável que vocês não consigam imaginar as suas vidas sem ter um

celular.

Para ilustrar isso, vou contar uma história que acontece na

Europa. É muito comum no verão pessoas da idade de vocês, os

portugueses da idade de vocês, irem trabalhar pelo centro da

Europa para ganhar algum dinheiro e depois irem aos festivais de

verão, os festivais de música. Antes da era do celular, as pessoas iam

até a fronteira, apanhavam uma carona e tentavam chegar a um

determinado local onde geralmente iam trabalhar nas vindimas, ou

na colheita da maçã. Vocês conseguem imaginar, hoje, como três ou

quatro pessoas, por exemplo, conseguem se encontrar se não tiverem

celulares?

Porque isso acontecia: parava um caminhão, o qual dava

carona a uma pessoa; se era um grupo de três, as outras duas pessoas

ficavam para trás. Mas depois tinham que se encontrar na cidade para

onde iam. Como as pessoas conseguiam se encontrar em uma cidade

onde nunca tinham ido sem ter celular? É uma coisa que para vocês

provavelmente gera confusão. Naquela altura, uma maneira de se

encontrar em uma cidade onde nenhum deles jamais havia ido era

marcando o endereço do primeiro restaurante da lista telefônica, o

restaurante cujo nome começasse por “A”. O primeiro a chegar ficava

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os dias necessários até chegar o segundo, até chegar o terceiro.

E finalmente, quando estavam todos juntos, iam então para o seu

destino.

Hoje em dia, na sociedade atual, se colocássemos jovens da

mesma idade para fazer a mesma coisa e tirássemos seus celulares,

provavelmente iriam todos para essa cidade e se passariam semanas até

que todos se encontrassem, porque sem o celular é difícil concebermos

a nossa vida. O uso massivo e constante desse artefato introduz essas

variáveis de mentalidade e comportamento. Digamos que, em 1979,

a função fundamental era a recepção/envio de voz e mensagens;

depois disso, sofre evoluções e vai ganhando novas funções. Em 1998,

passa a ser algo que nos interessa, que tem a ver com o consumo

midiático. Em 1999, passa a ser também uma forma de pagamento,

que nós utilizamos muito hoje em dia. Depois passa a ser também uma

plataforma de publicidade. Portanto, aqui se entronca a outra parte

dos alunos que estão dentro desta sala; e, portanto, consumo midiático

tem a ver com produção e consumo de jornalismo e publicidade, o que

hoje em dia, na avaliação de alguns, se transformou num problema.

É a parte da criatividade que tem a ver também com a

câmera de fotografar ou filmar, que hoje em dia vocês tem no telefone

móvel. Para terem uma noção, há cinco anos já havia mais câmeras

fotográficas em celulares do que o número de câmeras fotográficas que

foram fabricadas em toda a história da fotografia. Vejam a diferença

que se fez com a introdução deste pequeno dispositivo, pois não há

nada que passe despercebido, qualquer pessoa tem uma câmera no

bolso, qualquer pessoa faz uma fotografia, faz um vídeo. Isso, embora

seja agregado à criatividade, pode ser agregado também a todas as

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profissões. Em 2003, temos a introdução das comunidades virtuais, e, a

partir daí, a moda é algo que faz influenciar muito a troca de celular.

A maioria das pessoas trocam de celular sem ter ao menos explorado

15% das potencialidades que ele tem; simplesmente porque saiu um

novo modelo, vai comprar. Se for um Apple, melhor ainda, porque dá

pra ficar na fila e ser notícia no jornal. Reparem que as próprias marcas

começaram a fazer dispositivos porque, como dizem aqui no Brasil,

existe uma certa grife. Em 2007, os celulares começam a funcionar como

controle remoto para alguns dispositivos; hoje em dia, vocês podem

comandar grande parte dos dispositivos que têm em casa, máquinas,

televisões, tudo isso se consegue fazer a partir do controle remoto, um

dos aplicativos possíveis de ter em um celular.

O celular é também uma máquina de contexto e isso é muito

importante para o Jornalismo. Hoje é fundamental pensar no jornalismo

em termos de contexto, não interessa tanto o que a pessoa pensa ou

o que a pessoa quer. Interessa mais saber o local em que a pessoa

está a cada momento. Enfim, hoje em dia, temos contato com diversos

elementos, e esse contato é feito através destes dispositivos: vocês

podem regar as plantas, podem ligar a luz do aquário, comandar a

casa de vocês a distância. E, além de tudo isso, o celular transformou-

se também numa plataforma de emprego. Nesses dispositivos móveis,

aquilo que vocês fazem e as próprias redes sociais são um local onde

muitos de vocês vão ser encontrados por empresas.

Seja no LinkedIn ou em outras redes sociais, as grandes empresas

têm duas equipes, uma de ataque e uma de defesa, como no futebol:

o grupo de ataque está sempre à espera de novos valores; e o de

defesa faz o monitoramento de seus próprios funcionários, não só para

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controlar o que fazem, mas para perceber quando eles têm oferta de

alguma outra empresa, ou seja, estão “de olho” na mobilidade, tônica

do nosso mundo atual.

Um segundo mundo também importante é a sociedade online.

Estamos nos dispositivos móveis e também nas redes sociais; estamos

nas redes sociais com os dispositivos móveis, e o número de utilizadores

cresce muito rapidamente. Os mais novos descobriram que os pais e

os avós também estão nas redes sociais e então deixaram de escrever

aquilo que faziam com os amigos e com as amigas, porque, de repente,

o pai e a mãe já sabem. Para resolver essa questão, o jeito é não

publicar, porque têm sido discutidos muitas vezes os perigos das redes

sociais.

Na realidade, o único diferencial que as redes sociais

acrescentam a nossa vida normal é a parte tecnológica, pois o que

fazemos nas redes sociais é o que nós fazemos na vida real. Ninguém

se lembra mais de ir para a varanda da casa e de repente começar a

contar sua vida toda; ninguém agarra um megafone e diz: “Esta manhã

fiz não sei o que, ontem fiz não sei o que”. Ninguém se lembra mais de

fazer isso e, no entanto, nas redes sociais o fazem. Portanto, na questão

das redes sociais, o único elemento que acrescenta é o tamanho do

universo: falando da varanda, ouvem os vizinhos; no Facebook, ouvem

todos os amigos, que podem ser 400 ou 4.000, tanto faz; aí alguém

compartilha e aquilo se transforma em uma coisa incontrolável.

Se olharmos para a situação política no Brasil, quando se tentou,

relativamente há pouco tempo, parar a circulação de algum tipo de

mensagem, bloqueou-se o WhatsApp; ninguém se preocupou com

mais nada, porque sabiam que estavam bloqueando um sinal aberto,

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um determinado tipo de mensagens que acabavam por circular e sem

qualquer controle. De repente, parece que voltamos a antigamente. E

essa é a nossa realidade atual: muita mobilidade, muita gente com o

seu próprio contato no bolso, querendo compartilhar pessoalmente o

que está ao nível das redes sociais.

E o que isso provoca em termos de mudança no consumidor?

Que tipo de consumidor temos nós hoje em dia? Isso que nos interessa.

Primeiro: temos um consumidor always on. É uma coisa que não era

habitual, pois nós não estávamos permanentemente abertos a receber

mensagens. Hoje em dia, vocês estão permanentemente ligados;

eventualmente, porque estão numa conferência, desligaram qualquer

coisa no celular de vocês, ou colocaram no modo avião. Aposto que

ninguém pôs, só puseram no silencioso e por uma razão muito simples:

querem estar permanentemente ligados. E se, de repente, acontecer

alguma coisa nesse país? Tenho certeza absoluta de que todos aqui

saberão; por qualquer caminho que seja, todos vão pegar essa

informação. Nós todos hoje temos uma sociedade muito mais esperta

para aquilo que está acontecendo, sabemos que as coisas vão chegar

até nós praticamente em tempo real.

Uma segunda tendência, que é também uma oportunidade, é

o fato de o consumo ser individual e social. Nós, hoje em dia, temos um

canal pessoal que é o celular. Se eu quiser mandar uma mensagem

pra apenas um de vocês, e o seu número estiver na minha agenda,

eu consigo enviar essa mensagem. Há uma porta aberta para cada

um de vocês; e isso é a diferença do consumo de massa para o que

temos agora. Por outro lado, temos um consumo social e isso provoca

grandes alterações em termos daquilo que é a própria interpretação

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da mensagem midiática.

Já viram imagens da primeira guerra mundial? Na época, o

consumo do jornal começou a ser um consumo em grupo; nos clubes

de leitura, havia pessoas que iam fazer a leitura para quem não sabia

ler. O rádio passou pelo mesmo processo; as pessoas se juntavam em

volta de um rádio. Se vocês virem imagens da primeira guerra, verão

que isso aconteceu. E aconteceu o mesmo com a televisão, que

ocupou o lugar central na sala e o consumo era feito em grupo. E

qual era a vantagem deste tipo de consumo, nos primeiros momentos

desses meios? É que havia uma interpretação. Quando havia qualquer

coisa, ao lado estava o pai, um irmão mais velho, um tio, alguém que

explicava o que era aquilo que estava na televisão.

Atualmente, isso deixou de acontecer porque o consumo é

individual; e a própria televisão está no quarto, está em todo lado,

mas falta essa parte da interpretação dos acontecimentos. Porque, ao

ver um conjunto de gentes a fugir, ou um conjunto de gentes a gritar,

pode ser qualquer coisa, pode ser a torcida de um clube, pode ser uma

manifestação pró ou contra governo. E pelas cores também não vamos

lá. Se olharmos o passado recente do Brasil, quem vestia vermelho tinha

uma posição, quem vestia de verde e amarelo tinha outra posição;

portanto, tanto podiam ser torcedores da seleção brasileira, como ser

outra coisa qualquer. Sem a interpretação, tudo se torna mais difícil. E

daí que o jornalismo tenha hoje um papel cada vez mais importante

na sociedade. Esse consumo está a mudar, e o jornalismo tem que

acompanhar essa mudança.

Uma terceira tendência tem a ver com a recepção. A recepção

passa a ser móvel, vocês têm um celular. E não deve demorar muito

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tempo que venham a nos colocar um chip nos braços, e tudo se

torna mais simples: temos aqui um receptor, que é carregado com

nosso próprio movimento de pernas, que gera energia e, portanto,

não temos que ligá-lo a nada. Como ele funciona por Wi-Fi ou por

Bluetooth, acaba por estar permanentemente em ligação; então,

olhamos para o braço e temos a informação aqui. Já não é um relógio

que se tira, mas algo que foi incorporado e que se vai adaptando ao

nosso corpo. A tendência é essa.

Uma quarta tendência é o interesse das pessoas em participar.

Não é possível continuarmos a falar sozinhos. O jornalismo, que durante

anos falou sozinho, tem que deixar de fazê-lo. Durante anos, o jornalista

fechava-se numa torre de marfim e basicamente dizia “eu sei tudo e

vocês não sabem nada”. O que acontece hoje em dia é que o público

sabe mais do que o jornalista. Não porque o jornalista não saiba muito,

mas por causa daquilo que podemos chamar de conhecimento coletivo.

É uma questão meramente estatística: mil pessoas têm que saber mais

que uma; um milhão sabe mais que uma e assim sucessivamente.

Portanto, entre as pessoas que estão a nos ler, há um ou outro que vai

fazer um comentário e que vai enriquecer aquilo que estamos a fazer.

Até aqui, o que acontecia é que a maioria dos comentários colocados

nas notícias – e vocês podem percorrer os jornais de qualquer país –

não era aproveitado para atualizar a notícia; e isso é uma coisa com

que o jornalismo precisa aprender a trabalhar.

Então, aqui começamos a segunda parte do nosso conteúdo de

hoje: quais são as possibilidades para o jornalismo e para a publicidade.

Em primeiro lugar, quer os jornalistas, quer os publicitários, todas as

pessoas que trabalham no campo da comunicação têm que aprender

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maneiras novas de explorar esses novos canais, considerando que o

jornal, a marca, têm que estar onde está o consumidor, e muitos já

perceberam isso. Por exemplo, em jogos da Fifa, a publicidade está nos

campos de futebol. Se está o público interessado naquele produto, é ali

que as marcas têm que estar. O jornalismo é exatamente igual, tem que

estar onde estão as pessoas. Não adianta continuar fazendo jornalismo

pra dentro; o jornalismo tem um papel social.

Se publicarmos uma notícia e ninguém ler, isso é o mesmo que

não ser publicada. Portanto, é preciso estar nos canais certos, saber

explorá-los. Se as pessoas estão nos celulares, estão nas redes sociais, é

para aí que temos que ir. Isto não tem nada a ver com a natureza do

jornalismo; não estou a falar que faremos jornalismo nas redes sociais. O

que estou dizendo é que o jornalismo tem que estar nas redes sociais, o

que implica necessariamente uma adaptação da linguagem.

Uma segunda linha de raciocínio a respeito desse tema da

oportunidade passa por constatar que o vídeo, as animações, são

provavelmente dois dos conteúdos mais consumidos. Então, por que

não tornar a linguagem mais gráfica? Temos que trabalhar jornalística e

publicitariamente isso. Não significa que vamos abandonar o texto; mas

vamos condensar o texto, acoplando-o a outras linguagens.

Embora pareça que estou fazendo apologia ao audiovisual, é

preciso lembrar que na base do audiovisual está o domínio da língua.

Não vale a pena alguém acreditar que, por saber editar muito bem

um vídeo e dominar perfeitamente os menus, vai ser um profissional de

audiovisual extraordinário. Pode ser um bom técnico, mas um péssimo

comunicador. Aprender os softwares é a coisa mais fácil e são todos

iguais. Um botão pode estar mais à direita, ou à esquerda, em softwares.

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Mas as funcionalidades são absolutamente iguais, a pessoa aprende

com os manuais.

Além de dominar a língua, é importante dominar os conceitos

básicos. Vamos dar o exemplo do vídeo: se manejarem bem uma

câmera e souberem editar, mas não souberem o que é um recorte, não

vão avançar. Tecnologia é importante, mas é preciso saber dominá-la

para adaptá-la. Quem sabe fazer o difícil, sabe fazer o fácil; mas quem

só sabe fazer o fácil, não sabe fazer o difícil.

Uma terceira linha é: tudo isso que estamos a falar é um enorme

grupo de oportunidades profissionais. Necessariamente, vamos ter

que esquecer aquelas profissões tradicionais. Comecem a pensar nas

novas profissões que estão a emergir e que são muito importantes.

Recentemente, fizemos um trabalho sobre emergência de novas figuras

nas redações. O que queríamos entender é quem é que funciona;

antigamente era o jornalista e ponto. Hoje em dia há um informático,

um designer; e o que conseguimos perceber é que toda essa gente tem

um papel importante hoje em termos de notícia. Em primeiro lugar, num

site já não é publicado aquilo que o jornalista acha mais importante;

muitas vezes é aquilo que o público acha mais importante. Assim, a

pauta é alterada por causa do público, não por causa do jornalista.

Da mesma forma, uma notícia chata, que interessa a poucos, quando

é transformada num modelo gráfico passa a ter interesse. Isso é uma

mudança provocada pela emergência dessas novas modalidades de

linguagem.

Para terminar: que tipo de profissionais vocês deverão ser

para conseguir trabalhar nesse novo mercado? Em primeiro nível,

um profissional multitarefa e que domine ferramentas tecnológicas e

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linguísticas, como a língua portuguesa e as teorias de comunicação,

bem como as ferramentas, não em termos do menu, de manual, mas

como elas funcionam para atingir o objetivo.

O segundo nível tem a ver com as plataformas e, aqui,

necessariamente, vocês têm que dominar novas linguagens. É

necessário aprender a contar uma história de diferentes formas. Como

eu disse antes, contar uma história em Snapchat em 15 ou 30 segundos,

ou contar uma história no Twitter é muito diferente de contar uma

história em papel, é muito diferente de contar no online, muito diferente

de contar numa rede social.

Em terceiro lugar e também muito importante é a questão do

empreendedorismo. É cada vez mais importante vocês interiorizarem

a ideia de não têm que ir trabalhar pra ninguém, Globo, Record, nem

de empresa nenhuma. Comecem a pensar em seus próprios projetos.

Provavelmente, vocês têm um potencial enorme, que no meio de

uma redação é desperdiçado. Vocês conhecem isso das teorias da

comunicação: colocados numa redação ou numa agência, começam

a absorver a cultura daquele meio e, provavelmente, a criatividade

começa a se perder. Com isso, o jornalismo e a publicidade não

evoluem, porque vocês são poucos quando entram e encontram um

grupo grande, que os vai aculturar. Então, comecem a pensar em ter

seu próprio projeto: blog, uma presença na web, um público específico.

Hoje em dia é melhor satisfazer bem aos nichos, que satisfazer mal às

massas. Vocês podem gostar de algo que lhes pareça mínimo e pensar

que mais ninguém se interessa por aquilo. Mas, certamente, no mundo

inteiro, há milhares de pessoas que gostam disso, se sentem tão sozinhos

quanto vocês e que estão dispostos a pagar para falar com alguém e

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para ler notícias sobre essa particularidade.

Em resumo, minha recomendação é esta: a base é o

conhecimento que já temos no campo da comunicação. Não interessa

se estão no jornalismo ou na publicidade, dominem as ferramentas e as

plataformas. Não precisam ser super homens nem super mulheres; mas

precisam ser bons em uma ou duas coisas e compreender algo do resto,

o suficiente para falar com o editor de áudio e vídeo e o editor gráfico

ou de web. A esse respeito, o jornal Zero Hora tem um manual muito

interessante, que explica ao jornalista qual tipo de notícia vai bem com

infografia, vídeo, som, numa importante tentativa de construir pontes

entre o jornalismo e a parte gráfica.

Por fim, se vocês têm uma ideia, tentem colocá-la em prática;

não a abandonem, pois correm o risco de mais tarde haver alguém

que aproveite a sua ideia, enriqueça-a, e vocês ficarem frustrados

porque têm aquele emprego normal, quando podiam ter a sua própria

empresa e estar a trabalhar numa ideia vossa.

Deixo aqui uma imagem do laboratório ao qual eu pertenço,

o labcom.ifp, que tem três projetos: a revista online; o bocc; e os

livros, tudo para download gratuito em PDF, pronto para consumir. Há

cerca de 2.500 papers e 300 livros disponibilizados, porque achamos

que o conhecimento só faz sentido quando é compartilhado. Façam

download, enviem-nos propostas, colaborem, vão passar um semestre

conosco, seja nos programas de intercâmbio, seja no mestrado ou no

doutorado. Na Universidade da Beira do Interior, no Labcom, se tiverem

uma ideia, um projeto, contem conosco, estamos lá para ajudar.

Somos uma pequena universidade, de apenas 6.500 estudantes; em

Comunicação, talvez uns 500. Mas, como vêem, trabalha-se muito. E o

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Palestra - O primeiro emprego, e ai?1

Palestrante: Alberto Villas2

Resumo: Ao rememorar sua trajetória inusitada no jornalismo, Alberto Villas traça um paralelo do jornalismo no século 20 frente ao jornalismo atualmente, no século 21. Esse resgate privilegia a memória do primeiro emprego, mas fala também de pró-atividade, criação de projetos, redação, edição, produção. Experiências vividas em impressos e na televisão.

Palavras-chave: Primeiro emprego. Projeto editorial. Impressos. Televisão.

Eu gostei muito quando me convidaram para falar sobre o meu primeiro emprego, porque tenho duas histórias sobre primeiro emprego. Vocês vão sentir como é curiosa a vida do jornalista, sempre com umas pedras no caminho. Você chuta as pedras, e adiante as coisas acabam dando certo. Antes de começar realmente, vou fazer algumas correções ao texto de apresentação. Na verdade, eu não me formei pela UFMG, embora tenha feito o vestibular e estudado lá três anos e meio de jornalismo. Quando estava no último semestre, eu tinha uma participação muito ativa no DCE e era a época da ditadura no Brasil. Essa época era muito tenebrosa, medonha; as pessoas eram abordadas pelo simples fato de estarem conversando em grupo nas ruas. Apesar de eu nunca ter sido militante de organização guerrilheira ou terrorista, fui abordado no centro de Belo Horizonte por dois carros da polícia. Os caras me confundiram com um terrorista que se chamava

1 Transcrição: Cristiane Pereira Nunes Reynoso.2 Jornalista. Repórter da Carta Capital. Colaborador das Editoras Trip e Abril.

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Alemão, e desceram atrás de mim com arma na mão. Eu era muito louro, e então, até eu provar que não era a tal pessoa... foi uma coisa muito complicada pra minha cabeça. E não tinha nada a ver eu ser preso, porque eu não era um guerrilheiro. Naquele dia, eu resolvi ir embora do Brasil.

Em três meses, eu me casei e, na semana seguinte após meu casamento, fui embora pra França, achando que eu ia continuar o curso lá. Cheguei a Paris sem falar nenhuma palavra em francês, e tive que ficar um ano estudando na Aliança Francesa, de manhã e de tarde. De repente, caí na real, eu sabia falar, mas não sabia escrever. Como você entra na universidade com um francês meio precário? Depois de um ano, eu entrei no Instituto Francês de Imprensa e fiz um curso de três anos.

E em mais um ano eu fiz a minha tese, sobre 10 anos de Censura no Brasil a partir do Jornal Opinião, um jornal semanal que havia no Brasil. Ele publicava quatro páginas, e a edição se chamava edição brasileira do Le Monde. Uma curiosidade a esse respeito eram os cortes da censura. Como eu conhecia os originais, sabia exatamente o que tinha sido cortado. O curso é muito diferente daqui, pois é muito teórico, tratava muito das diferentes imprensas: da China, da União Soviética, dos Países do Leste Europeu. Isso despertou em mim uma paixão enorme por revistas, jornais, pelo jornalismo todo. Adoro chegar num país e lembrar o que eu estudei, sei a linha dele, a tradição de cada um deles.

Nos anos 1970, passei oito anos sem vir ao Brasil, uma coisa interessante, pois, naquela época, a gente se desligava de tudo do país, diferente de hoje em dia, em que você pode acompanhar os jornais, falar com a família pelo Skype. A gente se comunicava por carta, porque o telefone era caríssimo; uma carta demorava 10 dias pra chegar, se a pessoa respondesse, eu recebia dez dias depois. Quem hoje tem a paciência de esperar vinte dias pra receber uma resposta?

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A partir de 1976 começaram a aparecer muitos jornais alternativos, além do Opinião, de que falei na minha tese: Movimento, Em Tempo, De Fatos, Versos, Co-Jornal, este último lá no sul. Na Paris daquele tempo moravam 10.000 brasileiros exilados. Era um prato cheio pra quem estava lá fazer matérias pra esses jornais alternativos. Eu comecei a colaborar com esses jornais de maneira completamente artesanal, pois não conhecia ninguém e a maioria deles era feita em São Paulo. As pessoas me mandavam os jornais e revistas toda semana, por navio, pois a via aérea era muito cara, e eu lia esses jornais no expediente. Eu entrevistava muitas pessoas: Brizola, Arrais, Luís Carlos Prestes, e enviava as fotos e as entrevistas pelo correio. Pra minha surpresa, como o assunto interessava a eles, as minhas matérias começaram a sair assim: matérias de capa; entrevista exclusiva. Eles começaram a gostar e me pediam mais matérias. Como a comunicação era muito precária, sem telefone, eu passei a colaborar muito, por escrito, com esses jornais. Curiosamente, passei a aparecer em expedientes de vários jornais que eu nem sabia que existiam, com os quais nunca colaborei. Eles pegavam de outro jornal e colocavam “Correspondente em Paris”, e punham lá o meu nome. Era outro mundo. Nesse trabalho de jornalista, eu não ganhava quase nada; as assinaturas do exterior me pagavam algum dinheiro, mas eu precisava trabalhar na cozinha, construía autoestrada, lavava louças. Quando veio a Anistia, eu resolvi voltar, porque estava todo mundo voltando. Eu sempre fui muito ligado ao Brasil e não tinha interesse de morar na França, nem de ser um cidadão francês. Em 1980, quando eu cheguei a BH, não fiquei satisfeito, pois eu queria ir pra uma cidade maior. Depois de uma semana peguei um ônibus e fui pra São Paulo, ver um grande amigo que morava lá, o jornalista Humberto Werneck. Ele falou que eu podia ficar na casa dele, e eu queria conhecer os jornais alternativos, que, por causa da anistia, estavam quase todos fechando. As pessoas editavam e tinham

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esses jornais, mas normalmente trabalhavam em outros grandes, como Estadão, Folha. Na primeira manhã em São Paulo e já na casa do Weneck, fui ao Estadão conhecer um amigo com quem eu me correspondia. Era o Marcos Ferman, editor do jornal Versos, e fui bater na redação do Estadão pra conhecer o Ferman pessoalmente.

Eu nunca tinha trabalhado numa redação e fiquei espantado quando vi aquilo: era um lugar enorme, uma fumaçada, pois podia fumar na redação, e um barulho infernal de pessoas batendo na máquina de escrever. Era um lugar completamente diferente do que é hoje uma redação. Chegando lá, o Ferman me convidou para um café. Era uma época tão glamorosa, que o café no Estadão era uma lojinha no corredor, tinha um garçom de gravata borboleta que servia café para os jornalistas em xícara de porcelana.

Lá no cafezinho chegou o editor internacional, José Maria Mairin, um jornalista que eu não conhecia. O Ferman me apresentou, e conversando falei que estava procurando alguma coisa para trabalhar. Ele vira pra mim e pergunta se não queria começar a trabalhar no outro dia, pois uma redatora tinha acabado de pedir demissão. Levei um susto e topei na hora. Imagina, eu nunca tinha pisado numa redação, e no outro dia eu estaria ali, trabalhando. Fui trabalhar no Estadão sem passar pelo RH, sem ninguém me pedir documento, nada. Eu entrava às cinco horas da tarde e separava os telex, que era como as notícias chegavam na redação. Eu separava o que era da América do Sul, na época a guerra das Malvinas estava no auge, e distribuía na editoria. Fulano cobre a América Latina, fulano cobre a Europa, Guerra no Oriente Médio. Quando dava nove horas, nove e meia, as pessoas iam embora e eu ficava por conta da primeira página, se acontecesse alguma coisa. Confesso pra vocês que eu rezava pra não acontecer nada; ficava imaginando se dez horas da noite chegasse a notícia de que mataram o presidente dos EUA, claro que eu não iria fazer sozinho, mas já estava tudo fechado. Eu ia embora pra casa assustado, mas

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torcia pra não ver na capa do jornal concorrente a matéria de capa, que mataram o presidente dos EUA. O que acho legal nessa coisa do primeiro emprego é que eu entrei numa coisa assustadora, entrei num jornal enorme, numa redação enorme. Quando eu falo enorme é porque era enorme mesmo, o jornal tinha caderno de esporte, de ciências, de literatura, um jornal imenso, coisa gigantesca. Não me senti intimidado de perguntar o que eu precisava fazer; tinha que separar telex, eu ia lá e separava; e comecei a me interessar. Logo no primeiro dia os redatores começaram a me perguntar: o Gorayeb já chegou, o Lapugi já chegou, o Morabito já chegou? Eu nem sabia o que era isso, mas eram os nomes dos correspondentes, pois tinha correspondente na Itália, no Líbano. Eu tive que fazer um curso intensivo de jornalismo em horas e aprender quem era o correspondente na Itália, em Paris. Aí, eu tive a ideia de fazer o jornal dos correspondentes. Na época não tinha internet. À noite, eu escrevia pra eles e colocava qual era a manchete do Globo, da Manchete, qual era o destaque pra isso, que time ganhou, perdeu, e mandava pra eles toda noite. Eles ficavam empolgados, pois estavam longe, eram notícias que eles não recebiam lá. Nesse clima, uma das redatoras saiu e me chamaram para redigir; então, deixei os telex de lado e passei a trabalhar de tarde na redação. O Estadão era um jornal que não tinha um caderno de artes e espetáculos, e eu sempre gostei muito de literatura de música. Eu ficava incomodado que a Folha era um sucesso com a Ilustrada, o Globo com o Segundo Caderno, mas o Estadão não tinha um caderno de variedades. Aí tive a ideia de propor um caderno de variedades pro Estadão. Uma pesquisa de preferência de leitura tinha sido feita e o resultado era curioso: primeiro lugar o primeiro caderno, depois política e esporte. Variedades estava em 19º lugar; até o obituário estava na frente do variedades. Fui conversar com uma amiga, a Patrícia Mesquita, que é uma

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das herdeiras dos Mesquitas. Como ela era bem jovem, gostava de música. Conversamos primeiro para ver o que ela achava da ideia de fazer um caderno de variedades e começarmos a trabalhar. Daí montamos um projeto pequeno e fomos conversar com o Júlio Mesquita, tio dela. Ele achou que eu podia trabalhar nele, aí eu sai da Editoria Internacional e passei seis meses fazendo o projeto desse caderno de variedades. Era um caderno completo, que ia falar de música, teatro, literatura. Trabalhamos o tempo inteiro nesses seis meses, e a gente contratou um cara para fazer o projeto gráfico, todo ele feito em cima do logotipo, e o caderno foi chamado Etc. Chegamos a imprimir vários números zero, experimentais, e o que ficou mais legal de todos, acho que uma exposição do Picasso em São Paulo na capa, a gente levou pro Júlio Mesquita aprovar.

Eu achei engraçada, e não esqueço nunca, uma frase que ele falou pra gente na sala: “No meu jornal nunca vai ter uma foto colorida”. Isso era em 1986; hoje você pega os jornais, todos coloridos. Pra ele o jornal seria em preto e branco; e ainda bem que o nosso número zero era preto e branco; se fosse colorido, ele iria descartar na hora. Apresentamos o projeto pra ele, que passou página por página, olhou, terminou, fechou e disse: “Está ótimo! Mas faz assim, vai chamar Caderno Dois”. Foi um balde de agua fria, toda a ideia do caderno estava centrada na ideia do Etc, um nome em que a gente apostava. Apesar de estarmos frustrados, a gente nem questionou, saímos de lá correndo e o designer ficou maluco, desfazendo tudo pra sair o tal caderno. E em abril de 86 finalmente o Caderno Dois saiu.

Meu primeiro emprego começou, então, separando telex, depois fui pra redação, aí veio a ideia de ter o segundo caderno. Eu acho que isso foi uma coisa que eu sempre tive, de não ser passivo, algo que era pra fazer eu fazia e pronto. Assim, embora eu não me considere um workaholic, sempre fui muito entusiasmado com o jornalismo. Fiquei um ano no Caderno Dois, editando.

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Depois veio um convite da TV Bandeirante pra fazer um jornal novo que iam lançar, um Jornal de Vanguarda, apresentado pela Doris Giesse, bem moderno, não existia nada assim na época. Eu sou de uma geração que não era contra a TV, Bandeirantes ou Globo, éramos contra o aparelho de televisão, pois achávamos que era uma máquina de fazer loucos, uma máquina de alienação. Em princípio, quando pensei em fazer televisão, fui conversar com o Fernando Mitre. E me senti de novo como no meu primeiro emprego, porque fiquei tão entusiasmado de ir trabalhar com Fernando Gabeira, Paulo Leminski e tanta gente mais, apesar de no Caderno Dois eu trabalhar com pessoas muito bacanas, como o Caio Fernando Abreu. Resolvi depois trabalhar na televisão. Isso era uma sexta-feira, e pensei que eu ia passar seis meses fazendo o projeto do Jornal de Vanguarda. Fui até o Fernando Mitre pra perguntar quando ia estrear o Jornal: a previsão era na segunda-feira seguinte, 11:30 da noite. Quando subiram os créditos com meu nome, editor-chefe, eu nunca tinha entrado numa ilha de edição, eu não tinha a menor ideia do que era fazer televisão, porque ela é bem diferente da imprensa escrita. E pela segunda vez eu me senti no primeiro emprego. Porque era meu primeiro emprego na televisão, e eu estava jogado numa fogueira, me perguntando como é que a pessoa topa ser editor-chefe de uma coisa que nunca fez. A televisão é complicada, não é simplesmente fazer um texto; e depois, quando está no ar, tem edição, tem sonorização, tem o tempo. Eu achava uma loucura: faz o programa com 35 minutos; pergunto se podia ter 37; não podia ter 1 segundo a mais. Eu achava aquilo uma loucura. Mas eu tive sorte de ter uma pessoa que ficou do meu lado ali os dez primeiros dias. É nessas horas que você se sente apertado e que começa a prestar atenção, aprendendo bem rápido. Sem brincadeira, eu aprendi em 15 dias a fazer televisão. Fiquei na Bandeirantes durante um ano e depois fui pro SBT, onde implantei o Jornal do SBT com a Lilian Witte Fibe. Foi uma das

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experiências mais bacanas que eu tive na vida, porque tínhamos uma liberdade total e absoluta, não tinha nada que a gente não pudesse fazer. A Lilian Wite Fibe vinha da Globo e ficou assustadíssima, porque ela era uma comentarista de economia e propuseram a ela fazer um jornal que tinha esporte, música, comportamento, tudo. Ela ficava perdida, e isso fez com que ela desse asas pra gente. Nós fazíamos e ela apresentava o jornal; a gente fez coisas históricas no Jornal do SBT, quando ele entrava junto do jornal da Globo. Como nós tínhamos o minuto a minuto no Ibope, íamos acompanhando; era uma coisa sensacional: a Globo estava com 30 pontos da novela e entrava o jornal da Globo, aí caia pra 18, pra 15. A gente que estava com 5 pontos, passava pra 7, pra 9, até passar da Globo. Era uma festa na redação. As matérias que fazíamos eram até um pouco irresponsáveis pra alguns. Me lembro de que na época, em São Paulo, houve uma matéria com os anões do orçamento, e um dia estourou uma bomba nesse escândalo de corrupção. Fizemos uma matéria inteira, com o off absolutamente perfeito, sem nenhum erro de gravação, e as imagens eram todas dos Sete Anões da Branca de Neve. Por isso a gente passava o Jornal da Globo, porque quem estava assistindo o Jornal da Globo, todo sério, quando ia pra o SBT via aquela descontração toda, não humorístico, mas diferente. Me lembro do dia de um jogo entre Palmeiras e Vasco; não sei por que motivo o Vasco não apareceu pra jogar, acho que era um protesto contra a arbitragem, e o Palmeiras entrou em campo, ficou lá um tempo esperando, a televisão mostrando e tal. Daqui a pouco, os jogadores foram saindo e entrando no vestiário. Aí a gente punha na escalada, assim: o Vasco dá uma de Tim Maia e não aparece pro jogo. A música de fundo era: Me dê motivo.

O jornal era muito legal, realmente ele fez história. A Globo ficou tão incomodada que chamou toda a equipe pra fazer o Jornal da Globo. Em princípio a gente não topou, pensamos que não iríamos poder fazer esse tipo de jornalismo na Globo. Por fim foram seis pessoas,

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pra fazer um novo jornal da Globo, com a Sandra Annenberg. E nunca mais o jornal do SBT bateu o Jornal da Globo, porque o SBT contratou uma equipe normal, e a audiência da Globo é sempre maior do que a do SBT. Fui pra Globo, fiz o Jornal da Globo, depois o Jornal Hoje, e passei uma temporada de quatro meses no Jornal Nacional, substituindo o editor-chefe, que ia sair de licença. E como eu gostava de música e variedade, eles me passaram pro Fantástico, que eu fui fazer numa situação engraçada. Nunca imaginei que pra ser jornalista precisava viajar tanto de avião. Eu era editor-chefe em São Paulo e precisava ir pro Rio de Janeiro três vezes por semana. Passei 10 anos fazendo isso, sem fim de semana. Só por curiosidade fui contar os tíquetes de embarque daquele ano e deram 152; eu não estava aguentando mais. Então, depois disso resolvi trabalhar por conta própria e saí da Globo. Durante o tempo do Fantástico,preciso falar de uma coisa interessante com relação ao primeiro emprego, porque a Globo tem um projeto de trainee. Pra entrar é um vestibular, mas todo ano tem uma equipe nova de trainees, e eles passam por todos os telejornais da Globo. Todo dia primeiro chegavam dois novos estagiários lá no Fantástico. Eram pessoas muito novas, mas aqueles que se destacavam eram contratados, tem uns quatro que estão trabalhando lá até hoje. O tempo de experiência era de dois meses. Eu argumentava com eles que pra mim bastava dois dias pra avaliar, não pra uma avaliação definitiva, mas para saber se o estagiário tinha ou não perfil de jornalista. A experiência que tive com os trainees era engraçada, porque eu chegava pra eles no dia e falava que precisávamos localizar o Antônio Fagundes pra dar uma entrevista. Tinha uns que chegavam no final do dia, oito horas da noite e falavam que tinham deixado um recado na secretária eletrônica; tinha outros que em cinco minutos chegavam e falavam que não o encontraram. Vi uma diferença muito grande entre as iniciativas e, claro, quando você chega no primeiro

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emprego é normal ser muito tímido, mas logo se percebe a pessoa que tem iniciativa pra tentar resolver as coisas e que essa pessoa é jornalista.

Acho que hoje as coisas estão muito mudadas, nas redações vejo as pessoas meio intimidadas, não sei se pela situação política ou do próprio emprego, medo de ficar criando caso e ser demitido, mas eu acho que as pessoas eram mais ousadas, tinham mais coragem. Confesso que eu nunca tive problema na Globo, com relação aos assuntos publicados, nunca fui censurado, mas sinto que a coisa mudou demais porque eu fazia o espelho do Jornal Hoje, do Jornal da Globo, do Fantástico, a gente passava com o diretor de jornalismo, o espelho pronto do Jornal Hoje e do Jornal da Globo, e eu jamais submetia o espelho a eles, fazia o jornal como eu achava correto, punha no ar e nunca tive problema.

Aliás, no Fantástico, tive um problema com aquelas notícias de domingo. Numa matéria de um abraço à Lagoa Rodrigo de Freitas, tinha uma imagem muito forte de um militante do Partido Verde, e os políticos desse partido queriam o contato do editor do Partido Verde que trabalhava no Fantástico, pra valorizar a imagem do partido, fazer propaganda. Confesso pra vocês que 90% das pessoas que eu conheço que trabalham hoje na Globo, que trabalharam comigo são meus amigos, mas eles não confessam em quem votam, ninguém quer chamar a atenção, ficam receosos de se pronunciar, não sei se por causa do mercado trabalho muito restrito, ou se por medo de perder o emprego.

O primeiro emprego, hoje em dia, está no meio de uma grande revolução. No meu tempo, era tudo tão sólido, os jornais empregavam, não havia notícias de cortes, não escutávamos notícias de que estariam demitindo todo mundo, de que estaríamos em crise. Porque as crises sempre existiram, a gente vivia uma inflação de 500% ao mês. Mas os jornais eram muito sólidos, a televisão era muito sólida, sempre houve verba pra fazer tudo, não tinha miserê. Ninguém falava que não iria

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viajar por gastar muito dinheiro, bem diferente do que é hoje. Penso que hoje a pessoa que entra no primeiro ano de Jornalismo tem um dilema pela frente. A gente sabia que ia trabalhar em jornal, em televisão, que ia trabalhar em edição. Mas hoje eu não sei se daqui a cinco anos a pessoa que está pensando em trabalhar em jornal, sabe se o jornal de papel ainda vai existir. A tendência não é catastrófica, a notícia não vai acabar, ai estão os sites, os blogs; mas eu acho que vocês estão no meio da confusão, não tem nada definido. Daqui a cinco anos vão estar consolidado os sites, vai estar consolidada a web. Eu tenho um grande amigo que trabalha em São Paulo e foi passar uma semana na revista Time de Nova York. Ele falou que a revista de papel é 1% da preocupação da Time, que é talvez a revista semanal mais importante de informação, pois eles não pensam mais na revista impressa, el só estão imprimindo a revista por uma questão de praxe. Mas não tem importância nenhuma pra eles, se vendeu, qual tiragem; eles só estão focados na Web, tudo só funciona digitalmente. Aqui no Brasil, não sei o que está acontecendo claramente, mas, se a Folha de São Paulo e o Estadão estão acreditando que não vão acabar, pra mim eles estão com a morte anunciada. Quando eu vejo que os jornais estão encolhendo, me pergunto que dia vão voltar a crescer ou que dia eles vão ganhar leitor com esse encolhimento. Não consigo imaginar como estarão esses jornais daqui a cinco anos. Fico imaginando quem entra no jornalismo agora, em que quer trabalhar, mesmo quem quer focar na web, trabalhar com digital, não está muito formatado ainda, não está muito consolidado, porque naquela época quem tinha um trabalho na Folha, no Estadão ou na Globo, pagava todas as contas. Hoje, se você vai trabalhar na web, corre o risco do seu salário ser menor do que a mensalidade do seu filho, não é uma profissão mais tão rentável. Outro dia eu fui à Rádio Bandeirantes, dar uma entrevista do meu último livro e, quando a gente foi ao estacionamento, tinha vários carrões zero, todos carros de estagiários, porque o pai deu

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o carro, o pai paga a gasolina, o pai paga o IPVA, os carros são dos estagiários que ganham oitocentos reais por mês. Agora, os jornalistas mesmo tinham os piores carros, (falou em tom de brincadeira) e é por isso que as pessoas aceitam trabalhar por esse valor: moram com os pais e não têm preocupações, Na minha época, a gente trabalhava pra viver.

Hoje, o conselho que eu dou para o primeiro emprego é: ousadia. E o segundo é criatividade. A pessoa não pode contar que tudo está na internet, no Google, tem que ter paixão pelo jornalismo. Como exemplo eu posso citar uma entrevista que dei pra revista da Gol, da editora Trip, que me convidou pra fazer o perfil do Ziraldo. Essa tarefa consiste em passar uma tarde com a pessoa e depois falar sobre ela, contando um pouco da sua história. Antes da entrevista, eu passei dois dias e duas noites preocupado com ela, procurei em vários lugares, peguei os livros dele que eu tinha em casa, dei uma olhada de novo, anotei 50 mil coisas. Na realidade eu não precisava fazer nada daquilo, podia simplesmente ir conversar com ele, tanto é que, quando cheguei no estúdio dele no Rio, ele perguntou pelo gravador. Quando eu disse que não tinha levado, ele quase não quis dar a entrevista, porque falou que, mesmo gravando, os jornalistas distorciam o que ele falava. Eu o tranquilizei, dizendo que podia ter certeza de que isso não iria acontecer; e ele começou a falar, viu que eu ia dialogando com ele sobre os assuntos, foi ficando entusiasmado, e eu fiz um perfil muito legal. No fim, ele fez uma carta pra Gol agradecendo a entrevista e eu emoldurei a carta e pus no meu escritório.

Percebo muito que as pessoas vão às entrevistas sem ao menos ler ou escutar algo previamente do entrevistado. Se eu vou entrevistar o Caetano, eu tenho que no mínimo conhecer as músicas dele; mas a pessoa vai sem ao menos ter a curiosidade de escutar o disco novo dele, e mesmo assim tem coragem de ir lá entrevistar. Eu fico muito impressionado com isso porque, se você tem essas informações

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previamente, sua entrevista vai ficar muito boa. Os estudantes de jornalismo têm que pensar muito nisso: pra que lado que eu vou com esse assunto? Esses dias eu recebi um trabalho de uma revista sobre a Nestlé, que vai fazer 150 anos. Bem que eu poderia contar a história da marca, que chegou ao Brasil há 90 anos, há 150 na Suíça, mas preferi dar várias ideias para fazer um quiz, um jogo, fazer uma página reproduzindo as imagens das figurinhas dos chocolates Surpresa, que foi um sucesso no Brasil, e assim você põe a imaginação pra funcionar: a sua e a do receptor. Hoje em dia, a revista que eu mais gosto de ler é a Piauí, eles fizeram um perfil sobre o João Dória, prefeito de São Paulo. O cara é o retrato daquele “cara coxinha”: levaram ele na periferia e ao entrar no escritório ele viu a garrafa térmica e perguntou o que era aquilo. O cara está acostumado ao Nespresso, o jornalista sacou que ele estava acostumado a outro tipo de café, e aproveitou a deixa pra conduzir a entrevista. Tem que por a imaginação pra funcionar. Eu sempre lutei por essa paixão, desde os títulos, que coleciono numa pasta, vou recortando, e alguns são bem interessantes, como um que li na revista Piauí, sobre um roubo de falsificações de obras de arte, que o título poderia ser de várias formas tradicionais, mas o editor colocou: Cuidado, tinta fresca! O cara teve uma ideia inteligente, maravilhosa. É isso que eu acho que tem que acontecer. Boa noite e muito obrigado!

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Workshop - Negocie sem medo: aprenda como a programação

neurolinguística pode ajudar a fechar negócios1

Convidado: Darlan Ferreira2

Resumo: Darlan Ferreira traz uma apresentação sobre a influência

da programação neurolínguística em diversas áreas da vida social

e profissional. Resgata memória de sua trajetória como pessoa de

publicidade interessada em compreender processos facilitadores das

relações interpessoais, pela qual chegou à pesquisa e experiência em

técnicas da programação neurolinguistica. Apresenta essas técnicas

com descrições, casos e interações com a plateia.

Palavras-chave: Publicidade. Programação neurolinguistica. Vendas.

Como já me apresentaram, eu sou publicitário, estou no mercado

já há alguns anos, e minha inserção no mercado foi muito engraçada.

Como o tema Cenários e Oportunidades, o que aconteceu comigo foi

uma grande oportunidade. Eu tive o privilégio de iniciar a minha carreira

como publicitário um semestre antes de iniciar na faculdade. Como

assim? Parece loucura, mas eu costumo dizer que foi um golpe de sorte

que a vida me proporcionou. Um amigo, junto com o meu irmão, foram

fundar uma agência. Esse amigo do meu irmão já tinha uma gráfica

e chamou o meu irmão, que também é publicitário, para abrir essa

agência. Então eles fizeram isso e me convidaram, pois sabiam que

1 Transcrição: Maria Giullia Gonçalves2 Publicitário. Coordenador de marketing promocional da Jovem Pan Brasília e practtionner em Hipnose.

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eu iria fazer faculdade de publicidade e à época eu trabalhava na

procuradoria jurídica do Incra, meio período.

Eles me chamaram e falaram: “A gente está montando uma

agência, a gente quer que você faça parte dela, só que tem um

detalhe: nós não podemos te pagar absolutamente nada.” Eu falei:

“Poxa vida, estava ficando bom e já começou a ficar ruim?” Mas eu

visualizei a oportunidade, fui trabalhar lá e lembro, como se fosse hoje,

do meu primeiro job na agência: servir o café durante uma reunião,

como estagiário. Depois, como a agência tinha sócios donos de gráfica,

fui organizar o almoxarifado da gráfica; esse foi meu segundo job e foi

assim que eu iniciei numa agência. Só que eu sempre soube que um dia

eu trabalharia na área de comunicação. Não necessariamente com

publicidade, apesar de achar que todos nós nascemos publicitários.

Quem aqui é do curso de Publicidade, só para ter uma ideia? E

jornalismo? Alguém de outra área? Qual curso? Economia... uma certeza

que eu tive é que eu jamais seria de exatas. Porque eu sempre sentava

no fundão da sala, e era sempre eu que apresentava os trabalhos na

minha turma, ou seja, eu nunca fazia, mas sempre apresentava. Alguém

aí é assim também? Eu espero que não, gente. E assim eu fui entrando...

E por que eu digo que todo mundo nasce publicitário? Uma das

principais funções do publicitário é anunciar, seja ideias, produtos ou

serviços. E quando a gente nasce a primeira coisa que a gente faz é

chorar, anunciando que está vivo. Se você não chorar, o médico vai

achar que alguma coisa está errada dentro desse processo. Durante

o percorrer da vida, nós desejamos ter profissões diferentes. E aí eu fui

iniciando a minha trajetória dentro da agência, e tive a oportunidade

de passar por todos os departamentos. Na época não existia marketing

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digital, ainda era um sonho distante. Para vocês terem uma ideia, a

principal rede social da época era o Orkut. Não se pensava em usá-lo

na época como uma ferramenta de comunicação de massa, mas hoje

a gente pode entender as redes sociais como tais. Então eu passei por

criação, atendimento, planejamento, produção e mídia.

Na época, existia uma área nas agências que era chamada

de Tráfego, que não existe mais, responsável por fazer a interligação

entre todos os departamentos. E fui indo, até o dia em que precisei

visitar um cliente e fazer um atendimento. Primeiro me deu um

cagaço, com perdão da palavra. Mas fui, encarei, fiz o atendimento,

e, para a minha surpresa, o cliente deu um feedback positivo para a

agência. Frente a isso, os donos me chamaram, perguntaram quanto

eu ganhava no Incra, e pensei: “Ah, vou ser contratado”. E respondi:

“Ganhava quatrocentos e vinte e quatro reais, mais o vale transporte e

o ticket.” “Vamos aumentar o seu salário, queremos você aqui todo o

dia”, responderam. “O cliente ligou, gostou e a gente quer você aqui

full time.” Eu estava indo para o segundo semestre de publicidade e

pensei “Caramba, futuro Washington Olivetto... Quanto vocês vão me

pagar?” “Seiscentos reais.” Poxa, só isso para trabalhar praticamente

de domingo a domingo? Quem já está no mercado sabe que você não

para, a rotina é vinte e quatro horas por dia. Mas falei: “Vamos lá”.

E a gente criou um novo departamento dentro da agência,

que só tinha eu, e era correria. Eu fazia alguns trabalhos da área de

publicidade, e todas as outras coisas que não tinham nada a ver com

publicidade, tipo ser motoboy. Mas fui. Encarei a oportunidade. Através

dessa oportunidade, fui atender a prefeitura municipal de Águas Lindas,

uma conta que a agência tinha acabado de conquistar. O tempo foi

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passando, e também atendi em Santo Antônio do Descoberto. Vocês

viram que eu gosto do entorno, Cidade Ocidental, Novo Gama...

Outro lugar onde eu gostei de trabalhar foi com a Rádio Jovem

Pan. Como consegui um bom relacionamento com a equipe da rádio,

acabei recebendo um convite para trabalhar lá, e não pensei duas

vezes: “Vou trabalhar na Rede Globo das rádios, vou ganhar dez mil

reais.” Mas não. Eu ganhei menos do que eu ganhava na agência, mas

pra mim foi uma experiência extremamente valiosa e eu pude vivenciar

coisas em uma área na qual não tinha experiência ainda: o marketing

profissional. Eu coordenava as “Patrulhas da Pan”, os carrinhos da Pan

que ficam nas concessionárias, na rua, com aquelas modelos bonitas,

e aqueles caras que não são tão bonitos assim, tipo eu. Uma dessas

ações que a gente fez foi aqui na Católica – se não me engano, no ano

de 2012 – o “Vai Lá e Faz”. Veio uma parte da estrutura para cá, veio o

pessoal do Mundo Canibal, enfim, pude aprender várias coisas.

Uma das coisas que eu mais gosto de falar é desse concurso que

eu ganhei quando tinha 14 anos de idade, na cidade de Porto Alegre.

Alguém já imaginou que existe uma cidade que não é no Rio Grande

do Sul que se chama Porto Alegre? E se eu falar que existe uma cidade

com esse mesmo nome em Portugal? Vou explicar brevemente essa

história, que é a seguinte: essa cidade Porto Alegre fica no interior do Rio

Grande do Norte, no meio do sertão nordestino; é uma cidade serrana,

cerca de 780 metros de altitude, e como eles dizem lá é um “achado no

meio do sertão”. Tem cachoeiras, sítios arqueológicos, pinturas rupestres;

é sensacional. Meu pai é de lá. E ele falou: “Vamos para a casa do seu

avô”. Fui passear e acabei morando um tempo lá.

Como a cidade tem um potencial turístico muito grande,

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a prefeitura resolveu fazer um concurso para escolher o slogan da

cidade. Eu não fazia a menor ideia de que um dia eu iria trabalhar com

publicidade, mas resolvi participar do concurso. E foram vários slogans,

alguns bizarros. Como a cidade ficava a uns 1800 metros da praia, tinha

um assim: “Sol e luar, brisa do mar”. E aí eu falei “Poxa vida, nós moramos

numa serra, todo mundo que vem aqui fala que é um paraíso”. Apesar

de ser muito simples, o slogan encantou toda a cidade. Hoje a cidade é:

“Porto Alegre, paraíso serrano”. E eu ganhei uma grana por conta desse

slogan. Na época, 100 reais. Vejam que eu ganho bem em tudo que eu

participo. Na época, 100 reais davam para comprar muita coisa. Dava

para comprar dois tênis naquela época. E assim, eu fui entrando na

publicidade.

Fiz uma formação em hipnose, de hipnotizar, de dormir “bem

dormido, bem dormido, bem dormido”, aquilo lá mesmo. A hipnose

tem vários conceitos, e um deles aplico em negociação, com a

fundamentação da programação neurolinguistica.

Mas, afinal, o que vem a ser programação neurolinguística?

Em primeiro instante, vocês podem achar que é algo surreal, algo que

envolva computação, psicanálise, um monte de maluquices por ter um

nome muito grande, então chamamos de PNL.

E como é que surgiu essa que é tida por muitos como uma

ciência? Nos anos 1970, através de dois pesquisadores, John Grinder

e Richard Blander. Um era formado em computação, e o outro era

professor de linguística. Estavam fazendo um experimento, observando

alguns psicoterapeutas da época (Fritsch Spells, Regina Satin e Milton

Ericsson - que é considerado o pai da hipnose) que tinham resultados

muito acelerados em seus processos de terapia. Então, Blander e

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Grinder começaram a observar o que eles faziam para alcançar

resultados positivos com tanta rapidez. E chegaram a um dos conceitos

da PNL, que é a modelagem. Ou seja, se você copiar o modelo de

alguém que faz algo com perfeição, se você copiar esse método, sua

chance de fazer isso acontecer e ter resultados positivos também são

altas. Então Blander e Grinder não só tiveram os mesmos resultados

como conseguiram aperfeiçoar as técnicas. A partir daí, eles poderiam

observar várias coisas; e por isso chegaram no nome de programação

neurolinguistica, que envolve a nossa neurologia, nosso sistema nervoso,

a maneira como a gente pensa e a maneira como o nosso corpo

transmite toda essa gama de informações.

Dentre outras coisas, a PNL aborda seu comportamento não

verbal, que é muito importante nos negócios e no dia a dia. Como

assim? Muitas vezes o seu corpo está dizendo uma coisa totalmente

diferente do que aquilo que você está falando.

Quem lembra do Chaves, que falava: “Está tudo bem? Está.

Vamos? Vamos”. Mas é claro que o seu corpo não manda sinais tão

óbvios, e sim os mais sutis, que nem todo mundo consegue perceber. Por

isso que é importante quando estamos num processo de comunicação,

em negociação, que o nosso corpo diga a mesma mensagem que a

gente está expressando verbalmente. Tem que haver uma congruência

entre o verbal e o não verbal. E, dentro de uma infinidade de coisas, a

PNL vai te passar algumas estratégias para que a gente consiga puxar

esses sinais que as pessoas transmitem e, mais do que isso, passar sinais

para essa pessoa, para que o inconsciente dela consiga entender o

que a gente quer dizer.

Quando a gente fala de neuromarketing, as pesquisas mostram

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que mais de 95% dos processos de intenção de compra são totalmente

inconscientes. Você compra. Mulher tem muito disso: vai em todas as

lojas, não foi para comprar nada, mas compra um monte de coisa e tudo

isso de maneira inconsciente. Não estou dizendo que o homem não faz

isso; faz, sim, principalmente quando quer colocar algo no carro, quer

trocar a roda, o som... Todos nós passamos por esse processo, todos nós

realizamos compras de maneira inconsciente. E como posso falar com

tanta certeza? Vou falar de uma marca de refrigerante que tem um

sabor muito bom. Que mata a sua sede. Que refresca. Que delícia tem

esse copo de... [Aluno na plateia responde Coca-cola]. Mas como ele

falou Coca-cola, se temos o Dolly, o Mineirinho? No tempo em que eu

era moleque tinha o Jaó, o Baré. Mas porque o Lucas falou Coca-cola?

Porque é a marca que mais está presente em nosso inconsciente. É uma

das marcas que mais investem em publicidade.

Mas como vocês, igualmente a mim, que não temos toda a

grana da Coca-cola para investir em publicidade, podemos fazer para

que a nossa marca fique latente ali, nas pessoas? Hoje vocês vão saber.

Para exemplificar a questão da modelagem, eu gosto muito desse vídeo.

Nele vamos ter dois personagens, Kobe Bryant e Michael Jordan, dois dos

maiores nomes do basquete mundial. Jordan, disparado em primeiro

lugar, tido como Pelé do basquete, e o Kobe é como um Maradona,

um Messi, que também têm resultados extraordinários. Queria que vocês

observassem a semelhança dos movimentos e jogadas desses dois

atletas. Vale lembrar que o Kobe é de uma geração um pouco após

o Jordan. Observem os gestos que Kobe Bryant modelou de Michael

Jordan. Será coincidência uma maneira de jogar tão semelhante? Isso

é um pouco do processo de modelagem. Mas como a gente aplica isso

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ao nosso processo cotidiano?

Vou fazer um questionamento para vocês, que sempre faço em

minhas palestras. Como eu disse no começo, o objetivo aqui não é que

vocês saiam experts em negociação, não apenas isso. Eu quero que

hoje vocês possam sair daqui com o pensamento mudado, pois esse é

o objetivo da programação neurolinguística: mudar a nossa maneira de

pensar. E estou falando isso por um simples fator: se você não mudar

sua maneira de pensar, posso vir aqui passar técnicas extraordinárias,

os maiores milionários podem vir aqui ensinar estratégias, e não vai

mudar absolutamente nada. É mais uma questão de atitude, porque

fizeram vários estudos e observaram o comportamento dos milionários

norte-americanos. O que perceberam é que todos tinham as mesmas

características, a mesma rotina. Existem vários livros e artigos ensinando

como se tornar milionário e todos vão falar a mesma coisa, vão dar os

mesmos hábitos dos milionários.

Existia um escritor chamado Napoleão Hill. Ele estudou durante

anos a vida dos milionários norte-americanos, a fundo. Começou a

modelar todos esses milionários e percebeu que todos tinham os mesmos

hábitos, como levantar cedo e praticar uma atividade física. Manter

hábitos é um dos princípios. Se você começar a copiar os hábitos das

pessoas de sucesso, fatalmente você terá sucesso. Bill Gates, Stevie

Jobs, toda essa galera tem mais ou menos os mesmos hábitos. Os ceos

das grandes empresas acordam cedo, fazem uma atividade física,

tomam café da manhã, planejam o dia, o que não executam jogam

para o outro dia. Eles têm um controle muito firme do que fazem e, além

de tudo, acreditam em si mesmos e no produto que estão vendendo.

Hoje, a gente não está passando técnica para você vender um

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produto, vamos passar a técnica para você se vender, vender o seu

produto, que é você mesmo. Mas porque eu digo tudo isso? Porque

um dos principais pilares disso tudo é a confiança. E entro em mais um

questionamento: “Qual é o seu sonho?”. Provavelmente, quem já está

pertinho de terminar a faculdade, no 7º ou 8º período, quer chegar

ao final do curso e falar: “Vou sair do mesmo jeito que entrei, só um

pouco mais estressado, morrendo de raiva daquele professor que não

me ajuda em nada...”? Ou você quer sair daqui assim: “Vou montar

meu negócio, vou abrir minha empresa”. Qual é o seu sonho, o que te

move? Se é para sonhar, vamos sonhar grande, sabe por quê? Porque

a gente tem a tendência de olhar sempre o copo meio vazio. E sem

confiança no seu sonho, sem confiança em você, ninguém vai querer

comprar o seu produto, ninguém vai querer comprar você.

Vou passar outro vídeo que expressa o que é confiança, porque,

sem confiança, não se vai a lugar nenhum. Esse mesmo Napoleão Hill,

que fez os estudos sobre os milionários, começou a observar as pessoas

que não chegaram lá, as pessoas que não conseguiram ter êxito. E uma

característica inerente a todos os fracassados é andar cabisbaixo, pois

as coisas não estão dando certo. Enquanto as pessoas que chegaram

ao sucesso sempre andam de forma confiante, mesmo sem ter chegado

ainda ao sucesso. Isso mandava mensagem ao inconsciente para que

ele ficasse mais animado, mais motivado e acreditasse diariamente

nos seus sonhos; diferente do fracassado, que caía a primeira vez e

falava “não vai dar certo, vou desistir”. Se você for analisar os grandes

empresários, eles caíram e se levantaram várias vezes. Pouquíssimas

pessoas chegaram até o final, do início ao fim, sem nenhuma quedinha.

Sempre eles vão para cima, para baixo... Aquele que é mais resiliente é

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o que chega no final.

Mas o que isso tem a haver com o que a gente veio ver aqui hoje?

Tudo. Confiança e sonhos têm tudo a ver. E aqui mais especificamente a

gente entra nas técnicas de PNL. Sabe aquela pessoa que todo mundo

gosta dela de primeira? “Gostei desse cara, gostei dessa menina, gostei

desse professor”. Sempre não tem um professor de quem a gente gosta

mais? Não tem sempre um professor que a gente odeia muito? Por que

que isso acontece? Existe uma coisa que a gente chama de empatia.

Então, como você pode vender algo para alguém, ou convencer

alguém de uma ideia em um primeiro instante? Tendo essa empatia,

entendendo que empatia é algo que se adquire com o tempo. Para

gostar de uma pessoa leva um tempo; mas você sentir: “Nossa, gostei

dessa pessoa”, isso pode acontecer de maneira instantânea. Isso a

gente chama de rapport.

Rapport é uma palavra de origem francesa que não tem

tradução, como saudade, que só existe aqui no Brasil. Rapport é esta

empatia, é esse estabelecimento de confiança de primeira. “Mas

Darlan, pelo amor de Deus, como eu posso fazer isso?” Simples. Agora,

vou ensinar uma técnica para vocês utilizada por muitos políticos, por

vários homens de negócios, por hipnotistas, psicólogos, psicoterapeutas,

por todas aquelas pessoas que necessitam gerar confiança, de gerar o

que a gente chama de “rapport instantâneo”. Mas, para isso, eu preciso

de uma pessoa para vir aqui na frente. Fiquem tranquilos que não vou

hipnotizar ninguém.

[Aluno sobe ao palco, palestrante o cumprimenta]. Primeiro eu

vou fazer a técnica e depois vou explicar todas as coisas que eu fiz na

abordagem, ok? Qual o seu nome? [Aluno responde: Eliezer]. Nunca vi

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Eliezer na minha vida, ele é um cliente que ligou e quer ver meus produtos.

Só para explicar o que aconteceu aqui, alguém conseguiu reparar em

alguma coisa? O nome disso é empatia, olho no olho. Agora vamos para

um tutorial. No primeiro momento que eu cumprimentei ele aqui, eu me

importei com ele, me interessei pelos interesses dele. Digamos que eu

sou a agência que vai cuidar da publicidade da cachacinha artesanal

que ele produz lá na fazenda; aí eu descobro que ele gosta de montar

a cavalo e interajo com isso. Por um instante, ele vai esquecer que eu

estou ali para vender o produto para ele. Eu crio uma afinidade com

o Eliezer, eu passo a ser integrante do mesmo pensamento dele. Teve

uma outra técnica que eu utilizei, que a gente vai falar um pouquinho à

frente, que também faz parte desse processo.

Agora vamos às explicações. Primeiro, eu não cheguei falando:

“Olá meu nome é Darlan, tenho uma agência tal.” Primeiro você

precisa saber da pessoa, precisa se importar genuinamente com ela,

não precisa ser falso. Quem vai muito na balada aqui? A afinidade

que você tem na balada com seus amigos tem que ser a mesma que

você tem com seu possível cliente, com a possível pessoa que vai te

contratar. É obvio que você não vai chegar se abrindo para a pessoa,

sendo invasivo. Você tem que ter cuidado para saber o que perguntar,

para não ser intrometido demais, gerar uma primeira conversa. Depois

vocês entram propriamente na história de vender o produto. O cliente

fala: “Estou aqui para vender uma cachaça artesanal”. Então você

responde: “Cachaça se fabrica em fazenda; você é fazendeiro?”.

“Não,meu pai é fazendeiro”. “Legal. Você gosta de montar a cavalo?”.

E o cara já esqueceu de vender. Mas e se a pessoa não me deu papo,

o que foi que eu fiz? Elogie. Além do sorriso; pois claro que você não vai

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vender nada assim: “E aí, vai querer comprar ou não? Se não, pode ir

embora para eu ganhar tempo”. E está cheio de vendedores assim.

Gente, foi feita uma pesquisa em que se descobriu que, no

Brasil, nós temos os piores vendedores, mas isso é paradoxal, pois nós

somos o povo mais feliz desse mundo. Como assim? Vender é algo

complicado, nem todo mundo tem o tino para essa questão da venda.

Tem gente que vende por obrigação, não faz do seu trabalho algo

prazeroso. Vamos supor você entrou no escritório do cara e já viu que

ele é carrancudo. Então, observa o que tem no escritório dele: Tem um

quadro? Um enfeite na mesa? Tem foto dos filhos? Já dê uma quebrada

depois desse primeiro contato; fale: “São seus filhos? ” Crie vínculos com

essa pessoa para você poder conversar com ela, trocar uma ideia

bacana, e aí ela sentir essa empatia por você, gostar do papo. Aquele

cara que vai pra balada e a primeira coisa que ele faz é elogiar o

cabelo da menina: “ Seu cabelo é bonito, combina com seus olhos, seu

brinco”. E a menina fala: “nossa, ninguém reparou no meu brinco!!!”. É

surpreender. No processo de negociação você tem que surpreender

de maneira positiva. Criou o elo? Então agora vou mostrar para vocês

algo bem interessante.

Alguém reconhece esse sujeito? [Imagem]. Ele é o ex-ministro

Joaquim Barbosa; tipo, o Batman brasileiro, tido como uma das pessoas

mais sérias do país, Nem o pessoal do Pânico quando entrevistou ele

conseguiu fazer com que ele desse essa gargalhada aí. Eu consegui

essa façanha num evento em que eu estava trabalhando em Aracajú,

e ele estava palestrando. Agora, repare nesse quadro aqui todo o meu

processo de abordagem com ele. Vale lembrar que ele tinha dado uma

hora de palestra, tinha acabado de dar uma entrevista para a TV da

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universidade onde estava acontecendo a palestra. Era proibido entrar

para tirar foto com ele e entrou um monte de gente. Era um evento

organizado pelos deputados estaduais que estavam tentando tirar foto

com ele, e estava meio impaciente quando cheguei para fazer a mesma

coisa. Olhem meu primeiro contato com ele aqui: ele me olhando com

a cara de quem ia me prender igual ao cara do mensalão. Continua

querendo me prender. Mas, detalhe, olha minha mão direita na mão

dele, e minha mão esquerda no ombro dele. Antes disso eu já tinha

dado aquele toquinho no cotovelo dele. É, rápido você não vai chegar

na pessoa assim: “E aí, vamos negociar? ”. É inconsciente, a pessoa

nem percebe. Não vai para bater na pessoa. E aí pensei: “Meu Deus, é

uma das pessoas mais importantes do mundo, o que que eu vou falar

para esse cidadão? Não posso elogiar o cabelo, por que ele não tem.

Vou falar dos óculos dele?” Às vezes o cara odeia usar óculos. Aí eu fui

sincero com ele.

O elogio, gente, tem que ser sincero. O homem sabe, e a mulher

também sabe, quando um dos dois está mentindo para o outro ao

elogiar. E todo mundo sabe quando dá aquele elogio falso: “Está bonita,

hein, amor?” Mas acha que ela está parecendo um boi. A mulher sabe.

Parecendo um boi ficou na mente dele, e a mulher sente: “Ah disse que

eu estou gorda”. E aí o que acontece? Voltando ao Joaquim Barbosa,

cheguei para ele e falei: “Ministro, sou seu fã. Você mudou a história do

nosso país. Você teve coragem de fazer o que ninguém teve.” Aí ele:

“Ah, é mesmo?” E eu falei: “É, quando o senhor estava presidindo o STF,

eu assistia várias sessões através da TV Justiça. Vibrei no mensalão e

estou ligado que” – falei desse jeito mesmo – “estou ligado que o senhor

tem dor na coluna, então já vou sair daqui, pois o senhor pode estar

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com as costas doendo”. E aí ele: “Não, fica tranquilo”. Um monte de

deputados querendo tirar foto com ele e eu trocando ideia. Falei: “O

senhor deveria estar aí para organizar este país, vamos ser presidente”.

E ele: “Não, meu querido. Ser presidente não é para mim, não...”

Falei: “sou seu fã mesmo, obrigado pela atenção”. E aí ele perguntou:

“você faz faculdade de direito?” Eu falei: “Não, eu fiz faculdade de

publicidade” Então ele: “Está na hora de mudar, rapaz”. Aí eu falei:

“não vou mudar não, vamos tirar uma foto aqui comigo. Gente, alguém

tira uma foto aqui?” Aí pronto, ele ficou rindo, ria demais.

Todos os jornalistas que estavam lá tentando entrevistar, pois ele

não dá entrevista, ficaram perguntando para mim: “o que você disse

para ele?” Falei: “é segredo, sou brother dele das antigas, ele não dá

essas afinidades assim para todo mundo”. Não disse nada de mais, só

elogiei o cara, falei “sou seu fã”. Quantas pessoas já falaram isso para

ele? Acho que todo mundo que trabalhava com ele falava: “Batman,

sou teu fã moleque”. Isso é a comprovação daquilo que a gente

acabou de fazer aqui.

Agora, por que esse toque aqui no cotovelo? Quem tem filho?

Tem alguém aqui que é pai, mãe? É menino ou menina o seu filho?

Menino, qual a idade dele? 10 anos. Quando ele começou a andar,

que ele ia cair, você estava do ladinho dele, quando ele ia cair,

aonde você segurava? No cotovelo. Você já segurou no cotovelo do

seu filho alguma vez? Quando a pessoa toca aqui no seu cotovelo,

inconscientemente você lembra da sua mãe e do seu pai, daquela

pessoa que te passava segurança. É o que na PNL a gente chama de

toque não-sexual, um toque sutil. Então isso vai para o seu inconsciente,

e a sua mente entende “posso confiar nessa pessoa”. Quem tem

Page 64: Anais - Secomunica 2016

63

contato com muitos políticos sabe disso, e o bom político nasce com

isso nele. Chamo outra pessoa da plateia para a gente fazer esse toque

do político aqui. Alguém pode vir aqui? [sobe um rapaz] “Seu nome?”

“Raul”. Uma salva de palmas para o Raul, por favor.

Oitenta por cento dos políticos cumprimentam o eleitor assim e

muitos deles nascem com isso instintivamente; outros, aprendem isso. Eu

já dei cursos para vários políticos, de como eles devem cumprimentar

as pessoas. Do que eles devem falar para as pessoas. Algumas palavras

mudam totalmente o sentido da frase. Algumas palavras levam você

a fazer um questionamento inconsciente. Imagine só você estar aqui

nessa palestra sobre técnicas de negociação com programação

neurolinguistica, pensando, em “como posso utilizar isso na minha

vida?”. Já falei quatro técnicas desde que comecei a falar com vocês.

Uma das técnicas que eu usei com o Eliezer é esse frangir das

sobrancelhas aqui. Ele é chamado de eyebrow flash. Como os cientistas

descobriram isso? Eles observaram o comportamento dos primatas, dos

orangotangos, e perceberam que quando uma galera de orangotangos

se encontrava com outra galera no meio da floresta, os orangotangos

faziam assim um para o outro para se identificar. Os pesquisadores

começaram a estudar e a analisar todos registros cinematográficos que

existem no planeta e perceberam que nós, seres humanos, também

fazemos isso quando encontramos uma pessoa que tinha tempo não

víamos ou quando a gente conhece alguém. Já percebeu que quando

alguém te cumprimenta e você não faz a mínima ideia de quem é, você

faz cara de: “quem é esse cara?” Agora, se a pessoa que você não

conhece olhar para você e fizer assim [imagem ] e você pensar: “Quem

é essa pessoa? opa, acho que eu conheço ela de algum lugar...”. Aí

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64

você olha para o lugar onde a pessoa está e pensa: depois eu vou lá”,

você já vai ter na pessoa a reação de: “Quem é essa pessoa? acho

que eu conheço ela de algum lugar...”. A gente ativa na pessoa o que

a gente tem chamado de canal visual.

Já percebeu que, quando você quer lembrar de alguma coisa,

você faz isso aqui: [imagem]. “Hum, não sei, talvez...” Quando você

levanta isso aqui é para tentar puxar na memória alguma lembrança

daquela pessoa. Então, quando a pessoa chega para você e faz isso

[imagem] não é para ser invasivo: “ele tem que saber quem sou eu, tem

que lembrar de mim! ” Não, não é isso, é sutil. Não é aquela piscadela

assim [imagem]. Está na balada? Dá uma piscadinha para aquela gata

ali. Ele não dá uma piscadela assim [imagem], só uma, e vira o rosto

para a menina, que vai estar fazendo assim com o cabelo [imagem].

Então esse eyebrow flash tem que ser sutil.

Quando eu cumprimentei o Eliezer, eu “opa! ”. E levantei as

sobrancelhas. Quando você faz isso e começa a conversar com a

pessoa, o inconsciente dela percebe: “Quem é essa criatura? Eu

conheço de algum lugar, mas não faço a mínima ideia da onde seja”.

Aí você conversa, fala da cachaça, fala do cavalo, fala da fazenda, e

quando ela vai embora, você fica: “De onde eu conheço ela?” E ativa

seu inconsciente. Esse é o eyebrow flash que faz parte daqueles três

toques. Entramos em um outro conceito.

Vale lembrar: nós funcionamos através de canais de

comunicação. Esses canais de comunicação são visual, auditivo e

sinestésico e são canais inespecíficos. Quando você está falando com

alguém, percebe que há pessoas visuais. “O que é isso?”. Uma pessoa

visual é daquelas que tudo que ela fala, já está imaginando. Pessoas

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65

auditivas são as que é mais fácil você se comunicar com ela através

de sensações sonoras. Pessoas sinestésicas têm um gosto especial

por emoções e tudo aquilo que esteja relacionado com coisas físicas

e manuais, se ligam mais pelo sentimento. Claro que a gente tem de

tudo um pouco. Então, quando você consegue estar no mesmo canal

de comunicação, ou seja, na mesma sintonia, há uma conectividade

entre vocês, esse rapport aumenta.

Exemplo: você vai falar com uma pessoa que está no canal

visual. Como é que você observa que ela está no canal visual? Tudo

o que você fala, ela fica olhando para cima com aquele ar de “hum,

pode ser”. A pessoa que é mais auditiva tende a inclinar mais o ouvido

para você. A pessoa que é mais sinestésica tende a se proteger ou ficar

tocando no próprio corpo; está aqui conversando com você e está de

braço cruzado, de perna cruzada. E isso é curioso, porque todo mundo

mexe as pernas e os braços. Acho legal essa parte, observar uma pessoa

porque ela está ali tocando o queixo de alguma maneira. “Mas como

identificar isso, Darlan?” Observação. É aí que você começa a se importar

com a pessoa, e ela percebe isso, que você está na mesma sintonia que

ela.

Então aqui tem algumas dicas, algumas palavras, de como você

pode se conectar com as pessoas nos vários níveis de comunicação. E

qual é o ideal? Você trazê-la para o canal que você domina mais. Se

você é uma pessoa sinestésica, tende a falar mais palavras como tocar,

relaxar; então, você tende a ser sensível. Por exemplo: A pessoa está lá,

no visual. Você está conversando com ela, e ela está imaginando coisas.

Você percebe que ela está olhando para cima, que ela está “viajando”.

E aí você fala: “Fulano, você já sentiu alguma coisa assim? ”. Pronto,

Page 67: Anais - Secomunica 2016

66

agora você já entrou no mesmo canal que ela. Você “Ah, já senti e tal,

não é estressante? ”.

Quem usa muito essa técnica são vendedoras de carro. O

vendedor de carro, quando você vai comprar um, aborda você, faz um

monte de pergunta que você acha que não tem nada a ver: “O carro

é para você? Você gosta de viajar? Sua mulher vai andar no carro? Sua

mulher gosta de carro? Sua mulher gosta de que cor de carro? ” Para

tentar fazer uma leitura de como você é. Por que o bom vendedor, se

ele identifica que você é um cara visual, uma pessoa visual, ele não deve

falar: “entra nesse carro aí, sente esse banco te abraçar”. Se ele percebe

que você é visual, ele deve dizer: “Senta no carro, senta aí, pega no

volante. Agora imagina você viajando com esse carro. Você é solteiro?”

“Sou.” “Imagina as gatinhas te dando mole com você nesse carro.”.

Imaginar, olhar, pense, perceba. O perceba entra aqui no inespecífico,

que você não identificou em qual canal a pessoa está. Você vai jogando

as palavras até descobrir onde ele está.

Mas o corpo fala. Por quê? A pessoa pode estar conversando

com você ali e aparentemente estar dando ideia de que se interessa

pelo que você está falando. Mas, no fritar dos ovos, ela está sem se

importar.

Mais uma pessoa da plateia para ajudar nesse exemplo. [sobe uma

moça] Tália. Prazer, salva de palmas para Tália. Tália está conversando

comigo na balada, e eu estou conversando com ela assim [imagem]:

o meu corpo está todo para cá, doido para meter o pé. Agora, se eu

estou aqui [imagem], toda a minha atenção está voltada para ela. Pode

acontecer isso aqui [imagem], fingir que está mais ou menos. Perfeito?

Então o seu corpo vai mandando sinais e o inconsciente da gente lê isso.

Page 68: Anais - Secomunica 2016

67

Obrigado, Tália.

A pessoa mais treinada percebe isso e tenta mudar esse

estado. E ela vai emitindo sinais. Aqui, a principal técnica de rapport,

a cereja do bolo quando você está numa negociação, que se chama

espelhamento. Quem já assistiu um filme chamado Golpe Duplo, com

Rodrigo Santoro e Will Smith? Durante o filme, Will Smith utiliza várias

técnicas de programação neurolinguística. A principal delas é o

espelhamento. Quando eu estava falando com Eliezer, ele estava com

um movimento nas mãos; quem lembra? E eu estava fazendo o mesmo

gesto que ele. O espelhamento consiste em você copiar, literalmente,

o que a outra pessoa está fazendo.

Esse espelhamento pode ser no comportamento da pessoa;

quando você está na negociação com uma pessoa sentada, ela vai

lá e fica batendo a caneta. Você não vai ficar batendo caneta com

ele para virar um batuque, para não virar um olodum. Sutilmente você

pega a caneta e fica com ela na mão. Finge que está rabiscando

alguma coisa no papel.

Mas não necessariamente você precisa espelhar apenas o

gesto da pessoa. Você pode espelhar a maneira com que ela fala.

Tem pessoa que fala mais acelerado, e vai falando, falando, falando, e

você fica até cansando de tanto que ela fala rápido. E aí você vai falar

com ela e pensa: “o que vou falar agora?” Aí você entra na mesma

vibe dela. Igual mulher quando está brigando [imagem]: “Por que você

curtiu aquela foto lá?” Aí o cara fala: “que foto? ” [imagem]. Eles não

estão na mesma sintonia. Então se a pessoa está falando acelerado, o

que você faz? Se você identifica isso, pode igualar a respiração com

a pessoa. Se a pessoa gosta mais de falar na manhã, vai falando com

Page 69: Anais - Secomunica 2016

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ela assim também, que você vai estar na mesma sintonia que ela. Ah,

mas se ela gosta de falar alto? Aí meu amigo, você vai ter que usar o

jogo de cintura, fala baixinho, sem que ela perceba que você está. O

espelhamento tem que ser sutil. A pessoa não pode perceber [imagem];

preferencialmente você espelha a pessoa enquanto ela estiver

falando. Tira a mão um pouquinho, disfarça quando a outra pessoa

começar a falar. Vocês podem fazer isso, gente. Faça isso hoje quando

chegar em casa, comece a conversar com alguém e deixa a pessoa

falar. Sutilmente, comece a espelhá-la. Depois comece a falar com ela

normal e faça um gesto. Ela tende a fazer a mesma coisa com você.

Ela tende a espelhar você. Como eu faço esse espelhamento? Por que

você deve fazer esse espelhamento? Quando a pessoa está falando,

pois quando ela está falando, ela está concentrada em formular as

frases, em buscar palavras. Então ela começa a perceber menos o que

você está fazendo.

Agora, se você a estiver espelhando enquanto você fala, ela vai

perceber na hora, porque ela está concentrada em você, concentrada

em seus gestos e ela vai perceber que você está fazendo os mesmos

gestos do que ela. Então a pessoa está falando com você; se ela cruzou

uma perna, você pode cruzar um braço; você pode espelhar as palavras

que ela fala. Você pode identificar alguma coisa no vocabulário dela

que ela fala com frequência. Se a pessoa gosta de falar “veja bem”, ela

fala: “veja bem, eu tenho uma cachaça artesanal”. Quando o diálogo

vier para mim, eu posso falar: “Eliezer, veja bem, se a gente fizer assim”.

Aí, se cria de novo esse rapport, essa conexão com a pessoa.

Recapitulando, você pode espelhar os gestos da pessoa, a

respiração, as palavras e os comportamentos, perfeito? Nisso tudo,

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vocês devem estar pensando que é muita coisa, como vão lembrar disso

tudo? Com o tempo, isso passa a ser algo natural. Vai ser instantâneo,

vai ficar dentro da sua persona, vai fazer parte de você. Lucas [do

cerimonial], quando eu cheguei, você lembra a primeira coisa que

eu fiz com você? Aí, o Lucas me cumprimentou, e isso já virou normal

para mim. Treinei as primeiras vezes e hoje já está no automático. Vai

fazendo parte da sua personalidade. E eu peguei manias com isso. Está

todo mundo conversando, e eu fico olhando para ver se a pessoa está

concentrada de fato no que eu estou falando. Quando vejo que não

está, tento trazer a pessoa para o que eu estou falando, ou eu já meto

o pé, já saio, já encerro a conversa.

Dar palestra, falar em público, é uma das coisas mais difíceis do

mundo. Falar em público é o segundo maior medo das pessoas. Só fica

atrás do medo da morte. Uma pesquisa identificou que medo maior no

mundo é de morrer. Quem gosta de falar em público levanta a mão.

Pronto, TCC. Quando eu falei para vocês, lá no início da palestra, que

eu queria que vocês saíssem daqui com algo transformador e eu falei

de sonhos, e falei de confiança, não é só para você negociar, não é só

para você montar seu startup, não é só para você tentar uma entrevista

de emprego, mas é para a vida.

Imagina você entrando para apresentar seu TCC depois de

quatro anos de jornada. Como você vai para o TCC, depois de quatro

anos? Você pensa: “É hoje, se eu não passar aqui nesse negócio, vai

dar ruim!”

Realizaram outra pesquisa e analisaram o índice de assimilação

de conteúdo de diversos palestrantes. Já viram palestrantes e instrutores

que entram para dar um curso de cabeça baixa? Quem já entrou para

Page 71: Anais - Secomunica 2016

70

fazer um trabalho assim? Lá no ensino médio mesmo? Grupo tal, e você

vai lá para a frente bem assim: “eita ferro”. O que a pesquisa identificou

é que as pessoas que iam dar curso assim tinham 30% a menos da

retenção do público. Ou seja, no dia do seu TCC, entra fazendo um: “e

aí professor? Está preparado para a melhor apresentação da sua vida?”

Lógico que você não vai entrar nessa algazarra toda; comedido, porém

de cabeça erguida. No meu TCC, estudei o terceiro setor, foi um TCC

para uma ONG. Na faculdade onde estudei, você pode fazer como se

fosse uma agência, você faz em grupo e monta uma agência (Uma boa

ideia aí, se os professores estiverem ouvindo: é uma boa ideia, a turma

interage). Foi extremamente difícil, meu grupo estava extremamente

desesperado. Mas tinha a opção também de você fazer sozinho. Só

que, fazendo em grupo, as chances de você fazer um bom trabalho é

muito maior. Você é cobrado a mais.

E quando estava no dia de apresentar o TCC, meu grupo estava

desesperado. Primeiro, porque só eu gostava de falar, como vocês

podem ver. As outras pessoas tinham aversão, mas eram obrigadas, se

não, tinham nota reduzida; e por ser TCC eles estavam se cagando

mesmo. Comecei a falar: “gente, vai dar tudo certo, vai ser bom, a gente

vai fazer o melhor TCC. Caramba, olha o tanto que vocês estudaram”.

Dei um gás na galera e eles entraram falando, e a professora até

estranhou: “Nossa!”. Então, no dia do seu TCC, entra com confiança,

mesmo se o seu trabalho estiver ruim. Mas gente, não vá com trabalho

ruim pro TCC, pelo amor de Deus!

Por que eu bato tanto nessa tecla da confiança? Porque as

coisas não são tão fáceis assim. E quando você está num processo de

vendas, você receber o sim é muito difícil. Um ditado popular diz que

Page 72: Anais - Secomunica 2016

71

“O não a gente já tem”. Mas eu vou falar para vocês que existe uma

técnica para isso. Vamos contextualizar como se fosse uma entrevista

de emprego. O que é de praxe nessa situação? Você fala sobre você,

a pessoa fala sobre a empresa e depois fala “gostei do seu perfil, vamos

te ligar depois”.

Já pensou em ser ousado? Ser agressivo? Você faz a entrevista,

a pessoa pergunta tudo sobre você e fala: “gostei de você”; e você

fala: “poxa, não seria interessante eu fazer parte da sua equipe? Eu

aprendendo com vocês? Eu desenvolvendo a minha capacidade

aqui?”. Você acha que a probabilidade de esse cara falar não é alta?

Não. Se você falar assim, “não seria interessante eu fazer parte da

equipe de vocês?”, ele vai falar “talvez”, ele não vai dizer o “não”. Ele

te disse um sim inconscientemente. É o que a gente chama de padrão .

Imaginou você saindo com o seu marido para jantar com esse sapato?

“Sim” “Então, vamos levar?” Ela diz: “Sim! ” e pensa “opa! Já foi”. Por

que os 3 sim? Porque a nossa mente funciona por padrão. Você vai

jogando perguntas em que as respostas serão “sim” e automaticamente

a pessoa vai dizer um sim. “Gostou desse sapato?” “Sim” . “Vermelho é a

sua cor preferida?” “Sim” .“Você gosta de sair com esse sapato?” “Sim”

“Não seria legal você ir para a festa hoje com esse sapato?” “Sim” “E

aí, vamos comprar?” “Sim, vou estourar o limite do cartão de crédito”.

É mais ou menos isso. São 3 perguntas em que você tenha certeza do

sim. Depois de toda a conversa que você teve com a pessoa, você vai

recapitular tudo aquilo, a primeira abordagem, você vai conhecer ela,

vai ver se ela gostou ou não gostou, vai identificar, vai criar empatia, e

só aí você chega no sim.

Agora, qual o momento certo para fazer o fechamento dessa

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72

negociação? Se no momento da negociação a pessoa estiver de

braços cruzados, desista de fechar essa negociação. Enrole mais

um pouquinho. Converse mais um pouquinho. Isso aqui é um sinal de

defesa. Já viu quando você vai comprar um produto e você acha

ele caro? A primeira coisa que você faz é “ai”. Existe uma explicação

científica para isso. O preço alto é equivalente a uma beliscada;

seu inconsciente entende como a dor de um beliscão. Tem um livro

chamado “101 maneiras de influenciar a mente de um consumidor”

que fala sobre isso. Então quando você vai comprar alguma coisa e o

cara fala “299” e você “está caro hein, nossa, doeu aqui”. Doeu onde?

No bolso. O bolso não tem sentimento. Mas o inconsciente tem, e você

entende que aquilo ali vai ser doloroso para você pagar. Às vezes, vem

o vendedor e pergunta: “e aí, esse sapato, você gostou? Está barato!”

Se você percebeu que a pessoa está “armada” de braços cruzados,

está fechada, você precisa fazer com que ela solte isso.

Corretor de imóveis é craque em fazer isso. Ele vai lá, mostra

um apartamento de 300 mil reais para o cara, que às vezes não tem

nem onde cair morto, mas está olhando apartamento, e o corretor

sempre chamando a pessoa pelo nome. Essa é outra dica: sempre

chame a pessoa pelo nome enquanto você estiver conversando com

ela, pois ela se sente valorizada. “Seu Fulano, imagina sua casa aqui

com seus filhos...” Um corretor bem treinado, antes de passar o preço

de 300 mil reais, entrega alguma coisa, uma caneta, um prospecto do

prédio onde você quer comprar o apartamento, para que você faça

isso aqui [imagem]. Um bom vendedor sempre vai te entregar alguma

coisa, para você se desarmar se você estiver armado, se estiver se

defendendo. Você está olhando um sapato e ele viu que você está na

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defensiva, ele traz um outro modelo que não tem nada a ver para você

se desarmar.

Tem outra técnica, que a gente chama de ancoragem. Às vezes

ele vai te jogar alguma coisa que você não está nem um pouco a fim,

só para, depois, jogar uma coisa que você quer levar. Já percebeu?

Você quer levar um sapato, você gostou daquele sapato, mas você

está em dúvida. Aí ele traz um sapato que você não gosta, para o seu

inconsciente fazer uma ancoragem com o sapato que você deseja.

Aí você fala “não, vou levar esse aqui mesmo. Muito mais bonito”. Se

você vai com uma amiga e fala “Amiga, esse é muito mais bonito que o

outro”, você tem uma comparação. Então no processo de negociação,

quando o cara falar assim “sua proposta está inferior à do outro. Na do

outro tem isso e isso e sua não tem”. Então você vê o que pode ser feito

para melhorar, e tenta fazer com que a sua fique melhor. E se você tiver

feito todo esse processo, tiver criado toda essa empatia com ele, as

coisas vão dar muito mais certo.

Por que que eu falo isso? Porque depois que eu passei pela

programação neurolinguística, a minha mente mudou muito. A maneira

como eu vejo as situações hoje é totalmente diferente. Eu estava vindo

para cá hoje, e o engarrafamento dos demônios, para onde quer que

eu me virasse. Poderia ter ficado bravo? Interiormente, eu estava muito,

estava me mordendo de raiva. Mas eu não externalizei isso, porque se

eu chegasse aqui com uma carga de stress alta, todos vocês ficariam

com a carga de stress alta. Todos vocês não se importariam para o que

eu estou falando. Só teriam preenchido o nome ali e teriam ido embora.

Porque o que a gente pensa, a maneira com que a gente vê o mundo,

é a maneira pela qual as pessoas veem o mundo na gente.

Page 75: Anais - Secomunica 2016

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Se você é uma pessoa chata, transtornada, negativa, as pessoas

sentem isso, e ninguém gosta de estar perto de pessoas negativas.

Eu mesmo odeio estar próximo de pessoas que só me colocam pra

baixo. Lembra quando eu falei lá no começo “Vamos mudar a nossa

mente”? Para mudar sua maneira de pensar, mudar sua maneira de

agir, é dia após dia. Em toda palestra que eu dou, vocês podem ter

nem se importado para o que eu falei, podem até esquecer do toque

no cotovelo, ou na mão, ou esquecer qualquer uma das técnicas que

eu passei aqui hoje. Mas se eu conseguir fazer com que vocês saiam

daqui sonhando, para mim já valeu muito. Se eu conseguir de alguma

maneira impactar a vida de vocês, para que daqui a seis, quatro, oito

anos, vocês se lembrem: “Caramba, aquela palestra mudou a minha

maneira de ver o mundo”, para mim já vai ter valido a pena.

A mensagem que eu quero passar é a seguinte: Sonhar não

custa absolutamente nada. É algo que vem de você. Então, não espere

ninguém para sonhar para você. Não espere que sua mãe viva seu

sonho. Não espere que seu pai viva seu sonho. Porque se eu fosse viver o

sonho da minha mãe, hoje eu estaria estudando para ser um promotor

de justiça. Minha mãe sempre falou isso, “estuda para ser doutor”, e eu

entendi “para ser vendedor”. Viva o seu sonho. Acredito que dificilmente

você não sonha nada. Pelo menos o sonho de sair bem da faculdade

você tem. A mensagem que eu quero que você leve hoje para casa,

além de fazer bons negócios no futuro, é ter um sonho. Ter um sonho

que te leve adiante. Ter um sonho que te motive a viver todos os dias.

Ter um sonho que faça com que você saia da cama e batalhe. Para

quando chegar no dia da realização dos seus sonhos, você olhe para

você mesmo e fale: “Eu consegui. Meu sonho valeu a pena”.

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Palestra – Possibilidades do mercado audiovisual em Brasília1

Palestrantes: Mariane Cunha2 e Rafael Lobo3

Resumo: O desafio de construir uma carreira no universo do audiovisual

é o tema da palestra. Através de suas respectivas formações e

experiências, os dois palestrantes traçam o percurso que vêm realizando.

Partem da reconstrução de sua fase inicial, marcada pela ação

amadora, e avançam à fase atual, na qual o profissionalismo é a meta

e se constitui em realidades como captação financeira, formação de

equipes, parcerias, locações, entre outros.

Palavras-chave: Audiovisual. Mercado. Produção. Captação de

recursos.

Rafael Lobo - Desde que me graduei, entrei no mercado como

profissional, mas também atuei em estágios no período em que estava

fazendo minha graduação, muito mais na área de cinema que na

de publicidade; trabalhei também como continuísta. Essas foram

oportunidades que tive de conhecer vários diretores atuantes da

cidade, porque temos realmente poucas pessoas que se encaminham

para essa área de cinema. Hoje, é a primeira vez que sou convidado

para falar numa palestra sobre o mercado audiovisual, talvez no caso

1 Transcrição: Gabriel Nunes Reynoso2 Graduanda de Jornalismo pela UCB. Assistente de produção na produtora Olho de Gato3 Graduado em audiovisual. Mestre em comunicação. Diretor, roteirista e editor

freelancer.

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76

mais brasiliense que brasileiro. Por isso acredito que a proposta desta

noite seja estabelecer um debate sobre o tema. E eu posso falar um

pouco sobre meu trabalho pessoal com curta-metragem.

Acredito haver uma multiplicidade de oportunidades no país.

Não sou um estudioso da área, só mais um trabalhador. Acredito que

exista uma diferença entre os trabalhos pessoais e aqueles que tangem

ao mercado de trabalho. No mercado de audiovisual em Brasília, acaba

sendo muito difícil viver de cinema, sendo mais comum produções

de publicidade ou política, nas quais eu também acumulei algumas

experiências. Hoje, sou mais atuante como editor montado, mas

também trabalho como diretor. Acredito que essa multifuncionalidade

seja uma perspectiva que devamos ter nos dias de hoje, ainda mais

com o acesso à tecnologia. É preciso pensar linhas de trabalho em que

se faz de tudo, desde o roteiro à filmagem. Acredito que cada vez mais

estejamos nos abrindo a essa multiplicidade de habilidades em vez de

cargos específicos. Pensar essas possibilidades há dez anos não era

comum. Mas desde aquela época eu percebia muitas mudanças no

mercado, por mais que eu não estivesse pensando diretamente nisso.

Acredito ser esta noite uma oportunidade para isso.

Meu primeiro curta-metragem foi o que fiz para meu TCC no

curso de audiovisual, na UnB. Era uma ficção de 21 minutos chamada

Confinado, e foi realizado com uma verba que eu já tinha reservado

pra isso com a ajuda da minha família. Foi um projeto mais voltado para

minha realização pessoal, como os outros dois curtas seguintes. São

trabalhos que eu não pensei para o mercado audiovisual. O objetivo

tendia muito mais para a realização de um trabalho de portfólio do que

para uma forma de viabilização comercial.

Page 78: Anais - Secomunica 2016

77

O curta ainda sofre muito disso, de ser um tipo de trabalho para

você surgir em festivais e mostrar seu talento, e não um meio rentável de

ganhar a vida.

Na época do Confinado, meus investimentos foram

aproximadamente de cinco mil reais, o que é bastante para um trabalho

que atendia muito mais a uma realização pessoal. Em contrapartida, os

equipamentos que nós tínhamos à disposição não eram muito bons,

então precisávamos de mais luz, equipamentos de maquinaria, entre

outras coisas. Se considerarmos que o FAC – Fundo de Apoio à Cultura,

oferece um valor de 120 mil reais para realização de curtas-metragens,

meus investimentos foram bem modestos. Porém, acredito que hoje eu

poderia realizar o mesmo projeto com um investimento ainda menor.

Depois disso, comecei a atuar em algumas produtoras como

freelancer, trabalhando com edição, montagem e continuidade. Fiquei

um tempo parado, numa época em que eu não estava conseguindo

emplacar nenhum projeto pelo FAC. Até que começou um sistema de

crowdfunding, isto é, sistema de financiamento colaborativo, chamado

Catarse, no qual a gente estabelecia uma meta e recebia investimentos

de várias pessoas em troca de contrapartidas, que poderiam ser dvd’s

do curta, camisas, entre outras coisas.

Na época, eu já tinha fundado um grupo com outros sete

artistas da cidade. O grupo se chamava Espaço Laje e nele tínhamos

várias áreas de atuação. Não funcionávamos como uma empresa,

mas alugamos um espaço de trabalho, que se assemelhava mais a um

ateliê. A experiência que adquiri nessa época, pela oportunidade que

tive de me entrelaçar muito com artistas plásticos, reflete muito no meu

trabalho atual, que está migrando para uma relação maior com as artes

Page 79: Anais - Secomunica 2016

78

plásticas. Principalmente agora que conclui o mestrado, posso dizer

que estou num processo de reinvenção, porque o cinema é processo

muito lento, ao ponto de levar dois ou três anos para realizar um curta.

Eu senti a necessidade de encontrar outros meios de produção, meios

que não embarquem essa temporalidade tão lenta do cinema.

Com o Espaço Laje fiz o meu segundo curta, chamado Palhaços

Tristes. Esse é um produto inspirado numa história em quadrinhos do

Gabriel Mesquita, um dos artistas do grupo. Esse curta foi financiado

pelo Catarse e reuniu o trabalho de artistas em várias áreas, como

pintura, som e outros. Nós fazíamos a divulgação por meio de um blog,

no qual apresentávamos o projeto. Assim, enquanto trabalhávamos

na pré-produção, as pessoas podiam conhecer o projeto pelo blog e

contribuir através das compras das contrapartidas.

No entanto – só para pensarmos mais profundamente – por

mais que exista esse sistema de financiamento colaborativo, realizar

um trabalho de cinema ainda é muito difícil. Foi muito trabalhoso

realizar as contrapartidas, pois havia mais de cem pessoas envolvidas

na colaboração, e nós nunca tínhamos pensado nesse trabalho de

realizar as contrapartidas: montar os envelopes, fazer a propaganda,

todos os sábados divulgar alguma coisa nova, o que era extremamente

cansativo. Então, apesar de termos conseguido o dinheiro, foi um

trabalho excessivo para a realização de um curta-metragem.

O terceiro curta, chamado Bartleby, foi o primeiro projeto que eu

consegui realizar com financiamento do FAC. Ele, diferente do Palhaços

Tristes, que foi feito em várias locações, se passa em um escritório, que

nós construímos dentro de um estúdio. O filme é uma adaptação de um

livro de Herman Melville, uma história que se passa no século XIX em Wall

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79

Street, trazida para a realidade de Brasília.

Como eu trabalhei com a mesma equipe nos três curtas, sendo

que nos dois primeiros a equipe toda trabalhou filantropicamente pelo

projeto, aconteceu que toda a equipe chegou ao limite, principalmente

no Palhaços Tristes. Também devido ao fato de que todos já tinham

se formado, e alguns já atuavam profissionalmente, alguns eram

funcionários públicos, Bartleby foi feito em dez dias alternados, isto é,

durante três fins de semana. Então, chegou um ponto em que ninguém

mais queria se dispor a trabalhar em um projeto como esse, se não

houvesse condições melhores de trabalho.

E, afinal, o Bartleby foi esse projeto no qual nós conseguimos

pagar bem a equipe e ter as boas condições de trabalho que o grupo

tanto precisava. No entanto, para mim, enquanto realizador do projeto,

não foi uma forma de ganhar dinheiro, porque o dinheiro que era

destinado à minha função eu acabava investindo de volta no projeto.

Então, cabe também a reflexão de pensar num projeto como esse,

financiado pelo FAC, o quanto se quer investir no projeto em detrimento

do quanto se quer receber por ele.

Mariane Cunha – O Bartleby foi o meu primeiro trabalho de

grande porte e com recursos, o que desta muito da realidade da

faculdade, onde se faz um vídeo ou outro com financiamento próprio.

E a diferença é muito grande, pois quando se trabalha vídeo com

outras pessoas na faculdade, não se ganha nada e se realiza o possível.

Já quando se tem uma verba grande, tem-se mais possibilidades. O

Bartleby me deu a oportunidade de trabalhar com materiais com os

quais eu não costumava trabalhar, pois normalmente não se alugam

certos tipos de equipamentos, não se pensa numa demanda tão

Page 81: Anais - Secomunica 2016

80

grande de itens de produção, nem mesmo na alimentação para uma

equipe tão grande.

Quando não se tem recursos e se está numa equipe menor,

trabalha-se mais rearranjando as coisas. A diferença se dá nas

possibilidades, no tamanho do seu trabalho e no retorno que o diretor

espera, pois em produções menores não se tem um retorno tão grande

de equipamentos, de itens de produção e não se lida com uma equipe

tão grande. Talvez o mais positivo disso seja ter a oportunidade de

trabalhar com coisas que não são comuns no dia-a-dia, como em um

projeto financiado pelo FAC.

Eu outro como assistente de produção executiva numa

empresa independente que vive praticamente de editais, que

funcionam da seguinte forma: em 2006 foi criado um fundo setorial de

audiovisual, que recebe uma verba de impostos vindos de empresas de

telecomunicação, publicidade, vinculação de televisão e outras. Esse

fundo, que é gerido pela Ancine, despacha a verba em nível nacional.

Existem várias formas de se solicitar um incentivo. Pela Ancine, tem-se

incentivo direto. O incentivo indireto seriam as leis de isenção fiscal, às

quais se tem acesso o ano todo através de editais abertos para áreas

específicas, a maioria para longas-metragens, por uma questão de

relação com grandes empresas. Os curtas não têm tanta visibilidade

e servem mais para festivais. No caso de você ser uma pessoa muito

vista, se tiver notas de registro acumuladas pelos produtos realizados ou

prêmios ganhos, pode acabar ganhando o investimento para fazer um

longa futuramente. Os curtas são mais comuns em secretarias ou órgãos

locais. No caso de Brasília, é o FAC que proporciona investimentos para

curtas, médias e longas-metragens também, sendo mais comum, no

Page 82: Anais - Secomunica 2016

81

entanto, para curtas e médias.

Rafael Lobo – É interessante percebermos como é pantanoso

levar um longa-metragem para frente. Por exemplo, em 2010, eu ganhei

um incentivo do FAC para realizar um roteiro para um longa-metragem.

O roteiro ficou pronto em 2011, estamos em 2016, e ainda estou

tentando levar esse projeto pra frente. Isso é só para termos ciência

de que produzir um longa-metragem com financiamento do governo

é um processo lento e burocrático. O conselho que fica é: se alguém

for alavancar um projeto com fundos do governo, garanta antes de

esquematizar bem com as produtoras e organizar bem o processo.

Nesse período, muitas coisas podem acontecer; então pensem bem

antes de se filiar a alguma produtora, pensem em se resguardar, pois

nem todas as empresas são confiáveis.

Mariane Cunha – Hoje, estou experimentando uma mudança de

área radical, tentando trabalhar com direção. Percebi uma diferença

muito grande com a produção executiva, que era o que eu estava

acostumada a fazer. Posso dizer que não pensava na possibilidade de

fazer outra coisa, apesar de ter feito outros cursos. Mas é muito diferente

escrever um roteiro para o curso e escrever seu próprio projeto para

produzir. Criar seu próprio projeto, ter uma expectativa sobre ele, ter

que bancar o projeto, querer fazer um produto de qualidade, ter uma

equipe trabalhando com você, uma equipe que às vezes não está

recebendo nada para trabalhar com você. Ou seja, o projeto depende

completamente de você, e é necessário pensar nas imagens, nos

quadros, numa narrativa que seja convincente. Então, dirigir está sendo

uma experiência muito diferente da área de produção. Mas é uma

experiência e tanto. E as possibilidades são muitas.

Page 83: Anais - Secomunica 2016

82

Palestra – Youtuber: Uma profissão?1

Palestrante: Daniel Zukko2

Resumo: O palestrante fundamenta sua argumentação sobre uma

premissa curiosa: o Youtube vai acabar. Daí, evolui para resgatar a

história de alguns recursos digitais que já existiram com grande sucesso

de usuários e, de repente, deixam de existir ou, pelo menos, perdem

significativa fatia de público. Ressalta que o fundamental é estar

preparado e buscando se profissionalizar. Para isso recomenda ao

comunicador construir e atualizar incansavelmente as suas referências.

Palavras-chave: Youtube. Youtuber. Referências. Sucesso.

Bom dia! Sou Daniel Zukko e faço programas, verdade. Alguém

me conhece, já assistiu, teve a oportunidade de assistir um trechinho

do “Minha Brasília” no Youtube? Alguém já teve a oportunidade de

ouvir o programa na rádio Transamérica? Passa ao meio-dia, mais ou

menos na hora em que estão saindo daqui. Sou jornalista, dono de uma

agência de comunicação e publicidade e, em além do jornalismo,

tenho formação em turismo e artes cênicas.

Já ouviram do McLuhan, que há quase 60 anos previu

exatamente o que estamos vivendo hoje, que o meio é a mensagem?

Ou seja, o meio por onde você fala é tão importante quanto o que

você fala. E isso acaba sendo, para mim, um aprendizado no dia-a-

dia por causa das novas mídias, que estão modificando de verdade

1 Transcrição: Danilo Lopes Gonçalves2 Jornalista. Produtor de vídeo e youtuber. Criador do Minha Brasília

Page 84: Anais - Secomunica 2016

83

a forma como a comunicação tem acontecido. E quem somos nós, os

comunicadores, se o mundo é por onde você fala? Nós somos os atores

deste mundo, os contadores de história. E são muitos meios. Vamos aqui

falar do Youtube.

Quem faz vídeo para o Youtube é um youtuber. E isso, youtuber,

é uma profissão? Penso que não, porque um dia o Youtube vai acabar,

como o Orkut acabou e o Facebook vai acabar; o Snapchat não durou

um ano e já está acabando. O Pokémon Go vai acabar, foi o grande

boom de 2016 e perdeu em duas semanas 200 milhões de usuários.

Então, entender que o meio é a mensagem é importante. Porém, os

atores são mais importantes que o meio.

Alguns pensam: “eu quero ter um canal no youtube”. Para

quê? Por quê? O mais importante para o comunicador é o seguinte:

não deve esquecer por que está falando isso, e é importante saber

quem está disposto a ouvir. Se não vai ser como olhar para o umbigo,

repetindo algo que acredita. Mas está se comunicando com quem? A

comunicação só se faz quando alguém ouve, quando alguém entende

o que o comunicador fala. Falar por falar não comunica.

A primeira reflexão que proponho quando alguém me fala “ Ah,

Daniel, você tem um canal de sucesso no Youtube” (o que assusta) é a

seguinte: o que é um canal de sucesso? Precisamos pensar sobre isso.

A mídia tradicional já vivenciou momentos em que conseguia

falar para todo mundo. Ao falar de televisão, por exemplo, a novela

global “Avenida Brasil” talvez tenha sido a última grande audiência,

porque fez parar o país inteiro para assistir o último capítulo. Nas décadas

de 1980 e 1990, a cada semestre, a população parava para assistir ao

último capítulo de qualquer novela. Nesse período, quando não se tinha

Page 85: Anais - Secomunica 2016

84

internet nem tv a cabo, imagine como era só ter para assistir os canais

liberados na televisão, isto é, Globo, SBT, Cultura, entre outros. Não tinha

canais de streaming, o que fazia que todos se concentrassem em um só

lugar, praticamente.

Hoje é diferente, e os veículos estão precisando aprender a

segmentar os públicos. Para quem eu falo? Pois já não consigo falar

mais para 100 milhões de pessoas numa única transmissão. Mas eu

posso falar com 10 mil, e estes 10 mil são meu público de fato. Assim, nos

canais do Youtube cada um tem seu público próprio, então, direciona

a fala para estes. É como as revistas, que direcionam seus conteúdos

para seu público alvo. Também como a televisão faz, de certo modo,

porque tem divergentes abordagens entre alguns canais.

A galera de publicidade sabe bem disso no momento de

anunciar: que produto anunciar em qual veículo. A rádio Transamérica

tem um público, a Jovem Pan tem outro público. Então temos este

direcionamento próprio de público, muito especifico. Cabe aos

comunicadores ouvir, entender e aprender quem é o público. Porque se

não, mais uma vez o exercício da comunicação – que é, principalmente,

alguém ouvir e entender – não se faz em quem ouve, se faz em quem

fala, e isso não é bom. Se não houver audiência, a comunicação não

existe.

Quando pensamos no que é um youtuber, a primeira imagem é

alguém falando sozinho no seu quarto, aparentemente para ninguém.

Isso é o que mais ocorre nos canais de Youtube. Antigamente, falava-

se assim: “Você fala bem, você irá estudar jornalismo, você será uma

Fatima Bernardes”. Hoje as pessoas não querem mais ser a Fátima

Bernades, tem muita gente hoje querendo ser a Kefera ou o Felipe

Page 86: Anais - Secomunica 2016

85

Neto. Quem são estas pessoas? Quando pergunto quem são estas

pessoas, a resposta será: a Kefera é uma youtuber que tem milhões de

visualizações. Não, isso é o que ela faz. Pergunto outra vez: quem é

a Kefera? Quem é, qual a formação que esta pessoa tem, quando o

youtuber acabar, o que ela vai ser?

Porque isso é o futuro, o Youtube vai acabar, em cinco ou quatro

anos, não sei. O que sei é que a sobrevida não é tão grande, é normal.

Alguém teve Orkut? Quando tínhamos Orkut, imaginávamos que ele

seria a derrota que acabou sendo? Quem hoje se orgulha de ter tido

Orkut? E quantas pessoas têm cometido facebookcídio, internetcídio?

Abandonamos isso ou aquilo quando entendemos que deu o que tinha

que dar. Por isso é que sempre digo que nós, os atores do processo

comunicativo, somos além disso, muito além disso. E precisamos saber

nos sustentar no que somos.

Se sou um comunicador, sou um comunicador que precisa

saber contar uma história. Este é o papel da comunicação, contar

uma história. Vou contar minha história? Como? No caso dos jornalistas,

pode contar a história no texto de uma matéria, pode contar a história

com uma fotografia. Muitos repórteres ficam revoltados porque a foto

da capa do jornal é mais importante do que o texto, que às vezes ele

demorou duas semanas apurando e escrevendo. Porém o jornalista não

pode ignorar isso: “Uma imagem vale mesmo mais que mil palavras”.

Uma imagem em movimento, um segundo de filme, são 24 imagens.

Então, podemos dizer que um segundo de filme vale mais do que 24 mil

palavras. Também tem o som. A pausa é música, se não tivesse a pausa,

a música não teria o peso que tem, ela não teria a dramaticidade que

tem; pausa é música, silêncio comunica e comunica muito.

Page 87: Anais - Secomunica 2016

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Publicitário usa isso muito bem. Muitas campanhas são feitas nos

silêncios; a comunicação mais comum que tem nos hospitais, o cartaz

da enfermeira pedindo silêncio, tem na biblioteca. A imagem consegue

informar com silêncio, e isso é muito importante. Precisamos entender

que somos quem está contando a história. Conto a história em todas

as possibilidades, mas eu não sou o meu veículo, eu não sou o Daniel

Zukko; mesmo ganhando o meu sobrenome, aquele é o personagem.

As pessoas perguntam: “Quem é você? ”. “Eu sou Daniel Zukko, do

Minha Brasília, mais conhecido como o cara da Brasília”. Percebem? A

pessoa perde sua identidade. Vocês podem me perguntar se um dia o

Minha Brasília pode acabar. Eu espero que não. Quando fomos registrar

o programa, coloquei que o meu objetivo era manter este carro, até

pelo menos o dia 21 de abril de 2060. É o meu objetivo, ter aquele carro,

de preferência andando, de preferência eu trabalhando com ele, pelo

menos até 21 de abril de 2060. Por quê? É quando Brasília fará 100 anos,

espero que ela seja a única Brasília do país até lá, e que esteja em

atividade. Mas também o carro pode acabar. Quando minha Brasília

acabar, caso ele venha a acabar, eu serei como um ex-BBB. E aí o que

farei da vida? Importante é ter o que informar.

Uma coisa que eu percebo e que é um problemaço para

nós, comunicadores, é que as gerações atuais são extremamente

imediatistas. Mas sempre que vamos informar sobre alguma coisa

precisamos contextualizar o que veio antes, compreender o que

formou aquilo, entender qual a referência que gerou aquilo. Muitas

pessoas chegam em mim e dizem: “Nossa, que ideia genial o Minha

Brasília, hein, uma entrevista dentro de um carro!”, Aí respondo: “Velho,

nunca viu o Taxi do Gugu? Era um sucesso em 1994”. O Gugu, do SBT, se

Page 88: Anais - Secomunica 2016

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fantasiava como taxista e entrevistava pessoas no meio da rua. Então

entrevista dentro de carro não é novidade para ninguém, e na internet

vocês têm vários com esse formato.

A entrevista em carro não é novidade, mas se o comunicador

não souber disso, estará se enganando, acreditando no raso da história,

porque é muito raso ver somente o que se está enxergando. Precisamos

ter referências. Por exemplo, quando comecei a tocar, comecei a ouvir

Beatles e sou fanático por Beatles, que eu sempre achei geniais. Mas

para eles serem geniais, eles ouviram muita coisa. Eu fui atrás do que

o Paul McCartney ouvia no quarto dele e descobri que ele ouvia Elvis

Presley, entre outros. O que eu fiz? Fui comprar os discos do Elvis e dos

outros artistas, então referência para o Paul.

Eu criei o Minha Brasília em 2012, e o programa foi ao ar pela

primeira vez no dia 19 de setembro de 2013; portanto, agora são três

anos completos no ar. Eu já tinha experiência em tevê, com cobertura

internacional, grandes eventos, programas, já botando a cara no ar. A

história já existia, eu já tinha know-how. Mas se chega uma pessoa na

média de idade de 20 anos e fala assim: “Cara, eu terei um canal de

sucesso no Youtube”. E o que essa pessoa faz? Simplesmente, começa

a gravar vídeos e posta no Youtube. Mano, pode dar certo? Claro que

pode! A prova é que temos vários exemplos assim que deram certo.

No entanto, destes vários que são publicados, alguém já fez parecido;

alguns deram certo, outros não. Então, como é que em geral a galera

faz? Monta um cenário bacana no próprio quarto, coloca uns símbolos,

que pode ser de cultura pop ou outras coisas que tenham a ver com o

assunto do canal, compra uma câmera bacana e dá sua opinião sobre

o que está mostrando. Eu vi uns cem fazendo isso. Mas, sério, você tem

Page 89: Anais - Secomunica 2016

88

que se perguntar o que é isso que você vai fazer. Principalmente se

já tem uma galera fazendo isso, e, detalhe, uma galera fazendo bem,

ganhando dinheiro fazendo isso. Será que é isso mesmo que você vai

fazer? Em todo o caso, o sucesso não vem antes da construção. Isso

para nós, comunicadores, é arriscado. Quem tem blog? E quem já teve

blog? É grande o grupo de ex-blogueiros, né?

O mais importante, como eu disse, é conseguir enxergar o

que veio antes, para contextualizar o que acontece agora e para

nos prevenirmos do que pode acontecer depois. É necessário fazer

isso. Os publicitários geralmente têm esse olhar lá na frente, querendo

entender reações, entender possibilidades, um cuidado que tem que

ser a constante do dia a dia. Já os jornalistas, para não serem tomados

por trouxas, especialmente para quem pretende trabalhar com política

(porque os políticos são treinados para fazer a gente de trouxa), é

preciso ter referências. Se não tiver estudado história, se não souber o

que Ulysses Guimarães fez, se não souber o que aconteceu no Brasil nos

anos 70, 60, 50, 40, 30, enfim, se não tivermos referências, talvez nós não

sejamos mais do que uma peça de troca no mercado de trabalho; e

acho que ninguém topa ser peça de reposição, não é mesmo? Tenho

certeza de que, no pensamento de todo mundo aqui, é um eterno

“não vou ser trouxa”.

Quando começamos uma faculdade queremos ter sucesso.

Mas não devemos confundir sucesso com fama. Sucesso é conseguir

fazer o que você se propôs fazer e fazer bem. Fama é outra coisa. Muitos

BBB têm fama enquanto estão no ar, mas só alguns fazem sucesso; a

maioria, não. O importante são as referências para, assim, conseguir

enxergar muito além do que os meios nos mostram.

Page 90: Anais - Secomunica 2016

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Palestra - Bastidores da Produção de Eventos1

Palestrante: Ygor Brito2

Resumo: Ygor Brito traz uma explanação acerca de evento e como

produzir um. Aborda aspectos diversos da produção, desde o

planejamento até checklist, de equipe até atrações, de localidade

até documentação, entre outros. Ilustra essa explanação com casos,

tanto de sucesso como de insucesso. Faz relatos de sua experiência em

segmentos diversos do negócio.

Palavras-chave: Evento. Produção. Parceria.

Vamos pular a teoria, vamos deixando a teoria para os nossos

professores na sala de aula e falar um pouquinho das experiências aqui.

Meu nome é Ygor Brito, comecei a trabalhar com eventos tem uns 15

anos e vou contar a história para vocês, um pouquinho de como eu

comecei produzindo eventos. De repente é um incentivo para alguém

que se identifica com essa atividade. Eu comecei quando eu tinha uns

13, 14 anos e existia em Brasília uma festa teen que se chamava Sub

17, uma matinê. Eu acho que a essa Sub 17 ninguém aqui foi. Sim? A

Sub 17 a que vocês foram acho que já é outra. Quantos anos você

tem [perguntando para plateia]. 23? E onde era a que você ia? Você

lembra do local? Gilberto Salomão? É, já não era essa, essa já era minha,

era eu que fazia. Então, a que eu ía era no Liberty Mall, numa boate que

1 Transcrição: Maria Giullia Gonçalves2 Publicitário. Proprietário do evento SUPER17, fundador da Agência Trêsvírgula14 e agente local de inovação do projeto ALI SEBRAE DF/CNPQ.

Page 91: Anais - Secomunica 2016

90

chamava Fashion e tinha essa matinê.

Eu cresci numa quadra na Asa Norte, na 203, onde moravam

vários produtores. E eu gostava, sempre ficava ali enchendo o saco,

“deixa eu participar”. Tinha um produtor que se chamava Bruno Marra

e ele chegou um dia e disse: “Igor, vou te dar 10 ingressos; se você

vender os 10, eu te dou uma cortesia para você ir para a festa”. Falei

que tudo bem, peguei os 10 ingressos e vendi rapidinho, vendi para uns

amigos, todo mundo ia, era no sábado; ganhei uma cortesia e fui.

Na próxima semana, eu falei “Bruno, mas eu queria ganhar

alguma coisa”. Aí ele disse: “Vou te dar 20 ingressos”. Eu vendia 20

ingressos, ganhava minha cortesia, ganhava duas cortesias, com uma

eu entrava a outra eu vendia e ganhava 20 reais. E 20 reais era dinheiro,

viu? Com 20 reais dava para passar a semana. E assim foi. Dali a pouco

eu estava pegando 50 ingressos, 100 ingressos, 200 ingressos. Como

eu fazia: eu pegava 10 comissários, repassava esses ingressos, e se a

pessoa vendia 10, eu dava uma cortesia para ela. Uma vendeu 5 e a

outra vendeu 5, não ganhava cortesia, mas eu já ganhava uma. E além

disso eu ganhava 1 real por ingresso. Então foi ficando melhor ,né? De

20 reais já estava ganhando 200, já estava legal. E aí comecei a me

envolver.

Na mesma época, esses produtores começaram a produzir

evento à noite. Comecei a panfletar, comecei a trabalhar na hora

dos eventos, a cuidar das saídas de emergência, coordenar portaria;

a gente foi evoluindo. Esses sócios brigaram, eram o Bruno e o Paulo.

E o Paulo me convidou: “Igor, você quer ser meu sócio? Quer fazer a

matinê comigo?” Eu falei: “Cara, eu quero, mas não sei”. Aí ele falou:

“Vamos, eu te dou 10% da matinê; eu fico com 90% e você com 10%”.

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“Poxa, isso tudo? Eu quero”. E aí topei e comecei a fazer a matinê. Eu

tinha uns 15 anos de idade e tinha 10% da festa.

A gente mexia muito com o funk e trouxe um dos primeiros; na

verdade, a gente que introduziu o funk em Brasília, um dos primeiros

shows de funk a gente que fez. Teve uma época, 2002 ou 2004, que

a gente tinha exclusividade com todos os shows de funk em Brasília. E

tinha muito, estava estourado e todo mundo passava na nossa mão.

E dali a pouco o meu trabalho estava fazendo um diferencial para o

evento. Isso é importante. Eu era sócio, mas eu trabalhava. Acordava

6 da manhã, panfletava na escola, aí 11:30 eu panfletava na saída,

contratava comissário, divulgava no Orkut, corria bastante. Aí eu falei:

“10% não dá mais, quero 30%”. Chegou a situação em que ele não

conseguia fazer o evento sem a minha presença, porque eu já tinha

contato com todo mundo. E aí, no fim da história, fiquei com 50% desse

evento.

Uns cinco anos atrás, esse meu sócio resolveu parar e me vendeu

a parte dele. Então hoje eu tenho 100% desse evento. E comecei lá,

vendendo 10 ingressos. Esse evento a gente fez durante 15 anos, até ano

passado, quando a gente fez uma festa de encerramento do projeto

Sub 17. Quem já foi em matinê aqui em Brasília levanta a mão. Quem

lembra os locais? Píer 21 já era eu que fazia, Gilberto, acho que já era...

qual era a boate? Era a Trend? É então já era eu também. É, aqui em

Taguatinga, não. Alguém mais lembra um lugar diferente? Então, eu

fiquei muitos anos no mercado, só eu que fazia matinê em Brasília. E

fiquei acomodado muitos anos também, pois não tinha concorrente.

Hoje a gente tem um grande concorrente. A gente encerrou a Sub 17

e foi também muito bom para a concorrência, porque eles cresceram

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92

e hoje dominam o mercado. A nossa produtora hoje é outra e chama

Super 17. A dele chama Super Clube, eu acho, é um evento bem

bacana e eles estão bem no mercado.

Então foi assim que eu iniciei. Nesse evento aqui só vou

contextualizar o nosso último e o nosso próximo evento. Nosso último

evento foi no dia 24 de julho, no Parque da Cidade. É um conceito

de festival que a gente está trazendo pra Brasília agora, que ainda

não tem: são os festivais segmentados de gastronomia. O festival que

aconteceu no Parque foi o festival de pizza. A gente teve um público de

15 mil pessoas, num evento que foi de 10 até 23 horas. Então, no giro, a

gente teve 15 mil pessoas, o tempo todo assim lotado, muito bacana.

Nosso próximo evento vai ser o festival do brigadeiro. Então,

sempre segmentado assim. Esse festival – vou até deixar o convite para

todos – vai ser domingo, no Eixão Norte. São 30 estandes de doce, 10

restaurantes, música ao vivo, concurso de quem come mais doce. É

uma festa bem bacana, com a eleição do público do melhor doce do

festival. A entrada é franca, você paga só para consumir. São eventos

diferentes.

A matinê é um evento com que vocês se identificam, porque

vocês já participaram, mas é um evento de bilheteria. Esses festivais

gastronômicos, ao contrário, são abertos ao público, sem bilheteria.

Como a gente consegue recurso? Através de patrocínios e vendas

de estandes. A gente tem 40 expositores de doce. Eles pagam para

participar, mas têm retorno. No nosso evento de pizza, cada pizzaria

vendeu mais ou menos 10 mil reais. Gente, eu vou falar valores aqui

para vocês terem noção, porque se não fica muito vago. Isso para eles

é muito bom, isso é um final de semana de uma pizzaria cheia. Então

Page 94: Anais - Secomunica 2016

93

o nosso objetivo aqui não é só vender o espaço, é fazer com que o

expositor venda. Se ninguém vender ou se alguém tomar prejuízo, para

a gente foi um fracasso. O evento girou em torno dos 300 mil reais. Foi

uma sementinha que a gente plantou.

A nossa produtora praticamente não teve lucro nesse evento.

Aí você pensa “você gira 300 mil reais, 400 mil reais mais e não ganha

nada?” Mas é um conceito novo que a gente está trazendo e foi bom.

É um investimento inicial. Agora a gente está começando a colher disso

aí. A gente tem um programa, dentro da Invento, a nossa produtora, que

é um programa de voluntariado. A gente solta umas inscrições e recebe

vários currículos. Normalmente a gente pega pessoas sem experiência,

e a pessoa só pode participar uma vez desse voluntariado. É assim: se

ele participou do festival da pizza, ele não trabalha em outro evento e

ganha um certificado de 20 horas. A gente tem um bate-papo antes do

evento, uma reunião de alinhamento, e depois eles trabalham no dia

do evento. É uma experiência muito bacana. Quem quiser depois saber

mais, quiser participar dos próximos, é uma oportunidade bem legal.

Vamos falar do perfil do profissional, só vou dar uma passada

rápida. De que precisa o profissional de evento? Domínio das técnicas

de planejamento, domínio das técnicas de comunicação, visão

de mercado dos eventos e dos negócios, visão e compreensão das

tipologias do evento, criatividade, organização, espírito de liderança,

boa comunicação oral e escrita e boas relações interpessoais. Essas

são realmente habilidades importantes para quase tudo na vida, mas

para eventos é fundamental. Imagem pessoal é muito importante se

você está na liderança de um evento. Por exemplo, eu estava em um

evento pra 15 mil pessoas; eu coordenava toda a equipe e o evento

Page 95: Anais - Secomunica 2016

94

inteiro. Que imagem eu quero passar? Tanto a minha quanto da minha

produtora? Pro público, para as pessoas, para os fornecedores? Não

é porque é evento, é festa, que gente pode deixar de ser profissional.

Liderança significa que estou sempre trabalhando em grupo, é muito

importante, é responsabilidade.

Alguns casos de sucesso e de insucesso. Eu subir aqui e falar que

fiz o evento, que vendi tanto, é muito bonito, mas não é a realidade. A

gente passa vários fracassos também durante a nossa trajetória. Então

vou falar um pouquinho sobre responsabilidade. Vou contar um caso

para vocês.

Todo mundo conhece a operadora Nextel? Tem alguém que

trabalha na Nextel, tem algum parente que trabalha na Nextel? Tem

não, não é? Porque, quanto tem, eu não conto. Eu pulo essa parte.

Isso foi em 2010, eu estava procurando uma forma melhor de eu

divulgar meus eventos. Nessa época não tinha WhatsApp, parece

que o WhatsApp está na nossa vida há 50 anos, mas não tem nem 2, 3

anos. “Como vou divulgar?” Eu pensei em fazer uma mala direta pelo

correio, mandar uma carta falando para todos os meus clientes sobre

o evento, mas isso ia me custar muito caro. Eu pensei:“Já sei, vou enviar

mensagem de celular para todo mundo.” Fui até a Nextel, vi que tinha

um plano de R$ 99,90 no qual eu podia mandar mensagens ilimitadas,

para quantas pessoas eu quisesse. “Ah, que bacana, vou pegar esse

plano”. Peguei o plano, fiz um trabalho em todas as faculdades de

Brasília e uma mala direta de 15 mil números de universitários, que era

o meu foco de eventos na época. Enviei uma mensagem para todo

mundo. Comprei um celular e mandei para todo mundo. Naquela

época a gente trabalhava muito com lista, a pessoa enviava o nome

Page 96: Anais - Secomunica 2016

95

de volta e o e-mail para ir ao evento. E eu tive um retorno muito bom.

Enviei assim e recebi coisa de 500 e-mails. E e-mail normalmente vem

com 5, 10 nomes. Isso foi muito bom para o evento.

E aí eu comentei com um amigo: “Cara, eu enviei mensagem

de celular e foi muito bacana.” Ele falou: “envia para o meu evento?”

Mas eu pensei: “Não, não vou enviar não, essa aqui é uma ferramenta

só minha, eu que criei, não vou passar para ninguém, não”. Um dia, o

evento dele estava fraco, ele me ligou e falou “Igor, por favor, me ajuda,

manda uma mensagem, eu te dou 200 reais.” Eu falei: “Ah, beleza, 200

reais, aí já dá para mandar.” Mandei mensagem para os 15 mil números.

Ele teve um retorno muito bom. E aí as pessoas ficaram sabendo e

começaram a me procurar. As boates, as casas, os produtores. “Igor,

manda uma mensagem, eu te dou 200 reais” “Ah, 200 reais, eu mando”.

Eu decidi que ia mandar duas mensagens por dia, e ia cobrar 200 reais .

Então eu mandava duas mensagens por dia, para não “encher

o saco”. Imagina você receber duas mensagens por dia no seu celular,

de quem você não conhece, falando: “Vai ter uma festa”; “enche o

saco” das pessoas. E aí mandava duas por dia, ou seja, numa lista de

15 mil, somava 30 mil. Então eu mandava 30 mil mensagens por dia;

30 mil vezes 3, 90 mil mensagens por dia. Assim, eu mandava 900 mil

mensagens por mês. Eu mandava quase um milhão de mensagens.

E isso derrubava a plataforma da Nextel de sms, e eu não sabia que

era eu. Às vezes caía, e eu ligava lá: “Eu trabalho com celular, libera”,

falava isso de uma forma sem nenhuma responsabilidade. Um dia,

cheguei em casa do meu treino, abri a conta da Nextel: 70.970,29

centavos. Eu ri. “Nextel está me sacaneando”, e liguei lá. “Deixa eu te

falar, chegou uma conta aqui, acho que era 70 e vocês colocaram

Page 97: Anais - Secomunica 2016

96

uns zeros a mais.” “Não, senhor Igor, essa cobrança é devida.” “Como

assim devida?” “Não, o senhor enviou um milhão de mensagens esse

mês” “Mas eu pago 99 reais” “Não, por favor leia o contrato.” Contrato?

Nem contrato eu tinha. Peguei, achei e tinha lá “esse plano não pode

ser usado para fins comerciais”; exatamente isso. Ou seja, uma bobeira,

irresponsabilidade total. Uma coisa deu resultado e fui indo, sem olhar,

sem ver contrato, sem regularizar, achando que ia me dar bem. E essa

cobrança foi devida. Foi parar na primeira vara cível e eu perdi. Quem

quiser saber como eu resolvi, eu conto depois.

Tipos de evento. Vamos lá. Eventos empresariais, institucionais,

promocionais, políticos, sociais, esportivos, culturais, estudantis. Essa

classificação é muito ampla. Um evento pode ser esportivo, cultural.

Por exemplo, eu sou capoeirista e professor de capoeira também.

Eu vou fazer um evento de capoeira, então eu pego muito recurso,

normalmente do FAC, Fundo de Amparo à Cultura. Capoeira se encaixa

em esporte, evento social, cultural, estudantil, dependendo do ponto,

é muito amplo como oportunidade de mercado. É muito importante,

quando eu vou realizar um evento pensar em que data vou fechar: É

feriado nessa data? As pessoas vão estar em Brasília? Vão viajar? E se

eu fizer um evento fora de Brasília, é uma data comemorativa? Às vezes,

vou fazer em um feriado religioso, e de repente meu público não vai. É

importante analisar tudo isso.

Costumes regionais. Às vezes, é uma data em que na cidade

ninguém sai de casa. Eventos nacionais, mundiais, copa do mundo

e outras coisas. Quando a gente vai falar de evento mundial, a

gente só lembra de copa do mundo. Vamos lá. Essa tabela feia aí é

muito importante: pontos de reflexão, conceito. Pontos de reflexão

Page 98: Anais - Secomunica 2016

97

e regras básicas. Conceito; pense em um conceito novo de evento.

Isso é importante, isso é o que a produtora fez aqui com os festivais

gastronômicos. Vamos fazer um evento...todo mundo conhece esses

eventos gastronômicos de rua? Chefe nos eixos, piquenique. Vamos

fazer um evento, mas vamos fazer mais do mesmo? Então, fomos

pesquisar e chegamos nesse ponto de fazer um evento diferenciado, aí

a gente veio com o festival.

Eu ainda não tenho nenhum conhecimento de festival do

tamanho que a gente faz. Nossos eventos são para no mínimo 5 mil

pessoas aqui em Brasília. Eu sei que daqui a pouco vão surgir vários. Aí

a gente fez o da pizza, fez o do brigadeiro. Evento é assim, gente, as

pessoas fazem. Daqui a pouco tem o festival da pizza dupla; aí o cara

fala: “Não é só outro; o meu é da pizza dupla, o seu é da pizza”. Então,

as pessoas fazem. A história da matinê, o cara lá fez a Super Club.

Visão, mude sua visão de evento, crie novas visões. Objetivo,

formule novos objetivos. Forma, pense em novas formas para o seu

evento. A gente pode se inspirar em eventos, em pessoas em negócios,

mas saia da caixinha. Busque fazer uma coisa que não existe. Vou

fazer um evento que nunca vi na vida, nunca vi em Brasília, vou fazer.

Possibilidades de realização: defina novas possibilidades de realização

do seu evento. Meu evento precisa ser dentro de uma casa, de uma

casa de eventos, dentro de uma boate, ou pode ser ao ar livre, no

Eixão, no parque, numa passarela? Na Asa Norte tem um pessoal que

faz um evento que é na passarela, é o “Forró na Passarela”, e “bomba”,

enche de gente; não sei como eles ganham dinheiro ali, mas “bomba”.

Planejamento e organização. Vou dar uma dica que me ajuda

muito quando vou fazer o planejamento dos meus eventos. A gente

Page 99: Anais - Secomunica 2016

98

aprende desde o primário a fazer aquele planejamento de uma forma

vertical, aquele planejamento bem metódico, primeiro, segundo,

terceiro, quarto, quinto. Só que tem um detalhe, o nosso cérebro não

funciona de forma linear, de cima para baixo, de baixo para cima. Isso

depende de cada um, na verdade, mas os criativos – que acho que é

todo mundo aqui da comunicação, povo criativo – se identifica com

esse modelo.

Todo mundo já ouviu falar desse camarada aqui [imagem]?

Esse camarada aqui inventou uma metodologia que a gente usa e nem

sabe. É uma metodologia chamada mapa mental. Quem já trabalhou

com mapa mental levanta a mão aí. Pois é, mapa mental é uma

metodologia muito antiga e muitas vezes muita gente não conhece,

nunca ouviu falar. O mapa mental é uma forma de planejar que não

é metódica. Por exemplo, eu vou fazer um planejamento para encher

essa garrafa de água. Eu sei que vou pegar a garrafa de água, vou

sair daqui, vou encher no bebedouro e voltar. Enquanto eu peguei a

garrafa de água, no meio do caminho lembro que preciso de uma

tampa. Beleza, volto, pego a tampa e volto para o meu planejamento.

Aí, lá no meio do caminho, eu lembro que o bebedouro que tem ali é

muito pequeno e que não dá para encher. Então, tento buscar uma

solução e lembro que tem outro filtro lá fora... Assim o planejamento

é dinâmico, vai mudando sempre. E o mapa mental é isso. Eu faço o

planejamento de uma forma mais criativa e uso algumas imagens para

fazer associações e lembrar o que eu preciso lembrar.

Em todos os meus eventos eu faço o mapa mental, começo a

rabiscar. Coloco o objetivo e começo a “linkar” tudo o que eu quero,

vou “linkando”, vou fazendo e depois eu organizo. Mais ou menos

Page 100: Anais - Secomunica 2016

99

assim [imagem], esse está muito bonitinho. Exemplo de um conceito:

“Combater o aquecimento global fazendo algo”. O que eu posso fazer?

Ah, posso fazer alguma coisa em casa: não secar roupa na máquina e

usar o varal; comer menos carne. Aí você puxa o link, e vai “linkando”

e vai montando o seu planejamento. Isso é muito bacana. Quer fazer

um trabalho, uma apresentação? Coloca lá o tema e vai jogando tudo

o que você tem na cabeça. Vamos voltar para o evento. Você diz:

“Quero montar um evento”. Então, você coloca lá: chamar segurança,

divulgar o evento, como divulgar; aí já abre outro link: panfletagem,

postagem no facebook, televisão, rádio. Beleza. Daqui a pouco você

lembra que, para rádio, tem que criar um spot então coloca outro link:

“criar spot”. E vai planejando. É dessa forma que eu gosto de planejar

meus eventos.

Vamos focar agora na Sub17. É importante a gente definir: o

público; no meu caso, eram jovens de 12 a 17 anos, classe A e B; a

música: era funk e música eletrônica; o horário: era matinê; local de

divulgação: no meu caso, o foco era Guará, Plano Piloto e Núcleo

Bandeirante. Isso é importante estar definido, porque na hora da

loucura, da correria, você fala: “Eu vou divulgar em Taguatinga”, mas

as vezes não é o seu público, não é o que você quer. Local do evento é

muito importante. Meu público aprova, tem credibilidade, passa algum

conceito? É de fácil acesso? Tem capacidade para o meu público?

É seguro? Meu público vai como? Vai com os pais, vai de carro, de

ônibus? Tem acesso? Não adianta fazer uma festa numa chácara linda,

mas onde é muito difícil chegar, porque as pessoas não vão.

Tipos de linguagem. No meu caso, uma linguagem jovem,

descolada, moderna; eu podia usar gírias, meu público permite isso,

Page 101: Anais - Secomunica 2016

100

gírias, dialetos, abreviações. Por exemplo, se a gente soltava lá: “Issa,

está ligado na sub17? Tô, o que rola? Mc Saede, partiu? Caraca, que

é isso, novinha, que é isso, novinha. Esse é louco. Então partiu, dia tal,

em tal lugar”. Se eu desse isso para outra pessoa ler, ela falaria: “O que?

Está tudo errado aqui! ” Mas para o meu público faz sentido. “Quando

bate o sinal do intervalo dá vontade de gritar: ah, leleque leque leque”.

Mas o que é isso? Pro meu público faz sentido.

Estão aqui o festival de pizza e o festival de brigadeiro. O festival

de pizza tive um pouco mais de dificuldade para conseguir fazer, pois

foi, como eu falei, a sementinha, a construção. No festival do brigadeiro

a facilidade foi maior, pois eu já tinha credibilidade, já tinha um portfólio.

Eu chegava já: “Você tem interesse no festival do brigadeiro? ” “ Tenho;

Não sei se eu tenho” “Ah, a gente fez o festival de pizza” “Ah, vocês que

são do festival de pizza? Poxa que bacana, eu quero, vocês são legais”.

Isso é importante também: a gente sempre se associar à marca

dos parceiros. A gente no festival de pizza quis associar a nossa marca

ao IFly e fechar uma parceria com eles, que tinham tudo a ver com o

nosso público. Todo mundo conhece o IFly? É um tubo de vento que

tem do lado do Píer 21, que faz simulação de voo. Tem um conceito

superbacana e casou muito com o nosso evento. Uma pizzaria também,

que é super conceituada no nosso público, a Pedacinho; eles inclusive

ganharam a melhor pizza do festival. E a gente usou essa marca não à

toa, foi para agregar valor.

Mídias. É importante sempre analisar isso aí, mídia online, mídia

off-line, o que eu vou usar. Nesse meu evento do festival do brigadeiro

não tive nenhuma mídia impressa. A gente não gastou nenhum papel.

Só mídia online. Eu já tinha esse negócio com panfleto, já cresci na

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101

minha vida profissional com esse negócio de panfleto, já era assim,

automático: eu ia fazer um evento, rodava 10 mil panfletos. Sabia nem

para quê. “Evento tem que ter panfleto”. Por que tem que ter panfleto?

Posso pegar esse dinheiro e investir em uma mídia online, que vai ter um

alcance muito maior. Então, é importante fazer esse paralelo, não ficar

no automático. “Ah, o evento lá fez outdoor, tenho que fazer outdoor”.

Não, o evento lá é o evento lá. Igual mãe fala: “Você não é todo

mundo”, “Mas todo mundo vai”, “Mas você não é todo mundo”.

Onde eu encontro meu público? No meu caso, em escolas,

cursinho, internet, festas e lanchonetes. Então, aqui eu tinha que ter

panfleto, como é que eu ia divulgar dentro de uma escola sem panfleto?

Ora, na página do facebook! Gente, facebook hoje é uma ferramenta

espetacular para evento. Quem nunca trabalhou, nunca investiu

dinheiro no facebook? Eu faço orientação empresarial pelo Sebrae

e às vezes chego numa empresa para dar orientação empresarial e

o cliente diz: “Página de facebook não adianta não; eu tenho minha

página lá e todo dia eu posto uma foto e não adianta nada”, “Mas

você investe alguma coisa, você paga para o facebook? Pagar vai

te dar um retorno”. E vale a pena, não tenham medo de investir no

facebook. “Ah será que isso vai dar resultado?” Claro que tem que ser

uma campanha bem armada, mas dá resultado. Em evento eu garanto

que é uma ótima ferramenta, a principal hoje em dia.

Ações promocionais. No festival, a gente fazia algumas:

entregava garrafinha squeeze, boné, promoção de carro, o cara queria

chegar na festa e ele ganhou uma corrida numa limusine, enfim.

Projeto de viabilidade. Importantíssimo: Quanto vai custar meu

evento? Como eu vou pagar isso? De onde virá esse dinheiro: Captação

Page 103: Anais - Secomunica 2016

102

de recurso? Venda de estandes? De ingresso? Patrocínio? Pagamento

antecipado? Essas são as famosas perguntas que eu escuto muito.

Respondo: “Depende”, “Ah, mas um evento assim, de 20 mil, de quanto

eu preciso?”, “E de 50 mil, preciso de quanto?” Na nossa produtora, que

já tem um conceito no mercado, já tem uma rede de fornecedores, a

gente tira muito pouco do bolso. Mas eu tenho que estar preparado

pra assumir o risco. No festival de pizza, nosso custo estava em 100 mil.

Eu tirei antecipado do bolso uns 3 mil. Aí, vai entrando receita, a gente

vai pagando o que tem que pagar, e normalmente, a gente paga a

maioria depois.

Mas eu tenho que estar preparado. Se antecipado, eu vendi

só 50 mil, de onde vou tirar os outros 50? Planilha de custo. Aqui, o

exemplo de uma planilha bem simplesinha, de um evento bem simples.

Era uma casa noturna, onde a gente tinha uma porcentagem de 50%

do lucro da portaria. A gente fez um evento que arrecadou um total

de 18 mil; para produzir o evento a gente gastou 13, então sobrou 5 mil

e pouco. Assim, a produtora ganhou 2 mil e quinhentos e a casa 2 mil

e quinhentos nessa parceria. Existe essa parceria nas casas noturnas.

Esse aqui [imagem] é outro evento específico de parceria, foi o primeiro

show da banda Hori, que era do Fiuk. A estrutura foi bem maior, e se

juntaram cinco produtoras para fazer esse evento.

Projeto de apoio e patrocínio. Esse aqui, na verdade, é o modelo

de apoio de empresas privadas. E acontece pessoal, a gente vende o

espaço, a imagem da empresa; e isso é bacana, é uma forma legal de

captar recursos.

Alvará, taxas e impostos. Outra coisa em que as pessoas têm

muita dificuldade. Então, para fazer um evento, tem que ter o alvará

Page 104: Anais - Secomunica 2016

103

da administração regional, que pode ser fixo ou eventual; por exemplo,

numa boate tem um alvará fixo, e se eu vou fazer um evento exclusivo,

o alvará é eventual. São vários tipos, dependendo do evento: alvará

da infância e da juventude; praticamente todos os eventos têm que ter

do bombeiro, polícia civil; se tiver alimento, precisa alvará da vigilância

sanitária.

Os contratos. Eu preciso ter contrato de locação do local

para conseguir tirar alvará. Eu tenho que ter contrato da empresa de

segurança, não posso colocar meu amigo para trabalhar.

Também tem o Ecad. Todo mundo sabe o que é Ecad? O Ecad

é a ordem dos músicos, por onde eles cobram uma taxa pelas músicas

que serão tocadas, eles cobram o direito autoral dessa música. Nesse

festival do brigadeiro, o Ecad me cobrou 4 mil reais. E aí a gente mudou

o projeto. A gente vai fazer, a gente vai colocar 4 ou 5 bandas, todas

vão tocar músicas autorais; e aí tem um documento do Ecade, que

as bandas abrem mão do direito autoral. Fala lá: “vou tocar a minha

música e eu não quero receber”. Só que o cara não pode tocar outra

música. Se tiver um fiscal lá, eu tomo uma multa. Isso existe também,

é um macete para você não pagar tanto no Ecad. No festival de

pizza, outro macete que a gente fez também. Me cobraram quase 7

mil reais de Ecad. “Eu não vou pagar 7 mil reais, muito caro, não tem

tem como eu pagar quase 10% da minha planilha só para Ecad”. Eles

fazem um cálculo por espaço ou por bilheteria. Quando é bilheteria,

o Ecade pega de 10 a 15%, depende do estilo musical. Aí falaram: “a

gente fez uma conta aqui e deu quase 7 mil reais”; falei: “Então, meu

evento vai ter bilheteria”; “E quanto vai ser o ingresso?”; “1 real”. Isso

é porque em festa junina, festa de igreja, todo mundo paga Ecad, e

Page 105: Anais - Secomunica 2016

104

eu cobrei 1 real de entrada. “Ah vou fazer as contas aqui em cima de

1000 pessoas, vai dar 100 reais, com a margem de desconto de 20%,

deu 80 reais o meu ecade”; então eu paguei 80 reais. A gente tentou

montar uma bilheteria voluntária, a pessoa chegava, dava 1 real se

quisesse, e quem não quisesse não dava. Aí o fiscal do Ecad foi lá, e

falou: “Igor, a sua bilheteria não está organizada, está entrando o que

quer”, “Mas eu tentei montar a bilheteria, não deu certo” “Então, vou

ter que te autuar”. E me autuou com uma multa de 1700 reais. Foi um

aprendizado. Na próxima vou colocar uma bilheteria, e só vai entrar

quem pagar um real, por exemplo. São saídas que a lei permite, então

são maneiras em que você pode formatar seu evento da maneira que

quiser.

Um dia eu cheguei no escritório e me ligaram: “Igor, abre

o R7, o site da Record, urgente”. E tinha essa matéria lá: “Festa para

adolescentes apresenta mulheres com pouca roupa e danças

sensuais”. Falei: “Cara, que imbecil! Mas a minha festa vai sair na

Record, pelo menos.” Quem achou alguma coisa de mais, pode falar.

Beleza, acharam de mais, eu também achei. Mas isso aí tem todo dia na

novela das 8, mulher dançando funk com shortinho. A gente estava na

lei, foi legal, não cometi nenhum crime, mas de repente não foi moral.

Eu poderia ter olhado outra atração, devia ter tirado, apesar de que a

gente toma o maior cuidado com isso. E lá falou que não tinha alvará,

um erro que também aconteceu. A gente fazia outra festa na Moena e

tirou o alvará como matinê da Moena, que era o nome da boate. Só que

a nossa festa se chama Sub17; por isso, a reportagem falou que a Sub17

não tem alvará. Foi aí que a gente recebeu uma orientação: “Coloque

exatamente o nome do seu evento no alvará”. E a gente tinha o alvará

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105

de funcionamento, da casa, a gente pegou esse documento e mandou.

Na verdade, no Píer 21 nenhuma loja tem alvará, vocês sabem

disso? Que nem o Píer 21 tem alvará? Ali é uma área que eles não

poderiam ter construído o shopping. Eles funcionam com liminar, que

permite que eles funcionem ali. E aí quando está acabando a liminar,

chega lá outro juiz e tira outra liminar. E o Píer já tem quantos anos já? 15

10 anos? Então, tem lugar que é assim, vive de liminar, isso é normal no

mercado. A gente teve uma reunião com o promotor, que falou: “Tira o

alvará assim da próxima vez, pega leve com as dançarinas”. E a gente

parou de pôr dançarina.

Contrato de locação, que eu falei que era importante ter. Esse

aqui é o contrato de uma festa na Ascade, que a gente fez. Está lá,

cheque caução de 12 mil reais, que a gente tem que deixar. Tudo envolve

muita responsabilidade. O bendito Ecad, aqui a taxa dele. Antes de fazer

um contrato com artista, é importante a gente pesquisar na cidade se

aquele artista já veio aqui, se ele tem exclusividade com alguém, quanto

a pessoa pagou. É importante fazer esse contato, fazer essas parcerias.

Já teve show que eu estava fechando o artista por 10 mil reais, aí meu

concorrente vai e liga para o artista querendo fazer o show dele. Aí o

artista me liga e fala: “Agora é 15 mil”; “Como assim agora é 15 mil? Era

10”. “A gente não assinou contrato, estão pedindo muito pra Brasília”;

“Pedindo muito? Quem pediu?”; Aí eu descobri que o meu concorrente

ligou querendo fazer o show da nossa produtora. Isso não é legal. Tem

que ter parceria, tem que jogar limpo, ligar, ver como parceria, não como

concorrente.

Deveres do contratante. São todos. Você trouxe um artista, você

tem todas as responsabilidades. O que ele vai comer, como ele vai se

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106

transportar, onde ele vai ficar. Se ele pegar uma gripe, você tem que

ir lá na farmácia e comprar o remedinho para ele; se ele estiver triste,

você tem que ir lá conversar com ele, se não ele não vai cantar. Eu já

tive caso de artista chegar em Brasília, pisar no aeroporto e falar: “eu vou

para casa”; “como você vai para casa? tem 3 shows para a gente fazer

agora!”; “eu vou para casa, estou bem não, estou cansando”. Artista é

artista. Percentual da portaria, isso existe também. Eu trago um artista e

falo: “Eu vou garantir o mínimo de 5 mil reais, se não vier ninguém eu te

dou 5 mil reais; e se for bom eu te dou metade da minha bilheteria”; isso

existe também, essas parcerias.

Contrato. Esse aqui é um contrato do Mr. Catra que a gente fez dia

21 de julho. É assim: muitas frutas, água de coco, suco sabor light/comum,

barra de cereal comum, barra de chocolate meio amargo, água termal

La Roche não sei de onde, trident sem açúcar, red bull 3 sem açúcar, 6

normais, cerveja, incenso de canela... é assim. Se você não fizer, o cara

não vai cantar no seu show. Então trate o artista bem. Se não, ele vai

chegar lá: “Poxa, como vou cantar sem meu incenso de canela?” Tem

esses detalhezinhos. Eu tirei esse trecho do contrato dele: “O cumprimento

dos itens solicitados, tanto para equipamentos, segurança, e camarim, são

partes integrantes do contrato e o show pode ser cancelado, podendo

ainda realizar o cancelamento do contrato”. Então, se eu não puser lá o

incenso de canela, pelo contrato ele pode até cancelar o show. Vou falar

a mesma coisa lá da Nextel, leia o contrato.

Depoimento de artista. Eu peguei o depoimento das pessoas

mais famosas que eu conhecia só para representar. O artista é sempre a

prioridade. todo mundo conhece esses artistas aí [imagem]? Sabe quem

são? Mc Marcinho, Mc Sapão, Dj Tubarão.

Vamos lá, estrutura de eventos. Quando eu vou fazer meu evento

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107

em um local público, um local que não tem estrutura, eu tenho que me

preocupar com tudo. É um local acessível? É um local a que um cadeirante

pode ir? Tem banheiro? É um local que eu tenho que fechar? É aberto,

vai chover, não vai? Isso é importante. Isso aqui é no Parque da Cidade,

o festival da pizza: projeto inicial da metragem que a gente ia usar; aqui

já é o mapa com as medidas. No nosso primeiro croqui tem uma tenda

10 por 10 e outra 10 por 3. Esse espaço aqui é o que a pessoa tem para

passar. Quando a gente foi ver, o espaço era muito pequeno para um

fluxo grande, de cerca de 15 mil pessoas rodando. Então a gente teve

que refazer o croqui e aumentar o espaço. Aqui o mapa final, da forma

que foi, que a gente entrega na hora de pagar a taxa de área.

A taxa de área pública é barata, não é cara não; você paga 60

centavos o metro quadrado. Para montagem do evento, você paga 8

centavos pelo metro quadrado e mais 8 centavos para desmontagem.

No caso do parque, tem a administração do parque; a gente vai lá, pede

o espaço, tem alguns locais que eles não deixam. Aí, se o parque me

dá a liberação, eu levo para a administração de Brasília. Tem locais que

eles limitam. Hoje em dia está bem flexível para fazer evento e ocupar o

espaço público.

Controle de público. Isso aqui é importante: como eu vou fazer

o controle de minha receita? Ingresso, pulseira? A gente tem essa

maquininha, é tudo online: se a pessoa imprimiu o ingresso, aparece no

meu sistema que ela imprimiu; quanto vendeu, onde vendeu; tenho um

controle todo online, bem bacana. Eu passo mais ou menos de 2 a 5%

da minha receita para eles. É bem mais caro que o papel, mas tem um

controle. Situações adversas. Vai chover, é época de chuva? O Festival

do brigadeiro a gente acelerou para não entrar em outubro, e perigando

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108

dar uma chuvinha. Vai ser no domingo, e estão todos convidados a

participar do evento. Inclusive se quiserem passar lá e ver a montagem,

vou deixar meu contato; as portas do evento estão abertas para vocês.

RH – recursos humanos. Sempre trabalhar com pessoas qualificadas, nada

de “Ah, tem uma prima, vou colocar ela no caixa”, “Eu tenho um amigo

e vou colocar ele l na bilheteria”, “não tem alguém para coordenar o

palco, então eu vou coordenar o palco”. Gente, não cai nessa, é furada.

Eu pago mais caro para o pessoal que trabalha comigo, mas eu pego

equipes que já estão no mercado, já sabem trabalhar. Porque não é fácil,

esse evento são 8 horas, então em 8 horas acontece muita coisa. E o

tempo passa; se você não fizer ali o que tem que ser feito, passou, já era.

São 8 horas para o evento estar limpo, para você vender sua expectativa

que são, digamos, 300 mil reais. Então, você tem que estar ligado o tempo

todo; os meninos que trabalharam lá sabem disso.

Pesquisa de satisfação: como é que está o evento? O pessoal está

reclamando ou elogiando? Tinha alguém monitorando o facebook direto

ali do evento e eu falei: “Olha, alguém reclamou, me passa na hora”.

Foi uma pessoa, duas, muitas? “Estão reclamando ali”; “Então muda”. A

gente tem que vender, e isso é importante.

Checklist. Normalmente eu faço checklist na minha planilha.

Você abre isso aqui, uma coisa já foi, já fiz, sempre falta outra: “tem que

comprar uma fita zebrada, um laço azul para amarrar no negócio que a

gente falou que ia ter”; então, checklist.

Etapas do evento: pré, durante e pós o evento. Durante o evento

é sempre o mais bacana, mas o que a gente trabalha mais é o pré evento.

E eu tenho um mês de divulgação. Então a mesma coisa, é um mês que

vai passar, não tenho tempo, não posso: “Ah, hoje eu vou dormir” e passar

para depois. É um mês se dedicando total. E pós-evento, fechamento de

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evento, pagamento de todo mundo, feedback para saber se foi bom, se

foi ruim, o que a gente pode melhorar.

Para fechar, vou passar um vídeo para vocês. Eu tinha deixado uma

frase que eu sempre falo: para fazer evento, a gente precisa ter coragem,

como eu falei. A gente fez o evento mês passado e eu tirei 3 mil reais do

bolso; dinheiro, gente, é de menos. Dinheiro você arruma, dinheiro você

pede para um amigo, você pede para sua tia, você pede para o seu pai,

você arruma um sócio que quer investir. Quem quer corre atrás, quem quer,

dá um jeito. Não faça nada sem ter como arcar. Arrume parceiros. Quer

realizar um evento? Faz, que vai dar certo.

Agora, você tem que ter coragem, porque o tempo todo vai vir

uma coisinha, o tempo todo. Por exemplo: eu tenho um espaço infantil

no festival do brigadeiro, e o cara me ligou essa semana, dizendo: “Igor,

eu não tive muita inscrição ainda e, se eu for, vou perder 200 reais; e eu

não posso perder esses 200 reais, cara. Então, eu não vou mais, não.” “O

que? Como assim não vai?” Aí teve um erro: a gente não fez contrato com

o cara, a gente achou que era uma empresa, mas não era; o cara não

era profissional, e a gente se deu mal. Eu estou hoje tentando fechar outro

espaço kids; então é o tempo todo.

Vou passar um videozinho para vocês, bem rapidinho. Muito

obrigado pela recepção de vocês e fico à disposição para quem quiser

trocar uma ideia, entrar em contato. Gente, esse vídeo eu vi a primeira vez

junto com o meu sócio, e até hoje a gente brinca, a gente fala: “Aí, você

quer ser lamborguini ou quer ser fusca?” E até hoje quando a gente se liga

porque tem um problema difícil para resolver, e um fala: “Ah, não vou não,

isso vai ser difícil”, o outro fala assim: “E aí, quer andar de lamborguini ou

quer andar de fusca?” Então esse é um trocadilho que a gente sempre faz,

sempre brinca.

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Mesa de Debates – Empreendedorismo em comunicação: casos de sucesso, enfrentamento de riscos1

Convidados: Luzinete Marques2 e Rodrigo Cunha3

Resumo: Neste debate, se coloca uma interessante polaridade sobre

a noção de empreendedorismo em comunicação. De um lado, uma

abordagem mais tradicionalista, segundo a experiência e formação

da empresária em assessoria de comunicação, Luzinete Marques. De

outro, a abertura para as novas experiências do jornalismo segundo a

perspectiva do jornalismo empreendedor, no qual um dos pontos altos

é a configuração dos novos perfis profissionais que se fazem necessários

para a produção de conteúdos hipermidiáticos. Chama atenção a

preocupação, em ambas as vertentes, com o público.

Palavras-chave: Jornalismo. Empreendedorismo. Design. Assessoria de

imprensa.

Luzinete Marques: Boa noite a todos os alunos, ao professor e

ao meu colega de bancada. Eu tenho dado algumas palestras em

faculdade, e visualizo muito isso que o apresentador falou. Quer dizer,

quando você sai da universidade hoje, quais são as expectativas

que você têm em relação à profissão? Às vezes bem baixas, porque

a profissão hoje já passou por “não tem diploma, tem diploma”. Tanta

1 Transcrição: Maria Giullia Gonçalves2 Jornalista. Diretora de Atendimento da Infinito Comunicação e membro do grupo Mulheres de Sucesso, Mulheres Empreendedoras do Brasil, G15, Grupo N..3 Doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas. Professor adjunto do Departamento de Comunicação Social da UFPE.

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gente querendo fazer a mesma coisa que a gente e, por outro lado,

também a comunicação mudou. Eu vi o currículo do pesquisador da

Universidade de Pernambuco com uma expertise bem grande e bastante

estudo na área de novas mídias. Então, hoje a comunicação mudou

tanto que, praticamente, todo mundo hoje é um produtor de conteúdo,

todo mundo que tem um celular na mão, que tem um computador, que

tem uma internet hoje é um produtor de conteúdo. E isso obriga a nossa

profissão, e nós como profissionais, a mudar. Tudo está em mutação, na

verdade, na nossa profissão. Não sei como começar, mas eu pensei em

começar contando um pouquinho a minha trajetória profissional e posso

dizer um pouquinho de como o mercado hoje está se direcionando,

como a nossa profissão está se direcionando, quais as carreiras que têm

surgido, quais as oportunidades, quais as possibilidades.

Rodrigo Cunha: Boa noite a todos. Conforme a Luzinete explicou,

sou professor da Universidade Federal de Pernambuco há um ano e

um mês. Ms há cinco anos já trabalho com a pesquisa em jornalismo

e dispositivos móveis, sendo que minha tendência de pesquisa está

mais voltada ao design e ao desenvolvimento de interfaces para esses

produtos. Então, durante desse período da tourada, por exemplo, passei

um período na Espanha, na Universidade de Málaga. Pude também

vivenciar um pouco outra realidade que também é muito semelhante à

do Brasil. Nós temos problemas de redações que estão demitindo muitas

pessoas, havendo um enxugamento de muitos profissionais. Muitos

desses estão há muitos anos no mercado e isso acaba trazendo todo

aquele discurso de crise do jornalismo, toda a preocupação de quem

está saindo da faculdade agora e o problema da expectativa que se

tem de poder conseguir um espaço dentro do mercado de trabalho.

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O que aconteceu é que muita gente realmente abraçou o mercado

digital e criou seu próprio produto. Tem a minha apresentação, depois eu

posso mostrar alguns exemplos, alguns problemas e alguns riscos. Muitos

estudantes recém saídos da faculdade passaram por essa experiência

e, até mesmo dentro de redações mais tradicionais, algumas iniciativas

de empreendedorismo, algumas inovações, por assim dizer, em termos

de formato, em termos de criar novos produtos para esse mercado

digital. Esse mercado se abriu, apesar de termos ainda esse problema

com relação aos meios mais tradicionais. O mercado digital abriu novas

possibilidades, tanto para linguagem, quanto para formatos, novos

desafios a serem explorados por jornalistas, por publicitários, por diversos

profissionais que estão envolvidos nessa área da comunicação.

Luzinete Marques: Eu comecei no jornalismo quando fui fazer

faculdade, como vocês hoje estão aqui na faculdade. Eu não tinha

exatamente uma ideia do que eu queria fazer. A forma como eu entrei

na faculdade foi bem engraçada. Eu fazia magistério, escola normal,

e tinha um grupo de teatro. Na época não tinha PAS, não tinha ENEM,

não tinha nada disso, pois faz bastante tempo. E fomos lá testar como

era a prova. E a gente resolveu fazer para o curso mais concorrido em

cada faculdade, porque achávamos que não íamos passar mesmo. E aí

nos inscrevemos na UnB para medicina; no CEUB, em Comunicação, na

época o mais concorrido; na UDF, Direito; e por aí vai. Acabei passando

para Direito na UDF e para Jornalismo no CEUB.

Enfim, eu fiz Jornalismo, me apaixonei, adorei tudo, me identifiquei

muito. Eu gostava de ler, gostava de escrever, já falava muito; então,

me identifiquei bastante com o Jornalismo. Minha carreira no jornalismo

comecei fazendo estágio na Radiobrás, hoje EBC, caminho que eu acho

Page 114: Anais - Secomunica 2016

113

que todo mundo começa, todo mundo trilha. Eu recomento a EBC, é

uma grande escola. Quem puder fazer estágio na EBC, faça, é outra

faculdade, porque você põe a mão na massa. Aliás, qualquer estágio.

Sempre que eu vou dar palestra em faculdade, recomendo fazer

estágios em locais diferentes, em áreas diferentes, é bem enriquecedor.

Na Radiobrás, eu fiz em um programa de rádio que chamava Viva

Maria; a apresentadora era a Mara Régia, minha amiga até hoje. Mas aí

eu descobri que no programa que eu ia trabalhar não parava nenhum

estagiário porque a apresentadora era louca. Louca do bem, tá gente,

porque ela exigia muito, porque sempre queria coisas muito criativas.

Nenhum estagiário parava lá e por isso eu fui contratada. Consegui durar

os seis meses e sou amiga dela até hoje, uma pessoa extraordinária, que

eu admiro horrores.

Pouco depois eu me formei em jornalismo. Na época, eu já

trabalhava como professora da Secretaria de Educação, quando surgiu

a oportunidade de trabalhar no núcleo de vídeo do órgão. Esse núcleo

depois se transformou numa TV educativa, criada durante o Governo

Cristovam. Foi uma experiência extraordinária porque eu consegui

montar toda a TV, participar desde a pesquisa, comprar equipamentos,

montar a programação, fazer tudo, experimentar tudo. Eu fiz tudo

o que podia lá: apresentei, editei, fui repórter, criei programas, fiz

documentários, criei uma série de cursos na área de cinema. A gente fez

cursos de tudo, roteiro, direção, produção etc. Foi uma super escola e

eu conclui esse processo na TV educativa como editora-chefe e diretora

da programação toda. Mas num determinado momento eu achei que

já tinha aprendido, crescido, experimentado, feito muitas coisas e tive

vontade de experimentar outras coisas.

Page 115: Anais - Secomunica 2016

114

Fui para a Rádio Cultura. O diretor da rádio na época me

chamou para assumir a coordenação da Assessoria de Comunicação

da Secretaria de Cultura. Para mim foi um choque, eu fiquei um pouco

assustada; entusiasmada, mas assustada, porque eu nunca tinha feito

assessoria. Na faculdade a gente não tinha essa matéria, não tinha

nada de assessoria na época. Então foi ali a minha primeira experiência.

Eu resisti um pouquinho, porque nunca tinha trabalhado com isso, e a

equipe que estava lá era super competente e experiente. Mas ele falou:

“Você tem um trabalho que já faz de coordenar equipe, e é disso que

eu preciso”. Aí, pronto, fui para a Secretaria de Cultura coordenar a

assessoria de comunicação.

E realmente foi ali que eu me encontrei, me apaixonei por

assessoria, me apaixonei pelo trabalho e nunca mais saí de uma

assessoria, até hoje. Passei por várias assessorias depois da Secretaria

de Cultura: fui chamada para o gabinete do governador; lá tinha uma

agência de notícias, que existe até hoje. Foi uma experiência fantástica,

incrível. Terminou o governo, a gente virou persona non grata dentro do

novo governo. Então, fui para o Governo Federal, Ministério da Cultura,

coordenar comunicação; depois para o Ministério da Educação, quando

o Cristovam foi ser ministro da Educação; depois para o Ministério do

Turismo, Embratur, Casa Civil, Presidência da República. Por fim, saí em

2010 para abrir a Infinito Comunicação.

Essa coisa de como empreender na comunicação é interessante,

não só na área de comunicação. Os empregos estão escassos ou, pelo

menos, eles mudaram um pouquinho. Não existe mais aquele emprego

formal, perfil, como nossos pais, pelo menos os meus pais, da minha

geração, sonhavam que eu tivesse. Esse emprego hoje não existe mais,

Page 116: Anais - Secomunica 2016

115

ou pelo menos está, na minha avaliação, deixando de existir. A questão

de empreender vem um pouco nessa linha, mas também um pouquinho

por causa do meu perfil mesmo. Acho que sempre tive essa coisa de

gostar de empreender, gostar de criar, fazer coisas novas e me reinventar,

fazer coisas diferentes. Hoje eu participo de vários fóruns em que a gente

trata sobre empreendedorismo, discute empreendedorismo, faço N

cursos sobre isso.

Empreender não é só você abrir um negócio. Empreender é um

perfil, uma postura, uma atitude. Você empreende em qualquer área da

vida: sendo um empregado, um funcionário público, empreende como

aluno. É um perfil. Eu acredito que é a disposição de você criar coisas

novas, de fazer coisas novas e fazer acontecer. Eu brinco que sempre

tive o bichinho do empreendedorismo me cutucando; já fiz tanta coisa

que vocês nem acreditariam. Por exemplo, tive um café na 411 Norte,

que se chamava Café Galeria; era uma galeria de arte pequenininha,

bem charmosa, com café. Também tive uma clínica de estética. Em

determinado momento da minha carreira, eu decidi que queria mesmo

ter o meu negócio. E eu finalmente me encontrei no meu caminho.

Então, em 2010, eu saí da Casa Civil da Presidência da República e abri

a Infinito Comunicação, onde estou até agora.

Empreender não é fácil mesmo. Mas, na minha avaliação, é

extremamente desafiante, entusiasmador. Eu adoro o que eu faço, sou

apaixonada pelo que faço. Adoro ir ao cliente, entender a necessidade

do cliente, entender do que ele precisa e traçar estratégias para que ele

obtenha um bom resultado no trabalho dele. A Infinito cresceu nesses

cinco anos em função disso, de a gente estar olhando para o cliente,

vendo o que ele precisa, vendo a necessidade dele, sem ditar regras,

Page 117: Anais - Secomunica 2016

116

mas ouvindo dele mesmo o que ele precisa. Às vezes, o que ele acha

que precisa não é exatamente aquilo de que ele realmente precisa,

embora ele ache que sim. Então eu preciso ouvi-lo, até para argumentar

e mostrar que talvez haja outros caminhos, alternativas para chegar ao

resultado que ele quer.

Hoje a Infinito Comunicação tem clientes de várias áreas, como

educação, empresas de treinamento, associações; a gastronomia é uma

área muito forte, até porque é uma área pela qual eu sou apaixonada

e conheço na prática. Na Infinito, a gente não tem nicho preferencial,

como algumas assessorias; a gente atende cliente de todas as áreas e

se mantém nesse foco: vender o que o cliente precisa. “Lu, eu preciso ter

mais clientes, mais faturamento”; “eu preciso reforçar a minha marca,

quero que ela cresça, apareça”; “quero fazer a transição de um perfil

da empresa para outro perfil”. A gente trabalha em cima disso, da

necessidade do cliente para obter bons resultados. É um pouco isso a

minha trajetória.

Rodrigo Cunha: Vou contar um pouco de como aconteceu essa

questão das pesquisas relacionadas às mídias digitais. Eu sou jornalista

por formação, sou do Amapá e acabo sendo o primeiro amapaense de

muita gente, que é um estado que pouca gente conhece, um estado

muito pequeno e que tem um mercado muito pequeno. Então, acabei

tendo um pouco de experiência como jornalista por lá, trabalhando em

televisão, em jornal, como estagiário também. E como eram empresas

muito pequenas, você acaba fazendo um pouco de tudo, desde

repórter, editor de caderno, motorista de carro de reportagem, fotógrafo,

diagramador, enfim, tudo num veículo de comunicação. Isso acabou

me trazendo uma experiência; de certa forma, foi enriquecedor.

Page 118: Anais - Secomunica 2016

117

Ao longo do curso, me aconteceu justamente de ter um interesse

relacionado ao design editorial. Eu gostava muito de revistas, já tinha

um pouco da revista no próprio DNA, por conta dessa exploração no

visual, com a fotografia e tipografia. Acabei me apaixonando por isso

e acabei levando isso como uma questão profissional. De certa forma,

acabei saindo do Amapá porque eu tinha a necessidade de crescer,

de conhecer mais o campo, de me aprofundar mais na área. Fui morar

em Fortaleza e lá eu fiz uma pós-graduação em design. Depois passei

num mestrado na Universidade Federal da Bahia e foi lá que acabei

desenvolvendo a minha pesquisa com comunicação e design, porém

relacionado a novas mídias, até porque lá havia uma linha de pesquisa

relacionada à cibercultura.

A cibercultura acabou aparecendo para mim nessa pesquisa

em design e comunicação, e acabou envolvendo os dispositivos móveis.

Isso foi no ano de 2010, mesmo ano em que chegou o iPad, lançado em

janeiro pela Apple pelo próprio Steve Jobs, em abril. Então, eu acabei

me aproximando mais do dispositivo para tentar entender de que forma

as empresas de comunicação estavam sendo inseridas nessa nova

plataforma.

Durante o mestrado e posteriormente no doutorado, acompanhei

um pouco desse fenômeno principalmente porque o iPad nasceu com a

possibilidade de ser uma tábua de salvação do jornalismo, que estava em

crise, em queda de circulação. Nós tínhamos, então, mais um dispositivo

fechado que poderia vender publicações. Eu estava acompanhando

de que forma as empresas no mercado experimentavam essa

plataforma, tateando algo que era muito incerto e que não sabiam

de que forma poderiam comunicar, ou de que forma poderiam criar

Page 119: Anais - Secomunica 2016

118

um produto e como seria a imagem desse produto. Não era a mesma

coisa de épocas atrás, quando o jornal e a revista se pareciam com livro

porque era o formato mais próximo que se tinha, mas depois acabaram

ganhando formatos próprios e criando uma linguagem para revista e

uma linguagem para o jornal, diferentes do livro. No caso do tablet, o

que tínhamos eram cópias de revistas impressas e também exemplares

que mais pareciam sites web. Nós fazíamos várias experimentações,

algumas até bastante distintas, e que poderíamos dizer que, sim, era

uma ferramenta apropriada especificamente para o tablet.

Essa fala eu vou dividir em pelo menos duas partes. Uma está

relacionada aos produtos específicos para o dispositivo móvel, que foram

criadas como produtos inovadores, quase sempre por gente muito jovem

e recém saída da universidade; e a outra sobre as pigmentações dos

veículos tradicionais, que decidiram também abraçar esse dispositivo e

criar um novo produto.

Na minha pesquisa de tese, eu explorei um pouco as

características desse dispositivo, considerando tanto o smartphone,

como também os tablets. E uma das características bem interessantes e

essenciais dos dispositivos móveis são os sensores. Cada aparelho, sejam

smartphones ou tablets, são dotados de diversos sensores, como GPS,

Wi-Fi, Bluetooth, câmera, touchscreen, acelerômetro, giroscópio, enfim,

diversos. O microfone é outro sensor. Então, os produtos jornalísticos

criados para esses dispositivos acabaram explorando esses sensores.

Por exemplo, a localibilidade; um jornal da Espanha pode ter

editorias para cada comunidade autônoma, ou seja, para Astúrias, País

Basco ou Andaluzia. À medida que você acessa o celular, ele identifica

o GPS e vai trazer notícias do local onde você está. Assim como o Google

Page 120: Anais - Secomunica 2016

119

faz muito bem, o Yahoo de certa forma, nos seus respectivos aplicativos.

A câmera também, e existem diversas possibilidades de

se trabalhar com ela: acelerômetro e giroscópio, relacionadas ao

movimento que se faz com esses dispositivos, ou seja, mexendo ou

chacoalhando o aparelho. Tem a possibilidade de se navegar utilizando

a ponta dos dedos, algo inerente a dispositivos com tela sensível ao

toque. Se você não tocar na tela, não vai acontecer nada.

A partir disso, eu comecei a explorar de que forma se utilizam as

ferramentas e inovações dos dispositivos móveis. Parte de minha pesquisa

é com publicações espanholas, do tempo que passei na Espanha.

Pesquisei tentando entender o mecanismo desses dispositivos em relação

a revistas. Muitas dessas revistas são praticamente criadas por alunos

recém saídos da faculdade e que não encontravam oportunidade

no mercado da Espanha, mesma situação do Brasil, com redações

“enxugando” a quantidade de profissionais. Então, os estudantes tinham

exatamente essa ansiedade: “Como é que vou encarar esse mercado,

que não me é muito amigável, que não está sendo muito favorável em

uma expectativa de emprego?” Eles abraçaram os dispositivos móveis e

criaram suas próprias revistas.

São revistas que até hoje existem, podem ser baixadas

gratuitamente no tablet e em smartphones e exploram todas as

potencialidades do dispositivo. São muito interativas por não terem essas

amarras de publicidade ou amarras editoriais. Têm potencialidade de

exploração muito grande, brincam com o leitor, fazem quiz, entrevistas,

mostram muitos vídeos, muitas interações. E também grande potencial

de experimentação, uma linguagem muito mais jovem, muito mais

aberta e brincalhona. Uma dessas revistas foi um produto tão interessante,

Page 121: Anais - Secomunica 2016

120

tão inovador nesse sentido, que acabou sendo comprada por uma

empresa do jornalismo tradicional, a Marca, a maior revista de esportes

da Espanha. A revista virou a Marca Plus, com publicação quinzenal

voltada para tablets e uma versão para o site. Aqui no Brasil nós também

temos alguns exemplos.

A questão da tactilidade é uma forma diferente de navegação,

em que a pessoa que quer navegar tenta decorar alguns gestos para

poder conseguir ter essa interação com a revista. E aí é que está o

desafio: como conseguir fazer o leitor navegar sem ter ruídos, sem ter

problemas e acabar desistindo de ler a revista? Esse foi um dos primeiros

riscos que esse mercado teve que encarar: Como fazer com que o leitor

tenha uma experiência a mais aprazível possível na navegação dessa

nova forma de se fazer revista?

Trago agora a revista Vis-à-Vis para mostrar alguns exemplos de

interface de navegação que têm uma base muito grande do design.

Essa é uma matéria “Salvajes y Corruptos” [imagem], voltada a alguns

artistas e pessoas famosas que foram presas. Aí o leitor tinha justamente

uma brincadeira de colocar as grades. Porém, ele só poderia ler a

reportagem se abrisse a grade, então ele tinha que ter indicações. O

próprio design de informações possibilita isso, para que a pessoa abra a

grade e consiga ler o restante da matéria.

Mostrando outro exemplo de navegação, a ficha de Frank

Sinatra, uma das pessoas que foram presas aí também. Você puxa a

ficha dele justamente como uma ferramenta de navegação; você puxa

e vê porque ele foi preso, em que época, enfim, toda a explicação do

acontecimento. A interação nesse tipo de publicação é o que permite

ao publicador experimentar e brincar um pouco mais com o leitor,

Page 122: Anais - Secomunica 2016

121

conversar mais com ele. Todas essas são potencialidades que o próprio

tablet trouxe para as publicações.

Eu falo também das publicações criadas pelos meios mais

tradicionais. Nós temos veículos que já têm muitos anos de história, como

O Globo, Estado de S. Paulo, Diário do Nordeste de Fortaleza. Cada um

decidiu abraçar e criar também sua publicação específica para tablet.

O Globo A+ é o único que não existe mais, fechou no ano passado, mas

foi um dos grandes exemplos. Os veículos deslocaram um determinado

número de reportagens para produzir só para esse produto, só para essa

plataforma. O Estadão Noite existe até hoje; é uma publicação que sai

todos os dias, de segunda a sexta, às 20h. E o Diário Nordeste Plus, que

também ainda existe, tem a função de ser um aplicativo de atuação

vespertina com o resumo das principais notícias que aconteceram ao

longo do dia, para uma leitura mais relaxada. A pessoa que chega do

trabalho, deita no sofá ou na cama, pega o tablet e faz uma leitura

muito mais descansada. Muitas pesquisas dizem que pessoas leem mais

tablets no final do dia, a partir da noite, é quando há a maior incidência

de navegação.

Em relação a isso, eu gostaria de mostrar exemplos de algumas

inovações não só com relação aos tablets, mas também em relação

a web sites. Nós já temos um determinado histórico de publicações

na web, desde de 94-95. Temos a web comercial e todas as gerações

do jornalismo online. E de repente vemos possiblidade de inovação

também no jornalismo para a web. De 2012, um grande exemplo é o

Snow Fall, lançado pelo New York Time e um grande marco, que ganhou

inclusive o Pulitzer de Jornalismo. Ele conta a história de uma avalanche

que aconteceu no túnel Creek, uma cadeia de montanhas que existe

Page 123: Anais - Secomunica 2016

122

no estado de Washington, nos Estados Unidos, limite com o Canadá,

envolvendo vários esquiadores. Esse é um exemplo do jornalismo de

dados: para que se constituísse essa matéria, praticamente não houve

repórter no local, não tinha registo de fotografia e foram as testemunhas

que ajudaram na reconstituição da reportagem. A matéria foi toda

construída a partir de dados.

Uma das tendências que vejo de inovação, de despigmentação

é o empreendedorismo no jornalismo, é a utilização de dados para você

construir uma tese. Uma parte dessa reportagem é a reconstituição do

caso e foi feita a partir de dados: dados meteorológicos, de topografia,

velocidade, relatos de pessoas, tudo para o leitor construir e reconstruir

a história. Esse gráfico [imagem] mostra essa cadeia de montanhas. A

constituição de altitude, localização dos esquiadores, como caiu essa

avalanche. Na matéria, todos os dados não tiveram nenhum repórter

como fonte dessa história. A matéria utiliza tanto o som, que identifica

para o leitor a velocidade que está caindo essa avalanche, quanto

outros dados que vão complementando essa informação, todo o

detalhamento de como a avalanche aconteceu.

É uma das matérias que apenas um repórter escreveu, porém

com uma equipe de 15 pessoas, entre editores de vídeo, editores de

imagem, infografistas, repórteres visuais e outros. Na verdade, o que se

tem aqui é o empreendedorismo no jornalismo envolvido com vários

profissionais para poder produzir uma matéria. O que a gente tem de

diferente e de inovador na nova geração do jornalismo é justamente

isso: é o jornalista que está aliado com designers, com programadores,

com outros profissionais que ele tem que lidar.

Existem muitos artigos que dizem da possibilidade do jornalista

Page 124: Anais - Secomunica 2016

123

programador, do jornalista designer, do jornalista isso e aquilo. Eu não

acredito muito; não é saudável você dizer que um jornalista tem que

assumir multitarefas. Alguns pesquisadores falam do mobile jounalist; é

aquele jornalista que carrega mochila cheia de ferramentas, que vai e

filma, fotografa, traz áudio, vídeo, joga na internet. É um jornalismo que

acaba tendo que lidar com muitas coisas e acaba não fazendo bem

diversos papeis. Então acho que o jornalista hoje vai ter que ser aberto

a essas várias linguagens de programação HTML5, CSS3. Entender um

pouco que existe isso e conversar mais abertamente com esses diversos

profissionais.

Antigamente, anos 40, 50, você tinha as redações assim, a

redação de jornalista em cima, a oficina lá embaixo. O jornalista

mandava a matéria para a oficina, que tinha que se virar e fazer caber

aquela informação. Uma matéria começava na capa e continuava na

página 14. Começava na página 13 e terminava na página 15. Essa falta

de planejamento era falta de conversação dos profissionais. Agora não,

você já tem um designer, o programador que está desde a reunião de

pauta ali, planejando com você; então ele já está participando desse

planejamento. Inclusive há designers que podem derrubar uma pauta,

já acontece isso em algumas redações.

Um outro exemplo de inovação que eu vou mostrar é o New

York voltado ao jornalismo de dados. O News York Times criou um

departamento de inovação e um departamento de design dentro do

jornal. Com esse jornalismo, o jornal conta os 12 anos de administração

de Michael Bloomberg como prefeito de Nova York. Ele conta isso a

partir dessa visualização, desse infográfico; então você, leitor, viaja pela

cidade, viaja por cada zona de Manhattan e de outras regiões de Nova

Page 125: Anais - Secomunica 2016

124

York, e vê o que se modificou ou não. É uma mescla de interações, de

fotografias, de diversos elementos que vão compor essa reportagem e

que vão ajudar você a tentar entender a história. Você vê o crescimento,

mostrando os novos prédios que começam a surgir na ilha de Manhattan;

depois você tem comparações com fotografias antes da administração

e depois da administração dele. O passeio continua por essa imagem

3D da cidade de Nova York. Novamente uma comparação de fotos; e

aí você vai passeando e mostrando algumas outras mudanças, como,

por exemplo, a construção de novas ciclovias ou a importância que se

deu às ciclovias na cidade, assim como aconteceu em São Paulo.

Então nós temos aí uma comparação da Times Square antes e a

Times Square hoje, com essas vias de bicicletas e mais gente circulando

pela cidade onde antes só havia carros. Então, a reportagem é toda

construída dessa maneira. Não vou mostrar só exemplos internacionais

com esses departamentos de inovação nas grandes redações, pois

isso também aconteceu em casos brasileiros. A própria Folha decidiu

inovar na questão de narrativa. Por exemplo, para contar sobre Belo

Monte, mandou repórteres para o interior do Pará, para contar um

pouco sobre a realidade ribeirinha, de índios, os conflitos de terra, que

já são característicos dessa região do interior da Amazônia; as próprias

características da cidade, fotos das usinas. A matéria é toda feita de

uma forma vertical; você vai fazendo scroll, assim como você navega

no Snow Fall, e aí, junto com essas reportagens, você tem infográficos,

você tem vídeos, você tem até a própria “folhacoptero”, um helicóptero

que vai navegando para mostrar para você uma visualização da região

onde foi construída a usina de Belo Monte. É um material mais simples

do que o do Snow Fall em termos de visualização, porém um exemplo

Page 126: Anais - Secomunica 2016

125

interessante que temos aqui no Brasil.

Aí existe também o G1 que mostrou o Bye Bye Brasil, o filme do

Cacá Diegues e 30 anos depois mostrou cenas do filme comparando

com a realidade hoje. Eles fizeram exatamente o mesmo caminho

da Caravana Holiday. Pra quem assistiu o filme e sabe da história da

caravana circense circulando pelos arredores do Nordeste, interior do

Pará e, depois, contando como é que está hoje, é fácil comparar como

era antes e hoje, e fazendo uma perspectiva mais social dessas regiões

no interior do Nordeste e no interior da Amazônia. Tanto que eles pegam

vários frames de imagens de vídeos do filme, comparando com as

mesmas tomadas, os mesmos takes das imagens hoje feitas pelo G1.

Outras matérias que já têm outra perspectiva: por exemplo, essa

reportagem produzida pelo O Globo, que é dos 100 anos de Dorival

Caymmi; é mais interativa, pegou vários vídeos cantados e interpretados

por diversas pessoas. São leitores d’O Globo que gravaram vídeos

e mandaram pela internet; a partir do momento que você toca essa

música, ela sincroniza nesses artistas. Então um canta um pedaço, o

outro toca flauta em outro momento, outro toca no palitinho, numa

caixa de fósforo, outro tocando violino. E aí você pode fazer esse jogo,

pode trocar o artista que você gostaria de sincronizar.

São exemplos de experimentação do jornalismo na web em que

você acaba fazendo narrativas mais interessantes e envolvendo mais

o leitor, que é o mais importante. Você pode utilizar essas plataformas,

essas linguagens, essas coisas todas, para incentivar e para favorecer,

principalmente, o leitor, que é a principal pessoa para qual você está se

comunicando. Então eu creio que, hoje, temos algumas possibilidades

que chegaram aí, no jornalismo.

Page 127: Anais - Secomunica 2016

126

Aqui [imagem], só para mostrar uma reportagem do SND,

uma instituição sobre design de notícias. Eles sempre têm atualização,

sempre congregam diversos designers de jornais, de revistas, de sites do

mundo todo e têm uma premiação, que todos os anos contempla essas

iniciativas de criação de narrativa, de experimentação, de publicações

que surgem, tanto criados por profissionais jovens, quanto os que já

estão estabelecidos no mercado. E aí só para mostrar, por exemplo, esse

jornal Times Of Oman, país do Oriente Médio, que criou uma infografia,

uma forma de visualização que permitia brincar com o leitor. Dentro

dessas páginas, ele tinha que recortar uma bola, nesse caso uma bola

de futebol, porque era época da Copa do Mundo. A cada edição do

jornal, vinha um pedaço da bola, que você podia recortar e fazer a

montagem do material. Era o infográfico em 3D. Então, são coisas do

tipo que eu acho interessante de você inovar e criar essas linguagens

dentro do Jornalismo. Esse aqui é só um exemplo do Los Angeles Times,

que também mostra o que hoje a gente está encarando dentro do

jornalismo.

Nós temos uma mudança considerada de plataforma, em que

você está trabalhando muito com ferramenta em três dimensões e

códigos. Você praticamente está contando uma reportagem a partir

de códigos, de visualização. Hoje é esse meu interesse de pesquisa, meu

foco de pesquisa está mais voltado à infografia e à visualização de dados.

Estou muito interessado em entender como essa juventude, como esses

jovens que estão envolvidos, tanto com programação, quanto com

jornalismo, estão unindo essas duas coisas e empreendendo, criando

aplicativos, criando formas de visualização, criando novos produtos

jornalísticos. Enfim, coisas que diferenciam mais do que a gente está

acostumado a ver com o jornalismo tradicional.

Page 128: Anais - Secomunica 2016

127

Eu penso muito atualmente. Meu foco é justamente acreditar

que o designer, a ciência da informação e a ciência da computação

estão, juntos, fazendo a inovação do jornalismo. Eu estou encarando

muito isso e estou vendo, com cada vez mais entusiasmo, exemplos disso.

Exemplos não vindos da redação tradicional somente, mas também

desses jovens que estão saindo da faculdade e estão querendo criar

seus próprios produtos, criar seus próprios blogs, suas próprias aplicações

e trazendo essas inovações para o leitor a partir dessas reportagens.

Então, é isso que eu gostaria de mostrar mais para vocês e é isso que

eu gostaria de deixar de mensagem para a gente tentar pensar nessas

novas possibilidades dentro da comunicação.

Luzinete Marques: Eu acredito que o momento é bem propício

para quem quer inovar. Acho que cada dia mais, a gente tem mais

possibilidades e mais oportunidades. O Rodrigo falando, eu fiquei

embasbacada. Você fica assustada com o universo e com a quantidade

de coisas que acontece o tempo todo e ao mesmo tempo; muito

entusiasmada, porque a gente tem isso aqui. Ele estava falando, e eu

pensando; nossos dois perfis aqui, bem distintos. Eu trabalho com uma

área ainda muito tradicional da comunicação, e ele trabalha com uma

área completamente nova da comunicação. Ele está pesquisando o

que há de mais novo, o que há de mais inovador na comunicação. Ao

mesmo tempo, o que ele faz não prescinde do que são as ferramentas

tradicionais. Ele necessita de um bom texto, necessita de um profissional

com um olhar; quem trabalha com design precisa ter um olhar

diferenciado.

O novo não prescinde da tradição, das ferramentas que hoje

a gente tem, com as quais a gente trabalha e com as quais a gente

Page 129: Anais - Secomunica 2016

128

trabalhou no passado, que é mais tradicional, e todo dia eu me

questiono até quando a assessoria de imprensa vai existir, até quando os

veículos vão existir, se ainda daqui a cinco anos a gente vai ter veículos

de comunicação como eles existem hoje. Eu me questiono. Vocês que

estão aí na faculdade, que estão começando a vida de vocês, estão

tendo acesso a muitas coisas novas. Todos os dias eu penso: será que

daqui a cinco anos o Correio Braziliense vai existir como ele é hoje? Será

que daqui a cinco anos a TV Globo vai existir? Será que daqui a cinco

anos os sites vão existir como eles são hoje?

As vezes o cliente fala assim “eu queria sair na Globo”, “eu

queria sair no Correio”, legal sair no Correio, muito bacana mesmo, 60

mil pessoas vão ler ali e amanhã esse jornal não existe mais, então ele

vai ler ali no portal e beleza, só que no digital influente, por exemplo,

uma pessoa que tem o perfil bacana no Instagram, ou que tenha um

Snapchat bacana, etc, e influencia também, tem lá 60 mil seguidores.

O que eu observo hoje e que eu vi muito na fala do Rodrigo é isso, que

a gente tem um leque. Às vezes, quando a gente acha que o mercado

está se restringindo, porque os veículos estão encolhendo, os jornais

estão demitindo, ao mesmo tempo, tem um mercado em expansão,

com infinitas possibilidades. A gente tem aí o marketing digital, que está

crescendo e é uma área que não existia há um tempo atrás. Então eu

falo que hoje na comunicação você tem N áreas para trabalhar que não

só rádio, TV, jornal, site, etc. Você tem um leque infinito de possibilidades

para trabalhar. O que vocês precisam fazer é só descobrir, ter curiosidade

de pesquisar, de experimentar, de tentar achar a vocação de vocês, as

habilidades que vocês têm, descobrir o que o mercado está pedindo,

está necessitando.

Page 130: Anais - Secomunica 2016

129

Rodrigo Cunha: Muito da sua fala eu também concordo. Apesar

de a gente ter muitas ferramentas, essas novas ferramentas que eu

apresentei aqui, a base do jornalismo ainda é a mesma; nós precisamos,

com certeza, de um bom texto. O profissional ainda precisa ler de tudo,

desde bula de remédio até o jornal de hoje, a pessoa tem que ser

curiosa. Uma das características de ser curiosa é querer conhecer de

tudo, querer investigar e pesquisar sobre tudo. E, a partir da curiosidade,

você acaba aprendendo muita coisa, você acaba aumentando muito

o seu repertório, acaba conhecendo novas ferramentas.

Luzinete Marques: Como eu falei antes, tenho um núcleo forte

de gastronomia na Infinito Comunicação. Aí, tinha uma jornalista que

trabalhava comigo e essa jornalista foi contratada para trabalhar nesse

núcleo, para atender alguns clientes nessa área. Então o mínimo que

eu espero é que você tenha a curiosidade. Você não é obrigado a

entender de todas as áreas, mas que você vá atrás, que você pesquise,

que você leia. Então, se vou atender o cliente de gastronomia, tenho

que ler tudo sobre gastronomia, me aprofundar o máximo nisso. Eu

vou atender um cliente na área de saúde, vou precisar entender um

pouquinho do mercado de saúde. Você faz assessoria na Secretária da

Mulher, tem que entender de mulher, tem que estudar as questões de

gênero. Então, é o mínimo que você espera. Então hoje, com o Google,

com internet, o mínimo que eu posso fazer é pesquisar. Quando eu

vou para um cliente, quando eu vou a uma empresa conversar com o

cliente, o mínimo que tenho a obrigação de fazer é pesquisar antes de

começar a fazer isso..

Rodrigo Cunha: Mas é claro! Evidentemente isso é muito

importante para o perfil profissional, seja se eu for trabalhar com assessoria

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de imprensa, seja se eu for criar um aplicativo para dispositivo móvel.

Eu acho que é um desafio muito grande que a gente tem, tanto no

mercado, quanto na academia, justamente você acabar colocando

isso para as pessoas, para os alunos. A gente vê muito na história do

jornalismo uma falta de diálogo, como eu falei, entre o profissional de

design e o jornalista. Para muitos jornalistas e até alunos hoje: “Ah, para

quê designer? Eu só quero escrever meu texto e pronto. Não quero

me interessar por fotografia, não sei para que serve infográfico, não

sei para que isso”. Então esse é um problema que eu encontro muitas

vezes e tento debater, tento instigar a importância disso. É algo que que

se disseminou muito no mercado, acabou chegando à academia, ou

vice-versa, e cada vez mais a gente tenta integrar. Eu vejo que hoje o

jornalista está muito cercado dessas outras áreas profissionais. Eu mesmo

estou tentando criar um grupo de pesquisa na disciplina na qual eu

trabalho, não só com comunicação, mas tentando chamar gente de

design, de ciência da informação e outras para a gente discutir junto

essas funçõres de design, infografia e visualização de dados.

Essa coisa das novas mídias, você contou muito bem que está

se transformando muito mais rapidamente, coisas que iniciam e morrem

muito mais rápido, de uma forma assustadora, inclusive há muito risco

para o mercado hoje, e eu digo até mesmo quanto aos tablets. Eu

mesmo pesquisei tablets e hoje se vê uma queda muito grande disso, a

própria Apple diminuiu o lançamento dos dispositivos e outras empresas

desistiram de lançar novos modelos. E aí será que vai ter futuro isso?

Isso em que todo mundo jogou, apostou e de repente você vê decair

tão rapidamente. Então são riscos que a gente enfrenta mesmo com

essas novas ferramentas. O que eu acredito é que esse jornalismo

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tradicional vai continuar, mas vai ter que se transformar e continuar

se transformando. O próprio jornalista não vai ter que olhar para o

próprio umbigo, mas saber e conhecer essas ferramentas e conversar

cada vez mais com esses novos profissionais como consequência da

chegada das novas mídias.

Como consideração final, acho muito importante as palavras

da Luzinete sobre essas expectativas, principalmente essas ansiedades

de quem está saindo, de quem está querendo encarar o mercado

e de que forma vai poder trabalhar, se inserir; achei muito valiosas

as palavras. É justamente isso, você pegar algo que você gosta e

explorar isso, saber de que forma você vai poder juntar as duas coisas:

jornalismo e música, ou moda, ou culinária, da forma que você vai

gostar, vai querer explorar. E com certeza, você fazendo o que gosta,

escreve sobre algo que você realmente tem essa paixão, você só vai

fazer o melhor trabalho possível. Acho muito importante essa coisa de

você fazer realmente algo que te dá interesse, que te dá essa paixão

e trabalhar em cima disso.

O design, por exemplo, é a minha paixão, então gosto muito

de falar disso, gosto muito de pesquisar e foi acontecendo, de repente

aconteceu. Quem tiver curiosidade, quem quiser conversar mais sobre

isso, quem quiser falar mais sobre design, estou lá na UFPE, presente

digitalmente nas redes sociais. Tem o site rodrigocunha.info que é o

meu blog, onde eu atualizo coisas sobre jornalismo, design, a pesquisa

e qualquer outro assunto. Vocês podem conversar comigo e vou

estar sempre à disposição. Obrigado pela oportunidade, obrigado à

organização da Secomunica, por ter gerado essa oportunidade de

poder conversar com vocês.

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Luzinete Marques: Também quero agradecer à organização por

ter me convidado, aprendi muito hoje; fiquei encantada com a fala do

Rodrigo, aprendi muito mesmo. Para concluir, só quero incentivar vocês

a lerem. Leiam bastante, estudem bastante, sejam os melhores no que

vocês façam, não importa o que. Sejam os melhores no que vocês

fizerem. Tenham muita paixão pelo que vocês fizerem, façam com muita

paixão tudo o que fizerem e onde você estiverem, pois, em qualquer área

há oportunidade para vocês fazerem um trabalho bacana para inovar,

para empreender, seja no serviço público, seja como funcionário, seja

em um veículo, seja em uma empresa pequena, seja em uma empresa

grande, há sempre uma oportunidade para você fazer diferente. Eu

brinco que eu me reinvento sempre, todos os dias, mas de tempos e

tempos de uma forma mais impactante. Acho que daqui há cinco anos,

se vocês me convidarem de novo para a Secomunica, eu vou estar

fazendo outras coisas e falando de outras coisas, com certeza. Também

como o Rodrigo, me coloco à disposição de vocês. A Infinito também

está à disposição de vocês para ir lá conhecer, passar um dia, uma

manhã, uma tarde, para conhecer um pouquinho o trabalho. Aprendi

muito, foi maravilhoso estar aqui com vocês hoje, foi incrível. Obrigada.

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Palestra – Comunicação em Tempo Real1

Palestrante: Daniele Rodrigues2

Resumo: A cada ano que passa, alguns parâmetros novos vão se configurando no universo da comunicação, forjando novos perfis profissionais, bem como processos produtivos. Nesta palestra, as sócias fundadoras da Redatoria discorrem sobre empreendedorismo e multidisciplinaridade, oferecendo um panorama do mercado no Brasil, assim como relatando seu próprio processo de constituição como empreendedoras. Falam de equipe, relacionamento com cliente, estrutura, conhecimento gestor, novas tecnologias e empreendedorismo feminino, entre outros aspectos significativos.

Palavras-chave: Real time. Narrativa. Redes sociais.

Daniele Rodrigues: Obrigada pelo convite, gosto muito de Brasília, já vim algumas vezes para cá, para cursos, enfim, gosto bastante daqui. Basicamente ,eu trabalho com planejamento e real time já há uns 5, 6 anos, e hoje eu estou na Coca-Cola fazendo justamente isso. Então as campanhas de Coca que vocês veem na rua hoje, era eu estava trabalhando no real time disso.

Hoje, quando a gente fala em real time, existe uma confusão, pois elas entendem real time como ficar falando a todo instante nas redes sociais. Então pego um jogo de futebol, num canal como o ESPN, por exemplo e começo a narrar minuto a minuto. Isso não é necessariamente real time. Pense o seguinte, hoje vocês estão aqui, acabaram de falar sobre um projeto superbacana, e vocês ao mesmo tempo estão no WhatsApp, vocês estão no Instagram, vocês estão em tendo uma outra vida, estão tendo uma série de influências que extrapolam o ambiente físico, vocês vivem vários momentos ao mesmo tempo.

1 Transcrição: Maria Giullia Gonçalves2 Jornalista, redatora, publicitária e Planner

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Então quando a gente fala no real time, essa é uma frase do google “a gente não entra na internet, mas a gente está sempre conectado”, então a nossa vida é conectada. Se eu entendo isso, que a gente está sempre conectada, o que a gente precisa entender é: como que eu vou conseguir, como marca, como empresa, me conectar com vocês, a ponto de vocês prestarem atenção no meu conteúdo, e não no conteúdo do meu concorrente, e não no conteúdo que nem é concorrente, mas é sobre um assunto aleatório? Na hora em que a gente vai fazer uma narrativa, trabalhar o conceito de real time, eu penso sempre em três pilares. Primeiro que a gente está na época da cultura da conexão, e se um conteúdo não é espalhável, se ele não tem aderência, ele não existe, ele já nasce morto. Então quando uma marca faz uma comunicação que não ecoa, ela já não tem significado, ela já não faz parte dessa cultura da conexão. Outra coisa bem bacana é o conceito de Grans Well, que é o seguinte: hoje, quem aqui, quando vai comprar um telefone, vai escolher uma operadora, vai falar com a Tim? Ou com a Vivo? Você não vai mais na fonte oficial. Você vai num fórum de tecnologia, você vai no Reclame Aqui, no Facebook, você vai pedir informações de outras pessoas que não têm nada a ver com o canal oficial, porque você não confia mais nas fontes oficiais, esse é o conceito de Grans Well, quando eu uso a tecnologia para resolver minha vida, sem depender, digamos assim, de pessoas com opinião condicionada. E por fim, o conceito mais importante que eu gostaria de falar com vocês, é sobre Micro Momentos. O que é micro momentos? É o conceito que o Google trabalha com bastante densidade, que ao longo do nosso dia, da nossa vida, a gente tem 150 micros momentos. Então por exemplo, vocês acordaram, vocês tomaram banho, vocês tomaram café, vocês pegaram um transporte para chegar até aqui, vocês estão ouvindo essa palestra, vocês estão respondendo um e-mail, vocês vão almoçar, vocês vão comprar alguma coisa, são 150 micros momentos. O que importa para as marcas, o que a marcas precisam entender para comunicar em tempo real? Eu preciso dentro desses 150,

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entender quais desses 150 são estratégicos por exemplo para a Coca-Cola. Porque que a Coca-Cola vai falar com vocês às 10 da manhã, no momento que vocês estão tomando café em algum lugar? Ou lendo alguma coisa? Ou escolhendo o show a que vocês vão no final de semana?

Então eu preciso identificar quais são os micros momentos que têm afinidade com a minha marca, que vocês estão com intenção de consumir a minha mensagem. Eu não posso mais ser intrusiva. Eu preciso prestar um serviço. Então, a partir de um momento em que você quer uma informação, vou pegar um exemplo que fica mais tangível. Você está com sede, 40 graus aqui em Brasília, vocês estão em um domingo, fazendo alguma atividade outdoor e vocês recebem uma notificação no facebook de vocês, de que na esquina tem um Mcdonalds com 10% de desconto para comprar uma Coca-Cola. Eu dei um serviço para você. Eu não interrompi seu domingo de lazer para falar “tome Coca-Cola”, não, eu falei “estou de dando 10% de desconto para você tomar uma Coca-Cola” isso é você entender exatamente o que a pessoa quer no momento em que ela precisa daquilo. Então não é mais quando a Coca quer falar e quando você quer ouvir. Eu falo que o consumidor é o meu chefe hoje em dia, e não o contrário, o que deixa as coisas bem mais legais.

Eu pontuei alguns fatos que foram mais relevantes nos últimos 15 dias. O final da paralimpíada, na qual a gente tem o nosso mascotinho maravilhoso, que causou, que dançou, que ganhou mídia internacional, que foi um sucesso da nossa Gisele e o Tom também que fizeram um super sucesso, estava todo mundo comentando sobre isso, brincando com isso. Temos o Gregório que foi fazer uma carta para a ex dele, que na verdade era o lançamento do filme, e aí teve vários desdobramentos, pessoas que criticaram, pessoas que acharam fofo, que querem ter um amor assim na vida. Teve o Rafinha, que foi lá questionar o que é amor de verdade ou não. Aí a gente também teve Lady Gaga, que lança uma música e Molejo dispara, quem ganhou com o lançamento da Lady Gaga foi o Molejo, pois, por uma brincadeira no refrão, ela usa

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exatamente uma frase da música do Molejo. Então um lançamento internacional que não tinha nada a ver com o Brasil, digamos assim, virou pauta do Brasil, virou Trending Topics mundial. Estava todo mundo associando Lady Gaga e Molejo, a ponto da Lady Gaga perguntar quem é Molejo no Twitter. Essa comunicação transcende todas as esferas que a gente pode imaginar. Teve também a história do Milk Shake e do Milk Fake, do Burger King pegando carona de uma forma superbacana. O Giraffas para mim que foi o mais incrível, “estou aqui só acompanhando a treta de vocês, e eu tenho um portfólio lindo”. Teve também casal perfeito que separou, e todos os memes com Jennifer Aniston, mas também tem uma parte séria, poxa, ele agrediu ou não o filho, o que está envolvido. O que isso importa? “Dani, revista de fofocas agora? ”. É o seguinte, a comunicação real time acontece na intersecção entre o que está acontecendo na sua vida, que a gente chama de jornada do consumidor, o que está acontecendo no mundo, e o que é interessante para a marca. Quando eu entendo onde esse mundo está colidindo, como ele faz sentido para a minha marca, eu consigo fazer a comunicação assertiva, que vai conectar com vocês, que vai ecoar quando vocês ouvirem, vocês vão fazer alguma coisa com esse conteúdo, ele não vai morrer. Por exemplo: faz sentido a Coca-Cola brincar com a história do Molejo? Faz, pois Coca é sobre felicidade, a gente não vende refrigerante, a gente vende felicidade. Então faz sentido Coca brincar com Molejo. Então a gente começa a entender, considerando a jornada do meu consumidor, considerando o que está acontecendo, quais são os interesses da marca, e aí a gente vai acertar a nossa comunicação, a gente vai pensar no que a gente vai falar. É muito mais sobre relevância do que conteúdo. Em termos práticos o que muda? A nossa história era contada assim, chegava, tinha um broadcast, falava com vocês, passava uma mensagem, e a gente podia comentar com o pai e com a mãe, era uma comunicação mais travada, unidirecional, e agora a gente tem

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uma história contada de uma maneira bem diferente. Eu tenho um cara, apresentador de telejornal de maior audiência

no Brasil, ele vem, faz um vídeo no Twitter para explicar o por que ele vai apresentar o jornal sozinho nos próximos 15 dias. Não é mais só sobre a notícia, as redes sociais do Jornal Nacional não divulgam só notícia. Eles divulgam detalhes de produção. Detalhes que antes, não era um conteúdo “peraí, quem vai estar na bancada ou não? ” Por que o público tem que saber disso? Não, agora tem que prestar contas. Por que se ele não explicar o que aconteceu, já vão ter rumores de “que vão trocar o apresentador, o que está acontecendo? ” Então, eles usam até produção, detalhes técnicos, como insumo, como conteúdo para conectar com vocês. Aí vocês já chegam para assistir telejornal sabendo que a fulana vai estar direto do parque olímpico, sabendo que vai ter uma reportagem especial, vocês participam do conteúdo do jornal nacional de uma forma genuína, já com uma antecedência grande. Chega ao limite de ele vir contar “Olha, eu errei gente, errei mesmo, olhei para a câmera errada várias vezes essa semana.” Chega ao absurdo de ele falar: “Gente, então, estou me separando”. O cara vem prestar contas no Twitter de que ele vai se separar. Ah, é exagero? É porque ele virou show man? Não, agora, faz parte do job dele.

A partir do momento em que ele usa a rede social dele para alavancar audiência para o Jornal Nacional, ele passa sim a prestar contas da vida pessoal dele para o público, porque você não pode só dar “olha eu sou íntimo de vocês só até certo ponto.” Não, se você está usando redes sociais, se você se intitula Tio, você quer gente te dando audiência e gente falando do Jornal Nacional, então você vai ter que falar tudo. Você realmente vai ser meu amigo. Você não pode ter um discurso pela metade.

Para mim esse é um outro exemplo muito clássico. A gente ainda continua tendo o papa fazendo seus sermões para multidões, mas além disso, muito além dessa cena, que é muito mais simbólica para você fazer foto, eu tenho um cara que entendeu que, ou eu venho falar em um canal onde as pessoas estão, com a linguagem que as pessoas

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têm, sobre o tema que elas querem, ou eu perco minha audiência. E a Igreja já perdeu sua audiência faz um bom tempo, “vamos nos reinventar” e agora está, brilhantemente, conseguindo audiência, onseguindo conversar com as pessoas, conseguindo coisas muito legais. Ele entendeu as redes, e ele trabalha dessa forma superpositiva, um grande exemplo de comunicação apropriada é o que esse papa faz, de uma forma muito consciente. Então, o que a gente muda, nessa história de micro momentos, de real time? A gente tira a marca do centro e coloca nele o consumidor. Os católicos querem estar mais próximos do papa, então “vamos para o Twitter conversar com as pessoas”. As pessoas querem entender por que o Jornal Nacional fez tal coisa, “Vamos colocar o Boner para falar com as pessoas”, vamos colocar o bastidor da notícia, vamos parar de fazer tanto, é menos sobre encenação e mais sobre vida real. É menos sobre o que a Coca-Cola quer falar e mais sobre o que vocês querem ouvir. Jogos olímpicos. Vocês queriam saber sobre tocha, revezamento? Não. Mas aí eu coloco influenciadores contando os bastidores, e para mostrar quanta gente trabalhou no tour da tocha, como é legal, como é ouvir o dia a dia dos atletas, aí eu coloco o urso, que é um elemento de que vocês gostam, com que vocês têm identificação desde criança, e aí Olimpíadas virou um tema relevante para vocês. Por que a gente não contou “a Coca é incrível, a Coca bancou os jogos” “e aí? Estou nem aí que vocês estão bancando os jogos”. A Coca fez entretenimento, a Coca levou o urso, Coca brincou e contou uma história bacana. Então aí fez sentido. O que mudou nessa história toda? A gente tem o protagonista como centro da nossa história, e a gente tem que pensar quais são os temas e causas relevantes para ele. Está todo mundo falando de feminismo, vamos lá a Coca-Cola falar também. Peraí, Coca, você falou alguma vez sobre isso? Você faz alguma coisa para ajudar? Então não, você não pode falar. “Ah C&A, (desculpa sou muito sincera) vamos fazer uma coleção, uma propaganda bonita sem gênero”... porque você entra na loja e ainda tem feminino e masculino? É hipocrisia. “Ah

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L’Oréal, vamos usar uma trans para fazer o dia das mulheres, a primeira foto, a primeira identidade da trans.”... você tem produto para trans? Porque a pele é diferente. Por conta da reposição hormonal, a pele da trans é completamente diferente de muita mulher e de homem. Quer usar, não quer ser picareta, não quer ser oportunista, desenvolva uma linha para trans. Então é sobre isso que o público está cobrando. Eu não posso mais ter um discurso fake. Eu tenho que realmente ter uma causa, e ter uma causa que faça sentido para a minha marca, faça sentido por um todo. Quem já viu esse vídeo aqui?

O cachorro do vídeo, bem que ele tenta, mas nunca vai ser uma ambulância. Ele está tentando, bravamente. É sobre isso: não adianta a marca tentar ser uma coisa que ela não é. Ela não vai ter. E o cachorro não pode ser uma ambulância, mas ele pode ser um bailarino, tudo bem, aí cabe. Então é um pouco sobre isso, o que a marca consegue ser? Então qual é a nossa vocação, como a gente pode contribuir para a sociedade e a gente consegue ser efetivo? Eu amo essa frase: Ttwitter, Facebook nasceram com o propósito, mas quem definiu como vai funcionar, qual o futuro de cadaum, foi a gente. É o consumidor que pauta. Então, a mesma coisa, a Coca-Cola pode querer contar a história que ela quiser, se vocês não comprarem a nossa história, ela vai ser mudada no dia seguinte. Então vocês determinam o rumo disso, o consumidor determina.

Eu gosto muito de Netflix, essa não é uma palestra patrocinada, eu juro, mas para mim, eu trago a Netflix como case, porque ela, como modelo de negócios, é um modelo de comunicação. Para mim, hoje tem Beyoncé, Obama e Netflix. São os três que melhor trabalham real time disparado no mundo inteiro. Quem assiste Netflix aqui? Vou passar várias séries aqui, se nosso micro momentos fossem séries, como seria? Quem assiste essa? Essa é uma série que basicamente fala de preconceitos, o menino quer ser ator, mas ele é ridicularizado porque ele é indiano, e ele não pega mulher, e tem uma série de coisas que tudo é em torno de preconceito.

Se a gente traz isso para a comunicação, imagina um consumidor

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que precisa se afirmar, que está sofrendo esse tipo de pressão, esse tipo de situação. Como a nossa comunicação deveria ser, que tipo de elemento a marca deveria trazer na sua comunicação para essa pessoa que está nesse mood? No momento, é preciso tentar argumentar e descontruir estereótipos. É nesse sentido que a comunicação deveria ir. Se a gente está falando sobre essa outra série, que é sobre chefes que trabalham a gastronomia de forma criativa, é uma série bem interessante, como deveria ressoar isso em comunicação, eu deveria instigar. A função da marca seria instigar. Essa é meio tensa, mas, enfim, qual que é a essência dessa série? Ela quer apresentar a verdade, então isso eu comparo por exemplo com um portal de notícias, quando eu estou olhando para ESPN, quando eu estou olhando para Folha, o que eu espero? Que ela me informe, e não que ela brinque, não que ela faça meme, por exemplo, o gif do cachorro não é pra Folha usar. Não é o território da Folha. É sobre isso, vamos entender em que momento da jornada do consumidor cada marca, cada player faça sentido para que a gente possa definir nosso mood. Essa outra série fala sobre resignificar relações, os maridos delas separam delas e ficam juntos, formam um casal, então elas estão ressiginificando a vida delas. O que eu como marca deveria estar trabalhando para esse público? Trazer perspectiva, apresentar novos caminhos. Sense8 para mim é um exercício de empatia total, pois são 8 pessoas cujas vidas se confundem, e o que em comunicação se deveria trabalhar em real time? Colocar referências, mostrar as conexões, como a cultura é uma coisa construída com muitas variantes, e real time pode ajudar nisso. Narcos, não vamos entrar no lado ilícito, mas, para mim, ele é um grande empreendedor, talvez o empreendedor do século seja esse cara. Ele inventou um segmento, ilícito ou não, não vou entrar no mérito, é uma série que fala de empreendedorismo. E aí no mood de comunicação eu tenho que ser útil, tenho que expandir as possibilidades das pessoas.

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Se eu sou o Google, se eu sou o Evernote, é esse tipo de approach que eu tenho que estar fazendo. House of Cards, ainda mais em Brasília não é gente, é sobre poder, e aí, qual é a metáfora de comunicação aí, tem que dar background para você entender as situações. Trazendo isso diretamente para um plano de comunicação, é exatamente isso aqui, quando eu pego a jornada de um adolescente, em uma pesquisa que eu fiz, eu tenho vários micros momentos. Aí eu tenho que entender aonde cabe, pois cada comunicação, cada plataforma, cada canal, tem influenciador ou não tem, tem mídia ou não tem, e eu tenho uma série de decisões para tomar, justamente com base nesses micros momentos aí.

Para exemplificar, imagine o seguinte. Eu, marca, preciso entender as regras do jogo que vocês criaram, preciso entender o cenário todo. Masterchef faz isso para mim de uma maneira muito brilhante, pois tem a minha mãe, a dona Irene, de 65 anos, que não sabe nem ligar o computador, e tem medo de atender o telefone, sério, não falo com minha mãe por 2 meses por isso, se eu não conseguir ligar para o meu irmão, ela não vai me atender, ela tem medo de telefone, tem medo de tudo. Ela não liga o computador. A minha mãe vê masterchef pela televisão, eu mal vejo televisão, na verdade eu tenho preguiça de reality, se eu assistir vai ser pelo Twitter. Eles têm dois públicos e entenderam isso, que podem ganhar com os dois públicos, e eu posso comunicar com os dois públicos.

Minha mãe está acostumada a ter um break para que seja comunicado o resultado do reality, esse é um padrão que minha mãe há décadas está acostumada a assistir na TV. Então Ana Paula fala: " a gente, depois do intervalo, vai revelar o resultado". Minha mãe fica lá sentadinha esperando sair. Eu, Dani Rodrigues jamais, mas para quem está curioso vai no Twitter que o resultado já está lá. Eles conseguiram criar uma narrativa que serve para minha mãe e que serve para mim. Isso é entender as especificidades do público as demandas de cada um e usar as plataformas que mais fazem sentido. Quem fala comigo é o Twitter, quem fala com a minha mãe é a televisão; e eles ganharam

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dinheiro dos dois lados ,tanto de inserção na televisão quanto no Twitter com esse tweet pago pela TIM, e não foi pouco. Outro jeito de você entender a regra do jogo e ganhar com isso seria olhar o caso do nosso labrador humano, o Guga, maravilhoso.Quando fizeram essa brincadeira chamando-o de labrador humano, lembra aquele vídeo do Galvão “vai ganhar, vai perder, vai ganhar, vai perder” que foi para o Phelps. Quando isso aconteceu, a Globo não usou para nada, virou meme, e até teve “o cala a boca Galvão”, frase pela qual ele processou o site Não Salvo, e aí eles falaram que “teria que processar a internet inteira, vamos lá baixa a bola que não vai funcionar” e ele retirou o processar. Esse ano aconteceu isso, imagina o Guga processando por que chamaram ele de cachorro? Não. Ele entendeu, aí a Globo finalmente entendeu não é sobre brigar com a internet, se eu virei meme, virei um sucesso, sinônimo de uma campanha de sucesso é você virar meme , pois você entrou na cultura popular. O Guga entrou na cultura popular e o que a Globo fez: o Guga ia comentar até jogo de golfe, mas não ia como técnico. Tênis ele comentava de modo técnico, mas quando ele foi para o jogo de golfe que tinha audiência – 5, ele ia como torcedor, brincava e aí ele levantou a audiência. O Guga é seguro para audiência da SporTV, ele fez toda a diferença pois ele entendeu a regra do jogo e entrou na comunicação de forma super assertiva. Essa frase resume um pouco isso então “a cultura destrói, engole nossa estratégia todos os dias” a Globo tinha uma estratégia, os técnicos, então “eu tenho lá o cara para falar de vôlei, o Guga para falar de tênis” aí vem a cultura da internet que fala assim “o Guga é muito mais legal que qualquer pessoa, a gente quer o Guga para tudo, mesmo que ele não saiba comentar sobre futebol, eu quero Guga comentando no estádio comigo” e aí eles mudaram cobertura de técnico para mais para um humor, por conta do carisma do cara. Eu gosto de construir minhas narrativas de real-time pensando desta forma: eu tenho um problema, eu penso em que mensagem eu

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vou fazer e como vou trabalhar isso estrategicamente. A Beyoncé para mim é um exemplo máximo, pois entrou

décadas atrasadas na causa negra. Ela tem uma super influência mundial e propriedade para falar dessa causa. Ela resolveu assumir isso e conseguiu, em 48 horas, virar referência nesse assunto. Em 48 horas, para ver o quanto essa mulher é genial e sabe usar real-time, ela vaza o clipe 24 horas antes do superbawll e o clipe dela é polêmico, é incrível, uma superprodução, ela ficou no trending topics mundial por 48 horas, desde sábado até segunda-feira útil. Ela gerou audiência quando entrou no superbawl, pois, no domingo, ela era a atração secundária, abrindo o show do Coldplay.

Quem ouviu falar de Coldplay? Ninguém. O Coldplay tinha quatro vezes mais tempo que a Beyoncé e ele estava muito bem vindo de uma turnê incrível, aqui no Brasil foi maravilhosa, estavam super em alta, mas a Beyoncé conseguiu roubar a cena. Estava todo mundo esperando ela entrar no Super Ball depois daquele clipe. E ela vem com uma apresentação primorosa que, com um quarto do tempo do Coldplay, conseguiu roubar toda a audiência. Quando ela lança o álbum dela, é um sucesso absoluto. Eu não vou passar aqui, mas vale vocês procurarem esse vídeo da brincadeira do dia em que o mundo descobriu que a Beyoncé era negra. Incrível esse vídeo, uma paródia muito boa. Um programa de TV que dá cerca de 4 minutos para fazer um comercial falando sobre o novo posicionamento da Beyoncé. É isso. Quanto vale? Isso é de graça. Quanto vale isso é um sucesso de uma campanha, e ela virou referência no movimento, puxando a bandeira contra o racismo.

Isso é Real Time, é sobre investimento, pois ela conseguiu gerar mais missão, mais repercussão do que qualquer outra pessoa nessa área. então, é muito mais sobre estratégia do que você falar loucamente, que você usar milhões de plataformas, porque ela usou o Twitter para levantar a audiência dela, tão simples quanto isso.

E aí, para fechar antes que vocês me expulsem do palco, vou falar rapidinho de Netflix porque o tenho como um grande exemplo,

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de uma combinação muito inteligente. Todas as séries de Netflix que são roteiros-proprietários são construídas a partir de base de dados. Então ela sabe o programa de que vocês gostam, os atores de que vocês gostam, em que momento, em que segundo do episódio vocês abandonam, e de cada país. Então ela sabe que Sense8 não faz sucesso no mundo inteiro. mas eles escolhem mercados. Em House of Cards, as falas são construídas tirando trechos de redes sociais, tirando trechos de discursos de políticos. Então, quando eles lançam, eles sabem que vai funcionar, eles conseguem prever, para vocês terem uma ideia, a média de pessoas que vão assistir aqueles episódios. Esse é o grau de precisão do Netflix. Eles têm um portfólio 100% casado à inteligência do banco de dados, já começou bem. Idem com a comunicação e eles têm um combo muito interessante de valores, então eles compram algumas brigas, algumas causas, mas realmente encantam isso e transformam isso em negócio. Esse aqui é o que eu falei para vocês que eles usam em algoritmos para ler o que vocês tanto falam, para fazer séries para vocês, pois eles tem uma interação muito inteligente, muito sagaz, eles ativam influenciadores, por exemplo Inês Brasil. Eles entenderam que a base da Inês Brasil era gigante, que faria sentido ter ela na campanha, sabiam que iam apanhar, mas eles viram que o grupo que ia bater na Inês Brasil era menor do que o grupo que ia apoiar, então eles escolheram correr esse risco. Hoje eles têm números maiores que o SBT. Essa é importância de Netflix, e olha o tempo que eles têm e eu estou falando de Netflix versus Silvio Santos, que é um gigante da comunicação. Você pode até rir, mas tem uma massa fiel do Silvio Santos, muito fiel. Outra coisa em que eles usam o Real Time é a lógica do e-commerce do remarketing: o que é adicionado recentemente. “Peraí, você viu essa série? Você também vai gostar desta aqui, acabamos adicionar, tem coisa nova no nosso portfólio, e é parecido com o que já viu antes.”. Aqui é quando você abandona o carrinho “você abandonou carrinho volta aqui, assiste sense8, porque você parou?

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Volta para cá” e “Você e assistiu Friends, então você vai gostar de assistir tal coisa. Eles levam a lógica do e-comerce até para plataformas de navegação de portfólio deles.

O Netflix foi para a parada LGBT em São Paulo, e de onde resolveram fazer isso? Primeiro, 50% do portfólio deles fala sobre essa temática, então eles têm legitimidade. Eles podem falar, esse é o assunto que mais gera menção hoje nas redes sociais, faz sentido. Emplacar uma hashtag com marca é quase impossível. Eles conseguiram, porque tinha legitimidade, número de influenciadores que puxam essa bandeira e que iriam de graça Federico Devito, Luba TV, Não Salvo, o número de pessoas que falaria de graça sobre o assunto, e usariam nome de Netflix era expressivo. Resolveram fazer essa ativação.

Para essa ativação eles fizeram um único post, um vídeo que eles colocam no Facebook e fala “domingo a gente tá indo para a parada, a gente apoia, vem com a gente”. Só isso. É o único investimento deles. Convidaram 20 influenciadores que cobram na média R$ 100.000,000 o tweet. Essa é o preço de mercado. Então eles convidaram 20 influenciadores “vocês querem ir no trio? Não vou pagar nada, mas, se você quiser, as atrizes de Orange estão lá em cima do trio, se você quiser apoiar a causa, vocês estão convidados”. Esse cara, o Dumble Voleto, é um autor de três livros, e ele cobra Tweet, Facebook, ele postou mais de 40 vezes sem cobrar em R$ 1,00. Quando a gente soma tudo que foi postado pelos influenciadores de mídia espontânea, passou os 10 milhões de reais. Espontâneo. Netflix só colocou o trio na rua, só. Não pagou R$ 1,00 para ninguém. Teve mais de 10 milhões de mídia espontânea. Isso é você entender Real Time. Isso é você entrar na causa perfeita, na hora perfeita, com a mensagem perfeita. E aí virou trending topics mundial numa série de resultados. Isso é de 2015. E hoje Netflix vale mais que a GM.

Esse número deve estar bem maior do que era ano passado. Então é muito mais sobre “Eu tenho que ser consistente”. Esse ano eles foram de novo. Fizeram algo parecido e deu um bom retorno. E aí quando eu falo de ter valor, de não ser de fachada, o cara

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vem e faz o comentário machista “Qual a sua heroína preferida?” “Nenhuma, mulher não dá certo como protagonista”. Aí Netflix vem na lata: “desculpa você comentou no século errado” É isso. É valor, é posicionamento, é “eu sei o que estou fazendo aqui”. Vocês devem ter visto isso sobre esse vídeo que eles falam de spoiler. As pessoas batendo “Poxa, Netflix, você dá spoiler na página” Aí o cara vem tão simples quanto, de novo postura gente “você está em 2016. O nosso modelo de negócio é soltar a série inteira. Se você em 3 anos não viu House of Cards ainda, desculpa, pois saber que o cara é presidente não é spoiler, é você que é atrasado”. Eles falam isso, e o público bate palma, por que é isso é o novo modelo de negócio. “Eu não tô fazendo nada errado”. “Esse é o meu posicionamento de marca”. Essa é a regra do jogo Quem sai reclamando é porque não está nesse jogo.

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Palestra – Multidisciplinaridade para empreender em comunicação1

Palestrante: Alana Vizentin2 , Aroa Suleiman3 e Lisiane de Assis4

Resumo: A cada ano que passa, alguns parâmetros novos vão se configurando no universo da comunicação, forjando novos perfis profissionais, bem como processos produtivos. Nesta palestra, as sócias fundadoras da Redatoria discorrem sobre empreendedorismo e multidisciplinaridade, oferecendo um panorama do mercado no Brasil, assim como relatando seu próprio processo de constituição como empreendedoras. Falam de equipe, relacionamento com cliente, estrutura, conhecimento gestor, novas tecnologias e empreendedorismo feminino, entre outros aspectos significativos.

Palavras-chave: Empreendedorismo. Multidisciplinaridade. Conteúdo. Linguagem.

Aroa Suleiman: Bom dia pessoal, tudo bem? Estou muito feliz por estar aqui hoje e quero começar agradecendo à UCB pela iniciativa de propor esse diálogo para falar das possibilidades do mercado e pensar a comunicação de uma forma diferente. Meu nome é Aroa, um nome um pouquinho diferente porque meu pai é árabe. Sou formada em comunicação com habilitação em Publicidade e me especializei na área de redação publicitária. Vou falar sobre empreendedorismo, sobre conteúdo, sobre a Redatoria, como construímos a empresa e como a multidisciplinaridade se encaixa nisso tudo. A Redatoria é formada por três áreas de conhecimento: literatura, publicidade e jornalismo. Além de nós três que estamos aqui hoje, temos na equipe o Klaus e o Jonas, um é designer e o outro é analista de mídias. Então, a gente tem uma equipe bem completa, no sentido de que o conteúdo, a estratégia e a imagem

1 Transcrição: Cynthia Rosa.2 Mestre em Teoria Literária. Graduada em Letras pela PUCRS. Professora mestre em Teoria Literária3 Graduada em Comunicação Social. Especialista em Redação Publicitária

(ESPM – Sul).4 Jornalista. Foi jornalista responsável da Revista Elève

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caminham juntos. A Redatoria é uma empresa especializada em produção de conteúdo, gerenciamento de redes sociais e marketing digital, que é o nosso forte. Antes da Redatoria, trabalhei em várias áreas: no marketing, em web design, em planejamento. Mas a área em que mais fiquei foi a de redação e, em segundo, a de social media. Durante esses anos eu conheci bastante a comunicação de um modo geral, para depois identificar uma oportunidade de mercado mesmo. Alguém aqui já empreende ou tem o sonho de empreender? Vejo que temos algumas pessoas já pensando nisso, o que é bem interessante, porque não veem a comunicação só como aquela coisa de trabalhar na tevê, no rádio, ou numa agência de publicidade. Também é possível pensar num negócio ou ter sua própria forma de empreender dentro de uma empresa também. Eu trouxe alguns dados sobre empreendedorismo para a gente pensar como isso está mudando. No ano passado, 52 milhões de brasileiros adultos estiveram envolvidos na criação ou na manutenção de um negócio. É um número bem expressivo e que vem aumentando. Neste ano de 2016, só no primeiro trimestre, tivemos a criação de 538 mil empresas, a maior parte como microempreendedor. O MEI [Micro Empreendedor Individual] é uma facilidade para quem está começando, vale a pena dentro das possibilidades de menos burocracia. Digamos que, com o Mei, se consegue abrir um negócio em uma semana, pagando uma taxa de inscrição, se não me engano, de 45 reais. E aí a pessoa pode trabalhar como autônomo na prestação de serviços até o negócio ganhar corpo. Um dos principais motivos para a pessoa empreender é a insatisfação com o mercado de trabalho, seja devido às rotinas, relação com gestores. Outro é a realização de um sonho de ter um trabalho próprio, um gosto por algo que é um talento nato; pode até ser uma visão romântica, mas a pessoa pode ter a determinação de abrir seu próprio negócio. Outros desejam mudar de profissão; percebem, mesmo após a faculdade, que podem seguir um outro caminho. Um outro é a qualidade de vida; eu não indico muito para quem quer abrir empresa por esse motivo. Mas a qualidade de vida pode, sim, acontecer a partir do momento que o empreendedor se organiza e consegue definir o que é prioridade. Em todo o caso, em geral o empreendedor tem mais liberdade e, digamos

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assim, um incentivo financeiro maior, outros motivos que levam a pessoa a empreender.

E como a Redatoria surgiu? Tivemos a ideia a partir do mercado de trabalho mesmo. Estavam todas empregadas e vimos que o jornalismo e a publicidade, do jeito que estava rolando, não atendiam nossas expectativas. Para nós, não é só fazer uma chamadinha criativa. É pensar: onde está o consumidor? O que ele quer? O que é útil para ele? O que o encanta? Isso é mais do que fazer uma comunicação horizontal, como era antigamente. É envolver a comunicação de um jeito diferente.

Uma primeira dica para quem está pensando em empreender: escolham as parcerias certas. Não é necessariamente quem pensa igual a você; de preferência aquela que pensa diferente. Não é o amigo, embora possa ser – nós somos amigas; é aquela pessoa que tem uma qualidade profissional bacana, com quem se possa contar nos piores momentos, porque esses vão acontecer. E é difícil separar o pessoal do profissional; as coisas às vezes se misturam. A relação fica cada vez mais rica e a gente consegue perceber a qualquer momento quando uma coisa não está certa.

Qual o papel da publicidade hoje? Eu trouxe aqui uma frase: “A boa publicidade não é só circular informação; é penetrar desejos e crenças na mente do público”. O conteúdo, então, é muito dinâmico, é muito do contexto: o que é útil, o que é interessante, o que é engraçado, o que é relevante. Não é mais a chamada: “o melhor da região”; tem que ser mais do que isso. Então, na Redatoria, nosso diferencial é ser mais do que isso. Obrigada.

Lisiane de Assis: Bom dia gente, prazer estar com vocês. Sou jornalista e, para vocês me conhecerem um pouquinho, vou falar das minhas experiências. Antes da Redatoria, trabalhei em revista e cheguei a ser a jornalista responsável da revista Elève, de Porto Alegre, durante quase quatro anos. Tive a oportunidade de trabalhar bastante com a área cultural, que sempre me interessou, onde entrevistei muitos artistas. Também trabalhei com assessoria de imprensa, que hoje é grande parte do mercado de trabalho do jornalista. Depois, trabalhei em agência, onde eu conheci a Aroa já trabalhando com redação e marketing digital. Vou falar pra vocês um pouco do que eu penso que o jornalismo acrescenta à Redatoria.

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Como a Aroa falou, a multidisciplinaridade é muito importante no nosso negócio hoje em dia. E eu separei uma frase do Mário Quintana, que diz: “A resposta certa não importa nada; o essencial é que as perguntas sejam certas”. Meus amigos costumam brincar que eu não converso, eu entrevisto. Ou seja, a técnica de entrevistar permeia todo conteúdo que a gente vai produzir. Então, é superimportante, quando se vai conhecer uma empresa e escrever sobre ela, usar as técnicas de entrevista que a gente aprende para desenvolver o conteúdo, porque a gente se torna porta-voz da empresa. Temos que conhecer tanto quanto o dono da empresa ou, pelo menos, o máximo possível. Outra característica que ajuda no jornalismo é a curiosidade, que eu acho essencial. Isso ajuda inclusive para ir encontrando outras formas de abordar o conteúdo. Não gosto de dar as más notícias – a Aroa falou antes da evolução do empreendedorismo – mas o fato é que uma média de 25% das empresas fecha já no segundo ano de atividade; e 50% fecha no quinto. Isso se deve principalmente pela falta de preparo nas áreas relacionadas com a gestão. Ou seja, não adianta se formar, ser um ótimo jornalista, um ótimo publicitário, se o empreendedor não dominar as questões administrativas, as questões financeiras. É preciso se envolver realmente com isso, estar disposto a ampliar o leque de conhecimento nesse sentido também. Outra questão é a falta de políticas públicas pensadas para o microempreendedor. A Aroa comentou do Mei, que é uma porta de entrada, até para experimentar e ver se dá certo. Mas, a partir do momento que a empresa começa a crescer um pouquinho, o salto na tributação é muito grande e isso acaba dificultando a continuidade das empresas. A falta de estímulo às características empreendedoras desde cedo é outro aspecto a se pensar. Até quero parabenizar a Universidade por trazer a questão do empreendedorismo para debate, já para mostrar que existe esse caminho também e não só o de ser funcionário. Uma questão muito importante é a experiência do mercado. Mesmo se você tem a ideia de empreender, é muito importante desde agora, na faculdade, procurar estágio, procurar variar bastante as áreas de atuação, porque isso vai dar amadurecimento profissional, vai aprimorar a competência do trabalho em equipe, a abordagem com o cliente. Nem que seja para servir como exemplo negativo, ou seja, aprender como

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não fazer alguma coisa. Nós, na Redatoria, também temos os exemplos negativos de trabalhos com empresas por onde a gente passou e soube o que não é legal. E a partir daí, vamos moldando nossa própria forma de trabalhar.

É importante dar um passo de cada vez. Bem no início, a gente não largou tudo. Começamos com o pé no chão, fazendo jornada dupla, cada uma seguindo nos seus empregos e se dedicando à Redatoria nos horários de folga, à noite, nos finais de semana. Tem que ter jogo de cintura para adaptar o horário de contato com o cliente; marcávamos reuniões no almoço, ou happy reunião, como costumávamos falar, um momento de descontração, mas também de trabalho. Trabalhamos também em sistema de home office, uma alternativa que para serviços é bem válida e evita que se tenha um custo a mais no início.

Essa fase do início em um empreendimento é uma fase de muita experimentação. É para ir testando mesmo, para ver se dá certo, se é o que se quer, testar modos de trabalho, maneiras de abordagem ao cliente, maneiras de prospecção.

E uma dica que eu deixo para vocês, não só para quem quer empreender, é uma dica para a vida: fazer networking sempre. Claro, não é sair distribuindo cartão fora de contexto. Mas tendo oportunidade, fale sobre seus trabalhos, seus desejos, compartilhe com o maior número de pessoas possível. Isso vai gerando uma rede de contatos. Quando fazer e como fazer? Não tem muita regra; é mesmo em qualquer lugar, qualquer hora. Para vocês terem uma ideia, o lugar mais estranho em que recebemos uma indicação de cliente foi num velório.

E a rede não é uma forma só de conseguir clientes. Ela vai trazer conexões para parcerias de trabalho; por exemplo, quando se quer um freela, fornecedor, muitas coisas. Obrigada pela atenção.

Alana Vizentin: Primeiramente, quero dizer que agora entendo perfeitamente o que o Renato Russo quis dizer, quando falou: “Meu Deus, mas que cidade linda!” Eu estou encantada; já no avião, olhei lá de cima e vi tudo tão quadradinho, tudo tão lindo, tudo tão limpo. Pelo menos, por onde eu passei. E sabe que aconteceu uma coisa curiosa? Na quarta-feira antes de eu vir pra Brasília eu comprei um livro de contos da Clarice [Lispector], todos os contos. Aí fui no índice e encontrei um conto chamado

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Brasília; fica até aí uma dica de leitura. Mas o conto são umas 15 páginas e ela falando de Brasília. E ela diz assim – eu trouxe até pra mim: Brasília dá vontade nas pessoas de ficar mais bonito. Eu acho também, dá vontade de ficar mais bonita aqui. Gostei. Bem, vocês devem estar se perguntando como é que eu caí na Redatoria. Sou da literatura, e quando a Aroa me procurou três anos atrás, eu estava terminando meu mestrado em Teoria da Literatura, e ela me mostrou a ideia de abrir uma empresa voltada para as redes sociais, marketing digital e o segmento das mídias. E eu fiquei pensando o que ela queria comigo; porque a gente se conhece há muito tempo, mas eu sou uma pessoa da teoria, sou professora. Com o tempo, eu comecei a entender como eu poderia contribuir e vi que isso era a minha cara. E no que eu contribuí? Na questão do conteúdo. Se pensarmos na questão da marca de ter um engajamento, de ter uma coisa mais profunda do que uma chamada, do que uma casca por fora que não convence, que não vende, a ideia de que o conhecimento literário, ou, mais do que isso, o conhecimento da linguagem seria um grande suporte para a empresa que estávamos abrindo, me convenceu. Então, a empresa nasce multidisciplinar e permanece multidisciplinar. Acho que a literatura vem agregar, porque traz um valor muito grande para a Redatoria no que diz respeito à criação criativa, ou criação com criatividade. Ou seja, usar a linguagem e usar como conteúdo. Como sou da literatura, de novo eu trago a Clarice, numa frase que eu levo para vida e gosto de compartilhar com meus alunos: “A palavra é meu domínio sobre o mundo”. E isso é parte da comunicação: é a palavra que vende, é a palavra que argumenta, é a palavra que comunica, é a palavra que convence; ou é a palavra que estraga tudo. A palavra é o domínio da linguagem, é o domínio do conteúdo que vai fazer com que o produto de vocês venda. Não adianta ter uma casquinha se o conteúdo não for verdadeiro. A Redatoria surge como uma empresa de produção de conteúdo justamente com essa ideia de que, mais do que a chamada publicitária ou o link que aparece no Facebook, a gente precisa produzir conteúdo com uma linguagem criativa. Então, a Lissiane ajuda muito com esse suporte de um jornalismo quase investigativo, porque ela vai para a empresa e

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pergunta, quer saber, questiona. Quando a gente arruma um novo cliente, faz pesquisa, fica semanas até achar a linguagem perfeita pra ele poder dizer o que quer comunicar. Então, não caí aí tão de paraquedas assim; a literatura entra com essa possibilidade.

Para quem aí está pensando em ser empreendedor – ou nem estava pensando, como é o meu caso, mas virei – eu tenho bons números. No Brasil, hoje o investimento em publicidade online, no marketing digital e na comunicação nas redes cresce consideravelmente: soma-se 9,3 bilhões de reais, com possibilidades de dobrar esse valor já no final deste ano de 2016. É uma boa notícia, porque o mercado de vocês está crescendo. Tem uma possibilidade de mercado que surge muito forte, veio com o marketing digital e as mídias sociais em todos os sentidos.

E essa é a tendência das empresas. Por quê? Porque é mais barato investir em marketing digital, tem um alcance maior, tem mobilidade maior, tem uma facilidade muito maior. De modo que sete em cada dez empresas já investem no mercado online. Se eu colocar um outdoor lá fora, isso vai ter um alcance limitado. Na rede eu consigo selecionar para onde vai o meu anúncio, quem o meu anúncio vai atingir e utilizar um a linguagem que vá direto para o público do meu cliente, utilizando um conteúdo que é do interesse dele. Mais do que isso, o marketing digital não se resume só ao Facebook, ou Twitter, Instagram, essas mídias mais dinâmicas. Mas chega por blogs, portais e sites, num alcance mais orgânico para as empresas. Então hoje, 28% das verbas são direcionadas para marketing de conteúdo nas mídias digitais, nas redes, o que é animador para vocês, que estão daqui a pouco saindo para o mercado de trabalho.

Aliado a isso, tem uma coisa que para nós que é muito importante: o crescimento do empreendedorismo feminino. E isso nos ajudou muito. Passado o primeiro momento de implantação da empresa, nós começamos a procurar redes ligadas ao empreendedorismo feminino. Começamos a participar de grupos, segmentos, encontros destinados para as mulheres empreendedoras e nesse mercado começar a fazer nosso nome. Em geral, eram palestras aonde iam mulheres que tinham empresas e queriam conhecer outras mulheres que tinham empresa. Eram encontros de networking mais voltados para o mercado de mulheres. E isso é muito legal, porque as mulheres ocupam uma fatia muito grande do mercado,

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principalmente do mercado do empreendedorismo feminino. Coloquei aí “Alçando Voos Maiores” porque a gente começou pequeninha, com Mei, home office, trabalhando em horários alternativos, até que tudo mudou. A primeira a sair do emprego foi a Lissi, que ficou só com a Redatoria. No ano seguinte a empresa cresceu e a gente conseguiu puxar a Aroa também. Eu sou a única que estou em regime de escravidão; dou aula em duas escolas e trabalho na Redatoria ainda home office, sem horário certo. Mas eu vou sair, embora tenha paixão pela sala de aula.Quando as meninas saíram para ficar só com a Redatoria, a gente sentiu necessidade de ter uma sala, ter um lugar; e criamos nosso escritório em Porto Alegre. A partir disso, a gente passou a crescer mais; temos parceiros que trabalham com a gente, com o Klaus, o Jonas. Com todas essas conexões, a empresa cresce cada vez mais. A ideia que fica e que eu gostaria de dizer pra vocês é: sim, dá para montar uma empresa; tem mercado, tem possibilidade para isso. Mas não à moda do louco: não larguem tudo para fazer isso. O que é importante é ter experiência. Quando decidimos, estávamos qualificadas para entrar na empresa, estávamos preparadas para aquele momento acontecer. A empresa começou com um investimento praticamente zero, com zero de trabalho, porque ainda não tínhamos clientes, e hoje já está empregando. Isso é muito legal. E é a ideia que a gente queria trazer para vocês, para quando estiverem saindo da universidade. Há espaço no mercado para o marketing digital, para as mídias social e para uma outra série de coisas que vão surgir. Algumas coisas vão ficar obsoletas, mas sempre surgirão novas oportunidades de mercado e de negócios. É um clichê, mas eu vou dizer o que Confúcio disse: Se você gosta do que você faz, você não vai precisar trabalhar nenhum dia de sua vida. É um clichê, mas é real. Ninguém aguenta uma jornada de doze, treze horas de trabalho se não gostar do que faz. Isso é fundamental, se vocês gostam do que estão fazendo, sai energia não sei de onde para as coisas acontecerem. Encontrei o meu caminho. Nunca me imaginei na área da comunicação de uma maneira assim tão forte. A gente realmente vibra na Redatoria quando o cliente diz: “deu super certo”, porque o nosso interesse é que a marca dele cresça e ganhe presença. Bem, era isso o que a gente queria dizer pra vocês. Vocês são lindos e a

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Painel – Arte e Conhecimento Acessível1

Palestrante: Fernando Esteban2 , Alan Rios3 , Iago Kieling4

Resumo: A equipe, que integra a pesquisa Acessibilidade e

Educomunicação, faz um relato da experiência nas escolas da rede

onde estão desenvolvendo seus estudos. Falam também dos produtos

de comunicação que a pesquisa tem gerado e os que estão em

processo de criação.

Palavras-chave: Multidisciplinaridade. Educomunicação. Inclusão.

Pessoa com deficiência. Parceria.

Fernando Esteban – Nós somos parte do grupo de pesquisa do

curso de comunicação denominado Acessibilidade e Educomunicação.

Neste núcleo, estamos investigando a educomunicação e a relação

com a pessoa deficiente, principalmente o autista, e um de nossos

focos práticas é a criação audiovisual, mas não só. É um trabalho de

caráter multidisciplinar. Pelo fato de eu ser pai de uma criança especial,

as pessoas geralmente me procuram para tirar dúvidas. Mas os meninos

aqui, o Alan e o Iago, também participam da pesquisa, que realiza

alguns eventos.

E aí [imagem] temos um dos eventos no Centro de Ensino

Fundamental 5, de Taguatinga, o lugar onde a gente faz a experiência

piloto completa. Aí vemos vários momentos da palestra. A diretora

da escola dividiu os estudantes da escola em dois grupos, para que

pudéssemos atingir toda a escola. Aí você tem os meninos, nossos

1 Transcrição: Maria Giullia Gonçalves2 Doutorando em História das Artes. Professor e pesquisador UCB3 Graduando de jornalismo. Bolsista de Iniciação Científica4 Graduando de jornalismo. Bolsista de Iniciação Científica

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estudantes, mostrando seu trabalho.

Uns dias depois desse evento, voltamos à escola para fazer a

pesquisa de opinião entre os professores. O que queríamos saber era o

que mudou, queríamos saber do antes e do depois da palestra.

Num terceiro momento, aparece o Espaço Bagagem. Alguém

sabe o que é o Bagagem? É uma agência experimental do curso

de comunicação social, onde os alunos transitam pelas diferentes

áreas de uma agência. Já são alguns clientes; um deles é o Espaço

ComVivências. E é nessa parceria que se definiram alguns dos nossos

produtos aqui apresentados.

Está sendo desenvolvido um livro, com a experiência de

Soraia, a professora de corpo e expressão do Espaço ComVivências.

Outro produto é um levantamento do progresso dos alunos em

vídeo; os alunos ingressam e vão sendo acompanhados. De tempo

em tempo, fazem uma avaliação de como eles foram evoluindo.

No mês de dezembro, o ComVivência produz um espetáculo que já

é tradição, sempre com um tema diferente. Este ano, nosso grupo

vai realizar um vídeo desse espetáculo, que será produzido com

imagens capturadas durante a apresentação.

Aqui [imagem] temos o espaço Bagagem. São muitos

momentos lindos, com um grupo muito bom de alunos extraordinários.

E temos um quarto momento previsto, com a projeção desse trabalho

em vídeo que está sendo desenvolvido. Graças a essa experiência,

as portas de 63 escolas da rede pública de Taguatinga se abriram

à proposta do projeto de pesquisa. Também na perspectiva

de produção em linguagem audiovisual, está se preparando o

desenvolvimento de um documentário da realidade das pessoas

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com deficiência nas escolas da rede pública.

Um outro produto fruto da pesquisa e que nos acompanha nas

apresentações com as escolas parceiras é o kit de conscientização.

E para isso, “tcham, tcham”! Conhecem esses meninos? Alguém

sabe quem são? Com vocês, Alan Rios e Iago Kieling. Eles vão

descrever para vocês qual é o projeto de cada um e como eles irão

desenvolver a partir do que foi feito até agora.

Alan Rios – Então gente, como o professor Fernando

bem falou, a gente está fazendo um trabalho muito grande de

multidisciplinaridade aqui. Esse trabalho está se estendendo para

outras escolas, como as escolas parceiras de nosso projeto. Eu

queria contar um pouco sobre as nossas visitas, por que nós fomos

na Escola Classe 5 de Taguatinga e levamos esse projeto até lá. Nós

levamos todo esse conhecimento científico que a gente estuda

aqui a crianças e adolescentes. E fazemos isso em uma linguagem

acessível para conseguir passar a nossa mensagem para eles, para

tornar claro àquela escola que ela pode ser um pouco mais inclusiva,

um pouco mais tolerante para com os alunos que têm necessidades

especiais ou deficiências, sejam físicas ou intelectuais. Depois nós

aplicamos o questionário, como o professor falou.

Com os dados do questionário consolidados, nós descobrimos

que obtemos sucesso com a visita que fazemos às escolas, isso

é, os alunos que lá estavam passaram a compreender mais e a

respeitar os outros alunos com deficiência depois da nossa palestra.

Eles conheceram mais sobre as deficiências, tanto as intelectuais

como as físicas, e passaram a respeitar e a integrar mais os alunos

deficientes que frequentam essa escola. Então, a gente passou por

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esse projeto com uma experiência muito boa. A gente teve uma

experiência de sensibilização muito forte e por causa de todos esses

projetos, a gente está pensando em produzir um documentário, que

relate essa experiência e várias outras que nós temos no projeto.

Agora o Iago vai falar um pouco sobre esse documentário que está

em produção.

Iago Kieling – Bom dia, meu nome é Iago. Sobre o documen-

tário, a gente foi vendo essas visitas de campo que a gente fazia na

pesquisa e pensou: por que não captar essas imagens e levar para

todo mundo de uma forma mais acessível, revelando o que a gente

vem tendo com essa experiência, coisas bem legais. Nesse dia [ima-

gem], foi quando a gente fez uma reunião geral lá na regional de

ensino especial de Taguatinga, que é onde eles organizam todas as

escolas de ensino especial. Lá é meio que uma diretriz para todos

os casos de deficiência. E são muitos tipos. E aí a gente fez uma fez

uma reunião lá sobre o projeto, sobre o documentário, para ver se

a gente conseguia a parceria deles, e que nos dessem essa aber-

tura para a gente gravar e nos dar todo o apoio. Na apresentação

de ontem que a gente fez, a apresentação da iniciação científica,

apresentamos de novo a questão do plano de trabalho, do docu-

mentário, das peças que a gente vem desenvolvendo.

Aqui uma imagem do FRET, festival recreativo especial de

Taguatinga, em que eles meio que fazem gincanas e olimpíadas,

uma simulação de paralimpíadas na escola, onde eles dividem os

alunos pelos setores que já existem. Eles fazem uma semana inteira

simulando diversos esportes, e os alunos têm essa interação, de

diversas deficiências, de diversas formas na escola deles. Foi bem

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legal, a gente fez uma reportagem e conseguiu parceria também

com a vice-diretora da escola para o documentário, para podermos

incluir também a escola, ela está bem preparada para recepção

dos deficientes, pois é o que a gente acaba escutando, quais

escolas estão preparadas, que escolas que não estão tanto assim.

Quando a gente vai mensurar também, a gente vê muito que

as escolas públicas estão bem mais preparadas do que as escolas

particulares, muitas vezes, e as pessoas acabam achando que não

é assim, que vai colocar o filho deficiente em uma escola particular

e por isso vai ter professores bem preparados, e na verdade a

realidade é outra. As escolas públicas têm profissionais muito bem

qualificados e a gente tem visto isso muito, principalmente nessa

escola de Taguatinga que realiza o FRET. Para o documentário, a

gente visa captar isso e trazer todo esse conhecimento e toda essa

experiência que a gente tem tido na pesquisa.

Fernando Esteban – Então, eu somente quero agradecer

muito, não somente à instituição na qual estamos agora inseridos,

a Universidade Católica de Brasília, assim como ao total apoio do

professor Joadir, e a colaboração tão empenhada desses meninos.

Tudo que foi conseguido nesse projeto foi graças aos trabalhos em

equipe. Há uma iniciativa sim, particular, mas há um trabalho em

equipe realmente extraordinário. Se alguém que está de parabéns

aqui é a equipe que vem trabalhando até agora. Muito obrigado a

todos vocês.

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Palestra - 1966 LW3 Canal 10 Universidad Nacional de Tucumán. Repercusiones y Secuelas de un contexto de crisis, en la gestación de la TV Educativa

Palestrante: Dra. Silvia Leonor Agüero1

Resumo: En el año 1946, la Universidad Nacional de Tucumán inicia

con la creación del Instituto Cine-fotográfico (ICUNT) una interesante

experiencia a nivel audiovisual, la primera en Argentina dentro de un

ámbito universitario y una de las pioneras en Sudamérica. Este será el

germen de la Televisora Educativa Universitaria de Tucumán denominada

LW3 Canal 10 de Tucumán que nace veinte años más tarde en el marco

de una crisis política y social que signo en gran medida el destino de la

provincia. El proyecto utópico de la TV Educativa no pudo resistir ante

la llegada de la publicidad, las exigencias del mercado y los intereses

políticos que terminaron haciendo del Canal de televisión universitario

un medio funcional a los distintos gobiernos provinciales debido a su

dependencia política y económica.

Palavras chave: Tucumán, televisión, universidad, educación.

Buenas tardes a todos los presentes, he asistido a parte de este

encuentro y quisiera felicitar a los organizadores por el evento y la

calidad de las presentaciones. Deseo agradecer especialmente a

las autoridades de la Universidad Católica de Brasilia la invitación que

me hicieran para participar de este encuentro y quiero decirles que

me siento honrada por ello. También agradecer al Lic. Fernando Reynoso

1 Doutora em Historia das Artes. Pesquisadora do CONICET. Vice Decana da Facultad de Artes ltad de Artes de la Universidad Nacional de Tucumán.

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Acosta haber sugerido mi nombre, seguramente lo hizo motivado por

una nostalgia de sus años universitarios en Tucumán.

Provengo de la Provincia más pequeña de Argentina ubicada al

norte del país, que actualmente posee 1.687.305 habitantes. Supongo

que a un Brasilero cuyo país tiene una dimensión continental y enorme

población, esta cifra no parece relevante, para nosotros significa solo el

3,61% de la población total de un país también de grandes dimensiones

que tiene casi 43 Millones de Habitantes. (42. 980.026 habitantes).

El Dr. Juan B. Teran fundador de la Universidad Nacional de

Tucumán de donde provengo, al referirse al origen del nombre de la

provincia decía: "Tucumán fue el nombre que cubría en la época de

la conquista las más extensa porción de la tierra argentina […] Hoy es

el nombre de la más pequeña de las provincias argentinas."Y es que

Tucumán fue el último territorio del Imperio Inca del Perú.

Este es un año especial para todos los Argentinos, ya que

estamos festejando los 200 años de la Declaración de la Independencia

del Virreinato del Rio de la Plata a la corona de España y ello ocurrió un

9 de Julio de 1816 precisamente en Tucumán. También se conmemora

este 2016, 50 años del cierre de los ingenios azucareros, industria que fue

por años el principal motor de la economía de la provincia, hoy sigue

siendo el primer productor nacional. En su momento esto significó una

crisis de tal magnitud que aun hoy Tucumán vive esas secuelas.

Tucumán tiene muy buena relación con Brasil ya que en cuanto

al comercio internacional, vuestro país es el principal comprador de la

producción tucumana.

También la Televisión Universitaria LW3 Canal 10 televisora de la

UNT ha cumplido recientemente 50 años y es del contexto y su surgimiento

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de lo que hoy vengo a hablarles. No precisamente como especialista

en comunicación, sino como tucumana, como universitaria, como

receptora y fundamentalmente como integrante de una comunidad

que ha tenido sus luces y sus sombras.

Para que podamos contextualizar el tema a abordar es

necesario decir que la provincia pequeña de la que provengo lidera

en los aspectos económicos, y culturales lo que se denomina el Norte

Grande del País (9 Prov.). Posee dos teatros liricos importantes numerosos

museos provinciales y nacionales, centros culturales, cuerpos artísticos

estatales, diversas orquestas, grupos independientes de artistas de

distintas disciplinas, en síntesis, una escena dinámica, un movimiento

cultural que pocas provincias del país pueden ostentar. Cuenta en la

actualidad con alto nivel de alfabetismo (98,3 % de la población) Posee

dos universidades Nacionales, La Universidad Nacional de Tucumán, La

Universidad Tecnológica Nacional posee una Facultad Regional Tucumán

(FRT). Tiene dos U. privadas, una religiosa y otra laica. La Universidad del

Norte Santo Tomás de Aquino, La Universidad San Pablo-T. Tiene también

un centro de investigación científica bilógica dependiente de la UNT

llamado Instituto Miguel Lillo. La UNT fue creada en el año 1914 o sea ya

ha cumplido 100 años, implica el cuatro presupuesto universitario del país

y es una de las más reconocidas de Argentina y Latinoamérica, recibe

numerosos estudiantes extranjeros principalmente de Latinoamérica.

Antecedentes

Cabe remarcar que la historia y nacimiento de nuestro canal

universitario no será demasiado diferente al de otros canales de

Latinoamérica surgidos en torno a los mismos años y que forman parte

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de lo que se conoce como Televisión Pública. Bajo esta denominación,

se encuadra a una variedad de televisoras con distinto grado o formas

de financiamiento estatal. Ya sea total o parcial será determinante en

la autonomía de los mismos variando también el grado mayor o menor

de dependencia con los gobiernos

Ya en el año 1946, la UNT inicia una interesante experiencia a nivel

audiovisual, la primera en el país dentro de un ámbito universitario y una

de las pioneras en Sudamérica. Me refiero a la formación del Instituto

Cine-fotográfico (ICUNT) creado mediante decreto del Presidente de la

Nación. Este sería el germen de la Televisora Universitaria de Tucumán

que nace veinte años más tarde en el marco de una crisis política y

social que signo en gran medida su destino. La misión del ICUNT según

lo expresaban los informes de la época consistía en divulgar todo lo

argentino: “la contribución a la enseñanza primaria, secundaria y

universitaria, por medio de producciones cinematográficas, informativos

científicos y didácticos y que aportaría al desarrollo del arte y el cine

nacional”.

En sus primeros tiempos con insuficiencia de materiales y mínima

infraestructura para el desarrollo de los procesos, el ICUNT realizo sin

embargo importantes trabajos referidos a Tucumán, sus raíces históricas,

su arte y cultura. Dejo registrado el desarrollo científico y tecnológico

poniendo al alcance de sectores medios, el conocimiento de una

provincia que se veía a sí misma con enorme potencial y en pleno

crecimiento. Pero que pasaba en el país con respecto a la televisión?

La televisión argentina inicia sus transmisiones en el año 1951 por canal 7

de Buenos Aires dependiente de LR3 Radio Belgrano, dirigido por Jaime

Yankelevich. Lo hace un día 17 de octubre, emitiendo desde Plaza

Page 165: Anais - Secomunica 2016

164

de Mayo los discursos del Día de la Lealtad. Hasta el año 1960 en que

surgen tres canales privados en Buenos Aires, uno en Mar del Plata y otro

en Mendoza, el canal 7 fue el único canal estatal que tuvo el país.

La TV llega tarde a Argentina

Habrá que tener en cuenta que no solo EEUU o Inglaterra

contaban con televisión hacía más de una década, en América Latina;

México, Cuba y Brasil se habían adelantado a Argentina por lo que

existía una especie de trauma en el país respecto a ese retraso.

La Argentina fue, de este modo, el cuarto país del continente

americano en comenzar con las transmisiones de televisión, y el octavo

a nivel mundial luego de Alemania, Inglaterra y Estados Unidos-. En ese

momento, se estimaba que no había más de 30 receptores en toda

la Ciudad de Buenos Aires. La misma sensación se vivió en Tucumán

cuando llego la TV con cierto retardo. Ya que esta se consideraba una

ciudad avanzada social y culturalmente respecto de otras provincias

del país.

Durante la primera presidencia de Juan D. Perón la UNT ya se

había evaluado la posibilidad de poner al aire un canal de televisión.

Pensemos en la valoración de los medios de difusión en la época y

la naciente conciencia del efecto que producía sobre las masas

particularmente a partir de la Segunda Guerra Mundial.

Pero las numerosas conquistas sociales del gobierno peronista y

el espacio que ocuparon los trabajadores en la vida social y política del

país se modificaron a partir del Golpe de estado del año 1955. En ese

sentido los medios de difusión cobraron un rol central.

Las universidades estatales mayormente peronistas debían

reordenarse después de las cesantías, despidos, reincorporaciones

Page 166: Anais - Secomunica 2016

165

e intervenciones. En un contexto de prohibiciones y controles que

exigían cambios en el sistema de medios de comunicación, la UNT dio

continuidad a las políticas audiovisuales y de comunicación que había

iniciado hacia una década.

Habrá que señalar que al momento de producirse el golpe

de Estado de 1955, las tres cadenas nacionales de radio y el único

canal de televisión se encontraban en manos de personas o empresas

estrechamente vinculadas al peronismo. Por este motivo en 1958, la

Comisión Administradora de Radios comerciales y TV de la Nación

avanzara con el desmembramiento de las cadenas nacionales, para

luego delegar emisoras radiales en algunas universidades. Es en ese

momento que Tucumán recibe la dirección de la emisora LW3, que

había sido parte de la cadena Radio Splendid.

Recién en 1961 y luego de insistentes gestiones del Rector de la

UNT, E. F. Virla, el Consejo Nacional de Radiodifusión llama a licitación

para canales de televisión del interior del país y asigna a Tucumán un

canal experimental y un canal comercial.

Sin embargo siempre por razones ideológicas y políticas habrá

que esperar hasta el año 1964 en el que bajo un nuevo gobierno

democrático, el del Dr. Arturo U. Illia se otorgue a la UNT una licencia

que solo admitirá un canal cultural - experimental.

En Tucumán, el nuevo gobernador que asumía sus funciones

pertenecía al mismo signo político que el presidente de la nación y

mantenía estrechos vínculos con la UNT.

A partir de ese momento se inician acciones diversas para comprar

equipos, preparar la infraestructura técnica, edilicia y de personal

especializado para realizar las primeras transmisiones.

A diferencia de otros países latinoamericanos en los que los

Page 167: Anais - Secomunica 2016

166

canales televisivos habían nacido de iniciativas de empresarios de

medios gráficos o radiales, en Argentina inicialmente los canales

nacen de la inversión estatal. Eso explica los rasgos que tendrán las

programaciones en sus primeros tiempos. Esa será la característica del

Canal 10 Universitario de su programación y funcionamiento cultural en

sus primeros años.

Objetivos de la Televisión Educativa

El objetivo común a muchos canales de la época se inspiró en

la idea de programas que contribuyeran a la escolarización formal por

TV. Esta fue una utopía que pretendía una TV para todo tipo de público,

cuyos contenidos generales buscaban la homogeneización de la

comunidad. Desde esa perspectiva pedagógica y de algún modo

cultural, el nuevo medio de comunicación pondrá al aire programas

referidos a temas vinculados la familia, la infancia, la salud. Esta fue la

característica de la televisión “cultural” de los años 50 y 60, y Canal 10

emerge de esa concepción.

Sus Estatutos, aprobados en 1966, sostenian que la televisora

debía centrar sus objetivos “en la educación del hombre en sentido

amplio…la formación integral de la personalidad en sus aspectos

moral, intelectual y físico, mediante el desarrollo de la capacidad de

juicio sobre lo estético, lo ético, lo afectivo y lo social” De algún modo

podemos observar que sus postulados conservan las mismas aspiraciones

del ICUNT. En virtud de ello afirmaban sus objetivos, “como órgano

de información y educación, sus programas promoverán la difusión y la

enseñanza de las ciencias, las letras y las artes, así como el reflejo veraz

y ponderado de la realidad social, económica y política”

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167

Ese mismo año, 1966, casi en paralelo a los primeros pasos que

daba la televisión en la provincia, el país vivía horas intensas. Un nuevo

golpe de estado militar, desplaza al presidente constitucional e inaugura

una etapa de abierta represión al movimiento popular que no había

cesado su resistencia desde 1955, especialmente en las universidades

nacionales que fueron intervenidas imponiéndose la violencia, la

persecución a docentes y estudiantes, despidos y desalojos

Queda en el recuerdo de muchos argentinos La noche de los

bastones largos, nombre que proviene de los bastones largos usados

por efectivos policiales para golpear a las autoridades universitarias,

estudiantes, profesores y graduados, cuando los hicieron pasar por una

doble fila al salir de los edificios universitarios de Buenos Aires, luego de

ser detenidas 400 personas, destruir sus laboratorios y bibliotecas.

De allí que muchos Profesores despedidos abandonaron el país

ocasionando una grave pérdida para la nación.

Por otro lado, Tucumán poseía una fuerte organización gremial

que también será desmantelada por la autodenominada Revolución

Argentina. Por orden del Gobierno nacional entre 1966 y 1968 se cierran

once fábricas azucareras, perdiendo más de 50.000 puestos de trabajo

y provocando el éxodo forzoso de más de 200.000 tucumanos, quienes

emigraron en procura de otro horizonte laboral conformando los

cinturones de pobreza de las grandes ciudades industriales. La secuela

de desocupación y pobreza se extenderá por décadas.

Ese año 1966 fue de inflexión en la historia tucumana, y quedo

reflejado de algún modo en las primeras imágenes que puso al aire

la pantalla de Canal 10. Tucumanazo, huelgas obreras, estudiantiles

caracterizaron al periodo.

Page 169: Anais - Secomunica 2016

168

Pero continuemos relatando los pasos que debió atravesar

nuestra Televisora Universitaria hasta llegar a su primera transmisión, y

recordemos que ya había adquirido su licencia de canal educativo -

experimental. Como no se contaba con un edificio propio se utilizaron los

jardines del predio donde funcionaba el ICUNT. Allí se previó un proyecto

arquitectónico que no pudo terminarse por razones presupuestarias

dada la situación por la que el país ya venía atravesando.

Al anunciarse la visita del nuevo presidente de facto para los

festejos del Día de la Independencia, se consideró que ese era un

momento oportuno para inaugurar el nuevo canal televisivo, por tal

motivo se trasladó uno de los Quonsets del Cerro San Javier donde

estaba prevista la construcción de la Ciudad Universitaria que quedó

inconclusa tras la caída del peronismo.

De este modo se improvisó un precario estudio y el 9 de Julio de

1966 ante la presencia del Ongania se realizó la primera transmisión.

“Los quonsets eran un conjunto de galpones metálicos prefabricados

provenientes de la Segunda Guerra Mundial que la UNT había comprado

para su proyecto de ciudad universitaria en el cerro San Javier. Tras

la paralización de aquel proyecto, los quonsets fueron trasladados a

distintas dependencias universitarias, entre ellas, Canal 10”

“En su primera salida al aire, la TV universitaria llevó a la pantalla al

Coro Universitario que interpretó el Himno Nacional. Posteriormente el

conjunto hizo escuchar, siempre bajo la dirección del maestro Mario

Cognato, “Gaudeamus”, canción universitaria y composiciones de dos

autores argentinos: Felipe Boero y Aurelio Rodríguez […]

Concluidos los discursos de las autoridades presentes, se divulgó

el programa de la TV y se transmitió el primer telenoticioso, filmado por el

camarógrafo Gerardo Vallejo, sobre los actos del Sesquicentenario que

Page 170: Anais - Secomunica 2016

169

culminaron con la visita presidencial

Como fueron esas primeras transmisiones? Esas primeras

transmisiones como ocurrió en otros tantos países de Latinoamérica,

demandaron mucho esfuerzo e ingenio y se hacían en vivo. Si bien la

precariedad fue el rasgo inicial, el trabajo se resolvía con gran calidez.

Unos técnicos provenían del ICUNT y otros se formaron para la ocasión,

incluso el material de Servicio Informativo se revelaba en los viejos

laboratorios del Instituto. Los marcos escenográficos de los programas

provenían del mundo del teatro y el ballet, de allí que sus técnicos,

tramollistas, iluminadores, maquilladores también provenían de ese

ambiente. También el cine y la radio fueron sus primeros modelos.

Anécdotas varias…

Estaba todo por hacerse, había que descubrir códigos

propios, crear modalidades de trabajo e imponer patrones estéticos

completamente inéditos.

La programación diaria eminentemente cultural que en sus inicios solo

duraba dos horas, en pocos años se amplió a 14 hs.

Entre programas más destacados y recordados por la

teleaudiencia local figuran La Santa Misa (en el aire en forma

ininterrumpida desde 1966), Teleprensa, que luego paso a llamarse

Canal Diez, La Caja Nº 10, (fines de la década de 1960 y principio de

la década de 1970), exitoso ciclo musical y artístico de gran nivel, con

orquestas, cantantes y otros espectáculos; Aquí En Casa, (comienzos de

la década de 1970) programa de consejos para el ama de casa, salud,

moda, cocina, bricolaje, etc., con conducción femenina, invitados y en

directo, Testimonios de Tucumán ciclo de cortometrajes documentales

realizados por el cineasta tucumano Gerardo Vallejo.

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170

Sin embargo, Veronica A. Ovejero comenta que a fines de 1966,

la revista Última Línea señalaba que la televisión parecía no haber

entusiasmado mucho a los tucumanos, y que ello quedaba reflejado

en el fracaso de las ventas de aparatos de TV. Sostenía también que

ello se debía en gran parte al carácter educativo de la televisión y a los

defectos técnicos que presentaba. Asimismo, acusaba a la UNT por la

falta de recursos y denunciaba la “mediocridad” de los programas.

Por decreto de 1969, se autoriza a los canales Nacionales, provinciales

municipales y universitarios a incluir publicidad comercial. Esto colaboro

a hacer frente a los costos operativos que pronto Canal Diez comenzó

a percibir ya que el canal se sostenía con los fondos de la Universidad.

Pero una vez que Canal 10 se abrió a la publicidad en 1972 se

hizo cada vez más difícil diferenciarse de todo el espectro de televisiones

comerciales, entrando en crisis el modelo educativo. Por otro lado el

canal universitario había comenzado a transmitir toda la programación

del canal Estatal y con ella los programas extranjeros.

Los constantes cambios de directorio, la falta de presupuesto y

de planificación desembocaron en una seguidilla de críticas internas

y externas a la UNT en las que se ponía de manifiesto las profundas

tensiones entre la idea de TV cultural y la idea de TV comercial que la

Universidad no había podido superar.

La llegada de la Dictadura en 1976 la más profunda de la historia

argentina, significo un nuevo golpe al Canal Educativo Universitario.

Mediante Ley nacional se obligó a las emisoras que comercializaban

espacios de publicidad, se constituyeran en Sociedades Anónimas con

Participación Estatal Mayoritaria. En una forma de expropiación en 1977

se conformó la Sociedad Anónima Televisora de Tucumán S.A., a la que

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171

se sumó el Gobierno Provincial, con el 30% de las acciones, quedando

expuesto el predominio mercantil impulsado con el Gobierno Militar, el

coartamiento de las libertades y el control del Estado. La historia de la TV

y la dictadura es un tema que merece un examen muy profundo y no es

el tema de esta conferencia.

Si me interesa remarcar para finalizar, que la situación de

dependencia económica estatal del Canal Universitario impone hasta

la actualidad profundos intereses políticos que nada tienen que ver ya

con aquella utopía de los años sesenta de una televisión exclusivamente

educativa que en poco tiempo se mostró inviable ante la real situación

económica y socio-política de la región.

También pone en evidencia este breve repaso, la pérdida de

autonomía que fueron sufriendo las universidades nacionales a partir

de los años sesentas y setentas. Por otra parte, la dependencia de

los gobiernos del momento-democráticos o no, fueron marcando

una dirección cambiante, lo que volvió su historia marcada por la

inestabilidad.

En los últimos años el Canal 10 de la UNT vio afectada su

credibilidad a causa de las evidentes funciones de persuasión

política orientadas hacia las opciones gubernamentales. En estos

momentos instancias jurídicas intentan resolver el desproporcionado

uso propagandístico del canal hacia un partido político en las últimas

elecciones.

Sin embargo también es justo reconocer que hoy, aunque

lejos de las razones que le dieron origen, el Canal sigue esforzándose

en mantener entre sus propuestas, una programación informativa,

educativa y cultural, pero no puede competir con otras programaciones

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172

similares de grandes producciones.

Esos años 60, y los 50 años del nacimiento de Canal 10, sirven

para celebrar los anhelos pioneros de una televisión educativa

como así también reflexionar sobre el impacto que tuvo la televisión

sobre la vida y la cultura de los tucumanos en nuestro caso y de los

argentinos: Sus usos, su interpretación, su papel fundamental en los

acontecimientos ocurridos. Pero también su futuro, donde se vislumbra

no tanto una desaparición, sino un cambio radical en la manera en la

que la percibimos y nos relacionamos con ella.

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Palestra – Conexões entre Universidade, televisão e internet1

Palestrante: Cláudio Magalhães2

Resumo: O lugar da televisão no mundo contemporâneo é o eixo

estruturante da argumentação do palestrante. Para isso, ele aborda

desde a situação das tevês universitárias até as interfaces da produção

audiovisual com a tevê tradicional e internet. Fala de tevê aberta, a

cabo, netflix e outros sistemas de transmissão. Também delimita a

diferenciação entre jornalismo e audiovisual, segundo sua compreensão

dos processos produtivos.

Palavras-chave: Televisão. Jornalismo. Audiovisual. Tevê universitária.

Eu sou da Associação Brasileira de Televisão Universitária, da qual

fui fundador, presidente e vice-presidente, e hoje sou editor da revista da

ABTU. Na realidade, a tevê universitária é antes de mais nada uma luta

pela televisão pública do país. A nossa televisão educativa vai fazer seus

50 anos no ano que vem. Nossa primeira televisão universitária, fundada

em 1967, é a TV Universitária de Recife, em Pernambuco. Ela também

surgiu nas mesmas condições que a tevê argentina, como apresentado

pela professora Sílvia. Achei engraçado porque a primeira transmissão

de vocês foi do presidente e da primeira dama, e a nossa aqui foi novela.

Então, a gente já esclarece aí muito bem qual a diferença entre uma

emissora e outra.

1 Transcrição: Cynthia Rosa2 Jornalista. Editor da revista ABTU. Sócio da Educar – Acompanhamento Educacional.

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174

A televisão surgiu aqui sem nenhuma pretensão de ser do Estado. Ela

era um negócio, como continua sendo. O Estado vai entrar quando

quer fazer televisão do mesmo tipo que a professora falou, formativa

para que as pessoas pudessem ter uma instrução, com o Mobral

e coisas assim. A tevê educativa no Brasil surge para isso. Graças a

Deus isso nunca aconteceu. Primeiro, porque foi colocado para uma

universidade, e essa universidade, mesmo sendo uma federal, conseguiu

dar um jeitinho de sair contra a legislação que era a da ocasião e fazer

uma televisão que fosse realmente educativa.

Então, nossa televisão universitária tem 50 anos. É uma história

comprida, mas que, na realidade, vai se dividir a partir dos anos 90

com a criação dessa sigla mesmo, de TV Universitária. Através de uma

luta das televisões públicas, do pessoal da comunicação pública, nós

enfiamos na legislação da televisão a cabo a obrigatoriedade de existir

uma televisão universitária em cada lugar que tivesse cabo. Com isso, já

começou a ideia de uma televisão universitária e, a partir daí, tivemos

um crescimento muito grande de universidades que fizeram televisão.

Até esse momento, a gente não chegava a ter 20 televisões universitárias

no país, desde 67 até os anos 90. Depois disso, segundo um mapa das

tevês universitárias feito em 2006, eram 150 televisões universitárias, sendo

que nesse período ainda não tinha ocorrido o boom da internet. Hoje, a

gente calcula que existam muitas mais que isso.

No país existem 250 televisões educativas, o que é um número

extremamente significativo também. Dessas, algumas são universitárias.

Então, temos aí uma história bastante longa. Lá na ABTU, gostamos de

dizer que universidade rima com diversidade. Nós temos televisão de todo

jeito que se possa imaginar. Nós temos inclusive televisão universitária

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175

comercial, que tem o sinal comercial, mas faz televisão universitária

sem veicular comercial. Temos nossa tevê universitária de Recife, onde

eu participei de um evento semana passada, que tem menos ilhas de

edição que vocês. Ou seja, a primeira televisão universitária do país

tem menos ilhas digitais que os laboratórios de vocês na Católica, e ela

cobre o estado de Pernambuco inteiro. Digo isso para mostrar a vocês

a precariedade do que é a televisão pública e educativa no Brasil, mas

também para elogiar o excelente laboratório que vocês têm, o que

mostra que vocês estão bem nesse sentido. Essa diversidade é também

em termos de produção, de veiculação.

Agora, uma coisa legal que tem acontecido é que, justamente

por causa dessa ideia de diversidade, a gente não se prende a nada.

Quem não tem nada, pode conquistar qualquer coisa. Então, também

temos uma enorme diversidade de tipo de transmissão e produção:

tem sinal aberto, tem sinal fechado, tem sinal a cabo, tem na web, tem

circuito fechado. Isso é uma coisa boa que a universidade acrescentou

na ideia de televisão e antecipou essa discussão de hoje, que é de falar

o seguinte: nós não temos que nos prender a nada, a nenhum tipo de

produção.

Na nossa época de fazer eventos, a gente tinha uma

reclamação, uma revolta com nossos estudantes, porque a gente

colocava os estudantes na tevê, mas eles estavam lá para fazer book

para apresentar pra Globo. E a gente ficava possesso com isso, porque o

lugar de experimentação é aqui. Se você quer fazer uma coisa diferente,

faça aqui. Porque essa coisa do igualzinho, todo mundo faz. A gente

ficava preocupado porque existia muito pouca ousadia dos alunos, e

a gente era pilhado para eles fazerem coisas diferentes. E esse é um

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176

pouco o espírito da universidade, de estar instigando. Fazer cabeça,

lead, off, passagem, off de novo, gente, desculpa, mas isso é fácil fazer,

pelos menos tecnicamente. Fazer diferente disso é que é o legal. E a

gente se propunha a fazer essa história.

Mas eu estou vendo na carinha de alguns de vocês algo assim:

“Tio, fala sério, televisão? Quem que assiste televisão hoje, ainda mais

tevê aberta?” Vamos ver uma coisa: quem aqui assiste televisão de sinal

aberto? Vejam, muito poucos. Mas só que eu tenho duas notícias para

vocês, uma boa e uma má.

A má, gente, é que 50% da população desse país não tem banda

larga, um dado de três ou quatro anos atrás. Quando a gente diz que o

Brasil é um país conectado, que está todo mundo na internet, isso é uma

“conversa fiada”. Então, se 50% da população não tem banda larga em

casa, como que vai assistir essa produção democrática que a internet

está trazendo? Por que essa situação? A gente sabe os motivos: uma

que é caro, outra porque as empresas não estão querendo levar para

os lugares em que não rende muito. Então, as pessoas vão ficar com

tevê aberta mesmo, com a novela, o telejornal. Essa é uma ilusão, que

a internet ajuda a integrar a comunicação. Ajuda nos nossos centros

urbanos, nas nossas universidades. Mas a maioria das pessoas ainda

estão sem internet. E a previsão é que ela não vai aumentar mais que

isso, porque isso também é uma estratégia de exclusão social. Existia

um plano maravilhoso, o Plano Nacional de Banda Larga, que está

enterrado em algum lugar. Mais uma vez a tecnologia está sendo usada

para fazer exclusão social; não pensem que com a banda larga vai ser

diferente.

Agora, eu vou dar a boa notícia: a internet foi a melhor coisa que

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177

aconteceu para a tevê e para o jornalismo. Para a publicidade eu não

preciso nem falar, porque vocês já sabem disso. Mas no jornalismo e na

tevê se dizia: acabou a televisão com a internet; o jornalismo acabou,

porque agora todo mundo dá notícia na internet. Pra gente do jornalismo

e da tevê, a internet é ótima. Quantos aqui assistem Netflix, HBO? Olha

a diferença da tevê aberta. E entre os que gostam de futebol, quem

vê os gols do seu time na internet? O gol que você assiste no Twitter é

diferente do que passa na televisão? Não, é o mesmo. Do mesmo jeito,

as reportagens. Portanto, a gente continua assistindo a mesma televisão,

não tem diferença. Alguém pode dizer: mas eu assisto na hora que eu

quero. É verdade.

Hoje temos até um fenômeno nomeado binge watching, e já

tem gente estudando isso: é quando o telespectador, ao invés de assistir

um episódio por semana de uma série, como se fazia antigamente,

senta um dia e, pela internet ou netflix, assiste tudo de uma vez, ou pelo

menos uma temporada de uma vez. Mas o que mudou de verdade?

A transmissão continua sendo linear, eu fico ali paradinho, sentado,

assistindo as coisas passando na minha frente. Portanto, olha que beleza

a internet trouxe para a tevê: libertou ela da caixinha, do aparelho, do

televisor. Assim como o cinema se libertou da sala escura, com a criação

da televisão. Assim como a notícia se libertou do rádio, quando surgiu a

tevê. Cada meio ajuda o anterior a se libertar.

Eu vejo televisão hoje em qualquer tela. Há diferenças entre essa

televisão tradicional e essa nova, via internet, mas também tem em

comum, principalmente na estética. O mais importante é a migração

de um meio para o outro. Então, tem programa que nasceu na internet

e foi pra televisão, com a linguagem tradicional da televisão. Mas a

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178

diferença mais importante é o papel da audiência. Na televisão, é como

quem está na varanda, vendo o mundo passar. Na internet, é como um

buraco de fechadura, e eu é que tenho que escolher qual fechadura eu

quero abrir. Se na tevê eu sou um espectador, na internet sou um voyeur,

eu procuro minhas coisas lá. Internet não vai abrir o programa que você

quer ver. Essa diferença mostra que a televisão está mais viva do que

nunca.

Em relação ao jornalismo especificamente, liberou de uma coisa

que já me angustiava há muitos anos: liberou a gente do opressor que

se chama “furo” e do opressor que se chama “factual”. Nossos cursos

de comunicação e jornalismo passaram anos ensinando os jornalistas a

achar furo de notícia, achar a notícia com a qual iria sobrepor o outro

jornal, só para mostrar como o veículo é antenado. O que fez a internet?

Tirou isso do jornalismo; não existe mais a possibilidade de se dar o furo.

Isso fez a gente voltar a fazer jornalismo de verdade. E o que é jornalismo

de verdade? É apuração, é investigação, é pesquisa. Passamos muitos

anos achando que o papel do jornalista é dar notícia; quem dá notícia

é o fofoqueiro da esquina. O que o jornalista dá é credibilidade.

Agora, temos que aprender a valorizar um sujeito que nas

redações era super desvalorizado: o pauteiro, ou apurador. Todo mundo

quando sai da escola quer ser repórter; mas se não tiver uma boa pauta

investigada, já era. Essa novidade é ótima, porque as pessoas estão

querendo notícias com credibilidade; as pessoas continuam querendo

saber o que é verdade ou não.

O Facebook está em plena decadência porque as pessoas não

confiam mais nele. Quem vai assinar embaixo? O que dá credibilidade

é a marca da instituição que informa, a marca que assina a matéria. O

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179

resto é pipoca, é para ler, degustar e passou.

Eu quero terminar minha palestra dizendo ainda que audiovisual

e jornalismo são duas coisas bem distintas, embora às vezes se mostrem

bem misturadas. Um filósofo disse certa vez: a diferença da ficção para

a realidade é que a realidade é muito mais surpreendente. E aí quem

dá conta dessa realidade? Quem dá conta dessa realidade não é o

audiovisual, nem o documentário, porque este tem começo, meio e

fim. Quem dá conta dessa realidade é o jornalismo, quem dá conta

dessa realidade é a publicidade inclusive, porque tem um papel social

importantíssimo. Isso não significa que o audiovisual não é importante;

pelo contrário, o audiovisual é fundamental para contar histórias. Sem

a ficção e o documentário, a gente enlouqueceria. E o audiovisual é

importante para isso, pois ele ajuda a ordenar e reordenar o mundo.

Enfim, gente, não abra mão de nada; nem de tevê aberta,

nem de celular, nem de Twitter, nem de circuito interno. Bota um vídeo

desse na internet e vocês vão ver quanta gente vai lá clicar para ver.

Se eu tiver 10 pessoas que assistiram essa palestra pela internet, são 10

pessoas que não assistiriam se não tivesse a internet. Essa capilarização

é fundamental, porque a menor audiência é tão importante quanto

a maior. Por isso, não abram mão de nada, porque vocês são uma

geração privilegiada, são uma geração que farão com que isso seja

comum e farão com que a comunicação social efetivamente seja uma

coisa importante para todos nós. Muito obrigado!

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