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ANAIS DO III CONGRESSO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA Comitê Dança em Mediações Educacionais Setembro/2014 http://www.portalanda.org.br/anai 1 A DANÇA NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE CORPORAL Ivana Vitória Deeke Fuhrmann (FURB) * RESUMO: O estudo sobre a formação continuada de professores no Vale do Itajaí/SC no que concerne a construção da identidade corporal por intermédio da dança é a temática da pesquisa. O locus de investigação foi o projeto de extensão universitária O jogo teatral na escola, vinculado ao Programa Institucional Arte na Escola (PIAE), polo FURB- Blumenau/SC. O artigo traz a cena dados das oficinas de Identidade Corporal realizadas em 2014 com professores de Educação Infantil amparados no referencial teórico de Spolin, Bourdieu e Marques. PALAVRAS-CHAVES: Dança. Educação. Identidade Corporal. DANCING FOR THE CONSTRUCTION OF BODY IDENTITY ABSTRACT: The study on the continuing education of Vale do Itajaí/SC professors concerning the construction of body identity through dancing is the theme of this research. The locus of investigation was the university extension project Theatrical Play At School, linked to the Institutional Art Program At School (PIAE), by FURB University - Blumenau/SC. The article presents information about body identity workshops performed in 2014 by kindergarten teachers supported by Spolin, Bourdieu and Marques theoretical references. KEYWORDS: Dance. Education. Body Identity.

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A DANÇA NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE CORPORAL

Ivana Vitória Deeke Fuhrmann (FURB)*

RESUMO: O estudo sobre a formação continuada de professores no Vale do Itajaí/SC no que concerne a construção da identidade corporal por intermédio da dança é a temática da pesquisa. O locus de investigação foi o projeto de extensão universitária “O jogo teatral na escola”, vinculado ao Programa Institucional Arte na Escola (PIAE), polo FURB- Blumenau/SC. O artigo traz a cena dados das oficinas de Identidade Corporal realizadas em 2014 com professores de Educação Infantil amparados no referencial teórico de Spolin, Bourdieu e Marques. PALAVRAS-CHAVES: Dança. Educação. Identidade Corporal.

DANCING FOR THE CONSTRUCTION OF BODY IDENTITY

ABSTRACT: The study on the continuing education of Vale do Itajaí/SC professors concerning the construction of body identity through dancing is the theme of this research. The locus of investigation was the university extension project Theatrical Play At School, linked to the Institutional Art Program At School (PIAE), by FURB University - Blumenau/SC. The article presents information about body identity workshops performed in 2014 by kindergarten teachers supported by Spolin, Bourdieu and Marques theoretical references. KEYWORDS: Dance. Education. Body Identity.

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Introdução

Este estudo apresenta o trabalho de formação continuada efetuado com

professores da Educação Infantil da rede de ensino estadual e municipal no Vale do

Itajaí/SC no decorrer de 2014 e foi desenvolvido dentro do projeto intitulado “O jogo teatral

na escola” - vinculado ao Programa Institucional Arte na Escola (PIAE) – Polo

Universidade Regional de Blumenau (FURB). Cabe mencionar que tal projeto iniciou em

2011, coordenado nos três primeiros anos pela professora Ma. Olívia Camboim Romano e

em 2014 passou a ser coordenado pela autora deste artigo.

O PIAE é uma associação civil sem fins lucrativos que, desde 1989, qualifica,

incentiva e reconhece o ensino da arte, por meio da formação continuada de professores

da Educação Básica. Tem como premissa que a arte deve desenvolver habilidades

perceptivas, capacidade reflexiva e incentivar a formação de uma consciência crítica. Na

FURB o programa iniciou em 1993, coordenado pelas professoras Ma.Marilene de Lima

Körting Schramm e Ma. Rozenei Maria Wilvert Cabral e atualmente conta com três

projetos: “O jogo teatral na escola”, “Formação Continuada”1 e “Midiateca”2 e vários

professores envolvidos: Ma. Lindamir Aparecida Rosa Junge, Ma.Marilene de Lima

Körting Schramm, Ma. Melita Bona, Ma. Rozenei Maria Wilvert Cabral e esta autora.

Segundo Schramm e Cabral (2010, p. 19), a finalidade do PIAE “[...] é de fomentar a

qualificação de processos educacionais em arte, com o propósito de ser agente de

transformação e fonte de referência no ensino da arte, auxiliando professores, estudantes

e demais interessados na área”.

O PIAE – Polo Universidade Regional de Blumenau (FURB) tem atendido diversas

cidades de Santa Catarina com os três projetos que desenvolve. Oferece oficinas e

palestras para professores das cidades de Blumenau, Gaspar, Indaial e Schroeder;

integrantes do Programa de Educação Permanente da FURB, programa destinado aos

idosos, professores, técnico-administrativos e estudantes da FURB, especialmente dos

cursos de Artes Visuais, Música, Pedagogia e Teatro e alunos do ensino médio da Escola

Técnica do Vale do Itajaí (Etevi) da FURB, participantes do Programa Institucional de

Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) e do Plano Nacional de Formação de Professores

da Educação Básica (PARFOR) presencial.

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Colocando em foco o projeto “O jogo teatral na escola” com o eixo inicial centrado

na mediação teatral (quando coordenado pela professora Ma. Olívia Camboim Romano

que no momento se encontra em afastamento cumprindo seu doutoramento na UFBA), o

mesmo ampliou as oficinas abarcando também a área de dança com a entrada desta

autora no projeto e atualmente também conta com a extencionista Camila Amanda

Schmoegel Elias que auxilia nas oficinas ofertadas e demais tarefas.

O projeto se fez necessário uma vez que foi identificada a carência de professores

habilitados para atuarem na disciplina de Artes e, especialmente, com as áreas de dança

e teatro; escassa formação continuada na área; desconhecimento da comunidade escolar

e universitária dos principais elementos da linguagem teatral; baixa participação de

professores e escolares em eventos artísticos e culturais de Blumenau e região.

Em cena um plano de ação: as oficinas de identidade corporal e a dança

Em 2014 a dança começou a integrar o conteúdo das oficinas ministradas dentro

do projeto “O jogo teatral na escola”, conforme anteriormente já mencionado. Até então as

oficinas abordaram, em linhas gerais, os elementos básicos da linguagem teatral; o

conceito e a prática dos “jogos teatrais”; a importância da brincadeira, do prazer aliado ao

conhecimento no ensino do teatro na escola; e a elaboração de protocolos de avaliação

como instrumento de avaliação das atividades. A partir de abril de 2014 foram ofertadas

oficinas de “Identidade Corporal”, em que se oportunizou aos participantes, no papel de

“professores alunos”, vivencias por intermédio do movimento para que criem relações

com sua própria identidade corporal e desenvolvam consciência corporal. A forma como

cada qual utiliza o seu corpo diz muito do caráter, da emoção, sensibilidade, tabus

constituindo a identidade. E tais experiências vivenciadas pelos professores podem

posteriormente ser trabalhadas com as crianças – seus alunos.

Assim sendo, foi aliado ao trabalho já desenvolvido atividades de dança dentro do

mesmo espírito de “jogos teatrais” - pautados no trabalho da diretora norte-americana

Viola Spolin (1906-1994) uma vez que,

A técnica de Jogos Teatrais propõe uma aprendizagem não verbal, onde o aluno reúne os seus próprios dados, a partir de uma experimentação direta. Através do processo de solução de problemas, ele conquista o conhecimento da matéria (KOUDELA, 1998, p. 64).

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O jogo teatral destaca-se atualmente no Brasil como uma das principais correntes

metodológicas do ensino de artes cênicas para crianças, jovens e adultos. Tal

metodologia pode ser aplicada no reduto educacional e na preparação de formação

continuada de professores. Assim, os jogos teatrais, a dança e a improvisação, podem ser

aplicados e praticados tanto com alunos quanto professores, estudantes ou profissionais

da área artística.

No caso ora aqui exposto o público alvo das oficinas de “Identidade Corporal”

foram 50 professoras da cidade de Indaial/SC que trabalham com Educação Infantil. A

cidade de Indaial está situada a poucos quilômetros de Blumenau e as professoras vieram

até a FURB para participar da oficina de “Identidade Corporal” que contou com uma carga

horária de 3 (três) h/a. As professoras foram divididas em dois grupos que trabalharam

em dias diferentes para melhor andamento das atividades. As atividades foram

desenvolvidas nos dias 26/03/2014 e 07/04/2014.

As aulas tiveram como objetivo capacitar, de maneira inicial, tais professoras para

mediarem o contato de seus alunos com as artes cênicas e neste caso em especial, com

o movimento, tendo a dança como ferramenta de trabalho. Sabe-se que a carga horária é

mínima, no entanto esclarece-se que a formação é continuada e os trabalhos terão

sequencia até o final do presente ano. Explica-se também que o mesmo grupo de

professoras já participou de vários encontros anteriores onde trabalharam com “jogos

teatrais”.

Faz-se necessário mencionar que o “reconhecimento da arte como área de

conhecimento a ser trabalhada nas escolas foi legalmente introduzido pela LDB (Lei de

Diretrizes e Bases) 9394/96, em 1997, e esse processo foi coroado em âmbito nacional

com a inclusão da dança nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)”(MARQUES,

2006, p. 101). No entanto, essa não é a prática realizada na maioria das escolas do

estado de Santa Catarina.

Outro dado importante que há de se considerar é que apesar de em 2014 o Brasil

já possuir 44 cursos de Graduação em Dança, atendendo Bacharelado e Licenciatura,

ainda não existe nenhuma Graduação na área no estado de Santa Catarina o que

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enfraquece a adesão da dança nas escolas, seja como atividade curricular ou

extracurricular.

Assim sendo, a dança, o movimento corporal, é bastante distante dos alunos bem

como dos próprios professores uma vez que não apresentam qualificação para tal e não

vivenciarem referida realidade mesmo quando alunos. Marques (2006) desenvolve seus

estudos abordando e defendendo a inclusão da dança na escola de ensino formal. No

entanto, pondera sobre as dificuldades de incluir a disciplina dança no currículo

obrigatório, afirmando que, atualmente, os professores da referida disciplina nas escolas

não possuem a qualificação necessária para tal.

A questão foi verificada antes de iniciar as atividades práticas onde o público alvo,

em sua maioria professoras formadas em Pedagogia, respondeu um questionário. As

perguntas foram elaboradas a fim de se conseguir montar um perfil dos professores que

fazem a formação, ou seja, a oficina, e o público que por eles é atingido. As perguntas

abordaram a escolaridade, atividade artística que participa, com quais turmas trabalham,

disciplinas que lecionam, qual a média de alunos por sala bem como qual a relação com

as Artes Cênicas (dança e teatro). Conhecendo o perfil do público alvo é possível

melhorar a interação desse público com a dança e artes em geral e também aumentar a

demanda de participação das referidas áreas em nossa região.

Quando interrogadas sobre qual a sua relação com as Artes Cênicas obteve-se

respostas tais como: “Participo pouco. Mas gosto de ouvir boas músicas e grupos de

dança ou teatro quando tenho oportunidade, aprecio” (professora 22); “Pouca” (professora

23); “Não tenho nenhuma relação” (professora 29); “Nenhuma” (professora 33);

“Descobrimento” (Professora 38); “Distante” (professora 40); “Eu gosto e acho

interessante, mas não participo de nada” (professora 41). E quando questionadas sobre

as atividades artísticas que participam ficou evidente que quando a adesão existe é como

espectador: “Cinema” (professora 27); “Assisto apresentações de dança no meu

município” (professora 45) ou realmente é inexistente: “Nenhuma” (professora 33); “No

momento nenhuma” (professora 30).

Concorda-se assim como sugerem Pierre Bourdieu e Alain Darbel (2003), no livro

“Amor pela Arte”, que a cultura não é um privilégio natural e de que a prática cultural não

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é um dom ou uma questão de sensibilidade inata ligada à emoção, pois existem

condições sociais que tornam possível o usufruto desse privilégio. Dessa forma entende-

se que por vezes as pessoas não dançam ou não compreendem seu corpo, a sua

identidade corporal, pelo fato de tal questão não fazer parte do seu estilo de vida, de sua

cultura familiar e local.

Santa Catarina está localizada na região sul do Brasil, colonizada em sua maioria

por europeus e assim sendo é uma região um tanto mais séria e formal se comparada ao

Nordeste brasileiro por exemplo. Os abraços são distantes, os corpos não se encostam e

as danças que circulam nos espaços escolares e de lazer são as danças de salão ou os

Grupos Folclóricos de tradição alemã e italiana onde existe um papel específico para o

homem e para a mulher. Claro que o mundo está globalizado e tudo o que a mídia impõe

de certa forma é perpetuado. Mas no que tange uma pesquisa corporal, o uso da

criatividade, a exploração das sensações emocionais e físicas por intermédio da dança

pouco é feito nas escolas.

Considerando tais questões foram oferecidas para 50 professoras aulas práticas a

fim de que sentissem com seu próprio corpo o que a dança poderia oferecer. Trabalhando

a consciência corporal e utilizando vários ritmos musicais os então “professores alunos”

foram obrigados a sair de sua “zona de conforto” e vivenciar o movimento. De início

percebeu-se certo receio, insegurança e medo da exposição, o próprio fato de tocar no

corpo do outro era constrangedor. Para mediar e facilitar tal processo foram utilizados

balões nas atividades propostas, era mais fácil ter o balão como ponto de apoio e aos

poucos as experiências encorajavam e o balão foi retirado. Cabe mencionar que se faz

necessário investigar se alguém tem algum problema com balão como alergia ao material

ou receio que o mesmo estoure e que o balão pode ser substituído por bolas de papel, de

tênis ou de esportes, garrafas “pet”, etc.

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Figura 1- Movimentos com balões

Imagem acervo pessoal da autora.

As oficinas tiveram como objetivo oportunizar os “professores alunos” a observar

sua própria imagem corporal e o que nelas é agregado da identidade cultural do nosso

país. Depois dessa observação foi trabalhado como o que é mais típico em nossa região

onde ao menos o repertório musical já era familiar e posteriormente as diferenças com

outras regiões de nosso país. Foram oferecidos ritmos como o maracatu, samba, indígena

e africano.

A intenção era fazer com que as professoras passassem a compreender que a vida

é feita de movimento e que elas poderiam aproximar o mesmo das crianças nas escolas

onde trabalham. De uma forma simples e bastante lúdica os então “professores alunos”

foram vivenciando alongamentos, passos de dança, movimentos de criação pessoal,

matrizes corporais de criação coletiva.

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Figura 2 – Criação coletiva de uma matriz corporal

Imagem acervo pessoal da autora.

Os exercícios inicialmente bem dirigidos onde o então aluno “copia” o professor

foram evoluindo e criações coletivas iam surgindo de forma que a improvisação passou a

se fazer presente. Segundo Ryngaert (2009, p. 90-91), a improvisação “[...] provoca o

sujeito a reagir, seja no interior da proposta que lhe é feita, seja em torno da proposta,

explorando amplamente a zona que se desenha para ele, segundo o modo como sua

imaginação é convocada”.

Dessa forma, compreende-se que a improvisação nas situações de formação de

professores é uma ferramenta de trabalho muito útil oferecendo ao praticante

experiências no processo criativo, onde o mesmo atua como autor e executor do

movimento. A mesma possibilita a entrada do lúdico, o resgate do movimento próprio, o

descobrimento do corpo por intermédio da imaginação, da inventividade ampliando as

relações entre o universo exterior e o interior.

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Para Bourdieu (2004, p. 218-219), “[...] uma prática corporal [...] [se aprende], por

uma comunicação silenciosa, prática, corpo a corpo”. Assim, a disposição para a dança

não é incorporada de forma mecânica, constitui-se, porém o resultado da ação

sistematizada de incutir princípios coerentes, que acontece no âmbito da prática para a

prática. Dessa forma, encontraram-se regularidades as quais possivelmente fazem parte

das trajetórias de quem é apresentado ao contato com a arte, seja em que escola e

localidade forem e, particularidades “que só ganham pleno sentido se referidas às

circunstâncias em que foram pronunciadas, ao público que foram dirigidas” (BOURDIEU,

2004, p. 11), professores recebendo formação para apresentarem para seus alunos o que

“O jogo teatral na escola” pode oferecer.

Por tais questões enfatiza-se a necessidade do então “professor aluno” vivenciar o

movimento corporal e não apenas ir para a oficina e ouvir o que pode ser feito com o seu

aluno em sala de aula, mas realmente fazer, “sentir na pele” para posteriormente adaptar

as atividades para sua realidade em sala de aula. Ainda segundo Bourdieu (1998, p. 74 -

75 - grifos do autor), todo esse processo,

[...] exige uma incorporação que, enquanto pressupõe um trabalho de inculcação e de assimilação, custa tempo que deve ser investido pessoalmente pelo investidor, [...] essa incorporação não pode efetuar-se por procuração. Sendo pessoal, o trabalho de aquisição é um trabalho do “sujeito” sobre si mesmo [...] Esse capital “pessoal” não pode ser transmitido instantaneamente (diferentemente do dinheiro, do título de propriedade ou mesmo do título de nobreza) por doação ou transmissão hereditária, por compra ou troca.

A dança exige entrega e o desenvolvimento da habilidade está vinculado à prática

da atividade e pode oferecer grandes descobertas. Segundo Marques (2006, p.134), “a

dança experimentada concretamente possibilita uma ampliação do vocabulário corporal

que pode também permitir uma outra forma de se apropriarem de seus corpos, de

estarem no mundo e de se comunicarem com ele”.

Assim sendo, a dança soma-se ao contexto dos jogos teatrais e oferece a

possibilidade de desdobramentos acerca da cultura local e global, um entendimento da

construção da identidade corporal, uma vez que, os jogos “são úteis ao ensinar tópicos de

outras áreas do currículo” (SPOLIN, 2008, p. 312), tais como: artes visuais, ciências,

cinema, esportes, estudos do ambiente, estudos sociais, história, literatura, música,

produção de texto, rádio, teatro, TV, entre outros.

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O desdobramento que ora se pretende enunciar é que percebendo a construção da

própria identidade corporal o praticante tem condições de avaliar a cultura de seu país e

outros países; escutar a música que já lhe é familiar bem como escutar outra totalmente

diferente, por exemplo, ampliando os seus horizontes. Há de se considerar que a ênfase

do trabalho desenvolvido no projeto “O jogo teatral na escola” está no processo e não no

produto. Não existe a necessidade de fazer apresentações e sim conexões com demais

áreas do conhecimento.

O alcance da oficina: números e sensações

Com a oficina de “Identidade Corporal” foi atingido um público indireto de 1019

pessoas, ou seja, as 50 professoras mediaram o tema trabalhado na oficina para 1019

alunos. Assim sendo, o público total atingido foi de 1069 pessoas. Para a quantificação,

foi considerado público direto os participantes das oficinas e público indireto se constituiu

os atingidos pelos desdobramentos do projeto, os alunos dos professores participantes

das oficinas.

Há de se considerar ainda que o projeto “O jogo teatral na escola” possui uma

página no Facebook: https://www.facebook.com/jogoteatralnaescola, esta tem como

objetivo além de divulgar o projeto, também dar “dicas” de leitura para o publico que

segue a pagina, o que inclui também os professores que fazem oficinas dentro do projeto,

como por exemplo, o e-book ”História e cultura africana e afro-brasileira na educação

infantil”, disponibilizado pelo MEC na versão online. Além disso, divulga artigo, revistas

online que abordam a área das artes cênicas em geral, eventos culturais que acontecem

na região, entre outros. As pessoas que curtem as ações no Facebook também, de certa

forma, envolvem-se com o projeto. Em 2014 a página em referência recebeu até dia

22/10/2014, 287 curtidas, conforme mostra gráfico abaixo.

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Gráfico 1 – Total de Curtidas na pagina até 22/10/2014.

Fonte Facebook Jogo Teatral na Escola.

Já foi alcançado um pico de 269 pessoas com uma publicação.

Gráfico 2 – Alcance das publicações.

Fonte Facebook

Jogo Teatral na

Escola.

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Além disso é possível mapiar os paises que visualizaram nossa pagina,e as

cidades que mais acessam, fazendo também com que seja possivel mapiar o nosso

publico.

Tabela 1 – Alcance das publicações a nível de país e cidades.

Fonte Facebook Jogo Teatral na Escola.

Além dos números alcançados se faz fundamental a compreensão de que as

crianças devem ser incentivadas desde pequenas a desenvolver uma identidade corporal

e para tanto se faz necessário oportunizar experiências que ofereçam a construção social

da mesma com atividades que reconheçam e valorizem a importância da diversidade de

diferentes grupos étnico-raciais na construção da história e da cultura brasileira.

O povo brasileiro reflete um leque de manifestações e interferências de vários

povos que o colonizaram e assim sendo apresenta uma identidade corporal coletiva

“bastante eclética”. Há de se considerar que cada qual possui a sua identidade, mas a

mesma também é gestada no coletivo, imbricada com o contexto social em que se vive e

a trajetória pessoal de cada um.

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Faz-se essencial “fugir de rótulos” e situações pré-estabelecidas que a mídia

imponha. O conhecimento do que a pessoa é passa pela identidade cultural do cidadão e

é essencial oferecer o novo. A arte pode oferecer uma ferramenta potente na estruturação

da identidade.

Para avaliar se tais objetivos foram alcançados como instrumento de pesquisa,

além do questionário já mencionado, uma segunda ferramenta de verificação foi acionada

ao término da oficina. Esta por sua vez teve por objetivo proporcionar aos “professores

alunos” uma reflexão sobre seu envolvimento, atuação e sensações acerca da oficina, ou

seja, o seu processo de inculcação da sua identidade corporal. Além disso, possibilitou a

verificação de conteúdos que podem ser transpostos para a sala de aula em sua prática

como professor.

As professoras receberam uma folha de papel com um corpo em movimento

rabiscado ao centro e algumas considerações sobre a atividade desenvolvida que deviam

preencher, a saber: algo que não esperava; algo que conheci a respeito de mim mesmo;

algo que vou adotar e começar a fazer imediatamente; algo que gostei muito; algo que

percebi observando meus colegas; algo que pretendo explorar mais; algo que pretendo

dividir com os meus colegas de trabalho; o que não serve para mim. Dessa forma foi

possível conhecer o ponto de vista de cada participante sobre o que foi trabalhado.

Entende-se que “[...] escrever [...] passa também a fazer parte do jogo, embora num

momento distinto e não simultâneo com o jogo teatral” (LEITE, 2009, p. 300).

Quanto às considerações subjetivas feitas pelas participantes das oficinas, as

descrições explanadas predominaram os estranhamentos com músicas indígenas,

africanas, e também nordestinas. Como se locomover em um ritmo não conhecido? Uma

total novidade em se mexer com um ritmo que construiu a nossa cultura brasileira, mas

que ao início da aula era uma grande novidade e ao término da mesma mostrou-se muito

prazeroso e nem tão distante. Quando indagadas sobre o que não esperavam acontecer

na oficina foi unânime a resposta: trabalhar com música indígena e mais, conseguir se

movimentar com a mesma, descobrir partes do corpo e como escreveram “curtir”.

Na sequencia seguem alguns depoimentos: “Não esperava uma aula tão divertida”,

“Pretendo explorar mais o trabalho em grupo”, “Pretendo dividir com os meus colegas de

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trabalho mais afeto’’ (professora 1); “Percebi constrangimento no início da aula rompido

até o final da oficina” (professora 2); “Não esperava que fosse uma tarde tão construtiva”,

“Tenho dificuldade na respiração, até falta de ar, tenho que trabalhar isto” ,“Pretendo

adotar músicas na unidade que trabalho trazendo um pouco de cada cultura para sala de

aula”, “Gostei muito de trabalhar com balões”; (professora 4)”; “Chegando em casa vou

pesquisar sobre outras culturas e iniciar um projeto de diversidade cultural com os meus

alunos” (professora 5); “Pretendo explorar mais a ludicidade” (professora 21); “Percebi

que não sei mexer os ombros”(professora 24); “Algo que gostei muito foi de trabalhar com

as possibilidades do meu corpo” (professora 28); “Entendi que posso fazer o que quiser

se me dedicar” (professora 35); “Preciso me movimentar mais contagiando as crianças e

chamar o movimento para elas” (professora 44).

Percebe-se que as atividades provocaram as professoras envolvidas servindo

como uma mola propulsora a fim de inserir o movimento nas atividades diárias das

mesmas junto as suas atividades de trabalho, bem como, proporcionaram um maior

conhecimento sobre o próprio corpo das mesmas, ou seja, a compreensão sobre a

identidade corporal.

Por iniciativa das próprias participantes elas também desejaram escrever um

pequeno depoimento sobre como se sentiram na atividade proposta para posteriormente

criarem um portfólio e compartilharem entre elas as sensações e aprendizado.

Nos tais depoimentos das professoras de Indaial predominaram relatos que

trouxeram a tona sensações como a diversidade, a percepção, o conhecimento, o

companheirismo, a desinibição, a diversão, a interação, a liberdade, o descobrimento do

movimento individual e do trabalho em grupo.

A oficina oportunizou um momento de encontro com o corpo, e neste momento pude perceber que todos nós educadores somos referencias como portadores de identidade social, [...] nossos gestos, danças, atitudes, símbolos gírias e etc. A música e a dança desenvolvem um papel fundamental nessa percepção, nos fazem pensar e entender que a cultura é muito mais do que o certo e o errado e trazer isso para as crianças é enriquecer sua bagagem cultural, tão massificada pela mídia nos dias atuais. Explorar o corpo, através de ritmos como os africanos, indígenas é permitir uma totalidade, a quem dos limites a que estamos acostumados pela T.V. e pela “musica comercial” (Professora 14).

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Assim o presente trabalho discute especialmente sob a necessidade de ofertar ao

educando diferentes experiências e tomou os jogos teatrais e a identidade corporal como

linguagem artística capaz de assegurar o direito dos participantes das oficinas de se

inserirem em um espaço ludo-pedagógico e de se manifestarem por meio da arte

oportunizando assim a formação continuada dos professores.

Ao vivenciar o dia de hoje resgatamos a lembrança das nossas origens, que muitas vezes são esquecidas. Como a Ivana ressaltou enfatizamos a cultura germânica e deixamos esquecido o mix de cultura do qual fazemos parte. Até sobre o samba temos o estereótipo “global”, mas podemos aprofundar nossos conhecimentos e ampliar nosso repertório, para acrescentar novas experiências para nossas crianças (Professora 13).

De acordo com a Proposta Curricular de Santa Catarina para que o futuro professor

na Educação Infantil possa realmente realizar um bom trabalho em ensino da arte, é

fundamental que, dentre outras questões, “vivencie atividades artísticas experimentando

variados materiais e suportes” (SANTA Catarina, 1998, p. 146). No entanto, verificou-se a

dificuldade de agregar um contexto maior sobre a construção da própria identidade

corporal que com o desenvolvido da oficina foi refletido pelos depoimentos. Muitas vezes

o contato com a arte não faz parte do dia a dia tanto do público docente quanto discente.

Entende-se que a escola pode vir a suprir, em parte, tal lacuna e para tanto os

professores necessitam estar habilitados.

Quem não recebeu da família ou da Escola os instrumentos, que somente a familiaridade pode proporcionar, está condenado a uma percepção da obra de arte que toma de empréstimo suas categorias à experiência cotidiana e termina no simples reconhecimento do objeto representado: com efeito, o espectador desarmado não pode ver outra coisa senão as significações primárias que não caracterizam em nada o estilo da obra de arte, além de estar condenado a recorrer, na melhor das hipóteses, a “conceitos demonstrativos” que [...] limitam-se a aprender e a designar as propriedades sensíveis da obra [...] ou a experiência emocional [...] suscitada por essas propriedades (BOURDIEU; DARBEL, 2003, p. 79).

Assim sendo, concorda-se com Bourdieu (2004), que o agente social não é um

indivíduo plenamente consciente de suas motivações, cujas ações visariam a fins

explícitos, ou seja, por vezes, as pessoas acreditam estar agindo naturalmente quando na

verdade suas ações estão de acordo com o modelo do que pensam ser mais indicado

para a posição que ocupam. Assim, ainda para o autor, às diferentes posições no espaço

social correspondem estilos de vida diferenciados. As práticas e as propriedades

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constituem uma expressão sistemática das condições de existência – o que é

denominado como estilo de vida, porque é produto de um operador prático, o habitus.

Considera-se o habitus, definido por Bourdieu (2004, p. 26), como “[...] um sistema

de esquemas [disposições] adquiridos que funciona no nível prático como categorias de

percepção e apreciação, ou como princípios de classificação e simultaneamente como

princípios organizadores da ação”.

A turma demonstrou entrosamento durante as atividades. As práticas com dança são facilmente adaptadas à turma que leciono. Os ritmos, os movimentos são estimulantes, a aplicabilidade dos mesmos na Ed. Infantil é de grande importância para que nossas crianças conheçam outros repertórios culturais, além daqueles mostrados na mídia, para que conheça seu corpo, sua identidade (Professora 24).

O comentário supracitado estabelece uma relação direta com o que a mídia impõe

e era de fácil alcance para docentes e discentes e o que pode ser trabalhado. Tal

depoimento também reflete a transposição que pode ser feita pelas professoras que

vivenciaram a oficina de “Identidade Corporal” para as classes que ministram aulas.

Dessa maneira os princípios organizadores da ação se estabelecem de uma forma mais

ampla e profunda possibilitando maior conhecimento do corpo e consequentemente da

construção corporal.

O trabalho pedagógico envolvendo o movimento possibilita a descoberta de sensações e emoções no ser humano, indissociáveis do processo educativo. A linguagem corporal proporciona ao indivíduo o conhecimento a cerca de si mesmo e sua identidade corporal (Professora 21).

Mesmo diante das dificuldades percebeu-se que as 50 professoras de Indaial, em

seus depoimentos, validaram o trabalho desenvolvido na oficina e conseguiram

estabelecer relações com a prática docente de cada qual. Entende-se que as vivências

estão possibilitando uma formação prazerosa, despertando o gosto pelo movimento.

Considerações

Vários mecanismos são acionados para a compreensão e construção da identidade

corporal e neste estudo a ferramenta utilizada foi à dança. “Dançar envolve todo um

conjunto de relações sociais, no qual uma configuração de fatores vem a corroborar para

a construção da disposição artística da dança” (FUHRMANN, 2008, p.119).

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Ao estudar a construção da identidade corporal, está-se estudando como os

diversos capitais se inter-relacionam, ou seja, a possibilidade de ter acesso ao

aprendizado de vivências dentro da área das artes cênicas e a trajetória individual de

cada qual que perpassa diversos capitais como o econômico, escolar, cultural, social e

simbólico.

Assim sendo, verificou-se que gostar de dançar ou participar de atividades dessa

natureza não é algo que nasce espontaneamente, é instalado, inculcado por intermédio

de várias ações e mobilizações que podem germinar na família e se fortalecer nas

instituições de ensino, ou seja, na escola. E para tal os professores necessitam estar

habilitados a fim de receber a demanda.

São várias as formas de incentivar o processo de construção da “Identidade

Corporal”, as quais se conjugam e se combinam e de certa maneira está imbricada com o

estilo de vida. A inculcação das atividades artísticas e sua interdependência com as

diversas mobilizações, como por exemplo, a formação continuada dos professores se

constrói no decorrer do tempo, ou seja, estão em jogo o antes (a bagagem pessoal de

cada professora), as condições de origem (o envolvimento prévio com a área das artes

cênicas) e os objetivos que almeja alcançar. Pretende-se que a atividade vivenciada não

seja estanque e que cada professora reverbere em suas atividades em sala de aula

buscando o incremento educacional e irradiando o conhecimento para seus alunos que

compreendem o público indireto do estudo.

Faz-se necessário abrir-se para o novo, ou seja, as professoras envolvidas

realmente vivenciaram as atividades estabelecendo uma dinâmica configuracional, na

qual as noções iniciais de cada ritmo e cultura foram criando novas dimensões e a

tradição germânica foi agregando novos conhecimentos e formas de interagir e refletir.

Houve assim a incorporação de novos valores que reverberam a favor do movimento e

das artes.

No que concerne este estudo, com base na análises dos dados, a contribuição

principal para a educação que neste caso comtemplou de forma direta um público

docente (as 50 professoras no papel de “professores alunos”) e de forma indireto um

público discente (1019 alunos das referidas professoras) é de reafirmar que a construção

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da identidade corporal e do gosto pela arte é uma construção social. E que uma prática só

funciona quando existem pessoas interessadas em que ela funcione e se dediquem para

tal.

Dentre os resultados alcançados até o momento, os instrumentos de pesquisa e os

depoimentos indicaram a carência de conhecimento por parte das professoras na área

pesquisada, mas, por outro lado evidenciou a ampliação do repertório artístico e cultural,

ciência do seu próprio corpo e do outro. Igualmente percebeu-se aumento do

conhecimento da linguagem teatral e seus desdobramentos na práxis cotidiana da

Educação Infantil, assim como troca de experiências, conhecimento e vivências de novas

metodologias para o ensino da arte.

A prática do movimento ainda não é naturalizada para as professoras em questão,

bem como nas escolas que as mesmas atuam. A adesão na oficina possibilitou um ponto

de partida para trabalhar o movimento em sala de aula desde a Educação Infantil.

Além disso, levando em consideração que muitas crianças tomam o primeiro

contato com a arte por meio da escola, o projeto tem instrumentalizado e capacitado as

professoras participantes para mediarem o contato de seus alunos com a arte, estimulado

a elaboração de projetos educativos que envolvam o movimento artístico em suas ações.

Referências

BOURDIEU, Pierre; Alain, DARBEL. O amor pela arte: os museus de arte na Europa e seu público. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Zouk, 2003. BOURDIEU, Pierre. Coisas Ditas. São Paulo: Brasiliense, 2004. 234 p. ______. Os três estados do capital cultural. In: NOGUEIRA, Maria Alice; CATANI, Afrânio Mendes (Orgs.). Escritos de educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998. p. 71- 79 FUHRMANN, Ivana Vitória Deeke. Por que eu danço, por que tu danças, por que ele dança? Um estudo sobre estratégias sociais em contexto escolar de educação complementar. 2008. 182 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Regional de Blumenau, Blumenau. KOUDELA, Ingrid Dormien. Jogos Teatrais. – 4. ed. - São Paulo: Perspectiva, 1998. LEITE, Vilma Campos dos Santos. Jogo teatral e a criação literária. In: FLORENTINO, Adilson; TELLES, Narciso (orgs.). Cartografias do ensino do teatro. Uberlândia: EDUFU, 2009.

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RYNGAERT, Jean-Pierre. Jogar, representar: práticas dramáticas e formação. São Paulo: Cosac Naify, 2009. SANTA Catarina, Secretaria de Estado da Educação e do Desporto. Proposta Curricular de Santa Catarina: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio: Formação docente para educação infantil e séries iniciais. Florianópolis: COGEN, 1998. SCHRAMM, Marilene de Lima Körting; CABRAL, Rozenei Maria Wilvert. Arte na Escola: um olhar sobre a história, limites e desafios da formação continuada e midiateca. In: SILVA, Neide de Melo Aguiar; RAUSCH, Rita Buzzi (orgs.). Extensão universitária: movimentos de aproximação entre sociedade e universidade. Blumenau: Edifurb, 2010. SPOLIN, Viola. Jogos teatrais na sala de aula: um manual para o professor. São Paulo: Perspectiva, 2008. MARQUES, Isabel. Dançando na escola. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2006. 1 “O objetivo do projeto [Formação Continuada] é qualificar professores de arte na educação infantil, ensino fundamental, médio e superior, com ações sistemáticas que proporcionem aprendizagem efetiva em arte e seu ensino, e subsidia a reflexão de práticas e processos educacionais” (SCHRAMM; CABRAL, 2010, p. 30). 2“O projeto Midiateca, atualmente conta com aproximadamente 7.500 materiais educativos no acervo. Destaca a importância do uso desses materiais no processo ensino-aprendizagem de Artes Visuais, Música e Teatro. Focaliza a utilização de materiais de arte, como produto artístico, cultural, social e histórico” (SCHRAMM; CABRAL, 2010, p. 32). *Possui Licenciatura e Bacharelado em Dança pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Especialização em Movimento Humano e Saúde e Mestrado em Educação pela Universidade Regional de Blumenau-FURB. É professora titular da FURB-Departamento de Artes. Pesquisadora CNPQ (Teatro e Transdisciplinaridade - FURB). Editora da revista “O Teatro Transcende” e coordenadora do projeto “O jogo teatral na escola” -FURB. E-mail:[email protected].